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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM


DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

JAMILE FERNANDES

TECNOLOGIAS UTILIZADAS POR ENFERMEIROS NA ASSISTÊNCIA


DOMICILIÁRIA DE IDOSOS: REVISÃO INTEGRATIVA

FORTALEZA
2018
JAMILE FERNANDES

TECNOLOGIAS UTILIZADAS POR ENFERMEIROS NA ASSISTÊNCIA


DOMICILIÁRIA DE IDOSOS: REVISÃO INTEGRATIVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como pré-requisito para obtenção de diploma
em Bacharel em Enfermagem na Universidade
Federal do Ceará-UFC.

Orientador: Profª. Drª. Marília Braga Marques.

FORTALEZA
2018
JAMILE FERNANDES

TECNOLOGIAS UTILIZADAS POR ENFERMEIROS NA ASSISTÊNCIA


DOMICILIÁRIA DE IDOSOS: REVISÃO INTEGRATIVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como pré-requisito para obtenção de diploma
em Bacharel em Enfermagem na Universidade
Federal do Ceará-UFC.

Aprovada em: ___/___/______

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Profª. Drª. Marília Braga Marques (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________
Enf. Ana Paula de Campelo Maciel Ribeiro

_________________________________________
Enf. Juliana Cunha Maia
A Deus, aos meus pais e irmãos.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida, pelas oportunidades durante o meu
percurso, por me proporcionar uma vida de bênçãos e sempre me amparar com seu eterno
amor.

Agradeço aos meus pais, Maria das Graças e Antonio Fernandes, e irmãos Vanessa e
Oscar, por todo o incentivo aos estudos, por me mostrar o caminho e por sempre estarem
aptos a percorrê-lo comigo, pela sua proteção e por serem meu apoio e refúgio.
Aos meus amigos do curso de Enfermagem que estiveram comigo e tornaram esse tempo o
mais especial possível.
À minha orientadora, Profª Marília Braga e às enfermeiras Ana Paula de Campelo e
Juliana Cunha, por aceitarem o meu convite e pelo tempo e apoio disponibilizado.
“Não podemos acrescentar dias a nossa vida,
mas podemos acrescentar vida aos nossos
dias.”

Cora coralina
RESUMO

Introdução: O envelhecimento populacional caracteriza-se como um fenômeno mundial e as


tecnologias em saúde representam uma importante ferramenta voltada a atender as
necessidades dessa parcela da população. Objetivo: Analisar a produção científica acerca das
tecnologias utilizadas por enfermeiros na assistência domiciliária de idosos na atenção básica.
Metodologia: Trata-se de um estudo de revisão integrativa de literatura realizado nas bases de
dados Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), consultada por
meio do Public Medline (PubMed), Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (Lilacs) e Scientific Electronic Library Online (Scielo), através dos descritores:
tecnologias, enfermagem, idoso, assistência domiciliária e atenção primária e seus
correspondentes em inglês. Incluíram-se artigos na íntegra, originais, sem data limite de
publicação, nos idiomas português e inglês, realizados com pessoas de 60 anos ou mais.
Resultados: Os estudos abordados trabalharam principalmente com tecnologias leves e leve-
duras, seguidas das tecnologias duras de cuidado ao idoso. Nas tecnologias leves foram
trabalhadas as temáticas de comunicação com o idoso e a educação em saúde com o idoso e o
seu cuidador. Nas tecnologias duras foram exemplicados o uso de programas computacionais
e sistemas eletrônicos para o manejo de medicamentos. Conclusão: Concluiu-se que há
estudos insuficientes que abordam o uso das tecnologias duras pelo enfermeiro e sua
implementação com o idoso, sendo necessário mais investimentos para se estabelecer
condições adequadas para a pesquisa e inovação nessa área.

Palavras-chave: Tecnologias. Enfermagem. Idosos. Assistência Domiciliária. Atenção


Primária.
ABSTRACT

Introduction: Population aging is characterized as a worldwide phenomenon and health


technologies represent an important tool to meet the needs of this part of the population.
Objective: To analyze the scientific production about the technologies used by nurses in the
home care of the elderly in primary care. Methodology: This is an integrative review of
literature conducted in the Medical Literature Analysis and Retrieval System Online
(MEDLINE) databases, accessed through the Public Medline (PubMed), Latin American and
Caribbean Literature in Health Sciences (Lilacs) and Scientific Electronic Library Online
(Scielo), through the descriptors: technologies, nursing, elderly, home care and primary care
and their correspondents in English. Including original articles, with no publication deadline,
in Portuguese and English, with people aged 60 and over. Results: The studies studied
worked mainly with light and light-hard technologies, followed by the hard technologies of
care for the elderly. In the light technologies the subjects of communication with the elderly
and health education with the elderly and their caregiver were worked. In hard technologies,
the use of computer programs and electronic systems for the management of medicines was
exemplified. Conclusion: It was concluded that there are insufficient studies that address the
use of hard technologies by the nurse and its implementation with the elderly, requiring more
investments to establish adequate conditions for research and innovation in this area.

Keywords: Technologies. Nursing. Elderly. Home care. Primary attention.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1  Fluxo do processo de seleção dos estudos para a revisão


integrativa......................................................................................................... 22

Figura 2  Medplanner, dispensador semanal de medicamentos....................................... 30

Figura 3  MD2, dispensador eletrônico de medicamentos............................................... 31


LISTA DE QUADROS

Quadro 1  Caracterização dos artigos quanto ao ano de publicação, título, periódico


publicado, metodologia e objetivos................................................................ 23

Quadro 2  Caracterização dos tipos de Tecnologias leve, Tecnologias leve-duras e


Tecnologias duras........................................................................................... 32

Quadro 3  Caracterização dos artigos quanto aos resultados obtidos e


conclusão........................................................................................................ 35
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AD Atenção Domiciliar
BVS Biblioteca Virtual em Saúde
DeCS Descritores em Ciências da Saúde
EASIC Enfermagem na Atenção a Saúde do Idoso e seus Cuidadores
ECR Ensaio Controlado Randomizado
EDG Escala de Depressão Geriátrica
INPS Instituto Nacional de Previdência Social
IPSS Instituições Particulares de Solidariedade Social
LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
MD2 Medication Dispenser 2
MEDLINE Medical Literature Analysis and Retrieval System Online
MEEM Mini Exame do Estado Mental
MeSH Medical Subject Headings
NIH National Institutes of Health
PNSPI Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
PubMed Public Medline
REBEn Revista Brasileira de Enfermagem
SAD Serviços de Atenção Domiciliar
SAMDU Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência
SciELO Scientific Eletronic Library Online
SUS Sistema Único de Saúde
TDR Teste do Desenho do Relógio
TFV Teste de Fluência Verbal
TPF Teste da Performance Física
UMC University Medical Center Utrecht
UFF Universidade Federal Fluminense
WRAAA Western Reserve Area Agency on Aging
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14
2 OBJETIVO ........................................................................................................ 19
3 METODOLOGIA ............................................................................................. 20
3.1 Tipo de Estudo ................................................................................................... 20
3.1.1 Etapas da pesquisa.............................................................................................. 21
4 RESULTADOS................................................................................................... 23
5 DISCUSSÃO ...................................................................................................... 36
6 CONCLUSÃO ................................................................................................... 41
REFERÊNCIAS................................................................................................. 42
14

