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Tempo de reverberação
Cada vez que uma fonte emite energia sonora, esta onda “trafega” pelo ambiente refletindo pelas suas
superfícies até “morrer” devido a absorção de energia que ocorre a cada reflexão. O tempo que demora
para um som “morrer” é denominado tempo de reverberação (T) e se constitui num parâmetro muito
importante para definição das características acústicas de um ambiente. Tempos muito curtos definem
ambientes chamados “mortos”, recomendáveis para estúdios de gravação. Tempos longos definem
ambientes “duros” e são os mais adequados para música ao vivo por exemplo.
A proposta de utilização de um espaço está intimamente ligada ao adequado tempo de reverberação para
este ambiente. Por exemplo, o tempo de reverberação de uma sala utilizada para palestras ou treinamento
deve ser curto de maneira a que ecos ou reflexões de palavras faladas anteriormente não interfiram com
aquelas que estejamos atualmente tentando entender. Se a interferência ocorrer, afeta a inteligibilidade
da fala. Para audição ou reprodução de musica, no entanto, maiores níveis de reverberação ajudam como
"apoio" ao som evitando soar a música muito "seca". O grau de reverberação, neste caso, vai depender
do estilo de música. Deve ficar perfeitamente claro, no entanto, que ao aumentar o tempo de reverberação
de um ambiente, a percepção da fala diminui aumentando cada vez mais a intensidade da conversação.
Para se obter a equação para cálculo do tempo de reverberação de um ambiente, primeiro é necessário
calcular a média de tempo que a onda trafega por este ambiente.
Consideremos uma sala com volume V e área total das paredes S.
As propriedades acústicas das paredes podem ser assumidas aproximadamente constantes caracterizadas
por um coeficiente médio de absorção ᾱ (Σ.S i.αi / S).
Em uma analogia com a ótica, é possível adotar raios acústicos para modelar o campo sonoro emitido
por uma fonte, então, a distância média que um raio viaja em um ambiente pode ser definida por:
lm = 4V⁄S
O número de reflexões por segundo “n” que uma onda sonora experimenta “viajando” por este ambiente
é igual a:
n = c⁄lm = cS⁄4V
Cada vez que uma onda sonora é refletida, uma parcela de sua intensidade é absorvida pela superfície.
Este percentual dependerá das características de absorção das superfícies refletoras. O tempo necessário
para que um som se reduza a determinado valor dependerá então da quantidade de reflexões e da parcela
da energia sonora absorvida. A energia após a primeira reflexão será reduzida pelo fator (1-ᾱ). Após a
segunda reflexão, pelo fator (1-ᾱ)2 e após o tempo de 1 segundo pelo fator (1-ᾱ)n, onde n é a quantidade
de reflexões por segundo. Após um determinado tempo “t” está redução será igual a (1 – ᾱ)nt. Conforme
Sabine, o tempo de reverberação “T” corresponde ao tempo para que a pressão sonora caia 60 dB, ou
seja:
Equação de Norris-Eyring
24. V
T60 = − segundos
c. S log(1 − ᾱ)
Considerando c = 343 m/s e aplicando a transformação de base nos logaritmos, chega-se a:
0.161 V
T60 = − segundos (14.1)
S ln(1 − ᾱ)
onde: T60 = tempo de reverberação em segundos
V = volume do ambiente (m3)
S = área total das superfícies (m2)
ᾱ = coeficiente de absorção médio das superfícies (Σ.Si.αi / S)
Equação de Sabine
Para ambientes com pequenos valores de ᾱ (≤ 0.4), podemos assumir sem grande margem de erro
[−Ln (1 − ᾱ) = ᾱ], o que transforma a fórmula de Eyring na conhecida fórmula de Sabine:
0.161 V 0.161 V
T60 = = segundos (14.2)
A ∑ Si α i
A constante de absorção da sala pode ser calculada por:
A = S. α = 10(LogV−LogT−0.798) m2 (14.3)
A fórmula de Eyring possui maior aplicabilidade já que pode ser utilizada para ambientes de qualquer
dimensão e com qualquer valor de ᾱ, enquanto a fórmula devido a Sabine somente se aplica para
ambientes pequenos com ᾱ menores do que 0.4. A controvérsia reside no fato de que a maioria dos
coeficientes de absorção são calculados com base na equação de Sabine, ou seja, esta deveria ser a
fórmula padrão para cálculo do tempo de reverberação.
