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I ENCONTRO PSI:

REFLETINDO SOBRE A PARANORMALIDADE HUMANA

LIVRO DE REGISTRO DE TRABALHOS APRESENTADOS

30/11 E 01/12 DE 2002

FACULDADES INTEGRADAS “ESPÍRITA”


CAMPUS BARIGUI

CURITIBA - BRASIL
I ENCONTRO PSI:
REFLETINDO SOBRE A PARANORMALIDADE HUMANA

LIVRO DE REGISTRO DE TRABALHOS APRESENTADOS

COMISSÃO ORGANIZADORA
ÁGUIDA G. R. STELA
CARLOS ALBERTO TINOCO
FÁBIO EDUARDO DA SILVA
RENATO COLLIN
REGINALDO HIRAOKA

EDITORAÇÃO

FÁBIO EDUARDO DA SILVA

PROMOVIDO POR

FACULDADES INTEGRADAS “ESPÍRITA”


CURSO LIVRE DE PARAPSICOLOGIA
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS PSICOBIOFÍSICAS

APOIO

INTER PSI - GRUPO DE ESTUDO DE SEMIÓTICA,


INTERCONECTIVIDADE E CONSCIÊNCIA

WILSON PICLER

30/11 E 01/12 DE 2002

CAMPUS BARIGUI
CURITIBA - BRASIL
1

APRESENTAÇÃO GERAL

Com o objetivo de levar ao público, estudos sobre a paranormalidade humana e integrar


pesquisadores dessa área do conhecimento, as Faculdades Integradas “Espírita”, através do Curso
Livre de Parapsicologia e do Instituto Nacional de Pesquisas Psicobiofísicas apresentam o I Encontro
Psi: refletindo sobre a paranormalidade humana. Trata-se do primeiro evento filosófico-científico
desenvolvido por essas duas unidades, nessa área do conhecimento, servindo como base ao
desenvolvimento da mesma e também, à realização de novos encontros profissionais, com crescente
qualidade e abrangência.
Os fenômenos paranormais têm estado presentes nos registros históricos de toda a
humanidade. Pesquisas recentes de levantamento indicam que esses fenômenos são muito
freqüentes e importantes na vida das pessoas. Experimentos rigorosos, conduzidos em laboratórios
de inúmeras universidades e institutos de pesquisa de todo mundo, têm mostrado, de forma
controlada, a evidência de que muitos desses fenômenos não são apenas crendices populares, mas
sim eventos reais, mensuráveis objetivamente.
Esses estudos sugerem que estamos muito mais conectados entre nós mesmos e com o
meio em que vivemos do que podemos perceber conscientemente. Uma linha de pesquisa bastante
recente na Parapsicologia é a investigação do Campo da Consciência. Ela verifica se a “ressonância
de consciências” de uma grande quantidade de pessoas com forte conotação emocional (ex. entrega
do Oscar do cinema, copa do mundo de futebol e comemorações de ano novo), pode produzir
padrões não aleatórios em equipamentos eletrônicos Geradores de Eventos Aleatórios (GEAs).
Algumas pesquisas sugerem a existência de um campo de consciência emanado pelo grupo. Um
estudo criado para observar esse efeito é o Projeto de Consciência Global (GCP-Global
Consciousness Project), o qual foi desenvolvido por Roger Nelson da Universidade de Princeton. O
GCP utiliza-se de GEAs em diversas partes do mundo. As informações são enviadas via internet para
um computador central onde, automaticamente, são armazenadas, analisadas e mostradas no
Website do projeto: http://noosphere.princeton.edu. Segundo Mario Varvoglis, presidente da
Parapsychological Association, poucas horas antes do ataque terrorista de 11 de setembro, a rede
multi-GEA do GCP registrou o mais forte desvio de sua história! Não é possível fazer afirmações
teóricas sobre as causas desse acontecimento. Porém, nos arriscamos em especular que, talvez, a
maior função da Parapsicologia seja, justamente, mostrar a íntima integração humana e, com base
nisso, estimular reflexões ético-existenciais, essenciais à sobrevivência da vida nesse planeta.
Em sintonia com as profundas mudanças científico-paradigmáticas, pelas quais passa a
humanidade, a Parapsicologia vem abordar uma dimensão humana imprescindível a uma noção de
vida mais plena e saudável, para a conscientização de potenciais sutis, que, segundo as tendências
teóricas atuais, poderiam estar agindo o tempo todo em nossas vidas, porém, num nível
subconsciente ou mesmo inconsciente.

Fábio Eduardo da Silva


Nadir Martins Ganz

Nota: Os trabalhos incluídos nesse livro de registros, tanto a nível redacional quanto da coerência e validade
científica e filosófica, são de inteira responsabilidade dos seus respectivos autores. As diferentes abordagens
adotadas pelos autores, não representa, necessariamente, a perspectiva das instituições organizadoras do
evento.
SUMÁRIO

Apresentação Geral Fábio Eduardo da Silva e Nadir Martins Ganz 01

Contextualização da Parapsicologia: definição, fenômenos, histórico, pesquisas e tendências


Fábio Eduardo da Silva 02

Ganzfeld e não Ganzfeld: observando estados modificados de consciência e outros fatores


favoráveis a telepatia, num estudo exploratório Fábio Eduardo da Silva 11
Hipóteses sobre as causas dos poltergeists Carlos Alberto Tinoco 24

Falando sobre casas assombradas: metodologia de pesquisa e casos estudados


Claudia Abramczuk e Martha Guerra Moraes 30
Poltergeist: um jogo semiótico Fátima Regina Machado 34
Reflexões sobre o Estudo de Casos Espontâneos Carlos S. Alvarado 42

Mesa redonda: profissão Parapsicólogo(a): limites, possibilidades e perspectivas - Pesquisa


Psi no Brasil: abrindo caminhos vencendo barreiras Fátima Regina Machado 47

Mesa redonda: profissão Parapsicólogo(a): limites, possibilidades e perspectivas -


Parapsicólogos y Parapsicólogas en Ibero-América: Problemas en Nuestra Profesión
Carlos S. Alvarado 50

Mesa redonda: profissão Parapsicólogo(a): limites, possibilidades e perspectivas -


Parapsicologia: um painel sobre a questão da regulamentação profissional
Reginaldo de Castro Hiraoka 52
A Ética em Parapsicologia Vera Lúcia Barrionuevo e Tarcísio Roberto Pallú 55
Mediunidade x Esquizofrenia Atípica Maria da Paz de Oliveira Ribeiro 62

Mediunidade: aspectos afetivos e cognitivos de um fenômeno psicossocial


Wellington Zangari 70

Mesa Redonda: Transtorno dissociativo x mediunidade: um encontro entre a Parapsicologia e


a Psicopatologia Wellington Zangari 81

Mesa Redonda: Transtorno dissociativo x mediunidade: um encontro entre a Parapsicologia e


a Psicopatologia - Mediunidade x Transtornos Dissociativos, aspectos teóricos e clínicos
Reginaldo de Castro Hiraoka 84

Mesa Redonda: Transtorno dissociativo x mediunidade: um encontro entre a Parapsicologia e


a Psicopatologia -Transtornos Dissociativos João Artur Borges Winkelmann 87

A psi e a mediunidade e a maior idade: um estudo exploratório


Cristina Tavares da Costa Rocha 88

Procesamiento psicológico de experiencias psiquicas anómalas: abordaje terapéutico en


grupos de reflexión Daniel E. Gómez Montanelli e Alejandro Parra 99

Inter-relações entre experiências psíquicas, lembrança de sonhos e sonhos lúcidos em um


levantamento com participantes espanhóis (de língua espanhola)
Carlos S. Alvarado e Nancy L. Zingrone 111

Referências profissionais dos participantes 116


CONTEXTUALIZAÇÃO DA PARAPSICOLOGIA: DEFINIÇÃO, FENÔMENOS,
HISTÓRICO, PESQUISAS E TENDÊNCIAS

Fábio Eduardo da Silva

Professor nos Cursos Livres de Parapsicologia e Naturologia Aplicada das Faculdades Integradas
“Espírita”. Responsável pelo Laboratório de Pesquisa Ganzfeld, dessa mesma instituição.

O QUE É A PARAPSICOLOGIA

A Parapsicologia pode ser definida como o campo científico voltado a investigar certos
eventos associados com experiências humanas. Essas experiências são denominadas anômalas
visto que são difíceis de explicar dentro dos parâmetros de tempo, espaço e energia da ciência
vigente.

SEUS OBJETOS DE ESTUDO

Os fenômenos estudados pela Parapsicologia podem ser divididos em três grupos: a) ESP
(Extrasensorial Perception - Percepção Extrasensorial) ou AC (Anomalous Cognition - Cognição
Anômala), b) PK (Psychokinesis - Psicocinesia) ou AP (Anomalous Perturbation - Perturbação
Anômala) e; c) fenômenos sugestivos da sobrevivência da consciência após a morte física.

A ESP pode ser ainda subdividida em:

Telepatia - quando uma pessoa consegue obter e/ou trocar informação com o conteúdo ou
disposição mental de outra pessoa, apesar do total isolamento sensorial entre ambas. A única fonte
para essa informação deve ser o conteúdo ou disposição mental da outra pessoa.

Clarividência - nesse caso, uma pessoa consegue obter informação de uma fonte externa,
mesmo estando em total isolamento sensorial em relação a essa fonte. Opondo-se à telepatia, a
informação obtida por clarividência não deve ser conhecida por outra pessoa, ou seja, não deve
constar do conteúdo ou disposição mental de outra pessoa. Quando for impossível distinguir entre
telepatia e clarividência, utiliza-se o termo GESP (General Extrasensorial Perception - Percepção
Extrasensorial Geral)

Precognição - a informação obtida nesse caso será gerada num tempo futuro, porém essa
informação não pode ser explicada por predição probabilística ou por informações presentes no
momento associado a precognição, ou ainda, não pode ser causada pela própria predição.

PK (Psicocinesia)

Nesse tipo de fenômeno, a pessoa, cria uma modificação física mensurável num sistema, a
qual não pode ser completamente explicada pela mediação das leis físicas conhecidas. Se essa
modificação puder ser percebida visualmente, como no caso do movimento de objetos sem uma
explicação possível, recebe o nome de Macro-PK. Quando se referir a micro modificações, tais como
influências sobre elétrons ou partículas subatômicas e necessitar de avaliações estatísticas, é
chamada de Micro-PK. Quando se referir a influências sobre sistemas vivos, como por exemplo,
seres humanos ou vegetais, são denominada de Bio-PK .
Um fenômeno de Macro-PK bastante peculiar é o Poltergeist ou RSPK (Recurrent
Spontaneous Psychokinesis - Psicocinesia Espontânea Recorrente) que é caracterizado
principalmente por barulhos, movimentos de objetos, efeitos elétricos e mecânicos sem uma causa
conhecida. Usualmente eles têm curta duração e estão associados às pessoas.

Fenômenos sugestivos da sobrevivência da consciência após a morte física

Casas Assombradas (Haunting) ou Aparições


Caracterizam-se por aparições de fantasmas e/ou bolas de luz e ruídos sem uma causa
explicável. Ocasionalmente, ocorrem movimentos de objetos, tais como portas e janelas que se
abrem ou fecham sem explicação aparente. Estão associados a lugares específicos e costumam ter
longa duração.
I Encontro Psi - Contextualização da parapsicologia: definição, fenômenos, histórico, pesquisas e tendências - Silva
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Reencarnação ou Lembranças de Vidas Passadas (LVP)


A pesquisa sobre esse polêmico tema está basicamente associada a crianças em tenra idade
(normalmente de 2 a 7 anos), as quais relatam recordarem-se de suas vidas passadas, geralmente,
com lembranças associadas à época da morte. Vivendo intensamente as suas memórias, elas
solicitam aos seus pais que as levem aos locais em que supostamente teriam vivido. Quando são
levadas a esses locais, algumas vezes elas os reconhecem bem como as pessoas relacionadas a
eles. Algumas manifestam costumes diferentes dos habituais da sua cultura e também, em alguns
casos, falam idiomas desconhecidos da sua família, o quais estariam supostamente relacionados com
a vida anterior.

Experiências Fora do Corpo (EFC ou OOBE - Out-of-Body Experience)


Nas quais, a pessoa relata perceber o seu foco de consciência situado em local diferente do
seu corpo físico, podendo, algumas vezes, inclusive, ver o seu próprio corpo desta posição externa a
ele.

Experiências de Quase Morte (EQM)


Nelas as pessoas passam por morte clínica e dela retornam. Muitas delas relatam sentirem-
se separadas do seu corpo físico, "reviverem" suas vidas inteiras em segundos, passarem por um
túnel, encontrarem uma luz muito forte e parentes falecidos. Ao retornarem, com muita freqüência
superam o medo da morte e transformam completamente as suas vidas, manifestando novos valores
existenciais.

Pesquisas com Médiuns ou Drop-in


Certas pessoas relatam experiências como a de sentirem-se interagindo diretamente com
pessoas falecidas, dando informações detalhadas sobre a vida dessas pessoas e, em alguns casos,
comportando-se como os supostos falecidos. Em muitos casos essas informações podem ser
confirmadas.

CONTROVÉRSIAS DA PARAPSICOLOGIA

Dentre as muitas controvérsias as quais a parapsicologia esta envolvida, talvez a mais antiga,
atual e importante diga respeito a se os fenômenos por estudados ela realmente existem ou não.
Com base nas técnicas Meta-analíticas aplicadas aos experimentos psi podemos afirmar que tanto a
ESP como a PK existem. Ou seja, a base de dados estatísticos acumulados sobre esses
experimentos oferece uma evidência científica muito forte a favor da hipótese psi. Essa evidência
experimental vem a confirmar muitos dos dados das pesquisas de levantamento e de campo. Isso
não significa dizer que exista um consenso a esse respeito. Os intermináveis debates científicos entre
os céticos e os parapsicólogos, ou mesmo entre esses últimos, revela que estamos longe de resolver
essa questão. Já com relação aos fenômenos sugestivos da hipótese da sobrevivência da
consciência após a morte física, as controvérsias e debates se intensificam imensamente. A
dificuldade de verificar alguns desses fenômenos experimentalmente sem que se possa excluir
muitas hipóteses explicativas, dificulta em muito um avanço na sua compreensão. Alguns deles
inclusive, não são passíveis de verificação experimental. As pesquisas de campo e levantamento são
trabalhosas e podem ser criticadas em relação à validade dos testemunhos (memória e distorções
perceptivas/interpretativas), seletividade dos relatos, entre outros. Além disso, qualquer possível
definição relativa à hipótese da sobrevivência poderia trazer um forte impacto sobre questões
ideológicas, filosóficas e religiosas, entre muitas outras. O que significa dizer que essa é naturalmente
uma área muito tensa e carregada de conflitos o que, obviamente, traz uma grande influência para o
trabalho científico. Todos as fenômenos estudados pela Parapsicologia, não apenas os relativos a
questão da sobrevivência, são extremamente polêmicos visto que, um avanço definitivo na
compreensão de suas naturezas implicaria, possivelmente, na necessidade de revisões científicas,
ideológicas, filosóficas, religiosas, etc. Nossa postura é de abertura, ou seja, de respeito a todas as
possibilidades, hipóteses e, essencialmente voltada desenvolver pesquisas que possam contribuir
para uma melhor compreensão sobre esses fenômenos tão desafiadores.
No que diz respeito ao uso da Parapsicologia como instrumento de disputas religiosas,
podemos afirmar que ela, como ciência, não se prestaria para essa finalidade e que em seu status
atual de desenvolvimento, ou seja, com base estrita nos dados de que dispõe, ela não está apta para
avaliar afirmações religiosas. Há, entretanto, pesquisadores que consideram esses dados relevantes
no sentido de evidenciar uma possível natureza espiritual do ser humano. Numa perspectiva
materialista a consciência é considerada um sub-produto de reações orgânicas, principalmente
aquelas ocorridas no cérebro e no sistema nervoso. Essa perspectiva conflita diretamente com a
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possibilidade de existência de qualquer um os fenômenos estudados pela parapsicologia. Dito em
outras palavras, é possível que, se os fenômenos estudados pela parapsicologia existirem de fato,
essa perspectiva materialista precise ser ou expandida ou modificada.
Outro aspecto importante é que os fenômenos estudados pela parapsicologia estão presentes
nos relatos históricos de praticamente todas as religiões e/ou tradições espirituais da humanidade.
Inúmeros fenômenos psi são atribuídos aos fundadores de grandes religiões, aos santos, gurus,
xamâs, entre outros, sugerindo uma correlação entre os supostos fenômenos e um possível
desenvolvimento espiritual. Um exemplo interessante sobre essa correlação entre conhecimentos
religiosos e parapsicológicos diz respeito à técnica Ganzfeld. A idéia principal dessa técnica é que a
redução na entrada de informações sensoriais poderia auxiliar no reconhecimento da informação psi.
Uma das fontes de inspiração para a utilização dessa técnica na parapsicologia foram os Sutras de
Patanjali, texto clássico sobre o Yoga, do II milênio DC. Dos 195 aforismos de Patanjali, 41são
dedicados aos fenômenos Psi. Essa filosofia religiosa não apenas conhecia todos esses fenômenos
como criou sofisticadas técnicas (ex. meditações) que quando utilizadas sistematicamente
desenvolveriam os referidos fenômenos. Porém eles não se constituíam no objetivo das técnicas e
inclusive eram vistos como um possível empecilhos a um desenvolvimento espiritual superior. Como
vimos, existem pontos de contato entre os fenômenos estudados pela parapsicologia e as tradições
espiritualistas da humanidade, porém, é preciso ter cautela em interpretar essas correlações. A
compreensão que a parapsicologia tem desses fenômenos é bastante modesta, tanto que não existe
ainda uma teoria unificada para explicá-los. Existem muitas teorias, advindas de diferentes áreas do
conhecimento, como a física, psicologia, sociologia, entre outras. Dessa forma, refletimos que, ao
menos em parte, as controvérsias que envolvem a parapsicologia se devem ao seu estado
preparadigmático de conhecimento, ou dito de outra forma, seu estado inicial de desenvolvimento.
Estado esse que pode ser reflexo tanto da complexidade e sutileza de seus supostos fenômenos
como da falta de recursos para as suas pesquisas. Este último aspecto é reforçado por um certo
preconceito acadêmico em relação tanto aos fenômenos como o seu estudo. Também existe a
questão de que esses fenômenos oferecem pouco potencial para serem consumidos comercialmente,
ou seja, não despertam o interesse econômico que praticamente define a maior parte dos rumos da
pesquisa científica.
O desconhecimento quase que generalizado da parapsicologia como disciplina científica,
tanto nos meios acadêmicos como populares, como é discutido mais adiante no item Confusões
Parapsíquicas, também contribui muito para aumentar o envolvimento da parasicologia em
controversias. Neste sentido os meios de comunicação de massa tem um papel decisivo. A grande
maioria das reportagens ou mesmo filmes e novelas que abordam esse tema o fazem de forma
distorcida ou competamente equivocada.
Tanto pela dificuldade de demonstrar e estudar seus fenômenos como pelo grande potencial
que estes parecem ter de evidenciar lacunas no conhecimento científico sobre a compreensão do ser
humano e a realidade em geral, ou ainda pela relação deles com áreas aparentemente conflituosas
com o conhecimento científico, a parapsicologia se constitui com um campo multidisciplinar do
conhecimento humano essencialmente controverso.

ALGUNS TÓPICOS SOBRE A HISTÓRIA E O DESENVOLVIMENTO DA


PARAPSICOLOGIA

A Pesquisa Psíquica / Metapsíquica - 1882 - 1930

Os fenômenos Psi ou parapsíquicos remontam à história do próprio homem, porém, o início


do seu estudo científico é atribuído às pesquisas pioneiras do eminente Químico e Físico William
Crookes, em 1872. A partir de seus estudos, que deram grande evidência aos fenômenos, vários
cientistas envolveram-se com o que, na época, chamava-se de Pesquisa Psíquica e, posteriormente,
de Metapsíquica. Todos esses brilhantes pesquisadores foram acusados, discriminados e
"excomungados" do meio científico. Como resposta a essa exclusão científica, surgiu, em Janeiro de
1882, a SPR (Society for Psychical Research - Sociedade para Pesquisa Psíquica) de Londres, que
tinha como objetivo estudar o mesmerismo e o hipnotismo; as curas paranormais; a clarividência; a
transmissão do pensamento; a mediunidade física e mental; as aparições e assombrações. Já em
1884, surge a filial norte-americana da SPR a ASPR (American Society for Psychical Research).
O período compreendido entre 1882 e 1930, o qual ficou também conhecido como Era
Heróica, é caracterizado principalmente pela pesquisa qualitativa de casos espontâneos ligados, na
sua maioria, à questão da sobrevivência da alma após a morte física. Os sujeitos investigados eram
Médiuns e/ou Psíquicos brilhantes que geravam fenômenos de efeitos físicos incríveis, tais como a
materialização de corpos e objetos, ou a levitação de objetos e, às vezes, dos seus próprios corpos.
Cientistas dos mais eminentes tentaram comprovar a existência desses fenômenos diante de
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uma comunidade científica que os negou terminantemente. A sua aceitação implicaria em mudanças
radicais no sistema de crenças e paradigmas da época. Além disso, algumas tentativas de fraude por
parte de alguns médiuns serviram para que esses fenômenos fossem genericamente desacreditados.

Joseph Banks Rhine (1895-1980) O reconhecimento científico da Parapsicologia 1930 - 1960

A impossibilidade de se provar a existência dos fenômenos pelos métodos utilizados, trouxe a


necessidade de se implementarem novas formas de pesquisa. É nesse contexto que surge, no
Departamento de Psicologia da Universidade Duke (EUA), um trabalho inovador de pesquisa em
Parapsicologia. A partir de 1930, o Dr. Joseph Banks Rhine, sua esposa e colegas passaram a
desenvolver pesquisas experimentais sistematizadas com sujeitos comuns (estudantes da
Universidade de Duke). Através de testes com resposta fechada, utilizando um baralho criado
especialmente para esse fim (Baralho ESP ou Zener), Rhine criou técnicas simples que permitiam a
aplicação do método estatístico. Rhine adotou um sistema conceitual que delimitou o campo de
estudos da Parapsicologia, concentrando-se na pesquisa de ESP (através das cartas Zener) e PK
(com dados de jogar), diversamente do campo de estudo abrangente da Metapsíquica. Por considerar
que as provas a favor da sobrevivência poderiam também ser obtidas por ESP, Rhine decidiu
abandonar temporariamente essa pesquisa.
Rhine e seus colegas criaram um novo paradigma mundial
na Parapsicologia. Através de seus de experimentos ele
evidenciou a existência da Psi e elevou a Parapsicologia a um
novo status científico. Em 30 de Dezembro de 1969, a PA
(Parapsychological Association - Associação de Parapsicologia:
sociedade científica internacional da Parapsicologia) foi aceita
como afiliada à Associação Americana para o Progresso das
Ciências, uma das maiores associações científicas do mundo,
Cartas Zener abrangendo mais de 300 sociedades científicas de todas as áreas.

Era Moderna I - 1960 - 1990

A década de 60 marca o início da Era Moderna em Parapsicologia. Com a revolução cultural


e o uso de alucinógenos, surge um novo interesse pela "vida interior". Esse contexto, somado à
percepção de que as técnicas clássicas de Rhine eram estéreis e cansativas aos sujeitos, fez com
que uma nova geração de parapsicólogos passassem a desenvolver estudos e pesquisas, voltados à
criação de métodos que possibilitassem situações físicas e mentais facilitadoras da Psi. Dois
aspectos principais nortearam a busca desses métodos. Um deles é a tentativa de aproximar, ao
máximo possível, as circunstâncias criadas em laboratório com aquelas vividas na vida diária. O
segundo fator é a exploração dos Estados Modificados de Consciência, tais como a hipnose, a
meditação, os sonhos, etc. Dessa forma, surge uma nova variedade de técnicas de pesquisa,
conhecidas genericamente como técnicas de resposta livre. Dentre elas, destacam-se as técnicas
com Sonhos, nas quais, é sugerido ao sujeito que tente sonhar com um alvo específico; na técnica de
Visão Remota o sujeito fica no laboratório e tenta descrever um local distante onde se encontra um
pesquisador; e na técnica Ganzfeld, o sujeito vivencia uma parcial privação sensorial e um
relaxamento, que o induz a um estado possivelmente favorável para reconhecer a Psi.
O interesse dos parapsicólogos não é mais o de provar a existência da Psi e sim de
compreender a sua natureza. Busca-se agora explorar as correlações da Psi com as atitudes, modos,
fatores de personalidade, diferentes estados da mente, etc.
Já com relação aos estudos de PK, surgem as pesquisas usando Geradores de Eventos
Aleatórios eletrônicos e movidos por fontes radioativas. Os sujeitos tentam influenciar mentalmente os
aparelhos no sentido de fazê-los funcionar de forma não aleatória.
Esse momento é marcado por uma grande proliferação de centros de pesquisa, por uma
maior teorização e também pelo desenvolvimento de novas e mais sofisticadas técnicas de pesquisa
e métodos estatísticos de avaliação.

Era Moderna II - a partir de 1990

Finalmente, chegamos aos anos 90, onde a tecnologia dos computadores é definitivamente
incorporada aos experimentos Psi. A pesquisa torna-se mais e mais orientada ao processo e as
replicações parecem avançar, permitindo um crescente refinamento teórico. Passa-se a utilizar as
técnicas estatísticas de Meta-análise, as quais permitem avaliar conjuntamente grandes conjuntos de
pesquisas realizadas ao longo de períodos extensos de tempo, por exemplo décadas. As aplicações
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da Psi parecem tornar-se mais evidentes. Os psíquicos passam a influir no direcionamento de
empresas, a ajudar a polícia a localizar pessoas desaparecidas ou a resolver crimes, a localizar
fontes de minérios, etc.

BREVE COMENTÁRIO SOBRE O CETICISMO E A PARAPSICOLOGIA

Um dos fatores que tem ajudado em muito o refinamento teórico metodológico da


Parapsicologia são as críticas que ela tem recebido por parte daqueles que concebem a existência
dos fenômenos psi como uma impossibilidade ou que avaliam as evidências a favor desses eventos
como insuficientes; geralmente são conhecidos como céticos. Essas críticas são freqüentemente
incorporadas aos procedimentos metodológicos, tornando-os mais e mais aperfeiçoados. Sob muitos
aspectos a atuação dos céticos com relação, direta ou indireta, a Parapsicologia pode ser
considerada muito benéfica, como no combate ao charlatanismo que tanto prejudica o
credenciamento do trabalho científico dos pesquisadores psi, ou no desenvolvimento de pesquisas
e/ou artigos em conjunto com parapsicólogos, entre outros.
Outro aspecto interessante e talvez pouco conhecido, é que muitos parapsicólogos são
bastante céticos em relação os fenômenos psi. Um ceticismo moderado é extremamente saudável ao
trabalho de pesquisa em parapsicologia. Porém, é também bastante conhecido desses
pesquisadores o efeito experimentador. A disposição do pesquisador para com o fenômeno, para
com o experimento e os seus participantes afeta diretamente os resultados. Um pesquisador que não
acredita na possibilidade da existência dos fenômenos que estuda não terá, a princípio, motivação e
expectativa para o sucesso desse estudo e terá mais dificuldade de criar um “ambiente social
aconchegante”. Esses fatores têm se mostrado muito importantes para os resultados experimentais.
Se numa perspectiva cética poderíamos afirmar que é necessário “ver para crer”, na perspectiva de
se alcançar um experimento que facilite o aparecimento da psi, é necessário “crer para ver”!
Obviamente que essa crença nada tem haver com o relaxamento dos controles experimentais
apropriados.

ALGUMAS PESQUISAS E TENDÊNCIAS ATUAIS

Experimentos contemporâneos mais importantes

Técnica de Pesquisa Ganzfeld

Nessa técnica, a privação sensorial é empregada para se reduzir a entrada de informações


sensoriais, permitindo que o sujeito oriente a sua atenção aos processos internos, com o objetivo de
incrementar a sua capacidade de perceber e reconhecer os sinais da percepção extrasensorial ou psi.
Em seu desenho mais usual temos dois participantes, um “emissor” e um “receptor”. O
“emissor” permanece numa sala com atenuamento acústico e tenta “transmitir” ao “receptor” alguma
informação alvo, seja uma fotografia ou mais recentemente um vídeo clipe (trecho de um filme,
documentário, desenho animado, etc.). O “receptor”, por sua vez, permanece noutra sala distante,
também com atenuamento acústico e procura “captar” por vias extra-sensoriais a informação alvo. Ele
tem seus olhos cobertos com meias bolas de pingue-pongue, sobre as quais incide uma luz vermelha.
Esse aparato produz ao participante, o qual permanece com os olhos abertos, um campo visual
homogêneo que poderá estimular um aumento na freqüência de suas imagens mentais. Através de
fones de ouvido o “receptor” ouve uma indução para um relaxamento físico e mental, seguido do
“chiado branco” (algo similar ao som de um rádio fora de sintonia). O relaxamento diminui a
percepção do próprio corpo. Com a incidência da luz vermelha sobre as bolinhas de pingue-pongue e
a audição do chiado branco busca-se uma redução da entrada de informações sensoriais pelo
fornecimento de um estímulo homogêneo, que com o passar do tempo (cerca de 6 a 10 minutos)
torna-se imperceptível. Dessa forma o participante é estimulado a “desligar-se” do mundo externo e
voltar-se aos seus processos internos (imagens, sentimentos, sensações, etc.), os quais deve relatar
em voz alta durante o período da emissão (entre 20 e 40 min.). Depois de concluída essa etapa o
receptor passa a avaliar 4 video-clipes, dentre os quais, apenas um lhe foi transmitido. Nem o
receptor nem o pesquisador que orienta esse julgamento, conhecem a identidade do vídeo que foi
transmitido. Somente após esse julgamento e o seu registro, o emissor é chamado e revela o alvo
correto. Por puro acaso, somente 1 a cada 4 receptores (25 %) deveriam identificar o alvo correto.
Numa última atualização dos dados da pesquisa Ganzfeld, publicada em setembro de 2001,
considerou-se 1571 sessões individuais, conduzidas por dezenas de investigadores, verificou-se que
30,1 % dos participantes acertaram o alvo correto, sugerindo que ao menos parte da percepção da
informação alvo ocorreu por vias diferentes das sensoriais, ou seja, telepatia ou clarividência.
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Técnica da Visão Remota ou Remote Viewing

Se técnica Ganzfeld busca-se verificar a fenomenologia psi procurando induzir o “receptor” a


um estado modificado de consciência, na técnica da Visão Remota ele permanece no estado de
vigília (consciência de vigília) ao tentar obter uma informação por vias extra-sensoriais. A informação
alvo pode ser uma cena real, uma fotografia impressa ou mostrada na tela de um computador, um
objeto ocultado, etc. Todas as possibilidades de obtenção de informações por vias sensoriais são
vedadas ao sujeito. Uma análise estatística de 154 experimentos conduzidos entre 1973 e 1988
envolvendo 26.000 ensaios (20.000 com respostas fechadas) e 227 sujeitos encontrou um resultado
que ocorreria por acaso uma vez a cada 10 20 vezes. Já numa análise que incluiu dados de
experimentos até o ano de 1996, a Dra. Jessica Utts, Professora de estatística na Universidade da
Califórnia em Davis, concluiu: “Está claro para essa autora, que a Cognição Anômala é possível e foi
demonstrada. Esta conclusão não está baseada em crença, mas sobre critérios científicos
comumente aceitos. O fenômeno foi replicado num número de formas através de laboratórios e
culturas.”

Bio-PK ou DMILS (Direct Mind Interaction of Life System - Interação Direta da Mente sobre
Sistemas Vivos)

Numa das modalidades dessa pesquisa os participantes tentam influenciar a distância os


processos fisiológicos de alvos humanos. Em períodos alternados, escolhidos aleatoriamente, o
agente tenta ativar ou acalmar o sistema nervoso de um paciente, o qual tem seus processos
fisiológicos monitorados. Outra forma de pesquisa, relativamente curiosa por ser inspirada na vida
real, é chamada de Fitar à Distância. Essa técnica verifica se alguém pode descobrir uma observação
fixa por outra pessoa, mesmo que esta pessoa esteja a alguma distância, podendo olha-la fixamente
somente através de câmara de vídeo. Avaliações estatísticas de grandes conjuntos de dados também
tem oferecido resultados significativos, mostrando forte evidência para esse tipo de interação
anômala.
Outra forma de DMILS é Cura a Distância (Distant Healing). Curadores psíquicos tentam
influenciar, à distância, o quadro clínico de pacientes selecionados situados em hospitais, como, por
exemplo, pacientes com AIDS, câncer, diabete, etc. Alguns resultados são também bastante
significativos.
Além dessas formas de pesquisa entre seres humanos, também existem muitos estudos
verificando a interação mental direta entre os seres humanos e animais, vegetais ou ainda
microorganismos.

Micro PK através Geradores de Eventos Aleatórios (GEA ou RNG - Random Number


Generator)

As pesquisas sobre a interação mental direta sobre Geradores de Eventos Aleatórios (GEA)
tornam-se mais e mais sofisticadas em termos tecnológicos. Esses equipamentos funcionam através
de circuitos eletrônicos que geram eventos aleatórios usualmente com fonte num ruído eletrônico ou
por decaimento radioativo. Um GEA pode gerar com um controle científico rigoroso, uma taxa muito
grande de dados que são registrados e analisados por programas de computador. Os sujeitos tentam
influenciar mentalmente a distribuição aleatória dos números ou eventos gerados. Por exemplo, se o
equipamento gera seqüências de 0 e 1, espera-se que a quantidade de 0 e 1 seja equilibrada
(aproximadamente 50% de 0 e 50% de 1). Quanto maior for a seqüência maior deverá ser a
proximidade do resultado com a média esperada por acaso. O sujeito procura desequilibrar essa
distribuição. Alguns experimentos utilizam programas de computador baseados nos eventos
aleatórios. São jogos divertidos e desafiantes, com imagens, gráficos e retro-alimentação auditiva
buscando estimular os participantes a usarem a psi.
Uma avaliação estatística considerou 832 experimentos realizados por 68 pesquisadores
entre 1959 e 1987; os resultados evidenciaram fortemente que a consciência humana pode realmente
afetar o comportamento de um sistema físico aleatório. A chance desse resultados terem ocorrido por
puro acaso é de menos de uma em um trilhão! Numa atualização feita em 1996 a base de dados
cresceu para 1262 experimentos independentes e o efeito encontrado manteve-se, com as chances
de ser devido ao acaso relacionadas uma contra quadro mil.
Outra área associada aos GEAs é a pesquisa do Campo da Consciência. Essa novíssima
área de pesquisa investiga se a “ressonância de consciências” de uma grande quantidade de
pessoas com forte conotação emocional (na entrega do Oscar do cinema, copa do mundo de futebol
e jogos olímpicos, rituais do funeral da princesa Diana ou comemorações de ano novo), pode produzir
padrões não aleatórios em sobre Geradores de Eventos Aleatórios. Algumas pesquisas sugerem que
I Encontro Psi - Contextualização da parapsicologia: definição, fenômenos, histórico, pesquisas e tendências - Silva
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isso ocorreria a partir da existência de um campo de consciência emanado pelo grupo. Alguns
resultados obtidos tem sido também significativos. Um estudo exclusivamente criado para observar
esse efeito é o Projeto de Consciência Global (GCP - Global Consciousness Project), o qual foi
desenvolvido por Roger Nelson da Universidade de Princeton. O GCP utiliza-se de GEAs que são
colocados para gerar e registrar informações em diversas partes do mundo. Os GEAs são
controlados por diferentes pesquisadores, sendo que o projeto constitui-se numa colaboração
internacional em torno do mesmo tema de pesquisa. As informações geradas pelos GEAs são
enviadas pela internet por um computador central onde automaticamente são armazenadas,
analisadas e mostradas no Website do projeto: http://noosphere.princeton.edu

Outras tendências da atualidade

Características Físicas e Fisiológicas da Psi

Verificou-se que as características físicas dos alvos (ex. imagem digital) podem afetar os
resultados dos experimentos psi. Observou-se também que quando o campo magnético da terra ou
geomagnético está alto (ex. durante tempestades com raios) podem ocorrer mais fenômenos de PK,
enquanto que os fenômenos de ESP parecem ser favorecidos por campos geomagnéticos calmos ou
baixos. Essa correlação (CGM x psi) mostrou-se significativamente mais intensa em torno das 13
horas do Tempo Sideral Local (uma medida astronômica que indica a posição das estrelas em
relação a um observador na terra).
Outros estudos têm buscado observar a dinâmica cerebral durante as atividades psi, ou tentar
correlacionar certas tendências neurológicas pessoais (ex. a dominância de atividades no hemisfério
cerebral direito ou esquerdo) com os resultados experimentais. Alguns experimentos de PCG têm
mostrado que quando certos alvos ameaçadores (vídeos clipes) são mostrados nas proximidades dos
sujeitos, alguns segundos antes do alvo ser mostrado eles reagem fisiologicamente indicando
perceberem nesse nível a ameaça potencial antes que ela seja apresentada. Para os alvos neutros,
ou seja, que não representam ameaças, não ocorrem as reações fisiológicas. As reações fisiológicas
mensuradas são o ritmo cardíaco, a resistência elétrica da pele e o fluxo de sangue.
Pesquisas têm também evidenciado que certos processos cerebrais (potenciais do cérebro
relatados ao evento ou ERPs), obtidos para alvos psi, foram significantemente diferentes dos ERPs
para estímulos que não eram alvos, ou seja, trata-se de uma forma fisiológica de verificar quando a
psi ocorre, apesar dessa informação não ser conhecida conscientemente.

Estados Psi Condutivos

Trata-se de um aprofundamento das pesquisas envolvendo os estados modificados de


consciência, tais como sonhos, meditação, relaxamento, processos dissociativos, etc. Os resultados
parecem indicar diferentes correlações desses estados com a produção da psi, porém, devido a
grande quantidade de outras possibilidades de influência sobre os resultados e ainda a obtenção de
resultados contraditórios, não existem definições a esse respeito.

Psi e fatores da Personalidade

Estuda-se como a criatividade, extroversão, memória, espontaneidade, neuroticismo,


mecanismos de defesa, abertura para novas idéias, estilo cognitivo, etc., influenciam a Psi.
Lentamente está surgindo um perfil psicológico psi condutivo, ou seja, favorável a ocorrência da psi.

RSPK ou Poltergeist, Haunting, Reencarnação, EQM, Drop-in e EFC

Após permanecerem relativamente fora do foco de interesse principal de pesquisa,


principalmente em função da era Rhine, esses fenômenos voltam a receber a atenção de muitos
pesquisadores do presente, porém com novas e modernas metodologias tanto de pesquisa como de
análise.

Experimentos por computador e Internet

Na era da informática quase todos os experimentos de laboratório tendem a se automatizar.


Além disso, a revolução da Internet foi rapidamente absorvida pela Parapsicologia e quase todos os
grandes centros mundiais de pesquisa já desenvolveram experimentos virtuais em seus sites.
I Encontro Psi - Contextualização da parapsicologia: definição, fenômenos, histórico, pesquisas e tendências - Silva
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CONFUSÕES PARAPSICOLOGICAS

O resumo exposto nos itens anteriores indicou a maioria dos fenômenos estudados pela
parapsicologia (não todos), evidenciando que a Parapsicologia não estuda tudo o que parece
paranormal ou incomum, por exemplo, ela não estuda os UFOs, ocultismo, etc. A Parapsicologia
também não é sinônimo de astrologia, alquimia, feitiçaria, etc. Paranormais, videntes, místicos,
mágicos, hipnólogos e terapeutas alternativos entre outros, freqüentemente se auto denominam
parapsicólogos, o que de fato, não são.
Deve ficar claro que estes eventos/atividades pertencem a outras áreas do conhecimento
humano. O fato de citá-las como diferentes daquelas estudadas/desenvolvidas pela parapsicologia
não implica em nenhum tipo de juízo de valor ou qualidade das mesmas.
Um parapsicólogo - pessoa que se dedica ao estudo e pesquisa dos fenômenos psi - pode
possuir os mesmos fenômenos que estuda visto que alguns deles parecem ser relativamente
comuns, porém, o fato de manifestar tais habilidades não transforma ninguém num parapsicólogo, o
qual, necessita de uma formação científica para habilitar-se ao complexo estudo dessas desafiadoras
habilidades humanas.
A Parapsicologia, como ciência que estuda e correlaciona capacidades humanas tão sutis,
parece possuir um grande potencial para colaborar com a construção de uma sociedade mais ética e
harmônica, constituída por pessoas mais cientes e agentes de seus potenciais parapsíquicos. É por
essa razão que ela precisa ser conhecida e respeitada a partir de seus estudos e pesquisas e,
distinguida de outras atividades que não lhe dizem respeito diretamente. Naturalmente que podem
existir pontos de contato entre diferentes eventos/atividades, por exemplo, poderia a feitiçaria ser uma
espécie de telepatia? Porém, reconhecer esses pontos não significa retirar os limites/objetivos que
distinguem as diferentes áreas, ou mesmo misturar as suas identidades.

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GANZFELD E NÃO GANZFELD: OBSERVANDO ESTADOS MODIFICADOS DE
CONSCIÊNCIA E OUTROS FATORES FAVORÁVEIS A TELEPATIA,
NUM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Fábio Eduardo da Silva

Professor no Curso Livre de Parapsicologia das Faculdades Integradas “Espírita”,


Professor responsável pelo laboratório Ganzfeld de Pesquisa dessa instituição.

RESUMO

Nessa pesquisa o emissor assistiu 1 vídeo e tentou “transmiti-lo” ao receptor que,


após, assistiu 4 vídeos buscando distinguir qual deles fora transmitido. Na condição
Ganzfeld (GZ) pesquisadores e sujeitos escutaram induções para relaxamento. O
receptor ouviu um “chiado branco” e teve seus olhos cobertos com meias bolas de
pingue-pongue, iluminadas por luzes vermelhas. Na condição não Ganzfeld (ÑGZ)
não houve relaxamento. Realizaram-se 108 experimentos com 74 sujeitos. A taxa
geral de acertos (25,93%) não alcançou significância estatística (SE). Os acertos GZ
(33,33%) e ÑGZ (18,52%) não alcançam SE, porém, aqueles foram compatíveis com
os previstos por estudos prévios. A diferença dos acertos GZ e ÑGZ foi significativa.
Concluindo, não podemos afirmar que a técnica GZ é psi condutiva, mas ela produziu
significativamente mais acertos que a ÑGZ e, apenas um fator, relacionado com os
alvos, afetou os resultados. Análises qualitativas sugeriram que numa metodologia
apropriada (digital) essa análise poderá evidenciar a psi; a metodologia convencional
de erros e acertos pode ser inapropriada e, os dados qualitativos parecem suportar
resultados de estudos anteriores.

Ao longo da história, os fenômenos psi ou paranormais têm sido freqüentemente relacionados com
sonhos, hipnose, meditação e outros estados modificados de consciência ou de atenção interna, produzidos de
forma natural ou deliberada. Essa relação é evidenciada pelo estudo de casos espontâneos, pelos relatos
associados a diversas práticas culturais, por observações clínicas e por estudos experimentais. (HONORTON,
1977, 1994) Mas o que existe de comum nesses estados que poderia facilitar a percepção extrasensorial?
Honorton (1994) encontrou três fatores: a) o relaxamento físico; b) a redução do processamento perceptivo
ordinário (privação sensorial) e c) um nível suficiente de estimulação cortical para sustentar uma atenção a
consciência. Esses fatores podem ser obtidos pela técnica Ganzfeld, a qual foi criada através de pesquisas da
psicologia da Gestalt, voltadas ao estudo da percepção tridimensional do espaço e que, posteriormente
indicaram ser uma técnica capaz de facilitar em condições laboratoriais a produção de imagens alucinatórias do
tipo hipnagógica. Essa técnica foi então adaptada para os estudos da parapsicologia. Basicamente ela é uma
técnica de privação dos sentidos sensoriais voltada a aumentar a atenção dos sujeitos para os seus processos
internos. Entende-se que os estados de atenção interna facilitam a detecção da psi através da redução dos
estímulos sensoriais e somáticos, os quais mascaram o fraco sinal da psi. As pesquisas utilizando essa técnica
têm produzido uma considerável base de dados e, parecem constituir-se num importante instrumento de
maturação da parapsicologia como ciência, tanto no sentido de evidenciar a existência da percepção do
extrasensorial (PES), como em termos de possibilitar o estudo das variáreis relativas ao processo da PES.
Porém, essas mesmas pesquisas têm gerado também uma grande controvérsia em torno de si. Seria o
experimento Ganzfeld um instrumento realmente capaz de replicar o efeito psi sob condições controladas?
Seriam os resultados obtidos devidos à eficiência da técnica em si, ou produzidos a partir de uma interação desta
com outros fatores também considerados psi condutivos? Se os estados alterados de consciência, ou os estados
de atenção interna, são tão importantes para o desempenho psi em laboratório, porque esse desempenho
também tem se mostrado satisfatório em experimentos que não utilizam procedimentos voltados à criação
desses estados? Parece não existir qualquer consenso sobre essas questões entre os parapsicólogos, ou entre
estes e os seus opositores, os céticos. É nesse contexto controverso que a presente pesquisa foi inspirada e se
justifica, objetivando verificar esses vários fatores em conjunto e compará-los com os resultados psi.
O objetivo geral dessa pesquisa foi verificar de forma exploratória a eficácia da técnica Ganzfeld e de
uma possível alteração de consciência gerada por ela, através da comparação dos escores GESP em duas
condições experimentais, a condição Ganzfeld e a condição não Ganzfeld. Além disso, buscou-se controlar e/ou
avaliar outras variáveis também associadas ao desempenho psi, essas variáveis foram relacionadas com os
alvos, com os pesquisadores e o ambiente experimental, com os emissores e receptores.
I Encontro Psi - Ganzfeld e não Ganzfeld: observando estados modificados de consciência 12
e outros fatores favoráveis a telepatia, num estudo exploratório - Silva

Para verificar essa questão foram lançadas 20 hipóteses:


Hipóteses sobre as condições experimentais
1. O número total dos acertos diretos será significativamente maior que a média espera por acaso.
2. Os acertos obtidos na condição Ganzfeld serão significativamente maiores que a média esperada por acaso.
3. Os acertos obtidos na condição Ganzfeld serão significativamente maiores que aqueles obtidos na condição não
Ganzfeld.
Hipóteses sobre as avaliações do estado de consciência na condição Ganzfeld
4. A média do nível de relaxamento (no final da indução ao relaxamento e durante o chiado branco) será significativamente
maior para os sujeitos que acertarem os alvos do que para aqueles que errarem.
5. A média da característica da atividade mental (se mais estruturada, racional, objetiva ou totalmente espontânea, estranha,
tipo sonho) será significativamente maior para os sujeitos que acertarem os alvos do que para aqueles que errarem.
6. A média da perda da noção de tempo será significativamente maior para os sujeitos que acertarem os alvos do que para
aqueles que errarem.
7. A média da perda da noção do corpo ou das sensações corporais será significativamente maior para os sujeitos que
acertarem os alvos do que para aqueles que errarem.
Hipóteses sobre os fatores dos alvos
8. A média dos escores da nota 1 (N1 = conteúdo emocional [juízes do laboratório] x mudança no cont. emocional [juízes do
laboratório]) será significativamente maior para os alvos que forem acertados pelos sujeitos do que para os alvos que
forem errados pelo sujeitos. (avaliação dos juizes do laboratório)
9. A média dos escores da nota 2 (N2 = homogeneidade [juízes do laboratório] x temas novos [sujeitos como juízes]) será
significativamente maior para os alvos que forem acertados pelos sujeitos do que para os alvos que forem errados pelo
sujeitos. (avaliação dos juizes do laboratório/sujeitos experimentais)
10. A média dos escores da nota 3 (N3 = preferência pessoal [sujeitos como juízes] x significado pessoal [sujeitos como
juízes]) será significativamente maior para os alvos que forem acertados pelos sujeitos do que para os alvos que forem
errados pelo sujeitos.
Hipóteses sobre os fatores dos sujeitos experimentais
11. O número dos acertos dos receptores que responderem sim na pergunta sobre envolvimento com atividades criativas e/ou
artísticas da ficha de cadastro dos participantes será significativamente maior que aqueles que marcarem não para essa
questão.
12. O número dos acertos dos receptores com o pólo extroversão no QUATI será significativamente maior que aqueles sem
essa característica.
13. O número dos acertos dos receptores com função principal sentimento no QUATI será significativamente maior que
aqueles sem essa característica.
14. O número dos acertos dos receptores que tiverem marcado os valores de 4 a 7 sobre a freqüência de algum fenômeno
paranormal vivenciado e, respondido sim para a questão se esses fenômenos estão positivamente integrados na visão de
mundo, na ficha de cadastro dos participantes, será significativamente maior que aqueles receptores sem essas
características.
15. O número dos acertos dos sujeitos (emissor e receptor) que tiverem entre si uma relação de consangüinidade será
significativamente maior que aqueles sujeitos sem essa característica.
Hipóteses sobre os fatores dos experimentadores
16. O número dos acertos dos receptores que tiverem os seus experimentos avaliados na questão sobre motivação do
experimentador (tanto pelo Pesq1 como Pesq2) com escores iguais ou superiores a 6 (muito boa), será significativamente
maior que aqueles que tiverem os seus experimentos avaliados com escores iguais ou inferiores a 5 (boa) nessa questão.
17. O número dos acertos dos receptores que tiverem os seus experimentos avaliados na questão sobre expectativa de
sucesso do experimentador (tanto pelo Pesq1 como Pesq2) com escores iguais ou superiores a 6 (muito boa), será
significativamente maior que aqueles que tiverem os seus experimentos avaliados com escores iguais ou inferiores a 5
(boa) nessa questão.
18. O número dos acertos dos receptores que tiverem os seus experimentos avaliados na questão sobre o humor do
experimentador (tanto pelo Pesq1 como Pesq2) com escores iguais ou superiores a 6 (muito bom), será significativamente
maior que aqueles que tiverem os seus experimentos avaliados com escores iguais ou inferiores a 5 (bom) nessa
questão.
19. O número dos acertos dos receptores que tiverem os seus experimentos avaliados na questão sobre o estado físico do
experimentador (tanto pelo Pesq1 como Pesq2) com escores iguais ou superiores a 5 (bom), será significativamente
maior que aqueles que tiverem os seus experimentos avaliados com escores iguais ou inferiores a 4 (regular) nessa
questão.
20. O número dos acertos dos receptores que tiverem os seus experimentos avaliados na questão sobre o ambiente social do
experimento (tanto pelo Pesq1 como Pesq2) com escores iguais ou superiores a 6 (muito bom), será significativamente
maior que aqueles que tiverem os seus experimentos avaliados com escores iguais ou inferiores a 5 (bom) nessa
questão.
Os fatores de crença na psi, experiências psi anteriores, prática regular de algum tipo de disciplina
mental, experiências anterior em experimentação psi e relacionamento de amizade (emissor/receptor), se
constituíram em condições similares para todos os sujeitos experimentais, pois foram pré-requisitos para a
seleção dos mesmos.

