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FACULDADE CRISTÃ DE CURITIBA

BACHARELADO EM TEOLOGIA

GERALDO BUENO DE SOUSA

SATANÁS NO ANTIGO TESTAMENTO


A falta de conflito religioso e ético no judaísmo do Antigo Testamento, pelo fato
de Satanás agir como servo de Deus.

CURITIBA
2016
FACULDADE CRISTÃ DE CURITIBA
BACHARELADO EM TEOLOGIA

GERALDO BUENO DE SOUSA

SATANÁS NO ANTIGO TESTAMENTO


A falta de conflito religioso e ético no judaísmo do Antigo Testamento, pelo fato
de Satanás agir como servo de Deus.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao curso de Graduação em Teologia, da
Faculdade Cristã de Curitiba, como requisito
parcial à obtenção do título de Bacharel em
Teologia.

Orientador: Prof. Dr. Albert Friesen

CURITIBA
2016
GERALDO BUENO DE SOUSA

SATANÁS NO ANTIGO TESTAMENTO


A falta de conflito religioso e ético no judaísmo do Antigo Testamento, pelo fato
de Satanás agir como servo de Deus.

Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado ao Curso de Graduação de
Teologia da Faculdade Cristã de Curitiba
para à obtenção do título de Bacharel em
Teologia.

APROVADO EM: ____/ ____ /____.

COMISSÃO EXAMINADORA

___________________________________
ALBERT FRIESEN (Orientador)

___________________________________
Professor Examinador
RESUMO

O Zoroastrismo foi o principal responsável para o desenvolvimento da ideia de Satan


no Antigo Testamento, e como denota seu nome, agia com o objetivo de opor-se
e\ou acusar, sob a vontade de Deus. Este trabalho explana o porquê dos hebreus
primitivos não terem tido conflitos religiosos e éticos, pelo fato de Satan agir como
servo de Deus. Ao longo da pesquisa percebeu-se que haviam duas razões
principais: em primeiro lugar, eles viam o mal apenas como pecado e o sofrimento
como consequência desse pecado e, em segundo lugar, por causa de sua religião
monoteísta e tribal, baseada no contexto cultural da época.

Palavras-chave: Satan; Zoroastrismo; Monoteísmo; Tribal; Mal.


ABSTRACT

Zoroastrianism was responsible for developing the idea of Satan in the Old
Testament and as the name denotes, was intended to oppose or acknowledge the
will of God. This work explains why the early Hebrews had no religious or ethical
conflicts because Satan acted as a servant of God. Throughout this research, it is
clear that there were two important reasons: first they understood the evil just as sin
and suffering as a consequence of that, secondly the monotheistic and tribal religions
were based on the time culture.

Key-words: Satan; Zoroastrianism; Monotheism; Tribal Religion; Mal.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6
2 SANTAN E O ZOROASTRISMO NO ANTIGO TESTAMENTO ........................... 8
2.1 CONCEITO E DEFINIÇÃO DE SATAN .................................................................... 8
2.2 O ZOROASTRISMO E A FÉ EM ISRAEL .............................................................. 10
3 A EVOLUÇÃO DA IMAGEM DE SATAN NO ANTIGO TESTAMENTO ............ 13
3.1 SATAN ANTES DO EXÍLIO PERSA....................................................................... 13
3.2 SATAN APÓS AS INFLUÊNCIAS PERSAS NO JUDAÍSMO DO PÓS-EXÍLIO .... 16
4 O MAL E O MONOTEÍSMO TRIBAL HEBREU ................................................... 20
4.1 O MAL VISTO COMO PECADO............................................................................. 20
4.2 O MONOTEÍSMO E O DEUS TRIBAL DO HEBRAÍSMO PRIMITIVO .................. 22
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 27
6

1 INTRODUÇÃO

No Antigo Testamento é atribuído a Deus a criação do bem e do mal. Dele


procede a vida e a morte, e absolutamente tudo que possa existir. Não existe
espaço para a existência e atuação de um deus do mal independente. Satanás
ainda não existe. Não há relatos de possessões demoníacas, de queda de anjos, ou
de um ser opositor que seja poderoso e aja independente de Deus. E, Satan desde
o primeiro momento em que aparece como um personagem pessoal, no livro de Jó e
em todos os livros posteriores ao exílio não aparece como um ser essencialmente
maligno, ou que agia independente da vontade do Criador. Por isso, não poderá
culpá-lo inteiramente por suas ações já que age sob a vontade de Deus, sendo seu
servo.
A partir dessa afirmação surgi a pergunta, se os hebreus primitivos viam Deus
como o criador e executor do mal. E, tendo ele se revelado inteiramente bom e ético,
porque eles não tinham conflito religioso e ético com relação a esse lado mal de
Deus ?
Percebe-se nesse estudo que eles não tiveram conflito religioso e ético por
Deus ser responsável pelo mal duas razões principais: em primeiro lugar o mal e em
consequência o sofrimento é considerado como pecado, não era considerado no
sentido metafísico como nos dias atuais. E, em segundo lugar os hebreus viam
Deus, como o único que existia realmente, mas ao mesmo tempo, como um Deus
tribal, que usava de todos os recursos para abençoar o povo eleito.
Os objetivos aqui propostos são compreender melhor a ação de Deus na
história do AT, e sua maneira de executar o mal em diversas circunstâncias se
utilizando de Satanás como um ser que está sob sua autoridade. E, de igual maneira
analisar como o povo hebreu via Deus na execução desse mal. Pois, a premissa
inicial é que não tinham conflito com relação a isso, aceitando como um fato natural
a soberania de Deus, também nesse aspecto.
Tem também o objetivo de lançar luz nas passagens que hoje, trazem
dificuldades de interpretação e conciliação entre as ações de Deus no AT, e hoje
com a revelação completa, suas ações no NT; nas passagens que tratam desse
tema em particular.
7

