Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
JAGOT, Paul-Clément - Psicologia Do Amor (1978)
JAGOT, Paul-Clément - Psicologia Do Amor (1978)
Jagot
PSICOLOGIA
DO AMOR
O INSTINTO, A SENSIBILIDADE
E A IMAGINAÇÃO
TRIUNFE EM SUA nossa natureza, perspec
VIDA SENTIMENTAL tivas para o desdobramen
to das possibilidades de
nossa capacidade comu
nicadora e receptora de
Na trajetória da vida hu afetos e nos propõe de
mana nenhuma tragédia é senvolver as nossas qua
maior que o fracasso na lidades intrínecas para o
vida sentimental. Alguns amor.
seres podem até alcançar é um estudo profundo
fulgurante êxito na vida mas facilmente inteligível,
profissional, mas há de porque é prático, escrito
lhes saber amargo o insu com o propósito de ser
cesso sentimental. Amar e útil e de nos tornar mais
ser amado são anseios felizes.
que mais preocupam nossa
alma e todas as necessida Paul-C.Jagot tem sido
des fundamentais da pes dos mais apreciados au
soa humana se realizam tores que na França tra
no ato de amor. Assim, a taram da psicologia práti
nossa vida amorosa é um ca. Baseando-se na expe
desafio a que não pode rimentação aprofundada,
mos nos furtar senão nos ele extraiu de um verda
frustrando. deiro emaranhado, o es
tudo das altas ciências, e
É lamentável que as recolocou em lugar de
criaturas não se conscien honra, sobre bases sadias,
tizem dessa situação e o estudo da memória e da
mais ainda que não se vontade, a prática do mag
preparem para enfrentá-la. netismo, do hipnotismo,
Nesta obra, o autor trata da sugestão e de diversas
de maneira lúcida e con artes de observação. Suas
vincente das condições obras influenciaram pro
em que o amor nasce, fundamente a evolução
transforma-se e fenece. das idéias sobre a educa
Sonda o mistério das nos ção do caráter e a moral
sas inclinações, mergulha ativa.
na análise do imponderá Inúmeras são as obras
vel de nosso comporta práticas com que se ce
mento e das consequên lebrizou. Palias S.A. tem
cias a que somos levados, já contratados alguns de
às crises e às decepções; seus estudos, igualmente
oferece-nos conceitos pa indispensáveis para os que
ra maior entendimento de se preparam a se realizar
nós e do próximo, méto plenamente em uma vida
dos para o domínio de melhor.
FICHA CATALOGRÁFICA
Jagot, P.C.
J24p Psicologia do Amor, Tradução de Irene
Farria. Río de Janeiro, Palias, 1978.
77-0543 CDD-152.4
CDU-159.942.6
P. C. Jagot
PSICOLOGIA DO AMOR
2* Edição
PALLAS S.A.
Editora e Distribuidora PALIAS SA.
Copyright ©1977 by
Editions Dangles, Paris
Psychologie de L'Amour
Tradução de:
Irene Farria'
Capa: Donato
5
4. O recalque sentimental .................................... 42
5. A crise aguda...................................................... 44
6. Os estados crônicos......................................... 45
7. As carências .......................... .. ..................... ..
Capítulo V - Autoterapia............................................................ 47
1. O sofrimento de amor......................... 47
2. Condições de auto-reação............................... 49
3. Diretrizes essenciais ......................................... 50
4. Diretrizes auxiliares................................... 54
5. Liberação fluídica........................................... 55
6. Liberação psíquica.......................................... 55
7. A reeducação dos rejeitados............................ 57
Capítulo VI - Psicoterapia...................... 61
1. Isolamento...................... 61
2. Vigilância........................................................... 62
3. Análise do caso ................................................. 63
4. Pesquisa e realização da hipnose..................... 64
5. Primeiro grupo de sugestões............................ 65
6. Segundo grupo de sugestões............... ............ 66
7. Terceiro grupo de sugestões ............................. 68
6
INTRODUÇÃO
7
CAPITULO I
O COMPLEXO ELETIVO
-1 - NOÇÕES
9
duo tem suas preferências bastante pessoais. Dois wagnerianos fervo-
sos, particularmente ligados, por coindicência, à mesma obra-prima do
mestre, terão, cada um, seu ápice de dois instantes diferentes da parti
tura.
Nas primeiras edições desta obra, havíamos proposto, em rela
ção ao amor, uma classif icaçaaanáloga à precedente:
— aqueles nos quais predomina ó instinto;
— aqueles nos quais predomina a sensibilidade;
— aqueles nos quais predomina a mente.
Sobre as pessoas do primeiro tipo, agem somente os fatores de
atração susceptíveis de afetar diretamente a parte sensorial. A nota
mais baixa de sua escala será o desejo puramente animal; a mais alta
será uma especialização temporariamente privativa do desejo por um
indivíduo do sexo oposto cuja estrutura impressionará, de uma ma
neira particularmente ampla e intensa, seu instinto genético.
Para os seguintes, as paixões essenciais do instinto (que indivi
dualizam somente, na categoria anterior, diferentes fatores orgâni
cos — principalmente endócrinos — e diferentes marcas pré-púberes
às quais a Escola de Freud atribui possivelmente uma importância
exagerada) associam-se, de um lado, à acolhida de uma impressiona-
bilidade mais ou menos sutil e cultivada e, por outro lado, às aspira
ções da moral de se ver isenta e de experimentar certos tipos de in
teresse afetuoso. Sobre eles, a qualidade estética da forma, a gran
diosidade dos movimentos, a expressividade e a finura do compor
tamento agem predominantemente.
Entre os últimos, se a imaginação excede os limites do pensa
mento reflexivo, o complexo alimentar-seá, sobretudo, das fanta
sias espontaneamente engendradas por suas idiossincrasias, de impreg
nações literárias e de sugestões exteriores. Se a idealização meditada
governa o conjunto do psiquismo, a tendência polarizante dirigir-se-á
para certas qualificações intrínsecas da sensibilidade e da inteligên
cia.
Esta classificação visa mais dividir os elementos do problema
que imaginar os indivíduos em categorias claramente isoladas. Na
verdade, o determinismo — o complexo amoroso — de cada um en
cobre potencialidades especificamente fisiológicas, outros dependem
da emotividade e ainda outros da intelectualidade.
Entretanto, permanece de observância usual que os motivos
oriundos da atividade neuro^vegetativa e das reações sensoriais levam
invariavelmente a isto, diversamente de um indivíduo cuja orientação
decorra inteiramente da ordem afetiva e de um terceiro em que tudo
permaneça subordinado à imaginação.
2 - OS QUATRO CENTROS
10
na. Ela é considerada corno comportando quatro centros: VEGETATI-
VO. ANÍMICO, INTELECTUAL e ESPIRITUAL. O primeiro afirma,
normalmente ou não, todas as paixões do instinto de conservação (nu
trição e reprodução). Ele tende ao equilíbrio, ao bem estar interno
que resulta de uma satisfação dos apetites, mas se deixa facilmente
desvirtuar por suas propensões a excessivas euforias que ele não sabe
ría procurar senão pelo caminho quantitativo, não estando senão
esboçados seus meios de percepção sensorial.
A característica do segundo é a reação aos aspectos e manifesta
ções das propriedades ou qualificações dos seres e das coisas. É o do
mínio da sensibilidade, a linguagem das diferenciações delicadas, bem
como das tendências e faculdades que daí derivam. As impressões
causadas por tudo que é exterior suscitam emoções, aspirações, gos
tos; aquelas que são produzidas pelas manifestações das potencialida
des de outrem tendem a suscitar sentimentos.
No âmago do terceiro centro, sede da consciência psicológica,
refletem-se sob a forma de imagens e conceitos as percepções e recep
ções dos dois primeiros. Ali eles são apreciados, analisados caso a
acuidade psicológica seja suficiente e depois, em um determinado es
tágio de superioridade, evoluem quase à abstração.
Quanto ao quarto centro, não o citaremos senão para lembrá-lo,
pois não desempenha pepel direto na elaboração do complexo eletivo;
determina a possibilidade de se subordinar a uma ética.
O hermetismo considera estes centros em diferentes localiza
ções. Para substituir esta concepção, menos próxima da ciência mo
derna, admitamos que se trata de quatro sequências de fenômenos,
atribuindo a primeira ao sistema simpático, a segunda ao sistema ner
voso sensitivo-motor, a terceira ao psiquismo e a quarta a um incons
ciente superior. A dependência recíproca do conjunto apresenta-se
na ressonância, no eco de toda disposição ou atividade própria a uma
das quatro séries em cada uma das três outras. Mas esta reciprocidade
em nada diminui a autonomia de cada esfera: paixões sensoriais, aspi
rações sentimentais, necessidades intelectuais, elevações espirituais,
agem freqüentemente com uma indiferença recíproca que pode che
gar quase ao conflito. Uma cultura que vise à supremacia da consci
ência psicológica chega algumas vezes a hierarquizá-las. Somente o
amor realiza o acorde sinfônico, e a unidade que ele improvisa desta
forma não é o menor de seus encantamentos.
3 - AS PAIXÕES DO INSTINTO
11
te, do mesmo modo que a ereção tátil, olfativa é visual correspon
dente;
b) A intumescência provocada por incitação exterior;
c) A intumescência suscitada por recordação;
d) Uma preferência, independente de qualquer critério estético e
mais ou menos confessa, por certos tipos fisionômicos e plásticos;
e) 0 eventual exclusivismo do desejo por uma individualidade consti
tuída não somente de modo que sua presença determina nele o dese
jo com uma intensidade e freqüência particulares, mas também rea
gindo de tal maneira que, a seu contato, o conjunto das percepções
implicadas no processo de detumescência concorre para uma pleni
tude excepcional de saciedade;
f) Se se trata de indivíduo do sexo masculino, esta paixão combati
va, conquistadora, que explica as propensões do homem a se subor
dinar ao abandono de toda personalidade feminina cuja imagem se
associa em seu espírito com representações sexuais;
g) Se se trata de uma mulher, a execução, mais ou menos deliberada,
de várias exibições ou manobras com a finalidade de solicitar e des
pertar o interesse;
h) Finalmente, a tendência à apropriação, às vezes derivada, às vezes
causadora do exclusivismo e de onde surgem os ciúmes.
Os fatos d, e, f e h mostram que um complexo eletivo se ela
bora no próprio âmago dos elementos básicos do instinto reprodutor.
. É preciso notar, além disso, os possíveis desvios, aberrações e
inversões deste último, porque eles condicionam e orientam, eventual
mente, o complexo. Não os descreveremos. Abster-nos-emos mesmo
de enumerá-los. Diremos simplesmente que se podem derivar de três
séries de causas:
1. ° — Diversas anomalias anátomo-fisiológicas congênitas;
2. ° — Certas hereditariedades;
3. ° — Esta debilidade psíquica denominada por BABINSKY "pithia-
tismo" e que consiste numa excessiva sugestional idade. 0 pithiático
sucumbe irresistivelmente aos contágios do exemplo. Algumas suges
tões são suficientes para determinar nele uma tendência mórbida que
poderá dar lugar a incoercíveis impulsos. É o caso da deplorável im
pregnação que opera sobre todo pithiático a leitura de exposições re
lativas à patologia sexual.
4 - AS ASPIRAÇÕES DA SENSIBILIDADE
12
graça das atitudes, dos timbres e inflexões vocais, do caráter hesitan
te ou firme, claro ou confuso, ameno ou altivo das elocuçõês, da di
mensão ou da originalidade dos comportamentos etc.;
— a influência dos aspectos do vestimento, do cenário, do plano cir
cunstancial etc, tudo isto pode desempenhar papel considerável
nas naturezas denominadas sentimentais, aquelas que são intensa
mente afetadas, por, desde as mais delicadas exteriorizações, até as
manifestações mais superficiais.
No exemplo do parágrafo precedente, tudo se limita aos tipos
de escolha diretamente oriundos dos apetites funcionais e das condi
ções de sua perfeita satisfação. Aqui aparece, depois das paixões dos
sentidos, a aspiração da sensibilidade de ser afetada harmoniosamen
te em cada uma de suas ressonâncias. O jogo das hierarquias e das
supremacias indica as diferentes preferências. Um se achará mais par
ticularmente sensível ao estilo linear, ideal pára ele porque idêntico
à mais cativante arquitetura plástica que possa conceber; neste caso,
a principal característica eletiva do outro se situará mais em um cer
to hieratismo do movimento, que no relevo das formas. Em um ter
ceiro, a expressão fisionômica, o porte e o gesto repercutirão mais
profundamente que a delicadeza de detalhes do rosto, o modelado
do corpo ou a eurritmia cinemática.
Por outro lado, a observação mostra que todo o psiquismo
tende a encontrar, em outro psiquismo, o uníssono de sua vida inte
rior. Inconscientemente, o contemplativo procura a doçura compeen-
siva e protetora, enquanto o ativo se entusiasma por viver em simbiose
com uma passividade oculta. Um aspira ao envolvimento terno, outro
ao papel de animador invasor. Um e outro destes dois extremos mani
festam uma mesma necessidade elementar de sensibilidade: a de co
municação corroborativa.
Imagine-se o encanto que envolve, para uma e outra parte, a sa
tisfação desta última necessidade e as disposições ou sentimentos que
podem provocar semelhante atração: simpatia, admiração, amizade,
gratidão, complacência, solicitude, afeição etc. Ora, o próprio de uma
sensibilidade viva é de se comprazer em experimentá-los. Eles a ani
mam. Seu ápice — e aqui exclusivismo condiciona intensidade — pro
duz nela uma plenitude e uma euforia comparáveis ao que representa,
na ordem vegetativa, a embriaguez anestésica.
As latências dessas disposições ou sentimentos constituem, em
certas pessoas, um grupo axial de aspirações por vezes tão imperiosas
que causam uma irresistível propensão a se lhes dar vazão, a satifazê-
las a todo preço. Elas se concentram, então, à falta de um ser elegível,
sobre qualquer outro que lhes pareça qualificado para apreciá-las ou
mesmo simplesmente beneficiá-las. Desta forma, elas podem se dar
sem a menor reciprocidade, cegamente.
Quando estas mesmas latências coexistem com uma ampla socia
bilidade e uma inteligência muito aberta, o complexo formado desta
maneira, sobretudo se as solicitações do instinto são fracas, induz a
uma dedicação mais coletiva que individual. Ele dá lugar a iniciativas
e realizações de ordem filantrópica.
13
5-0 PENSAMENTO
14
se deixará comover tanto mais profundamente quanto se sinta mais
lucidamente compreendido. Para outros, subrepujando* todos os si
lenciosos apelos interiores, aqueles do intelecto prevalecerão constan
temente na orientação de sua vida amorosa.
7-0 COMPLEXO
15
— quanto rnaís numerosos e mais nítidos são estes elementos, com me
nos freqüência se encontrarão reunidas as diversas qualificações neces
sárias à sua satisfação. O contentamento de uma natureza simples
pode provir indistintamente de qualquer indivíduo pertencente ao
mesmo nível. Para o homem ou mulher superiormente dotados, sob o
triplo ponto de vista da delicadeza de percepção, extensão e acuidade
da sensibilidade e da capacidade do intelecto, não existe sempre com
patibilidade, mesmo relativa;
— muitas individualidades que se repartem num certo número de qua
lificações pedidas pelas escolhas de um mesmo ser podem, sucessiva
ou simultanemante, inspirar-lhe amor.
16
CAPITULO II
OS IMPONDERÁVEIS
17
Se colocarmos abaixo da média (isto é, além de 5, as cotas va
riando entre um mínimo de 1 e um máximo de 10) qualquer um dos
elementos B, C, D, E, F, o indivíduo tornar-se-á capaz de uma escolha,
de uma preferência, da qual seu psiquismo terá noção. Aqui unicamen
te a necessidade tem voz ativa e, em caso de possibilidade de opção,
esta última se efetua inconscientemente, determinada de modo obscu
ro, julgamos, pelo tipo de temperamento psicológico (1): bilioso, ner
voso, sanguíneo ou linfático.