ALTERAÇÃO DE CONSCIÊNCIA E GANZFELD


Parker (1975), na sua revisão da literatura sobre esse tema, indica que existe uma evidência anedótica
enorme na literatura psi associando os estados não usuais de consciência (termo sinônimo de EAC) e a psi, bem
como um impressionante suporte experimental sobre a ESP e EACs. Honorton (1977) revisou mais de 80
estudos experimentais os quais envolviam procedimentos indutivos aos estados de atenção interna, como
mostra a tabela seguinte:
I Encontro Psi - Ganzfeld e não Ganzfeld: observando estados modificados de consciência 13
e outros fatores favoráveis a telepatia, num estudo exploratório - Silva

Revisão dos estudos indutivos aos estados de atenção interna


Procedimento Número de Número de estudos Significância combinada
estudos significativos (p<0.05) de todos os estudos
- 12
Meditação 16 9 6 x 10
- 11
Hipnose 42 22 7.5 x 10
-9
Relaxamento induzido 13 10 1.2 x 10
-9
Estimulação GZ 16 8 2.1 x 10
(Honorton, 1977, p.466)
Com base nesses dados, Honorton (1977, p.466) conclui: "O funcionamento psi é aumentado (ex. é
mais facilmente detectado e reconhecido) quando o receptor está num estado de relaxamento sensorial e está
minimamente influenciado por percepções ordinárias ou própriocepções."
Porém, podemos afirmar que a técnica Ganzfeld altera a consciência, ou que a altera da mesma forma
para todos os sujeitos, ou ainda, que induz um estado de atenção interna como afirmava Honorton? Segundo
Alvarado (1998, 2000) a resposta é não! O fato de uma pessoa passar pela experiência Ganzfeld não assegura
que ela terá uma alteração de consciência, ou caso ocorra essa alteração, que ela será pronunciada. Alvarado
(2000) indica que não se deve confundir a técnica voltada a produzir a alteração de consciência com a produção
de estados alterados de consciência. Para se ter certeza de que a técnica produziu um estado alterado de
consciência é preciso que o estudo utilize medidas para avaliar o estado vivenciado durante a técnica. Dessa
mesma forma não é possível afirmar que os resultados de PES são devidos a alteração de consciência, se essa
alteração não for mensurada independentemente da técnica utilizada.
Infelizmente as pesquisas Ganzfeld contemporâneas não têm avaliado a alteração de consciência como
um fator preditivo do desempenho da PES. Esses estudos têm focalizado sua atenção sobre outras variáveis,
tais como a afinidade e os aspectos emocionais dos alvos, as relações entre os participantes, variáveis de
personalidade, alvos estáticos ou dinâmicos, efeito experimentador e o efeito do emissor. (ALVARADO, 2000)
Essa perspectiva considera PES produzida em laboratório como sendo fruto de múltiplas variáveis, o que
não é errado, porém, não é possível que os resultados positivos obtidos na técnica Ganzfeld sejam atribuídos a
uma alteração de consciência, caso não haja uma mensuração que evidencia esse fato.(Ibid.)
Parapsicologia tem se interessado como a relação dos estados alterados e PES por mais de um século, apesar
disso, está claro que as tentativas para entender esta relação tem não sido sistemáticas mas esporádicas."
(ALVARADO, 1998, p. 48) Esse pesquisador indica que nenhum dos modelos propostos para explicar essa relação
foram sistematicamente testados. "Desde de os antigos dias do mesmerismo e da SPR até os recentes estudos, tem
se acreditado que os EACs são condutivos para a PES. Porém ainda depois de todo esse pensamento e todo o
trabalho experimental, existe ainda dúvidas a respeito da necessidade dos estados alterados para produzir PES, e a
respeito do que, se existir qualquer coisa, nos estados alterados fazem deles condutivos de PES. (Ibid. p. 49)

ANÁLISE QUALITATIVA DOS RESULTADOS GANZFELD

Com base nos acertos repetidos e de qualidade impressionante, Parker e Persson (1999) e Parker,
Persson e Haler (2000) realizaram uma análise qualitativa buscando melhorar os procedimentos Ganzfeld para
alcançar, qualitativa e quantitativamente, resultados melhores. Na maioria das sessões conduzidas, os relatos
dos sujeitos foram gravados em tempo real sobre as cópias dos clipes que eram feitas simultaneamente. Pela
análise desses filmes apresentam alguns resultados: a) A cognição mediada pela psi ocasionalmente
envolve a percepção acurada do alvo - O material mediado pela psi parece entrar na consciência mais
freqüentemente de forma direta em vez de associativa ou simbólica. b) Respostas associativas podem
também ocorrer - Por exemplo, um sujeito descreveu corretamente quando uma pessoa foi morta e caiu na
água, porém percebeu um rifle o qual teria sido utilizado nesta ação, enquanto que a arma utilizada foi uma
pistola. c) Percepções erradas ocorrem algumas vezes - Se comparada à natureza da tarefa psi com a
percepção normal existe pouco na forma de expectativa ou contexto para usar no sentido de identificar a
imagem, e isso torna algumas percepções incorretas plausíveis. Freqüentemente os dados sugerem que o tema
geral é corretamente identificado porém seus detalhes são errados. d) Efeitos multi-modais parecem estar
presentes - Efeitos psi mediados por formas auditivas podem concorrer e os sujeitos, algumas vezes,
interpretam corretamente esses sons relativos aos alvos, porém, algumas vezes os interpretam de forma
incorreta. e) Defesas receptivas parecem distorcer ou atrasar algumas das imagens ou imaginações - O
conteúdo de um alvo referia-se a um grupo de mulheres perseguindo e mal tratando outra mulher à qual tentava
fugir através de uma floresta. A mulher fora aparentemente vista primeiro na forma simbólica de uma cobra,
porém, espontaneamente neste momento de seu relato a receptora observou que esta associação poderia
relacionar-se com uma experiência da sua infância, na qual havia sido picado por uma cobra. f) Processos Top
Down parecem estar envolvidos - A expressão processos top down indica como a percepção ocorrida em
condições não ideais é influenciada por expectativas e hipóteses a respeito do que provavelmente estaria na
base da informação disponível, ou das informações básicas. Algumas vezes a percepção psi parece funcionar de
forma semelhante à percepção visual, sendo sujeita aos processos top down. A psi seria então distorcida por
expectativas e análises. g) Efeitos clarividentes, telepáticos e precognitivos parecem ocorrer - Os acertos
de qualidade analisados sugerem que os receptores, algumas vezes, focalizam o alvo em si, outras vezes nas
atividades do emissor e outras ainda em acontecimentos pessoalmente importantes acontecendo ao redor. h)
Efeitos holísticos significativos mediados pela psi parecem ocorrer fora do controle experimental - Sendo
considerado como o mais controverso dos resultados encontrados, esses efeitos dizem respeito a
impressionantes misturas de dois ou mais dos potenciais alvos do conjunto sendo utilizado, tornando difícil o
processo do julgamento. Em outras palavras os receptores captam informações corretas de mais de um alvo ou
fonte e não apenas do alvo correto. i) Muitos, mas não todos, os bons acertos parecem mostrar temas
I Encontro Psi - Ganzfeld e não Ganzfeld: observando estados modificados de consciência 14
e outros fatores favoráveis a telepatia, num estudo exploratório - Silva

repetidos nos relatos da atividade mental - A maioria dos acertos de qualidade mostraram a repetição de
temas nos relatos (2 ou mais vezes), os quais se relacionavam corretamente como um todo ou com partes
importantes do alvo correto. Esse aspecto é compreendido como o efeito da repetição dos alvos para o emissor
(6 a 8 vezes). j) A psi parece ocorrer como um processo psicológico intacto em vez de séries individuais
de correspondências sincronísticas ou anomalísticas - Quando a psi parece estar ocorrendo numa sessão é
possível que toda uma seqüência de descrições corretas venham a emergir. Os dados encontrados suportam a
idéia de que a psi é um processo psicologicamente significativo, um processo extra-sensorial continuo e não uma
sincronia ocasional ou um evento anomalístico.

METODOLOGIA

AMBIENTE EXPERIMENTAL E EQUIPAMENTOS (vide ilustração)

O Laboratório Ganzfeld da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde situa-se junto às instalações


do Curso Livre de Parapsicologia. Este laboratório conta com 4 salas, sendo que 3 delas estão juntas num
mesmo prédio e a outra se encontra a cerca de 120 metros de distância das demais. Entre as três primeiras
salas temos a de recepção e julgamento (S1) onde se recepcionaram os sujeitos e se desenvolveram os
ensaios não Ganzfeld. A sala de operação e julgamento (S2) está separada da sala1 por uma porta dupla. Ela
contém os equipamentos do sistema eletrônico de comunicação. A sala 2 é separada da sala do receptor (S3)
por uma porta dupla recoberta por cortiça e espuma acústica, visando um atenuamento acústico entre ambas.
Esta sala é revestida com uma forração especial (Drywall) que produz uma redução acústica de 40 dB. Nela se
encontra a maca onde o receptor deita-se para tentar relaxar e obter a informação alvo. Próximo da cabeceira da
maca se encontram duas lâmpadas vermelhas (de 25 e 40 W) a uma altura da maca de cerca de 50 cm. A sala
do emissor e alvos (S4), encontra-se afastada 120 m. das demais para evitar qualquer vazamento sensorial
dela para o conjunto de salas do receptor. Ela conta também conta com uma porta dupla. Nela se encontram
duas cadeiras confortáveis e uma mesa central que contém material de arte, um TV 33”, um VCR com caixas
acústicas completam os equipamentos dessa sala, permitindo assim as atividades de emissão.

S1

S4
S2
S3

Forro
Drywall

120 m.
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Sistema eletrônico de comunicação (vide ilustração)


Como mostra a ilustração, foram
utilizados dois mixers, um para o receptor
e o outro para o emissor. O mixer do
receptor tem a função de integrar a
comunicação entre o receptor e seu
pesquisador. Num dos canais de entrada
está conectado o microfone de lapela do
receptor (microfone1), o qual tem a saída
no canal da direita para o fone de ouvido
do seu pesquisador (Pesq1). Noutro canal
de entrada tem-se o microfone do pesq1,
o qual sai no canal da esquerda para o
receptor. Dessa forma tem-se a
comunicação mútua entre o receptor e
Pesq1. O CD Player, o qual produz o CD
com o relaxamento e ruído branco para o
receptor, está conectado num terceiro
canal de entrada e tem saída nos dois
canais. Isso permite que tanto o receptor
como o pesq1 façam o relaxamento.
Porém, o chiado branco só é ouvido pelo
receptor.
Num dos canais de entrada do
mixer do emissor desses está conectado
o segundo microfone de lapela do
receptor (microfone 2), o qual possui
saída em ambos os canais. O canal de
saída da esquerda reproduz o som dos
relatos do receptor, de forma que tanto o
emissor como o pesq2 possam ouvi-los.
Ao ouvir esses relatos, o emissor pode
saber se as informações alvo estão sendo
percebidas pelo receptor. Já o canal de
saída da direita está conectado com um gravador, o qual registra em fita K7 todos os relatos do receptor. Num
segundo canal de entrada, está conectado o segundo CD Player, o qual reproduz o relaxamento específico para
o emissor e pesq2. Para que eles possam ouvir esse relaxamento, a saída de som utilizada é a da esquerda.

PARTICIPANTES DA PESQUISA
As sessões experimentais contaram com dois experimentadores, um que trabalhou controlando as
atividades do receptor (Pesq1) e outro que dirigiu as atividades do emissor (Pesq2). Participaram ainda mais 3
assistentes. O assistente externo de segurança, auxiliando apenas como um controlador extra de segurança. O
assistente externo responsável pelos alvos experimentais foi responsável pela disponibilização dos alvos para
cada experimento. O assistente especial para a aleatorização dos alvos experimentais, 15 dias antes do início da
pesquisa, utilizando-se de 90 tabelas de números aleatórios (RAND, 1955), aleatorizou dados para todos os
ensaios.
Participaram dessa pesquisa 74 sujeitos formando 37 duplas (Emissor, Receptor), as quais fizeram no
mínimo 2 ensaios (um na condição Ganzfeld e o outro na condição não Ganzfeld) e no máximo 4, quando
invertiam os papeis de emissão e recepção e realizavam mais dois ensaios. As idades desses participantes
variaram de 14 a 66 anos, com a média 38 e o desvio padrão 12. Esses participantes foram selecionados pelos
seguintes aspectos:
I. Fatores imprescindíveis, tanto para o receptor como para o emissor: a) acreditarem na possibilidade
de ocorrência das experiências paranormais; b)terem tido experiências paranormais espontâneas anteriores; c)
praticarem regularmente algum tipo de disciplina mental (ex. meditação, relaxamento ou visualizações, hipnose
ou auto-hipnose, Tai Chi Chuam, etc.); d) terem participado alguma vez de um experimento psi, não
necessariamente com a técnica Ganzfeld (esse fator foi oferecido pela própria pesquisa na condição
treinamento); e) que tenham entre si (emissor e receptor) uma relação de amizade ou afinidade.
II. Fatores desejáveis, mas não imprescindíveis, tanto para o receptor como para o emissor: a)
envolvimento com atividades criativas e/ou artísticas; b) função principal sentimento e foco de atenção
extroversão no Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI); c) terem experiências psi com freqüência e inclui-
las positivamente em sua visão de mundo; d) terem abertura para idéias e experiências novas; e) terem entre si
(emissor e receptor) uma relação de consangüinidade.

ALVOS EXPERIMENTAIS

Os alvos experimentais foram videoclipes com duração aproximada de um minuto cada um. O conjunto
total de alvos contém oitenta videoclipes organizados em vinte grupos de quatro clipes cada. Cada conjunto de
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quatro clipes é gravado em duas fitas VHS. A fita Emissor é destinada ao uso do emissor e contém os quatro
clipes gravados em disposição aleatória, separados por intervalos de três minutos sem gravação. A fita Receptor
é destinada ao julgamento do receptor e contém os mesmos 4 alvos da fita Emissor, também dispostos em
ordem aleatória, porém com intervalos de 10 segundos entre cada um deles. Cada fita está lacrada dentro de um
envelope opaco, que contém no seu exterior a palavra referente ao tipo de conjunto de alvos: Emissor ou
Receptor. Esses dois envelopes estão fechados dentro de um terceiro envelope maior, também opaco, que
contém o número do conjunto de alvos - 00 a 19.
Os alvos foram avaliados em três fatores:
Fatores Escala Juizes Nota
Emocionais 1-25 N1 = a x b
a) Emoção expressa nos alvos 1-5 Pesquisadores
b) Mudança repentina no conteúdo emocional, eventos repentinos, surpreendentes 1-5 Pesquisadores
De auxílio ao julgamento 1-25 N2 = c x d
c) Homogeneidade dos conteúdos 1-5 Pesquisadores
d) Temas novos, diferentes, não usuais ao contexto sócio-cultural dos sujeitos 1-5 Sujeitos experim.
Preferência e Significância para os sujeitos experimentais 1-25 N3 = e x f
e) Preferência ou gosto pessoal 1-5 Sujeitos experim.
f) Relação com a história/momento atual de vida ou significado pessoal 1-5 Sujeitos experim.

TÉCNICA EXPERIMENTAL

Condição Ganzfeld - 9 etapas (previsão geral de tempo - 3:24 h.):


0 Preparação inicial sem os sujeitos - 40 min. - pesquisadores preenchem os seus formulários e faze um check list referente
as suas atividades, verificando se todos os materiais e equipamentos estão em ordem.
1 Preparação inicial com os sujeitos - 20 min. - os sujeitos são recepcionados e preparado para o experimento. O Pesq1, na
S3 e com o auxilio do emissor, instrui e prepara o receptor o qual deve deitar-se na maca. Usando um esparadrapo
poroso, fixa as metades de bolinhas de pingue-pongue sobre os olhos do receptor, colocando-lhe também os fones de
ouvido e os dois microfones de lapela. Estimula a empatia entre o emissor e o receptor.
2 Preparação para o relaxamento - 15 min. - o Pesq1 testa os equipamentos, verificando se o volume dos fones do
Receptor está confortável, tanto para a voz do pesquisador como do CD de relaxamento. O Pesq2 segue com o emissor
para S4. Abre o envelope com o alvo e prepara o vídeo com o mesmo, colocando-o na devida posição somente pelo
contador digital do equipamento, sem mostrar nenhuma imagem; coloca os seus fones e solicita ao emissor que coloque
os seus também.
3 Relaxamento - Emissor (19:22) Receptor (20:38) - O Pesq1 aciona os CDs Player 1 e 2 com os CDs de relaxamento, de
forma que todos os participantes (Pesq1, receptor, Pesq2 e emissor) possam ouvi-lo e tentar relaxar.
4 Emissão e recepção - Chiado Branco (28:06) - O Pesq1 Aciona o gravador para os relatos do receptor e passa anotá-los
em ficha específica. O Pesq2 Aciona o vídeo clipe e após tê-lo exibido pela 1a vez, retrocede-o sem mostrá-lo na tela da
TV, aguarda 3 minutos e passa o clipe novamente. Repete essa operação por mais 6 vezes (total 7 vezes) , totalizando
assim 28 minutos. Nos intervalos dos clipes, sugere outras atividades ao emissor (desenho, dramatização, visualização.).
5 Narrativa dos relatos - 15 min. - Após o chiado branco, através do seu microfone, o Pesq1 narra para o receptor as
anotações sobre o seu relato.
6 Julgamento & Avaliação pessoal dos alvos - 40 min. - O Pesq1 informa ao receptor o término da etapa, entra na S3 e
ajuda-o a retirar seus equipamentos. Retorna com ele para a S2, dando-lhe orientações sobre o julgamento. Apanha o
envelope R que esta dentro do arquivo e exibe a fita no VCR pela primeira vez para que o receptor tenha uma idéia geral
dos alvos. Retrocede e repete essa fita, dessa vez passando alvo por alvo e, relendo pausadamente todos os relatos do
sujeito, solicita que o mesmo indique se cada frase lida relaciona-se ou não com o alvo em questão. Ao final das
correlações indica ao sujeito quantas correlações fez com cada um dos 4 alvos e pergunta a ele se ele já se sente seguro
para fazer a sua escolha. O receptor deve verificar qual dentre eles contém mais similaridades com os seus relatos da
sessão Ganzfeld e registrar sua escolha em ficha específica. Após o receptor ter concluído o seu julgamento o Pesq1 faz
também o seu julgamento. Um terceiro julgamento é realizado, desta vez em conjunto, Pesq1 e receptor. O pesquisador
pode expressar suas idéias e buscar um consenso com o receptor. Após os julgamentos o Pesq1 conduz a avaliação dos
alvos pelo receptor. Através do microfone de lapela o emissor continua a ouvir o receptor e tentar influenciá-lo no sentido
induzi-lo no julgamento para a escolha do alvo correto. A pós o mesmo ele também avalia o alvo emitido.
7 Revelação do alvo - 10 min. - O Pesq1 chama pelo microfone o Pesq2 e o emissor para que venham a S2 e revelem o
alvo. O Pesq2 segue junto com o emissor para S2 e revelam o alvo
8 Conclusão - 15 min. - Após a revelação do alvo, os pesquisadores sugerem aos sujeitos que conversem sobre suas
experiências a respeito do experimento. Após esse momento, é oferecido um pequeno lanche aos sujeitos, com bolachas,
chocolates, suco e água.

Condição não Ganzfeld - Previsão geral de tempo - 2:00 h.


Essa condição pode ser dividida em 6 etapas: 0) Preparação inicial sem os sujeitos - 40 min., 1)
Preparação inicial com os sujeitos - 20 min., 2) Emissão e recepção - 35 min., 3) Julgamento - 20 min., 4)
Revelação do alvo - 10 min., 5) Conclusão - 15 min. Nela a metodologia utilizada é igual a anterior, com exceção
de que não ocorre indução a relaxamento e nem chiado branco. Toda a dinâmica é pensada para ocorrer em
estado de vigília. Outra diferença é que as atividades do receptor ocorrem na S1, utilizando-se a mesa retangular
dessa sala.
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RESULTADOS

ANÁLISES QUANTITATIVAS

Condições experimentais (H1, H2 e H3)


Acertos por condição/julgamento - diferença entre condições (H1-H3)

Efeito Efeito Z
Condição Juiz Tamanho h
N Ensaios N acertos % acertos Tamanho
Geral Sujeito 108 28 25,93 0,51 0,01 0,11
Pesquisador 108 28 25,93 0,51 0,01 0,11
Consenso 108 28 25,93 0,51 0,01 0,11
Ganzfeld Sujeito 54 18 33,33 0,60 0,17 1,26
Pesquisador 54 16 29,63 0,56 0,09 0,63
Consenso 54 17 31,48 0,58 0,13 0,94
Não Ganzfeld Sujeito 54 10 18,52 0,41 -0,13 -0,94
Pesquisador 54 12 22,22 0,46 -0,04 -0,31
Consenso 54 11 20,37 0,43 -0,09 -0,63
Diferença Gz x ñ Gz Sujeito 108 - - - - 2,00
Pesquisador 108 - - - - 1,11
Consenso 108 - - - - 1,56

Avaliações do estado de consciência na condição Ganzfeld (H4, H5, H6 e H7)


Diferença entre as médias (t student ) das variáveis avaliadas para
erros (N=36) x acertos (N=18) na condição Ganzfeld para dados do Receptor e do Emissor

Média p/acertos Média p/erros t Dif


Variáveis - Receptor (escala 1-7)
Gz - N=18 Gz - N=36
Estado de humor 5,50 5,86 -1,15
Nível relaxamento ao final relaxamento 6,56 6,47 0,37
Nível relaxamento durante Chiado Branco 5,61 5,92 -1,11
Nível relaxamento ao final Chiado Branco 5,28 5,64 -1,00
Tipo de atividade mental 5,33 5,69 -1,03
Perda da noção do tempo 5,78 6,03 -0,62
Perda da noção do corpo 4,17 5,17 -2,06

Variáveis - Emissor (escala 1-7)

Estado de humor 6,50 5,39 3,82


Nível relaxamento ao final relaxamento 6,50 6,28 0,93
Nível relaxamento depois da 1a exibição 6,17 5,39 2,13
Nível relaxamento depois da 4a exibição 5,06 4,92 0,31
Tipo de atividade mental 4,83 4,25 0,96
Perda da noção do tempo 5,50 5,64 -0,24
Perda da noção do corpo 4,11 3,83 0,45

Fatores dos alvos (H8, H9 e H10)


Diferença entre as médias (t student ) das variáveis avaliadas para os alvos
acertados x alvos errados - critério específico - para dados do Receptor, Emissor e Juizes do laboratório (H8-H10)

Média para alvos Média para alvos


Variáveis (escala 1-5) t Dif
acertados errados
a - Emoção expressa nos alvos - Juizes Laboratório - N=31 3,10 2,76 0,88
b - Mudança no conteúdo emocional alvos - Juizes Laboratório - N=31 2,60 2,19 0,80
(escala 1-25) - Nota 1 - Juizes do Laboratório - a x b - N=31 9,10 6,38 1,32
c - Homogeneidade conteúdo alvos - Juizes do Laboratório - N=31 3,50 3,62 -0,38
d -Temas novos, diferentes ao contexto vida - Receptor - N=64 2,65 3,04 -0,94
d -Temas novos, diferentes ao contexto vida - Emissor - N=64 2,12 2,28 -0,42
(escala 1-25) - Nota 2 - c x d - Receptor - N=64 7,94 8,26 -0,20
(escala 1-25) - Nota 2 - c x d - Emissor - N=64 9,88 11,04 -0,47
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Diferença entre as médias (t student ) das variáveis avaliadas para os alvos


acertados (N=17) x alvos errados (N=47) - critério específico - para dados do Receptor e do Emissor (H8-H10)

Média para alvos Média para alvos


Variáveis - Receptor (escala 1-5) t Dif
acertados - N=17 errados - N=47
e - Preferência/gosto pessoal - N=64 3,94 3,68 0,83
f - Relação c/ história - momento atual - significado especial - N=64 3,65 2,91 2,78
d -Temas novos, diferentes ou não usuais ao contexto de vida - N=64 2,65 3,04 -0,94
(escala 1-25) - Nota 3 - e x f - N=64 14,88 11,06 2,32
Variáveis - Emissor (escala 1-5)

e - Preferência/gosto pessoal - N=64 4,00 3,79 0,62


f - Relação c/ história - momento atual - significado especial - N=64 3,00 3,26 -0,84
d -Temas novos, diferentes ou não usuais ao contexto de vida - N=64 2,12 2,28 -0,42
(escala 1-25) - Nota 3 - e x f - N=64 12,06 13,17 -0,57

Fatores dos sujeitos experimentais - diferença dos acertos (X2) para as variáveis avaliadas

Variável Hipótese N Acertos % X2


ñ criativos H11 60 15 25,00
0,06
S criativos 48 13 27,08
Extrovertidos - perfis 1 a 8 H12 28 7 25,00
0,01 *
Introvertidos - perfis 9 a 16 76 20 26,32
Função Principal Sentimento (1,2,9,10) H13 66 19 28,79
0,40 *
Outras Funções Principais (3,5,6,7,8,13,14,15) 38 8 21,05
Suj. Freq. Fenômeno PP 4 H14 60 16 26,67
0,04
Suj. Freq. Fenômeno PP 3 48 12 25,00
Sujeitos c/ consangüinidade H15 8 1 12,50
0,23 *
Sujeitos s/ consangüinidade 100 27 27,00

Fatores dos experimentadores - diferença dos acertos (X2) para as variáveis avaliadas

Variável Hipótese N Acertos % acertos X2


Alta motivação H16 70 19 27,14 0,03 *
Baixa/média motivação 38 9 23,68
Alta expectativa de sucesso H17 71 18 25,35 0,00 *
Baixa/média expectativa de sucesso 37 10 27,03
Alto nível de humor H18 62 18 29,03 0,73
Baixo/médio nível de humor 46 10 21,74
Estado físico muito bom ou superior H19 45 12 26,67 0,02
Estado físico bom ou inferior 63 16 25,40
Ambiente Social muito bom ou superior H20 97 27 27,84
0,96 *
Ambiente Social bom ou inferior 11 1 9,09

* Foi utilizada a correção de Yates para amostras pequenas.

ANÁLISES QUALITATIVAS: ACERTOS E ERROS DE QUALIDADE

Acertos e erros de qualidade: apresentação


Durante o desenvolvimento dessa pesquisa nos deparamos com dados de ordem qualitativa que nos
surpreenderam e que não estavam previstos para as nossas avaliações. Na comparação do conteúdo dos
relatos com o conteúdo dos alvos, verificamos que, tanto para os acertos como para os erros haviam níveis bem
diferenciados de relação. Assim chamamos de acerto de qualidade aqueles que evidenciaram uma forte
correlação, ou seja os conteúdos do relato relacionavam-se bem (direta ou indiretamente) com as características
do alvo que fora transmitido. Nesse caso o sujeito escolhe o alvo correto e tem o acerto. Por outro lado
chamamos de erro de qualidade quando a descrição do relato é também acurada, mas em relação a um ou mais
alvos que não foram transmitidos. O sujeito escolhe um alvo incorreto e caracteriza-se o erro. Abaixo se
descreve dois exemplos dessa dinâmica.
I Encontro Psi - Ganzfeld e não Ganzfeld: observando estados modificados de consciência 19
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Descrição dos alvos usados nos experimentos 77 / 78


Conjunto 05
Alvo 17 Baleias - mostra algumas baleias nadando suavemente. Elas têm a coloração escura e nadam num mar azul de
ondas calmas. Elas mergulham e vem à tona em graciosos movimentos, os quais são acompanhados por uma
música suave e harmoniosa, que lembra o estilo new age. Ao mergulharem e emergirem suas caudas geram
ondas brancas que refletem a luz do sol, o qual não aparece a não ser indiretamente. O céu é azul e claro.
Alvo 18 Tornado - mostra um documentário sobre tornados. Com uma música tensa de fundo e uma narração, em língua
portuguesa, num tom grave, apresenta diversos tornados em ação. Com cor predominante cinza, os funis de
evento vão arrastando e arrancando tudo o que vem pela frente. A vegetação mostrada tem altura baixa e média
e coloração verde acinzentada; pequenos arbustos e árvores que são arrancados pelo tornado. A última cena
desse alvo mostra um grande tornado na cidade que Pampa (EUA). Num céu cinza amarelado, tendo uma música
de suspense e um relato de aviso de tornado para a região, mostram-se os funis de fumaça cinza esbranquiçada.
Alvo 19 Mamãe gorila - é um desenho animado do Tarzan bebê e sua mãe gorila. O alvo inicia cheio de ternura com a
mãe gorila embalando o bebê Tarzan dentro de uma cabana de madeira. De repente surge uma onça e, com uma
música dinâmica de fundo, se inicia uma violenta perseguição e luta entre a onça e a mamãe gorila. Dentre as
cores que se destacam estão o amarelo dourado da onça, o marrom da mamãe gorila, o azul e um pouco de
verde. Esse alvo mistura suspense, a ação em ironia.
Alvo 20 Naves espaciais em guerra - apresenta uma cena do filme guerra nas estrelas. Ele inicia com espaçonaves se
aproximando de uma cidade espacial e num sulco (espécie de corredor) desta cidade avançam sob o ataque de
canhões laser. O fundo aparece esporadicamente como um céu azul cheio de estrelas. Ocorre uma perseguição
de espaçonaves com ataques laser e explosões violentas. A tonalidade da cidade e das naves é cinza-escuro,
enquanto que as explosões misturam branco, amarelo, laranja e vermelho. Essa dinâmica é visualizada ao som
do deslocamento das espaçonaves e dos canhões laser, além das freqüentes explosões. A cor dos disparos laser
é verde luminoso. A cena é encerrada com uma espaçonave lançando um disparo laser para dentro da cidade e
afastando-se dela rapidamente. Ocorre então uma grande explosão da referida cidade.

Experimento nº 77 - 31/02/02 - Não Ganzfeld - Erro - Alvo certo 017, alvo escolhido 019.
Dupla n.º 28
Savana, céu, terra, mato baixo. Animais correndo. Nuvens pesadas, formadas no céu. Impressão de céu muito
grande. Vento, impressão mais forte de céu. Savana, campo bem aberto, sem árvore grande, mais mato baixo . L.
deu uma relaxada. Macaco. Céu, nuvem, parece quase uma onda, macaco perto, mas no céu. Savana, campo,
vento, campo claro, iluminado pelo sol, mais para dourado, talvez árvore, mas ... não. Macaco, de pelagem
avermelhada, diferente. Água perto. Nada diferente. Vento, céu, nuvens, animais correndo, servos. Nuvens brancas,
formação acinzentada, me dá dúvidas com a onda. Céu azul. Vento, é possível quase escutá-lo balançando o
matinho baixo. Plaquinha indicando o caminho, fincada no chão. Montanha de pedra e terra, reta. Céu do mesmo
jeito, a vegetação também. A placa separou em duas partes, de um lado as savanas e de outro as montanhas.

Comentários
Outro relato pequeno, mas muito interessante. Ele sugere a captação, ao menos em parte, de três dos
quatro alvos. As primeira 6 frases adaptam-se muito bem ao alvo do tornado. Logo surge a palavra macaco. Alvo
mamãe gorila! A frase seguinte é muito curiosa, “Céu, nuvem, [alvo do tornado] parece quase uma onda, [alvo
das baleias] macaco perto, [alvo mamãe gorila], mas no céu.” de novo alvo do tornado! Não parece nada comum
uma frase com uma nuvem no céu que parece uma onda, com um macaco perto, mas no céu! Na frase seguinte
afirma que é possível quase escutar o vento balançando o matinho. Pulando a próxima frase, volta a mencionar
o céu e a vegetação. No próximo experimento mostrado, realizado pela mesma dupla, ocorreu a coincidência de
sair o mesmo conjunto e, o único alvo que não foi captado neste experimento, o da guerra nas estrelas, foi
captado e acertado com toda a convicção pelo receptor.

Experimento nº 78 - 07/02/02 - Ganzfeld - Acerto - Alvo certo 020 - Dupla 28


Estou vendo raios, luz. Estou sentindo uma certa apreensão. Estou vendo uma cidade bem distante, ou uma
construção. Uma sensação muito forte de início e fim. Estou vendo gente, não sei, estou com a impressão de guerra.
A cena parece que está sendo vista de um lugar mais alto. A cidade está bem distante, parece bem pequeninha. O
céu parece escuro pesado. A sensação de medo, que angústia, diminuiu. De novo a impressão de guerra, soldados,
gente correndo. Há ainda a imagem da cidade, de casas baixas, bem em baixas. Às vezes dá a impressão de um
amontoado de pedras. Árvores. Às vezes dá a impressão de uma floresta, de um parque de visitação.
A cena mudou bastante, uma imagem de mata. Me veio uma formação estranha, parece um pórtico ou
uma coisa assim. Uma entrada de algum lugar, uma formação. Agora veio a imagem de uma ruína grega. É uma
ruína conhecida fico, mas eu não consigo lembrar o nome. Fica no alto, ele cercada por floresta e mato baixo. Uma
impressão muito forte desta ruína, um lugar aberto para visitação. Ainda a impressão de céu pesado. A sensação
que estou sentindo é de apreensão. Ela alterna pouco entre esta ruína, mato, essa sensação de mato é muito
grande. Pessoas caminhando. Nenhuma novidade. Sensação de vazio, de luz, sem imagens. Sensação muito forte
de medo, apreensão e guerra.

Comentários
Quase o primeiro parágrafo inteiro descreve o alvo de forma acurada! Interessante notar a percepção de
pessoas, soldados, gente correndo. Isso não é mostrado no filme. Outra frase que chama a atenção é “Uma
sensação muito forte de início e fim.”, parece uma percepção muito sutil da situação da guerra e destruição.
Após essa percepção inicial acurada, desvia do tema, retornando a ele no final do relato.

Nota. Os grifos indicam possíveis correlações do relato com o(s) alvo(s)


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e outros fatores favoráveis a telepatia, num estudo exploratório - Silva

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Análises quantitativas

Condições experimentais (H1, H2 e H3)


Era esperado que a média geral de acertos se afastasse significativamente da MEA em função de que
diversos fatores considerados psi-condutivos (perfil dos sujeitos, alvos, postura dos pesquisadores e EAI - para
parte dos ensaios) foram arranjados de forma a otimizar a possibilidade de resultados significativos. Com a taxa
geral de acertos praticamente igual a MEA (25%) H1 é descartada. Os escores da condição ÑGZ totalizaram
18.5%, valor abaixo dos 25% aguardados por acaso, mas não há um nível significativo. Esperava-se que os
acertos dessa condição fossem menores do que os da condição GZ, mas não abaixo da MEA. Já os acertos GZ
(33%) se afastaram positivamente da MEA, mas não há um nível significativo, descartando H2. Porém, tanto
essa taxa como o efeito tamanho ( =0.6) por ela alcançado estão dentro dos valores esperados para a técnica
GZ (33-35% e 0.53-0.64 respectivamente). (BEM, HONORTON, 1994) Se incluídos em uma meta-análise esses
dados contribuiriam para a significância geral dos estudos. Nesse sentido concluímos que o desempenho da
técnica GZ, mesmo não tendo alcançado resultados significativos, foi compatível com o que era esperado dela.
Porém, faz-se necessário para os próximos experimentos aumentar o número de ensaios (mínimo de 80) para
que os resultados futuros alcancem a significância esperada.
Na comparação entre as condições experimentais vemos que a diferença entre os escores GZ e ÑGZ
(33.3 e 18.5% respectivamente) alcança significância, confirmando H3. Isso sugere que a técnica GZ pode ter
de alguma forma, desempenhado um papel significativo na produção de acertos. Esse resultado vem confirmar
os dados de uma pesquisa recente (ainda não publicada): "El tipo de efecto fuertemente encontrado fue una
condición Ganzfeld vs. no-Ganfeld (control) para estudiar el efecto de magnitud de la técnica sobre el
desempeño de psi, donde la técnica Ganzfeld incrementa el efecto (p= <000.1, a dos colas), en dirección a
nuestra predicción.” (PARRA, 2002)
Mas, se por um lado fica fortalecida a idéia de que a técnica produz resultados significativamente
maiores que condições de controle, o mesmo não ocorre em explicar por que isso acontece. Nesse sentido
parece interessante sugerir que estudos futuros continuem a usar condições de controle, buscando não apenas
confirmar novamente esse efeito, mas também, caso seja confirmado, investigar melhor o sentido do mesmo, o
qual poderá auxiliar na compreensão da própria psi.

Avaliações do estado de consciência na condição Ganzfeld (H4, H5, H6 e H7)


Os dados comparativos sobre a média do nível de relaxamento (auto-relato) para os sujeitos que
acertaram o alvo em relação aos que erraram de forma geral não se mostraram significativos, descartando H4. O
mesmo ocorreu com os dados da característica da atividade mental (se mais estruturada, racional, objetiva ou
totalmente espontânea, estranha, tipo sonho) (H5) e da perda da noção do tempo e do corpo (H6). Para os
dados do receptor, dos seis aspectos avaliados cinco se mostraram na direção contrária a qual se havia previsto.
A média da perda da noção do tempo, por exemplo, foi maior para os receptores que erram o alvo do que para
aqueles que o acertaram e, nesse específico caso essa diferença alcançou significância. Com a evidência de
que a alteração de consciência não é maior para os acertos do que para os erros (descartadas todas as
hipóteses nesse sentido), questiona-se a importância dessa alteração na facilitação da psi. Esses embaralham a
perspectiva teórica seguida, questionando a sua validade.
Uma das variáveis (não hipotetisada) adicionais verificadas (estado de humor) se mostrou com um nível
médio significativamente maior para os emissores que tiveram acerto nos seus experimentos em relação aqueles
que tiveram erros nos seus experimentos. Talvez seja esse um fator que possa afetar a dinâmica psi e, em parte,
explicar os resultados obtidos nessa pesquisa. Verificações futuras, baseadas em previsões (hipóteses), poderão
confirmar ou não esse efeito encontrado.
Uma sugestão para futuras testagens que buscasse verificar novamente a questão da alteração de
consciência x acertos psi, seria de usar medidas fisiológicas para o nível do relaxamento, visto que se notou uma
certa dificuldade por parte dos sujeitos quando a essa questão. A avaliação por auto-relato passa naturalmente
pelas referências/experiências pessoais dos sujeitos. Uma medida fisiológica não apenas evitaria essa
subjetividade como poderia ser referência de auxilio para a compreensão da psi.

Fatores dos alvos (H8, H9 e H10)


Das três hipóteses lançadas, uma foi confirmada (H10) e duas refutadas (H8 e H9).
Para a nota 1 (composta pelos fatores Emoção expressa nos alvos - Juizes Laboratório x Mudança no
conteúdo emocional alvos - Juizes Laboratório) relativa a H8, refletimos que o fator Emoção expressa nos alvos
deve ser avaliado pelos receptores e não pelos pesquisadores ou quaisquer outros juizes, visto que pudemos
verificar que nossas avaliações não corresponderam as avaliações dos sujeitos durante os experimentos. Para
estudos futuros encontrem resultados que correspondam a uma real correlação entre a emocionalidade dos
alvos e a psi, essa avaliação deverá ser feita pelos sujeitos. Quanto ao segundo aspecto, parece-nos que pode e
deve continuar sendo avaliado pelos pesquisadores.
Na nota 2 (composta pelos fatores Homogeneidade conteúdo alvos - Juizes do Laboratório x Temas
novos, diferentes ao contexto vida - Sujeitos experimentais) relativa a H9, também verificamos a necessidade de
mudar a forma de avaliação de um dos fatores. A homogeneidade dos alvos precisa ser avaliada por alguma
forma objetiva. Nossa experiência verificou na prática que as avaliações feitas estavam superestimadas (tanto
para a homogeneidade dos alvos como para a heterogeneidade dos conjuntos). Essa preocupação com medidas
I Encontro Psi - Ganzfeld e não Ganzfeld: observando estados modificados de consciência 21
e outros fatores favoráveis a telepatia, num estudo exploratório - Silva

mais objetivas para os fatores dos alvos tem se mostrado presente em trabalhos recentes. (PARKER, 2001)
Na nota 3 (composta pelos fatores Preferência/gosto pessoal - Sujeitos experimentais x Relação c/
história - momento atual - significado especial- Sujeitos experimentais) relativa a H10, mostrou-se coerente com
o que se havia previsto, indicando índices significativamente mais altos para os alvos acertados que aqueles
errados. O critério que mais se destacou (encontrando significância isoladamente) foi o da relação dos alvos com
a história/momento atual de vida ou significado especial para os receptores. Esses dados enfatizam a
importância da significância pessoal dos alvos na sua captação. Nossos dados de ordem qualitativa parecem dar
algum suporte a essa idéia. Dados recentes de uma pesquisa brasileira, a qual comparou escores psi com cartas
Zener x escores psi com cartas de Tarô (as quais foram escolhidas individualmente pela preferência pessoal)
também confirmam esse fator. (LINDMEIER, 2000)

Fatores dos sujeitos experimentais (H11, H12, H13, H14 e H15)


A primeira hipótese (H11) previa um desempenho psi significativamente melhor para os sujeitos que se
auto indicassem como criativos, o que de fato não ocorreu. Como esse fator conta com diversos estudos
confirmatórios, mas que não usaram auto avaliação como índice, em estudos futuros poderíamos trabalhar com
populações de artistas profissionais e comparar seus escores com os dos demais sujeitos. As duas hipóteses
seguintes (H12 e H13), relativas ao perfil extrovertido e ao perfil com função principal sentimento (ambos no
QUATI) teriam, separadamente, escores superiores em relação aos demais perfis, foram igualmente refutadas.
Porém analises alternativas, não previstas, mostraram uma superioridade significativa na taxa de acertos para os
sujeitos com Função Principal Sentimento + Extroversão em relação aqueles com Funções Principais +
Extroversão. Ou seja, entre os extrovertidos, aqueles com a função principal sentimento se destacam
significativamente. Em complemento verificou-se que dentre os perfis, aquele que obteve a maior taxa de acertos
foi o perfil 1 (Extroversão com função principal Sentimento e função auxiliar Intuição) equivalente ao perfil ENF
do MBTI. Esses dados confirmam a tendência dos resultados anteriores discutidos na revisão da literatura e
sugerem testagem futuras com hipóteses e análises prévias.
A próxima hipótese (H14) relativa a freqüência de fenômenos psi e a integração positiva desses na
visão de mundo (auto-relato) x escores psi, não pôde ser avaliada em função de que o segundo fator não contou
com nenhuma resposta não. Em análise alternativa incluindo somente o primeiro fator não se encontrou
diferença significativa. Esse parece um fator difícil para avaliações futuras, principalmente pelo auto-relato
diferenciado para cada sujeito. Verificamos que alguns sujeitos têm critérios muito rígidos para considerar como
paranormal algum fenômeno, outros, ao contrário, parecem considerar “qualquer coisa” como paranormal.
O fator sobre a relação de consangüinidade dos sujeitos como potencializador da psi não teve sua
hipótese (H15) confirmada. Porém ocorreu uma grande desproporcionalidade dos ensaios com e sem
consangüinidade dos sujeitos. Como esse efeito continua sendo confirmado por pesquisas recentes
(ALEXANDER, BROUGHTON, 2001) futuras testagens serão interessantes, porém com uma amostra maior
desses casos, e em se tratando de duplas tipo mãe e filho(a) sugerindo que a mãe seja a receptora, tal como
ocorre freqüentemente nos relatos de casos espontâneos de fenômenos sugestivos de telepatia.
Em análise complementar não prevista encontramos que as mulheres acertaram significativamente mais
que os homens (29 e 17% respectivamente). Futuras explorações poderão basear-se nesses dados.

Fatores dos experimentadores (H16, H17, H18, H19 e H20)


Entre as variáveis dos fatores dos experimentadores a comparação dos resultados dos experimentos
com alta motivação x baixa/média motivação, não mostrou significância (H16). O mesmo ocorreu com a
comparação dos resultados dos experimentos com alta expectativa de sucesso x baixa/média expectativa de
sucesso (H17). A comparação dos resultados dos experimentos com alto nível de humor x baixo/médio nível de
humor (H18) também se mostrou sem SE, exatamente como a comparação dos resultados dos experimentos
com estado físico muito bom ou superior x estado físico bom ou inferior (H19). Isso também com o fator sobre o
ambiente social (H19), (ambiente social muito bom ou superior x ambiente social bom ou inferior). Assim todas
as hipóteses sobre os fatores dos experimentadores foram refutadas. Talvez nossa comparação tenha sido muito
moderada (alta x média/baixa; muito bom ou superior x bom ou inferior), melhor seria se comparássemos baixa x
alta, inferior x muito bom. Ou esse fator, para o caso específico, não seja significativo. De qualquer forma
voltaremos a avaliá-lo no futuro.

Síntese: refletindo sobre a questão norteadora da pesquisa


Com base nos acertos GZ, os quais não alcançaram SE, não podemos afirmar, para esse específico
experimento, que a técnica GZ é psi condutiva. Por outro lado a H3 foi confirmada, indicando que a técnica GZ
produz um efeito significativamente superior a condição ÑGZ. Segundo as hipóteses testadas, esse efeito não se
deve a fatores de alteração de consciência, dos sujeitos experimentais ou dos experimentadores. Em contra
partida, uma das três previsões sobre os fatores dos alvos mostrou-se confirmada, indicando que esse fator
afetou os resultados encontrados. Em resumo não podemos afirmar que a técnica GZ seja psi condutiva; apesar
disso ela produziu significativamente mais acertos que a condição controle e verificamos que dentre todos os
fatores avaliados apenas um, relacionado com os alvos (nota 3 -composta pelos fatores preferência/gosto
pessoal x relação c/ história/momento atual, significado especial) afetou os resultados.
I Encontro Psi - Ganzfeld e não Ganzfeld: observando estados modificados de consciência 22
e outros fatores favoráveis a telepatia, num estudo exploratório - Silva

Análises qualitativas

Acertos e erros de qualidade: concluindo sobre os dados


A primeira reflexão que fazemos é que a análise qualitativa poderá ser uma referência muito forte sobre
a existência da psi. Se sistematizada numa metodologia apropriada, tal como já vem sendo feito nos sistemas
digitais que trabalham com a gravação dos relatos em tempo real sobre os alvos e que utilizam esses recursos
no julgamento, esses dados poderão ser crescentemente decisivos para evidenciar a existência da psi. Ao ler e
correlacionar os relatos como a descrição dos alvos, parece ficar muito mais próximo a percepção da psi do que
2
ao interpretar taxas percentuais, valores p, efeitos tamanho, índices Z, t, X . Não significa dizer que estes devam
ser descartados, essa possibilidade não existe, mas que essas referências isoladamente pouco falam do
processo em si. Nossa avaliação foi em grande parte subjetiva e não baseada num critério previamente
estabelecido, mas, apesar disso, parece fornecer fortes indícios de psi ocorrendo de formas variadas.
Nossa segunda conclusão, talvez a mais importante e audaciosa, é que a metodologia usada para
avaliar o que é e não é psi, ou seja, o acerto direto pela escolha do alvo correto entre os falsos, sem que se
tenha nenhuma informação sensorial disponível sobre o alvo correto, pode ser inapropriada. Isto porque nossos
dados qualitativos pareceram mostrar erros (segundo esse critério) muito mais impressionantes em termos de psi
do que muitos acertos. Se isso for verdade, se a psi realmente ocorreu nesses “erros de qualidade” e não
ocorreu em alguns acertos sem qualidade (lembre-se de que são esperados 25% de acertos por puro acaso, ou
seja, sem nenhuma necessidade de psi), dificilmente encontraremos dados coerentes em termos das variáveis
analisadas. Essas são correlacionadas para buscar-se compreender o processo psi. Mas se parte dos dados
correlacionados não tiverem psi e se outra parte não correlacionada tiver psi, os resultados poderão ser
incompletos ou incorretos. Talvez seja muita especulação, porém, se esse raciocínio estiver correto, isso poderia
explicar, ao menos em parte, a dificuldade do avanço teórico sobre a compreensão da psi, e conseqüentemente
a grande dificuldade de se replicar dados anteriores.
As novas tecnologias que estão surgindo, tais como o ganzfeld digital, voltado à esse estudo qualitativo
simultaneamente com as avaliações quantitativas, talvez representem um novo capítulo na história da
parapsicologia. Eles parecem possuir o potencial de corrigir justamente esse aspecto mencionado acima. Talvez,
uma metodologia que registre em tempo real “tudo” (imagens, som, dados fisiológicos) o que acontece em
ambos os ambientes e com ambos os participantes e que, permita um confronto estratégico desses dados,
poderá ser decisiva para evidenciar a psi. Incluindo a metodologia convencional de erros e acertos, mas não se
limitando a ela. Trabalhos semelhantes a esse já estão sendo desenvolvidos na Liverpool Hop University,
Northampton University e University of Gothenburg. (DALTON, 2002; PARKER, 2001; GOULDING,
WESTERLUND, PARKER, WACKERMANN, 2001; SMITH, FOX, WILLIAMS, 2000)
Adicionalmente, nossa última conclusão é que os dados qualitativos (erros e acertos) avaliados
anteriormente nesse trabalho parecem suportar praticamente todos os resultados qualitativos encontrados por
Parker. (PARKER, PERSSON, 1999; PARKER, PERSSON, HALER, 2000) Com exceção do item a, do qual
nossos dados apenas se aproximam. Naturalmente que nossa metodologia não pode ser comparada com a
utilizada por esse pesquisador. Porém, pode sugerir que se for aperfeiçoada terá boas possibilidades de
encontrar resultados confirmatórios.

REFERÊNCIAS
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THE 24 INTERNATIONAL CONFERENCE OF THE SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH, (24.: 2000 :
Northampton.) Abstracts of Papers. Northampton: Society for Psychical Research, 2000.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Wilson Picler, um precursor da pesquisa psi em nossa instituição, e que cooperou
significativamente dando suporte econômico a várias atividades relacionadas a essa pesquisa. Também somos
gratos a Fundação Bial de Portugal, a qual concedeu-nos uma bolsa de investigação científica para a realização
dessa pesquisa.
HIPÓTESES SOBRE AS CAUSAS DOS POLTERGEISTS

Carlos Alberto Tinoco

Professor das Faculdades Integradas Espíritas

RESUMO

Há, praticamente duas Parapsicologias: a que se dedica ao estudo dos fenômenos


espontâneos e a que estuda os fenômenos "forçados". Se bem que ambos tenham
por fonte algo desconhecido e chamado de psi (exceto os Psi Condutivos), parecem
ser duas classes de fenômenos epistemologicamente diferentes. Permeia toda a
História da Parapsicologia questões de magna importância: qual a causa
dos Poltergeists? Qual é a sua fonte de energia? Neste trabalho, são apresentadas
quinze hipóteses elaboradas para explicar as causas dos Poltergeists. Tais hipóteses
foram criadas por pesquisadores diversos, compreendendo um período de mais de
um século. Nenhuma delas é capaz, por si só, de explicar as causas dos Poltergeits.
Também não apresentam evidências claras sobre qual seria a fonte da energia
desses fenômenos insólitos. Explicar as causas do Poltergeist e saber qual a sua
fonte de energia, são duas questões idênticas.

INTRODUÇÃO

Os fenômenos Psi espontâneos nos apontam para uma espécie diferente de Parapsicologia.
Há uma diferença muito grande entre os chamados “fenômenos forçados” e os espontâneos. Ao que
parece, trata-se de fenômenos epistemologicamente diferentes. As diferenças metodológicas e
experimentais entre eles são muito diferentes. O Poltergeist é um tipo particular de Psicocinesia
espontânea, que ocorre de modo recorrente. Há registros de sua ocorrência desde o século IV d.C.
Muito se escreveu sobre o Poltergeist, mas pouco se sabe sobre ele.
Um aspecto do Poltergeist sobre o qual muito se indaga, desde que são estudados com
método, é a questão da sua fonte energética. Responder essa questão é responder sobre a essência
dos Poltergeist.
Quais são as causas dos Poltergeist? Quais são as suas fontes energéticas? Estas são
questões muito semelhantes. Para responder essas questões, a Parapsicologia se debruça sobre
perguntas de difícil solução. Hipóteses, é o que a Parapsicologia tem a oferecer sobre as causas e as
fontes energéticas dos Poltergeist.
Apresentaremos abaixo, de modo resumido, algumas das principais hipóteses sobre as causas
e fontes energéticas desses fenômenos espontâneos.

HIPÓTESES SOBRE AS CAUSAS E FONTES ENERGÉTICAS DOS POLTERGEISTS

As principais hipóteses sobre as causas e as fontes energéticas dos Poltergeists serão abaixo
apresentadas.
1- Em 1861 o pedagogo francês Denizard Hippolyte Léon Rivail, que escrevia com o
pseudônimo de Allan Kardec, publicou “O Livro dos Médiuns”,editado por Didier & Cia. Nesta obra
o autor apresenta uma hipótese sobre Poltergeists. Segundo Kardec, um médium doador de certo
“fluido animal” ,combinado ao “fluido universal”, permitiria que agentes desencarnados manipulassem
essa mistura, provocando assim,os Poltergeists. Os médiuns doadores seriam o que se chama
atualmente de “agentes Psi”. Antes, em 1858, na Revue Espirite, Kardec apresentou o caso do
“espírito batedor” de Bergzabern cuja ação durou oito anos. Em 1858 e 1860, Kardec apresentou
outros casos. Para ele a causa dos Poltergeists seriam os agentes desencarnados, manipuladores
do fluido animal cedido pelos agentes Psi. Allan Kardec, rigorosamente falando, não seria um
pioneiro na pesquisa de Poltergeist, pois, limitou-se a citar casos que não investigou pessoalmente.
Mas, sua hipótese fica aqui assinalada (1)
I Encontro Psi - Hipóteses sobre as causas dos Poltergeists - Tinoco 25

2 - Em 1913,Hyslop propôs que os casos de RSPK eram produto da fraude inconsciente


ocorrida durante a dissociação psíquica do agente Psi. (2)
3 -Em 1922 H. Carrington propôs que os Poltergeists seriam produzidos por uma espécie de
“energia” irradiada do corpo do agente Psi na fase da puberdade, quando a sexualidade está em
desenvolvimento em seus organismos. Segundo F. Machado (3), esta hipótese “se adequa à maioria
dos casos, visto que a maioria dos agentes são adolescentes. Mas, não podemos esquecer que a
história registra casos em que o agente não está na puberdade e, nesse ponto, podemos dizer que a
teoria de Carrington é restrita” .
4 - Nas décadas de 50/60, William G. Roll e outros atribuíram como causa dos Poltergeists, as
tensões ou emoções reprimidas pelos agentes Psi e por eles exteriorizadas, causando tais fenômenos.
São consideradas típicas as seguintes características de agentes Psi, examinados em laboratório:

“A base intelectual era normal, mas seu desenvolvimento intelectual era atrasado. Sua
tolerância à frustração era muito baixa. Ele reagia rapidamente à estímulos, mas com
tendências a reações histéricas; era facilmente irritável. Há indicações de perda de
controle e de integração (fraqueza do ego).A projeção era o mecanismo de defesa
dominante. Tinha tendência a inventar e dissimular, quando havia conflitos devido à
tensão. Os conflitos entre suas altas ambições e seus recursos limitados, entre sua
necessidade emocional de contatos e sentimentos de estar deslocados da sociedade
devido ao desenvolvimento psicosocial retardado,devem ser considerados para ra
explicar a “descarga psicocinética” de tensão agressiva para substituir objetos como
maneira de inconscientemente resolver esses conflitos” (4).

5-Em 1969, William G. Roll apresentou uma importante hipótese sobre a causa dos
Poltergeists. Estudando o RSPK que ocorreu em Newark, New Jersey, Roll propôs a existência do
“Campo Psi” (Psi Field). Seria um campo de natureza eletromagnética, centrado no agente Psi e capaz
de movimentar objetos ou causar outros distúrbios psicocinéticos. Um estudo matemático foi efetuado
pelo Dr. John L. Artley que juntamente com Roll, propuseram uma fórmula correlacionando o número
de ocorrências em função da distância entre cada uma delas e o ponto onde está situado o agente Psi.
Dentre as várias funções estudadas, a que melhor se adequava era o decaimento exponencial. A
fórmula proposta para o RSPK de Newark, foi (5):

- K2.R
N = K 1. e,
onde:
N = número de ocorrências;
K1 e K2 são parâmetros constantes, associados aos pontos iniciais dos distúrbios e R;
e = base dos logaritmos neperianos;
R = distância entre o agente Psi e o início dos movimentos.

No caso do Poltergeist de Newark (6), os valores encontrados foram:


- 0.1007.R
- 0,1115.R
N = 20. 4. e
No Poltergeist de Miame, a função proposta foi: N = 31.7 .e

No estudo realizado por Roll no Poltergeist de Miame (7), 36 movimentos psicocinéticos


ocorridos (8) foram escolhidos para análise dentre um suposto total de 224.Para Roll, o “feixe de
energia” que moveria os objetos, seria produzido dentro ou próximo ao agente Psi, daí estendendo-se
aos objetos para movimentá-los, como uma espécie de alavanca. Esse feixe seria a base física dos
Poltergeists.
O trabalho de Roll não é conclusivo nem se aplica a todos os casos de Poltergeist. Apesar das
críticas, trata-se de uma iniciativa importante em direção ao entendimento das causas dos fenômenos
de Poltergeist.
6-Na década de 70, Sott Rogo (9) destacou a possibilidade de ser realizada uma abordagem
terapêutica dos agentes Psi para fazer cessar o Poltergeist. Propôs também que a causa deste seria o
grupo familiar atingido e não apenas o agente Psi. Daí a terapia grupal. Essa proposição implica num
modo de fazer cessar o Poltergeist. Não explicaria diretamente as suas causas. Entretanto, Rogo
acredita que os Poltergeists, depois de criados pela exteriorização da PK dos agentes, tornam-se
independentes e autônomos. Os Poltergeists seriam causados e dirigidos por uma porção da mente e
da vontade do agente Psi, que consegue funcionar de forma independente dela e da motivação que os
criou. Uma vez desencadeados, os Poltergeists passam a não mais depender do inconsciente que os
gerou; podem assumir consciência, vontade, direção, motivação e inteligência próprias. Estes seriam
I Encontro Psi - Hipóteses sobre as causas dos Poltergeists - Tinoco 26

os Poltergeists do Tipo II. Existiriam ainda os do Tipo I, que seriam causados pela exteriorização
inconsciente das frustrações e agressividades reprimidas dos agentes Psi. (10)
7- Em 1972, Ian Stevenson propôs que os Poltergeists seriam causados por agentes
desencarnados ou pelos agentes Psi. Stevenson (11) elaborou uma tabela onde estabelece a
diferença entre os dois casos. A tabela seria:

ITENS PARA A PROPOSIÇÃO DE MODELO DE ANÁLISE DE CASOS DE POLTERGEIST

QUE PODEM DISCRIMINAR AGENTES VIVOS OU MORTOS

Manifestação Agentes Vivos Agentes Desencarnados

1-Tipos de objetos Objetos muito leves Objetos pesados (ex: pedras,


movimentados tijolos etc.)
2- Distâncias percorridas pelos Pequenas distâncias (poucas Longas distâncias (em média 9 a
objetos movidos polegadas, até 4,5 cm.) 15 metros)
3- Trajetórias descritas pelos Trajetórias comuns Trajetórias complicadas, em
objetos movidos ângulos agudos, deflexões e
mudanças de velocidades dos
objetos movidos.
4- Danos causados pelos Quebras comuns Objetos movidos nunca quebram
objetos movidos ou causam danos.
5- Tipos de impactos no fim das Objetos parecem cair e colidir, Objetos parecem ser carregados
trajetórias forçadamente. e colocados suavemente.
6- Motivo aparente para a Sem motivo para mover os Movimentos que sugerem
movimentação de objetos. objetos; estes são movidos objetivo (ex: atirar pedaços de
desordenadamente. tijolos em alguém, etc.)
7- Vantagens para o a gente Psi O agente pode expressar seus O agente pode ser o objeto de
impulsos destrutivos em direção impulsos destrutivos de
a outras pessoas pelos efeitos procedência externa. Neste
produzidos caso, não há vantagens para
ele, procedentes do Poltergeist;
algumas dessas vantagens ou
agressões podem ocorrer para
ele.
8- Significação dos ruídos ou Ausência de significado nos Respostas significativas podem
outras perturbações sonoras. ruídos. ser obtidas a partir dos ruídos.
9-Aparições e fenômenos visuais Ausentes ou ocorrendo Inicialmente, ocorrem de for ma
tardiamente e não coletivamente abundante e significativa
10- Transes mediúnicos e Ausentes Presentes
comunicações audíveis
procedentes de aparentes
pessoas mortas
11-Localização dos distúrbios Localizados em torno de Podem ser localizados em torno
determinada pessoa de determinada pessoa ou local.
12- Idade dos agentes Psi Usualmente em torno dos 20 Sem idade definida
anos
13- Modo de extinguir o Através de psicoterapia do Exorcismos, invocação e
Poltergeist agente Psi pacificação ou outros meios
dirigidos ao suposto agente
desencarnado, causa do
Poltergeist.