Considera-se de suma importância um estudo em cima desse tema, partindo


do principio que o AT e NT são revelações complementares e não contraditórios.
Dessa forma poderá se apreender as relações de Deus com os seres espirituais e
humanos em sua totalidade. Sem esquecer no entanto do principio da revelação
progressiva.
O estudo foi focado na pesquisa bibliográfica, baseado em artigos de autores
que são profundo conhecedores do assunto em questão, sendo os principais: Dr.
Arthur Wesley Duck, com doutorado em Teologia; Dr. Samuel de Freitas Salgado,
com doutorado em Teologia; Dr. Dionísio Oliveira Soares, com doutorado em
Teologia; Dr. Marli Wandermuren, doutora em Ciência da Religião; Ms. Carlos
Augusto Vailatti, mestre em Teologia; Nelson Lellis Ramos Rodrigues, especialista
em Ensino Religioso, etc.
O estudo foi dividido em três partes principais, onde na primeira parte se
conceitua a palavra Satan e a influência que o Zoroastrismo teve na evolução desse
conceito; na segunda parte se verá como Satanás era visto antes e após o exílio; e
por fim, na terceira e última parte como os hebreus aceitaram sem conflito o fato de
Deus agir como executor do mal e usando Satan para essa finalidade. A terceira
parte é desenvolvido a partir da premissa que o monoteísmo hebreu, não impediu os
israelitas verem a Deus como um Deus tribal, que tinha por finalidade última cuidar
do povo eleito. Deve-se considerar que em um momento Deus é considerado Deus
dos deuses, porém, esses deuses não são considerados reais, mas são apenas
tratados como seres imaginários ou fictícios, existindo apenas sociologicamente.
8

2 SANTAN E O ZOROASTRISMO NO ANTIGO TESTAMENTO

A palavra Satan foi um conceito que foi evoluindo com o tempo no Antigo
Testamento (AT). Nesse capítulo será analisado o significado exato da palavra
Satan, o seu emprego utilizado no AT, seja na forma verbal ou como substantivo e
articularemos sobre a importância da religião persa para a evolução definitiva do
conceito de Satan no AT.

2.1 CONCEITO E DEFINIÇÃO DE SATAN

Desde o princípio da revelação, no livro de Gênesis. Nomes tão comuns ao


chefe dos demônios nos dias atuais eram desconhecidos na época. Os nomes
Satanás, Demônio, Diabo, Lúcifer, Serpente, Anjo Caído não faziam sentido algum
para os Israelitas do AT. Por isso, no livro de Gênesis, Almeida(1993, p 3) a
tentação de Eva e Adão foi feita pela serpente, e não por um ser angelical,
demonstrando o desconhecimento do autor, com relação a Satanás.
Na religião hebreia Deus era visto como o único que existia e em
consequência como o autor do bem e do mal, por isso, não havia espaço para a
atuação de outro deus. Não se encontra definitivamente no AT, nada sobre Satan
ser inimigo de Deus ou ter seu próprio reino do mal. Porém, vagarosa e
progressivamente o conceito de Satan foi evoluindo. Primeiramente sendo
empregado às pessoas e aos anjos e, posteriormente, após o exílio persa, foi
aplicado a um anjo opositor ao povo Israelita.
Analisando detalhadamente a origem e o significado da palavra Satan, Duck
(2013, p. 137) evidenciou que “Satan é uma das poucas palavras transliteradas do
hebraico. A forma verbal de ‘Satan’ aparece somente 6 vezes e o substantivo 27
vezes no AT”. Cinco passagens onde “Satan” aparece na forma verbal:

Sl 38.20: Os que me retribuem o bem com o mal caluniam-me7 porque é o


bem que procuro;
Sl 71.13: Pereçam humilhados os meus acusadores; sejam cobertos de
zombaria e vergonha os que querem prejudicar-me;
9

Sl 109.4,20,29: 4 Em troca da minha amizade eles me acusam, mas eu


permaneço em oração... 20 Assim retribua o Senhor aos meus acusadores,
aos que me caluniam... 29 Sejam os meus acusadores vestidos de desonra;
que a vergonha os cubra como um manto;
Zc 3.1: Depois disso ele me mostrou o sumo sacerdote Josué diante do anjo
do SENHOR, e Satanás,8 à sua direita, para acusá-lo. (ALMEIDA, 1993
apud DUCK, 2013 p. 137)

As passagens onde a palavra Satan aparece como substantivo:

Nm 22.22,32: 22 Mas acendeu-se a ira de Deus quando ele foi, e o Anjo do


SENHOR pôs-se no caminho para impedi-lo de prosseguir. Balaão ia
montado em sua jumenta, e seus dois servos o acompanhavam... 32 E o
Anjo do SENHOR lhe perguntou: ‘Por que você bateu três vezes em sua
jumenta? Eu vim aqui para impedi-lo de prosseguir porque o seu caminho
me desagrada’;
1Sm 29.4: Contudo, os comandantes filisteus se iraram contra ele e
disseram: ‘Mande embora este homem para a cidade que você lhe
designou. Ele não deve ir para a guerra conosco, senão se tornará nosso
adversário durante o combate’;
2Sm 19.22: Davi respondeu: ‘Que é que vocês têm com isso, filhos de
Zeruia? Acaso se tornaram agora meus adversários? Deve alguém ser
morto hoje em Israel? Ou não tenho hoje a garantia de que voltei a reinar
sobre Israel?’;
1Rs 5.4: Mas agora o SENHOR, o meu Deus, concedeu-me paz em todas
as fronteiras, e não tenho que enfrentar nem inimigos nem calamidades;
1Rs 11.14,23,25: 14 Então o SENHOR levantou contra Salomão um
adversário, o edomita Hadade, da linhagem real de Edom... 23 E Deus fez
um outro adversário levantar-se contra Salomão: Rezom, filho de Eliada,
que tinha fugido do seu senhor, Hadadezer, rei de Zobá... 25 Rezom foi
adversário de Israel enquanto Salomão viveu, e trouxe-lhe muitos
problemas, além dos causados por Hadade. Assim Rezom governou a Síria
e foi hostil a Israel;
1Cr 21.1: Satanás levantou-se contra Israel e levou Davi a fazer um
recenseamento do povo;
Jó 1.6,7(2x),8,9,12(2x): 6 Certo dia os anjos vieram apresentar se ao
SENHOR, e Satanás também veio com eles. 7 O Senhor disse a Satanás:
‘De onde você veio?’ Satanás respondeu ao Senhor: ‘De perambular pela
terra e andar por ela’. 8 Disse então o Senhor a Satanás: ‘Reparou em meu
servo Jó? Não há ninguém na terra como ele, irrepreensível, íntegro,
homem que teme a Deus e evita o mal’. 9 ‘Será que Jó não tem razões para
temer a Deus?’, respondeu Satanás... 12 O Senhor disse a Satanás: ‘Pois
bem, tudo o que ele possui está nas suas mãos; apenas não toque nele’.
Então Satanás saiu da presença do Senhor;
Jó 2.1,2(2x),3,4,6,7: 1 Num outro dia os anjos vieram apresentar se ao
Senhor, e Satanás também veio com eles para apresentar-se. 2 O Senhor
perguntou a Satanás: ‘De onde você veio?’ Satanás respondeu ao Senhor:
‘De perambular pela terra e andar por ela’. 3 Disse então o Senhor a
Satanás: ‘Reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele,
irrepreensível, íntegro, homem que teme a Deus e evita o mal. Ele se
mantém íntegro, apesar de você me haver instigado contra ele para arruiná-
lo sem motivo’. 4 ‘Pele por pele!’, respondeu Satanás. Um homem dará tudo
o que tem por sua vida... 6 O Senhor disse a Satanás: ‘Pois bem, ele está
nas suas mãos; apenas poupe a vida dele’. 7 Saiu, pois, Satanás da
presença do Senhor e afligiu Jó com feridas terríveis, da sola dos pés ao
alto da cabeça;
10

