REVOLUÇÃO, GOVERNO OPERÁRIO E COMUNISMO

ANO 43 • Nº 1.198 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022 R$ 6,00

Terceira via
UMA ARMADILHA PARA O PT está rachada,
mas não morta

E PARA TODA A ESQUERDA A pouco mais de oito meses

para as eleições presiden-
ciais, o setor da direita tradi-
Direções do PT, PSB, PCdoB e PV afirmam ter acordo sobre federação partidária cional e umbilicalmente liga-
do ao imperialismo mostra
que tem grande dificuldade
Mostrando seu papel de para definir uma candidatu-
verdadeiros abutres, até ra capaz de derrotar Lula e
hoje nenhum dos partidos o PT sem precisar recorrer
que querem uma aliança a Bolsonaro novamente. A3
com o PT aprovou o apoio
a Lula. Pelo contrário. PSB,
PCdoB e PV se lançaram Em Honduras,
primeiro a participar da
construção de uma frente uma derrota do
ampla com a direita golpis-
ta (com PSDB, DEM, MBL
imperialismo a
etc.) contra Lula e o PT. ser consolidada
Diante do fracasso da ten-
tativa de submetê-los a esse Presidenta empossada, Xio-
plano reacionário e diante mara Castro falou em cons-
do gigantesco apoio popu- truir “um estado socialista e
lar a Lula como candidato democrático”, evidenciando
contra o regime golpista, a radicalização política de
tais partidos se lançaram a setores da burguesia nacio-
fazer chantagens e absur- nalista daquele pobre e pe-
das exigências para“apoiar” queno país. A3
Lula. Tudo isso, longe de se-
rem alavancas para a che- COMBATE ÀS ‘FAKE NEWS’
gada de Lula ao governo,
são pesos mortos que vão Censura
sendo impostos e que estão
na contramão da necessida- “democrática”
de real de uma mobilização
de massas, dos explorados e é censura A6

de suas organizações, con-

tra a direita golpista e seus ELEIÇÃO
aliados. É a luta política das
massas, e não miseráveis
acordos com golpistas que
Quem, de
pode assegurar uma derro-
fato, apoia
Ricardo Stuckert

ta da direita e a vitória dos

trabalhadores na luta con-
tra a burguesia golpista. A3 Carlos Siqueira (PSB) e Gleisi Hoffmann (PT), presidentes de seus respectivos partidos, reunidos na semana passada Lula? A6

LEIA NO CADERNO CULTURAL RUMO A UMA GUERRA? CHILE MOVIMENTO OPERÁRIO FMI REVISA PROJEÇÃO

Crise dos EUA Boric anuncia Por um O mercado

empurra a
Ucrânia e OTAN
contra a Rússia
Biden, que foi saudado pelo
regime político dos Estados
Unidos, representado prin-
cipalmente pelo Partido De-
mocrata, tenta responder ao
fracasso, atacando a Rússia
através da Ucrânia. B4
gabinete e mostra
para quem quer
governar
A política identitária foi o
carro chefe da campanha
que levou Boric à presidên-
cia com apoio de setores da
direita e do imperialismo.
Agora, seu gabinete mostra
o resultados dessa política. B1
Congresso da
CUT, por Lula
presidente
Seguindo decisões da Con-
ferência Sindical Vermelha,
Corrente sai em defesa de
que a maior organização
dos trabalhadores mobilize
e lidere a esquerda na luta
pela derrota da direita. B3
financeiro
mundial à beira
do colapso
Espera-se que o crescimen-
to da economia global seja
de 4,4% ao final deste ano.
É uma diminuição de quase
10% da projeção realizada
em outubro do ano passa-
do. B4

Jornal Causa Operária

Se você assina, o povo lê!

100 anos
jornal.causaoperaria.org.br
A2 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022
O crime é ser revolucionário
Eduardo Vasco
O pioneiro na tentativa de
incriminar o PCO foi o iletrado
Renato Rovai, cuja dificuldade
de interpretar textos causou
espanto até mesmo em nossos
militantes mirins abaixo dos
dez anos de idade.
“Tem que botar a polícia
pra cima deles”, latiu o cãozi-
nho de Guilherme Boulos, ain-
da em meados do ano passado.
Havia nos acusado de “roubar
celular”. Tudo porque nos opusemos à in-
filtração de bate-paus do PSDB nas ma-
nifestações da esquerda.
Agora, temos uma versão ainda mais
caricata e cheia de sandices. Kiko Noguei-
ra, editor-chefe do site sensacionalista e de
“fake news” DCM, disse que o PCO é “caso
de polícia, Justiça e Ministério Público”.
O motivo seria a suposta lavagem de
dinheiro da qual o DCM nos acusa. As
provas? Nenhuma.
Tanto Rovai como Kiko Nogueira e seu
menino Pedro Zambarda buscam passar a
ideia de que seriam pessoas de esquerda.
Mas chamar acusar um partido de esquer-
da de lavar dinheiro e chamar a polícia
para reprimi-lo, ou seja, considerar esse
partido uma organização criminosa, não
é uma postura de alguém de esquerda. É
uma postura de direita. Esses três pisto-
leiros da comunicação não têm nada de
esquerda: são elementos de direita.
Quem sofreu muito com esse tipo de
acusação foi o PT. O golpe de 2016 e a
posterior prisão de Lula foram baseados
nos “crimes” petistas. E quem executou o
golpe foi justamente a direita, inclusive
a fascista. No entanto, não nos espanta
tal discurso vindo do DCM, uma vez que
o próprio Pedro Zambarda participou do
golpe, sendo seu propagandista ao escre-
ver como ghost writer o livro assinado por
Joice Hasselmann que, página sim, pági-
na não, acusa Lula e o PT de criminosos.
Nesse livro, Pedro Zambarda/Joice Has-
selmann chamam Dilma Rousseff de “ter-
rorista” que passou “de maneira criminosa
por gangues como o Comando de Liber-
tação Nacional (Colina) e posteriormente
a Vanguarda Armada Revolucionária Pal-
mares (VAR – Palmares)”.
Agora já não precisamos ficar tão es-
tarrecidos com o que Zambarda e Kiko
Nogueira tentam fazer com o PCO. Têm
histórico de tratar a esquerda radical —
durante a ditadura, época narrada no tre-
cho em questão, Dilma era uma militante
revolucionária — como bandida.
O que faziam os guerrilheiros e mili-
Se não pode com eles,
chame-os lunáticos!
Henrique Simonard
Guilherme Boulos e Juliano Medeiros,
dupla dinâmica do PSOL, deram, cada um,
uma entrevista essa semana, o primeiro
para o UOL e o segundo para o 247. Em
ambas, os integrantes da dupla dinâmica
do Não Vai Ter Copa, caluniaram o PCO
quando indagados sobre o mesmo. A res-
posta que deram foi idêntica “o PCO é um
partido de lunáticos!”.
Esqueçamos o fato de ser um recur-
so de gente preguiçosa, mas ao invés de
tentar atacar as ideias do PCO ou rebater
as graves denúncias feitas pelo mesmo,
indicando o papel de Guilherme Boulos
na campanha contra Dilma, ele que tra-
balha agora com o então chefe da Polícia
Federal, o antigo chefe do GSI, e o ex-Mi-
nistro da Justiça, eles preferem desquali-
ficar pessoalmente quem fez a crítica. Ao
invés disso, vamos nos concentrar no fato
de que o único recurso aparente do PSOL
para se justificar seja o ataque à reputa-
ção do PCO; o Partido Socialismo e Liber-
dade, que enche a boca para dizer que o
nosso partido não é sério, mostra que, na
verdade, quem vive de difamações e são
incapazes de discutir são eles.
Para Juliano, Boulos trabalhar junto
aos golpistas não é problema, problema é
o PCO que cedeu uma entrevista à Jovem
Pan, que Juliano caracteriza como impren-
sa golpista, Boulos ao ser indagado pelo
democrático UOL sobre as denúncias fei-
tas pelo DCO, diz que a esquerda vai mui-
to bem e nunca esteve tão unida, e que o
PCO não passa de uma seita de lunáticos.
Guilherme deu um excelente exemplo da
unidade da esquerda, referindo-se otimista
à possibilidade do PSOL e a Rede golpista
de se unirem em uma Federação Partidária.
Boulos e Juliano atacam o PCO para
tentar calar quem denuncia o objetivo do
PSOL e daqueles que se autoproclamam
de “nova esquerda”: sabotar por dentro a
Semanário nacional, operário e socialista, desde 1978 • nº 1.198 • 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2022 • editor: Rui Costa Pimenta • tel.: (11) 2061-5203 • e-mail: contato@jornalcausaoperaria.com.br • www.jornalcausaoperaria.com.br • facebook.com/jornalcausaoperaria
tantes opositores da ditadura
militar, defendida no livro de
Zambarda/Hasselmann? Bom,
assaltavam bancos, por exem-
plo. Trabalhavam na clandes-
tinidade, pois sua atuação era
ilegal. Contrabandeavam ar-
mas. Tudo isso, para garantir
a sobrevivência de suas res-
pectivas organizações, que lu-
tavam pelo fim da ditadura,
pela libertação nacional e pelo
socialismo.
Pela lógica de Kiko Nogueira, Pedro
Zambarda e Renato Rovai, a ditadura es-
tava certa em colocar na ilegalidade, per-
seguir, prender, torturar e assassinar esses
militantes, muitos deles heróis do povo bra-
sileiro. Se pedem polícia por um alegado
roubo de celular ou por uma suposta lava-
gem de dinheiro — ambos sem qualquer
prova ou mesmo indício —, obviamente
pediriam para aqueles revolucionários
que assaltavam bancos, contrabandeavam
armas e, em alguns casos, justiçavam os
algozes do povo.
Se estivessem em Cuba na década de
1950, esses três elementos direitistas pos-
sivelmente teriam apoiado o massacre per-
petrado pelas tropas de Batista contra os
assaltantes do Quartel Moncada. Chama-
riam Fidel Castro de criminoso e pediriam
sua prisão.
O que dizer, então, de Lênin e os bol- Remoção de 800 famílias e
cheviques, que militaram boa parte de suas
vidas na clandestinidade? Que conseguiam
fundos para manter as atividades do par-
casas invadidas no Jacarezinho
tido por meios nem um pouco convencio-
nais? Certamente também teriam publica- Luan Monteiro
do nas páginas de seu pasquim, impresso,
entre os anos de 1840 e 1880, denúncias Após quase um ano da chacina na fa- te não podia fechar os olhos para o que
contra Karl Marx, que era então persegui- vela do Jacarezinho que deixou 28 mor- aconteceu lá”, afirmou Castro. As “boas
do em vários países da Europa por suas tos, vimos na semana passada a volta do intenções” do governador puderam ser
atividades ilegais e subversivas. terror à comunidade com a presença das vistas em toda rede nacional, em imagens
“Tem que botar a polícia pra cima de- polícias civil e militar. No estágio atual da assustadoras: 1200 policiais munidos de
les”, teria dito Rovai em 1848 contra Marx ocupação da favela, a próxima etapa será forte armamento, com fardas que lembram
e Engels. Esse “vagabundo” (como Ku Klux remover cerca de 800 famílias. o exército, como se estivessem entrando
Kiko chamou Rui Costa Pimenta) é “caso No último dia 19, por volta das 5h da numa grande guerra.
de polícia, Justiça e Ministério Público”, manhã, a favela do Jacarezinho, localiza- Essa intervenção resultou na invasão de
reclamaria Nogueira contra o pai do mar- da na Zona Norte do Rio de Janeiro, foi casas dos moradores, tendo seus pertences
xismo, em suas empreitadas revolucioná- o primeiro alvo do projeto Cidade Inte- revistados e seus móveis revirados, com
rias na Alemanha, França e Inglaterra. grada, junto da comunidade Muzema, na a presença de cães farejadores, inclusive.
Quem se presta ao papel de ser infor- Zona Oeste. O Cidade Integrada foi lan- Uma verdadeira barbaridade com a popu-
mante da polícia não é, nem de longe, çado pelo Governo do Estado, tendo como lação. Os moradores chegaram a realizar
alguém progressista. É um contrarrevo- um de seus principais objetivos “acabar uma manifestação em denúncia das inva-
lucionário, um reacionário e até mesmo com a exploração de serviços públicos sões e contra a ocupação.
um fascista. Tal é a atividade — essa sim, ou concessionados por parte da crimina- Além disso, o projeto agora prevê a re-
criminosa, não do ponto de vista moral e lidade”, nas palavras do governador Cláu- moção de pelo menos 800 famílias que
burguês, mas sim do ponto de vista políti- dio Castro. Por esses serviços, entende-se moram às margens dos rios Jacaré e Sal-
co e do povo — desses elementos que hoje principalmente os de TV a cabo e de gás. gado, por conta das obras de saneamento.
se fingem de esquerdistas. Além disso, o projeto prevê obras de sa- O número de 800 famílias é somente uma
neamento e para resolver os problemas estimativa e a ideia de reassentamento dos
de abastecimento de água, assim como desalojados está longe de ser uma reali-
de revitalização, limpeza do Rio Jacaré, dade, pois não está incluído no orçamento
urbanização, asfaltamento e outras. Ba- das intervenções.
sicamente uma UPP 2.0.
As antigas UPPs (Unidade de Polícia
O Cidade Integrada é mais uma tenta-
tiva de controlar a população pobre atra-
Pacificadora), na época, foram até apoia-
das pela esquerda, com destaque para
vés do terror da polícia. A premissa de
“livrar” os moradores do jugo do tráfico
Marcelo Freixo (PSB), que realizou uma e da milícia é uma farsa utilizada para
esquerda nacionalista e a luta contra o campanha ativa. O projeto de “ocupar” as reprimir o povo. Em 2018, a intervenção
imperialismo. favelas com cultura, educação, lazer e mais federal foi uma operação gigantesca que
Juliano e seu partido agora deram para um monte de coisa, no final das contas, só abriu espaço para o crescimento da mi-
atacar Lula e o PT por sua aliança com conseguiu ocupar mesmo no sentido da se- lícia em regiões estratégicas. Ainda não
Alckmin. Uma acusação como esta vin- gurança pública. Segurança essa que nós podemos prever todos os resultados des-
do de um partido como o PCO, que não conhecemos muito bem. É a Polícia Militar sa nova empreitada. Mas por se tratar de
mantém relações com nenhum elemento chegar atirando nas favelas e fincar sua um projeto iniciado em pleno ano elei-
da burguesia é compreensível e até mesmo bandeira e ter um espacinho pra chamar toral, podemos já colocar em alto grau
esperada, mas vinda do PSOL que implo- de seu e tentar controlar a região. É uma de suspeita.
rava meses atrás para que o PSDB partici- tentativa do Estado de retomar o contro- Por hora, nossa tarefa é mobilizar para
passe das manifestações, que trabalha com le de regiões dominadas pelas facções do que a Polícia Militar saia imediatamente
Daiello, Jungmann e Etchegoyen, é de uma tráfico. O Cidade Integrada tem como meta da favela do Jacarezinho e devolva a paz
hipocrisia muito grande.Vale lembrar que ocupar sempre uma favela dominada pelo aos moradores. Essa ocupação das favelas
mesmo com críticas o PCO apoiará Lula tráfico e outra pela milícia. é uma iniciativa do governador fascista e
se o mesmo escolher o tucano de vice, mas A favela do Jacarezinho foi escolhida deve ser amplamente denunciada pela po-
o PSOL, com Alckmin ou sem ainda não como a primeira a receber o “experimento” pulação em geral e principalmente pelos
declarou apoio a Lula, logo eles que falam justamente por conta da chacina realizada moradores. Fora a polícia do Jacarezinho!
sempre em união. no ano passado: “Depois do que aconteceu Pelo fim da PM e pelo direito de autodefe-
Fica evidente de diversas maneiras que tinha que ter uma intervenção ali, a gen- sa da população!
o partido da esquerda pequeno-burguesa,
assim como durante o impeachment de Dil-
ma, quer do PT não a aliança, mas somente
o eleitorado. Em São Paulo, Boulos ainda
mantém sua candidatura para governador,
mesmo tendo a oportunidade de mostrar
a aliança da esquerda que tanto comemo-
rar e apoiar Haddad, atualmente primeiro
colocado nas pesquisas. Nacionalmente o Acompanhe a situação
PSOL falou em Federação Partidária com
todos os partidos menos o PT. Aposto meus política passo a passo no
milhões desviados no Fundo Eleitoral do
PCO que se indagado sobre a razão de não
jornal diário do PCO
falarem em federação com o PT vão cul-
par o “hegemonismo do PT”. Para o PSOL
No ar desde 2003
é assim, o partido maior (PT), tem que
deixar os partidos menores (PSOL, PSB,
Rede, PCdoB, PCB, PDT etc.) liderarem,
caso contrário é “hegemonismo”!
Diário Causa Operária
O resultado de toda essa gritaria contra
o PCO não poderia ser diferente: os que
acusam o PCO de lunatismo e profetizam
seu fim, estão lutando pela existência atra- causaoperaria.org.br
vés de fusões com outros partidos, vendo
um cada vez mais personagens notórias
saírem do partido, enquanto o PCO cresce
e se consolida.