Como se pode verificar Stevenson não elucida as causas dos Poltergeists. Apenas indica onde
têm início.
I Encontro Psi - Hipóteses sobre as causas dos Poltergeists - Tinoco 27

8- Roll e outros em 1977-78 (12) propuseram correlacionar os Poltergeists à epilepsia. Eles


descobriram que de 92 casos estudados, apenas quatro apresentavam agentes portadores de
epilepsia. Esse percentual de 4% era muito baixo para reforçar a hipótese. Essa idéia aguarda maiores
embasamentos. Sobre o assunto, Gauld & Cornell (13) escreveram:
“.....ainda não se pode afirmar que haja alguma relação entre o fenômeno e a doença”.
9- André Pércia de Carvalho (14), sugere uma correlação entre fatores sociais e culturais e os
Poltergeists. Dependendo do contexto religioso onde eclode, o Poltergeist poderia apresentar
características da ação de espíritos, de orixás, do demônio etc. A crença do grupo onde ocorre o
Poltergeist, trabalharia a motivação do agente Psi ou do próprio grupo que tiraria de si as
responsabilidades de estar produzindo o fenômeno. Carvalho chama esse processo de “Psico-
dinâmica dos Fenômenos Paranormais”. Essa seria a forma pela qual a Psi se apresenta num
determinado contexto cultural e num determinado indivíduo. Carvalho chega a propor uma
“Parapsicologia Comunitária” (15). Essa “neurose cultural” não explicaria a causa dos Poltergeists.
Há críticas contrárias às explicações psicológicas dos Poltergeists. Sobre isso diz Carlos
Alvarado:
“O fato de que argumentos psicológicos sejam aceitáveis dentro do nosso paradigma
científico atual não quer dizer que tenhamos que aceitar metodologias questionáveis. É de
se esperar que estudos futuros mudem o campo da psicologia (dos) Poltergeists de forma
que os resultados de investigação sejam mais válidos e confiáveis” (16).

10-Hernani Guimarães Andrade, apoiando-se nas idéias de Johann K. F. Zollner (1877) da


universidade de Leipzig, (17), propôs uma hipótese para explicar os Poltergeists. Segundo Andrade,
viveríamos num espaço tridimensional imerso num espaço de quatro dimensões, habitado por seres
inteligentes (18). Esses seres tetradimensionais, que seriam os agentes desencarnados, manipulariam
o nosso mundo tridimensional, de fora para dentro, produzindo Poltergeists. Para tanto, usariam os
agentes Psi como intermediários. A hipótese de Andrade é complexa e se enquadraria nas
concepções espíritas.
11-O período inicial das pesquisas parapsicológicas, é também conhecido como “Periodo
Metapsíquico” (fins do século XIX e início do século XX), marcado pelo aparecimento dos famosos
“médiuns de efeitos físicos”. Foi o período das materializações, das ectoplasmias, dos agêneres
ectoplásmicos. Muita coisa importante foi abandonada sob a alegação de fraude. Ainda hoje,
moldagens em cera de mãos humanas, pés, rostos etc, podem ser vistas em museus espíritas. Nessa
época a idéia em voga era que os Poltergeists eram produzidos pelos espíritos que usavam o
ectoplasma retirado dos médiuns, para gerá-los. Charles Richet (19), William Croocks (20) e muitos
outros homens ilustres, testemunharam ectoplasmias. Essa hipótese não é mais aceita
modernamente. Uma “espoja” foi passada sobre essa época, onde tudo foi reduzido à fraude. Muitas
fraudes ocorreram, certamente, mas, será que todos os fenômenos psicocinéticos dessa época foram
fraudulentos ?
12- Os soviéticos V.M. Inyushim (21), V. Grischenko (22), N. Vorobev (23), N. Fedorova (24),
F. Gibaldulin e G. Sergeyev (25), postularam e acreditam ter descoberto um plasma frio,
interpenetrando todos os meios biológicos. Seria o “bioplasma”, segundo seus descobridores. Trata-se
de um “corpo” constituído de plasma (íons e partículas reunidos caoticamente), polarizado,
diferenciado em cada ser vivo, em cada órgão, em cada tecido e, possivelmente, em cada célula e
molécula orgânica, de modo que a especificidade determinaria a forma do organismo. Sergeyev
formulou uma hipótese bioplasmática da psicocinesia. Segundo ele, a mente e as emoções geram
poderoso efeito sobre o bioplasma que poderia ser exteriorizado, polarizando átomos e moléculas dos
corpos circundantes e assim, movimentando-os (26). Com a derrocada da Uniäo Soviética, essas
pesquisas podem ter sido interrompidas.
Alvarado fez importante análise comparativa entre as pesquisas soviéticas e ocidentais (27).
Há grande semelhança com aquelas do “período metapsíquico”. A base da parapsicologia soviética
seria o bioplasma e a do período metapsíquico, seria o ectoplasma. Segundo Alvarado, é possível
estabelecer uma correlação entre o “ectoplasma” de Richet (1923), a “força psíquica” de J.W. Crawford
(1918), a “força nervosa” de Emile Boirac (1918) etc e o famoso “bioplasma” soviético. Alvarado sugere
a retomada das pesquisas no ponto em que foram abandonadas pelos metapsiquistas, como um
caminho promissor, desde que não se repitam erros do passado.
13-O físico E.H. Walker (1970.1972a,1972b,1975) formulou uma hipótese sobre a Psi. Essa
hipótese está baseada no conceito de variáveis ocultas da mecânica quântica. A hipótese de Walker é
muito complexa para ser aqui abordada (28). Seu trabalho é uma tentativa elegante e formal de
explicar a Psi por meio de conceitos da mecânica quântica conciliados com seus conhecimentos da
Parapsicologia. É uma combinação pouco comum.
I Encontro Psi - Hipóteses sobre as causas dos Poltergeists - Tinoco 28

14- Atualmente, a tendência é admitir que os Poltergeists estão relacionados com as


perturbações do campo geomagnético e a presença de variações nos campos magnéticos das redes
elétricas de alta tensão (29). Esta é a postura moderna da maioria dos investigadores, entre eles,
William G. Roll (Roll & Joines, 1998).
15- Puthoff (Roll & Joines, 2001) elaborou a hipótese da “energia do ponto zero” (30). Esta
energia seria resultante das flutuações aleatórias de um plenum de energia eletromagnética que
completa o espaço (o vácuo). Esta energia interage com a gravitação e a inércia. O agente Psi não
geraria a energia para os Poltergeists, mas manipularia as flutuações aleatórias de energia
eletromagnética do vazio, reduzindo a inércia e a gravidade, provocando o movimento de objetos. Esta
seria a “energia do ponto zero”.

CONCLUSÕES

Diz Rol (31) com propriedade que há um pequeno mistério sobre a energia dos Poltergeists.
Esta se manifesta sob a forma de energia cinética, térmica ou sonora. Todas as investigações são,
essencialmente, especulativas quando se trata de responder sobre a questão da fonte de energia dos
Poltergeists.
Ainda Roll (32) diz que os Poltergeists estão associados com o que se denomina atividades
das “fissuras parciais complexas” (CPC). São fissuras nos hemisfério cerebrais. Ambas apresentam
involuntárias, recorrentes e breves descargas de energia. Poltergeists e as CPC expressam emoção,
particularmente ira, estando associadas com enfermidades, tensão emocional prolongada e ao
incremento da atividade geomagnética (Persinger, 1996).
Todas as hipóteses assinaladas acima não apresentam explicações claras sobre as causas
dos Poltergeists. Pouco dizem sobre a fonte energética desses complexos fenômenos. Portanto, sobre
esse assunto a questão permanece aberta, sendo, por enquanto, um enigma a ser desvendado.

REFERÊNCIAS

1-KARDEC, A. O livro dos médiuns; São Paulo, IDE, ps. 76-113;

2-HYSLOP, J. H. Poltergeist fenomena and dissociation; JASPR;1913,v.7;p.1-56;

3-MACHADO, R. F. Um fantasma em minha casa? Revista Brasileira de Parapsicologia,


1994,v.4;p.8-15;

4-JACOBSON, N. O. Vida sem morte; RJ, ED.NÓRDICA;1a.Ed.1976;p.85-6;

5- ROLL, W. G. The Newark disturbances;JASPR,v.63,n.2,april,1969;p.123-174;

6- Idem;p.148;

7-ROLL, W. G. The Miami disturbances;JASPR;v.65,n.4,october,1971;p.409-454;

8-IDEM; Radial and tangential forces in the Miami poltergeist;JASPR,v.67,n.3; ,july;p.267-281;


1973;p.267-281

9-ROGO, D. S. Psychotherapy and poltergeist;JASPR,1974,v.47;p.433-446;

10-ROGO, D. S. A inteligência no poltergeist;SP,IBRASA,1995;p.205-224;

11-STEVENSON, I. Are poltergeist living or are they death ?;JASPR,v.66,n.3,july, 1972;p.233-252;

12-Apud: MACHADO,R.F.;Idem;In:ROLL,W.G.;Toward a theory of the poltergeist; European Journal of


Parapsychology;1978,v.2;p.167-200;

13-Apud:MACHADO,R.F.;Ibidem;GAULD,A.&CORNEL,A.D.;Poltergeist;Londres;Routledge & Kegan


Paul,1979;

14-DE CARVALHO,André Percia ;As casas mal assombradas;SP,IBRASA,1991;p. 47-60;

15-Idem;p.50;
I Encontro Psi - Hipóteses sobre as causas dos Poltergeists - Tinoco 29

16-ALVARADO, C. Avaliações psicológicas de sujeitos poltergeists; RBP,n.2, 1993;p.32-34;

17-ZOLLNER, J. K.. Physica transcendental;RJ,FEB,1908; (Ver: Provas científicas da sobrevivência;


SP, Edicel, 1975);

18-ANDRADE,H.G.;A matéria psi;SP;Matão,Casa Editora o Clarim;1a.ed.,1972;

19-RICHET,C. Tratado de metapsíquica; SP,LAKE, 2 vol.,1974;

20-Apud:DOYLE, A. C.; História do espiritismo;SP,1960p.201-216;

21-INIUSHIN, V. M. Plasma biológico do organismo humano com animais; Praga, Svoboda,


1970;

22-GRISHENKO,V. & INYUSHIM,V.M. Sobre a essência biológica do efeito kirliano (Conceito


de plasma biológico);Alma Ata,Universidade de Kirov do Estado de Kasaque,1968;

23-OSTRANDER, S. SCHROEDER, L. Experiências psíquicas além da cortina de


ferro; SP,Cultrix,1974;p.236;

24-Idem;p.236;

25- SERGEYEV, G. Emprego dos princípios de bio-informação no diagnóstico; Trabalho


apresentado no Simpósio sobre parapsicologia e saúde, da seção de Parapsicologia Técnica,
afiliada ao Instituto de Engenharia de Moscou,24-abril,1967;

26-OSTRANDER, S.; SCHROEDER,L.. Idem; Apêndice A-4;p.442;

27-ALVARADO, C. A.;Descobrimentos psiquicos tras la cortina de hirro? La parapsicologia


soviética a la luz de la história de la investigacion psipsiquica; Psi Comunicacion (Revista de la
Sociedad Espanhola de Parapsicologia); enero-deciembre,1978,anoIV,Nos.7-8;p.19-28;

28-WALTER, E.H. Conciousness in the quantum theory of mesurement; Part 1; Journal of the
study of conciousness;1972,v.4;p.46-63 (a);

29-ROLL, W. & NICHOLS, A. (1998). The Jacksonville water poltergeist: Electromagnetic and
neuropsychological aspect. En C.A.Roe (Ed.), The Parapsychological Association 41st.Annual
Convention: Proceeding of Presented Papers. Halifax, Nova Scotia, Canada, pp. 97-107.

30-ROLL, W. & JOINES, W. T. (2001). RSPK and conciousness. En C.S. Alvarado (Ed.),
Parapsychological Association 44st. Annual Convention: Proceeding of Presented Papers. New York,
New York, pp. 167-184b.

31-ROLL,W. G. (2000) Symposium:RSPK and Haunting:Poltergeist and space-time: a


contemplation on Hans Bender’s ideas about RSPK. Procceding of The Parapsychological Association,
43rd Annual Convention, Freiburg, pp.316-332;

32-_____________(2000) idem. Idem.pp.323.


FALANDO SOBRE CASAS ASSOMBRADAS:
METODOLOGIA DE PESQUISA E CASOS ESTUDADOS

Claudia Abramczuk
Martha Guerra Moraes

Pesquisadoras do Centro de Investigação de Fenômenos Espontâneos em Parapsicologia - CIFEP,


Curso Livre de Parapsicologia

RESUMO

Este trabalho apresenta inicialmente um histórico sobre o fenômeno conhecido como


casas assombradas, cientificamente nomeado como Haunting (assombração).
Levantando sua história chega-se a conclusão da necessidade de existir um local
onde se pesquisa sistematicamente este fenômeno, neste momento fala-se da
criação do Centro de Investigação dos Fenômenos Espontâneos em Parapsicologia
que desenvolve o seu trabalho dentro do Campus Universitário Dr Bezerra de
Menezes, descrevendo a sua importância, seus objetivos, suas subdivisões e sua
equipe de trabalho e treinamento. Consta também de conceitos, características e
hipóteses levantadas sobre o fenômeno de Haunting bem como a metodologia de
pesquisa adotada pelo CIFEP. Finalizando são descritos de forma reduzida quatro
(04) casos investigados pela Central de Haunting os quais serão comentados na
íntegra durante a exposição oral.

INTRODUÇÃO

Quando se fala sobre casas assombradas a primeira impressão das pessoas é ligar o fato ao
sobrenatural, ao misticismo ou ao fantástico. Estudos atuais demonstram que tais acontecimentos
podem estar ligados a várias hipóteses, desde a interferência de um agente theta até a influência de
um agente psi.
As estórias de fantasmas remontam a era primitiva e por esta razão estão classificadas como
lendas, contadas ao longo dos tempos. Em todas as civilizações e culturas existem registros de casos
que envolvem fantasmas, demonstrando que tais ocorrências não são apenas superstição ou
invenção. Por se tratar de acontecimentos que fogem a uma explicação simples e lógica, tais
fenômenos acabaram sendo esquecidos pela maioria dos pesquisadores da Parapsicologia.
Diante de muitas hipóteses existentes e poucas respostas esclarecedoras sobre o Haunting
(assombração), torna-se de grande importância uma pesquisa abrangente, envolvendo o
levantamento de casos e coleta de dados, de forma sistemática, contínua e permanente, para que se
possa estabelecer modelos de atividades do fenômeno.
Indiscutivelmente existe a necessidade de um centro de pesquisa direcionado a este
fenômeno, pois não é possível descartá-lo pelo simples fato dele sugerir, em determinados casos,
conclusões que vão além do que hoje se pode demonstrar estatística e cientificamente.
No ano de 1989 o professor da cadeira de Categorias de Investigação e Estágio
Supervisionado das Faculdades Integradas Espírita percebendo a necessidade dos alunos
desenvolverem pesquisas na área de fenômenos espontâneos resolveu criar um centro de
investigação para tal. A idéia não foi concretizada devido a falta de um espaço físico.
Em 1997 o então diretor do curso de Parapsicologia retomou o projeto e, mesmo de forma
precária, não possuindo espaço próprio criou uma central de estudo voltada a investigação do
fenômeno de Psicosinesia Recorrente Espontânea (RSPK).
No ano de 1998 foi aberto oficialmente o Centro de Investigação dos Fenômenos
Espontâneos em Parapsicologia (CIFEP), com espaço próprio e integrando o todo dos fenômenos
espontâneos. Tem como subdivisão as Centrais de RSPK, HAUNTING (assombração), HEALING
(curas psi), EFC (experiências fora do corpo), CASOS SUGESTIVOS DE REENCARNAÇÃO,
FENÔMENOS DE ESP (percepção extra sensorial) e FENÔMENOS DE PK (psicocinesia).
Com a criação da Central de Haunting dentro do CIFEP, setor que trabalha com a pesquisa
de campo, torna-se possível investigar e conhecer melhor os mecanismos deste fenômeno inusitado.
Os principais objetivos deste Centro são:
I Encontro Psi - Falando sobre casas assombradas: Metodologia de pesquisa e casos estudados - Abramczuk, Moraes 31

- Treinar alunos estagiários para a investigação dos fenômenos espontâneos;


- Treinar equipes permanentes de pesquisadores para criar na sociedade um clima de confiança
em relação ao Centro, vendo nele um veículo de informação e pesquisa; prestar auxílio e
aconselhamento as pessoas, testemunhas e/ou vítimas, atingidas por fenômenos
parapsicológicos, podendo haver associação de orientadores com psicoterapeutas;
- Procurar estabelecer metodologia específica para cada tipo de fenômeno espontâneo.
Sendo assim, a finalidade deste trabalho é levar ao conhecimento do público que existem
Parapsicólogos treinados e prontos para atender e solucionar os mais diversos problemas
decorrentes de manifestações espontâneas bem como a metodologia utilizada pelo CIFEP na
atuação dos mesmos. Este conta com uma equipe permanente de trabalho composta pela professora
supervisora do CIFEP e por parapsicólogas habilitadas pela Faculdade de Ciências Biológicas e da
Saúde Dr. Bezerra de Menezes.
Neusa Ponchielli Lustosa - Professora supervisora
Claudia Abramczuk – Parapsicóloga
Martha Guerra Moraes – Parapsicóloga

CONCEITO

Analisando o histórico do Haunting, percebe-se que há um consenso geral entre os autores


que pesquisaram tal fenômeno: o mesmo existe desde a mais remota antigüidade, havendo registros
entre todas as sociedades e culturas.
O Haunting é um fenômeno pouco comum e devido a este fato, existe um número reduzido
de bibliografia que trata sobre o assunto. Mesmo assim, observa-se que os autores confundem este
fenômeno com outros, tais como: Poltergeist, Materialização, Mediunismo e Experiência Fora do
Corpo (EFC).
A Parapsicologia não possui muitos recursos para esclarecer os mecanismos, os fatores e as
leis que regem o Haunting, mas conta com alguns estudiosos que acreditam nas possibilidades de
pesquisa desse fenômeno.
Conhecer e pesquisar as possibilidades fenomenológicas do Haunting tornou-se de suma
importância para se estruturar um roteiro de investigação do CIFEP, procurando abranger a pesquisa
de todas as hipóteses dos diversos autores estudados, dando assim maiores subsídios à Central de
Haunting.

CARACTERÍSTICAS

Quanto às características e as formas de manifestação do fenômeno de Haunting nota-se que


são manifestações sem causa aparente, onde os fantasmas estão ligados a um determinado local
como: igrejas, presídios, cemitérios, teatros e lugares onde ocorreram fatos trágicos; não há agente
psi atuando, podem surgir manifestações de fantasmas visíveis e muitas vezes fotografáveis; objetos
voando, arrastar de correntes, barulho de pratos quebrando, que na realidade quando verificados,
encontram-se em perfeito estado; raps; cobertores que são puxados por mãos invisíveis; fantasmas
que atravessam paredes e outros objetos, aparecendo de forma inconsciente e executando certos
atos automáticos; as manifestações são geralmente frias, usam trajes e permanecem com o aspecto
da época em que viveram; podem ser acompanhados por luminosidade e/ou auto iluminarem-se; as
testemunhas ouvem vozes, soluços, gritos, urros, melodias, gemidos, que podem ser considerados
como objetivos – ligados a uma causa física ou mecânica, ou subjetivos – onde a causa não existe,
ou seja, não é aparente.
Durante a manifestação as assombrações ocorrem no estado de vigília da testemunha,
apresentando-se geralmente de maneira vaporosa e diáfana; podem apresentar-se de forma tão
realista que parecem estar vivos; outras vezes são visualizadas sombras com forma humana;
costumam desaparecer como se evaporassem no ar não deixando vestígios de sua presença; na
maioria dos casos se manifestam durante longos anos com intermitência, com longas pausas ou em
determinadas datas.
As características do fenômeno de Haunting são muitas vezes confundidas com as do
fenômeno de Poltergeist, entretanto, este está ligado a um agente psi, ou seja, uma pessoa é a
causadora das manifestações, enquanto que o Haunting está relacionado diretamente a um local sem
a necessidade da presença de um agente causador. A partir do momento que se pesquisa tal
fenômeno com profundidade, percebe-se que ele tem suas peculiaridades, tornando-o muito diferente
do Poltergeist.
I Encontro Psi - Falando sobre casas assombradas: Metodologia de pesquisa e casos estudados - Abramczuk, Moraes 32

HIPÓTESES:

O Haunting poderia ser explicado, em alguns casos, como causas naturais, tais como:
movimentos do solo, de árvores roçando em um telhado, sombras projetadas nas paredes e outras.
A fraude, consciente ou inconsciente, pode ser considerada como hipótese de uma ocorrência
do fenômeno de Haunting. Isso não deve ser esquecido em momento algum dentro de uma
investigação, pois existem vários fatores que levam uma pessoa a fraudar conscientemente, tais
como: publicidade, brincadeira de mau gosto - ou inconscientemente, como o fator psicológico.
Outra visão das ocorrências é que as mesmas poderiam ser manifestações fantasmáticas de
“espíritos”, almas de mortos que tentam entrar em contato com parentes ou amigos.
Não se pode esquecer da hipótese de um processo telepático e/ou alucinatório podendo ter
ainda uma causa fisiológica onde seres humanos agem de forma inconsciente.
O Haunting também pode ser um produto da imaginação ou criações psíquicas, onde o
percipiente estaria percebendo apenas seus próprios conteúdos mentais.
Mais uma hipótese é a da energia psíquica ligada a acontecimentos trágicos que poderia
impregnar o local, sendo percebida por sensitivos.
Outra hipótese é a existência de uma produção ectoplasmática ou manifestações
paranormais objetivas, essas podendo impressionar qualquer um dos sentidos, produzindo
sensações subjetivas no percipiente.
Em relação a maioria das hipóteses formuladas existe uma confusão do fenômeno com
outros, principalmente com Poltergeist, evidenciando a necessidade de pesquisas mais direcionadas
por parte dos parapsicólogos, que deveriam selecionar o que realmente faz parte do Haunting e o que
faz parte de outros fenômenos.
Por existir bibliografia reduzida e poucas pesquisas atuais sobre o fenômeno de Haunting, a
Parapsicologia utiliza-se de hipóteses ultrapassadas e muitas vezes sem fundamento para embasar
seus estudos. O Haunting foi relegado a um segundo plano pela comunidade científica de
parapsicólogos e outros pesquisadores, e uma das razões para tal esquecimento está relacionada
com a dificuldade de investigação do mesmo.
Geralmente muitos autores apresentam suas teorias acerca dos fenômenos psi apoiados na
preocupação com a fraude. Atualmente, muitos desses fenômenos estão demonstrados e isso foi
possível quando os investigadores deram crédito a sua existência. O Haunting deve ser considerado
como um fenômeno genuíno mesmo tendo como uma de suas hipóteses de que algo sobrevive após
a morte física.
Schmeidler apresenta uma teoria que caracteriza tipicamente um "caça-fantasmas"
contemporâneo. Em uma investigação realizada, ela mapeou o chão da casa em trezentas partes
onde estava ocorrendo a manifestação do Haunting, pedindo a cada um dos membros da família que
marcassem o local ou locais onde era sentida a presença do fantasma. Depois entregou outros
mapas, divididos da mesma forma, para nove agentes psi realizarem o mesmo procedimento.
Posteriormente os mapas foram comparados para verificar se as mesmas imagens eram vistas por
ambos os grupos, nos mesmos locais.
A forma de investigação proposta por Schmeidler seria muito interessante se nos dias de hoje
fossem encontrados com facilidade agentes psi confiáveis. Um agente desse porte, para não perder
sua credibilidade, poderia ser influenciado em descrever um fenômeno que na realidade não está
ocorrendo.
Estudos atuais demonstram que essa é uma das formas de investigação do fenômeno de
Haunting, porém os pesquisadores que optarem por esse tipo de pesquisa, devem tomar extremo
cuidado na escolha dos agentes psi.

METODOLOGIA DE PESQUISA DO CIFEP

O CIFEP atende apenas aqueles casos que chegam até o seu conhecimento, seja através de
telefonema ou quando a própria pessoa vai até o Centro procurando ajuda. Quando o primeiro
contato é feito por telefone são dadas noções básicas do procedimento de pesquisa, porém pede-se
que a pessoa compareça ao Centro para uma entrevista.
Nesta entrevista inicial a equipe permanente dá explicações do funcionamento da
investigação, dependendo do tipo de fenômeno que esteja ocorrendo. Caso a pessoa aceite as
condições para a pesquisa, existem documentos que precisam ser assinados por ambas as partes.
São eles: Autorização para Pesquisa, Acordo Ético, Ficha de Identificação Pessoal (FIP) das pessoas
envolvidas e testemunhas, Autorização dos Pais ou Responsáveis por Menores (no caso de menores
envolvidos), Ficha de Identificação do Imóvel e Histórico do Local e Autorização para Divulgação do
Caso (se a pessoa envolvida permitir).
I Encontro Psi - Falando sobre casas assombradas: Metodologia de pesquisa e casos estudados - Abramczuk, Moraes 33

A partir da assinatura desses documentos a equipe se desloca para o local, faz o


reconhecimento do ambiente, monta os equipamentos nos lugares onde as ocorrências são mais
freqüentes, entrevista as pessoas envolvidas e começa a fazer a vigília. Dependendo das
manifestações pode haver necessidade da presença dos pesquisadores durante 24 horas.
O trabalho realizado é filantrópico, não sendo cobrados honorários para realizar a pesquisa,
pois a finalidade principal do Centro é treinar a atuação de estagiários na pesquisa de campo.
As centrais que fazem parte do CIFEP possuem cada uma seu modelo de investigação e
impressos permanentes específicos.

CASOS PESQUISADOS

Caso sugestivo de Haunting: o primeiro contato foi feito por telefone e a equipe se deslocou
para o local imediatamente devido ao estado emocional da família. Os impressos foram preenchidos
na casa e, após serem montados os equipamentos no lugar definido pela equipe, foram feitas as
entrevistas. De acordo com as características levantadas nos depoimentos as ocorrências sugeriam o
fenômeno de Haunting. A equipe foi dividida em dois grupos para realizar vigília de 24 horas. Nas
primeiras 24 horas de vigília nenhum dos fatos relatados pela família foram percebidos, entretanto na
2ª noite por volta das 2:46 horas da madrugada uma das pesquisadoras ouviu uma gargalhada. Ao
procurar descobrir de onde veio tal som constatou que todos na casa dormiam, pois as portas dos
quartos estavam abertas e ninguém levantou para verificar o que estava acontecendo.
Posteriormente, durante a análise das fitas notou-se que, de todos os equipamentos que estavam
ligados no local apenas um deles gravou a gargalhada. A conclusão do caso está dependendo da
análise da fita em questão devido a falta de verba para tal.

Caso de Fraude: a supervisora do CIFEP foi contatada por uma pessoa amiga da família
onde estavam ocorrendo fatos estranhos na casa. Após a primeira entrevista a dona da casa aceitou
que a equipe se instalasse em sua residência para iniciar a investigação. Após as entrevistas e
verificar os locais das ocorrências percebeu-se de imediato a possibilidade de fraude. No decorrer do
dia a pessoa que estava fraudando começou a sentir-se pressionada e tentou colocar os donos da
casa contra a equipe. No dia seguinte, após a equipe ter analisado todos os fatos concluiu-se o caso
como sendo fraude consciente de um parente da dona da casa.

Causas Naturais: o CIFEP foi contatado por uma pessoa que dizia estar acontecendo fatos
estranhos dentro de sua casa e gostaria que tais acontecimentos fossem investigados entre alguns
desses fatos ficaram mais evidentes a deterioração de móveis, objetos e roupas. Após a entrevista e
investigação chegou-se a conclusão que, devido a problemas pessoais, houve um aumento de
ansiedade e expectativa e tal pessoa passou a prestar muito mais atenção aos detalhes da casa.
Todos os acontecimentos relatados como paranormais foram explicados como sendo provenientes de
desgaste natural, pequenos acidentes domésticos e falta de cuidado da faxineira.

Caso Psicopatológico: o supervisor do CIOP recebeu uma ligação onde uma pessoa dizia
que estava acontecendo coisas esquisitas em sua casa e como este Centro trabalha apenas com
orientação e aconselhamento o caso foi encaminhado para o CIFEP. Após vários contatos telefônicos
com as pesquisadoras foi resolvido que seria feita uma visita ao local e durante a entrevista
percebeu-se de imediato o comprometimento psicopatológico.

REFERÊNCIAS

ABRAMCZUK, C.; MORAES, M. G.; STELLA, A.; TREVISAN, A. P. Relatório Final de Estágio
Supervisionado II. Curso Livre de Parapsicologia. Curitiba: Faculdades Integradas Espírita, 1998.
POLTERGEIST: UM JOGO SEMIÓTICO

Profa. Fátima Regina Machado

Inter Psi – Grupo de Estudo de Semiótica, Interconectividade e Consciência


Centro de Estudos Peirceanos
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

RESUMO

Há evidências de que tanto os casos poltergeists considerados genuínos quanto os


fraudulentos funcionem como um tipo de linguagem para expressar necessidades
psicológicas. Esta afirmação baseia-se nos resultados de pesquisas anteriores e na
análise semiótica de casos poltergeists. Neste artigo, apresento brevemente a Teoria
Geral dos Signos formulada por Charles Sanders Peirce, pai da Moderna Semiótica, e
faço considerações sobre como o estudo dos signos pode contribuir para a
investigação de casos poltergeists.

INTRODUÇÃO

Já não é mais novidade para os interessados nos estudos de experiências/fenômenos psi a


existência de registros de relatos de casos poltergeist desde os mais remotos séculos até os
presentes dias. Esses relatos foram registrados de diferentes formas, sendo alguns mais detalhados
e precisos que outros; uns se referindo a casos mais pitorescos e extensos, outros a casos “menos
fantásticos” e de curta duração. (Gauld e Cornell, 1979; Goss, 1979) De qualquer forma, os
poltergeists constituem ainda um grande desafio aos pesquisadores. E talvez por esse motivo as
pesquisas avancem tão vagarosamente. Com isto não quero dizer que o grau de desafio que os
poltergeists impõem seja grande demais e que não seja possível dar conta dele. Chamo a atenção
para o fato de que as complicações acarretadas pelo envolvimento com ocorrências tão controversas
talvez façam com que apenas poucos se dediquem a estudá-los a fundo. Num campo de investigação
tão controverso como a Parapsicologia ou Pesquisa Psi, os poltergeists conseguem ser o objeto de
estudo mais fugidio, mais bizarro e mais difícil de ser estudado de acordo com as exigências da
mainstream científica. São fenômenos espontâneos tais quais os de percepção extra-sensorial, mas
ao que parece, muito mais raros, apesar de serem mais comuns do que a maioria das pessoas
pensam. Se a experiência de sonhar com algo que acontece efetivamente no futuro causa espanto,
indignação e pode mudar a visão de mundo dos experienciadores, além de tudo isso os poltergeists
causam também verdadeiro pavor em muitos de seus “expectadores”. Talvez isto aconteça porque o
sonho seja uma experiência mais próxima a nós do que a observação direta de objetos que se
movimentam “por si sós”, pedras que caem misteriosamente sabe-se lá de onde, fogos que aparecem
espontaneamente e toda a série de ocorrências típicas dos poltergeists.
Apesar de todas essas dificuldades apontadas, já contamos com bons avanços na pesquisa
dos casos em questão, principalmente em termos psicológicos. As questões simbólicas envolvidas
nos eventos poltergeists ou RSPK (do inglês recurrent spontaneous psychokinesis – psicocinesia
recorrente espontânea – denominação amplamente divulgada por William Roll) parecem um ponto
bastante evidente a ser levado em conta. Estudos demonstram a existência de uma conexão
profunda entre o contexto em que os fenômenos ocorrem, os objetos afetados e os tipos de
ocorrências. (Bender, 1976; Duncan & Roll, 1995; Fodor, 1958; Lima, 1994; Machado, 2001;
Machado e Zangari, 1998, 1997; Rogo, 1980. 1979a, 1979b, 1974; Roll, 191977; 1972) As
explicações psicológicas para esses casos podem parecer simplificadoras da complexidade em que
eles estão mergulhados. Mas ao contrário, elas representam um desafio para quem os investiga e o
fio condutor para o encontro de possíveis respostas para o enigma. Não são dados que se possa
colher com réguas e cálculos. Exigem atenção, perspicácia, dedicação por parte do(a)
investigador(a), empatia com as pessoas envolvidas, o que permitirá um conhecimento mais amplo
do contexto isto é, do cenário e dos relacionamentos interpessoais dos envolvidos nos casos.
Apesar de todo progresso já alcançado nas pesquisas psicológicas dos casos poltergeists,
penso que ainda as pesquisas de um modo geral valorizam muito as ocorrências físicas envolvidas
em detrimento das pessoas que passam por essas experiências. Tanto é assim, que uma vez
I Encontro Psi - Poltergeist: Um jogo semiótico - Machado 35

detectada alguma fraude “física”, as investigações de um caso são, geralmente, interrompidas e


abandonadas. Há também aqueles que acreditam que todos os casos poltergeist não passam de
fraudes bem montadas. No entanto, minha experiência como investigadora e estudiosa de casos
poltergeists me mostra que tanto as fraudes quanto os casos considerados genuínos parecem seguir
uma mesma lógica, levando-se em consideração a realidade psicológica do caso.
Essa idéia já me persegue há tempos. Além de trabalhá-la em minha tese de doutoramento (a
ser defendida em 2003), já comentei publicamente a esse respeito em dois trabalhos apresentados
em simpósios argentinos em 1996 e 1998, respectivamente: A Psicologia do Poltergeist (publicado
em 1997) e, mais especialmente em Três Casos Poltergeists em São Paulo, elaborados com a
colaboração de Wellington Zangari. Quando me refiro ao fato de que casos genuínos e fraudulentos
seguiriam uma mesma lógica, obviamente não me refiro ao “jogo cênico” de ocorrências, à imitação
dos eventos reconhecidos como poltergeists. Aparentemente, os poltergeists cumprem uma
determinada função, independentemente de sua “genuinidade”. Têm uma mesma significação,
produzem aparentemente o mesmo efeito, diferindo apenas o modo como se dão as ocorrências. Não
querendo assumir aqui que as explicações psicológicas sejam definitivas, lembro nossas palavras em
Três casos... : “...[se um caso poltergeist] pode representar intenções [ainda que inconscientes]
daqueles que os vivenciam, é uma questão aberta para a análise. Muito mais casos seriam
necessários para que uma conclusão nesse sentido fosse amplamente adotada.” (Machado &
Zangari, 1998: 79)
Mas fato é que, mesmo assim, não se pode desconsiderar as pesquisas já realizadas e seus
resultados. Por isso, trabalho no sentido de ampliar o estudo dos casos poltergeists e, através de uma
pesquisa semiótica específica, formalizada, contribuir para a fundamentação dos dados obtidos nas
investigações. Assim, em minha tese de doutoramento em Comunicação e Semiótica pretendo
demonstrar que casos poltergeists, genuínos ou não, comportam-se, estruturam-se como uma
linguagem, compartilham de uma mesma lógica e provocam efeitos, no mínimo, semelhantes. Além
disso, pretendo chamar a atenção para o fato de que o estudo dessa lógica e efeitos comuns pode
auxiliar na compreensão não só dos casos poltergeists em si, mas também do ser humano, em última
instância.

A ABORDAGEM SEMIÓTICA

Consideremos o seguinte: o domínio da natureza e o progresso tecnológico acontecem


graças ao fato de o ser humano desvendar o mundo que o cerca e seu próprio mundo interior. Esse
desvelamento é possível graças a pistas que são dadas pela própria natureza acerca de seu
funcionamento. Essas pistas constituem representações do modo de funcionamento da natureza,
mas não são a própria natureza. São traços da natureza que possibilitam conhecê-la pelo menos em
certa medida e perceber, muitas vezes, que eventos que antes eram considerados sobrenaturais são
absolutamente normais, naturais.
Da mesma forma, os eventos poltergeists só podem ser investigados pelas pistas que
deixam, por seus traços. É através das pistas, que permeiam esses eventos que se abre a
possibilidade de acesso aos mecanismos envolvidos nos poltergeists. Essas pistas não são os
poltergeists em si, mas revelam algo do fenômeno propriamente dito. A essas “pistas” ou “traços”
chamamos signos e à sua ação ou modo de significar, de serem interpretados, chamamos semiose,
dois conceitos semióticos que serão mais trabalhados adiante. São signos que nos permitem chegar
a uma interpretação dos fatos e investigar sua própria forma e funcionamento enquanto signo.
(Sebeok e Sebeok, 1991) A interpretação dos signos depende do arcabouço intelectual e teórico e
dos pressupostos científicos ou culturais de que dispomos para julgar os dados colhidos da
observação daquilo que queremos investigar. Isto é: signos são interpretados de acordo com as
possibilidades humanas de interpretação, ou seja, de acordo com seus esquemas interpretativos.
Como diz Santaella (1986: 7), citando Charles Sanders Peirce (1839-1914), considerado o pai da
moderna semiótica: “Só percebemos o que estamos aptos a interpretar.”
A nomeação dos eventos poltergeists refletem sua interpretação. Quando chamamos esses
eventos de RSPK (do inglês recurrent spontaneous psychokinesis), por exemplo, essa denominação
denota uma interpretação científica e naturalista do fenômeno. A utilização da denominação
poltergeist para designar os mesmos tipos de ocorrências, reflete uma interpretação religiosa ou
sobrenaturalista, apesar de vários cientistas utilizarem esse termo independentemente de sua
etimologia, apenas por hábito, “tradição”, não refletindo necessariamente suas crenças pessoais.
Apenas para lembrar, os eventos poltergeist (do alemão polter = barulhento; geist = espírito),
começaram a ser assim chamados sistematicamente por Martinho Lutero durante a Reforma
Protestante para designar determinados eventos que, segundo acreditava-se religiosa e
popularmente - e ainda acredita-se - seriam provocados por espíritos desencarnados ou até mesmo
por demônios. Da mesma forma, outros diferentes grupos culturais podem utilizar denominações e
I Encontro Psi - Poltergeist: Um jogo semiótico - Machado 36

explicações populares e particulares para esses eventos. “No Brasil, por exemplo, tanto nos casos de
hauntings como nos de poltergeist, o local onde esses eventos ocorrem são chamados de casas ou
locais mal-assombrados. Principalmente na zona rural, os poltergeists podem ser atribuídos a figuras
folclóricas, como por exemplo, ao Saci-Pererê, um tipo de duende brasileiro que é negro, usa uma
carapuça vermelha, tem apenas uma perna e vive pelas florestas e fazendas fazendo traquinagens
com animais e pessoas. Na zona urbana, as interpretações tendem mais para uma suposta ação de
espíritos ou entidades, embaladas pelas crenças dos adeptos das religiões afro-brasileiras e do
espiritismo kardecista.” (Machado, 2001: 228)
Em meus estudos, as pistas que investigo são os relatos colhidos em entrevistas com
pessoas envolvidas em casos poltergeists ou com investigadores de casos, além dos relatos
constantes na literatura especializada. Uma vez que as ocorrências poltergeist são tão “fugidias”, o
que causa tantas dificuldades de investigação, os relatos dos casos parecem o material mais
concreto que se tem à mão para realizar um estudo.
O referencial teórico que adoto para desenvolver meus estudos da lógica que rege os casos
poltergeists fraudulentos e genuínos, é a chamada semiótica ou lógica peirceana, o centro nervoso da
complexa obra do já citado cientista, matemático, historiador e lógico americano Charles Sanders
Peirce. Lido mais especificamente com sua primeira subdivisão, a Teoria Geral dos Signos, também
chamada de Gramática Especulativa, sem perder de vista o seu contexto na arquitetura do
pensamento peirceano
Estudos semióticos vêm sendo realizados desde a Antigüidade e hoje há várias correntes de
estudo de signos. Por que escolher justamente a semiótica peirceana? Certamente essa escolha não
foi aleatória.
A “doutrina dos signos” foi chamada por John Locke (1632-1704) de semiótica - do grego
semeion, que significa signo. (Santaella, 1986:7) A semiótica não é, em princípio, um método, mas,
antes de tudo, um ponto de vista. (Deely, 1990:28) Esse ponto de vista pressupõe o reconhecimento
explícito daquilo que todo método de pensamento ou de pesquisa pressupõe, ou seja, a investigação
sobre a realidade do mundo ou de algum aspecto específico dele. Assim, todo método que revele ou
busque revelar algo é semiótico em essência, ainda que os pesquisadores não se dêem conta disso.
(Deely, 1990:31)
Como mencionei em outro trabalho (Machado, 2001: 230), “a semiótica ou doutrina dos
signos consiste basicamente no estudo das relações e dos processos de significação dos signos que
nos circundam, e, em última instância, do próprio signo que somos todos e cada um de nós. Os
estudos semióticos investigam não apenas a ação dos signos lingüísticos, próprios da linguagem
verbal, como faz a semiologia criada pelo lingüista Ferdinand de Saussure (1857-1913). A semiologia
seria uma „tentativa de se estender analogicamente a signos mais primitivos características
inicialmente inferidas a partir do exame do uso da língua, os aspectos lógicos da língua tornando-se o
arquétipo sobre o qual se desenvolve a análise desses signos mais primitivos‟ (Clarke, 1987:8 citado
por Deely, 1990:21). O alcance da semiótica é muito maior porque engloba toda a gama das
linguagens possíveis, verbais e não-verbais, e todos os processos e relações comunicacionais que
permeiam a natureza. Desta forma, „a semiótica forma um todo do qual a semiologia faz parte‟
(Deely, 1990:23).”
A semiótica peirceana, em particular, vislumbra o mundo em que estamos imersos como uma
teia de relações que se tece por meio de uma grande variedade de linguagens através das quais nos
comunicamos e estabelecemos relações significativas uns com os outros. (Santaella, 1986: 11-13) O
poltergeist faria parte dessa teia, uma vez que há evidências de que ele se comporta como uma
linguagem não-verbal, influenciada por questões culturais relacionadas a um determinado grupo
social (Rogo, 1979a). Assim, considerando-se que “...todo e qualquer fato cultural, toda e qualquer
atividade ou prática social constituem-se como práticas significantes, isto é, práticas de produção de
linguagem e de sentido” (Santaella, 1986: 14), e partindo-se da hipótese de que o poltergeist
comporta-se como uma linguagem - mesmo que em última instância esse tipo de linguagem seja
ainda convencionalmente ignorado, mas, nem por isso, menos importante – a escolha do referencial
semiótico deveu-se principalmente ao fato de que a obra peirceana se presta à compreensão dos
mais variados processos e tipos de comunicação. Como diz Santaella (1993: 406), “os esquemas
analíticos de Peirce podem ser incorporados por qualquer ciência, disciplina ou campo de pesquisa
na medida em que têm uma natureza interpretativa, comunicativa ou semiótica”.
Peirce considera que a comunicação se dá através de signos dos mais variados tipos que, a
seu modo, provocam ou são provocados por interpretações, dando origem a uma cadeia infinita de
auto-geração de signos, cuja ação é chamada semiose. Essa abordagem semiótica pode levar a uma
compreensão mais ampla dos signos que compõem os casos poltergeists, e pode auxiliar, inclusive,
no deslindamento da conexão entre os aspectos físicos, biológicos e psicológicos que circundam o
fenômeno.
I Encontro Psi - Poltergeist: Um jogo semiótico - Machado 37

Antes de continuar, gostaria de abrir um parêntese para um esclarecimento. Quando utilizo o


termo “fenômeno” neste texto, faço-o no sentido peirceano do termo. Peirce utiliza o termo fenômeno
em sentido diferente do que o fazemos em Parapsicologia, quando há uma distinção entre fenômeno
e experiência. “Fenômeno” é utilizado para se referir a situações que trazem evidências de
ocorrências sugestivas de eventos genuinamente ocorridos por psi. “Experiência”, por sua vez, é o
termo utilizado para se referir à impressão que uma pessoa tem de ter realmente passado por uma
situação que ela interpretou como parapsicológica, mas que, na verdade, pode não ter envolvido
nenhum conteúdo ou mecanismo parapsicológico. (Irwin, 1994) Para Peirce, porém, o que importa é o
efeito da experiência pessoal de quem vivencia qualquer evento, não sua realidade ontológica.
Assim, Peirce (1983: 85) chamou de phaneron ou fenômeno “...tudo o que é presente à mente, sem
cuidar se corresponde a algo real ou não”, isto é, “...qualquer coisa que aparece à mente, seja ela
meramente sonhada, imaginada, concebida, vislumbrada, alucinada... Um devaneio, um cheiro, uma
idéia geral e abstrata da ciência... Enfim, qualquer coisa” (Santaella, 1995:16). Assim, essa
perspectiva semiótica leva em conta a realidade experiencial dos fenômenos, sejam eles
considerados, em Parapsicologia, genuínos ou fraudulentos. (Machado, 2001: 231) Desta forma, essa
perspectiva semiótica vai exatamente ao encontro do estudo que proponho.
Para elaborar sua teoria semiótica, Peirce partiu da observação fenomenológica, buscando
compreender o modo como obtemos conhecimento, como as coisas nos chegam à consciência e
como as interpretamos. Enfim: como pensamos. Após anos de reflexão e estudos filosóficos, Peirce
deu à luz três categorias universais às quais nomeou primeiridade, segundidade e terceiridade. A
primeiridade é a categoria da mera potencialidade. Por exemplo: a cor amarela pura e simplesmente,
sem estar encarnada em nenhum objeto ou ser; ou todas as possibilidades que podem acontecer
durante nossa existência. A segundidade envolve a relação de um primeiro com um segundo: esse
amarelo encarnado em um vestido; ou um fato que ocorre. É factual. Envolve ação, realidade, a
experiência no tempo e no espaço. A terceiridade diz respeito à representação de idéias, aos signos,
à comunicação. É a racionalização em cima dos fatos. “Constitui a camada interpretativa entre a
consciência e o que é percebido.” (Nöth, 1995:41) Peirce concluiu que as três categorias estariam
presentes nas ciências da natureza e do pensamento, e no cosmo como um todo. (Peirce, 1885 in
Hoopes, 1991:180-185) Desta forma, estendeu as categorias também para a natureza de um modo
geral, não limitando-as ao nível psíquico. A classificação peirceana dos signos que permeiam a
natureza e também nosso pensamento está baseada na lógica triádica de suas três categorias
fenomenológicas.
A Teoria Geral dos Signos de Peirce descreve a composição dos signos e seu modus
operandi. É ela que traz as ferramentas de análise dos signos. As categorias são apenas um ponto
de partida. Por serem muito abstratas não servem como ferramenta analítica. Mas a Teoria Geral dos
Signos permite que se faça uma análise microscópica do modo como os signos agem sobre seus
intépretes, seu potencial de significação e os níveis de interpretação alcançados, que podem fazer
com que a vida dos experienciadores dos casos em questão mude em decorrência da alteração de
sua visão de mundo. Porque essa teoria possibilita esse tipo de análise, bastante intrincada,
complexa, mas reveladora, é que a considero de grande ajuda para a formalização do estudo dos
signos que compõem não somente os casos poltergeists, mas também qualquer outra tentativa ou
situação comunicacional. (Creio já estar claro que considero o poltergeist uma situação
comunicacional.)
A seguir, exponho brevemente como o signo e a semiose são descritos na semiótica
peirceana. Infelizmente, por motivo de limitações editoriais, não será possível demorar-me muito
nessas explicações, nem apresentar mais detalhadamente as categorias que são a base da semiótica
peirceana. Porém, creio que o que será apresentado será suficiente para talvez aguçar a curiosidade
do(a) leitor(a) e instigá-lo(a) a aprofundar-se mais no assunto. (Recomendo a leitura do capítulo “A
new look at hauntings and poltergeist phenomena: Analysing Experiences from a semiotic
perspective”, que escrevi para a coletânea de textos realizada por James Houran e Rense Lange,
“Hauntings and Poltergeists: Multidisciplinary Perspectives”, publicada em 2001 pela Editora
McFarland. Nesse capítulo, apresento mais detalhadamente minhas idéias e a abordagem semiótica,
exemplificando-a com a análise de casos brasileiros. Aliás, a leitura do livro todo é interessante pois
traz diferentes pontos-de-vista e abordagens de estudo de hauntings e poltergeists, que leva à
reflexão profunda sobre o tema considerando-se diferentes aspectos. Consulte também o site
www.peirce.cjb.net para mais informações sobre semiótica e www.portalpsi.cjb.net para ler o artigo
“Charles Sanders Peirce e a Pesquisa Psíquica”, de Wellington Zangari .)
I Encontro Psi - Poltergeist: Um jogo semiótico - Machado 38

A TEORIA GERAL DOS SIGNOS E SUAS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES AO ESTUDO


DOS POLTERGEISTS

De acordo com a semiótica peirceana, cada signo seria composto por três elementos, cuja
relação entre si faz com que os signos ajam/funcionem de modos diferentes. (Nöth, 1995: 79)
Os três elementos que compõem um signo são: (1) o fundamento do signo – que também é
chamado pura e simplesmente de signo, que consiste na representação de um objeto; (2) o objeto
representado e (3) o interpretante, que não deve ser confundido com intérprete ou interpretação.
Interpretante é uma palavra criada por Peirce para designar a potencialidade do signo para produzir
um efeito em uma “mente”, efeito este não estritamente subjetivo, que leva à produção de um novo
signo. (Johansen, 1985: 242)
Peirce dividiu o interpretante em níveis de acordo com três princípios diversos. A classificação
dos interpretantes que adoto para meu estudo se baseia nas três categorias universais. De acordo
com essa classificação, os níveis de interpretantes são:
(1) interpretante imediato, que “consiste na Qualidade da Impressão que um Signo está apto
a produzir, não diz respeito a qualquer reação de fato.” (8.315) 1 Isto significa que esse primeiro nível
do interpretante diz respeito ao que comumente de chama de significado do signo. Está relacionado a
uma possibilidade, a uma idéia abstrata, pronta para ser interpretada por um intérprete, mas que
existe, independentemente da presença desse intérprete;
(2) interpretante dinâmico, que corresponde ao efeito que o signo realmente produz em seu
intérprete, dentro de um contexto. Seria a interpretação imediata dada ao signo por parte do
intérprete antes de qualquer reflexão mais cuidadosa. Divide-se em três níveis: emocional (efeito
qualitativo, qualidade de sentimento), energético (reação interna ou externa na qual se emprega
algum tipo de esforço) e lógico (o pensamento ou entendimento geral produzido pelo signo)
(Santaella,1995:182);
(3) interpretante final, que é o efeito produzido na mente interpretadora após a elaboração
mental do interpretante dinâmico. Seria o limite ideal a ser atingido por um signo, o nível de
interpretante que conteria a realidade do signo, seu verdadeiro significado. Esse limite é abstrato.
Ainda que seja possível conceber o interpretante final, ele é, na prática, inatingível, pois é coletivo,
não individual. Consiste na totalidade de todos os interpretantes pertinentes a um signo, todo seu
poder de significação e isto não pode de ser alcançado.
É importante lembrar que a noção peirceana de mente não é antropocêntrica. Para Peirce, a
mente mais complexa é a mente humana, mas ele considera, por exemplo, que há inteligência na
natureza de um modo geral e nos objetos materiais que seriam mentes cristalizadas pelo hábito.
(Santaella, 1998a)
O signo carrega um conteúdo objetivo, uma vez que representa um objeto e é determinado
por ele. “Cada signo, ainda que seja uma previsão de um evento futuro, tem uma conexão física com
o objeto que representa.” (Hoopes, 1991: 141) Dessa forma, o interpretante seria uma espécie de
“propriedade interna” do signo, “criatura” do signo, ou, o que se diz ser o “significado” do signo. (Nöth,
1995: 43) Ele não depende de um intérprete ou de uma interpretação em particular. Ainda que não
haja intérprete algum, nem nehuma mente em potencial que o interprete, o interpretante “permanece”.
O objeto representado pelo signo pode ser algo concreto ou não, real ou imaginário. De
qualquer forma, é o objeto que determina o signo. Peirce dividiu o objeto de uma relação sígnica em
dois tipos: o objeto imediato e o objeto dinâmico. O objeto dinâmico corresponde ao objeto
propriamente dito, tal como ele é, independentemente da relação triádica da semiose. O objeto
imediato seria o modo como o objeto é representado pelo signo. De acordo com Peirce, percebemos
o objeto através da mediação do signo da seguinte forma: a consciência seria como um lago profundo
onde as idéias estão em permanente movimento em diferentes profundidades e a superfície é
continuamente estimulada por uma chuva de perceptos. Perceptos são os estímulos que insistem em
ser percebidos. Há como que uma rede sobre esse lago que permite a comunicação entre o que há
no exterior e nossas idéias. Essa rede é composta de nossos sentidos. As idéias se movimentam de
acordo com os estímulos externos. Quando o percepto é apreendido no sistema sensório-motor e fica
sujeito aos esquemas conceituais de que dispomos, torna-se percipuum. A partir daí, ele é
desenvolvido sob a forma de proposições mentais através do julgamento perceptivo, que consiste
exatamente na racionalização do que foi percebido. Assim, perceber é traduzir um objeto de
percepção em julgamento de percepção. “O percepto desempenha o papel lógico do objeto dinâmico,
enquanto o percipuum desempenha o papel do objeto imediato e o julgamento de percepção está no
papel do signo-interpretante.” (Santaella, 1995:69)
Em resumo: para Peirce, as coisas chegam à nossa consciência por intermédio dos signos.