1 INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno caracterizado pela elevação


da participação de idosos no total da população, bem como aumento da sua idade
média, podendo ser revertido se a taxa de fecundidade aumentar. É um processo em
que ocorre a manutenção, por um tempo relativamente longo, de taxas de crescimento
da população idosa superiores às da população mais jovem (FREITAS & PY, 2016).
O envelhecimento populacional é uma resposta à mudança de alguns indicadores de
saúde, especialmente a queda da fecundidade e da mortalidade e o aumento da
esperança de vida.
De acordo com a Organização Pan-americana de Saúde o envelhecimento é
um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não
patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de
uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse
do meio ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte (BRASIL, 2013).
Envelhecer não significa necessariamente adoecer, a menos que exista doença
associada. Além disso, com os avanços na área da saúde e da tecnologia, é possível
uma melhor qualidade de vida para a população com acesso a serviços públicos ou
privados adequados (MIRANDA; MENDES; SILVA, 2016).
No Brasil, é considerado idoso todo indivíduo com 60 anos ou mais, sendo
prevista, através da regulamentação da Política Nacional de Saúde do Idoso de 1996,
a garantia dos direitos sociais à pessoa idosa, criando condições para promover sua
autonomia, integração e participação efetiva na sociedade e reafirmando o direito à
saúde nos diversos níveis de atendimento do SUS (Lei nº 8.842/94 e Decreto nº
1.948/96). Houve a determinação, em 1999, através da Portaria Ministerial nº 1395,
dos órgãos e entidades do Ministério da Saúde responsáveis pela elaboração ou a
readequação de planos, projetos e atividades necessárias para o cumprimento do
direito à saúde do idoso pelo SUS (BRASIL, 1999).
Em 2003, foi sancionado o Estatuto do Idoso, cuja elaboração contou com
intensa participação de entidades de defesa dos direitos dos idosos, engajadas na
busca de meios para solucionar os principais problemas que podem afetar os idosos,
como a perda de sua capacidade funcional, isto é, a perda das habilidades físicas e
15

mentais necessárias para a realização de atividades básicas e instrumentais da vida


diária (BRASIL, 2017).
A criação do Estatuto do Idoso trouxe a organização e o direcionamento das
normas de proteção e atenção à população idosa no Brasil, muitas das quais enfatizam
cuidados específicos à saúde do idoso. Conforme o art. 15 do EI, é assegurada a
atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS),
incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos,
atendimento domiciliar, incluindo a internação para a população que dele necessitar e
esteja impossibilitada de se locomover, bem como reabilitação orientada pela
geriatria e gerontologia, para redução das sequelas decorrentes do agravo da saúde. E
o art. 18 do EI afirma que as instituições de saúde devem apresentar critérios mínimos
para o atendimento às necessidades dos idosos, promovendo o treinamento e a
capacitação dos profissionais assim como orientações a cuidadores familiares e
grupos de autoajuda (BRASIL, 2017).
Com a publicação, em 2006, das Diretrizes do Pacto pela Saúde que
contempla o Pacto pela vida, por meio da Portaria nº 399/GM, a saúde do idoso
aparece como uma das seis prioridades pactuadas entre as três esferas de governo. A
partir disso, foram apresentadas algumas ações visando à implementação de algumas
diretrizes da Política Nacional de Atenção à Saúde do Idoso, através da Portaria GM
nº 2528, como a necessidade de uma maior inserção das Redes Estaduais de
Assistência à Saúde do Idoso (BRASIL, 2006).
Dessa forma, compreende-se a necessidade da execução dessas políticas para
assegurar a permanência do idoso no contexto comunitário e familiar como indivíduo
independente e autônomo, evitando a sua institucionalização. A PNSPI prevê a
recuperação e promoção da autonomia e independência dos indivíduos idosos através
das seguintes diretrizes: promoção do envelhecimento ativo e saudável; atenção
integral, integrada à saúde da pessoa idosa; estímulo às ações intersetoriais, visando à
integralidade da atenção; provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da
atenção à saúde da pessoa idosa, dentre outras (BRASIL, 2006).
Com o consequente aumento mundial da população de idosos, surge a
necessidade de maiores investimentos na atenção e cuidados domiciliares, tendo
como vantagens a redução de custos e complicações relacionadas ao ambiente
hospitalar. Observa-se que o cuidado domiciliar abrange intervenções de saúde que
requerem profissionais qualificados, visto que é um tipo de cuidado que demanda
16

diversas competências. Estudos revelam que os profissionais de enfermagem


desempenham um importante papel no estabelecimento de cuidados no domicílio, já
que precisam treinar os cuidadores, supervisionar os técnicos de enfermagem e
identificar a necessidade de serviços de outros profissionais da saúde (ANDRADE et
al 2017).
Na Atenção Básica, o processo de trabalho das equipes de saúde da família
deve caracterizar-se pelo desenvolvimento de ações proativas, cujo planejamento é
fundamental para a efetivação do acolhimento, levando-se em conta o “acolher na
família/comunidade”. Para o acolhimento da população idosa, os profissionais de
saúde devem compreender as especificidades dessa população e a própria legislação
brasileira vigente, como o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2009).
Dessa forma, a equipe de saúde deve estar preparada para lidar com as
questões do processo de envelhecimento, inclusive as de ordem subjetiva, romper
com a fragmentação do processo de trabalho e interação precária das equipes
multiprofissionais e facilitar o acesso do idoso aos diversos níveis de complexidade
da atenção (BRASIL, 2009). Esses aspectos são importantes para o estabelecimento
dos critérios de elegibilidade aos Serviços de Atenção Domiciliar (SADs) e
determinação da modalidade Atenção Domiciliar (AD), cujas categorias mais
significativas para a prática dos serviços abrangem aspectos clínicos (hospitalizações,
presença de doenças agudas, terapia medicamentosa), socioeconômicos e ambientais
(drogadição, presença de cuidador, condições de moradia) (BRASIL, 2013).
Ressalta-se a importância da enfermagem no cuidado domiciliar e suas novas
atribuições, em que observa-se a modificação da conduta de orientar tarefas para uma
maior ênfase no estabelecimento da relação de cuidado com foco direcionado à
dignidade do cliente, identificando obstáculos (autoimagem negativa, pressão no
trabalho e a falta de oportunidades de desenvolvimento), e necessidades
(empoderamento e desenvolvimento pessoal), bem como verificando e utilizando
diversas competências (habilidade de comunicação, negociação, liderança e
flexibilidade) (STENIS; WINGERDEN; TANKE, 2017).
O enfermeiro necessita de um constante processo de capacitação e
qualificação para a identificação de conceitos e políticas que permeiam as novas
tecnologias, sendo capaz de aplicar e integrar os avanços tecnológicos ao processo de
cuidar em saúde. Aliado a isso deve estar presente a integração entre a tecnologia e a
humanização, para que o cuidado não seja fragmentado (SALVADOR et al 2012).
17

Existem diversas formas de prestar assistência em saúde através do uso de


tecnologias variadas, que abrangem desde a abordagem inicial do indivíduo, como o
acolhimento e a formação de vínculo entre o profissional e o cliente, até o produto
final do cuidado. As principais tecnologias utilizadas são classificadas em tecnologias
leves, cuja implementação depende do estabelecimento de relações (vínculo, gestão
de serviços e acolhimento); tecnologias leve-duras, representada pela utilização de
saberes estruturados; e tecnologias duras, que utiliza instrumentos, normas e
equipamentos tecnológicos (ARAÚJO et al 2017).
As tecnologias duras são representadas pelos equipamentos tecnológicos do
tipo máquinas, normas e estruturas organizacionais. As tecnologias leves relacionam-
se ao saber que as pessoas adquirem ao se apropriarem no modo de pensar e atuar
sobre os casos de saúde. Enquanto que as tecnologias leve/duras exigem um saber-
fazer que normaliza e é normalizado, como os protocolos e o conhecimento
produzido em áreas específicas do saber, as tecnologias leves são as produzidas no
trabalho vivo em ato, dando possibilidade a produção do vínculo, acolhimento e
responsabilização (MEHRY, 2002).
Quanto às tecnologias encontradas na prática cotidiana do enfermeiro, Koerich
(2006) classifica como tecnologias leves e pesadas os cuidados manuais, a forma de
tocar e conversar, os conhecimentos, e até a tecnologia de ponta, fazendo parte dessas
tudo que está disponível, a exemplo dos equipamentos em geral para a prestação de
serviço e de acesso à informação e organização da prática.
Araújo et al., (2017) refere que a utilização das tecnologias duras, como o
desenvolvimento de softwares, são importantes para a tomada de decisões clínicas e
para o desenvolvimento de políticas públicas e ações de prevenção e educação em
saúde, desde que haja a coligação entre as tecnologias duras e leves, visando a um
cuidado de enfermagem humanizado.
Há quatro tipos diferentes de abordagens tecnológicas para realizar
intervenções preventivas, que são: aconselhamento ou mudança de estilo de vida,
rastreamento, quimioprevenção (uso de drogas que, comprovadamente, reduzem o
risco de doenças e/ou suas complicações) e imunização (PENHA et al 2015). Essas
tecnologias também podem ser classificadas como ações interativas (apoio
emocional, psicológico e mental, comunicação, negociação e respeito), ações
educacionais (aprendizado sobre os recursos disponíveis, treinamento dos clientes,
familiares, rede de apoio e outros setores para prevenção de risco em emergências),
18