Uma armadilha para o PT e para toda a esquerda
A
o mesmo tempo em que anun-
ciavam a decisão de pedir,
junto ao Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), a ampliação
do prazo para a formação da federação
partidária, as direções do PT, PSB, PCdoB
e PV, divulgaram no último dia 26, que
teriam chegado a um acordo para um
"casamento" que, conforme estabelece
a reacionária legislação partidária apro-
vada pelo Congresso golpista, terá que
durar pelo menos quatro anos. Através
dessa federação se dará a intervenção
nas atuais eleições e no conjunto da ati-
vidade parlamentar, centro da atividade
política da maioria dessas agremiações.
Pelo que foi divulgado pelos partidos,
a federação ainda não tem nome e seria
dirigida por um órgão no qual a represen-
tação de cada partido atende à proporção
de deputados federais que cada partido
possui. Assim, segundo informou o sítio
do seu sítio, "o PT, maior partido entre
os 4, terá maioria na assembleia-geral,
órgão que comandará o grupo, ficando
com 27 das 50 cadeiras, enquanto o PSB
ocupará 15 postos e PCdoB e PV, 4 cada
um" (27/1/22).
Segundo informou o Vermelho, portal
vinculado ao PCdoB, "para garantir que
os partidos pequenos sejam ouvidos, deve
ser instituída uma regra em que toda
decisão precisará de um quórum mínimo
de dois terços de votantes".
Aqui fica evidente o gigantesco golpe
aplicado contra o PT. A maioria parla-
mentar que o partido detém, nem de
longe reflete o gigantismo organizativo
e social do PT. A representação parla-
mentar é uma forma muito distorcida da
representação social. O PT, por exem-
plo, tem em seus quadros a esmagadora
Uma derrota do imperialismo a ser consolidada
E
m um estádio lotado, com cerca 30
mil ativistas da esquerda hondure-
nha gritando seguidas vezes "o povo
unido, jamais será vencido", tomou posse
a presidenta Xiomara Castro, de 62 anos,
que será a primeira mulher a governar o
país da América Central, que ano passa-
do completou 200 anos de sua existência
enquanto nação independente e que tem
quase 10 milhões de habitantes.
A posse se dá em meio a uma gigantesca
crise econômica, impulsionada por quase 13
anos de governos golpistas, apoiados pelo
imperialismo norte-americano. E levou o
país a ter 70% de sua população em situa-
ção de pobreza, enquanto a dívida externa
do País crescia mais de 700%. O golpe em
Rachada, mas não morta
A
pouco mais de oito meses para as
eleições presidenciais, as fraturas
expostas da chamada“terceira via”
revelam uma importante divisão no interior
da burguesia. O setor da direita tradicional
e umbilicalmente ligado ao imperialismo
mostra que tem grande dificuldade para
definir uma candidatura capaz de derro-
tar Lula e o PT sem precisar recorrer a
Bolsonaro novamente.
Uma matéria do portal UOL (da Folha
de S. Paulo), revela que o Podemos encon-
tra-se em processo de desmanche após a
candidatura do ex-juiz Sergio Moro não
decolar, com quadros do partido abando-
nando-o pelo PSDB e pelo Republicanos.
Os tucanos, em especial o governador de
São Paulo, João Doria (PSDB), filiou o ex-
-presidente do Podemos do Paraná, César
maioria dos dirigentes das maiores e
mais importantes organizações dos ex-
plorados brasileiros com atividade real,
como é o caso da CUT (Central Única
dos Trabalhadores) - uma das maiores
centrais sindicais do Mundo -; da Cen-
tral de Movimentos Populares (CMP),
do Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra (MST) etc. enquanto os demais,
quando muito, têm uma presença em
aparatos burocráticos, sem poder de
mobilização real.
Em recente pesquisa encomendada e
divulgada pela burguesia, por meio do
Datafolha, o partido de Lula "é o prefe-
rido de 28% dos entrevistados. Em um
muito distante segundo lugar, aparecem
empatados PSDB e MDB, ambos com
2% cada um. Empatados tecnicamente
com eles, PDT e PSOL têm cada um 1%"
(Folha de S. Paulo, 30/12/21). Nenhum dos
partidos que, juntos, terão quase 50%
do comando da federação que vai ditar
os rumos do próprio PT aparecem aí; e
nenhum tem em seus quadros uma lide-
rança política nacional.
Bom lembrar que mesmo as banca-
das conquistadas pelos parceiros do PT
foram, em quase 100% dos casos, resul-
tados de caronas que seus candidatos
pegaram no prestígio político de Lula e
do PT. Assim, a aliança que é uma ques-
tão de sobrevivência para essas legendas
foi transformada em uma "sociedade"
na qual o PT entra com um gigantesco
capital político e os demais entram para
comandar o "negócio" do qual deveriam
ser sócios ultra minoritários.
A antidemocrática cláusula do "quó-
rum mínimo de dois terços" representa
ainda a possibilidade de setores da di-
reita do PT participarem de um conluio
2009 se consolidou com a deposição do
ex-presidente Manuel Zelaya, marido de
Xiomara Castro.
A posse se deu também diante das cres-
centes pressões golpistas (leia na pág. B1)
que levaram a direita a rachar o Parlamen-
to, com apoio de traidores (acertadamente,
expulsos) do partido de Castro, Partido Li-
berdade e Refundação, o Libre, e elegendo
um presidente paralelo, uma espécie de
Juan Guaidó hondurenho.
Estiveram presentes o rei da Espanha,
Felipe VI, das vice-presidentas dos Estados
Unidos, Kamala Harris, da Argentina, Cris-
tina Fernández de Kirchner; e de Cuba, Sal-
vador Valdés Mesa entre outros convidados,
como os ex-presidentes do Brasil, Dilma
Silvestri Filho, ao PSDB no último dia 20.
"O PSDB está muito orgulhoso de ter
agora em suas fileiras este jovem político.
Quero não só cumprimentar o César, mas
dizer a ele que essa casa tucana o recebe
de braços abertos", declarou Doria na oca-
sião (“Desempenho de Moro em pesquisas
ameaça causar debandada no Podemos”,
Lucas Valença, 26/1/2022). Em resposta à
ofensiva tucana, o ex-juiz golpista rechaçou
a possiblidade de unir-se a Doria: “Não faz
sentido eu desistir em prol de alguém que
tem 1%, 2%, 3%”,(“Doria age em territó-
rio de Moro e filia líder do Podemos”, R7,
Christina Lemos, 20/1/2022).
Diante da crise que sua baixa aprovação
provocou no Podemos, o próprio Moro aven-
ta mudar-se para o União Brasil, oriundo
da fusão entre DEM e PSL, o que não rece-
e, havendo o poder de veto as posições
representativas de uma imensa gama de
ativistas de esquerda, estão ameaçadas
por um punhado de carreiristas políti-
cos que nada tem a ver com a luta dos
trabalhadores e da esquerda.
Estabelecido o que os dirigentes con-
sideraram fundamental, nova reunião foi
anunciada a fim de iniciar as discussões
sobre a “carta programática” da Fede-
ração que, para ser efetivada, precisa
ser aprovada pelo TSE e homologada
nas instâncias deliberativas dos quatro
partidos.
Se o que já foi acordado no terreno
organizativo tem um caráter reacionário,
imagine o que virá no terreno político de
partidos como o PSB e PV que estiveram
entre os protagonistas do golpe de Esta-
do, votando pela derrubada da presidenta
Dilma Rousseff (PT), em 2016.
Mostrando seu papel de verdadeiros
abutres, nenhum desses partidos aprovou
o apoio a Lula. Pelo contrário, defende-
ram a construção de uma frente ampla
com a direita golpista (com PSDB, DEM,
MBL etc.) contra Lula e o PT. Diante do
fracasso dessa política e do gigantesco
apoio popular a Lula como candidato,
tais partidos se lançaram a fazer chanta-
gens e absurdas exigências para "apoiar"
Lula (quando são eles que precisam de
apoio). Algumas delas estão se realizan-
do em negociações que não são públicas
nem mesmo para a militância do PT.
Segundo divulgou o jornalista Luís
Costa Pinto, do Conselho Editorial do
Brasil 247, estaria "em esboço, a integra-
ção do PSD de Gilberto Kassab", supos-
tamente com o intuito de permitir a Lula
"vencer no 1º turno a disputa presidencial
e sentar na cadeira presidencial o mais
Rousseff, e do Paraguai, Fernando Lugo;
evidenciando a tentativa do novo governo
de buscar um entendimento com distintos
setores, reunindo golpistas e golpeados.
Em seu primeiro discurso como presi-
denta empossada, Xiomara Castro falou
em construir “um estado socialista e de-
mocrático”, de "restaurar o sistema econô-
mico baseado na transparência, eficiência,
produção e justiça social na distribuição
da riqueza e da renda nacional". Eviden-
ciando a radicalização política de setores
da burguesia nacionalista daquele pobre
e pequeno país, diante da fúria golpista e
destruidora do imperialismo norte-america-
no que organizou o golpe contra o governo
Zelaya e impôs ao país 12 anos de ditadura.
beu grandes críticas da presidente da sigla
e deputada federal por São Paulo, Renata
Abreu: "Se todo mundo chegar à conclusão
de que é o melhor caminho Moro ir para
o União Brasil, será bom para todos os la-
dos”(idem), disse a parlamentar.
Alçado há poucos meses atrás como um
nome capaz de superar Bolsonaro, Moro
não deslanchou como previsto, mesmo após
a intensa campanha feita pela imprensa
burguesa. Por outro lado, Doria também
enfrenta dificuldade para firmar-se como o
candidato da burguesia, tendo pela frente
agora o ensaio com a senadora sul-mato-
-grossense Simone Tebet (MDB-MS).
Em coluna publicada no Estado de S.
Paulo, William Waack defende o que cha-
mou de “‘absoluta novidade’ eleitoral” para
romper o “‘ferrolho’ bolsonarista-lulista”
31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022 A3
rápido possível".
O PT e Lula estão confrontados com
novas exigências, como o apoio ao can-
didato do PSD ao governo de MG, o
reacionário prefeito Alexandre Kalil.
Kalil apoiou Bolsonaro, com declara-
ções como: "Claro que eu vou (apoiar
Bolsonaro). Eu vou onde tem dinheiro.
Quem abraça pobre fica por baixo. O
dinheiro está lá, vou apoiar quem estiver
naquela cadeira" (O Estado de Minas,
10/12/2018). Os liderados por Kassab ain-
da querem apoio para cargos majoritá-
rios (governador, vice ou senador) em SP,
BA e AM - dentre outros - e contam com
o apoio da Federação bancada pelo PT,
para uma possível reeleição do senador
Rodrigo Pacheco (MG) para a presidência
do Congresso, além ministérios em um
possível governo Lula. Afinal, Kassab
esteve nos governos de Dilma, Temer,
Doria (em SP), Bolsonaro… então, não
pode ficar de fora.
Tudo isso, longe de serem alavancas
para a chegada de Lula ao governo são
pesos mortos que vão sendo impostos e
que estão na contramão da necessidade
real de mobilização de massas, dos ex-
plorados e de suas organizações de luta
contra a direita golpista e seus aliados
(inclusive de dentro da esquerda).
É a luta política das massas, e não
esses miseráveis acordos contra o PT,
contra Lula, contra a esquerda e a luta
dos trabalhadores, que pode assegurar
uma derrota da direita e a vitória dos
trabalhadores na luta contra a burguesia
golpista que tem muitas faces e vários
matizes, mas que mira apenas os seus
próprios interesses, irreconciliáveis com
os dos trabalhadores, ainda mais na atual
etapa de crise histórica do capitalismo.
Contra a direita, o pretendido entendi-
mento com o imperialismo e seus repre-
sentantes na burguesia hondurenha, que
apoiou a ditadura que antecedeu seu go-
verno, é inviável.
A saída é a mobilização das massas ope-
rárias e populares, profundamente revol-
tadas com o regime entreguista derrotado
nas eleições. Esse é o caminho, juntamente
com a organização independente da bur-
guesia, para, unidos com os demais setores
explorados e duramente perseguidos pelo
imperialismo, como os povos da Venezue-
la, Cuba e Nicarágua, abrir caminho para
uma etapa de evolução política e social do
povo hondurenho e de todo o continente
latino americano.
(“Romper o ferrolho”, 27/1/2022). Essa novi-
dade, para Waack, seria a emedebista do MS
com vinte anos de carreira.“De vice ideal”,
conclui Waack, “Simone está passando à
condição de última esperança.”
O tom apocalíptico não é mero recurso li-
terário. Embora a crise da burguesia se arras-
te desde o golpe de 16, ela não deve durar para
sempre, tampouco deve-se considerá-la uma
classe morta enquanto não for expropriada.
Em último caso, até mesmo um regime
de força mais escancarado pode estar sendo
articulado. Aos trabalhadores e os setores
oprimidos da sociedade,“esperança” de ver-
dade, só com uma mobilização aguerrida,
organizada e de massas, para lutar pela
candidatura de Lula e por um governo dos
trabalhadores. O que só poderá ser impos-
to e pelo medo.
todo sábado, 16h
A4 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022

Candidatura de Lula não está apoiada “Empurrar à esquerda?”

em um acordo com a burguesia

Matéria publicada
no sítio do PCB procu-
ra questionar (na verda-
de, se opor), à política de
pressionar governos, or-
É preciso uma ampla mobilização popular para efetivamente derrotar a direita ganizações reformistas à
esquerda.
Para tanto cita dois
Recentemente o ex-pre- exemplos que refletiriam
sidente Lula deu uma entre- essa política e teriam
vista a órgãos da imprensa dado errado, terminan-
independente. O conteúdo do em desastre. O primei-
desta entrevista será o ponto ro exemplo foi o PCB em
de análise aqui. De início, o relação a João Goulart
que mais chama a atenção 1964, a eleição de Allen-
é que a candidatura de Lula de e a situação entre 1970
não é uma candidatura vol- e 1973 no Chile.
tada a garantir um acordo Primeiro, esses não
com o mercado financeiro e são exemplos de “em-
os grandes capitalistas, para purrar governo à esquer-
conseguir governar como da”, não corresponde à
aconteceu em 2002 (isso já se realidade dos fatos. No
apresentava na eleição com caso do Brasil, o PCB,
a Carta aos Brasileiros, José em 1964, empurrou o
Google
formista para avançar
para posições revolu-
cionárias.
Essa política Trótski
sintetiza no livro “Pro-
grama de Transição”.
Então, a exigência, a
pressão para que esses
partidos evoluam à es-
querda não é equivocada,
é a ideia mestra da Revo-
lução Russa de 1917.
Pressionar os par-
tidos que predominam
na classe operária, que
não são revolucionários,
à esquerda é o que em-
purra as massas traba-
lhadoras para posições
revolucionárias. É tam-
bém uma política para
se aproximar e não se
afastar das massas, se
colocando numa oposi-

