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Aulas da Disciplina

Diversidade Biológica
(CH858)
7ª Parte
Prof. Paulo Cascon
Departamento de Biologia
Universidade Federal do Ceará
O Código de Barras da Vida
“Barcoding of Life”

By Larissa Fruehe - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=77645790


O Código de Barras da Vida “Barcoding of Life”

• Tecnologia de IDENTIFICAÇÃO TAXONÔMICA,


proposta em 2003, por Paul Hebert
(Universidade de Guelph, Ontário, Canadá).

• OBJETIVO: identificar espécies conhecidas e


descobrir novas utilizando variações em
sequências curtas de DNA (região padronizada
do genoma).

Trecho do código de barras do DNA da baleia orca onde cada cor representa
uma letra (base nitrogenada) diferente do material genético.
O Código de Barras da Vida “Barcoding of Life”
• Justificativas para criação do “BARCODING OF LIFE”:
– Escassez de taxonomistas especializados nos
diferentes grupos de organismos.
– Limitações do sistema de identificação baseado
na morfologia:
• Não identificação de táxons morfologicamente
crípticos (morfologicamente idênticos), que são
comuns em vários grupos.
• Chaves de identificação morfológicas
freqüentemente são eficientes somente para
espécimens completos, para somente um único
estágio do ciclo de vida ou para apenas um dos
sexos.
O Código de Barras da Vida “Barcoding of Life”
• CÓDIGO DE BARRA UNIVERSAL DOS
PRODUTOS:
– Utilizado para identificar produtos comerciais.
– Emprega 10 números alternados em 11 posições para
gerar 100 bilhões de identificadores únicos.
• CÓDIGO DE BARRAS GENÔMICO:
– Quatro nucleotídeos (CATG) alternados em cada
posição.
– À análise de apenas 15 dessas posições de nucleotídeos,
cria 415, portanto 1 bilhão de códigos, isto é, 100 vezes
mais que o número requerido para discriminar vida se
cada táxon fosse unicamente marcado.
O Código de Barras da Vida “Barcoding of Life”
• ÁREAS DE APLICAÇÃO:
– Monitoramento da biodiversidade e
reconstrução de ecossistemas.
– Identificação de espécies invasoras.
– Identificação de itens presentes no conteúdo
estomacal de animais.
– Saúde pública.
– Agricultura.
– Economia e comércio.
– Aplicação de leis ambientais (p. exe.
identificação de material biológico
apreendido).
– Ciência Forense.
O Código de Barras da Vida “Barcoding of Life”

• Para os ANIMAIS, foi estabelecido como código


de barras (DNA Barcode) uma região de um gene
mitocondrial denominado de citocromo c Oxidase
Subunidade I (COI), com 648 pares de base.

• Para as PLANTAS duas regiões genômicas do


cloroplasto (matK e rbcL) foram selecionadas para
o código de barras (DNA Barcode).
O Código de Barras da Vida “Barcoding of Life”

• A submissão de sequências para BANCOS


DE DADOS segue um padrão de qualidade
e é acompanhada, também, de outros
dados, como descrições morfológicas,
fotografias e a coleção científica aonde
aquela amostra foi depositada => toda
sequência registrada no banco de dados
precisa estar associada a uma amostra
física (possibilidade de reanalisar o
material).
Coleta de Processamento e Link para Publicação e
Espécimes Sequenciamento nome da hospedagem
de DNA espécie de dados Usando
dados do
Amostra
BARCODE
de Tecido Gestão de
Dados

Cumprindo com o
padrão de dados do
BARCODE

Análise e
Validação Link para espécimens-testemunho
dos Dados
A Coleção
Taxonômica
A Coleção Taxonômica

• A coleção taxonômica é a
reunião ordenada de
espécimes mortos ou partes
corporais desses espécimes,
devidamente preservados para
estudos. Martins, 1994
A Coleção Taxonômica

• Também podem ser


incorporados às
coleções objetos e
produtos resultantes
de atividades dos
animais.
• Exemplos: ninhos,
abrigos, excrementos,
rastros, pegadas,
galerias, galhas, etc.
A Coleção Taxonômica

• No passado, as coleções zoológicas eram


vistas pelos naturalistas quase como
coleções de selos, em que espécies raras
possuíam grande valor e as comuns quase
nenhum. Além disso, grande parte do
acervo era destinado à exposição pública,
visando a exibir o espólio de terras
exóticas, tributo do poderio colonial.
http://boletimmbml.net/sambio/museus-e-colecoes-biologicas/
POR QUE FORMAR E MANTER COLEÇÕES
ZOOLÓGICAS?

