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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA EM ENGENHARIA

MBA/USP EM GESTÃO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS

RAÍSA GABRIELA SALVI

Poluição Emergente Existente em Águas de Abastecimento: Estrogênio


e Bisfenol A no Meio Ambiente, Comparação de Tratamentos e Análise Crítica
da Resolução CONAMA Nº 430/2011

VERSÃO REVISADA

São Paulo

Terceiro Ciclo/2016
RAÍSA GABRIELA SALVI

Poluição Emergente Existente em Águas de Abastecimento: Estrogênio


e Bisfenol A no Meio Ambiente, Comparação de Tratamentos e Análise Crítica
da Resolução CONAMA Nº 430/2011

Monografia apresentada à Escola


Politécnica da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de MBA em Gestão
e Tecnologias Ambientais

Área de Concentração: Gestão e


Tecnologias Ambientais – MBA-USP

Supervisora: Prof.ª Letícia Mesquita

São Paulo

2016
RESUMO

Contaminantes ou poluentes emergentes são substâncias potencialmente


tóxicas, das quais os efeitos ou a presença no ambiente ainda estão sendo
pesquisados, mas não há conclusões assertivas sobre muitos deles, tais como os
disruptores endócrinos Bisfenol A e Estrogênios naturais e sintéticos. Como estes
compostos não estão inseridos em legislações apropriadas referentes à qualidade das
águas e de efluentes despejados nos corpos d’água brasileiros, estes não são
monitorados por órgãos ambientais e de saúde. Além disso, as plantas de tratamento
de água e de esgotos/efluentes não possuem métodos eficientes para a remoção
destes tipos de compostos, que saem no efluente final destas, atingindo os corpos
d’água, das quais os animais e humanos fazem uso. Desta forma, selecionou-se as
duas técnicas de tratamento de água com as maiores eficiências de remoção dos
disruptores endócrinos enfatizados, de acordo com a literatura consultada, resultando
na identificação das técnicas de Processos Oxidativos Avançados (POA) e Adsorção
em Carvão Ativado em Pó (CAP). Os métodos de tratamento elegidos foram
comparados de maneira qualitativa, a partir da análise e atribuição de notas a 6
critérios técnicos e econômicos considerados importantes para a decisão de
implantação de uma técnica de tratamento de água ou esgoto. Por fim, a técnica de
Adsorção em Carvão Ativado em Pó (CAP) se mostrou mais satisfatória, de acordo
com os critérios analisados, e com eficiência similar a outra técnica analisada e que
poderia ser uma opção para ser inserida nas Estações de Tratamento de Água e de
Esgoto no Brasil. Também foi realizada uma análise crítica da Resolução CONAMA
nº 430/2011, que dispõe sobre o padrão de lançamento dos efluentes nos corpos
d’água brasileiros. Esta Resolução se mostrou defasada com relação às substâncias
consideradas poluentes emergentes e disruptores endócrinos, já que não há a
inclusão destas nos padrões de lançamento de efluentes. Portanto, recomendou-se a
adição destes compostos em uma atualização da resolução, bem como a elaboração
de outras regulamentações referentes aos usos de compostos contendo disruptores
endócrinos, ao exemplo da Comunidade Europeia, de modo a controlar melhor o seu
descarte no meio ambiente Por fim, recomendou-se também a atualização em um
menor período de tempo de legislações e resoluções brasileiras referentes à
qualidade das águas, para que estas não se tornem defasadas com relação às
pesquisas toxicológicas realizadas atualmente, que vêm identificando novas
substâncias que possuem poder de causar danos nocivos à saúde humana e animal
periodicamente.

Palavras-Chave: Poluentes Emergentes, Disruptores Endócrinos, Estrogênios,


Bisfenol A, Processos Oxidativos Avançados, Adsorção em Carvão Ativado em Pó,
Resolução CONAMA nº 430/2011.
ABSTRACT

Emerging contaminants or pollutants are potentially toxic substances, whose


effects or the presence in the environment are still being researched, but there is not
assertive conclusions on many of them, such as the endocrine disruptors Bisphenol A
and natural and synthetic estrogens. As these compounds are not included in
appropriate legislation related to water quality and effluents n Brazil, they are not
monitored by environmental and health agencies. Furthermore, water or sewage /
wastewater treatment plants do not have efficient treatments to remove these types of
substances, which end up going out in the final effluent and reaching water bodies that
animals and humans consume. Thus, the two water treatment techniques with the
highest removal efficiencies were selected, based on the consulted literature, giving
emphasis to endocrine disruptors Bisphenol A and estrogen. The two water treatment
techniques that were selected were Advanced Oxidative Processes and Adsorption on
Powdered Activated Carbon. The chosen methods were compared in a qualitative way,
through the grading and analysis of six technical and economic criteria, which are
considered important for the decision to implement a water or sewage treatment
technique. Finally, the technique of Adsorption on Powdered Activated Carbon was
considered more satisfactory, according to the assessed criteria, having similar
removal efficiency as the other analyzed technique (Advanced Oxidative Processes).
Therefore, this technique could be an option to be considered in Water and
Wastewater Treatment Plants throughout Brazil. A critical analysis of CONAMA
Resolution No. 430/2011, which provides the discharge standards of effluents into
water bodies in Brazil, was performed. It was observed that this resolution is outdated
with respect to substances considered emerging pollutants and endocrine disruptors,
since there is no inclusion of these compounds. Therefore, the addition of these
compounds in an update of the resolution, as well as the elaboration of other
regulations relating to the use of substances containing endocrine disruptors (as the
European Community), in order to better control their disposal in the environment, was
recommended. Finally, the update of Brazilian legislation and resolutions concerning
the quality of water in a shorter period of time was also recommended, so that they do
not become outdated with respect to toxicological research currently performed, which
have been identifying periodically new substances that area potentially harmful to
human and animal health.

Keywords: Emerging Pollutants, Endocrine Disruptors, Estrogens, Bisphenol A,


Advanced Oxidative Processes, Adsorption on Powdered Activated Carbon,
Resolution CONAMA n. 430/2011.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Disponibilidade Hídrica Superficial Estimada nas Regiões do Brasil. ...... 14


Figura 2 – Mapa de Densidade Demográfica do Brasil. ............................................ 15
Figura 3 – Classes de Tratamento de Efluentes. ...................................................... 18
Figura 4 – Possíveis Rotas dos Fármacos no Meio Ambiente. ................................. 21
Figura 5 – Estrutura Química Básica dos Esteroides: Ciclopentanoperidrofenantreno.
........................................................................................................................... 23
Figura 6 – Biossíntese dos Estrogênios Naturais, e suas Relações Químicas. ........ 24
Figura 7 – Estruturas Químicas dos Principais Hormônios Sexuais (Sintéticos e
Naturais)............................................................................................................. 26
Figura 8 – Reação de Síntese do Bisfenol A. ............................................................ 27
Figura 9 – Potenciais Subprodutos da Oxidação do Disruptor Endócrino Bisfenol A.
........................................................................................................................... 34
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Padrões de Lançamento de Efluentes em Corpos d’Água, de acordo com


a Resolução CONAMA nº 430 ........................................................................... 16
Tabela 2 – Classificação e Exemplos de Contaminantes Emergentes. .................... 19
Tabela 3 – Eficiência de remoção de disruptores endócrinos através de alguns
tratamentos de água. ......................................................................................... 30
Tabela 4 – Potencial de Oxi-Redução de Algumas Espécies Químicas. .................. 31
Tabela 5 – Diferentes Processos Oxidativos Avançados Relacionados com os
Reagentes Envolvidos........................................................................................ 32
Tabela 6 – Comparação entre a Criticidade de alguns aspectos de importância na
seleção de sistemas de tratamento em países em desenvolvimento, e países
desenvolvidos. ................................................................................................... 37
Tabela 7 – Resultado da Comparação Entre as Técnicas de Processos Oxidativos
Avançados (POA) e Adsorção em Carvão Ativado em Pó (CAP) ...................... 41
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA Agência Nacional de Águas


ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BPA Bisfenol A
CAP Carvão Ativado em Pó
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
COT Carbono Orgânico Total
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DQO Demanda Química de Oxigênio
EFSA Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (European Food Safety
Authority
ETA Estação de Tratamento de Água
ETE Estação de Tratamento de Esgoto/Efluentes
EU União Europeia (European Unit)
IQA Índice de Qualidade das Águas
LME Limite de Migração Específica
PNSB Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
POA Processos Oxidativos Avançados
RDC Resolução de Diretoria Colegiada
SNIS Sistema Nacional sobre Informações sobre Saneamento
TDI Consumo Diário Tolerável (Tolerable Daily Intake)
UASB Digestor Anaeróbio de Fluxo Ascendente
U.S. EPA Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (Environmental
Protection Agency of the United States)
UV Radiação Ultravioleta
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 10

2 OBJETIVOS ............................................................................................ 12

3 ESTADO DA TÉCNICA .......................................................................... 13


3.1 POLUIÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS ...................................... 13
3.2 POLUIÇÃO EMERGENTE E DISRUPTORES ENDÓCRINOS ........ 19
3.2.1 Estrogênios Naturais e Sintéticos.......................................................... 24
3.2.2 Xenoestrogênios: Bisfenol A ................................................................. 26

4 TRATAMENTO PARA POLUENTES EMERGENTES E DISRUPTORES


ENDÓCRINOS .......................................................................................................... 29
4.1 PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS (POA) ......................... 31
4.2 TRATAMENTO ATRAVÉS DE ADSORSÃO EM CARVÃO ATIVADO
EM PÓ (CAP) ........................................................................................................ 35
4.3 ANÁLISE E SELEÇÃO DO PROCESSO DE TRATAMENTO DE
ÁGUA / EFLUENTES ............................................................................................ 37

5 DESENVOLVIMENTO ............................................................................ 38
5.1 METODOLOGIA............................................................................... 38
5.1.1 Comparação de Técnicas de Tratamento de Água / Efluentes.............. 38
5.1.2 Análise Crítica da Resolução CONAMA nº 430/2011 ............................ 40
5.2 RESULTADOS ................................................................................. 41
5.2.1 Comparação de Técnicas de Tratamento de Água / Efluentes.............. 41
5.2.2 Análise Crítica da Resolução CONAMA nº 430/2011 ............................ 44

6 CONCLUSÕES ....................................................................................... 48

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 50


10

1 INTRODUÇÃO

O crescimento populacional e a criação de novos processos industriais e


produtos, impulsionados pelo consumismo e a intensa procura do conforto pela
humanidade, têm contribuído para o aumento da poluição dos recursos hídricos, a
partir do despejo de diversas substâncias orgânicas e inorgânicas, tais como:
corantes, pesticidas, detergentes, fármacos, dentre outros.
Segundo Moreira (2011), do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e
Ecologia Humana da Fundação Oswaldo Cruz – Escola Nacional de Saúde Pública,
contaminantes ou poluentes emergentes são substâncias potencialmente tóxicas, das
quais os efeitos ou a presença no ambiente ainda estão sendo pesquisados, mas não
há conclusões assertivas sobre muitos deles. Desta forma, estas substâncias ainda
não estão inclusas em monitoramentos realizados por órgãos de meio ambiente e
saúde, ou inseridos em legislações apropriadas referentes à qualidade das águas e
de despejo de efluentes em corpos d’água e, assim, não há o objetivo de remoção
destes compostos nos tratamentos de água e de efluentes. Como exemplos, pode-se
citar produtos farmacêuticos, de cuidado pessoal, e produtos químicos que provocam
desregulação endócrina, tais como hormônios e esteroides, e produtos de uso
industrial como o Bisfenol A.
Estas substâncias vêm sendo introduzidas no meio ambiente em larga escala,
já que são produtos de uso amplo, e muitos deles são recalcitrantes, ou seja, resistem
à decomposição e degradação, podendo causar diversos riscos à saúde humana e
animal, além de potencialmente aumentar a resistência a antibióticos. Em geral,
entram nos sistemas de tratamento de esgoto, os quais não possuem métodos de
tratamento eficientes para a remoção deste tipo de composto, e portanto, passam
para os corpos hídricos, pela planta de tratamento de água de abastecimento, e
acabam em águas consumidas por humanos e animais. Este quadro é ainda pior no
Brasil, em que no ano de 2012 apenas 38,7% da água consumida nos municípios
brasileiros passou por tratamento de esgoto antes de ser despejado nos corpos
hídricos, de acordo com Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
(BRASIL, 2012).
Dentre os compostos ditos emergentes e interferentes endócrinos, os que vêm
recebendo destaque em pesquisas são os estrogênios naturais e sintéticos e alguns
xenoestrogênios, como o Bisfenol A. O Bisfenol A é um composto plastificante e
11