Alencar como vice, equipe
econômica neoliberal e etc.).
Os especuladores ficavam
com a economia e o PT com
uma pequena parte, havia
o esquema de distribuição
de ministérios e estatais, de
modo que mal poderia se di-
zer que era efetivamente um
governo do PT, já que peda-
ços do aparato estatal foram
partilhados.
Na entrevista, a primeira
coisa que se vê é que esse
acordo não é a base da cam-
panha eleitoral. Lula não se
apresenta como o candidato
que vai entregar o País nas
mãos do mercado financeiro.
Ao contrário.
Sinais disso foram da-
dos com a declaração da
presidenta do PT, Gleisi
Hoffmann, afirmando que o
PT não vai se submeter ao
“mimimi” do mercado. Hou-
ve também o programa eco-
nômico assinado por Guido
Mantega e publicado na Fo-
lha de S. Paulo uma política
com uma política modera-
damente nacoinalista, sen-
do ele mesmo considerado
progressista etc.
Lula voltou a falar sobre
a reforma trabalhista, o que
é uma coisa que ao invés de
propiciar um entendimen-
to, gera um conflito com o
chamado “mercado”. Outras
declarações também foram
muito claras no sentido de
que pretende botar um freio
na interferência dos EUA no
Brasil, principalmente refe-
rente à soberania nacional.
Tudo isso é de, modo geral,
uma evolução do PT à es-
querda, mais ainda do que
os últimos governos, que fo-
ram considerados os mais
esquerdistas.
Um homem de
acordos, mas…
Como é de hábito, Lula
procura evitar declarações
bombásticas e fala dando a
entender que é uma pessoa
que busca o acordo. Questio-
nado sobre os EUA, o ex- re-
sidente disse que eles “pen-
sam ser os donos do mundo”,
“querem mandar em tudo”.
Depois, avisou que terá uma
relação séria com o gover-
Lula expôs uma política que está à esquerda da que foi colocada em prática quando governou
no americano, algo um tan-
to óbvio, afinal é inevitável
ter algum tipo de relação.
Do ponto de vista da retó-
rica, Lula dá uma no cravo,
outra na ferradura, no en-
tanto, o que mais importa foi
dado no cravo, não na fer-
radura. As declarações são
efetivamente uma defesa da
independência nacional e de
atendimento de reivindica-
ções dos trabalhadores. Esse
seria o primeiro resumo da
entrevista.
Quanto ao programa, é
lógico que o do PT é extre-
mamente moderado, daí a
importância da posição da
esquerda e das massas. Se
o PT chegar ao governo com
propostas moderadas, mas
mais à esquerda do que teve
anteriormente, a ação pró-
pria da esquerda e do movi-
mento operário pode levar
a situação mais à esquerda.
Com a burguesia, nada
A entrevista mostra tam-
bém qual a grande divergên-
cia do PCO com o PT e a can-
didatura petista.
Lula defendeu novamen-
te a possibilidade de aliança
com Alckmin e com o PSD
do Kassab. Alguns conside-
ram uma guinada à direita, o
PCO não vê assim. Ele procu-
ra viabilizar um governo re-
formista com base nas coor-
denadas que a política atual
apresenta.
Uma questão chave para
um governo que quer fazer
mudanças importantes no
País, é que um acordo com
a burguesia não viabiliza
mudanças, sendo antes um
bloqueio a elas. É um acordo
para não fazer nada, ou para
ser rompido caso algo sério
comece a ser feito.
A saída para resolver o
problema da maioria no Con-
gresso, é o ponto para discu-
tir a fala do Lula, é governar
com as ruas. O problema do
Congresso é real e a maio-
ria dos esquerdistas peque-
no-burgueses não fala porque
tentam manter uma postura
radical, mas ao chegar lá, fa-
zem igualzinho ao PT.
A experiência de subser-
viência ao imperialismo, des-
ses que agora surgem como
“nova esquerda”, foi mui-
to maior do que a dos mo-
vimentos nacionalistas da
América Latina, entre eles
o PT. O Chile é a oportuni-
dade de ver isso acontecer. O
governo de Boric está sendo
formado e moldado pela ve-
lha política chilena.
Nossas diferenças
O PCO, ao contrário do
PT e da “nova esquerda”, en-
tende que para mudar o País
é preciso que as amplas mas-
sas nacionais pressionem as
instituições, crie um movi-
mento amplo, profundo que
coloque o problema de que
a não aprovação de uma de-
terminada política progres-
sista no Congresso, vai le-
var a uma radicalização cada
vez maior desse movimento.
Essa seria a maneira tanto de
viabilizar as questões essen-
ciais que estão colocadas nas
eleições, como efetivamente
empurrar o governo do PT à
esquerda.
Para o PCO essa é a única
política realista. É evidente
que para votar alguma coisa
no Congresso, o governo de-
veria procurar composições
pontuais com os partidos dis-
postos a apoiar a proposta,
mas não acreditar que seria
uma base estável para um
governo de esquerda. Um go-
verno de esquerda deveria
governar com as ruas, com
a mobilização operária e po-
pular, com os sindicatos.
Essa mobilização deveria
começar agora nas eleições.
O PT aprovou uma proposta
muito positiva de criar cinco
mil comitês eleitorais e acha-
mos que não deve ser apenas
eleitoral, mas de luta, antes,
durante e depois das eleições.
Essa é a perspectiva verda-
deiramente realista, a organi-
zação de uma luta muito séria
contra a burguesia golpista,
para conseguir qualquer re-
sultado político do ponto de
vista das amplas massas, do
povo, sobre as questões na-
cionais e sociais.
Não há como satisfazer
os interesses do povo sem
contrariar os interesses dos
grandes capitalistas e do im-
perialismo. São interesses in-
conciliáveis. E essa é a prin-
cipal divergência com o que
o Lula falou.
Eleição não está ganha
Muita gente no PT acha
que a eleição está ganha. O
PCO é um inimigo encarni-
çado dessa ideia. Essa se-
mana a Globo demonstrou
o porque ao lançar série so-
bre o caso Celso Daniel, a
suspeita de assassinato do
prefeito petista de Santo
André por alguém do pró-
prio PT vai ser o começo da
campanha contra Lula e o
PT neste ano eleitoral. O Es-
tado de S. Paulo publicou
editorial falando que Lula
tem popularidade porque
esqueceram o que ele fez,
o que levou o jornal a fazer
um roteiro próprio de cam-
panha eleitoral com os “cri-
mes” de Lula e o PT, como
o Mensalão, Petrolão, evoca
a Lava Jato, a suposta des-
truição da economia nacio-
nal pelo partido... A tradi-
cional e sórdida campanha
da burguesia, com ataques
caluniosos e criminosos que
alguns acreditavam estar
extinta, está desde já anun-
ciada nas páginas dos prin-
cipais órgãos da imprensa
burguesa.
Na eleição vamos assistir
de novo na imprensa e no
judiciário, a peça do impe-
rialismo dos grandes escân-
dalos de corrupção no Brasil.
E mais coisa vai aparecer,
é importante salientar, que
muitos dos que vão partici-
par dessa farsa foram absol-
vidos pela direita do PT, a
direita “civilizada” que vem
com tudo contra o PT e Lula.
Vamos ver se dessa vez os
integrantes do PT se colocam
à altura do desafio. Da últi-
ma vez tinha mais gente em
casa do que lutando contra
o golpe.
governo à direita. Não
teve uma política de en-
frentar o golpe, mobilizar
os trabalhadores. Presi-
dente do partido à época,
Carlos Prestes chegou a
dizer que se a ala golpis-
ta das FFAA levantasse
a cabeça, a ala legalista
a cortaria. Ou seja, não
tinha como empurrar à
esquerda, pois tinha as
piores ilusões direitistas.
No Chile, Allende
estava dominado pe-
las mesmas ilusões que
Prestes, pois o golpe foi
dado pela ala legalista
das FFAA, Pinochet.
A política revolu-
cionária é resultado da
análise da experiência
positiva ou negativa do
movimento operário. Nos
casos citados não corres-
pondem ao problema co-
locado. Já a Revolução
Russa - que é a maior
experiência positiva do
movimento operário até
hoje - sendo uma lição
de política para todos os
partidos revolucionários,
é onde se deve buscar a
orientação.
E a orientação do
Partido Bolchevique,
no momento em que a
esquerda Social-Demo-
crata Menchevique e o
Partido Socialista Re-
volucionário formam
um governo com a bur-
guesia, foi materializa-
da na palavra de ordem
de “Todo poder aos so-
vietes”. A explicação de
Lênin era a busca de um
acordo para a evolução
pacífica da revolução;
não eram os bolchevi-
ques que deviam tomar o
poder através dos sovie-
tes, na medida em que
eram minoria ali, mas
os partidos da esquer-
da reformista, pequeno
burguesa, que deveriam
tomar o poder e realizar
um determinado progra-
ma político, como aca-
bar com a guerra e fazer
a reforma agrária.
Ou seja, a política que
leva à tomada do poder
foi a de empurrar, pres-
sionar a esquerda re-
ção imaginária aos re-
formistas.
Essa é a política para
o Brasil de hoje, numa
situação muito peculiar,
pós golpe de Estado, com
um governo improvisa-
do, em crise e diante do
crescimento da candida-
tura Lula, algo oposto do
que pretendiam.
Nesse sentido, a elei-
ção de Lula seria a vitó-
ria legal e pacífica sobre
o golpe. Sem isso a luta
vai ter que se desenvol-
ver por outras vias. Seria
a melhor oportunidade
para os trabalhadores.
Partidos de esquer-
da não veem isso e que-
rem lançar candidato
próprio, mas o proble-
ma político do momento
é como fazer a situação
toda evoluir à esquerda.
O apoio à candidatura
de Lula é a chance de
fazer isso.
Tem que ser dito que
esse apelo às organiza-
ções deve ser através
das amplas massas. A
política é endereçada
às amplas massas que se
relacionam com os par-
tidos reformistas, é para
mobilizar e avançar.
O PCO considera
que o movimento ope-
rário tem que apoiar a
candidatura Lula, mas
deve discutir os rumos,
as ações de um governo
do ex-presidente e um
programa para a atual
situação. Um programa
próprio, não um progra-
ma de governo como o
PT elabora, geralmen-
te. A preocupação não é
com a administração do
Estado capitalista, mas
de atendimento das rei-
vindicações fundamen-
tais das massas.
Por isso a realiza-
ção de um Congresso
da CUT para aprovar o
apoio à candidatura de
Lula e aprovar um pro-
grama diante da situação
que os trabalhadores es-
tão vivendo é fundamen-
tal. O que também deve
se dar no mov. estudantil
e outros setores.

Ideólogo da extrema-
direita ganhou projeção
na campanha golpista
Olavo de Carvalho que morreu
recentemente ganhou projeção e
se tornou uma espécie de lideran-
ça e ideólogo da extrema-direita
em função da carga ideológica da
campanha que a burguesia e a im-
prensa fizeram contra o PT que foi
muito forte e permitiu o surgimen-
to de tendências que não estavam
propriamente sob controle da bur-
guesia, e ele apareceu sendo por-
ta-voz de uma tendência mais coe-
rente de extrema-esquerda. Porque
o que a foi explorado não foi só um
inconformismo, mas uma revolta
contra ela mesma, é a nova política
apresentada por Bolsonaro. Uma
revolta contra o sistema político de
conjunto cujo os principais parti-
dos são os burgueses.
A esquerda também abre
espaço para ideologias
de extrema-direita
Como tendência ideológica o
olavismo não tem consistência e
não deve sobreviver à morte do
fundador. Porém, dado o nível de
polarização política e crise, vai
ser substituído por uma nova ex-
pressão, dessa tendência, que tem
adeptos dentro da sociedade. Pes-
soas insatisfeitas com os aconteci-
mentos e que não tem uma posição
revolucionária, mas reacionária.
Em algum momento vão elaborar
uma doutrina para atender essa
demanda que existe na sociedade
e na medida em que a esquerda
tem um posição muito ruim está
fácil fazer isso, tanto que até já
estão se apresentando como de-
fensores da liberdade, o que é uma
coisa muito contraditória.
Ao lado do Estado,
contra o cidadão
Robinho foi acusado de estu-
pro e condenado em última ins-
tancia na Itália. Quando o caso
começou já havíamos dito que
a esquerda não deve embarcar
no clima de linchamento, que é
uma coisa direitista. Agora isso
se vê com parlamentar do PSOL
exigindo que a lei seja cumprida
com todo rigor. É mais uma fa-
ceta da nova esquerda, que não
luta contra o Estado na defesa
do cidadão, luta ao lado do Es-
tado contra o cidadão. É uma es-
querda que para levar adiante a
emancipação da humanidade se
apoia sobre o aparato repressivo
do Estado capitalista. Essa posi-
ção não é de esquerda, pode ser
adotada por setores da esquerda
mas não é de esquerda.
A esquerda não pode
compactuar com um
ataque à Constituição
A esquerda desde as suas ori-
gens, não só o marxismo, mas o
anarquismo e outros, sempre foi
contrária ao esmagamento do in-
divíduo pelo Estado, independen-
temente de qual seja a situação.
Esse posionamento é reacionário,
de direita, e até de extrema-direita,
muito tradicional no Brasil, com
o qual nenhuma esquerda pode
compactuar. Mas o caso Robinho
pode levar a mais uma ação an-
tidemocrática do judiciário bra-
sileiro que seria a extradição de
um brasileiro nato, o que é proi-
bido pela Constituição. Indepen-
dentemente dos acontecimentos,
a esquerda não pode ficar a favor
de uma violação da legislação, da
constituição brasileira.
O caminho da
derrota da luta dos
trabalhadores
Há um esforço de setores da
esquerda, fundamentalmente o
PSOL, de vender como nova es-
querda uma esquerda que não é
mais combativa etc. que a esquer-
da tradicional, na verdade é mais
alinhada com o imperialismo. O
esforço se dá de maneira despoli-
tizada, impede debates, críticas. O
caso do Boric demonstra que é uma
tentativa de ocultar a realidade,
e qualquer crítica contra pessoas
que se tem simpatia torna você um
criminoso. A experiência chilena
está mostrando o que é a nova es-
querda. Para o Brasil, a pior coisa
seria alimentar a ilusão em parti-
dos de esquerda que na realidade
representam um caminho de der-
rotas para o movimento de massas.
 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022 A5

Não é o povo, são os governos preocupar com a lotação

dos transportes públicos,
expondo o caráter mera-
mente demagógico da po-

direitistas os responsáveis lítica chamada “sanitária”

O Brasil vem se apresen-
tando ao mundo como um
dos países que apresenta as
maiores taxas de infecção
pela variante omicron da
covid-19. Não se sabe exa-
tamente, mas é provável
que estejamos entrando - o
Brasil e o mundo - em uma
nova onda de infecção pelo
coronavírus e suas diversas
variantes.
Esta condição deixa o
País em situação similar à
vivenciada quando da insta-
lação da crise maior da pan-
demia, ocorrida há cerca de
dois anos atrás, quando uma
verdadeira hecatombe so-
cial se apoderou do Brasil.
Uma guerra contra
o próprio povo
Os números falam por si
só e são por demais preo-
cupantes. Os casos confir-
mados (sempre lembrar da
enorme subnotificação) já
superaram a marca estra-
tosférica dos 25 milhões de
positivos, com mais de 625
mil mortos. São números
de guerra para um País que
não está em guerra, a não
ser a guerra que os gover-
nantes, a direita e os gol-
pistas travam contra o seu
próprio povo.
Neste cenário catastrófi-
co, milhares de mortes po-
deriam ter sido evitadas
através da ação simples e
de cuidados e medidas sa-
nitárias preventivas básicas
por parte do poder público,
que simplesmente não exis-
te no País, ou na melhor das
hipóteses existe em estado
vegetativo, pois não é nem
mesmo capaz de oferecer o
mínimo em termos de assis-
tência à população carente
e desassistida.
Em falê, o sistema públi-
co de saúde em muitos esta-
dos (incluindo o DF) já não
consegue atender as de-
mandas por internação que
Direita, bolsonarista ou “científica”, é a culpada pelo genocídio
chegam às unidades hospi-
talares. São quilométricas
as filas que se formam nas
unidades de saúde em bus-
ca de testes para confirma-
ção ou não de casos. Muitos
voltam para casa sem se-
rem atendidos, pois a exem-
plo do que ocorreu quando
do início da pandemia, não
há testes suficientes para o
atendimento da população.
O abandono da população
à própria sorte é a marca
da maioria dos governos,
que não desejam investir
recursos para a realização
de testes e outros procedi-
mentos necessários ao con-
trole da pandemia.
A vacina, que desembar-
cou no País há cerca de um
ano, vem sendo explorada,
demagogicamente, como
obra e ação de governos
direitistas (Doria e outros).
No entanto, é notório que a
vacinação somente se tor-
nou uma realidade e avan-
çou no País em função da
mobilização social, em pri-
meiro lugar da luta popular
e não por obra e graça de
qualquer governo, seja de
que esfera for. Vale desta-
car que o próprio governo
federal - que faz campanha
aberta contra a vacinação
- foi obrigado a ceder em
função justamente do cla-
mor popular em defesa da
vacina.
No entanto, o que se vê
nesse momento é uma in-
tensa campanha direitista
que busca responsabilizar
a população - especialmen-
te os que ainda não se va-
cinaram, seja lá por quais
razões, não importa - pela
situação de calamidade em
que o País se encontra em
função do vertiginoso cres-
cimento dos novos casos de
infecção e também do nú-
mero de mortos, que voltou
a subir depois de um perío-
do de relativa estabilidade.
A conduta sem
princípios da esquerda
Neste cenário de ata-
ques aos direitos da po-
pulação, especialmente
das camadas mais vulne-
ráveis, por parte da bur-
guesia direitista, chama a
atenção a postura assumida
pela maioria da esquerda
nacional, de abandono da
defesa de uma política de
princípios em prol de um
apoio inconsequente às opi-
niões que estão na moda
(leia-se: aos interesses do
grande capital). Essa ten-
dência se manifestou em di-
versos campos da sua atua-
ção, mas onde esse debate
tomou a sua maior pro-
porção foi nitidamente na
questão da vacinação con-
tra a Covid-19, onde desde
o surgimento das primeiras
vacinas, uma enorme som-
bra de desconfiança se pro-
jetou sobre os imunizantes,
ou mais especificamente,
sobre as corporações que
os desenvolveram.
Claro que essa descren-
ça por parte da população
não surgiu do nada, mas
sim tem origem na expe-
riência da sociedade com
essas corporações, que his-
toricamente são recordis-
tas em crimes contra a hu-
manidade e se sustentam
sobre a base da exploração
dos problemas de saúde da
população, problemas es-
ses que são frequentemen-
te causados pelo grande
capital, senão pelas pró-
prias empresas do ramo
farmacêutico.
Outro fator que conta
para as reservas da popu-
lação com relação às va-
cinas contra a Covid-19 é
a gestão catastrófica da
pandemia que a popula-
ção vem há muito teste-
munhando, onde os go-
vernos e organizações de
saúde que hoje endossam
e promovem a utilização
desses imunizantes não ti-
nham a mais remota ideia
de como lidar com a doen-
ça, apresentando informa-
ções desencontradas e me-
didas impraticáveis para o
tal “combate à pandemia”.
Isso sem contar as inú-
meras inconsistências na
política de saúde, que en-
quanto procurava proibir
a realização de atividades
públicas e políticas em lo-
cais abertos para “conter o
vírus”, aparentava não se
ou “científica”.
Motivos não faltam para
o cidadão comum ter ao
menos um pé atrás com a
vacinação, mas apesar de
a insatisfação popular ser
até mesmo justificada, se-
tores da classe média, prin-
cipalmente de esquerda, se
colocaram à tarefa de obri-
gar a população a abaixar
a cabeça e aceitar cega-
mente as arbitrariedades
dos governos burgueses e
das grandes corporações,
representadas nas organi-
zações de saúde, como é o
caso da OMS.
A cruzada autoritária
da pequena burguesia se
deu, e ainda se dá, através
de campanhas de assédio
moral disseminadas na
grande imprensa, taxan-
do de “negacionista” quem
não quer confiar nos crimi-
nosos da indústria farma-
cêutica, e da exigência de
que o estado burguês use
do seu poder para coagir
o cidadão a fazer algo que
não deseja com a própria
saúde. Não temos dúvi-
da de que se as condições
fossem favoráveis, a classe
média estaria pedindo ao
estado para invadir a casa
das pessoas e vaciná-las à
força, violando direitos in-
dividuais elementares.
É importante deixar
claro, antes que a esquer-
da limpinha venha nos ta-
char de “negacionistas” por
não negar a realidade, que
deve se exigir dos governos,
planos ágeis e eficientes de
imunização. Mas isso, ob-
viamente, respeitando os
direitos dos indivíduos,
ou seja, respeitando a op-
ção de cada um de confiar
ou não nas soluções apre-
sentadas e não através da
imposição, da coação di-
tatorial, que é a marca da
campanha que a burguesia
leva adiante na tentativa de
responsabilizar a popula-
ção pobre e explorada pela
situação de tragédia social
vivenciada pelo País neste
momento.

