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T EST E D E A VA LI A Ç Ã O – Sequência 6 Poemas, Luís de Camões

Teste de avaliação – Sequência 6


Poemas, Luís de Camões

GRUPO I

Lê atentamente o soneto de Camões a seguir transcrito.

Julga-me a gente toda por perdido,


vendo-me tão entregue a meu cuidado 1,
andar sempre dos homens apartado,
e dos tratos2 humanos esquecido.

5 Mas eu, que tenho o mundo conhecido,


e quási que sobre ele ando dobrado,
tenho por baixo, rústico, enganado,
quem não é com meu mal engrandecido.

Vão revolvendo a terra, o mar e o vento,


10 busquem riquezas, honras a outra gente,
vencendo ferro, fogo, frio e calma3;

que eu só em humilde estado me contento,


de trazer esculpido eternamente
vosso fermoso gesto 4 dentro n’alma.
CAMÕES, Luís de – Rimas. Almedina, 1994.

1 pensamento; 2 convívio; 3 calor do Sol; 4 rosto.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário.


1. Atenta nas duas quadras do poema.
1.1. Com base na primeira quadra, indica traços que caracterizem o modo como “a gente toda” vê
o sujeito poético.
1.2. Analisa as relações de sentido que aquelas duas estrofes estabelecem entre si.
2. Explicita um dos efeitos expressivos produzidos pela enumeração “a terra, o mar e o vento” (v. 9).
3. Comenta o sentido do verso “que eu só em humilde estado me contento” (v. 12) no contexto dos
dois tercetos.
(in Exame Nacional de Literatura Portuguesa, 2007, 2.ª fase)
T EST E D E A VA LI A Ç Ã O – Sequência 6 Poemas, Luís de Camões

GRUPO II

Faz a leitura atenta e cuidada do texto abaixo transcrito.

Camões e a Tença
Irás ao Paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
5 País que tu nomeias e não nasce

Em tua perdição se conjuraram


Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou seu ser inteiramente

10 E aqueles que invocaste não te viram


Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto

Irás ao Paço irás pacientemente


15 Pois não te pedem canto mas paciência

Este país te mata lentamente


ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner – Obra Poética.
Caminho, 2010.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário.


1. Caracteriza as relações entre Camões e o Paço referidas no poema (vv. 1-3 e 14-16).
2. Apresenta uma leitura possível para a expressão “ousou seu ser inteiramente” (v. 9).
3. Explicita o sentido das metáforas presentes nos versos 12 e 13.
4. Comenta, na sua dimensão simbólica, este retrato de Camões.
(in Exame Nacional de Literatura Portuguesa, 2011, 2.ª fase)

GRUPO III

Num texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras, apresenta as tuas impressões de leitura
sobre as composições camonianas redigidas em medida velha (redondilha).
T EST E D E A VA LI A Ç Ã O – Sequência 6 Poemas, Luís de Camões

Cotações
Questões Cotação
OCL *
Grupo I Conteúdo Total por questão Total do grupo
Org.** CL ***
1. 12 4 4 20
2. 12 4 4 20
80 pontos
3. 12 4 4 20
4. 12 4 4 20
OCL *
Grupo II Conteúdo Total por questão Total do grupo
Org.** CL ***
1. 12 4 4 20
2. 12 4 4 20
80 pontos
3. 12 4 4 20
4. 12 4 4 20
OCL*
Conteúdo Total por questão
Grupo III Org.** CL*** 40 pontos
24 8 8 40
200 pontos
(20 valores)
* Organização e correção linguística
** Coerência na organização das ideias e na estruturação do texto
*** Correção linguística (sintaxe e morfologia; léxico; pontuação; ortografia)

