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ESCOAMENTO SUPERFICIAL

Disciplina: Hidrologia e Sistemas de Drenagem


Geração do Escoamento em uma bacia
1. Durante as chuvas intensas
Água da chuva que não infiltrou no solo atinge os rios:
→ Cheias ou enchentes
Escoamento rápido que ocorre em consequência direta da chuva:
ESCOAMENTO SUPERFICIAL DIRETO
2. Nos períodos secos
A vazão de um rio é mantida pelo esvaziamento lento da
água armazenada na bacia: ÁGUA SUBTERRÂNEA

Escoamento durante estiagem:


ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO ou
ESCOAMENTO DE BASE
Geração do Escoamento em uma bacia
1. Durante as chuvas intensas: 2 PROCESSOS DE FORMAÇÃO
1.1 Intensidade de precipitação (i) > capacidade de infiltração (f)
Escoamento Superficial (Q): Q = i - f
Ocorre em: Bacias urbanas // Áreas com solo modificado pela
ação do homem
→ Raramente visto em bacias naturais

1.2 Em bacias naturais / rurais


Escoamento superficial originado pela precipitação que atinge
zonas de solo saturado
Solos saturados são normalmente encontrados próximos aos
corpos hídricos, onde o nível do lençol freático está próximo à
superfície.
Geração do Escoamento em uma bacia
A parcela de chuva que se transforma em escoamento superficial
é chamada: CHUVA ou PRECIPITAÇÃO EFETIVA

Há vários métodos para estimar a chuva efetiva durante um


evento de chuva

Método Soil Conservation Service - SCS


Um dos métodos mais simples e mais utilizados para estimar o
volume de escoamento superficial resultante de um evento de
chuva.

Desenvolvido pelo National Resources Conservation Center dos


EUA (antigo Soil Conservation Service – SCS).

Conhecido também como SCS-CN porque está baseado em um


parâmetro CN (Curve Number).
Cálculo da chuva efetiva pelo método SCS
Método baseado em:
• Equação do balanço hídrico aplicado na superfície do solo
• Duas hipóteses relacionadas à capacidade de armazenamento
de água no solo.

Equação do Balanço hídrico

P: precipitação em um evento (mm)


Ia: perdas iniciais como acúmulo de água
na superfície, interceptação (mm)
P = Ia + F + Q
F: infiltração acumulada ao longo do
evento (mm)
Q: chuva efetiva ou escoamento
superficial (mm)
Cálculo da chuva efetiva pelo método SCS
1ª hipótese

𝑸 𝑭 Q: chuva efetiva ou escoamento


= superficial (mm)
𝑷 − 𝑰𝒂 𝑺
P: precipitação em um evento (mm)
Ia: perdas iniciais como acúmulo de água
na superfície, interceptação (mm)
F: infiltração acumulada ao longo do
2ª hipótese evento (mm)
S: máxima infiltração acumulada
potencial (mm)
𝑰𝒂 = 𝟎, 𝟐 ∙ 𝑺
Perdas iniciais correspondem a 20% da máxima infiltração
acumulada potencial (S)
Cálculo da chuva efetiva pelo método SCS
A combinação dessas três equações dá origem a:
(𝑷 − 𝑰𝒂)𝟐 (𝑷 − 𝟎, 𝟐 ∙ 𝑺)𝟐
𝑸= ou 𝑸=
(𝑷 − 𝑰𝒂 + 𝑺) (𝑷 + 𝟎, 𝟖 ∙ 𝑺)
𝟐𝟓𝟒𝟎𝟎
𝑺= − 𝟐𝟓𝟒
Equações válidas quando P > Ia 𝑪𝑵
Quando P ≤ Ia , Q = 0 𝑰𝒂 = 𝟎, 𝟐 ∙ 𝑺
Q: chuva efetiva ou escoamento superficial (mm)
P: precipitação em um evento (mm)
Ia: perdas iniciais (acúmulo de água na superfície, interceptação) (mm)
F: infiltração acumulada ao longo do evento (mm)
S: máxima infiltração acumulada potencial (mm)
CN: parâmetro adimensional cujo valor varia entre 0 e 100
Cálculo da chuva efetiva pelo método SCS
O método SCS-CN depende apenas do valor de CN, que é
dado em tabelas desenvolvidas a partir de experimentos em
bacias pequenas nos EUA e varia de acordo com o tipo de
ocupação (agrícola, pastagem, urbana, etc).