O amor-gosto da classificação stendhaliana, onde "até às som
bras, tudo deve ser cor de rosa, onde não deve entrar nada de desagra
dável, sob nenhum pretexto", caracteriza-se pelo sincronismo de duas
impressionabilidades, ambas predispostas a se emocionar com as mes
mas nuances. É o amor das naturezas delicadas, artistas, nas quais mes
mo de forma sensorial, o qualitativo se sobrepõe ao quantitativo. Seu
próprio diletantismo previne as ardentes chamas da paixão e suas alu
cinações. Eis o gênero de complexo que orienta o amor-gosto:
A:5 D:3
B:8 E: 5
C:8 F:4
A:8 D:4
B:5 E:4
C:8 F:4
18
de uma excepcional elevação da sensibilidade, com tudo que encerra
de benevolência, de sutileza e de altruísmo. Aqui estão as cotas pro
porcionais correspondentes:
A:4 D:8
B:6 E:5
C:6 F:5
A:5 D:4
B:5 E:8
C:8 F:5
A:5 D:5
B:7 E:8
C:5 F:8
A:2 D:6
B:5 E:8
C:7 F:5
19
As cotas atribuídas a cada caso exprimem uma proporção, uma
analogia entre os elementos de escolha. Poder-sê-ia escrevê-las da se
guinte forma:
2. INFLUÊNCIAS MISTERIOSAS
20
tro, quando possuem o mesmo comprimento de ondas. Mas seria abu
sivo dar importância a esta simples possibilidade: é válido pensar nela
porque amanhã será, possivelmente, científica, como tantas outras".
Compreendemos as prudentes reservas do autor, que, sem dú
vida, não teve ocasião de verificar, como nós também, as manifesta
ções da radioatividade que emana de todos os seres vivos.
3. IMPREGNAÇÃO
4. APRESAMENTO
21
ção lhe repugnam? Como o pássaro hipnotizado, que avança contra
sua vontade em direção às mandíbulas da serpente, vimos homens e
também mulheres aprisonados pelo amplexo tentacular do ser que os
deseja. Esse caso não é mais questão de sincronismo, de ressonância
harmoniosa, mas de uma penosa sujeição (1). O fato permanecería
inexplicável se o estudo experimental das questões psíquicas não
houvesse estabelecido que se encontra uma proporção de emissores
com vibrações excepcional mente enérgicas e de freqüência rápida,
cujo tom de movimento se comunica, como que por invasão, com
toda criatura de constituição fraca, sem intensidade vital e sem vonta
de forte.
5. IRRADIAÇÃO FISIOLÓGICA
22
6. A IRRADIAÇÃO PSÍQUICA
23
so estético parece nublar-se, ao mesmo tempo em que nele se acende
a loucura passional. Alguns crerão que, neste caso, o nível intelectual
ou a elevação moral da mulher compensam sua forma desagradável:
nada disso. Isto não seria, aliás, uma explicação, porque o complexo
eletivo de nosso exemplo orienta-se principalmente na direção de
um espetáculo de vivo hieratismo escultural. Outros sonharão com
esta servidão sensual cuja noção foi vulgarizada por uma psicologia
primária e que não resiste a um exame, pois por um lado, no caso em
pauta, o apresamento foi anterior à conjunção e, além disso, a repe
tição das mesmas sensações embota gradualmente a acuidade e corrói
fatalmente o desejo.
A literatura inevitavelmente empresta ao Don Juan tradicional
toda a sorte de atrativos. Ora, vê-se homens feios, disformes, sem es
pírito nem delicadeza, impor-se às mulheres e obter não apenas o
abandono de muitas, mas o amor de algumas que, uma vez repelidas,
ficam inconsoláveis. Estes formidáveis amantes sexuais parecem reti
rar sua paradoxal potência da própria violência de suas paixões gené
ticas, verdadeiramente devidas a alguma hipertrofia endócrina. Só a
presença de semelhante dinamismo ameaça de forma mais efetiva as
resistências melhor dotadas que todo o arsenal das seduções masculi
nas.
A antítese é ainda mais representativa entre certos tipos de
mulheres que nos surpreendem por não conseguirem jamais, apesar
de um esplêndido exterior, um caráter agradável e uma envergadura
cerebral considerável, despertar nem os sentimentos e nem mesmo a
atração física de algum homem de gosto, e os teratóides grotescos,
considerados irresistíveis, cujo sorriso semeia a loucura e, o desprezo,
o desespero. 0 famoso “sex-appeal", inventado pelas necessidades
publicitárias do cinema, emana mais intensamente destas fealdades
violentas e despóticas quê das belezas dignas da tela e da realeza mun
dial.
Não há somente aflição imaginária, sensibilidade magoada ou
vaidade ultrajada na base dos pânicos que às vezes se sucedem às
separações, às rupturas. Assim como o toxicômano bruscamente priva
do do seu suStentáculo químico se apavora com a fragmentação cres
cente que, de hora em hora, o desorganiza de modo cada vez mais hor
rível, o homem ou mulher longamente acostumados ao estímulo vivi-
ficante que lhes trazem, ao se integrarem neles, as ondas em cujo cam
po evoluem, caem em um estado psíquico comparável a uma asfixia
progressiva.
Se existem eflúvios capitosos, que inflamam unicamente a ani
malidade, há outros que parecem trazer o apaziguamento, dispensar
uma indizível plenitude à vida interior e confortar a própria vida
orgânica. Os que conheceram mesmo que só por uma hora este tipo
de êxtase, dele conservam inextinguível nostalgia, que pode muito
bem conduzir à desesperança e ao suicídio, pois age como um forte
corrosivo da vontade de viver. O retorno à serenidade necessita então
de meios de objetividade superiores.
24
Entretanto, é necessário nótar que a dependência, a subordina
ção de um indivíduo à irradiação de um outro não possui invariavel
mente caráter salutar ou simplesmente agradável: vêmo-los ligados a
um ser em que tudo os desagrada, os quais tiveram tempo de avaliar e
de quem tanto a moral como o físico lhe são odiosos. Permanecem
entretanto incapazes de se desviar de seu influxo. Se, por acaso, eles
se libertam durante alguns dias, ressentem-se da ausência ainda mais
penosamente do que de toda a repulsa ou desprezo que lhes inspira-
raram a origem.
25
CAPITULO III
A INTERREAÇAO
1. OS INAPTOS
2. OS PREDISPOSTOS
28
3. O PARA-AMOR E O AMOR INTEGRAL
29
arrebatamento exaltado das funções genéticas e por uma avidez
recíproca de presença, bem aproximada da toxicomania e da
obsessão.
— Enfim (este pode ser o caso mais freqüente de para-amor) a evidência
de uma das características da imagem-síntese mascara a ausência dé to
das as outras e a cristalização se faz. Cedo, por uma ingênua injustiça,
o que se desencaminhou reprova o outro por ele não possuir as quali
ficações que havia acreditado ver.
4. AS FANTASIAS INICIAIS
30
5. A REALIDADE MAIS FREQÜENTE
31
Acrescentamos a apreseenção pura e simples de um retorno à
solidão, aquela do "o que vão dizer", eventüalmente o ciúme, a pers
pectiva em que esta ruptura implica, de perder um apoio ou de sofrer
um prejuízo social e teremos enumerado aproximadamente todos os
fatores do estado, ulterior ao amor dissociado, que perpetua em nos
sos consortes a ânsia de apropriação do amante ou do marido.
32
ga ele deseja, pelo menos quando aquela não possui os recursos mo
rais sem os quais não há determinações firmes e inflexíveis. Como a
superioridade de inteligência não faz presumir a força de caráter, daí
decorre que o dominador pode muito bem ser o inferior .0 que existe
de típico no amor suportado, é que o paciente se deixa manobrar
pelo agente a despeito de sua disparidade em relação a ele, a despeito
de suas verdadeiras inclinações , a despeito de seus interesses e fre
qüentemente sem o menor vestígio de resistência. Como o hipnotiza
do que executa uma sugestão com a convicção de agir por sua própria
vontade, o homem ou mulher sujeitados pela impregnação mental
encontram neles mesmos a causa de suas passividades. São os predis
postos em quem a observação revela um verdadeiro masoquismo
emotivo-cerebral. O tipo dessas conjugações, tributárias das disposi
ções da pessoa que aqui desempenha papel ativo, permanece muito
variada. Tendo o desejo animal como principal móvel, tudo termina
desde que o agente, saciado, transfere para outro seus desejos. Mas,
se, por uma mania dominadora, sua sexualidade se associa nela a
"vontade de domínio", ele não deixa facilmente escapar a presa fle
xível que dirige, sujeita e freqüentemente humilha.
Poder-se-á contestar nossa interpretação dos casos deste tipo,
mas não anulá-los.
7. A EXCEÇÃO
33
tre os quais nenhum contenha um "desideratum" refinado, poderíam
quase distintamente satisfazer a todo homem sem complicações.
Mas as latências do amor e da paixão total não atingem as mais
elevadas potências senão no âmago dos psiquismos cuja hereditarieda
de e cultura evoluíram grandemente. Uma sinfonia faz supor a exata
proporção de um elevado número de executantes, todos impecáveis.
Igualmente o grande Amor, imensa palpitação, exige que nas tres
esferas, sensorial, afetiva e intelectiva, todos os timbres sejam repre
sentados.
No processo do para-amor, vimos como certas impressões vêm
alternadamente procurar eurritmicamente as ressonâncias oferecidas
entre os componentes do complexo eletivo. Das recepções ou per
cepções vindas do agente, nem todas operam desta forma. A harmo
nia permanece lacunosa. É uma série de acordos entre pausas e silên
cios. A cristalização se apóia em postulados espontaneamente imagi
nados.
Ao aviso do amor, todos os elementos do complexo encon-
tram-se subitamente afetados por uma idêntica harmonia e no mesmo
momento. Mais instantânea e progressivamente, impõem-se a no
ção da presença de um exato complementarismo. 0 encantamento
surge de repente, em toda a sua ilimitada duração. 0 caráter pacifica
mente majestoso dessa invasão desafia a que o comparemos ao "amor
à primeira vista" Hr nossos romancistas. Não se trata aqui de simples
choque de dois olha. seguido do abrasamento passional: a contem
plação, por si, leva à plenitude.
Por mais audaciosa e aparentemente contraditória em relação a
certos fatos que possa parecer nossa afirmação, achamos normal que,
em casos semelhantes, se estabeleça o sincronismo, porque o agente,
sintonizado com o paciente, reage sobre ele de modo eminentemente
atrativo.
Antes mesmo que os dois interessados tenham tido licença para
se expressar, o acordo integral de seus psiquismos encanta seus consen
sos mútuos. Virtualmente, suas personalidades e seus destinos se con
jugam, sem a sombra de uma hesitação, sem a menor perturbação e
com toda a serenidade.
Importantes repercussões sucedem-se ao nascimento do amor.
Uma espécie de martelo determina em uma e outra parte, a agitação
de potências afetivas até então estáticas e insuspeitadas. Um dinamis
mo — tão possante que cada um se assombra em possuí-lo — inten
sifica todos os tipos de vida interior, ilumina as penumbras, evapora os
resíduos mnemônicos penosos do passado, aniquila os temores e trans
forma muitos desejos em claras decisões. É ao mesmo tempo um reju
venescimento e um consolo.
As bebedeiras leves concedem instantes de esquecimento, mas
a nódoa permanece mesmo depois que se dissipam seus vapores. 0
grande Amor, estado psíquico lúcido e permanente, renova o incon-
ciente do qual sua Mocidade preenche toda a extensão, expulsa os li
mos e reanima os centros vitais em perigo de extinção. Ele reagrupo,
34
coordena e hierarquiza os diversos elementos psíquicos, criando assim
uma convergência que enaltece todas as faculdades.
Uma nova representação dos valores exteriores substitui aquela
que precedeu o choque inicial. Tudo é percebido, apreciado sob um
novo ângulo, verdadeiro revelador, para as pessoas e coisas, do quali
ficativo essencial.
Em resumo, os ápices individuais respectivos do homem e da
mulher em perfeito complementarismo se completam com uma estra
nha rapidez: tudo que, timidamente, se elabora, desbrocha como que
por magia.
No amor-paixão clássico, a avidez ansiosa de possessão provém
do sentimento de que ela sozinha assegurará indubitavelmente uma
reciprocidade ardentemente antegozada, mas à qual se teme ter que
renunciar. Neste caso, não há nenhuma pressa, porque as invisíveis
conseqüências da imantação integral produzem uma alegria incessante
e profunda, muito além do tangível.
É este o caso de exceção em nosso tempo. Explica-se porque o
seja. As sínteses individuais se rarefazem sob o efeito das orientações
especializadas que a utilidade exige. Unicamente alguns privilegiados,
cujo desenvolvimento, isento de entraves, aspira a homogeneidade,
vêem o amor sob a égide da representação que conduz à idealização.
35
CAPITULO IV
ESTUDO CLINICO
1. LITERATURA E REALIDADE
37
"Nós temos um hábito, que aliás começa um pouco a se perder,
infelizmente para as damas, que consiste em divinizar o sexo feminino.
Esta idéia da potência superior da mulher, misteriosa desconhecida
ela não é tanto assim — da mulher impenetrável, todas essas idéias se
desenvolveram em conseqüência de todos os romances de cortesia da
Idade Média".
Mais adiante, M. JANET acrescenta: "Há pois coda uma evolu
ção social que nos levou a pesquisar estes sentimentos de amor. Todos
eles, que foram construídos pela história, modificados pelas diferentes
civilizações, parecem-me ter uma característica comum que vai ser im
portante. É que os sentimentos de amor tendem pouco a pouco a dis
tinguir cada vez mais os diferentes homens uns dos outros".
Três questões se colocam, inicialmente, após a leitura da expo
sição precedente:
1. °) *0 estado psíquico denominado amor implica necessariamente na
divinização da mulher amada?
2. °) 0 amor procede da divinização a priori de sexo feminino?
3. °) A mulher diviniza o homem pelo qual se apaixona?
Acreditamos que estas três perguntas devem receber uma respos
ta negativa.
Que o homem de Neanderthal foi inapto para os estados de sen
sibilidade e de consciência acessíveis ao Europeu moderno, nós admiti
mos de bom grado com M. JANET. A evocação do que foram os amo
res do primitivo, parece-nos que PELADAN a esboçou muito verossi-
velmente no "Livro do Cetro". Esse primitivo, absorvido principal
mente pelo instinto de conservação, tinha perto de si "um outro ser
mais desvalido, a mulher: infinitamente infeliz, presa de mil terrores,
sem força mesmo para satisfazer sua fome. Ao vê-la, o homem foi to
mado por um desejo intenso e se lançou sobre ela, que fugiu assustada,
defendeu-se e por fim tornou-se dolorosamente presa do homem. 0
desejo renascente do selvagem impacientou-se e depois se afligiu ao ver
a mulher se esquivar e não ceder senão à força; ele pensou em amansá-
la, e um dia, ao invés de se precipitar como um bruto, ele traz sobre
folhas trançadas algumas frutas, um pedaço de sua caça. A mulher ti
nha fome. Ela comeu e pensou que seria bom paralela que o homem a
cada dia, lhe trouxesse assim a subsistência: ela deu então seu primeiro
sorriso e seu primeiro beijo. Ele sentiu um impressão muito diferente
com essa manifestação de ternura e foi menos brutal: havia nascido o
sentimentalismo e findado a selvageria. Mais alguns momentos e o
amor teria desabrochado, com Eros deslindando o caos de todos os
começos.
Tudo isto permanece o que se denomina um "desígnio" do espí
rito aliás como o mesmo título das teorias que atribuem à literatura
o nascimento do amor. Mas não parece mais provável admitir que o ní
vel de sensibilidade e imaginação necessárias a constituição dos estados
amorosos é o caminho para uma série de espontaneidades partindo do
sexual para reagir sobre o afetivo. M. PELADAN parece desta opinião.
Dê a qualquer pessoa simples ou não erudita um romance de
BOURGET e ela sem dúvida não encontrará atrativos suficientes para
38
concluir a leitura e, continuando-a, ela não saberia modificar sua men
talidade de modo apreciável. Todas as prosas citadas por M. JANET
permaneceríam do mesmo modo inócuas se aqueles que foram sensí
veis a elas tivessem ficado abaixo do nível no qual o amor torna-se
possível.
Mantegazza, em sua célebre Fisiologia, disse que observou incu
ráveis desesperos de amor entre selvagens tribos africanos. Há melhor
ainda. Hartmann falou de um cão que fazia cada noite um quilômetro
para visitar sua preferida, embora tivesse a sua disposição várias outras
cadelas apreciáveis. Seu dono lhe prendeu ao pescoço um pesado cepo,
afim de impedi-lo de realizar sua caminhada noturna: tempo perdido.
Apesar deste engenho, o animal continou e retornava cada manhã
exausto e ensangüentado 0). Eis aí claramente o primeiro fenômeno
de seleção, o primeiro elo da cadeia evolutiva, que vai do puro embru-
tecimento funcional à síntese de eletividades sobre a qual nos estende
mos longamente no início deste livro.
PAULHAN (1 2), depois Joanny ROUX (34 ), distingue do apetite
genético "uma necessidade vaga que deseja ser satisfeita mesmo que o
sujeito consciente não tenha ainda nenhuma idéia precisa da satis
fação". "Eu estava, diz ROUSSEAU, inquieto, distraído, sonhador:
eu chorava, suspirava; desejava uma felicidade da qual não tinha idéia
e da qual sentia contudo a privação" (4).
