Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O império da saúde
Maior rede de hospitais do país, a Rede D’Or dobrou de tamanho em
cinco anos. Agora investe na verticalização e na formação de
pro ssionais para se manter competitiva num mercado com custos
em alta
Hospital da bandeira Star, em São Paulo: robôs que custam até 6 milhões de dólares | Germano Lüders
Por trás desse sucesso está a família Moll. O cardiologista Jorge Moll, que fundou
a empresa em 1977 junto com a mulher, Alice, hoje preside o conselho de
administração. Dos cinco lhos do casal, três fazem parte do conselho, um
preside o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e uma atua como médica. O
caçula, Paulo Moll, de 38 anos, é o vice-presidente e acompanha o dia a dia do
negócio ao lado do presidente, Heráclito Brito. Em janeiro, Paulo vai assumir a
presidência e Brito passará a presidir uma holding com os negócios da rede. Paulo
estudou economia e não tinha interesse em trabalhar nos negócios da família. Sua
intenção era seguir carreira no mercado nanceiro e trabalhar em bancos de
investimento. Mas foi convencido pelo pai. “Enquanto procura estágio em banco,
por que não ajuda aqui?”, perguntou Jorge. Paulo entrou na Rede D’Or em 2002
com a intenção de ajudar temporariamente e nunca mais saiu. O trabalho em
banco não veio, mas os conhecimentos nanceiros foram úteis para o
crescimento do grupo. “Era um momento em que a empresa estava muito
endividada e toda ajuda era bem-vinda”, diz ele. Brito, cirurgião com larga
experiência, foi presidente da Bradesco Seguros e da operadora de planos de
saúde Qualicorp. Preside a Rede D’Or desde 2013, quando o fundador deixou o
cargo.
O médico então decidiu apostar alto. Em 1994, comprou metade do Hotel D’Or,
em Copacabana, do empresário português Gaspar D’Orey, com a esperança de
convencer os outros sócios de que seria uma boa ideia fazer um hospital no local.
O trabalho de convencimento levou três anos. O negócio deu origem ao hospital
Copa D’Or, inaugurado no ano 2000. Na mesma época surgiu a oportunidade de
abrir outra unidade, dessa vez na Barra da Tijuca. O segundo empreendimento
acabou cando pronto antes do primeiro e foi inaugurado em 1998 com o nome
Barra D’Or. O Quinta D’Or, terceiro hospital da rede, foi aberto em 2001. Para dar
conta dos investimentos, Jorge Moll vendeu imóveis e hipotecou o apartamento
onde a família vivia. Endividado, chegou a fazer empréstimos com juros a 45% ao
ano para manter o capital de giro das operações. “Foi um passo maior do que as
pernas. O que no pôquer chamamos de all in”, diz o lho Paulo.
Médicos cubanos deixam o Brasil: incertezas do mercado de saúde são um desa o extra para operadores |
Pedro Ladeira/Folhapress
Desa o global
É uma aposta arriscada num momento difícil. O setor de planos de saúde no Brasil
perdeu 3 milhões de bene ciários desde 2015. O número de hospitais privados
também caiu, de 2 023 em 2014 para 1 864 no ano passado. Um dos problemas é a
in ação médica, que chegou a 17,3% em 2018, ante uma in ação geral de 3,7%. Os
custos vão continuar a subir com o envelhecimento da população. A expectativa
de vida no Brasil subiu de 61 para 75 anos desde a criação da D’Or, mas ainda está
longe do nível do Japão, onde se vive, em média, até os 84 anos. As incertezas
sobre o mercado cresceram desde janeiro, com a chegada de um governo que
encerrou o programa Mais Médicos e levantou o debate sobre o futuro do Sistema
Único de Saúde. O aumento dos preços faz com que empresas e bene ciários
optem por planos mais baratos, que não incluem os hospitais da D’Or. O cenário
tem levado à ascensão das operadoras verticalizadas, com hospitais próprios para
controlar os gastos com internação. Em abril de 2018, o grupo NotreDame
Intermédica e a Hapvida, operadoras com redes próprias de hospitais, abriram o
capital e tiveram alta de 186% e 70%, respectivamente, até o dia 20 de agosto
deste ano. No mesmo período o Ibovespa subiu 16%.
Toque para ampliar.
O movimento também tem levado a empresa a voltar mais os olhos para projetos
de hospitais com custos de operação mais enxutos, os chamados “hospitais de
custo”. Um deles é o Glória D’Or. Em 2013, a Rede D’Or pagou 60 milhões de reais
em um terreno no bairro carioca da Glória que pertencia ao antigo hospital da
Bene cência Portuguesa. Parte da estrutura foi erguida em 1840 e é tombada pelo
patrimônio histórico do Rio de Janeiro. O hospital estava abandonado desde a
década de 90. Ali, a Rede D’Or já trabalha nas obras para abrir uma unidade com
500 leitos, e 42000 metros quadrados, a ser concluída até o m deste ano. O
complexo deve gerar 5 000 empregos quando estiver operando. Já os prédios
históricos serão restaurados para receber o Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa.
Fundado em 2007 e mantido pela empresa, o Idor, como é conhecido, ganhou
notoriedade em 2017, quando um estudo de pesquisadores da casa sobre o vírus
da zika foi capa da revista britânica Nature, uma das principais publicações
cientí cas do mundo. “Criamos o instituto para fazer ciência de alto nível, com
projeção internacional. Conseguimos”, a rma Fernanda Tovar Moll, vice-
presidente do instituto e nora de Jorge Moll. Hoje, o Idor tem 22 pesquisadores e
um orçamento anual de 25 milhões de reais. O instituto tem programas de
mestrado, doutorado e pós-doutorado. Em julho, iniciou o primeiro curso de
graduação, em radiologia. Com a mudança para o prédio na Glória, a intenção é
expandir a graduação, com enfermagem e medicina. O projeto responde a um
desa o importante: encontrar mão de obra quali cada. Com a intenção de criar
mais 3 000 leitos nos próximos anos, a empresa, que hoje tem cerca de 45 000
funcionários, considerando todas as empresas do grupo, calcula que precisará de
mais 30 000. Mais uma vez, a solução da família Moll é se adiantar ao problema.