CN é um parâmetro adimensional cujo valor varia entre 0 e 100:


• CN = 0: solo com capacidade de infiltração infinita
• CN = 100: solo completamente impermeável

São considerados 4 tipos de solo, em ordem crescente de


potencial de geração de escoamento superficial: A, B, C e D.
Tabela 1: Os quatro tipos de solos considerados no método SCS-CN
Tipo SCS Características Textura
Solos com baixo potencial de geração de Arenosa; Areia
escoamento superficial: solos arenosos, ou Franca; Franco
A siltosos, profundos e de alta capacidade de Arenosa
infiltração
Solos com pouco teor de argila, menos Franco Siltosa;
B profundos ou com mais argila do que os solos Franca
do tipo A e de média capacidade de infiltração
Solos com mais teor de argila do que os solos Franco Argilo
do tipo B, com uma camada mais Arenosa
C impermeável abaixo da superfície ou pouco
profundos
Solos com alto potencial de geração de Franco Argilosa;
escoamento superficial: solos argilosos, solos Franco Argilo
D rasos sobre rochas impermeáveis, solos com Arenosa; Argilo
lençol freático próximo à superfície, solos com Arenosa; Argilo
capacidade de infiltração muito baixa Siltosa; Argilosa
Tabela 2: Valores de CN para diferentes condições de cobertura em bacias
RURAIS
Uso do solo Superfície A B C D
Com sulcos retilíneos 77 86 91 94
Solo lavrado
Em fileiras retas 70 80 87 90
Em curvas de nível 67 77 83 87
Plantações
Terraceado em nível 64 76 84 88
regulares
Em fileiras retas 64 76 84 88
Em curvas de nível 62 74 82 85
Plantações
de cereais Terraceado em nível 60 71 79 82
Em fileiras retas 62 75 83 87
Em curvas de nível 60 72 81 84
Plantações Terraceado em nível 57 70 78 89
de legumes Pobres 68 79 86 89
ou cultivados Normais 49 69 79 94
boas 39 61 74 80
Tabela 2: Continuação (CN para Bacias RURAIS)
Uso do solo Superfície A B C D
Pobres, em curvas de nível 47 67 81 88
Normais, em curvas de nível 25 59 75 83
Pastagens
Boas, em curvas de nível 6 35 70 79
Normais 30 58 71 78
Esparsos, de baixa transpiração 45 66 77 83
Campos
Normais 36 60 73 79
permanentes
Densas, de alta transpiração 25 55 70 77
Chácaras Normais 56 75 86 91
Estradas não Mal conservadas 72 82 87 89
pavimentadas De superfície dura 74 84 90 92
Muito esparsas, baixa transpiração 56 75 86 91
Esparsas 46 68 78 84
Florestas
Densas, alta transpiração 26 52 62 69
Normais 36 60 70 76
Tabela 3: Valores de CN para diferentes condições de cobertura em bacias
URBANAS

Utilização ou cobertura do solo A B C D


Zonas cultivadas: sem conservação do solo 72 81 88 91
com conservação do solo 62 71 78 81
Pastagens ou terrenos em más condições 68 79 86 89
Baldios em boas condições 39 61 74 80
Prado em boas condições 30 58 71 78
Bosques ou zonas florestais: cobertura ruim 45 66 77 83
cobertura boa 25 55 70 77
Espaços abertos, relvados, parques, campos de golfe, cemitérios
boas condições: com relva em mais de 75% da área 39 61 74 80
Com relva de 50 a 70% da área 49 69 79 84
Zonas comerciais e de escritórios 89 92 94 95
Zonas industriais 81 88 91 93
Tabela 3: Valores de CN para diferentes condições de cobertura em bacias
URBANAS (Continuação)