Mesmo além das necessidades amorosas próprias da sensibilidade
e da imaginação, necessidades que parecem nascida do desenvolvimen
to espontâneo e não de uma sugestão literária, resta inda a considerar
o papel atrativo dos complementarismos fluídicos. Uma partícula de
aço diante de um formidável eletro-íman não seria mais imperiosamen
te erguida, arrebatada e aspirada, como são as fibras de alguns, desde
que u ser irradiando tal freqüência e tal comprimento de ondas curze
seu caminho.
Qualquer que ela seja, julgamos que a necessidade do amor senti
mental se manifesta não ardentemente quanto a outra, às vezes bem
mais, no civilizado de nível médio. Ora, essa necessidade, contrariada
na maior parte dos casos, ocasiona uma espécie de recalque cujos
prejuízos, menos fragorosos que os dos males freudianos, não são nem
menos penosos, nem menos/)erniciosos.
2. EXPLICAÇÃO
39
como o animal", com a diferença que seu cio não obedece a um ritmo
com periodicidàdes fixas. A respeito disso não é inútil notar que se en
tre dois perídos de cio o animal não manifesta nenhuma propensão
aos relacionamentos sexuais, é porque sofreu somente a primeira
das duas incitações próprias ao homem: a saturação e a ação sugestiva
dè imagens diretas ou reminiscentes.
Limitado às reações funcionais, o "primeiro" evidentemente não
conhecerá jamais os tormentos de Adolfo ou de Werther. Em contra
partida ele se acha muito estreitamente, muito pesadamente tributário
do jugo fisiológico. Nele, a fome sexual invasora, despótica, se mos
tra, à falta de uma válvula de escape, incoercivelmente obsedante.
Se bem qua a princípio toda "válvula de escape" lhe convenha
quase indistintamente, o primitivo pode, na ocasião de seu primeiro
desejo claramente localizado (na época da formação), tornar-se um re
calcado no sentido freudiano. Sabemos como as imagens associadas às
primeiras emoções genéticas impressionam profundamente o incons
ciente. Ele poderá igualmente tornar-se recalcado se for repelido por
um tipo feminino que lhe tenha despertado um ardor particular.
Fato digno de nota, o caráter simplista do condicionamento
amoroso não imploca em pobreza cerebral: ela se observa mais fre-
qüentemente entre os financistas que entre os trabalhadores.
Segunda categoria: a dos afetivos. Ela compreende não somente
aqueles nos quais a vida afetiva se sobrepõe à vegetativa e à intelectiva,
mas todos àqueles que não saberiam ter uma satisfação sexual comple
ta sem que as aspirações da sensibilidade concorressem para isso. Para
todos esses, a complementação física mais satisfatória deixa permane
cer uma incompletude motivadora de depressões nervosas e mesmo de
perturbações psíquicas, se não implica em contentamento sentimental.
Este contentamento é obtido por períodos mais ou menos longos, pe
lo para-amor. Mas voltam à clinica durante os intervalos nauseantes ou
dilaceradores das pré-rupturas. Eles para lá retornam também quando,
já sob o domínio da imagem-síntese ideal, seu correlativo verdadeiro
se esquiva. Entre os afetivos há, além disso, uma certa proporção de
inaptos a despertar o para-amor e cuja vida interior é uma longa tristeza.
Terceira categoria: os representativos, isto é, não os indivíduos
capazes de concepções representativas — destes encontram-se mü itos
entre os afetivos — mas os homens entre os quais o representativo pre
domina sobre o afetivo. Filósofos lúcidos ou psicólogos clarividentes,
sua causalidade os inquieta à medida que os esclarece. Daí decorrem
mil ansiedades, mil hesitações,, mil reticências que concorrem para o
que Jean de TINAN denominou "a impotência de amar".. A seu crédi
to, entretanto, um privilégio: a possibilidade, só a eles reservada, de
dissociar, de eliminar a substância de um sofrimento, de um desgosto
de amor.
40
3. AS PSICOSES DA PAIXÃO
41
em sua noiva, atingindo principalmente a carótida, o que provocou sua
mprte. Depois fugiu e se jogou sob um trem".
Segundo caso típico onde se manifesta a psicose da paixão: o de
"recusa em retornar à vida conjugal". Exemplo: "Um homem deu
cinco tiros de revólver em uma mulher que ele parecia esperar há al
gum tempo e com a qual acabara de ter uma rápida conversa. A vítima
e o assassino haviam vivido juntos durante oito anos. Haviam rompido
e reatado suas relações diversas vezes. Há alguns dias, a mulher comu
nicou ao companheiro sua firme decisão de terminar absoluta e defini
tivamente todo o relacionamento. Foi então que o abandonado se de
terminou a usar violência". O orgulho ferido ou o interesse frustrado
podem figurar — e freqüentemente figuram — entre os motivos do
ciúme denominado "passional", mas eles seriam insuficientes para
condicionar o impulso se as reações da sexualidade não predominassem.
Ao contrário, entre o esposo ou esposa que mata, seja o infiel,
seja seu "cúmplice", a origem do homicídio relaciona-se quase sempre
com a paranóia ou a megalomania. E depois, há o instinto de proprie
dade, revoltado com o agravo que sofreu. Enquanto que a atração
amorosa se extingue depois de alguns lustros, a idiossincrasia possesiva
subsiste, o obtusa, cega e surda. O tipo de cólera própria daquele que
abate um gatuno surpreendido em seu campo, também alucina fre
qüentemente o marido ciumento".
4. O RECALQUE SENTIMENTAL
Nós avaliamos em 65% o número de humanos principalmente
vegetativos, ou seja, cuja vida afetiva, larval, não tem por origens inter
nas senão as ressonâncias do apetite e, por causas exteriores, as suges
tões inseparáveis do estado gregário. Os afetivos propriamente ditos,
ou seja, aproximadamente 20% do contingente social, são aqueles de
uma sensibilidade extensa, precisa e bem coordenada. Há tipos inter
mediários entre as duas categorias. Desde que se torne possível um es
boço de sentimento amoroso, isto é, desde que o complexo eletivo
comporte os elementos afetivos de seleção, àquilo que Joanny ROUX
denominou a fome sexual vem se associar a necessidade de um tipo de
emoção, de um gênero de estado psíquico, sem o qual há a incomple-
tude ou recalque.
Em um nível hereditário e cultural equivalente, o homem se mos
tra bem mais puramente sentimental qúe a mulher. Sabemos que, na
opinião corrente, é o inverso que se considera verdadeiro. Entretanto,
o homem separa, melhor que a mulher, suas disposições amorosas da
utilidade. No pensamento da mulher, os elementos do complexo eleti
vo não se dissociam senão raramente das considerações relativas ao seu
futuro. Ela sonha com o amor pensando em um apoio ou em um pro
tegido, em uma réplica ou ém uma complemehtação cívica, a uma su
jeição ou a um reinado. Tudo isso pode ocasionar sentimentos estimá-
veis e proveitosos à vida coletiva ou familiar, não necessariamente ao
42
amor. Dessa forma, a mulher se satisfaz afetivamente com mais facili
dade que o homem: 97% dos recalcados estão do lado masculino.
Entre esses últimos, observamos:
a) Os casos onde o complexo eletivo não poderá jamais encontrar sa
tisfação integral, porque alguns de seus elementos requerem um tipo
feminino incompatível com outros determinados elementos. Conside
remos, por exemplo, um indivíduo definível e pelos seguintes númér&s:
Avidez genética......................... . . 4
Aptidão às diferenciações sensoriais .... 8
Impressionabilidade emotiva.................... 6
Potencialidades sentimentais............. 8
Imaginação................................................... 5
Inteligência ................................................. 7
Este se orienta obscuramente em relação a um conjunto de qua
lificações estéticas, sentimentais e cerebrais raramente.reunidas na exa
ta proporção que conviría.
b) Os casos onde tendo encontrado (ou pensa haver encontrado) seu
complementar homogênio, o interessado teve que se afastar por um
motivo qualquer, renunciando a toda perspectiva de união.
c) Finalmente, os casos çm que, tendo obtido e vivido a harmonia
amorosa requerida por seu sêxtuplo condionamento, o sujeito se vê
frustrado, seja por uma mudança de orientação do objeto, seja por
qualquer outro motivo irremediável.
5. A CRISE AGUDA
43
de perda imposta por todo insucesso. Tanto mais radiosa é a esperan
ça, mais pungente é a decepção que se segue.
Finalmente o dinamismo, daí em diante represado e desorgani
zado, do conjunto de impulsos suscitados pelo amor, se transforma em
revoltas convulsivas de que decorrem, por exemplo, tentativas de en-
ternecimento: cartas de súplicas desvairadas, diligências loucas, escân
dalos. . .
A inconsciência material ou todo comportamento revelador de
extinção ou de inexistência de disposições amorosas que se acreditava
ganhas í1) tem efeitos análogos aos precedentes, sem todavia atingir a
acuidade, salvo raríssimas exceções. Ao contrário, sua profundidade e
duração parecem ultrapassar as da recusa inicial para a simples. Cura-
mo-nos mais depressa, mas também mais superficialmente de um aban
dono, do que de uma recusa.
Resta a separação ocorrida após uma desilusão de duração mais
ou menos longa. Ela faz retornar um estado psíquico produzido pela
ilusão, mas cuja intensidade e amplitude são reais e levam ao auge a
animação interior. As almas sentimentais cedo enfeitam com uma in
finita idealização todo esplendor físico que encanta seus olhos. Eles
cedem com facilidade a esse estado de graça suprema, de êxtase hiper-
físico: a adoração. A miragem se dissipa. Permanece a nostalgia das
inefáveis fantasias que ela criou.
Aqui a crise aguda pode muito bem se declarar, mas mais tarde,
dali a semanas, meses, às vezes anos depois do afastamento. Existem
lentes agonias habilmente disfarçadas em falsas convalescenças e suicí
dios judiciosamente excecutados de modo que suas aparências de es
pontaneidade não sejam jamais objeto de suspeitas.
6. OS ESTADOS CRÔNICOS
O estado de recalque faz supor uma abstenção, uma renuncia
voluntária. Em seguida às crises agudas sofridas, o amor magoado,
mesmo que se dissocie lentamente, mesmo que subsiste, comporta um
período muito longo de melancolia, melancolia essa muito diferente
do qüentes do romantismo. A cada instante em que rareiem as necessi
dades e obrigações diárias, as imagens do passado retornam, obsessivas,
des e obrigações diárias, as imagens do passado retornam, obsessivas.
Seus relevos coloridos e vivos aviltam os do presente para qual o espí
rito agora se volta cheio de aversão. Tudo parece morno e sem atrati
vos. As satisfações possíveis no momento: aquelas prometidas pelo fu
turo próximo ou distante são encaradas com indiferença. As pessoas
do sexo oposto passam, aproximam-se, afastam-se, como sombras im
pessoais.
A alternância das séries de representações necessitadas pelo pa
pel social do paciente e a condição imediata que compensa as horas
em que a atenção cessa de ser objetivamente monopolizada, consti
44
tuem um verdadeiro desdobramento psicológico de variadas conse-
qüências. Para unsf segue-se uma tendência ao automatismo, à evicçao
de tudo que interrompa e limite seu devaneio retrospectivo. Para ou
tros, há antes a tendência à fuga por meiò de uma atividade absorven
te: eles temem ficar a sós consigo mesmos.
Com o correr do tempo — depois de um ou dois anos — ocorre,
para alguns, a gradual desagregação do complexo primitivo, mas isto
não ocorre sempre: o estado crônico pode persistir ad vitam e originar
desordens psiconervosas mais ou menos graves, (enfraquecimento das
faculdades cerebrais, astenia, etc.) levando a uma profunda alteração
da vitalidade. Pode-se perfeitamente morrer de amor.
7. AS CARÊNCIAS
45
Por REPULSIVOS, designamos os seres afligidos por um tipo de
fealdade que P. BOURGET definiu assim: "Há uma feiúra que ma
ta o amor, e os que são afetados sabem-no desde sua primeira adoles
cência. É a feiúra infeliz e malsã, desajeitada e mesquinha, pobre e en
velhecida antes do tempo. Seja corcunda, mas tenha dentes bonitos,
pode ser que o amem malgrado sua imperfeição. Seja caolho, mas tenha
um perfil charmoso. Seja coxo, mas com um belo olhar. Seja despen-
teado e sujo, com uma aparência de hércules. Seja mesmo um mons
tro. Há pesquisadoras que o desejarão. Mas, se seu espelho de barba
lhe revela, a cada manhã, em seu rosto e em toda sua pessoa, a fealdade
comum, não espere a experiência para seguir o conselho que a cortesã
veneziana deu a Jean-Jacques: "Lascia le donne e studia Ia mate-
matica (1)".
Destas considerações, conclui-se que só a feiúra baseada na debi
lidade é eliminatória. Ela o é, em nossa opinião, porque o organismo e
o psiquismo do débil irradiam muito tenuamente as modalidades ener
géticas de que notamos, no capítulo II, a inegável influência. Uma má
quina fisiológica vigorosa, uma alma resoluta, implicam, ambas, a des
peito das aflições morfológicas mas chocantes, na propriedade de mag-
netização e na possibilidade de contínuos apresamentos, sob os nomes
de "magnetismo animal" e "influência telepsíquica".
Entre os REJEITADOS, observamos homens agradáveis tanto
no exterior como no caráter, inteligentes, bem educados, de modo al
gum perturbados em meio ao mundo, muito observadores para se mos
trarem cândidos, muito sutis para cometer a menor falta de tato, mas,
no fundo, medrosos, irresolutos e oscilantes.
Felizmente a maioria dos homens assim desqualificados não so
fre. Eles não se dão conta disso. O jogo dos automatismos sociais os
encaminha, na ocasião oportuna, ao encontro de uma mulher à qual a
perspectiva de ser chamada de madame e um lar, lhe sorriem suficien
temente para fazê-la aceitara primeira oportunidade de união honrada.
Do lado feminino, não ocorre o mesmo. Aquelas cuja individua
lidade não suscita jamais as ressonâncias que dão origem ao amor, de
vem quase sempre resignar-se, seja à perpétua solidãp, seja às breves
passagens que o fogo do desejo masculino oferece à mais deserdada,
implicando na maior parte das vezes em amanhãs perigosos.
46
CAPITULO V
ÃUTOTERAPIA
1. O SOFRIMENTO DE AMOR
47
to da contrariedade de perder para ele uma soma elevada, como você
o julgaria? Você mesmo acaba de perder uma partida e, porque a sorte
designou outro ganhador, deseja anular a partida!"
Um pouco de esportiva virilidade é suficiente para fazer encarar
sadiamente qualquer derrota.
Um pouco de eqüidade é suficiente para mostrar a injustiça que
é culpar-se aíguém pelo fato de não havermos agradado.
Um pouco de orgulho é suficiente para manter a decisão de se
exercitar, desde o início da existência, em encarar as adversidades sem
esmorecer.
Um pouco de senso comum e de amor próprio impõe a decisão
de minimizar as conseqüências de uma desgraça, por mais cruel que
ela seja e de superar os reflexos de que resultariam outras aflições ir
reparáveis.
Essas considerações não terão efeito, como dissemos anterior
mente, sobre aqueles a quem falta esse mínimo de lucidez cerebral,
sem o qual não se percebe as coisas mais evidentes.
Aos demais, aconselhamos:
1. °) Reduzir a concepção de sua "infelicidade" às justas propor
ções: às de um simples revés;
2. °) Recorrer ao esforço físico, poderoso derivativo, especial
mente eficaz em seu caso;
3. °) Associar a ■ ecordação de suas esperanças desfeitas a evoca
ção de um futuro no qual múltiplas oportunidades lhe darão, repetida
mente, um contentamento idêntico ao que lhe foi roubado.
O desgosto de amor sentimental, devido a suas implicações psí
quicas, apresenta uma importância totalmente diversa do caso pre
cedente. Ele não é observado senão entre os afetivos e os representati
vos mencionados em nossa tentativa de explicação. Por afetivos puros,
nós entendemos os seres entre os quais o "sensorium" e o "cerebrum"
sofrem continuamente a supremacia da sensibilidade:o coração gover
na a cabeça e os sentidos. Nenhum método de auto-terapia convém
aos afetivos, porque não são condicionados de uma forma tal que tor
na impossível para eles subordinar seu pensamento e seus comporta
mentos a uma diretriz refletida. Eles não se curam de um amor senão
por um outro amor ou sob a influência de um apresamento extremo.
Nós os colocamos no capítulo seguinte.
