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Doutora Isabel Maria Soares Pereira Doutor Luís Manuel Madeira de Carvalho
da Fonseca de Sampaio
CO-ORIENTADOR
Doutora Sandra de Oliveira Tavares
de Sousa Jesus Doutor Jorge Manuel Jesus Correia
2018
LISBOA
UNIVERSIDADE DE LISBOA
Faculdade de Medicina Veterinária
Doutora Isabel Maria Soares Pereira Doutor Luís Manuel Madeira de Carvalho
da Fonseca de Sampaio
CO-ORIENTADOR
Doutora Sandra de Oliveira Tavares
de Sousa Jesus Doutor Jorge Manuel Jesus Correia
2018
LISBOA
AGRADECIMENTOS
Ao meu Orientador, o Professor Doutor Luís Madeira de Carvalho, por me ter apoiado e
acompanhado desde a génese deste trabalho.
Ao meu Co-Orientador, o Professor Doutor Jorge Correia, pela disponibilidade, por todas as
horas passadas a ver lâminas que enriqueceram este trabalho e o meu conhecimento de
histopatologia.
Um agradecimento muito especial aos dois, por terem sempre a porta aberta e não terem
perdido a paciência com o alongar da escrita deste documento. Não teria sido possível a
realização deste trabalho sem a ajuda de ambos.
À Professora Doutora Isabel da Fonseca pela disponibilidade para me ajudar a tentar identificar
oocistos de Cryptosporidium.
Um agradecimento também ao Doutor Ellis Greiner, Doutor Michael Cranfield, Doutor Ian
Beveridge e ao Doutor Mike Kinsella por terem ajudado de alguma forma a que este trabalho
ficasse mais completo.
I
À Dra. Lídia Gomes por me abrir a porta do seu laboratório e por me ter feito sentir “quase” à
vontade. Pela disponibilidade para aturar os meus inúmeros pedidos e por toda a ajuda.
Ao João Antunes por me ter disponibilizado espaço na loja e me ter deixado colher amostras
aos seus animais. Ao Alexandre “Pablo” e Joana “Juanita” pela companhia que me fizeram
durante as largas horas que passei na loja.
Por fim, o agradecimento maior, aos meus pais e irmão. Por me terem ensinado através do
exemplo o que é a generosidade. Por me terem acompanhado sempre. Essencialmente, por
tudo.
II
PARASITAS GASTROINTESTINAIS EM RÉPTEIS DE UMA COLEÇÃO COMERCIAL
RESUMO
A popularidade dos répteis, enquanto animais de estimação, tem aumentado nas últimas
décadas. De maneira a estudar o seu parasitismo gastrointestinal, o efeito das condições de
maneio na presença de parasitas e o tipo de lesões e sinais clínicos provocados por parasitas
de répteis mantidos em cativeiro, este trabalho foi dividido em três partes.
A primeira parte consistiu num rastreio parasitológico. Colheram-se amostras fecais frescas
de 82 répteis (46 serpentes, 33 sáurios e 3 quelónios) a partir das quais se realizaram dois
esfregaços a fresco e duas flutuações a cada animal. Foram encontrados parasitas do filo
Apicomplexa (n=2), Metamonada (n=1) e Nematoda (n=2) em cinco (12,5% de prevalência
média) serpentes das 46 testadas. Foram assinalados parasitas dos filos Amoebozoa (n=11),
Apicomplexa (n=6), Ciliophora (n=9), Metamonada (n=13), Nematoda (n=17) e Platyhelminthes
(n=1) em 25 (79,3% de prevalência média) dos 33 sáurios testados. Em tartarugas detetaram-
se os filos Amoebozoa (n=1), Ciliophora (n=2), Metamonada (n=1) e Nematoda (n=3) nos 3
animais testados (79,7% prevalência média).
A outra parte do estudo consistiu na realização de necrópsias de 41 répteis (19 serpentes,19
sáurios e três quelónios).
Detetaram-se parasitas do filo Amoeboza (n=1), Apicomplexa (n=3) e Metamonada (n=1) em
4 serpentes. Parasitas dos filos Apicomplexa (n=2), Nematoda (n=8) e Platyhelminthes (n=1)
foram encontrados em 11 sáurios. Nesta fase, não se encontraram parasitas em quelónios.
Na análise estatística das informações colhidas durante o estudo (terceira parte deste trabalho),
encontrou-se uma associação estatisticamente significativa entre as condições de maneio dos
répteis e a presença de parasitas. Encontrou-se também uma associação estatisticamente
significativa entre a presença de parasitas e a manifestação de sinais clínicos do aparelho
gastrointestinal.
Este estudo, no qual se determinou uma prevalência parasitária média global de 40,5% no
rastreio parasitológico, reforça a ideia de que os parasitas gastrointestinais são um elemento
relevante na manutenção de répteis em cativeiro. Estudos mais específicos e direcionados
são necessários, quer ao efeito que os parasitas têm no hospedeiro, quer no papel que estes
podem ter como potenciais causadores de zoonoses e contaminantes ambientais.
III
REPTILE GASTROINTESTINAL PARASITES IN A PET SHOP
ABSTRACT
Reptiles’ popularity as pets has increased in the last decades. In order to study the gastrointestinal
parasitism, the effects of husbandry pratices on the prevalence of that parasites, the lesions
and clinical signs caused by them the present study was divided in three sections.
The first section comprise a parasitological survey. Fresh faecal samples were collected from
82 reptiles (46 snakes, 33 lizards and three chelonians) and were screened for gastrointestinal
parasites by two fresh smears and two flotations of each animal. Parasites of the phyla
Apicomplexa (n=2), Metamonada (n=1) and Nematoda (n=2) were found in five (12,5% of mean
prevalence) of the 46 snakes tested. Parasites of the phyla Amoebozoa (n=11), Apicomplexa
(n=6), Ciliophora (n=9), Metamonada (n=13), Nematoda (n=17) and Platyhelminthes (n=1)
were found in 25 (79,3% of mean prevalence) of the 33 lizards tested. In chelonians the phyla
Amoebozoa (n=1), Ciliophora (n=2), Metamonada (n=1) and Nematoda (n=3) were found in
the three tested animals (79,7 % of mean prevalence).
The second section of the study includes the necropsies of 41 reptiles (19 snakes, 19 lizards
and three quelonians).
Parasites of the phyla Amoeboza (n=1), Apicomplexa (n=3) and Metamonada (n=1) were
detected in four snakes. The phyla Apicomplexa (n=2), Nematoda (n=8) and Platyhelminthes
(n=1) were found in 11 lizards. In this section no parasites were found in chelonians.
The statistical analysis (third section) of the data collected in this study revealed an association
with statistical significance between the husbandry parameters and the presence of
gastrointestinal parasites. It was aditionally found an association with statistical significance
between the presence of gastrointestinal parasites and the manifestation of gastrointestinal
clinical signs.
This study, in wich was determined a global mean parasite prevalence of 40,5 % during the
parasitic survey, reinforces the importance of the gastrointestinal parasites in captive pet
reptiles. More narrow and directed studies are needed particularly on the effect of specific
parasites in the host or their role as potential zoonotic agents and environmental contaminants.
IV
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I
RESUMO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . III
ABSTRACT. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IV
ÍNDICE DE FIGURAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VIII
ÍNDICE DE FIGURAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VIII
ÍNDICE DE GRÁFICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . X
ÍNDICE DE TABELAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . X
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS . . . . . . . . . . . . . . .XI
1..I NTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1 Atividades desenvolvidas durante o estágio curricular.. . . . . . . . . . . 2
1.1.1 Loja de animais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.2 Serviço de Parasitologia e Doenças Parasitárias da FMV-ULisboa. . . . . . 2
1.1.3 Serviço de Anatomia Patológica da FMV-ULisboa. . . . . . . . . . . . . . . 3
ÍNDICE DE FIGURAS
ÍNDICE DE FIGURAS
VIII
Figura 23 - Macho de Tachygonetria sp. em amostra coprológica de Centrochelys
sulcata. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 24 - Larva de Pharyngodonidae encontrada em amostra coprológica de
Centrochelys sulcata. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Figura 25 - Alterações macroscópicas encontradas durante a necrópsia de uma boa
arco-íris (Epicrates cenchria). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Figura 26 - Fotocomposição de um corte histológico do intestino da mesma boa arco-
íris (Epicrates cenchria). .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Figura 27 - Células inflamatórias na mucosa do intestino da mesma boa arco-íris
(Epicrates cenchria). .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Figura 28 - Oocistos de possível Cryptosporidium spp. em esfregaços fecais corados
com a técnica de Ziehl-Neelsen. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Figura 29 - Estômago da cobra do milho adulta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Figura 30 - Lesões microscópicas observadas no estômago da cobra do milho adulta
em preparação histológica corada com PAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Figura 31 - Lesões microscópicas encontradas no intestino da cobra do milho juvenil em
preparações histológicas coradas com H&E.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Figura 32 - Alterações microscópicas encontradas no intestino de cobra do milho juvenil
em preparações histológicas coradas com H&E. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Figura 33 - Alterações gástricas encontradas numa cobra do leite Hondurenha. . . . . . . . . . 75
Figura 34 - Gamontes de Hepatozoon sp. em preparação histológica do pulmão de uma
boa arco-íris corada com H&E. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Figura 35 - Ácaros Ophionyssus natricis encontrados durante a necrópsia de uma Boa-
Arco-Íris (Epicrates cenchria). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Figura 36 - Formas parasitárias de I. amphiboluri encontradas em preparações
histológicas do intestino coradas com H&E. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Figura 37 - Pormenores de características morfológicas de Cyrtosomum penneri
encontrados durante a necrópsia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Figura 38 - Ozolaimos cf linstowi encontrados no cólon de Iguana iguana.. . . . . . . . . . . . . . 82
Figura 39 - Fotocomposição de Ozolaimos cf linstowi encontrados em Iguana iguana
durante a necrópsia.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Figura 40 - Ovos de Pharyngodonidae em corte histológico de intestino de Iguana iguana. .84
Figura 41 - Srjabinoptera phrynosoma encontrados no estômago de Phrynosoma
platyrhinos. Imagens originais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Figura 42 - Srjabinoptera phrynosoma encontrados no estômago de Phrynosoma
platyrhinos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Figura 43 - Srjabinoptera phrynosoma encontrados no estômago de Phrynosoma
platyrhinos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Figura 44 - Srjabinoptera phrynosoma encontrados no estômago de Phrynosoma
platyrhinos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Figura 45 - Mesocestoides sp. em Phrynosoma platyrhinos.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
Figura 46 - Larvas de Mesocestoides sp. encontradas em corte histológico no fígado de
um Phrynosoma platyrhinos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
IX
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Prevalência média estimada (%) dos filos de parasitas encontrados nas
diferentes Sub-Ordens de répteis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
ÍNDICE DE TABELAS
X
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
® - marca registada
% - por cento
APS - Ácido Periódico de Shiff
BID - “bis in die” - duas vezes ao dia
CITES - Convention of International Trade in Endangered Species of wild fauna and flora
cm - centímetro
ED - esfregaço direto
EUA - Estados Unidos da América
Fl - flutuação
FMV-ULisboa - Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa
g - grama
ºC - graus Celsius
CI - código de identificação
h - horas
H&E - Hematoxilina e Eosina
HD - hospedeiro definitivo
HI - hospedeiro intermediário
HP - hospedeiro paraténico
IBD - “Inclusion body disease”
Kg - quilograma
l - litro
m - metro
ml - mililitro
µm - micrometro
mg - miligrama
min - minuto
NaCl - Cloreto de sódio
Obj. - Objectiva
Oc. - Ocular
OR - Odds Ratio
PO - “per os” - por via oral
PT - Portugal
QID - “quater in die” - quatro vezes ao dia
s - segundos
SID - “semel in die” - uma vez ao dia
TID - “ter in die” - três vezes ao dia
UE - União Europeia
UV - Ultra Violeta
ZN - Ziehl-Neelsen
ZnSo4 - Sulfato de zinco
XI
1. INTRODUÇÃO
1
1.1 Atividades desenvolvidas durante o estágio curricular.
A colheita das amostras e de alguns dados foi efetuada na loja de animais “Welcome to the
Jungle” situada no Lumiar.
Era um espaço comercial dedicado a animais exóticos, com predominância de répteis. Além de
animais, comercializavam-se produtos relacionados com a sua alimentação, suplementação
alimentar, alojamentos e acessórios complementares.
Estavam mantidos em permanência mais de uma centena de répteis divididos entre o espaço
de exposição ao público e o espaço interior restrito ao acesso de clientes onde eram mantidos
os animais utilizados para reprodução e reposição dos animais vendidos.
As principais atividades realizadas neste local envolveram a colheita de amostras fecais
frescas, a preparação e observação de esfregaços a fresco com solução de NaCl e corados
com soluto de Lugol. Adicionalmente, dada a possibilidade de contato continuado com os
animais, foi possível colher a informação detalhada sobre as condições de maneio de cada
animal e a presença de sinais clínicos.
Durante este período foram observadas amostras frescas de 82 animais, que equivalem à
observação de 164 esfregaços a fresco para a elaboração do rastreio parasitológico presente
neste estudo.
2
1.1.3 Serviço de Anatomia Patológica da FMV-ULisboa
3
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os répteis são populares enquanto animais de companhia e estima-se que contribuam com
mais de 20% para o valor de comércio de animais vivos se excluídos os peixes ornamentais
(Robinson, Griffiths, St. John & Roberts, 2015).
A União Europeia (UE) é um dos maiores mercados mundiais de répteis e desde o início dos
anos 1990 que estes animais têm começado a tornar-se mais atrativos como animais de
estimação. Apesar de a criação em cativeiro ter aumentado nos últimos anos alguns répteis
encontrados em lojas de animais ainda têm a sua origem na natureza causando um impacto
considerável na conservação destas espécies (Auliya, 2003).
Em 2005 foi estimado que o valor de importações de répteis vivos na UE tenha sido de 7
milhões de euros (€), superando países como os Estados Unidos da América (EUA) e Japão
(Engler & Parry-Jones, 2007).
Segundo um inquérito efetuado pela “American Pet Products Association” (APPA) referente a
2015-2016 é estimado que nos EUA sejam mantidos cerca de 9.3 milhões de répteis (APPA,
2016). No Reino Unido (RU) o número estimado é de 900 mil (PFMA, 2016).
O número de répteis mantidos em cativeiro em Portugal é desconhecido. Com registo na
base de dados da CITES (“DATABASE | CITES”, 2018), entre 2010 e 2017, foram importados
mais de 450.000 répteis vivos, sendo que mais de 90% pertenciam à família Emydidae. Ainda
assim, tendo em conta que estes números apenas contabilizam a entrada registada de animais
pertencentes à CITES, estimar um valor de répteis mantidos em Portugal é impossível mas
será de esperar que tenha vindo a aumentar como nos restantes países da UE.
2.1.2 Legislação
2.1.2.1 CITES
4
O anexo III inclui espécies que se encontram protegidas em pelo menos um país e que é
necessária a cooperação dos outros países para o controlo do seu comércio. Este anexo é
diferente dos outros, já que cada país pode fazer alterações independentes (“How CITES
works | CITES”, 2016).
Das 10.711 espécies de répteis descritas, atualmente, 80 estão inseridas no anexo I, 673 no
anexo III e 40 no anexo III (“The CITES species | CITES”, 2016).
Apesar de seguirem as regulamentações estabelecidas pela CITES os países membros são
livres de intensificarem e criarem leis internas específicas. Cada país é incumbido de designar
entidades responsáveis por fazer cumprir as normativas. Em Portugal esta responsabilidade
é, principalmente, do Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente uma divisão da Guarda
Nacional Republicana que geralmente atua em cooperação com o Instituto de Conservação
da Natureza e das Florestas.
Até Julho de 2015 a UE, enquanto entidade, não fazia parte dos membros da CITES. Desta
forma foi necessário criar uma legislação própria que apareceu na forma do regulamento (CE)
nº. 338/97 do Conselho de 9 de Dezembro de 1996 no qual estão presentes quatro Anexos
com as espécies que são abrangidas por este regulamento.
O anexo A compreende todas as espécies ameaçadas de extinção que são ou poderiam
ser afetadas pelo seu comércio. O anexo B inclui aquelas espécies cujo comércio pode
comprometer a sua sobrevivência ou a sobrevivência de populações em determinados países,
ainda que não estejam atualmente ameaçadas de extinção. O anexo C refere-se às espécies
indicadas por um determinado país. O anexo D inclui as espécies cujo comércio atinja um
volume tal que justifique uma determinada vigilância.
O Regulamento (UE) n.o 750/2013 da Comissão, de 29 de julho de 2013, que altera o
Regulamento (CE) n.o 338/97 do Conselho, relativo à proteção de espécies da fauna e da flora
selvagens através do controlo do seu comércio é a última atualização feita a estes Anexos
(Comissão europeia, 2007; ICNF, 2016).
Portugal enquanto estado membro da UE é regido pela sua legislação e subscreve também
a CITES.
A portaria 1226/2009 foi uma alteração importante no que diz respeito à manutenção de répteis
em cativeiro já que legalizou a manutenção de algumas cobras das famílias Pythonidae e
Boidae, como é o caso das pitão real (Python regius), um dos répteis mais populares como
animal de estimação a nível mundial (Diário da República, 2009).
.
2.1.2.3 Animais não incluídos nos Anexos
5
Pelo menos cerca de 700 espécies de répteis excluídos da CITES são comercializados na UE.
No entanto, este número poderá ser maior devido à dificuldade de contabilizar as espécies
não pertencentes aos anexos da CITES. Adicionalmente, a tendência da manutenção em
cativeiro de novas espécies de répteis parece ser crescente (UNEP-WCMC, 2009).
Os répteis com destino a animal de companhia podem ser de três origens diferentes: criação
de cativeiro, apanhados diretamente da natureza ou quintas de criação (“ranching”).
Apesar de a maioria dos estudos efetuados incidirem apenas num determinado país ou grupo
reduzido de espécies, na generalidade, apoiam a ideia de que a criação em cativeiro tem
aumentado, não só em número de animais como em quantidade de espécies (Auliya, 2003).
Em alguns casos a criação em cativeiro pode ser uma alternativa viável à colheita direta da
natureza diminuindo a pressão nas populações selvagens. No entanto, animais criados em
cativeiro são sujeitos a um controlo menos restrito do que os selvagens. Muitos animais são
criados no país de destino, ou países vizinhos, o que pode contribuir para o aumento da
investigação científica nas áreas da biologia, requisitos de manutenção e doenças.
6
No entanto, a tendência para se importarem cada vez menos animais dos países nativos
pode representar um decréscimo nas receitas efetuadas pelo comércio destes animais e que
podem ter um impacto significativo na economia desses países.
A obtenção relativamente fácil de animais criados em cativeiro pode criar também um
distanciamento entre estes animais e os seus homólogos selvagens e limitar a eficácia de
campanhas de sustentabilidade e conservação (Robinson et al., 2015).
Em Portugal será de esperar que a criação em cativeiro seja a principal fonte de oferta de
répteis com destino a serem mantidos como animais de estimação.
A dificuldade de controlar animais não pertencentes à CITES é especialmente importante em
animais apanhados diretamente da natureza.
Apesar do número de espécies de répteis pertencentes ao anexo II da CITES recolhidos
diretamente da natureza parecer estar a diminuir, esta ainda é uma fonte significativa de
animais. O seu impacto na conservação das espécies ainda não está devidamente conhecido
mas sabe-se que o ritmo a que são recolhidos pode representar um risco para as populações
destas espécies e ameaçar a sua existência. O decréscimo do comércio de répteis do anexo
II da CITES apanhados da natureza está intimamente associado ao decréscimo de indivíduos
de iguana verde com esta origem (Robinson et al., 2015).