utilizado como aditivo na síntese, principalmente, de polímeros, cuja presença no


ambiente pode causar efeitos como diabetes, doenças cardíacas e alterações
hormonais. Assim, as indústrias que utilizam este produto em seu processo industrial
são consideradas importantes pontos de aporte deste contaminante para o ambiente
hídrico. No caso dos estrogênios naturais, como estrona (E1), 17β-estradiol (E2), e
estriol (E3), e estrogênios sintéticos, como o 17α-etinilestradiol (EE2), principal
componente de pílulas anticoncepcionais, estes são largamente utilizados nos
tratamentos de reposição hormonal e em métodos contraceptivos. São excretados
através da urina, fezes, durante a menstruação e da gravidez por humanos,
persistindo no meio ambiente.
A preocupação com a contaminação de tais substâncias no meio ambiente, até
por seus efeitos ecotoxicológicos a longo prazo ainda desconhecidos, deve ser
prevenida ou potencialmente minimizada, pelo Princípio da Precaução fundamentado
na Política Nacional do Meio Ambiente, mesmo que tais substâncias ainda não
estejam inclusas nas legislações brasileiras envolvendo potabilidade e qualidade das
águas e efluentes despejados em corpos d’água.
Portanto, de modo a aumentar a eficiência de remoção destes
microcontaminantes nas Estações de Tratamento de Água e de Esgoto (ETAs e
ETEs), deve-se ajustar as ETAs e ETEs incluindo técnicas, as quais, segundo as
pesquisas realizadas nacionalmente e internacionalmente, sejam capazes de remover
ou degradar os poluentes emergentes e disruptores endócrinos.
O presente trabalho teve como motivação as altas concentrações destes
compostos detectadas nas águas de abastecimento e corpos d’água brasileiros, as
quais potencialmente, de acordo com as pesquisas realizadas na área, podem causar
danos a longo prazo, se não tratadas e controladas através da sua inclusão em
legislações apropriadas.
12

2 OBJETIVOS

Os objetivos do presente trabalho são os seguintes:


 Selecionar as duas técnicas de tratamento de água, as quais, segundo
revisão bibliográfica realizada, sejam as mais eficientes para a remoção
de Estrogênios naturais e sintéticos e Bisfenol A;
 Avaliação crítica da Resolução CONAMA nº 430, de 13 de maio de 2011,
que dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes,
complementa e altera a Resolução nº 357/2005; e
 Comparação técnico-econômica das técnicas de tratamento de água
selecionadas, de modo a analisar qual seria a técnica mais adequada a
uma potencial inclusão em uma Estação de Tratamento de Água ou de
Esgoto no Brasil.
13

3 ESTADO DA TÉCNICA

A seção a seguir apresenta referências bibliográficas sobre o tema abordado,


proveniente de consultas a materiais nacionais e internacionais.

3.1 POLUIÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

De acordo com a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, a qual dispõe sobre a


Política Nacional do Meio Ambiente, se define a Poluição como sendo:
“A degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que,
direta ou indiretamente, (i) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-
estar da população, (ii) criem condições adversas às atividades sociais
e econômicas, (iii) afetem desfavoravelmente a biota, (iv) afetem as
condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente, (v) lancem
matérias ou energias em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos (BRASIL, 1981) “.

O crescimento populacional, do consumismo e a intensa procura do conforto


pela humanidade, impulsionou a criação de diversos novos processos industriais,
contribuindo para o aumento da poluição dos recursos hídricos.
Estima-se que nos últimos 60 anos, enquanto a população mundial duplicou
em número, o consumo de recursos hídricos, por sua vez, aumentou sete vezes
(MORAES e JORDAO, 2002, p. 372). Este fato, aliado ao aumento desenfreado da
deposição indevida de rejeitos oriundos dos sistemas de esgoto e do destino incorreto
dos resíduos sólidos por parte da população, tem contribuído para o aumento da
pressão nos recursos hídricos, principalmente nas grandes cidades brasileiras, as
quais, na sua maioria, ficam localizadas longe de reservas hídricas (mananciais) com
volume e qualidade adequados ao consumo humano.
De acordo com o Relatório Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil, da
Agência Nacional das Águas (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS - ANA, 2013), a
disponibilidade hídrica superficial brasileira é de 180.000 m 3/s, o que corresponde a
12% da disponibilidade total mundial. Apesar disso, cerca de 80% desta vazão se
encontra na região Amazônica, a qual é pouco povoada (menos de 5% da população),
conforme ilustra a Figura 1 e Figura 2.
O mesmo relatório aponta que as maiores ameaças à qualidade das águas
brasileiras são o tratamento de esgoto deficiente, além da poluição oriunda das
indústrias e agricultura, principalmente nas áreas urbanas.
14

Figura 1 – Disponibilidade Hídrica Superficial Estimada nas Regiões do Brasil.

Fonte: Relatório Conjunturas dos Recursos Hídricos no Brasil (AGÊNCIA NACIONAL DE


ÁGUAS - ANA, 2013).

O Índice de Qualidade das Águas (IQA), que avalia a qualidade da água para
abastecimento público após o seu tratamento convencional, foi desenvolvido pela
National Sanitation Foundation, adaptado pela Companhia Ambiental do Estado de
São Paulo e é atualmente o mais utilizado no Brasil para este fim.
No ano de 2011, apenas 2% dos pontos de monitoramento situados em áreas
urbanas foram classificados como “ótimos”, segundo classificação do IQA. Além disso,
a água é considerada “péssima” em 12% dos corpos d’água avaliados. O fato que
mais contribui para estes dados alarmantes é o lançamento de esgotos sanitários in
natura ou com tratamento deficiente nas grandes cidades, já que, de acordo com a
Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), no ano de 2008, apenas 29,94%
do esgoto era tratado no Brasil, em relação ao volume de esgoto produzido (BRASIL,
2008).
15

Figura 2 – Mapa de Densidade Demográfica do Brasil.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2010.

Além do lançamento do esgoto sanitário, pode-se citar como fonte de poluição


dos recursos hídricos brasileiros o efluente gerado pelas indústrias, o qual, de acordo
com a Agência Nacional de Águas (ANA), é o terceiro maior uso da água no país em
termos de vazão de retirada, e o quarto em termos de consumo. Conforme se espera,
este tipo de uso está mais concentrado nas Regiões Hidrográficas do Paraná,
Atlântico Sudeste e São Francisco, correspondendo a cerca de 80% das outorgas
emitidas pela ANA para lançamento de efluentes industriais até o ano de 2012.
Dentre os tipos de indústrias com outorgas emitidas pela ANA para captação
de água para fins industriais e lançamentos em rios da união, a fabricação de celulose
e produtos de papel, seguida metalurgia básica, é o tipo de indústria com a maior
vazão outorgada, com, respectivamente, 24% e 19% (AGÊNCIA NACIONAL DE
ÁGUAS - ANA, 2013).
Para lançar qualquer efluente em cursos d’água brasileiros, este precisa
obedecer a Resolução CONAMA nº 430, de 13 de maio de 2011, a qual dispõe sobre
16

as condições, parâmetros, padrões e diretrizes para o lançamento de efluentes. A


Tabela 1 abaixo apresenta os Padrões de lançamento de efluentes. Além destes, o
efluente deve obedecer às seguintes condições:
a) pH: entre 5 e 9;
b) Temperatura: inferior a 40ºC, e a variação entre a temperatura do corpo
receptor não deve exceder a 3ºC na zona de mistura;
c) Materiais sedimentáveis: até 1mL/L;
d) Regime de Lançamento: vazão máxima de até 1,5 vez a vazão média do
período de atividade diária do agente poluidor;
e) Óleos e graxas: óleos minerais de até 20 mg/L, óleos vegetais e gorduras
animais de até 50 mg/L, e ausência de materiais flutuantes;
f) Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO): remoção mínima de 60% de
DBO.

Tabela 1 – Padrões de Lançamento de Efluentes em Corpos d’Água, de acordo com a


Resolução CONAMA nº 430.

Parâmetros Valores Máximos (mg/L)

Parâmetros Inorgânicos
Arsênio total 0,50
Bário total 5,00
Boro total(1) 5,00
Cádmio total 0,20
Chumbo total 0,50
Cianeto livre(2) 0,20
Cianeto total 1,00
Cobre dissolvido 1,00
Cromo hexavalente 0,10
Cromo trivalente 1,00
Estanho total 4,00
Ferro dissolvido 15,00
Fluoreto total 10,00
Manganês dissolvido 1,00
Mercúrio total 0,01
Níquel total 2,00
Nitrogênio amoniacal total 20,00
Prata total 0,10
Selênio total 0,30
17

Parâmetros Valores Máximos (mg/L)

Sulfeto 1,00
Zinco total 5,00
Parâmetros Orgânicos
Benzeno 1,20
Clorofórmio 1,00
Dicloroetenos(3) 1,00
Estireno 0,07
Etilbenzeno 0,84
Fenóis totais(4) 0,50
Tetracloreto de carbono 1,00
Tolueno 1,20
Tricloroeteno 1,00
Xileno 1,60
Legenda: - Não se aplica para o lançamento em águas salinas; - Destilável por ácidos
(1) (2)

fracos; (3) - Somatório de 1,1-Dicloroeteno, Cis-1,2-Dicloroeteno e Trans-1,2-Dicloroeteno; (4) -


Substâncias que reagem com 4-Aminoantipirina.
Fonte: Resolução CONAMA nº 430, de 13 de maio de 2011.

Além disso, o Artigo 3º desta mesma Resolução atesta que “os efluentes de
qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados diretamente nos corpos
receptores após o devido tratamento e desde que obedeçam às condições, padrões
e exigências dispostos nesta Resolução e em outras normas aplicáveis. “
Sendo assim, tornou-se indispensável para as indústrias investir e implantar
diferentes plantas de tratamento de efluentes, as quais, pela extrema complexidade e
diversidade dos diferentes tipos de efluentes industriais, devem ser estudadas e
aplicadas de maneira individual, de maneira a remover a sua carga poluidora e, no
melhor dos casos, a sua completa mineralização (SANCHES FREIRE, PELEGRINI,
et al., 2000). Ademais, o tratamento se tornou uma possibilidade para as indústrias de
reutilização do seu efluente gerado, ou talvez comercializá-lo com outras empresas,
se tornando uma oportunidade para economias ou fontes extras de ganhos.
De maneira geral, os sistemas de tratamento de efluentes, tanto industriais
quanto de esgotos domésticos e de água para abastecimento público, podem ser
classificados em físicos, químicos e biológicos, conforme ilustra a Figura 3 abaixo.
18
ênicos. Hoje A Figura 2 esquematiza, de uma maneira geral, os princi-
ui proprieda- pais métodos de tratamento de efluentes industriais.
m de outros Figura 3 – Classes de Tratamento de Efluentes.

TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS


halogenadas
voláteis pro- BIOLÓGICO FÍSICO QUÍMICO
ade de com-
Aeróbio Anaeróbio Decantação Filtração
nte, os mais Incineração POA Eletroquímico

o seu efeito Enzimático Adsorção


Fotocatálise Ozonização Fenton

da de 50 em
e incêndio e Figura 2. Organograma Legenda: POA:dasProcessos
classes Oxidativos
de tratamento Avançados. de efluentes (POA
ao seu custo = Processos Oxidativos Fonte: (SANCHESAvançados).
FREIRE, PELEGRINI, et al., 2000).

co-químicas.
Os tratamentos classificados como físico-químicos são empregados com a
alcancem as PROCESSOS FÍSICOS
m reagir com finalidade de remoção de partículas coloidais e sólidos em suspensão, sendo muito
tmosfera de utilizados Os para tratamento de água para abastecimento, quando o manancial tem certa
tratamentos físicos são caracterizados por processos de:
· separação
qualidade, que dispensadeoutros fases:tipossedimentação,
de tratamento mais decantação,
avançados (SANCHES filtração,
mais contri- FREIRE, PELEGRINI,
centrifugação flotação;
et al.,e 2000). Este tipo de tratamento também visa remover
· transição
nte por com- organismos patogênicos deoufases: destilação,prejudiciais
outras substâncias evaporação, à saúde cristalização;
humana, através
· transferência
grande gama da cloração ou aplicação de de fases:
radiação adsorção,
ultravioleta. “air-stripping”,
Os principais processos ditos extração
físico-
ueamento da por solventes;
com cloro, é químicos são a: coagulação, floculação, decantação/flotação e filtração, e também há
· separação molecular: hiperfiltração, ultrafiltração, osmose
as separações físicas através do gradeamento, peneiramento e caixas separadoras
ganoclorados reversa, diálise.
amente tóxi- de água, óleoDe emaneira
gorduras.geral,Podemos oscitar também os processos
procedimentos citados puramente
permitem químicos,
uma
cloroguaia- como depuração
a troca iônica, dos oxidação, neutralização,
efluentes, osmose reversa,
entretanto, as substânciasdentre outros. contami-
dedicados à nantes não são
Como veremos maisdegradadas ou eliminadas,
adiante, o tratamento através de mas apenasOxidativos
Processos transfe-
ento, com o Avançadosridas(POA)
paravem uma nova
sendo fase. para
estudado Nestas a remoçãonovasdas fases, embora
substâncias o volu-
classificadas
clorados nos
como me seja Emergentes,
Poluentes significativamente os quais sãoreduzido,
baseados nacontinua geração dopersistindo
radical hidroxilao
ndo bastante problema, pois os poluentes encontram-se concentrados, sem
clorados em (OH∙), que possui alto grau oxidativo, tendo o poder de degradar substâncias
serem efetivamente degradados.
a indústrias recalcitrantes,
Estudoscomo é o caso dos poluentes emergentes.
sobre eliminação de clorofenóis em carbono ativa-
27
Já os, processos biológicos utilizam reaçõesSephadexbioquímicas28para a eliminação dos
do de clorodioxinas em suporte e de cloroetanos
em surfactantes
contaminantes solúveis 29 ou, têm sido sendo
coloidais, recentemente classificados registrados.
como aeróbicos A efici- ou
ência dependendo
anaeróbicos, destes sistemas mostra-seresponsável
do microrganismo elevada, pelo entretanto,
tratamentoproblemas
(SANCHES
FREIRE,associados
PELEGRINI, à perda de atividade
et al., 2000). Exemplos dos adsorventes,
de tratamentos tornam
biológicos são os os
procedimentos pouco viáveis economicamente.
sistemas de lodos ativados, lagoas aeradas e reatores biológicos como o UASB
Apesar disto, a utilização dos métodos físicos como etapas
(Digestor Anaeróbio de Fluxo Ascendente).
de pré-tratamento ou polimento do processo final possui extre-
ma importância
De acordo com Sanches em um Freire, Pelegrini, efetivo.
tratamento et al. (2000), Neste os sentido,
tratamentosa
tecnologia
biológicos de filtração
fundamentam-se com membranas
na utilização dos contaminantes, vem demonstrando
ou dos compostos um
tóxicosalto
de potencial,
interesse, como principalmente
substrato para no otratamento
crescimentoe ereaproveitamento
a manutenção da
de águas residuais de processos industriais 30-32
.
presentes nos
PROCESSOS BIOLÓGICOS
19

população do microrganismo, sendo que a principal aplicação deste tipo de tratamento


está na remoção de carga orgânica, usualmente avaliada através da Demanda
Bioquímica de Oxigênio (DBO), Demanda Química de Oxigênio (DQO) ou Carbono
Orgânico Total (COT). Desta forma, o tratamento biológico é largamente utilizado para
o tratamento de esgoto sanitário, e efluentes industriais com alta carga orgânica, tais
como os originados nas indústrias de papel e celulose, e também da indústria
sucroalcooleira.

3.2 POLUIÇÃO EMERGENTE E DISRUPTORES ENDÓCRINOS

Segundo Moreira (2011), do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e


Ecologia Humana da Fundação Oswaldo Cruz – Escola Nacional de Saúde Pública,
contaminantes ou poluentes emergentes são substâncias potencialmente tóxicas, das
quais os efeitos ou a presença no ambiente são ainda pouco conhecidos. Sendo
assim, estas substâncias ainda não estão inclusas em monitoramentos realizados por
órgãos de meio ambiente e saúde, ou inseridos em legislações apropriadas, tais como
a CONAMA nº 430, apresentada na Seção 3.1 deste trabalho. Além disso, são
substâncias que vêm sendo amplamente e massivamente utilizadas pelos seres
humanos, e contaminando os cursos d’água, mesmo em concentrações na ordem das
nanogramas ou microgramas por litro, já que os tratamentos de água e efluentes
existentes e tradicionais (como os apresentados anteriormente neste trabalho) não os
remove de maneira satisfatória.
Exemplos de contaminantes emergentes são fármacos, produtos de higiene
pessoal, redardantes de chama, surfactantes, hormônios naturais e sintéticos, dentre
outros, conforme está apresentado na Tabela 2 abaixo.
Tabela 2 – Classificação e Exemplos de Contaminantes Emergentes.
Classe de Substâncias Exemplos
Fármacos
Antibióticos Trimetroprim, eritromicina, lincomicina, sufametazona
Analgésicos e drogas anti- Codeína, ibuprofeno, acetaminofeno, ácido acetilsalicílico,
inflamatórias diclofenaco, fenoprofeno
Drogas Psiquiátricas Diazepan
Reguladores Lipídicos Bezafibrato, ácido clofíbrico, ácido fenofíbrico
ß-Bloqueadores Metoprolol, propranolol, timolol
Contrastes (Raio-X) Iopromide, iopamidol, diatrizoate
Esteróis e Hormônios
20

Classe de Substâncias Exemplos


Contraceptivos Estradiol, Estrona, Estriol, Dietilestilbestrol
Produtos de Uso Pessoal
Fragrâncias Nitropolicíclicos e Macocíclicos
Agentes de Protetor Solar Benzofenona, Cânfora Metilbenzílideno
Repelentes N,N-Dietiltuluamida
Surfactantes
Surfactantes Alquilfenol etoxilados, alquilfenóis, alquilfenol carboxilados
Redardantes de Chama
Difenil éteres polibromados (PBDEs), Tetrabromo bisfenol A,
Redardantes de Chama Tris(2-cloroetil)fosfato
Agentes e Aditivos Industriais
Agentes e Aditivos Industriais Agentes quelantes (EDTA), sulfonados aromáticos
Aditivos de Gasolina
Aditivos de Gasolina Dialquiléteres, metil-t-butil éter (MTBE)
Produtos de Desinfecção

Produtos de Desinfecção Iodo-THMs, bromoácidos, bromoacetonitrilas,


bromoaldeídos, cianoformaldeídos, bromatos, NDMA
Fonte: Barceló, 2003.

A presença de fármacos em efluentes de Estações de Tratamento de Esgotos


(ETEs) e águas de abastecimento vêm gerando a atenção de pesquisadores, pelos
potenciais riscos à saúde humana e de animais, tais como o aumento à resistência de
antibióticos (MCKEON, CALABRESE e BISSONNNETTE, 1995).
De maneira geral, os fármacos são desenvolvidos para serem resistentes, de
modo a atingirem o seu objetivo terapêutico. Estudos realizados por Mulroy (2001)
estimaram, que cerca de 50% a 90% da dosagem utilizada do fármaco pelo paciente
não é transformado em seu organismo, sendo excretado através da urina, ou em
menor proporção, por meio das fezes, persistindo no meio ambiente. A taxa de
excreção na sua forma inalterada depende do tipo de fármaco, da dose e do próprio
indivíduo que o utilizou. Da mesma forma, uma vez no ambiente, o destino dos
fármacos depende de suas características estruturais e propriedades físico-químicas,
tais como fotossensibilidade e biodegradabilidade.
Sendo assim, os fármacos alcançam o sistema de esgoto, passando pelas
ETEs, e atingindo os corpos d’água. Como atualmente as plantas de tratamento de
água para abastecimento e tampouco as de esgoto são preparadas para a remoção
eficiente deste tipo de substância, estas atingem as águas consumidas pelos
21

humanos. A baixa taxa de tratamento de esgoto no Brasil, conforme apresentado


anteriormente neste trabalho, é um agravante a esta situação.
A Figura 4 abaixo apresenta um fluxograma dos possíveis caminhos para os
fármacos no meio ambiente, até atingir as águas de abastecimento. Os demais
contaminantes emergentes apresentados na Tabela 2 possuem rotas semelhantes a
Dezotti atingindo também as plantas de esgoto e de tratamento Quim.
dos efármacos,
Bila Nova
de água.
Figura 4 – Possíveis Rotas dos Fármacos no Meio Ambiente.

lfametoxazol em
ocina, trimetoprim
ações na faixa de
na Alemanha por
cos sulfonamidas
ais e efluentes de

stradiol), como o
m esgoto domésti-
rnes et al.3 identi-
goto doméstico e
Concluíram que
nos descartes de
pleta na passagem

rentes ambientes
es contaminantes Fonte: Bila e Dezotti, 2003.
Figura 1. Possíveis rotas de fármacos no meio ambiente
L e ng/L. A Tabela
de fármacos de- Além da ingestão de água contaminada, os seres humanos estão expostos aos
Um
contaminantes emergentes de fármacos
caminho através residuais
da ingestão de alimentos, comoaquático
no ambiente carne de pode
frango,
bovina eser devido
suína, ao esterco
peixes, ser eusado
e legumes como
verduras. Emfertilizantes e, dessapode
menor proporção, forma,
haver
contaminação a contaminação
ocorrevia dasouáguas
contato dérmico de subsolo.
inalação, Outra contaminação
caso alguma das substâncias
pode ser devido ao uso do lodo digestivo proveniente das ETEs na
emergentes seja volátil (RAIMUNDO, 2007).
lguns metabólitos agricultura.
Dentre os contaminantes emergentes, deve-se destacar os chamados
em águas de rios Os antibióticos são usados como promotores de crescimento na
disruptores
ncentração média, ou interferentes
produção de gado, na endócrinos.
produção Segundo o Programa
avícola e são Internacional
intensivamente usadosde
stigados esteve Segurança
na Química
como (International
aditivos de alimentoProgramme
de peixe naon aquicultura e criação
Chemical Safety – IPCS), uma
de por-
substância
médias situaram-se 29-31
cosclassificada
. Sendo como
assim,disruptora endócrina pode
podem contaminar seráguas
o solo, definida como “uma
de subsolo e
moção incompleta superficiais.
substância ou misturaDevidoexógenaao uso
quenaaltera
cultura de peixes,
a função sistemaantibióticos
do alguns endócrino e
descarte de esgo- como o cloranfenicol e o oxitetraciclina são detectados em sedimen-
consequentemente causa efeitos adversos em um organismo intacto, ou em seus
viduais durante a tos de origem marinha45,46 .
Uma outra fonte de contaminação ambiental que tem sido obser-
sil, realizado por vada é conseqüente da disposição de resíduos provenientes de in-
gênios naturais e dústrias farmacêuticas em aterros sanitários, contaminando as águas
22