Os representativos, cujo pensamento refletido apresenta a limpi-
dez, o relevo e a firmeza necessários para modificar seus estados afeti
vos, são os únicos capazes de eliminar metodicamente o amor pelo
qual sofrem. Tudo que vem a seguir refere-se exclusivamente a eles.
Entre essas duas categorias há, bem entendido, toda uma série
de tipos intermediários. Alguns evoluem do afetivo puro ao represen
tativo predominante. A educação psíquica, tal como a entendemos, vi
sa a complementar essa evolução.
48
2. CONDIÇÕES DE AUTO-REAÇÃO
1. Por “transferência de afeto" eles estendem sua inclinação para um outro indi
víduo . Achamos que essa expressão é susceptível de uma acepção mais ampla.
O que quer que seja, ela possui, em si mesma, um valor sugestivo determinado:
dê origem a idéias vigorosas.
49
Para não abusar de uma expressão de modo inadequado, nós uti
lizamos indistinta mente, desde o fim do capítulo III, o termo amor,
seja a propósito da excepcional correlatividade, seja a propósito do pa-
ra-amor, seu habitual relativo. Mas os convalescentes não elevem deixar
de considerar que somente o para amar pode não ser recíproco, já
que o termo amor implica na exata e mútua correspondência de dois
complexos eletivos. A própria indiferença do objeto revela sua inade
quação ao sujeito, demonstra o caráter incompatível dos dois comple
xos eletivos e, portanto, a necessidade, para o sujeito, de rever a repre
sentação que ele idealizou do objeto. Freqüentemente se ama a despei
to de imperfeições claramente percebidas e de evidentes divergências
da personalidade pela qual se está enamorado. Mas, uma vez adquirida
a certeza de não ser amado, a lembrança dessas imperfeições e dessas
divergências atua como antagonista dos componentes do amor em vias
de extinção.
Um dos aspectos da tendência ao abandono de si mesmo que ini
be, no início, a iniciativa autofterápica, é a sensação de perda, insepa
rável do revés. Sente-se vítima, porque, em lugar das venturas antego-
zadas, o que na verdade aconteceu foi o desgosto. Como demonstra
mos, há compensações. Além do mais, é necessário afirmar e repetir
que, a partir do dia em que se resolve reagir deliberadamente, ocorre
um indubitável decréscimo da dor presente. Sente-se vítima em rela
ção aos outros, àqueles que sabem o tormento que se está sofrendo. É
com toda certeza deprimente saber-se obervado, comentado, olhado
com comiseração, quando não com ironia. Na falta dessa cultura psí
quica que cria, de uma vez por todas, a mais absoluta indiferença
quanto às apreciações de que se poderia ser objeto, que coloca defini
tivamente um ponto final em toda preocupação com a aprovação
alheia, é necessário dizer-se que um pronto restabelecimento — no sen
tido em que o consideram os ginastas — equivalerá a uma réplica bri
lhante. Pode-se resumir tudo que se disse até agora em cinco palavras:
"Eu posso e eu desejo", e empenhar-se na batalha...
3. DIRETRIZES ESSENCIAIS
50
no. Inicialmente, organizar seu descanso noturno: dormir de oito a
dez horas em um cômodo bem arejado, silencioso. Prescrição mais
simples de formular do que realizar, mas que convém não declarar, a
priori, irrealizável. A capacidade de dormir do paciente, prejudicada
por sua excitação psico nervosa, se regulariza sozinha se ele se impuser
um regime bem leve, especialmente ao jantar. Pará auxiliar o retorno
ao ritmo normal, não é contra-indicado recorrer a um sonífero. Evi
tar a intoxicação de origem endógena, causadora de insônia, justifica
a ingestão de um soporífero, menos hocivo do que uma noite em cla
ro. Além disso, esse recurso será temporário. Após uns quinze dias,
tornar-se-á desnecessário, se não houver desvios graves no regime, so-.
bretudo nas dez horas que precedem a ida para a cama.
A propósito do regime, enquanto o mesmo permanecer muito
rigoroso à noite, será necessário satisfazer o apetite no almoço, de for
ma qualitativa, entenda-se bem, evitando ultrapassar a quantidade
além da qual, ao invés de ser favorecido, o bem-estar interno desapare
ce diante do peso, das agitações e das alterações da lucidez do espírito.
Esta última deve visar ao ponto ótimo. Tudo aquilo que, seja de que
maneira for, perturbar o equilíbrio, a limpidez e a agilidade do pensa
mento, deve ser rejeitado.
Auxiliar-se-á muito a regularização geral, de que decorre essa
contínua satisfação visceral e cerebral, característica da perfeita itran-
qüilidade, praticando a respiração integrahe fazendo um exercício físi
co agradável, sem ser cansativo. O estado de alma com que se encara
tudo isso desempenha papel considerável. Inicialmente, alguns vêem
nisso uma espécie de "pensum": que se veja principalmente o repouso,
a absorção, em sua fonte principal, da vida, da alegria interior, o cami
nho da liberdade.
A abundante oxigenação e o exercício contribuirão, além disso,
para trazer, a cada noite, esse suave torpor espontâneo pelo qual o
acesso ao sono se transforma num tipo de volúpia etérea, de partida
fácil para a região do repouso, da qual se torna alerta e plenamente re
cuperado.
Começar inicialmente impondo-se esforços desproporcionais ao
estado depressivo — coisa que, com uma imprudência olímpica, acon
selha a maior parte dos adeptos do bem respirar — seria impróprio. É
suficiente, no início, estender-se horizontalmente, a cabeça ao mesmo
nível do corpo, seja nurh local ampiamente aberto, para que, automa
ticamente, a amplitude dos movimentos respiratórios se acentue. Fa
zer isto uma hora antes de dormir, por exemplo, difundirá ao mesmo
tempo calma e novas energias. Prudentemente, lentamçnte, negligen
temente mesmo, se trabalhará, inicialmente, alguns minutos por dia,
depois cinco minutos, etc., a respiração dita ondulada. Eis aqui como
a ensina o Dr. MALACHOWSKY (1):
J'Você está estendido no chão, os braços ao longo do corpo.
1. Dr. Malachowsky, "Você deseja viver vinte anos mais?" Edições Prométhé.
51
"Primeiro tempo: você começa a inspiração projetando o ãbdome para
frente.
"Segundo tempo: você continua a inspiração mas ao mesmo tempo re
trai o abdome.
"Terceiro tempo: você continua a inspiração que dilata sucessiva mente
todas as partes médias do pulmão, para chegar até o ápice. O diafrag
ma está então descido à parte mais baixa do abdome e o tórax pode
se dilatar em todos os sentidos ao mesmo tempo. Por um lado, o cen
tro frênico está contraído e o diâmetro vertical do tórax aumentou;
por outro lado, a contração do diafragma elevou as costelas e as colo
cou para fora e para frente, causando igual aumento em seu diâmetro
ântero-posterior.
"Quarto tempo: o^tempo da expiração, que se faz simplesmente, com
naturalidade e que será mais evidente se se pronunciar um f..., um f...
mudo.
Os efeitos dessa prática sobre a hematose e, conseqüentemente,
sobre os centros nervosos, merecem amplamente o qualificativo de
"renovadores".
Quanto ao gênero de exercício que melhor se adapta ao estado
que procuramos modificar, é, em nossa opinião, uma longa caminhada
diária, por um caminho agradável aos olhos e ao espírito. Mais tarde,
exercícios físicos um pouco mais fortes terão lugar, desde que o estí
mulo trazido pelas primeiras atitudes de reação faça aparecer a neces
sidade de movimento, de esforço muscular, característica de um bom
equilíbrio. O animal e a criança sadia correm, saltam e sobem por pra
zer. O adulto desintoxicado e fortalecido retoma o gosto pelos jogos
de força e de destreza. Lembremo-nos da consulta do Dr. NOIROT na
"Psicologia do amor moderno" de BOURGET: "Minha pobre máqui
na nervosa, escreve o doente, após a esforçada tentativa de sessões diá
rias de esgrima, não me permite mais o exercício violento dos múscu
los" Eis aí como se desanimam quase todos aqueles que se dedicam
ou voltam a se dedicar ao esporte: eles não medem a transição entre
um sedentarismo debilitante e um esforço que se tornaram incapazes
de sustentar agilmente.
2.9) Mesmo que o paciente tenha cuidado com seus mecanismos
fisiológicos, com sua máquina interna, de modo a se sentir, segundo
uma expressão banal mas insubstituível, bem à vontade dentro de sua
pele, ele se sentirá melhor ainda ao se esforçar em cuidar com a mais
minuciosa atenção de sua estética pessoal. Que ele visite seu oculista,
seu dentista ou seu massagista. Que ele dispense um dedicado interes
se às suas roupas. Que ele tenha seu rosto bem tranquilo, com o desejo
de não deixar transparecer nenhum traço da mágoa em vias de extin
ção. Tudo isso não somente desviará, prevenirá os seus pensamentos
obsessivos e ajudará á retomar o gosto pela vida, como também a ati
tude (1) se refletirá sobre as disposições psíquicas e um conforto real
daí decorrerá (2),'
52
39) Satisfazer a emotividade com o intuito de aliviar a incom-
pletude que ela sofre. A diferença essencial entre o apetite instintivo
puro e simples e o impulso amoroso consiste em que, no amor, as me
nores impressões sensoriais ressoam harmoniosa e intensamente sobre
a sensibilidade e a imaginação, o que cria uma necessidade psíquica cu
ja insatisfação pode levar a uma horrível aflição. Os interessados pode
rão evitar isso procurando a emoção estética em diversos graus. 0$ lu
gares onde a luz, a decoração, a música e as flores juntam sua magia, a
visão das obras de arte, os espetáculos líricos, os panoramas grandio
sos, as evocações poéticas, ou as viagens através da literatura, eis o que
se recomenda. Embora o contrário possa parecer indicado, agirão me
lhor se forem usufruídas pelo indivíduo só e em silêncio: dessa forma,
as receptividades permanecerão plenamente abertas e se impregnarão,
se saturarão sem entraves.
53
das uma tendência a deixar a confidência operar uma “transferência".
A experiência mostra o perigo de um novo amor concebido sem uma
absoluta dissociação do precedente. 0 objeto do segundo retira seu
charme de suas propriedades anestesiantes, mas a menos que corres
ponda exatamente ao complexo eletivo do interessado — o que ocor
re uma vez em cada dez mil — ele desmorona desde as primeiras inti-
midades, porque então aparecem as divergências entre o primeiro obje
to, eleito por tendências profundas e o segundo, incompatível com as
ditas tendências.
7. °) Considerando o risco da transferência prematura do “afe
to" e também de um clássico princípio de esgotamento nervoso, é ne
cessário tomar o mais rapidamente possível a decisão de não falar a
quem quer que seja do que se sente. Os confidentes, os consoladores,
toleráveis no início da crise aguda, passam a atuar como continuado-
res do penoso estado que se pretende eliminar, como diminuidores de
energia. Em sua companhia, sente-se deprimido por inúteis e intermi
náveis evocações ou comentários. Em lugar disso, deve-se dar as costas
ao passado, evoluir rapidamente e encarar o futuro como, no inverno,
se espera pela chegada da primavera.
4. DIRETRIZES AUXILIARES
Nós consideramos uma cura perfeita, logo que o interessado:
— recobrou inteiramente a paz, a serenidade, o equilíbrio, em
uma palavra, aquilo que objetivam as diretrizes essenciais que acaba
mos de ler;
— reconduziu sua representação do objetivo à exata veracidade;
— definiu com precisão as incompatibilidades desse último con
sigo.
Logo que a parte essencial deste programa — a primeira — foi
cumprida, logo que a indiferença inicial é obtida, as duas outras tor
nam-se atraentes exercícios intelectuais, cuja utilidade — além de agu
çar o sentido psicológico — é eliminar do inconsciente todos os vestí
gios do sofrimento recalcado.
Com a ajuda da análise grafológica, fisionômica e, para os que se
interessam pela astrologia, do horóscopo do objeto, poderá ser feito
um lúcido inventário das suas qualificações. Assim se ajudará as lem
branças, as imagens de observação direta que permanecem nítidos na
memória. Dessa forma, chegar-se-á a ver quem ele (ou ela) é na realida
de,, e avaliar objetivamente suas qualidades físicas, os valores de sua
sensibilidade, a envergadura de sua inteligência, os limites de sua so
ciabilidade, etc. Comparando essa imagem verdadeira com aquela
que a cristalização sobrepôs sob a inspiração do complexo eletivo,
uma distância será sentida e concluirá a desafeição.
Embora os seres com predominância afetiva sofram, absoluta
mente desarmados, as fases contundentes do amor e não guardem se
não amargura, os representativos não somente podem se orientar e
modificar progressivamente seu estado, mas também dele tirar uma li
54
ção, um conhecimento mais profundo de si mesmos e do fenômeno
amoroso, um sentido filosófico melhor informado e um vigor moral
mais duradouro.
5. LIBERAÇÃO FLUÍDICA
Nos casos de atração por impregnação, por ressonância eurritmi-
ca (ver capítulo II, parágrafos 3 e 5), a principal causa de perturbação
reside na frustração dessa espécie de morfina irradiante que é o mag
netismo humano, quando emana de uma pessoa cujo organismo ir
radia exatamente a freqüência e o comprimento de ondas para as quais
se encontra sensibilizado. Como resulta dessas ressonâncias uma indi-
zível euforia hiper física, sua supressão a substitui por um vazio inco-
mensurável que parece desafiar todos os paliativos.
Entretanto, se se eliminar metodicamente todas as partículas de
substância etérea pouco a pouco acumuladas no decorrer da satura
ção, sobrevêm a tranqüilidade.
Esta eliminação se opera ativamente por intermédio de banhos
prolongados, por que — o fato é conhecido de todos os pesquisadores
— a água age como derivativo sobre toda acumulação fluídica, quando
se emerge nela. Uma massa de cera saturada de influência humana, ao
ponto de atuar sobre a agulha do aparelho de Bordes, perde toda sua
imantação se é colocada uma hora dentro da água. Outra observação:
o hidrópico do qual se acaba de extrair, por meio de punção, uma cer
ta quantidade de serosidade, apresenta em geral sinais de desfalecí men
to no momento em que se afasta dele o recipiente dentro do qual está
o líquido. O conteúdo desse recipiente, fortemente carregado de dina
mismo vital, permanece em sincronismo com o doente, na medida em
que é deixado na sua proximidade. É quando ele é retirado que a rup
tura é sentida. Além disso, o efeito calmante dos banhos mornos se
explica, em parte, pela retração do influxo vital que operam.
Na prática, tudo ocorre como se as longas imersões seguidas de
banhos de sol ou de luz azul, a fim de compensar a perda de força que
elas ocasionaram, dessensibilizassem rapidamente a ação de um magne
tismo humano, qualquer que ele seja.
A eletroterapia dá igualmente bons resultados, notadamente a
alta freqüência, cujos dispositivos foram suficientemente populariza
dos para que cada um possa procurá-los e se servir deles. Os aparelhos
para o uso do público são geralmente entregues com um eletrodo me
tálico de auto condução que aconselhamos segurar de preferência com
ajnãQ^esquerda, pois, segundo BARADUC, REICHENBACH e outros,
sendo o lado esquerdo absorvente, o íado direito, por analogia, é con
siderado como irradiante.
6. LIBERAÇÃO PSÍQUICA
0 apfesamento (ver capítulo II, parágrafo 4), muito diferente
da impregnação magnética, porque não opera por ressonância, mas por
55
sujeição, é extremamente raro. Para que ele ocorra, duas condições, às
vezes reunidas por uma estranha coincidência, são necessárias.
1. °) Por parte do agente, um exaltado vigor psíquico;
2. °) Por parte do paciente, uma extrema debilidade.
Uma mentalidade de senhor feudal, dizíamos em "A Influência
à Distância" (^) faz sempre surgirem servos. Reciprocamente, uma al
ma escrava atrai infalivelmente seu cabresto. Pois beml não há fraco
que não possa reagir, desde o instante em que sente uma forte aversão
pela perpétua servidão à qual é condenado por sua inconsistência. Co
mo? Seguindo as prescrições de um bom manual de desenvolvimento
da vontade (2), isto é, impondo-se uma série coordenada de esforços,
graças aos quais será obtido esse absoluto domínio de si mesmo, essa
independência exterior e essa densidade moral contra a qual as in
fluências exteriores vêm se chocar como as vagas contra o rochedo.
Não poderiamos, em algumas páginas, resumir o ensinamento
reeducativo necessário ao estabelecimento da não influênciabilidade.