Utilização ou cobertura do solo A B C D


Zonas residenciais lotes de (m²) % média impermeável
< 500 65 77 85 90 92
1000 38 61 75 83 87
1300 30 57 72 81 86
2000 25 54 70 80 85
4000 20 51 68 79 84
Parques de estacionamentos, telhados, viadutos, etc. 98 98 98 98
Arruamentos e estradas asfaltadas e com drenagem de
98 98 98 98
águas pluviais
Paralelepípedos 76 85 89 91
Terra 72 82 87 89
Exercício SCS
1. Qual é a chuva efetiva durante um evento de chuva de
precipitação total P = 70 mm numa bacia com solos do tipo
B e cobertura de florestas?
Olhando nas tabelas para Florestas normais: CN = 60
R = A chuva de 70 mm provoca um escoamento superficial direto
de 6,3 mm

2. Qual é a chuva efetiva durante o evento de chuva de


precipitação total P = 80 mm em uma bacia onde 30% da
área é urbanizada (zonas comerciais) e 70% é rural
(campos permanentes) e o solo é extremamente argiloso e
raso? Solo tipo D R = 41,9 mm
Zonas comerciais: CN = 95
Campos permanentes normais: CN = 79
Exercício SCS (chuva intensidade variável)
3. Qual é a chuva efetiva durante o evento de chuva dado
na tabela abaixo numa bacia com solos com média
capacidade de infiltração (tipo C) e cobertura de pastagens
normais em curvas de nível?

Tempo (min) Precipitação (mm)


10 5
20 6
30 14
40 11

Olhando nas tabelas para Pastagens normais em curvas de nível:


CN = 75
Exercício SCS (chuva intensidade variável)
3. Qual é a chuva efetiva durante o evento de chuva dado
na tabela abaixo numa bacia com solos com média
capacidade de infiltração (tipo C) e cobertura de pastagens
normais em curvas de nível?
CN = 75
S = 84,7
Ia = 16,9

Tempo Precipitação Precipitação Chuva Chuva efetiva


(min) (mm) acumulada (mm) efetiva (mm) incremental (mm)
10 5 5 0 0
20 6 11 0 0
30 14 25 0,7 0,7
40 11 36 3,5 2,8
INTRODUÇÃO
• Bacia hidrográfica transforma chuva em vazão
• Chuva que escoa superficialmente: CHUVA EFETIVA
→ Estimada pelo método SCS

Nem toda chuva efetiva gerada chega imediatamente ao curso


d’água → escoamento percorre caminho com velocidades
variáveis de acordo com a declividade, comprimento dos trechos.

Hidrograma: Gráfico Vazão x Tempo

• Medições de vazão realizadas em uma seção da bacia


imediatamente após o início da chuva.
→ Geralmente na saída da bacia (exutório)
HIDROGRAMA
Comportamento típico de um HIDROGRAMA após início chuva

𝑡0 𝑡𝐴

𝑡0 -𝑡𝐴 Precipitação inicial: água retida em interceptações e depressões


HIDROGRAMA
Comportamento típico de um HIDROGRAMA após início chuva

𝑡0 𝑡𝐴 𝑡𝐵

AB Ascensão do hidrograma - escoamento superficial


Duração da precipitação ≤ (𝑡𝐵 − 𝑡0 )
HIDROGRAMA
Comportamento típico de um HIDROGRAMA após início chuva

Após o máximo, se inicia um


período de recessão.

C
A

𝑡0 𝑡𝐴 𝑡𝐵

BC Curva de depleção do escoamento superficial


Não há mais precipitação
HIDROGRAMA
Comportamento típico de um HIDROGRAMA após início chuva

A recessão caracteriza o fim do


escoamento superficial e a
recarga apenas pelo escoamento
subterrâneo.
C
A
D
𝑡0 𝑡𝐴 𝑡𝐵

CD Curva de depleção ou recessão da água do solo


HIDROGRAMA
Comportamento típico de um HIDROGRAMA após início chuva

B
𝑉 = 𝑄. 𝑡

C
A
D
𝑡0 𝑡𝐴 𝑡𝐵

Obs. A área abaixo do hidrograma representa o volume de água


escoado no período analisado.
O HIDROGRAMA UNITÁRIO (HU)
• Hipótese da relação linear entre a chuva efetiva e o
hidrograma gerado.