Sl 71.13: Pereçam humilhados os meus acusadores; sejam cobertos de


zombaria e vergonha os que querem prejudicar-me; Sl 109.6: Designe-se
um ímpio para ser seu oponente; à sua direita esteja um acusador;
Zc 3.1,2(3x): 1 Depois disso ele me mostrou o sumo sacerdote Josué diante
do anjo do SENHOR, e Satanás, à sua direita, para acusá-lo. 2 O anjo do
SENHOR disse a Satanás: ‘O SENHOR o repreenda, Satanás! O SENHOR
que escolheu Jerusalém o repreenda! Este homem não parece um tição
tirado do fogo?’. (ALMEIDA, 1993 apud DUCK, 2013 p. 138)

Analisando as passagens acima, entende-se que o significado da palavra


Satan, pode ser definido como adversário, opositor ou acusador. Pois, segundo
Duck (2013, p. 139) “as poucas vezes que Satan aparece com o artigo definido é no
prólogo de Jó e em Zacarias 3.1,2. Dando a entender que a combinação do artigo
com o substantivo equivale a um nome, ou seja haSatan ou (o Satan)”. Sendo
assim, compreende-se que o nome Satan também é uma referência de sua principal
função e maneira de agir.

2.2 O ZOROASTRISMO E A FÉ EM ISRAEL

A religião persa foi a que incontestavelmente mais influenciou o povo de Israel


a partir do século VI a.C. A mudança da compreensão a respeito de Deus como
causa do bem e do mal, para o aparecimento de um agente sinistro que poderia agir
fazendo o mal, embora, como servo de Deus, se deu por causa da influência dessa
religião conforme relata Rodrigues (2014, p. 112). Por isso, se torna sumamente
importante apreender além do conceito de Satan, também sua origem através da
influência do Zoroastrismo. Soares (2008, p. 2) resume bem a origem do
Zoroastrismo, o fundador e o livro sagrado:

O Masdeísmo e a mais antiga religião dos iranianos. Zoroastro, considerado


profeta era formador da religião masdeísta, acabou sendo considerado
também, a partir dessa reforma, o fundador do Zoroastrismo, a qual se
tornou religião oficial do Império Persa no século VI a.C. Alguns acreditam
que Zoroastro teria vivido entre o IX e o VI século a.C.; a tradição
zoroastriana afirma que ele teria vivido 258 anos antes de Alexandre, o
Grande, portanto em meados do VI século. Entretanto, a pesquisa recente
demonstrou que esse cálculo estava equivocado; a tendência atual e
11

considerar que ele teria vivido num período muito anterior, entre 1550 e
1200 a.C., ou pelo menos antes de 1000 a.C.
O Avesta (“A injunção” de Zaratustra), livro sagrado do Zoroastrismo,
formado a partir da tradição religiosa dos masdeístas, descreve uma visão
na qual Ahura Mazda (“Senhor da sabedoria”, deus supremo do
Zoroastrismo) revela o futuro a Zoroastro. A partir de então, Zoroastro
assume definitivamente a sua condição de profeta e reformador.

Pelo texto acima percebe-se que Zoroastro compilou a antiga religião persa,
conhecida como madeísmo e por causa de seu nome a religião também passou a
ser conhecida como Zoroastrismo.
Esta religião acreditava na dualidade bem e mal, como formas de ação e
reação. Mas, que no fim o deus do bem venceria. Zoroastro erradicou os muitos
deuses, deixando apenas dois. O deus do bem era chamado de Ormuz e o deus do

mal era chamado de Arimã. Além do livro sagrado Avesta há outro livro, existem

obras em pálavi e médio-persa, que incluem um resumo do Avesta original, texto

traduzidos de porções perdidas do Avesta. Há também o comentário chamado Zend;

a junção das duas obras dá-se o título de Zend-Avesta, conforme relata Soares

(2008, p. 3).
Soares ainda diz que o Deus principal Ahura Mazda tinha uma posição mais
elevada que qualquer outra divindade do mundo antigo. Ele era considerado
“incriado”, e causa original de tudo, todo o bem procedia dele no universo, pois era a
fonte do bem, seja divino ou humano, animado ou inanimado, abstrato ou concreto;
ele deu origem ao Asha.

O Asha citado acima é o princípio imutável que tudo existe através dele, e

equivale ao Logos grego. Mas os iranianos também tinham o Druj, que era um

princípio de negação. E essas forças combatiam um ao outro, sendo o Asha

atribuído ao deus do bem Ahura Mazda e o Druj, atribuído à Angra Mainyu, o espírito

de destruição, conforme diz Soares (2008, p. 4).


O dualismo permeou a ética do Zoroastrismo, com princípios sempre em
confronto, o bem contra o mal; embora acreditava-se que o bem era mais forte que o
12

mal, e por isso o bem venceria no final. Além do dualismo outros ideias eram
ensinadas como ressurreição dos mortos, juízo final, e uma nova terra, ou seja, o
estabelecimento do paraíso. Todas essas ideias estão no Zoroastrismo, embora
essas ideias só seriam estabelecidas ou assimiladas em sua totalidade bem mais
tarde, no período intertestamentário.
Nesse contato com a cultura persa os judeus tiveram que rever diversos
pontos de sua religião, como reverência às imagens, crença após a morte com céu e
inferno, julgamento num dia final, destruição dos maus, a felicidade eterna para os
justos, dualismo do bem e mal, a supremacia de um único Deus e uma conduta
austera na vida (SOARES, 2008). Contudo, os hebreus receberam com bons olhos a
influência persa, assim como os outros povos conquistados:
Os povos dominados receberam a política pacifista persa com bons
olhos16: os babilônios receberam a Ciro II como o “Pastor de Marduc”; os
egípcios aceitaram como a “Encarnação de Horus”, e os judeus o
receberam como o Messias de Iahweh. Daí a influência persa presente no
Deutero-Isaías: Assim diz Iahweh ao seu ungido, a Ciro que tomei pela
destra, a fim de subjugar a ele nações e desarmar reis, a fim de abrir portas
diante dele, a fim de que os portões não sejam fechados. Eu mesmo irei a
tua frente e aplainarei lugares montanhosos, arrebentarei as portas de
bronze, despedaçarei as barras de ferro e dar-te-ei tesouros ocultos e
riquezas escondidas, a fim de que saiba que eu sou Iahweh, aquele que te
chama pelo teu nome, o Deus de Israel (Is 45,1-3). (SOARES, 2008)