ações de cuidado (visita domiciliar, oxigenoterapia, manejo da dor, avaliação de risco


e prevenção de complicações) e ações administrativas (planejamento e organização de
visita domiciliar, coordenação de cuidados e gestão de casos) (ANDRADE et al
2017).
A institucionalização e a profissionalização do domicílio como espaço de
cuidado em saúde surgem em 1947 nos Estados Unidos, devido à necessidade de um
ambiente mais favorável à recuperação dos pacientes e à liberação de leitos nos
hospitais. A partir da década de 1970, ocorreu um incremento mundial na oferta de
serviços na atenção domiciliar, motivado pelas mudanças demográficas e
epidemiológicas. Além disso, houve uma tendência à busca pela redução dos custos à
assistência para os sistemas de saúde e a prestação de cuidados voltados para a
humanização. No Brasil, o cuidado domiciliar profissional teve seu primeiro registro
em 1949, realizado pelo Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência
(SAMDU), que foi vinculado ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) em
1967. Desde então, verifica-se um incremento na oferta de serviços de AD,
principalmente dos anos de 1990 em diante (BRAGA et al 2016).
Várias modalidades de cuidado domiciliar foram implantadas no país, como o
Sistema de Internação Domiciliar no município de Londrina, no Paraná, o Núcleo de
Assistência Domiciliar Interdisciplinar do Hospital de Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo e o Programa de Atenção Domiciliar do
Grupo Hospitalar Conceição, no Rio Grande do Sul. Em oito de novembro de 2011,
ocorreu o lançamento do programa Melhor em Casa, sendo composto por enfermeiros
e médicos em suas equipes multiprofissionais de AD. Apesar de todas essas ações
ainda há uma deficiência de profissionais com preparo para atuar na AD, visto que
não há menção explícita nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) sobre
habilidades específicas para atuação na AD (HERMANN et al 2017).
Justifica-se então a importância desse estudo devido à abordagem das
principais necessidades e tecnologias a serem utilizadas na assistência aos idosos na
AD. Sendo relevante para a atualização dos profissionais de enfermagem que
invariavelmente se deparem com a possibilidade de prestar cuidados aos idosos no
domicílio.
19

2 OBJETIVO

Analisar a produção científica acerca das tecnologias utilizadas na atenção básica pelo
enfermeiro na assistência domiciliária de idosos.
20

3 MÉTODO

3.1 Tipo de Estudo

Este estudo é uma revisão integrativa e tem como objetivo reunir e sintetizar
resultados anteriores para elaborar uma explicação abrangente de um fenômeno
específico. É um método de pesquisa utilizado com frequência na prática baseada em
evidência e caracteriza-se pelo estabelecimento de conclusões através da avaliação
crítica de diferentes abordagens metodológicas (SOUZA; SILVA; CARVALHO,
2015).
Esta pesquisa dividiu-se em cinco etapas: elaboração da questão norteadora;
definição das bases de dados e estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de
estudos/amostragem ou busca na literatura; definição das informações a serem
extraídas dos estudos selecionados; avaliação dos estudos incluídos na revisão
integrativa; interpretação dos resultados e, por último, apresentação da revisão/síntese
do conhecimento (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2015). Portanto, elaborou-se a
seguinte questão norteadora: Quais as tecnologias utilizadas pelo enfermeiro na
assistência domiciliária de idosos?
O direcionamento inicial desta pesquisa aconteceu através de uma consulta
aos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), por meio da Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), e do Medical Subject Headings (MeSH) da National Library, para
conhecimento dos descritores universais. Foram, portanto, utilizados os descritores
controlados, em português e inglês: “tecnologias/Technologies”,
“enfermagem/nursing”, “idosos/elderly”, “assistência domiciliária/ home care” e
“atenção primária/ primary attention”. Os mesmos descritores foram utilizados na
base de dados SciELO.
Os artigos foram selecionados através de busca realizada durante o mês de
outubro de 2018 na internet e nas seguintes bases de dados: Scientific Eletronic
Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online
(MEDLINE), consultada por meio do Public Medline (PubMed).
21

3.1.1 Etapas da pesquisa

A primeira etapa da pesquisa consistiu na busca avançada nas bases de dados


com detalhamento do quantitativo dos artigos: seis artigos na base de dados LILACS,
seis artigos na base de dados SciELO e 25 artigos na base de dados MEDLINE,
gerando um total de 37 artigos.
Foram incluídos no estudo os artigos publicados em inglês e português, sem
delimitação de data de publicação, que apresentassem resumos e informações sobre as
tecnologias utilizadas pelo enfermeiro na atenção domiciliária aos idosos. Foram
excluídas monografias, dissertações, teses, editoriais, manuais, capítulos de livros,
relatórios, relatos de experiência e estudos reflexivos.
Após o processo de seleção e identificação dos artigos que obedeceram aos
critérios de inclusão estabelecidos, prévia leitura de todos os títulos, resumos ou
abstract, selecionaram-se 10 publicações. Cinco estudos, cuja autoria não era de
enfermeiros, foram excluídos, ficando cinco artigos para análise, sendo dois da base
de dados SciELO e três da MEDLINE, através do PubMed (Figura1).
Na segunda etapa, realizou-se a leitura na íntegra dos 10 artigos, sendo
excluídos cinco artigos cuja elaboração não contou com a participação efetiva de
enfermeiros no ambiente domiciliar.
Na terceira etapa, após todos os refinamentos estabelecidos para a revisão,
através dos critérios de inclusão e exclusão, ficaram para análise cinco artigos, os
quais foram apresentados em um quadro, permitindo uma melhor visualização e
sumarização e em seguida interpretados conforme os objetivos propostos.
Na quarta etapa da pesquisa, foi realizada a seleção das publicações para
análise, mediante a correspondência com a questão norteadora da pesquisa e os seus
critérios de inclusão e exclusão. As publicações selecionadas foram organizadas
através de um instrumento com as seguintes informações: título, periódico, país, ano
de publicação, objetivos, metodologia e resultados da pesquisa.
Na quinta fase da pesquisa houve a análise dos estudos a partir da organização
dos dados em categorias temáticas de acordo com a similitude de objetivos,
resultados e conclusões dos artigos selecionados, mediante abordagem descritiva. Por
fim se fez a discussão dos resultados da revisão, realizando-se uma avaliação crítica
acerca das considerações obtidas a partir da questão norteadora do estudo.
22

Figura 1- Fluxo do processo de seleção dos estudos para a revisão integrativa.

Fonte: autoria própria (2018)

Para este trabalho, foram considerados os aspectos éticos da pesquisa,


respeitando a autoria das ideias, os conceitos e as definições presentes nos artigos
incluídos na revisão.

.
23

4 RESULTADOS

Foram encontrados um total de cinco artigos com abordagem direcionada às


tecnologias utilizadas pelo enfermeiro na assistência domiciliária aos idosos na
atenção básica. O Quadro 1 detalha a caracterização dos estudos selecionados através
das informações coletadas por meio de ficha elaborada com os tópicos.
No que se refere aos enfoques das publicações inseridas no estudo, emergiram
três categorias temáticas: Linguagem corporal e Construção do relacionamento
terapêutico com os idosos (Artigos 01 e 03), Manejo do regime medicamentoso dos
idosos (Artigos 02 e 04), Idosos com demência e a educação em saúde de seus
cuidadores (Artigo 05).

Quadro 1 – Caracterização dos artigos quanto ao ano de publicação, título,


periódico publicado, metodologia e objetivos. Fortaleza, 2018. Continua.
Artigo/Ano/Título Tipo de estudo/ Objetivo(s)
Periódico/País Amostra
Artigo 1, 2000 Quantitativo/Descritivo  Melhorar as
habilidades de comunicação
Effects of video interaction 241 idosos dos enfermeiros, de modo a
analysis training on nurse– prestar atenção às
patient communication in 40 enfermeiros necessidades físicas e
the care of the elderly. sociais dos pacientes;
 Facilitar o
Pacient Education and autocuidado em pacientes
Counseling idosos e apoiá-los a
encontrar suas próprias
Holanda soluções para seus
problemas, em vez de dar
as soluções usuais do ponto
de vista profissional.
24

Artigo 2, 2004 Quantitativo/Descritivo  Testar a eficácia do


Talking Computer para
Using Computers to 412 idosos evitar o uso inadequado de
Reduce Medication Misuse medicamentos.
of Community-Based
Seniors: Results of a Pilot
Intervention Program.