• Registro permanente da herança natural do planeta.


• Base para a pesquisa em muitas disciplinas científicas,
em particular as que estudam a descrição, classificação e
reconstrução da história evolutiva das espécies;
• Preservação dos elementos para a comprovação de
pesquisas pregressas, possibilitando a verificação da
validade da informação científica (voucher-specimens).
• Fonte de informações críticas para diversos campos da
ciência, como gestão do meio ambiente, pesquisa
agronômica, médica ou farmacêutica que, por sua vez,
têm implicações sérias em todos os níveis da sociedade.

http://www.bdt.fat.org.br/oea/sib/zoocol
POR QUE FORMAR E MANTER COLEÇÕES
ZOOLÓGICAS?

• COLEÇÕES ZOOLÓGICAS DIDÁTICAS:


– Valor didático, dando suporte a atividades
de ensino básico (feiras de ciências),
universitário e pós-graduação.
– Apoio a programas de educação ambiental,
auxiliando a promover a conscientização do
público para as questões ambientais e de
preservação da biodiversidade.

http://www.bdt.fat.org.br/oea/sib/zoocol
A Coleção Taxonômica

• A representatividade de
uma coleção é
determinada pelo
número de espécies e
de populações
geograficamente
diversas nela
representadas.
A Coleção Taxonômica
• SÉRIE: representa o
agrupamento de
indivíduos de uma espécie
numa coleção (ou o
agrupamento de
indivíduos que o coletor
obtém no campo).
• Uma série
geograficamente
representativa numa
coleção apresenta
espécimes coligidos ao
longo da distribuição
global da espécie.
MUSEUS DE HISTÓRIA NATURAL

• Algumas das maiores coleções zoológicas


estão em Museus de História Natural.
• Os museus de história natural têm como
função principal armazenar, preservar e
ordenar o acervo de espécimes
representando a diversidade biológica de
organismos (fósseis e atuais) que povoaram o
planeta até os dias de hoje.
Museu Nacional nasceu em 1779 como a Casa dos Pássaros,
acervo incorporado ao Museu Real (1818) criado por D.João VI.
Passou a Museu Nacional em 1889. Hoje é parte da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
2 de setembro
de 2018
Museu de Zoologia
Universidade de São Paulo

• 1895 => Seção de Zoologia do Museu


Paulista.
• 1969 => incorporado à USP.
Museu Paraense Emílio
Goeldi

• 1871: fundação do
Museu Paraense.
• 1900: passa a se chamar
Museu Paraense Emilio
Goeldi em homenagem
ao zoólogo suíço, então
seu diretor.
Espécime-testemunho (voucher specimen)
• Um espécime tombado em uma coleção
permanente que serve como evidência física de
ocorrência no tempo e no espaço e de qualquer
identificação e descrição baseado nele.
• Serve para verificar a identificação de espécimes
utilizados em estudos biológicos.
• ESPÉCIMES-TESTEMUNHO garantem que a
identidade de organismos estudados no campo ou
em experimentos de laboratório possa ser
verificada, e garantem que novos conceitos de
espécie sejam aplicados a pesquisas passadas.
• Espécimes-tipo são espécimes-testemunho.
Espécime-testemunho (voucher specimen)
• The above individual is a
voucher specimen for the
study by Zimmermann, M.,
Wahlberg, N. & Descimon,
H. 2000. Phylogeny of
Euphydryas checkerspot
butterflies (Lepidoptera:
Nymphalidae) based on
mitochondrial DNA
sequence data. Ann.
Entomol. Soc. Am. 93: 347-
355.
GenBank Accession
Numbers for COI:
AF153935; for ND1:
AF153974; for 16S:
AF153956
Espécime-testemunho (voucher specimen)
Alojamento das Coleções