Esse texto reafirma a simpatia com que os judeus receberam a influência da


cultura e domínio persa. Sendo influenciados por sua religião, principalmente no
conceito de bem e mal, e na evolução da ideia a respeito de um agente ou espião de
Deus que agia com adversidade com relação ao próprio povo de Deus. Ou, que por
vezes era usado para castigar os maus.
13

3 A EVOLUÇÃO DA IMAGEM DE SATAN NO ANTIGO TESTAMENTO

Vimos acima a origem da palavra Satan e o Zoroastrismo, como religião


principal que influenciou na evolução do conceito de Satan. Hoje com o AT e o Novo
Testamento (NT), seguindo o princípio da revelação progressiva, temos uma visão
total da ação de Satanás e seu modo de agir segundo a Bíblia Sagrada. Porém, no
AT, os hebreus tinham uma visão de Satanás distinta da visão que temos hoje com
ambos os Testamentos. Porém esse conceito foi mudando progressivamente com o
tempo, até chegar na patente de servo de Deus. E o principal fator para a evolução
desse conceito foram as influências do Zoroastrismo persa no judaísmo pós-exílio.

3.1 SATAN ANTES DO EXÍLIO PERSA

No Judaísmo pré-exílico, Deus é o Criador e Senhor de todas as coisas e com


todo seu poder, não sobra nenhum espaço para a atuação de um ser independente.
Satan ainda não existe. Deus é tão superior aos outros deuses que na prática eles
não existem. Os seres humanos são os únicos responsáveis pelo pecado e o erro.
Os hebreus interpretavam as passagens do livro de Gênesis, da Bíblia
Sagrada, que o primeiro homem e mulher caíram por simples curiosidade, eles
entendiam a leitura como uma figuração do instinto do ser humano para o mal, sem
nenhuma força externa que os houvesse impulsionado. Atualmente, é que se
interpreta que um “Tentador” levou os primeiros seres humanos á ruína e ao pecado.
E as profecias em Isaías contra a Babilônia (Is 14.11-23); e em Ezequiel
(Ez28. 11-19) que profetizou a respeito do rei de Tiro. As duas passagens são
atualmente interpretadas como uma suposta queda de um anjo de Deus. Mas, no
AT, não havia ainda uma interpretação que remetia esses textos a uma suposta
queda. Pois, se mesmo com maiores informações no NT, sobre a figura do Diabo,
há exegetas que não aceitam as passagens acima citadas como uma descrição da
queda de Satan. No AT, seria ainda mais difícil chegar à essa conclusão através de
interpretações alegóricas que tais passagens representam a descrição da queda de
14

ser do mal que age em oposição direta ao povo escolhido de Deus, ou ao próprio
Deus.
Essa dificuldade na interpretação acontece porque nas duas passagens que
são interpretadas como descrições da queda existem dificuldades exegéticas, pois a
descrição aparece abruptamente num texto que não trata especialmente sobre a
queda de Satanás. Pois, no AT, só faria sentido a interpretação se tais passagens se
referissem aos reis humanos que os profetas dirigiram seus oráculos.
Contudo, embora essa doutrina do desenvolvimento do conceito de Satan não
aconteceu no AT, mas paralelo a ele:
O desenvolvimento da doutrina de um líder das forças do mal não ocorre no
AT, mas se desenvolveu nos livros apócrifos e pseudoepígrafos do AT. No
entanto, há uma alusão a um caráter demoníaco em Gn 3; 6.1-4; Is 14.12;
Os 4.12; 5.4 e Zc 13.2.15 Eichrodt sugere que a mitologia pagã pode ter
influenciado o desenvolvimento dessa doutrina. Mas em grande parte essa
doutrina ficou suprimida (assim como outros elementos da mitologia pagã)
diante de um monoteísmo que atribuiu tudo à soberania de Deus: “Eu sou o
Senhor, e não há nenhum outro; além de mim não há Deus... Eu sou o
Senhor, e não há nenhum outro. Eu formo a luz e crio as trevas, promovo a
paz e causo a desgraça; eu, o Senhor faço todas essas coisas” (Is 45.5- 7).
Um Satan não é visto como a origem ou causa do mal no AT. (DUCK, 2013
p. 140)

Pelo texto percebe-se que já havia em outros povos uma doutrina de um ser
do mal agindo em oposição a um deus do bem. Rodrigues (2014, p. 113) concorda
com a afirmação de Duck acima, sobre a influência que os hebreus primitivos já
estavam recebendo de outros povos desde a sua origem, e em consequência
influenciando sua religião seja positiva ou negativamente. Quando Rodrigues (2014,
p. 113) fala dessas influências em seu artigo sobre o judaísmo de Israel e suas
múltiplas relações:

A fé de Israel é uma fé construída através de encontros. Sua teologia fora


alterada/acrescida a cada manifestação de força contrária em seu caminho.
Isso nos leva a entender que a Bíblia baseia-se numa experiência quase
universal. Considerando que o Êxodo tenha existido, começa-se pelo
contato com a fé egípcia, onde o dualismo já fazia parte do mito cultual:
Osíris era como um deus bom, enquanto Seth-Typhon, um deus mal
(SEGANFREDO & FRANCHINI, 2012, 53-68); é possível citar os sumérios
com sua influência na construção literária da Torah (CORREA, 2014, 200),
bem como Gilgamesh em oposição ao monstro Huwawa (SANDARS, 1992);
com os Cananeus, Baal (o deus da fertilidade) e Mot (deus do submundo e
da morte) (FOHRER, 2012, 52-67); no exílio babilônico, Israel teve contato
com a adoração de Marduk1, o que vencera Tiamat (ENUMA ELIS, 1902).
Mesmo que Israel tivesse ciência dos combates cósmicos existentes e todo
o dualismo nas religiões circundantes, o Primeiro Testamento não
apresenta nenhuma luta cósmica entre Javé e Satan. O inimigo é o outro.
15

Israel não luta contra deuses, mas contra governos. (RODRIGUES, 2014, p.
113)