O “ranching” é definido pela CITES como a criação em ambiente controlado de espécimes que
foram coletados da natureza quer sob a forma de ovo ou juvenis, que teriam uma probabilidade
reduzida de sobreviver até idade adulta (CITES, 2002).
Por vezes esta colheita é compensada através da libertação de alguns indivíduos de volta
à natureza. Esta forma de criação é sempre feita no país de onde é originária a espécie e
se bem organizada pode contribuir tanto para a preservação da mesma na natureza como
contribuir para o retorno monetário para esses países (Robinson et al., 2015).
Em Portugal o número de répteis comercializados cuja origem é a natureza ou o “ranching” é
completamente desconhecido. Mas será expectável que sejam uma fração pequena quando
comparada com os animais criados em cativeiro.
7
2.1.6 Factores de maior importância no maneio de répteis em cativeiro
2.1.6.1 Temperatura
Uma das características mais importantes que distingue os répteis dos outros animais é o
facto de serem ectotérmicos. Isto significa que a principal fonte de energia térmica é exterior
(Rossi, 2006).
Os comportamentos de termorregulação utilizados pelos répteis incluem: a aproximação e
afastamento de fontes de calor como o sol ou substrato aquecido e de zonas de sombra, água
ou tocas; variações voluntárias do volume corporal, forma, orientação e postura (Lillywhite &
Gatten Jr., 1995).
Todos os répteis têm a sua própria zona de temperatura ótima preferida (ZTOP) que é
relativamente característica da espécie (Jacobson, 2007). Isto significa que é necessário
providenciar simultaneamente fontes de aquecimento localizadas através de lâmpadas
(cerâmica, infravermelhos, halogénio, etc), cabos, tapetes ou pedras de aquecimento e
zonas com temperaturas mais baixas para que o animal consiga fazer adequadamente a
sua termorregulação. Dependendo dos hábitos de cada animal os esconderijos poderão ser
providenciados através de caixas opacas, casca de côco, substratos que permitam ao animal
fazer tocas ou plantas artificiais/naturais para animais arborícolas (Rossi, 2006).
8
2.1.6.3 Alimentação
A qualidade da dieta e a periodicidade da oferta de comida devem ser suficientes para garantir
um crescimento regular e manutenção de condição corporal adequada (Lillywhite & Gatten
Jr., 1995).
Devido ao metabolismo lento e índice de conversão elevado característico dos animais
ectotérmicos, alguns répteis podem não necessitar de alimentação frequente. A temperatura,
fotoperíodo e humidade relativa influenciam de forma apreciável a capacidade de ingestão
e metabolização dos alimentos, sendo estas condições externas determinantes na condição
corporal e saúde geral dos répteis (Frye, 1995; Lillywhite & Gatten Jr., 1995).
Os vegetais e frutas fornecidos devem ser o mais frescos possível e livres de contaminação.
No caso de alimento vivo como artrópodes ou roedores a sua alimentação também deve ser
tomada em consideração (Frye, 1995).
Deverão ser efetuados todos os esforços para que um animal se alimente de forma
independente e evitar o ato de stress que é a alimentação forçada (Lillywhite & Gatten Jr.,
1995).
O desenho de um terrário para manter um réptil requer alguma preparação prévia e a decisão
entre providenciar um ambiente minimalista ou um mais complexo que se aproxime mais ao
habitat natural do animal.
9
O tamanho do terrário deve permitir uma movimentação confortável do animal e ser grande o
suficiente para existir um gradiente térmico (Varga, 2004). O tipo de esconderijos e materiais
de decoração (ramos, material para fazer covas, etc.) devem ser ajustados aos hábitos que
cada espécie manifesta na natureza (Varga, 2004; Rossi, 2006).
Devem ser providenciados esconderijos ao longo de todo o gradiente térmico de forma a um
animal nunca ter de escolher entre a sua segurança e a manutenção da sua temperatura
(Pough, 1991).
Apesar de existirem poucos estudos nesta área, os animais mantidos em terrários naturalistas
parecem apresentar uma melhor capacidade de expressarem mais comportamentos naturais
e menos comportamentos anormais do que os mantidos em instalações minimalistas (Warwick
& Steedman, 1995).
A tabela do Anexo 2 apresenta alguns dos parâmetros de manutenção das espécies incluídas
no presente estudo.
As doenças gastrointestinais dos répteis são um dos principais motivos de consulta veterinária
e o parasitismo a principal causa de sintomas gastrointestinais (Benson, 1999). Para entender
porque é que os parasitas são um problema grave em répteis mantidos em cativeiro, é preciso
reconhecer que a manifestação de doença parasitária está relacionada com stress de cativeiro
e as condições em que os répteis são mantidos (Wilson & Carpenter, 1996).
Os animais criados e mantidos em cativeiro por várias gerações estão mais expostos a
parasitas com ciclo de vida direto. Por outro lado, os animais apanhados diretamente da
natureza, dado o contato com os hospedeiros intermediários naturais, podem apresentar
infecções por parasitas heteroxenos (Jacobson, 2007).
Na natureza os animais raramente contactam com os seu dejetos e restos de comida (Rataj,
Lindtner-Knific, Vlahović, Mavri & Dovč, 2011). Além de serem um substrato disponível para
bactérias e fungos, perpetuam a reinfeção por parasitas com ciclo de vida direto (Klingenberg,
2007a).
As lojas de animais são um local onde se encontram concentrados animais com origens
distintas. Isto significa que um réptil pode contatar com parasitas aos quais nunca foi exposto
e, como tal, não ter uma resposta eficaz a esta infeção.
A incapacidade de providenciar uma boa alimentação, gradiente térmico adequado, a
concentração de animais em espaços reduzidos e, por vezes, em más condições de higiene,
contribuem para ao desenvolvimento, multiplicação e disseminação de parasitas (Reavill &
Griffin, 2014).
10
2.2.2 Efeitos do cativeiro na resposta ao parasitismo - Stress e Imunidade
O cativeiro, por representar um fator intrínseco de stress, além de poder determinar o tipo e
a quantidade de parasitas encontrados, pode influenciar a capacidade de o réptil responder
à infeção.
O sistema imunitário dos répteis é, como na maioria dos vertebrados, constituído por uma
rede complexa de células e moléculas circulantes, orgãos e conjuntos de tecidos envolvidos
na proteção do animal contra agentes patogénicos (virús, bactérias e parasitas) e células
anormais (tumores) (Origgi, 2007; Zimmerman, Vogel, & Bowden, 2010).
A resposta do sistema imunitário pode ser dividida em imunidade inata e adquirida. A
componente inata é composta por um conjunto de respostas inespecíficas de atuação rápida,
tratando-se de uma defesa inicial constituída por lisozimas, péptidos antimicrobianos, via do
complemento e leucócitos não específicos. Uma função importante da imunidade inata é a
resposta inflamatória (Origgi, 2007; Zimmerman et al., 2010). Em répteis uma das respostas
inflamatórias mais comuns é a formação de granulomas heterofílicos se o agente patogénico
for extracelular ou granulomas histiocíticos se for intracelular. Em répteis, o envolvimento dos
eosinófilos em infecções parasitárias, ao contrário do que acontece em mamíferos, não está
determinado (Stacy & Pessier, 2007; Zimmerman et al., 2010).
A imunidade adquirida é mais específica para o tipo de agente presente, requerendo dias a
semanas para ser totalmente ativada. É dividida em imunidade humoral e celular. A resposta
mediada por células citotóxicas é baseada na ação de linfócitos T e células “natural killers”
e a resposta humoral, principalmente, na síntese e libertação de imunoglobulinas por parte
de linfócitos tipo-B. Durante a resposta imunitária existe interação entre os mecanismos de
imunidade inata e adquirida (Origgi, 2007; Zimmerman et al., 2010).
O modo de resposta está dependente do tipo e quantidade de parasitas, da sua localização no
hospedeiro, do estado imunitário e das condições ambientais em que é mantido o hospedeiro
(Stacy & Pessier, 2007).
11
A fase aguda da resposta ao stress é regulada pelo sistema autónomo simpático e inclui a
libertação de epinefrina por parte da medula da adrenal (Denardo, 2006).
Outra resposta fisiológica ao stress é a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal que resulta
na produção de corticosteroides pela glândula adrenal. Nos répteis o principal corticosteroide
produzido é a corticosterona. Existe uma forte evidência de que os corticosteroides
desempenhe um papel crucial na resposta imunitária, causando imunodepressão (Guillette,
Cree & Rooney, 1995).
A concentração plasmática elevada de corticosterona está associada a lise da maioria dos
timócitos, decréscimo de linfócitos tipo-T e tipo-B (30-50 %) tanto no sangue como no baço e
comprometimento da produção de anticorpos ( Zapata, Varas & Torroba, 1992).
Apesar de os mecanismos pelos quais isto acontece ainda não estarem definidos
parece existir uma relação entre a presença de stress, o aumento de corticosteroides e
consequentemente imunossupressão (Guillette et al., 1995). Além desta relação direta entre o
stress e a imunodepressão, outros fatores ambientais (principalmente a temperatura) podem
simultaneamente causar imunodepressão direta e indireta através do aumento do stress. A
involução sazonal do timo associada à baixa temperatura no inverno pode explicar a falta de
resposta humoral e celular de répteis mantidos a baixas temperaturas (Guillette et al., 1995;
Origgi, 2007).
Nesta secção, serão referidos apenas os parasitas gastrointestinais mais prevalentes, alguns
que apesar de não afetarem este aparelho aparecem nos exames coprológicos de rotina e,
outros que apesar de pouco prevalentes, são importantes pela sua patogenicidade.
12
As lesões presentes no cólon e fígado parecem ser as primárias e as do intestino delgado e
estômago secundárias (Greiner & Mader, 2006; Scullion & Scullion, 2009; Jacobson, 2007).
O fígado pode apresentar-se mosqueado, de castanho pálido a vermelho escuro e geralmente
aumentado de tamanho e friável. Microscopicamente aparecem igualmente lesões necróticas
no parênquima hepático que podem ser mascaradas pela presença de tromboembolismos
devido à obstrução da veia porta (Mitchell, 2007).
As serpentes são os répteis mais afetados, mas existem casos descritos de amebíase clínica
em quelónios (Jacobson & Greiner, 1984) e sáurios (Gray, Marcus, McCarten & Sappington,
1966; Chia et al., 2009).
13
2.2.3.3 Filo Ciliophora
Os parasitas do filo Ciliophora são organismos unicelulares que se movem usando cílios.
Todos possuem um macronúcleo, um micronúcleo e, habitualmente, vacúolos contráteis
(Scullion & Scullion, 2009).
Os dois géneros com maior interesse pertencentes a este filo são, pela sua elevada prevalência,
Balantidium e Nyctotherus.
O seu ciclo de vida compreende uma via assexuada de divisão vegetativa que ocorre por
divisão binária transversa e uma alternativa sexuada através de conjugação, autogamia e
citogamia (Frank, 1984).
Os cistos são a forma infectante e são ingeridos durante a alimentação ou contacto com o
ambiente contaminado (Greiner & Mader, 2006).
Estes protozoários são considerados comensais em répteis e apenas o género Balantidium
foi relacionado com doença, causando colite (Barnard & Upton, 1994).
14
2.2.3.5 Filo Nematoda
15
Os géneros Rhabdias (ofídios) e Entomelas (sáurios), ambos pertencentes à família
Rhabdiasidae, podem causar pneumonia e os sinais clínicos incluem boca constantemente
aberta, secreções espumosas, falta de ar, glote estendida. Pode existir pneumonia bacteriana
secundária.
O género Strongyloides (família Strongyloididae) geralmente provoca sinais clínicos mais
inespecíficos que incluem perda de peso, anorexia, letargia e por vezes diarreia (Klingenberg,
2007b; Greiner, 2003; Jacobson, 2007).
As migrações efetuadas pelas larvas infetantes podem causar sinais clínicos respiratórios.
Durante a necrópsia pode observar-se exsudado e necrose celular nas vias respiratórias
principais (Jacobson, 2007).
Os parasitas da superfamília Ascaridoidea, apesar de menos prevalentes que os mencionados
anteriormente, importantes em serpentes, sáurios e quelónios.
De uma forma geral os parasitas desta superfamília têm um ciclo de vida heteroxeno e usam
vertebrados como hospedeiros intermediários (HI) e definitivos(HD), sendo regular o uso de
hospedeiros paraténicos (HP). Habitam o estômago e o intestino do HD e alimentam-se da
comida que este ingere. Os ovos dos parasitas desta superfamília que são transmitidos em
ambientes terrestres possuem uma cápsula exterior grossa, enquanto os que são transmitidos
em ambiente aquático possuem cápsula fina (Anderson, 2000).
Os sinais clínicos associados são inespecíficos e incluem perda de peso ligeira e progressiva,
regurgitação de alimento parcialmente digerido e anorexia.
Algumas espécies de ascarídeos podem causar lesões na zona cranial do trato gastrointestinal.
Nematodes adultos do género Ophidascaris, parasitas de ofídios, encontram-se na parte
posterior do esófago e estômago onde estão localizados profundamente na submucosa. Uma
reação inflamatória esclerosante pode estar associada a estes parasitas. Secundariamente a
estas lesões pode ocorrer infeção bacteriana (Jacobson, 2007, Mitchell, 2007).
Também as superfamílias Gnathostomatoidea e Camallanoidea (ordem Spirurida) podem
aparecer em todos os grupos de répteis.
Da primeira superfamília, os parasitas do género Spiroxys encontram-se principalmente em
tartarugas (Mitchell, 2007), enquanto os do género Tanqua parasitam lagartos monitores
(Varanidae) (Jacobson, 2007).
Têm um ciclo de vida indireto usando copépodes como HI (Anderson, 2000). As fêmeas
depositam ovos em estádio de 4-16 células no interior. No ambiente as larvas desenvolvem-
se e eclodem em estádio de L2. São posteriormente ingeridas pelo HI e no hemocélio
desenvolvem-se até L3 que é a forma infectante. Os HD ingerem o HI e as L3 libertam-se no
estômago e terminam o seu desenvolvimento (Anderson, 2000; Mitchell, 2007).
Os parasitas da superfamília Camallanoidea com maior importância pertencem aos géneros
Camallanus e Serpinema. Ambos parasitam preferencialmente quelónios (Mitchell, 2007).
O ciclo de vida é indireto e como descrito para a superfamília Gnathostomatoidea utilizam
copépodes como HI. No entanto, nesta superfamília, as larvas L1 eclodem in utero e saem
para o exterior com as fezes ou através da migração de fêmeas grávidas até à cloaca. Em
contato com a água, ocorre a sua ruptura e libertam as larvas (Anderson, 2000).
Os parasitas de ambas as superfamílias encontram-se agarrados à mucosa intestinal e gástrica
e, sendo hematófagos, a sua presença pode originar úlceras hemorrágicas, inflamação,
anemia, peritonite e infeção bacteriana secundária.
16
Os sinais clínicos incluem anorexia, perda de peso, desidratação, diarreia, melena e
possivelmente morte (Klingenberg, 2007b; Mitchell, 2007).
A família Atractidae, presente principalmente em sáurios e quelónios, contém parasitas que têm
a particularidade de serem ovovivíparos e com ciclo de vida direto. Os ovos eclodem e a larva
desenvolve-se até ao terceiro estádio in utero. Nesse momento são capazes de autoinfetar o
hospedeiro resultando em infecções por um grande número de parasitas (Jacobson, 2007).
A transmissão de hospedeiro em hospedeiro ainda não é totalmente conhecida (Anderson,
2000).
Foram atribuídas lesões patológicas ao género Proatractis que se encontra no intestino
grosso de quelónios. As lesões encontradas variaram entre colite verminosa, endurecimento
e espessamento do ceco e cólon proximal. Microscopicamente foi descrita uma extensa
necrose da mucosa e encontraram-se miríades de parasitas dentro da mucosa com reação
inflamatória que se estendia à muscularis (Rideout et al., 1987; citado por Jacobson, 2007)
Outra superfamília relevante de parasitas gastrointestinais relevante é a Physalopteridae na
qual se encontram os géneros Physaloptera, Abreviatta e Srjabinoptera .
Têm um ciclo de vida indireto e utilizam artrópodes como hospedeiros intermediários. As
fêmeas depositam ovos com larvas L1 totalmente desenvolvidas. No exterior são bastante
resistentes entrando no hospedeiro intermediário por ingestão. Completam a sua maturação
e a larva L3 infecta os répteis após a predação dos HI. No estômago a larva L3 alimenta-se
não do hospedeiro mas da comida que este ingere (Anderson, 2000).
Como obtêm os seus nutrientes a partir dos alimentos ingeridos pelo hospedeiro (Anderson,
2000) em casos de animais com má condição corporal podem contribuir dificultando a sua
recuperação.
17
Estes parasitas têm a capacidade de sobreviver largos períodos de tempo dentro do
hospedeiro e, por vezes, podem surgir casos clínicos associados em animais mantidos em
cativeiro (Schneller & Pantchev, 2008).
A maior parte das espécies de cestodes parasitas de répteis pertencem à ordem
Proteocephalidea (Wilson & Carpenter, 1996).
Os géneros mais importantes são Ophiotaenia, Crepidobothrium, Acanthotaenia e
Proteocephalus (Greiner & Mader, 2006; Jacobson, 2007).
Têm um ciclo de vida indireto utilizando artrópodes copépodes como hospedeiros intermediários
que ingerem os ovos. No HI os ovos desenvolvem-se até o estádio de larva procercóide que
é a forma infectante para o HD. Uma vez dentro do HD a larva procercóide desenvolve-se em
pleurocercóide já no interior de orgãos sólidos como o fígado. Neste estádio o parasita circula
livremente pelo hospedeiro e apenas se desenvolve ao entrar no lúmen do intestino delgado,
onde se fixa (Greiner & Mader, 2006; Jacobson, 2007).
Os girinos, rãs e peixes podem servir de hospedeiros paraténicos (Jacobson, 2007).
Como estes cestodes vivem no intestino delgado e competem pelos nutrientes do seu
hospedeiro, infecções massivas podem causar anorexia, emaciação, obstrução intestinal e
possivelmente a morte (Wilson & Carpenter, 1996); Jacobson, 2007).
Outra ordem com grande relevância é a ordem Cyclophyllidea, sendo que os géneros
Mesocestoides (Mesocestoididae) e Oochoristica (Linstowiidae) são os seus representantes
mais importantes.
O género Mesocestoides necessita de três hospedeiros para completar o seu ciclo. Artrópodes
são utilizados como primeiro hospedeiro intermediário, onde as oncosferas se desenvolvem
numa larva cisticercoide. Esta larva entra no segundo HI por ingestão do primeiro HI. Os répteis
entram nesta fase do ciclo servindo de segundo HI. Neste momento as larvas chamadas de
tetratirídio enquistam em pequenos nódulos que se podem encontrar em vários orgãos. O
hospedeiro definitivo são aves ou mamíferos que por ingestão do segundo HI se infectam e
completam o ciclo (Jacobson, 2007).
No género Oochoristica os répteis servem de HD. As espécies pertencentes a este género
necessitam apenas de um HI que geralmente é um inseto coleóptero (Tenebrionidae). Todas
as espécies desenvolvem uma cápsula uterina especializada no proglótide grávido cada uma
contendo um ovo. Os coleópteros ingerem os ovos e o parasita desenvolve-se no hemocélio.
Depois de ingerido o parasita estabelece-se no intestino delgado onde se desenvolve até
adulto e se reproduz (Conn, 1985).
Apesar de a resposta inflamatória ao enquistamento das larvas de Mesocestoides ser discreta,
a ocupação de uma porção significativa do orgão pode causar uma diminuição da sua função
(Jacobson, 2007)
Os adultos de Oochoristica competem pelos nutrientes do hospedeiro e podem causar perda
de peso.