Nós nos limitaremos a indicar os esforços iniciais a que devem recorrer
todos aqueles ou aquelas que acreditam suportar alguém.
a) Isole-se o mais possível, no mínimo duas horas por dia. Utili
ze estas duas horas para estabelecer, se necessário formulando-as, (por
escrito ou verbalmente) suas paixões, suas aspirações, suas eletividades
em matéria de amor. Descreva bem o tipo individual que lhe conviría,
a fim de melhor perceber, por analogia, até que ponto o ser ao qual
você está submetido por apresamento difere do seu ideal. Esse exer
cício espiritual diminuirá automaticamente sua sensibilidade à influên
cia do agente.
b) Policie-se, para substituir constantemente suas expressões, ati
tudes, palavras e comportamentos espontâneos por uma expressão uni
formemente impassível, uma atitude passiva e fria, palavras deiiberada-
mente escolhidas com o fito de falar da forma mais concisa e calma
possível, enfim, maneiras neutras, sem carinho nem hostilidade, mas
cheias de uma correção distante.
c) Cultive interiormente uma indiferença sistemática por tudo
que se relaciona com a pessoa de cujo apresamento você quer fugir.
Essas três séries de medidas terão, entre outros efeitos, os dè
modificar as disposições do agente, o qual não tardará em parar de se
irritar, a se desconcertar, a se distanciar...
Aqueles ou aquelas que executam o gênero de apresamento em
questão, não se dão, por assim dizer, jamais conta exata desses proce
dimentos. Providos de uma mentalidade imperiosa, dominadora e des
pótica, eles são geralmente muito pouco psicólogos para se perguntar
por que processo eles dominarão uma elevada proporção daqueles que
entram em contato com eles. Toda resistência os irrita, exatamente
como uma negativa exaspera a criança cujos caprichos, na maior par-
1. Edições Dangles
2. "O Poder da Vontade** do mesmo autor (Edições Dangles)
56
te das vezes, são satisfeitos. Entretanto, a resistência, depois a irrita
ção, criam uma depressão proporcional que desorganiza aquele ou
aquela que se vê obstado e desmorona seu potencial de dominação.
Eis o que se passa ao se seguirem as três séries de prescrições ex
postas anteriormente: o agente ao qual se opõe uma calma e impertur
bável atitude fica logo constrangido.
Não faltam casos de apresamento imaginário: a interpretação
errônea de determinadas reações internas pode originar a convicção
de que elas se devem a manobras telepslquicas. Essa atitude pode che
gar quase ao delírio. Ouvimos pobres pessoas nos declararem "que
agiam sobre elas por intermédio da T S. F. (!)". Em outra época, eles
teriam acusado o diabo ou qualquer suposto adepto da feitiçaria. Há
também os impressionáveis, os que se auto-sugestionam: qualquer pes
soa os perturba, aliás sem que consigam fazer-se aceitar. Há então atra
ção e aversão, isto é, conflito subconsciente. Por pouco que o rejeita
do tenha manifestado seu despeito com alguma vivacidade, a lembran
ça de algumas palavras excessivas que ele tenha pronunciado se as
socia, no inconsciente, com a perturbação e isso forma um complexo
fértil em indisposições obsessivas, em ruminações alucinantes, em ma
nia de perseguição.
0 verdadeiro apresamento não apresenta jamais essas caracterís
ticas psicopáticas. Os dois casos mais típicos que constatamos nesse
sentido envolviam, ambos, um sujeito débil, mas perfeitamente equili
brado. No primeiro, uma jovem que se sentia claramente dominada
por um homem que seus pais lhe aconselhavam a desposar, ao mesmo
tempo que percebia que ele não lhe convinha sob nenhum aspecto.
"Quando ele está aqui, dizia ela, eu me sinto como que obrigada a fa
lar e a me comportar da maneira que ele quer". No segundo, um jo
vem artista em plena ligação com uma mulher "de quem, desde o pri
meiro momento, ele havia sempre tentado se livrar e que não o agra
dava em nada".
Os que analisam com esça lucidez seu estado conseguem rapida
mente se libertar, inspirando-se nas diretrizes que propusemos. Infeliz
mente, não ocorre o mesmo com os demais.
57
físico, precisamente localizado, nem o espasmo voluptuoso. Sua car
ne não sente impulsos por outra carne. Os literatos, artistas—ilusionis
tas, sem dúvida nos contestarão essa afirmação, mas de modo algum os
neurologistas, os fisiologistas, os clínicos. Mas, frígida ou não, a mu
lher encobre normalmente as potencialidades afetivas (não necessaria
mente afetuosas ou ternas) que necessitem sua participação na vida, a
não ser no pensamento de um homem. Consideramos a rejeitada como
uma aflita, mesmo que seja ela inapta e compietamente isenta de pai
xão genética: homenagens, cortesias, solicitações, a falta disso tudo lhe
será tão penosa quanto para outras o é a falta do amor.
A propósito dos rejeitados masculinos, M. BOURGET, cuja se
riedade se atenua às vezes com uma ponta de humor, publicou há tem
pos uma estatística da qual resulta que os homens condicionados de
forma a determinar o amor são particularmente numerosos em certas
profissões e particular mente raros em outras. Eis os números dados
por M. BOURGET:
Amantes
Magistrados (juizes, procuradores, tabeliães, etc., etc). . . .5 sobre 100
Médicos..................................................... 10 sobre 100
| Catedráticos......................... 25 sobre 100
Universitários <j Professores ...................... 5 sobre 100
Oficiais <j ** capitão . ........................ »o .obre 100
iAcima de capitao...................... 5 sobre 100
Pintores.................................................................. .80 sobre 100
Escultores .................... 50 sobre 100
Músicos.......... .................................................................... 25 sobre 100
Arqu itetos.......................................................................... 50 sobre 100
Atores — trágicos......................... 20 sobre 100
| tenores ................................. 60 sobre 100
Atores 99 sobre 100
] cômicos.................................
Empregados.......................... 95 sobre 100
Comerciantes s Chefes de seção................. . 25 sobre 100
Patrões,............... .. ............... 5 sobre 100
Jornalistas. ............................ 50 sobre 100
Homens Autores dramáticos............... 20 sobre 100
de < Romancistas.......................... 15 sobre 100
Letras Poetas . ............................... 30 sobre 100
Acadêmicos............................ 1 sobre 100
58
o homem é tanto mais amado quanto está em posição menos elevada
na sociedade".
Mas o fisiologista parece aqui não haver acreditado dever isolar o
amor do para-amor. Deste último, nós distinguimos pessoalmente se
tes tipos principais (2) dentre as quais o amor-paixão. Quanto a esse
estado psíquico, aliás o único focalizado em sua célebre obra, a estís-
tica de M. BOURGET nos parece verdadeira.
Considerando a questão sob um ângulo sensivelmente diferente,
observamos:
— um caso de amôr para seís mil de para-amor;
— a aptidão, em vinte e cinco por cento dos homens, em inspirar
eventualmente.um ou outro dos sete tipos de para-amor;
— a existência de setenta e cinco por. cento de rejeitados, dentre
os quais sessenta e cinco por cento preocupam-se mais com a satisfa-'
ção fisiológica que com o complementarismo psíquico:
— a existência de dez por cento de rejeitados que sofrem em sê-
lo.
Atribui-se mais facilmente a rejeição a uma insuficiência de atra
tivos, de receptividades físicas, do que à inabilidade ou à timidez. Para
os sessenta e cinco por cento de insatisfeitos de nossa classificação,
nós a declaramos devida simplesmente à sua própria indiferença. A
causa principal de toda imantação se manifesta por um apelo interio^
quase sempre inconsciente, mas intenso e contínuo. Quanto aos dez
por cento de rejeitados que sofrem com sua condição, sua própria in-
completude comprova uma sensibilidade ávida, portanto magnetizan-
te. Entretanto, são ou débeis ou sutis com predominância representa-’
tiva, cuja qualidade de irradiação afeta possivelmente uma mulher em
dez mil e apenas toca levemente as outras, imensa maioria, unicamente
receptivas ao eflúvio comum, menos etéreo mas mais caloroso e em-
briagador.
Na prática, o fraco pode sempre se fortalecer, favorecendo em si
mesmo a ativação do centro vital. A coexistência entre um vigoroso vi-
talismo e um psiquismo qualitativo lhe assegura a disponibilidade de
um potencial dessa influência, desse magnetismo, no qual vemos um
dos elementos do charme pessoal (b-
Devido ao fato de não receber do comum das mulheres o tipo
*cte acolhida dispensada ao homem geralmente atraente, o rejeitado se
crê, de maneira errada, fatalmente e para sempre destinado à indife
rença. Ele se aflige e se isola, enquanto que, justamente porque ele
não recebeu o dom de agradar a uma elevada percentagem de pessoas,
deveria tentar multiplicar suas oportunidades, circulando bastante, de
modo a encontrar o maior número possível de mulheres.
O homem geralmente atraente parece, além disso, mais favore
cido quanto à diversidade do que quanto à qualidade. Igualmente, a
59
mulher atraente é sempre e por tudo imediatamente notada. Elas ins
piram profundamente o amor àqueles que o inspiram raramente.'
O rejeitado ou rejeitada não o são que em aparência e devido a
circunstâncias que os limitam: tipos excepcionais, somente por um ser
excepcional podem ser amados.
60
CAPITULO VI
PSICOTERAPIA
1. ISOLAMENTO
61
Vamos imaginar a paciente ou o paciente, seja nas primeiras ho
ras de sua angústia, seja depois da clássica ingestão, vomitada a tempo,
da habitual dose maciça de veronal. A primeira indicação que se im
põe é clara: tranqüilizar, limpar, favorecer por longos e profundos so-
nos. Daí a necessidade de isolar o indivíduo, por exemplo, na tranqüi-
lidade de uma casa de saúde. Como a vigilância dia e noite se impõe
na maioria dos casos, para prevenir o retorno dos paroxismos, é neces
sário dispor de um pessoal selecionado e perfeitamente instruído.
1. ° Tranqüilizar: o silêncio contribui para isso, o silêncio mais abso
luto possível, sem ser interrompido mesmo por barulhos de passos,
portas, vozes, de objetos pousados com violência. A proibição de toda
claridade não filtrada por azuis diáfanos contribui igualmente para di
fundir a calma. Mas a impassibilidade do terapeuta e dos guardas, im-
passibilidade simpática e não fechada, hostil nem reprovadora, é mais
indispensável que todo o resto.
0 profissional treinado na arte da sugestão saberá usar desta elo
cução precisa, monocórdia, firme e docemente persuasiva que é, por si
mesma, um sedativo. Ele escutará as confidências espontâneas sem
provocá-las de súbito: a exposição detalhada do caso ocorrerá depois
de alguns dias de repouso e desintoxicação. A atitude do ouvinte per
manecerá expectante, passiva. Ele deverá aparentar admitir todas as
afirmações de seu doente, considerar suas demonstrações como nor
mais, não emitir nenhum tipo de objeção, comentar prudentemente o
que lhe for confiado e afirmar diversas vezes: "Nós lhe proporcionare
mos uma perfeita serenidade"; "Seus sofrimentos vão diminuir rapi
damente"; "Nós o ajudaremos" etc. Para finalizar, afirmar: "Você
irá repousar ainda dois ou três dias e estará então em condições de per
mitir o exame detalhado de seu caso". O término de cada visita deve
deixar no paciente uma idéia precisa para servir de orientação a seus
devaneios.
29 Limpar: tenha ou não havido uso de estupefacientes, uma lava
gem, se necessário progressiva, do tubo digestivo e seus anexos, (fíga
do e rins) seguida de um regime alimentar apropriado à idade e às con
dições orgânicas do paciente, impõe-se absolutamente. Não um regi
me triste ou debilitante; menos ainda um que favoreça a elevação de
temperatura e conseqüente dei írio.
3.° Assegurar o sono: se for necessário, utilizar hipnóticos, ao menos
para as primeiras noites. 0 banho morno prolongado, à noite, já é
bem mais útil. Tentar a sugestão, o espelho rotativo e a hipnose direta
se as condições o permitirem. O enlanguecimento vagotônico pode ser
obtido pelo relaxamento muscular controlado.
2. VIGILÂNCIA
62
seu estado, não significa que ele possa ser deixado entregue a si mesmo
no decorrer do dia e da noite. A todo instante, uma assistência lhe se
rá assegurada ou mesmo imposta e, na base dessa assistência, é conve
niente organizar a vigilante observação da higiene, da alimentação, dás
ocupações, do sono do interessado.
Tato, discreção, perspicácia, habilidade persuasiva e formação
especializada são indispensáveis ao pessoal encarregado da vigilância,
porque não estariam à altura de sua tarefa se ela não lhes fosse sufi
cientemente agradável, condição sem a qual o relaxamento se insinua
entre os melhores elementos.
A diretriz geral a observar por parte das enfermeiras não consiste
essencialmente em espiar as ações e gestos do paciente, más velar para
que tudo contribua para o seu repouso e para todos os tipos de satisfa
ções aos quais esteja'acessível: um ambiente limpo e, se possível, ale
gre, um perfeito bem-estar, refeições habilmente apresentadas etc. Ca
da vez que se consegue impressionar agradavelmente o doente, no físi
co ou no moral, contribui-se para sua tranqüílidade, incitando-o a re
tomar o gosto pela vida e fortalecer seu desejo de uma completa recu
peração.
Assim como se combaterá, pelos corretivos usuais, a inapetência
do interessado ou sua insuficiência de sono, afastar-se-á as inoportunas
visitas de impulsivos ou desajeitados cuja atitude e propósitos o entris
tecerão ou agitarão.
3. ANÁLISE DO CASO
63
As circunstâncias em que o amor a dissociar nasceu, suas sucessi
vas fases, particularmente a final, esclarecerão o operador em relação à
forma a dar às sugestões. Recomenda-se também o estudo aprofunda
do do ser em relação ao qual se deseja que o paciente volte à indiferen
ça primitiva. Algumas assinaturas, confiadas a um grafólogo sério, per
mitirão a este último estabelecer um retrato verídico, objetivo, com
pletamente diferente da imagem ideal sobre a qual se sustém a mira
gem a dissipar.
64
experiência consistem em sfdministrar/ pela manhã, em jejum (doze
horas após a última refeição), um preparado composto de :
Bromohidrato de escopolamina , . ....................1/4 de miligr.
Cloral ..................................... 10 centigr.
O paciente deverá, logo após a ingestão do preparado, permane
cer sentado: se se deitar, arriscar-nos-íamos a vê-lo surpreendido por
um tipo de sono que se tornaria quase instantaneamente muito letárgi
co para permitir a audição eficaz das sugestões. A enfermeira tomará
conta disso e ficará na expectativa do instante em que a ação do pro
duto começará a se manifestar. É neste momento que a tentativa de
hipnotização por sugestão deve começar.
Pode transcorrer uma meia hora ou mais entre a ingestão do pre
parado e os primeiros efeitos. Estes sobrevêm às vezt -’jm alguns mi
nutos. Esta é uma fase delicada. Trata-se de reconhecer sinais míni
mos: vacilação do corpo, diminuição do reflexo palpebral, olhar vago
etc. Aqui, somente a experiência dá a certeza, pois as reações variam
de pessoa para pessoa.
O ,operador utilizará então os procedimentos usuais para a ob
tenção do sonambulismo por sugestão. No decorrer da primeira hip
nose, somos de opinião que se deve procurar sobretudo sugerir uma
hipnotisabilidade fácil, rápida, e profunda em relação às seguintes, em
seguida a calma e o contentamento. Depois de algumas sessões, uma
vez adquirida a certeza do caráter francamente sonambulóide do esta
do sugerido f1), o trabalho essencial poderá começar.
Em casos de excepcional dificuldade, a dose pode sér dobrada,
mas é necessário assegurar-se da integridade do coração e dos rins, bem
como dos brônquios, devido à ação vaso-dilatadora da escopolamina.
É necessário notar que, em dose idêntica, a solução injetável age me
lhor e mais rapidamente que a administrada por via oral.
65
suscitar a revivescência daquilo que o amor provocou a supressão, ou
mais exatamente, o esquecimento. Assim, modificaremos felizmente
a condição psíquica do sujeito. Praticamente, com a ajuda das notas
tomadas anteriormente, como indicamos, intentar-se-á obter que o su
jeito reviva seu passado, desde a casa paterna até o momento em que
se enamorou. Graças à hipnose, que permite, em estado de vigília, a
reconstituição de lembranças esquecidas, a alucinante precisão das
imagens e o monoideísmo, esta primeira fase reeducadora é fácil e in
tensamente realizável. Sua eficácia é tamanha que ela é às vezes sufi
ciente.