• As coleções devem ser alojadas


em construções com sistemas
contra incêndio, proteção contra
poeira e insetos e climatizadas
com condicionadores e
desumidificadores de ar.
Catalogação das Coleções

• Coleções com menor número de espécimes:


– Cada espécime recebe um número
individual (Exemplos: coleções de aves e
mamíferos)
• Coleções com maior número de espécimes:
– todos os espécimes coletados no mesmo
período e local, constituem um LOTE e
recebem um único número.
Catalogação das Coleções

• Itens usualmente presentes nas entradas de


vertebrados nos CATÁLOGOS das coleções:
– Número consecutivo no museu.
– Número de campo original.
– Nome científico (ou pelo menos nome genérico).
– Sexo.
– Localidade exata de coleta.
– Data de coleta.
– Nome do coletor.
– Observações.
Etiquetas de determinação
(identificação):
• Nome científico, autor e ano; nome do
determinador e data da determinação.
• Informatização padronizada das
coleções formando bancos de
dados com interface com a
INTERNET.
Empréstimos de Material
• “As coleções sistemáticas pertencem à
comunidade científica e não à uma
instituição ou curador”.
• Instituições podem requerer o pagamento
de uma taxa para cobrir despesas de
manuseio e remessa.
• Solicitação de empréstimo: razão do
empréstimo e tempo estimado para a
devolução.
Outras Aplicações da
Análise Filogenética
Outras Aplicações da Análise Filogenética

Ciências Forenses
A análise filogenética proporciona uma maneira de
estabelecer relações entre microorganismos infectando
diversos indivíduos e pode ser usada como evidência
corroborativa quando alguém é suspeito de infectar outras
pessoas com uma doença.

1 Genomas de
patógenos podem
mutar rapidamente,
criando populações
diversas de micro-
organismos naqueles
infectados.

Nature 506, 424–426 (27 February 2014) doi:10.1038/506424a


2 Através do sequenciamento de regiões altamente
variáveis de genomas de patógenos, os cientistas
podem construir uma árvore filogenética que
sugere como os microorganismos são
relacionados.

Nature 506, 424–426 (27 February 2014) doi:10.1038/506424a


3 O parentesco das
populações virais
pode apoiar ou
descartar hipóteses
sobre quem infectou
quem.
4 A diversidade dos
patógenos pode
também ser usada
para corroborar o
tempo de infecção,
usando a taxa de
mutação como
relógio molecular.
Nature 506, 424–426 (27 February 2014) doi:10.1038/506424a
Nature 506, 424–426 (27 February
2014) doi:10.1038/506424a
A Utilização de Análises Filogenéticas na
Ciência Forense
- O caso do dentista da
Flórida, suspeito de transmitir
HIV para seus pacientes (Ou
et al. 1992, Vogel 1997).
- O dentista testou positivo
para o HIV.
- Sete de seus pacientes
também testaram positivo
para o HIV.
- Análise: comparações das
sequências dos genes virais
do dentista, dos sete
pacientes infectados e de 35
outros portadores de HIV da
mesma área geográfica.
A Utilização de Análises Filogenéticas na
Ciência Forense

- Resultados: O HIV de cinco


dos sete pacientes infectados
era proximamente relacionado
ao do dentista => árvore
resultante claramente
demarcou um “clado dental”.
- Conclusão: os pacientes
infectados (mas não os outros
infectados) adquiriram o vírus
da AIDS do dentista.
- Primeira confirmação
genética de transmissão do
HIV de um profissional da
saúde para seus pacientes.
A Utilização de Análises Filogenéticas na Ciência Forense

Ou, C. et al. 1992.


Molecular
epidemiology of HIV
transmission in a
dental practice.
Science 256: 1165-
1171.