As ordens Bothriocephalidea e Diphyllobothriidea, antigamente consideradas duas famílias da
ordem Pseudophyllea (Kuchta, Scholz, Brabec & Bray, 2008) são o outro grupo de parasitas
que merece ser referido.
São cestodes de grandes dimensões podendo medir de 10 a 80 cm de comprimento e até 8
mm de largura (Wilson & Carpenter, 1996).
18
Os géneros mais importantes são Bothridium, Duthiersia, Spirometra e Scyphocephalus
(Diphyllobothriidea) e Bothriocephalus (Bothriocephalidea) (Greiner & Mader, 2006; Jacobson,
2007).
Todos os parasitas têm ciclo de vida indireto com interveniência de dois HI, primeiro um
crustáceo aquático e depois um vertebrado (Greiner & Mader, 2006).
Os ovos saem através do poro uterino de um proglótide maduro para o trato gastrointestinal
do HD. Têm parede espessa, opérculo e são acastanhados contendo um coracídio ciliado que
emerge depois de incubado. Este desenvolve-se em procercóide no interior do primeiro HI.
Os segundos HI, geralmente peixes, anfíbios ou répteis, ingerem os artrópodes e depois de se
libertar, o procercóide, migra para o músculo e aí desenvolve-se em plerocercóide. E é neste
estádio que o HD se infeta por predação do segundo HI (Bowman & Georgi, 2009).
As larvas podem encontrar-se em tecidos subcutâneos, músculos intercostais, na cavidade
celómica ou nas membranas serosas. Quando se encontram no músculo podem causar
edema e hemorragia (Wilson & Carpenter, 1996). No caso de larvas encontradas no tecido
subcutâneo podem ser observados inchaços de consistência diminuída (Jacobson, 2007). Em
cativeiro, animais com infecções graves podem causar anorexia e perda de peso.
Os adultos competem pelos nutrientes do HD e em grande número podem causar regurgitação,
debilidade e emaciação. Além deste efeito direto, a local de preensão ao HD pode servir de
porta de entrada de bactérias patogénicas (Wilson & Carpenter, 1996).
Várias espécies de trematodes foram reportadas como parasitas de todos os grupos de répteis,
sendo especialmente prevalentes em tartarugas marinhas (Jacobson, 2007). Alguns possuem
ciclo de vida direto (Monogenea e alguns Aspidogastrea) enquanto outros necessitam de pelo
menos um HI (Digenea) (Greiner & Mader, 2006).
Os parasitas da subclasse Digenea são os mais frequentemente detetados em animais
mantidos em cativeiro, encontrando-se em virtualmente todos os tecidos, mas a maioria
aparece no trato gastrointestinal. Todas as espécies necessitam de pelo menos um HI,
podendo ter dois ou mais (Greiner & Mader, 2006).
Trematodes dos géneros Dasymetra, Lechriorchis, Zeugorchis e Ochestosoma (Ochetosomidae)
e o género Stomatrema (Plagiorchiidae) encontram-se no trato gastrointestinal superior de
serpentes (Jacobson, 2007).
Os anfíbios são os HI mas, mesmo em animais mantidos em cativeiro, quando são eliminados da
dieta, a infeção pode persistir durante longos períodos de tempo. Isto deve-se, provavelmente,
ao longo tempo de maturação das larvas no trato gastrointestinal ou à longevidade dos adultos
(Jacobson, 2007).
Como os trematodes adultos fazem migração desde a cavidade oral, através da glote, até
ao pulmão, podem causar dispneia, perda de peso, anorexia (Wilson & Carpenter, 1996;
Mitchell, 2007) e algumas lesões focais no epitélio pulmonar que podem predispor a infecções
bacterianas secundárias (Jacobson, 2007).
19
2.2.3.7 Filo Arthropoda - Subclasse Pentastomida
Na maioria das vezes, o diagnóstico de infeção parasitária é efetuado num animal vivo e, no
caso dos parasitas gastrointestinais a análise coprológica é o único meio possível.
Esta análise começa com a observação macroscópica das fezes. Por vezes, parasitas adultos
ou cápsulas ovígeras podem estar presentes e ser recolhidos.
A técnica coprológica mais comum é a flutuação e pode ser realizada utilizando várias soluções,
sendo útil, principalmente, na deteção os de ovos/larvas de nematodes, ovos de cestodes
(se libertados dos proglótides), ovos de pentastomídeos, ovos de acantocéfalos, oocistos de
coccídeas e trofozoítos e/ou quistos de protozoários ciliados (Greiner & Mader, 2006).
No caso das coccídeas se o objectivo for a observação com a objectiva de imersão deverá
usar-se a solução de Sheather (solução saturada de açúcar em água) visto que apresenta
maior viscosidade e permite a observação sem que a pressão causada pela objectiva desloque
a lamela (Greiner, 2003).
20
Os esfregaços diretos a fresco são particularmente úteis no estudo de protozoários
(principalmente flagelados e amebas) e em animais de dimensões reduzidas já que podem
ser efetuados com uma pequena quantidade de fezes.
O diagnóstico de flagelados implica algum treino por parte do observador (Klingenberg, 2007b).
Em preparações a fresco com solução salina a 0.9% podem ser observados os movimentos
e algumas características morfológicas (Scullion & Scullion, 2009).
A adição de Soluto de Lugol à preparação pode ajudar no diagnóstico de protozoários
flagelados e amebas (Scullion & Scullion, 2009).
Outra técnica coprológica é a sedimentação. Esta técnica é utilizada, principalmente, para
detetar ovos de trematodes (Greiner & Mader, 2006).
A coloração de esfregaços fecais também pode ser útil na detecção de parasitas gastrointestinais.
Esfregaços fecais corados pela técnica de Ziehl-Neelsen ou Kinyoun podem ser utilizados no
diagnóstico de Cryptosporidium sp., em que os oocistos aparecem corados de rosa/vermelho
sobre um fundo verde/azul.
A coloração de Giemsa pode ser utilizada no diagnóstico de protozoários flagelados. Esta
técnica evidencia estruturas morfológicas úteis na classificação destes parasitas (Scullion &
Scullion, 2009)
21
3. MATERIAL E MÉTODOS
Para este rastreio parasitológico colheram-se amostras fecais de 82 répteis que pertenciam a
uma coleção presente na loja de animais “Welcome to the Jungle”.
Foram colhidas amostras de 33 sáurios, 46 ofídios e três quelónios.
Colheram-se amostras biológicas post mortem em 41 cadáveres de répteis com três origens
distintas. Uma iguana verde (Iguana iguana) era proveniente da Quinta dos Plátanos em
Abrantes. Um varano do Nilo (Varanus niloticus) e uma iguana verde tiveram origem no Jardim
Zoológico de Lisboa.
Os restantes 38 animais pertenciam à mesma loja de animais onde foram colhidas as amostras
coprológicas.
Este grupo de 41 répteis continha 19 sáurios, 19 ofídios e três quelónios.
Foi atribuído a todos os animais um código de identificação (CI) utilizado para catalogar as
amostras colhidas e respectivos relatórios.
22
3.2.2 Amostras colhidas post mortem
Dos 38 répteis que morreram na loja de animais, 26 foram congelados pelo proprietário no
congelador de um frigorífico doméstico e 12 foram refrigerados a 4-7 ºC.
Os animais que se encontravam conservados por congelação na loja foram transferidos
para a arca congeladora da sala de necrópsias do Serviço de Anatomia Patológica da FMV-
ULisboa. Aos répteis mantidos por refrigeração foi efetuada a necrópsia no dia da morte ou
no dia seguinte.
Os 3 animais que não provieram da loja foram congelados e deram entrada nos Serviços de
rotina de Anatomia Patológica da FMV-ULisboa.
A técnica de necrópsia adotada foi baseada na descrita por Terrel e Stacey (2007) e Garner
(2006). Tendo em conta existem particularidades da técnica de necrópsia específicas para
quelónios, sáurios e ofídios a sua descrição seria extensa. Desta forma optou-se por não
descrever as técnicas de necrópsia efetuadas.
A grande maioria dos cadáveres aos quais foi efetuada a necrópsia eram de pequenas
dimensões, como tal, alguns orgãos foram colhidos inteiros. Colheram-se sistematicamente
fragmentos ou a totalidade do rim, fígado, pulmão e secções do trato gastrointestinal. Tentou-
se sempre que o material colhido não tivesse uma espessura superior a 5mm.
O material colhido foi preservado e fixado numa solução de formol a 10%.
Os frascos de plástico contendo estas amostras, além do código CI específico foram
identificados com o número interno do Serviço de Anatomia Patológica da FMV-ULisboa no
exterior do frasco com marcador e no interior através de uma etiqueta com o número escrito
a lápis de grafite.
As amostras foram deixadas a fixar pelo menos durante 48 horas.
Sempre que possível colheram-se fezes da cloaca e/ou intestino para um frasco de plástico
para posterior análise. Os testes coprológicos de material colhido durante a necrópsia foram
executados no próprio dia ou no seguinte, sendo a amostra refrigerada.
Não existindo conteúdo fecal suficiente para executar técnicas coprológicas de flutuação foi
efetuado, sempre que possível, um esfregaço a fresco misturando uma pequena quantidade
de fezes com uma gota de soro fisiológico in loco.
A todos os animais com suspeita de infeção por Cryptosporidium fizeram-se esfregaços do
conteúdo gástrico para posterior coloração com a técnica de Ziehl-Neelsen.
23
3.2.2.5 Parasitas macroscópicos
O esfregaço direto foi efetuado colocando uma pequena porção de fezes numa lâmina de vidro
à qual foram adicionadas duas a três gotas de soro fisiológico (NaCl a 0,9%) ou de soluto de
Lugol. As duas partes foram misturadas com a ajuda de um palito de madeira e com o auxílio
de uma lamela arrastaram-se os detritos maiores para a extremidade da lâmina. Colocou-se
a lamela sobre o líquido, limparam-se os detritos com papel e observou-se a preparação ao
microscópio (Greiner & Mader, 2006).
Para proceder a esta coloração foi estendida sobre uma lâmina, com auxílio de uma vareta
ou lâmina de vidro, uma pequena porção de fezes ou conteúdo gástrico de modo a obter uma
camada fina e uniforme sobre a lâmina. O esfregaço foi deixado a secar ao ar durante cerca
de 2 horas.
Antes de proceder à coloração, o esfregaço foi fixado com metanol durante 1min.
Em seguida colocou-se o corante fucsina durante 10 min e lavou-se com água corrente.
Voltou a lavar-se a lâmina com solução de álcool-ácido clorídrico a 3% seguida de nova
lavagem com água corrente.
Por fim corou-se com verde malaquite a 0,4 %.
24
Voltou a lavar-se abundantemente em água corrente e deixou-se secar antes de a preparação
ser observada ao microscópio com a objectiva de imersão de ×100 (Taylor et al., 2015).
Quando colhidos juntamente com o conteúdo intestinal, os parasitas foram colocados numa
placa de Petri e, utilizando uma lupa estereoscópica, foi efetuada a separação entre os
parasitas e os detritos com o auxílio de uma pinça. Após várias lavagens com etanol a 70%
os parasitas foram preservados num frasco de plástico identificado com o código CI do animal.
Depois de limpos os parasitas foram montados entre lâmina e lamela com esclarecedor
Lactofenol de D’Amann (Taylor et al., 2015).
25
3.6 Medição de parasitas
A medição de todas as formas parasitárias foi feita utilizando o programa ImageJ, versão
1.48h3 de 2015 (disponível em “https://imagej.nih.gov/ij/index.html “).
Todos os cálculos estatísticos foram efetuados utilizando a interface RStudio versão 1.0.44
de 2016 (disponível em “https://www.rstudio.com/ “) do programa R versão 3.3.2 de 2016 (
disponível em “https://cran.r-project.org/”).
3.8.2 Cálculos estatísticos
Antes de proceder aos cálculos estatísticos foi necessário definir o conceito do que era
considerado um animal positivo e a forma como foram atribuídos valores às variáveis.
Foram considerados positivos os animais em que num dos testes coprológicos e/ou necrópsia
e/ou exame histopatológico apresentassem pelo menos uma das seguintes estruturas:
-Um ovo, adulto ou larva de Nematoda;
-Um ovo, adulto ou larva de Platyhelminthes;
-Um oocisto de Apicomplexa;
-Um quisto/trofozoíto de Ciliophora;
-Vinte trofozoítos/ quistos de Metamonada num campo com ampliação de 100X (Oc.
10X*Obj. 10X);
-Um quisto/trofozoíto de Amoebozoa;
26
Este valor foi definido para este trabalho de modo a evitar que se considerassem animais
positivos cuja amostra tivesse apenas pequenas quantidades de flagelados.
Tendo em conta que não existe um valor de referência, optou-se por definir um valor de “20”.
Foi atribuído um valor de “1” se a condição definida para essa variável fosse considerada como
adequada e um valor de “0” se fosse considerada não adequada. As variáveis consideradas
foram:
Temperatura - intervalo de temperatura e necessidade de ponto quente;
Água - Humidade relativa e disponibilidade de água;
Alimentação - disponibilidade de alimentação consoante dieta;
Limpeza - limpeza regular do terrário ;
Iluminação - espectro de UV;
27
A função utilizada foi a “truePrev” usando um intervalo de confiança de 95% e uma sensibilidade
e especificidade igual a 1, já que não são conhecidos os seus valores para os testes e espécies
envolvidos neste estudo.
Para o cálculo da prevalência foram utilizados apenas os resultados dos testes coprológicos
efetuados com amostras frescas às quais se tenham realizado, numa única amostra, os
quatro testes coprológicos (esfregaços diretos com soro fisiológico e com soluto de Lugol e
flutuações com solução de ZnSO4 e solução saturada de açúcar).
De forma a uniformizar os resultados foi calculada a prevalência de parasitas por filo em
hospedeiros por sub-ordem assim como os totais.
Utilizando o teste exato de Fisher (função fisher.test) foi determinado se existia uma associação
estatisticamente significativa entre as variáveis “Temperatura“, “Água“, “Alimentação“,
“Limpeza“, “Iluminação“, “Condições“, “Terrário“, “Conjunto“ e a variável “Parasitas“ de modo a
tentar determinar se estas variáveis podem estar associadas à presença de parasitas.
Através do mesmo teste tentou determinar-se se existe uma associação estatisticamente
significativa entre a presença de “Parasitas“ e a manifestação de “Sinais clínicos“.
Foram calculadas as associações estatísticas entre as variáveis referidas para quatro grupos
distintos de animais:
GRUPO 1 - Todos os animais que entraram no rastreio parasitológico (n=82).
GRUPO 2 - Todos os animais dos quais se conhecia a história de manutenção e aos
quais foi realizado pelo menos um exame coprológico ante ou post mortem (n=95).
GRUPO 3 - Todos os lagartos que entraram no rastreio parasitológico (n=33).
GRUPO 4 - Todos os lagartos dos quais se conhecia a história de manutenção e aos
quais foi realizado pelo menos um exame coprológico ante ou post mortem (n=38).
Não se realizou o cálculo das associações estatísticas para a sub-ordem Cryptodira pois
só foram analisados 5 animais com história conhecida e não se fez o cálculo para a sub-
ordem Serpentes porque existia pouca variabilidade nas suas condições de maneio e poucos
animais positivos o que se refletia por algumas tabelas de contingência com mais do que uma
célula de valor “0”.
28
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
29
Este é o filo que apresenta mais discrepância entre o presente trabalho e o realizado por Rataj
et al. (2011) e Pasmans et al. (2008). Nos trabalhos de Papini et al. (2011) e Bernardino (2014)
não há referência de animais positivos com parasitas deste filo.
Como se pode verificar na tabela 1, dos 33 animais positivos em 16 detectou-se 1 filo de
parasitas, em 5 detectaram-se 2 filos, 4 tinham 3 filos e em 8 foram identificados 4 filos.
Gráfico 1 - Prevalência média estimada (%) dos filos de parasitas encontrados nas diferentes
Sub-Ordens de répteis.
90
Serpentes (n=46) Sauria n=33 Cryptodira n=3 Total n=82
80
70
60
50
40 79,7 79,7
74,3
30 60
51,3
40,3
20 40,3 40,1 40,5
34,2
28,5 27,4
10 20 19,1
15,5 14,3
10,7 12,5
0 6,2 0 0 4,2 6,2 0 5,7 0 2,4
0
Amoebozoa Apicomplexa Ciliophora Metamonada Nematoda Platyhelminthes Total por grupo
30
4.1.1 Sub-ordem Serpentes
31
4.1.1.1 Filo Apicomplexa - família Eimeriidae
A prevalência desta família de protozoários em serpentes foi de 6,2% tendo sido detetados
oocistos em 2 dos 46 ofídios. Nos dois ofídios, uma pitão real e uma pitão de Ramsay (Aspidites
ramsayi), os oocistos (figura 1) não estavam esporulados não sendo possível identificar o
género.
Figura 1 - Oocistos de coccídias de género desconhecido em análise coprológica de cobras.
A- Oocistos em amostra coprológica de uma pitão real (Python regius). B- Oocisto encontrado
em amostra coprológica de pitão de Ramsay (Aspidites ramsayi). Escalas - 20 μm. Imagens
originais.
A B
Oocisto encontrado em amostra de pitão de Ramsay - oocisto sub-esférico, com parede lisa e
dupla, não estavam visíveis estruturas como grânulo polar ou micrópilo. Media 21,916 μm de
eixo maior e 19,810 μm de eixo menor.
32
A forma de transmissão destes protozoários é através de contaminação fecal da água, comida
e outros objetos e substratos presentes no terrário entrando no hospedeiro por via oral
(Klingenberg, 2007b).
A maioria dos casos de animais que apresentaram sinais clínicos descritos na literatura são
referentes a coccídeas parasitas de lagartos. Em ofídios os casos de doença provocada por
coccídeas da família Eimeriidae são escassos. Foram descritos alguns casos de colecistite e
enterite associados à presença de Eimeria sp. (Jacobson, 2007).
Nenhum dos 2 animais encontrados positivos neste trabalho apresentava sinais clínicos.
Sendo parasitas com um ciclo de vida direto, a limpeza regular das instalações onde se
encontram os animais assim como a quarentena de animais recém chegados é de extrema
importância no controlo de coccídeas (Klingenbergb, 2007).
33
Os estudos morfológicos com o objectivo de classificar até à espécie os protozoários flagelados
devem incluir colorações como a de Giemsa e impregnações com sais de prata (Scullion &
Scullion, 2009).
O tratamento de animais infectados com protozoários flagelados deve ser considerado apenas
em casos de animais que apresentem sinais clínicos associados a um número elevado de
parasitas. A terapêutica antiparasitária pode ser realizada com metronidazol 20-50 mg/kg PO
em dose única, com novas administrações a cada 48h se necessário (Klingenberg, 2007b)
ou 50-100mg/kg PO durante 7-10 dias (Mitchell, 2007). Alternativamente pode ser utilizado
Ronidazole 10mg/kg PO a cada 8-10 dias (Greiner & Mader, 2006).
34
O ovo encontrado no presente estudo era menos alongado e não apresentava a mórula típica
deste género preferindo-se, por precaução, não classificá-lo quanto ao género.
Rataj et al. (2011) referiram uma prevalência de 20,4% (11 animais positivos de 55 testados)
da ordem Strongylida (principalmente Kalicephalus sp.) sendo o parasita mais prevalente.
Papini et al. (2011) referiram uma prevalência de 19,7% (14 animais positivos de 74 testados)
da ordem Strongylida enquanto Pasmans et al. (2008) referem uma prevalência de 5,8% (17
animais positivos de 311 testados) do género Kalicephalus.