DCM age como fascista ao chamar a polícia para o PCO
Sempre com base em fatos, de-
vidamente comprovados, vimos
denunciando o papel ultrarreacio-
nário que cumprem certos setores
da esquerda diante de uma situa-
ção política cada vez mais polari-
zada, por conta do avanço da crise
histórica do capitalismo, por um
lado. E, principalmente, por outro
lado, por conta da reação de seto-
res da classe trabalhadora, da sua
parcela mais avançada, organiza-
da em setores da esquerda e nas
organizações de luta dos traba-
lhadores que se opõem à política
do imperialismo de matar milhões
para fazer valer – pela força – os
interesses de um reduzido grupo
de imperialistas, cujas fortunas
cresceram sideralmente durante
a atual pandemia.
Nas últimas semanas, um caso
exemplar da adaptação de setores
que se reivindicam de esquerda à
política da direita, do imperialis-
mo, foi exposto ao desmascara-
mos a campanha de calúnias feita
por pseudojornalistas do Diário
do Centro do Mundo (DCM) que,
sob o comando de seu editor, Kiko
Nogueira, vem fazendo campanha
para que a Polícia e outros órgãos
do aparato repressivo do Estado
venham para cima do Partido da
Causa Operária (PCO), reconheci-
do por toda a vanguarda do mo-
vimento operário como “o partido
da luta contra o golpe”, o “partido
da luta pela liberdade de Lula”, o
“partido do fora Bolsonaro” etc.
Depois de expressar notória
contrariedade com as denúncias
– sempre baseadas em fatos públi-
cos e reconhecidos em boa medida
pelos citados – de que Guilherme
Boulos está vinculado há anos a
posições golpistas e pró-imperia-
listas (como a campanha “Não vai
ter Copa”) e recebe o apoio político
e financeiro de grupos e elemen-
tos direitistas como a Folha de S.
Paulo e o IREE, o DCM passou a
requentar calúnias contra o PCO
feitas por elementos desqualifica-
dos, sem qualquer compromisso
com a luta dos trabalhadores, e
Kiko Nogueira chegou a sugerir
entre outros que “a polícia, o Mi-
nistério Público, vai pra cima dessa
turma aí“, numa clara torcida para
que isso aconteça.
Não há qualquer originalidade
na postura desses delatores. De
certa forma, ainda que de forma
caricata repetem os métodos da
criminosa operação Lava Jato, na
qual por meio de uma intensa cam-
panha baseada em uma verdadeira
campanha publicitária do Partido
da Imprensa Golpista (PIG) e em
“delações premiadas”de elementos
desclassificados, a direita conde-
nou e prendeu ilegalmente dirigen-
tes da esquerda, destacadamente
o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, a fim de garantir o golpe,
principalmente, mantendo Lula na
cadeia e – desta forma – garantin-
do a fraude nas eleições de 2018.
Kiko Nogueira e seu DCM, re-
petem assim o que fez Renato Ro-
vai (Fórum), que ao acusar o PCO
de roubar celular falou que “tem
que botar a polícia pra cima deles“.
Já no ano passado, quando mi-
litantes do PCO, do PT e outros se
levantaram contra a presença dos
infiltrados do PSDB, MBL etc. nos
atos convocados pela esquerda,
setores da esquerda defensores da
frente ampla com a direita golpista
– como, uma vez mais, Guilherme
Boulos – procuraram atacar o PCO
e até mesmo chegaram ao absurdo
de acusar o Partido de roubar celu-
lares e espancar mulheres idosas e
mais uma vez clamaram “tem que
botar a polícia pra cima deles”.
Muito antes de ser o alvo desses
golpes sujos, foi assinalado, diante
dos primeiros ataques contra os
dirigentes do PT, José Dirceu e De-
lúbio Soares, que a direita contava
com o apoio de setores da esquer-
da lavajatista e “chave de cadeia”.
Essa posição reacionária nada tem
a ver com a tradição política da es-
querda socialista ou mesmo refor-
mista, que nunca chamou histori-
camente as forças de repressão do
Estado contra a própria esquerda.
É exatamente isso que faz o DCM,
o que evidencia que, de fato, seus
“jornalistas” nada têm a ver com
a esquerda, com a defesa dos in-
teresses de classe dos explorados
e de suas organizações contra os
exploradores e seu Estado.
O que temos aqui é o uso de um
método fascista, dos inimigos da
organização da classe operária,
com o que esses senhores não são,
nem de longe, de esquerda.

TSE censura e quer bloquear o Telegram nas eleições
Em entrevista ao jornal reacio-
nário O Estado de S. Paulo, o dire-
tor de Políticas Públicas do What-
sApp no Brasil, Dario Durigan,
revelou que o aplicativo irá forta-
lecer as relações em uma parceria
com o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) para as eleições de 2022.
Será aprimorada uma ferra-
menta criada em parceria com o
TSE supostamente para comba-
ter a disseminação em massa de
“fake news”.
“O WhatsApp fez, em 2020, e vai
aprimorar em 2022, uma plataforma
de denúncia de conta suspeita de
disparo em massa. É uma ferramen-
ta do TSE elaborada em parceria
com o WhatsApp”, disse Durigan.
Como se vê, o monopólio da tec-
nologia, pertencente ao Facebook
de Mark Zuckerberg, denunciado
inúmeras vezes por distribuir in-
formações confidenciais de seus
usuários para a CIA e o governo
norte-americano, se coaduna com
o TSE para interferir nas eleições
brasileiras.
O impedimento da dissemina-
ção de mensagens em massa é uma
forma de censura. Os principais
candidatos da burguesia, cheios de
dinheiro para comprar espaço nos
jornais, revistas, outdoors e pan-
fletos, bem como obter o privilégio
de ter grande espaço em rádio e
TV, que fazem campanha eleitoral
para os candidatos da burguesia
muitos meses antes da campanha
eleitoral autorizada pelo TSE, não
precisam tanto do WhatsApp.
Já os candidatos que não são
beneficiados pelo seletivo TSE,
como os de partidos da esquerda
como PCO, PCB, PSTU, UP, ou ou-
tros, não têm acesso aos grandes
meios de comunicação em massa.
Então, as mensagens por What-
sApp e pelas redes sociais mais
democráticas do que a impren-
sa tradicional, pois pode estar na
mão de qualquer pessoa com um
smartphone seriam uma alter-
nativa contra esse sistema antide-
mocrático e monopolizado pelas
grandes redes como no caso da
TV, controlada por seis famílias
em todo o País que contam com a
concessão pública do serviço. No
entanto, para garantir o controle
dos partidos burgueses, o TSE bus-
ca censurar o máximo possível as
redes sociais e o WhatsApp com
a conivência dessa companhia.
Ao mesmo tempo em que faz
acordos com o WhatsApp para
promover o aplicativo como “se-
guro” e controlar as mensagens
enviadas pelos cidadãos, o TSE im-
plementa um cerco ao Telegram
aplicativo de mensagens de ori-
gem russa , ameaçando, inclusive,
bloquear a ferramenta no Brasil
durante as eleições. Uma censura
clara e assustadora.
O TSE demonstra, também, a
submissão do Judiciário e do sis-
tema eleitoral brasileiro aos gran-
des monopólios imperialistas e ao
Estado norte-americano, sendo o
WhatsApp e o Facebook estrei-
tamente ligados aos serviços de
inteligência dos EUA.
A6 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022

Censura “democrática” é censura tor da esquerda, que está dei-

xando de defender direitos
democráticos básicos – como
a liberdade de expressão ir-
restrita – a pretexto de com-
Combate às “fake news” deixará a internet mais tóxica e menos democrática bater o bolsonarismo e a ex-
trema-direita.
No fundo, Orlando Silva
O deputado federal, Or- e toda a esquerda que em-
lando Silva (PCdoB-SP), barcou nessa política sem
publicou uma coluna no sí- princípios são inimigos das
tio Vermelho, defendendo o liberdades democráticas. No
projeto de lei 2.630/20, que próprio artigo do deputado
dispõe sobre a Liberdade, do PCdoB, após tentar ex-
Responsabilidade e Trans- plicar que sua defesa da lei
parência na Internet ou sim- de censura na verdade não
plesmente a chamada Lei de era uma defesa da censura,
combate às“Fake News”. In- acaba entregando sua real
titulado “Internet menos tó- concepção: “nenhum direito
xica e mais democrática”, o é absoluto — os mais anti-
artigo de Orlando Silva faz gos diriam: a liberdade de
todo um malabarismo retó- um termina quando começa
rico para defender, na práti- a do outro.”
ca, a prática da censura na Revela-se assim a filoso-
internet. Para o parlamen- fia reacionária que sustenta
tar, é preciso conter a ação essa política. Se um direito
do que ele chama “grupos não é “absoluto” ele não é
organizados que manipu- efetivamente um direito.
lam a opinião pública, com A afirmação de que a
objetivos políticos e econô- liberdade termina quando
micos”. começa a do outro é uma
Orlando Silva reconhece falácia. A liberdade indivi-
que as redes sociais são um dual só pode ser concebida
espaço de livre expressão e plenamente, a liberdade do
de exercício de direitos indi- outro só pode existir na me-
viduais, esses grupos - que dida em que exista a minha
não são especificados exa- liberdade individual.
tamente quais - devem ter Por fim, Orlando Silva
Fernando Frazão/Agência Brasil

esses direitos limitados. ainda afirma que o foco da

“Estamos nos referindo a lei são os agentes públicos,
organizações estruturadas e o que não muda essencial-
financiadas para produzir e mente nada. O segredo aqui
disseminar mentiras, desin- não é regular a expressão
formação, discurso de ódio e Censura logo se estenderá a toda a sociedade dos agentes e órgãos públi-
até conteúdos que atentam cos, mas garantir que todos
contra a saúde pública e as derado “discurso de ódio”? Por um exemplo práti- atentado, inclusive “discur- A resposta é positiva os cidadãos tenham o pleno
instituições democráticas Quem define quais conteú- co: um grupo de esquerda so de ódio”. E mais ainda, se nesses dois casos inclusive direito de se expressar.
do Estado.” dos atentam contra a saúde criticar duramente o STF esse atentado e esse discur- porque quem vai julgar será Uma vez que a censu-
A ideia de que haverá e as instituições? – “instituição democrática” so partirem de uma organi- o próprio STF, ou, se quiser- ra foi aprovada, seja para
uma limitação da ação des- Em última instância, está segundo Orlando Silva e a zação de esquerda, um par- mos generalizar, o Judiciá- quem for, fatalmente ela se
ses grupos é meramente ilu- claro que a resposta a todas burguesia – por ter manda- tido ou movimento social, rio golpista. A esquerda cai estenderá a todos. E uma
sória. Na prática, uma vez essas perguntas são arbitrá- do prender Lula deveria ser essa organização poderia numa armadilha que está vez estabelecida, a mordaça
aprovada, o que a lei fará é rias, mas é ainda mais certo considerado um atentado ser considerada um grupo sendo plantada contra ela tornará “fake news” tudo o
incrementar a censura. Afi- que quem vai definir tudo contra as instituições demo- organizado que“manipula a própria. que a burguesia quiser que
nal, cabem algumas pergun- isso será o Estado capita- cráticas? E defender uma opinião pública, com objeti- Este é um resultado con- seja. Com a preciosa ajuda
tas: quem são essas organi- lista, através de seus ins- reforma constitucional que vos políticos e econômicos”? creto de uma política despro- de quem não mediu esforços
zações? Quem vai definir o trumentos. Ou seja, as ins- traga a extinção do STF? Só quem não conhece a his- vida de princípios e oportu- e tampouco demonstrou es-
que é mentira e desinforma- tituições estatais dominadas Logicamente tudo isso tória brasileira pode achar nista, como a implementada crúpulos para se promover
ção? O que pode ser consi- pelos capitalistas e a direita. pode ser considerado um que não. pelo PCdoB e de todo um se- eleitoralmente.

Quem de fato apoia Lula? ca, a desculpa apresentada era o

problema do “programa político”,
iniciou a campanha de roubar vo-
tos de Fernando Haddad, candida-
oprimidos que se encontram cada
vez mais radicalizados na popu-
argumento levantado sobretudo to do PT no principal estado do lação. E esta força real, é a única
Há cerca de um ano e meio que campanha “Fora Bolsonaro, Lula pelo PSOL. O tempo passou, Lula país. Além disso, em todo o País capaz de acuar o imperialismo,
o Partido da Causa Operária par- Presidente”, a única saída viável desponta cada vez mais nas pes- o PSOL organiza alianças com o derrotar toda a destruição promo-
ticipou de um debate na TV 247, aos trabalhadores na luta contra quisas eleitorais, sendo hoje colo- PDT, partido do golpe e que faz vida pelos golpistas, revertendo os
envolvendo os principais partidos o golpe. Explicando a importân- cado como favorito absoluto para dura campanha anti-Lula. ataques sofridos pela população,
da esquerda brasileira. Estavam cia de defender, desde aquele mo- ganhar as eleições. Dentro da esquerda pequeno- reconquistando direitos perdidos
presentes os presidentes do PCO, mento, a candidatura de Lula em Ainda assim, mesmo sendo o -burguesa, há uma divisão clara e ampliando-os.
PT, PCdoB e PSOL, discutindo os meio à campanha contra o golpe, favorito disparado em todas as em torno do problema Lula. Há os O apoio à candidatura do ex-
principais temas do momento, à o presidente do PCO propôs uma pesquisas, o petista conta apenas que se juntaram completamente -presidente é um apoio à mobili-
época: pandemia, crise econômi- unidade geral de todos que lutam com o apoio do Partido da Causa à campanha anti-Lula, seja alian- zação contra o golpe e contra o
ca, Fora Bolsonaro e também, uma contra os ataques da direita por Operária. Um caso muito atípico do-se a partidos como o PDT seja imperialismo. E isto deveria ser
solução à crise gerada pelo golpe Lula presidente, o que se deve a mas que elucida o fato desta não criando uma suposta “ala esquer- uma política comum a toda a es-
de Estado que fosse vantajosa à motivos hoje muito claros: Lula é ser uma mera eleição. da” contra Lula, como também há querda.
classe trabalhadora. o candidato capaz de mobilizar os As desculpas evoluíram e ra- o setor da esquerda pequeno-bur- É preciso denunciar a “esquer-
Na ocasião, o presidente nacio- trabalhadores e por isso, o único pidamente revelaram-se em ma- guesa que vem se movimentando da” anti-Lula, que vem boicotan-
nal do PCO, Rui Costa Pimenta, capaz de derrotar o golpe. nobras políticas não apenas para com claras intenções de assegurar do a candidatura cada vez mais,
anunciou oficialmente que o Par- Contudo, nenhum partido - ex- não apoiar Lula, mas boicotar sua cargos em um eventual governo. em uma campanha ligada aos in-
tido iria colocar sua militância nas ceto o próprio PT - manifestou- candidatura. É o que faz hoje o Com Lula, mobiliza-se a clas- teresses do regime golpista e do
ruas, trabalhando dese então na -se em favor da proposta. Na épo- PSOL com Guilherme Boulos, que se trabalhadora, todos os setores imperialismo.