Geriatric Nursing

Estados Unidos

Artigo 3, 2012 Qualitativo indutivo  Compreender como os


enfermeiros organizam e
Cuidados domiciliares – Seis enfermeiras e sete estruturam as visitas
interação do enfermeiro idosos. domiciliares;
com a pessoa idosa/família.  Identificar as estratégias
desenvolvidas pelos
Acta Paul Enferm enfermeiros para que sejam
aceitos no ambiente íntimo
Portugal e privado das pessoas alvo
dos cuidados de saúde;
 Compreender as atitudes
observadas/sentidas pelos
enfermeiros durante a
interação com a pessoa
idosa-família e que indicam
que já são aceitas pelas
pessoas cuidadas;
 Identificar como os
enfermeiros mobilizam os
vários recursos, materiais e
humanos, para obterem
respostas à complexidade
de situações que se lhes
deparam;
 Identificar as intervenções
terapêuticas desenvolvidas
pelos enfermeiros nos
contextos domiciliares.
Artigo 4, 2013 Quantitativo/Descritivo  Avaliar os resultados
do estado de saúde de
Nurse Care Coordination 414 idosos idosos com fragilidade,
and Technology Effects on inseridos em um programa
Health Status of Frail de apoio domiciliar, que
Elderly via Enhanced Self- enfatiza o
management of autogerenciamento de
Medication: Randomized medicamentos, usando
25

Clinical Trial to Test tanto a coordenação do


Efficacy. cuidado quanto a
tecnologia.
NIH Public Access

Estados Unidos

Artigo 5, 2015 Qualitativo  Conhecer a influência da


estimulação cognitiva no
Estimulação cognitiva para Cinco idosos e seus domicílio, realizada pelo
idoso com Doença de respectivos cuidadores cuidador de idosos com
Alzheimer realizada pelo Doença de Alzheimer.
cuidador.

REBEn

Brasil

Fonte: autoria própria (2018).

Após o refinamento da busca, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão, foram


obtidos três artigos na base de dados PubMed, dois na SciELO e nenhum na LILACS.
Verificou-se que três artigos apresentavam uma abordagem quantitativa e dois tinham uma
abordagem qualitativa. Em relação ao local do estudo, dois artigos foram produzidos nos
Estados Unidos, um no Brasil, um na Holanda e um em Portugal.
O estudo 01 (WILMA et al., 2000) foi constituído por um grupo experimental de 24
enfermeiros com treinamento prévio de comunicação enfermeiro-paciente e um grupo
controle com 23 enfermeiros, cujo treinamento ocorreu no decorrer do estudo. Ambos os
grupos trabalhavam em uma empresa de cuidados domiciliares e em uma Instituição de longa
Permanência para Idosos. O programa de treinamento teve como objetivo geral melhorar as
habilidades de comunicação dos enfermeiros, de tal forma que eles prestassem atenção às
necessidades físicas e sociais dos pacientes.
Dos enfermeiros que participaram da pesquisa, 95,2% eram do sexo feminino no
grupo experimental e 100% no grupo controle. O grupo experimental tinha em média 17 anos
de experiência profissional e 52,4% trabalhavam em uma empresa de cuidados domiciliares e
47,6% trabalhavam em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI). O grupo
controle tinha em média 14,5 anos de experiência profissional, 47,3% trabalhavam em uma
empresa de cuidados domiciliares e 52,7% trabalhavam em uma Instituição de Longa
Permanência para Idosos (ILPI).
26

Com relação aos idosos, 71% eram do sexo feminino, desse total, 75% eram atendidos
por uma empresa de cuidados domiciliares e tinham média de idade de 77 anos, 25% viviam
em uma ILPI e apresentavam idade média de 87 anos. Dos idosos do sexo masculino, 64%
eram atendidos por uma empresa de cuidados domiciliares e tinham média de idade de 76
anos, 36% viviam em uma ILPI e apresentavam idade média de 86 anos.
Durante a pesquisa aconteceram sessões de análise de vídeo-interação entre o orientador e os
enfermeiros em treinamento, para que eles discutissem o seu próprio desempenho durante os
encontros de enfermagem. Em sua totalidade, o programa de treinamento de habilidades de
comunicação correspondeu a um curso introdutório de dois dias, com uma explicação teórica
sobre a comunicação entre o enfermeiro e o paciente idoso, uma explicação do método da
análise de vídeo-interação e a prática de comunicação durante as apresentações, mostrando as
interações enfermeiro-paciente, em que atores atuaram como pacientes.
Antes do treinamento, o grupo experimental registrou 87 encontros enfermeiro-
paciente idoso e o grupo controle 69 encontros. Após o treinamento, os números foram 87 e
73, respectivamente. Cada encontro foi filmado inteiramente usando uma câmera com tripé.
Os encontros tiveram uma duração média de 18 min (variação de 4,8 a 60,7). Na amostra pré-
teste, 20% dos encontros abordaram a assistência psicossocial e as visitas restantes
envolveram os cuidados de higiene. Durante o pós-teste, esses percentuais foram 30 e 70,
respectivamente.
Houve também seis sessões de pequenos grupos em que dois estagiários, orientados
pelo treinador, analisaram e discutiram os seus próprios encontros filmados de interação
enfermeiro-paciente. Foram realizadas filmagens dos dois grupos de enfermeiros durante o
atendimento a 241 idosos. Os resultados demonstraram que a comunicação do enfermeiro,
após o treinamento, ficou mais facilitadora.
Os dois grupos de enfermeiros mostraram menos discordância, usaram perguntas mais
abertas e deram mais informações. Além disso, esses enfermeiros foram classificados como
mais interessados e envolvidos, mais afetuosos e menos condescendentes. Tanto os
enfermeiros do grupo experimental como os do grupo controle foram classificados como mais
interessados e envolvidas durante o pós-teste. Com relação à postura paternalista, os
enfermeiros do grupo controle apresentaram mais esse padrão do que os do grupo
experimental, já os enfermeiros do grupo experimental forneceram aos pacientes mais
informações sobre os temas de enfermagem e saúde.
Embora o treinamento tenha sido direcionado principalmente à comunicação do
enfermeiro, as mudanças na interação estenderam-se também aos idosos. Os idosos atendidos
27

por enfermeiros treinados apresentaram diminuição de discordância, deram mais informações


e produziram suas próprias soluções com mais frequência.
O estudo 02 (NILES; ALEMAGNO; TREIBER, 2004) aborda as experiências do
“Healthy Town Program”, pertencente à Associação de Enfermeiros de Cuidados
Domiciliares de Ohio nos Estados Unidos, e as melhorias que ele trouxe para o estado de
saúde dos idosos de nove comunidades. O programa parte do pressuposto de que os idosos
estão dispostos a alterar o seu comportamento na busca por um estilo de vida saudável. O
projeto testou a eficácia de um sistema sonoro emissor de voz de alerta em laptops, o “Talking
Computer”, com 412 idosos de nove comunidades do subúrbio de Ohio durante dois meses.
Inicialmente, os idosos foram introduzidos a uma breve descrição do projeto,
seguida de uma interação com o Talking Computer para responder a um questionário
estruturado contendo perguntas com respostas “Sim” ou “Não” sobre o uso de medicamentos.
Depois, os idosos assistiram a alguns vídeos de acordo com as suas respostas e receberam
uma lista com lembretes sobre os medicamentos, além de uma caixa de dispensação dos
medicamentos para sete dias. A intervenção dos vídeos consistia nas consequências do uso
indevido de medicamentos, como a dependência e a ocorrência de quedas, além disso, referia
métodos para melhorar a adesão ao regime medicamentoso.
Os idosos foram orientados a rever periodicamente a lista de lembretes de
medicamentos em casa e conversar sobre a mesma com o médico, para verificar a necessidade
de alterações, caso achassem necessário. Os lembretes da lista foram adaptados a cada
prescrição e continham questões como: “Fale com o seu médico sobre as pílulas para dormir”.
Dos 412 idosos participantes da pesquisa, 91% utilizavam medicamentos sujeitos a receita
médica, 74% eram mulheres, com média de idade de 76 anos, 69.8% tomavam mais de dois
medicamentos por prescrição, 63,3% tomavam medicamentos para dor, 62,1% tomavam
medicamentos para pressão arterial, 68% tomavam medicamentos de venda livre e 32%
relataram que esqueciam de tomar o medicamento.
Após dois meses da intervenção, 261 idosos que continuaram no programa
responderam a um questionário sobre a pesquisa, 41 idosos sairam do programa devido à
doença ou falecimento e 111 idosos não responderam ao questionário. Dos idosos que
responderam, 38% afirmaram que estavam usando a caixa de distribuição de medicamentos,
55% estavam verificando a lista lembrete das medicações e 32% estavam conversando com o
médico sobre alterações na prescrição.
A avaliação sobre a interação dos idosos com o computador, durante a pesquisa,
demonstrou que 24% dos idosos referiram melhora na forma como eles estavam tomando as
28

