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Jornal Unesp - Zavattini Opniao Clima
Jornal Unesp - Zavattini Opniao Clima
inkbluesky.wordpress.com
Não há
calamidade,
mas uma
dinâmica
inerente ao
clima
João Afonso Zavattini
por Oscar D'Ambrosio
Uma perspectiva em
G
raduado em Geografia pela Unesp
C
omo qualquer outro as comunidades biológicas e to- di Torino (Itália), é autor do livro As chuvas e
problema científico, Modelos dos os processos que os ligam se as massas de ar no Estado de Mato Grosso
a resposta a uma per- comportavam no passado. Em do Sul: estudo geográfico com vista à regio-
gunta depende das escalas de numéricos outras palavras, os efeitos físi- nalização climática, disponível para download
tempo e de espaço envolvidas. cos, químicos ou biológicos das gratuito em http://www.culturaacademica.
No caso de mudanças climáti- imperfeitos são mudanças globais precisariam com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=42. A ini-
cas ou, como mais amplamente de informações passadas que ciativa é uma parceria entre a Cultura Acadê-
descritas, mudanças globais, a as melhores não existem – e esse argumen- mica, selo da Editora Unesp, e a Pró-Reitoria
comunidade científica perma- to tem sido irrefutável em várias de Pós-graduação.
nece num estado contínuo de ferramentas de instâncias, principalmente não
divergências porque diferentes científicas, pois é muito fácil Jornal Unesp Qual foi a motivação para es-
partes envolvidas abordam o que dispomos provar que algo não existe se crever seu livro?
problema em escalas de tem- não é observado. João Afonso Zavattini Ele surgiu da carência
po diferentes. Por um lado, as atualmente Mas é notável e inquestioná- de estudos climáticos ligados à dinâmica atmos-
elevações na temperatura e na vel o efeito da humanidade [...] férica no Centro-Oeste do Brasil. Escolhi Mato
concentração de gás carbônico na superfície de nosso planeta. Grosso do Sul (MS) por estar contido na área
(CO2) atmosférico do planeta são [...] Como existe uma demanda de influência do Estado de São Paulo. Escolhi
esperadas quando acompanhadas em ciclos na- de tempo entre as descobertas científicas e toma- o mesmo paradigma do meu mestrado, que foi
turais mais longos (milhares de anos); por outro, das de decisão, a comunidade científica aposta sobre o oeste paulista e o norte paranaense: a
numa perspectiva de centenas de anos, as taxas de nos chamados cenários “otimistas” e “pessimis- chuva, analisando as massas e frentes frias.
aumento de CO2 na atmosfera, e não a sua concen- tas”, sendo esses cenários dependentes de modelos
tração final, são realmente sem precedência. Outro numéricos imperfeitos, conceitualizados por uma JU Qual a principal característica que o se-
constante debate nesse assunto se refere aos ciclos coleção de dados curta e igualmente imperfeita e nhor estudou?
de elementos – o ciclo da água e do CO2, ambos uma teoria simplista. Todavia, essas são as melho- JAZ Assim como SP, MS é atravessado por
gases estufa, tem escalas muito distintas e seus res ferramentas de que dispomos no momento [...]. uma zona climática de transição. Parte do ter-
efeitos devem ser analisados respeitando-se essas Assim, será importante que a comunidade ritório do Estado é dominada por massas po-
escalas. Ambos são afetados por atividades antró- científica adote um caráter multidisciplinar ao lares e tropicais, e a outra parte, mais ao nor-
picas, mas enquanto o uso de combustíveis fósseis lidar com estudos sobre mudanças climáticas; e te, por massas tropicais e equatoriais. Desse
reverte um ciclo biogeoquímico muito longo, a re- que educadores de todas as áreas preparem seus conflito de massas de ar, passa a existir todo
distribuição da água na superfície do planeta e nas alunos para compreender como esses modelos são um jogo de valores de temperatura, chuva,
massas de ar que se formam acima dela pode ser construídos e o que podem nos dizer, mas princi- umidade e vento.
feita de forma mais rápida. [...] palmente o que ainda não podem mas deveriam
[...] Observamos processos de eutrofização (ou ser capazes de quantificar. [...] JU Qual foi o principal paradigma utilizado
enriquecimento de regiões costeiras por matéria Anunciar ou desprezar catástrofes potenciais na tese?
orgânica) em todos os locais onde a ocupação hu- possuem, ironicamente, repercussão econômica e JAZ É o que sustenta a escola brasileira de
mana foi feita antes do conhecimento real sobre política para ambos os lados, e levando em conta Climatologia Geográfica, que vem dos estu-
a consequência dos descartes de esgotos e outras que o tempo entre gerações humanas é de dezenas dos do professor Carlos Augusto Figueiredo
substâncias; invasões por espécies exóticas atra- de anos, é recomendável tanto priorizar essa pers- Monteiro. Ele é semeador da ideia dos ritmos
vés de água de lastro de navios de grande porte; pectiva temporal como agir de forma mais restrita. climáticos e pluviais.
alterações de cadeias tróficas marinhas pela re- [...]
moção de espécies de importância comercial por JU O que vêm a ser esses ritmos?
atividades de pesca; a acidificação dos oceanos – Áurea M. Ciotti é docente do Câmpus Experimental do JAZ Estão ligados aos ritmos atmosféricos, que
que se refere a uma mudança química da água do Litoral Paulista da Unesp ocorrem em função dos fluxos que vêm das
André F. Bucci é pesquisador assistente no Laboratório de
mar, com relações à entrada de CO2 na atmosfera. Dinâmica Pelagial Costeira – Aquarela da Unesp-CLP
massas de ar árticas e antárticas. No hemis-
Todos esses efeitos são frequentemente estudados fério sul, o ritmo é dado pelo contraste entre
em Oceanografia sob a perspectiva de previsão A íntegra deste artigo está disponível no “Debate massas frias que nascem no polo antártico e
para o futuro, e para isso requerem a compreen- acadêmico” do Portal Unesp, no endereço http://www.
são plena de como os ambientes físico-químicos, unesp.br/aci/debate/290410-aureamciotti.php
Janeiro/Fevereiro 2012 Fórum 3
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