Vogel, 1997 Forensic


Science: Phylogenetic
Analysis: Getting Its
Day in Court, Science
275: 1559-1560.
A Utilização de Análises Filogenéticas na Ciência Forense

• Anestesista espanhol condenado em


2007 por ter infectado 275 pacientes com
Hepatitie C (quatro morreram).

• Anestesista injetava morfina em si mesmo


antes de injetar nos pacientes, usando a
mesma agulha.

Nature 506, 424–426 (27 February 2014) doi:10.1038/506424a


Outras Aplicações da Análise Filogenética

Linguística
Línguas Românicas ou Latinas
Línguas Românicas ou Latinas
Fig. 1. Island Melanesia, showing the distribution of the Western Oceanic
(Austronesian) (triangles) and Papuan (diamonds) languages used in the sample.
Fig. 2. The transparency of cognates in three dispersed Austronesian versus four close
Papuan languages (Austronesian cognates/loanwords are shown in italics). The three
Papuan languages have an apparent level of 3 to 5% shared vocabulary in a standard
200-word list (29). Using a scrambling test, the word list for each language was
randomly reordered, and apparent lexeme correspondences were recounted. The level
of apparent cognacy on this random list was exactly the same as on the correctly
sorted list, demonstrating that the amount of apparently shared lexicon between any
pair of Papuan languages is not greater than chance.
Fig. 3. Phylogenetic relationships among two taxa of the
Western Oceanic subgroup of the Austronesian language
family. (Left) Reconstructed phylogeny of the languages of the
Meso-Melanesian, Papuan Tip, and North New Guinea groups
based on the linguistic comparative method (10, 27). (Right)
Unrooted parsimony tree showing relationships among the
Meso-Melanesian and Papuan Tip groups based on
grammatical traits only (that is, discarding abundant lexical
evidence) (the figure shows reweighted and raw bootstrap
values). The two trees show a high degree of concordance,
with monophyly in both major taxa and the similar
geographical structuring of within-taxon diversity.
Outras Aplicações da Análise Filogenética

Arqueologia
Mendoza Straffon, L.
(2019). The Uses of
Cultural Phylogenetics
in Archaeology.
Handbook of
Evolutionary Research
in Archaeology. A.
Prentiss (Ed.),
Springer. Pp. 149-160.
Outras Aplicações
da Análise
Filogenética
Antropologia
Análise filogenética usada para estudar semelhanças entre contos
populares:

Comparando "Chapeuzinho Vermelho" com contos relacionados, o


autor analisou 72 variáveis ​do enredo, como personagem do
protagonista (por exemplo, filho único versus grupo de irmãos,
homem versus mulher), o personagem do vilão (por exemplo, lobo,
ogro ou tigre), os truques usados ​pelo vilão para enganar a vítima
(por exemplo, voz falsa ou patas disfarçadas) etc.
Little Red Riding Hood
The Wolf and the Kids
RH =Little Red Riding Hood. The
GM = Story of Grandmother. Wolf
Catt = Catterinella and the
Kids
WK = The Wolf and the Kids.
TG = Tiger Grandmother.
Contos africanos são distintos do
"Chapeuzinho Vermelho", estando
relacionados a um conto chamado "O
Lobo e as Crianças". Os contos do Leste
Asiático não se agruparam com nenhum
dos tipos, mas provavelmente evoluíram
pela combinação de elementos de ambos
os tipos de histórias.

Little Red Riding Hood


Outras Aplicações da Análise
Filogenética

Musicologia
• Smith, A. S. 2005. ARE JAFFA CAKES REALLY
BISCUITS? The Affinities of Jaffa Cakes: Using
Cladistics to Classify Biscuits. Null Hypothesis:
Journal of Unlikely Science. V.1 (7).
• https://plesiosauria.com/pdf/smith_2005_biscuits.pdf
Smith, A. S. 2005. ARE JAFFA CAKES
REALLY BISCUITS? The Affinities of
Jaffa Cakes: Using Cladistics to
Classify Biscuits. Null Hypothesis:
Journal of Unlikely Science.1 (7).

The Affinities of Jaffa


Cakes: Using Cladistics
to Classify Biscuits

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