Sugestões de resposta
– cria uma impressão de movimento, num crescendo
Grupo I
de dinâmica ascensional (da Terra-Mar para o Vento);
1.1. De acordo com a primeira estrofe, “a gente toda” – sugere uma grande agitação, um desmesurado
(v. 1) vê o sujeito poético como um indivíduo: dispêndio de energia.
– “perdido” (v. 1), ou louco;
3. O verso “que eu só em humilde estado me contento”
– ensimesmado (“tão entregue a meu cuidado” - v. 2);
apresenta, na relação com o primeiro terceto, entre
– sempre à margem, evitando deliberadamente a
outros, os seguintes sentidos:
convivência com as outras pessoas (v. 3);
– constitui a afirmação, por parte do sujeito poético, de
– desprendido de todas as regras do convívio em
uma opção de vida simples (“em humilde estado me
sociedade (v. 4).
contento”), oposta à daqueles que buscam, por todo o
1.2. A adversativa “Mas” instaura uma contraposição de lado, “riquezas”;
sentido entre as duas quadras. Assim: – marca o desinteresse do “eu” pelos bens materiais,
– à representação, na primeira estrofe, da aparência do colocando-se acima dos que são movidos por tais
“eu”, tal como é visto pela “gente toda”, sucede-se, na objetivos.
segunda, a expressão de uma profunda Na articulação com os versos finais do soneto, o verso
autoconsciência do “eu”, que lhe permite classificar 12 apresenta, entre outros, os seguintes sentidos:
como errada a visão dos outros sobre si e sobre o – produz uma clarificação do significado de “humilde
mundo (vv. 7-8); estado” (v. 12), revelando-o como o sentimento de
– na segunda quadra, o que parece aos outros loucura dedicação amorosa que domina o sujeito lírico;
é apresentado como uma opção consciente e – é expressão da autoconsciência do sujeito
deliberada do “eu” que, conhecendo (vv. 5-6) e relativamente à grandiosidade do sentimento que o
desprezando (v. 7) o “mundo”, afirma a vivência interior domina, de entrega total ao ser amado e à
do seu “mal” como o único modo válido de contemplação da beleza deste, inscrita para sempre
engrandecimento pessoal (v. 8). dentro de si (“me contento, / de trazer esculpido
2. A enumeração, incidindo na busca dos outros, eternamente / vosso fermoso gesto dentro n’ alma” –
produz diversos efeitos expressivos, tais como: vv. 12-14);
– assinala o carácter global dessa busca (convocando – constitui a afirmação da vivência interior da beleza e
três dos elementos, Terra, Água e Ar); do amor como os valores da vida do “eu”;
– define tal busca como incessante e sem limite que a – contribui para a enfatização do desprendimento do
detenha; “eu” face aos bens materiais e da sua opção por um
– atribui à referida busca um carácter insaciável e bem simbólico perene.
(in Critérios de Correção – Exame Nacional de Literatura Portuguesa,
insano, pois pretende sair do espaço humanamente 2007, 2.ª fase)
mais controlável (a Terra) para o mar;
T EST E D E A VA LI A Ç Ã O – Sequência 6 Poemas, Luís de Camões

Grupo II 3. Os versos “Pela paciência cuja mão de cinza / Tinha


apagado os olhos no seu rosto” (vv. 12-13) contêm
1. A característica principal dessas relações é a
uma sequência de duas metáforas: a primeira é “mão
dependência, pois Camões precisa da tença que lhe é
de cinza”, significando a indiferença ou o
paga pelo Paço para sobreviver, embora ela seja
entristecimento a que essa paciência acaba por
escassa e paga com dificuldade. Associados a essa
conduzir, e a segunda é “Tinha apagado os olhos no
dependência estão a humilhação e o desconforto, dado
seu rosto”, significando, nomeadamente, a perda da
que a tença não é um reconhecimento do seu talento
lucidez e da consciência crítica.
de poeta, mas uma esmola pela qual o fazem esperar.
4. Este poema oferece um retrato dos últimos anos de
2. A expressão “ousou seu ser inteiramente” (v. 9)
vida de Camões. Um elemento especialmente
pode, por exemplo, remeter para uma das seguintes
importante da sua dimensão simbólica é formulado por
leituras:
um verso que não só se encontra repetido como é
– a figura do poeta que cantou a pátria nos feitos
aquele que termina o poema: “Este país te mata
gloriosos das suas viagens marítimas, mas também
lentamente” (vv. 3 e 16). Por ele se exprime a ideia de
arriscou viajar pelo mesmo mundo que essas viagens
que a devoção, o empenho e o génio do poeta foram
descobriram;
sistematicamente incompreendidos e desprezados por
– a corajosa aventura que constituiu a vida do poeta,
“Calúnias desamor inveja ardente” (v. 7) dos seus
por oposição aos que ficaram “curvados e dobrados” (v.
contemporâneos. A condição do homem que é capaz
11), alimentando “Calúnias desamor inveja ardente” (v.
do “canto” (v. 15) mais elevado – mas a quem só
7);
pedem “paciência” (v. 15) – é, então, marcada pela
– a independência total com que o poeta escreveu,
impotência e pela desilusão.
sem patronos nem protetores que lhe assegurassem a
subsistência e lhe condicionassem o discurso. (in Critérios de Correção – Exame Nacional de Literatura Portuguesa,
2011, 2.ª fase)

Grupo III
Resposta pessoal.

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