1
A citação dos Collected Papers de C.S. Peirce é feita tradicionalmente da seguinte forma: um algarismo que
indica o volume e, depois de um ponto, outros algarismos que indicam o parágrafo da citação.
I Encontro Psi - Poltergeist: Um jogo semiótico - Machado 39

Os signos representam objetos. Nunca o signo consegue representar o objeto plenamente, porque o
signo é como se fosse um procurador do objeto que ele representa. Mas, mesmo assim, como há um
interpretante que carrega um potencial de significação, de efeito a ser causado em um intérprete –
seja este uma máquina, uma célula, uma mente humana etc. – o signo nos dá a conhecer pelo
menos parcialmente o objeto que ele representa. (Peirce, 6.347) Mas, apesar desse potencial de
significação, Peirce deixa claro que há espaço para interpretações individuais. Para um mesmo signo
pode-se encontrar diferentes interpretações, mas há que se lembrar que a interpretação advém da
observação e/ou da “experimentação” do signo. Portanto, ainda que as interpretações sejam
diferentes, haverá nelas algo do signo, uma essência que não se perde na subjetividade.
Há que se levar em conta as chamadas experiências colaterais, que estão fora do signo,
portanto fora do interpretante que o próprio signo determina. Essas experiências colateriais
influenciam, por exemplo, o modo como os personagens dos casos poltergeist percebem o fenômeno
e o assimilam. Assim, quando os envolvidos no poltergeist narram suas experiências em relação ao
fenômeno, o relato já está comprometido com o efeito que aquela experiência neles provocou
enquanto intérpretes, neste caso principalmente de acordo com o contexto cultural em que vivem e
suas idiossincrasias. Há, então o cruzamento entre o interpretante do signo e os fatores externos que
comprometem a percepção do observador ou intérprete. O mesmo acontece quando um pesquisador
relata um caso por ele investigado. Por mais que se esforce para manter o distanciamento necessário
à pesquisa científica, sabe-se que não o consegue plenamente, ainda que seja possível atingir níveis
satisfatórios. Em outras palavras, o próprio fenômeno é um signo que gera a experiência, outro signo,
que gera o relato, outro signo. Por isso, o interpretante é considerado, ele mesmo, um novo signo,
produzido a partir do anterior. E assim, numa cadeia de semioses (ações sígnicas), signos vão sendo
gerados indefinidamente. (Merrell, 1997: 11)
Desta forma, segundo Peirce, não é possível chegar à verdade de fato, mas é possível
encontrar resquícios da verdade, pistas que nos possibilitam vislumbrar pelo menos seus contornos,
porque ela insiste. (Santaella, 1998b) Portanto, seja qual for a natureza do fenômeno poltergeist, a
existência de relatos dessas experiências é um fato e através desses relatos pode-se ter acesso aos
contornos dessa experiência e, por conseguinte, da verdade que o circunda.
É importante dizer que as relações sígnicas expostas e discutidas até aqui referem-se a
signos genuínos. Há, no entanto, signos degenerados ou quase-signos, que são assim chamados
porque a trajetória deles dentro da cadeia semiótica não chega ao final, uma vez que cumprem a
função de signo antes de atingir uma tricotomia genuína. Isto depende do tipo de relação entre o
signo e o objeto que ele representa. No caso dos chamados signos degenerados, o interpretante
produzido não é necessariamente um conceito. Pode ser apenas uma reação, por exemplo, um susto.
Desta forma, não se pode considerar o interpretante sem levar em conta o tipo de signo que está
sendo analisado (Santaella, 1995: 114) O signo essencialmente triádico, dito genuíno, é chamado de
simbólico. Os signos degenerados podem ser de dois tipos: icônico (que compartilha os caracteres do
objeto) e indicial (realmente conectado, em sua existência individual, ao objeto).
Pelo fato de a perspectiva semiótica levar em conta a realidade experiencial do fenômeno em
vez de se preocupar necessariamente com sua possível realidade ontológica, é possível estudar os
signos que permeiam esses eventos chamados ou interpretados como poltergeists
independentemente de esses eventos serem reais ou fruto de fraude. Ou seja, é possível realizar um
estudo das fraudes, o que é geralmente negligenciado. Peirce insiste que o signo representa seu
objeto, ainda que falsamente. Isto significa que, no caso dos poltergeists, ainda que não ocorra uma
interação psicocinética com o meio, haverá naquela fraude traços, pistas que têm relação com o que
consideraríamos um poltergeist genuíno, não em nível superficial, mas profundo.
É interessante notar que tanto nos casos fraudulentos quanto nos aparentemente genuínos, a
partir do momento que se torna claro o que o poltergeist significa, seu conteúdo sígnico, sua
“mensagem”, as ocorrências cessam, pois as pessoas envolvidas dispõem de um meio “mais
econômico” para se expressarem: a linguagem verbal, acompanhada ou não de um “gesto” (um
abraço, o perdão de alguma falta, a decisão de desligar-se daquele grupo etc.) Se é assim, “de que
falam os poltergeists?” é uma pergunta crucial para que possamos compreendê-los não somente em
sentido psicológico, mas talvez também físico e biológico. Peirce propõe que o pensamento e a
natureza funcionam da mesma forma. Não haveria dualidade mente-matéria. Se assim for, talvez as
mesmas reações orgânicas que levam alguém a realizar deliberadamente as fraudes, levem também,
inconscientemente, alguém a interagir com o ambiente de uma forma parapsicológica. Mas isto não
passa de especulações, por enquanto. A verdade é que ainda não se sabe por que algumas pessoas
utilizam a “linguagem poltergeist” – de forma fraudulenta ou genuína – para expressar seus desejos
e/ou agressividade.
A abordagem semiótica dos casos não visa trazer respostas definitivas para essas questões
que permanecem abertas. Mas a utilização dos conceitos aqui apresentados e a análise dos casos
seguindo a lógica da ação dos signos proposta por Peirce pode auxiliar na formalização do modo de
I Encontro Psi - Poltergeist: Um jogo semiótico - Machado 40

abordar os casos, garantindo que os sujeitos dessas experiências não sejam negligenciados.
Dependendo do corte realizado na cadeia semiótica que envolve os casos, pode-se avançar na
profusão de relações sígnicas, promovendo a integração maior entre os processos motivacionais,
perceptivos e físicos que envolveriam os chamados poltergeists genuínos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A semiótica é, antes de tudo, uma ferramenta de análise que nos permite examinar os
fenômenos que nos circundam de diferentes pontos de vista. Ela amplia nossa visão de mundo para
várias possibilidades e promove uma leitura mais fiel da realidade na medida em que não determina a
priori o modo de funcionamento dos signos. Talvez o maior prejuízo às pesquisas do poltergeist seja
causado por nossas idéias pré-concebidas, nossas expectativas acerca dos resultados e das
características dos chamados agentes RSPK. A própria natureza nos mostra que ela não tem
obrigação de ser simples. E se ela e todos nós somos naturalmente complexos, apesar de haver uma
lógica que a organiza, há também todo um leque de possibilidades que se abre para cada pequeno
evento que ocorre no dia-a-dia. O estudo do signo nos previne das armadilhas do pré-concebido.
Permite – e até estimula – a consideração de pontos de vista diferentes sobre um mesmo objeto
estudado, sem deixar de ser lógico. “Um signo trabalha de acordo com duas variáveis essenciais: (1)
seu contexto de atualização e (2) o aspecto que é observado e analisado. No caso dos... poltergeists,
podemos, por exemplo, colocarmo-nos na posição da pessoa que vai estudar os interpretantes
gerados pelos signos e como esses são interpretados pelos experienciadores; ou nós mesmos
podemos ser intérpretes diretos dos eventos como signos, centralizando nossa atenção no estudo
dos aspectos físicos ou psicológicos das ocorrências ou na interação de ambos” (Machado, 2001:
237) Isto falando-se apenas em termos da pesquisa dos poltergeists. Há pesquisas semióticas nas
mais diversas áreas desde a análise de marcas de produtos até reações celulares. Espero que
possamos nos valer com sucesso das possibilidades que a semiótica nos oferece.

REFERÊNCIAS

Bender, H. (1976) A Pesquisa Moderna do "Poltergeist": A necessidade de uma Abordagem sem


Preconceito. In J. Beloff. (Org.) Parapsicologia Hoje. Rio de Janeiro: Arte Nova.
Clarke, D.S. (1987) Principles of Semiotic. London: Routledge & Keagan Paul.
Deely, J. (1990) Semiótica Básica. São Paulo: Ática.
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Fodor, N. (1958) On the trail of the poltergeist. New York: Citadel.
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REFLEXÕES SOBRE O ESTUDO DE CASOS ESPONTÂNEOS*

Carlos S. Alvarado

Parapsychology Foundation
228 East 71st Street, New York, NY 10021, email: alvarado@parapsychology.org

(Traduzido por Wellington Zangari, Inter Psi/PUC-SP)

RESUMO

Há muitos problemas no estudo de casos espontâneos em Parapsicologia. O principal


é o baixo número de projetos de pesquisa na área. Uma especialidade que realiza
pouca pesquisa não tem possibilidade de se desenvolver como uma ciência e tem
pouco impacto sobre a sociedade. Necessitamos um melhor equilíbrio entre as
pesquisas dirigidas à prova e as pesquisas digiridas ao processo, em oposição à
ênfase em extremos que geralmente presenciamos atualmente. Em alguns casos, o
interesse em mostrar que os fenômenos parapsicológicos transcendem as limitações
físicas parece retardar as tentativas de estudar possíveis relacionamentos com
aspectos tais como as variáveis psicológicas. É desejável que aqueles que se
interessam por diferentes abordagens do estudo de casos espontâneos entrem em
um diálogo que ajudará o campo a se desenvolver mais.

ABSTRACT

There are many problems in the contemporary study of spontaneous cases in


parapsychology. The main one is the low number of research projects in the area. A
specialty that conducts little research has no possibility of developing as a science and
has little impact on society. We also need a better balance between research directed
at proof and at process considerations, as opposed to the emphasis on extremes that
we mostly see today. In some instances, interest in showing that psychic phenomena
transcend physical limitations seems to hinder attempts at studying possible
relationships with aspects such as psychological variables. It is hoped that those
interested in different approaches to the study of spontaneous phenomena will enter
into dialog that will help the field develop further.

O início de um novo milênio nos oferece a oportunidade de fazer um balanço, de refletir sobre
o estado da Parapsicologia e suas diferentes áreas de estudo. Neste breve ensaio eu gostaria de
oferecer alguns comentários sobre aspectos do estudo de casos espontâneos.
Há muitos problemas que caracterizam essa área de pesquisa. Talvez o principal problema
da pesquisa de casos espontâneos nesse momento seja a pouca pesquisa realizada, pelo menos a
julgar pelas apresentações nas Convenções da Associação Parapsicológica e pelas publicações.
Talvez existam muitas razões para esse estado de coisas, tal como o fato de a maioria dos
parapsicólogos preferirem a abordagem experimental. Entretanto, creio que devamos considerar um
problema sério de nossa própria comunidade. Muitos daqueles que se interessam pelos casos
espontâneos não realizam pesquisas. Freqüentemente ouço, privadamente, (ou leio) as idéias de
muitas pessoas sobre a importância da pesquisa de casos, algumas das quais têm grande paixão
pelo tema. Algumas delas continuam a atacar os experimentalistas ou a academia em geral, mas não
fazem nada para satisfazer seus interesses. Criticam os outros por negligenciarem os casos
espontâneos por causa de suas preferências pelos estudos de laboratório, por causa de suas
definições a respeito do quê se constitui a pesquisa científica ou por causa do chamado medo das
experiências psi destes. Vontade não resolve nossos problemas. Devemos estar conscientes de que
a pesquisa é feita a partir do interesse e do treinamento de alguém e que não podemos esperar que
aqueles que realizam outro tipo de pesquisa façam o tipo de pesquisa que queremos ver feita. Eles
simplesmente têm outras prioridades e visões. Em grande medida, é nossa própria responsabilidade
mudar a situação por meio de nosso engajamento, realizando pesquisas de qualquer que seja a

*
Esta é uma versão resumida de um trabalho publicado no Journal of Parapsychology (2002, 66, 115-125)
I Encontro Psi - Reflexões sobre o estudo de casos espontâneos - Alvarado 43

forma: estudos de caso, estudos de coleção de casos ou estudos por amostragem, entre algumas
possibilidades. Um campo que limita a si mesmo pela fala ou pela crítica está condenado a ser
pequeno e subdesenvolvido. Sem pesquisa não pode haver crescimento, há pouco a apreender
acerca dos fenômenos. Em resumo, há estagnação.
Isso me leva a outro tipo de problema existente na pesquisa de casos espontâneos que é o
de confundir pequisa útil para nossa compreensão do fenômeno com a compilação de experiências.
Tenho sustentado que precisamos fazer mais com os casos espontâneos que apenas apresentar um
relato de caso limitado à descrição dos fenômenos ou seus aspectos evidenciais (Alvarado, 1996b).
Nosso campo necessita aprender alguma coisa sobre os fenômenos, não para continuar
compartilhando histórias maravilhosas per si. Minha impressão ao longo dos anos é a de que uma
parte daqueles envolvidos com o estudo de fenômenos espontâneos não está interessada em
explicá-los ou compreendê-los. Parece satisfeita em manter o mistério pelo mistério. Nessa
perspectiva, os fenômenos são alguma coisa sagrada que não deve ser tocado demasiadamente. Tal
atitude pode ser resultante de concepções religiosas ou espirituais que definem o fenômeno com
transcendental e para além dos limites da ciência, ou por causa do medo de que, se o fenômeno for
explicado, não haverá mais mistério nem razão para nos concentrarmos sobre ele (a esse respeito,
ver Moody, 1999). No entanto, seja qual for a razão, tais atitudes impedem o desenvolvimento da
pesquisa de casos espontâneos, deixando o campo com pouco mais que a glorificação do
parapsicológico.
É importante, é claro, tentar estabelecer se os resultados do trabalho com casos espontâneos
requerem uma explicação baseada em novos princípios não aceitos pela ciência. Mas a pesquisa
realizada apenas para mostrar isso é muito limitada em termos da compreensão dos fenômenos. Não
posso falar por todos os pesquisadores de casos espontâneos, mas sinto que necessitamos fazer
mais do que apenas mostrar que alguns fenômenos são comprováveis ou que eles requerem
explicações atualmente não aceitas pela ciência. Há muitas coisas a aprender de nossos estudos.
Um exemplo é que podemos aprender (e que talvez já tenhamos aprendido) sobre as característiscas
dos fenômenos (para uma revisão, ver Alvarado, 1996a; Irwin, 1994; Stokes, 1997). Aprendemos
alguma coisa se estudamos as características particulares dos fenômenos e de quanto tais
características mudam ou variam de acordo com outras variáveis. Os estudos de Schouten (1979,
1981, 1982) sobre as experiências ESP são um exemplo, como o são os estudos de Ring (1980)
sobre as experiências próximas à morte (EPM). Além disso, compreendemos melhor um fenômeno
quando podemos relacioná-lo a outro fenômeno. Por exemplo, os casos espontâneos tem sido
relacionados a variáveis de personalidade (Zingrone, Alvarado & Dalton, 1998-99) e a medidas do
campo geomagnético (Persinger, 1987).
Recentemente, criou-se uma dicotomia entre considerar estudos de casos espontâneos
verificados e não-verificados. Por um lado, há uma série de estudos que se realizam exclusivamente
sobre respostas não-verificadas obtidas por meio de questionários que tentam relacionar essas
respostas a variáveis psicológicas como a absorção (Irwin, 1985), à susceptibilidade hipnótica
(Pekala, Kumar & Cummings, 1992), à dissociação (Richards, 1991) e a cinco fatores de
personalidade: agradabilidade, conscienciosidade, neuroticismo, abertura e extroversão (Zingrone,
Alvarado, & Dalton, 1998-99). Por outro lado, há outros estudos relacionados principalmente à
descrição dos fenômenos e, particularmente, com seu carater evidencial, como os que se valem de
entrevistas. Alguns exemplos são os relatos de casos de precognições auditivas (Cox, 1982), as
experiências próximas à morte (Ring & Lawrence, 1993) e as aparições (Stevenson, 1995).
Os estudos que se utilizam de questionários são problemáticos porque não avaliam a
autenticidade nem a evidencialidade dos relatos. Isso significa que os resultados desses estudos são
ambíguos e que pode haver muitas fontes de erro na interpretação das correlações apresentadas.
Por outro lado, os estudos realizados com questionários nos permitem ver as alegações em seus
contextos, em relação com as variáveis cognitivas e de personalidade, por exemplo. Os estudos
evidenciais estão limitados à correção do relato e de quão correspondente ao suposto evento verídico
ele é, seja em uma aquisição de conhecimento ou em um efeito físico. Essa abordagem é ainda
grandemente limitada pela negligência de se considerar o processo.
Infelizmente, estamos distantes da necessária integração entre ambas as abordagens, algo
que desejo poder ver se desenvolver mais no milênio que se inicia. A integração das aborgadens de
prova e de processo pode ser encontrada em uma variedade de estudos tais como os estudos de
correlatos psicológicos de crianças que alegam se lembrar de vidas passadas, de Haraldsson (1997),
no estudo de padrões de movimentos de objetos em casos de poltergeist, de Roll, Burdick e Joines
(1973), e no estudo de imaginação e experiências de vida relacionada aos sonhos ESP, de
I Encontro Psi - Reflexões sobre o estudo de casos espontâneos - Alvarado 44

Stevenson (1963). Tenho esperanças de que uma nova geração de pesquisas de casos espontâneos
possa mostrar mais exemplos dessa integração.
Mas devemos estar cientes de que tal integração é difícil em algumas ocasiões por causa de
diferentes princípios a respeito da natureza dos fenômenos. Minha impressão é de que alguns dos
interessados em sobrevivência à morte ou na conceitualização dos fenômenos parapsicológicos
como manifestações que levam a aspectos não-físicos e/ou espirituais dos seres humanos
geralmente não estão interessados em mostrar como os casos se relacionam a aspecos do mundo
natural. Para alguns dos interessados nessa visão, estudar se os médiuns apresentam experiências
dissociativas em suas vidas diárias, estudar o perfil psicológico dos que alegam sair de seus corpos,
ou estudar o relacionamento de variáveis de personalidade à experiências ESP é irrelevante. Tais
pesquisadores sentem que é mais importante estabelecer a sobrevivência, a espiritualidade, do que
saber mais acerca das implicações desses conceitos para a natureza dos seres humanos. Talvez,
aqueles que vêem o estudo de casos espontâneos dessa forma não querem ver o tema associado a
correlatos mundanos como os psicológicos, biológicos ou físicos porque tais correlatos minam as
visões espirituais que eles gostariam de manter. Apesar de essas questões não necessitarem estar
em contradição, na prática, reagimos a elas de maneira emocional ao tomarmos partido de um lado
que nos distancia da abordagem oposta.
Uma abordagem de pesquisa está baseada em mecanismos convencionais, enquanto que a
outra está baseada em princípios que não estão atualmente reconhecidos pela ciência. Apesar de
não ser possível mudar os interesses dos pesquisadores que geram estudos (e nem mesmo é
desejável fazer isso) minha esperança é que, pelo menos, possamos combater mais eficientemente
essas dicotomias durante o novo milênio. Deseja-se que o campo não se degenere ao assumir uma
estratégia simplista ou de baixa tolerância ao se opôr a abordagens que classificam algumas
pesquisas como Parapsicologia “apropriada” ou como não pertencente ao campo da Parapsicologia.
A ciência não deveria definir a si mesma pelos seus modelos teóricos, mas pelas tentativas de testar
empiricamente explicações que competem entre si. O objetivo de longo prazo é o de compreender os
fenômenos e o que quer que seja feito para se chegar a esse objetivo é apropriado e benvindo.
Mas, apesar de tais tentativas para o estabelecimento de um equilíbrio, creio que as pessoas
que estudam casos espontâneos devam integrar seus esforços com aquelas pessoas de outras
disciplinas tais como a Psicologia, a Psiquiatria e a Antropologia. Necessitamos dar atenção a muito
mais que apenas aos aspectos verídicos, evidenciais, de nosso objeto de estudo. Emilio Servadio
(1962) apresentou isso bem ao nos lembrar das dificuldades de se compreender ESP nos sonhos
sem estudar a psicologia dos sonhos. Em suas palavras:
Aqueles que nunca se deram ao trabalho de estudar os sonhos normais
podem ser tentados a considerar o sonho “paranormal”... como um tema
completamente separado. Eles podem limitar-se, por exemplo, a inquirir se
uma comunicação telepática “aparece” em um ou em vários sonhos. Tal
limitação ignoraria a estrutura dos sonhos, sua dinâmica, suas origens
profundamente assentadas, o contexto da vida psíquica do sonhador e, em
alguns casos, o relacionamento inter-pessoal consciente ou inconsciente
com um outro sujeito ou sujeitos da comunicação...
...Sou da opinião de que se se deseja compreender alguma coisa do sonho
“paranormal”, deve-se começar com uma adequada compreensão do que
seja um sonho “normal”. Não quero dizer que ao fazer isso seremos
capazes de compreender qualquer coisa, mas a possibilidade de
compreensão será, nesse caso, ao menos comparável à da pessoa que, ao
encontrar um animal desconhecido ou raro, examina-o a partir do sadio
conhecimento da Zoologia geral (pp.5-6).

A questão aqui é ter uma visão mais completa e holística e perceber que o isolamento do
elemento verídico é algo temporário, um primeiro passo no estudo de fenômenos com os quais
estamos envolvidos. Mas a compreensão do fenômneo não é possível no isolamento, fora do
contexto em que ocorre, um tópico que tenho já discutido anteriormente (Alvarado, 1995). Esse
contexto tem sido discutido e considerado em muitas publicações da Pesquisa Psíquica. Lebiedzinski
(1924) apontou para a importância das crenças dos médiuns para determinar o tipo e as
características dos fenômenos por eles produzidos. São também de interesse os escritos de Cassoli
(1955) sobre o contexto social e religioso de supostos eventos miraculosos e as discussões de
Ehrenwald (1955) sobre a dinâmica da situação psicoterapêutica.
I Encontro Psi - Reflexões sobre o estudo de casos espontâneos - Alvarado 45

Nesse curto trabalho, não enfoquei muitas outras questões relacionadas aos estudos de
caso, entre as quais se incluem as considerações clínicas e antropológicas, bem como o impacto das
experiências sobre as crenças e sobre os comportamentos. Apesar de não esperar que minha
discussão trará melhoras para as deficiências da pesquisa e para outros problemas discutidos aqui,
espero que possa levar àqueles com experiência no estudo de casos espontâneos a um diálogo
construtivo a respeito desses temas. O amanhecer de um novo milênio me faz esperar que possamos
melhorar muitos projetos de pesquisa sobre diferentes aspectos dos casos espontâneos e que
possamos organizar melhor nossos esforços em termos de programas de pesquisa que aumentarão
nosso conhecimento a respeito das características, correlatos e funções dessas experiências.
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Mesa Redonda: Profissão Parapsicólogo(a):
Limites, Possibilidades e Perspectivas

PESQUISA PSI NO BRASIL:


ABRINDO CAMINHOS VENCENDO BARREIRAS
Profa. Fátima Regina Machado

Inter Psi – Grupo de Estudo de Semiótica, Interconectividade e Consciência


Centro de Estudos Peirceanos
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

É bastante comum que os(as) pesquisadores(as) psi e educadores(as), que são


estudiosos(as) de psi, ou seja, os(as) parapsicólogos(as), não consigam se dedicar em tempo integral
à pesquisa psi ou parapsicologia. O Brasil ainda não oferece, via de regra, possibilidadees para uma
dedicação integral a esse campo. Essa profissão não é reconhecida e, portanto, não é
regulamentada.
Para muitos, isto pode parecer estranho, pois ouve-se falar por aí de parapsicólogos(as) que
têm seus consultórios e ganham a vida oferecendo assessoria para o desenvolvimento de
capacidades mentais, previsão do futuro, suporte para o auto-conhecimento e curas espitirutais.
Essas práticas, contudo, não são práticas parapsicológicas.
Abrindo aqui um parêntese, vale lembrar que a palavra “parapsicologia”, proposta por Max
Dessoir em 1899, foi adotada por Rhine para designar a pesquisa experimental de alegados
fenômenos extra-sensório-motores. Com essa denominação, Rhine pretendia diferenciar seus
estudos realizados no Laboratório de Parapsicologia da Duke University daqueles realizados na
Europa, que primavam pelas pesquisas de casos espontâneos – embora houvesse esforços para
impor controles aos sujeitos investigados. Assim, a parapsicologia surgiu como o lado oficialmente
experimental da pesquisa psíquica (de raízes anglo-saxônicas) e da metapsíquica (de raízes neo-
latinas). Com o passar do tempo, porém, as pesquisas de casos espontâneos foram sendo
incorporadas à parapsicologia de raízes norte-americanas, principalmente com o trabalho de coleta
de casos realizado por Louisa E. Rhine, Hidden Channels of the Mind (1948), ou Canais Ocultos do
Espírito, como ficou conhecido seu livro na tradução brasileira. Atualmente, o termo “parapsicologia”
foi adotado pela comunidade científica internacional e engloba tanto as pesquisas de casos
espontâneos quanto as experimentais. Há grande valorização das pesquisas de casos porque além
de seu grande valor intrínseco, elas fornecem subsídios para o aprimoramento das pesquisas de
laboratório.
Desta forma, ser parapsicólogo(a) não significa ser paranormal nem aplicar métodos
terapêuticos. Significa ser um(a) estudioso(a) ou pesquisador(a) dos alegados fenômenos e
experiências psi popularmente chamados de “paranormais”. Aliás, até o momento, a parapsicologia
não propõe ou valida nenhuma “técnica parapsicológica” que tenha efeitos curativos, tornem as
pessoas mais telepáticas ou menos psicocinéticas (no caso dos agentes poltergeists), ou qualquer
coisa que o valha. A parapsicologia não se presta a isso.
A grande luta da comunidade de pesquisadores(as) de psi consiste em tentar replicar os
alegados fenômenos psi no laboratório para que se possa estudar seus processos. Se ainda não é
possível fazer isso, como oferecer promessas de desenvolver as capacidades psi de alguém?
A questão da profissionalização do(a) parapsicólogo(a) é complicada. Isto se dá em primeiro
lugar por causa da confusão armada em torno do termo “parapsicologia”, que é tomado por “qualquer
coisa esquisita e energética”. Muitos esotéricos, por exemplo, adotam o termo “parapsicologia” para
designar suas práticas esotéricas. Parece que essas pessoas ou não aprenderam o que realmente é
esoterismo e o que é parasicologia, ou não reconhecem a validade dessas práticas esotéricas que
têm seu valor dentro de seu contexto, e querem dar a elas uma denominação que seja “mais
científica”, “mais fundamentada”, “mais legitimada”. A parapsicologia não é melhor nem pior que o
esoterismo. São formas de saber diferentes, Apenas isso.
A seguir, me dedicarei às possibilidades, limites e perspectivas da profissão de
parapsicólogo(a), deixando claro que estou falando de parapsicólogos(as) reconhecidos(as) como tal
do ponto de vista da comunidade científica internacional: aqueles(as) que se dedicam à pesquisa psi
seguindo com rigor os protocolos de investigação; aqueles(as) que, sendo estudiosos(as), também
I Encontro Psi - Pesquisa Psi no Brasil: Abrindo Caminhos Vencendo Barreiras - Machado 48

trabalham lecionando em cursos e/ou divulgando informações na mídia sempre que solicitados;
aqueles(as) que têm produção bibliográfica na área; aqueles(as) que se mantém atualizados sobre os
últimos avanços do campo.
Falemos das possibilidades. A grande possibilidade de que consigamos verba para a
realização de nossas pesquisas, lugar adequado para montarmos nossos laboratórios e alguma
estabilidade, é o ingresso nas universidades. Existem professores(as) universitários(as)
principalmente em nível de pós-graduação que começam a se interessar por essa área de pesquisa.
(Exs.: Profa. Dra. Lúcia Santaella e Prof. Dr. Jorge Albuquerque Vieira, da PUC/SP; Profa. Dra. Anna
Mathilde P.C. Nagelschmidt, da USP; Prof. Dr. Joel Sales Giglio da UNICAMP, entre outros/as).
Encontros, seminários e palestras têm acontecido e isto é de uma importância extrema. Em primeiro
lugar porque abre espaço para que a informação sobre o que realmente é a pesquisa psi ou
parapsicologia seja veiculada no meio acadêmico que ainda é bastante reticente quanto a isso,
especialmente por desconhecer de que se trata e assumir o conceito “popularesco esotericóide” de
parapsicologia que se difunde por aí. Em segundo lugar, é importante porque os(as) estudantes
universitários(as) já tomam contato com informações de qualidade e ajudam a divulgá-las. É a massa
crítica que está se formando.
Muitos(as) parapsicólogos(as) ficam estagnados(os), impedidos(as) de agir por causa da
idéia amplamente difundida: “Seria ótimo estar na universidade, mas há muito preconceito contra a
parapsicologia.” E assim, nada fazem para pelo menos tentar mudar a situação. Minha experiência
mostra que a insistência é essencial para se conseguir algo. Nosso grupo, o Inter Psi – Grupo de
Estudo de Semiótica, Interconectividade e Consciência hoje está filiado à PUC/SP. Pertence ao
Centro de Estudos Peirceanos do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da
PUC/SP. Antes de chegarmos lá, recebemos um não em outro programa de pós-graduação na
mesma universidade e outros tantos nãos em outras instituições. Hoje, além do estabelecimento na
PUC/SP, temos excelentes contatos com o Instituto de Psicologia da USP, onde há o Laboratório de
Estudos e Pesquisas sobre o Desenvolvimento dos Potenciais Humanos, do qual Wellington Zangari
e eu também participamos. Esse laboratório está realizando uma pesquisa por amostragem
relacionada à incidência de fenômenos parapsicológicos e aspectos psicológicos daqueles que
relatam experiências psi. Essa pesquisa é coordenada pela Profa. Dra. Anna Mathilde P.C.
Nagelschmidt. Temos também tido contato com pessoas da Universidade de Fortaleza, no Ceará,
onde há uma tentativa de organização de um seminário para 2003. Ou seja, a realidade nos mostra
que talvez haja mais interesse e abertura para o assunto do que comumente se imagina. Claro,
porém que existem dificuldades, mas a pior delas é, certamente, nosso próprio preconceito.
Um outro ponto fundamental quando se fala em termos de limites: além do preconceito
interno e externo já abordado, há também a questão da qualidade de nosso trabalho. Se queremos
ingressar na universidade, mostrarmo-nos como cientistas/professores(as) capazes que fazem um
trabalho que vale a pena, temos que nos prepapar para enfrentar as exigências que o mundo
acadêmico nos impõe. É preciso fazer um trabalho de excelência, primando pela metodologia e forma
de apresentação. A formação acadêmica é importante. Há que se ter uma graduação em um curso
reconhecido, como Biologia, Física, Psicologia, Filosofia ou outras áreas e seguir carreira acadêmica:
mestrado e doutorado. Isto vale tanto para psquisadores(as) quanto para professores(as).
O mestrado e o doutorado nos dão a oportunidade de trabalharmos com temas relacionados
ou próprios da parapsicologia. (Exs. Teses de doutoramento na USP sobre: precognição, defendida
por Adelaide Petters Lessa em 1972; mediunidade na umbanda, a ser defendida por Wellington
Zangari em 2003; e minha própria tese de doutoramento na PUC/SP, sobre poltergeists, a ser
defendida em 2003.) Tudo depende do modo como o projeto de pesquisa é apresentado. Como os
termos “parapsicologia”, “telepatia” etc. estão de tal forma impregnados de concepções popularescas
e “misticóides”, é interessante descrever o que se vai fazer em vez de nomear. Desta forma, evita-se
o risco do preconceito pela falta de conhecimento.
Criando-se uma realidade, ou seja, um bom número de pessoas de bom nível acadêmico
interessadas no desenvolvimento da parapsicologia, e um bom número de teses e dissertações sobre
temas psi, tudo se encaminhará para que a pesquisa psi seja incluída nos temas tratados nas
universidades. Quem sabe surja uma cadeira de pesquisa psi em cursos de psicologia?!
De qualquer forma, o importante é continuar abrindo caminhos vencendo as barreiras. As
perspectivas de atuação de parapsicólogos(as) que vislumbro são três:

 Ensino
 Pesquisa
 Aconselhamento

Apenas uma palavra sobre a questão do aconselhamento, uma vez que creio que ensino e
pesquisa sejam mais conhecidos. Aconselhamento aqui não se refere a um tipo de terapia. Refere-se
I Encontro Psi - Pesquisa Psi no Brasil: Abrindo Caminhos Vencendo Barreiras - Machado 49

a um esclarecimento sobre os fenômenos e experiências psi, uma espécie de suporte que é dado a
pessoas que vivenciam essas experiências e não sabem como lidar com elas.
O Brasil promete ser um campo fértil para que desenvolvamos importantes atividades
significativas para o progresso da pesquisa psi. Que tenhamos braços e mentes para fazer cumprir
essa promessa.
Mesa Redonda: Profissão Parapsicólogo(a):
Limites, Possibilidades e Perspectivas

PARAPSICÓLOGOS Y PARAPSICÓLOGAS EN IBERO-AMÉRICA: PROBLEMAS


EN NUESTRA PROFESIÓN
Carlos S. Alvarado

Parapsychology Foundation, New York

En mis artículos sobre la situación de la parapsicología en Ibero-América yo he discutido


varios problemas que existen entre nuestros parapsicólogos y parapsicólogas (Alvarado, 1996,
1997a, 1997b; Machado & Alvarado, 1997). Mi preocupación principal es la falta de investigación.
Este problema está íntimamente relacionado con la pregunta de que si las personas que trabajan en
este campo tienen la preparación intelectual y cientifica necesaria para hacer parapsicología. La
respuesta es simple, en algunos casos si, en muchos casos no. La parapsicología es un campo muy
difícil por la naturaleza de sus fenómenos. Pero la situación se complica cuando las personas que
trabajan en el campo no tienen el entrenamiento necesario. Por supuesto, el entrenamiento necesario
varía de acuerdo al trabajo que la persona lleva a cabo. Una persona que se especializa en
investigación bibliográfica no necesita la misma preparación o entrenamiento que una persona que
hace experimentos o investiga casos espontáneos. Finalmente, otros problemas son la poca claridad
de comunicación de nuestra labor y nuestros conocimientos de la literatura del campo en general y de
nuestra especialidad. A continuación discuto estos problemas en más detalle.

Falta de Investigación: La profesión de parapsicóloga o parapsicólogo en nuestros países se


concentra mayormente en esfuerzos didácticos, históricos y conceptuales. Una ilustración de esto son
los pocos estudios de laboratorio o de casos publicados. Los artículos de tendencia didáctico-
histórico-conceptual son mucho más frecuentes que los informes de investigaciones. No hay duda
que es importante conocer nuestro campo desde el punto de vista histórico, teórico y conceptual, y de
que estos esfuerzos son válidos y son parte de la labor de los profesionales en parapsicología. Pero
una parapsicología que se limita a revisiones de textos y a la especulación teórica no es un campo
científico. Lo que define a la ciencia es la investigación que observa al fenómeno empíricamente para
aprender algo de éste y para poner a prueba nuestras hipótesis.
Mucha de nuestra labor parapsicológica se limita a discusiones de teorias o de aspectos
conceptuales sin estudios empíricos. Algunas ideas son francamente extravagantes y estas se
discuten y se repiten en ocasiones como si estuvieran probadas. Yo insto a las personas que se
dedican a la parapsicología a que tengan un mejor balance entre teoria y hechos. En otras palabras,
la labor de nuestra profesión no es solo teorizar, hay que poner a prueba las ideas teóricas. Sin el
estudio empírico, nuestra parapsicología se estancará como disciplina científica y lo mismo le ocurrirá
a nuestra profesión.
Yo no digo que debemos abandonar nuestro trabajo didáctico, conceptual, teórico e histórico.
Mi argumento es que esto no es suficiente para hacer una parapsicología RIGUROSA y
PROGRESIVA, una parapsicología que responda a las necesidades de nuestra cultura y de nuestra
profesión. Lo que necesitamos es desarrollar una nueva tradición de investigaciones empíricas sobre
nuestros fenómenos sin caer en fanatismos nacionalistas (Machado & Alvarado, 1997). Me parece
que hay una tendencia hacia nuevos estudios empíricos, como puede verse en las ponencias de este
encuentro en relación a temas tales como estudios de médiums.

Conocimiento y Experiencia con Metodología y Técnicas de investigación: En mi experiencia


parte del problema es que muchos de nosotros no contamos con el entrenamiento adecuado para
hacer investigación. Los experimentos, las encuestas, los estudios de campo, los estudios
bibliográficos y tantos otros acercamientos (y combinaciones) tienen un sinnúmero de detalles que
hay que conocer para poder emplearlos. Mi impresión es que algunas de las personas especializadas
en parapsicología no pueden investigar por falta de entrenamiento adecuado y por falta de
experiencia práctica. Otras personas hacen investigaciones sin tener conocimientos sobre la
metodología necesaria para llevar a cabo estos estudios. Esto incluye aspectos tales como el uso de
estadísticas, o el control de tantos otros problemas de la investigacion cualitativa y bibliográfica. La
I Encontro Psi - Parapsicólogos y parapsicólogas en Ibero-América: problemas en nuestra profesión - Alvarado 51

parapsicología como profesión se beneficiaría si cada uno de nosotros se entrena lo mejor posible a
través de estudios universitarios o de otro tipo.

Comunicación de nuestra labor parapsicológica: Como parapsicólogas y parapsicólogos


iberoamericanos muchos de nosotros también tenemos problemas sobre como presentar nuestras
investigaciones a la comunidad parapsicologica y cientifica. Un problema serio (aparte del problema
de manejar el inglés cuando queremos salir hacia otros países) es el estilo de escribir un informe. Es
claro que muchas personas tienen dificultades en escribir un informe experimental o de estudios de
casos con los detalles necesarios para que éste sea entendido y evaluado por personas fuera de su
grupo inmediato. Yo he visto este problema en artículos enviados por latinoamericanos a la
convención de la Parapsychological Association, y en artículos publicados en nuestros países. Por
ejemplo, y en relación a estudios experimentales, algunos informes no presentan detalles necesarios
tales como los criterios de selección de participantes, la forma en la cual se escogieron los objetivos
de percepción extrasensorial, o la forma en que los objetivos fueron seleccionados aleatoriamente.
ALgo que tenemos que evitar es el artículo que presenta efectos dramáticos pero que nos
dice poco sobre la metodología y los controles utilizados. Debemos recordar que la validez y
confiabililidad de los hallazgos de un estudio dependen directamente de la metodología utilizada.

Conocimiento de la literatura: Finalmente algo que tambien me preocupa es que nuestra


profesión tiene un gran problema de conocimiento de literatura parapsicológica. En nuestros países
es común encontrar a personas que nunca han leido los escritos originales de Frederic W.H. Myers,
J.B. y Louisa Rhine, Ian Stevenson y tantos otros. El conocimiento de estos autores se limita a
fuentes secundarias, tales como libros de texto. Lamentablemente es muy dificil tener una buena
educación en parapsicología solo de fuentes secundarias.
También hay poco conocimiento sobre desarrollos recientes. Mientras muchos conocen la
literatura antigua de autores tales como Richet y Sudre, desconocen en gran parte los escritos de
contemporáneos como Kathy Dalton, Harvey Irwin, Ed May, Robert Morris, John Palmer, Dean Radin
y tantos otros. Es lamentable ver como muchos libros escritos en America Latina se limitan a una
parapsicología del ayer, citando solo a los autores de la llamada metapsíquica. El desarrollo de una
buena profesión en parapsicología requiere una perspectiva más amplia, un conocimiento del campo
que esté actualizado. Le pregunto a las personas profesionales en parapsicología que me escuchan,
quién entre ustedes lee regularmente revistas tales como el International Journal of Parapsychology,
el Journal of Parapsychology, o el Journal of the Society for Psychical Research? Posiblemente pocas
de ustedes conocen estas revistas o las convenciones anuales de la Parapsychological Association
en las cuales se presenta lo último de las investigaciones parapsicológicas, especialmente de
Estados Unidos y Europa. Sin duda la razón es que este material está en inglés y es difícil o costoso
obtenerlo. Esto es un problema práctico que limita a nuestra profesión en Ibero-América. La solución
no es fácil y se encuentra en educarnos y en encontrar los recursos para obtener esa información.
Ciertamente no tenemos que definir nuestros esfuerzos solo en base a los estudios extranjeros, pero
es necesario saber que esta occurriendo en las áreas geográficas más productivas de la investigación
mundial. Es cuestión de estar enterados e informados como profesionales de lo que pasa en nuestro
campo.
Mi propósito no ha sido menospreciar a nuestra profesión en Ibero-America. Yo creo en las
habilidades de nuestros parapsicólogos y parapsicólogas y creo que se ha hecho buen trabajo, algo
que se refleja en este encuentro. Pero si queremos desarrollar a nuestra profesión es necesario
reconocer las áreas en las cuales necesitamos crecer y mejorar.

REFERÊNCIAS

Alvarado, C.S. (1996). Hacia una parapsicología científica en América Latina. Revista Argentina de
Psicología Paranormal, 7, 223-233.
Alvarado, C.S. (1997a). La Asociación Iberoamericana de Parapsicología: Reflexiones para mejorar la
comunicación en la comunidad parapsicológica Hispano-Portuguesa Revista Argentina de Psicología
Paranormal, 8, 111-116.
Alvarado, C.S. (1997b) La educación de profesionales en parapsicología: Problemas y posibilidades.
Boletín Informativo AIPA, 1(1), 1-5.
Machado, F.R., & Alvarado, C.S. (1997). Sobre o provincianismo em Parapsicologia En V. Da Rosa
Borges (Ed.), Anais do Primeiro Congresso Internacional e Brasileiro de Parapsicologia (pp. 77-88).
Recife: Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas.
Mesa Redonda: Profissão Parapsicólogo(a):
Limites, Possibilidades e Perspectivas

PARAPSICOLOGIA:
UM PAINEL SOBRE A QUESTÃO DA REGULAMENTAÇÃO PROFISSIONAL
Reginaldo de Castro Hiraoka

Diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Psicobiofísicas (INPP), professor do Curso Livre de


Parapsicologia das Faculdades Integradas “Espírita”

A regulamentação do profissional em Parapsicologia é de suma importância no âmbito


funcional e social no Brasil. Os aspectos principais desse enfoque seriam: ao grande número de
profissionais em exercício sem qualquer respaldo legal ou institucional, outro seria que nosso objeto
de estudo e aplicabilidade poderia ser incorporado por outros profissionais, não habilitados, e esses
podem causar enganos a população, bem como à própria imagem da Parapsicologia e de seus
profissionais. Esses dois aspectos convergem na urgência da legalização profissional.
Na parapsicologia existem principalmente três tipos de abordagens profissionais. Valter
Borges da Rosa propôs essas três áreas que o profissional poderia trabalhar, que seriam a pesquisa,
o magistério e a orientação em Parapsicologia. Essa proposta foi feita no primeiro Congresso
Internacional e Brasileiro de Parapsicologia e Psicotrônica, realizado no estado de Pernambuco (I
Congresso Internacional e Brasileiro de Parapsicologia, 1998),
No Brasil, em termos educacionais há vários institutos e centros oferecendo cursos
introdutórios e até de habilitação nestas áreas. O principal é o da Faculdade de Ciências Biológicas e
da Saúde “Bezerra de Menezes”, que oferece a comunidade, um curso livre de Parapsicologia com
matérias interdisciplinares, graduadas no período de 4 anos.
Principalmente esses últimos profissionais que fizeram o curso, nota-se que, após saírem da
faculdade, geralmente não tem um órgão de apoio e regulamentação, o que causa insegurança e
com isso a desorientação no campo profissional.
Por não ser legalmente reconhecida, a Parapsicologia não existe como profissão no setor
público. Assim, a carreira profissional dos graduados na área acaba limitando-se, muitas vezes, à não
ocupação da profissão. Os prejuízos advindos desta situação são inúmeros, sendo o mais grave,
certamente a mesclagem de áreas que não tem nada a ver com o profissional da parapsicologia e
sim, talvez, com os sensitivos.

Além disto, alguns órgãos públicos - apegando-se à inexistência da profissão - sequer


permitem que os egressos dos cursos de Parapsicologia, tirem seu alvará de autonomia.

A não regulamentação do profissional abre espaço a freqüentes lutas pela apropriação da


Parapsicologia.

Aproveitando o vazio legal aberto pela não regulamentação, grupos diversos (místicos,
sensitivos, cartomantes, charlatões, etc.) empenham-se em procurar aumentar a sua influência e
controle sobre a Parapsicologia, ou mesmo em torná-la território cativo, objetivando aumentar o poder
e o prestígio de que desfrutam no meio em que atuam. Assiste-se, assim, a um conjunto de ações
que passam ao largo dos interesses maiores da sociedade e dos graduados na área, gerando um
quadro de intranqüilidade entre os profissionais e deixando de contribuir para o desenvolvimento do
setor
A não regulamentação profissional gera na sociedade, uma carência de referência em relação
ao exercício profissional da Parapsicologia e não contribui para o aperfeiçoamento da atividade
profissional.

A inexistência do Conselho Profissional de Parapsicologia no estado do Paraná (e outros


ainda não regulamentados) significa a inexistência de um espaço voltado à orientação e monitoração
da atividade profissional, bem como de um instrumento - em mãos da sociedade - de questionamento
e cobrança em relação às corretas práticas profissionais.

O que pretendo com esse artigo é levar ao conhecimento alguns aspectos que possam
I Encontro Psi - Parapsicologia: um painel sobre a questão da regulamentação profissional - Hiraoka
53

interessar à esses profissionais, para que se motivem e mobilizem esforços para direcionar uma
atitude com respeito à legalização profissional da Parapsicologia.

Eis alguns outros pontos da pesquisa feita:

1. 1958 – Projeto de Lei n.º 4.598 - cria a Cadeira de Parapsicologia nas Faculdades de
Medicina no país – Foi o primeiro projeto de lei, acerca do assunto, apresentado no mundo. Foi
encaminhado pelo Deputado Federal Prof. Romeu de Campos Vergal; (VERAGAL, [1959?])

2. 1982 – Projeto de Lei n.º 6162 também tenta criar a Cadeira de Parapsicologia – Foi
a segunda tentativa de se regulamentar a Parapsicologia. Encaminhado pelo Sr. Freitas Nobre,
também seria uma disciplina da Medicina no que diz respeito a Psiquiatria; (República Federativa
do Brasil, 1982)

3. 1982 – Federação Brasileira de Parapsicologia – FEBRAP – Sede no Rio de Janeiro


– De abrangência nacional, os objetivos da FEBRAP seriam: Congregar instituições de formação
em Parapsicologia; coordenar atividades da Parapsicologia em âmbito nacional; Definir atribuições
do profissional de Parapsicologia; criar periódicos de divulgação; lutar pela regulamentação da
profissão; manter intercâmbio e convênios com instituições nacionais e internacionais; convocar e
realizar congressos nacionais e internacionais. Ficou com atividades paralisadas na década de
noventa, atualmente tenta retomar suas atividades, através da Comissão Organizadora da
FEBRAP, que mantém, regularmente, reuniões nas segundas-feiras às 18:00 no INPP;
(Federação Brasileira de Parapsicologia, 1982)

4. 1996 – Inclusão da atividade de Parapsicólogo no estado de Pernambuco como


contribuinte do INSS – Foi o primeiro estado a aceitar essa atividade, requerida pelos profissionais
do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas; (I Congresso Internacional e Brasileiro
de Parapsicologia, 1998)

5. 1996 – Ministério do Trabalho inclui atividade de Parapsicólogo – Através do Ofício


391/CBO/SPES/MT6, de 03/04/1996 o Ministério do trabalho informa ao Conselho Regional de
Pernambuco – 7.ª Região, que a ocupação de Parapsicólogo seria incluída na próxima edição do
CBO – Códico Brasileiro de Ocupações; (I Congresso Internacional e Brasileiro de Parapsicologia,
1998)

6. 1997 – Criado em Minas Gerais o Sindicato Nacional dos Parapsicólogos –


SINDIPAR – O Sindipar foi criado em função da regulamentação dos profissionais em
Parapsicologia daquele estado, que estavam vinculados à Cooperativa Mista de Prestação de
Serviços Multidisciplinares. Essa cooperativa oferecia cursos de Parapsicologia; (HARGRÉAVES,
1997)

7. 2001 – Registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social de um Parapsicólogo -


As Faculdades Integradas “Espírita”, contrata o Parapsicólogo Reginaldo de Castro Hiraoka em
regime de CLT, um fato inédito, já que outros profissionais, que também trabalham nessa
instituição, estarem registrados na categoria de professor; (HIRAOKA, 1991)

8. 2001 – Inclusão da atividade de Orientação em Parapsicologia na Medida Provisória,


encaminhada pela Prefeitura Municipal de Curitiba – Pôr iniciativa da Parapsicóloga Gladis Liane
Xavier, quando foi requerer seu alvará de autônoma, e por não haver essa atividade profissional, o
coordenador do setor se comprometeu em enviar, juntamente com outras atividades não
regulamentadas, a atividade de Orientação Psi, para uma medida provisória. Esse é sem dúvida
um grande passo em rumo a oficialização profissional, pois a regulamentação parte de um órgão
público.

9. Nos estados de Santa Catarina e Pernambuco existem conselhos de auto


regulamentação profissional, a atividade também é organizada pôr sindicato, tendo em vista a
importância do recolhimento sindical da profissão, para mais tarde ser validada legalmente.

Como reagir a este quadro adverso?


Com mobilização e organização. É necessário que os profissionais e estudantes da área
parem de olhar para o lado para ver se alguém está fazendo algo por eles. A análise das posturas
oscilantes e pouco interessada de muitas entidades envolvidas na questão, já é o bastante para abrir
I Encontro Psi - Parapsicologia: um painel sobre a questão da regulamentação profissional - Hiraoka
54

os olhos dos profissionais e estudantes para o fato de que ou formemos uma vanguarda ou ninguém
o fará.

CONCLUSÃO

O Campo profissional na Parapsicologia está pouco explorado ou até mesmo mal explorado,
em um lado pela não legitimação profissional, e pôr outro, profissionais que atuam sem a devida
habilitação para esta atividade. Partindo-se desse princípio, os profissionais, alunos, interessados
numa ciência de suma importância à consciência humana, que é a Parapsicologia, devem se
movimentar, com a intenção de unir forças para que a regularização dessa profissão se faça. Esses
itens abordados anteriormente têm a intenção de orientar o que já foi feito, quais resultado tiveram e,
a partir desses pontos, poderemos partir em direção de alguns ou tomar oposição à aqueles que não
foram eficazes, no entanto são referências.

REFERÊNCIAS

Federação Brasileira de Parapsicologia. Estatutos: Da Federação e seus fins. In: Silva Omir Ribeiro
da. Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Rio de Janeiro : FEBRAP, 1982. p. 1-2.
HARGRÉAVES, Lucy de Figueiredo. Registro de Títulos, Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas.
In: Unispectare – Cooperativa Multidisciplinar de Prestação de Serviços Ltda. Juiz de Fora, Fax
emitido em 04 jun. /1997.
I Congresso Internacional e Brasileiro de Parapsicologia. Diversos. Disponivel em:
<http//bbs.elogica.com.br/users/vrb/parapsicologia/div.htm> Acessado em: 08 jul./ 1998.
República Federativa do Brasil. Diário do Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Projetos
Apresentados. Seção I. Brasília, v. 36, n. 054, Sábado 08 maio/1982. p. 2970.
VERAGAL, Campos. Projeto n.º 4598 – 1958: Cria a cadeira de Parapsicologia nas faculdades de
medicina do país. In: República Federativa do Brasil. Câmara dos Deputados. [S.l. : s.n.], [1959?].
HIRAOKA, Reginaldo de Castro. Carteira de Trabalho e Previdência Social n. 88237 série 00160,
Emitido em: 1991.
A ÉTICA EM PARAPSICOLOGIA

Vera Lúcia Barrionuevo* e Tarcísio Roberto Pallú**

* Membro integrante do Centro de Pesquisa de Sonhos


** Professor no Curso Livre de Parapsicologia, Chefe do Centro Integrado de Orientação em
Parapsicologia - CIOP

RESUMO

O presente artigo aborda um dos mais profundos e abrangentes motivos de


preocupação do ser humano: as fronteiras do respeito do indivíduo para com seu
próximo em sua tentativa de coexistência e crescimento pessoal. A Parapsicologia,
por seu específico interesse no potencial da mente humana, não prescinde de um
enfoque particular no conjunto de normas regedoras da atuação de seus
profissionais: seu código de ética.