• HU é o hidrograma de escoamento direto causado por uma


chuva efetiva unitária, por exemplo, uma chuva efetiva de 1
mm ou 1 cm.

• Considera-se que a chuva efetiva e unitária tem intensidade


constante ao longo de sua duração e distribui-se
uniformemente sobre toda a área de drenagem.

• Bacia hidrográfica tem comportamento linear


→ Calcular a resposta da BH a eventos de chuva diferentes,
considerando que a resposta é uma soma das respostas
individuais
O HIDROGRAMA UNITÁRIO (HU)

Gera uma resposta


no exutório da
1 mm de chuva efetiva em bacia que é um HU
toda a bacia com duração D

Gera uma resposta


no exutório onde
2 mm de chuva efetiva em cada valor de
toda a bacia com duração D vazão é o dobro do
HU
O HIDROGRAMA UNITÁRIO (HU)
• As vazões de um hidrograma de escoamento superficial,
produzidas por chuvas efetivas sucessivas, podem ser
encontradas somando as vazões dos hidrogramas de
escoamento superficial correspondente às chuvas efetivas
individuais: PRINCÍPIO DA SUPERPOSIÇÃO
Transformação chuva-vazão
Os métodos mais comuns para calcular as vazões máximas a
partir da transformação de chuva em vazão são:
• Modelos baseados no hidrograma unitário
• Método Racional

Método Racional x Modelos baseados HU

• Pequenas Bacias • Bacias Hidrográficas maiores:


Hidrográficas: área até 3 área acima de 3 km²
km² aproximadamente
• Chuvas de duração maior
• Chuvas de curta duração
A duração da chuva é • Quando se deseja encontrar
considerada igual ao tempo também o volume das cheias.
de concentração da bacia.
MÉTODO RACIONAL
Método para estimar as vazões máximas de bacias a partir de
dados de chuva.
Aplicável para bacias de até, aproximadamente, 3 km² de área
A duração da chuva é considerada igual ao tempo de
concentração da bacia, ou seja, a vazão máxima ocorre quando
toda a bacia está contribuindo para o exutório.

Q: vazão máxima (𝑚3 . 𝑠 −1 )


C: coeficiente de escoamento superficial
𝐶∙𝑖∙𝐴 do método racional (depende das
Q= condições do solo)
3,6
i: intensidade da chuva de projeto
(mm. ℎ−1 ) (obtida de curvas IDF)
A: área da bacia hidrográfica (km²)
MÉTODO RACIONAL
Tabela 1: Valores do coeficiente de escoamento do método
racional (C) para diferentes tipos de cobertura da bacia.

Superfície Intervalo Valor esperado


Asfalto 0,70 a 0,95 0,83
Concreto 0,80 a 0,95 0,88
Calçadas 0,75 a 0,85 0,80
Telhado 0,75 a 0,95 0,85
Grama em solo arenoso plano 0,05 a 0,10 0,08
Grama em solo arenoso inclinado 0,15 a 0,20 0,18
Grama em solo argiloso plano 0,13 a 0,17 0,15
Grama em solo argiloso inclinado 0,25 a 0,35 0,3
Áreas rurais 0,0 a 0,30 -
MÉTODO RACIONAL
Tabela 2: Valores do coeficiente de escoamento do método
racional (C) de acordo com o tipo de ocupação da bacia.

Zonas C
Centro da cidade densamente construído 0,70 a 0,95
Partes adjacentes ao centro com menor densidade 0,60 a 0,70
Áreas residenciais com poucas superfícies livres 0,50 a 0,60
Áreas residenciais com muitas superfícies livres 0,25 a 0,50
Subúrbios com alguma edificação 0,10 a 0,25
Matas, parques e campos de esportes 0,05 a 0,20

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