Exemplo 14.1
Calcular o tempo de reverberação de um ambiente com área de 75 m2, volume de 42 m3 e com diferentes
coeficientes de absorção médio ᾱ = 0.9 e 0.2.
Para ᾱ = 0.9:
T60 = 0.161 V⁄Sᾱ = 0.161x42⁄75x0.9 = 0.1 s Tempo muito pequeno.
Para ᾱ = 0.2:
T60 = 0.45 s Nível ótimo para salas de estar.
Se as dimensões da sala dobrarem, o tempo de reverberação também será o dobro:
O volume da sala:
V = 2.L + 2.H + 2.P = 23 x (L.H.P) = 23 x Vinicial
E a área total:
S = (4.2.L.H + 4.2.L.P + 4.2.H.P) = 22 x (2.L.H + 2.L.P + 2.H.P)
S = 22 x Sinicial
e assim:
V/S = 23 / 22 = 2 e T60 = 2 x T60 inicial
a) A absorção de um ambiente deverá ser definida tendo em vista sua utilização. Para uma sala de aula,
o ambiente não pode ser muito absorvente pois o aluno do fundo da sala também deve receber um
som claro. Já para escritórios e restaurantes, deve-se prever um ambiente bastante absorvente.
b) Grande parte dos materiais para tratamento acústico é testada utilizando a montagem de norma tipo
“A” que significa o material depositado diretamente no piso da sala de teste. Como na maioria dos
casos, o tratamento acústico é aplicado nas paredes e teto de salas, com características diferentes das
de um piso de concreto, a performance acústica na prática difere um pouco daquela teórica calculada.
c) Normalmente, o ruído ambiente (de fundo) em uma sala, um apartamento ou escritório, atinge
valores entre 40 a 50 dB. Para medir um decaimento de 60 dB teríamos que injetar um som 75 dB
acima deste nível de 50 dB (60 dB decaimento + 5 dB para o disparo automático + 10 dB de folga
entre o final da medição e o piso). Isto significa gerar um som de 125 dB em todo o espectro, e
particularmente em baixas frequências, o que é praticamente ou até tecnicamente inviável.
Na prática, portanto, medimos o tempo necessário para que as reflexões diminuam 20 ou 30 dB
apenas (T20 ou T30). Se o decaimento for aceitavelmente linear, estes tempos podem ser então
extrapoladas linearmente para um decaimento de 60 dB.
Geralmente é melhor escolher T30 sobre T20, pois a incerteza de medição será menor. No entanto, se
o ruído de fundo for muito alto e/ou a fonte de som não for de nível suficientemente alto para criar
um extra de 45 dB, o T20 pode ser a única opção.
T60 (T20) = 3 x tempo de decaimento de 20 dB
T60 (T30) = 2 x tempo para decair em 30 dB
d) Quanto menores as frequências, maiores as incertezas de medição, ou seja, a absorção sonora nas
baixas frequências deve ser analisada com maiores tolerâncias.
e) Para ambientes com paredes, teto e piso de mesmo material (ou quase igual) ou onde os coeficientes
de absorção destas superfícies sejam muito similares, pode-se utilizar para cálculos de absorção e
tempo de reverberação a média dos valores individuais do espectro correspondente ao material da
parede e pisos (média do espectro).
f) O tempo de reverberação usualmente é expresso como um número único, no entanto, ele pode ser
medido ao longo de todo espectro em 1/1 ou 1/3 de oitavas. O tempo de reverberação adequado para
cada ambiente depende da finalidade do ambiente. Ambientes onde a conversação é importante
devem ser projetados com tempos curtos. Se o tempo é longo, o som refletido de uma sílaba ainda
pode ser ouvido quando a próxima sílaba é falada, ficando difícil de entender o que é dito. “Cat”,
“Cab”, “Cap” podem soar muito similares. Por outro lado, tempos muito curtos prejudicam os tons
e a “altura” do som.