A Axiologia1 é a parte da Filosofia mais estudada neste princípio de século, fato talvez
provocado pelo progressivo ceticismo e arrogância que vem caracterizando o dia-a-dia de grande
parte dos seres humanos. A reflexão ética apóia-se, essencialmente, numa ânsia por descobrir a
lei das leis da conduta do homem e se encontra na raiz da sociedade, da vida e das instituições
humanas, como expressão da convivência e discussão do relacionamento entre os seres.
Bibliotecas e livrarias têm repletas suas estantes com obras sobre o tema que ressurge,
periodicamente, como uma necessidade lógica das civilizações, sempre que se vêem ameaçadas por
elites inescrupulosas que podem ser encontradas com muito mais freqüência do que se imagina.
Existe um ponto de ligação entre o criminoso comum, o cidadão que lamenta o aumento da violência
nos grandes centros urbanos enquanto acha natural e aceitável burlar as leis do trânsito; o político
que profere discursos violentos contra a política governamental, enquanto aceita percentuais sobre os
contratos que conseguiu para sua região eleitoral; e o parapsicólogo que explora a boa fé daqueles
que o procuram em busca de esclarecimentos sobre suas vivências de paranormalidade: todos eles
desrespeitam os limites que separam o direito alheio dos seus.
A História localiza os primeiros registros a respeito das discussões éticas no século V a.C.
Começa com Sócrates (469-399 a.C.), que, em oposição aos Sofistas propagadores de uma ética
unicamente ligada ao sucesso profissional e político, desperta a razão e o espírito crítico de seus
contemporâneos, com uma permanente indução de valores objetivos, adaptando o pensamento à
vida pública e particular do cidadão dentro da democracia (McIntire, 1967).
O principal argumento socrático é a afirmação de que o que é bom para um, deve sê-lo,
igualmente, para outros colocados sob circunstâncias idênticas: é o principio de generalização do
problema ético (Kremer-Marietti, 1989).
Seu interesse pelos valores éticos é compartilhado por Platão (427-347 a.C.), que coloca em
pauta a idéia do "bem", e para quem os conceitos éticos consistem em "coisas eternas do mundo das
idéias"; por Aristóteles (384-322 a.C.) , que coloca o "bem" dentro de uma realidade concreta, e em
cuja opinião a racionalidade oferece a fundamentação para a ética; e, nos séculos mais recentes, por
Emmanuel Kant (1724-1804) que, em oposição a Aristóteles, transporta a idéia de "valor" ao campo
da consciência e Francis Bacon (1561-1626), que privilegiam a intenção acima de tudo (Kremer-
Marietti, 1989).
O Ceticismo de Kant é uma constatação do fracasso das faculdades humanas; ou, ao menos,
a descoberta de seus limites. Ele teve a coragem de declarar que, talvez, nunca tenha existido uma
ação moral pura, pela impossibilidade de estabelecer um único caso em que uma ação se
fundamente exclusivamente em princípios morais ou na noção do dever, o que inviabiliza a avaliação
da intenção própria e alheia.
Atualmente, a questão ética chega a suscitar um inesperado grau de perplexidade, provocada
não apenas pelo ceticismo e materialismo crescentes das populações contemporâneas, como
também pela tecnologia moderna que possibilitou o extraordinário avanço da Medicina,

1
Estudo filosófico dos valores do ser humano.
I Encontro Psi - A ética em Parapsicologia - Barrionuevo, Pallú 56

especialmente no que se refere ao início do processo vital e ao término da vida. Este pensamento
traz à lembrança a mensagem de Aldous Huxley em "O Admirável Mundo Novo", onde o autor se
refere a "...noventa e seis gêmeos idênticos e operando noventa e seis máquinas iguaizinhas!"
O respeito e observância às normas da ética profissional, que é e deve mesmo ser mais
ampla e mais exigente do que a própria lei, deixam cada vez mais a desejar. A ética profissional
costuma fundamentar-se nos conceitos de bem e mal, relacionando-os com a realização dos valores
da pessoa humana. Um dos seus pontos frágeis tem sua origem na própria Universidade, desde que
muito poucos cursos universitários a incluem em seus currículos. Além disso, a ética vem perdendo
terreno para a economia (Marcílio; Ramos, 1997). O ser humano passou, gradativamente, a valorizar
o "ter" em prejuízo do "ser" e a objetividade em detrimento da subjetividade, esquecendo,
convenientemente, que "a solidariedade representa a ética suprema da sobrevivência" (Weil, 1994).
Os interesses privados sobrepõem-se ao interesse comum. Na ideologia contemporânea do bem-
estar, o que conta é o sucesso, o ganho, o poder, e não a virtude. Fica cada vez maior o abismo que
separa estes valores já tão isolados intrinsecamente (Costa, 1995).
Pela necessidade de ver superada a postura estritamente acadêmica das pesquisas
científicas inteiramente desvinculadas das realidades sociais e, embasada no mais amplo sentido da
moral filosófica, com o significado global de virtude, fruto do saber, de reconhecimento do "bem" pelo
que é e, tendo em vista que, por definição prática, ética é o "conjunto de normas explícitas, aceitas
livre e conscientemente, que norteiam a conduta individual, profissional e social dos seres em sua
atuação no cotidiano" (Vasquez, 1994), o Conselho Diretor da Parapsychologycal Association
distribuiu, em 1980, entre seu Corpo de Associados, um Código de Conduta Ética e Profissional que
aborda desde o respeito ao direito de defesa dos acusados de fraude, explicitando que acusações
irresponsáveis são, por si próprias, antiéticas; passa pelo direito dos sujeitos de pesquisa; revela sua
preocupação com a proteção dos animaizinhos em laboratório de pesquisa já que estes são
completamente indefesos; o que torna o experimentador responsável a única pessoa com o poder de
exercer a precaução devida contra este tipo de abuso; lembra que insinuações difamadoras podem
causar danos muito graves, pela maior dificuldade de se defender do que é insinuado do que de uma
acusação formal, já que esta precisa ser acompanhada de documentação comprobatória, enquanto
que aquelas dependem apenas da palavra do acusador; deixa patente a obrigação moral que tem o
acusador de respeitar a regra de cortesia profissional científica que garante o direito de resposta; e a
responsabilidade dos experimentadores e seus colaboradores na disseminação da informação,
cabendo-lhes certificar-se de que seus contatos com a mídia conduzam à verdade, e não a
interpretações sensacionalistas, que possam desmerecer seu campo de trabalho ou a seus pares;
passa por detalhes referentes a publicações científicas e a exemplos de conduta antiética; explicita as
conseqüências que podem advir das medidas cabíveis aos casos de infração por parte dos membros
associados.
Embora se trate de um estudo bastante detalhado e procure estabelecer deveres e direitos,
antecipando problemas e soluções, sabe-se que novas situações sempre se apresentam, com
diferentes facetas, frente a circunstâncias diversas.
Sabe-se, também, que essas diretrizes são apenas um consenso, uma orientação sobre os
padrões de conduta em assuntos não legislados, mas deixados à consciência individual, com
resultados incertos. Cabe, portanto, analisá-las à medida que se forem apresentando e adotar as
medidas consideradas sensatas e saneadoras para cada situação particular.
Existe, entre os parapsicólogos, um sentimento exacerbado de respeito aos padrões éticos
que parece relacionar-se, especialmente, ao direito de exercício de sua profissão.
Também externamente, um comportamento tortuoso pode ser detectado: as demais áreas
encaram a Parapsicologia com uma espécie de tolerância impaciente que limita sua atuação e fere
sua credibilidade. Por este motivo, os prejuízos ocasionados por eventuais deslizes no que as demais
áreas consideram como "prática ideal" em nossa profissão, podem ser muito superiores ao normal,
por se tratar de um campo tão controverso e tão patrulhado (malgrado nossa indignada aquiescência)
como a Parapsicologia. Assim, enquanto a importância da verdade é fundamental em qualquer
campo cientifico, na Parapsicologia, os efeitos de quaisquer falhas, deslizes ou enganos, podem se
mostrar desastrosos.
Isso se deve, em parte, a tratar-se de uma disciplina ainda não suficientemente reconhecida.
Em parte, se deve ainda, à abordagem de temas relacionados com a porção da mente ainda não
suficientemente compreendida pela ciência tradicional. O desconhecido pode tornar-se atraente para
alguns, e ameaçador para uma grande maioria, que não se atreve a explorá-lo.
Nosso panorama ético inclui a união de forças neste trabalho árduo e fascinante, que é a
descoberta e o entendimento da mente humana; o orgulho que temos de nossa dedicação e
seriedade, de nossas regras de segurança e metodologia de pesquisa; dos anos que dedicamos aos
estudos e estágios da disciplina que, esperamos, seja aceita como igual pelas demais ciências; e,
I Encontro Psi - A ética em Parapsicologia - Barrionuevo, Pallú 57

exclui, decididamente, qualquer prática que faça crescer nossos extratos bancários ou iludir a
confiança dos que nos procuram em busca de esclarecimento, lesando-nos o auto-respeito enquanto
referenda as críticas daqueles que nos incluem, a todos, num único e desprezado bloco de adeptos
do charlatanismo profissional.
Encarar este assunto que, reconhecemos ser o ponto nevrálgico de nossas vidas
profissionais, faz com que discorrer sobre o comportamento ético dentro da Parapsicologia, torne-se
uma tarefa menos fácil, se bem que muito mais instigadora.
Parece ser desnecessário estender-se a termos filosóficos ou aludir a campos limítrofes que a
ética abranja. É importante excluir a idéia de "moralismo" que, estático e rígido, apresenta sua faceta
maniqueísta baseada em dogmas; e, por isso, não evolui, não se adapta às situações peculiares
(Marcílio; Ramos, 1997). Mais importante, então, é analisar cada uma das situações especificas
que se oferecem na prática do dia-a-dia e encará-las, todas, com a ótica realista sob a qual se
apresentam.
Ponderação sobre a própria postura e conduta parece ser o primeiro passo para um
comportamento ético e bem resolvido.
O comportamento ético mantém, como característica constante, o senso de responsabilidade;
e se apresenta sob a forma de respeito à pontualidade e à disciplina, no decorrer de todas as etapas
do trabalho, além de estabelecer os limites próprios e alheios. Procura tornar-se isento de
preconceitos e preconcepcões, manter a discrição, a mente aberta e neutra, utilizar um critério
rigoroso, discernimento e respeito não apenas ao sigilo como também ao trabalho profissional,
através da obediência aos prazos e compromissos previamente marcados.
O parapsicólogo tem seu caminho orientado em três diferentes direções, cada uma delas
apontando preocupações e responsabilidades diversas: o Magistério, a Pesquisa Cientifica e a
Orientação ou Aconselhamento (Barrionuevo, 1995).
O PROFESSOR tem como primeira responsabilidade a formação da consciência, o que
repousa na capacidade de levar o educando a acessar com liberdade ao que é bom, verdadeiro e
justo, levando em conta aspirações e percepções individuais. Para tanto, deve estabelecer um
processo de empatia com o aluno, utilizando com lucidez e abertura, sua capacidade de comunicação
e de argumentação lógica e atualizada, através dos instrumentos adequados, nesse processo
contínuo que é a formação do pensamento do futuro profissional. Educar é, na verdade exercer o
poder da comunicação.
Sua grande dificuldade é fugir ao impasse de se situar numa perspectiva que lhe permita
desenvolver um raciocínio ético bem fundamentado numa moral autenticamente humana sem se
impor à consciência, violar a liberdade ou frustrar as aspirações do educando.
Difícil, também, é ir de encontro a suas inquietações sem perder de vista os princípios e os
valores éticos questionados, e por cuja transmissão é responsável, como educador.
Na transmissão dos conhecimentos deve atentar para a questão ética essencial: que verdade
transmitir e a quem transmiti-la? No serviço de valorizar a verdade, o mais sensato é aferrar-se não a
suas idéias e opiniões, mas ter em mente a relatividade das dualidades fronteiriças do certo e do
errado, do bem e do mal e limitar-se à analise do que a ciência o autoriza a afirmar em seu nome e
que o impede de fazer declarações relacionadas a suas próprias convicções e crenças.
E, neste caso, se enquadram perfeitamente os assuntos referentes à pesquisa da Psi com
relação à ciência. Declarações que sugiram a comprovação da fenomenologia parapsicológica são
totalmente inadequadas desde que, na verdade existe, apenas sua demonstração científica.
A questão da ética no ensino pode, ainda, tornar-se complicada quando a consciência diverge
da lei. Ninguém deve agir contra a sua consciência; não podendo furtar-se, no entanto, a arcar com
as conseqüências de tal responsabilidade.
Mas, se o educador oferecer a seus alunos o exemplo de seu próprio comportamento efetivo
de atitudes éticas, já estará contribuindo para seu despertar ético, como uma conseqüência natural
(Weil, 1994).
O PESQUISADOR tem como sua primeira preocupação, a apuração da verdade sobre o
fenômeno. Para tanto, deve adotar um ponto de vista objetivo e universal, e manter com
imparcialidade e impessoalidade um sistema de organização responsável e sistematizada, pois "até
os sujeitos com real capacidade Psi sabem que a produção de eventos Psi não se dá à vontade; e
mesmo eles podem ser tentados, especialmente se uma oportunidade convidativa se
apresentar"(Parapsychologycal Association, 1980).
Se um investigador achar evidência de simulação da psi por parte do sujeito, deve lembrar,
primeiramente que, a menos que haja uma razão específica e convincente para tal, a simulação deve
ser evitada e desencorajada. Além disso, deve considerar cuidadosamente se vai ou não denunciar
sua descoberta. Se se tratar de criança ou adolescente, o cuidado deve ser maior, pelos possíveis
danos a seu psiquismo em formação. Se, por outro lado, tratar-se de um sujeito famoso por sua
I Encontro Psi - A ética em Parapsicologia - Barrionuevo, Pallú 58

habilidade Psi, o investigador tem a obrigação de tornar público o que sabe, junto com todas as
outras informações obtidas durante a investigação.
Deve ficar muito claro que crianças jamais devem ser forçadas a participar de qualquer tipo
de experimento. E, mesmo em caso de concordância, os pais ou guardiães responsáveis devem dar
a devida autorização para seu envolvimento na pesquisa.
Nos casos de experimentos que incluam a participação de doentes mentais, incapazes de
entender o significado legal de sua autorização, antes que sejam envolvidos no estudo em questão, é
aconselhável que se tenha em arquivo, a aprovação de um terapeuta qualificado. Deve-se ainda,
contatar pessoas que tenham autoridade para formalizar o documento pertinente de autorização,
como seu médico responsável, o tutor ou os pais.
O pressuposto é o de que ninguém deve fazer sofrer inutilmente um semelhante e, seguindo
este mesmo pressuposto, não prejudicar (non noscere) (Weil, 1994), de acordo com a máxima
hipocrática. Isto se aplica a todas as áreas, mas diz respeito - pelas óbvias implicações,
especialmente à da pesquisa.
Qualquer possibilidade de envolvimento de risco obriga os investigadores a se certificarem de
que tal informação seja prestada ao participante antes que esse seja convidado a formalizar seu
consentimento, lembrando que, se necessária a utilização de nomes verdadeiros ou de dados
potencialmente identificadores, a obtenção de uma autorização específica é exigida.
Nos casos de denúncia de falsidade científica atribuída a colegas, o que caracteriza uma
situação de fragilidade profissional, devem ser tomados alguns cuidados éticos: procurar examinar a
documentação concernente e indagar sobre os fatos que a compõem, para evitar que o caso seja
registrado ou, mesmo, relatado com distorções. Repetir uma denúncia de outros pode ser, de fato,
uma forma de fazer idêntica acusação. Ou usar termos como "Não observado fraudar", pode disfarçar
uma situação ambígua e, de certa forma, comprometedora.
Quando tais acusações são suspeitas de conseqüentes a diferenças de pontos de vista, é
antiético - além de mesquinho, referir-se ao fato como sendo, efetivamente, uma desonestidade
científica "...Também é antiético tentar denegrir a reputação de um investigador por ataques pessoais
que não se baseiem diretamente na competência profissional ou na integridade do investigador no
exercício de seu papel." (Parapsychologycal Association, 1980).
Por outro lado, a única estratégia que os investigadores devem adotar para reagir a uma
crítica a seu próprio trabalho é o levantamento de fatos relevantes e a utilização de argumentos
lógicos e racionais que se lhe oponham.
Nos casos de trabalhos relatados ou publicados, é apropriado que a critica feita - por ser
destinada à publicação ou apresentação pública, seja prévia e detalhadamente enviada a seus
autores, para que possam ter a oportunidade de pronta defesa. Esta regra de cortesia profissional
científica, se aplica, apenas, às criticas formais.
Um ponto que deve ser salientado é que "o possível impacto da desonestidade científica
pode ir além do indivíduo apanhado em desonestidade, do projeto específico ou do problema
supostamente estudado" (Parapsychologycal Association, 1980) já que, como foi exposto acima, as
demais áreas encaram a Parapsicologia com uma espécie de tolerância impaciente que limita sua
atuação e fere sua credibilidade.
Quanto à investigação propriamente dita, o papel de pesquisador-chefe deve ser muito mais
do que meramente formal. A pessoa que exercer este papel na pesquisa deve ser designada para
isso e encarada como sendo, efetivamente, o chefe da pesquisa, com todas as responsabilidades e
prerrogativas inerentes ao cargo.
É fundamental que aquele que trabalhar sob a responsabilidade de um investigador-chefe
entenda ser bastante antiético utilizar previamente - para uso próprio, publicação ou apresentação
independente - os dados da pesquisa em andamento, sem sua explícita aprovação. Nenhum
argumento pode justificar uma exceção à regra.
Por outro lado, depois da publicação ou apresentação pública da pesquisa, qualquer pessoa
tem o direito de comentar, também publicamente, os resultados da pesquisa.
O ORIENTADOR deve ter presente que sua responsabilidade primordial relaciona-se com o
bem estar e equilíbrio dos clientes que o procuram para aconselhamento. São pessoas que vivenciam
situações características de fenomenologia Psi e demonstram interesse em obter informações sobre
o que lhes ocorre e, dificilmente conseguem entender ou aceitar (Barrionuevo, 2000).
Seu trabalho tem uma abordagem humanista / transpessoal e é executado pelos profissionais
da Parapsicologia habilitados em Orientação Psi, como é chamada, atualmente, a fenomenologia
paranormal (Pallú, 1997).
O relacionamento entre o orientador e seu cliente deve ser pautado pela abertura, lógica e
comunicabilidade, e precisa estabelecer um processo de empatia que é o primeiro passo para o
sucesso das relações humanas, a aproximação entre duas pessoas, onde uma consegue captar e
I Encontro Psi - A ética em Parapsicologia - Barrionuevo, Pallú 59

dar ressonância aos sentimentos da outra, sintonizando seus pensamentos que fluem com mais
facilidade e coerência, e externando um comportamento a um só tempo, receptivo e confiável. É
através dessa sintonia bem ajustada que se aprofunda o conhecimento mútuo e se garante a
continuidade da interação (Barrionuevo, 1995).
O sucesso de qualquer abordagem terapêutica é dependente do processo de empatia
estabelecido, desde o primeiro instante, na relação do cliente com o profissional cuja missão é
diminuir a ansiedade advinda do não entendimento da fenomenologia vivenciada enquanto lhe
aumenta o sentido de ligação com o próprio curso dos acontecimentos, o nível de auto-estima; e de
autocontrole.
A preocupação do Orientador é a de manter, sempre, a objetividade dentro da inevitável
subjetividade; é privilegiar a sensibilidade de encarar o fenômeno como real, tendo em vista que,
como tal, se apresenta àquele que o vivencia, desde que reais são suas conseqüências, que se
apresentam em forma de sintomas (Barrionuevo, 2000) .
Tudo isto aponta na direção de uma atuação equânime dentro do respeito aos limites próprios
e alheios. Mas, às vezes, a linha que passa entre duas fronteiras pode ser quase imperceptível. No
entanto, ela existe, esta lá; e, quando rompida, pode trocar sua discreta fragilidade por uma evidência
acusadora: o que fere o direito alheio, já não era seu por direito.
Partindo deste principio, é preciso ainda, que se leve em conta o que se tem que superar para
atuar com equanimidade. Analisar, criticar e reagir a pessoas e situações sem subjetividade é tarefa
que exige constante busca de auto-conhecimento e de autocontrole; o que pode ser tão difícil quanto
o significado das palavras evidencia.
O profissional ajuda seu cliente a "administrar" suas experiências espontâneas do dia-a-dia:
aquelas que não entende e que lhe causam medo e culpa, sem que consiga diferenciá-las de
processos psíquicos ou patológicos, já que vivências desse tipo podem originar reações disruptivas
ou estressantes.
Ao pedir ajuda do Orientador Psi, o cliente quer mesmo é entender o que está acontecendo e
lhe causa medo e culpa. Busca, também, aumentar sua auto-estima, anular o stress e a tensão
causados pela ansiedade de, ao mesmo tempo, temer e querer ser diferente dos demais. Muitas
vezes, quer desenvolver as habilidades PSI e obter controle sobre sua fenomenologia, o que vem
aumentar bastante a responsabilidade do Orientador. Esse deve colocar - acima da curiosidade
natural do pesquisador, o bem estar de quem o procura, e traz queixas que podem dizer respeito à
simples necessidade de proteção ou disfarçar uma grande carência afetiva.
Outras queixas podem referir-se a hiperestesias, relatos de experiências aparentemente
mediúnicas ou de possíveis atividades Poltergeist; sensações inexploradas ou inexplicadas; visões de
fantasmas ou acesso a percepções antecipadas de eventos que querem reforçar ou anular; sensação
de estar fora do próprio corpo; percepção de energias ou coisas estranhas ao redor; impressão de ter
controle mental à distância ou de ser uma vítima desse mesmo fenômeno; impressão de estar
possuído ou ser vítima de feitiçaria; lembranças de eventuais vidas passadas; impressão de mover
objetos ou de curar pessoas, visão de auras; vontade de transformar precognições negativas em
positivas; descrição de experiências de empatia e de "déja-vu"; entre outros (Pallú, 1997).
Dentro desse prisma limitador, o bom senso pode ser um instrumento valioso para
nortear atuações e palavras. Nele está contido o segredo dos relacionamentos bem sucedidos.
Assim, deve tornar-se a primeira e mais importante regra de conduta do Profissional em
Parapsicologia :

basear o pensamento do futuro profissional


na preocupação com a busca da verdade, e
no respeito ao bem estar do portador da
fenomenologia PSI (Barrionuevo, 2000).

Nos casos em que haja conflitos quanto à observância estrita dos padrões éticos - e
exemplos incontáveis podem ser encontrados no cotidiano - deverá, obrigatoriamente, prevalecer o
bom senso que deve ser a característica fundamental e indispensável do perfil do profissional em
Parapsicologia (Barrionuevo, 1995).
Discussões éticas mantidas entre membros de uma mesma categoria profissional costumam
abordar exemplos de situações criadas onde a objetividade se choca com o bem-estar das pessoas
envolvidas. As mais óbvias se referem a simples questões de natureza pessoal e fazem parte não
apenas da vida profissional, mas do cotidiano de todas as pessoas (Barrionuevo;Pallú, 2000). Vai
desde o cumprimento da palavra dada ou de promessas feitas, aos ataques preventivos como medida
de defesa.
I Encontro Psi - A ética em Parapsicologia - Barrionuevo, Pallú 60

Deve-se ter em mente que não existe uma solução decisiva ou definitiva, já que as decisões e
as medidas a serem adotadas devem adequar-se às respectivas situações estudadas, tendo que se
considerar as contingências concernentes.
Em todo caso, demonstram ser um bom instrumento para explorar os diversos lados das
questões, combater as preconcepções e ampliar a compreensão das pessoas e situações
vivenciadas; mas encontram apenas, na maioria das vezes, diferentes pontos de vista a respeito do
que seria “a” verdade.
Pode-se citar, como exemplo fictício, o julgamento, por parte da Comissão de Ética da
Associação Ibero-americana de Parapsicologia, de um associado denunciado por prática ilegal da
profissão com invasão de privacidade. Poderia tratar-se de um renomado parapsicólogo que, no
decorrer de seus estudos, teria formado uma equipe de sujeitos de pesquisa dedicados a auxiliar à
Polícia, através de levantamentos psicométricos de objetos pertencentes às vitimas de casos
insolvidos de roubos, homicídios e seqüestros. A cada crime investigado, ao descobrir-se o suspeito,
a equipe teria se dedicado a sondá-lo telepaticamente, até que as pistas levantadas pudessem
transformar-se em provas que, entregues à Polícia, acabassem por levar à captura e futura
condenação dos criminosos - insuspeitos, até então.
A privacidade da mente - último reduto do ser humano, em sua perda gradativa de liberdade,
tornar-se-ia o motivo da discussão dos membros do Conselho.
Alguns comparariam a sondagem telepática à escuta e gravação telefônicas, consideradas
ilegais e ilegítimas, não procedentes numa corte oficial, principalmente por motivo de suspeita de
fraude. Outros, embora quisessem garantir a validade das provas conseqüentes a esse ato dúbio,
reconheceriam sua semelhança a uma entrada forçada nos domínios do suspeito sem sequer um
mandato judicial para torná-la lícita. Outros, ainda, considerariam absolutamente válida a sondagem
telepática, não apenas por anteceder uma coleta de provas materiais que se mostrassem de
inquestionável validade posterior, como também por ocasionar um serviço público: o de privar a
sociedade do convívio de um criminoso inconfesso.
Um outro exemplo de discussão ética seria o de uma equipe de pesquisa experimental que
decidisse convocar e testar sujeitos para um estudo de ESP. O candidato mais entusiasmado teria
um histórico de desajuste familiar e profissional com alguns episódios de desequilíbrio emocional
severo e diversas tentativas de suicídio.
A decisão quanto a seu aproveitamento, quer fosse positiva ou negativa, acabaria por
oferecer, de todas as formas, uma ameaça aos preceitos éticos: se não fosse aceito, haveria o risco
de conseqüências graves pelo ataque à sua segurança, seu amor-próprio, sua auto-imagem, já
bastante empobrecida. Em contrapartida, se aceito, os testes estressantes com resultados
inesperados poderiam também abalar-lhe o equilíbrio, já tão precário.
Um terceiro exemplo poderia ser o de uma Direção de Faculdade que, conhecendo seus
problemas básicos e a própria potencialidade, direcionaria sua preocupação para com a formação
dos alunos. Ainda que tivesse em mente que seu nível de informação tivesse sempre sido
insuficiente; obrigar-se-ia a estabelecer o propósito de - em curto prazo - fazer da Instituição um
modelo de ensino para o resto do país. Averiguaria pontos nevrálgicos, e estabeleceria metas de
atuação. Um problema precisaria de solução imediata: a consciência de que o baixo nível de
informação de alguns professores seria devido à sua falta de atualização. Por ganharem pouco,
teriam outros empregos para seu sustento, o que lhes impediria a participação em Cursos,
Congressos e Seminários. No entanto, ficaria patente sua longa participação no Corpo Docente da
Instituição, sua dedicação e lealdade.
A decisão de despedi-los e contratar elementos mais novos e atualizados poderia ser uma
atitude interpretada como fria e desumana.
Por outro lado, a decisão de conservá-los inviabilizaria o cumprimento da meta, pois o
panorama econômico-financeiro não seria favorável à concessão de qualquer aumento salarial.
Discussões desse tipo podem, se não levar à verdade, evidenciar que a preconcepção e a
subjetividade devem ser evitadas, no sentido de se buscar o máximo de clareza e lógica na
argumentação (Barrionuevo; Pallú, 2000). Fica claro que não basta julgar um ato em função de um
conjunto de regras, mas examiná-lo à luz das circunstâncias e condições sob as quais foi cometido, já
que o ato ético pressupõe um sujeito dotado da capacidade de interiorizar as normas de uma
comunidade e de atuar de acordo com elas (Vasquez, 1996).
Um Parapsicólogo deve ter como sua máxima ética a obrigação de contribuir para manter o
caráter profissional-científico de seu campo e imagem pública, evitando possíveis danos à sua área
de atuação e assegurando-se como representante da ciência. Parece de bom senso que observe a
sugestão de não se comprometer com promessas de resultados definitivos, nem proferir afirmações
ou negativas categóricas sobre a fenomenologia parapsicológica; tendo em vista, entre outros fatores,
sua tendência de não replicabilidade, o que acaba por representar algumas das tantas dificuldades
I Encontro Psi - A ética em Parapsicologia - Barrionuevo, Pallú 61

que enfrenta em sua meta de demonstração cientifica, que vem, mesmo assim, sendo levada a efeito,
nas ultimas décadas.
Com os olhos voltados para o futuro, e na esperança de que consigamos vencer os
obstáculos erguidos pelas características limitadoras que a natureza humana impõe, tentamos dar
eco às palavras de Fritjof Capra:

"E, se examinarmos os valores, podemos


observar uma passagem correspondente, da
competição para a cooperação, da expansão para
a conservação, da quantidade para a qualidade,
da dominação para a parceria".

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.


BARRIONUEVO, V. Alguns Tópicos de Ética. Material didático: Métodos e Técnicas de Pesquisa
em Parapsicologia. Março, 1995.
BARRIONUEVO, V. Orientação Psi: abordagem norte-americana x abordagem brasileira. Em
FatorPsi vol.1, nº 3, março / 2000, p. 102-106.
BARRIONUEVO V.; PALLÚ, T. Curso de Parapsicologia: uma experiência brasileira. Em FatorPsi
vol.1, nº 4, setembro / 2000, p. 125-139.
COSTA, J. A Ética e o Espelho da Cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
KREMER-MARIETTI, A. A Ética. Campinas: Papirus, 1989.
MacINTYRE, A. Short History of Ethics. London: Routledge & Kegan, 1967.
MARCILIO, M.; RAMOS, E. Ética na Virada do Século. São Paulo: LTR, 1997.
PALLU, T. Alguns Tópicos para Orientação Parapsicológica. Material didático, outubro / 1997.
PARAPSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Código de Conduta Ética e Profissional. 1980.
Tradução de V.L. Barrionuevo, 1995.
RUNES, D. Dicionário de Filosofia. Lisboa: Presença, 1990.
VAZQUEZ, A. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
WEIL, P. A Nova Ética. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1994.
MEDIUNIDADE X ESQUIZOFRENIA ATÍPICA

Maria da Paz de Oliveira Ribeiro

Profa do Curso de Parapsicologia das Faculdades Integradas “Espírita”

RESUMO

O presente trabalho visa refletir a complexidade do fenômeno mediúnico. A


necessidade do estudo sobre a interligação cérebro-mente, espírito-matéria. Analisar
as particularidades do fenômeno mediúnico, considerando o fenômeno anímico
como a expressão do potencial da própria alma da pessoa. Relacionar sintomas
psiquiátricos com os sintomas da obsessão espiritual, e a importância do corpo
espiritual ou psicossoma no processo da comunicação. Este organismo sutil
corporificado numa outra dimensão ou outro padrão vibratório, tem sido aceito e
registrado na cultura religiosa de quase todos os povos, com nomes variados: corpo
astral, corpo espiritual, corpo etérico, corpo bioplasmático, psicossoma, perispírito
etc... O perispírito ou psicossoma é o corpo intermediário entre corpo físico e o
espírito na reencarnação. Na mediunidade entram em jogo energias psicofísicas e
energias espirituais, sendo de grande importância a glândula pineal que segrega
hormônios psíquicos, ou “unidades-força” como se fora uma poderosa usina.
Registramos pesquisas, tipos, causas da obsessão.

INTRODUÇÃO

A Parapsicologia estuda e pesquisa o fenômeno paranormal, estabelecendo que o ser


humano possui uma natureza Psi da qual decorre a função Psi propriamente dita, que pode ser
investigada através da observação experimental, permitindo uma análise quantitativa, medida
estatisticamente.
Joseph Banks Rhine, pela necessidade de obedecer a uma postura científica de neutralidade,
partiu de uma abordagem metodológica estatística, portanto, quantitativa sem a conotação histórica
com pesquisas anteriores. Rhine deu maior ênfase à função do que ao fenômeno propriamente dito,
utilizou a sigla ESP, expressão inglesa - Extrasensory Perception. Pesquisou os fenômenos Psi
Gama, Psi Kapa com maior ênfase. A expressão Psi Theta designa fenômenos de difícil avaliação,
estão relacionados à sobrevivência do Espírito e suas possibilidades de comunicação mediúnica. A
expressão Psi Theta tem origem no grego, através da palavra psique, que significa alma, e da
palavra thanatos, que significa morte. É o estudo do fenômeno da mediunidade.
Poderemos medir a intensidade das percepções mediúnicas dos médiuns e determinar o
limiar das sensações? Várias técnicas foram tentadas para esse fim. A leitura da aura é uma tentativa
de avaliação das condições espirituais das pessoas.
Devemos considerar de real valor as pesquisas mais atuais de Sérgio Felipe de Oliveira
sobre a pineal. Nas pesquisas sobre o processo da comunicação mediúnica deve se considerar a
hipótese da Reencarnação, as condições psicológicas e espirituais do médium em situação de transe.
Dentro da considerável bibliografia abordando o tema mediunidade, selecionamos idéias e
tópicos significativos que melhor esclarecem o fenômeno paranormal Psi Theta, área de nossa
atuação profissional, como psicóloga clinica.

MEDIUNIDADE X ESQUIZOFRENIA ATÍPICA

Mediunidade como função psíquica

Na área da saúde mental encontramos dois referenciais importantes: o Código Internacional


de Doenças ou CID 10, e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais apontado no
DSM IV. É de significativa ajuda para a compreensão dos quadros psicopatológicos.
I Encontro Psi - Mediunidade x Esquizofrenia Atípica - Ribeiro 63

Ressaltamos a abertura da medicina para as questões espirituais. “No DSM IV, importante
manual de estatística de distúrbios mentais (Associação Americana de Psiquiatria), tendo sua
terminologia e conceitos utilizados pela Organização Mundial de Saúde, há um alerta, em sua
introdução, para a possibilidade de as manifestações de ver e ouvir espíritos de parentes mortos não
serem necessariamente alucinação ou qualquer manifestação psicótica; seremos cuidadosos,
segundo o DSM IV, quando, ao abordar pacientes de comunidades de determinadas culturas
religiosas, observar que o fato mencionado acima não está ligado a qualquer processo patológico. É
uma primeira abertura para que a mediunidade possa ser entendida como função psíquica”
Há necessidade da substituição do modelo biomédico puramente organicista pelo modelo
integrativo sociocultural, psíquico e espiritual.

CONCEITO DE ESPÍRITO X ALMA

Freqüentemente se confunde a expressão mente e espírito, alma e espírito. Não são a


mesma coisa.
A língua grega dispunha de terminologia adequada para expressar corretamente a realidade
dos três aspectos sob os quais se apresenta a criatura humana: soma – corpo físico. Psyche, para
alma. Pneuma, para espírito.
Aristóteles (384-322 a.C) emitiu um conceito mais claro e prático acerca da alma. Além disso,
fez distinção suficientemente nítida entre alma e espírito.
“A alma é o que move o corpo e percebe os objetos sensíveis; caracteriza-se pela
autonutrição, sensibilidade, pensamento e mobilidade; mas o espírito tem a função mais elevada do
pensamento que não tem relação com o corpo nem com os sentidos. Daí poder o Espírito ser imortal,
embora o resto da alma possa não sê-lo.” (Da Alma 413, b). H.G. Andrade diz :
“Nesta colocação de Aristóteles, a alma parece corresponder àquela porção anímico-
perispirítica diretamente implicada na vivificação do corpo. Para Aristóteles a alma é perecível, ao
passo que o Espírito é imortal e a ele cabe a função do pensamento que não tem relação com o
corpo nem com os sentidos.”
Assim, a “alma” é o espírito encarnado, ou seja, o espírito enquanto acoplado a um
organismo físico. A morte é, portanto, uma mudança de freqüência vibratória, uma passagem para um
outro plano vibratório. Hernani Guimarães Andrade estudando os fenômenos paranormais, concluiu
pela existência da “matéria psi” dotada de características específicas, enquadrada num modelo
hiperfísico tetradimensional.
Parece haver um campo energético invisível existente nos seres vivos, um mecanismo
integrador que não apenas projeta o organismo, mas como alma, prossegue vivendo depois da morte.
Devemos dizer que a personalidade é a manifestação da individualidade no decorrer de uma
existência no corpo. A individualidade é a soma histórica de todas as personalidades vividas em
sucessivas existências Um dos enigmas para o psicólogo, psiquiatra ou analista desinformado da
realidade espiritual, é o envolvimento obsessivo do cliente que apresenta sintomas confusos para se
fazer um diagnóstico.

Carl Gustav Jung, estudou a esquizofrenia e os problemas mediúnicos

Defendeu sua tese de doutorado com o nome: Psicologia e patologia dos assim chamados
fenômenos mediúnicos. Avaliou as comunicações de sua prima (entre outras) e concluiu que eram
exteriorizações dos “complexos”, conteúdos reprimidos no inconsciente. Estes podem vir a tona como
se fossem uma personalidade exterior. Eram fragmentos da personalidade.
Mais tarde cunhou o termo “arquétipo” força que habita no inconsciente coletivo. Símbolos,
que fazem parte da história humana em diferentes épocas e locais comprovam a historicidade e a
atemporidade da psique. O inconsciente sofre mudanças e produz mudanças, influencia o ego e
poderá ser influenciado pelo ego.
Devemos registrar que o homem tem uma consciência física e “n” consciências nas
dimensões extrafísicas. A hipótese das muitas vivências sucessivas (ou hipótese da reencarnação)
permite compreender o inter-relacionamento entre seres extrafísicos e físicos. Hoje em dia, são os
cientistas que através da Mecânica Relativista e Quântica, estão fornecendo o suporte científico para
estudar os fenômenos de comunicação dos espíritos.

Pesquisa

O médico Sérgio Felipe de Oliveira, mestrando pelo Departamento de Anatomia do Instituto


de Ciências Biomédicas da USP S. Paulo, conseguiu implantar naquela Universidade um curso de
I Encontro Psi - Mediunidade x Esquizofrenia Atípica - Ribeiro 64

Pós-graduação Lato Sensu, para estudo dos fenômenos paranormais relacionados com a
mediunidade. Analisa os aspectos científicos do pensamento Kardequiano. É um curso de
Psicobiofísica: integração cérebro-mente-espírito. São dados divulgados em várias reportagens.
Estuda a ligação entre as alterações dos cristais na glândula pineal, que são estruturas
físicas relacionadas a psicopatologia. Analisa tomografias de pessoas portadoras de doenças
mentais, acompanhando sua evolução biopsicológica. Esse tema é o eixo central do laboratório de
Psicofísica na USP. Dr Sérgio diz que o estudo do perispírito fará parte da vida médica.
Hoje já é possível se falar em Espírito ou alma na linguagem da Física. A mente é a entidade
que comanda o cérebro e se expressa através dele. Os fenômenos Psi-Theta que estão relacionados
com a sobrevivência do Espírito e suas possibilidades de comunicação, estão entrando nas
Universidades.

O conceito de matéria e espírito

O espírito originado do princípio inteligente do universo, embora não palpável, é algo que
existe como individualização desse princípio. É incorpóreo, porém, não é imaterial mas um outro tipo
de matéria que não pode ser percebido pelos nossos sentidos. Pode existir independente do corpo
que anima, e na sua forma seria comparado a uma chama, uma centelha luminosa cuja cor varia.
Pode penetrar e atravessar a matéria e se deslocar no espaço, tão rapidamente como o pensamento
ou mais. Mesmo não se dividindo, se irradia para diferentes lados.

Matéria

É o segundo elemento geral do Universo, tanto como o Espírito, é criado por Deus.
A matéria pode ser entendida como aquilo que tem extensão e pode impressionar os
sentidos, mas ela existe em outros estados desconhecidos, tão etérea e sutil que não produz
impressão aos sentidos.

PSICOSSOMA OU PERISPÍRITO

É um dos produtos mais importantes do Fluido Universal, é a condensação dele em torno de


um foco de inteligência, o Espírito. A natureza do Períspirito está sempre em relação com o grau de
adiantamento moral do Espírito em evolução. É constituído de substância sutil, não visível aos olhos
humanos. Ao perispírito se pode atribuir a qualidade de estruturador do corpo orgânico, a partir da
fecundação na embriogênese e está relacionado com a memória celular.
Pode-se pensar o Perispírito, ou Corpo Espiritual à semelhança de uma estrutura
eletromagnética integrada, enriquecida de informações que se foram acumulando num mecanismo de
estímulo resposta, ou seja, de auto-seleção e auto-aprimoramento, conduzido por um princípio de
conservação de energia.
Esse Corpo Espiritual vem se diversificando, aumentando de complexidade do mesmo modo
como se observou nos seres vivos a evolução biológica da espécie. É sensível aos impulsos e as
irradiações dos nossos pensamentos.
Interage na intimidade celular, por contacto molecular, portanto nas estruturas atômicas da
matéria.

O Espírito e o Corpo Espiritual

A existência de um organismo sutil, corporificado numa outra dimensão ou em outro padrão


vibratório, tem sido aceito e registrado na cultura religiosa de quase todos os povos.
A nomenclatura registra este organismo com nomes variados: corpo sideral, corpo espiritual,
corpo etéreo, corpo astral, corpo bioplasmático, psicossoma, etc.
Freqüentemente a expressão mente, como sinônimo de espírito, se confunde com a definição
de Corpo Espiritual, o que não é correto.
O corpo espiritual ou psicossoma é extremamente sensível à modificações eletromagnéticas,
assume aspectos morfológicos variados, brilho, colorido conforme o padrão vibratório da nossa mente.
Em termos anatômicos, não há no cérebro uma área com a função específica de pensar.
Compreende-se hoje o pensamento como resultante da atividade cortical cerebral como um todo em
que tem papel preponderante as porções anteriores do lobo frontal esquerdo, o corpo caloso e as
vias de associação entre as diversas áreas do cérebro e entre os hemisférios direito e esquerdo.
I Encontro Psi - Mediunidade x Esquizofrenia Atípica - Ribeiro 65

Entretanto, explicar o pensamento exclusivamente como uma atividade de circuitos neuronais


com interações sinápticas não é explicação suficientemente completa para esclarecer as questões
relacionadas com a mente e seu produto mais sofisticado que é o pensamento.
Há poucas explicações para os processos intuitivos e criativos da mente. O cérebro humano
tem a propriedade única de pensar em termos de futuro, o que é muito difícil de se justificar
anatomicamente.

Importância da Glândula Pineal

A pineal é a glândula da mediunidade. Do ponto de vista espiritual a glândula pineal exerce


papel semelhante ao tálamo, recebendo selecionando e difundindo a mensagem. A atividade
endócrina da pineal é extremamente sensível a ação da intensidade luminosa seguindo um ritmo
circadiano onde sua maior produtividade se processa durante o período noturno.
Durante a recepção das vibrações mentais e de mensagens espirituais, a glândula pineal no
Corpo Espiritual é fonte geradora de intensa radiação luminosa, funcionando como tálamo espiritual.
Ela atua como porta de entrada ou fonte de ligação até ao córtex cerebral, podendo a informação se
tornar consciente ou manter-se no inconsciente.
As vibrações mentais que do plano espiritual atingem a pineal para se difundir ao cérebro,
atingindo um nível consciente ou não, são também muito sensíveis a uma irradiação forte de luz, que
lhe dificultam a recepção e transmissão da mensagem.

CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE MEDIUNIDADE

Na obra: “A Obsessão e suas Máscaras”, a Dr a Marlene R.S. Nobre, faz um rastreamento da


série de obras de Chico Xavier – Emmanuel, e pode detectar diferentes aspectos das obsessões,
classificando-as em dois grandes grupos, conforme esquema a seguir:
OBSESSÕES DE NATUREZA ANÍMICA

I – De Efeitos Inteligentes II – De Efeitos Físicos


a) Obsessão telepática
b) Auto-obsessão Casos de poltergeist
c) Personalidade antiga cristalizada
(Fixação Mental)
d) Possessão Partilhada
(Parceiros no Vício)

OBSESSÕES DE NATUREZA ESPÍRÍTICA

I – De Efeitos Inteligentes II – De Efeitos Físicos


IA) Simbioses em graus diversos
IB) Parasitose Mental ou Vampirismo Espiritual *Casos de poltergeist
1 – Infecções Fluídicas * Raps-Ectoplasmia
2 – Fixação mental
3 – Patologias do Corpo Espiritual
(Perispírito)
3a – Parasitas Ovóides
3b – Deformações e Zoantropia
(Licantropia)
IB4 – Vampirismo com Repercussões Orgânicas:
Possessão, Epilepsias, Neuroses etc.

IC) Sintonia: Prevalência do Mecanismo Hipnótico


(Diferentes graus de alteração da Consciência)
1 – Fascinação; Canalização com Dominação Telepática
2 – Obsessão Oculta – Durante o sono físico, Coletiva

(*) Há casos de Poltergeist que expressam o predomínio da ação obsessiva de espíritos


inferiores. Nesses casos, temos de considerar a utilização negativa da energia que é o ectoplasma.
Hernani Guimarães Andrade, pesquisador de Poltergeist, pôde constatar, na maioria dos casos
investigados, essa interferência física negativa.
I Encontro Psi - Mediunidade x Esquizofrenia Atípica - Ribeiro 66

Uma das questões difíceis da experiência prática é a distinção entre os fenômenos


mediúnicos e os anímicos. (da própria alma da pessoa). A condição para se classificar um fenômeno
como mediúnico, é a constatação evidente da ação inteligente de um ser invisível (espírito) como
agente do fenômeno.
As indagações de como e por que surge, nas estruturas profundas do ser, a paranormalidade
anímica ou mediúnica, ainda não foram respondidas.
Outra questão importante para pesquisar e compreender são as interfaces entre um tipo de
fenômeno e outro, ou seja, o anímico desencadeando o mediúnico e vice-versa,
Há quem afirme que não há fenômeno anímico puro, nem mediúnico isento de traços
anímicos, pois que ambos se encontram mais ou menos associados.
Ainda no contexto dos fenômenos relacionados com a emancipação da alma incluir-se-iam as
experiências de desdobramento ou projeções perispirituais – sonhos – terapias regressivas (TVP) etc.
Os valores intelectuais e morais do médium têm influência na ocorrência fenomênica.
A sintomatologia obsessiva desfila de modo preponderante nos grupos de histeria e das
epilepsias. O psiquiatra moderno precisa conhecer o transe mediúnico para avaliar a amplitude que o
psiquismo humano vem revelando aos pesquisadores. Energias bloqueadas se refletem no corpo
como sintomas, doenças.

Estado de transe

São estados alterados de consciência. Os estados de possessão e transe são formas de


dissociação curiosas e não perfeitamente entendidos. O médium entra num estado dissociativo,
durante o qual um espírito se apodera de grande parte de sua consciência e influencia seus
pensamentos e linguagem.
Quando sentimos algo usamos um dos nossos 5 sentidos. Os sensores (ouvido, papilas
gustativas, corpúsculos táteis, olhos, bulbo olfatório) são órgãos que captam a sensação e levam a
uma área específica no córtex cerebral através das vias leminiscais (vias de sensação no organismo).
Os cientistas começaram a perceber que além dessas vias existiam outras vias chamadas
extra-leminiscais que proporcionam a estimulação do córtex cerebral e que não passam pelos 5
sentidos físicos.
A glândula pineal funciona como uma lente concentrada das emanações do Espírito e um
prisma distribuidor destas emanações para o corpo físico. As emanações de entidades, via perispírito,
são captadas pela pineal e distribuídas para o tálamo e de lá para o córtex cerebral havendo então a
ativação biolétrica difusa (estado de transe).
Nas questões das doenças mentais como as psicoses podem ocorrer uma mistura entre
presente e passado, já que a pineal também é um órgão cronobiológico (trabalha com a função
tempo). É ela que vai dar abertura para o passado, presente ou futuro em nossa consciência.
Lembremos da época da adolescência como a mais provável de as psicoses se
manifestarem; época em que a pineal inicia a abertura da expansão do Espírito naquela encarnação,
recapitulando a sexualidade e paixões vividas em outras épocas. Neste caso a pessoa psicótica vai
ter uma mistura da mediunidade e processo anímico.

PSICOSE

“Incapacidade para distinguir entre realidade e fantasia; teste de realidade comprometido,


com criação de uma nova realidade.”
Grave prejuízo no funcionamento social e pessoal, caracterizado por retraimento social e
incapacidade para desempenhar os papéis profissionais e domésticos habituais (grau de regressão do Ego).
A evidência de comportamento psicótico é a presença de delírios, alucinações, confusão e
prejuízo de memória, sem insight de sua natureza patológica”.
Vamos encontrar também transtornos psicóticos em várias outras patologias, por exemplo:
transtorno mental não-psicóticos, transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos esquizofrênicos e
delirantes (paranóides), transtornos de humor (afetivos), etc.

Esquizofrenia

“Considerada a mais devastadora das doenças mentais. Seu início ocorre cedo na vida do
paciente e seus sintomas podem ser destrutivos para o paciente, seus familiares e amigos. Esta
doença mental inclui uma variedade de transtornos, com sintomas comportamentais igualmente
variados e a resposta ao tratamento e curso da doença também são variados”. (Compendio de
Psiquiatria – Kaplan & Sadock)
I Encontro Psi - Mediunidade x Esquizofrenia Atípica - Ribeiro 67

Etiologia: Desconhecida. Provavelmente trata-se de um transtorno heterogêneo.


Fatores Biológicos: (diminuição de neuro transmissores, diminuição generalizada do fluxo sangüíneo
cerebral, causa psiconeuroendócrina, genética, etc.).
Fatores Psicossociais: - distorções no relacionamento mãe/bebê;
- incapacidade em adquirir diferenciação entre si mesmo e o objeto;
O que fazer com o paciente que ora se apresenta com sintomatologia paranóide, ora
histérica, ora maníaca, ora depressiva?
O psicólogo ou médico, deve buscar o enfoque pluridimensional, em torno da personalidade
básica, ou fenomenológica, analítico-existencial, e espiritual, se quiser chegar a alguma conclusão séria.
A loucura é moléstia de fundo orgânico em alguns casos, e de fundo espiritual quando não há
propriamente lesão ou algum estado mórbido do cérebro.
A depressão é um processo fisiológico, resposta a um processo conflitual psicológico.
O Dr. Bezerra de Menezes nos lembra:
“Nos manicômios terrestres existem muitos casos de suposta loucura que mais não são que
estados agudos de excitação da subconsciência recordando existências passadas tumultuosas ou
criminosas ocasionando o remorso no presente, o mesmo acontece com a obsessão, que bem
poderá ser o tumulto de recordações do passado enegrecido pelos erros cometidos, recordações
indevidamente levantadas pela pressão da vítima de ontem transformada em algos do presente”.
(Recordações da Mediunidade – Yvone Pereira – pág.34).

Obsessão

Pode ser parasitária e cármica. Na parasitária é o comportamento vicioso que atrai o espírito.
Cármica - por vingança o agente motivador é o espírito
Obsessão é o domínio que alguns espíritos exercem sobre certas pessoas, porém precisa-se
observar o grau de constrangimento do ser para se detectar a forma de obsessão.
SIMPLES: Uma perturbação, mas tem a mente livre por longos espaços de tempo. O médium
conhece a mistificação e como se mantém vigilante raramente é enganado.
FASCINAÇÃO: Uma ilusão criada diretamente pelo espírito no pensamento do médium e que
paralisa de certa maneira a sua capacidade de julgar as comunicações. O médium fascinado não
percebe que está sendo enganado.
SUBJUGAÇÃO MORAL: e física atua na vontade e pensamentos da pessoa, dominando-a
AUTO-OBSESSÃO: Certos estados doentios e certas aberrações, que se atribuem a uma causa
oculta são pôr vezes, oriundas do espírito do próprio indivíduo. Freqüentemente somos obsessores
de nós mesmos. (Obras Póstumas).
Causas:
Os motivos ou causas da obsessão pode ser originados por:
a) Vinganças de Espíritos contra pessoas que lhes fizeram sofrer nessa ou em vidas anteriores;
b) Desejo simples de fazer a outros sofrerem, por ódio, inveja, covardia;
c) Para usufruir dos mesmos condicionamentos que tinham quando na vida física, os vícios;
d) Apegos às pessoas pelas quais nutriam grandes paixões quando em vida;
e) Por interesses em destruir, desunir, dominar, provocar o mal, manter distúrbios, partindo de
inteligentes Espíritos das hostes inferiores.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A PSICOGRAFIA A PSICOFONIA

Psicografia – Níveis: mecânicos, semi-mecânicos, Intuitiva, em relação ao impulso do braço


e pensamento. É importante avaliar o conteúdo das mensagens e educação mediúnica.
No transe da psicofonia existe elos de ligação entre a vida orgânica e o perispírito, à
semelhança de verdadeira pontes para ligar ou desligar as células do córtex cerebral onde se localiza
a memória. A psicofonia pode ser consciente, inconsciente ou sonambúlica. Nesta última do ponto de
vista vibratório a alma do médium estaria mais livre.

CONCLUSÃO

Acreditamos que uma Teoria de Campos (“quanta”) interpretando os fenômenos biológicos


será o caminho para que a ciência chegue ao Perispírito.
O Espírito comanda a morfogênese e todas as expressões bioquímicas e biofísicas no
ecossistema do planeta.
I Encontro Psi - Mediunidade x Esquizofrenia Atípica - Ribeiro 68

Os estudos sobre a mente e o cérebro estão muito longe de identificarem o potencial do


espírito. Os nossos conhecimentos atuais estão na verdade descobrindo o chamado Corpo Espiritual,
um organismo muito sutil que veste o Espírito. A interação entre o corpo e o Espírito nos permite
compreender as doenças espirituais.
O processo de doença, assim como o norteamento terapêutico, devem ser analisados sob a
ótica bio-psico-sócio-espiritual, pois são sistemas que agem em sinergia. O sistema espiritual e
psíquico não é antagônico em termos de abordagem metodológica, ao sistema biológico. Assim, por
exemplo, um eczema na pele pode ter sido provocado por um problema auto-imune, mas este pode
ter sido desencadeado por uma neurose. Essa neurose pode ter advindo de um grave problema
social e esta situação de algum distúrbio espiritual – uma obsessão, por exemplo. Note-se que não
deixou de ser um eczema de causa auto-imune, que vai necessitar de medicação. Também não
descartamos um diagnóstico de neurose, que complementa a compreensão do primeiro. Nem
tampouco o diagnóstico de obsessão espiritual anula os demais; pelo contrário, amplifica a
compreensão do problema. Não há, portanto, antagonismo entre Medicina e espiritualidade, mas uma
sinergia, e o beneficiado é o paciente.
A perfeita interação mente-corpo, espírito-matéria, constitui a base atual do modelo holístico
para a saúde. É uma visão transdiciplinar. Os médicos, psicólogos e os parapsicólogos atuam como
facilitadores do processo evolutivo de seus clientes, uma vez que identificam, transformam e realiham
os núcleos problemáticos que estão impedindo o indivíduo de caminhar dentro da sua programação
existencial.

REFERÊNCIAS

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XAVIER, F. C.; V. W. Mecanismos de Mediunidade. 10.ed. Brasília : Federação Espírita Brasileira,
1987.
I

MEDIUNIDADE: ASPECTOS AFETIVOS E COGNITIVOS


DE UM FENÔMENO PSICOSSOCIAL

Wellington Zangari

Pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Psicologia Social da Religião,


Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da USP
&
Coordenador do Inter Psi – Grupo de Estudos em Semiótica, Interconectividade e Consciência,
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP

RESUMO

A mediunidade é pensada como um fenômeno psicossocial em que estão envolvidos


aspectos cognitivos, afetivos e culturais. Após a realização de um estudo,
compreendido de entrevistas, questionários e pesquisas de campo, o autor concluiu
que os médiuns têm a capacidade de controlar algumas de suas funções cognitivas,
sobretudo de dissociação e de absorção, com a finalidade de presentificarem, em
suas ações rituais, as crenças dos grupos a que pertencem. Como conseqüência, tal
grupo vivenciaria maior coesão grupal, facilitando sua permanência. Ao comparar as
experiências dissociativas e a faculdade abortiva de médiuns e não-médiuns, o autor
não encontrou qualquer tendência psicopatológica entre os médiuns. Como resultado
de sua pesquisa, conclui que a mediunidade é um fenômeno dissociativo normal,
disciplinada culturalmente, em que estão em jogo fatores afetivos e cognitivos dos
médiuns que os permitem a dissociação e a identificação com as entidades e as
crenças do grupo.