Um Boric pra chamar de nosso de Relações Exteriores, Antonia que, acima de qualquer coisa, está ba raivosa quem por ventura fizer
Urrejola, completamente alinha- diretamente ligada ao imperialis- críticas a aliados dessa esquerda
da com a política exterior dos Es- mo e à sua política para a Améri- domesticada.
A campanha de Gabriel Bo- O melhor – talvez o mais cô- tados Unidos em relação aos ata- ca Latina. Exemplo claro disso é o que
ric, presidente recém empossado mico – é que Juliano vai além e ques contra a Nicarágua, Cuba, A missão da esquerda frente ocorreu com Boulos. Por meio do
do Chile, animou de sobremanei- reforça sua posição em resposta Venezuela etc. a acontecimentos de qualquer ta- Diário Causa Operária, o PCO ex-
ra a esquerda pequeno-burgue- à outro tweet: Antes de qualquer coisa, deve manho deve ser a de elucidar a pôs de maneira factual as relações
sa brasileira. Diversas figuras da "Ué, você gosta de neoliberalis- ficar claro que a quantidade de discussão, desmascarando aque- de Boulos com o imperialismo nor-
política nacional comemoraram mo? Não fica feliz de ver um gover- mulheres nos ministérios não re- les que querem infiltrar-se no mo- te-americano, por meio do IREE e
a vitória do direitista, chegando no sem neoliberais? Que estranho presenta, por si só, absolutamente vimento dos trabalhadores para da think-tank Global Americans. A
com ela à conclusão de que uma esse tipo de pessoa de esquerda nenhum avanço na luta dos traba- favorecer os inimigos mortais da resposta de parte da esquerda? Es-
reversão na conjuntura de forças que parte pro ataque quando vê lhadores quando as mesmas for- classe operária. corraçar ou ignorar, sem qualquer
contra o imperialismo se desen- um governo sem neoliberais…" mam um governo que serve aos Na contramão disso, existe uma tipo de discussão política, nossas
volvia na América Latina. Um de- Sabemos, porém, que o psolista interesses do imperialismo, poden- campanha propositalmente orien- polêmicas.
les é o presidente do PSOL, Julia- está completamente enganado. So- do inclusive ser um disfarce para tada pela despolitização da esquer- A experiência no Chile é extre-
no Medeiros. mente a indicação de Mario Mar- esse fim, o que geralmente é. A da nacional, algo que fica evidente mamente valiosa para a luta contra
Em sua conta no Twitter, o di- cel para o Ministério da Fazenda política imperialista é o verdadei- pela“denúncia”de Emir Sader, que, o imperialismo ao redor do mundo.
rigente comentou a nova compo- já coloca em xeque qualquer tipo ro problema. de forma pouco original, caracte- Se queremos ter uma compreensão
sição ministerial de Boric. Àque- de máscara sob a política neolibe- Além disso, vemos no Brasil rizou o PCO como uma seita por política real, é preciso ver se as
les que não acompanharam, Boric ral no Chile. Isso porque Marcel é uma dedicação muito grande por denunciar o direitismo de Boric, opiniões, os preconceitos, as teo-
anunciou que seus ministérios se- presidente do Banco Central des- parte de um setor da esquerda afirmando que não podemos nos rias são ou não confirmadas pelos
riam compostos por maioria fe- de 2016, ou seja, desde o governo brasileira, notadamente o PSOL, colocar por não possuirmos vo- fatos materiais. E, no caso de Bo-
minina, algo que, prontamente, Piñera. É a própria encarnação em defender a política de Boric, tos nas eleições. Um argumento ric, vemos exatamente o contrário.
emocionou identitários em todo do neoliberalismo chileno. desde a campanha até sua atual extremamente reacionário, por si. Apesar de qualquer comentário
o mundo. Todavia, não se trata de mais composição governamental, ape- Diferente do que fazemos com exaltado, como o de Juliano Me-
"Gabriel Boric acaba de anun- um erro ignorante de Juliano Me- sar de todos os sinais vermelhos Lula, discutindo os motivos pelos deiros, Boric tem ligações claras
ciar seu ministério no Chile. Uma deiros. É antes um equívoco deli- de sua política neoliberal e - con- quais achamos que ele deve ser com o imperialismo e exatamen-
médica sanitarista no Ministério berado, que visa esconder o ca- sequentemente - alinhada com o apoiado nas eleições deste ano, te por isso, defende uma política
do Interior e Segurança Pública. ráter direitista de Boric. Além de imperialismo. não apenas pelo PT mas por todas neoliberal. Nesse sentido, deve ser
Uma socialista no Ministério da Marcel, a composição ministerial A eleição de Boric não repre- as forças progressistas do País, es- denunciado por todos que tenham
Defesa. Uma comunista na Secre- é inteiramente direitista. senta uma revolução dentro da ses setores da esquerda apresen- um posicionamento sério no cam-
taria Geral do Governo. Um socia- A maioria das pessoas são li- esquerda, sequer representa uma tam Boric quase como um milagre, po progressista das ideias. Caso
lista no Ministério da Economia. gadas ao Partido Socialista do renovação séria. Trata-se, isto sim, sem entrar na discussão política de contrário, fica claro que tais es-
Nenhum neoliberal", publicou Me- Chile, partido abertamente neo- de uma tentativa de vender como absolutamente nada. Ao mesmo querdistas não passam de diletan-
deiros. liberal. Sem contar na Ministra progressista uma nova esquerda tempo, torna-se alvo de uma tur- tes e oportunistas.
 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022 A7

ECONOMIA POLÍTICA

Arrecadação acompanha inflação se trabalhadora e transferi-

-lo à burguesia é uma ideia
simpática. Contudo, fazê-lo

e acentua expropriação do povo desconsiderando o fato de

que a questão tributária está
intimamente ligada à luta de
classes, é um equívoco que
pode tornar o remédio um
Burguesia comanda um cerco que rouba a população por todos os lados veneno.
Sendo a classe detento-
ra dos meios de produção
A Receita Federal (RFB) e exercendo sua ditadura
anunciou no último dia 25 sobre o Estado, a burgue-
que a arrecadação do go- sia não teria dificuldade em
verno federal, em 2021, foi a encontrar meios criativos
maior desde 1995, atingindo para transferir, dentro ou
R$1,878 trilhão. O resultado fora da lei, o peso dos tri-
representa uma expressiva butos à classe trabalhadora.
alta de 26,97% em relação De modo que, por exemplo,
a 2020, quando os impostos mesmo aprovando-se um tri-
renderam ao governo fede- buto análogo ao IPVA po-
ral R$1,479 trilhão. Descon- rém incidente sobre meios
tada a inflação oficial, me- de transporte aéreos, item de
dida pelo Índice Nacional consumo exclusivo dos seto-
de Preços ao Consumidor res mais ricos da sociedade,
Amplo (IPCA) em 10,06% no um empresário poderia sem
ano passado, a arrecadação grandes dificuldades adqui-
do governo federal continua rir um jatinho por meio de
registrando crescimento de sua empresa e repassar o
espantosos 17%. custo da tributação do bem
De acordo com o “Impos- aos preços praticados pela
tômetro”, medidor de impos- companhia, o que terminaria
tos pagos, organizado pela levando o peso do tributo à
patronal Associação Comer- classe que hoje paga tarifa
cial de São Paulo, o total de de transporte público com
tributos pagos no País - so- muita dificuldade.
mando municípios, estados,
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Distrito Federal e União - Governo dos

superou a marca de R$2,59 trabalhadores
trilhões em 2021. O valor é
próximo aos mais de R$2,4 Isto é apenas um exem-
trilhões previstos para se- plo do muito que a burguesia
rem legalmente destinados Rapina tributária foi a maior desde 1995 poderia fazer para livrar-se
aos banqueiros, através das dos impostos e jogá-los para
operações de pagamento de de 2012 a outubro de 2021, tander”, Anaïs Fernandes, “Nós temos dois tipos “Como todo mundo paga a classe trabalhadora. É pre-
juros e amortizações da dí- desvalorizou os salários em 18/10/2021). de contribuinte, o de direi- [um imposto] igual como ciso que as organizações de
vida pública, um mecanismo 78,15% (INPC-IBGE), de ma- to, aquele elencado pela lei consumidor final, não existe vanguarda do movimento
criminoso de transferência neira que apenas para man- Auxiliado pela inflação – indústrias, comércio, pres- distinção daquilo que você operário impulsionem uma
de renda de todo o País aos ter o poder de compra igual tação de serviços – e o con- paga, sendo você mais pobre campanha por mudanças
setores mais poderosos da ao de 2012, a renda média Em coletiva de imprensa tribuinte de fato, o consumi- ou mais rico.” concretas. Por exemplo, a
burguesia. deveria ser de R$4.389,76. virtual realizada no último dor final, aquele que paga “Com isso”, acrescenta, extinção dos impostos sobre
A massa salarial - a soma dia 25, o secretário especial o produto ou o serviço com “aqueles com menor poder consumo e sobre salários,
Cercados e mais pobres dos salários recebidos pela da Receita Federal, Julio Ce- todos os tributos embuti- aquisitivo acabam pagando estabelecendo um imposto
classe trabalhadora brasi- sar Vieira Gomes, apresen- dos”, destacou o presidente proporcionalmente mais. E que atue verdadeiramente na
Por outro lado, a Pesqui- leira - atingiu 225 bilhões tou o aumento da arrecada- executivo do IBPT (Instituto acontece aí um fenômeno renda, isto é, na multiplica-
sa Nacional por Amostra de de reais, sem “variações es- ção em 2021 como "muito Brasileiro de Planejamento até estranho, que deveria ser ção do capital.
Domicílio (Pnad Contínua), tatisticamente significati- expressivo, considerando e Tributação), João Eloi Ole- ao contrário: uma distribui- Dado que o controle dos
realizada pelo Instituto Bra- vas”, conforme análise do que ainda atravessamos nike, em entrevista ao jornal ção de renda às avessas. Ou bancos nas mãos da burgue-
sileiro de Geografia e Esta- IBGE, em comparação com período de pandemia". Na paranense Folha de Londri- seja, tira-se o poder de com- sia sempre será uma arma
tística (IBGE) revelou que os R$225,047 bilhões do va- interpretação de Gomes, os na ("Quase 70% da tributa- pra daqueles mais pobres e para facilitar manobras e
no penúltimo trimestre de lor pago no mesmo perío- dados indicam "que a reto- ção brasileira incide sobre acaba transferindo para os fraudes, uma reforma de
2021 (agosto à outubro), a do de 2020. O valor deve ser mada econômica vai aumen- o consumo", 18/6/2021).“En- mais ricos, que são menos fundo precisa também es-
economia brasileira regis- considerado à luz dos R$293 tar", declaração que combi- tão”, continua Olenike,“se a tributados”, conclui. tatizar e unificar o sistema
trou uma queda de 11,1% bilhões oriundos do cosméti- na otimismo cego e falácia. carga é alta, a carga embu- financeiro nacional em um
na renda média dos traba- co auxílio emergencial.“Sem Com quase 70% da carga tida também é alta, repas- Tributar ricos? único banco, sob controle
lhadores ocupados, levan- isso, haveria queda de 7,9% tributária do País incidindo sando para o preço final dos dos trabalhadores. E para
do o ganho mensal no pe- na massa ampliada”, con- sobre o consumo, a pressão produtos.” A solução para o proble- que tais medidas se concre-
ríodo a R$2.449. Trata-se da forme nota do banco San- inflacionária sobre os preços Finalmente, o entrevis- ma dos tributos defendida tizem, é necessário uma luta
mais baixa desde o primei- tander divulgada pelo jornal termina refletindo-se tam- tado dá uma caracterização por quase todos os esquer- decidida, que garanta um
ro trimestre de 2012, quan- burguês de economia Valor bém na arrecadação. Com mais concreta sobre quem o distas, no Brasil e no exte- governo dos trabalhadores,
do a renda média atingiu Econômico(“Alta da renda os preços maiores, o valor sistema tributário, tal como rior, é a taxação dos ricos. forte o bastante para promo-
R$2.464, com o agravante em 2022 não compensa per- final dos percentuais mor- está estruturado, beneficia Obviamente, tirar o peso do ver a política tributária de
de que a inflação de janeiro das deste ano, projeta San- didos também cresce. e quem é por ele castigado: Estado dos ombros da clas- interesse dos trabalhadores.

Política econômica de assalto leve ao endividamento das famílias

Uma consequência direta do vendo sua condição financeira se cobrado pelas operadoras de car- sas em geral. Assim, fica cada vez 18/01/2022).
difícil ano de 2021 para a classe deteriorar, partem para o crédito tão de crédito está muito distante mais difícil para uma família em A situação das famílias deve
trabalhadora brasileira pode ser como uma forma de manter o pa- dos já absurdos 11,75% da Selic dificuldades financeiras“equilibrar piorar no começo do ano, uma vez
visto nos dados levantados pela drão de consumo existente antes estimados para o ano de 2022. Isso, o orçamento”. que nenhum indicador mostrou
Confederação Nacional do Comér- dos problemas financeiros. Uma combinado com a explosão do cus- É importante salientar que o melhora e no primeiro trimestre
cio de Bens, Serviços e Turismo consequência desse fato, de acordo to de vida e o congelamento dos padrão de endividamento não é ex- existem despesas recorrentes,
(CNC), que mede o endividamen- com a reportagem do Estadão, é salários produz um efeito perverso clusividade de uma classe média, como, por exemplo, material es-
to das famílias brasileiras. A pes- que "a taxa de incremento de fa- sobre a classe trabalhadora. setor da sociedade que geralmente colar e matrícula em instituições
quisa mostra que em dezembro de mílias com dívidas também foi a Um “presente” do governo tem acesso ao cartão de crédito, de ensino. Além disso, é preciso
2021, cerca de 76,3% das famílias maior já observada”. Desta feita, Bolsonaro para os trabalhadores financia carros ou possui conta ressaltar que a política econômica
estavam endividadas, o maior va- da mesma forma que em 2020, o foi a nova alíquota do IOF para bancária com “cheque especial”. levada desde o golpe de 2016 e con-
lor desde 2010, que marca o início cartão de crédito, uma das formas aplicações de crédito para pessoas A corda aperta ainda mais o setor tinuada pelo ilegítimo Bolsonaro
da série histórica. Em setembro mais simples de aquisição de cré- físicas e jurídicas, que passaram da população que se bem escapou é um assalto organizado contra a
de 2021, por exemplo, esse valor dito, é, até o momento, responsável a custar 36% mais em 2021. Além da miséria, sofre bastante também população trabalhadora, que se
era de 74%. A média de famílias pela dívida de 82,6% das famílias disso, o aumento do IOF pode en- com a inflação e com a alta dos ju- dá através de pressões combina-
endividadas em 2021 (70,9%) su- brasileiras. carecer o cheque especial, o car- ros, e tende a ficar em um sufoco das: inflação, juros, desemprego e
pera a de 2020 (66,5%) em 4,4%. É importante dizer que a dívida tão de crédito e o crédito pessoal, ainda maior. Um indicativo dessa congelamento dos salários. A úni-
Das famílias endividadas, 10,5% do cartão de crédito é praticamen- dívidas muito comuns contraídas situação é que, de acordo com a ca forma de deter esse ataque ao
declararam que não têm condi- te uma declaração de inadimplên- pelos trabalhadores. Portanto, a imprensa burguesa, 26% do Auxí- povo brasileiro é através de go-
ções de arcar com as dívidas de cia eterna. De acordo com o site nova alíquota do IOF aliada aos lio Brasil, programa que substitui verno operário, com força política
forma alguma e continuarão endi- ligado ao capital financeiro Poder altíssimos juros pode piorar ainda o Bolsa Família e é destinado para para estatizar e unificar o sistema
vidados indefinidamente (Estadão, 360, em outubro de 2021, a taxa de mais a situação da grande maioria necessidades imediatas, será desti- financeiro num único banco, vol-
18/01/2022). juros cobrada pelos cartões che- das famílias, pois, além de encare- nado para o pagamento de dívidas tado aos interesses dos trabalha-
Nesse contexto, as famílias, gava a 339,5% ao ano. Esse valor cer as dívidas, encarece as despe- (Estadão - Economia & Negócios, dores.

com Antônio Carlos Silva

A8 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022

PARTIDO

Mais uma vez, o pseudojornalismo quem é defensor da política

do “mal menor”. A candida-
tura de Boulos foi gestada

golpista da ‘Folha de S. Paulo’