descendentes, ou subpopulações” (SODRÉ, MONTAGNER, et al., 2007). Sendo


assim, estes compostos são classificados não por sua classe química, mas sim pelo
seu potencial efeito biológico, além de serem hormonalmente ativo, causando
alterações nos sistemas endócrinos de humanos e animais, mesmo em
concentrações baixas.
O sistema endócrino nos humanos e animais tem vital importância, sendo
composto por glândulas endócrinas, as quais produzem os hormônios e estão
amplamente distribuídas pelo corpo. Por sua vez, as glândulas liberam os hormônios
diretamente na corrente sanguínea, no interior dos capilares. Portanto, o sistema
endócrino produz seus efeitos através da secreção dos hormônios, que são os
mensageiros químicos que influenciam ou controlam as atividades de outros tecidos
ou órgãos. Pode-se afirmar que este sistema responde de maneira mais lenta e causa
efeitos mais duradouros, quando comparado com o sistema nervoso, por exemplo.
Suas principais glândulas são a hipófise, tireoide, paratireoides, suprarrenais,
pâncreas, ovários e testículos, timo e glândula pineal, que controlam desde a
produção de energia até hormônios relacionados com a defesa contra infecções, e
auxiliam no controle e maturação sexual.
Como exemplos de disruptores endócrinos, pode-se citar os estrogênios
naturais ou sintéticos e alguns xenoestrogênios, tais como o Bisfenol A, os
surfactantes alquilfenóis e alguns ftalatos.
O interesse nestas substâncias específicas se deu a partir de pesquisas, nas
quais se concluiu que houve anormalidades no sistema endócrino de animais, quando
expostos a estes compostos. A primeira vez que houve a hipótese dos efeitos dos
disruptores endócrinos foi no início da década de 1980, quando houve a observação
de características femininas em machos de aves da região dos Grandes Lagos e
também em jacarés habitantes do lago Apopka nos Estados Unidos, as quais estavam
expostas ao pesticida organoclorado DDT (Diclorodifeniltricloroetano) (REIS FILHO,
LUVIZOTTO-SANTOS e VIEIRA, 2007). Houve também relatos de pescadores
britânicos sobre características sexuais como intersexo ou hermafroditismo em peixes
da espécie Rutilus rutilus em uma lagoa próximo de um ponto de descarga de uma
estação de tratamento de efluentes.
Outros efeitos citados na literatura incluem diminuição na eclosão de ovos de
pássaros, peixes e tartarugas, problemas no sistema reprodutivo de diversas espécies
de animais, diminuição da quantidade de espermatozoides no sêmen e,
23

consequentemente, da fertilidade masculina, aumento da incidência de câncer de


mama, testículo, próstata, dentre outros (BILA e DEZOTTI, 2007).
Os disruptores endócrinos podem causar efeito em diversos estágios da
dinâmica hormonal, tais como a produção de hormônios, ligação aos receptores, ação
hormonal, excreção
“Ocorrência e biotransformação,
de interferentes atuando
endócrinos e produtos tanto nos
farmacêuticos sítiossuperficiais
nas águas receptores quanto
da bacia do rio Atibaia”

nas enzimas específicas responsáveis pelo ciclo hormonal. Além disso, é possível
também haver interferência nas interconexões entre o sistema endócrino com os
Os compostos interferentes endócrinos podem agir no sistema endócrino de
sistemas nervosos e imunológico (REIS FILHO, LUVIZOTTO-SANTOS e VIEIRA,
diversas maneiras, eles podem imitar um hormônio natural e dessa forma se ajustarem
2007).
aos sítios receptores enviando mensagens aos genes que respondem a elas gerando
De acordo com Baldisserotto (2013), os hormônios podem ser classificados da
uma reação de atividades em cadeia alterando as funções biológicas do organismo;
seguinte forma, quanto às suas propriedades químicas:
alguns compostos são capazes de incentivar a produção de hormônios e outros podem
a) Peptídicos e proteicos: são hidrossolúveis e o maior grupo de hormônios
agir bloqueando a produção deles ao ocuparem os sítios receptores; os interferentes
existente. Um exemplo seria a prolactina, responsável pelo estímulo da
endócrinos podem ainda estimular a excreção dos hormônios deixando o organismo
produção de leite pelas glândulas mamárias;
defasado
b) ou causando
Esteroides: a constante
Lipossolúveis produção
e derivados do hormônio
do colesterol; e eliminado a fim de repor
aquele
c) excretado;
Derivados um outro mecanismo
de aminoácidos: São derivados é por
de ação da meio da
tirosina inativação das
(aminoácido) e enzimas
responsáveis pela da
resíduos iodados decomposição
tirosina. dos hormônios para excreção, o que gera um
acúmuloosdeles
Todos no organismo
esteroides possueme este
em por sua vez,
comum respondequímica
a estrutura a uma básica
atividade que já
deveriaCiclopentanoperidrofenantreno
denominada ter sido cessada; e por fim,(Figura
esses 5),
compostos
e incluempodem agir destruindo ou
os hormônios
sexuais,modificando
tais como aa testosterona
estrutura deeum hormônioa natural
o estradiol, vitaminaimpedindo dessa forma
D e os esteróis, como que
a eles se
liguem
digitalina. aos masculino,
No sexo sítios receptores no organismo
os hormônios (Birkett
sexuais e Lester, são
predominantes 2003).
denominados
androgênios, enquanto que, no sexo feminino, estrogênios. Ambos são responsáveis
Quimicamente, os hormônios são proteínas derivadas de aminoácidos ou
pelas características sexuais secundárias de cada gênero e pela reprodução,
esteróides. Segundo a IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry), os
podendo atuar também nos sistemas imunológicos e cardiovascular, na pele, ossos,
esteróides compreendem uma classe de hormônios cuja estrutura básica é formada
fígado e até no cérebro. O excesso de estrogênios no sexo masculino pode feminizá-
pelo ciclo[a]fenantreno (Figura 2). Nessa estrutura podem existir ligações duplas,
lo.
metilas, carbonilas e hidroxilas, dando origem a uma série de hormônios esteroidais.
Figura 5 – Estrutura Química Básica dos Esteroides: Ciclopentanoperidrofenantreno.

Figura 2: Estrutura básica dos esteróides.

Nos homens os hormônios predominantes são os androgênios e nas mulheres, os


estrogênios. Os androgênios são uma classe de hormônios sexuais, produzidos pelas
glândulas adrenais e testículos, incluem o androsterona e testosterona, sendo
24

De acordo com Gutendorf e Westendorf (2001), os estrogênios podem ser


classificados da seguinte forma quanto à sua origem:
a) Os que ocorrem naturalmente no organismo;
b) Os que são sintetizados para serem ingeridos como medicamento;
c) Os fitoestrogênios presentes em plantas alimentícias, muitas das quais
benéficas à saúde humana; e
d) Os xenoestrogênios, substâncias sintetizadas pelo homem e presentes em
produtos de uso doméstico.

3.2.1 Estrogênios Naturais e Sintéticos

De acordo com Hans Wolfgang Halbe, do Departamento de Obstetrícia e


Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, os estrogênios
naturais são o estradiol, estrona e estriol, sendo que estes possuem as relações
químicas apresentadas na Figura 6. Nesta mesma figura, estão apresentadas as vias
para a biossíntese deste tipo de hormônio, que ocorre a partir de 3 etapas (HALBE,
1965):
I) Via inicial comum: compreendida pelo acetato e colesterol;
II) Via principal: quando ocorre nas gônadas e placenta, compreende as
substâncias pregnenolona, progesterona e androstenediona. Se ocorre
nas glândulas adrenais, compreende os compostos pregnenolona,
deidroepiandrosterona e androstenediona. Ambas as vias citadas
podem coexistir nos órgãos mencionados; e
III) Via final comum: transformação androstenediona ou testosterona em
estrona, através da ação da enzima aromatase.
Figura 6 – Biossíntese dos Estrogênios Naturais, e suas Relações Químicas.

Fonte: Raimundo, 2007.


25

De acordo com Raimundo (2007), a principal forma de excreção deste tipo de


hormônio natural é o estriol, sendo que a sua quantidade depende da idade, do estado
de saúde, dieta da pessoa ou gravidez. Estima-se que uma mulher grávida excrete
mil vezes mais estrogênio do que uma mulher em atividade normal, na ordem de 0,3
a 5 μg de estriol diariamente.
Por outro lado, há também os estrogênios sintéticos, os quais são utilizados
principalmente com princípios farmacêuticos. De maneira geral, os estrogênios
sintéticos são estrogênios que tiveram suas estruturas moleculares alteradas, tendo
a tendência de serem mais potentes e mais ativos do que os naturais (RAIMUNDO,
2007), já que os hormônios naturais são metabolizados pelo fígado e excretados de
maneira bem mais rápida e fácil pelo corpo.
Os estrogênios sintéticos, como o 17α-etinilestradiol (17α-EE2) e derivados do
norgestrel, são utilizados, principalmente, como contraceptivos (hormônios inibidores
dos processos de ovulação), além de controlarem os sintomas de menopausa,
distúrbios fisiológicos, auxiliarem no tratamento de câncer de próstata e mama, e em
terapias de reposição hormonal (GHISELLI e JARDIM, 2007). Em geral, as mulheres
consumem nestes tipos de tratamento cerca de 20 a 50 μg de estrogênios diários,
mas podendo chegar até 500 μg. (RAIMUNDO, 2007).
De acordo com Ghiselli e Jardim (2007), para se obter os esteróides sintéticos,
é necessário alquilar (principalmente os grupos metila e etila) ou esterificar os
hormônios naturais. Os esteróides sintéticos mais utilizados são o etinilestradiol,
mestranol, norgestrel, noretisterona, dentre outros, como os anabolizantes. As
estruturas químicas dos principais hormônios sexuais se encontram apresentadas na
Figura 7.
e infertilidade e descontro- pais esteróides mencionados. A Tabela 2 fornece algumas proprie-
idamente absorvidos pelo dades físico-químicas, ocorrência e utilização dos esteróides aqui
3,4,21,23,27,52
gado . abordados. Apenas para o etinilestradiol foi encontrado um valor
os ou anabolizantes sinté- que estimasse sua toxicidade aguda. O LD50, via oral em camun- 26
químicas relacionadas es- 55
dongos, equivale a 1737 mg/kg . Os compostos estradiol, estriol,
osterona pode ser aroma- progesterona e etinilestradiol são classificados como sendo poten-
pal via de biossíntese de Figuracialmente cancerígenos
7 – Estruturas
27
Químicas dos. Principais Hormônios Sexuais (Sintéticos e Naturais).
a menopausa. A aplicação
ênios possuem é a de su-
os testículos e aumentar a
er esses efeitos os ésteres
ma livre, podendo ser apli-
itas muitas alterações na
seus efeitos androgênicos
zantes. Por exemplo, a re-
menta o efeito anabólico e
-nortestosterona 21,32.
nte obtidos a partir de rea-
s metila e etila) ou esteri-
indo-os da metabolização
o assim o efeito desejado.
os são o etinilestradiol e
isterona (progestagênicos),
trenol, mesterolona, fenil-
e ésteres da testosterona, Fonte: Adaptado de Ghiselli e Jardim (2007).

ênios, tanto naturais quan-


3.2.2 Xenoestrogênios: Bisfenol A
te pela urina, na forma bi-
jugados solúveis em água
Xenoestrogênios são substâncias químicas sintéticas utilizadas como matéria-
s) e em menor proporção
o variações com relação prima ou à fabricadas durante processos industriais, e que são suspeitas de causarem
catabolismo biológico. Sob no sistema endócrino de indivíduos expostos a elas, por mimetizarem o
alterações
o rapidamente hidrolisados,
estrogênio. Nesta classe, estão inclusos diversos compostos organoclorados
abólitos 3,4,21,27,52 .
ntes quantidades persistentes,
de este- tais como os pesticidas DDT (Diclorodifeniltricloroetano), toxafeno,
o da idade, do estado dieldrindee bifenilas, assim como substâncias não organocloradas, como bifenóis,
o curiosidade, a quantida-
lher grávida podeftalatos,
ser até alquilfenóis, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, dentre outros
em atividade normal (GHISELLI
(da e JARDIM, 2007).
mg estriol/dia, e 0,3 a 5 mg Dentre estes, destaca-se o grupo de substâncias denominadas Bisfenol, grupo
gravidez4.
s pesquisadores que de inves-
difenilalcanos utilizados, principalmente, durante a produção de plásticos. O
s esteróides sexuais como representante
principal Figura 3. deste grupoquímicas
Estruturas de compostos é o denominado
dos principais esteróides Bisfenol
sexuais eA (BPA),
ários estudos foram um reali-
monômero fitoesteróides
de plástico policarbonato, e também utilizado para fabricação de
ncentrações dos hormônios
identificando suas resinas
possí-epóxiFitoestrogênios
para envernizamento interno e externo de latas de alimento, e em
o nos EUA, mostrou que
mamadeiras e garrafões de água.
eles apresentavam concen- Os fitoestrogênios são substâncias químicas naturais contidas
O BPA é produzido a partir de uma reação em meio ácido ou básico entre a
L. Dentre estas áreas, três nas plantas, que possuem atividade estrogênica e que atuam como
acetona
pregavam como fertilizan- e o fenol (BEN-JONATHAN
constituintes e STEINMETZ,
das membranas 1998),
celulares, como sendo que
hormônios de sua
cres-estrutura
rango) enquanto químicaque ape-é de dois
cimento,
anéiscomo antioxidantes
de fenol (proteção
insaturados, bastantecontra as radiações
semelhante UV),
ao dietilestilbestrol
o. Amostras de esgoto do- fungicidas, e algumas vezes como herbicidas. Estes fitoquímicos
de uma estação de trata- não nutricionais somam mais de 12.000 substâncias químicas na-
eores de hormônios natu- turais presentes nos alimentos de origem vegetal. Diferentemente
-73 ng/L para estrogênios dos hormônios sexuais, os fitoestrogênios são substâncias não
27

(Figura 7). A abaixo apresenta a reação de síntese do BPA (BERNARDO, NAVAS, et


al., 2015).
Figura 8 – Reação de Síntese do Bisfenol A.