INTRODUÇÃO

HISTÓRICO PESSOAL DO PROBLEMA

Acredito que sempre exista por trás de um projeto de pesquisa um incômodo, uma
inquietação. Este projeto representa o resultado de um desconforto intelectual frente a uma realidade
tão desconhecida quanto rejeitada pelos pesquisadores em Psicologia brasileiros: a mediunidade.
As raízes do desconforto remontam a algumas de minhas mais fortes experiências infantis.
Boa parte de minha família materna, oriunda da região do Triângulo mineiro, perdeu, paulatinamente,
com a chegada a São Paulo na década de 50, as referências religiosas católicas a que esteve
submetida por gerações. A influência da novidade, as religiões mediúnicas, foi forte o suficiente para
fazer três médiuns e quatro praticantes entre os oito tios maternos. Mesmo entre os filhos mais
velhos, cuja formação católica parecia menos abalável, algumas idéias espiritualistas - como a da
reencarnação e a da comunicação com espíritos - sempre foram aceitas ou tidas como elementos
incitadores de questionamento dos ensinamentos católicos a respeito da vida após a morte. Minha
mãe, uma das irmãs mais velhas, nunca pôde esconder completamente a influência das idéias
espiritualistas em suas convicções religiosas. Apesar de executar tarefas que poderiam classificá-la
como católica praticante e de estar casada com um ministro da eucaristia da Igreja Católica, o
fascínio pela possibilidade da interferência dos espíritos, através dos médiuns, levou-a a recorrer a
Chico Xavier quando faleceu seu primogênito, há 25 anos.
Mas talvez o referido incômodo intelectual não existisse não fosse a influência paterna.
Cético quanto às religiões mediúnicas, meu pai sempre encontrou no embuste a interpretação ideal
para os feitos dos médiuns. Como prestidigitador amador, sempre procurou demonstrar como alguns
dos “fenômenos espíritas” seriam realizados. Suas explicações eram contundentes. Tinham a seu
favor o fato de serem demonstráveis à vontade.
Mas a pergunta era: a fraude poderia explicar todos os fenômenos espíritas como ele
propunha? Sempre pareceu-me que suas manobras de ilusionista eram por demais simples para dar
conta da variada gama de manifestações que eu presenciara nos centros em que era levado, ainda
I Encontro Psi - Mediunidade: aspectos afetivos e cognitivos de um fenômeno psicossocial - Zangari 71

durante minha infância. A experiência de ter participado dos cultos espíritas, que ele não tinha,
levou-me a buscar outras possibilidades interpretativas, também naturais, mas menos reducionistas.
Em minha pesquisa de mestrado procurei analisar um dos aspectos do fenômeno da
mediunidade: a comunicação com os espíritos. Considerando que existem demonstrações científicas
de processos anômalos de comunicação humana, propus uma análise psicológica e psicossocial que
levasse em consideração tais processos na interpretação de certos fenômenos mediúnicos.
Entretanto, outras questões emergiram do meu contato com o tema que foram determinantes
para a manutenção de outras de minhas interrogações. A principal delas é: como se estabelecem as
relações entre os aspectos individuais e sociais da mediunidade em agentes concretos? Para
responder a esta pergunta, várias outras deverão ser respondidas anteriormente, entre elas: o que
leva alguém a ser médium?; possuem os médiuns características psicológicas específicas (em seus
aspectos cognitivos e emocionais) se comparados com não-médiuns?; qual o papel do médium em
seu grupo religioso?; como é visto e como se vê enquanto médium em sua comunidade?; como
compreender, psicologicamente, o “transe mediúnico” e a mediunidade?; como os adeptos do grupo
a ser estudado vêem o mundo, em resumo, quais suas crenças, quais são suas representações
simbólicas e como estas se relacionam com a mediunidade?

MÉTODOS E TEORIAS, INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS

Para que a análise fosse o mais abrangente possível, dentro de minhas limitações pessoais,
decidi coletar dados da vida dos meus sujeitos, os médiuns de incorporação 1. Tais dados, deveriam
conter informações de aspectos afetivos, cognitivos e psicossociais.
A utilização de entrevistas em profundidade foi uma boa opção, uma vez que estas permitem
obter dados que, analisados, podem dizer algo sobre a validade das hipóteses relacionadas aos
aspectos afetivos e cognitivos, sobretudo os primeiros, dos médiuns. Os discursos dos médiuns,
analisados segundo seu fluxo de representações na cadeia de associações livres a partir das suas
possíveis motivações inconscientes, de acordo com a teoria psicanalítica, permitem reconhecer
padrões de significação simbólica entre os discursos e as histórias de vida dos sujeitos. Pretendeu-
se, também, por meio das entrevistas, coletar dados sobre as representações relacionadas à
mediunidade, ao universo simbólico dos médiuns, sobretudo no que diz respeito aos aspectos
afetivos relacionados à suas práticas e aos papéis por eles desempenhados no grupo religioso a que
pertencem. As entrevistas tiveram, ainda, o objetivo de levantar algumas características da
mediunidade relacionadas ao “transe mediúnico” como possíveis sinais cognitivos, emocionais ou
fisiológicos que indicassem a proximidade da incorporação; a memória ou amnésia do período do
transe; os “efeitos colaterais” do transe, como a fadiga, a depressão, a mania, entre outros..
Parece haver alguma relação entre certos aspectos cognitivos e a mediunidade. Perguntei-
me se as entrevistas em profundidade poderiam oferecer dados objetivos a respeito de tais aspectos.
A análise preliminar das entrevistas já realizadas levou-me à constatação que existem muitas
informações acerca destes aspectos, porém estes aparecem no discurso de maneira muito geral,
com pouca precisão. Frente a esta situação, decidi construir um instrumento objetivo, um
questionário, a ser seria administrado aos médiuns em encontro posterior ao da entrevista. Como
pretendia verificar certos traços cognitivos, como já expresso, são prevalentes entre os médiuns, foi
necessário administrar o instrumento, também, a não-médiuns, de maneira a ser possível comparar
os resultados em populações distintas, ainda que os resultados não pretendam ser generalizáveis,
mas apenas indicadores de certas tendências. Como a etapa de entrevistas finalizada, iniciei a
administração do instrumento. O questionário contém três seções, a saber: a) seção de dados
demográficos; b) seção com escalas e testes psicológicos objetivos; e c) seção de dados
relacionados à mediunidade. Os médiuns responderam o questionário completo, enquanto os não-
médiuns responderam o questionário com apenas as seções “a” (dados demográficos) e “b”
(escalas). Compreendem os dados demográficos, principalmente aqueles relacionados ao gênero, à
idade, à escolaridade, à renda familiar, ao estado civil, à adesão religiosa pregressa e atual. As
escalas e testes psicológicos objetivos que visam coletar dados relacionados a algumas das
hipóteses cognitivas, sobretudo àquelas relacionadas à dissociação e à absorção, e marginalmente à
susceptibilidade hipnótica, e ao bem-estar e da sociabilidade. Os testes empregados foram: uma

1
Faça-se registrar que este tipo de mediunidade, ou manifestação mediúnica, não esgota a ampla
gama de modalidades possíveis. Há, por exemplo, a mediunidade de vidência, de audiência, de
premonição, as mais comuns. Um médium pode ser possuidor de várias destas modalidades e fazer
uso dela em sua prática religiosa e, mesmo profissional, quando, por exemplo, cobra pelas consultas
de leitura de búzios.
I Encontro Psi - Mediunidade: aspectos afetivos e cognitivos de um fenômeno psicossocial - Zangari 72

escala para medição de experiências dissociativas - a Dissociative Experiences Scale (Bernstein &
Putnam, 1986; Carlson & Putnam, 1993), uma escala para medição de experiências de absorção - a
Tellegen Absortion Scale (Tellegen & Atkinson,1974) e um instrumento de medição de
susceptibilidade hipnótica – o Hypnotic Induction Profile (Spiegel, 1974), e as sub-escalas de
sociabilidade e bem-estar do inventário de traços de personalidade - o Eysenck Personality Inventory
(Eysenck, 1964).
As escalas foram administradas a quinze médiuns (todos serviram como sujeitos das
entrevistas) do mesmo grupo pesquisado, trinta não-médiuns, escolhidos de maneira a representar
maximamente a população em geral e trinta não-médiuns pertencentes ao mesmo grupo religioso.
Os resultados foram comparados, por meio de um tratamento estatístico das diferenças, pelo
emprego, por exemplo, do teste U de Mann-Whitney (amostras independentes). Os não-médiuns,
não pertencentes ao grupo religioso, foram escolhidos de maneira pareada aos médiuns, respeitando
as variáveis demográficas de idade, gênero e grau de escolaridade, procurando que fossem
escolhidos de maneira tal que representassem a população em geral. As questões relacionadas à
mediunidade (seção “c” do questionário) foram desenvolvidas a partir dos dados relevantes das
entrevistas transpostos ao nível cognitivo com o auxílio das teorias de papel de Hjalmar Sundén
(1966) e de crenças grupais de Bar-Tal (1990). Tais questões visavam coletar informações objetivas
relacionadas à percepção, às expectativas, às atribuições e às crenças referentes à mediunidade por
parte dos médiuns.
Estou consciente de que tais escalas e testes deveriam ser devidamente validados antes de
sua utilização nesta pesquisa para serem administrados com adequação e com todo seu poder
psicométrico. No entanto, reafirmo que não há a pretensão de que a análise correlacional
proveniente da utilização destes instrumentos seja imediatamente generalizável por conta dos limites
existentes. Os resultados dessa análise serão tomados, portanto, apenas como indicadores de uma
tendência a ser melhor delimitada em estudos que pretendo realizar posteriormente.
Os dados coletados pelas entrevistas foram analisados, de um lado, desde um ponto de vista
psicanalítico freudiano, e de outro a partir da aplicação da Teoria de Papéis à análise psicológica de
fenômenos religiosos realizada por Hjalmar Sundén (Sundén, 1966; Holm, 1995) e pela teoria da
crença grupal de Daniel Bar-Tal (1990) com o objetivo de fundamentar o desenvolvimento das
questões da seção “c” do instrumento objetivo (questionário) já mencionado. As teorias de Sundén e
Bar-Tal foram empregadas também na análise dos dados obtidos nesta seção (“c”) do questionário.
Do ponto de vista da análise de aspectos afetivos, os discursos dos médiuns foram
analisados segundo seu fluxo de representações na cadeia de associações livres a partir das suas
possíveis motivações inconscientes, de acordo com a teoria psicanalítica, com a finalidade de
reconhecer padrões de significação simbólica entre os discursos e as histórias de vida dos sujeitos.
Em relação aos aspectos cognitivos, deu-se ênfase às relações interpessoais enunciadas
pelos sujeitos nas quais foi possível reconhecer os papéis por esses assumidos e adotados (Sundén,
1966; Holm, 1995) com a finalidade de reconhecer os elementos de expectativa, atribuição e de
percepção que foram importantes na construção de um “quadro de referência mediúnico” da
realidade. Bar-Tal (1990) define as crenças grupais “como convicções que os membros do grupo (a)
estão conscientes de compartilhar e (b) consideram como definindo seu „sentido de pertença a um
grupo‟”. Os médiuns e adeptos da Umbanda que participam das atividades do centro pesquisado
serão considerados um grupo com crenças compartilhadas, já que se submetem a determinadas
normas, mantêm os mesmos valores, apresentam objetivos comuns definidos e uma ideologia grupal.
Para a análise dos dados obtidos na seção “b” do questionário (escalas e testes psicológicos
objetivos) foram adotados os modelos psicológicos cognitivistas de Bernstein e Putnam (1989) e
Carlson e Putnam (1993) no que se refere aos aspectos dissociativos, de Tellegen e Atkinson
(1974), Roche e McConkey (1990) em relação à absorção, de Spiegel (1974) no que se refere à
susceptibilidade hipnótica e de Eysenck e Eysenck (1964) no que se refere aos aspectos de
sociabilidade e bem-estar. Como está sendo hipotetizado, parece necessário que o médium tenha
algumas características cognitivas peculiares, distintivas dos não-médiuns, a saber: a capacidade de
controlar seus processos dissociativos e ter alto índice de abertura para experiências internas
(absorção). A dissociação, conforme os teóricos apontados, “é uma falha da integração normal de
pensamentos, sentimentos e experiências no fluxo da consciência e da memória”. (Bernstein &
Putnam, 1989, p. 727) A dissociação, que até meados do século foi categorizada apenas como um
processo patológico, “está sendo reconhecida tanto como um processo normal quanto como um
mecanismo que tem um papel importante na psicopatologia da maioria das desordens mentais”.
(Bernstein & Putnam, 1989, p. 727) A absorção é definida “como uma característica que envolve uma
abertura para experiências emocionais e para alterações cognitivas em grande variedade de
situações”. (Roche & McConkey, 1990, p. 91) A absorção sempre esteve relacionada com a hipnose
I Encontro Psi - Mediunidade: aspectos afetivos e cognitivos de um fenômeno psicossocial - Zangari 73

e a susceptibilidade hipnótica (Spiegel, 1974); a produção de imagens mentais, os sonhos durante a


vigília e a consciência; o processamento da atenção e às respostas psicofisiológicas. (Roche &
McConkey, 1990) Além da dissociação, da absorção e da susceptibilidade hipnótica, foram
consideradas a sociabilidade e o bem-estar entre médiuns e não-médiuns. Esta consideração
repousa no fato de que a visão tradicional da Psiquiatria em relação à mediunidade tem associado
esse fenômeno à psicopatologia. A sociabilidade e o bem-estar têm sido descritos como
correlacionados alta e positivamente à saúde mental. Como hipotetizado, esperava-se que a análise
destes dois fatores ofereceriam indicação de que, de fato, não existe correlação entre mediunidade e
doença mental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As interpretações da mediunidade parecem ter privilegiado, historicamente, no Brasil, um de


dois pontos de vista, a saber, o médico e o sociológico ou antropológico, ambos considerando-a
como fenômeno ligado ao psiquismo frágil e debilitado (Zangari, 1999). Não satisfeito com tais
interpretações, propus-me a realizar um estudo psicológico da mediunidade, valendo-me de métodos
e teorias consagrados dentro da Psicologia.
Do ponto de vista emocional, ligado mais à esfera pré-consciente e inconsciente dos sujeitos,
encontrou-se nos médiuns preponderância de aspectos identificatórios, fusionais, com a figura
materna. O fenômeno da identificação, em psicanálise, é central no que diz respeito à constituição
do sujeito. O fenômeno da identificação, ou o “processo psicológico pelo qual um indivíduo assimila
um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o
modelo dessa pessoa” (Laplanche & Pontalis, 1986), está na base da constituição da personalidade.
Foi no capítulo VII de Psicologia Coletiva e Análise do Ego, de 1921, que Freud apresentou, talvez,
sua melhor elaboração a respeito do conceito de identificação e diferenciou três modalidades deste
fenômeno. Primeira, “como forma originária do laço afetivo com o objeto”; segunda, “como substituto
regressivo de uma escolha de objeto abandonada” e, finalmente, terceira, “ não havendo qualquer
investimento sexual do outro, o indivíduo pode identificar-se com ele na medida em que ambos têm
em comum um elemento (desejo de ser amado, por exemplo): por deslocamento, será noutro ponto
que irá produzir-se a identificação (identificação histérica)” (Laplanche & Pontalis, 1986). Haveria,
pois, pelo menos duas maneiras, não excludentes, de compreender o fenômeno da mediunidade de
incorporação do ponto de vista psicanalítico, levando em consideração o conceito e as modalidades
de identificação. Como um resultado do laço afetivo estabelecido ulteriormente com o objeto e como
uma presentificação deslocada do objeto abandonado. Na primeira privilegiaríamos o aspecto
estrutural, a constituição do sujeito, fundada na identificação com o objeto. Identificar-se com a
posição feminina, por exemplo, significaria colocar-se “no lugar de”. Receptividade, submissão,
continência e passividade seriam as principais marcas estabelecidas culturalmente e adotadas,
inconscientemente, por aqueles que se estruturaram a partir dessa posição. Na segunda,
privilegiaríamos o fenômeno da mediunidade de incorporação do ponto de vista funcional, ou seja, do
papel da incorporação para o sujeito constituído. Incorporar uma entidade poderia significar,
simbolicamente, a ritualização das identificações, pela reatualização sistemática do objeto
deslocado. A entidade estaria no lugar do objeto, recuperando suas qualidades, interiorizando-as
ritualisticamente.
A mediunidade de incorporação teria como uma de suas características básicas, a
necessidade de que o médium estivesse em uma posição de entrega, tanto de seu corpo quanto de
sua mente, às demandas de entidades de uma instância considerada espiritualmente superior.
Idealmente, deveriam se ausentar, emprestando seus corpos aos espíritos e tornando-se
completamente inconscientes do processo de incorporação, apesar deste ideal quase nunca ser
atingido. Penetrando seus corpos, tais entidades agiriam segundo suas necessidades. A
incorporação poderia, assim, ser interpretada como um resultado ou efeito identificatório fusional
regressivo, culturalmente disciplinado, sem, necessariamente, qualquer conotação psicopatológica.
As entrevistas realizadas parecem confirmar esta hipótese. Não apenas os itinerários religiosos dos
médiuns dão conta de uma propensão à subserviência quase irrestrita aos pedidos e sinais
interpretados como originários do mundo espiritual, como também seus percursos pessoais não
religiosos parece ser marcado pela busca por parceiros afetivos (e profissionais) dominadores.
Não confirma esta hipótese o discurso e o comportamento da mãe de santo. Nela parece
preponderar os aspectos identificatórios masculinos. A partir da análise do papel da mãe de santo no
terreiro e da observação da relação desta com os filhos de santo é que esta característica aparece
de forma nítida. Sua ação estende-se para além do ambiente de ritual e religioso. É tida como
alguém que pode auxiliar o crente em toda e qualquer área das suas vidas. Não raro assume o papel
I Encontro Psi - Mediunidade: aspectos afetivos e cognitivos de um fenômeno psicossocial - Zangari 74

de mediadora em conflitos familiares ou na tentativa concreta de procura por emprego. Fora da


esfera religiosa nada acontece, segundo os crentes pesquisados, uma vez que sempre haveria uma
íntima relação entre merecimentos pessoais, pagamentos kármicos e as conquistas buscadas, sejam
elas no plano espiritual, sejam elas no território meramente mundano. A mãe de santo seria uma
espécie de “médium dos médiuns” no e para além do momento de culto. Nela os médiuns encontram
acolhimento e compreensão para as vicissitudes de suas vidas. É notável a ação disciplinadora da
mãe de santo não apenas sobre os médiuns, mas sobre as próprias entidades espirituais.
Comportamentos considerados não recomendáveis, como a utilização de linguagem grosseira ou
obscena, são repreendidos imediatamente na tentativa de “doutrinar” o espírito ainda com
necessidade de evolução moral. Do ponto de vista psicológico, o comportamento dos médiuns sob
transe se assemelha muito ao de uma pessoa que busca por limites, sobretudo durante o processo
de desenvolvimento da mediunidade. A mãe de santo, talvez por isso mesmo, “mãe de santo”, deve
estabelecer critérios de comportamento e a ordem no terreiro. Ou o espírito de comporta
adequadamente, ou é convidado clara e objetivamente a se retirar da sessão.
Exemplos poderiam servir para a melhor compreensão de nossa perspectiva. Já que
comentei algo a seu respeito, valer-me-ei, neste projeto, de dados extraídos da entrevista que me foi
concedida pela Mãe de Santo do terreiro que serviu como locus de coleta de dados. A seguir,
resumo a entrevista e, posteriormente, extraio dela trechos que podem apontar para certos
relevantes para a análise.
Nossa entrevistada, R., tem 40 anos quando da entrevista, dona de casa, casada, tem 3
filhas, nasceu em ambiente “mediúnido”. Seus pais, tios e avós mantinham uma prática mediúnica. A
avó paterna, na família, foi quem primeiro apresentou a mediunidade de incorporação, apesar de
nunca ter freqüentado qualquer grupo em que práticas mediúnicas fossem conhecidas e acolhidas. A
entidade lhe veio e tudo lhe ensinou. Assim, nossa entrevistada, desde criança, freqüentando os
trabalhos realizados em casa, via seus familiares incorporados. Aos dezesseis anos foram notados
os primeiros sinais interpretados como sendo manifestações de sua própria mediunidade: enquanto
estava com colegas de escola, desmaiava e era levada por esses até sua casa, arrastada, onde
recobrava os sentidos. É, então, levada às sessões de desenvolvimento em um centro de Umbanda
ao qual alguns membros da família freqüentavam e permanece por sete meses. A partir de então
vem trabalhando regularmente como médium de incorporação. Ele, por décadas, esteve à frente do
terreiro que constituiu por solicitação de uma de suas entidades. No entanto, um relacionamento
extra-conjugal o fez sair de casa e abandonar seus trabalhos religiosos. Nossa entrevistada
descreve tal situação com extremo pesar. O terreiro, então, permaneceu sob a tutela do único irmão
de R., quatro anos mais novo que ela. Apesar de resistir, R. assumiu a direção do centro, havia um
ano e meio, quando a empresa em que seu irmão trabalhava o transferiu para o Recife. Resistindo
às dúvidas pessoais e dos freqüentadores do centro, que receavam pelo seu preparo, tomou para si
tal responsabilidade com dedicação até o presente. É digno de nota seu relacionamento com o pai.
Declara, explicitamente, não aceitar o afastamento do pai e sentir-se roubada, colocando a culpa na
sua atual esposa, em sua própria mãe e, por último, ao pai. Sua ligação com ele foi marcada pela
admiração e pelo respeito. O pai é figura fundamental na vida da entrevistada, sendo quem mais
proximamente a instruiu em sua vida espiritual e não-espiritual. Com ele aprendeu desde os serviços
práticos domésticos até os mais profundos ensinamentos da vida espiritual. Do ponto de vista
psicológico, podemos dizer a figura paterna é central na formação de personalidade de R., a ponto
de identificar-se com suas qualidades masculinas. Nunca foi submissa. Define-se como „moleca‟,
tendo sempre preferido as brincadeiras de meninos. Não leva desaforo para casa e por várias vezes
se envolveu em brigas de rua em que sempre „levou a melhor‟. Irmão e primos conheceram sua fúria,
tendo sido vítimas de suas vigorosas palmadas e... socos. Diz não incitar a discussão ou a luta
corporal, mas quando a elas submetidas, prefere nelas permanecer. Vive um casamento de
conveniência. O marido sofreu um derrame cerebral após anos de ingestão de cocaína. Apesar de
poucas seqüelas motoras, depende dela para algumas das atividades mais básicas do dia-a-dia,
como o banho e o ato de se vestir, mas trabalha e é quem sustenta a família. Por ele não tem
afeição, senão pena. Não trocam carinhos, praticamente não se conversam. Apesar de dizer ter
tentado colocá-lo para fora de casa por várias vezes, revela temer por não ter como sustentar as
filhas. Apresenta-se como controladora, dominadora e líder, características importantes na
manutenção e organização da casa e do terreiro A religião é onde encontra as forças necessárias
para continuar sua vida, o único espaço para sua superação. Nas entidades encontra consolo e
energia. Na mediunidade, uma forma de auxiliar aos outros e recolher a força dos Orixás.
Mesmo em uma figura como R., para quem o controle parece ser tão fundamental nos
relacionamentos que estabelece, em suas atividades como médium de incorporação a posição de
entrega, é absolutamente necessária para uma “boa incorporação”. Entregando-se, não procurando
I Encontro Psi - Mediunidade: aspectos afetivos e cognitivos de um fenômeno psicossocial - Zangari 75

controlar suas ações, deixando os espíritos à vontade em seu corpo, estes podem realizar mais
facilmente suas atividades. No entanto, à primeira vista, essa entrega é incompatível com a
personalidade de nossa entrevistada, controladora, dominadora. Mas a mediunidade parece ser
fundada em elementos não tão conscientes e é necessário que avaliemos outras variáveis que
parecem jogar papel fundamental na questão. Aliás, a mediunidade será possível apenas e tão
somente se o médium tiver a capacidade de, momentaneamente, anular a força dos conteúdos de
sua consciência.
A incorporação se dá apenas quando o médium possui treinada a capacidade de entrega, de
perder-se na atividade, de livrar-se, momentaneamente de seu ego, por um ideal maior. Parecem
interagir aqui as capacidades de absorção e de dissociação a uma identificação com o papel, com a
função de médium. O treinamento que se desenrola durante as “giras de desenvolvimento” servem
como disciplinadoras das funções cognitivas ligadas ao desligamento da consciência, do
automatismo motor, mas também aos conteúdos que comporão, futuramente, as características das
entidades que trabalharão com o médium. São sessões de aprendizagem da religião, em que se
conhecem as características dos Orixás e, sobretudo, o papel desempenhado pelos médiuns em sua
comunidade. Tal papel é assumido pelo médium. Resumidamente, poderíamos afirmar que, em
primeiro lugar há uma aprendizagem da religião, das atribuições dos médiuns. Tal aprendizagem
afeta o sistema nervoso que é colocado em movimento para formar um padrão de compreensão,
reconhecimento e atuação, que começa a se formar e se desenvolve. Esse processo é inconsciente,
sendo apenas seus resultados conhecidos. O padrão formado estrutura a percepção e dá a ela
sentido. Esse processo é formado pela interação do indivíduo com seu meio cultural o que permitiu
Sundén (1977) considerar o papel como “um modelo comportamental que o indivíduo adota em um
conjunto interacional”. Os médiuns se identificam com o papel desempenhado pelas atividades das
entidades. Ao exercerem seu próprio papel, como médiuns, desempenham, ainda, o papel das
entidades, que deles necessitam para se expressar. R., desempenha tais papéis, além de outros que
lhe foram atribuídas, o de Mãe de Santo e de Doninha da Casa (resumidamente, responsável pelas
atividades culinárias e festivas do terreiro). Encontramos na biografia de R., elementos que apontam
para uma identificação masculina, relacionada ao pai. Seu caráter impulsivo, dominador, por vezes
agressivo e vingativo, nos fazem pensar nessa possibilidade. A influência de seu pai sobre ela é tida
como vital na formação de sua constituição e elementos afetivos mais profundos poderiam estar em
jogo em sua adesão à religião familiar e, principalmente, nos papéis assumidos, como o de Mãe de
Santo. Ela está, atualmente, no lugar do pai, concretamente a continuar seu trabalho. É notável, no
entanto, que este comando ela não houvera desejado, apesar de, de certa forma se gabar de ter
mantido o terreiro, apesar das dificuldades iniciais e sem as perdas de membros que o comando de
seu irmão resultara.
Tendo a pensar que a relação de R. com seu pai possa ser compreendida como fusional, em
que os limites entre ambos eram pouco claros para ela. Desde sua perspectiva afetiva, ambos
formavam um todo homogêneo que fora rompido de maneira abrupta pela intromissão de uma outra
na relação. Esta o “roubara”.
Tais elementos, propriamente da dimensão menos consciente, pretendo discutir com mais
profundidade na tese, comparando as várias trajetórias dos médiuns analisados.
Volto à consideração da análise da perspectiva cognitiva, mais consciente. Conhecidos
psicógrafos e psicopictógrafos brasileiros, como Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier) e Luis
Antônio Gasparetto, descrevem em suas biografias o início de suas atividades mediúnicas como
caóticas. Apenas com o treinamento prolongado, realizado sempre com o auxílio de outros médiuns
e mesmo dos espíritos que procuravam se manifestar, é que conseguiram o controle parcial ou total
de suas manifestações. Para assumir para o papel de médium, deixando-se ausentar durante a
incorporação, R. passou por momentos dramáticos de sofrimento durante seu desenvolvimento
mediúnico. Suponho que sua personalidade, tal como descrita por ele própria, como controladora,
dominadora, não facilitou o início do desenvolvimento mediúnico por ser antagônico às
características sobre as quais o papel de médium, em sua vertente de incorporação, se apóia.
Os aspectos considerados acima, dependentes da história de vida dos indivíduos, poderiam,
assim, representar importante fator no potencial para ser médium. Há fatores mais ao plano da
consciência que parecem ser não menos importantes nessa “escolha”.
O primeiro que gostaria de destacar são experiências pessoais, interpretadas como sinais da
existência do mundo espiritual. As entrevistas estão cheias de relatos de vivências dessa ordem.
Variam desde uma simples dor de cabeça até à “visão de um espírito”, de um tombo até a uma
“viagem astral”, de um sonho lúcido a uma previsão em sonho confirmada posteriormente em todos
os seus detalhes. Tais experiências, muitas delas vivenciadas por milhares de pessoas diariamente,
são, pelos médiuns, revestidas de um componente transcendente que os auxilia a compreender o
I Encontro Psi - Mediunidade: aspectos afetivos e cognitivos de um fenômeno psicossocial - Zangari 76

sentido destas no todo de suas vidas e suas próprias vidas nos desígnos da espiritualidade. Estamos
em um território em que a teoria de atribuição da causalidade poderia ser bastante útil para a
compreensão das razões que levaram tais indivíduos a interpretar certas ocorrências como
manifestações mediúnicas. No entanto, prendendo-me mais aos relatos, neste momento interessam-
me os fios que, em última instância, ligaram o fato à interpretação na vida concreta de cada um dos
indivíduos entrevistados. Aproximei-me, então, necessariamente, da análise da cultura. Os relatos
colocaram-me frente à ordem religiosa explicativa da realidade. Se é verdade que experiências
psicológicas “anômalas” - como as experiências fora-do-corpo e os sonhos realizados- não
disponham de explicações científicas aceitas em consenso e permaneçam quase que
exclusivamente abandonadas à análise religiosa, também ocorrências que poderiam ser
consideradas as mais comuns - como um tropeço na calçada - gozam de espaço no mundo
arquitetado por meio de interpretações religiosas. Os relatos dão conta de que foram exatamente
estas experiências, com suas respectivas interpretações, que levaram os indivíduos a se assumirem
como médiuns, ainda que, a princípio, resistissem a isso. Enquanto alguns tornaram-se médiuns por
meio de sintomas físicos medicamente não diagnosticáveis, outros receberam o que consideraram
verdadeiros chamamentos do mundo espiritual.
Os “apagamentos” de R. são um exemplo disso. Estas experiências foram interpretadas
O que poderia ser interpretado por alguns como ingenuidade ou irracionalidade, ou a
tentativa de acomodação de simples ocorrências cotidianas a referenciais desprovidos de razões
empíricas, de fato apresenta, em sua intimidade, uma relação direta com a busca por explicações
razoáveis. As interpretações religiosas apenas são aceitas na medida em que demonstram sua
capacidade de transformarem alguma situação ou que permitam ser demonstradas na realidade. A
experiência de confirmação é reconhecida, por exemplo, quando a enxaqueca desaparece como
preconizada ou quando, durante a consulta, a entidade espiritual mostra-se conhecedora de
informações sigilosas da vida do indivíduo. Estas experiências confirmatórias podem ser
interpretadas como materializações das crenças do grupo - difícil, no entanto, é reconhecer a
anterioridade de uma sobre a outra. Como veremos mais à frente, a própria mediunidade, como
fenômeno psicossocial, parece ter este caráter presentificador, realizador. Não basta, portanto, que
as crenças sejam bem encadeadas umas às outras ou que um médium as professe fora e dentro da
incorporação. A doutrina e a moral devem ser acompanhadas de demonstrações. Não basta que um
indivíduo se comporte como se estivesse incorporado por um caboclo. A encenação, ou
“mistificação”, é severamente punida e a boa mãe de santo (ou pai de santo) deve ter a capacidade
de distinguir falsos e verdadeiros médiuns.
Tais experiências “anômalas” não apenas são vividas como sinais comprobatórias da
realidade do mundo espiritual. São vividas, pelo médiuns, como provas de que a sua própria
mediunidade é real, ou seja, de que ele próprio não está se enganando no processo mediúnico,
falsamente reconhecendo conteúdos próprios como alheios. Sim, tal dúvida, seguida de tal
resolução, é algo recorrentemente encontrado nas entrevistas. Vejamos um exemplo. R. fala de sua
dúvida e de como a soluciona, a partir de uma experiência desse tipo.

R: As vezes, comigo acontece muito... as vezes eu escuto nitidamente: „vai


fazer tal coisa... vai fazer‟. Se quer ver uma assim que eu me lembro assim,
que é muito claro. Foi quando meu marido teve o derrame... eu... eu ia pra
casa da minha mãe de chinelo... eu morava um pouquinho mais ali pra
baixo, tinha que subir umas ruas e eu ia de chinelo mesmo. Eu falei: „não
vou bota sapato nada, eu vô de chinelo‟. Aí eu escutei assim: „Não vai de
chinelo, não, que é muito feio. Vai de sapato. Não vai de chinelo que é
muito feio. Vai de sapato.‟ E repetindo isso e eu disse: „Ah, tá bom!‟ Eu
cheguei a responder, sabe: „Tá bom!‟ Aí eu coloquei o sapato.
W: E você ouvia mesmo...
R: Ouvia, e foi muito claro...
W: Não era como um pensamento, era bem diferente de um pensamento?
R: Não, não. Era muito claro isso. Aí tá, eu peguei o sapato e coloquei. E
eu sempre deixava o chinelo na porta da sala, na porta de entrada da
casa... e nesse dia ficou no meu quarto. Ainda vim pra gira... tudo, voltei pra
casa, aí dei um lanche pras meninas... elas foram pro quarto delas... eu ia
fazer chocolate que eu ia fazer ovo de Páscoa naquele dia... aí o sapato
tava me apertando... falei: „Eu vou por o meu chinelo‟... aí tava no quarto...
aí foi quando eu bati na porta e ele já tava caído lá... agora se imagina se
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eu tivesse ido de chinelo... eu não ia subir... lá pro quarto... e ele caiu atrás
da porta e ficou travado entre a porta e a cama... ele prendeu assim e a
chave tava virada, porque ele tava tentando abrir e virou a chave e trancou.
Então, se imagina se eu tivesse ido pra casa da minha mãe de chinelo... o
sapato não ia me apertar... eu não ia procurar o meu chinelo que aquele dia
tinha ficado no quarto.
W: Isso era raro de acontecer?
R: Não, sempre ficava na sala!
W: Nunca ficava no quarto?
R: No quarto não! Ele ficava na sala porque a primeira coisa que eu faço
quando eu chego em casa... eu tiro o sapato e ponho o chinelo porque eu
não gosto de nada me apertando o pé, detesto. Então... e nesse dia não
tinha ficado no quarto! E porque: „não, vai de sapato, vai de sapato‟?
Imagina, se não tivesse me avisado... isso foi um aviso. Só que eu não ia
adivinhar o porque. Mas eu obedeci e eu fui. Geralmente quando isso me
acontece eu obedeço. Eu não sei porque, mas eu tô fazendo.
(...)
W: Para finalizar, eu sei que você ainda tem atividade no terreiro... Falando
dessa dúvida você disse que existem as provas da existência do espiritual.
Mas, mesmo assim, mesmo depois desses anos todos, você tem certeza
absoluta de que a entidade está ali?
R: Hoje em dia eu tenho. No começo do desenvolvimento a gente nunca
tem essa certeza. Mas o que a gente sente é muito forte. Apesar dessa
dúvida, que é totalmente natural porque você tá mexendo com uma coisa
que é desconhecida, uma coisa que não é visível, não é palpável, uma
coisa que a maioria não explica... e como ter essa certeza? Mas o que a
gente sente é muito forte. Então, como que a gente ia fingir tanto... já não
daria pra você inventar tanto... tudo bem que tem gente que tem
imaginação boa, mas acho que não chega a tanto. Aí vêm as provas. Não
que a entidade fique dando provas para os outros. Sabe, se você duvida, aí
já é um problema seu. Agora, eles dão prova pro próprio médium. As outras
pessoas acreditam se quiserem. Ninguém é obrigado a acreditar, como
ninguém é obrigado a freqüentar. Mas eles dão provas pro próprio médium,
para que o médium não desista. Então eles passam a vida toda mostrando,
dando a demonstração... porque não é uma coisa que a gente vê, não é
uma coisa que a gente pega, não é uma coisa que a gente sente o cheiro...
então, como você vai saber se tá ali ainda, se ele continua do seu lado?
Então, eles vão te mostrando que eles tão ali, que eles existem. Porque não
seria possível acontecer tanta coisa da imaginação da gente. Por exemplo,
como ia acontecer, no dia que ele teve o derrame, como que eu ia criar
essa situação de não ir de chinelo, se eu queria ir de chinelo. Como eu
mesma, com minha imaginação criar isso? Não tem. Então prova que é
real. Como muitas outras coisas que assim se não vai lembrar porque são
anos e anos e acontecem muitas coisas e que vão provando pra gente que
eles continuam presentes, tão lá. E a sensação, eu vou te dizer, é forte.
Não tem como inventar, como também não tem como explicar. É que nem
amor. Como você explica o seu sentimento de amor? Você pode traduzir
em palavras essa sensação? Não tem como explicar. E a incorporação é
igual, não tem como explicar. Porque é um sentimento, uma sensação. Algo
que você tá sentindo na hora. É complicado. É um assunto que cada um
tem uma visão diferente então dá muito assunto.

Quaisquer experiências podem ser interpretadas como sinal da espiritualidade, sobretudo


aquelas que para as quais pouca compreensão científica se tem. Mais importante é que tais
experiências, vistas como “comprovações espiritualidade”, provam, para os médiuns, que suas
atividades mediúnicas são genuínas e não farsas. Como conseqüência, a incorporação é vista, por
parte dos médiuns, não como uma atividade psicológica, mas como uma atividade religiosa que se
presta para a ação de entidades espirituais que têm uma missão bastante clara, a de auxiliar os
consulentes em sua evolução espiritual. Assim, os médiuns vêem a ação mediúnica não como uma
atividade de intermediação entre a „mundanidade‟ e a „espiritualidade‟, como se poderia esperar, mas
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como uma ação concreta, direta, dos espíritos, ali materializados, vivos, concretos. As palavras que
fluem das bocas dos médiuns não lhe pertencem. São produtos de uma realidade superior, mais
evoluída e, portanto, merecedora de crédito, de respeito. Tais conteúdos foram os que disciplinaram
os médiuns nesta atividade, quando de seu desenvolvimento; são os mesmos conteúdos que
resignificaram suas experiências (anômalas ou não); são os mesmos conteúdos de que são
proferidos aos consulentes em suas atividades mediúnicas; são os mesmos conteúdos que oferecem
força, ânimo para vencer os obstáculos da vida. Enfim, tais conteúdos, as crenças grupais, são
aquelas que conspiram, naquele contexto, a favor de uma unidade pessoal e grupal. São crenças
claras e compartilhadas que oferecem o terreno sólido para as relações interpessoais, para o
sentimento de pertença integrador. As crenças grupais seriam atualizadas, concretizadas, a partir da
presença dos espíritos que mediunicamente se comunicam, mas que são eles mesmos a falarem por
si e pelo grupo.
Para resumir, os médiuns teriam maior capacidade que os não-médiuns de controlar certos
processos cognitivos ligados à dissociação e à absorção, sem que isso resultasse, necessariamente,
de psicopatologia. Esta seria uma habilidade cognitiva que permitiria aos médiuns a plasticidade
necessária para o processo de “incorporação”, em que se assumem os papéis de entidades
espirituais; médiuns e não-médiuns não difeririam significativamente quanto à sociabilidade e ao
bem-estar, características fortemente correlacionadas à saúde mental; médiuns assumiriam um papel
fundamental em seu grupo religioso, por “incorporarem” as crenças de seu grupo; a mediunidade
teria sua força psicossocial por reatualizar as crenças do grupo de forma concreta, a partir da
presença dos espíritos, podendo ser considerada fundamental como garantidora da coesão grupal.
Voltemos às observações e entrevistas já realizadas. Lembramos que o papel disciplinador
da mãe de santo pode ser a chave para a compreensão de como se estabelece o desenvolvimento
da mediunidade de cada um dos médiuns. Os médiuns entrevistados relataram ter vivenciado
alguma experiência de mediunidade, ou seja alguma sensação, sentimento ou idéia, proveniente do
mundo espiritual em situações as mais diferentes de seus vidas. No entanto, todas estas
experiências se caracterizaram pela vaguidade e pela incontrolabilidade. Foram desmaios, sonhos,
perdas de identidade2 ou mesmo a visão de espíritos, sempre interpretados, retrospectivamente,
desde a perspectiva religiosa. Foram experiências em que se sentiam invadidos e perdiam a
gerência total de suas faculdades motoras, emocionais e cognitivas, verdadeiros arroubos
espirituais. No caso de R., os seus “apagamentos”. Acudiam ao pai ou mãe de santo que primeiro os
atendeu completamente sem possibilidade de controle de tais “invasões”.
O processo dissociativo parece ser plástico, amoldando-se aos perfis pessoais e culturais
nos quais se apóia. A dissociação, em suas manifestações religiosas, como já vimos, parece ser
fenômeno cognitivo normal, não correlacionado a fatores psicopatogênicos. Mas talvez seja nas
formas menos comuns, mais extremas e patológicas da dissociação que seu poder plástico por der
notado com maior clareza. As descrições de casos de histeria por Freud nos dão exemplos de quão
dependente de idéias, crenças, são tais manifestações. As perdas de consciência seguidas do
“estado segundo” e mesmo as paralisias que pareciam “não respeitar a fisiologia”, são alguns deles.
Mas poder-se-ia argumentar que, apesar de certo desenvolvimento interno de tais
manifestações, que se tornavam cada vez mais circunscritas e menos vagas, eram temporalmente
limitadas e cessavam à medida em que o tratamento se desenrolava. No entanto, não podemos
esquecer que tais manifestações dissociativas descritas na literatura psicológica, eram consideradas,
em alguma medida, patológicas e, portanto, deveriam ser eliminadas. Ao contrário, nas religiões
mediúnicas, as dissociações são consideradas um privilégio por serem interpretadas como uma porta
para a manifestação do mundo espiritual, devendo ser “desenvolvidas” e, pouco a pouco. Este
aspecto paulatino, de aprendizagem lenta e gradual, pode ser visto em algumas manifestações
dissociativas já plenamente tidas como patológicas, mas que parecem se desenvolver por si sós e de
maneira quase ilimitada. Os casos de dupla ou múltiplas personalidades descritos na literatura
psiquiátrica (ex: Braun, 1986) são exemplos de como certas habilidades são treinadas, involuntária e
inconscientemente, com o tempo. Um dos primeiros casos descritos na literatura especializada foi o
de Hélène Smith, investigada por Flournoy (1963). A moça desenvolveu, sob seguidos estados de
alteração de consciência, novo idioma - o marciano - com gramática e vocabulário próprio.
Posteriormente, com o auxílio do linguísta Ferdinand Saussure, Flournoy reconheceu que a aparente
língua marciana não passava de uma corruptela do idioma francês, que Hélène dominava. Houve,
portanto, uma utilização do material conhecido, que se rearranjou para uma finalidade específica.

2
Há relatos de uma alteração abrupta de personalidade em que o sujeito não se reconhecia e, ao ser
interrogado, dava informações biográficas que em nada se assemelhanvam às suas.
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Assim parece ser com os médiuns. A cultura religiosa serve para os propósitos dissociativos e vice-
versa.
A principal conclusão desse trabalho é que a mediunidade é um fenômeno psicossocial em
que estão em jogo aspectos individuais, grupais e culturais. Os médiuns seriam pessoas capazes de
controlar alguns de seus processos cognitivos, principalmente os processos dissociativos, para
materializarem as crenças do grupo por meio do fenômeno da incorporação. Os médiuns assumiriam
um papel fundamental em seu grupo religioso já que seriam eles a “incorporarem” as crenças do
grupo. A capacidade de ser médium representaria status psicológico, um lugar privilegiado entre os
adeptos da religião. As representações em torno da mediunidade são de prestígio. O aspecto
fundamental da mediunidade seria a sua força psicossocial em reatualizar as crenças do grupo de
forma concreta do ponto de vista dos adeptos da religião. O contato direto com os espíritos
possibilitaria uma forte demonstração da correção das crenças do grupo, uma “prova material”, como
costumam dizer. Nesse sentido a mediunidade poderia ser considerada como uma garantia da
coesão grupal.

REFERÊNCIAS

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Mesa Redonda
Transtorno dissociativo x mediunidade:
um encontro entre a Parapsicologia e a Psicopatologia

Wellington Zangari

Pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Psicologia Social da Religião,


Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da USP
&
Coordenador do Inter Psi – Grupo de Estudos em Semiótica, Interconectividade e Consciência,
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP

O fenômeno da mediunidade foi, historicamente, estudado por pesquisadores psi


sistematicamente desde o tempo da London Society for Psychical Research (Alvarado, 2002;
Ellemberger, 1976 / ex: Flournoy, 1911, 1936). Assim como outros fenômenos, como o da hipnose,
também este deixou de sê-lo com o tempo, sobretudo porque se conheceram melhor sua natureza.
Psi permanece sendo uma anomalia e, portanto, permanece fora do escopo das ciências clássicas.
Já o estudo da mediunidade migrou, lentamente, para o estudo da Psiquiatria, da Psicologia e das
Ciências Sociais (principalmente da Antropologia). Foi considerada exclusivamente como
manifestação de histeria ou esquizofrenia por parte dos primeiros pesquisadores de abordagem
médica (Costa, 1975; Maléfan, 1999; Oliveira, 1931; Querino, 1955; Ribeiro & Campos, 1931;
Ribeiro, 1978). Com o avanço das pesquisas antropológicas, mudou-se o eixo de análise, por
considerar o fenômeno em sua dimensão cultural, não exclusivamente individual (Augras, 1983). Ao
mesmo tempo, tivemos o advento da etno-psiquiatria, cujo objetivo é o de reconhecer as raízes
culturais dos comportamentos humanos. Da parte da Psicologia (e também das Ciências Cognitivas),
tivemos o incremento de novas teorias a respeito do funcionamento da mente, para as quais o
normal e o patológico só podem ser considerados dentro de um contexto de significações
compartilhadas (Krippner, 1986). Assim, a mediunidade pode ser compreendida como fenômeno
psicossocial, em que estão em jogo elementos culturais (crenças grupais, símbolos
compartilhados...), cognitivos (alterações de consciência, dissociação, aborção, susceptibilidade
hipnótica...) e afetivos (processos identificatórios primários e secundários). Em resumo, os médiuns
são pessoas treinadas a regularem certas funções cognitivas (e consequentemente neurológicas)
com a finalidade (nem sempre consciente) de materializarem as crenças grupais. Evidentemente, o
fenômeno de dissociação é o mais flagrante em todo o processo. Dissociação supõe uma ruptura no
funcionamento integrado de módulos cognitivos da consciência como a memória, a motricidade e a
identidade (Braun, 1988; Carlson & Putnam, 1986; Hilgard, 1992; Krippner, 1997). Durante o período
de transe a consciência pode se perder e tais módulos operam de maneira automática, mas nem por
isso caótica. As memórias, a motricidade e a(s) identidade(s) é dirigida em função do que o médium
possui como cultura (crenças grupais) (Bar-Thal, 1990). Portanto, no caso específico da
mediunidade, não podemos falar de dissociação necessariamente como algo patológico. (Krippner,
1986, 1987, 1989, 1997) Assim como em outros casos (esportistas, artistas dramáticos, músicos...) a
dissociação pode ser considerada como normal e culturalmente disciplinada, ao contrário dos casos
de desordens de identidade, em que as personalidades alternantes emergem independentemente do
contexto cultural. (Martinez-Taboas, 2001) Um médium, por exemplo, não entra em transe no ônibus,
mas durante um ritual, em local apropriado. Tenho usado alguns instrumentos objetivos para
comparar a saúde mental de médiuns e não-médiuns, com resultados semelhantes a outras
pesquisas: não há qualquer diferença entre tais grupos quanto à variável "normalidade". A
Psicopatologia afasta a mediunidade de um diagnóstico de "transtorno dissociativo", por não
considerá-la um resultado de fatores etiológicos desencadeadores de uma moléstia mental, mas de
fatores psicossociais em que a mediunidade é um fenômeno esperado em determinado contexto.
Assim, deveríamos falar da mediunidade como um fenômeno dissociativo não-patológico. As
desordens dissociativas geralmente resultam de fatores como estresse por tempo prolongado,
situações extremamente traumáticas (como o estrupo sistemático na infância ou um acidente ou,
ainda, uma situação de sequestro). (Martinez-Taboas, 2001; Braun, 1986). As vítimas dessas
situações podem desenvolver desordens dissociativas (perda de identidade, amnésia, alternância de
personalidade...) como forma de proteger o psiquismo das agressões sofridas permanentemente.
Seria, portanto, uma defesa. O sujeito se "ausentaria" temporáriamente como forma de evitar o
I Encontro Psi - Transtorno dissociativo x mediunidade: um encontro entre a Parapsicologia e a Psicopatologia - Zangari 82

sofrimento. A mediunidade por outro lado, não é fruto desses fatores, mas de um ambiente de
educação de processos dissociativos. Alguns teóricos e clínicos (Alvarado, 2002; Taboas, 2001)
sustentam que em algumas atividades sociais bastante bem conhecidas e tidas como positivas tais
processos estariam presentes, como certas categorias de esporte, como a arte dramática e a música.
Por trás do que se costuma chamar de "concentração" ou "inspiração" poderia haver um conjunto de
fatores cognitivos agindo, como a dissociação e a absorção, processos normais, que podem ser
integradores do sujeito ao seu grupo, ao invés de emergirem como mecanismo de defesa de
processos psíquicos mais ou menos conscientes.

REFERÊNCIAS

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Mesa Redonda
Transtorno dissociativo x mediunidade:
um encontro entre a Parapsicologia e a Psicopatologia

MEDIUNIDADE X TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS,


ASPECTOS TEÓRICOS E CLÍNICOS
Reginaldo de Castro Hiraoka

Diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Psicobiofísicas (INPP), professor do Curso Livre de


Parapsicologia das Faculdades Integradas “Espírita”

A Mediunidade se diferencia dos Transtornos Dissociativos. Isto se evidencia através de


diagnóstico diferencial.
A Mediunidade é um fenômeno em que a pessoa é tomada ou se comunica com uma
personalidade morta, ou mais especificamente, é influenciada por um “espírito” ou consciência e
serve como canal ou meio de comunicação entre os vivos e os mortos - por isso o termo médium
comumente usado (Barrionuevo, 1995).
No que diz respeito às características da Mediunidade (GAULD,1986; ISTO É, 1998;
CARDOSO, 2000; NEGRO et all, 1997) podemos citar: desmaios e convulsões cuja causa os
médicos não conseguem diagnosticar com exames físicos; movimentos incomuns do corpo;
grunhidos, mudanças da expressão facial; anestesias localizadas; “incorporação de vários espíritos”;
causa de possessão por “espíritos”; controle sobre a vontade do médium sobre o fenômeno.
Nos Transtornos Dissociativos, as características principais parte de distúrbios entre funções
psicológicas normalmente integradas como a consciência, memória, orientação e psicomotricidade
(CID-10, 1993). O Transtorno Dissociativo é a discordância entre o pensar, agir e sentir da pessoa.
Dentre essas, podemos citar algumas mais específicas (CARDOSO, 2000; CID-10, 1993): tremores e
tiques; simulação superficial de doenças neurológicas; lesões espontâneas na pele; anestesias
limitadas e hiperestesias; múltiplas personalidades; alucinações de conteúdos internos; desejo de
obter simpatia através de ganhos secundários; fuga de determinada situação estressante; traumas ou
problemas intoleráveis para a pessoa; não tem controle sobre a situação.
O processo de diagnóstico diferencial é evidenciado no CID-10, que seria a Classificação de
Transtornos Mentais e de Comportamento, descreve que deve ser também levado em consideração,
o contexto em que a pessoa está inserida, pois a cultura daquela região pode considerar, quando a
pessoa ouve, conversa ou é tomado por uma consciência alheia a dela, como um fator normal ou até
de função.
A Mediunidade é um fenômeno da consciência humana que aparece em várias civilizações,
foram interpretadas ao longo da história como oriundas de caudas sobrenaturais ou misteriosas. Os
chineses do séc. XVIII a/C praticavam o culto aos antepassados, para entrar em comunicação com
parentes desencarnados para obter informações, submetiam-se aos rituais, acompanhados de
música e danças giratórias que conduziam a um frenesi coletivo de convulsões, saltos e corridas
desenfreadas, até conseguirem cair no transe como meio de participação com o mundo dos mortos.
Na Grécia, eram as pitonisas que eram possuídas por Apolo.
Na atualidade, encontramos a Mediunidade no espiritismo que é a condição necessária para
se entrar em comunicação com os desencarnados. De maneira semelhante, os cultos Afro-brasileiros
(Candomblé, Umbanda, etc.) vêem nele o caminho mais fácil para se comunicarem com as
divindades e outras entidades. Nas tribos indígenas, os Pajés entram com contato com os
antepassados e espíritos da natureza, para buscar auxílio para a tribo, neste caso, podem ser
encarados como função social, e de muita responsabilidade, o qual tem todo um aspecto rigoroso
para que um integrante possa ter esse papel nas tribos.
No caso da Mediunidade, há de se considerar que o conteúdo da informação que o médium
acessa pode, posteriormente ser feito comprovado a evidência ou a realidade objetiva (Barrionuevo,
1995). O Caso investigado “Ruytemberg Rocha”, em 1971 pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa
Psicobiofísicas- I.B.P.P., coordenado pelo Engenheiro e Parapsicólogo Hernani Guimarães Andrade
valida essa afirmação. Uma senhora numa sessão espírita começou a manifestar outra
personalidade, que se identificou como Ruytemberg Rocha, sendo este aluno da Escola Oficial das
Forças Públicas do estado de São Paulo e que havia falecido em 1932 com um estilhaço na cabeça.
I Encontro Psi - Mediunidade x Transtornos Dissociativos, aspectos teóricos e clínicos - Hiraoka 85

Declarou dados pessoais, como data e local de nascimento, nome dos pais, apelidos particulares e
de que forma morreu, os quais foram posteriormente encaminhado ao Psiquiatra e Parapsicólogo
Alberto Lyra e depois investigados e comprovados pelo I.B.P.P. (ANDRADE, 1983).
Já no caso dos Transtornos Dissociativos, as informações são divagações de conteúdos
internos, alucinações e se utiliza mecanismos de defesa de racionalização para explicar as
situações, projeção de situações de conflitos internos em outras pessoas, e negação de fatos
acontecidos consigo mesmo.
Na pesquisa feita pelos Psiquiatras Paulo Jácomo Negro, Jr. e Mário Rodrigues Louzã, Neto
publicada no ano de 1997, e intitulada “A Natureza da Dissociação: Um estudo Transcultural sobre
Experiências Dissociativas Relacionadas à Prática Religiosa” chegaram a seguinte conclusão sobre
72 pessoas que participavam de sessões de mediunidade: presença de alto grau de satisfação e
felicidade a despeito de comportamento dissociativo religioso proeminente; ausência de história
significativa de abuso na infância, inclusive abuso sexual; aprimoramento do comportamento do
comportamento dissociativo com treinamento religioso.
Essa pesquisa levou os pesquisadores a deduções sobre a dissociação, que pode estar não
presente como mecanismo de defesa, mas como parte de comportamentos religiosos e socialmente
adaptativos, portanto, não necessitam de tratamento.
Em um noticiário científico sobre “Relação entre Distúrbios Dissociativos e Abuso Sexual na
Infância” publicado no Am J. Psychiatry, 1998, 155:806-811, encontrou-se o seguinte resultado nos
sintomas: não ouvir o que outras pessoas dizem; episódios de esquecimento; comportar-se de
maneira inesperada; ter impressão de que uma fantasia foi real; ter a impressão de que um fato real
não ocorreu, foi uma fantasia; episódios de sensação de estar revivendo ocorrências e sensações de
não estar num mundo real.