medicações, 63% relataram que tinham aprendido algo novo enquanto assistiam aos vídeos no
Talking Computer, 89% afirmaram que a intervenção computadorizada poderia ser útil para
outros idosos e 96% informaram que as perguntas do computador eram fáceis de responder.
Verificou-se então que houve eficácia na intervenção computadorizada do Talking Computer,
visto que a maioria dos idosos indicou uma resposta positiva ao interagir com o computador e
assistir aos vídeos. Dessa forma, o Talking Computer pode ser útil para os enfermeiros em
programas de educação em saúde, possibilitando intervenções em ambientes comunitários
através da formação de redes informais de apoio e incentivo à comunicação entre enfermeiros
e idosos.
No estudo 03 (GAGO & LOPES, 2012), houve o desenvolvimento de uma teoria
provisória e sua verificação através da coleta sistemática de dados e de sua constante de
análise. Foi realizada uma amostragem teórica com a participação de seis enfermeiras e sete
pessoas idosas e suas respectivas famílias, indicadas pelas enfermeiras.
Os dados foram coletados durante observação não participante de pessoas idosas em
41 visitas domiciliares, em um período consecutivo de dois meses, acompanhando as
enfermeiras do Centro de Saúde.
Foram efetuadas sete entrevistas semiestruturadas com as pessoas idosas e suas
respectivas famílias, em um período de seis meses, sendo questionada a percepção destes em
relação aos cuidados de enfermagem no domicílio. Também houve a entrevista de 12
enfermeiras em uma sala privativa do Centro de Saúde, cuja questão solicitada foi que as
enfermeiras descrevessem suas práticas. Todas as entrevistas foram audiogravadas e
transcritas.
Como resultado, elaborou-se a seguinte categoria substantiva: “Construindo a relação
em contexto familiar”. Houve a participação de 41 pessoas neste estudo, sendo 18 do sexo
masculino e 23 do sexo feminino. Observou-se a predominância do estado civil de viuvez
entre as mulheres e de casado entre os homens. O grau de instrução dos idosos foi até o
primeiro ano do ensino fundamental e a maioria das idosas não possuía qualquer grau de
escolaridade.
O estudo concluiu que o planejamento das visitas domiciliares ocorreu nos Centros de
Saúde e as estratégias de aceitação no domicílio dependeram da adequação das intervenções
ao tipo de espaço íntimo de cada idoso. Além disso, as atitudes dos enfermeiros influenciaram
diretamente na participação dos idosos e dos seus familiares, bem como a mobilização de
vários recursos para construir uma relação contínua com os idosos. Verificou-se a importância
da rede social formal, como as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e as
29

organizações católicas, as quais ofereceram ajuda em nível de cuidados de higiene,


fornecimento de alimentação e cuidados com as roupas.
No estudo 04 (MAREK at al., 2013), foi realizado um Ensaio Controlado
Randomizado (ECR) para avaliar os idosos com doenças crônicas e dificuldades no
autogerenciamento do regime medicamentoso. O ECR foi formado por um grupo controle e
dois grupos de intervenção acompanhados durante um período de 12 meses. A amostra
populacional foi contituída por 414 idosos que recebiam cuidados de saúde no domicílio. Os
três grupos receberam uma tabela para acompanhar as medicações utilizadas.
O grupo controle não recebeu nenhuma intervenção dos enfermeiros com relação à
administração de medicamentos e alteração do plano de cuidados. Já os grupos de intervenção
foram divididos de acordo com o uso do MD2, Medication Dispenser 2, (sistema automático
de dispensação de medicamentos), grupo do MD2, e do Medplanner (caixa com
compartimentos separados para as medicações de acordo com os dias da semana), grupo do
Medplanner, e contavam com a assistência de enfermagem para orientar sobre o uso desses
dispositivos, bem como para refazer o plano de cuidados.
Os resultados mostraram que os participantes que receberam a coordenação de
cuidados de enfermagem e utilizaram o Medplanner tiveram melhora significativa do quadro
clínico em comparação ao grupo controle. Já a coordenação de cuidados de enfermagem com
o uso do MD2 demonstrou não haver melhora significativa do quadro clínico dos pacientes.
Neste estudo, os enfermeiros não apenas realizaram a dispensação de medicamentos
no Medplanner e no MD2, mas também mantiveram a continuidade dos cuidados quando
alguns participantes do estudo precisaram ser hospitalizados, sendo responsáveis pela
atualização de cuidados durante a alta hospitalar ou o acompanhamento durante a visita
clínica. Todas essas ações demonstraram influência direta na adesão ao tratamento e melhora
no estado de saúde dos idosos, visto que os pacientes idosos do grupo controle apresentaram
resultados inferiores, nos indicadores avaliados pelas escalas do estudo, em relação aos dos
grupos do Medplanner e do MD2.
Desde o início da pesquisa, o grupo controle manteve os escores da Escala de
Depressão Geriátrica (EDG) um pouco acima dos observados nos grupos do Medplanner e do
MD2. Contudo, a partir do terceiro mês de estudo, houve queda significativa nos escores da
EDG dos grupos do Medplanner e do MD2, e ao final do estudo, verificou-se que os escores
do grupo controle permaneceram os mesmos, enquanto os dos outros dois grupos
demonstraram uma diminuição de cerca de 30% em relação aos escores do início da pesquisa.
30

Na avaliação do Teste da Performance Física (TPF), observou-se uma diminuição de


cerca de 15% nos escores do grupo controle ao final do estudo. Já os grupos do Medplanner e
do MD2 apresentaram aumentos de 4% e 1,4%, respectivamente, nos seus escores em relação
ao início da pesquisa.
Os resultados do Mini Exame do Estado Mental (MEEM) mostraram que o grupo do
Medplanner obteve um aumento de 1,8% nos escores, enquanto o grupo do MD2 apresentou
um aumento de 0,7% ao final do estudo. Já o grupo controle mostrou uma diminuição de
0,8% em relação aos escores do início da pesquisa.
Observou-se, neste estudo, que os melhores resultados foram obtidos no grupo do
Medplanner, em parte devido ao fácil entendimento e manuseio da tecnologia em questão,
Figura 1, e também porque, desde o início do estudo, este grupo já apresentava os escores dos
indicadores cognitivos maiores em relação aos dos outros dois grupos. Verificou-se que o
grupo do MD2 apresentou como principal dificuldade o manejo adequado da tecnologia
utilizada (Figura 2).

Figura 2- Medplanner, dispensador semanal de medicamentos.

Fonte: adaptação do Google Imagens (2018).


31

Figura 3 – MD2, dispensador eletrônico de medicamentos.

Fonte: adaptação do Google Imagens (2018).