Fonte: Bernardo, Navas, et al. (2015).

No ano de 2012, houve uma produção mundial de BPA de mais de 4,6 milhões
de toneladas, sendo a Ásia o produtor principal, com 53% da produção, seguida pela
Europa e América do Norte, com, respectivamente, 25% e 18% (ASTER, 2014). Havia
ainda previsão de maior crescimento na produção mundial do produto.
No que se refere a legislações acerca do BPA, a Autoridade Europeia de
Segurança Alimentar (European Food Safety Authority – EFSA) definiu o Consumo
Diário Tolerável (Tolerable Daily Intake – TDI) do BPA como sendo 0,05 mg BPA/kg
de peso corporal/dia, com base em pesquisas científicas referentes à toxicidade do
produto realizadas em ratos. Em 2008, o Canadá proibiu o uso de policarbonatos na
confecção de mamadeiras e estabeleceu limites estritos para BPA em latas de
produtos infantis. Além disso, na Dinamarca, no ano de 2010, o BPA foi banido em
materiais que possuem contato com alimentos destinados a crianças de 0 a 3 anos.
Na França, o governo proibiu temporariamente a fabricação, a importação, a
exportação e venda de mamadeiras que contenham este composto orgânico
(BERNARDO, NAVAS, et al., 2015).
Em 2011, a Comissão Europeia publicou o Regulamento (EU) nº 10/2011, de
14 de janeiro de 2011, o qual autoriza o uso de Bisfenol A em embalagens plásticas
destinadas a entrar em contato com alimentos, com o limite de migração específica
(LME) de 0,6 mg de Bisfenol A/kg de alimento na União Europeia. Posteriormente,
publicou a Diretiva nº 8, de 28 de janeiro de 2011, onde o LME de BPA permaneceu
o mesmo, mas o uso do material plástico policarbonato foi proibido para a fabricação
de mamadeiras destinadas a lactentes. Além disso, foi publicado o Regulamento (EU)
nº 321/2011, que altera o Regulamento (EU) nº 10/2011, restringindo o uso do BPA e
proibindo a utilização do policarbonato na fabricação de mamadeiras destinadas a
lactentes (COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS, 2011).
28

No Brasil, o uso do BPA para fabricação de materiais destinados ao contato


com alimentos é regulamentado através do Anexo II da Resolução nº 105 e pela RDC
nº 17, respectivamente, de 19 de maio de 1999 e 17 de março de 2008. A primeira
Resolução estabelece a lista de polímeros e resinas permitidos para embalagens e
equipamentos plásticos em contato com alimentos, enquanto a segunda RDC dispõe
sobre regulamentos técnicos sobre a lista positiva de aditivos para materiais plásticos
destinados à elaboração de embalagens e equipamentos em contato com alimentos
(BRASIL, 1999; BRASIL, 2008).
Ambas as Resoluções citadas acima estabelecem diferentes LMEs para o BPA:
enquanto a RDC nº 105/1999 estabeleceu que um LME de 3 mg de BPA / kg de
alimento seria suficiente para evitar efeitos toxicológicos nocivos aos indivíduos
expostos, a RDC nº 17/2008 é mais restritiva, estabelecendo o LME em 0,6 mg de
BPA / kg (BRASIL, 1999; BRASIL, 2008).
Tal discrepância entre os LME de BPA foi reparada com a Resolução RDC nº
41, de 16 de setembro de 2011 da ANVISA. Em seu artigo 1º., proíbe a fabricação e
importação de mamadeiras para alimentação de lactentes (crianças menores de doze
meses de idade) que contenham a substância Bisfenol A na sua composição e no
artigo 2º. substitui o LME de Bisfenol A do Anexo II da Resolução nº 105/99 para 0,6
mg/kg (BRASIL, 2011; PEREZ, 2012).
29

4 TRATAMENTO PARA POLUENTES EMERGENTES E DISRUPTORES


ENDÓCRINOS

Na legislação brasileira, o Princípio da Precaução está fundamentada na Lei nº


6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente. Tal princípio implica que se deve realizar ações antecipatórias à ocorrência
ambiental, e forma que na ausência da certeza científica formal, a existência de um
risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que
possam prever este dano (BRASIL, 1981).
Conforme detalhado na Seção 3 deste trabalho, os efeitos toxicológicos dos
poluentes emergentes e disruptores endócrinos ainda estão sendo elucidados através
de extensos estudos, todavia nem todos eles foram confirmados. Portanto, fica claro
que, de maneira a obedecer ao Princípio da Precaução, seria recomendado tratar a
água nas Estações de Tratamento de Água para abastecimento (ETAs) e de Esgoto
(ETE) para a remoção destes poluentes, mesmo que essas substâncias ainda não
estejam inclusas em legislações pertinentes envolvendo potabilidade.
De acordo com o apresentado na Seção 3.1 deste trabalho, existem diversos
de métodos de tratamento de águas de abastecimento e efluentes, muitos dos quais
já foram estudados para a remoção de poluentes emergentes e disruptores
endócrinos.
Tratamentos físico-químicos convencionais, tais como coagulação e floculação,
se mostraram insatisfatórios para a remoção de muitos disruptores endócrinos,
conforme pesquisas realizadas por Westerhoff et al. (WESTERHOFF, YOON, et al.,
2005) e Adams et al. (ADAMS, WANG, et al., 2002). Westerhoff (2005) utilizou uma
planta de tratamento de água convencional em escala de bancada para tratar uma
água contendo diversos tipos de farmacêuticos e disruptores endócrinos, resultando
em remoção pouco significativa, aumentando-a com a utilização de carvão ativado em
pó (CAP) e oxidação através de ozonização e cloração. Adams (2002) também obteve
resultados pouco expressivos para o tratamento de água contendo os farmacêuticos
carbadox, sulfadimetoxina e trimetoprima utilizando os coagulantes sulfato de
alumínio e férrico.
Os tratamentos biológicos, tais como lodos ativados e biofiltros, possuem a
capacidade de converter compostos orgânicos dissolvidos na água em biomassa, a
qual pode ser separada da solução aquosa por sedimentação (clarificação). Apesar
30

disso, Johnson e Sumpter (JOHNSON e SUMPTER, 2002) concluíram que nem todos
os disruptores endócrinos são convertidos em biomassa, incluindo os estrogênios.
Sendo assim, os tratamentos biológicos, amplamente utilizados nas Estações de
Tratamento de Esgoto (ETEs) removem apenas parte da enorme quantidade de
contaminantes emergentes, descartando-os no efluente final (BOLONG, ISMAIL, et
al., 2009).
Já os tratamentos avançados, tais como oxidação avançada, e também
tratamentos com carvão ativado em pó, têm se mostrado mais eficientes para
remoção de alguns poluentes emergentes e disruptores endócrinos. Schaefer,
Nghiem e Waite (SCHAEFER, NGHIEM e WAITE, 2003) concluíram que há potencial
de remoção de até 90% de poluentes emergentes através do tratamento com carvão
ativado em pó (CAP) (BOLONG, ISMAIL, et al., 2009).
A Tabela 3 abaixo apresenta a eficiência de remoção de disruptores endócrinos
através de alguns tipos de tratamento de água, conforme pesquisas realizadas.
Tabela 3 – Eficiência de remoção de disruptores endócrinos através de alguns tratamentos de
água.
Tratamento Eficiência de Remoção
Menos de 20% de remoção de disruptores endócrinos,
Coagulação utilizando
especialmente os associados com material particulado
sulfato de alumínio ou
Presença de Carbono Orgânico Dissolvido (COD) hidrofóbico
férrico
aumenta a eficiência de remoção, aumentando a separação
Menos de 20% de remoção de disruptores endócrinos, em valores
Abrandamento com Cal
de pH entre 9 e 11
Mais de 90% de remoção de diversos disruptores endócrinos
(dosagem de 5 mg/L de CAP e tempo de contato de 4 horas)
Carvão Ativado em Pó Alguns disruptores endócrinos, tais como ibuprofeno,
(CAP) sulfametoxazol e meprobamato, têm remoções menores (40-60%)
Compostos hidrofóbicos possuem eficiência de remoção melhores
do que compostos polares
Remoção depende da biodegradabilidade do composto, mas a
Biofilme
eficiência de remoção através deste tratamento ainda é incerta
Eficiência é de mais de 90% para os compostos mais reativos
contendo estruturas aromáticas com grupos funcionais de hidróxido
Cloração
Este tratamento não é recomendado, pois produz subprodutos
clorados ao reagir com os disruptores endócrinos
Tratamento semelhante à cloração, mas com taxas de remoção
ligeiramente mais elevados
Ozonização
A adição de peróxido de hidrogênio, juntamente com o ozônio, pode
aumentar ligeiramente a remoção de disruptores endócrinos
Fonte: Adaptado de Bolong, Ismail, et al., 2009.

Conforme se vê acima, os tratamentos que possibilitaram maior eficiência na


remoção de diversos disruptores endócrinos, segundo as pesquisas consultadas,
foram os avançados, tais como os Processos Oxidativos Avançados (POA) e
31

processos utilizando Carvão Ativado em Pó. A seguir, haverá o detalhamento destes


2 tratamentos.

4.1 PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS (POA)

Dentre os métodos de tratamento disponíveis para águas de abastecimento e


efluentes, os Processos Oxidativos Avançados (POA) vêm se destacando devido a
sua alta eficiência na remoção dos compostos orgânicos recalcitrantes, incluindo
poluentes emergentes e disruptores endócrinos (SANCHES FREIRE, PELEGRINI, et
al., 2000).
Este tipo de tratamento baseia-se na formação do radical hidroxila (OH∙) por
um oxidante, o qual possui com alto poder de oxidar e degradar os poluentes mais
ativos e persistentes, transformando-os em dióxido de carbono, água e ânions
inorgânicos. Conforme se pode ver na Tabela 4, o radical hidroxila possui potencial
de oxirredução de 2,8V, apenas menor do que o Flúor.
Tabela 4 – Potencial de Oxirredução de Algumas Espécies Químicas.
Espécie Química Potencial Redox (V)
Flúor 3,03
Radical Hidroxila 2,80
Oxigênio Atômico 2,42
Ozônio 2,07
Peróxido de Hidrogênio 1,78
Permanganato 1,68
Dióxido de Cloro 1,57
Cloro 1,36
Iodo 0,54
Fonte: Anotações de Aula da Universidade Estadual de Campinas.

Existem diversas possibilidades e oxidantes disponíveis para a formação da


hidroxila, o que faz com que os Processos Oxidativos Avançados sejam um tipo de
tratamento bastante versátil e flexível. A escolha do método mais adequado depende
do tipo e condições físico-químicas do efluente a ser tratado e também da
concentração dos contaminantes.
A Tabela 5 lista os diferentes tipos de sistemas de POA relacionados com os
oxidantes (reagentes) utilizados, tais como o Peróxido de Hidrogênio (H2O2), íons de
ferro (Fe2+ e Fe3+), Ozônio, raios UV, dentre outros. Os tratamentos, nos quais não há
32

a utilização de catalisadores sólidos, como o TiO2, são denominados homogêneos,


enquanto os demais são chamados de heterogêneos.
Tabela 5 – Diferentes Processos Oxidativos Avançados Relacionados com os Reagentes
Envolvidos.
Processos Oxidativo
Reagentes Envolvidos
Avançados
H2O2/Fe2+ Fenton
H2O2/Fe3+ Tipo-Fenton
H2O2/Fe2+ (Fe3+)/UV Foto-Fenton
H2O2/Fe3+/Oxalato Fenton
Mn2+/Ácido Oxálico/O3 Fenton
TiO2/Hv/O2 Fotocatálise
O3/H2O2 Fotocatálise
O3/UV Fotocatálise
H2O2/UV Fotólise
Fonte: Jerônimo, 2010.