Em ambos os textos, percebe-se que alguns dos povos citados tinham uma
teologia bem mais desenvolvida que o povo de Israel, com relação ao conceito bem
e mal e são eles que influenciaram o povo de Israel no desenvolvimento de sua
doutrina sobre um ser que fazia oposição ao povo de Deus.
Antes de Satan ser conhecido como um agente sobrenatural que executava o
mal em nome de Deus, que só aconteceria no pós-exílio, após a influência do
zoroastrismo. Essa palavra Satan, só era empregada para referir-se a um homem ou
anjo que estivesse fazendo oposição ao povo Israelita ou aos planos de Deus, como
na passagem de Números 22.22,32. Não se referia a um agente maligno em
particular. Lembrando que essa passagem do AT foi escrita bem antes do exílio, e o
povo de Israel não tinha ainda entrado na terra prometida pela primeira vez.
Nesse relato o rei de Moabe contrata Balaão para amaldiçoar o povo de
Israel. Porém nesse caminho aparece um Anjo do Senhor que é chamado de Satan,
como Duck (2013, p 152) sobre essa passagem:

Nesta passagem “o anjo do Senhor” se colocou no caminho de Balaão


como seu adversário (Satan). Em outras palavras, o Satan desse texto é
identificado como enviado por Deus como seu mensageiro para se colocar
no caminho de Balaão. “Eu saí como teu adversário, pois teu
comportamento é perverso diante de mim” (22.32 A21).
O termo hebraico para perverso é yarat, e significa “precipitado”. Assim, o
significado seria que Balaão se precipitou em sua jornada de acordo com o
julgamento do anjo do Senhor. Mesmo que o texto hebraico traga o
substantivo Satan este não representa um nome próprio e por isso a
tradução “adversário” ou “oponente” estaria correta. Neste texto Satan é o
anjo de Javé, ou seja, alguém agindo em nome de Javé. Isso implica que
ele não tem independência e nem que deva ser visto como inimigo de Javé.
Isso é muito relevante para a discussão de Satan no AT. Satan é uma
função que pode ser ocupada inclusive por um anjo do Senhor(DUCK,
2013, p 152)

Nesse texto a função do mensageiro de Deus é obstruir a passagem de


Balaão, aqui não se trata do Satan que aparecerá nos textos pós exílicos, mas de
um anjo que tem pôr objetivo ser obstáculo à Balaão, mas que não tinha intenção de
agir com desconfiança e maldade como o agente sinistro descrito na passagens,
que foram escritas após o exílio. Pois, a maneira que o Satan descrito no livro de
Números 22.22,32 age, contrasta com o Satan do livro de Jó, pois em Números o
Satan livrou Balaão e Israel de um mal maior, contudo em Jó aumentou de todas as
formas possíveis as desgraças na vida de Jó, conforme relata Rocha (2015, p. 94):
16

Como pode ser visto o ser divino que age como um śāṭānem Números 22
tem muito pouco em comum com conceitualizações posteriores de Satanás.
Ele é o mensageiro de Javé, não seu inimigo mortal e age de acordo com a
vontade de Javé ao invés de ser oponente. De fato, o mensageiro de Javé
aqui, como em outro lugar na Bíblia hebraica, é basicamente uma
hipotatização da divindade. Portanto, o śāṭān/adversário em Números 22
não é outro a não ser Javé. (ROCHA, 2015, p. 94)

Como vimos antes do exílio como foi descrito na passagem de números


22.22,32, o agente sinistro, o Satan, ainda não existia, essa palavra podia ser
empregada a qualquer ser humano ou anjo que estava fazendo uma oposição.

3.2 SATAN APÓS AS INFLUÊNCIAS PERSAS NO JUDAÍSMO DO PÓS-EXÍLIO

No ano de 538 a.C após o exílio babilônico, os hebreus com a sensação de


terem sidos abandonados por Deus, começaram a se questionar o motivo de sua
queda ante a presença do Criador. E foram influenciados pela cultura persa
conhecida como Zoroastrismo, onde se acredita que existe um ser em oposição ao
povo de Deus.
O Arimã dos persas, a divindade do mal e das trevas que deveria ser
combatido não se tornou o Satan dos Israelitas do AT. Porém, recebeu apenas
influências, uma adaptação da doutrina de Zoroastro, pois Arimã não é Satan,
porque Satan é apenas um servidor de Deus, sendo visto apenas como um anjo, já
que no AT, não há relato ou maiores explicações sobre uma suposta queda de
anjos.
Satan seria apenas um reflexo da vontade de Deus, no mundo criado por ele,
que lhe deu uma missão específica. Um anjo membro da corte celeste. Não tem um
reino paralelo e não está competindo com Deus. Seria apenas uma força enviada
para desafiar ou provar os humanos.
A primeira vez que Satan aparece como um ser angelical foi no livro de Jó da
Bíblia Sagrada (ALMEIDA, 1993). Seu direito de dialogar com Deus e o fato de ir e
vir na presença de Deus, mostra de alguma forma sua singularidade. O Livro de Jó
foi escrito após o exílio persa, no ano 538 a.C. Por isso, já havia recebido influências
do Zoroastrismo. Porém, todo o mal ainda continua sendo atribuído a Deus. Mesmo
17

depois de Satan aparecer como um ser angelical maligno ele jamais se opõe a
vontade de Deus, tanto no livro de Jó quanto aos outros livros posteriores no AT.
Quando Satan aparece no livro de Jó e diz a Deus que a fidelidade de Jó é
pelo fato dele ter uma vida rica e cheia bênçãos divinas, Deus concorda com as
propostas de Satan, mas delimita as suas ações. Numa relação de criatura e criador,
Senhor e servo, compreende-se que todo o mal provinha de Deus, com o objetivo de
testar ou punir os seres humanos.
Nas passagens do livro de Jó, Deus está sempre numa posição de soberania
e Satan como um ser que está cumprindo sua missão de testar os seres humanos,
“pois aparentemente Satan não descobriu nenhum problema no comportamento de
Jó, mas questionou sua motivação”, Duck (2013, p. 142). Satan não tem nenhum
poder para testar essa motivação sem o consentimento de Deus e para isso precisa
de sua aprovação. Aprovação que Deus concede. E, Satan cumpre fielmente com o
que foi combinado entre ele e Deus.
Na relutância de Jó em continuar em sua justiça e ter passado no primeiro
teste, Satan ainda continua duvidando da motivação de Jó. Satan no segundo
encontro com Deus, já aparece como um ser com vontade própria e sinistro e
propõe um segundo teste mais severo a Jó, pois Satan acredita que Jó não passaria
no segundo teste e por fim, amaldiçoaria a Deus. (DUCK, 2013, p. 143).
Nessas missões de acusação e duvidando avidamente da verdadeira
intenção de Jó para com Deus, e devido a isso, utilizando-se de aplicações de testes
severos esperando que Jó falhasse, entende-se que Satan era apenas um agente
que estava completamente sob a autoridade de Deus, embora também tivesse sua
própria motivação. Salgado(2014, p. 17) define bem essa forma de atuação de
Satan, levando em conta o contexto cultural da época, quando diz:

(...), a expressão haśśāṭān em Jó 1,6 denotaria um ser divino de identidade


irrelevante cuja função temporária seria a de um acusador na narrativa. Tal
proposta coaduna com o sistema jurídico israelita e mesopotâmico, no qual
“o acusador” possuía um papel legal temporário em determinadas
circunstâncias e não um posto ou um ofício. (SALGADO, 2014, p. 17)

Através do texto de Salgado, portanto, é possível ter uma percepção de que a


ideia de um “acusador” legal, não era desconhecida no contexto dos israelitas e
mesopotâmicos.
18

Duck define melhor que forma de oposição Satan faz quando diz que, embora
esse agente pudesse incitar a Deus, ele, no entanto, não é obrigado a fazer o que
Satan sugere. Assim, Satan não é adversário de Deus, mas de Jó (DUCK, 2013, p.
144). No entanto, essa ideia foi evoluindo pouco a pouco, e chegou um momento em
que os israelitas definiram um conceito mais abrangente dessa oposição, como em
Zc 3.1,2, o profeta teve oposição a respeito do sacerdote Josué após o término do
exílio babilônio, ou seja, evidenciou a oposição aos planos de Deus, diferente do
caso de Jó, em que Satan é apenas o mensageiro.
É importante frisar que as vezes em Satan aparece no AT, ele é o
personagem secundário. Como quando ele aparece citado novamente no livro de
Zacarias da Bíblia Sagrada, sua aparição é menor que o livro de Jó. Como afirma
Duck (2013, p. 147), “em Zacarias ele aparece apenas de forma circunstancial e o
foco está na troca de roupas de Josué”. Mesmo em Jó ele aparece como um
personagem secundário, pois o foco está na provação de Jó, e até os amigos de Jó
recebem mais atenção no texto que o próprio Satan.
Em ambos os casos, Satan aparece como personagem secundário, todavia,
seu modo de agir é bem diferente, pois em Jó a acusação de Satan é
completamente infundada e os testes de fé aplicados a Jó, com a permissão de
Deus, vieram simplesmente do fato de Satan suspeitar das intenções de Jó. Em
Zacarias 3.1,2 Satan parece ter razão com relação a impureza do sacerdote Josué,
mas está claramente contra os propósitos de Deus em abençoar Israel,
demonstrando hostilidade ao povo. Mas, dessa vez embora a sua oposição de
tivesse mais razão de ser, que em Jó, mal ele profere palavra e já foi repreendido
pelo Anjo do Senhor, e desta vez sua oposição não foi permitida.
Já em 1 Cr 21.1 é a primeira vez que Satan aparece como um nome, sem o
artigo. Nesse texto é atribuída a origem do mal a Satan, inteiramente sob a
permissão de Deus e, em 2 Sm 24.1, o mesmo fato é atribuído a Deus. Através
desse texto sobre o censo descrito em ambos os livros, pode-se notar que as ações
de Deus e Satan são de alguma forma semelhantes e que às vezes não é possível
diferenciar. Todavia o texto de 2 Sm foi escrito antes do exílio e 1 Cr 21.1 apenas
após o exílio demonstrando aqui a evolução do conceito sobre Satan. Aqui ele é
apresentado como propensão para o mal.
Podemos ver em ambas as passagens acima, na diferença de pensamento
entre elas que o autor de 1 Crônicas, já atribui certa responsabilidade do mal a um
19

ser espiritual, embora como em Jó, ele só pode fazer aquilo que lhe é permitido.
Segundo Duck (2013, p. 149):

Alguns interpretam esta mudança com base no fato de que na época em


que Crônicas foi escrito, Satan já era visto como um inimigo pessoal, cujo
propósito era frustrar as ações de Deus. Outros veem que inclusive aqui
Satan não é visto como uma força totalmente independente que se opõe a
Deus. Ele opera debaixo do controle divino para realizar os propósitos de
Deus. (DUCK, 2013, p. 149):

Nessas passagens citadas acima, que aparentemente são contraditórias, são


dadas duas possíveis explicações para os relatos, sendo a primeira a tentativa de
não responsabilizar Deus pelo pecado, transferindo a culpa a outro; e a segunda
pelo fato do cronista ter uma imagem idealizada de Davi e seu reinado, procurando
isentá-lo conforme escreveu Rocha (2015, p. 96). Mas, o mais importante para o
nosso estudo aqui, com relação a esse texto é o fato da modificação da imagem de
Satan antes e pós-exílio.
Aqui Satan já apresenta, segundo Duck (2013, p. 154, 155) “a imagem final
que foi possível alcançar na revelação do AT. E nessa revelação “acabada” antes do
período intertestamentário”. Satan está totalmente debaixo da autoridade de Deus,
age como braço direito de Deus para executar seu plano para com a humanidade,
seja julgamento ou benção; e quando incita ou acusa Deus é porque não concorda
com a política de Deus com relação aos humanos, mas mesmo assim nada faz sem
o próprio Deus não consentir, pois é seu servo.
20

4 O MAL E O MONOTEÍSMO TRIBAL HEBREU

Nesse capítulo será possível inferir que a falta de conflito religioso e ético com
relação a uma explicação para o mal no AT, deve-se à fé do povo de Israel, vendo o
mal e o sofrimento apenas como consequências do pecado, e quando recebiam
essa punição, estavam apenas recebendo o que mereciam; e na religião monoteísta
tribal, onde Deus além de ser único, era Deus principalmente dos hebreus, e o mal
que era feito a outros povos, era feito com o objetivo de beneficiar o povo eleito.
Partindo sempre do ponto de vista que não existe dualismo, pois não existem
seres que sejam compatíveis a Deus. E que ele é, essencialmente justo e bom em
sua natureza. Portanto, nesse capítulo, dará para entender a posição de Israel a
respeito da compreensão da atitude de Deus com relação ao mal.