Uma sessão de sugestão bem organizada deve começar por uma
série de afirmações relativas ao estado geral do sujeito. Enumera-se
lentamente e muitas vezes todas as funções fisiológicas, insiste-se sobre
o fato de que elas se completam perfeitamente bem, em particular o
apetite, a digestão, a atividade respiratória, o sono e a eliminação. Su
gere-se uma boa impressão coanestésica, depois chama-se a atenção do
indivíduo para as imagens pelas quais a sessão foi principalmente afe
tada. Em qualidade, isto será um grupo de lembranças. Se se conse
guir dar ao sujeito a alucinação hipnótica de revivê-los, se se consegue
que ele fique satisfeito e os comente, o resultado será excelente.
Em cada série de imagens, encontram-se quase inevitavelmente
algumas penosas (um luto, uma desgraça, um acidente, uma doença
etc.). Atua-se então no sentido de levantar o moral do indivíduo, di
zendo-se: "Isto passou. Agora sua vida está em uma nova fase". In
versamente, prolonga-se as sessões de seu sonho sugerido, quando elas
trazem imagens afetivas atraentes.
Muitas sessões são necessárias a este primeiro "tempo" do trata
mento. Cada uma delas terminará por afirmações de calma, de sereni
dade, de contentamento, após o despertar prolongado, gradual, sem
deixar de facilitar as hipnoses seguintes por sugestões convenientes.
Não há nenhum inconveniente em prolongar a hipnose por vá
rias horas. É mesmo indicado, nos casos em que há a lamentar muita
agitação, muitas crises convulsivas etc.
66
jeto e seu retrato psicológico, resultante de sua escrita, de sua fisiono
mia e, se necessário, de uma observação direta. Assim preparado, o
operador se encontrará em condições de recompor as representações
do sujeito na exata medida da realidade. Ele sugerirá, por exemplo:
"X. . . demonstrou que sob todos os pontos de vista difere da idéia
que você forjou dele. Suas reais características, você as vê claramente
hoje e se dá conta de que ele se tornou indiferente para você." Expor
em seguida o detalhe do verdadeiro retrato psicológico do objeto e ob
ter, a cada afirmação, o assentimento do sujeito. Se necessário, provo
car sua concordância levando-o a se lembrar de algum fato que justifi
que a afirmativa. Terminar cada sessão convidando o sujeito a consta
tar que ele experimentou satisfação em ver desaparecer de sua vida a
personalidade em questão, a admitir que estava iludido, que se sente
como libertado. A fim de neutralizar o que na atração pode dever-se à
irradiação do objeto, afirmar diversas vezes: "Você se sente cada vez
melhor longe de X... ". Não podemos dar, quanto às fórmulas de su
gestão, senão as indicações do princípio: elas praticamente se improvi
sam na atmosfera do paciente, inspirando-se no que se sabe dele mes
mo, de suas disposições, de seu nível de compreensão, das particulari
dades de seu caso etc. Uma sugestão modifica muito mais depressa e
mais profundamente um ser quando ela é mais compatível com sua na
tureza, suas tendências, suas aspirações etc. etc. Tanto mais o opera
dor se familiarize com a mentalidade do sujeito, melhor ele conceberá
e formulará as palavras destinadas a determinar o desfeto. É uma
questão de tato e intuição.
Fora da hipnose e de qualquer manobra intencional, acontece na
vida diária que uma apreciação, uma reflexão ou algumas palavras,
aparentemente sem importância, contribuem para dissipar a miragem
amorosa. Assim a habilidade do sugestionador desempenha um papel
tão importante quanto sua autoridade.
Sejam quais forem elas, as curas trabalhosas, delicadas, estão pa
ra as intervenções rápidas e fáceis numa proporção de nove para um.
São as que demandam vários meses; as outras quinze dias, às vezes
menos.
Entre certos indivíduos facilmente hipnotizáveis, nós vimos ob
ter não somente o retorno à indiferença, mas o esquecimento absoluto
da personalidade do objeto em cinco ou seis dias. Essa alterabilidade
de imagens deve-se não tanto à hipnotisabilidade quanto ao caráter
simplista dos interessados. Se, depois de colocá-los em estado de so-
nambulismo, levamo-los a discernir no objeto toda a sorte de defei
tos, de ridículos, de particularidades desagradáveis, repugnantes etc.,
eles concordam. Daí a fazê-los admitir que se considerem felizes de
não ter, a partir de então, nada mais a vem com a dita personalidade,
não vai mais que um passo. Na terceira ou quarta sessão, pode-se ou-
sadamente sugerir que mesmo a sua lembrança é penosa, indesejável,
já que se esfuma e desaparece.
No decorrer do intervalo das hipnoses, o operador, prudente
mente, faz o diagnóstico, isto é, procurará avaliar a importância e a
67
profundidade das modificações obtidas. O resultado normal do segun
do tempo de cura aparecerá quando o paciente desperto, lúcido, em
paz, puder dizer: "Eu ainda sofro mas não o amo rnais". Neste mo
mento, o que ele lastima não é mais alguém, mas alguma coisa, ou se
ja, uma espécie de alegria emotivp-imaginativa resultante de um con
junto de impressões cuja origem se frustrou.
Daí para frente, os pensamentos do paciente, anteriormente ob
cecados por determinada imagem, cessam de sofrer esta convergência:
eles apresentam a possibilidade de uma nova orientação. Mas, à abla-
ção sucede um vazio. O amor, se bem que originário de ilusões, cons-
titui-se num estado real, uma sustentação psíquica que extrapola ao
ser amado, ao menos do ponto de vista onde nos colocamos. Aquilo
em relação a que "sofre ainda" o paciente, é justamente a evanescên-
cia do potencial de animação moral difundida pelo amor. Assim con
vém, nesta fase, não tanto multiplicar as distrações, mas assegurar as
necessidades afetivas, os estímulos apropriados à natureza do pacien
te. Uma sensação penosa subsistirá apesar de tudo (ela existia antes
do amor), mas imprecisa, tolerável e, mesmo, em determinados mo
mentos, imperceptível. ,
O vazio, incompletude subsequente a um desafeto espontâneo,
por exemplo, ao vivo sentimento de aversão que surge com a revela
ção de uma evidente e profunda duplicidade, conduz bem mais ao
suicídio que o fato de não ser ou de não ser mais amado. A toxico-
mania — este suicídio lento — começa frequentemente desta maneira.
Os afetivos (e são eles a quem nos referimbs neste capítulo ) têm cons
tantemente necessidade de um objetivo ao qual possam ligar-se, em cu
ja falta sua vida interior se exaure, se aniquila. a
Quando o desafeto é obtido com o auxílio dos procedimentos
psicoterápicos expostos anteriormente, começa a parte mais delicada
do trabalho. Segundo seus recursos intelectuais, o nível do paciente,
sua formação filosófica, suas idéias gerais, suas ocupações, seu círculo
social, deve haver um esforço para discernir em relação a que ou a
quem orientar seus pensamentos imediatos.
68
xecutar, a consentir em um ato contrário às suas idiossincrasias pro
fundas: ele se recusará. Se você insistisse, ou provocaria uma crise
convulsiva gêralmente seguida do despertar espontâneo, ou então de
terminaria uma contração geral imobilizadora. Há alguns anos, parece
que ocorreu a idéia a um especialista (especialista teórico, provavel
mente), de sugerir a seus pacientes: "A partir de agora, você será re-
fratário ao amor". Se se colocasse esta idéia em prática (o que seria
aliás um verdadeiro atentado ao livre arbítrio dos sugestionados) ocor
rería verossimilmente revolta inconsciente e rejeição das sugestões.
Supondo-se que eles se submetessem, seu resultado implicaria em uma
atonia não somente penosa, mas perigosa.
A terceira etapa do tratamento consistirá então em evocar, na
tela imaginativa do interessado, antecipações compatíveis com sua na
tureza, um futuro, agradável, visões sorridentes e lhe dar a esperança e
o desejo de reencontrar o equivalente daquilo que lhe foi recusado ou
roubado. Ser-lhe-á sugerido o otimismo, a confiança em si mesmo, a
certeza da continuidade de seu charme, de seus elementos de sedução,
o gosto em cuidar de sua integridade orgânica e de sua conservação es
tética.
Como os aptos ao amor participam amplamente do que o velho
ocultismo denominava "temperamento venusiano", bastante aberto
às harmonias sensoriais, eles reagem muito bem às sugestões tendentes
a reanimar sua inclinação para a música, os perfumes, os espetáculos
feéricos, as paisagens alegres etc.
A cura pode ser considerada perfeita quando o paciente começa
a esquecer o motivo pelo qual veio se tratar, quando ele organiza suas
distrações, encara projetos para o futuro, manifesta, com seqüência,
com coordenação, o interesse por novos objetivos, quando a animação
e a alegria reapareçem em sua fisionomia e quando ele fala no passa
do, com uma melancolia moderada mas sem tristeza deprimente, do
antigo amor.
Como transição entre a casa de saúde e o retorno ao modus vi-
vendi habitual, seria aconselhável uma viagem, sobretudo a regiões e
cidades aonde o paciente jamais tenha estado anteriormente.
69
CAPITULO VII
O DOMÍNIO DO INSTINTO
71
Existe uma lacuna a preencher. De tal modo ela é evidente, que,
de ambos os lados, fala-se dela após anos de educação dita sexual. As
obras se parecem. Umas, inoperantes manuais de misticismo dogmáti
co, valem pouco menos que nada. As outras, guias da libertinagem
preocupada com a profilaxia, exaltam a obscenidade sem, além disso,
ministrar um conhecimento apreciável. Praticamente, nenhuma visa ao
essencial: mostrar a oportunidade de tornar-se senhor de todas as suas
espontaneidades e indicar as condições que devem ser observadas para
isso.
Por certo, tudo isso permanecerá extremamente inconcebível.
Algumas não são disciplináveis senão de forma exterior e coercitiva
mente: o domínio de si por si mesmo ultrapassa o campo de suas re
presentações. Estes são os atuais párias, animalescamente individuali
zados, providos de um psiquismo embrionário, regido exclusivamente
pelas diversas formas de desejo e cuja única salvaguarda são as conve
niências sociais. Mas entre os outros, entre os aptos à superioridade in
terior, entre os que lamentam o fato de não saber adequar suas ações
às suas aspirações, notar-se-à que nossas diretrizes sem dúvida ajudarão
a criar a ordem e a serenidade.
72
Quanto aos que disserem: "nosso ideal é a máxima freqüência e
intensidade das satisfações sensoriais", nós lhes responderemos da
mesma foram: ainda assim é necessário o autodomínio,..porque a má
quina humana esgotada se desorganiza, vê se aniquilarem suas possibi
lidades de ressonância eufórica, seus meios de discernimento e de rea
lização, o que leva ao enfraquecimento e à incapacidade.
Á base do autodomínio é o apetite, o desejo; é o fato de consí-
derá-lo como uma dignidade, uma prerrogativa, uma superioridade,
um coeficiente de todos os valores, de todas as faculdades. Ele não se
adquire por orações ou pela virtude de uma prática sacramental, mas
pelo esforço deliberado. Pensamos que, se se procurasse estimulá-lo
desde a infância, a inclinação pelo esforço auto-reacional se tornaria
comum, tanto quanto a pelo esforço muscular, ao qual o esporte con
seguiu atualmente a adesão de multidões, enquanto que, há cinqüen-
ta anos, ele era evitado, senão motivo de vergonha.
Aqueles que compreendem o incomensurável interesse individu
al que há no fato de colocar o instinto genético sob a dependência da
vontade refletida, consideração o autodomínio em geral cpmo uma
possibilidade à qual lhes será impossível renunciar.
Afora os desagradáveis "acidentes" ou contágios sob cujo risco
se apóia quase exclusivamente a argumentação dos educadores de ho
rizontes limitados que espreitam os impulsivos, quanta energia e tem
po gastos pela falta de uma adequada regulagem psicológica, quantos
estudos prejudicados, quantas carreiras entravadas e às vezes desenca-
minhadas, quantas sujeições tão fracamente recompensadas!
O homem melhor dotado, o melhor situado, se permanece sujei
to às fraquezas passionais, é como um gigante de pés de barro, a quem
uma eventual vertigem produzida por alguma hábil aventureira pode
arrastar, em uma horrível queda, às profundezas do submundo.
Inversamente, o indivíduo ponderado e senhor de si, por mais
.modestamente qualificado que seja, representa, entre as massas de
amorfos, uma densidade capaz de durar, de se afirmar e de realizar
seus intentos.
São indubitáveis as possibilitades de subordinação dos mecanis
mos fisiológicos à vontade. Mas elas não se constroem menos que a
destreza do equilibrista ou a firmeza de elocução do trágico. Essas pos
sibilidades são o desabrochar de uma cultura, isto é, de uma série coor
denada e persistente de esforços. O homem que consegue governar seu
organismo assemelha-se a um virtuòse: os anos de assídua dedicação
tornaram seus automatismos a tal ponto flexíveis que ele os manobra
instantaneamente com soberana precisão.
Para colocar a função de que tratamos sob o domínio da mente,
não é suficiente dizer "o espírito deseja, o corpo deve", nem recorrer
a prática ritualísticas; é necessário regulamentar seu modus vivendi de
forma a prevenir todo eretismo.
Deixemos o que concerne à ética aos especialistas no assunto . O
que nos limitamos a preconizar é a libertação da excessiva servidão do
instinto, o estabelecimento em si da aptidão de se abster, quando jul
gar oportuno, tão estritamente quanto se deseje, tão longamente quan
73
to se decida, não importa quão cativantes possam ser as incitações ex
teriores.
O homem perfeitamente senhor de si pode se colocar, durante
longos períodos, em um estado de absoluta indiferença em relação à
atração física do sexo oposto. A simples satisfação de poder se libertar
à vontade de uma dependência subjugadora, constitui, já, uma ampla
'compensação aos esforços necessários à aquisição do àütqdomrnip.
Além disso, esses períodos de repouso são organicamente rejuvenesce-
dores. Eles permitem a preparação lúcida de obras de longo fôlego, a
concentração do espírito e de potencialidades pára atingir objetivos
importantes e a complementação de tarefas incompatíveis com as liga
ções passionais.
Com exceção dos meios onde se ocupam das ciências psíquicas,
jamais ouvimos falar do domínio de si mesmo. Aliás, desde a infância,
cada um comenta a exuberância, o excesso ou a devassidão não apenas
com indulgência, mas com benevolência e mesmo admiração; é — se
então mais incitado para isso que para uma tentativa de autodisciplina
interior. ■
Particularmente, o homem levado, manobrado, governado, pela-
imperiosa e*brutal predominância em si dos impulsos do cio, se consi
dera e se sabe avaliado como um tipo de fenômeno atlético. "Eles se
acreditam muito fortes, escreveu Henri«DURVILLE (1h porque são
fortemente agitados. Eles se imaginam superiormente possantes e são,
na verdade, escravos de sua,luxúria."t) mesmo autor diz também: 'Í3
homem se crê senhor das forças que atuam nele, mas, na maior parte
dos casos, ele é o joguete de suas paixões, de suas atrações, de suas afi
nidades.
Ele se acredita dono de si mesmo e as circunstâncias lhe demonstram
que sua superioridade nesse ponto deve ser ininterrupta, para não se
tornar presa das forças que acredita comandar. Sem dúvida, elas não
são desprovidas de charme, e quem cede a elas mascara sua decadência
com mil pretextos engenhosos. Ele não se convence facilmente de que
perdeu o comando de sua pessoa e que se deixou arrastar para onde
não queria ir."
Não estamos à espera do dia em que o objetivo principal da pe
dagogia será cultivar o apetite ou ensinar os meiòs de áutodomínio, is
to é, a predominância do querer deliberado sobre as manifestações es
pontâneas.
Até lá, unicamente uma elite terá oportunidade de agir assim.
3. PRECISÕES FISIOLÓGICAS
74
laridades. A falta de um regime alimentar adequado, isto é, com as de*
vidas proporções de azoto, carbono, hidrogênio, etc. em conjugação
com o temperamento e a atividade do interessado, produz como con-
seqüência uma ruptura do equilíbrio dos humores. Além disso, bem
antes da "crise da limpeza", assim preparada de longa data, os desva-
rios alimentares causam reações ao aparelho genital. Por desvarioç não
entendemos necessariamente grandes bebedeiras ou vastas comilanças:
vinte gramas diários em excesso de azoto, o uso mesmo moderado mas
habitual de substâncias fosforadas, de álcool, etc, são suficientes para
criar estímulos desfavoráveis ao domínio do instinto. Quantitativa
mente ocorre o mesmo, porque uma alimentação, por mais frugal que
seja, engordura e congestiona, desde que seja muito abundante.
Observem como os fundadores de ordens religiosas mediram es
tritamente as refeições de seus discípulos. Esses perspicazes observado-.
res, esses especialistas no exercício do ascetismo, não visaram simples
mente a mortificação do apetite. Eles perceberam uma realidade posi
tiva: somente a mais extrema sobriedade torna possível a supremacia
da intenção sobre a função, ao menos entre os adolescentes e homens
viris.