Estes resultados sugerem que o ovo encontrado no presente estudo, dadas as suas
características morfológicas, poderia pertencer a esta ordem, possivelmente ao género
Kalicephalus.
35
Pode existir complicação por infeção de bactérias Gram- nas úlceras provocadas pela acção
erosiva destes parasitas (Jacobson, 2007)
O diagnóstico em vida dos nematodes referidos acima pode ser feito através de exames
coprológicos de flutuação onde se encontram os ovos tipo já descritos.
O tratamento é recomendado nos casos de infecções pelos géneros Rhabdias, Strongyloides
e Kalicephalus e a terapêutica antiparasitária deve ser feita com Febendazol 25-100 mg/Kg
PO SID em duas tomas separadas por 10-14 dias (Mitchell, 2007) ou alternativamente 25-
50mg/Kg PO SID durante 3 dias consecutivos e se necessário nova dose em 10 dias após o
primeiro tratamento (Klingenberg, 2007b).
Foram detetados quistos do género Entamoeba sp. (figura 3) em 11 dos 33 lagartos testados
(34,2% de prevalência média estimada). Dos animais positivos seis eram iguanas verdes, três
dragões barbudos e dois geckos leopardo.
Nos trabalhos de Bernardino (2014), Papini et al. (2011), Rataj et al. (2011) e Okulewicz et
al. (2015) não foram encontrados casos de sáurios positivos à presença de amebas. A não
detecção de formas parasitárias deste filo pode dever-se ao facto de apenas terem sido
efetuados esfregaços diretos sem adição de nenhum corante o que pode dificultar a detecção
de trofozoítos e quistos. No trabalho de Pasmans et al. (2008) a prevalência de amebas foi
de 6,4% correspondendo a 38 animais positivos dos 605 estudados. Dos 38 animais positivos
apenas quatro foram definidos como estando parasitados com amebas do género Entamoeba.
Os restantes 34 eram maioritariamente positivos a Naegleria sp. que apresenta quistos de
dimensões significativamente inferiores aos de Entamoeba sp.. Esta diferença de prevalência
pode ser justificada pelo tamanho da amostra já que um animal positivo no presente estudo
tem maior influência no valor de prevalência estimada. Outro fator adjuvante ao valor elevado
de prevalência de amebas encontrado neste estudo é o facto de as seis iguanas verdes
estarem alojadas em conjunto assim como dois dos dragões barbudos e este ser um parasita
de ciclo de vida direto sendo expectável que todos os animais desse grupo se encontrem
parasitados.
36
Descrição dos quistos:
Quisto encontrado em amostra de iguana verde - Quisto sub-esférico, com forma algo irregular,
parede fina e lisa. Apenas com um núcleo presente medindo cerca de 3,2 μm de diâmetro.
Media 15,781 μm de eixo maior e 14,934 μm de eixo menor.
Quisto encontrado em amostra de dragão barbudo - Quisto sub-esférico, com parede fina e
lisa. Nenhum núcleo estava visível. Media 11,314 μm de eixo maior e 9,857 μm de eixo menor.
37
O diagnóstico de amebíase em vida pode ser efetuado através de esfregaços coprológicos a
fresco com observação dos trofozoítos e em esfregaços a fresco corados com Soluto de Lugol
ou tricrómio onde se observam melhor os quistos e as suas estruturas. As características
morfológicas dos quistos (tamanho, nº de núcleos, etc) são importantes na tentativa de
determinar a espécie de ameba. Atualmente favorece-se o diagnóstico conjugado entre a
caraterização morfológica dos quistos e técnicas moleculares de sequenciação de rRNA
através de PCR que permite uma melhor caracterização filogenética das espécies (Ponce-
Gordo & Martínez-Díaz, 2010).
Nem todas as espécies de Entamoeba foram consideradas patogénicas, pelo que o tratamento
só é aconselhado em casos de detecção de formas parasitárias de Entamoeba sp. associadas
à presença de sinais clínicos.
A amebíase é uma doença de progressão rápida e de difícil tratamento. O Metronidazol é a
substância de primeira escolha a uma dose de 20-50 mg/Kg PO SID durante 3 dias e depois
cada 48 horas durante 5-10 doses totais (Klingenberg, 2007b) ou alternativamente 100mg/
Kg PO em dose única repetida após 15 dias; 40-60mg/Kg PO cada 7 dias durante 2-3 tomas
(Scullion & Scullion, 2009), a administração de gentamicina 2,2-4,4 mg/kg a cada 72 horas
até 5 doses pode ser benéfica já que pode ocorrer infeção nas zonas de úlceras por bactérias
Gram- (Mitchell, 2007).
Também deve ser equacionada terapia de suporte com alimentação assistida, fluídoterapia
(subcutânea ou intracelómica) e suplementação vitamínica (Scullion & Scullion, 2009).
A temperatura ambiente desempenha um papel muito importante nesta doença, em serpentes,
os animais experimentalmente inoculados desenvolviam sistematicamente sinais clínicos
seguidos de morte quando mantidos a uma temperatura de 25ºC e a maioria mantida a menos
de 13 ºC e a mais de 33ºC não desenvolvia sinais clínicos (Barrow & Stockton, 1960). Apesar
de esta dinâmica não estar descrita em lagartos o ajuste da temperatura deve ser equacionado
em animais com amebíase ativa (Scullion & Scullion, 2009).
A prevalência média estimada do filo Apicomplexa foi de 20,0% correspondendo a seis animais
positivos dos 33 testados. Um dragão barbudo, um gecko diurno de Madagáscar (Phelsuma
madagascariensis), um Lagarto de cauda espinhosa (Cordylus tropidosternum) e um lagarto
de gola (Chlamydosaurus kingii) foram positivos para oocistos de um género de coccídea
enquanto dois dragões barbudos apresentavam uma infeção mista de dois géneros.
Este valor de prevalência é significativamente superior aos 2,6 % (oito animais positivos de
331 testados) reportados por Rataj et al. (2011) e aos 2,9 % (quatro animais positivos de 168
testados) no trabalho de Okulewicz et al. (2015). Por outro lado no trabalho de Papini et al.
(2011) foram encontrados 63 animais positivos em 192 testados. Nesse trabalho a prevalência
média estimada de coccídeas foi de 33% sendo superior à reportada neste estudo.
38
4.1.2.2.1 Isospora amphiboluri Cannon, 1967
css
cs
cra
re
crp
39
Oocistos encontrados em Chlamydosaurus kingii [média (min-máx)]:
O ciclo de vida é direto e compreende uma fase exógena (esporogonia) e uma endógena. O
oocisto é a forma infectante e após ingestão por parte do hospedeiro os oocistos esporulam
no lúmen intestinal. Após a esporulação os esporozoítos são libertados dos esporocistos
e oocistos. Os esporozoítos entram em seguida nas células do epitélio intestinal. Cannon
(1967) quando descreveu a espécie referiu que o jejuno era a zona mais afetada. Nesta altura
os esporozoítos desenvolvem-se em trofozoítos e através de reprodução assexuada iniciam a
merogonia. O resultado da merogonia é um conjunto de merozoítos dentro de um esquizonte
maduro. Após a ruptura do esquizonte e libertação dos merozoítos (com morte da célula
hospedeira) estes vão entrar de novo nas células do epitélio intestinal. As primeiras gerações
de merozoítos vão dar origem a sucessivas merogonias. Quando ocorre a merogonia final e
os últimos merozoítos entram nas células epiteliais vão formar gametócitos. Se o gametócito
for feminino (macrogametócito) apenas se desenvolve um gâmeta. Se for masculino
(microgametócito) formam-se vários microgametas. Os gametas masculinos rebentam a
parede celular e são libertados. Quando encontram uma célula com um gameta feminino dão
origem ao oocisto não esporulado que é libertado nas fezes dando origem a um novo ciclo
(Greiner, 2003; Cannon, 1967; McAllister et al., 1995).
Os dois dragões barbudos apresentavam caquexia e diarreia. Ambos eram positivos para
outros parasitas e foram detetados poucos oocistos de I. amphiboluri o que torna impossível
uma atribuição de causa-efeito entre a presença deste parasita e os sinais clínicos. O lagarto
de gola apresentava também diarreia e caquexia e as amostras foram positivas apenas para
I. amphiboluri tendo sido detetada uma grande quantidade de oocistos. Este animal morreu
poucos dias depois do diagnóstico, sendo mais provável que esta coccídea tenha sido a
causa do quadro clínico e morte.
O género Eimeria Schneider 1875 tem sido utilizado para classificar oocistos de coccídeas de
vertebrados que contêm quatro esporocistos com dois esporozoítos cada.
Paperna & Landsberg (1989) propuseram dois novos géneros Choleoeimeria e Acroeimeria
para espécies de coccídeas parasitas de répteis com 4 esporocistos com 2 esporozoítos que
têm o seu desenvolvimento endógeno nas células hipertrofiadas da vesícula biliar e na zona
de microvilosidades do epitélio intestinal, respectivamente.
Os oocistos do género Choleoeimeria apresentam também uma morfologia característica, são
alongados (rácio comprimento largura > 1,4), os esporocistos são bivalvulados, sem corpo de
stieda e têm esporulação endógena (Paperna & Landsber, 1989).
40
Jirků, Modrý, Šlapeta, Koudela & Lukeš (2002) e mais recentemente Megía-Palma et al.
(2015) identificaram características filogenéticas e morfológicas que suportam a validação
dos géneros Acroeimeria e Choleoeimeria, diferindo-os filogeneticamente do género Eimeria
que parasita mamíferos e aves.
Desta forma, no presente estudo, os oocistos com forma cilíndrica e um rácio comprimento/
largura > 1,4 contendo 4 esporocistos sem corpo de stieda ou substieda foram classificados
como pertencendo ao género Choleoeimeria.
A B
As fases do ciclo de vida deste parasita são as mesmas das outras coccídeas apesar de
se caracterizarem por uma fase endógena situada no epitélio da vesícula biliar. As células
do epitélio dos ductos e vesícula biliar infetadas apresentam-se deslocadas para o lúmen,
mantendo-se ligadas à membrana basal por uma pequena porção de citoplasma.
41
Em algumas regiões encontra-se pseudoestratificação focal, hipertrofia e degenerescência
celular (Szczepaniak et al., 2015).
Os sinais clínicos incluem emaciação, desidratação e caquexia (Szczepaniak et al., 2015). No
presente estudo os animais positivos a este parasita apresentavam diarreia (num caso com
presença de sangue) e condição corporal diminuída.
A identificação foi confirmada como altamente provável pelo próprio Dr. Szczepaniak
(comunicação pessoal, 2017).
A B
42
Oocistos encontrados em Cordylus tropidosternum [média (min-máx)]:
O lagarto apresentava diarreia e caquexia. Este foi o único parasita encontrado nos exames
coprológicos deste lagarto, sendo um possível causador dos sinais clínicos.
43
4.1.2.3 Filo Ciliophora
Dos nove sáurios em que foram detetadas formas parasitárias do filo Ciliophora (figura 8), as
seis iguanas verdes apresentavam trofozoítos de Balantidium sp.
No trabalho de Rataj et al. (2011) dos oito animais positivos para Balantidium sp. quatro eram
Iguana iguana, por sua vez, Okulewicz et al. (2015) encontraram este género em duas Iguana
iguana que foram os únicos lagartos positivos para Balantidium e Pasmans et al. (2008) no seu
trabalho referem que dos 10 animais positivos para Balantidium sp. nove pertenciam à família
Iguanidae. Tendo em conta a prevalência nos outros estudos a presença deste parasita em
iguanas era esperada. Adicionalmente, os indivíduos estavam alojados em conjunto sendo
previsível que todos fossem positivos.
44
A identificação ao nível de espécie não foi possível uma vez que não existem descrições de
espécies neste hospedeiro, apesar de já terem sido reportados casos, como os supracitados,
em que este género de parasita está presente. Atualmente a identificação definitiva das
espécies deste género é feita, à semelhança das amebas, com a conjugação de estudos de
caracterização morfológica através de colorações específicas e de estudos moleculares e
genéticos (Ponce-Gordo, comunicação pessoal, 2017).
Os trofozoítos encontrados neste estudo eram elipsóides, cobertos regularmente por cílios,
a abertura oral situada medianamente na extremidade anterior e mediam entre 61,980 a
63,140 µm de eixo maior e 39,754 a 40,173 µm de eixo menor. Em nenhum dos trofozoítos foi
possível identificar o macronúcleo.
Em grandes quantidades ou em associação com outros parasitas estes ciliados podem ser
patogénicos, causando colite (Barnard & Upton, 1994).
As iguanas positivas para Balantidium sp. encontravam-se caquéticas e morreram durante
o presente estudo. Não se pode atribuir uma relação causa-efeito entre a presença deste
parasita e os sinais clínicos pois todas eram positivas a quatro filos de parasitas diferentes.
O género Nyctotherus foi encontrado sob a forma de quistos em dois dragões barbudos e num
gecko leopardo. Num dos dragões barbudos foram encontrados, além de quistos, trofozoítos.
Foram encontrados três tipos de quistos que serão identificados de ora em diante Tipo A,
Tipo B e Tipo C. A amostra de um dragão barbudo apenas continha quistos de Tipo A, a do
segundo dragão barbudo tinha quisto Tipo A e Tipo B e o gecko leopardo quisto de Tipo C.
O facto de um animal conter dois tipos de quistos e simultâneamente trofozoítos
morfologicamente distintos (Tipo 1 e Tipo 2) sugere que poderiam existir duas espécies de
Nyctotherus a parasitar o dragão barbudo.
A prevalência reportada por Rataj et al. (2011) foi de 10% (30 lagartos positivos de 331
testados). Pasmans et al. (2008) reportaram uma prevalência de 13,9 % em lagartos da
família Agamidae e 14,7 % em lagartos da família Gekkonidae. Estas são as famílias de
dragões barbudos e geckos leopardo respectivamente. Por sua vez, Okulewicz et al. (2015)
referiram uma prevalência de 3% (5 animais positivos de 168 testados).
Bernardino (2014) refere uma prevalência de 22,4% (49 animais testados) de quistos de
Nyctotherus em gecko leopardo. Refere também a presença de quistos deste género num
dragão barbudo de dois animais testados.
Na literatura consultada existe referência a nove espécies de Nyctotherus parasitas de lagartos,
N. haranti Grassé 1928, N. trachysauri Johnston 1932, N. kypodes Geimen & Wichtermann
1937, N. beltrani Hegner 1940, N. skiloffi Shouten 1940, N. woodi Amrein 1952, N. hardwickii
Janakidevi 1961, N. gerrhosauri Albaret 1975, N. earlensis e N. jimenezis Garza & Hernández
1986 (Garza & Hernández, 1986).
Não foi feita uma tentativa de identificação à espécie dos trofozoítos encontrados dada a
confusão que existe na taxonomia deste género e a falta de estudos mais atualizados a incidir
sobre as espécies presentes em répteis. Adicionalmente, não tendo sido feitas colorações
específicas, as características morfológicas não foram definidas de forma sistemática e
satisfatória para separar ou inserir estes trofozoítos nas espécies descritas em répteis.
45
À semelhança do que acontece com o género Balantidium a identificação do género
Nyctotherus deverá ser feita através de estudos moleculares e genéticos complementados
com estudos morfológicos através de colorações específicas, especialmente com sais de
prata, existindo a possibilidade de alguma sinonímia entre as espécies já descritas (Ponce-
Gordo, comunicação pessoal, 2017).
Não existem casos reportados na literatura de efeitos patogénicos atribuídos à presença de
Nyctotherus sp. Os dragões barbudos apresentavam caquexia e diarreia, no entanto, não foi
possível associar a presença deste ciliado aos sinais clínicos já que ambos apresentavam
outros filos de parasitas. O dragão barbudo com diarreia catarral tinha um número de trofozoítos
muito superior (figura 9.C). O gecko leopardo, apesar de se encontrar parasitado com outros
filos de parasitas (Amoebozoa, Metamonada e Nematoda) não apresentava nenhum sinal
clínico o que evidencia o caráter comensal deste parasita.
Tipo 1 (figura 9.A): Movimento progressivo retilíneo pausado, manteve sempre a forma do
trofozoíto estável e rígida entrando em movimentos circulares quando encontrava obstáculos
à sua passagem. Forma quase elipsóide sendo ligeiramente mais largo na porção posterior,
coberto densa e uniformemente por cílios de tamanho regular.
Citostoma abria lateralmente no terço anterior a cerca de 30µm da extremidade anterior,
apresentava cílios maiores que os que cobriam o trofozoíto, a citofaringe cruzava quase
a totalidade do trofozoíto transversalmente terminando perto da linha média num vacúolo
alimentar.
Macronúcleo colado à porção anterior da citofaringe e com conformação entre o reniforme
e triangular. Acima do macronúcleo apresentava um aglomerado granular aparentemente
contido dentro de uma cápsula.
Não foi possível identificar o micronúcleo em nenhum dos trofozoítos.
A abertura anal era terminal e corria perfeitamente paralela ao corpo do trofozoíto.
Tipo 2 (figura 9.B): Movimento progressivo retilíneo, ondulatório e rápido com grande
plasticidade de forma à medida que encontrava obstáculos à sua passagem. Forma elipsóide
mais arredondada que os trofozoítos de Tipo 1, coberto densa e uniformemente por cílios de
tamanho regular. Porção posterior mais larga terminando numa espécie de cauda.
Peristoma com localização anterior e citofaringe prolongada até ao terço posterior do trofozoíto
terminando num vacúolo alimentar.
Macronúcleo colado à porção anterior da citofaringe e com conformação muito variável entre
reniforme, elíptica, achatada e triangular.
46
Acima do macronúcleo apresentava um aglomerado granular aparentemente contido dentro
de uma cápsula.
Não foi possível identificar o micronúcleo em nenhum dos trofozoítos.
Posteriormente à porção terminal da citofaringe, em alguns trofozoítos, foi possível identificar
variados vacúolos alimentares.
Abertura anal terminal, mais curta que no Tipo 1 e menos paralela ao corpo do trofozoíto e
continha pelo menos um vacúolo contrátil/anal.
Medições em µm:
Comprimento - 83,548; Largura - 38,502; Macronúcleo - 17,817 x 21,491;
Aglomerado granular - 28,122 x 24,480; Espessura da parede - 3,610;
Medições em µm:
Comprimento - 60,593; Largura - 41,849; Espessura da parede - 3,017;
47
Figura 9 - Trofozoítos e quistos de Nyctotherus sp. encontrados ao exame coprológico de
sáurios. A - Trofozoíto Tipo 1 em amostra de Pogona vitticeps. Legenda: AA - Abertura anal;
Cf - Citofaringe; MN - Macronúcleo; Pt - Peristoma; VA - Vacúolo alimentar. Escala - 50 µm.
B - Trofozoíto Tipo 2 em amostra de Pogona vitticeps. Legenda: AA - Abertura anal; MN -
Macronúcleo; VC - Vacúolo contráctil/anal. Escala - 50 µm. C - Trofozoítos Tipo 2 em amostra
de Pogona vitticeps. Escala - 200 µm. D - Quisto Tipo A em amostra de Pogona vitticeps.
Legenda: AG - Aglomerado granular; MN - Macronúcleo; OP - Opérculo. Escala - 50µm. E -
Quisto Tipo B em amostra de Pogona vitticeps. AG - Aglomerado granular; MN - Macronúcleo.
Escala - 50 µm. F - Quisto Tipo C em amostra de Eublepharis macularius. OP - Opérculo.
Escala - 50 µm. Imagens originais.
A AA B
VA
MN
Cf
MN
Pt VC
AA
C D
MN
AG
Op
E F
AG
Op
MN
48
4.1.2.4 Filo Metamonada
A prevalência média estimada de protozoários flagelados (figura 10) em lagartos foi de 40,1%
correspondendo a 13 animais positivos dos 33 testados. Os animais positivos incluíram seis
iguanas verdes, três dragões barbudos, dois geckos leopardo, um lagarto de colar (Crotaphytus
collaris) e um gecko diurno de Madagáscar.