4.1 O MAL VISTO COMO PECADO

O principal motivo porque os hebreus não tinham conflito com relação a Deus
executar o mal era porque viam a tentação apenas dentro do ser humano, através
dos dois instintos que o próprio Deus colocou. Ficando para o homem a inteira
responsabilidade moral da escolha do mal. Essa habilidade inteiramente livre de
escolher entre as duas opções fica a critério dos seres humanos, mas Deus impele
os eleitos para o bem, lhes prometendo muitas bênçãos.
Não havia pecado no sentido metafísico como se interpreta nos dias atuais, “o
mal está, portanto, associado à ideia de pecado, e de infidelidade a Javé”. E, como
concorda Bunick e e Ribeiro (2014, p. 3), no AT, escrito em hebraico, não havia
diferença entre as palavras “mal” e “sofrimento”. Somente a partir do NT, escrito em
grego, passou haver diferença entre estas palavras, passando as mesmas a terem
um sentido diferente (SALVIFICI DOLORIS, 1984, p.12 apud BUNICKE e RIBEIRO,
2014, p. 3).
E se Deus trazia esse sofrimento para o ser humano era porque conforme
Bunick e Ribeiro (2014, p. 10), “no AT o mal é interpretado como castigo de Deus
pelos pecados cometidos pelos homens. Sendo Deus um legislador e juiz; atingindo
21

aqueles homens que semeiam a maldade e a iniquidade, colhendo o mesmo fruto


que plantaram”. Antes o mal foi transferido da esfera metafísica para a esfera do
pecado. Por isso, os hebreus focaram na ética como resume Salgado (2014, p. 3):

O ensinamento ético ressaltava a misericórdia e o cuidado aos pobres,


viúvas e desabrigados, e insistia na responsabilidade social. O senso
hebreu do bem e do mal se tornou numa ética prática e humana de
responsabilidade mútua. Portanto, na teodiceia hebraica oficial, o mal seria
a consequência do pecado das pessoas. (SALGADO, 2014, p. 3)

Nesse caso a ética abrangia todas as relações sociais, econômicas e


políticas:

A justiça de Deus estava atrelada a experiência da justiça no processo


social, do modo de produção e distribuição dos bens e poderes sociais. O
mal social era uma das questões cruciais na teodiceia do Antigo
Testamento. Ele dizia respeito aos sistemas de poder e processo social que
possibilitavam que os bens e acessos fossem legitimados sistematicamente
pela ideologia religiosa mesmo que sendo injustos. (SALGADO, 2014, p. 3)

Dessa maneira Deus era conhecido no primitivo Israel, através do processo


social, já que toda a teodiceia era interpretada como uma crítica dos sistemas
sociais. Nesse caso a teodiceia ajudava explicar a desigualdade na distribuição de
bens como diz Salgado (2014, p. 4) “ela poderia servir de legitimação tanto para os
poderosos como para os fracos, para os privilegiados como para os desfavorecidos.
Para estes provê um significado para sua pobreza, para aqueles um significado para
sua riqueza”.
Por isso, no AT a realidade transcendente serve para dar legitimidade ao
processo social e em muitas passagens do AT, a justiça de Deus aparece
frequentemente associada aos problemas sociais em geral.
A pergunta de fundo pode ter sido esta: “se Javé é bom, pode fazer o mal ao
ser humano?” (WANDERMUREM, 2006, p. 12 apud SALGADO, 2014, p. 4).
Somente no período tardio da história de Israel, a revelação bíblica assumirá novos
patamares e respostas mais precisas a respeito do mal, e a origem de Satanás,
como o principal personagem responsável.
Por enquanto, no contexto da época, essa resposta de atribuir o mal e o
sofrimento apenas ao pecado, acompanhado da visão de Deus, como único, e Deus
de Israel, era suficiente.
22

4.2 O MONOTEÍSMO E O DEUS TRIBAL DO HEBRAÍSMO PRIMITIVO

Os hebreus primitivos não tinham necessidade de corporificar uma entidade


maligna. Pertencia a Deus realizar tanto o bem quanto o mal. E não há espaço para
reconhecer qualquer ser independente ou distinto de Deus, como descreve
Rodrigues(2014, p 4)sobre o monoteísmo em Israel:

A fé judaica não deixa dúvidas quanto a unicidade de Javé. O critério da


Obra Historiográfica Deuteronomística - OHD (por volta de 550 a.C.), por
exemplo, está baseado em Deuteronômio 6.4: “Ouve, Israel, Javé nosso
Deus é o único Deus”. Suas três exigências são: Um só Deus, um só povo e
um só lugar de culto (SCHWANTES, 2009, 30-31). A primeira exigência
define: nada de ídolos. Deus é um só e responsabilizado tanto pelo bem
como pelo mal. Não há lugar para um dualismo religioso. Todas as coisas
provêm de um só Deus. RODRIGUES(2014, p 4)

Wandermurem (2006, p. 5), concorda com Rodrigues quando fala sobre a


mentalidade de Israel sobre a fundamental importância da exclusividade e unicidade
de Deus:

Passeando um pouco mais pelos textos, podemos observar que na


mentalidade dos hebreus, em tempos mais antigos, espacialmente na sua
origem, o mal é atribuído a Javé, assim como o bem, é Ele que manda o
inimigo, o Satanás. A teologia Javista, com sua forte tendência exclusivista
e monoteísta, criou obstáculos, pelo menos no começo, para a formação de
um conceito transcendente de mal e sua personificação num ser divino e
celeste, quase como um deus oposto a Javé. Javé é tudo, nele está à vida;
rejeitá-lo significa optar pela morte, conforme o texto de Deuteronômio: Se
ouves os mandamentos de Javé teu Deus que hoje te ordeno – amando a
Javé teu Deus, andando em seus caminhos e observando seus
mandamentos, seus estatutos e suas normas – viverás e te multiplicarás.
Javé teu Deus te abençoará na terra em que estás entrando a fim de
tomares posse dela. (WANDERMUREM, 2006, p. 5).

Bunick e Ribeiro (2014, p. 9) citam Sanford, padre episcopaliano, relatando


também o fato dos hebreus primitivos atribuírem tanto o bem quanto o mal a Deus,
não havendo de modo algum outro responsável:

A razão de encontrarmos poucas referências a Satã no AT está no fato de


que aí o próprio Iahweh é o responsável pelo mal, de modo que a figura de
um demônio não é necessária. Há muitos exemplos no AT mostrando que
os antigos hebreus viam a Iahweh como a origem tanto do bem como do
mal. Por exemplo, considere-se Am 3,6: “Se acontece alguma desgraça na
23

cidade, não foi Iahweh que agiu?"(...)“Eu sou Iahweh e não há nenhum
outro..." “Eu formo a luz e crio as trevas, asseguro o bem-estar e crio a
desgraça; sim, eu Iahweh, faço tudo isto”; ou Is 54,16; “Sabe que fui eu
quem criou o ferreiro que sopra as brasas no fogo e tira delas o instrumento
para seu uso; também fui eu quem criou o exterminador, com a sua função
de criar ruínas”. (SANFORD, 1988, p. 39). Sendo Iahweh uma totalidade de
opostos, tudo provém dele, inclusive o bem e o mal. Assim para os antigos
hebreus o mal não constituía um problema. Eles acreditavam num único
Deus e, se havia o bem e mal no mundo, se o homem sofresse uma
tragédia ou fosse cumulado de bênçãos, se sucumbisse a humores
destrutivos e paixões más, tudo isso tinha sua origem em Iahweh. Isso até
que a consciência moral hebraica se desenvolvesse e eles sentissem um
certo incômodo na ideia de um Deus que aparentemente enviava tanto o
bem quanto o mal sobre a espécie humana... Podemos de fato ficar
bastante incomodados com a ideia de que Iahweh é o responsável pelo
bem e pelo mal, mas é o que nos apresenta o monoteísmo claro e
persistente. (SANFORD, 1988, p. 39, 40 apud BUNICK E RIBEIRO, 2014, p.
9).