Aqui uma pergunta se coloca. A abstenção integral tem inconve
nientes? Deve ser recomendada?
Entre os sanguíneos supernutridos, os nervosos agitados, os lin-
fáticos sonhadores ou os biliosos trepidantes, brutais vinganças da ani
malidade, a desordem do sistema neurovegetativo, o domínio da ima
ginação por representações provenientes da libido, a exasperação psí
quica, seriam as conseqüências respectivas de uma tentativa de absten
ção. Dizemos propositadamente "uma tentativa", porque os sutis que
pretendem a castidade possível sem organizar seu processo — isto é,_
sem uma higiene geral sedativa ~ admitem a involuntária válvula de es
cape noturna como uma consequência normal da replecão vesicular. Na
verdade, trata-se de um fenômeno mórbido. Mesmo ocasional, ele é
deprimente do, ponto de vista nervoso e desorganizador do ponto de
vista psíquico. Como a persistência na extravagante pretensão de supri
mir as manifestações cuja incoercibilidade se autqcondicionou tende
a acelerar progressivamente*o retorno do espasmo onírico, isso se repe
te, em certos indivíduos, muito freqüentemente, de forma a alterar de
maneira considerável os mecanismos psiconervosos e o potencial ener
gético. Vende-se ainda livros nos quais se assegura que a ejaculação es
pontânea durante o sono é inofensiva. Esses perigosos tratados desen
caminham a cada ano algumas centenas de jovens que se deveria pro
curar deter em sua propensão para a decadência (D- Seus autores os
sacrificam, sem dúvida facilmente, ao desejo de conciliar a clientela
considerável dos pregadores que pretendem obter, ou ao menos pres
crevem a não complementação de uma função, sem nada dizer so
bre a necessidade de moderar, para permitir que isso ocorra, todas as
paixões conexas.
75
Precisamente, com a condição de colocar sob vigilância a ativi
dade genética, isto é, de obsen/ar um determinado número de prescri
ções coordenadas, a abstenção integral é não somente possível, mas fá
cil e sem o menor inconveniente.
As prescrições de que tratamos são de dois tipos. Umas têm
por objetivo evitar todos os fatores fisiológicos de intumescência;
as outras, de ordem psicológica, previnem todo perigo de "recalque".
Recalcar seus desejos, reprimi-los imperativamente, brutal e cegamen
te, é incorporar ao seu subconsciente latências cedo ou tarde desqrga-
nizadoras. Dissociá-las, eliminá-las deliberadamente, transferí-las,
trapsportá-las, este é o método adequado.
No que concerne ao regime alimentar, existe, dissemos, uma
proporção individual, mas eis aqui, utilizando a dúzia como unidade,
as proporções que constituem um verdadeiro progresso sobre os er
ros habituais:
76
Entre os biliosos, excessivos por definição, o desejo sobrevêm
em rejadas, estoura como um explosivo, e tende a se desenvolver
com furor.
Um homem com esse temperamento, desejoso de se moderar,
de regular ou suspender ad libitum as manifestações de seu instinto
genético, deverá começar por superar sua avidez por regimes alimen
tares muito ricos e abundantes. Ele necessita de no máximo cento e
cinqüenta gramas de carne fresca grelhada por dia, uma boa dose de
alimentos crus não ácidos, legumes verdes e cereais perfeitamente
cozidos. Todas as carnes de caça, temperos, crustáceos, açúcares, mo
lhos, gorduras, bebidas fortes, acendem nele o fogo da concupiscên-
cia.
Além do mais, o bilioso deve aprender a se impor o repouso
imóvel, pois se não reagir contra sua tendência à perpétua trepidação,
o eretismo decorrente causará reações ao aparelho genital. Ao levan
tar, um longo banho quente seguido de uma breve aspersão de água de
colônia é muito conveniente. À noite, antes de dormir, um banho
morno de uma meia hora previne as exacerbações oníricas e toda es
pécie de agitação.
Eles se dedicam facilmente aos esportes violentos e ao penoso
esforço muscular. Mas o gênero de esforço necessário para acalmar,
relaxar perfeitamente ó conjunto neuro muscular, contraria vivamente
suas naturezas hiperativas.
O bilioso que compreendeu a importância de se dominar intei
ramente, praticará, uma vez por dia, no silêncio e na obscuridade, a
imobilidade e o relaxamento.
Poder-se-á acreditar que o conjunto das prescrições anteriores
desvaloriza, energeticamente falando, o interessado. Não é nada disso.
Moderando o regime do motor, não se diminui em nada a sua potên
cia. Além disso, o apaziguamento cerebral, inseparável dos ritmos or
gânicos medidos, concorre para modificar de forma muito vantajosa
a mentalidade do bilioso: sua inteligência, anteriormente fechada para
tudo que não fossem ciências exatas, realização, positivismo, etc.,
abre-se à ordem especulativa. Com seu temperamento, ele evidente
mente deduzirá, de suas incursões ao domínio filosófico, adaptações
práticas, princípios de taylorização da atividade, uma noção objetiva
das durações, que temperará sua tendência à precipitação desvairada,
uma prática que o guardará dos exageros de outrora e muitas outras
vantaqens ainda.
Resumindo, ele adquirirá o domínio de si mesmo, condição
sine qua non ao domínio sobre o instinto sexual.
77
braços franzinos. A pele trigueira, acinzentada, pálida, é seca e fria.
Enquanto que o bilioso é todo ação, o nervoso é todo emoção e sen
sação. Sua sensibilidade contribuirá para lhe dar uma manifesta su
perioridade intelectual, mas tambéfn para torná-lo instável, sinceramen
te entregue ao estado de alma do momento e depois àquele completa
mente diferente que se segue. Ele passa, dez vezes por dia, da exalta
ção à depressão. Ele não se possui. A incoerência entre seus pensa
mentos e comportamentos desola. Alternadamente místico, senti
mental, apaixonado, sensual, escrupuloso, indiferente, etc., ele tem,
mais que qualquer outro, necessidade de forjar uma armadura psí
quica.
Entre os nervosos, o desejo nasce sobretudo no cérebro, por
amplificação auto-sugestiva de pequenas reações locais, por suges
tão exterior e, para evitar a desordem, lhes são necessários, antes
de tudo, hábitos de pontualidade, um emprego do tempo bem plane
jado e seguido a despeito de tudo que possa incitá-los a afastar-se de
tais determinações
Sob o ponto de vista do regime, eles têm o maior interesse
em não ceder a seus caprichos, a não usar nenhum estimulante (álcool,
licores, vinhos capitosos, café, chá, etc.). Além dessas proibições for
mais, o importante é a restrição quantitativa.
As refeições leves, tomadas pausadamente e bem balanceadas,
(quatro pequenas refeições por dia são muito convenientes) ajudarão
a uniformizar neles a elaboração do influxo nervoso, a manter estável
seu tônus energético. Que eles absorvam de tudo, mas em doses extre
mamente pequenas, variando freqüentemente. O vinho bastante mis
turado com a água é tolerável, exceto na refeição da noite. Aqui,
a mais estrita sobriedade se impõe, se se pretende obter um sono rá
pido, tranquilo, profundo, ininterrupto e perfeitamente calmo.
Ao saltar do leito, o nervoso deveria tomar uma ducha escocesa.
Em caso de superexcitaçao, ele recorrerá ao banho morno.
A questão movimento desempenha um papel importante na fisi
ologia do nervoso. Ele tem necessidade de exercícios suaves, muito
freqüentes. Por exemplo, uma série diária de movimentos lentos, com
binados de maneira a percorrer toda a extensão dos músculos. Os es
portes violentos e todo esforço muscular prolongado até a fadiga
desorganiza e deprime as pessoas com predominância nervosa.
O que importa acima de tudo é a dedicação ao trabalho: regula
ridade de horários, disciplina na atenção, silêncio, nenhuma dissipa-
ção, além de repousos prefixados de quinze minutos.
Durante seus períodos de lazer, que o nervoso evite a agitação,
que refreie sus propensão a se desgastar verbalmente, discutindo de
omni re. seibili, a se entregar as extravagâncias, a procurar a aprovação
ou a simpatia. (1)
1. Que ele se esforce por merecer sua própria estima: a dos outros virá então a-
ele sem que a procure.
73
Para o nervoso é mais fácil de se abster rigorosamente. É ele
também que se acha melhor condicionado para sentir a alegria de
subjugar seus comportamentos às suas concepções, ao seu ideal.
79
funcionais e se a obra à qual se dedica o apaixona suficientemente,
monopoliza sua atenção, suas potencialidades, sua sexualidade se man
tém sem esforços em plena letargia.
Se, ao contrário, se pretende obter de um sangüíneo, logo de
início, o refreamento de seus desejos, deixando-o, por exemplo, inge
rir os alimentos incendiários pelos quais tem natural predileção, haverá
ou uma luta extenuante que terminará inevitavelmente em derrota, ou
uma obsessão, cedo ou tarde perigosa.
°)
4. PREDOMINÂNCIA LINFÁTICA — O velho ocultismo es-
quematiza os quatro tipos de humores simbolizando o bilioso por um
anjo, o nervoso por uma águia, o sangüíneo por um tigre e o linfático
por um boi.
Realmente, o linfático, espesso, atarracado e pesado, tem qual
quer coisa de bovino. Nele, o abdômen e a parte inferior da fisiono
mia apresentam um desenvolvimento excessivo. Suas carnes são moles,
úmidas e frias; suas associações de idéias, seu modo de andar, sua ati
vidade são lentas. Sua natureza é isenta dos ardores passionais do bi
lioso, da agitação nervosa e dos fortes impulsos congestivos do san-
güírieo. Na aparência, ele é facilmente disciplinável, bastante inerte e
pouco atormentado pelos sentidos.
Entretanto, ele tem três inimigos: a indolência, a preguiça, o de
vaneio e, se esse último conseguir dominar sua imaginação, ele o con
duzirá facilmente a uma grosseira sensualidade, fértil em aberrações
passivas.
O linfático se volta na direção do menor esforço, da inércia e
do automatismo dos hábitos adquiridos definitivamente, como a agu
lha da bússola que tende sempre em direção ao Norte.
Para se dominar, é à sua imaginação que ele apela, isto é, antes
de tudo lhe é necessário aderir a uma doutrina que exalte o desenvol
vimento da energia, da iniciativa, do gosto pela ação voluntária. Que
ele recorra, para tanto, aos textos, às exortações, à sugestão pelo
exemplo; que ele procura a companhia de homens enérgicos, ativos,
empreendedores, viris.
Seu regime alimentar visará sobretudo à moderação das quanti
dades. Alguns estimulantes lhe são permitidos. Ele evitará os excessos
de hidrocarbonetos e de gordura, a cerveja, o leite, os doces, açúcares
e licores.
O linfatismo parece frequentemente ligado à insuficiência da ti-
róide e a carência de iodo, fósforo e enxofre, que podem ser facilmen
te corrigidas.
Mas o que é essencial para todos os indivíduos desse tipo, é uma
diretriz, uma orientação psíquica, um objetivo determinado, uma ati
vidade bem coordenada, ritmada por repouso e longos sonos.
Pela prática assídua da respiração profunda, da ginástica sueca
e da hidroterapia, um linfático evolui pouco a pouco para um tempe
80
ramento sangüíneo, isto é, ele se equilibra, após dois ou três anos de
reação séria.
O inconsciente do linfático reage muito devagar às idéias, às ima
gens, aos exemplos, tão lentamente que se acreditaria ser ele despro
vido de sugestionabilidade. Na realidade, apesar de sua expressões es
táticas, possui uma imaginação profundamente flexível. Aquilo que
ele lê, ouve, vê, deixa nele uma forte impressão que, cedo ou tarde
passa da forma estática à dinâmica. Henri BERAUD disse a respeito
dos alemães - dois quais um número considerável pertence à categc-
ria dos linfáticos - que eles têm um “crânio furado'*, no qual deposi
tam tudo que desejam. Eis aí uma feliz comparação da qual os educa
dores podem tirar proveito.
O adolecente pálido, com adenóide, com a fisionomia suave e
olhos inexpressivos, sofre a influência de suas leituras mais fatalmen
te que um nervoso instável ou um sangüíneo violentamente decidido.
O fato de se cansar fisicamente, no ginásio, por exemplo, age favora
velmente sobre ele: nada fortifica tanto seu moral como o esforço ru
de, contrário às suas tendências à indolência^).
Quando consegue “transpor a corrente" de seu determinismo
fisiológico, o linfático, ponderado por definição, governa facilmente
suas paixões.
4. NOÇÕES PSICOLÓGICAS
Dizíamos no primeiro capítulo, parágrafo 5, que, comparativa
mente à noção do “lugar geométrico" a imaginação é o lugar “psicoló
gico" das manifestações do amor. No que tange à paixão genética, a
imaginação reage internamente ao eretismo local e, externamente, por
percepções visuais, olfativas e tácteis diretas, por sugestão verbal, lite
rária ou de espetáculos. A observância das indicações de ordem fisioló
gica anteriormente abordadas suspende o curso dos fatores internos de
imagens eróticas e dessensibiliza a mente relativamente à ação das ima
gens diretas exteriores, é necessário, mas não suficiente. Falta ainda
tomar em consideração o espetáculo, a literatura e a possível influên
cia dos conceitos que se ouve, sem esquecer a influência daqueles que
são ouvidos, em Sua maior parte esquecidos, mas que, registrados no in
consciente, concorrem para formar as disposições gerais do espírito,
a deixar subsistir, em particular, à convicção de que a realização da
satisfação física pertence ao domínio das conjunções carnais. “A car
ne, disse PALADAN, promete muito aos olhos mas oferece muito
pouco de palpável". Superestima-se freqüentemente, de forma exage
rada, tanto no qualitativo quanto no quantitativo, o prazer ligado à
cópula. Inconscientemente, os jovens se deixam dominar por essa su-
perestimação, pois as atitudes de certos homens parecem justificá-la,
porque a literatura é urdida nela, porque o teatro especula freqüente-
1. é necessário que esse esforço rude seja realizado de forma progressiva pelo
indivíduo, não o constrangendo, inicialmente, por uma dose maciça.
81
mente sobre o assunto. Pudemos avaliar que a vida de dezenove em
vinte de nossos contemporâneos transcorre em que eles sequer sonhem
em se libertar do jugo dessa sugestão, que convém entretanto eliminar
em primeiro lugar, quando nos propomos a dominar nossos instintos,
ou simplesmente encarar com objetividade o que se relaciona com as
funções reprodutoras.
Há uma segunda sugestão, que pouco a pouco se insinua, disse
minada entre os homens desde a adolescência e que é suficiente para
inibir, na maior parte deles, toda tentativa de estabelecimento de au
to controle: é a afirmação, totalmente gratuita, de que é possível do
minar o instinto sexual. É inútil tentar dominá-lo, dizem , pois ele se
sobreporá infalivelmente a seus vãos esforços. Com FREUD e a "libi-
do", falou-se mesmo de pan-sexualismo. Posteriormente, a concepção
primitiva da "libido" se alargou de forma considerável.
Nós aqui a substituimos pela noção, mais realista, de avidez.
"Esse termo avidez, escrevíamos nós em uma obra precedente (l) é
geral mente dito em um sentido pejorativo. Diz-se: um homem ávido
de dinheiro, ávido de prazeres, ávido de grandeza. Ele descreve, en
tretanto , uma disposição psíquica que caracteriza não somente os
cúpidos, os estróinas e os orgulhosos, mas também todos aqueles que
se empenham com ardor e perseverança em um sentido qualquer. Esse
pesquisador, curvado quinze horas por dia sobre seus livros, suas pro
vetas e instrumentos, é um homem ávido de conhecer, ávido de des
cobrir. Esse com^sitor, abstraído no discernimento da inspiração,
indiferente ao tempo, ao movimento e ao ambiente, é ávido de uma
realização artística . Esse célebre capitão de indústria — a quem há
muito tempo a fortuna sorri e a quem o dinheiro interessa menos que
o último de seus subordinados — continua a trabalhar de forma incan
sável, porque é ávido de potência econômica. Ninguém trabalha sem
avidez: o próprio asceta a experimenta em relação ao seu objetivo mís
tico".
Todas as manifestações possíveis da avidèz têm segundo alguns,
uma única fonte: a sexualidade, que procuraria, assim, de forma de
rivada, satisfazer-se. Entretanto, a ambição, por exemplo, ocasiona
freqüentemente no indivíduo um total anafrodisia, se eia atinge um
ardor suficiente para açambarcar todas as energias físicas e psíquicas,
por ele ter, da manhã à noite, o espírito preocupado que pode concor
rer à consecução de seus desígnios grandiosos, que lhe importam mais
que tudo.