Boulos é apenas um instrumentista, quem rege a orquestra é o grande capital, que quer
Boulos e o PSOL, uma esquerda inócua, substituindo o PT e toda a esquerda nacionalista
Rui Costa Pimenta
Ah! Quantos homens de
juízo não andarão por aí
declarados doidos somen-
te para que os golpes cer-
teiros de suas palavras ter-
ríveis percam a força, com
que devem ferir e despeda-
çar a imoralidade, os vícios
ignóbeis e até os crimes de
grandes figurões?”
Joaquim Manuel de Macedo
O candidato ao governo
de SP do PSOL, Guilherme
Boulos, numa entrevista ao
portal UOL, ligado à Folha
de S. Paulo, lançou mão de
já gastas calúnias contra o
nosso Partido. Ao ser ques-
tionado, numa pergunta ter-
rivelmente mal combinada
entre Boulos e o entrevis-
tador, sobre as nossas de-
núncias no caso Boulos-I-
REE, o candidato limitou-se
a dizer que somos uma “sei-
ta de malucos” e que o fato
de dar aula num instituto
ao lado de figuras com Raul
Jungmann, Sérgio Etchego-
yen e outros tantos fascistas
é algo normal. Os “jornalis-
tas”naturalmente, nada mais
perguntaram, uma vez que
se tratava apenas de fazer a
pergunta para Boulos espi-
nafrar o PCO, sem explicar
nada. Também não se preo-
cuparam, como bons politi-
queiros fazendo às vezes de
jornalistas, em pedir a ver-
são do PCO sobre o tema.
Apenas publicaram o vídeo
com o título “PCO é uma sei-
ta e fala muitos disparates”.
A tática de desqualificar
o denunciante é a única que
Boulos encontrou para lidar
com as acusações, uma vez
que sequer pode negar o que
denunciamos. Agora vemos
que a Folha de S. Paulo es-
tende uma mão amiga para
o candidato do PSOL atacar
o PCO. Não é de estranhar,
a Folha esteve em todo o pe-
ríodo anterior do golpe de
2016 atacando o governo de
Dilma, insuflando o golpe,
dando voz para as alas direi-
ta e esquerda do golpismo,
mais notadamente, o próprio
Guilherme Boulos.
Os leitores podem ter se
esquecido, mas Boulos foi
colunista no momento que
antecedeu o golpe, depois
foi colunista no período an-
terior à fraude eleitoral de
2018, e voltou a ser colu-
nista logo antes das eleições
de 2020.
Está bem claro que na or-
questra da direita golpista,
o PSOL é um instrumento
importante e a Folha de S.
Paulo foi colocada no papel
de reger esta esquerda.
A entrada em jogo de um
órgão da grande imprensa
golpista, na realidade, só
coloca em evidência a im-
portância da denúncia que
fizemos
O papel de Boulos antes
e durante o governo de Dil-
ma Rousseff foi de um claro
alinhamento com o golpe de
Estado. Ele busca ridiculari-
zar o nosso partido, dizen-
do que o responsabilizamos
pessoalmente pelo desastre
do 7 a 1 e outras coisas que
são apenas uma falsifica-
ção do que dissemos. Nos-
sas acusações políticas são
muito sérias.
O imperialismo norte-a-
mericano e a direita brasilei-
ra decidiram que nada pode-
ria dar certo naquela Copa.
Uma frase nesse sentido,
com exatamente este signi-
ficado, foi dita pelo cientista
Miguel Nicolelis, que emen-
dou atacando diretamente
o movimento “Não vai ter
Copa”, cujo porta-voz era o
mesmo Boulos, dizendo que
tentaram inclusive “melar” a
cerimônia de abertura. Os
pretensos protestos popu-
lares de Boulos, as acusa-
ções de corrupção contra o
PT nas obras dos estádios,
o show de selvageria contra
Dilma na abertura dos jogos
e, sim, o fracasso retumban-
te da seleção estão ligados,
como não estariam?
Boulos não é responsá-
vel pelo golpe de 2016, bem
como não é responsável pela
catástrofe da Copa de 2014.
Não é responsável pois era
apenas um dos instrumen-
tistas de uma grande or-
questra. Quem regeu essa
orquestra foi o grande ca-
pital, que quer Boulos e o
PSOL, uma esquerda inócua
e subserviente ao imperia-
lismo, substituindo o PT e
toda a esquerda nacionalista
brasileira.
Neste momento, Boulos e
o PSOL buscam com todas
as suas energias encontrar
um bom motivo para não
apoiar a candidatura do ex-
-presidente Lula. Se encon-
trarem, irão ajudar a dividir
o voto de Lula nas eleições,
como já fizeram nas últimas
quatro eleições.
Em São Paulo, vemos
Boulos insistir numa ação
divisionista e sem esperan-
ças ao tirar de Haddad 10%
dos votos, o que é uma ati-
tude incompreensível para
nos escritórios de Walfrido
Warde, presidente do IREE,
tendo Boulos inclusive con-
vidado um sócio de Warde,
o advogado Silvio Almeida,
para ser o vice.
O nível da perfídia é ta-
manho que, enquanto dizem
que vão apoiar Lula, fazem
o impossível para arruinar
seu palanque em S. Paulo.
Enquanto Boulos diz que
Alckmin é uma coisa difícil
de engolir, ele está empre-
gado num instituto que tem
Sérgio Etchegoyen na dire-
toria, um general do Exérci-
to que faz Alckmin parecer
um dirigente bolchevique. O
PSOL estaria, também, ten-
tando formar uma federação
partidária, uma fusão tem-
porária, com a Rede Susten-
tabilidade, partido de Mari-
na Silva.
Marina Silva foi apoia-
da pelo capital internacional
em 2014 e tirou de Dilma , no
1º turno, 21,32% dos votos.
Logo em seguida apoiou Aé-
cio Neves, num verdadeiro
estelionato eleitoral. A pró-
pria Marina continua feroz-
mente oposta à candidatura
de Lula.
O candidato do PSOL se
recusa a explicar a sua rela-
ção com o Instituto IREE, se
recusa a explicar a relação
do IREE com o think-tank
imperialista e golpista, Glo-
bal Americans, financiado
pelo NED, criado para fazer
o papel da CIA norte-ame-
ricana no financiamento de
elementos e organizações
golpistas pelo mundo todo.
Também não dá nenhuma
satisfação sobre a sabo-
tagem em São Paulo, bem
como o noivado escandaloso
do PSOL com a Rede. Não
explica nada. Não explica
porque não há explicação. É
tudo tão ruim quanto parece.
A denúncia feita pelo nos-
so partido no Diário Causa
Operária (DCO) abriu uma
ferida na tentativa de atacar
o PT pela esquerda. Agora,
até a Folha de S. Paulo está
sendo escalada para defen-
der Boulos em meio a uma
enxurrada de críticas, não
só do PCO, mas de toda a
esquerda pela atitude clara-
mente maliciosa de Boulos
e o PSOL.

Presidente do PCO tem coluna

semanal no Diário Causa Operária
Rui Costa pimenta, Presidente do
Partido Causa Operária (PCO), estreou
sua nova coluna semanal no Diário Cau-
sa Operária, jornal online do partido
desde 2003 cujo endereço atual www.
causaoperaria.org.br
A coluna de estréia (que pode ser
lida nesta página) denuncia a impren-
sa burguesa golpista que em defesa de
Boulos saiu com mais um ataque ao
PCO.
O Presidente do PCO participa ati-
vamente na edição, direção e execu-
ção do trabalho na imprensa partidária.
Com destaque para esta nova coluna no
DCO e os programas que são os prin-
cipais programas de análise da Cau-
sa Operária TV (COTV) no YouTube, o
mais completo e com maior audiência
da esquerda nacional. O primeiro pro-
grama é a Análise Política da Semana,
ao vivo todos os sábados às 16h, e a
Análise Internacional às sextas-feiras,
também às 16h.
Além desses na COTV, contribui com
Leonardo Attuch no programa Análise
Política na TV 247 todas as terças às 16h,
com transmissão simultânea pela COTV.

Coletivo João Cândido fará conferência em março

O coletivo de negros do PCO, no sá-
bado, 22 de janeiro, em sua reunião se-
manal — todos os sábados às 14 horas
— discutiu a realização da conferência
do coletivo prevista para ocorrer no fi-
nal de março em Salvador.
Os membros do coletivo discutiram
principalmente a importância dessa ati-
vidade, concluindo que não será uma
simples ação do coletivo, mas um impor-
tante acontecimento para o movimento
negro. O coletivo João Cândido lançará
para a conferência um programa revo-
lucionário para a população negra, um
programa com reivindicações para os
problemas reais do povo negro como o
aumento da fome, da violência policial,
do desemprego, da miséria, da perda
dos direitos trabalhistas, da degradação
da qualidade de vida e de tantas outras
mazelas presentes no cotidiano.
Este programa revolucionário será
um verdadeiro combate ao identitarismo,
tema que também foi discutido na reu-
nião. Esse movimento imperialista ignora
completamente os problemas materiais
da população negra e é uma cortina de
fumaça. Enquanto a polícia invade a co-
munidade carioca do Jacarezinho para
massacrar a população, a esquerda co-
memora a quantidade de negros presen-
tes da nova edição do BBB. Ou então,
enquanto a maioria dos moradores de
rua é da população negra, impõem que
o correto é falar pessoa temporariamen-
te desprovida de moradia. As loucuras
identitárias vão disso para pior, e essa
ideologia não só não dá conta de resol-
ver os graves problemas do negro, como
afasta aqueles que estão dispostos a lutar.
 ANO 43 • Nº 1.198 • 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022

Boric anuncia gabinete e dois ministérios secundá-

rios: o do Trabalho e o da
Ciência. Em setembro de

mostra para quem quer governar

2020, o presidenciável do
partido liderava as pesqui-
sas de intenção de voto para
a presidência. Após o golpe
de Boric dentro da frente de
Presidente do BC chefiará Economia e inimigos de Cuba e da Venezuela, as Relações Exteriores esquerda, seu partido se tor-
nou uma força minoritária
A menos de dois meses no governo.
da data de sua posse, mar-
cada para o dia 11 de mar- Referências e
ço, o recém-eleito presiden- admiradores
te chileno, Gabriel Boric,
anunciou a composição de "Valorizo muito a expe-
seu gabinete. Em entrevista riência de Lula, mas tam-
concedida à BBC, logo após bém procuro conhecer a de
o anúncio, declarou: "elites [Fernando Henrique] Car-
não têm que concordar co- doso. Não se pode ter refe-
migo, mas não precisam ter rências estáticas", declarou
medo". Boric em sua entrevista à
BBC. O pretenso sepultador
A direita com as do neoliberalismo no Chile
chaves do cofre buscará referências sobre
como fazê-lo no pai do neo-
A declaração de Boric foi liberalismo do maior País
confirmada com a prática. da América Latina, aquele
O Ministério da Fazenda que melhor conduziu essa
do próximo governo chile- política de terra arrasada
no será entregue a Mario no Brasil e que condenou
JAVIER TORRES / AFP

Marcel, atual presidente dezenas de milhões à fome.

do Banco Central. Marcel
está na diretoria da insti-
tuição desde 2015, quando
foi indicado ao cargo pela
então presidenta, Michelle
Bachelet, e aprovado de for-
ma unânime - isto é, com o
apoio de toda a direita - no
Senado.
Em 2016 assumiu a pre-
sidência do Banco Central
e foi renovado em seu pos-
to pelo presidente chileno
ainda em exercício, o fas-
cista Sebastián Piñera. Su-
postamente no pólo político
oposto ao de Boric, Piñera
manteve o economista no
cargo "em reconhecimento
de suas contribuições valio-
sas na condução da política
monetária e macroeconô-
mica e no desenvolvimento
econômico do País".
Com esse currículo, é
Gabinete de Boric. Novas mãos para o mesmo chicote
compreensível que os espe- vitória da esquerda contra
culadores mundiais "não te- o fascista de José Antonio
nham medo" de Boric. Antes Kast. Mais, uma suposta vi-
de sua passagem pelo Ban- tória contra o neoliberalis-
co Central chileno, Marcel mo que levou à insurreição
havia passado pela Organi- de características pré-revo-
zação para a Cooperação e lucionárias da população
Desenvolvimento Econômi- chilena em 2019.
co, além do Banco Mundial. "Se o Chile foi o auge do
É um funcionário exemplar neoliberalismo na América
do imperialismo. Latina, também será seu ce-
Será a entrega do Minis- mitério", declarou o jovem
tério da Fazenda apenas um presidente ainda durante
sinal conciliatório de Boric? sua campanha eleitoral.
Com essa indicação ao
“Carta aos chilenos”? Ministério da Economia, po-
rém, esse objetivo é pratica-
Para um amplo setor da mente inviabilizado. Ainda
esquerda pequeno-burgue- assim, amplos setores da
sa mundial, a vitória de Bo- esquerda seguem iludidos
ric representou uma grande pela política de Boric. Apre-
sentam o lado positivo de
seu gabinete: 14 mulheres
e 10 homens. Boric foi além
da paridade e indicou mais
ministras do que ministros.
A política identitária foi
o carro chefe da campanha
que levou Boric, um figura
minoritária no movimen-
to de esquerda chileno, à
presidência, com apoio de
setores da direita chilena e
do imperialismo. Agora, em
seu gabinete, é possível ver
os resultados dessa política
em ação. Sua ministra de
Relações Exteriores, Anto-
nia Urrejola, é crítica dos
governos nacionalistas de
esquerda no comando da
Venezuela e da Nicarágua.
"[...] Quando existem ví-
timas, precisamos respei-
tá-las. Sejam elas vítimas
de Ortega, de Maduro ou de
Pinochet", declarou a futura
ministra ao portal UOL, em
entrevista concedida ainda
em 2019. A comparação en-
tre a ditadura militar chi-
lena, que matou dezenas
de milhares e contou com
apoio do imperialismo, e os
governos de Ortega e Madu-
ro, completamente asfixia-
dos por sanções econômi-
cas, não é só absurda como
também criminosa.
O Partido Comunista
chileno, que integra a cha-
pa "plural" de Boric pela
esquerda, recebeu apenas
Num raro momento de
honestidade, Juan Guaido
explicou ao jornal chileno
La Tercera suas semelhan-
ças com Boric: "não só nos
une um elemento geracional,
mas a defesa dos direitos hu-
manos e a luta estudantil".
Mais do que a "história se-
melhante", ambos servem à
política imperialista contra
os interesses populares la-
tino-americanos.
O identitarismo traficou
Boric para dentro da es-
querda. Mais do que isso,
somada à passividade das
lideranças operárias, tor-
nou-o presidente. Seu ga-
binete joga luz nessa infil-
tração: o jovem presidente
da "nova esquerda" não go-
vernará para aqueles que
ocuparam as ruas de San-
tiago em 2019.

Xiomara inicia mandato em meio à crise golpista em Honduras

Quando fechávamos essa edi-
ção, estava se realizando a posse
da presidenta Xiomara Castro, em
Honduras, em meio ao agravamen-
to da crise política naquele País.
O Partido Libertad y Refunda-
ción (Libre), de Castro, expulsou
18 parlamentares da legenda por
quebrarem a disciplina partidá-
ria na eleição para presidente do
Parlamento hondurenho, que aca-
bou dividido, com duas mesas di-
retoras, por conta das articulações
golpistas.
Mesmo com o Libre tendo o
maior número de deputados elei-
tos e, tendo por tradição, direito
de indicar o presidente, a direita
organizou uma eleição paralela,
virtual, para escolher outra mesa,
em um golpe semelhante ao dado
na Venezuela pelo golpista pró-im-
perialista, Guaidó.
Enquanto o Libre a coalizão
que apoiou a eleição da presiden-
te Xiomara, realizou no último dia
26, sessão de posse, apoiada em
uma grande mobilização popu-
lar, na presidência do deputado
Luis Redondo (do partido aliado,
PHS), o bloco direitista, com apoio
de dissidentes do Libre, votaram
no parlamentar também do Libre,
Jorge Cálix, cuja candidatura era
apoiada pelos golpistas reunidos
no Partido Nacional (do atual pre-
sidente, Juan Orlando Hernández)
e o Partido Liberal.
A presidente Xiomara reconhe-
ceu a eleição liderada pelo Libre
e convidou Luis Redondo para a
posse, diante de quem devia pres-
tar o juramento de posse.
A eleição para a mesa diretora
do parlamento hondurenho, ocor-
reu no último dia 21. No mesmo
dia 21, Castro anunciou a decisão
de expulsar os dissidentes, e con-
siderou o ato dos 20 parlamenta-
res um “desafio à autoridade do
partido”, convocando ainda uma
manifestação nas imediações do
Congresso, em Tegucigalpa.
Com a convocação da "vigília”,
cumpriu o chamado da presiden-
ta, dias antes, que conclamou o
ativismo "a evitar o sequestro do
Congresso Nacional e rejeitar o
fato de que o bipartidarismo lide-
rado pelo ditador Juan Orlando
Hernández (presidente de Hondu-
ras) com a cumplicidade direta de
alguns deputados traidores, eleito
pelo povo sob a nossa bandeira".
A intensa crise política que sa-
cudiu Honduras iniciou-se antes
mesmo de Xiomara Castro ser efe-
tivada no cargo de presidenta da
República, conquistado nas elei-
ções de novembro de 2021. Casa-
da com o ex-presidente Manuel
Zelaya, golpeado em 2009, Castro
denunciou a manobra como uma
tentativa do governo Hernández
para manter o controle político do
país, apesar da derrota das forças
golpistas apoiadas pelo imperialis-
mo nas últimas eleições.
Com o imbróglio causado pe-
los dissidentes, a Embaixada dos
Estados Unidos manifestou-se ofi-
cialmente, mantendo sua posição
de intromissão nos assuntos inter-
nos dos países latino-americanos:
"pedimos aos atores políticos
que mantenham a calma, se envol-
vam em diálogo, se abstenham de
violência e retórica provocativa",
disse Ned Price, porta-voz do De-
partamento de Estado dos EUA, a
repórteres em Washington, no últi-
mo dia 24. Em entrevista coletiva
realizada no mesmo dia 24, Luis
Redondo afirmou ter recebido um
“convite” para reunir-se com a re-
presentação norte-americana no
país no mesmo dia 24, sem contu-
do saber qual seria o assunto a ser
discutido pela embaixada.
Mesmo com a posse, fica claro
também que os ritos simbólicos
como as eleições não poderão su-
perar, sozinhas, a grave crise que
assola o país.
Dividido entre os interesses po-
pulares e os interesses imperialistas,
apoiar-se na mobilização popular
aparece como o único meio seguro
de acuar a direita, como tem feito o
partido Libre, a despeito das confu-
sões características do nacionalismo
burguês (das quais a capitulação em
relação à constituinte aparece como
uma das mais destacadas).
A situação de Honduras es-
clarece também quão ilusório é a
expectativa de uma onda esquer-
dista na América Latina, que se
desenvolva com base num acordo
pacífico com o imperialismo. Sem
uma luta decidida, que envolva ca-
madas expressivas da população
pobre e explorada, as manobras e
golpes do imperialismo fatalmen-
te triunfarão, levando a retroces-
sos ainda maiores na região, o que
pode ser feito inclusive por setores
reacionários infiltrados na esquer-
da, como os dissidentes do partido
Libre demonstra haver aos montes.