O ENFOQUE CLÍNICO

Na observação para diagnóstico de uma pessoa que traz uma situação de mediunidade, há
de se fazer um diagnóstico diferencial, evidenciando as características do fenômeno e de Transtorno
Dissociativo. Para tanto deve-se também fazer verificações quanto às Funções Psicológicas
principalmente as de Consciência - é o reconhecimento da realidade interna e externa em um
determinado momento, e a capacidade de responder a estímulos; Memória - capacidade de registrar,
fixar ou reter, evocar e reconhecer objetos, pessoas e experiências passadas; Orientação -
capacidade do indivíduo de situar-se no tempo, espaço ou situação de reconhecer sua própria
pessoa; e Psicomotricidade - refere-se à maneira como a atividade física se relaciona com o
funcionamento psicológico, considerando aspectos qualitativos e quantitativos (CORDIOLI, et all,
2000).
Na mediunidade a sensibilidade da pessoa assume um processo intencional, onde a pessoa
está servindo de canal, torna-se consciente de ter esta habilidade e acesso a informações através de
vidência, clarividência “intencional”, precognição ou retrocognição e relatam receber informações de
“espírito desencarnado”. Geralmente os problemas com mediunidade não são tão graves (ALLEN,
1988). A procura de ajuda das pessoas portadoras de mediunidade geralmente diz respeito a:
desenvolver mais suas habilidades psíquicas; tratar dos sentimentos opressivos da própria habilidade
ou de algum tipo de informação que obtiveram; tratar da ansiedade; tratar de sentimentos de culpa e
aflição, resultantes do não conhecimento de quando e como descobriu certos tipos de informações;
inadvertidamente opressos pelos clientes; tratar do “esgotamento” resultante do sentimento de
responsabilidade de fazer alguma coisa, com a informação, especialmente quando é de natureza
negativa.
Existe uma analogia significativa entre os problemas apresentados aos clínicos e orientadores
que tem freqüentemente este tipo de contato (ALLEN, 1988).
O profissional que não está familiarizado com a fenomenologia psíquica, nem aberto para
este aspecto da consciência humana, pode retirar a validade dos relatos de habilidades psíquicas
apresentadas pelas pessoas, e em vez disto, interpretar a revelação como evidência de grandiosa
ilusão, indicativa de Transtornos Dissociativos apresentadas pelas pessoas.

CONCLUSÃO

As características documentadas em livros sobre o assunto mediunidade nos permite fazer


um quadro do fenômeno, e através das pesquisas efetuadas na Parapsicologia e da Psiquiatria,
pode-se traçar igualdades e diferenças entre a mediunidade e os transtornos dissociativos. As
principais características são quanto ao conteúdo do que a pessoa traz nessas experiências que
I Encontro Psi - Mediunidade x Transtornos Dissociativos, aspectos teóricos e clínicos - Hiraoka 86

podem ser posteriormente verificadas; o contexto cultural em que está inserida; a vontade sobre o
fenômeno; a dissociação sem fatores psicopatológicos.
Essa perspectiva é de suma importância para os profissionais que trabalham com o psiquismo
humano, seja da área de Parapsicologia, Psicologia ou Psiquiatria, tendo em vista o diagnóstico que
podem ser levantados pelas características do fenômeno. Cada qual, deve a um atendimento
adequado e pelo profissional da área de competência e muitas vezes o melhor atendimento é
encaminha-lo para esse profissional.
As pesquisas são de suma importância para os que trabalham na Orientação dos fenômenos
psíquicos e Transtornos Mentais, isso também se evidencia no DSM-III, onde as pessoas que se
comunicavam com espíritos, seja ouvindo, vendo ou sentindo, era caracterizado como histérico, e
como tal era tratado. No DSM-4 E CID-10, a abordagem é descrita quando o fenômeno causa
perturbação clinicamente significativa para a pessoa e também está ela, fora de um contexto
socialmente aceitável. Evidenciando assim que a Mediunidade e os Transtornos Dissociativos se
diferenciam pelas características, tanto de origem quanto de percepção.

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Mesa Redonda
Transtorno dissociativo x mediunidade:
um encontro entre a Parapsicologia e a Psicopatologia

TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS

João Artur Borges Winkelmann

Professor do Curso Livre de Parapsicologia das Faculdades Integradas “Espírita”

Os Transtornos Dissociativos revestem-se de grande importância no que tange as confusões


diagnósticas atribuídas a eles, nas áreas médicas e áreas afins. Enquanto na Psiquiatria são vistos
como uma desintegração entre a memória, orientação autopsíquica, sensopercepção e
psicomotricidade, na Neurologia podem ser confundidos com alterações neurológicas, como as
causadas pela epilepsia. Já na Psicologia a desintegração entre o agir, sentir e pensar ("histeria", na
concepção psicanalítica) é o foco requisitado, enquanto que na Parapsicologia o parâmetro passa a
ser os fenômenos mediúnicos.
Diante de tantas concepções explanando os mesmos sintomas, o estar pensando juntos
sobre suas definições possibilita uma tomada mais precisa na atuação diante das pessoas que são
acometidas pelos Transtornos Dissociativos, que, com certeza, padecem, sentem-se diferenciadas
das demais, tornam-se mais sensíveis às frustrações, predispõem-se muito mais a ter comorbidades.
O manejo terapêutico dessas situações depende de uma coleta de dados o mais completa possível,
um aprofundamento no estudo dos sintomas externos e internos e uma orientação adequada e
personalizada para cada pessoa portadora dos mesmos.
A PSI E A MEDIUNIDADE E A MAIOR IDADE: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Cristina Tavares da Costa Rocha - lcrocha@netpar.com.br

Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas (IBPP)

RESUMO
Este é um estudo exploratório sobre a psi e a mediunidade e a Maior Idade. O
locus/cenário da pesquisa é uma faculdade particular de Curitiba-PR. Os informantes
que integram o grupo da Maior Idade – um dos núcleos dessa faculdade – são vistos
tanto como sujeitos que experienciaram fenômenos evidencialmente revestidos da
paranormalidade e da espiritualidade, quanto como fontes de informações sobre
estes fenômenos ocorridos com seus conhecidos e/ou parentes. A pesquisa
desenvolve-se sob inspiração da Teoria Corpuscular do Espírito. A metodologia
centra-se prioritariamente na qualitativa, de cunho interpretativo, com técnica de
coleta de relatos livres, orais e escritos, feitos pelos informantes. Visando a reforçar
os dados daí emergidos, opta-se, adicionalmente, pelo método quantitativo, com a
aplicação de questionário. Dado o caráter exploratório desta pesquisa, os resultados
obtidos devem ser considerados parciais.

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta um recorte em amplo projeto de pesquisa que visa ao estudo da
manifestação da psi e da mediunidade em sua interface com a Maior Idade. Estudar, pesquisar, e
registrar as experiências próprias dos integrantes de um grupo da Maior Idade – enquanto repositório
da memória de ocorrências de fenômenos nessa área de investigação – e/ou experiências relatadas
por eles, ocorridas com seus parentes e/ou conhecidos, é o objetivo geral deste projeto. Os objetivos
específicos são: levantar a literatura já existente sobre este tema; verificar se as funções psi se
manifestam nessa faixa etária, identificar e classificar os tipos dessas manifestações; verificar seus
efeitos nos sensitivos/as e médiuns após vivenciarem estes fenômenos; e obter, tanto quanto
possível, evidências observacionais experimentais da realidade dessas manifestações. Para se atingir
estes objetivos recorre-se à estratégia metodológica qualitativa de cunho interpretativo. Ainda,
complementa-se com a metodologia quantitativa, no intuito de reforçar dados obtidos
qualitativamente. Enfatiza-se que a pesquisa ainda está em andamento. Portanto, as considerações
parciais apontadas neste artigo devem ser encaradas como preliminares, visto o caráter exploratório
de que ela se reveste, demandando pesquisas mais abrangentes e aprofundadas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a terceira idade é considerada a partir de
sessenta anos, quando então há necessidade da pessoa receber mais atenção, ante as
transformações fisiológicas que começam a se acentuar. A legislação brasileira acompanhou a
orientação da citada entidade estipulando o mesmo limite inicial de idade (art.2º, Lei 8.842, de
04.01.94)1. No entanto, para o desenvolvimento desse trabalho, foca-se a conceituação mais na
―sensação‖ de velhice – que caracteriza e prioriza o estado mental e psíquico da pessoa - do que na
idade físico-cronológica. Isto porque já fez parte do grupo, antes da decisão sobre o início desta
pesquisa, pessoas com cerca de 35 anos de idade, portanto não sendo abrangidas pela idade
definida tanto pela OMS quanto pela legislação brasileira, mas que diziam se sentir como se fossem
mais velhas.
Segundo o jornalista Gilberto Dimenstein, em artigo publicado no jornal ―Folha de São Paulo‖,
em 29 de junho de 1997, há, nos Estados Unidos da América, 61 mil pessoas com idade superior a
100 anos; de acordo com estimativas oficiais, esse valor será quatro vezes maior em apenas uma
década. Além disso, os idosos com mais de 80 anos estão esbanjando saúde, já que fica evidenciado
que estão física e intelectualmente mais ativos, exercitando cérebros e músculos, derrubando o mito
de que idosos que não produzem sobrecarregam os cofres dos governos, pois viram um ―poço‖ de
doenças. Estão mais saudáveis, visto terem acesso a melhores alimentos, mais saudáveis, além de
obterem medicações mais aprimoradas em laboratórios. Diz Dimenstein: ―é o fim da velhice, como a

1
Para se obter maiores informações acessar o site: < http://www.aultimaarcadenoe.com.br/idosos.htm > Acesso em 02 nov 2002.
I Encontro Psi - A psi e a mediunidade e a maior idade: um estudo exploratório - Rocha 89

conhecemos!‖ Os idosos, vivendo mais tempo e com melhores padrões de vida, têm sido tema de
algumas das maiores revistas semanais, como ―Newsweek‖ e ―U.S.Report & World Report‖, além das
nacionais. Hoje, há 380 milhões de pessoas no mundo com mais de 65 anos. Estimativas da OMS
apontam que, nos próximos 25 anos, a população de idosos terá aumentado 82%, ficando em torno
de 690 milhões.2 A OMS prevê que, até 2005, o número de idosos no Brasil aumentará de onze para
trinta e dois milhões.3
Portanto, os idosos estão mais presentes e atuantes do que nunca nas sociedades pós-
modernas, justificando que também a área da Parapsicologia e da Psicobiofísica reconheça-os como
sujeitos capazes de ações revestidas da paranormalidade e da espiritualidade. Assim, entende-se
importante e mister valorizar-se a história e a experiência de vida da Maior Idade, contribuindo para
mantê-la e/ou reinseri-la no contexto sociocultural ativo de nosso país.
Em vista deste cenário, fizeram-se reflexões, a posteriori, sobre o início de um outro trabalho
– encarado como a gênese deste – que, em dezembro de 1996, integrou uma brochura intitulada
―Despertar de Consciências: Novos Tempos‖, enfeixando relatos de membros de um grupo da Maior
Idade. As narrativas foram consideradas válidas visto terem causado impacto em suas vidas,
valorizando informações e situações inusitadas que teimam em colocar em xeque a ortodoxia
científica vigente nos centros mundiais do saber. Os resultados obtidos serviram como provocadores
para pesquisas futuras, em oposição a conclusões finais e totalizantes, visto estes informantes terem
sido identificados também como fontes confiáveis e inesgotáveis de informações de ocorrência de
fenômenos paranormais e espirituais, ocorridos com eles próprios ou com parentes e conhecidos.
Mister pontuar-se que informações sobre esses fenômenos podem ser obtidos também através
destes métodos que priorizam a memória das comunidades – encaradas como conhecimento tácito,
aquele que não é nem sistematizado, nem organizado e nem obtido nas academias e universidades e
mesmo contextos escolares –. Mas trata-se, igualmente, de um conhecimento que se perpetua
através dos membros das comunidades, muitas vezes, tão importante e digno de registro quanto o
conhecimento formal e organizado, considerado, portanto, como científico.
Deste modo, entende-se que também essas informações obtidas no cotidiano devem ser
registradas pelo pesquisador, atento ao seu dia-a-dia e aos fatos narrados por diversas pessoas. E, a
partir deles, iniciar pesquisas metódicas, embasadas teórica e metodologicamente, analisando os
dados obtidos e chegando a resultados que devem ser expostos de forma acadêmico-científica, para
também obter o parecer e as críticas de seus pares. Os depoimentos das pessoas consideradas
comuns devem ser valorizados, visto que suas memórias são fontes de registros que, quando
expressas, dão-nos elementos para a ―reconstrução‖ da história, hábito que infelizmente o
pesquisador brasileiro, no geral, não adquiriu. A memória não é um substituto do documento escrito,
mas é importante pelas razões aqui apontadas.

EMBASAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

A literatura que integra o marco teórico que fornece embasamento para esta pesquisa
converge para a aceitação de que algum elemento da personalidade do Ser sobrevive após a morte
do corpo físico. Este elemento seria a alma, postulada como uma realidade ―cuja função é vivificar a
matéria, sendo, portanto, sua ‗causa efficiens‘ ‖, segundo o pesquisador Eng. o Hernani Guimarães
Andrade, fundador e presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas (IBPP). A ESP,
para ANDRADE (1984, p. 214), ―é, na realidade, uma função do ‗corpo espiritual‘ que, em algumas
ocasiões, se extravasa para a nossa consciência, permitindo-nos ‗sentir‘ sem os sentidos.‖ Ainda, a
mediunidade é entendida neste trabalho como uma ―afinação especial da sensibilidade‖ e não como
―doença, nem indício de desajuste mental ou emocional. Ela é um fenômeno natural, um dos múltiplos
aspectos da própria vida‖ (MIRANDA, 1991). Portanto, a partir dessa abordagem teórica, tenta-se
obter evidências observacionais e experimentais da realidade do Espírito, sua pré e pós-existência
relativamente à fase atual de vida no corpo físico, à possibilidade de seu intercâmbio conosco e à
constante interação dos Espíritos com os encarnados e com o nosso meio ambiente.
ANDRADE (1984, p. 54), na busca de um aprofundamento sobre os mecanismos implicados
nas ocorrências de fenômenos marcados por características paranormais e/ou espirituais – dentre
eles os mediúnicos e os da obsessão tratados neste artigo –, propõe a Teoria Corpuscular do Espírito
na qual descreve o modelo do Espírito como sendo: ―uma individualidade feita de ‗matéria Psi‘ que
tem uma estrutura tetradimensional, possuindo uma ‗cúpula‘ e um ‗domínio informacional histórico‘ ou
Modelo Organizador Biológico (MOB) – capaz de atuar sobre a matéria orgânica e provocar-lhe o
desenvolvimento biológico. Este modelo, representado como uma figura tridimensional para facilitar a
sua compreensão, é formado por dois cones com bases justapostas. O cone de cima representa a
2
Maiores informações ver o site: < http://www.uol.com.br/saude/noticias/sd001020.htm > Acesso em 31 out 2002.
3
Maiores informações ver o site < http://www.google.com.br/search?q=idosos> Acesso em 31 out 2002.
I Encontro Psi - A psi e a mediunidade e a maior idade: um estudo exploratório - Rocha 90

cúpula espiritual, que tem em sua base, o corpo astral; e, o de baixo, o MOB e, na sua base, o corpo
vital‖4.

Figura 5 extraída do livro de ANDRADE (1984,


p.53).
A metodologia privilegiou a qualitativa
de cunho interpretativo – que objetiva descrever
e interpretar os acontecimentos, compartilhando
significados e representações (CHIZZOTTI,
1991), com registro de relatos orais e escritos
feitos por integrantes do grupo da Maior Idade.
Porém, esta opção não está em oposição à
pesquisa quantitativa; ao contrário, ambas
podem ser complementares na busca e na
produção do conhecimento, já que ―o dado
qualitativo é uma forma de quantificação do
evento qualitativo que normatiza e confere um
caráter objetivo à sua observação‖ (PEREIRA,
1999, p. 21). Portanto, aplicou-se, ainda,
durante os anos 1997 e 1998, um questionário 5.,
cujos resultados, após tabulação das respostas,
serviram para reforçar dados obtidos
qualitativamente. Para fortalecer estas opções,
resgato DEMO (2001, p. 106), o qual, ao se
referir à dicotomia entre estas duas abordagens
metodológicas – a qualitativa e a quantitativa –
afirma que ―o método de captação não pode ser
mais importante do que a realidade a ser
captada [e] permanecer apenas em
interpretações (qualitativa) sem referências
estruturais (quantitativa) seria responder a um
erro com o erro oposto.‖
Os relatos foram escritos – alguns foram
a priori verbalizados oralmente, extraídos do
que se convencionou chamar de ―arquivo
provocado‖, visto ser formado após a finalização do fenômeno. Desta maneira, a intenção é resgatar
situações, mesmo que atreladas ao subjetivismo (THOMPSON, 1992). Entende-se que há, na
memória das pessoas – que pode ser resgatada tanto como recordação verbalizada de eventos e
fenômenos passados, quanto como relatos escritos – experiências que incorporam também a
intensidade dos sentimentos envolvidos e essa memória continua presente, quando exposta, ―na voz,
nos gestos, na expressão fisionômica‖ dos informantes (MARTINS, 2000). Em suma, mesmo sabendo
de algumas limitações aos relatos advindos da memória, resgatada tanto através de narrativas de
experiências orais quanto escritas, eles são entendidos como recursos metodológicos (TRIVIÑOS,
1987) que nesta pesquisa foram levados em consideração. Isto porque, de outra forma, estes
registros, considerados pela pesquisadora como importantes para a área da paranormalidade – visto
colaborarem na (re)construção da história da Parapsicologia em nosso país, que é feita também por
pessoas simples – dificilmente poderiam ser recuperados.
Após a coleta das informações, passa-se à exposição dos seus resultados, discussão e
análises, que foram surgindo e se delineando a partir da leitura cuidadosa desses dados; a partir,
também, da entonação das vozes quando dos relatos orais, dos silêncios percebidos durante estes
depoimentos, além da percepção de outros elementos não-verbais, como gestos, olhares, contração
dos lábios, sorrisos que surgiram, além de sentimentos expressos no choro durante a exposição de
alguns relatos feitos durante os encontros. Isto porque todo este conjunto envolve significados
(TRIVIÑOS, 1987).

4
Para um estudo aprofundado da Teoria Corpuscular do Espírito e dos Modelos do Espírito propostos por ANDRADE, ler principalmente
suas obras de 1958, 1984 e 2001, referenciadas no final deste artigo.
5
Este questionário foi traduzido e adaptado de outro, intitulado “An exploratory study of the effects of paranormal and spiritual experiences
on people’s lives and well-being”, de J.E. Kennedy e H. Kanthamani, publicado no Journal da ASPR, vol. 89, nr. 3, em julho de 1995.
I Encontro Psi - A psi e a mediunidade e a maior idade: um estudo exploratório - Rocha 91

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS PARCIAIS DA PESQUISA

A caracterização dos informantes é apresentada a seguir e serve de base para a discussão


dos resultados do presente estudo.

Perfil dos Informantes

Participaram da pesquisa 41 (quarenta e uma) pessoas, na faixa etária da Maior Idade, sendo
que a menor idade foi de 44 anos e a maior de 72, portanto uma média de 58 anos. Destes, 04 do
sexo masculino e 37 do feminino.
Quanto à instrução: dez pessoas completaram o 1.o grau; 19 o 2.o grau; e doze cursaram
faculdade; dentre as áreas de estudo, mencionam-se: Direito, Psicologia, Matemática, Ciências
Econômicas, Agronomia, Pedagogia, Letras, Biblioteconomia (hoje em dia chamada de Ciências da
Informação), Ciências Físicas e Humanas, Serviço Social e Educação Física. Quanto à profissão, a
maioria das mulheres são donas-de-casa, mas algumas são professoras primárias, uma
comerciante/executiva, além de aposentados/as.
Quanto à religião: dezesseis são católicas; dezessete são espíritas, três disseram-se
espiritualistas, duas pessoas são ‗rosacruz‘, uma é da quimbanda, uma da umbanda, uma evangélica,
uma messiânica, uma da pirâmide, uma seicho-no-iê. Porém, houve três integrantes do grupo que
deram, cada um deles, uma resposta a mais: católica e pirâmide; quimbanda e umbanda; e católica e
espírita. Com isto, chega-se a um total de 44 respostas recebidas e tabuladas. Quanto à
reencarnação: 38 disseram acreditar na reencarnação; duas disseram não acreditar; e uma não
respondeu. Quanto aos fenômenos paranormais: 39 disseram acreditar na ocorrência destes
fenômenos; e dois não responderam. Todas disseram acreditar na existência do Espírito. Alguns
deram explicações para sua resposta afirmativa, dentre elas, ―eu sou espírito‖; ―por conhecimento‖; ―já
vivenciei‖; ―porque os vejo fora do corpo quando encarnado e desencarnado e a mim mesmo/a já me
observei fora do corpo‖; ―porque já senti manifestação‖. Houve unanimidade, também, na resposta
positiva dada à pergunta se o informante tem fé.
Por decorrência, quarenta pessoas disseram aceitar os fenômenos espirituais, com algumas
justificativas, como: ―vivencio estes fenômenos‖; ―já presenciei algum fato destes‖; meu filho foi
curado através de operação espiritual‖; ―estão presentes todos os dias em nossas vidas‖; ―passei por
diversas experiências dessas‖; ―devido a experiências já vividas‖. Um dos integrantes respondeu que
acredita ―mais ou menos‖ na ocorrência dos fenômenos espirituais.
Quanto à existência de vida em outros planetas, 31 disseram que há; nove não responderam
e um disse que não.
Dezesseis disseram considerar-se médiuns; vinte não se consideram médiuns; e cinco não
responderam. A seguir, estão especificados os tipos de mediunidade que alguns disseram ter:
psicografia, intuitiva, clariaudiência, clarividência, cura, psicofonia e vidência. Vinte e um disseram
considerarem-se sensitivos; dez disseram que não; e dez não responderam.
Ainda quanto ao questionário aplicado aos integrantes do grupo da Maior Idade, alguns itens
evidenciaram fortemente a mudança ocorrida na vida dessas pessoas após terem vivenciado uma ou
mais experiências paranormais e espirituais. Dentre os itens que mais se destacaram, citam-se, como
amostragem, os elencados a seguir:

Quanto de Quanto estes


sentimento/características Você sentimentos/características
tinha antes da/s experiência/s mudaram como resultado da/s
Sentimentos e Características paranormais ou experiência/s paranormal/is ou
transcendental/is? transcendental/is?
Muito Algum Muito Não Aumentou Não Diminuiu
Pouco sei mudou

Senso de significado para minha vida 7 9 7 2 20 3 2


Preocupação sobre (e medo do) futuro 6 9 6 1 - 7 15
Interesse em assuntos espirituais e religiosos 17 3 4 - 24 - -
Medo da morte 7 4 12 2 1 2 21
Sentimentos de depressão e ansiedade 4 8 8 3 3 6 14
Senso de estar conectado com outros 4 6 2 6 11 6 -
Interesse na paranormalidade 14 6 5 - 23 2 -
Credo em um poder maior 16 2 1 - 16 3 -
Credo em vida após a morte 14 4 3 - 17 4 -
Desejo de adquirir maior consciência 18 2 2 - 21 - -
Senso de isolamento e/ou solidão 5 6 8 1 - 9 11
I Encontro Psi - A psi e a mediunidade e a maior idade: um estudo exploratório - Rocha 92

Ressalta-se que nem todos os integrantes do grupo da Maior Idade responderam a todos os
itens do questionário por motivos diversos, dentre eles que alguns faltavam aos encontros por motivo
de saúde; outros por motivo de viagem, etc... Não havia, nos encontros subseqüentes, os quarenta e
um registrados no início da pesquisa. Vinte e dois dos integrantes do Grupo da Maior Idade disseram
ter vivenciado mais de uma experiência paranormal ou espiritual. Sete deles afirmaram ter tido pelo
menos uma dessas experiências. E doze não responderam a este item.
Desta maneira, estes dados mostram uma mudança de consciência e, por decorrência, de
comportamento destas pessoas quanto a situações paranormais e espirituais que geram sentimentos
de aceitação ou não das mesmas. Por exemplo, é significativo o aumento da anuência de que a vida
tem significado para essas pessoas, após as vivências destes fenômenos; a preocupação sobre (e o
medo do) futuro diminuiu consideravelmente; o interesse nos assuntos espirituais e religiosos, que já
era muito grande, aumentou mais ainda; também houve diminuição acentuada no medo que a morte
gera; é interessante se pontuar que o mais comum nessa faixa etária é o aumento cada vez mais
acentuado conforme eles vão ficando mais velhos, visto a proximidade da morte gerar insegurança
pelo desconhecido, em decorrência do conceito reducionista de que ela se reveste, principalmente na
cultura ocidental. E, mais do que isto, de tudo que ela significa e representa de ruim nessa cultura, a
exemplo da dor causada pela separação de entes que se amam, da incerteza gerada sobre a
continuidade ou não desse ser, etc. No entanto, as respostas a este item do questionário apontam o
inverso dessa situação, ou seja, que o medo da morte diminuiu, provavelmente em conseqüência da
carga maciça de informações sobre as funções psi e mediúnicas, sobre a constatação da vida após a
vida6, que eles recebem durante os encontros. Em suma, instruções teórico-metodológicas e
exposição espontânea de relatos convergem para dar aos integrantes do grupo da Maior Idade uma
conscientização mais holística da vida, através da sintonia entre suas consciências individuais e a
Consciência Cósmica, resultando em melhora no cotidiano de suas vidas.
O mesmo se evidenciou quanto aos sentimentos de ansiedade e depressão e, ainda, de
isolamento e solidão, que diminuíram após estas vivências; o interesse na paranormalidade, que já
não era pouco, aumentou mais ainda; idem para o credo em um poder maior e na vida após a morte.
Em síntese, as experiências paranormais e espirituais contribuem para a melhora no bem-estar dos
seres humanos que as experienciam, resultando em um salto de qualidade em suas vidas.
Ainda quanto ao questionário, passa-se a informar sobre algumas descrições que os
integrantes do grupo da Maior Idade fazem das experiências paranormais e/ou transcendentais que
experienciaram. Vinte e oito informantes entenderam que essas experiências os ajudaram a aceitar e
a entender a morte. Como resultado dessas suas experiências, trinta e dois afirmaram que estão
certos de que há vida após a morte do corpo físico. Treze disseram que as experiências paranormais
e/ou transcendentais foram das mais maravilhosas de suas vidas. No entanto, é mister se pontuar
que quatro informaram terem visto ou experienciado fenômenos paranormais ou espirituais que os
deixaram muito amedrontados. Vinte e oito afirmaram que se tornaram significativamente mais
espiritualizados ou religiosos como resultado das suas experiências paranormais e/ou
transcendentais. Doze disseram que têm tido experiências paranormais e/ou
transcendentais/espirituais desde a infância. Em decorrência dessas mesmas experiências, trinta e
três afirmaram ter noção de que suas vidas são guiadas e observadas por uma força maior ou um Ser
superior. Vinte e nove relataram que suas experiências os tornaram seres mais felizes e mais
confiantes. Dezoito disseram que têm tido uma ou mais experiências, das quais estão certos foram
paranormais e/ou transcendentais/espirituais e não somente coincidência ou imaginação.

Alguns Relatos

A seguir, alguns relatos7 de informantes de pesquisa levada a efeito no contexto da


Faculdade particular de Curitiba-PR, nos anos de 1997 e 1998.

Relato de “Angélica” (51 anos)8. É pontagrossense, tem seis filhos e seis netos, vive em Curitiba-PR
desde os dois anos de idade e gosta de artesanato.
―Eu sou uma pessoa muito introvertida. Gosto muito de ter amizades, detesto ficar sozinha, mas
apesar disso sou muito tímida. Tenho mania de limpeza, e foi pensando nisso que lembrei do que
houve no Dia dos Pais próximo passado. Todas as semanas eu vou ao cemitério limpar o túmulo dos

6
Nos encontros são enfocados os trabalhos de Moody Jr., de Elisabeth KüblerRoss, de H.G.Andrade, dentre outros.
7
Todos os relatos aqui expostos foram autorizados pelos informantes através de documento de “Cessão de Direitos” concedidos à autora.
8
Embora nada exista que desabone os envolvidos, os nomes verdadeiros são omitidos, visando a preservar a privacidade dos informantes.
I Encontro Psi - A psi e a mediunidade e a maior idade: um estudo exploratório - Rocha 93
meus pais, falecidos há mais de 25 anos. Nesse último dia dos Pais, eu peguei todos os meus
apetrechos e fui ao cemitério, já eram lá pelas 4h50min da tarde. Quando lá cheguei, fiquei muito
comovida, pois vi meu pai sentado confortavelmente no túmulo. No momento eu até esqueci que ele já
não se encontrava entre nós e me aproximei tranqüilamente, e tive a melhor sensação da minha vida.
Meu pai me abraçou fortemente e, em seguida, eu caí em mim e vi que aquilo já não era mais
possível, pois ele havia morrido há 25 anos. Olhei ao redor e não vi ninguém. Caí num choro profundo
por muito tempo. Que pena, eu queria que ele falasse um pouquinho comigo, mas foi maravilhoso.
Desde esse dia eu leio tudo sobre reencarnação, fantasmas, etc., pois procuro algo que me esclareça
tão lindo acontecimento. Volto todas as semanas lá, mas em vão ... ―

Este evidencia-se ser um caso de vidência telepática vivenciado por Angélica. Percebe-se
pelo seu relato, que ela estava tranqüila quando viu o pai e sentiu-se abraçada fortemente por ele, o
que exclui possibilidades advindas de desequilíbrio e desestruturação provocados principalmente por
inconformidade gerada pela perda de entes queridos. Mesmo porque já havia 25 anos que ela tinha
perdido o pai; não era, portanto, um fato recente. Sabe-se que em casos de muita dor pela perda de
pessoas amadas, costuma-se indicar o tempo como o melhor remédio. Essa é uma prática comum
não só adotada pelos agentes de saúde – médicos, psicólogos, psiquiatras e terapeutas em geral –
mas também por familiares e amigos. O motivo que a levou ao cemitério também não está vinculado
a pressões psicológicas de dor, mas tão somente o desejo de limpar o túmulo, hábito que ela adquiriu
indo até lá toda semana durante esse tempo todo, visto Angélica ter mania de limpeza. Ela só
começa a se sentir emocionada após o inesperado da vidência do falecido pai e aparentemente pelo
fato de sentir-lhe a presença. E enfatiza que essa foi a melhor sensação de sua vida e que o
acontecimento ―foi maravilhoso‖. Ela só quebra esse momento de intercâmbio entre os dois planos –
o dos ―vivos‖ e o dos mortos – quando começa a racionalizar sobre o que estava acontecendo. A
razão é mais forte e interrompe os liames psíquico-espirituais que propiciaram a realização do
fenômeno.
Esse relato evidencia que algo sobreviveu à morte do corpo físico de seu pai e que esse algo
continua sua existência ao longo do tempo, sendo capaz de se comunicar conosco e de intercambiar
emoções.

Relato de Dilza (43 anos). É natural de São Francisco do Sul-SC.


Tínhamos uns vizinhos que trouxeram uma parente do sítio. Ela estava obsedada. Dizia-se ser uma
freira que morrera no deserto e sentia muita sede e fome. Por sinal, [nossa parente] nunca comia pele
de galinha, o que passou a comer com muito gosto e em grandes quantidades nas horas em que
estava sendo ―atuada‖. Levou meses nessa obsessão. Um dia, a dona da casa foi até nossa
residência que era próxima, buscar pólvora (meu pai fazia caçadas e sempre a tinha em casa), e
disse: — Leony, vem um senhor aí fazer um trabalho para a Lindonor. Vai lá ver. Minha mãe não
gostava de casos assim, tipo curiosidade, mas acabou indo. Chegou lá, a casa estava cheia de
curiosos. O senhor pegou um quadrado de madeira, faca de ponta, a pólvora, etc. ... e minha mãe
fechou os olhos e pediu a Deus que ela fosse útil em alguma coisa, pois achou que o ambiente estava
cheio de pessoas somente para ver e não para ajudar. Quando abriu o olhos, estava sentada no chão
e havia feito todo o trabalho com a senhora, coisa que ela não entende e nem explica. Estava de saia
justa, de joelhos, e com muita vergonha.‖

Nesse relato, a mediunidade estaria presente em duas situações distintas e, no entanto,


complementares no momento do acontecimento. Na primeira, Lindonor, que estava sofrendo atuação
psíquico-mediúnica em processo grave de obsessão nela manifestada pelo espírito da freira. Na
segunda situação, a mãe de Dilza, que atuou como médium inconsciente no momento da realização
do ―trabalho‖, servindo como instrumento a serviço do restabelecimento psíquico-espiritual de
Lindonor. Com relação ao processo obsessivo, a mente emissora sintoniza-se com a mente que
recebe as informações carregadas de sentimentos e forma-se o círculo vicioso da ação continuada de
uma sobre a outra, em um agir e um reagir que só findará quando chegar o momento mais propício
para uma intervenção positiva das equipes de socorros, que integra agentes de saúde nos planos
material e espiritual, auxiliando todos os envolvidos no processo. Desta maneira, a obsessão só se
efetiva quando há reciprocidade de intercâmbio entre as mentes de duas ou mais criaturas. Também,
é verificada entre os encarnados, e não somente entre aqueles que já morreram atuando sobre os
―vivos‖. Mister, portanto, que se cultive a profilaxia do pensar, que deve fixar-se na construção do bem
e do amor ao próximo, para que não haja espaço vago para intrusão de pensamentos alheios, que
estão a nos bombardear constantemente. Como diz Emmanuel: ―... hoje é um pingo de sombra,
amanhã linha firme, para, depois, fazer-se um painel vigoroso, do qual assimilamos apelos infelizes
que nos aprisionam em turbilhões de trevas‖ (XAVIER/Emmanuel, 1980, p. 123). Resgata-se NOBRE
(1997, p. 212) que pontua, ainda, que ―é oportuno ressaltar também essa visão ampla apresentada
I Encontro Psi - A psi e a mediunidade e a maior idade: um estudo exploratório - Rocha 94

por André Luiz de que ―estamos ligados em espírito com todos os encarnados e desencarnados que
pensam como pensamos‖, porque ela tem muito a ver com a idéia da física quântica que ensina que o
universo é um todo de energias dinâmicas e que interferimos no campo de observação e no objeto
estudado, mesmo sendo simples observadores.
Se o modelo do Espírito proposto por ANDRADE (1984) e sinteticamente informado no marco
teórico-metodológico deste artigo for aplicado ao caso relatado, ter-se-ia que a cúpula da sensitiva
Lindonor teria se deslocado, levando junto seu corpo astral; o obsessor aproveita e justapõe sua
própria cúpula com seu corpo astral sobre o MOB e o corpo vital de Lindonor, para, assim, atuar
sobre a sua estrutura fisiológica e psíquica. Ainda, a aplicação do modelo do Espírito neste caso
especificamente, ter-se-ia a figura a seguir.

Figura extraída do livro de ANDRADE (1984, p. 123).

ANDRADE (1984) esclarece que não apenas o obsessor pode ―desarticular a cúpula do
médium‖, já que acaba provocando a fuga deste ao se sentir ameaçado por aquela força ostensiva,
como ainda pode-se dar total ―aderência do espírito obsessor ao astral do médium‖. A fuga se dá
através de uma saída, ou experiência fora do corpo (EFC), fenômeno este também conhecido como
―out-of-the-body experience (OBE)‖. E, com as aderências, toda e qualquer sensação, ou idéia, ou
pensamento fica, portanto, intercambiada ininterruptamente entre o médium e o espírito
Quanto à ocorrência vivenciada pela mãe de Dilza, na segunda situação, teria ocorrido uma
Transcomunicação Mediúnica (TCM). A explicação seria similar, com a diferença de que o processo
seria rápido e momentâneo, visando apenas a atingir uma finalidade específica, no caso, o auxílio à
Lindonor, que teria o obsessor desligado de sua estrutura psíquico-física.
A partir do relato de Dilza, que à primeira vista pode ser considerado simples em demasia,
pode-se chegar a importantes reflexões, a exemplo das a seguir elencados: 1) a obsessão seria um
desvio negativo de aspectos mediúnicos geralmente originados de situações vividas e tramadas no
passado e cujo desenrolar ou desfecho desemboca no presente, tendo imantados dois ou mais seres
compromissados com o reajuste fraterno e imprescindível, perante as Leis do Criador; 2) a
I Encontro Psi - A psi e a mediunidade e a maior idade: um estudo exploratório - Rocha 95

mediunidade é um atributo do espírito e também é um atributo fisiológico. Ela pode ser


progressivamente exercitada, na busca de melhor sintonia com os planos superiores da vida, e na
busca incessante da melhoria do Ser, habitante do cosmo infinito. Segundo este modelo, a
mediunidade resume-se na capacidade que os sensitivos e os médiuns têm de deslocar a ―cúpula‖.
Como enfatiza XAVIER/André Luiz (1955, p.76): ―aparelhos mediúnicos valiosos naturalmente não se
improvisam. Como todas as edificações preciosas, reclamam esforço, sacrifício, coragem, tempo ... E
sem amor e devotamento, não será possível a criação de grupos e instruções louváveis nas tarefas
de intercâmbio.‖

Relato de Sidérea”
―Vou contar o que houve comigo quando tive uma de minhas filhas. Depois do parto normal, levaram-
me para o quarto, quando então comecei a me sentir mal. No início, era uma sensação ruim, depois
foi se transformando em algo maravilhoso. Entrei por um túnel e ia seguindo por ele, sentindo uma
sensação enorme de paz; vi minha mãe, que já era falecida há cinco anos. Corri para abraçá-la. Ela
me estendia os braços, mas dizia-me, no entanto, que voltasse, pois não era chegada a minha hora.
Nesse instante, voltei ao meu normal, isto é, à vida. Eu, que nunca tive qualquer experiência com
estes tipos de fenômenos, fiquei muito emocionada. Nunca mais me esqueci deste fato. Meu marido
depois me falou que, na ocasião, os médicos me deram por morta.‖

O relato tinha indicações de tratar-se de um fenômeno de Experiência de Quase-Morte (EQM)


vivenciado pela informante. Desta maneira, na tentativa de se encarar este relato como o embrião de
uma pesquisa de campo, iniciou-se uma busca de dados adicionais que pudessem fortalecer
evidências nesse sentido. As informações adicionais estão relatadas a seguir. Sidérea esteve
hospitalizada no Hospital São Vicente de Paulo, em Curitiba-PR, no dia 19 de junho de 1967, para o
nascimento de uma de suas filhas. O médico com quem fez o pré-natal não pôde atender ao parto,
que acabou sendo realizado por uma parteira, procedimento corriqueiro naquela época. Sidérea
afirmou que o parto foi normal, sem ocorrência negativa. Porém, já no quarto do hospital, após deixar
a sala de cirurgia, começou a sentir-se muito mal. Segundo ela, a sensação era, no início,
extremamente ruim e penosa. No entanto, após algum tempo, foi se transformando em algo
gratificante e maravilhoso. Sentiu-se entrar por um túnel; e foi seguindo por ele, sentindo enorme
sensação de paz. Então, viu sua mãe, Lourdes, falecida em 04 de novembro de 1966, a qual lhe
disse para voltar, pois não era chegada sua hora, apesar de Sidérea estender-lhe os braços,
correndo para abraçá-la. Nesse instante, reafirmou sentir-se voltar ao seu normal, à vida física. E foi
então que percebeu que ao redor de sua cama no hospital estavam cinco médicos a assisti-la. Seu
marido, Jorge, comentou que os médicos deram-na por morta durante aqueles momentos. Sidérea
recorda-se de que se emocionou muito e, ainda hoje, ao comentar a experiência, sensibiliza-se,
enfatizando que sempre haverá de se lembrar deste fato.
Em contacto com o médico de Sidérea que a atendeu naquela emergência, o ginecologista
dr. Antonio, este esclareceu que a paciente apresentou um quadro de hipotensão grave, severa, com
retenção de placenta, o que caracterizou uma complicação pós-parto, agravada por hemorragia e
anemia. De volta à sala cirúrgica, Sidérea foi anestesiada e recebeu cerca de cinco litros de sangue
(seu tipo é RH negativo) e passou por uma curetagem, providência considerada padrão para casos
como esse. O médico confirmou a gravidade do quadro apresentado por Sidérea , porém disse que
ela não chegou a apresentar parada cardíaca. Tem-se como o mais importante, nesse caso, o
registro das informações puras fornecidas por Sidérea, que são semelhantes às de outros indivíduos
que passaram por um estágio próximo da morte, como as descrições dos moribundos. Dentre as
informações mais comuns citam-se, em síntese, a sensação de paz e quietude, passagem por um
túnel, audição dos comentários dos que se encontram junto ao leito de morte, sensação de se estar
fora do corpo, encontro com ―Ser de Luz‖ e com parentes e amigos que faleceram anteriormente. 9
Resgata-se, aqui, Raymond A. MOODY JR. (1979) que diz: ―(...) estou convencido de que as
pessoas que vivenciam um EQM realmente têm um vislumbre do além, e realizam uma breve
passagem para uma outra realidade.‖

Relato de Maria (70 anos). É alegre, gosta de ginástica e faz tricô.


―Eu estava muito triste por ter perdido um filho com 25 anos. Estando deitada com os olhos
entreabertos, vi uma nuvem, e uma voz dizendo: — ‗Mãe, eu estou bem. Estou com Jesus.‘ Logo, o
quarto ficou perfumado.‖

9
Além de MOODY JR., dentre os principais autores sobre EQM, destacam-se, Elisabeth KÜBLER-ROSS (1979), Kenneth RING (1993),
Évelyne-Sarah MERCIER (1992).
I Encontro Psi - A psi e a mediunidade e a maior idade: um estudo exploratório - Rocha 96

Embora triste, a serenidade com que Maria fazia seu relato era impressionante. Ela nos
entrega, também, uma mensagem dizendo que era de seu falecido filho João, captada
psicograficamente pelo médium Francisco Cândido Xavier:
Também este relato foi considerado pela autora como provável embrião de uma pesquisa
mais aprofundada. Desta maneira, para prosseguir com este caso, comunicado por Maria optou-se
pela seguinte metodologia de trabalho: coleta de dados dos informantes por meio de um questionário
experimental extraído de NOBRE e Equipe AME-SP (1992); entrevistas semi-estruturadas
diretamente com os envolvidos no caso, que tiveram duração média de uma hora; documentação dos
depoimentos. A mensagem, já contendo comprovações colhidas pela pesquisadora, está transcrita a
seguir:
(1) (2)
―Tesouro , sinto-me muito gratificado por você e a tia Magda terem se sacrificado tanto, para virem
(3) (4)
comigo, por intermédio do nosso irmão Marcos , e pelo Guido estar também presente. Fiquei
(5)
emocionado com a homenagem que você me prestou colocando o meu nome em nosso filhinho .
Sinto saudades de todos, mas sempre que me dão permissão, venho matar as saudades, pois aqui
estou trabalhando e estudando. Fico tranqüilo em saber que você está sendo forte para criar nossos
(5) (4)
lindos filhos João e Guido .
(1)
Tesouro , não se prendam às coisas que faziam parte da minha vida material. Tanto vocês como eu
sofremos muito quando nos meus pertences vocês se apegam; e pelas lágrimas que são sempre
derramadas nessas ocasiões. Não se revoltem com o motorista que ocasionou o meu acidente. Ele
apenas serviu de instrumento para a minha passagem para o campo espiritual. No começo foi um
pouco difícil entender o que tinha acontecido. Parecia estar anestesiado e com amnésia, mas com a
ajuda dos meus irmãos espirituais as coisas foram se esclarecendo e eu fui entendendo o que me
tinha acontecido. Por favor, não chorem e não sofram. Isso me faz ficar muito triste. Sejam fortes,
porque a força de vocês me fortalece.
Saudades do seu querido João.
(Uberaba, 06 de junho de 1987).

(1)
- Tesouro – forma como João se referia à sua esposa Madalena, quando vivo.
(2)
- Tia Magda – modo como ele se referia à sua sogra.
(3) –
Marcos – avô materno do comunicante. Faleceu quando João ainda era criança e muito apegado
ao avô.
(4)
- Guido – nome de seu primeiro filho.
(5)
– João - após sua morte, sua esposa, na época grávida de cinco meses, deu seu nome: João, à
criança, em sua homenagem.
Magda informou-nos: data de nascimento de João: 10 de outubro de 1960; data do
falecimento: 10 de outubro de 1985 (data de seu aniversário de 25 anos); causa da morte:
traumatismo craniano devido a acidente de moto; data da mensagem recebida psicograficamente por
Francisco Cândido Xavier: 06 de junho de 1987; religião da família dos informantes: católica. João
sempre foi bom filho e muito carinhoso. Também, foi bom marido durante os três anos em que esteve
casado com Madalena. Esta informou que, quando chegava do trabalho, no final do dia, João muitas
vezes já havia dado banho no filho e chegava a fazer a ela pequenos mimos, para que ela não se
excedesse em trabalhos e se cansasse.
Era a primeira vez que Magda e Madalena iam até o local onde Chico Xavier atende, em
Minas Gerais. Não conheciam ninguém e ninguém as conhecia. Nunca haviam estado antes com o
médium. Linguagem peculiar na mensagem: a palavra ―tesouro‖. Fatos comprovados descritos na
comunicação psicográfica: 1) comunicante ter dito se sentir emocionado com a homenagem que sua
esposa prestou-lhe, ao colocar seu nome no filhinho – à época de sua morte, ela estava grávida de
cinco meses de seu segundo filho; 2) para a família não se revoltar com o motorista causador do
acidente, o qual serviu tão somente de instrumento para a sua morte. Pedidos que o comunicante faz:
1) que a família não se prenda aos seus pertences materiais, situação que causava sofrimento a
todos; 2) que não chorem e não sofram; 3) que sejam fortes porque a força deles o fortalecem.
Quanto à mensagem, transcorreu um período de um ano e oito meses entre o falecimento de
João e sua comunicação psicográfica; mais de três pessoas identificaram a comunicação como
autêntica – pai, mãe, irmãos, cônjuge, sogra. Houve de um a dez fatos comprovados descritos na
comunicação; segundo os envolvidos, não houve erros relatados na mensagem; houve quatro nomes
de familiares encarnados nela citados; houve descrição de sua morte; a mensagem foi recebida
mediunicamente em sessão pública onde compareceram aproximadamente trezentas pessoas; o
comunicante disse encontrar-se em tratamento de saúde; e solicitou conformação dos familiares.
O relato de Maria, embora revestido de simplicidade e singeleza, acabou sendo o embrião de
pesquisa mais apurada sobre o comunicado de seu falecido filho João, via psicografia de Francisco
Cândido Xavier, o qual, nessa época, tinha 77 anos de idade, estando, portanto, em plena fase da
I Encontro Psi - A psi e a mediunidade e a maior idade: um estudo exploratório - Rocha 97

Maior Idade. Desta maneira, Chico Xavier atua neste cenário como exemplo máximo do exercício da
mediunidade e de suas funções psi na Maior Idade.

CONSIDERAÇÕES PARCIAIS E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Conforme informado no início deste artigo, esta é uma pesquisa abrangente que objetiva
estudar a psi e a mediunidade em sua intersecção com a Maior Idade. Ela está ainda em andamento,
embora já tenha alguns dados levantados, que devem ser encarados como preliminares,
exploratórios. Desta maneira, esta investigação requer continuidade e aprofundamento.
Estes resultados, até onde a pesquisa foi levada a efeito, demonstram que a psi e a
mediunidade, duas facetas que se complementam na estrutura psíquico-espiritual do Ser, estão
também presentes na Maior Idade, sendo o médium Chico Xavier a mais forte expressão dessa
verdade, no Brasil. Os fenômenos vivenciados e presentes na memória das pessoas (ou a elas
relatados por terceiros) – são fortes o suficiente para provocarem mudanças conscienciais e,
consequentemente, comportamentais, nessas pessoas, resultando em meta que visa a atingir
melhores condições de vida – no geral, crêem em um poder maior; entendem que há um significado
para suas vidas; são mais otimistas, o que resulta em diminuição de sentimentos de depressão e
ansiedade; têm menos medo do futuro; diminuiu-lhes o sentimento de isolamento e/ou de solidão,
sentindo-se mais conectados com outros; mais certeza na continuidade da vida após a vida,
acreditam na ocorrência dos fenômenos paranormais e espirituais – principalmente quando centrados
na possibilidade da vida após morte do corpo físico, e na possibilidade de que algo prevalece a esta
morte e pode, em condições especiais, comunicar-se com os ainda ―vivos‖, o que fortalece o fato
deles acreditarem na existência de Espíritos. Enfim, por quase unanimidade, há um desejo deles de
adquirir maior consciência.
Assim, sugere-se um leque maior de pesquisas dirigidas especificamente para esta faixa
etária da Maior Idade, com aplicações teórico-metodológicas que privilegiem estes sujeitos como
ativos construtores de nossa história.
Sugerem-se, ainda, programas continuados de formação crítico-reflexiva direcionados à
Maior Idade sobre a fenomenologia paranormal e espiritual, mudando, por exemplo, a conceituação
reducionista ocidental sobre a morte e lhes dando perspectivas diferenciadas e esperançosas sobre a
continuidade da vida após a vida. Tais iniciativas minimizariam tanto sofrimento que grassa solto
principalmente nesta sociedade pós-moderna, um tanto quanto perdida neste mundo tão cruelmente
tecnicista, resgatando a dimensão humana, como construto de um novo porvir centrado na Era do
Espírito.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, H. G. Psi Quântico: Uma extensão dos conceitos quânticos e atômicos à idéia do Espírito.
Votuporanga: Didier, 2001.
_____. Espírito, perispírito e alma. São Paulo: Pensamento, 1984.
_____. A teoria corpuscular do Espírito. São Paulo, 1958.
CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1991.
DEMO, P. Pesquisa e informação qualitativa. Campinas: Papirus, 2001.
KÜBLER-ROSS, E. Perguntas e respostas sobre a morte e o morrer. São Paulo: M.Fontes, 1979.
MARTINS, José de Souza. A sociabilidade do homem simples. São Paulo: Hucitec, 2000.
MERCIER, Évelyne-Sarah & Outros. La Mort Transfigurée. Paris: L‘Age du Verseau Ed., 1992.
MIRANDA, H.C. Diversidade dos carismas. Vol. I. Niterói: Arte & Cultura, 1991.
MOODY JR., Raymond A. Vida depois da vida. Rio: Nórdica, 1979.
NOBRE, M.R.S. A obsessão e suas máscaras. São Paulo: FE, 1997.
PEREIRA, J.C.R. Análise de dados qualitativos: Estratégias metodológicas para as ciências da
saúde, humanas e sociais. 2. Ed. São Paulo: Edusp, 1999.
RING, Kenneth. The Omega Project. New York: W. Morrow Ed. & Company, Inc., 1993.
SEVERINO, P.R.; Equipe AME-SP. A vida triunfa. São Paulo: FE, 1992.
THOMPSON, Paul. A voz do passado. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
I Encontro Psi - A psi e a mediunidade e a maior idade: um estudo exploratório - Rocha 98

TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: A pesquisa qualitativa em educação.


São Paulo: Atlas, 1987.
XAVIER, F.C./André Luiz. Nos domínios da mediunidade. Rio: FEB, 1955.
XAVIER, F.C./ Emmanuel. Pensamento e vida. Rio de Janeiro: FEB, 1980.

AGRADECIMENTOS

Agradeço às parapsicólogas Fernanda Camargo Demário e Renata Passos Rocha a


colaboração prestada por ocasião das tabulações iniciais dos questionários.
Agradeço ao Prof. Y. Shimizu pela primeira leitura, críticas e revisão deste artigo.
PROCESAMIENTO PSICOLÓGICO DE EXPERIENCIAS PSIQUICAS ANÓMALAS:
ABORDAJE TERAPÉUTICO EN GRUPOS DE REFLEXIÓN
Daniel E. Gómez Montanelli & Alejandro Parra

Instituto de Psicología Paranormal


Salta 2015 (C1137ACQ) Buenos Aires - Argentina
rapp@fibertel.com.ar

RESUMEN

En este estudio exploramos las reacciones emocionales hacia una variedad de


experiencias psíquicas anómalas, su posibilidad para enfrentarlas, y su procesamiento
psicológico. Treinta y dos sujetos distribuidos en diez grupos participaron de talleres de
reflexión aplicando un enfoque humanístico-transpersonal. La actividad comprendía
tres etapas: (a) sostén y procesamiento emocional, (b) interpretación y procesamiento
cognitivo, y (c) cierre del ciclo de encuentros. Administramos un cuestionario diseñado
por nosotros para medir sus reacciones emocionales, nivel de conflictividad, motivo de
consulta, resignificación emocional, y comprensión emocional y racional de las
experiencias psi y relacionadas con psi. Casi las tres terceras partes de la muestra
puso énfasis en el miedo –en diferentes formas– como emoción predominante.
Asombro, perplejidad, bienestar, ansiedad, y malestar físico también fueron
reportados. En una escala Likert (0–9), el puntaje de conflictividad disminuyó
significativamente (4.85 a 1.70) durante la actividad grupal. Esto resultó consistente
con el nivel de procesamiento: la mayoría expresó haber sido escuchado, aceptado,
comprendido, y acompañado, tanto por los coordinadores como los participantes de su
grupo. Más de la mitad expresó que la actividad grupal contribuyó a su desarrollo
personal o espiritual, otros encontraron un nuevo sentido para sus experiencias psi, o
sentirse mejor emocionalmente en sus relaciones interpersonales, y/o encontró un
nuevo sentido a su vida. Esto confirma el alto impacto de las experiencias anómalas
en la vida de las personas que las experimentan.