g) Reverberação e seus efeitos são normalmente utilizados em estúdios para adicionar profundidade ao
som. Os fatores básicos que influem no tempo de reverberação incluem o formato do ambiente e os
materiais utilizado na construção do ambiente. Cada objeto colocado dentro deste ambiente pode
afetar o tempo de reverberação incluindo pessoas e seus pertences.
h) O conceito de tempo de reverberação implica em supor que o decaimento é exponencial, que o som
irá reduzir regularmente X dB’s por segundo. Na prática, isto não acontece sempre. O decaimento
depende da disposição das superfícies refletivas, divergentes e absorventes.
i) Não somente o valor de T identifica uma boa acústica do ambiente. Também devem ser levados em
conta ecos, pureza do som, balanço, assim como sua localização.
O tempo de reverberação ideal para um espaço específico depende do volume deste ambiente.
Onde o formato da sala para uma ocupação ou atividade particular é relativamente padrão, tempos de
reverberação recomendados podem ser extraídos da tabela 14.1.
Os tempos recomendados devem ser entendidos como sendo a média aritmética dos tempos de
reverberação nas bandas de oitava de 500 e 1000 Hz.
Geralmente é considerado aceitável em grandes volumes ter algum aumento no tempo de reverberação
em direção às baixas frequências. Para pequenos volumes, pode ser mais adequado ter o mesmo tempo
de reverberação na faixa de frequência.
Escritórios
São recomendados tempos de reverberação ao redor de 0.6 segundos nas frequências de 250 a 4000 Hz.
Devem ser considerados a quantidade de pessoas ocupando o escritório, ruído de equipamentos diversos
e a confidencialidade da conversa telefônica. Instalar placas acústicas ao longo de todo o teto e na
proximidade de equipamentos ruidosos. Quanto maior o número de pessoas no ambiente, maior deverá
ser a absorção.
Salas de reuniões
Para pequenas salas de reuniões, recomenda-se um tempo de reverberação de 0,6 segundos e para salas
maiores 0,8 segundos, nas frequências entre 250 a 4000 Hz. Cada ponto da sala deve possuir boa
inteligibilidade. Em grandes ambientes utilizar superfícies refletoras. Tomar as devidas precauções com
relação ao isolamento acústico da sala, já que os assuntos tratados são muitas vezes confidenciais e não
podem atravessar os limites do ambiente. Instalar placas acústicas ao longo de todo o teto e, se possível,
no perímetro superior das paredes laterais. Em salas grandes, em seu centro, utilizar placas refletivas no
teto.
Open-plan offices
Recomenda-se um tempo de reverberação de 0,5 segundos nas frequências entre 250 a 4000 Hz. Crie
barreiras ou um mascaramento com boa absorção sonora entre diferentes estações de trabalho. Evite
superfícies refletivas. Instalar placas acústicas ao longo de toda a superfície do teto e das paredes laterais
em cada estação de trabalho. Utilize materiais acústicos absorventes eficientes como divisórias dos
espaços de trabalho.
Em ambientes padrões, o ruído de fundo é normalmente maior do que o limite minimo exigido para
medição do T60. Devido a este fato, na prática, o decaimento é geralmente avaliado para uma queda de
10, 20 ou 30 dB, utilizando-se então uma extrapolação para determinar os valores para uma queda de 60
dB. Estes valores são designados por EDT, T 20 e T30.
O valor EDT (Early Decay Time) corresponde ao tempo decorrido para que o som caia linearmente 10
dB, após desligamento da fonte, multiplicado por seis.
𝑇500 + 𝑇1000
𝑇60𝑚 = 𝑠
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O tempo de reverberação nominal de um ambiente é definido como sendo a média aritmética dos tempos
de reverberação nas bandas de oitava de 500, 1000 e 2000 Hz, as quais compõem as frequências
importantes para determinação da inteligibilidade de conversação de um espaço.
Julho 2019