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- Luna Celestine
1823
Luna à luz da lua caminhava pelas margens do rio, onde
a bruma dançava ao redor das árvores e a iluminação
da noite pintava a superfície das águas com um brilho
prateado. Seus passos eram leves, guiados pelo som
dos grilos e pelo murmúrio do vento, que sussurrava
histórias e segredos em seu ouvido.
Enquanto caminhava, Luna buscava a ideia para seu
próximo conto, ela queria uma história que pudesse
capturar a essência do Romantismo e tocar a alma de
todos que a lessem. Ansiava por criar algo tão belo e
profundo quanto as obras de seus ídolos literários
contemporâneos, como Mary Shelley e Lord Byron.
Luna avistou ou imaginou ter visto, do outro lado das
águas, uma figura solitária - uma mulher absorta em
suas anotações, escrevendo freneticamente em um
diário. A imagem dessa mulher despertou em Luna
uma intensa curiosidade para saber o que ela estava
escrevendo, e um sentimento de conexão que não
conseguia explicar.
Mesmo após o retorno à sua escrivaninha, Luna não
conseguia esquecer a figura da mulher à beira do rio. A
cena continuava a visitar seus pensamentos, e em breve
a semente da ideia para o conto perfeito começou a
germinar em sua mente. Inspirada pela mulher que vira,
Luna concebeu a história de uma escritora de contos
que se tornava obcecada pela busca de sua obra-prima.
A personagem dedicava cada momento de sua vida à
criação do conto, deixando de lado tudo o mais.
À medida que Luna desenvolvia a trama, ela se
surpreendia com a facilidade com que as palavras
fluíam de sua pena. As frases jorravam de seu coração
e se derramavam sobre o papel. A personagem da
escritora obcecada ganhava vida e personalidade,
tornando-se mais real a cada linha escrita. A história se
desenrolava de forma natural, como se Luna estivesse
apenas transcrevendo uma história que já existia em
algum lugar, à espera de ser revelada.
Conforme a história avançava, Luna começou a
perceber as semelhanças entre a personagem e si
mesma. A obsessão de sua criação literária se refletia
em sua própria vida, e aos poucos, Luna se tornava a
imagem viva da personagem que havia concebido.
Cada vez mais, ela se dedicava exclusivamente à
escrita, negligenciando outros aspectos de sua vida e
deixando-se consumir pela história que criara.
Luna se isolava cada vez mais do mundo, recusando
convites para eventos sociais e ignorando as
preocupações de sua família e amigos. Ela saía de casa
somente para buscar inspiração, em bosques e jardins,
sempre sozinha, sempre ao cair da noite. Envolta pelas
sombras e pela quietude, ela permitia que sua
imaginação se fundisse com a beleza misteriosa da
natureza. O silêncio noturno tornou-se seu refúgio.
Tudo o que importava era a busca pela perfeição
literária, e nada mais.
A vida de Luna e a de sua personagem se entrelaçaram
a ponto de tornarem-se indistinguíveis uma da outra.
Ela estava completamente imersa no mundo de sua
criação, e começava a questionar se a mulher que vira
à beira do rio era fruto de sua imaginação, ou um
presságio do caminho que estava prestes a trilhar. O
que antes era apenas mais uma história, se
transformava em uma jornada pessoal e inescapável.
Em seus sonhos, ela se via como uma personagem
dentro de seu próprio conto, vivendo as emoções e
desafios de suas criações. Cada vez mais, ela se perdia
em seus devaneios, incapaz de distinguir onde
terminava a escritora e começava a personagem. Um
dia, Luna despertou de um sonho profundo, em que
havia vivido uma história de amor trágico e intenso, tão
vívida, que ao acordar, as lágrimas ainda escorriam
pelo seu rosto. Quando olhou para o papel em sua
escrivaninha, percebeu que as palavras que haviam
surgido em seu sonho estavam ali, escritas à mão.
Luna, completamente consumida por sua criação,
encontrava-se envolvida por uma atmosfera misteriosa
e inquietante. As fronteiras entre a realidade e a ficção
se dissolveram diante de seus olhos, e ela sentiu que
algo oculto e profundo se escondia nas entrelinhas de
sua história. Inspirada, ela decidiu seguir sua intuição e
explorar o desconhecido.
Naquela noite serena, a escritora obcecada encontrava-
se imersa em um devaneio, passeando por um jardim
iluminado pelo luar. O suave murmúrio do vento
parecia sussurrar segredos há muito esquecidos, e a
beleza etérea da paisagem despertava nela uma mistura
de fascínio e melancolia. Foi então que a revelação
enigmática atingiu sua mente.
Luna compreendeu, de repente, que ela mesma era a
personagem dentro do conto. Sua busca pelo sublime,
seu anseio por transcender a realidade e sua própria
existência eram apenas parte da história que ela nunca
conseguia terminar. A angústia e a obsessão que a
afligiam não passavam de elementos tecidos
cuidadosamente por um autor misterioso, alguém que
orquestrava sua vida como se brincasse com um
fantoche.
A descoberta trouxe uma sensação de espanto e
admiração, fazendo-a questionar a própria natureza da
realidade. Seria ela apenas um fruto da imaginação de
outro autor, uma personagem em um conto romântico,
condenada a vagar pelas páginas de sua própria
história? Sendo uma autêntica escritora romântica,
Luna abraçou a revelação com curiosidade. Se ela era,
de fato, uma personagem, talvez houvesse uma maneira
de transcender sua condição e reivindicar o controle
sobre seu próprio destino.