Assange ganha alívio mas segue preso e sob ameaça de morte
O jornalista, programador e ati-
vista Julian Assange, co-fundador
do sítio WikiLeaks, conquistou um
pequeno alívio na justiça britânica
no último dia, em sua luta para não
morrer em um campo de concen-
tração nos Estados Unidos, onde
acusações fraudulentas e crimi-
nosas, que podem render-lhe 175
anos de cárcere, o aguardam.
A decisão permite à defesa
jurídica do jornalista fazer nova
apelação contra sua extradição
aos EUA à Suprema Corte britâ-
nica, última instância de apelação
no país, adiando com isso a pos-
sibilidade de sua transferência à
América. Em entrevista ao sítio
americano Democracy Now, sua
companheira, Stella Morris, lem-
bra que embora positiva, “a cada
vitória que conquistamos, a situa-
ção de Julian não se altera. E isto
já é uma punição.”(“Julian Assange
Wins Right to Appeal Extradition;
Stella Moris Blasts ‘Politically Mo-
tivated Prosecution’”, 24/1/2022)
“Julian”, continua Stella, ”está
na pior cadeia do Reino Unido, a
prisão de Belmarsh, há mais de
mil dias. Ele está lá apenas a pedi-
do do governo dos EUA, não está
cumprindo nenhuma sentença. E
para todos os dias que passam, sua
vida se deteriora ainda mais”, dis-
se. Os mil dias do encarceramento
de Assange na prisão de seguran-
ça máxima de Belmarsh, em Lon-
dres, foram ultrapassados após o
último dia 5 de janeiro. Segundo o
sítio de dados estatísticos Statis-
ta, o tempo médio de duração dos
períodos sob custódia do Estado
na Inglaterra e País de Gales saiu
de 11,4 meses em 2000 para 18,6
meses em 2021, média inferior a
560 dias, quase metade do período
enjaulado do jornalista.
O estado de saúde do preso po-
lítico é também uma preocupação
constante de sua família: “em ou-
tubro, no primeiro dia do apelo
contra a extradição, ele sofreu um
mini acidente vascular cerebral.
Mini AVCs, como todos sabem,
podem ser precursores de com-
plicações muito piores”, conclui
sua esposa.
Alvo de uma perseguição im-
placável pelo imperialismo, As-
sange tornou públicas informações
recebidas que expõem crimes de
guerra cometidos pelos EUA no
Iraque e no Afeganistão, além de
ter revelado ao mundo que a base
americana de Guantánamo serve
à prática contumaz de tortura e
humilhações criminosas contra
prisioneiros de guerra.
Sobre seu período privado de li-
berdade, Morris lembra que 7 anos
antes de sua detenção oficial, As-
sange já encontrava-se isolado des-
de junho de 2012, refugiado na Em-
baixada do Equador em Londres,
onde buscou asilo para escapar à
extradição à Suécia sob acusação
de crimes sexuais. Difamado e ca-
luniado como estuprador para efei-
tos de propaganda política, uma
vez na embaixada, Assange jamais
conseguiu sair, até ter seu pedido
de asilo cancelado durante o go-
verno golpista de Lenin Moreno.
O sucessor de Rafael Correa
permitiu à polícia britânica entrar
na embaixada e levá-lo à prisão
em abril de 2019. Oito meses após
sua prisão, a acusação de estupro
fora arquivada.
É possível que a morte de
Assange no cárcere, enquanto
aguarda julgamento sobre sua
extradição, esteja nos planos do
imperialismo, que conta com a
conhecida fragilidade da saúde
do jornalista para executá-lo sob
um custo político menor do que
ocorreria se o mesmo morresse
nas infernais cadeias americanas.
Por isso, as organizações de luta
contra o imperialismo e em defe-
sa da liberdade de imprensa de-
vem mobilizar-se pela libertação
imediata de Assange, um preso
político esmagado pelo regime de
opressão por ele denunciado e que
não pode ser tolerado.
B2 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022

Conferência de Mulheres do PCO: as lições da discriminação salarial

contra as mulheres: fun-
ções iguais, salários iguais;

de Rosa Luxemburgo para os dias de hoje Não aos ataques do governo

Bolsonaro; Manutenção e
ampliação das conquistas
trabalhistas das mulheres;
manutenção e ampliação
da licença-gestante para
seis meses; Implantação de
creches públicas em todo o
país, com acesso a todas as
mulheres que delas neces-
Após o golpe de Estado sitarem e locais apropria-
de 2016, onde o governo da dos para a amamentação;
presidenta Dilma Rousseff, Criação de creches nas em-
do Partido dos Trabalhado- presas para as mães traba-
res (PT) foi deposto por lhadoras; Durante o perío-
uma conspiração golpista, do de amamentação, toda
as condições de vida das trabalhadora deve dispor
mulheres brasileiras dete- de, pelo menos, meia hora
rioraram enormemente. a cada três para amamentar;
Nesse contexto, o desem- Redução da jornada para
prego e a violência contra seis horas durante o período
as mulheres se intensifica- de amamentação; Revoga-
ram, atingindo, sobretuso, ção das mudanças na CLT,
o segmento feminino mais a "reforma" trabalhista, que
vunerável, ou seja as mu- abre espaço para o fim de
lhers pobres e negras, víti- várias conquistas históricas
mas também da sobrecarga dos trabalhadores, como fé-
de trabalho, ausência de as- rias, 13º salário, insalubri-
sistência social, educação, dade, licença-maternidade,
saúde e habitação. etc; Durante a pandemia, sa-
Durante a pandemia da lário mínimo garantido pelo
COVID-19, o desemprego Estado para todas as mu-
entre as mulheres foi supe- lheres desempregadas e que
rior ao dos homens, pois são possuem filhos menores de
Reprodução

as que mais atuam em em- idade; Que as mulheres em-

pregos informais no país.
Nessa situação, elas pos-
suem os salários mais bai-
xos e não têm proteção de
leis trabalhistas nem de be-
nefícios. Além do desempre-
go, as mulheres que ainda
possuem trabalho assala-
riado vivem em uma situa-
ção contraditória: ao mesmo
tempo que devem se posi-
cionar contra a volta às au-
las, para que seus filhos não
sejam vítimas da pandemia,
elas não possuem nenhuma
assistência do governo. Pelo
contrário, Bolsonaro vetou o
projeto de lei, PL 2.508, que
prioriza mães que cuidam
sozinhas dos filhos terem
direito a duas cotas do au-
xílio emergencial.
No que diz respeito ao
aborto, as estatísticas co-
locam o Brasil na vanguar-
da do ranking mundial em
número de mortes mater-
nas decorrentes de abor-
tos feitos sem as mínimas
condições clínicas e de hi-
giene. A criminalização do
aborto não impede que cer-
ca de um milhão de abortos
induzidos ocorram todos
os anos no Brasil. O Bra-
sil está entre os 25% dos
países onde a legislação é
mais restritiva em relação
ao aborto. Aqui, nem mes-
mo o democrático direito de
dispor sobre o próprio cor-
po é permitido às mulheres,
ao contrário do que ocorre
com os homens. Ou seja, o
corpo da mulher é estranho
a si própria.
Luta por um governo operário deve ser a principal reivindicação das mulheres
Quase 2 mil mulheres
também morrem por ano
no Brasil por causas rela-
cionadas ou agravadas à
gravidez, parto ou o puer-
pério (período pós-parto de
42 dias). Isso equivale a cin-
co mortes diárias. Duran-
te a pandemia, o Brasil re-
gistrou 77% das mortes de
gestantes e puérperas por
Covid-19 no mundo. Um
estudo publicado no perió-
dico médico International
Journal of Gynecology and
Obstetrics aponta que 124
mulheres gestantes ou que
estavam no período do puer-
pério morreram de Covid-19
no Brasil. Ou seja, morre-
ram mais mulheres grávidas
ou no pós-parto no Brasil
do que em todos os outros
países somados.
Não existe uma preocu-
pação real pela situação crí-
tica vivida pelas mulheres,
particularmente as traba-
lhadoras. O que o Estado
burguês oferece é um pa-
cote de leis puramente de-
magógicas que tem como
objetivo apenas colocar a
população pobre na cadeia,
mas nenhuma proteção real
para as mulheres. Em abril
de 2020, quando o isola-
mento social imposto pela
pandemia do COVID-19 já
durava mais de um mês, a
quantidade de denúncias de
violência contra a mulher
recebidas no canal180 cres-
ceu quase 40% em relação
ao mesmo mês de 2019, ao
mesmo tempo que temos
uma legislação extrema-
mente dura em relação à
violência contra a mulher,
que em tese, promete o fim
das agressões, mas que se
provou uma fraude.
Combater o
identitarismo pró-
imperialista
Com a mesma veemên-
cia é preciso também com-
bater a forma oferecida pelo
imperialismo para a orga-
nização da luta da mulher.
Trata-se do identitarismo,
infiltração presente nas or-
ganizações de esquerda,
seja do movimento femini-
no, seja do movimento po-
pular em seu conjunto. A
ideia central do identitaris-
mo é alçar uma camada ín-
fima de mulheres da classe
média para a ocupação de
cargos e postos no interior
do Estado ou das empresas
capitalistas, no intuito de
mostrar que a ascensão so-
cial da mulher e o seu “em-
poderamento” é factível na
sociedade de classes.
A política identitária,
sustentada por acadêmicos
e parlamentares que nada
têm a ver com a luta da mu-
lher da classe trabalhadora,
e que muitas vezes são di-
retamente ligados ao impe-
rialismo, propõe desvincu-
lar a luta da mulher da luta
de classes, substituindo-a
por uma "luta" de identida-
des. Ora, mas o problema
da mulher é, sobretudo, um
problema de classe: a fome,
o desemprego, a miséria e o
coronavírus são todos cau-
sados pela classe dominan-
te, a burguesia parasitária
inimiga de todo o povo tra-
balhador e é em especial
pela falta de condições fi-
nanceiras que a mulher se
vê obrigada a submeter se a
um parceiro agressor.
Esses são os pontos que
deveriam coordenar de for-
ma fundamental a luta da
mulher, que devem ser deba-
tidos em busca de soluções a
partir de onde se organizará
o combate das mulheres a
todos os ataques que estas
vêm sofrendo por parte do
governo neoliberal não so-
mente de Bolsonaro, mas de
todos os golpistas.
Por estas e por todas
as demais questões é que
o Coletivo de Mulheres
Rosa Luxemburgo está
convocando amplamente
a Conferência Nacional de
Mulheres do PCO, evento
aberto a todos os interes-
sados, militantes, simpati-
zantes do partido e outras
organizações envolvidas na
luta real da Mulher. Esta é a
melhor oportunidade para
discutir o programa de luta
da mulher para este ano.
É preciso que as mulhe-
res compareçam em peso
à Conferência, impulsio-
nando um movimento ge-
ral contra seus algozes e le-
vantando, ao mesmo tempo,
um programa que dê conta
de fazer avançar a luta em
defesa dos seus interesses.
Apresentar e discutir um
verdadeiro programa de
luta, apoiado em uma pla-
taforma de reivindicações
para a mobilização popular
de todas as mulheres, mas-
sacradas e oprimidas pelo
regime burguês. Esse é o
objetivo central desta con-
ferência. No centro desse
programa deve constar a
derrubada imediata do go-
verno Bolsonaro, a luta con-
tra a frente ampla, a chama-
da terceira via (composta
por tradicionais machistas
e golpistas) e a luta por um
governo operário e campo-
nês, capaz de responder às
demandas mais candentes
da luta das mulheres (Lula
presidente).
Uma plataforma de luta
em defesa da mulher
Ao mesmo tempo, as
questões fundamentais pre-
cisam ser resolvidas imedia-
tamente. Pelo fim do desem-
prego; Redução da jornada
de trabalho para 35 horas,
sem redução salarial; Fim
pregadas tenham o direito
ao afastamento com salário
garantido enquanto seus fi-
lhos não puderem retornar
às aulas; Retorno às aulas
só com o fim da pandemia e
com a vacinação em massa
contra a Covid-19; Atendi-
mento dos casos de “abor-
to legal” pela rede pública
de saúde; Legalização do
aborto no país; Pelo direito
de opção da mulher sobre
a conveniência ou não da
gestação; Assistência eco-
nómica e social do Estado
para as mulheres obrigadas
a dar continuidade à gesta-
ção indesejada; Pela estati-
zação do sistema de saúde,
com atendimento gratuito
a toda a população; Pela to-
tal gratuidade de todos os
serviços e produtos que se
relacionem com a materni-
dade; Que o Estado garanta
a segurança das mulheres,
e de seus filhos, vítimas de
agressão domésticas; Se-
gurança financeira, física
e psicológica; Pela amplia-
ção e reforço no atendimen-
to às mulheres em situação
de violência doméstica e fa-
miliar em meio à pandemia;
Por um maior investimen-
to nas casas de proteção às
mulheres vítimas de agres-
são doméstica, para que as
vítimas possam estar afas-
tadas da convivência com
seu agressor.
Maiores detalhes sobre
a conferência, data, local e
outras questões serão divul-
gadas em breve.

Conferência da AJR - Um passo decisivo para a reconstrução do movimento estudantil

O ano de 2022 iniciou e com
ele vem sendo dada continuidade
aos ataques, por parte do regime
golpista, aos direitos e conquis-
tas do povo trabalhador, e nesse
contexto, em especial à juventude
trabalhadora do País. Se nos úl-
timos dois anos a burguesia ten-
tou a todo custo reabrir escolas
e universidades,mesmo finate de
todas as evidências de crescimento
do número de mortos pela pande-
mia, tudo indica que os senhores
do golpe golpe tentarão mais uma
vez colocar em prática a completa
reabertura do ensino, um aceno à
intensificação do genocídio con-
tra a população jovem, em meio a
nova onda da Covid-19.
Em todo este período recente,
a juventude brasileira se viu con-
frontada com enormes e agudos
problemas, que não mereceram,
por parte das direcções represen-
tativas da juventude, a atenção ne-
cessária no sentido de organizar os
jovens de todo o País para enfren-
tar os ataques do regime burguês
golpista, inimigo da juventude e
de todo o povo trabalhador.
Com o advento da pandemia
vieram fatores ainda mais graves.
O vírus se espalhou pelo País, não
encontrando muitos obstáculos
para ceifar vidas, pois encontrou
um ambiente propício à prolifera-
ção, em razão da mais completa
desorganização e sucateamento
dos serviços públicos de saúde. O
morticínio tomou conta do Brasil e
neste contexto escolas e universi-
dades foram fechadas, permitindo
ao governo implementar um pro-
jeto antigo, o Ensino à Distância
(EAD).
A implementação do EAD foi
acachapante, pois milhões de jo-
vens deixaram de ter acesso ao
estudo, mesmo sendo cobrados
e ameaçados, inclusive com ex-
pulsões, devido às péssimas con-
dições de estudo. Sem acesso à
internet, milhões ficaram simples-
mente excluídos das escolas, ao
mesmo tempo que aqueles que
tinham condições de participar
eram obrigados a conviver com
um ensino totalmente improvi-
sado, sem preparo e de péssima
qualidade.
A farsa do EAD foi por muitos
denunciada, no entanto pouco se
fez para combatê-lo. Na realidade,
com exceção da Aliança da Ju-
ventude Revolucionária, coleti-
vo de jovens do PCO, que organi-
zou comitês de luta estudantis em
todo país contra o EAD, promoven-
do inclusive verdadeiras greves
e manifestações, a campanha da
esquerda pequeno-burguesa, em
especial UNE e UBES, comandada
pela UJS, se restringiu a protestos
inócuos. Na verdade, o que houve
foi um apoio ao EAD, com a chan-
cela de torná-lo mais “acessível”.
Hoje, está claro que o EAD foi
um golpe no ensino, uma manobra
para diminuir os custos e destruir
ainda mais a educação brasilei-
ra. Ao mesmo tempo em que isso
ocorria, o jovem brasileiro passou
a sofrer com drásticos cortes nas
bolsas de estudo, a falta de res-
taurantes universitários, indo até
a expulsão de diversas moradias
estudantis País afora. Novamente,
frente a este brutal ataque, nada
ou muito pouco fizeram as direção
do movimento estudantil.
A única ação real do movi-
mento estudantil, no que diz res-
peito à sua “nova” direção, foi a
realização de um congresso sur-
presa da UNE, totalmente online
e filtrado, um claro golpe contra
a juventude, que serviu para ele-
ger, para a surpresa de ninguém,
a UJS/PCdoB para o comando da
entidade.
Todos estes fatos, somados às
enormes dificuldades que a ju-
ventude operária e popular vem
atravessando, coloca na ordem do
dia a necessidade da superação
deste estado de coisas. Está mais
do que na hora de reconstruir o
movimento estudantil brasieiro,
destroçado pela política imobilista
de conciliação das atuais direções.
E nessa perspectiva de verdadei-
ramente organizar e mobilizar a
juventude contra os governos bur-
gueses neoliberais e golpistas que
a AJR está convocando nacional-
mente a Conferência nacional da
Juventude, a ser realizada ainda
neste semestre. O evento servirá
para organizar uma ampla dis-
cussão em torno dos problemas
mais candentes da juventude do
País, apresentar um programa de
luta para orientar o movimento
nacional dos estudantes, assim
como intervir no cenário político
nacional para derrotar o golpe e
apoiar a candidatura do ex-presi-
dente Lula às eleições presiden-
ciais deste ano.
A data e local ainda será divul-
gada, no entanto a AJR convoca
desde já toda a juventude a se mo-
bilizar em torno deste objetivo fun-
damental em 2022.
 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022 B3