Esta prevalência é consideravelmente superior aos 17,1% (103 lagartos positivos dos 605
testados) referidos no trabalho de Pasmans et al. (2008); aos 0,6% (dois animais positivos
de 331 testados) descritos por Rataj et al. (2011); e aos 8,3% (15 animais positivos de 192
testados) referidos por Papini et al. (2011).
Além do tamanho inferior de amostra, a diferença de prevalências entre o presente estudo e os
acima supracitados pode, à semelhança do que foi dito para os filos Ciliophora e Amoebozoa,
dever-se ao facto de as seis Iguanas serem mantidas em conjunto e estas representarem
quase metade dos animais positivos.
A B C
D E F
O ciclo de vida destes parasitas e o seu tratamento em lagartos é igual ao descrito para
serpentes.
Além do género Monocercomonas que parasita cobras e lagartos e tem a mesma apresentação
clínica, também o género Leptomonas foi associado com a presença de colite em camaleões
(Frank, 1984) e os géneros Hexamastyx (em lagartos do género Uromastyx), Spironucleus,
Hypotrichomonas, Monocercomonas, Tetratrichomonas e Tritrichomonas foram associados à
presença de enterite em lagartos (Barnard & Upton, 1994).
À excepção de um gecko leopardo todos os animais apresentavam sinais clínicos, no entanto,
além de parasitas deste filo eram positivos a outros parasitas. Um dragão barbudo e o gecko
diurno de Madagáscar apresentavam diarreia enquanto os outros tinham caquexia.
49
4.1.2.5 Filo Nematoda
A prevalência média estimada do filo Nematoda em sáurios foi de 51,3% o que corresponde
a 17 animais positivos dos 33 testados. Seis iguanas verdes, quatro dragões barbudos,
dois geckos de crista (Correlophus ciliatus), dois lagartos de colar, um gecko leopardo, um
lagarto cornudo gigante (Phrynosoma asio) e um lagarto cornudo do deserto (Phrynosoma
platyrhinos) foram os animais positivos. À excepção do Phrynosoma platyrhinos em que foi
detetado um adulto da família Physalopteridae todos os outros lagartos continham formas
parasitárias da família Pharyngodonidae. Uma Iguana iguana além de amostras positivas para
a família Pharyngodonidae apresentou, no esfregaço direto, dois adultos da família Atractidae.
Dos 16 lagartos positivos para formas parasitárias da família Pharyngodonidae em todos
foram detetados ovos desta família, num Crotaphytus collaris foi detetada adicionalmente
uma larva de género desconhecido e numa Iguana iguana um adulto do género Thelandros/
Pharyngodon.
O filo Nematoda foi também o mais prevalente nos trabalhos de Okulewicz et al. (2015), Papini
et al. (2011) Pasmans et al. (2008), Rataj et al. (2011) e Bernardino (2014). Além deste filo ser
o mais prevalente nestes estudos a família Pharyngodonidae foi a mais prevalente dentro dos
nematodes e a sua prevalência será discutida com mais pormenor no ponto 4.1.2.5.2.
Se, por um lado, a elevada prevalência de nematodes da família Pharyngodonidae está de
acordo com a literatura, por outro, a baixa prevalência de outros grupos de nematodes não
era esperada. No trabalho de Rataj et al. (2011) os ovos de estrongilídeos apresentaram uma
prevalência de 11,8% (38 animais positivos dos 311 analisados) e os ovos de ascarídeos 6,9%
(23 animais positivos de 311 analisados). Por sua vez Papini et al. (2011) no seu trabalho
também não encontraram lagartos com amostras positivas para ascarídeos mas 16 dos
198 sáurios (8,8%) tinham amostras positivas para estrongilídeos. Okulewicz et al. (2015)
referiram uma prevalência de Ascarídeos de 14,3% (24 animais positivos de 168 testados).
Tendo em conta estes valores, seria expectável que fossem encontradas formas parasitárias
de algum destes grupos de nematodes. Em relação aos trabalhos de Rataj et al. (2011)
e Okulewicz et al. (2015) esta diferença pode dever-se em parte ao facto de terem sido
efectuadas necrópsias à grande maioria dos animais, aumentado a probabilidade de encontrar
parasitas adultos, e estes resultados serem apresentados em conjunto com os dos exames
coprológicos.
Foram encontrados dois espécimes desta família (figura 11) num esfregaço direto com gota
soro fisiológico de uma Iguana verde.
Os espécimes correspondiam a um macho e uma fêmea.
O facto de serem nematodes de pequena dimensão, afunilando nas extremidades, presença
de um esófago com uma porção muscular (anterior) e uma porção glandular(posterior), bulbo
esofágico valvulado e poro excretor anterior ao bulbo esofágico permitiram identificar este
parasita como pertencente à família Atractidae.
A porção muscular era mais comprida que a porção glandular em ambos os espécimes o que
sugere que pertençam aos géneros Cyrtosomum/Atractis.
50
Durante os últimos anos estes dois géneros têm sido utilizados de forma indiferenciada.
Atualmente é sugerido que os parasitas desta família cujos machos apresentem gubernáculo,
duas espículas assimétricas, de tamanho diferente e sendo uma lanceolada e a outra
lagenoide (em forma de garrafa) sejam inseridas no género Atractis, enquanto aqueles com
duas espículas lanceoladas e sem gubernáculo sejam inseridas no génro Cyrtosomum (Bursey
& Flanagan, 2002). Desta forma o macho encontrado no presente estudo seria incluído no
género Cyrtosomum e a fêmea ficaria sem classificação até ao género.
A identificação até à espécie é baseada no tamanho geral do parasita e, principalmente, nas
estruturas caudais dos machos: tamanho, tipo e simetria das espículas e o número de papilas
caudais (Bursey & Flanagan, 2002).
Estas estruturas não foram definidas com satisfação não tendo sido feita uma classificação
ao nível da espécie.
O único registo encontrado até à data destes géneros a parasitar este hospedeiro foi feito por
Teles et al. em 2016. No entanto não foram descritas características morfológicas nem foram
disponibilizadas fotografias do parasita que permitissem uma comparação.
51
Descrição dos espécimes encontrados durante este estudo (medidas em µm):
Os nematodes da família Atractidae têm um ciclo de vida direto e são vivíparos. Os ovos
eclodem e desenvolve-se uma larva L3 ainda in utero sendo auto-infetantes para o hospedeiro
atingindo, desta forma, um grande número de parasitas (Jacobson, 2007).
Não existem casos reportados na bibliografia consultada de doença causada por este parasita
em lagartos.
A iguana verde apresentava caquexia e fazia parte do grupo de 6 animais já mencionado
nos filos Amoebozoa, Ciliophora e Metamonada. Apesar de este parasita ter um ciclo de vida
direto, não foi encontrado em nenhuma amostra das restantes 5 do grupo.
Como referido anteriormente, foram encontradas formas parasitárias (ovos, uma larva e um
adulto) desta família em 16 dos 33 lagartos testados, correspondendo a uma prevalência de
46,8%.
Esta família foi também a mais prevalente nos trabalhos de Rataj et al. (2011) com uma
prevalência de 57,1% (189 animais positivos de 331 testados) e de Pasmans et al. (2008)
que referiram uma prevalência de 51,5% (363 animais positivos de 705 testados). Estes dois
trabalhos apresentaram a prevalência mais similar à do presente estudo.
Papini et al. (2011) referiram uma prevalência de 21,9% ( 42 animais positivos de 192 testados)
e Okulewicz et al. (2015) uma prevalência de 18,4 % (31 animais positivos de 168 testados).
Apesar destas prevalências serem inferiores à encontrada no presente estudo, esta família de
parasitas foi a mais prevalente em ambos os estudos.
São nematodes com ciclo de vida direto. Vivem no colón e ceco principalmente de répteis
herbívoros. As fêmeas produzem ovos com parede espessa e não embrionados. Geralmente
são ovos alongados com um lado aplanado e um opérculo sub-polar pode ser encontrado na
maioria (Anderson, 2000). A forma de infeção é principalmente fecal-oral (Klingenberg, 2007b).
Os ovos dos diferentes géneros/espécies desta família não apresentam características
morfológicas suficientes para a sua identificação (Greiner, 2015, comunicação pessoal).
São vermes esbranquiçados de pequena a média dimensão.
52
As fêmeas são similares nas diferentes espécies pelo que o diagnóstico ao nível de espécie
é feito principalmente através das características da extremidade posterior do macho
(Greiner, 2015, comunicação pessoal). Na generalidade são considerados organismos
comensais e existem autores que afirmam que podem ajudar na digestão de alimentos de
origem vegetal. No entanto, em casos de infecções por grandes números de parasitas podem
provocar obstruções do trato gastrointestinal, prolapso cloacal e por vezes uma ligeira reação
inflamatória local (Klingenberg, 2007b; Jacobson, 2007; Greiner e Mader, 2006).
4.1.2.5.2.1 Ovos
Foram detectados ovos desta família (figura 12-17) em 16 lagartos (46,8%). Foram observados
tanto em esfregaços diretos como em flutuações.
Os ovos desta família apresentam muita variabilidade morfológica entre os géneros e
espécies, no entanto a identificação definitiva só é possível analisando espécimes adultos,
principalmente machos.
No seu trabalho, Rataj et al. (2011) identificaram um tipo de ovo encontrado num gecko leopardo
como pertencendo ao género Pharyngodon no entanto não justificaram a identificação com
características morfológicas. Bernardino (2014) classificou dois tipos de ovos, também em
geckos leopardo como pertencendo aos géneros Pharyngodon e Ozolaimus. A autora também
não apresentou as características morfológicas através das quais chegou à identificação. Não
tendo sido disponibilizada por nenhum dos autores uma referência bibliográfica para as suas
identificações e não tendo sido encontrada na literatura nenhuma referência à classificação
de ovos de Pharyngodonidae através da sua morfologia estas identificações não serão
consideradas como válidas para o presente trabalho.
Os ovos de Iguana iguana, a única espécie herbívora com amostras positivas a ovos de
Pharyngodonidae, eram de maiores dimensões, ovais (figura 12.A) ou ligeiramente achatados
num dos lados (figura 12.B), apresentavam uma parede lisa e fina. Em nenhum dos ovos se
observou um opérculo polar. Foram sempre encontrados em estádio de mórula.
53
Os ovos dos animais omnívoros, dragões barbudos e geckos de crista, tinham em comum
apresentarem-se sempre no estádio de desenvolvimento de mórula. Eram ovos mais pequenos
do que os de Iguana iguana e com parede mais grossa e aparentemente dupla.
54
Medições (n=10) média (min-max) µm:
Em Crotaphytus collaris foram encontrados ovos com uma larva no seu interior (figura 16.A)
ou em estádio de mórula (figura 16.B). Na sua maioria eram afunilados nas extremidades, com
uma face aplanada e um opérculo polar muito evidente (figura 16.A). Menos frequentemente
eram encontrados ovos com uma forma mais oval e com opérculo polar menos visível ou
imperceptível (figura 16.B).
55
Figura 16 - Ovos de Pharyngodonidae encontrados em amostra de Crotaphytus collaris.
Escalas : A - 20 µm ; B - 50 µm. Imagens originais.
A B
Dos animais com amostras positivas a ovos de Pharyngodonidae apenas o gecko leopardo
não apresentava sinais clínicos. Todos os restantes apresentavam caquexia e, adicionalmente,
um dragão barbudo apresentava diarreia, 1 gecko de crista apresentava anorexia e o lagarto
cornudo gigante regurgitação intermitente.
As amostras coprológicas dos dois geckos de crista , do lagarto cornudo gigante, de um
lagarto de colar e de um dragão barbudo apenas foram positivas a esta família de parasitas.
56
4.1.2.5.2.2 Larva de género desconhecido
Num lagarto de colar, além de ovos, foi encontrada uma larva da família Pharyngodonidae
(figura 18) no esfregaço a fresco. As larvas desta família caracterizam-se pela presença de
um bulbo esofágico e uma cauda comprida, afunilada e pontiaguda. As larvas não apresentam
características morfológicas que permitam identificar o género ou espécie a que pertencem.
Na bibliografia consultada não foi encontrada referência relativa à presença desta família
de parasitas neste hospedeiro. Esta ausência de casos reportados não significa que seja
incomum a presença destes nematodes em lagarto de colar, mas provavelmente representa
a falta de estudos da sua parasitofauna.
Apesar da separação dos géneros Parapharyngodon e Thelandros nem sempre ter sido
consensual, atualmente é aceite a classificação separada destes géneros.
São ambos nematodes robustos com estriação marcada desde o final da abertura bucal até
ao início da cauda. O género Thelandros apresenta cone genital, papilas pendulares fora
do cone genital e cauda terminal direcionada posteriormente. O género Parapharyngodon
apresenta papilas mamiliformes a rodear uma abertura anal terminal e a cauda é subterminal
e direcionada dorsalmente (Bursey & Goldberg, 2005).
Foi apenas encontrado um espécime (figura 19) correspondente a um macho. Algumas
características (número de papilas anais, espícula e membrana alar) não foram possíveis de
determinar. Desta forma, baseando a identificação na direcionalidade da cauda, a presença de
um ânus terminal rodeado por papilas mamiliformes, este espécime pertencerá provavelmente
ao género Parapharyngodon. Há que ter em conta que apenas se observou um espécime e
sem possibilidade de avaliar fêmeas.
57
Parapharyngodon sp. macho parasita em Iguana iguana (medidas em µm): Nematode
cilíndrico de pequenas dimensões. Apresentava estriação desde o final dos lábios até ao
início da cauda. Cauda com duas papilas e direcionada dorsalmente.
Medições (µm) ♂:
Comprimento total - 2444,114 ; Espessura - 290,693;
Comprimento do esófago - 429,644; Bulbo esofágico (CxL) - 95,899 X 98,570 ;
Cauda - 97,965; Estrias - 16,809.
Figura 19 - Parapharyngodon sp. em amostra coprológica de Iguana iguana. A - vista geral.
Escala-200 µm; B - Extremidade posterior. C - Extremidade anterior. Escalas -100 µm. Imagens
originais.
A
Foram encontrados ovos deste filo (figura 20) em apenas um lagarto de água chinês
(Physignathus cocincinus) em esfregaços a fresco com NaCl e corado com Soluto de Lugol.
Ovo tipo da família Linstowiidae com a presença de uma oncosfera com três pares de ganchos,
envolvida por uma camada gelatinosa que corresponde à cápsula uterina .
58
O único género desta família encontrado na literatura que parasita lagartos é o Oochoristica,
que ocorre principalmente em iguanídeos e agamídeos. Rataj et al. (2011) encontraram 10
lagartos positivos dos 331 testados. Pasmans et al. (2008) referiram uma prevalência deste
género em iguanídeos de 11,6% (19 animais positivos de 164 testados).
As espécies pertencentes a este género necessitam apenas de um HI que geralmente é
um coleóptero (Tenebrionidae). Todas as espécies desenvolvem uma cápsula uterina
especializada no proglótide grávido cada uma contendo um ovo. Os coleópteros ingerem os
ovos e o parasita desenvolve-se no hemocélio. A forma larvar no HI e HD antes da formação
dos proglótides é referida como metacestode. Depois de ingerido o parasita estabelece-se no
intestino delgado onde se desenvolve até adulto e se reproduz (Conn, 1985).
Os ovos e os proglótides grávidos dos parasitas do género Oochoristica podem ser detectados
em análises coprológicas de rotina.
Apesar de não terem sido encontrados estudos sobre os efeitos patogénicos deste género,
pode assumir-se que os adultos de Oochoristica compitam pelos nutrientes do hospedeiro e
podem causar perda de peso.
O tratamento pode ser feito com Praziquantel a 5-8 mg/Kg PO, SC ou IM em dose única,
repetida em duas semanas (Klingenberg, 2007b).
Cex
59
4.1.3 Sub-ordem Cryptodira - Testudinidae
Foram detectados quistos de Entamoeba sp. numa tartaruga de esporas africana. Apesar de
os quistos terem a forma esférica a sub-esférica, regular e de parede lisa característica do
género, não foi possível observar o número de núcleos e não foram efetuadas medições para
uma tentativa de classificação até à espécie.
Nos trabalhos publicados por Papini et al. (2011) e Rataj et al. (2011) não foram encontradas
formas parasitárias deste filo. Pasmans et al. (2008) referiram uma prevalência de 4,3%
de Entamoeba sp. (53 animais positivos de 1251 testados) e de 2,6% de prevalência de
Entamoeba invadens (33 animais positivos de 1251 testados). No trabalho de Bernardino
(2014) a prevalência apresentada foi de 27,8% (quatro animais positivos de 16 testados).
Em tartarugas estão descritas seis espécies de Entamoeba: E. testudinis (Hartamann, 1910); E.
terrapinae (Sanders & Cleveland, 1930); E. insolita (Geiman & Wichterman, 1937); E. invadens
(Rodhain, 1934); E. knowlesi (Rodhain & Hoof, 1947) com quistos maduros tetranucleados e
E. barreti (Taliaferro & Holmes, 1924) sem quistos conhecidos (Ponce-Gordo & Martínez-Díaz,
2010).
Apesar de ser considerada comensal em tartarugas, a espécie Entamoeba invadens foi
associada a um surto epizoótico num grupo de 500 tartarugas de pés vermelhos (Geochelone
carbonaria) recém importadas para os E.U.A. em 1980-1981. Durante um período de cerca
de dois meses, 200 animais morreram. Apresentavam sinais inespecíficos como anorexia,
apatia e diarreia. Durante a necrópsia encontrou-se espessamento do duodeno com necrose
da mucosa e necrose multifocal dispersa no fígado. Histologicamente foram detetados
trofozoítos nas lesões intestinais e hepáticas. A avaliação morfológica dos parasitas foi
conclusiva na identificação de E. invadens. A dispersão dos trofozoítos até ao fígado poderá
ter ocorrido através da via ducto biliar comum até à vesícula biliar e daí progredir para o
parênquima hepático adjacente ou por via hematogénica chegando ao fígado pela sistema
portal (Jacobson & Greiner, 1984).
60
Em tartarugas e, provavelmente, em lagartos herbívoros E. invadens geralmente chega ao
intestino, onde enquista. Os quistos são excretados e são a forma infectante para outros
hospedeiros. Existem três factores necessários ao enquistamento das amebas: Presença
de partículas de polissacarídeos/mucopolissacarídeos que possam ser ingeridos e
transformados em glicogénio pelas amebas; presença de factores produzidos por algumas
bactérias; presença de factores intrínsecos produzidos pelos trofozoítos que estimulam o
enquistamento em massa, dependentes da densidade de trofozoítos e que poderão resultar
de um sobrecrescimento dessa população de parasitas. Para que o terceiro requisito aconteça
é necessário que os dois primeiros sejam cumpridos anteriormente. A disponibilidade de
polissacarídeos é alta em animais com dietas ricas em matéria vegetal, mas muito baixa
ou inexistente em animais carnívoros, o que não permite o enquistamento dos trofozoítos.
Quando os trofozoítos não têm substrato para a produção de glicogénio, como é o caso das
cobras (maioritariamente carnívoras), alimentam-se da secreção mucosa do epitélio intestinal
e eventualmente lesionam a camada protetora da mucosa ganhando acesso a tecidos mais
internos. À medida que a mucosa se encontra mais exposta fica mais susceptível à ação
de bactérias e autodigestão. Esta pode ser a causa das lesões histológicas observadas em
serpentes (Meerovitch, 1958).
A dinâmica entre a alimentação das tartarugas e o ciclo de vida das amebas poderá ser a
causa do surto referido por Jacobson e Greiner (1984).