Dessa forma, ficou evidente que a coordenação de cuidados de enfermagem trouxe
efeitos benéficos para as funções cognitivas, controle dos sintomas depressivos e melhora da
qualidade de vida dos idosos.
O artigo 05 (CRUZ et al., 2015) discorre sobre a influência da estimulação cognitiva
de idosos com alzheimer realizada pelo cuidador, no domicílio, sob a supervisão do
enfermeiro. O estudo foi desenvolvido com cinco idosos e seus respectivos cuidadores
atendidos no Programa intitulado “A Enfermagem na Atenção a Saúde do Idoso e seus
Cuidadores da Universidade Federal Fluminense (EASIC/UFF)”.
A maioria dos idosos era do sexo feminino, tinham acima de 71 anos de idade e
possuíam de quatro a oito anos de escolaridade, três eram viúvos e dois casados, moravam
com um ou mais familiares e apenas dois recebiam benefícios da aposentadoria. Todos os
idosos possuíam tempo igual ou superior a cinco anos com a demência e faziam uso de outras
medicações não associadas à doença, principalmente os utilizados no tratamento da
Hipertensão Arterial Sistêmica. A maioria dos cuidadores era do sexo feminino e com idade
acima de 50 anos. Dentre eles, apenas um era cuidador formal e o grau de parentesco
predominante era de filhos.
O estudo foi dividido em três etapas: a primeira etapa correspondeu às orientações
repassadas aos cuidadores sobre as características do processo demencial e os cuidadores
receberam um guia como fonte de consulta sobre a demência; na segunda etapa houve a
realização de 12 encontros com cada idoso e seu cuidador, com duração de uma hora e meia
cada, nos quais eles foram introduzidos às atividades de estimulação cognitiva e aos testes
para avaliação do comprometimento cognitivo, através do Mini-exame do Estado Mental
(MEEM), do Teste do Desenho do Relógio (TDR) e do Teste de Fluência Verbal (TFV). Além
32

disso, houve a verificação das atividades básicas de vida diária (ABVD) e das atividades
instrumentais da vida diária (AIVD) com as Escalas de Katz (KATZ) e de Lawton
(LAWTON), respectivamente, e na terceira etapa ocorreu a avaliação dos idosos e das ações
dos cuidadores.
As atividades foram planejadas de forma individual, após a observação das
deficiências e limitações dos idosos no seu dia a dia. Os cuidadores utilizaram figuras,
atividades com identificação de objetos, calendário, relógio, relacionamento com as pessoas,
reconhecimento de ambiente, estímulos a atividades manuais (tricô, crochê, costura e
bordados), de lazer (esportes, jogos, caminhadas, dança) e/ou estímulos intelectuais (ler
livros, jornais e revistas), de modo que as atividades fossem atrativas e de fácil compreensão
para os idosos. A avaliação das atividades aconteceu através de um pré-teste e três pós-testes,
os quais demostraram que houve aumento dos escores do MEEM de quatro idosos e
diminuição dos escores de uma das idosas. Nas outras escalas houve pouca ou nenhuma
melhora nos escores avaliados. No TDR, apenas um idoso conseguiu desenhar o relógio com
a hora solicitada adequadamente. O teste de Fluência Verbal mostrou resultados divergentes
para todos os idosos, sendo que dois idosos mantiveram escores baixos durante toda a
pesquisa.
Na escala de Lawton, a maioria dos idosos permaneceu dependente, com pontuação
abaixo de 21, e três idosos apresentaram aumento de escores. Na escala de Katz, o escore foi
constante para a maioria dos idosos durante a realização das atividades no domicílio, 60% dos
idosos mantiveram-se independentes e 40% dependentes, contudo, os cuidadores relataram
diminuição do nível de dependência dos idosos e melhora no desempenho das atividades de
vida diária.
Os artigos foram organizados em categorias temáticas de acordo com a similitude do
tema abordado e do conteúdo, considerando ainda a divisão por tipo de tecnologia utilizada,
enquadrando-os quanto ao uso de tecnologia leve, tecnologia leve-dura e tecnologia dura. As
tecnologias de cuidado mais prevalentes foram as tecnologias leves, seguidas das tecnologias
leve-duras e tecnologias duras. Observa-se que os estudos apresentam mais de um tipo de
tecnologia (Quadro 2).
Quadro 2 – Caracterização dos tipos de Tecnologias leve, Tecnologias leve-duras e
Tecnologias duras. Fortaleza, 2018. Continua.
Artigo/Ano/Título Tecnologias leves Tecnologias leve- Tecnologias duras
Periódico
duras
33

Artigo 1, 2000
Oficinas de Fitas de vídeo dos Câmera com tripé;
Effects of video
encontros de
interaction analysis simulação teatral O programa de
enfermagem antes e
training on nurse–
enfermeiro- após o treinamento. computador Roter
patient
communication in paciente. Interaction Analysis
the care of the
System (RIAS);
elderly.
Sistema de câmera
Pacient Education
computadorizado.
and Counseling
Artigo 2, 2004
Treinamento para o Lista lembrete de O programa de
Using Computers to
Reduce Medication uso do computador medicamentos; computador Talking
Misuse of
e da lista lembrete Dispensador Computer.
Community-Based
Seniors: Results of de medicamentos. semanal de
a Pilot Intervention
medicamentos.
Program.

Geriatric Nursing
Artigo 3, 2012
Adequação das
Cuidados
domiciliares – intervenções
interação do
terapêuticas para
enfermeiro com a
pessoa promover a
idosa/família.
participação dos
Acta Paul Enferm idosos/família na
prática dos
cuidados
domiciliares;
Trabalho em
conjunto com as
Redes Sociais
Formais, como as
organizações
católicas, para
ajudar a prover os
34

cuidados com a
higiene dos idosos.
Artigo 4, 2013
As intervenções Medplanner, MD2, dispensador
Nurse Care
Coordination and terapêuticas dispensador eletrônico de
Technology Effects
desenvolvidas pelos semanal de medicamentos.
on Health Status of
Frail Elderly via enfermeiros. medicamentos.
Enhanced Self-
Elaboração do
management of
Medication: plano de cuidados
Randomized
de enfermagem.
Clinical Trial to
Test Efficacy.

NIH Public Access


Artigo 5, 2015
As oficinas Guia de consulta
Estimulação
terapêuticas para os
cognitiva para para os cuidadores
idosos e as
idoso com Doença
atividades de sobre demência;
de Alzheimer
orientação, suporte
realizada pelo Terapia de
e apoio aos
cuidador. orientação a
cuidadores dos
realidade, através
idosos.
REBEn do uso de
Reminiscência, em
calendários, jornais,
que se utilizam
vídeos, fotografias
experiências
de familiares, bem
passadas
como o uso de
vivenciadas pelos
apoios externos,
idosos.
envolvendo o treino
e a utilização de
instrumentos.

Fonte: autoria própria (2008)

O artigo 01 foi desenvolvido com o apoio financeiro do Dutch Ministry of Health,


Welfare & Sport, Department for Policy on the Elderly. O artigo 02 recebeu financiamento da
Western Reserve Area Agency on Aging (WRAAA), uma organização privada que presta
serviços de cuidados em saúde ao idoso no domicílio, em Cleveland, Ohio. O artigo 04 contou
com o financiamento do National Institute of Nursing Research e o apoio da University of
Wisconsin-Milwaukee Self-Management Science Center. Os artigos 03 e 05 não referiram
apoio financeiro da pesquisa.
35

Os autores dos artigos 01, 02 e 03, que tratam da aplicação de tecnologias duras,
relataram que há a necessidade de estudos posteriores com essas tecnologias para constatar a
efetividade de melhorias na saúde dos pacientes idosos.
Quadro 3 – Caracterização dos artigos quanto aos resultados obtidos e conclusão.
Fortaleza, 2018. Continua.
Artigo/Ano/Título Resultados Conclusão
Periódico
Artigo 1, 2000
Verificou-se que os Devido às limitações desse tipo
Effects of video
enfermeiros que seguiram o do estudo, não foi possível
interaction analysis
programa de treinamento, demonstrar se estes achados
training on nurse–
forneceram aos pacientes mais poderiam ser inteiramente
patient
informações sobre os temas de atribuídos ao curso de
communication in
enfermagem e saúde. Eles treinamento.
the care of the
também usaram mais Recomenda-se a realização de
elderly.
perguntas abertas. Além disso, mais pesquisas, incorporando
eles foram classificados como um estudo controlado aleatório
Pacient Education
mais envolvidos, mais e amostras maiores, para
and Counseling afetuosos e menos determinar se os resultados
condescendentes. podem ser atribuídos a esse
tipo específico de treinamento.