Como vantagens deste tratamento, pode-se citar que, geralmente, pós-


tratamentos não são necessários, melhora as qualidades organolépticas da água
tratada, possibilitam tratamento in-situ, e possui uma cinética de reação rápida,
oxidando os contaminantes em poucos minutos. Considera-se, entretanto, que a sua
maior vantagem em relação aos outros tratamentos disponíveis seja o fato de este
mineralizar os contaminantes, e não apenas transferi-los de fase, além de destruir os
compostos orgânicos tanto em fase aquosa, quanto em fase gasosa ou adsorvida em
matrizes sólidas.
Por outro lado, os preços dos reagentes utilizados durante a aplicação de um
tratamento do tipo POA são elevados, e caso a concentração dos contaminantes seja
alta, será necessária uma quantidade de reagentes também alta, o que
potencialmente inviabilize o tratamento devido ao seu alto custo.
Conforme já discutido acima, o radical hidroxila pode ser formado a partir de
diversas reações e utilizando diversas combinações de reagentes. Abaixo estão
apresentados alguns exemplos de reações.
Decomposição do Ozônio
O3 + OH-  O2- + HO2∙
O3 + HO2  2O2 + OH∙

Decomposição do Ozônio na Presença de Radiação Ultravioleta (UV)


ℎ𝑣
O3 + H2O → H2O2 + O2
33

ℎ𝑣
H2O2 → 2OH∙

Peróxido de Hidrogênio na Presença de Radiação Ultravioleta (UV)


ℎ𝑣
H2O2 → 2OH∙

Mistura de Peróxido de Hidrogênio e Sais Ferrosos (Reagente de Fenton)


Fe2+ + H2O2  Fe3+ + OH∙ + OH-

Reagente de Fenton na Presença de Radiação Ultravioleta (UV)


ℎ𝑣
Fe3+ + H2O → Fe2+ + H+ + OH∙

Um dos processos de POA muito conhecidos e empregados é o Processo de


Fenton, utilizando peróxido de hidrogênio e ferro dissolvido como catalisador para a
formação do radical hidroxila. As vantagens são que são necessários equipamentos
modernos, mas não muito sofisticados, tampouco pressões ou temperaturas
elevadas. Além disso, como o ferro é um elemento abundante e não tóxico, o
Processo de Fenton acaba se transformando em uma opção de tratamento de
efluentes bastante interessante (JERONIMO, 2010). Apesar disso, como
desvantagem pode-se citar a necessidade de pós-tratamento para separação de
precipitados de coloidais de hidróxido férrico e de valores de pH baixos, em torno de
3. (SANCHES FREIRE, PELEGRINI, et al., 2000).
Os sais de permanganato, tais como o Permanganato de Potássio (KMnO4) ou
Permanganato de Sódio (NaMnO4), também são utilizados como oxidantes nos
processos de POA, mas são mais fracos quando comparados com o Peróxido de
Hidrogênio. As reações de KMnO4 com compostos orgânicos produzem dióxido de
manganês (MnO2) e CO2, ou intermediários orgânicos, tal como a equação química
apresenta abaixo.
R + MnO4-  MnO2 + CO2 ou ROX+

O ROX+ na equação acima está representando compostos orgânicos


intermediários.
Zhang, Sun e Guan (ZHANG, SUN e GUAN, 2013) estudaram o uso de
permanganato de potássio para a oxidação do disruptor endócrino Bisfenol A em
soluções aquosas, sendo que a concentração de 100 M do produto se mostrou muito
eficaz na remoção do poluente emergente, havendo a degradação de mais de 99%
de BPA (5 M) em 15 minutos e em um pH neutro.
34

Apesar de existirem diversos estudos acerca dos caminhos que o Bisfenol A


percorre até a sua completa mineralização durante diversos processos oxidativos, os
mecanismos de degradação de BPA utilizando permanganato ainda permanecem em
partes desconhecidos. A Figura 9 abaixo ilustra os potenciais subprodutos da
oxidação do Bisfenol A até a sua mineralização, de acordo com estudos realizados na
área. Os compostos apresentados no interior de ovais foram encontrados durante o
estudo de Zhang, Sun e Guan. Importante mencionar que muitos destes subprodutos
formados antes da completa mineralização do BPA potencialmente possuem
atividade estrogênica e a sua toxicidade de muitos permanece desconhecida. Estudos
demonstram que logo após o tratamento com alguns POAs, como a ozonização, a
toxicidade do efluente momentaneamente aumenta devido à formação de
subprodutos, que pode ser reduzido por um tratamento subsequente com atividade
biológica (MCARDELL, BOURGIN, et al., 2012).
Figura 9 – Potenciais Subprodutos da Oxidação do Disruptor Endócrino Bisfenol A.

Fonte: Zhang, Sun e Guan (2013).

Alum et al. (ALUM, YOON, et al., 2004) realizaram estudos acerca da


degradação do 17-estradiol (E2) utilizando ozonização com solução padrão de
35

concentração de 100 nM (27,2 g/L) de E2 e 1,5 mg/L de ozônio, obtendo degradação


de 99% do disruptor endócrino em apenas 2 minutos, embora os subprodutos da
oxidação ainda mantivessem atividades estrogênicas (NOLASCO, 2014).
Da mesma forma, Pires (2014) avaliou a remoção do hormônio E2 através da
combinação de H2O2 e raios ultravioleta (UV) em escala laboratorial, utilizando um
efluente oriundo da lavagem de um tanque de formulação de medicamento oleoso
contendo o ativo (E2). A degradação atingida a partir do tratamento proposto atingiu
cerca de 60% após 60 minutos de experimento, com dosagens de 10 mg/L de H 2O2 e
250,1 mW/cm2 de luz UV, e pH 7 (NOLASCO, 2014).

4.2 TRATAMENTO ATRAVÉS DE ADSORSÃO EM CARVÃO ATIVADO EM PÓ


(CAP)

Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (United States


Environmental Protection Agency – U.S. EPA), o carvão ativado é comumente
utilizado para adsorver compostos naturais e sintéticos orgânicos dissolvidos na água,
além de abater odor e gosto.
O carvão ativado é constituído basicamente de carbono e, por ser um material
extremamente poroso, é um ótimo adsorvente, fornecendo uma alta área de
superfície, em que as moléculas dos contaminantes são adsorvidas. O produto está
disponível na forma de pó (CAP) e granulado (CAG). CAP tipicamente possui um
diâmetro menor do que 0,1 mm, e pode ser feito de materiais como madeira, lignite,
carvão betuminoso e subbetuminoso, osso e casca de coco. Comparando com outros
adsorventes disponíveis no mercado, o carvão ativado possui alta eficiência de
adsorção, estabilidade física e química excelente, e alta facilidade de produção a partir
de diversas matérias-primas.
Este tipo de carvão pode ser obtido através de alguns processos: químico, em
que se mistura a matéria-prima a uma solução que a ativa em altas temperaturas,
havendo o seu resfriamento posterior, e o físico, em que há a queima controlada da
matéria-prima com baixo teor de oxigênio.
A adsorção é a acumulação de uma substância em uma interface entre duas
fases (sistemas líquidos-líquidos, gás-sólido, gás-líquido ou sólido-líquido), que pode
ocorrer de duas formas distintas: quimicamente ou fisicamente. A adsorção química,
ou quimissorção, ocorre através de ligações químicas, sobretudo covalentes, e a
36

adsorção física, ou fisissorção, por meio de interações intermoleculares do tipo Van


der Waals e dipolo-dipolo.
O calor necessário para a fisissorção é relativamente pequeno, sendo
insuficiente para levar ao rompimento das ligações químicas, ou seja, as moléculas
mantêm a sua identidade. A adsorção é um processo reversível, porém a dessorção
é bastante dificultada, caso o material adsorvente possua muitos poros e capilares
(DA SILVA, 2005).
Já durante a quimissorção, as interações são bem mais fortes, havendo
ligações químicas entre o material adsorvente e o adsorvido. Portanto, a energia
envolvida é muito maior, ocorrendo a formação de complexos de adsorção (DA SILVA,
2005).
A capacidade de adsorção pode variar consideravelmente com a velocidade de
agitação, concentração inicial do contaminante, área superficial do material
adsorvente, temperatura, pH, e presença de interferentes, tais como ácidos húmicos,
carbono orgânico dissolvido e oxidantes.
Veras (2006) avaliou a remoção do disruptor endócrino 17-estradiol em escala
de bancada, testando diferentes tipos de carvão ativado em pó, variando doses de 3
a 20 mg/L, tempo de rotação de 100 rpm e concentração inicial do micropoluente de
1,0 g/L. Seus melhores resultados foram em pH 5,5 e doses de 15 mg/L e 20 mg/L,
obtendo, respectivamente, 95% e 100% de remoção do disruptor endócrino (DA
SILVA, 2005).
Um outro estudo comparando a utilização de coagulação e carvão ativado para
remoção de estrogênios realizada por Bodzek e Dudziak (2006) provou que o carvão
ativado em pó e granular é mais eficiente do que coagulação, mesmo em sistemas
híbridos com membranas de nanofiltração.
Carvão ativado em pó também se mostrou uma boa opção para remover
Bisfenol A em um estudo realizado por Yoon, Westerhoff et. al. (YOON,
WESTERHOFF, et al., 2003), no qual a taxa de remoção variou entre 34% e 99%,
dependendo do tipo de carvão utilizado e da presença de matéria orgânica natural na
água (JOSEPH, BOATENG, et al., 2013).
Entre as vantagens da utilização deste método de tratamento está o seu baixo
custo, operação relativamente simples, obtendo altas eficiências de remoção de uma
grande variedade de compostos orgânicos. Apesar disso, após a saturação do carvão
ativado, este se transforma em um resíduo potencialmente contaminado, cujos custos
37

de disposição são altos. Além disso, de forma a não perder carbono no efluente final,
se necessita uma etapa extra de tratamento, com uma filtração.

4.3 ANÁLISE E SELEÇÃO DO PROCESSO DE TRATAMENTO DE ÁGUA /


EFLUENTES

Segundo Von Sperling (2014), a decisão quanto à técnica a ser adotada para
o tratamento de água, efluentes ou lodo deve ser derivada, fundamentalmente, de um
balanceamento entre critérios técnicos e econômicos, já que todos possuem suas
vantagens e desvantagens. À primeira luz, pode-se pensar que os aspectos
financeiros são os mais fundamentais, mas nem sempre a melhor alternativa é a que
apresenta o menor custo em estudos econômico-financeiros.
Os aspectos de importância a serem levados em conta durante o processo de
decisão do processo de tratamento de água podem variar consideravelmente
dependendo do desenvolvimento da região, em que a planta de tratamento será
implantada e se a zona é urbana ou rural.
A Tabela 6 abaixo apresenta a comparação entre alguns aspectos de
importância na seleção dos sistemas de tratamentos, que são considerados mais
críticos em países em desenvolvimento e países desenvolvidos.
Tabela 6 – Comparação entre a Criticidade de alguns aspectos de importância na seleção de
sistemas de tratamento em países em desenvolvimento, e países desenvolvidos.