No caso do animal no presente estudo, apesar de não se ter identificado a espécie de ameba,
foram encontrados quistos, o animal era alimentado regularmente com matéria vegetal e
mantido a temperaturas apropriadas, não apresentando sinais clínicos.
O género Balantidium foi detetado sob a forma de trofozoítos (figura 21) durante a realização
de esfregaços diretos a fresco em duas tartarugas de esporas africanas.
Rataj et al. (2011) referiram uma prevalência do género Balantidium de 26,2 % (147 animais
positivos de 563 testados) em tartarugas, todas pertencentes à família Testudinidae. Nos
trabalhos de Papini et al. (2011), Pasmans et al. (2008) e Bernardino (2014) não foram
encontradas formas parasitárias deste género em tartarugas.
Os trofozoítos encontrados correspondiam a protozoários ciliados de grandes dimensões,
móveis e muito ativos. Com forma alongada e cobertos uniformemente por cílios. O citostoma
era terminal na porção anterior do trofozoíto e coberto por cílios de maiores dimensões do que
aqueles que cobriam o corpo.
Os trofozoítos mediam entre 115.844 e 149.876 µm de eixo maior e entre 68.851 e 78.672 µm
de eixo menor. Não foi possível avaliar a\s características do macronúcleo.
Apesar de as dimensões gerais dos trofozoítos serem superiores às descritas por Geiman e
Wichterman (1937) a sua forma é coincidente. Esta é a única espécie aceite atualmente que
parasita tartarugas (Ponce-Gordo, comunicação pessoal) e, por isso, optou-se por classificar
os trofozoítos encontrados ao nível de espécie, sabendo de antemão que esta classificação
poderá ser alterada com a descoberta de novas espécies.
61
A caracterização morfológica completa dos trofozoítos encontrados teria que ser feita através
de colorações específicas com sais de prata. Adicionalmente seria de grande utilidade recorrer
a testes moleculares para a sequenciação de rRNA através de PCR que permitiriam estabelecer
uma relação filogenética entre os trofozoítos encontrados e os restantes protozoários ciliados
(Lynn, 2010). Dada a abrangência do presente estudo, não foi possível realizar tais técnicas.
Os protozoários do género Balantidium têm um ciclo de vida direto e a sua reprodução é
feita através de divisão binária ou conjugação. Produzem quistos que são a forma infectante
e entram no hospedeiro por via oral-fecal, através de comida ou água infectada (Scullion &
Scullion, 2009). É considerado um parasita comensal do trato gastrointestinal de répteis e
bastante prevalente em tartarugas (Greiner & Mader, 2006). Klingenberg (2007b) e Scullion
e Scullion (2009) referem que a única espécie associada a casos em que há manifestação
de doença é o B. coli. Se no primeiro livro não é dada uma referência bibliográfica para esta
informação, no segundo trabalho é feita a referência ao livro publicado por Bernard e Upton
(1994), “A veterinary guide to the parasites of Reptiles Vol. 1: Protozoa” no qual é referido que
este género pode estar na origem de colite e é considerado patogénico em grandes números
ou associado com outros parasitas/patógenos (Bernard e Upton, 1994) mas sem nunca referir
a espécie Balantidium coli. Alterações na flora microbiana causadas por mudanças na dieta,
administração de antibióticos e/ou stress podem aumentar a quantidade de ciliados e causar
enterite localizada, anorexia e diarreia (Mitchell, 2007).
O tratamento em casos de multiplicação excessiva destes protozoários com o aparecimento
de sinais clínicos pode ser feito com Metronidazol a 20-50 mg/Kg PO. A dose pode ser repetida
a cada 48 horas se necessário (Klingenberg, 2007b). Alternativamente pode administrar-se
Metronidazol a 10-20 mg/Kg PO SID durante 7-10 dias (Mitchell, 2007).
Nenhum dos animais testados no presente estudo apresentava sinais clínicos.
62
4.1.3.3 Filo Metamonada
Ao esfregaço direto com soro fisiológico da amostra coprológica de uma tartaruga de esporas
africana foram detetados vários trofozoítos de protozoários flagelados.
Pasmans et al. (2008) referiram uma prevalência de 18,6% (233 animais positivos de 1251
testados) de flagelados da ordem Trichomonadida e 3,4% (43 animais positivos de 1251
testados) do género Hexamita (Diplomonadida). Nos trabalhos de Papini et al. (2011) e Rataj
et al. (2011) não foram detetadas formas deste filo em tartarugas.
Bernardino (2014) encontrou protozoários flagelados em amostras de três tartarugas das 16
testadas.
O ciclo de vida, a influência das condições ambientais e o tratamento deste filo é semelhante
ao já descrito para lagartos e serpentes.
Em tartarugas o género Hexamita (syn. Spironucleus) já foi associado à presença de doença
com sinais clínicos que incluíam letargia, anorexia e perda de peso. Este flagelado tem um
tropismo particular pelo sistema urinário, mas pode afetar o intestino e por vezes o sistema
cardiovascular (Zwart & Truyens, 1975).
Os géneros Hexamastix e Hypotrichomonas também são possivelmente patogénicos em
tartarugas, provocando enterite (Barnard & Upton, 1994).
4.1.3.4.1 Ovos
63
Foram observados dois tipos de paredes, uma mais fina (figura 22.C e 22.F) e, mais
frequentemente, uma mais grossa (as restantes figuras). Todos os ovos apresentavam
um opérculo polar mais ou menos evidente. A maioria foi encontrada num estádio de
desenvolvimento de mórula mas nas tartarugas de esporas africanas encontraram-se alguns
com uma larva no seu interior (figura 22.F).
As tartarugas de esporas africanas estavam alojadas em conjunto e por isso seria de esperar
que a sua população de Pharyngodonidae fosse semelhante já que são parasitas com ciclo
de vida direto.
A B
C D
E F
64
4.1.3.4.2 Parasitas adultos - Tachygonetria sp. Wedl, 1862
Foi encontrado um espécime adulto (figura 23) pertencente a este género no esfregaço fresco
de uma amostra fecal de tartaruga de esporas africana.
O género Tachygonetria é um dos mais comuns em tartarugas terrestres (Testudinidae) e tem
uma distribuição global (Bouamer & Morand, 2005).
É um nematode com estriação transversa moderada, a extremidade posterior do macho é
marcadamente truncada posteriormente ao último par de papilas caudais que está situado
quase lateralmente (Hering-Hagenbeck, Petter & Boomker, 2002).
B C
Este género foi identificado num caso clínico de uma Tartaruga-de-Herman (Testudo hermanni)
que apresentava caquexia e desidratação (Silvestre, 2011). O animal do presente estudo não
apresentava sinais clínicos.
65
No mesmo indivíduo foi encontrada uma larva da família Pharyngodonidae (figura 24).
Como foi referido para lagartos, a identificação do género e/ou espécie não é possível através
de larvas.
66
4.2 Formas parasitárias encontradas post mortem.
20
Total Positivos
18
16
14
12
10
19 19
8
6
11
4
2 4
3
0
0
Serpentes Sauria Cryptodira
Como está demonstrado no gráfico 2 das 19 serpentes às quais foi realizada necrópsia foram
detetadas formas parasitárias em 4 animais (20,05%).
Apesar do número de indivíduos ser inferior, a frequência relativa de animais positivos foi
superior à prevalência média estimada no rastreio parasitológico.
Foi detetada uma quantidade elevada de trofozoítos de amebas numa boa arco-íris (Epicrates
cenchria) após o esfregaço direto com soro fisiológico de material colhido por raspagem do
intestino.
Não foi possível identificar o género das amebas através dos trofozoítos e não existia conteúdo
intestinal suficiente para executar técnicas de coloração específicas.
O animal fazia parte de um grupo de 13 serpentes recém-chegadas à loja após envio
desde Espanha. A viagem prolongou-se por três a cinco dias e não se utilizaram fontes de
aquecimento. Todos os indivíduos encontravam-se apáticos e alguns com dispneia. A cobra
em questão morreu passado poucas horas da sua chegada.
67
A espécie do filo Amoebozoa com maior importância e potencial patogénico é Entamoeba
invadens (Scullion & Scullion, 2009).
Os sinais clínicos associados com amebíase causada por este parasita incluem apatia,
anorexia, diarreia catarral e/ou hemorrágica. Menos frequentemente pode surgir vómito,
desidratação e polidipsia (Scullion & Scullion, 2009). Destes sinais clínicos, o único visível
no animal em questão era a apatia. O curto espaço de tempo decorrido entre a chegada
dos animais e a morte deste espécime não permitiu recolher informação sobre outros sinais
clínicos que pudessem estar presentes.
Durante o exame interno macroscópico algumas zonas do intestino apresentavam congestão,
hiperémia (figura 25.A) e exsudado fibrinoso no lúmen (figura 25.B). Estas foram as únicas
alterações encontradas no trato gastrointestinal e não foram observadas lesões no fígado.
No seu trabalho, Ratcliffe e Geiman (1934) observaram que as lesões macroscópicas mais
graves de amebíase localizavam-se no cólon. Ao nível da mucosa e aderente à mesma,
observaram a presença de um exsudado sanguinolento, friável e que ocupava parcial ou
totalmente o lúmen intestinal. Este material era composto por membranas diftéricas ou
resíduos de necrose. Por vezes as lesões estendiam-se ao íleo (Ratcliffe & Geiman, 1934).
As lesões no intestino delgado eram menos graves e incluíam úlceras da mucosa rodeadas
por zonas hiperémicas e zonas circunscritas de necrose. Em algumas situações todo o
intestino se apresentava congestionado e com os vasos sanguíneos ingurgitados. Por vezes
encontraram-se aderências da serosa ao rim ou à parede costal (Ratcliffe & Geiman, 1934).
As lesões gástricas são menos comuns e aparecem apenas sob a forma de pequenas úlceras
circunscritas. O primeiro orgão extra-intestinal afetado é o fígado e podem aparecer abcessos
múltiplos. Os rins podem apresentar petéquias ou sinais de nefrite (Ratcliffe & Geiman, 1934;
Hill & Neal, 1954; Scullion & Scullion, 2009).
A B
68
No fígado detetaram-se lesões degenerativas de tipo macrovacuolar e congestão. O rim
apresentava congestão, degenerescência macrovacuolar e presença de algum material
mucinoso no lúmen dos tubos. No pulmão observou-se atelectasia e congestão.
Figura 26 - Fotocomposição de um corte histológico do intestino da mesma boa arco-íris
(Epicrates cenchria). É possível observar a acumulação de exsudado fibrinoso no centro do
lúmen. Escala - 1000 µm. Imagem original.
A B
69
As lesões de necrose no intestino delgado e estômago são mais circunscritas e encontram-se
algumas úlceras na mucosa sendo mais raras no último. O infiltrado inflamatório leucocitário
é mais evidente em zonas de lesões recentes do que em zonas de alterações mais antigas.
No fígado as lesões microscópicas são caracterizadas pelo aparecimento de abcessos e
de necrose extensa. Quer estas lesões envolvam apenas um ou vários lobos hepáticos, as
lesões mais graves encontram-se na área centrolobular. Associados a todas estas lesões
é possível encontrar trofozoítos do parasita. Nas lesões da parede intestinal as camadas
mais profundas são as mais afetadas podendo haver invasão dos vasos linfáticos (Ratcliffe &
Geiman, 1934; Hill & Neal, 1954; Jacobson, 2007; Scullion & Scullion, 2009).
Apesar de as lesões de enterite serem compatíveis com as alterações provocadas por
Entamoeba invadens não foram encontrados trofozoítos nas lesões nem noutro orgão. Desta
forma não foi possível determinar se as amebas foram causa das lesões encontradas, que
permitiria uma infeção bacteriana secundária.
A informação sobre o ciclo de vida e tratamento foi abordada nos pontos 4.1.2.1 e 4.1.3.1.
70
É geralmente assintomática em lagartos, havendo no entanto alguns casos reportados de
doença em geckos leopardo. Em serpentes o local de infeção desta espécie ainda não está
definido podendo não ser restrito ao intestino (Xiao et al., 2004b; Xiao, Fayer, Ryan & Upton,
2004a; Pedraza-Díaz et al., 2009). Além destas duas espécies podem por vezes ser detetados,
nas fezes de répteis, oocistos de espécies que parasitam as suas presas (principalmente
roedores) (Xiao et al., 2004b).
Os três animais apresentavam particularidades quer no tamanho dos oocistos quer nas lesões
histopatológicas e serão discutidos separadamente.
Os oocistos encontrados têm um tamanho aproximado aos oocistos de C. serpentis [6,2 x 5,3
(5,6-6,6 x 4,8-5,6)], C. parvum [5,2 x 4,6 (4,8-5,6 x 4,2-4,8)] descritos por Tilley, Upton e Freed
(1990) e C. Saurophilum (5,0 x 4,7 (4,4-5,6 x 4,2-5,2) descritos por Koudela e Modrý (1998).
71
São consideravelmente menores que os oocistos de C. muris [7,4 x 5,6 (6,6-7,9 x 5,3-6,5)]
(Upton e Current, 1995) e maiores do que C. tyzzeri syn. Cryptosporidium “mouse type 1”
(4,64 x 4,19 (4,59-4,69 x 4,13-4,25) (Ren et al., 2012).
Apesar de não ter sido possível encontrar uma espécie de Cryptosporidium com características
morfológicas similares que permitissem uma identificação definitiva, não se podem excluir as
espécies com um tamanho aproximado. Ao contrário do que aconteceu no presente estudo,
em que as medições foram efetuadas em oocistos encontrados num esfregaço fecal corado
com Ziehl-Neelsen, nos restantes estudos mediram-se oocistos a fresco.
Ao exame externo, durante a necrópsia, a serpente apresentava caquexia e as rugas
longitudinais do estômago estavam moderadamente espessadas com presença de muco
(Figura 29.A). Estas alterações no estômago são compatíveis com as encontradas em
infecções por C. serpentis (Brownstein et al., 1977). Além destas alterações, o intestino
apresentava congestão e o rim uma lesão focal de calcificação.
Microscopicamente observaram-se lesões de hiperplasia mucípara das glândulas da mucosa
que se estendiam a partes mais profundas das glândulas gástricas, com infiltrado inflamatório
de células mononucleadas na lamina propria, submucosa e presença de muco no epitélio
(figura 30).
Estas lesões são similares às lesões menos graves descritas por Brownstein et al. (1977). No
entanto, ao contrário de Brownstein et al., não se encontraram formas parasitárias no epitélio
gástrico.
Foram detetadas estruturas suspeitas (figura 29.B), especialmente no interior das glândulas
gástricas, com tamanho aproximado aos oocistos de Cyptosporidium encontrados nas fezes
mas não foi possível confirmar com certeza se seriam parasitas. As espécies de Cryptosporidium
encontram-se intimamente ligadas às microvilosidades do epitélio gástrico através de um
vacúolo parasitóforo que consiste numa dupla membrana contígua à membrana plasmática
do hospedeiro (Brownstein et al., 1977). Este animal apresentava ainda lesões de enterite
linfoplasmocitária, pneumonia exsudativa com alveolite serofibrinosa, calcificação nos túbulos
renais, degenerescência macrovacuolar e colestase hepáticas.
Tendo em conta a sintomatologia, as lesões gástricas macro e microscópicas, a infeção por
Cryptosporidium (provavelmente C. serpentis) como agente etiológico é possível.
72
Figura 30 - Lesões microscópicas observadas no estômago da cobra do milho adulta em
preparação histológica corada com PAS. De notar a acumulação de muco (M) no lúmen e
algumas zonas com infiltrado inflamatório por células mononucleadas (*). Escala - 1000 µm.
Imagem original.
M *
* *
*
Medição dos oocistos (n=5) (média (min-max) µm): 4,568 x 3,983 (4,312-4,894 x 3,752-
4,388;)
Rácio c/l - 1,147 (1,149-1,115).
73
Figura 32 - Alterações microscópicas encontradas no intestino de cobra do milho juvenil
em preparações histológicas coradas com H&E. A - Infiltrado inflamatório por células
mononucleadas na mucosa. Escala - 200 µm. B - Muco (M) presente no lúmen intestinal.
Escala - 50 µm. Imagens originais.
A B
Os animais afetados por criptosporidiose são geralmente adultos (Jacobson, 2007), no entanto
Brower e Cranfield (2001) descreveram um surto de criptosporidiose em cobras juvenis. Nesse
caso todos os animais morreram subitamente e, durante a necrópsia, não se observaram
alterações macroscópicas no estômago e apenas uma das oito cobras apresentava lesões
de enterite. Microscopicamente as lesões descritas foram atrofia das vilosidades intestinais,
necrose epitelial e inflamação da lamina propria predominantemente por heterófilos e
ocasionalmente linfócitos e plasmócitos. Todas as serpentes tinham protozoários com 2-3 µm
distribuído entre o intestino delgado e início do cólon (Brower e Cranfield, 2001).
Apesar de ambos os casos apresentarem algumas semelhanças, como a idade, ausência de
perda de peso e lesões mais graves no intestino, não foram encontradas formas parasitárias.
Como no caso anterior não é possível confirmar nem excluir o papel dos oocistos encontrados
no esfregaço fecal corado e o fator etiológico.
74
Microscopicamente identificou-se uma gastrite linfoplasmocitária transmural muito grave, com
aparente perda da definição do tecido glandular (figura 33.C). Encontraram-se granulomas de
dimensões variadas na submucosa e muscular (figura 33.B).
No intestino observaram-se lesões graves de enterite linfoplasmocitária transmural, de enterite
catarral e de enterite necrosante. Observaram-se igualmente granulomas de dimensões
variadas na submucosa e córion da mucosa com presença de células gigantes e cápsula de
tecido fibroso. O pulmão apresentava alveolite serofibrinosa e o rim edema intersticial.
Não existem casos de infeção por Cryptosporidium na literatura em que o estômago e o
intestino estejam igualmente afetados de forma grave. À semelhança das duas serpentes
mencionadas anteriormente não foram encontradas formas parasitárias em nenhum dos
orgãos durante o exame microscópico. O facto de ter sido colhido apenas um fragmento por
orgão e de as duas serpentes adultas terem sido congeladas previamente à necropsia pode
ter contribuído para a não detecção do parasita.
75
4.2.1.3 Filo Metamonada
A mesma boa arco-íris, além dos trofozoítos do filo Amoebozoa, apresentava igualmente
grande número de trofozoítos do filo Metamonada não identificados.
Grande parte da informação disponível na literatura das alterações fisiopatológicas associadas
à infeção por protozoários flagelados é baseada nos trabalhos de Zwart, Teunis e Cornelissen
(1984) sobre monocercomoníase e de Jakob e Wesemeier (1995) sobre doença provocada
por flagelados de género desconhecido.
Como já foi referido para o filo Amoebozoa, não foi possível avaliar os sinais clínicos do
animal em questão, além da apatia.
Este sinal clínico apesar de ser compatível com a infeção por flagelados é inespecífico, como
a maioria daqueles associados a esta doença (perda de tonicidade muscular, dor abdominal,
anorexia e por vezes diarreia catarral) (Zwart et al., 1984; Scullion e Scullion, 2009).
Os achados macroscópicos no intestino descritos anteriormente (enterite catarral, congestão
e hiperémia) são compatíveis com as lesões descritas por Zwart et al. (1984).
Microscopicamente também se encontraram lesões compatíveis com as descritas em ambos
os trabalhos, como descamação epitelial com acumulação de exsudado fibrinoso e restos
celulares no lúmen do epitélio (figura 26), presença de células inflamatórias no lúmen, na lamina
propria e submucosa (figura 27.A e B), resultando numa enterite diftérica e mucopurulenta.