ABSTRACT

An investigation of the emotional reactions towards their experiences and their


processing, and the psychological characteristics of the participants was explored in
two studies. Thirty two subjects distributed in ten groups participated in a group activity
applying a humanistic-transpersonal focusing. The activity included three stages: (a)
emotional support and processing, (b) cognitive interpretation and processing, and (c)
closing and returning the psychological evaluation. We administered a questionnaire
designed by us to measure their emotional reactions, level of conflictivity, motive for
consulting, emotional resignificance, emotional and rational comprehension, among
other variables. Almost three third parts of the sample put emphasis on fear –in
different forms- as the predominant emotion. Wonder, perplexity, well-being, anxiety,
and physical malaise also were reported. The score of conflictivity decreased
significantly (Mean= 4.85 to 1.70) during the group activity. This was consistent with the
level of processing: the majority expressed to have been listened to, accepted,
understood, and accompanied by the coordinators as well as the participants in their
group. Besides, more than half expressed that the group activity contributed to their
personal or spiritual development, others found a new meaning for their psi
experiences, or feeling emotionally better, in their interpersonal relationships, and/or
found a new meaning in their life.
I Encontro Psi - Procesamiento psicológico de experiencias psíquicas anómalas: abordaje terapéutico en grupos de 100
reflexión - Montanelli, Parra

INTRODUCCIÓN

Experiencias psíquicas anómalas

De acuerdo a Cardeña, Krippner y Lynn (2000) las experiencias anómalas son el conjunto de
experiencias que, si bien no son psicopatológicas ni se deben a errores de percepción o a fallas de la
memoria, han ocupado un lugar marginal dentro del estudio de la psicología. La psicología de las
experiencias anómalas se pregunta ¿cuál es la relación entre nuestra experiencia conciente y lo que
llamamos el mundo fisico?, ¿cuáles son los límites entre el soñar y la vida de vigilia?, ¿hay evidencia
confiable de que los pensamientos afectan la materia o puede ser transferida por medios
extrasensoriales o “psi”?, ¿la conciencia sobrevive a la muerte del cuerpo fisico?, ¿qué nos dicen las
experiencias místicas acerca de la naturaleza de la realidad?
Targ, Schlitz, y Irwin (2000) han examinado las experiencias anómalas en términos de la
comunicación directa “mente a mente,” el conocimiento de eventos a distancia, información acerca
del futuro, y la influencia mental directa sobre el entorno (llamadas psi por los investigadores en
parapsicología). Estos informes han sido inusuales, pero su frecuencia ha variado en diferentes
tiempos y lugares. Muchas experiencias relacionadas con psi tienen lugar en sueños y otros estados
no ordinarios de conciencia. Las explicaciones teóricas que se han ofrecido incluyen presencia de
déficits cognitivos o errores de atribución, marginalidad social, necesidades psicodinámicas, así como
también la posibilidad de que estas personas puedan estar reportando fenómenos verídicos que
deben ser tomados seriamente por la comunidad científica. Las experiencias relacionadas con psi son
anómalas no porque son inusuales en la población, sino a causa de que dichas interacciones entre
organismos y sus medio ambiente parecen contradecir el constructo temporal, espacial y energético
que sostiene el paradigma científico moderno.
En efecto, la palabra anómala proviene del griego anomalos que significa “irregular,”
“inusual,” “desigual,” en contraste con homalos, que difiere de las experiencias “comunes.” De ahí que
una “experiencia anómala” sea “irregular,” porque difiere de la experiencia “común.” Es “inusual”
porque no es “lo mismo” que las experiencias “normales” u “ordinarias.” Es “desigual” porque no logra
captar la misma atención que se presta a las experiencias “convencionales.” De ahí que la
“experiencia anómala” no sea convencional o se desvíe del paradigma explicativo dominante. El
término experiencias psíquicas anómalas no se refiere a cosas tales como “errores de observación,”
“identificación proyectiva,” o “pensamiento mágico” para explicar dichas experiencias, aún cuando
esas atribuciones puedan ser acertadas, si no en muchos casos, en la mayoría de ellos. Tampoco
creemos que estas experiencias “violen las leyes” de los paradigmas de las ciencias sociales y
naturales (Krippner, 2000).
De acuerdo con esto, los estigmas, por ejemplo, son anómalos porque son raros. No
necesariamente son patológicos, ni inexplicables. Existen muchas explicaciones psicólogicas y
psicofisiológicas dentro del paradigma científico actual (Zusne & Jones, 1989, pp. 54-56). En
comparación, las denominadas experiencias “telepáticas,” y otros ejemplos de presunto psi son
relativamente comunes (MacDonald, 1994), pero son anómalas porque su aparición exige una mejor
explicación científica. En otras palabras, todas las experiencias psi son anómalas, pero no todas las
experiencias anómalas se encuadran dentro del contexto que categoriza al término “psi.”
Las experiencias psi deben ser definidas como aquellas experiencias en las cuales una
persona experimenta una experiencia anómala, tales como la percepción extrasensorial (o cognición
anómala) y la psicokinesis espontánea (o PKER) y la sanación. Las experiencias relacionadas con psi
deben ser definidas como aquellas experiencias que –presumiblemente– no son psi en sí mismas,
pero que proporcionan un contexto para la manifestación de algunos experiencias anómalas, tales
como experiencias “fuera” del cuerpo, experiencias cercanas a la muerte, recuerdo de vidas pasadas,
y contacto con los muertos.
El filósofo inglés F. W. H. Myers (Martínez Taboas, 1991) intentó una valiosa integración de
áreas como la personalidad, el sueño, y la hipnosis. Junto con otros investigadores de vanguardia,
interesados en el estudio científico de las experiencias anómalas, como Sidgwick, Johnson, Myers,
Podmore, & Sidgwick, (1894) analizaron algunas de las 17.000 respuestas a la pregunta “¿Ha usted
tenido una impresión vivida de ver, ser tocado por, o de escuchar voces; cuya impresión... no fuera
debida a alguna causa externa?” Obtuvieron respuestas afirmativas en 1 de cada 10 encuestados, y
se categorizaron como alucinaciones sensoriales (las alucinaciones visuales eran más comunes que
las alucinaciones auditivas y táctiles), las percepciones sensoriales ordinarias, sueños, y lo que hoy
sería la imaginería eidética. Es interesante notar como los resultados han resistido bien la prueba del
tiempo.
I Encontro Psi - Procesamiento psicológico de experiencias psíquicas anómalas: abordaje terapéutico en grupos de 101
reflexión - Montanelli, Parra

El Abordaje Terapéutico de las Experiencias Psicológicas Anómalas

El abordaje terapéutico de las experiencias psicológicas anómalas ha sido un tema de


enorme interés por parte de muchos psicólogos clínicos. Los psicoanalistas inauguraron un enfoque
psicodinámico para tales experiencias (Carvalho, 1996; Tornatore, 1977; Devereux, 1953; Ehrenwald,
1954a, 1954b), la relación padres-hijos y la PES (Ehrenwald, 1954c) y los sueños telepáticos
(Ehrenwald, 1948a, 1948b; Servadio, 1953). Otros estudios han incluido observaciones clínicas
(Caratelli, 1996; Fodor, 1959; Si Ahmed, 1990), análisis teóricos (Ehrenwald, 1956), e incluso el
desempeño de los “psíquicos” como consejeros o terapeutas (Connell & Cummins, 1957; Criswell &
Herzog, 1977).
Las personas que han experimentado situaciones o experiencias psicológicas anómalas traen
sus dudas sobre aquello que les ha ocurrido, así como también el tipo de reacción que –de algún
modo u otro– han tenido frente a dichas experiencias (Hastings, 1993). La forma mediante la cual la
persona reacciona a cualquiera de estas experiencias puede ser más relevante que los detalles de la
experiencia misma. Cuando una persona relata una experiencia psicológica anómala básicamente
está buscando alguna explicación (Harary, 1993; Pallú, 1996). En efecto, desde hace dos décadas
existe un creciente interés por organizar conocimientos dentro de una perspectiva clínica, tanto por el
número de instituciones especializadas como por el abordaje clínico aplicado. Este último incluye
desde la psicoterapia psicoanalítica (Eisenbud, 1970, 1972, 1982; Si Ahmed, 1990), rogeriana
(Kramer, 1993) hasta enfoques cognitivos (Harary, 1993; Parker, 1993; Belz-Merk, 2000).

Procesamiento en grupo de las experiencias psíquicas anómalas

La psicología y la psicoterapia de grupo tienen una extensa e importante tradición en


Argentina, principalmente para el tratamiento por abuso de sustancias, alcoholismo, fobias, ataques
de pánico, depresión, víctimas de accidentes, duelos, intentos de suicidio, maltrato físico, sexual y
emocional, y una variedad de otras disfunciones psicológicas y físicas. Las primeras experiencias
sobre psicoterapia grupal comenzaron a partir de 1950 con el médico psiquiatra Enrique Pichon
Rivière (Pichon Rivière, 1985) y principalmente a mediados de los años cincuenta (Grinberg, Langer,
& Rodrigué, 1956). Esto fue seguido por el desembarco del psicodrama de Iacov Moreno (Bustos,
1978; Rojas Bermúdez, 1968) y por nacimiento del psicodrama de orientación psicoanalítica
(Martínez Bouquet, Moccio y Pavlovsky, 1969).
La terapia grupal ha focalizado experiencias tales como la abducción extraterrestre, las
experiencias cercanas a la muerte (Furn, 1987; Greyson, 1987, 1997; Klimo, 1998), y las apariciones
(Harary, 1993). Otros estudios incluyen desde un enfoque psicoterapéutico para sujetos victimizados
por eventos de tipo poltergeist (Rogo, 1974; Snoyman, 1985) hasta la optimización de los puntajes psi
mediante la interacción grupal (Bononcini & Rosa, 1987; Carpenter, 1988). Sin embargo, el estudio de
las características emocionales de las experiencias parapsicológicas espontáneas aplicando
estrategias de encuentro, ha sido un territorio poco explorado.
Paralelamente a la actividad clínica fue llevado a cabo un estudio exploratorio y descriptivo de
las reacciones emocionales y cognitivas y de las características psicológicas predominantes de estas
personas hacia sus experiencias y su procesamiento. Pensamos que su enfoque clínico posiblemente
proporcionará información valiosa a la parapsicología sobre la dinámica de psi.

MÉTODO

Muestra

Comprende 32 participantes de ambos sexos (60% mujeres y 40% varones), cuyas edades
oscilan entre los 19 y los 83 años (Media= 43.16; SD= 14.96)1. Quedaron excluidos de este estudio
aquellos quienes decían estar siendo victimizados por sectas satánicas o “dañados” a distancia,
pacientes psiquiátricos, o quienes recurrieron a nosotros para controlar o desarrollar sus habilidades
psi. Aunque todos ellos pueden ser de gran interés para la parapsicología clínica, no constituyeron
para nosotros el tipo de población que estamos estudiando.

1
Aunque logramos convocar 47 participantes, once (23.40%) abandonaron los grupos y cuatro (8.51%) no presentaron típicas
experiencias psi o relacionadas con psi. Los 32 (68.08%) restantes han experimentado –al menos– una experiencia psi o
relacionada con psi.
I Encontro Psi - Procesamiento psicológico de experiencias psíquicas anómalas: abordaje terapéutico en grupos de 102
reflexión - Montanelli, Parra

Instrumento

Diseñamos un cuestionario con el objeto de explorar el motivo de consulta, el resultado de


nuestro desempeño clínico, y los principales cambios emocionales y cognitivos de los participantes en
los grupos de reflexión. El Cuestionario de Transformación Emocional y Cognitiva (CTE&C) es un
cuestionario autoadministrable de once items. Contiene dos preguntas cuyas respuestas deben ser
indicadas marcando con una equis la/s respuesta/s correcta/s (la pregunta 1 y 9), dos preguntas
presentan una escala (las preguntas 10 y 11) donde 0 es ausencia y 1–9 mide el grado de malestar
emocional, seis preguntas (las preguntas 3, 4, 5, 6, 7 y 8) con escalas ordinales (Ninguna, Baja,
Medianamente, Alta, Muy Alta), y una pregunta (la pregunta 2) de respuesta libre. Los items del
CTE&C son descritos como sigue:

Reacciones emocionales: Evalua las reacciones emocionales tuvieron frente a las experiencias psi o
relacionadas con psi.

Motivo de consulta: Evalua cuál fue el motivo de consulta y cuáles eran las expectativas (en términos
de ansiedades, deseos, fantasías, o creencias) al momento de acercarse al grupo. La respuesta para
esta pregunta era libre para el encuestado.

Satisfacción del motivo de consulta: Indica en qué medida la actividad del grupo satisfizo las
expectativas iniciales.

Resignificación emocional: Evaluar la transformación emocional que el encuestado experimentó


respecto a su experiencia psi o relacionada con psi como consecuencia de su desempeño en el
grupo.

Comprensión racional: Evalua la comprensión racional que el encuestado experimentó respecto a su


experiencia psi o relacionada con psi como consecuencia de su desempeño en el grupo.

Procesamiento: Esta pregunta –que sintetiza los dos procesos anteriores– fue diseñada para auto-
evaluar el nivel de procesamiento (asimilación emocional, comprensión racional, y búsqueda de
sentido) que el encuestado alcanzó a través de la actividad del grupo.

Contención emocional del grupo: Evaluar en qué medida el encuestado sintió contención emocional
(siendo escuchado, aceptado, comprendido, y acompañado) por los participantes del grupo.

Contención emocional de la coordinación: Evalua en qué medida el encuestado sintió contención


emocional (siendo escuchado, aceptado, comprendido, y acompañado) por la coordinación del grupo.

Beneficios secundarios: Evalua los eventuales efectos o necesidades que fueron satisfechas con
respecto a la/s experiencia/s psi o relacionada/s con psi, o bien en otras áreas de la vida del
participante durante la actividad del grupo.

Conflictividad antes de participar en el grupo: Evalua, en caso que el encuestado haya tenido
alguna/s experiencia/s psi o relacionada/s de psi conflictiva/s o traumática/s, el grado de conflictividad
emocional antes de iniciar la actividad del grupo.

Conflictividad después de participar en el grupo: En caso que el encuestado haya tenido alguna/s
experiencia/s psi o relacionada/s de psi conflictiva/s o traumática/s, evalua el grado de conflictividad
emocional al finalizar la actividad del grupo.

Procedimiento

El Instituto de Psicología Paranormal organizó, entre Abril de 1999 y Noviembre de 2000, diez
grupos de reflexión no-arancelados para personas que experimentaron eventos psi espontáneos –no
necesariamente traumáticos o conflictivos. Nuestra muestra incluyó a personas que querían obtener
más información sobre el proceso que habían vivido o que estaban vivenciando, y a quienes querían
compartir sus experiencias (especialmente aquellos para quienes tales experiencias fueron
emocionalmente intensas o significativas para su vida). El objetivo de estos grupos fue compartir
experiencias parapsicológicas, reflexionar sobre éstas, e intercambiar conocimientos e informaciones
con el grupo y sus coordinadores.
I Encontro Psi - Procesamiento psicológico de experiencias psíquicas anómalas: abordaje terapéutico en grupos de 103
reflexión - Montanelli, Parra

Organizamos nueve conferencias, públicas y gratuitas, anunciadas en medios de prensa y


difundida por correo postal, electrónico y fax, al mailing de instituciones relacionadas con la
parapsicología y la psicología transpersonal. La modalidad de trabajo de la consultoría fue dividida en
dos etapas: (1) conferencia informativa, y (2) grupos de reflexión:

1. Conferencia informativa: Antes de tomar parte en los grupos, todos los interesados debían
asistir a –al menos–una conferencia informativa. De común acuerdo, los coordinadores e
interesados convenían un día y un horario a elección para un encuentro semanal, a lo largo
de, aproximadamente, diez a doce semanas. Una vez iniciado el grupo, éste no recibía
nuevos miembros.

2. Grupos de reflexión: Cada grupo fue coordinado por DGM. AP participó como observador. AP
llevó también un registro en audio del relato de cada experiencia. El tiempo de cada
encuentro fue de noventa minutos. El número de participantes osciló entre dos a siete
personas por grupo. El tiempo promedio de encuentro de cada grupo fue de 6.4 meses
(aproximadamente 45.5 horas mensuales). La dinámica de los grupos comprendía tres
etapas: (a) sostén y procesamiento emocional, (b) interpretación y procesamiento cognitivo, y
(c) cierre de la actividad grupal y devolución de la evaluación psicológica.

a. Sostén y procesamiento emocional: Durante esta etapa, nosotros esperábamos que


cada participante pudiera sentirse respetado, escuchado y acompañado
empáticamente durante la narración de su experiencia. Las primeras reuniones
permitieron crear un ámbito de sostén y contención emocional. Invitábamos a que
cada participante pudiese compartir su experiencia incluyendo sus reacciones
emocionales –actuales y pasadas–, temores o dudas, evitando en lo posible todo tipo
de análisis interpretativo. Tanto nosotros como los miembros del grupo podían pedir
detalles acerca de la naturaleza de la experiencia o sus reacciones emocionales.
Este proceso fue conducido dentro de un contexto apropiado de cordialidad, apertura
y respeto.

b. Interpretación y procesamiento cognitivo: Luego que finalizara la narración de todas


las experiencias de los miembros, se iniciaba la segunda etapa. AP leía la narrativa
de la experiencia de modo que sean corregidos todos los errores u omisiones que
podía contener. Más detalles se requirieron para completar la experiencia. A
continuación, cada participante del grupo era invitado a dar su interpretación, luego
los coordinadores proporcionaban sus interpretaciones, y finalmente el participante
hacía su propia interpretación a partir de la de los participantes y los coordinadores.

c. Cierre de la actividad grupal: A lo largo de las dos etapas anteriores los participantes
debían completar una batería de tests psicológicos2. Cada participante fue
entrevistado individualmente por DGM para una devolución de los resultados de la
evaluación psicológica. Finalmente, se organizaba una reunión de cierre de la
actividad grupal. En esta última reunión, administramos el cuestionario de
transformación emocional y cognitiva.

2
Administramos el Eysenck Personality Inventory, EPI, Psychiatric Epidemiological Research Interview, PERI, Progressive
Matrices Test, PMT, Minnessotta Multiphasic Personality Inventory, MMPI-2, Dissociative Experiences Scale, DES, y
Cuestionario Desiderativo, CD). También fue administrado un cuestionario diseñado por el primer autor para medir signos y
síntomas fisiológicos, psicológicos y transpersonales asociados a las experiencias psi y relacionadas con psi. El resultado de
estos tests serán publicados en otra parte.
I Encontro Psi - Procesamiento psicológico de experiencias psíquicas anómalas: abordaje terapéutico en grupos de 104
reflexión - Montanelli, Parra

RESULTADOS

TABLA 1: CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DE LA MUESTRA (N= 32)


Nivel de Educación %
Primario 3.1
Secundario 59.4
Terciario 12.5
Universitario 25.0

Profesión/Ocupación
Comerciante 15.6
Profesional (terciario) 9.4
Profesional (universitario) 18.8
Empleado 25.0
Estudiante 12.5
Ama de Casa 9.4
Jubilado/Desocupado 9.3

Religión
Católico 46.9
No-denominacional 9.4
Cristiano no-denominacional 21.9
Agnóstico/Indefinido 6.3
Filosofías orientales 6.3
Ateo 3.1
Protestante 3.1
Judío 3.0

TABLA 2: EXPERIENCIAS PSI Y RELACIONADAS CON PSI REPORTADAS


POR LA MUESTRA (N= 32)
Experiencias psi N %
PES en vigilia 12 10.8
PES en sueños 6 5.4
Precognición en vigilia 2 1.8
Precognición en sueños 12 10.8
Psicokinesis 9 8.1
PKER 4 3.6
Sanación psi 6 5.4

Experiencias relacionadas con psi


Percepción de luces/energías 4 3.6
Experiencias cercanas a la muerte 1 0.9
Experiencias fuera del cuerpo 14 12.6
Bilocación 1 0.9
Recuerdo de vidas pasadas 3 2.7
Contacto espiritual 17 15.3
Contacto espiritual (en sueños) 9 8.1
Mediumnidad/Canalización 6 5.4
Control a distancia–posesión 1 0.9
Haunting 3 2.7
Aporte-desmaterialización 1 0.9

* Corresponde al número de experiencias reportadas por cada participante (N= 32)

TABLA 3: ESTADOS DE CONSCIENCIA PREDOMINANTES DURANTE LAS EXPERIENCIAS PSI Y


RELACIONADAS CON PSI REPORTADAS POR LOS PARTICIPANTES DE LOS GRUPOS (EN
ORDEN DECRECIENTE) (N= 46)

Estado de consciencia N %
Vigilia 46 41.4
Sueño 20 18.0
Pasaje del sueño a la vigilia 10 7.1
Pasaje de la vigilia al sueño 9 8.1
Muerte clínica 6 5.4
Relajación 4 3.6
Visualización 3 2.7
Entrenamiento autógeno 3 2.7
Meditación 2 1.8
Estado febril 2 1.8
Otros estados* 2 1.8

* Incluye devaneo o ensueño y letargia.


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TABLA 4: TRANSFORMACIÓN EMOCIONAL Y COGNITIVA DE LOS PARTICIPANTES EN LOS


GRUPOS 3 (N= 27)4

1. Tradicionalmente, cada vez que tuve una experiencia paranormal


espontánea, mi/s respuesta/s emocional/es fue/fueron* N %
Asombro 15 55.6
Perplejidad, sensación de no poder entender lo que me sucedió 13 48.1
Bienestar, plenitud 10 37.0
Miedo a lo desconocido 9 33.3
Ansiedad 6 22.2
Miedo a no ser comprendido por los otros 6 22.2
Miedo a no poder controlar la experiencia 5 18.5
Miedo a perder la razón 3 11.1
Angustia 3 11.1
Negación de la experiencia 2 7.4
Malestar físico 1 3.7

2. ¿Cuál fue el motivo de consulta? Exprese cuáles eran sus expectativas al


momento de incorporarse al grupo de reflexión*
Comprender mis experiencias 11 40.8
Curiosidad 11 20.2
Escuchar las experiencias de otras personas 6 9.0
Ser comprendido por otras personas 3 9.0
Necesidad de recibir sostén emocional por mis experiencias 2 9.0
Necesidad de un diagnóstico diferencial 2 4.0
Necesidad de encontrar un sentido a mis experiencias 1 4.0
Deseos de cooperar en el proyecto de investigación 1 4.0

3. ¿En qué medida siente usted que el grupo de reflexión le ayudó


a satisfacer sus expectativas?
Ninguna --
Baja --
Medianamente 8 29.7
Alta 12 44.4
Muy Alta 7 25.9

4. ¿En qué medida siente usted que el grupo de reflexión le ayudó a tener una
vivencia más saludable y benigna de sus experiencias?
Ninguna --
Baja --
Medianamente 8 29.7
Alta 12 44.4
Muy Alta 7 25.9

5. ¿En que medida piensa usted que el grupo de reflexión le ayudó a tener una
comprensión más lógica y más racional de sus experiencias?
Ninguna --
Baja 1 3.7
Medianamente 8 29.6
Alta 13 48.2
Muy Alta 5 18.5

6. ¿En qué medida usted ha logrado integrar sus experiencias paranormales


expresadas en su vida cotidiana?
Ninguna --
Baja --
Medianamente 7 25.9
Alta 14 51.9
Muy Alta 6 22.2

7. ¿En qué medida se ha sentido usted escuchado, contenido y respaldado


por los compañeros del grupo?
Ninguna --
Baja --
Medianamente 3 11.1
Alta 10 37.0
Muy Alta 14 51.9

3
Los resultados se presentan en términos de número de casos y el porcentaje entre paréntesis.
4
La datos presentados corresponden a los participantes que completaron el número de sesiones para cada grupo, y se
excluyen a quienes abandonaron.
I Encontro Psi - Procesamiento psicológico de experiencias psíquicas anómalas: abordaje terapéutico en grupos de 106
reflexión - Montanelli, Parra

8. ¿En qué medida se ha sentido usted escuchado, contenido y respaldado


por la coordinación del grupo?
Ninguna --
Baja --
Medianamente --
Alta 12 44.4
Muy Alta 14 51.9

9. ¿Siente que su participación en el taller lo ha beneficiado en otros


aspectos?*
Contribuye a su desarrollo personal o espiritual 14 51.9
Encontró un nuevo sentido a sus experiencias psi 11 40.7
Se siente mejor emocionalmente 9 33.3
Se siente mejor en sus relaciones interpersonales 8 29.6
Encontró un nuevo sentido a su vida 8 29.6
Se desenvuelve mejor en su trabajo o en otras áreas 5 18.5
No, no me ha beneficiado en aspecto alguno 2 7.4

Media DS
10. Puntaje de malestar emocional de las experiencias antes de iniciar el
grupo 4.85 3.32

11. Puntaje de malestar emocional de las experiencias al finalizar el grupo


1.7 2.16

* Los encuestados podían responder más de una opción.

Sobre una muestra de 32 participantes, sus reacciones emocionales hacia las experiencias
psíquicas anómalas espontáneas fueron: miedo –en diversas formas– por casi las tres terceras partes
de la muestra (88.8%), que incluye miedo a lo desconocido (33.3%), a no ser comprendido (22.2%), a
no poder controlar la experiencia (18.5%), a perder la razón (11.1%) y a morir (3.7%) (ver Tabla 4). El
“temor a psi” como variable actitudinal ha sido destacada en la literatura parapsicológica. Es posible
que el temor a psi sea parte tanto del error-psi en los estudios experimentales de la PES,
especialmente las “cabras” en términos de Schmeidler (en el efecto “cabra-oveja”), como también un
componente en el rechazo sistemático que algunos escépticos sostienen contra la parapsicología
(Irwin, 1985; Tart, 1984; Tart & Labore, 1986).
Después de miedo, encontramos que más de la mitad reportó asombro (55.6%) y perplejidad,
sensación de no entender lo que sucedió, casi la mitad de la muestra (48.1%). Creemos que mientras
que el miedo es, posiblemente, una emoción básica de defensa frente a psi, el asombro y la
perplejidad probablemente están más relacionados con el procesamiento cognitivo de las
experiencias psi espontáneas.
A continuación, en orden decreciente, el sentimiento de bienestar o plenitud fue reportado por
más de la tercera parte (37%) en contraposición con otros sentimientos displacenteros, tales como
ansiedad (22.2%), angustia (11.1%) y malestar físico (7.4%). Estos resultados sostienen la
observación de Keith Harary, quien dice que es importante tener en cuenta que las experiencias psi
espontáneas a menudo tienen un impacto positivo en la vida de la persona y que son indicadoras de
un continuo proceso de crecimiento personal y un mayor sentimiento de conexión con el mundo, con
las otras personas, y con el propio potencial. Las experiencias psi también podrían representar una
respuesta saludable a un entorno hostil y alienante (Harary, 1993). En un estudio, Irwin (1989a)
incluyó un ítem de sentimientos inmediatamente después de la experiencia: el 18% reportó estar feliz
o alegre, el 25% ansiedad, el 5% depresión, y el 52% restante manifestó asombro, curiosidad y
perplejidad. Estas proporciones tienen cierta relación con las obtenidas por nosotros.
En relación con el motivo de consulta, el 40.8% de los participantes manifestó interés por
tratar de comprender sus experiencias y el 20.2% consultó por curiosidad. El 40.8% coincide con la
observación señalada por otros autores (Alvarado, 1996; Harary, 1993; Hastings, 1993; Pallú, 1996;
Rhine, 1961, 1975), según la cual estas personas necesitan comprender que fue lo que les ocurrió.
Algunos autores encontraron que sus encuestados reportaban haber tenido en ocasiones
experiencias telepáticas con otras personas con quienes tenían una relación emocional. Otros
reportaron casos donde las experiencias psi y relacionadas con psi (PES o premoniciones en sueño y
en vigilia, o apariciones) tenían relación con crisis personales (enfermedades o accidentes), con la
muerte de alguien querido, u otros eventos de importancia para el participante (Green, 1960; Irwin,
1989a, 1989b; Prasad & Stevenson, 1968; Rhine, 1964; Sannwald, 1963; Schouten, 1981, 1982).
Más de dos tercios de la muestra (70.3%) indicaron que sus expectativas iniciales fueron
satisfechas en un nivel alto y muy alto, y una cuarta parte (25.9%) en un nivel medio. Debemos
destacar que estos datos son altamente consistentes con los porcentajes que señalan el nivel de
procesamiento de sus experiencias.
I Encontro Psi - Procesamiento psicológico de experiencias psíquicas anómalas: abordaje terapéutico en grupos de 107
reflexión - Montanelli, Parra

DISCUSIÓN

Las reacciones emocionales de las experiencias extrasensoriales están muy pobremente


documentadas en la literatura parapsicológica (Sannwald, 1963; Stevenson, 1970. Para una revisión
ver Irwin, 1994).
En todos los grupos, el número de experiencias informadas, su intensidad emocional, y el
tiempo psicológico necesario para su procesamiento nos obligó a aumentar el número de 6–8
reuniones originariamente previstas a 10–12, no obstante el encuadre se mantuvo firme (reuniones
semanales de noventa minutos) y la coordinación focalizó su desempeño sólo en torno a las
experiencias psi y relacionadas con psi. Sin desatender los objetivos de la investigación, durante el
período de los grupos, nuestro desempeño ha sido más rico desde el punto de vista cualitativo que
cuantitativo.
Nuestro objetivo fue trabajar sobre el procesamiento emocional y cognitivo de las
experiencias psi y relacionadas con psi. Entendemos que el procesamiento emocional es una
condición necesaria para su procesamiento intelectual. Las dos primeras etapas de la actividad grupal
sirvieron a este propósito: La primera estuvo centrada en el procesamiento de las emociones
aplicando un enfoque humanístico-transpersonal; mientras que la segunda, estuvo orientada hacia
una comprensión intelectual de las experiencias, semejante a la noción de construcción en
psicoanálisis (Freud, 1937), aplicando los conocimientos provenientes de la parapsicología y de la
psicología transpersonal. En consecuencia, decidimos evaluar tanto ambas etapas como la síntesis
final de las mismas, es decir, la capacidad de los participantes para integrar las experiencias a su vida
cotidiana.
La distinción antes mencionada entre procesamiento emocional, cognitivo y la síntesis
resultante de ambos puede ser también vista desde la percepción de los propios participantes. Si los
datos reportados son comparados con las tres etapas descritas en Procedimiento las diferencias
podrán ser observadas: El 70.3% de los encuestados expresó haber alcanzado un nivel alto y muy
alto de resignificación emocional para sus experiencias parapsicológicas y el 29.7% un nivel medio.
Con respecto a la comprensión racional de sus experiencias, los índices fueron próximos pero no
iguales: El 66.6% dijo haber alcanzado estos resultados en un nivel alto y muy alto, el 29.6% en un
nivel medio y el 3.7% en un nivel bajo. Si bien las diferencias fueron pequeñas, revelan un mayor
grado de satisfacción de los participantes en relación con la primera etapa más que con la segunda.
Respecto a la síntesis del proceso, 74.1% manifestó haber podido integrar sus experiencias en la vida
cotidiana en un nivel alto y muy alto, y el 25.9% en un nivel medio. Es interesante notar también que
la síntesis final presenta índices superiores a los de las dos etapas anteriores. Nos preguntamos si en
la síntesis del proceso no intervendrán tal vez otras variables –aunque aparentemente en menor
medida– que las variables por nosotros reportadas (procesamiento emocional y cognitivo).
Casi las tres terceras partes de la muestra (88.9%) expresaron haber sido escuchados,
aceptados, comprendidos y acompañados (contención emocional del grupo) por sus compañeros del
grupo en un nivel alto y muy alto. Esto revela no sólo el “buen clima” experimentado en los grupos,
sino también la importancia que la psicología y la psicoterapia de grupo pueden tener para la
parapsicología clínica.
Al momento de comenzar la actividad con los grupos de reflexión, la media de conflictividad
de la muestra para sus experiencias psi y relacionadas con psi en una escala de 0 a 9, era de 4.85, y
al finalizar fue 1.70. Tales puntajes parecen ser buenos indicadores desde el punto de vista clínico.
Además resultan consistentes con los datos reportados anteriormente sobre los distintos niveles de
procesamiento. La media de conflictividad antes mencionada refiere al sentimiento global de malestar
emocional que algunas personas expresaron como consecuencia de una o más experiencias psi. Sin
embargo, para este informe, no hemos evaluado la media de conflictividad reportada por cada
experiencia en particular.
Casi el cien por ciento (96.3%) de la muestra expresó haber sido escuchado, aceptado,
comprendido, y acompañado (contención emocional de la coordinación) por la coordinación en un
nivel alto y muy alto. Pensamos que este resultado está en relación con el enfoque humanístico y
transpersonal con el que funcionó la coordinación.
Concluyendo, queremos destacar el nivel de asistencia y compromiso con la actividad del
grupo por parte de la mayoría de los participantes. A excepción de las personas que abandonaron,
las demás han manifestado su alto grado de satisfacción, no sólo por la comprensión y la asimilación
de sus experiencias parapsicológicas espontáneas, sino también por el beneficio secundario que esto
les ha reportado. Más de la mitad (51.9%) expresó que la actividad grupal contribuyó a su desarrollo
personal o espiritual. Más de la tercera parte encontró un nuevo sentido para sus experiencias psi
(40.7%), o manifestó sentirse mejor emocionalmente (33.3%). Casi la tercera parte (29.6%) se sintió
mejor en sus relaciones interpersonales y/o encontró un nuevo sentido a su vida.
I Encontro Psi - Procesamiento psicológico de experiencias psíquicas anómalas: abordaje terapéutico en grupos de 108
reflexión - Montanelli, Parra

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AGRADECIMIENTOS

Deseamos expresar nuestra gratitud a la Fundación BIAL de Porto por su apoyo financiero
para esta investigación.
INTER-RELAÇÕES ENTRE EXPERIÊNCIAS PSÍQUICAS, LEMBRANÇA DE
SONHOS E SONHOS LÚCIDOS EM UM LEVANTAMENTO COM PARTICIPANTES
ESPANHÓIS (DE LÍNGUA ESPANHOLA)

Carlos S. Alvarado e Nancy L. Zingrone

Parapsychology Foundation
228 East 71st Street, New York, NY 10021, email: alvarado@parapsychology.org

(Traduzido por Renato Collin e Fábio Eduardo da Silva)

RESUMO

O trabalho relatado aqui é uma tentativa para replicar as relações significantes e


positivas relatadas em pesquisas anteriores entre tipos diferentes de experiências
psíquicas (PES acordado e em sonho, aparições, experiências fora do corpo, auras e
PK), e entre experiências psíquicas e lembrança de sonho e freqüência de sonho lúcido.
O estudo usa principalmente participantes Ibero-Americanos (maioria deles espanhóis),
uma população até momento omitida nestes tipos de estudos.Os participantes eram
leitores da revista espanhola Mas Alla de la Ciência (N=492) A Freqüência das
lembranças de sonhos e de sonhos lúcidos foram significantemente correlacionadas
com todas experiências psíquicas, exceto aparições e EFC's (lembrança de sonho) e
PES em estado desperto e auras (sonhos lúcidos). O padrão de intercorrelações entre
experiências psíquicas apoiaram nossas previsões. De uma forma geral, dentre as 45
correlações de intervalo entre 0.039 até 0.703, 34 (75%) foram significantes (corrigidas
por múltiplas análises). Nossos resultados apóiam aqueles estudos anteriores
estendendo-os para nacionalidades que não tinham estudado antes deste ponto de
vista. Parece que o mais rico de nossa vida psicológica, em termos de variedade de
experiências, é o mais rico de nossas experiências parapsicológicas.

ABSTRACT

The work reported here is an attempt to replicate the positive significant relationships
reported in previous research between different types of psychic experiences (waking
and dream ESP, apparitions, out-of-body experiences, auras and PK), and between
psychic experiences and dream recall and lucid dream frequency. The study uses mainly
Ibero American participants (most of them Spanish), a population hitherto neglected in
this type of studies. Participants were readers of the Spanish magazine Mas Alla de la
Ciencia (N = 492). Dream recall and lucid dreaming frequency were significantly
correlated with all psychic experiences, except for apparitions and OBEs (dream recall)
and waking ESP and auras (lucid dreams). The pattern of intercorrelations between
psychic experiences supported our predictions. Overall, out of 45 correlations ranging
from .039 to .703, 34 (75%) were significant (corrected for multiple analyses). Our
findings support those of previous studies and extends them to nationalities that have not
been studied before from this point of view. It seems that the richer our psychological life,
in terms of variety of experiences, the richer our parapsychological experiences.

Alguns estudos com questionários sobre experiências parapsicológicas têm mostrado relações
positivas e significantes entre diferentes experiências psi (ex., Kohr, 1980; Palmer, 1979).
Nosso próprio trabalho com auras (Alvarado & Zingrone, 1994) e experiências fora do corpo
(Alvarado & Zingrone, 1999; Alvarado, Zingrone, & Dalton, 1998-99) mostram que indivíduos que são
classificados como experientes têm uma freqüência mais alta de outras tais experiências como PES e
aparições que aqueles indivíduos que não tinham a experiência básica.
I Encontro Psi - Inter-relações entre experiências psíquicas, lembrança de sonhos e sonhos lúcidos em um levantamento 112
com participantes espanhóis (de língua espanhola) - Alvarado, Zingrone

Estas experiências têm também sido positivamente relacionadas com medidas de lembrança de
sonho e sonho lúcido (ex. Kohr, 1980; Palmer, 1979; Sherwood, 1999; Usha & Pasricha, 1989).
Tais relacionamentos fazem sentido porque tanto lembranças sonhos, sonhos lúcidos e
experiências psi, são relatadas para construções tal como escassez de limites (Hartmann, 1991),
suscetibilidade hipnótica (Pekala, Kumar & Cummings, 1992) e dissociação (Richards, 1991).
A comunidade sugestiona uma disposição para uma capacidade geral ou abertura para uma
variedade de experiências, entre as quais uma alta frequência de lembrança de sonhos, sonhos lúcidos
e experiências parapsicológicas são alguns exemplos.
Talvez, como Palmer (1979) sugeriu, lembrança de sonhos e sonhos lúcidos "refletem o grau
para o qual a mente consciente é capaz de ganhar acesso ao conteúdo da mente inconsciente" (p.248).
Isto, por sua vez, poderia ser a razão do relacionamento destas variáveis do sonho para
experiências psi se nós seguíssemos a idéia a tempos mantida de que os fenômenos psíquicos são
funções da mente subconsciente (ex. Myers, 1903).
O trabalho relatado aqui é uma tentativa de replicar resultados anteriores de intercorrelações
entre experiências psíquicas com uma amostra de participantes principalmente Ibero-Americanos (muitos
deles espanhóis), uma população até momento omitida nestes tipos de estudos.
Em nosso estudo nós previmos intercorrelações positivas e significantes entre diferentes tipos de
experiências parapsicológicas (PES desperto e em sonhos, aparições, experiências fora do corpo, aura e
PK), e entre estas experiências e a frequência de lembrança de sonhos e sonhos lúcidos.

MÉTODO

Participantes

Quatrocentos e noventa e dois leitores da revista espanhola Más Allá de la Ciencia, uma popular
publicação direcionada a tópicos paranormais, participaram neste estudo.
Sessenta e oito porcento eram mulheres (N=492). Dentre os 482 que indicaram sua
nacionalidade, 94% eram espanhóis.
O restante eram mexicanos (3%), argentinos (1%), britânicos (0,4%), franceses (0,4%), e um de
cada de uma variedade de nacionalidades (1%). Infelizmente a questão da idade foi omitida neste
questionário.

Questionário

O questionário usado neste estudo foi publicado em Inglês em trabalhos prévios (Alvarado &
Zingrone, 1999). Ele consiste de questões sobre variáveis demográficas (9), psi (6), místicas (1), e
experiências de sonhos (2). Em adição, foram incluídas sete questões sobre detalhes de Experiências
Fora do Corpo. As questões sobre lembrança de sonhos tiveram uma possibilidade de respostas
composta por seis itens, indo de “nunca” (escore 1) a “sempre” (todos os dias, escore 6).
A questão da religiosidade teve a possibilidade de resposta de 4 itens, indo de “não religioso” (1)
a “muito religioso” (4). A freqüência do resto das experiências foi estimada pelos experimentadores numa
questão de respostas livres.
Além da omissão da questão da idade, a revista alterou a questão da PES em sonhos, de forma
que somente os sonhos com eventos futuros foram mencionados.

Procedimento

A revista publicou o questionário em duas páginas. Foi pedido para os leitores que
respondessem até mesmo se eles não tivessem tido qualquer experiência. Os respondentes devolveram
os questionários aos escritórios editoriais, que os remeteram ao primeiro autor.
Analises

Em função da amostra não ser normalmente distribuída (veja tabela 1) nós usamos correlações
de Grau e Ordem de Spearman. As correções para análises múltiplas (45 correlações) foram feitas
usando uma correção de Bonferroni, rendendo um nível de alfa corrigido de 0.001.

RESULTADOS

A tabela 1 contém as estatísticas descritivas das variáveis contínuas usadas no estudo. A análise
I Encontro Psi - Inter-relações entre experiências psíquicas, lembrança de sonhos e sonhos lúcidos em um levantamento 113
com participantes espanhóis (de língua espanhola) - Alvarado, Zingrone

de Kolmogorov-Smirnov mostra que nenhuma das variáveis foi normalmente distribuída.

TABELA 1: ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DAS VARIÁVEIS CONTÍNUAS

Geral Desvio Kolmogorov-


Variável %1 N2 Intervalo3 Média Padrão Smirnov4

Religiosidade -- 459 1-4 2.39 .99 5.18

Lembrança de sonhos 100 482 2-6 4.61 1.12 6.18

Sonhos Lúcidos 89 254 0-1000 10.54 66.02 6.98

PES em sonhos 86 366 0-100 3.61 8.86 6.55

PES acordado 73 324 0-100000 311.80 5546.81 9.24

Aparições 83 289 0-500 7.34 42.58 7.35

Experiências fora
do corpo (EFCs) 82 364 0-1000 8.46 74.22 8.69

Auras 46 367 0-1000 4.17 53.18 9.00

Movimento
de objetos 36 451 0-100 1.44 7.90 9.09

Experiências
místicas 70 384 0-1000 4.89 52.38 9.13

1 Percentual do número (N) geral de respostas “sim”para o item.


2 Numero de respondentes que forneceram dados de freqüência.
3 Questões com intervalos de 100 ou mais são questões abertas, nas quais os participantes são solicitados a estimar o número
de experiências que tiveram.
4 Todas as analises foram significantes, p < .001.

A tabela 2 apresenta correlações entre as experiências relatadas pelos participantes. A tabela


tem 45 correlações que vão de 0.039 a 0.703. Trinta e quatro (75%) das correlações foram significantes.

TABELA 2: INTERCORRELAÇÕES ENTRE RELIGIOSIDADE, RECORDAÇÃO DE SONHOS,


SONHOS LÚCIDOS, EXPERIÊNCIAS PARAPSICOLÓGICAS E MÍSTICAS

Variáveis 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1. Religiosidade — .139 .039 .138 .171 .118 .281 .313 .224


.077
2. Lembrança de sonhos — .218 .309 .226 .145 .292 .293 .292 .071
3. Sonhos Lúcidos — .288 .220 .240 .204 .138 .283 .325
4. PES em sonhos — .369 .290 .428 .365 .273 .202
5. PES acordado — .269 .459 .379 .336 .227
6. Aparições — .483 .367 .456 .342
7. Auras — .703 .485 .324
8. Místicas — .400 .339
9. Movimentos — .352
I Encontro Psi - Inter-relações entre experiências psíquicas, lembrança de sonhos e sonhos lúcidos em um levantamento 114
com participantes espanhóis (de língua espanhola) - Alvarado, Zingrone

10. (EFCs) —

Nota: Os coeficientes em negrito são significantes ao nível de significância 0.001, corrigido

DISCUSSÃO

Como predito, nós obtivemos várias correlações significantes entre experiências


parapsicológicas. Muitas destas experiências também foram relacionados positivamente com a
lembrança de sonhos e sonhos lúcidos. Indivíduos que informaram experiências parapsicológicas
tiveram uma tendência para informar experiências diferentes, tanto parapsicológicas como experiências
de sonho. Isto apóia os resultados prévios e os estende a nacionalidades que não foram estudadas
antes deste ponto de vista. Nós informaremos sobre pesquisas posteriores administradas em outros
países Ibero-americanos para explorar se as relações encontradas aqui podem ser generalizadas a
outros países.

O quadro que emergiu destas correlações é consistente com pesquisas anteriores que mostram
que são relacionadas experiências parapsicológicas a uma abertura geral para uma variedade de
fenômenos psicológicos. Alguns exemplos disto são os estudos onde um número mais alto de
experiências parapsicológicas foi relacionado a contagens altas de propensão para fantasia (Alvarado &
Zingrone, 1994), escassez de limites (Hartmann, 1991), absorção (Irwin, 1985), suscetibilidade hipnótica
(Pekala, Kumar & Cummings, 1992), dissociação (Richards, 1991) e transliminariedade (Thalbourne &
Delin, 1994). Parece que o mais rico de nossa vida psicológica, em termos de variedade de experiências,
é o mais rico de nossas experiências parapsicológicas. Nosso trabalho é difícil porque nós ainda não
entendemos a psicologia e a psicofisiologia destas experiências e assim impedimos nossa habilidade
para entender a natureza destas relações estatísticas. Na medida que nós progredimos em nossa
compreensão de sonhos, dissociação e outras experiências e construtos, trabalhos como o informado
aqui adquirirá esperançosamente um novo significado.

REFERÊNCIAS

Alvarado, C.S., & Zingrone, N.L. (1994). Individual differences in aura vision: Relationships to visual
imagery and imaginative-fantasy experiences. European Journal of Parapsychology, 10, 1-30.
Alvarado, C.S., & Zingrone, N.L. (1999). Out-of-body experiences among readers of a Spanish New Age
magazine. Journal of the Society for Psychical Research, 63, 65-85.
Alvarado, C.S., Zingrone, N.L., & Dalton, K. (1998-99). Out-of-body experiences, alterations of
consciousness and the Five-Factor Model of Personality. Imagination, Cognition and Personality, 18, 297-
317.
Hartmann, E. (1991). Boundaries in the mind: A new psychology of personality. New York: Basic
Books.
Irwin, H.J. (1985). Parapsychological phenomena and the absorption domain. Journal of the American
Society for Psychical Research, 79, 1-11
Kohr, R.L. (1980). A survey of psi experiences among members of a special population. Journal of the
American Society for Psychical Research, 74, 395-411.
Myers, F. W. H. (1903). Human personality and its survival of bodily death (2 vols.). London:
Longmans, Green.
Palmer, J. (1979). A community mail survey of psychic experiences. Journal of the American Society for
Psychical Research, 73, 221-251.
Pekala, R.J., Kumar, V.K., & Cummings, J. (1992). Types of high hypnotically susceptible individuals and
reported attitudes and experiences of the paranormal and the anomalous. Journal of the American
Society for Psychical Research, 86, 135-150.
Richards, D.G. (1991). A study of the correlation between subjective psychic experiences and
dissociative experiences. Dissociation, 4, 83-91.
I Encontro Psi - Inter-relações entre experiências psíquicas, lembrança de sonhos e sonhos lúcidos em um levantamento 115
com participantes espanhóis (de língua espanhola) - Alvarado, Zingrone

Sherwood, S. J. (1999). Relationship between childhood hypnagogic/hypnopompic and sleep


experiences, childhood fantasy proneness, and anomalous experiences and beliefs: An exploratory
WWW survey. Journal of the American Society for Psychical Research, 93,167-197.
Thalbourne, M.A., & Delin, P.S. (1994). A common thread underlying belief in the paranormal, creative
personality, mystical experience and psychopathology. Journal of Parapsychology, 58, 3-38.
Usha, S., & Pasricha, S. (1989). Claims of paranormal experiences - II: Attitudes toward psychical
research and factors associated with psi and psi-related experiences. NIMHANS Journal, 7, 151-157.

AGRADECIMENTOS

Nós desejamos agradecer José Campoy, editor da revista Más Allá de la Ciencia que nos
permitiu imprimir o questionário usado neste estudo nas páginas da sua publicação. O contato com a
revista e o envio dos questionários para nós foi possível graças à ajuda provida por Benjamín Noriega e
María Pérez Molina.
REFERÊNCIAS PROFISSIONAIS DOS PARTICIPANTES

Alejandro Parra

Psicólogo graduado, cursando un posgrado en educación en psicología. Becado por la


Fundacion BIAL. Es coordinador general del Instituto de Psicología Paranormal, una academia de
educación, investigación y asistencia clínica en psicología de las experiencias anómalo/paranormales.
Esta a cargo -ademas- de la Agencia Latinoamericana de Información Psi, la primer base de datos en
parapsicología de América Latina. Editor de la Revista Argentina de Psicología Paranormal desde
1990.

Carlos Alberto Tinoco

Engenheiro Civil, com Mestrado em Educação. Professor Titular aposentado de Universidade


Federal Brasileira. Colaborou ativamente na implantação do Curso Livre de Parapsicologia das FIES.
Autor de sete livros sobre Parapsicologia e Literatura Sagrada da Índia. Conferencista nacional e
internacional. Atual Professor das Faculdades Integradas Espíritas. Membro da Parapsychological
Association e Society for Psychical Research.

Carlos S. Alvarado

Tiene un doctorado en psicologia de la Universidad de Edinburgo. El es el Director de


Programas Domesticos e Internacionales de la Parapsychology Foundation, el Editor de las
Parapsychological Monographs y el Editor Asociado del International Journal of Parapsychology. Sus
publicaciones han enfatizado estudios históricos de la parapsicología y encuestas sobre variables
psicológicas relacionadas con fenómenos psíquicos. El Dr. Alvarado ha sido Presidente de la
Parapsychological Association y es en Presidente actual de esa organizacion.

Claudia Abramczuk

Parapsicóloga pelas Faculdades Integradas Espírita, orientadora em Parapsicologia pelo


Centro Integrado de Orientação em Parapsicologia, pesquisadora em fenômenos espontâneos em
Parapsicologia pelo Centro de Investigação de Fenômenos Espontâneos em Parapsicologia, sócia
fundadora do Instituto de Parapsicologia, Master Praticcionner em Programação Neurolingüistica,
Membro da AIPA.

Cristina Tavares da Costa Rocha

Formada em jornalismo, especialista em "Metodologia da Ciência", Mestre em Tecnologia


pelo CEFET, PR. Doutoranda - como aluna especial - do Programa de Pós-Graduação em
Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Como pesquisadora do Instituto
Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas (IBPP) no momento desenvolve pesquisas no campo da
Psicobiofísica, uma mais especialmente: a pesquisa do campo biomagnético.

Fábio Eduardo da Silva

Parapsicólogo pela FACIBEM. Especialização em Estudos da Consciência pelas Faculdades


Integradas “Espírita” (FIES). Cursando Psicologia na Universidade Tuiuti do Paraná. Especialização
em Magistério Superior (cursando) pelo IBPEX. Professor dos Cursos Livre de Parapsicologia e
Naturologia Aplicada das FIES. Professor responsável pelo Laboratório Ganzfeld de pesquisa.
Obteve Bolsa de Investigação da Fundação Bial de Portugal. Integrante do Summer Study Program
do Rhine Research Center, EUA, turma de 1998. Membro afiliado da Associação Iberoamericana de
Parapsicologia (AIPA). Membro associado da Parapsychological Association. Membro Profissional
do Rhine Research Center. Membro associado da Society for psychical Research.
I Encontro Psi - Referências profissionais dos participantes 117

Fátima Regina Machado

Licenciada em Letras pela Universidade Anhembi Morumbi/SP; Mestre em Ciências da


Religião pela PUC/SP; Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica
(PUC/SP); membro pleno da Parapsychological Association e afiliada da Parapsychology Foundation;
pesquisadora do Inter Psi – Grupo de Estudo de Semiótica, Interconectividade e Consciência
(CEPE/COS-PUC/SP); Diretora Executiva do Centro de Estudos Peirceanos (COS-PUC/SP).

João Artur Borges Winkelmann

Médico Psiquiatra, especialista em infância e adolescência. Membro da Sociedade


Paranaense de Psiquiatria. Professor da disciplina de psicopatologia do Curso Livre de
Parapsicologia das FIES.

Maria da Paz de Oliveira Ribeiro

Licenciatura em Psicologia e Belas Artes: Artes plásticas. Especialização em Psicologia


Clínica e Psicologia Transpessoal. Especialização em Metodologia Cientifica. Especialização em
Magistério Superior. Profa do Curso de Parapsicologia das Faculdades Integradas “Espírita”

Martha Guerra Moraes

Parapsicóloga pelas Faculdades Integradas Espírita, pesquisadora em fenômenos


espontâneos em Parapsicologia pelo Centro de Investigação de Fenômenos Espontâneos em
Parapsicologia, sócia fundadora do Instituto de Parapsicologia, membro da AIPA.

Nancy L. Zingrone

Maestria en Educacion de la Universidad de Northern, Illinois y esta doctorando en psicología


en la Universidad de Edinburgo. Ella es la Directora de Publicaciones de la Parapsychology
Foundation y la Editora Ejecutiva del International Journal of Parapsychology. Sus trabajos incluyen
estudios experimentales de percepción extrasensorial, encuestas sobre aspectos psicológicos de
experiencias parapsicológicas y estudios de la critica en parapsicología. Ella ha sido Presidente de la
Parapsychological Association y fue electa otra vez para el periodo de 2002-2004.

Reginaldo Hiraoka

Parapsicólogo pela FACIBEM. Orientador em Parapsicologia pelo Centro Integrado de


Orientação em Parapsicologia. Biólogo (em curso) pela FACIBEM. É membro da Associação Ibero-
Americana de Parapsicologia (AIPA). Professor da Cadeira de Psicobiofísica no Curso Livre de
Parapsicologia da FACIBEM e Diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Psicobiofísicas (INPP)

Tarcísio Roberto Pallú

Graduado em Parapsicologia e Pós Graduado em Estudos da Consciência pelas Faculdades


Integradas Espírita. Chefe do Centro Integrado de Orientação em Parapsicologia e professor do
Curso Livre de Parapsicologia da FIES. Integrante do Summer Study Program do Rhine Research
Center, turma de 1993. Membro Instalador do Núcleo de Pesquisa Ganzfeld da FIES. Instrutor do I
Curso - Aipa de Metodologias de Pesquisa. Instrutor de Programação Neuro-Linguística. Membro da
Parapsychologycal Association. Membro Profissional do Rhine Research Center. Membro fundador
da Asociación IberoAmericana de Parapsicologia. Membro integrante do Centro de Pesquisa de
Sonhos. Membro do Conselho Editorial do FatorPsi.

Vera Lúcia Barrionuevo

Parapsicóloga, pós-graduada em Estudos da Consciência. Supervisora em Aconselhamento


em Parapsicologia. Integrante do Summer Study Program do Rhine Research Center, turma de 1993.
Organizadora e Instaladora do Núcleo de Pesquisa Ganzfeld das FIES. Instrutora do I Curso - Aipa de
Metodologias de Pesquisa. Membro da Parapsychologycal Association. Membro Profissional do Rhine
Research Center. Membro fundador e Diretor da Asociación IberoAmericana de Parapsicologia.
Membro integrante do Centro de Pesquisa de Sonhos. Membro do Conselho Editorial do Boletim
FatorPsi.
I Encontro Psi - Referências profissionais dos participantes 118

Wellington Zangari

Psicólogo, Mestre em Ciências da Religião (PUC-SP), Doutorando em Psicologia (IP-USP),


membro pleno da Parapsychological Association e afiliado da Parapsychology Foundation,
Pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Psicologia Social da Religião (IP-USP), Pesquisador do
Laboratório de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Potencial Humano (IP-USP),
Coordenador do Inter Psi (CEPE/COS/PUC-SP), autor de 4 livros e dezenas de artigos sobre psi.

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