Artigo 2, 2004
Os resultados de uma É necessária a realização de
Using Computers to
entrevista de seguimento de
Reduce Medication mais intervenções
dois meses foram promissores,
Misuse of
já que 55% dos participantes computadorizadas com idosos
Community-Based
estavam usando a lista
Seniors: Results of da comunidade para verificar
lembrete de medicamentos.
a Pilot Intervention
Um terço dos participantes melhorias em sua saúde.
Program.
visitou seu médico para
discutir o uso indevido das
Geriatric Nursing
medicações e 96% dos
participantes aprovaram o uso
da intervenção
computadorizada.

Artigo 3, 2012
Emergiram as categorias: A categoria central foi
Cuidados
“Construindo a relação em
domiciliares – organização estrutural dos
contexto domiciliar” pelo fato
interação do
cuidados domiciliares, da relação da enfermeira com o
enfermeiro com a
idoso e a família ser central em
pessoa avaliação diagnóstica em
todo o processo de cuidados. A
idosa/família.
relação é simultaneamente o
36

contexto e intervenção contexto de todos os cuidados,


Acta Paul Enferm assim como é um instrumento
terapêutica em contexto.
terapêutico.

Artigo 4, 2013
Os participantes com Neste estudo, a coordenação de
Nurse Care
coordenação de cuidados cuidados da enfermeira
Coordination and
tiveram resultados domiciliar, juntamente com o
Technology Effects
significativamente melhores dispositivo Medplanner, foi
on Health Status of
no estado de saúde do que eficaz no apoio aos
Frail Elderly via
aqueles do grupo controle. participantes para melhorar os
Enhanced Self-
A adição da máquina MD.2 resultados clínicos do seu
management of
não trouxe melhores estado de saúde.
Medication:
resultados para o estado de
Randomized
saúde do paciente.
Clinical Trial to
Test Efficacy.

NIH Public Access


Artigo 5, 2015
Foi possível identificar, no Esta estratégia pode ser
Estimulação
período de três meses, considerada uma tecnologia
cognitiva para
melhora da cognição, leve do cuidado de
idoso com Doença
verificada pelo resultado do enfermagem para idosos com
de Alzheimer
Mini Exame do Estado Mental demência. Quando o cuidador
realizada pelo
(MEEM). Os demais testes realiza este cuidado, após o
cuidador.
(KATZ, LAWTON, TDR e suporte do enfermeiro, sente-se
TFV) mantiveram os escores menos ansioso e com maior
REBEn
iniciais. compreensão da doença.

Fonte: autoria própria (2018).

5 DISCUSSÃO

A discussão foi fundamentada na síntese do conhecimento evidenciado nos artigos


analisados sobre a temática, a fim de contribuir para se compreender as estratégias de cuidado
utilizadas pelo enfermeiro da Atenção Básica com o idoso no ambiente domiciliar. Os artigos
01 e 03 foram agrupados na mesma categoria, por apresentarem abordagens direcionadas ao
cuidado humanizado, tipos de comunicação e ao relacionamento terapêutico.
O artigo 01 refere que muitos enfermeiros mantem um estilo inapropriado de
comunicação, visando tão somente aos cuidados físicos em detrimento das necessidades
sociais e emocionais dos pacientes. Considerando esses aspectos, o trabalho 01 analisou a
37

relevância da comunicação efetiva com pacientes idosos residentes em um lar para idosos e
em uma organização de atendimento domiciliar em Utrecht, Holanda. Para tanto, foram
realizadas análises da vídeo-interação entre os enfermeiros e os pacientes antes e depois do
treinamento de cuidados direcionados às habilidades sociais do enfermeiro e às necessidades
emocionais e físicas do paciente.
Após o treinamento, os enfermeiros melhoraram sua percepção sobre a importância da
realização de um atendimento humanizado, considerando a relevância dos aspectos da
linguagem verbal e não verbal do paciente.
O trabalho 03 também considerou a temática da adequação da linguagem e da
observação das necessidades físicas, sociais e emocionais do paciente, bem como os aspectos
intrínsecos ao ambiente no qual o paciente está inserido. Este estudo foi realizado durante as
visitas domiciliares aos idosos de quatro freguesias da cidade de Vila Nova de Famalicão
(VNF)- Portugal. Foi obtido o conceito central “Construindo a relação em contexto
domiciliar”, observando-se que a prestação de cuidados depende da construção de um
relacionamento progressivo, pautado na confiança e flexibilidade entre enfermeiro e paciente.
O estabelecimento das relações entre as enfermeiras e os idosos e seus familiares aconteceu
através de uma atitude profissional flexível, direcionada por um plano de trabalho
desenvolvido durante a primeira visita domiciliar e visitas domiciliares subsequentes. Com
isso, as enfermeiras foram construindo e reconstruindo a avaliação, além de adaptarem as
intervenções às situações de saúde-doença em consonância com a disponibilidade e aceitação
dos idosos.
As etapas para a construção da relação enfermeiro-paciente foram iniciadas ainda no
Centro de Saúde, abrangendo o processo de cuidados para um conjunto de pessoas ao longo
de um dia de visitas domiciliares. Assim, as enfermeiras organizavam as ações tendo como
referência o alvo dos cuidados, a dispersão geográfica, os materiais clínicos necessários para a
prestação dos cuidados e os recursos comunitários disponíveis.
O cenário domiciliar caracteriza-se como espaço de atuação e contexto de assistência
ao usuário/família, de modo que o estabelecimento de uma relação horizontalizada e do
vínculo pode proporcionar o desenvolvimento de uma assistência integral. Assim, a
assistência deverá ser centrada na família, focada a partir do contexto físico e social em que
ela está estabelecida (SANTOS & MORAIS, 2011).
Outro aspecto destacado no estudo 03 é a baixa escolaridade dos indivíduos da
amostra, principalmente o público feminino, e a forma como isso pode limitar a qualidade de
vida da população em geral. Segundo Santos & Cunha (2017), a baixa escolaridade constitui
38

uma condição social desfavorável para os indivíduos, já que influencia diretamente no acesso
aos serviços de saúde, em oportunidades de participação social e na compreensão de seu
tratamento e do seu autocuidado, entre outros.
Posto isto, verificou-se que os trabalhos 01 e 03 utilizaram adequadamente os
componentes do relacionamento terapêutico conforme Videbeck (2012), o que foi
demonstrado através do interesse genuíno manifestado pelo enfermeiro em relação às
necessidades do paciente, da empatia e da percepção dos sentidos e significados, bem como
da aceitação e do entendimento das reações manifestadas pelo paciente.
Destacou-se ainda, a consideração positiva, através do respeito e valorização do ser
humano, a despeito do seu comportamento, antecedentes ou estilo de vida. Além disso, houve
momentos de auto percepção e uso terapêutico do self, já que foi possível, ao longo da
aplicação dos estudos 01 e 03, a aquisição de experiência e o reajuste das crenças e das
atitudes do enfermeiro, de tal modo que as intervenções consideraram não apenas as
dimensões estritamente curativas, mas também a orientação, prevenção, promoção e
vigilância de saúde. (VIDEBECK, 2012; GAGO & LOPES, 2012).
Na categoria “Manejo do regime medicamentoso dos idosos” (Artigos 02 e 04) foram
relacionados os aspectos ideais para o uso racional dos medicamentos, bem como a relevância
da observação dos efeitos dos fármacos sobre a saúde dos idosos e a necessidade de
readequação da prescrição médica.
O uso de medicamentos é uma prática que pode levar a resultados indesejáveis, dentre
eles, o não seguimento correto das orientações médicas e de enfermagem, resultando em
sérias complicações para o idoso. De modo que o enfermeiro precisa ajudar os pacientes a
estabelecer um sistema ordenado e seguro para tomar a medicação correta e na dose
adequada. É atribuição do enfermeiro treinar toda a equipe de enfermagem e proporcionar
mecanismos ou métodos para facilitar ao paciente o entendimento do regime terapêutico de
modo eficiente e seguro (BLANSKI & LENARDT, 2005).
Observou-se nos artigos 02 e 04 o uso de orientações de enfermagem em consonância
com tecnologias computadorizadas, capazes de proporcionar o acompanhamento do regime
medicamentoso, bem como fornecer suporte para o seguimento ou alteração da prescrição
médica, baseado nos resultados dos indicadores de saúde e dos escores cognitivos dos idosos
e verificação da adesão ao regime medicamentoso.
Alguns fatores que podem influenciar na adesão ao tratamento são o uso de várias
medicações concomitantemente, o não entendimento da prescrição médica, a dificuldade de
compreender as informações durante a dispensação, (causada pelo uso de uma linguagem
39