Aspecto Países em Desenvolvimento Países Desenvolvidos


Eficiência de Remoção dos Contaminantes Importante Crítico
Formação/Disposição de Lodo Importante Crítico
Custo de Implantação Crítico Importante
Custo de Operação Crítico Importante
Fonte: Adaptado de Von Sperling (2014).
Além destes citados na Tabela 6, outros fatores importantes a serem
considerados na escolha de uma técnica de tratamento de água é a segurança,
aplicabilidade do processo, vazão aplicável, características requeridas do efluente
final, características do afluente, subprodutos do tratamento, limitações ambientais,
dentre outros.
38

5 DESENVOLVIMENTO

A seguir, será detalhada a metodologia utilizada para a comparação entre os


tratamentos de Processos Oxidativos Avançados (POA) e Adsorção em Carvão
Ativado em Pó (CAP) para remoção de disruptores endócrinos, sobretudo estrógenos
e Bisfenol A, bem como os resultados obtidos.
Deu-se ênfase neste trabalho a estes disruptores endócrinos, pela atenção
dada pelos pesquisadores, devido aos riscos à saúde humana e animal observada em
diversas pesquisas nacionais e internacionais.
Além disso, está apresentada abaixo a metodologia utilizada e resultados
obtidos na análise crítica da Resolução CONAMA nº 430/2011, que dispõe sobre os
padrões de lançamento de efluentes nos corpos d’água brasileiros.

5.1 METODOLOGIA

A comparação entre os tratamentos detalhados neste trabalho será


fundamentada de um balanceamento entre critérios técnicos e econômicos,
analisando aspectos qualitativos de ambas as técnicas, e também levando em
consideração as suas vantagens e desvantagens descritas anteriormente na Seção
3.
Sendo assim, para comparar os Processos Oxidativos Avançados (POA) e
Adsorção em Carvão Ativado em Pó, propõe-se a análise de 6 critérios técnicos e
econômicos considerados importantes para a escolha de uma técnica de tratamento
de água ou de esgotos (VON SPERLING, 2014), atribuindo notas de 1 a 3, e sem
pesos diferentes.
A seguir, será apresentado cada critério utilizado neste estudo, assim como a
maneira como as notas serão atribuídas em cada caso.

5.1.1 Comparação de Técnicas de Tratamento de Água / Efluentes

Eficiência de Remoção

A eficiência de remoção dos disruptores endócrinos, sobretudo os objetivos


deste estudo (estrogênio e Bisfenol A) é um dos critérios de maior importância dentre
os analisados. Conforme apresentado anteriormente, as técnicas de tratamento de
39

Adsorção em Carvão Ativados em Pó e Processos Oxidativos Avançados foram


selecionadas dentre tantas técnicas de remoção de disruptores endócrinos
estudadas, devido a sua alta eficiência.
Sendo assim, para este quesito, serão atribuídas apenas notas 2 ou 3: 2, caso
a eficiência do tratamento seja entre 90% e 95%, e 3 se a sua eficiência for maior do
que 95%.
A eficiência média de remoção de cada técnica foi consultada em pesquisas
realizadas, tanto para tratamento de estrogênios quanto Bisfenol A, conforme já
apresentado anteriormente neste trabalho.

Formação de Lodo / Resíduos Finais

A formação de lodo é um aspecto importante a ser analisado durante a escolha


de uma técnica de tratamento de água, já que quanto maior a quantidade de lodo
gerado, maior será os custos de pós-tratamento e também de descarte deste resíduo
potencialmente contaminado.
A toxicidade do lodo depende, principalmente, da qualidade da água bruta ou
residual tratada, assim como das reações químicas que ocorrem durante o tratamento
e dos produtos químicos utilizados.
Além do lodo, neste critério estão inclusos outros resíduos que podem ser
gerados durante o tratamento de águas, como o carvão ativado saturado, os quais
devem ser igualmente descartados de maneira apropriada, resultando em custos
altos.
Para este quesito, serão atribuídas notas de 1 a 3, sendo que a nota 3 é
correspondente a pouca/nenhuma formação de lodo/resíduos finais, e 1 corresponde
a maior formação de resíduos.

Custos de Implantação e Operação

Os custos de implantação e operação são critérios determinantes da viabilidade


econômica de uma tecnologia para tratamento de água, e que podem variar
consideravelmente dependendo da qualidade da água bruta, qualidade requerida da
água tratada, dentre outros fatores.
40

Para este quesito, serão atribuídas notas de 1 a 3, sendo que 3 é


correspondente a baixos custos de implantação e operação, e 1 a altos custos.
Propõe-se a análise separada de cada tipo de custo, os quais foram
consultados de maneira qualitativa em referências nacionais e internacionais.

Segurança

As estações de tratamento de água e de esgotos, devido às atividades


executadas, produtos químicos manuseados, equipamentos utilizados e subprodutos
gerados, possuem riscos à segurança dos seus trabalhadores e população residente
a sua volta.
Desta forma, propõe-se a atribuição de notas de 1 a 3 às tecnologias de
Processos Oxidativos Avançados e Adsorção por Carvão Ativado em Pó (CAP) quanto
à segurança, sendo que 1 é correspondente à tecnologia pouco segura, e 3, à
tecnologia muito segura.

Formação de Subprodutos Potencialmente Tóxicos

A formação de subprodutos potencialmente tóxicos durante o tratamento de


água ou efluentes pode resultar em aumento da ecotoxicidade da água tratada, o que
pode inviabilizar a utilização de tal técnica.
Para este quesito, serão atribuídas notas 1 ou 2. A nota 1 corresponde à
formação de subprodutos potencialmente tóxicos. Já a nota 2 será atribuída à técnica
que não produz subprodutos.

5.1.2 Análise Crítica da Resolução CONAMA nº 430/2011

Para a análise crítica da Resolução CONAMA nº 430/2011, realizou-se um


levantamento do histórico de legislações que tratam de poluição das águas no Brasil.
Além disso, levantou-se as legislações existentes internacionalmente referente aos
usos e controle das substâncias consideradas poluentes emergentes, sobretudo os
disruptores endócrinos, de modo a comparar com a situação encontrada no Brasil.
41

5.2 RESULTADOS

5.2.1 Comparação de Técnicas de Tratamento de Água / Efluentes

Na Tabela 7 a seguir, apresenta-se o resultado da comparação entre as


técnicas de Processos Oxidativos Avançados (POA) e Adsorção por Carvão Ativado
em Pó (CAP), conforme metodologia detalhada no capítulo anterior deste trabalho.
Tabela 7 – Resultado da Comparação Entre as Técnicas de Processos Oxidativos Avançados
(POA) e Adsorção em Carvão Ativado em Pó (CAP)
Tecnologia Processos Oxidativos Adsorção em Carvão
Critérios Avançados (POA) Ativado em Pó (CAP)
Eficiência 3 3
Formação de Lodo/Resíduos 3 2
Custo de Implantação 1 2
Custo de Operação 1 2
Segurança 1 2
Formação de Subprodutos
1 2
Potencialmente Tóxicos
Soma 10 13

Eficiência

Conforme já apresentado durante o Capítulo 3 desta trabalho, que detalha as


técnicas de Processos Oxidativos Avançados (POA) e também de Adsorção em
Carvão Ativado em Pó (CAP), ambas as técnicas foram selecionadas neste estudo
por possuírem eficiência de remoção de disruptores endócrinos em torno de 99%,
podendo atingir 100% nas melhores condições obtidas durante pesquisas realizadas.
Desta maneira, foi atribuída a ambas as técnicas a nota 3.

Formação de Lodo / Resíduos Finais

A técnica de Processos Oxidativos Avançados, isoladamente, não produz lodo,


apenas se combinada com outros processos físico-químicos, tais como a coagulação
e floculação, já que o tratamento envolve reações químicas que mineralizam o
contaminante, o transformando em última instância em dióxido de carbono e água.
Desta forma, esta técnica recebeu a nota 3.
Já a técnica de Adsorção em Carvão Ativado em Pó também não produz lodo,
já que o contaminante fica retido nos poros do material adsorvente, mas já a geração
42

de resíduo potencialmente tóxico, no momento da saturação do carvão ativado. Este


resíduo necessita ser propriamente descartado, o que acarreta em maiores custos de
operação. Sendo assim, a técnica recebeu a nota 2, já que não produz tanto
resíduo/lodo quanto um processo físico-químico.

Custos de Implantação e Operação

A implantação de um Processo Oxidativo Avançado (POA) envolve


equipamentos modernos e de custo mais elevado, tais como painéis para captação
de luz solar, equipamentos para radiação ultravioleta (UV), sistemas para produção e
aplicação de ozônio, ultrassom, dentre outros.
Já no caso da técnica de Adsorção em Carvão Ativado em Pó, os custos para
implantação são razoáveis, visto que são necessários reatores com agitação e filtros
para evitar a perda de CAP no efluente final.
Desta forma, foi atribuída a nota 1 aos custos de implantação de um POA
(custos altos) e 2 à técnica de Adsorção em CAP (custos razoáveis).
Com relação aos custos de operação, é sabido que uma das desvantagens de
um POA são os seus grandes custos operacionais. Conforme apresentado no
Capítulo 2 deste trabalho, os reagentes envolvidos em um POA possuem um preço
elevado e, caso a concentração dos contaminantes na água a ser tratada seja grande,
os custos operacionais se elevam mais ainda. No caso de um POA envolvendo
radiação UV ou ozônio, há também custos elevados com energia elétrica para a
produção constante de ozônio e para a irradiação de raios UV.
A técnica de Adsorção em Carvão Ativado em Pó envolve custos de operação
razoáveis devido às trocas de carvão ativado no momento da sua saturação, o qual é
um material de preço elevado (DA SILVA, 2005).
Portanto, para o critério de custos operacionais, foi atribuída a nota 1 para a
tecnologia POA (custos elevados) e 2 para Adsorção em CAP (custos razoáveis).

Segurança

Conforme a Resolução nº 420 da Agência Nacional de Transportes Terrestres,


de 12 de fevereiro de 2004, a qual aprova as Instruções Complementares ao
Regulamento do Transporte Terrestre de Produtos Perigosos, o Peróxido de
43

Hidrogênio é um produto considerado perigoso com efeitos tóxicos, sobretudo por


suas propriedades corrosivas (BRASIL, 2004). Da mesma forma, o ozônio, por ser um
gás sob pressão, gera risco a explosões sob a ação do calor, e é asfixiante a altas
concentrações. Outros reagentes usualmente utilizados em POAs também geram
potenciais riscos aos trabalhadores envolvidos, tais como o permanganato e
persulfato de sódio, por serem altamente corrosivos.
Comparando com a técnica de Adsorção em Carvão Ativado em Pó, o CAP não
é considerado um produto perigoso, mas é um sólido inflamável, sujeito à combustão
instantânea em presença de oxidantes fortes. Além disso, como o produto está em
pó, é recomendável que o operador use proteção respiratórias, para não inalar o
material particulado.
Como se vê, ambas as técnicas geram riscos à saúde e segurança do
operador. Apesar disso, os reagentes comumente utilizados em um Processo
Oxidativo Avançado (POA) são produtos considerados perigosos e corrosivos.
Portanto, a esta técnica foi atribuída a nota 1 no critério segurança (pouco seguro).
Para a técnica Adsorção em Carvão Ativado em Pó, foi atribuída a nota 2
(moderadamente seguro), devido aos riscos comentados acima.

Formação de Subprodutos Potencialmente Tóxicos

Uma das desvantagens da técnica de POA, conforme apresentado


anteriormente neste trabalho, é a produção de subprodutos anteriormente à completa
mineralização do micropoluente. Como no caso do BPA, muitos deles ainda são
desconhecidos, assim como sua potencial toxicidade e/ou atividade estrogênica.
Desta forma, as condições físico-químicas da água a ser tratada, assim como a
dosagem dos oxidantes, devem ser devidamente controladas, para minimizar a
formação destes produtos. Além disso, testes de toxicidade após o tratamento através
de um POA seriam interessantes.
Já durante o tratamento através de Adsorção em CAP, não há a formação de
subprodutos, já que a remoção se dá a partir de uma transferência de fase, e não há
reações químicas.
Portanto, neste critério, as técnicas de POA e Adsorção em CAP receberam,
respectivamente, as notas 1 e 2.
44

Discussões

Conforme se vê a partir da Tabela 7 acima, comparando as técnicas de POA e


Adsorção em CAP a partir da análise de critérios econômicos e técnicos, a técnica
que se mostrou mais segura, menos custosa e sem a formação de subprodutos
potencialmente tóxicos, bem como com uma alta eficiência para a remoção dos
disruptores endócrinos BPA e estrogênios, é a Adsorção em Carvão Ativado em Pó.
Principalmente no Brasil, esta técnica ainda possui custos menores, com
eficiências similares aos Processos Oxidativos Avançados, e poderia ser uma opção
a ser inserida nas Estações de Tratamento de Água e de Efluentes, a fim de diminuir
a concentração destes disruptores endócrinos, já encontrados nos corpos d’água nas
grandes cidades brasileiras, conforme pesquisas publicadas na área.
Importante salientar não é possível se basear apenas em comparação
qualitativa para a escolha de uma técnica de tratamento de água, a qual depende de
diversos setores, tais como a concentração existente dos contaminantes na água
bruta, existência de Carbono Orgânico Total (COT) e outros interferentes, condições
físico-químicas da água bruta, qualidade requerida do efluente final, dentre outros
tantos parâmetros que podem inviabilizar a implantação de uma ou outra técnica.