A infeção por protozoários flagelados e por Entamoeba sp. resultam em sinais clínicos e lesões
histopatológicas semelhantes e podem infetar simultâneamente o mesmo animal, sendo que
as amebas afetam principalmente o cólon (Jakob e Wesemeier, 1995).
Ao contrário dos estudos e, à semelhança do que aconteceu para as amebas, não se detetaram
formas parasitárias durante o exame histopatológico.
Para informação sobre o ciclo de vida, géneros com maior importância, diagnóstico e
tratamento ver ponto 4.1.1.2.
Em conclusão, ambos parasitas proliferam em condições de stress para o hospedeiro ou em
resultado de infecções bacterianas ou víricas. Tendo em conta o histórico do animal (recém
chegado de uma viagem em condições não ideais) existe a possibilidade de ter ocorrido um
desequilíbrio do número de um ou dos dois parasitas resultando em doença. No entanto a não
detecção de parasitas nos tecidos afetados não permite estabelecer esta relação de forma
definitiva.
Durante a observação das lâminas de histopatologia de uma boa arco-íris, referida no ponto
4.2.1.1, foram encontrados gamontes de Hepatozoon sp. no pulmão (figura 34).
76
O parasita foi classificado neste género seguindo as indicações de Sidall (1995) que
considerava que todas as hemogregarinas encontradas em répteis, sem possibilidade de
avaliar o seu ciclo de vida completo, deveriam ser colocadas preventivamente no género
Hepatozoon.
Sem conhecimento do seu ciclo de vida completo ou a sua análise genética não é possível
identificar a espécie.
A B
77
4.2.1.4.2 Filo Artropoda - Ophionyssus natricis Gervais, 1844 (Macronyssidae)
Durante a necrópsia, além do que já foi referido, encontrou-se um elevado número de ácaros
que pertenciam à espécie Ophionyssus natricis (figura 35) que é o ácaro mais comum
encontrado em serpentes (Fitzgerald & Vera, 2006).
Os machos medem cerca de 500 µm de comprimento por 200-250 µm e podem medir 300-
350 µm de largura depois de efetuarem uma refeição (DeNardo & Wosniak, 1997).
Figura 35 - Ácaros (<) Ophionyssus natricis encontrados durante a necrópsia de uma Boa-
Arco-Íris (Epicrates cenchria). A - Localizados zona intermandibular. B - Ácaro observado ao
microscópio. Montagem com Lactofenol. Escala - 400 µm. Imagens originais.
A B
< <
< <
<
78
Adicionalmente, este ácaro tem algum potencial zoonótico, podendo causar lesões cutâneas
vesículo-bulhosas (Schultz, 1975) ou papulares (Amanatfard, Youssefi e Barimani, 2014) em
humanos.
Como já foi referido o animal em questão morreu no dia em que chegou. Foi possível observar
algum eritema na região intermandibular (figura 35.A), sendo esta a zona que apresentava
maior carga parasitária e não se detetaram outros sinais clínicos (p.ex. anemia).
Dos 19 lagartos aos quais foram efetuadas necrópsias em 11 (57,89%) detetaram-se formas
parasitárias.A frequência relativa de formas parasitárias é inferior à prevalência média estimada
no rastreio parasitológico. O fato de não ter sido possível colher amostra coprológica de todos
os animais pode ter contribuído para esta diferença.
79
Figura 36 - Formas parasitárias de I. amphiboluri encontradas em preparações histológicas
do intestino coradas com H&E. A - Oocisto imaturo encontrado em lagarto de gola. B - Oocisto
esporulado encontrado em dragão barbudo. Escalas - 20 µm. Imagens originais.
A B
Durante a necrópsia de um lagarto cornudo foram recolhidos vários nematodes (figura 37).
Eram parasitas difíceis de detetar macroscopicamente, aparecendo como pequenos
nematodes esbranquiçados entre o material arenoso contido no cólon.
O esófago dividido em duas partes (figura 37.A), o facto de os machos apresentarem espículas
lanceoladas e desiguais (figura 37.B) e não apresentarem gobernáculo são características
do género (Ver ponto 4.1.2.5.1). Dado que as espécies C. readi e C. heynemani foram
consideradas sinónimos de C. penneri, esta é a única espécie com estas características
descrita neste hospedeiro (Bursey & Flanagan, 2002).
Os parasitas desta família apresentam um ciclo de vida direto com a particularidade de que
as larvas eclodem e desenvolvem-se até ao 3º estádio dentro do útero da fêmea. Esta L3 é
autoinfectante para o hospedeiro (Anderson, 2000). Apesar do mecanismo de autoinfeção
ser bem conhecido, a forma como acontece a transmissão entre hospedeiros merece mais
discussão. Num trabalho realizado por Langford, Willobee e Isidoro (2013) foi sugerido que a
transmissão de Cyrtosomum (Atractis) penneri pode ocorrer durante a cópula dos hospedeiros
(Langford, Willobee & Isidoro, 2013).
Descrição dos espécimes encontrados durante este estudo (média (min-max) µm):
B C
Na literatura consultada não existe nenhum caso descrito em que este parasita fosse
considerado o agente etiológico, desta forma, o fato de não terem sido encontradas lesões
intestinais que pudessem ser relacionadas com a presença de um número elevado de
nematodes era expectável.
81
4.2.2.2.2 Família Pharyngodonidae - Ozolaimus cf linstowi Malysheva, 2015
Foram recolhidos nematodes adultos do cólon de uma iguana verde que macroscopicamente
eram de pequena/média dimensão e de cor esbranquiçada (figura 38 e 39).
Microscopicamente a morfologia era característica de dois géneros comuns em lagartos da
família Iguanidae: Alaeuris e Ozolaimus. A distinção entre estes géneros foi feita através do
arranjo do aparelho bucal (figura 38.B). A presença de 3 membranas cuticulares estriadas
bem definidas e triangulares excluíram o género Alaeuris (Moravec, Maldonado e Mayen-
Peña, 1996).
Até à data estão descritas 5 espécies de Ozolaimus parasitas de lagartos: O. cirratus, O.
megatyphlon, O. monhystera, O. ctenosauri e O. linstowi. Os nematodes encontrados
distinguem-se das duas primeiras espécies por terem um esófago contínuo sem divisão
em duas partes distintas. Distinguem-se de O. monhystera pelo menor tamanho geral e da
espícula dos machos. Distinguem-se de O. ctenosauri pelo diferente arranjo do aparelho bucal
das fêmeas, particularmente pela forma das membranas que são triangulares nos espécimes
encontrados e quase quadrangulares em O. ctenosauri (Malysheva, 2015).
A B
C D
82
Apesar de os machos e as fêmeas serem ligeiramente maiores que os descritos por Malysheva
(2015) são morfologicamente indistinguíveis de O. linstowi. A análise genética dos nematodes
encontrados no presente estudo revelou uma sequência da subunidade 18s similar à
encontrada por Malysheva (2015) apesar de não ter sido possível sequenciar a subunidade
28s (Malysheva, comunicação pessoal, 2016).
Desta forma existe uma grande probabilidade de os nematodes encontrados pertencerem à
espécie Ozolaimus linstowi.
B
C
Descrição dos espécimes encontrados durante este estudo (média (min-max) µm):
83
Como já foi referido anteriormente os nematodes da família Pharyngodonidae são considerados
comensais e só raramente causam doença.
À necrópsia o animal em questão apresentava sangue nas cavidades oral e nasal, glossite na
região antero-dorsal da língua. O intestino e estômago continham conteúdo arenoso e o cólon
além deste conteúdo apresentava grande número de nematodes.
o exame histopatológico a língua apresentava lesões graves de glossite ulcerosa, o intestino
tinha lesões de enterite catarral e o pulmão apresentava atelectasia e pneumonia multifocal
purulenta. Todas estas lesões estavam associadas à presença de aglomerados de bactérias
de forma bacilar.
O fígado apresentava congestão, edema e lesões disseminadas de degenerescência macro-
vacuolar.
Os achados de necrópsia e exame histopatólogico sugerem um processo de septicémia.
Mesmo não sendo possível atribuir uma relação de causa-efeito entre a presença dos parasitas
e as lesões intestinais encontradas, a presença de um grande número de nematodes pode
ter contribuído para o desfecho deste caso. Números elevados de parasitas podem causar
erosão da mucosa e permitir a infeção sistémica por parte de bactérias e/ou não permitir a
adequada absorção de nutrientes contribuindo para a morbilidade do animal.
Além dos adultos e ovos de Ozolaimos, referidos no ponto anterior, foram encontrados ovos
desta família (figura 40) em 6 iguanas verdes ao exame coprológico de flutuação com ZnSO4
e solução saturada de açúcar. Estes ovos já tinham sido encontrados durante os exames
coprológicos efetuados em vida (Ver ponto 4.1.3.4.1).
Durante o exame histopatólogico todos os animais apresentavam lesões de enterite catarral.
Dado o carácter comensal desta família de nematodes e o facto de todos os animais serem
positivos a parasitas dos filos Amoebozoa, Ciliophora e Metamonada não foi possível associar
as lesões encontradas no intestino e a presença de nematodes.
A B
84
4.2.2.2.4 Família Physalopteridae - Skrjabinoptera phrynosoma Ortlepp, 1922
O ciclo de vida deste parasita foi estudado e descrito por Sheridan H. Lee (1955 e 1957) e
apresenta algumas particularidades principalmente na forma como dispersa os seus ovos e
se adaptou ao clima árido onde habitam os seus hospedeiros.
Este nematode tem um ciclo de vida heteroxeno. Os adultos encontram-se fixos à mucosa
gástrica dos hospedeiro e as fêmeas adultas fazem migrações para a cloaca onde saem para
o exterior com o material fecal. Apresentam no útero cápsulas contendo entre 5 a 69 ovos em
vários estádios de desenvolvimento desde mórula até larvas. A fêmea no exterior morre e é
transportada por uma formiga (Pogonomyrmex barbatus) para o ninho onde serve de alimento
às larvas. Esta é a forma de infeção do hospedeiro intermediário. À medida que as larvas
da formiga passam pela metamorfose as larvas do parasita desenvolvem-se até L3 que é a
forma infectante para o lagarto. O lagarto alimenta-se das formigas e desta forma completa o
ciclo (Lee, 1955, 1957).
85
Figura 42 - Srjabinoptera phrynosoma encontrados no estômago de Phrynosoma platyrhinos.
A - Cápsulas ovígeras. Escala - 100 µm; B - Espículas desiguais presentes na extremidade
posterior do macho. Escala - 100 µm. Imagens originais.
A B
A maioria dos autores descreve infecções com elevada carga parasitária, chegando a 750
nematodes num único hospedeiro (Babero & Kay, 1967).
O facto de este nematode apresentar um ciclo de vida indireto pode justificar a baixa quantidade
de parasitas encontrados, visto que, nas condições em que era mantido, a formiga que serve
de hospedeiro intermediário não fazia parte da sua dieta.
A B
86
Figura 44 - Srjabinoptera phrynosoma encontrados no estômago de Phrynosoma platyrhinos.
A - Fêmea madura; B - Fêmea imatura; C - Macho. Escala - 1000 µm. Imagens originais.
Os nematodes desta família podem causar lesões na mucosa do estômago onde se encontram
fixados. Além desta ação direta competem pelos nutrientes dos alimentos ingeridos pelo
hospedeiro. Microscopicamente não foram observadas lesões causadas pela sua presença.
O lagarto apresentava caquexia provavelmente devida a uma dieta alimentar incorreta, mas
que pode ter sido agravada pela ação dos parasitas.
v
v
88
Figura 46 - Larvas de Mesocestoides sp. encontradas em corte histológico no fígado de um
Phrynosoma platyrhinos. A - Larva tetratirídio corada com H&E. Escala - 300 µm; B - Larva
tetratirídio corada com PAS. V - Ventosa. Escala - 60µm; C - Fotocomposição de um corte
histológico do fígado. Escala - 1000 µm. Imagens originais.
A B
Não foram encontradas quaisquer formas parasitárias nos exames coprológicos, à necrópsia
ou na análise histopatológicas de nenhuma tartaruga.
89
4.3 Associações estatísticas
Não foi encontrada na literatura uma referência que demonstre, de forma estatística, uma
associação entre condições de manutenção não adequadas e a presença de parasitas.
De uma forma geral, é aceite que o cativeiro representa per se uma alteração no equilíbrio
hospedeiro-parasita.
Animais em cativeiro podem ser mantidos em condições de stress potencialmente nefastas.
Negligência, elevado número de indivíduos, estado nutricional, condições pouco higiénicas,
temperatura baixa, doenças concomitantes e introdução de outros indivíduos doentes
podem contribuir de forma decisiva para a manifestação clínica de doenças parasitárias.
Adicionalmente, o cativeiro predispõe à concentração de elevado número de parasitas
providenciando condições e microhabitat favoráveis para os parasitas com os quais os répteis,
confinados, têm maior contato (Wilson & Carpenter, 1996; Fitzgerald & Vera, 2006).
90
Assim, era de esperar que os animais mantidos em condições desadequadas tivessem maior
probabilidade de se encontrarem parasitados. Esta suposição confirmou-se pela existência
de uma associação entre a variável “condições” e a presença de parasitas em todos os
grupos. Adicionalmente, esta variável foi a que apresentou consistentemente maior valor de
“odds ratio” (OR). Determinada a associação estatística com um valor de p<0.05 em todos os
grupos, estes valores de OR revelam uma associação forte entre as duas variáveis.
No que diz respeito à variável “terrário “ era de esperar que existisse uma associação entre a
manutenção em terrários pseudonaturalistas e a presença de parasitas. Tal aconteceu quando
se fez o cálculo para o conjunto de todas as subordens de répteis, mas não se verificou nos
cálculos que contabilizavam apenas os sáurios. Isto pode ser justificado pelo elevado número
de serpentes testadas, que eram mantidas quase exclusivamente em caixas minimalistas e
poucas foram consideradas positivas.
Os terrários/caixas pseudonaturalistas apresentam substratos e elementos decorativos mais
complexos que tornam a sua limpeza mais difícil. Nestas condições, tendo em conta que os
parasitas encontrados apresentavam maioritariamente ciclos de vida monoxenos, seria de
esperar que existisse uma maior concentração das suas formas infetantes em ambientes
pseudonaturalistas onde existem mais elementos onde estes se podiam fixar. A limpeza das
instalações minimalistas implicava sempre a eliminação total do substrato e desinfeção dos
respetivos terrários/caixas, enquanto no caso dos pseunaturalistas apenas eram retirados o
material fecal e excesso de comida que, em contacto com o substrato e elementos decorativos,
são difíceis de eliminar totalmente.
É discutível se, em terrários completamente naturalistas, o conforto adicional e diminuição
do stress traduzidos numa maior imunocompetência podem compensar a maior exposição a
agentes infecciosos (Warwick & Steedman, 1995).
No entanto, no caso específico das instalações desta loja, os terrários pseudonaturalistas
podem não representar uma vantagem aos minimalistas. Os elementos decorativos e as
dimensões dos terrários/caixas, na maioria dos casos, não estavam desenhados de forma
a mimetizarem o ambiente natural dos animais alojados. Havendo assim a possibilidade de
esta tentativa de enriquecimento ambiental não ser suficiente para dimuir o stress do cativeiro
comparando com os ambientes minimalistas.
Verificou-se uma associação estatisticamente significativa entre a variável “conjunto” e a
presença de parasitas para todos os grupos.
Como referido anteriormente, a maioria dos parasitas encontrados eram monoxenos. Sabendo
isto, esta associação era expectável, já que seria de esperar que todos os indivíduos tivessem
infeções parasitárias similares.
91
4.3.2 Sinais clínicos
As conclusões a retirar destes resultados têm que ser abordadas com a precaução inerente
às limitações dos próprios testes estatísticos. O desconhecimento da presença de infeção
parasitária à chegada do animal à loja, o tipo de amostragem e a própria amostra, assim como
o facto de a manifestação clínica de doenças parasitárias gastrointestinais ser inespecífica,
têm que ser tidos em conta na avaliação dos resultados.
Assim sendo, estes resultados serviram para, de uma forma estatística, mostrar que
as condições de maneio parecem ser, efetivamente, um fator importante na presença de
parasitas gastrointestinais e que estes parasitas parecem ter influência na manifestação de
sinais clínicos com origem no aparelho gastrointestinal.
92
5. CONCLUSÕES
93
Durante as análises coprológicas complementares às necrópsias detetou-se uma espécie de
coccídia (Isospora amphiboluri) num dragão barbudo e num lagarto de gola. Adicionalmente
foram detetados ovos da família Pharyngodonidae em iguanas verdes e trofozoítos dos filos
Amoebozoa e Metamonada numa serpente Boa arco-íris.
De referir que, apesar de não serem parasitas gastrointestinais, a Boa arco-íris apresentava
ácaros da espécie Ophionyssus natricis e durante a análise histopatológica detetaram-se
gamontes de Hepatozoon sp.
Desta forma, apesar da identificação de lesões causadas por parasitas ter sido difícil, as
necrópsias revelaram-se de grande utilidade, permitindo recolher parasitas em grande
quantidade diretamente do trato gastrointestinal, que foram determinantes na identificação
dos mesmos à espécie.
Com este trabalho, confirmou-se também que a maioria dos parasitas presentes em répteis
mantidos em cativeiro apresentam ciclo de vida direto. Os parasitas com ciclo de vida indireto
que foram encontrados (Skrjabinoptera phrynosoma e Mesocestoides sp.) podem ajudar na
definição da origem dos seus hospedeiros, sendo provável que estes tenham sido recolhidos
diretamente da natureza. Principalmente o nematode S. phrynosoma, que tem uma relação
estrita com a formiga que serve de alimento a estes lagartos no seu habitat natural.
A análise estatística sustentou a grande importância que têm as instalações onde são mantidos
os animais na presença de parasitas e manutenção da infeção. Da mesma forma, foi reforçada
a ideia de que as infecções parasitárias parecem ser importantes na manifestação de sinais
clínicos gastrointestinais.
Conclui-se, portanto, que a maioria dos parasitas presentes em répteis mantidos em cativeiro
apresentam ciclo de vida direto. Alguns dos parasitas (por exemplo Isospora amphiboluri)
aparecem regularmente em animais criados em cativeiro, mas outros (por exemplo
Skrjabinoptera phrynosoma), por necessitarem de hospedeiros intermediários específicos,
são trazidos da natureza com os seus hospedeiros. Esta dinâmica reforça a importância de
se conhecerem tanto os parasitas que se encontram em animais mantidos em cativeiro, como
os que se encontram em animais de vida livre.
6. PERSPECTIVAS FUTURAS
94
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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102
ANEXOS
Anexo 1 - Classificação taxonómica e nº das espécies incluídas no presente estudo. Anexo da CITES,
anexo da Legislação da UE e estatuto de conservação dessas espécies.