Parece então que, longe de ser a origem radical de todas as pai
xões, a sexualidade se opõe ao menos a algumas dentre elas. Um sen
timento de vigorosa avidez pelo desenvolvimento do domínio de si
mesmo previne e anula a influência das sugestões que tendem ao des
potismo da incitação funcional: além disso, ele inibe a auto- excitação.
As solicitações do instinto se ampliam e multiplicam entre
aqueles cuja imaginação é bem impregnada, bem compenetrada de seu
82
caráter irresistível e, conseqüentemente, de uma noção muito exagera
da de prazer sexual. Se, pelo contrário, tudo é visto objetiva mente,
a mais extrema moderação e mesmo a abstenção total tor.nam-se fá
ceis. Diz-se que esta colocação em estado letárgico pode causar per
turbações. Nós nos apoiamos sempre no primeiro exemplo. Onde há
a possibilidade de reações desagradáveis, isso não ocorre pela conti
nência em si, por uma parcimônia orgânica verdadeiramente salutar,
mas sim pelo fato de se procurar impor esse estado sem observar as
condições que o tornam possível, a saber: um regime conveniente,
uma higiene geral adaptada ao tipo de temperamento que se possui, e,
acima de tudo, uma orientação de pensamento que compreenda,
cpntinuamente, o desejo de se governar.
1. Edições Dangles
83
trata da impotência de origem exclusivamente emotivo-imaginativa,
que não abordaremos aqui.
Algumas inércias, devidas ou a um declínio por diátese ou a uma
carência ligada ao metabolismo viciado, necessitam de uma terapêutica
geral que somente o minucioso exame do caso específico permite for
mular.
Mas há um terceiro tipo cuja causa principal, em nossa opinião,
provém unicamente do caráter insuficientemente viril do estado afeti
vo de que provém o desejo e as atitudes daí decorrentes.
Nossas observações nos mostraram que os homens com predomi
nância biliosa ou sangüínea não apresentam quase nunca a impotên
cia em questão, exceto no caso em que eia se explique por uma séria
alteração diatésica ou lesional. Acontece o inverso com os tipos de
predominância nervosa ou linfática. Por quê? Porque no bilioso e no
sangüíneo, no ardente e violento, o cio determina um estado psíquico
principalmente caracterizado por um desejo imperioso de posse, de do
mínio de penetração, enquanto que no nervoso e no linfático é quase
somente a imagem do resultado espasmódico que estimula a repleção
vesicular ou a excitação exterior. A acuidade sensorial de um e a passi
vidade de outro explicam isso muito bem. Ora, para quem sabe a im
portância das imagens quanto à sua ressonância orgânica (2), parecerá
que as representações erógenas do nervoso e do linfático, as quais vi
sam insuficientemente a ação e quase exclusivamente a sensação, não
podem resultar senão em inércia muscular do órgão.
Que deverão fazer os interessados? Reagir contra o que sua natu
reza tem de efeminado; procurar virilizar-se sob o ponto de vista psí
quico e físico, isto é, impor-se uma disciplina cerebral e ativa inspirada
nos temperamentos biliosos e sangüíneos. Pode-se recomendar neste
sentido o esforço material um pouco rude, a recusa em preocupar-se
excessivamente com o conforto, a prática de um esporte incompatível
com o medo dos golpes, a firmeza nas decisões, a obstinação nas reali
zações, a adoção de maneiras retas, decisivas, ousadas. Em segundo lu
gar, esses sensíveis facilmente perturbáveis, esses inertes muito inclina
dos a preferir os caminhos fáceis do prazer, deve orientar seus pensa
mentos pelo sexo oposto no sentido da satisfação tática da invasão e
da conquista, em lugar de sonhar com ocupações em luta.
Deve-se notar finalmente que, se não reagem contra suas tendên
cias, o nervoso e o linfático passam quase infalivelmente a adotar, na
intimidade, o papel de pacientes, o que não contribui pouco para o en
fraquecimento de suas aptidões a preencher o papel de agente.
86
CAPITULO VIII
O IDIOMA INVISÍVEL
87
Dentro desta afirmativa, como explicar o fato de um amor ar
dente não produzir sempre uma ressonância apreciável? E por que o
desamor de alguém segue tranqüilamente seu curso sem que a aflição
do outro modifique?
Em princípio, como dissemos, todo pensamento se exterioriza e
tende a afetar, de confirmade com seu objeto, o indivíduo no qual se
pensa. Somos todos impressionáveis, sém que o saibamos, por inume
ráveis projeções psíquicas, do mesmo modo que nós afetamos, incons
cientemente, não somente as pessoas especificadas por nosso pensamen
tos mas também aqueles — às vezes desconhecidas — que eles evocam.
Esta incessante fenomenalidade permanece obscura, desapercebida por
que não sabemos discernir mais que uma pequena parte dos elementos
cuja confluência origina nossas impressões, sentimentos e convicções.
Aqueles que nos chegam de fora escapam necessariamente à consciên
cia; ele afloram, impregnam ou invadem o subconsciente e seus resul
tados (os estados de alma que daí decorrem) nos parecem absoluta
mente espontâneos.
88
tranhas para eie: sua palavra não lhe evoca mais que um esboço defor
mado, aproximado.
É necessário pensar também, no que concerne à comunicação
telepsíquica dos estados afetivos, que o subconsciente do paciente,
mesmo receptivo em uma determinada medida, pode registrar outras
influências derivativas, neutralizantes ou antagônicas. Sendo toda dis
posição considerada como resultante de uma confluência de impulsos,
uns de origem interna, outros de procedência exterior, não se estabele
ce necessariamente a predominância dos elementos que emanam de
uma terceira pessoa.
Por certo, a continuidade e o ardor emissivo tendem a determi
nar esta predominância, mas o tipo de obsessão que se encontra no e-
mitente, como conseqüência inevitável,, desordena seu pensamento e
consome seus recursos potenciais, o que faz tender a um enfraqueci
mento dos mecanismos propulsores.
Os técnicos em experimentação dos fenômenos psíquicos insis
tem na necessidade de uma elevada tensão e de uma concentração, am
bas mantidas pelo operador que exerce a sugestão mental. Na falta
destas duas condições, o sujeito não percebe nada de preciso, nada que
o determine. Na vida diária, a fenomenalidade telepsíquica espontânea
obedece às mesmas leis que a experimentação de laboratório.
3. POSSIBILIDADES
89
Para isto é necessário não só uma intuição muito certa, mas tam
bém uma acuidade de observação e uma profundidade de análise supe
riores.
4. AS CONDIÇÕES A PREENCHER
90
A partir do instante em que esta última atinge a plenitude, tudo
o que se pensa durante este comparecí mento se transmite ao sujeito.
Empregamos propositadamente o verbo comparecer, porque,
formando a evocação apropriada, convoca-se real mente um substrato
invisível do sujeito, que se mostra no campo de ação do operador.
Em que medida a transmissão influi? Em outras palavras, em
que dimensão há comunicação? Na medida em que, como dissemos, o
agente soube assimilar a individualidade do paciente.
Procure conquistar o psiquismo da pessoa que você ama dece-
mente, persuasivamente, em harmonia com as dominantes de seu cará
ter. Sugira-lhe disposições compatíveis com sua natureza, com a sua
capacidade de compreensão, com as gamas de sua sensibilidade, com a
orientação de suas paixões. A análise da escrita ou da conformação fi
sionômica pode ajudar a observação direta na definição da intimidade
psicológica que se^pretende compreender profundamente, a fim de
melhor se lhe assemelhar.
6. A INTENSIDADE EMISSORA
7. PROCEDER GRADATIVAMENTE
91
Em quase todos os casos, a melhor sugestão a dar no início é es
ta: "Minha presença acrescenta alguma coisa ao seu contentamento ou
alivia sua moral de uma maneira apreciável". Esta breve fórmula, susce
tível de numerosos desenvolvimentos visualizados inspira uma série de
pensamentos muito eficazes, e pode mesmo ser suficiente, porque ela
tende a determinar a amplificação daquilo em que implica.
Quando seus efeitos se tornam manifestos, não resta mais que
acentuá-los.
92
CAPITULO IX
OS TRUNFOS DO JOGO
93
Um grande número de depressões provêm simplesmente da insu
ficiência de sono. Depois de algumas noites de insônia, os malefícios
resultantes aparecem rapidamente: os cabelos começam a cair, a pele
do rosto se resseca e descarna; os póros da região nasal se dilatam e se
obstruem; as rugas da face.se acentuam, do mesmo modo que ao re
dor dos olhos; estes parecem menores, porque as pálpebras perdem sua
elasticidade e manifestam uma flacidez que lhes dá uma expressão aba
tida: a própria córnea fica embaçada.
Todas as sustentações musculares do corpo se elastecem, se dis
tendem, caem, após uma série de noites insones. Também o busto não
demora a cair o abdomem a apresentar uma frouxidão deplorável.
Além de seu caráter decadente e desagradável, a insônia esgota
rapidamente os nervos e o cérebro. Para estar bem de saúde, para cu
rar-se rapidamente quando se está doente, para despertar alerta cada
manhã, trabalhar com animação e conservar seu vigor físico e intelec
tual. é necessário dormir suficientemente todas as noites.
Além disso, devemos aprender a dormir, mais exatamente, a
favorecer, a determinar a vinda regular do sono, sua duração e profun
didade. A obra "A Insônia Vencida" (^), indica com clareza e simplici
dade a que se deve recorrer para assegurar, não obstante as preocupa
ções, o barulho ou a dor, um repouso perfeito.
1. Edições Dangles.
94
todos aqueles a quem preocupa a questão das energias, imprecisamen-
te definidas mas evidentes, emitidas pelo ser humano.
Um método para desenvolver o charme pessoal (2) foi, há al
guns anos, escritos por dois especialistas no assunto. A experiência
demonstrou que os autores souberam extrair de suas observações e de
suas procuras um conjunto de indicações e procedimentos que é
suficiente colocar em prática para se magnetizar, progressivamente, ca
da vez mais.
3. SABER SE DOMINAR
1. Edições Dangles
1. Edições Dangles
95
sivas. É conveniente então, do ponto de vista da harmonia exterior,
que toda mulher prudente se torne absolutamente senhora de seus
automatismos, de seus reflexos.
Além disso, a vida comporta muitas situações cujo desfecho fe
liz ou infeliz depende de um perfeito domínio de si mesmo, do hábi
to de conservar toda a calma, toda a lucidez diante da dificuldade ou
do perigo.
Enfim, a colocação em prática das indicações dadas com a finali
dade de embelezar o corpo será muito mais fácil para a mulher cujo
auto-contrôle é forte, do que para aquela que não aprendeu a dirigir
deliberadamente seus comportamentos.
A auto-sugestão permite a cada uma chegada a isto, com a ajuda
do manual detalhado, recentemente publicado pelo autor do presente
volume 0). Ali se encontrará os procedimentos mais certos e mais pre
cisos de influência sugestiva sobre si mesmo. Esse livro, essencialmente
prático, constitui um preciso manual de auto—sugestão, de onde fo
ram banidos os exageros e as observações ilógicas que durante logo
tempo afastaram as pessoas sérias do estudo das questões psíquicas.
Uma parte trata da arte de influir sobre outrem como sobre si mesmo,
tirando partido do conhecimento das leis da sugestão, necessariamente
idênticas àquelas da auto-sugestão.
Quantidades de doenças e mesmo de graves perturbações funcio
nais podem.ser eliminadas pelas repercussões internas de um pensa
mento concentrado e contínuo. Essa possibilidade concorre, entre tan
tas outras de que a auto-sugestão é a chave, a manutenção de um bom
equilíbrio orgânico, da frescura da tez, da elasticidade muscular e da
firmeza dos tecidos.
96
confiança em si mesmo. Não continue tímido. Leia esse livro e colo
que em prática os ensinamentos.
O que contribui muito para a segurança de um homem é o suces
so social e profissional, a certeza de possuir aptidões acima da média,
o fato de levar a efeito suas concepções, em uma palavra, ser bem su
cedido.
Para isto é necessário ser capaz de um esforço metódico e con
tinuado, uma ousadia refletida e uma indefectível firmeza.
Um guia claro e prático foi recentemente publicado sobre este
importante assunto (2). Sua leitura reconforta e estimula. Cada um en
contrará nele uma fonte de vigor moral e, portanto, de imperturbabili-
dade.
97
pírito tudo aquilo que desejar lembrar e recordar-se de cada coisa no
momento oportuno. O método que recomendamos (2), absolutamente
único, permite, em qualquer idade, obter um aperfeiçoamento durado-
douro e contínuo.
Quantas pessoas jovens deploram encontrar-se, por assim dizer,
relegados ao segundo plano, desde que a conversação5 toma um rumo
tal que somente possam dela participar ativamente aqueles cujas lem
branças sejam nítidas, bem coordenadas e de fácil rememoração. Este
livro os ensinará a memorizar tudo que lêem, escutam, observam, a se
lembrar de tudo na ocasião certa.
Para falar persuasivamente, é necessário avaliar as disposições da
pessoa à qual nos dirigimos. "Eu sei como prendê-lo, eu o conheço
muito bem", diz-se de alguém a quem se conseguiu, graças a uma lon
ga convivência, observar o caráter. De fato, é consideravelmente mais
fácil influir sobre uma pessoa cujas tendências se conhece do que so
bre um desconhecido. Ora, toda fisionomia traz os sinais da personali
dade (1).
Antes mesmo de se dirigir a alguém, o exame dos traços de seu
perfil, dos contornos e proporções de sua face, lhe fornecem os ele
mentos de seu caráter. O estudo dos rostos, tãô atraente quanto útil,
proporciona a satisfação de poder discernir o que verdadeiramente são
aqueles que nos cercam ou aqueles com os quais nos vemos em conta
to. Ele dá uma base sólida à influência pessoal e em particular à arte
de persuadir, de convencer e de conquistar, porque indica como dis
tinguir de imediato o temperamento, as inclinações, faculdades, apti
dões, gostos e tendências de todo tipo. A investigação psicológica dos
rostos, em particular, fornece os indícios necessários a guiar a palavra
e a atitude quando se trata de conciliar a simpatia e a afeição de al
guém, de escolher o caminho para o qual seu filho é dotado, de con
cluir um negócio, uma associação, uma união e evitar, de todo modo,
depositar mal sua confiança.
6. ESCREVER HABILMENTE
1. Edições Dangles
98
objetivo é apenas saber redigir convenientemente um texto útil qual
quer: carta, relatório, exposição, etc.
A segunda parte aborda a composição literária, não somente no
que concerne à escrita propriamente dita, mas também e sobretudo as
fontes de inspiração e a coordenação das mesmas em criações origi
nais.
Os autores esforçam-se em ser o mais úteis possível. Eles indi
cam o caminho ao autodidata desejoso de executar convenientemente,
todo trabalho redacional e orientam àqueles que possuem, sem saber
ainda tirar partido delas, as qualificações de um escritor. A todos, e
em particular à mulher que compreendeu a importância de apresentar
em suas composições uma irrepreensível distinção, eles indicam os ca
minhos para um estilo expressivo e harmonioso.
7. CONSIDERAR OS IMPONDERÁVEIS
99
das por uma vontade consciente de sua presença e das influências favo
ráveis com a ação das quais o estudioso do ocultismo(2) aprende a se
harmonizar.
Realmente, tudo isso nos parece estranho atualmente. Entretan
to, a ciência moderna daí se aproxima a passos longos.
"De acordo com suas vibrações, declarou recentemente Georges
LAKHOWSKI, eminente físico, há seres que perto de outros, devem
provocar a afeição ou a repulsa, o amor ou a animosidade. Há outros
que se beneficiam do influxo útil das radiações cósmicas e outros, en
fim, que têm toda a dificuldade do mundo em vencer as correntes ad
versas".
O estudo das doutrinas seculares relativas às nossas subordina
ções invisíveis permanece, todavia, atraente e fecundo.
100
Alguns seres parecem atrajr a simpatia e inspirar o
amor muito mais facilmente que outros. No entanto, cada
um de nós possui em si todos elementos constitutivos do
charme que cativa e da potência sedutora que gera o
amor profundo e exclusivo. O que é preciso é ter cons
ciência deles e desenvolvê-los. A leitura dessa obra,
mercê dos conceitos nela contidos, é o início promissor
dessa tomada de consciência. Pois, trata de todas as
circunstâncias e aspectos de que se reveste a vida senti
mental, ao oferecer:
PALLAS S.A.
Editora e Distribuidora
Rua Frederico Albuquerque, 44
ZC-24 — Higienopolis
CX. p. 7001-20.000 — R. de Janeiro — R.J.