5.2.2 Análise Crítica da Resolução CONAMA nº 430/2011

A primeira legislação brasileira de proteção da qualidade dos corpos d’água,


estabelecendo parâmetros físicos, químicos e biológicos a serem seguidos para o
lançamento de efluentes é a Resolução CONAMA nº 20, de 30 de julho de 1986
(BRASIL, 1986).
Após dois anos de discussões entre os mais diversos setores, surgiu a
Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005, a qual dispõe sobre a
classificação dos corpos d’água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento,
bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. Apesar
disso, o seu próprio artigo 44 explicita que há a necessidade de complementação das
condições e padrões de lançamento de efluentes apresentados na presente resolução
(BRASIL, 2005).
Por este e outros motivos, após mais discussões entre setores governamentais,
tais como IBAMA, ANA, governos estaduais e ANVISA, consultores, laboratórios de
45

análises, dentre outros, surgiu a Resolução CONAMA nº 430, de 13 de maio de 2011,


que complementa e altera parcialmente a anterior.
Conforme já apresentado na Seção 3 deste trabalho, o artigo 3 desta resolução
estabelece que: “os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser
lançados diretamente nos corpos receptores após o devido tratamento e desde que
obedeçam às condições, padrões e exigências dispostos nesta Resolução e em
outras normas aplicáveis”.
Os padrões de lançamento de efluentes, excetuando-se os os oriundos de
sistemas de tratamento de esgotos sanitários, os quais possuem outros padrões,
estão apresentados na Tabela 1 da Seção 3 deste trabalho. Como se pode ver nesta
tabela, há a presença de diversas substâncias inorgânicas, como os metais arsênio,
chumbo, cromo hexavalente, dentre outros, bem como parâmetros orgânicos, tais
como benzeno, clorofórmio, dicloroetenos e outros.
Sendo assim, não há a inclusão de qualquer substância considerada poluente
emergente, que permanecem sem monitoramento de órgãos ambientais e de saúde,
até a criação de alguma resolução que as incluam.
Importante mencionar que pesquisas já encontraram concentrações destes
compostos em águas brasileiras. Raimundo (2007) detectou concentrações na ordem
de ng/L e g/L dos disruptores endócrinos dibutilftalato, Bisfenol A, os hormônios 17β-
estradiol e 17α-etinilestradiol, além dos fármacos AAS, paracetamol e diclofenaco, nas
águas superficiais da bacia do rio Atibaia, na região de Campinas/SP. Por exemplo, a
concentração encontrada de Bisfenol A variou de 129 ng/L a 11.725 ng/L, enquanto
que para o 17β-estradiol, foram detectados valores mínimos e máximos de 106 e
6.806 ng/L, respectivamente (RAIMUNDO, 2007).
Sodré, Locatellli e Jardim (2009) também realizaram um estudo na região de
Campinas, com o objetivo de avaliar a presença de microcontaminantes, coletando
amostras de água para consumo humano em algumas residências da cidade. Entre
os poluentes avaliados na pesquisa, foram encontrados no período de seca, a estrona
e o 17β-estradiol, cujas concentrações médias foram de 70 ng/L e 100 ng/L,
respectivamente. Além disso, foram detectados os compostos estigmasterol,
colesterol, Bisfenol A e cafeína. A concentração média de Bisfenol A foi de 0,16 g/L,
sendo detectado em 100% das amostras coletadas (SODRÉ, LOCATELLI E JARDIM,
2009).
46

Estas concentrações de poluentes emergentes e disruptores endócrinos


encontradas em águas brasileiras, segundo as pesquisas toxicológicas efetuadas
internacionalmente, já são capazes de causar danos à saúde humana e de animais.
Além disso, se considerarmos a maior concentração encontrada de Bisfenol A de 11,7
g/L, esta já é superior a alguns padrões de lançamento estabelecidos na Resolução
CONAMA nº 430/2011, como a do mercúrio total, de 10 g/L.
Observa-se ainda que os valores encontrados na água para consumo humano
pelos autores citados acima são superiores aos valores médios que vêm sendo
relatados no mundo inteiro tanto para água tratada quanto para águas superficiais,
resultado tanto da alta quantidade de esgoto sanitário sendo lançado in natura nas
grandes cidades brasileiras, quanto da falta de regulamentação e, consequentemente,
do seu monitoramento.
Importante também União Europeia já possui regulamentações referentes às
substâncias consideradas disruptores endócrinas. No ano de 1999, a União Europeia
aprovou a "Community Strategy for Endocrine Disrupters", com o objetivo de realizar
ações contra os disruptores endócrinos. Neste documento, uma lista de 575
compostos suspeitos de terem efeitos de disruptores endócrinos foram compilados,
de acordo com diversas pesquisas realizadas internacionalmente (CHAVES, 2016). A
lei europeia “Plant Protection Products Regulation, correspondente ao Regulamento
(CE) nº 1107, de 21 de outubro de 2009, criou alguns critérios para apoiar apenas a
comercialização e utilização de produtos químicos que não provoquem desregulação
endócrina em seres humanos e espécies silvestres (COMISSÃO DAS
COMUNIDADES EUROPEIAS, 2009). Desde 2011, produtos que contenham
substâncias que estão na lista de candidatos a disruptores endócrinos, devem ser
comunicadas à Agência Europeia dos Produtos Químicos (CHAVES, 2016).
Fica claro, portanto, que a Resolução CONAMA nº 430/2011 se encontra
defasada com relação aos micropoluentes considerados emergentes e disruptores
endócrinos. Além da adição destas substâncias em uma atualização da resolução,
outras regulamentações referentes aos usos de compostos contendo disruptores
endócrinos precisariam ser elaboradas, ao exemplo da Comunidade Europeia, de
modo a controlar melhor o seu descarte no meio ambiente. No Brasil, conforme já
apresentado anteriormente neste trabalho, há legislações controlando o uso do
Bisfenol A (Anexo II da Resolução nº 105 e pela RDC nº 17, de, respectivamente,
1999 e 2008). Apesar disso, aparentemente ainda não é suficiente para diminuir a sua
47

concentração nos corpos d’água e águas de abastecimento brasileiros, já que há


detecções altas deste composto neste meio físico, conforme pesquisas apresentadas
anteriormente.
Além disso, ao observar a periodicidade de atualização e complementação das
resoluções referentes à qualidade das águas, conforme apresentado anteriormente
(1986, 2005, 2011), vê-se que, comparando com a evolução das pesquisas
toxicológicas atualmente, estas não seriam suficientes para acompanhar os estudos
realizados, que vêm identificando novas substâncias que possuem poder de causar
danos nocivos à saúde humana e animal. Sendo assim, seria necessário que estas
legislações fossem atualizadas em um menor período de tempo, com o objetivo de
inclusão destes compostos notoriamente nocivos antes de estas causarem maiores
danos.
48

6 CONCLUSÕES

Os micropoluentes emergentes e disruptores endócrinos, após o seu uso pelo


ser humano, alcançam o sistema de esgoto através da urina ou fezes, passando pelas
ETEs, e atingindo os corpos d’água. Como atualmente as plantas de tratamento de
água para abastecimento e tampouco as de esgoto possuem métodos de tratamento
eficiente para a remoção destes tipos de substâncias, estas atingem as águas
consumidas pelos humanos. A baixa taxa de tratamento de esgoto no Brasil e a falta
de regulamentações são agravantes a esta situação, já que no ano de 2008, quase
80% do esgoto era lançado in natura nos corpos d’água das cidades brasileiras, e não
há o monitoramento nem o controle do uso de tais substâncias.
De acordo com as pesquisas realizadas no Brasil, há detecção de
concentrações na ordem de ng/L e g/L de diversos disruptores endócrinos nas águas
brasileiras, as quais, segundo estudos da área, seriam suficientes para causar danos
à saúde humana e animal, tais como o aumento à resistência de antibióticos,
diminuição da fertilidade do homem através da diminuição do número de
espermatozoides no esperma, dentre outros danos citados neste trabalho.
Assim, de forma a diminuir a concentração destes micropoluentes, seria
necessário ajustar as nossas plantas de tratamento com técnicas capazes de removê-
los, além de atualizar as nossas legislações referentes à qualidade das águas, e
elaborar outras regulamentações, de modo a controlar o uso e o descarte destas
substâncias nos corpos d’água brasileiros.
Sendo assim, o presente estudo foi desenvolvido com dois objetivos: o de
selecionar as duas técnicas de tratamento de água, as quais, segundo revisão
bibliográfica realizada, seriam as mais eficientes para a remoção de Estrogênios
naturais e sintéticos e Bisfenol A, e compara-las de maneira técnico-econômica, de
modo a analisar qual seria a técnica mais adequada a uma potencial inclusão em uma
Estação de Tratamento de Água ou de Esgoto no Brasil, além de realizar uma análise
crítica da Resolução CONAMA nº 430/2011, legislação federal que dispõe sobre os
padrões de lançamento de efluentes nos corpos d’água brasileiros. Deu-se ênfase
neste trabalho ao Bisfenol A e Estrogênios naturais e sintéticos, pela atenção dada
pelos pesquisadores, devido aos riscos à saúde humana e animal observada em
diversas pesquisas nacionais e internacionais
49

Desta forma, foram selecionadas as técnicas de Processos Oxidativos


Avançados (POA) e Adsorção em Carvão Ativado em Pó (CAP), ambas com
eficiências de remoção média podendo atingir os 100% nas melhores condições
encontradas pelos pesquisadores consultados. Para compará-las, analisou-se 6
critérios técnicos e econômicos considerados importantes para a escolha de uma
técnica de tratamento de água ou de esgotos, de maneira qualitativa.
A técnica de Adsorção em Carvão Ativado em Pó (CAP) se mostrou mais
satisfatória, de acordo com os critérios analisados, sendo menos custosa e com a
eficiência similar a outra técnica analisada e que poderia ser uma opção para ser
inserida nas Estações de Tratamento de Água e de Esgoto no Brasil, com o objetivo
de diminuir as concentrações dos disruptores endócrinos, como os estrogênios e
Bisfenol A, nos corpos d’água nas grandes cidades brasileiras. Apesar disso, é
importante salientar que uma comparação qualitativa não é suficiente para a escolha
de uma técnica de tratamento de água ou de esgoto, já que muitos outros parâmetros
influenciam nesta decisão, e que podem inviabilizar a implantação de uma ou outra
técnica.
Com relação à Resolução CONAMA nº 430/2011, esta se encontra claramente
defasada com relação às substâncias consideradas poluentes emergentes e
disruptores endócrinos, já que não há a inclusão destas nos padrões de lançamento
de efluentes nos corpos d’água. Portanto, recomendou-se a adição destas
substâncias em uma atualização da resolução. Além disso, seria interessante elaborar
outras regulamentações referentes aos usos de compostos contendo disruptores
endócrinos, ao exemplo da Comunidade Europeia, de modo a controlar melhor o seu
descarte no meio ambiente. No Brasil, há regulamentações controlando o uso do
Bisfenol A. Apesar disso, concluiu-se que aparentemente ainda não é suficiente para
diminuir a sua concentração nos corpos d’água e águas de abastecimento brasileiros,
já que há detecções altas deste composto neste meio físico, conforme pesquisas
brasileiras realizadas na área.
Por fim, recomendou-se também a atualização em um menor período de tempo
de legislações e resoluções brasileiras referentes à qualidade das águas, para que
estas não se tornem defasadas com relação às pesquisas toxicológicas realizadas
atualmente, que vêm identificando novas substâncias que possuem poder de causar
danos nocivos à saúde humana e animal periodicamente.
50

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