Através desses textos podemos perceber se Deus é único, e isso foi


sumamente reforçado no AT. Que outro ser poderia ser responsável por todas as
coisas a não ser o próprio Deus. Pois, segundo Wandermurem (2006, p. 12) “a
religião bíblica é incapaz de conciliar a si mesma com a ideia que existia um poder
no universo que desafia a autoridade de Deus e que poderia servir de anti-deus”. E
como concorda Salgado (2014, p. 3) “o pensamento oficial israelita não se rendeu a
concepção da existência de um poder no universo capaz de desafiar a autoridade de
Javé”.
Se Deus é único e todo poderoso, tudo que acontece no mundo, parte dessa
hermenêutica, não há razões para atribuir qualquer ação seja boa ou má a outro ser.
Pois, tudo pertence a Deus e lhe é atribuído. Pois, como diz Salgado (2014, p. 3) “na
busca pelo significado do mal, a tradição oficial assumiu a postura de rejeição ao
dualismo, não deixando espaço a quaisquer especulações sobre outros seres
espirituais exceto Deus e seus mensageiros”.
Quando era necessário interpretar uma experiência onde houvesse oposição
de um ser espiritual, era interpretado colocando Deus como autor da ação, para se
reafirmar a crença num só Deus, como é frisado na literatura do AT. Como exemplo,
a experiência que Jacó teve em 32. 23-33, onde o mito Cananeu do espírito maligno
do rio, foi explanado como uma ação exclusiva de Deus. Salgado (2014, p. 7) diz
que “Javé incorpora as características desse espírito, até mesmo suas imperfeições
e limitações a tempo e espaço. Referências a tal pessoa misteriosa e desconhecida
são frequentes em outras passagens no AT”.
24

Afinal, essa interpretação era absolutamente plausível, pois, nas teologias da


época, era comum os deuses principais dos outros povos, terem seus mensageiros
conforme relata Salgado (2014, p. 8):

É comum aos deuses no antigo Oriente Próximo ter ao seu dispor,


divindades inferiores que executam as suas ordens em missões e em
retransmissões de mensagens. Estes mensageiros divinos atuam
principalmente como ligações entre deuses e não entre deuses e humanos;
quando um deus principal deseja se comunicar com um humano era
esperado que ele ou ela aparecesse pessoalmente. (SALGADO, 2014, p. 8)

Relembrando, que Israel apenas recebia influência desses povos na sua


cultura e religião, depois reinterpretavam a experiência de acordo com a visão
monoteísta tribal. Nesse caso fazia parte da hermenêutica da época ver a majestade
divina rodeado por um séquito, que estava pronto para fazer sua vontade e que o
representasse quando houvesse necessidade.
Os israelitas também estavam habituados ao mal que Deus poderia causar
para corrigir algum mal, desde suas origens como diz Salgado (2014, 10), pois, na
tradição pré-israelita Deus era conhecido como o Exterminador, um ser que poderia
fazer mal ao rebanho, ou à família, mas que poderia se afastado através de um ritual
de sangue e nesse caso “a teologia oficial israelita com sua ênfase monoteísta
apropriou-se dessa tradição e atribuiu as características deste espírito destruidor a
Javé” (SALGADO, 2014, p. 10).
Por isso, quando o AT relata em Juízes 9 que Deus enviou um espírito mau
para pôr hostilidade entre os habitantes de Siquém e Abimeleque; e no caso do
relato sobre o rei Saúl quando se diz que um espírito da parte do Senhor vai
atormentá-lo(1 Sm 16-19); na visão de Micaías (1Rs 22,19-22), quando o espírito se
ofereceu para incitar Acabe e participar de uma batalha, na qual ele seria morto.
Para alcançar esse objetivo, o espírito agiria com mentira na boca dos profetas de
Acabe (1 Rs 22, 22,23); ou, quando Deus enviou um espírito de prostituição (Os
4,12; 5,4). A respeito dessas referências Salgado (2014, p. 11) diz “nessas breves
referências notamos o processo de reelaboração produzido pela teologia oficial
israelita, a qual deixa pouco espaço à noção dualística de conflito entre bem e mal
ou Deus e seus inimigos”. Nessa explanação de Salgado percebe-se que a ação do
Deus da Tribo de Israel, estava condizente com a interpretação da época, que usava
esses fins com o objetivo de abençoar o seu povo.
25

Deus além de ser único, também era o Deus da Tribo de Israel, um Deus que
era apenas dos hebreus e, assim sendo, para beneficiar o seu povo era necessário
ás vezes fazer o mal a outros povos. Os hebreus, portanto, não viam conflito na
correção, livramento e punição. Aceitavam naturalmente o mal vindo de Deus,
agindo através de seus mensageiros com finalidade de justiça, pois tais ações
faziam parte do contexto cultural da época e da hermenêutica da relação que os
deuses e em consequência Deus poderia ter com seus eleitos.
26

5 CONCLUSÃO

Por fim, conclui-se nesse trabalho que o contato que os hebreus tiveram com
o zoroastrismo, foi de suma importância para a evolução da ideia de um ser do mal
como agente de Deus. Que esse agente podia ser visto como um opositor e/ou
acusador, mas, sempre abaixo da vontade de Deus, pois, nunca violava as
delimitações impostas pelo Criador em suas missões.
Os hebreus primitivos não tinham conflito religioso ou ético em Deus usar,
para alcançar seus objetivos, um agente mal; porque eles viam o mal apenas como
pecado e o sofrimento como consequência desse pecado. E em segundo lugar por
causa de sua religião monoteísta e tribal, baseada na hermenêutica das teologias da
época, ou seja, se Deus agir fazendo o mal a outra tribo ou povo, estará apenas
desempenhando seu papel de um Deus tribal.
De maneira alguma esse estudo é exaustivo, com relação aos hebreus
primitivos, de não questionarem totalmente a respeito de algumas ações adversas.
Porém, esse trabalho lança uma pequena luz, em entender um pouco mais sobre a
maneira de como os povos, em suas respectivas épocas, interpretavam as relações
de Deus com seu povo.
27

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