Ordem Estatuto de
Sub-ordem Legislação conservação
família
Squamata (n=109) Espécie (n) CITES EU IUCN1
Sauria (n=45) Nome científico Nome comum
Agamidae Chlamydosaurus kingii (n=1) Lagarto de gola NC NC Least concern
(n=11) Physignathus cocincinus (n=1) Lagarto de água Chinês NC NC NA
Pogona vitticeps (n=9) Dragão barbudo NC NC NA
Cordylidae (n=4) Cordylus tropidosternum (n=4) Lagarto de cauda espinhosa Anexo II Anexo B NA
Corytophanidae (n=1) Basiliscus pulmifrons (n=1) Basilisco verde NC NC Least concern
Crotaphytidae (n=2) Crotaphytus collaris (n=2) Lagarto de colar NC NC Least concern
Diplodactylidae (n=3) Correlophus ciliatus (n=3) Gecko de crista NC NC Vulnerable
Eublepharidae (n=7) Eublepharis macularius (n=7) Gecko leopardo NC NC NA
Gekkonidae (n=1) Phelsuma madagascariensis (n=1) Gecko diurno do madagáscar Anexo II Anexo B Least concern
Iguanidae (n=8) Iguana iguana (n=8) Iguana verde Anexo II Anexo B NA
Phrynosomatidae Phrynosoma asio (n=1) Lagarto cornudo gigante NC NC Least concern
(n=5) Phrynosoma platyrhinos (n=4) Lagarto cornudo NC NC Least concern
Teidae (n=1) Tupinambis merianae (n=1) Teiú Anexo II Anexo B Least concern
Varanidae Varanus exanthematicus (n=1) Varano da savana Anexo II Anexo B Least concern
(n=2) Varanus niloticus (n=1) Varano do nilo Anexo II Anexo B NA
Serpentes (n=64)
Boidae (n=1) Epicrates cenchria (n=1) Boa arco-íris Anexo II Anexo B NA
Heterodon nascius (n=1) Cobra de nariz de porco NC NC Least concern
Colubridae Lampropeltis getula (n=4) Cobra real californiana NC NC Least concern
(n=50) Lampropeltis triangulum (n=8) Cobra do leite NC NC NA
Pantherophis guttatus (n=37) Cobra do milho NC NC Least concern
Aspidites ramsayi (n=1) Pitão de Ramsay Anexo II Anexo B Endangered
Pythonidae (13) Morelia spilota (n=1) Pitão carpete Anexo II Anexo B Least concern
Python regius (n=11) Pitão bola Anexo II Anexo B Least concern
Testudines
Cryptodira (n=6)
Emydidae (n=3) Pseudemys concinna (n=3) Tartaruga hieroglífica NC NC Least concern
Testudinidae (n=3) Agrionemys horsfieldii (n=1) Tartaruga russa Anexo II Anexo B Vulnerable
Centrochelys sulcata (n=2) Tartaruga de esporas africana Anexo II Anexo B Vulnerable
Legenda: NC - Não contemplado. NA - Não atribuído (sem estatuto de conservação disponível). 1- Informação disponível em
< http://www.iucnredlist.org />.
103
Anexo 2 - Condições de maneio das espécies incluídas no presente trabalho.
Serpentes
Aspidites 27-33 dia 40-60 (20) Carnívoro (20) Opcional (1) Semi-árido
ramsayi 22-24 noite (20) 1,5 X 0,7 X 0,7 (20)
Epicrates 21-24 dia 70 (21) Carnívoro (21) Opcional (1) Floresta tropical
cenchria 29,5-31,5 noite (21) 1,80 X 0,8 X 0,9 (21)
Heterodon 26-33 40-50 (22) Carnívoro (22) Opcional (1) Seco e arenso
nascius (22) 90 X 30 X 30 (22)
Lampropeltis getula 25-29 dia 30-70 (7) Carnívoro (23) Opcional (1) Variável
19,5-24noite (1) 1,2 X 60 X 40 (23)
Lampropeltis 27-33 40-60 (25) Carnívoro (24) Opcional (1) Variável
triangulum (24) 1,2 X 60 X 40 (24)
Morelia 25 ambiente 40-60 (26) Carnívoro (26) Opcional (1) 90 X 60 X 60 (26)
spilota 30-32 BS (26)
Pantherophis 25-29 dia 50-70 (27) Carnívoro (27) Opcional (1) Variável
guttatus 19,5-24 noite (1) 1 X 0,5 X 0,8 (27)
Python 24-34 dia 50-60 (28) Carnívoro (28) Opcional (1) Estepe
regius 20-27 noite (28) 1 X 0,5 X 0,5 (28)
Cryptodira
Agrionemys 21 ambiente 70 (toca) (30) Herbívoro (29) Espectro total (29) Desértico
horsfieldii 32-37 BS (29) 0,6 X 1,2 (29)
Centrochelys sulcata 25-35 (7) 40-75 (7) Herbívoro (7) Espectro total (7) Desértico/semi-árido
(7)
Pseudemys 30 BS Temperado
concinna 24 (água) (31) - Omnívoro (31) Espectro total (1) 1,5 X 1,5 X 0,4 (água)
(31)
104
Anexo 2 - Condições de maneio das espécies incluídas no presente trabalho (continuação).
(1) Rossi, J. (2006). General husbandry and management. In Mader D.R., Reptile Medicine and surgery (2ª ed.,
pp. 25-41). Elsevier.
(2) Basilisk Lizard Care And Information. Reptilesmagazine.com. Disponível em: http://www.reptilesmagazine.
com/Lizard-Care/Basilisk-Care/
(3) Cordylus tropidosternum. Reptile-care.de. Disponível em: http://www.reptile-care.de/species/Scincoidea/
Cordylidae/Cordylus-tropidosternum.html
(4) Correlophus ciliatus. Reptile-care.de. Disponível em: http://www.reptile-care.de/species/Gekkota/
Diplodactylidae/Correlophus-ciliatus.html
(5) Collared Lizards (Crotaphytus collaris). (Anapsid.org.) Disponível em: http://www.anapsid.org/collared.html
(6) Western Collared Lizard Care Sheet.Disponível em: http://www.lizardsarchive.com/care-sheets/western-
collared-lizard.php
(7) Varga, M. (2004). Captive Maintenance and welfare. In Girling, S.J. & Raiti, P. (2004) BSAVA manual of
reptiles (2ª ed., pp. 6-17). Quedgeley:BSAVA
(8) Eublepharis macularius. Reptile-care.de. Disponível em: http://www.reptile-care.de/species/Gekkota/
Eublepharidae/Eublepharis-macularius.html
(9) Green Iguana Care Sheet. Reptilesmagazine.com. Disponível em: http://www.reptilesmagazine.com/Care-
Sheets/Lizards/Green-Iguana/
(10) Giant Day Gecko Care Sheet. Reptilesmagazine.com. Disponível em: http://www.reptilesmagazine.com/
Care-Sheets/Lizards/Giant-Day-Gecko/
(11) Phrynosoma.Org. Disponível em: http://forum.phrynosoma.org/husbandryasio.html
(12)Recchio, I., Robertson-Billet, M., Rodriguez, C. & Haigwood, J. (2014). Captive husbandry and reproduction
of Phrynosoma asio (Squamata: Phrynosomatidae) at the Los Angeles Zoo and Botanical Gardens.
Herpetological Review. 45. 450-454.
(13) Phrynosoma.Org. Disponível em: http://forum.phrynosoma.org/husbandryplatyrhinos.html
(14) Reptilian smiles. Disponível em: http://reptilian-smiles.webs.com/The%20Horned%20Lizard%20Manual.pdf
(15) Chinese Water Dragon Care. Reptilesmagazine.com. Disponível em: http://www.reptilesmagazine.com/
Chinese-Water-Dragon-Care/
(16) Pogona vitticeps. (2017). Reptile-care.de. Disponível em: http://www.reptile-care.de/species/Iguania/
Agamidae/Pogona-vitticeps.html
(17) Argentine Black & White Tegus. Reptilecare.com. Disponível em:http://www.reptilecare.com/tegu.html
(18) Savannah Monitor Care Sheet. ReptiPro. Disponível em: http://www.reptipro.com/care-sheets/lizards/64-
savannah-monitor-varanus-exanthematicus-care-sheet.html
(19) Nile Monitor Care Sheet. ReptiPro. Disponível em: http://www.reptipro.com/care-sheets/lizards/58-nile-
monitor-varanus-niloticus-care-sheet.html
(20) Aspidites ramsayi. Reptile-care.de. Disponível em: http://www.reptile-care.de/species/Serpentes/Pythonidae/
Aspidites-ramsayi.html
(21) Rainbow Boa Care Sheet. Reptilesmagazine.com. Disponível em: http://www.reptilesmagazine.com/Care-
Sheets/Rainbow-Boa-Care-Sheet/
(22) TheHognosesnake.co.uk- care sheet, description, breeding and more. Thehognosesnake.co.uk. Disponível
em: http://www.thehognosesnake.co.uk/hognose_snake_care_sheet.htm
(23) TheKingSnake.co.uk- Common King Snake Care Sheet. Thekingsnake.co.uk. Disponível em: http://www.
thekingsnake.co.uk/Common_king_snakes_care_sheet.htm
(24) TheKingSnake.co.uk- Milk Snake Care Sheet. (2017). Thekingsnake.co.uk. Retrieved 8 June 2017, from
http://www.thekingsnake.co.uk/Milk_snake_care_sheet.html
(25)Honduran Milk Snake Care And Breeding. Disponível em: http://www.reptilesmagazine.com/Snake-Care/Milk-
Snake-Care-And-Breeding/
(26) Carpet Python Care Sheet. Reptilesmagazine.com. Disponível em: http://www.reptilesmagazine.com/Care-
Sheets/Carpet-Python-Care-Sheet/
(27) Pantherophis guttatus. Reptile-care.de. Disponível em: http://www.reptile-care.de/species/Serpentes/
Pythonidae/Pantherophis-guttatus.html
(28) Python regius. Reptile-care.de. Disponível em: http://www.reptile-care.de/species/Serpentes/Pythonidae/
Python-regius.html
(29)Caring for a Russian Tortoise | Russian Turtle Caresheet | petMD. Disponível em https://www.petmd.com/
russian-tortoise-agrionemys-horsfieldii
(30)The Russian Tortoise Care Sheet. (2018). Disponível em https://www.russiantortoise.org/care_sheet.htm
(31) Cooter Turtles. Disponível em http://www.reptilesmagazine.com/Turtles-Tortoises/Turtle-Care/Cooter-Turtles/
105
Anexo 3 - Bibliografia adicional recomendada.
A - Identificação de parasitas:
Nematodes:
Yamaguti, S. (1961). Systema helminthum Vol. 3, The Nematodes of vertebrates. Nova Iorque:
Interscience Publ.
Anderson, R., Chabaud, A., Willmott, S., & Gibbons, L. (2009). Keys to the nematode parasites
of vertebrates - Archival volume. Wallingford, UK: CABI.
Cestodes:
Khalil, L., Jones, A., & Bray, R. (2006). Keys to the cestode parasites of vertebrates. Wallingford,
Oxon, UK: CAB International.
Trematodes:
Hughes, R., Higginbotham, J., & Clary, J. (1942). The Trematodes of Reptiles, Part I, Systematic
Section. American Midland Naturalist, 27(1), 109. doi: 10.2307/2421028
Bray, R., Gibson, D., & Jones, A. (2002). Keys to the Trematoda - Vol. 1. Wallingford, UK: CABI
Pub. and the Natural History Museum.
Gibson, D., Bray, R., & Jones, A. (2005). Keys to the Trematoda - Vol. 2. Wallingford (UK):
CABI Publishing.
B - Tratamento:
Funk, R.S. & Diethelm, G. (2006). Reptile formulary. In Mader, D. R., Reptile Medicine and
Surgery. (2ª ed.). (pp. 1124 - 1125). Filadélfia: W. B. Saunders.
Gibbons, P. M., Klaphake, P. & Carpenter, J. (2012) .Reptiles. In Carpenter, J., & Marion, C.
Exotic animal formulary (4ª ed., pp. 94 - 99). Missouri: Elsevier.
C - Bem estar:
Warwick. (2014). The Morality of the Reptile”Pet” Trade. Journal Of Animal Ethics, 4(1), 74. doi:
10.5406/janimalethics.4.1.0074
106
Outras obras :
Kraus, F. (2009). Alien reptiles and amphibians. (1ª ed.). Dordrecht: Springer.
Dodd, C. (2016). Reptile ecology and conservation (1ª ed.). Oxford: Oxford University Press.
107
Anexo 4 - Preparação das soluções de flutuação.
454g de açúcar.
355 ml de água destilada.
Aquecer a água e adicionar o açúcar. Mexer até o açúcar se dissolver e deixar a solução
arrefecer.
Conservar a solução a 8ºC e utilizá-la o mais brevemente possível para evitar o crescimento
de fungos. Para aumentar o tempo de vida da solução podem ser adicionados seis ml de
formaldeído.
386g de ZnSO4
1l de água destilada
108
Anexo 5 - Protocolos de técnicas e colorações histopatológicas.
Reagentes:
A- Hematoxilina de Gill 2 – (sigma-GHS 280)
B- Eosina- Floxina – (sigma-HT110-3)
Procedimento:
1. Desparafinar – 15 minutos ;
2. Hidratar – 5 minutos ;
3. Hematoxilina de Gill 2 - 30 segundos ;
4. Lavar em água destilada ;
5. Lavar em água corrente tépida – 2 minutos ;
6. Álcool 70% - 1 minuto ;
7. Eosina-Floxina – 1 minuto ;
8. Desidratar, diafanizar e montar – 1 minuto ;
109
Anexo 5 - Protocolos de técnicas e colorações histopatológicas (continuação).
Reagentes:
A - Solução Aquosa de Ácido Periódico a 1%:
• 1 gr de Ácido Períodico (Panreac – 122320);
• 100 ml de Água Destilada.
B - Reagente de Schiff (sigma – 3952016)
Procedimentos:
1- Desparafinar – 15 minutos;
2- Hidratar – 5 minutos;
3- Solução aquosa de Ácido Periódico a 1% - 10 minutos;
4- Lavar bem em água destilada
5- Reagente de Shiff – 15 minutos;
6- Lavar em água corrente – 10 minutos;
7- Hematoxilina de Gill2 – 30 segundos;
8- Lavar em água corrente morna – 3 minutos;
9- Desidratar, diafanizar e montar.
Reagentes:
A - Carbol Fucsina
B - Ácido Clorídrico
C - Azul de Metileno
• Azul de Metileno -1 gr
• Água destilada - 100ml
Procedimentos:
1- Desparafinar - 15 minutos
2- Hidratar - 5 minutos
3- Carbol-Fucsina (na estufa) - 30 minutos
4- Lavar em água corrente - 3 minutos
5- Diferenciar com uma solução de ácido clorídrico 0.5% em álcool a 70% até o corte
ficar rosa pálido
6- Lavar em água corrente - 3 minutos
7- Contrastar com Azul de Metileno - 1 minutos
8- Lavar rapidamente em água corrente
9- Desidratar, diafanizar e montar
110
Anexo 6 - Fichas de colheita de dados.
111
Anexo 6 - Fichas de colheita de dados (continuação).
B - Ficha de parasitologia
112
Anexo 6 - Fichas de colheita de dados (continuação).
C - Ficha de necrópsia
113
Anexo 7 - Tabelas de contingência dos testes de Fischer efetuados .
114
Anexo 7 - Tabelas de contingência dos testes de Fischer efetuados (continuação).
Sim 26 2 31 7 22 1 25 2
Não 8 46 8 49 3 7 3 8
P-value 3.071e-12 3.076e-11 0.000202 0.0001257
OR 68.37947 25.70681 41.68543 28.33099
I.C. 95% 13.35215 - 694.28643 8.002682 - 96.325659 3.684605 - 2365.278062 3.649605 - 398.677676
115
Anexo 8 - Prevalência absoluta, média estimada e com intervalo de confiança de 95% das
formas parasitárias encontradas durante o rastreio parasitológico.
Metamonada 1 4,2 0,5 - 11,3 13 40,1 24,8 - 56,5 1 40,3 7,0-80,4 15 19,1 11,5 - 28,1
Nematoda 2 6,2 1,3 - 14,5 17 51,3 35,2-67,6 3 79,7 46,7-100 22 27,4 18,4-37,4
Total por grupo 5 12,5 4,8 - 22,8 25 74,3 58,9-87,2 3 79,7 46,7-100 33 40,5 30,3 - 51,1
Quisto Nyctotheridae
Nycthotherus sp. Eublepharis macularius (1) Esf,Flu
Pogona vitticeps (2) Esf,Flu
Trofozoíto Nyctotheridae
Nycthotherus sp.. Pogona vitticeps (1) Esf,Flu
Legenda: forma parasitária encontrada durante a análise de Esf - esfregaços diretos Flu - flutuações
Hist - lâminas de histopatologia Nec - répteis à necrópsia.
116
Anexo 9 - Resumo das formas parasitárias encontradas durante o presente trabalho
(continuação).
Larva Pharyngodonidae
desconhecido Centrochelys sulcata (1) Esf
Crotaphytus collaris (1) Esf
Ovo Pharyngodonidae
desconhecido Agrionemys horsfieldii (1) Esf,Flu
Centrochelys sulcata (2) Esf,Flu
Correlophus ciliatus (2) Esf,Flu
Crotaphytus collaris (2) Esf,Flu
Eublepharis macularius (1) Esf,Flu
Iguana iguana (6) Esf,Flu,Hist
Phrynosoma asio (1) Esf,Flu
Pogona vitticeps (4) Esf,Flu
Adulto Physalopteridae
Skrjabinoptera phrynosoma Phrynosoma platyrhinos (2) Nec,Flu
Adulto Atractidae
Atractis penneri Phrynosoma platyrhinos (1) Nec
Atractis sp. Iguana iguana (1) Esf
Ovo Linstowiidae
Oochoristica sp. Physignathus cocincinus (1) Esf
Legenda: forma parasitária encontrada durante a análise de Esf - esfregaços diretos Flu - flutuações
Hist - lâminas de histopatologia Nec - répteis à necrópsia.
117
Anexo 10 - Resumo das lesões encontradas durante a análise histopatológica microscópica
Gastrite catarral Enterite catarral Congestão (17) Nefrite intersticial Atelectasia (12) Bexiga - Cistite
(4) (20) multifocal (7) catarral (1)
Degenerescência Congestão (7)
Gastrite Enterite macrovacuolar Congestão (7) Língua - Glossite
linfoplasmocitária necrosante (4) (17) Pneumonia ulcerosa e
transmural + Nefrite serosa (2) exsudativa (7) purulenta de origem
Granulomas (1) Congestão (3) Colestase (13) bacteriana (1)
Calcificação a Bronquite
Gastrite Enterite Degenerescência nível dos túbulos catarral (1) Pâncreas -
necrosante (1) linfoplasmocitária microvacuolar (6) renais (1) Congestão (1)
(1) Edema alveolar
Hiperplasia Edema (3) Degenerescência (1)
mucípara das Enterite fibrinosa macrovacuolar (1)
glândulas da (1) Hemorragia (1)
mucosa (1) Edema intersticial
Enterite diftérica (1) Pneumonia
(1) purulenta (1)
Inflamação
Hiperplasia fibrinosa (1)
mucípara (1)
Nefrite necrótica
(1)
Necrose tubular
(1)
118
Anexo 11 - Alguns pseudoparasitas encontrados durante o presente estudo.
A - Ovo de Aspiculuris cf. tetraptera (em serpente). Escala - 20 µm. B - Ovo de Syphacia
sp. (em serpente). Escala - 50 µm. C - Entamoeba sp. (em serpente). Escala - 20 µm. D -
Myobia musculi (em serpente). Escala - 100 µm. E - Ovo de tipo de Myobia (em serpente).
Escala - 50 µm. F -Ovo de Rodentolepis cf. nana ( em serpente). Escala - 20 µm. G e H -
Ovo de ácaro de género desconhecido (em serpente). Escala - 100µm. I - Ácaro de género
desconhecido (em serpente). Escala - 100 µm. J - Ácaro de género desconhecido (lagarto).
Escala - 100 µm. L e M - Ovo de ácaro de género desconhecido (lagarto). Escala - 100 µm.
N - Provável ácaro de género desconhecido (em lagarto). Escala - 100µm. O - Provável quisto
de Malamoeba sp. (em lagarto). Escala - 20 µm. P - Estrutura vegetal e grão de pólen (em
tartaruga). Escala - 50 µm. Imagens originais.
A B C
D E F
G H I
119
Anexo 11 - Alguns pseudoparasitas encontrados durante o presente estudo (continuação).
J L M
N O P
120