inadequada para o idoso), bem como a consequência indesejada da continuidade do problema


de saúde e a cronicidade das doenças apresentadas. O enfermeiro tem como atribuição
primordial a prestação de cuidados e para isso precisa muitas vezes assumir múltiplos papeis,
como educador e consultor, relacionando-se com a equipe de trabalho, pacientes, família e
comunidade (BLANSKI & LENARDT, 2005).
Em um estudo posterior (SHEEHAM et al., 2018), foram criadas duas versões de um
programa computacional, o HOME-tool, com funcionamento on-line, uma para os pacientes e
seus cuidadores, contendo gráficos para ilustrar a posologia dos medicamentos, e outra para
os enfermeiros e médicos, destacando a complexidade do regime de medicação através de
ilustrações gráficas do número de medicamentos e da complexidade da prescrição. A versão
do enfermeiro também incluiu uma seção de insights onde os enfermeiros poderiam
comunicar aos médicos as principais percepções sobre o entendimento do paciente em relação
ao seu regime medicamento.
Nesse estudo de Sheeham et al. (2018), os enfermeiros relataram que o HOME-tool
melhorou a comunicação com os médicos sobre os medicamentos (média [DP] 4,0 [0,0]), em
uma escala de avaliação de um a quatro, já a comunicação com as famílias mostrou-se pouco
satisfatória (média [DP] 2,4 [0,4]) e, além disso, apenas três pacientes e cuidadores não
familiares (15%) responderam a avaliação via e-mail sobre o HOME-tool, de modo que o
impacto da ferramenta em pacientes e seus familiares não pode ser avaliado.
Os fatores associados à viabilidade e ao uso das tecnologias de informação na saúde
dependem da identificação de aspectos que levam à melhoria da qualidade dos serviços
prestados e à segurança dos resultados na prática. A explicação adequada dos procedimentos
pelos profissionais envolvidos nos cuidados de saúde, bem como a percepção de que o
paciente compreendeu a tecnologia utilizada, possibilita a obtenção de bons resultados.
Assim, é necessário desenvolver intervenções que facilitem o engajamento dos idosos em seu
plano de recuperação e cuidados domiciliares, maximizando o seu bem estar e a
independência à medida que envelhecem em casa (BOWLES et al., 2015).
Destaca-se que no estudo 02 (NILES; ALEMAGNO; TREIBER, 2004) houve o
direcionamento da pesquisa para a educação em saúde do paciente, através de vídeos
educativos, bem como o melhoramento da sua percepção sobre o regime medicamentoso.
Observou-se a facilitação da troca de informações entre a equipe de saúde e o paciente,
implicando diretamente na formação do vínculo entre os pacientes e os enfermeiros.
Na categoria “Idosos com demência e a educação em saúde de seus cuidadores”,
Artigo 05, (CRUZ T.J.P. et al., 2015), foram observadas as dificuldades enfrentadas pelo
40

cuidadores de idosos com demência, principalmente no aspecto de construção de uma


linguagem viável ao entendimento desses pacientes, visto que muitas vezes, os cuidadores
informais não tem acesso às informações sobre síndromes demenciais.
Segundo Harwood et al. (2012), a compreensão de sentenças por indivíduos com
doença de Alzheimer não está relacionada apenas à complexidade sintática, mas ao número de
proposições na sentença. Os idosos têm melhor compreensão quando a sentença tem poucas
proposições, por causa do declínio da capacidade de memória de trabalho, dando suporte para
a estratégia de comunicação de fornecer um sentido ou uma ideia de cada vez.
O estudo considerou algumas características limitantes da pesquisa, como a amostra
pequena e a sobrecarga física e psicológica dos cuidadores, sendo que durante o estudo houve
a necessidade de encaminhamento de cuidadores para o Serviço de Psicologia da UFF.
Ressalta-se que é característico do paciente com a DA a ocorrência de alterações constantes
de humor, que implicam na mudança dos hábitos de vida e comportamento dos cuidadores,
tornando-os pessoas irritadas, estressadas e constantemente cansadas.
A comunicação entre os cuidadores e idosos com demência e suas implicações para o
cuidado devem ser consideradas para a construção de um modelo de interação efetiva. Nesses
casos, é comum a ocorrência de problemas de comunicação, pois às vezes o idoso com
demência sequer responde, embora esteja olhando para o interlocutor, sendo importante
avaliar a formação da mensagem utilizada pelos cuidadores para que a comunicação seja
compreendida pelo idoso (SANTANA, 2008).
Apesar disso, este estudo contribuiu para que os cuidadores melhorassem a sua
compreensão em relação à DA, trazendo benefícios para os idosos através da criação de um
novo modelo de cuidado baseado na troca humanizada de informações entre enfermeiros,
cuidadores e idosos.
O treinamento das habilidades de comunicação aumenta a consciência sobre as
capacidades comunicativas da pessoa com demência e constrói uma compreensão dos
desafios e oportunidades para se comunicar eficazmente. Cuidadores profissionais, em geral,
relatam maior sensação de controle e satisfação pela oportunidade de aprender mais sobre os
pacientes que estão sob seus cuidados. As habilidades e competências comunicativas dos
profissionais e cuidadores familiares aumentam significativamente em comparação com
aqueles em condições de não intervenção (DELFINO & CACHIONE, 2016).
Destaca-se que os autores dos artigos referiram a necessidade da aplicação de estudos
posteriores em amostras populacionais maiores para verificar a eficácia dessas tecnologias na
melhoria da condição clínica dos idosos. Dessa forma, ficou evidente a importância de mais
41

investimentos em tecnologias voltadas para os cuidados da saúde do idoso no domicílio,


especialmente as tecnologias leve-duras e duras.

6 CONCLUSÃO

Os achados deste estudo apontam que não foi possível atribuir inteiramente os
resultados ao curso de treinamento (artigo 01) e ao programa de computador utilizado (artigo
02) e que a intervenção com o MD2 não foi eficaz (artigo 04). Nos artigos 03 e 05 ficou
evidente que a relação enfermeiro-paciente-cuidador é simultaneamente o contexto de todos
os cuidados, assim como é um instrumento terapêutico.
Devido às limitações do tipo de estudo do artigo 01, não foi possível demonstrar se
estes achados poderiam ser inteiramente atribuídos ao curso de treinamento. Os autores
recomendaram a realização de mais pesquisas, incorporando um estudo controlado aleatório e
amostras maiores, para determinar se os resultados podem ser atribuídos a esse tipo específico
de treinamento. No artigo 02, os autores observaram a necessidade da realização de mais
intervenções computadorizadas com idosos da comunidade para verificar melhorias em sua
saúde.
No artigo 03, a categoria central foi “Construindo a relação em contexto domiciliar”
pelo fato da relação da enfermeira com o idoso e a família ser central em todo o processo de
cuidados. O artigo 04 refere que a coordenação de cuidados da enfermeira domiciliar,
juntamente com o dispositivo Medplanner, foi eficaz no apoio aos participantes para melhorar
os resultados clínicos do seu estado de saúde.
A estratégia abordada pelo estudo 05, segundo os autores, pode ser considerada uma
tecnologia leve do cuidado de enfermagem para idosos com demência. Quando o cuidador
realiza este cuidado, após o suporte do enfermeiro, sente-se menos ansioso e com maior
compreensão da doença.
Ressalta-se que no Brasil há poucos estudos abordando as tecnologias que o
enfermeiro da Atenção Básica pode dispor para atender aos idosos no ambiente domiciliar.
Dessa forma, é importante o desenvolvimento dessas tecnologias em cursos de mestrado e
doutorado, bem como o incentivo à divulgação de tecnologias desenvolvidas por enfermeiros
além do ambiente acadêmico.
O presente estudo contribui, também, para que os estudantes de Graduação em
Enfermagem procurem aprender e trabalhar habilidades que visem não apenas à assistência
42

voltada ao caráter técnico e prático, mas habilidades de enfermagem que garantam uma
assistência integral ao paciente idoso, qualidade de vida e bem-estar, condições indispensáveis
para a construção de um modelo assistencial humanizado.

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