CSNCO em campanha por um gente de um Congresso

Nacional extraordinário
da CUT, com milhares de

Congresso da CUT por Lula presidente delegados de base. Trata-se

da oportunidade para or-
ganizar os trabalhadores e
sua tendência à mobilização
para pôr um fim definitivo
Seguindo decisões da Conferência Sindical Vermelha, Corrente sai em defesa de que a maior ao processo golpista que as-
sola o Brasil há anos. E a
organização dos trabalhadores mobilize e lidere a esquerda na luta pela derrota da direita urgência disso está cada vez
mais clara com o avanço da
A Corrente Sindical Na- pandemia.
cional Causa Operária (CS- Nos últimos, os traba-
NCO), lançou na última se- lhadores sofreram perdas
mana 20 mil exemplares gigantescas no que diz res-
do Boletim CAUSA OPE- peito aos seus direitos, con-
RÁRIA, contendo o Balan- dições de vida e de trabalho,
ço da Conferência Sindical com o País batendo recordes
Nacional, realizada nos dias de fome, miséria e desem-
15 e 16 passados, a Confe- prego. Além disso, mais de
rência Sindical Vermelha, 630 mil brasileiros morre-
que contou com a participa- ram em decorrência da falta
ção de dezenas de ativistas e de medidas reais de comba-
dirigentes sindicais do PCO, te à pandemia.
da esquerda PT e de outros Essa situação é produto
setores do Bloco Vermelho. do golpe de Estado de 2016.
O Boletim traz o progra- É a demonstração do que a
ma aprovado no Encontro, política neoliberal imposta
cujos pontos centrais di- pelo imperialismo sobre o
vulgamos nas edições an- Brasil pode fazer. Sem uma
teriores desse Jornal. Um derrota da direita, a situa-
programa que contempla ção só tende a piorar.
as principais reivindicações Se a luta pela candida-
Reprodução

dos trabalhadores diante do tura de Lula é a única pos-

avanço da crise capitalista
no Brasil e em todo o mun-
do. Bem como uma posição
independente da burguesia
diante da crise política e das
eleições presidenciais que
polarizam o País ao longo
deste ano: a defesa da can-
didatura do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva,
como parte da luta por um
governo dos trabalhadores
e pela mobilização revolu-
cionária dos trabalhadores
pela sua conquista.
Uma questão decisiva
A CSNCO e o Bloco Ver-
melho, compreende que a
Central Única dos Traba-
lhadores (onde militam) é
a principal organização de
massas do país, abrigando
mais de 4 mil sindicatos e
representando mais de 22
milhões de trabalhadores
em suas bases, e tem impor-
tância decisiva na luta da
classe trabalhadora brasi-
CUT deve colocar toda sua força na luta por Lula presidente
leira, justamente, por ser um
resultado direto do maior
ascenso da classe operária
de todos os tempos, das suas
lutas na década de 80.
Por conta disso, é im-
prescindível que a CUT
não só participe da campa-
nha por Lula Presidente,
mas sim protagonize a luta
para garantir a eleição do
ex-presidente, uma questão
decisiva para todo o movi-
mento operário e esquerda
neste ano.
A presença da CUT na
mobilização não represen-
ta somente uma mudança
quantitativa. É, também,
uma mudança qualitativa na
medida em que pode trans-
formar a luta pela eleição de
Lula em um movimento so-
cial de massas, fortalecen-
do ainda mais os laços de
Lula com os trabalhadores
do País, com a possibilidade
de transformar, no caso de
vitória, seu futuro governo
em um governo submetido
ao controle pelos trabalha-
dores.
Isso se dá por conta de
que a eleição de Lula, nas
condições atuais, Lula só
será eleito - impondo uma
derrota à direita e ao regime
golpista - por meio de uma
ampla mobilização nacional
das massas, que derrote os
planos da burguesia de der-
rotar Lula e o povo e seguir
aprofundando o regime gol-
pista e seus ataques contra
os trabalhadores.
Essa necessária mobi-
lização pode dar aos tra-
balhadores e suas orga-
nizações um significativo
aumento do moral político,
ou seja, mudar a correlação
de forças em favor dos tra-
balhadores.
A experiência pode mos-
trar, uma vez mais, para mi-
lhões, que o povo nas ruas
pode golpear profundamen-
te a ordem burguesa vigen-
te e deter a ofensiva da di-
reita contra suas condições
de vida.
Comitês de Luta
Para impulsionar essa
perspectiva classista, a CS-
NCO defende a formação
de milhares de comitês de
luta por todo o País, o que
vai reforçar - e muito - o ní-
vel de organização atual dos
explorados.
Somando a organização
ao moral elevado, podere-
mos ter uma situação em
que qualquer decisão im-
portante por parte do gover-
no Lula será acompanhada
de perto pelos trabalhado-
res, tornando difícil que a
burguesia aplique um novo
golpe, como busca fazer pe-
las mais diversas formas,
como no caso da campanha
para que Lula tenha um vice
golpista e neoliberal, como
Geraldo Alckmin.
Se o povo estiver desmo-
bilizado, por outro lado, a
burguesia não encontrará
grandes reações organiza-
das e os trabalhadores, en-
tão, estarão muito mais sus-
cetíveis à repressão.
E uma coisa é certa: pelo
exemplo de nossos vizinhos
na América Latina, está evi-
dente que o imperialismo
não permitirá, sem reações
e tentativas de golpe, a as-
censão de um governo na-
cionalista ou da esquerda
ao poder.
Porque um Congresso
É precisamente daí que
surge a necessidade pun-
sibilidade de reverter este
quadro e frear o saque do
imperialismo, é preciso vol-
tar todos os nossos esforços
para mobilizar pela sua vi-
tória.
A CUT, sendo a princi-
pal dessas organizações em
âmbito nacional, deve lide-
rar essa luta como princi-
pal arma dos trabalhadores.
Para organizar essa luta, um
congresso exclusivo, com
ampla participação das ba-
ses é fundamental.
Trata-se também de dar
um enorme empurrão nas
costas da esquerda nacio-
nal que, até o momento,
continua com o rabo entre
as pernas, e - a exceção do
PCO e do próprio partido
de Lula, o PT - não se ma-
nifestou a favor da unidade
da esquerda em torno de
Lula e vem adotando uma
absurda política de chan-
tagens e exigências desca-
bidas contra o PT e toda a
esquerda.

Pressionado, governo anuncia 33,24% para o piso dos professores

O presidente golpista Jair
Bolsonaro anunciou no último dia
quinta-feira (27), no seu Twitter,
que vai reajustar o piso salarial
para professores de todo o país
em 33,24%. Com isso, o piso tem
de passar dos atuais R$2.886 para
R$3.845.
Na véspera, o capitão fascis-
ta havia antecipado tal decisão, a
apoiadores em frente ao Palácio
da Alvorada, afirmando que "esse
é o maior aumento já concedido,
pelo governo federal, desde o sur-
gimento da Lei do Piso".
O governo e a venal imprensa
capitalista ocultam o fato de que
o índice chegou a esse montante
diante do fato de que o Piso ficou
sem ser reajustado por dois anos,
a pretexto da pandemia, e que em
muitos Estados, como São Paulo (o
mais rico da federação), os salários
dos educadores estão "congelados"
há cerca de oito anos.
A estimativa é que a medida
pode alcançar mais de 1,7 milhão
de professores, das redes estaduais
e municipais, que lecionam para
mais de 38 milhões de alunos nas
escolas públicas.
O reajuste, por força de Lei, tem
que vigorar desde 1 de janeiro pas-
sado, e o governo - que anunciou
o reajuste em igual percentual do
valor ser repassado por aluno para
Estados e Municípios ainda no ano
passado, vinha segurando a de-
cisão por conta das pressões em
sentido contrários do conjunto da
direita que procurava tramar um
meio de mudar a Lei do Piso, apro-
vada em 208, durante o governo
Lula, para reduzir drasticamente
o reajuste.
Os governos e partidos de di-
reita se dividiram sobre o tema, e
muitos como o governo Doria, pro-
curam divulgar que Bolsonaro era
o único responsável pela ausência
do reajuste, enquanto tramavam
pela redução do índice.
Ao mesmo tempo, crescia entre
os trabalhadores a revolta (ainda
presente) diante do arrocho sala-
rial, com a clara possibilidade de
uma luta geral dos trabalhadores
pelo reajuste devido pela Lei, que
prevê que o reajuste de professores
é atrelado ao chamado valor por
aluno do Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Pro-
fissionais da Educação (Fundeb),
definido pelo Ministério da Edu-
cação, com base na inflação.
Diante do anúncio - que ainda
precisava ser formalizado - duas
questões principais se colocam,
de imediato.
Primeiro a mobilização para
que não haja quaisquer condi-
cionantes ou novos golpes (par-
celamento do reajuste, atraso no
pagamento devido etc.) e que a de-
cisão que significa apenas o cum-
primento do que esta estabelecido
na Legislação seja encaminhado
por todos os governos estaduais e
municipais.
Segundo, que o reajuste seja
estendido aos salários de todos os
trabalhadores da Educação, uma
vez que não faz sentido aceitar o
golpe de reajustar o piso e não
o vencimento dos trabalhadores
que ganham acima do piso, como
- ilegalmente - vem fazendo mui-
tos governos da direita, como o de
João Dória (PSDB) e até mesmo
da esquerda, como Flávio Dino e
outros, que estabeleceram reajus-
tes e vencimentos diferenciados
para professores mais antigos ou
concursados, pagando salários
menores para professores com
contratos temporários, que rea-
lizam o mesmo trabalho que os
demais.
Para garantir os 33,24% como
parte da luta pela reposição de
100% das perdas, é preciso que-
brar a paralisia das direções sin-
dicais e mobilizar amplamente os
educadores em todo o País.

Por uma Plenária Nacional de bases dos servidores
A dramática situação dos ser-
vidores públicos de todo o País,
nas três esferas de governo, assim
como mobilizações que a categoria
vem protagonizando ao longo de
vários meses contra a aprovação
da PEC 32 (Reforma Administra-
tiva), se apresenta nesse momen-
to como um dos fatores de maior
impacto na conjuntura nacional e
na luta política que o movimento
sindical e de massas trava con-
tra o governo e suas medidas de
sufocamento dos trabalhadores e
destruição dos serviços públicos.
As mobilizações e as lutas dos
servidores, ainda que tenham
ocorrido de forma parcial e dis-
persas - muito em função da polí-
tica equivocada e desmobilizadora
da maioria das direções represen-
tativas do movimento - acabaram
por impor um recuo importante
nos planos sinistros do governo e
de sua base aliada no parlamento
(centrão e outros).
Muito embora seja pouco pro-
vável que o governo volte à car-
ga na tentativa de levar adiante a
PEC 32 em ano eleitoral, Bolsonaro
e Guedes ainda dispõem de “bala
na agulha” para atacar os traba-
lhadores do serviço público, par-
ticularmente no que diz respeito a
não concessão do percentual para
recompor a perda salarial da ca-
tegoria, que está em 19,99% so-
mente nesses três anos de governo
golpista.
O calendário que vem sendo
construído pelas diversas entida-
des nacionais do funcionalismo
aponta para jornadas de lutas im-
portantes nos meses de janeiro,
que tem como indicativo de greve
nacional o dia 9 de março.
No entanto, o fator mobiliza-
ção - que é decisivo -, no melhor
dos casos, deixa muito a desejar;
ou seja, não adota os métodos de
luta verdadeiramente eficazes
para colocar a categoria em mo-
vimento, em pé de guerra contra
Bolsonaro, Guedes e o Congresso
Nacional.
O que se vê é a continuidade da
realização de plenárias virtuais,
encontros online, onde a base até
participa, acompanha, mas não
lhe é dado o direito à manifesta-
ção, pois somente os “notáveis”,
os convidados e os representantes
das entidades falam. Isso está na
contramão das exigências coloca-
das para o momento.
Para que o movimento possa
reagir ante os ataques do governo
e se opor como uma verdadeira
força organizada aos inimigos dos
servidores, é necessário a adoção
de outros métodos de mobilização
e luta. Daí a necessidade da rea-
lização de um Congresso de Base
de todos os servidores, das três
esferas administrativas.
Portanto, não há tempo a per-
der. A hora de ir para cima dos
golpistas é agora, pois o gover-
no Bolsonaro está envolto em um
emaranhado de crises e isso deve
ser aproveitado para impor uma
derrota definitiva aos neoliberais
inimigos dos servidores.
B4 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022
A SITUAÇÃO MUNDIAL
Crise dos EUA empurra a
Ucrânia e OTAN contra a Rússia
O imperialismo exposto
Pouco mais de um ano da
posse de Joe Biden, o impe-
rialismo expõe suas fragi-
lidades e o fracasso de sua
política externa. Biden, que
foi saudado pelo regime po-
lítico dos Estados Unidos,
representado principalmen-
te pelo Partido Democrata,
tenta responder ao fracasso,
atacando a Rússia através
da Ucrânia, fomentando um
clima de guerra para enco-
brir a crise do regime po-
lítico.
Biden o anti-fascista?
A vitória de Biden em
2020 foi comemorada com
grande euforia por uma su-
posta “derrota ao fascismo”,
inclusive por diversos seto-
res da esquerda.
No Brasil, a esquerda
pequeno-burguesa, impul-
sionada pela imprensa im-
perialista, festejou Biden
como “a grande salvação
do mundo”. Contudo, Joe
Biden, além de aprofundar a
política de intervenção nos
países atrasados, também
fracassou em seu projeto
econômico.
Biden, considerado o can-
didato“científico”, a favor da
vacinação da população e
não“negacionista”, estabele-
ceu uma propaganda de um
“plano de emergência e com-
bate” à Covid-19, chegando
a anunciar um pacote no va-
lor de 242 bilhões de dóla-
res para auxílio a famílias,
créditos pessoais e à pessoas
jurídicas. Para os governos
estaduais, locais, territoriais
e tribais, foi destinado 350
bilhões de dólares.
Após a primeira parte do
plano, viria um pacote de 6
trilhões de dólares,numa
tentativa de recriar o ”New
Deal and Great Society” do
presidente Roosevelt, um
plano proposto pelo econo-
mista burguês, John May-
FMI revisa projeções: mercado financeiro à beira do colapso
O Fundo Monetário Interna-
cional publicou, no último dia 25,
novas projeções econômicas para
2022. Espera-se que o crescimento
da economia global seja de 4,4%
ao final deste ano. O índice não
apenas é inferior ao alcançado
em 2021, estimado em 5,9%, como
também é uma revisão para baixo
(quase -10%) da projeção realiza-
da em outubro do ano passado,
quando os economistas do FMI in-
dicavam um crescimento de 4,9%.
A expansão lenta da economia
global é justificada principalmente
pela revisão dos crescimentos nor-
te-americano e chinês. Sem a apro-
vação do novo pacote de estímulo
econômico proposto por Joe Biden,
o FMI prevê que o PIB dos EUA
cresça em apenas 4%. Em outubro,
a previsão era de 5,2% (-20%). A
estimativa para o crescimento da
economia chinesa, por outro lado,
Bombardeio saudita mata 90, mas iemenitas continuam ofensiva
No último dia 21, a coalizão mi-
litar liderada pela Arábia Saudi-
ta bombardeou um presídio e um
centro de telecomunicações no Iê-
men. O ataque é mais um episódio
na guerra liderada pela monar-
quia saudita contra o movimento
popular liderado pelo Ansarullah,
organização majoritariamente xii-
ta, da etnia houthi, que trava uma
luta pela soberania do Iêmen desde
2015, quando tomaram o poder do
governo fantoche sustentado pelo
país vizinho. A guerra já causou
centenas de milhares de mortes e
nard Keynes. Políticos da
esquerda pequeno-burgue-
sa em todo país saudaram o
Plano Biden, como foi o caso
de Gleisi Hoffmann (imagem
ao lado).
A real política de Biden
O Plano Biden fracas-
sou e a inflação disparou,
atingindo 7,04% (Worldwi-
de Inflation Data), a maior
desde 1989, levando muitos
norte-americanos à situação
de extrema vulnerabilidade,
pobreza e miséria. A paisa-
gem das cidades expõe, a
cada dia, maiores contradi-
ções do regime político, com
um número cada vez maior
de barracas e casas feitas
de lonas plásticas e outros
BRENDAN MCDERMID (REUTERS)”
materiais retirados do lixo.
A fragilidade do gover-
no Biden e do imperialis-
mo foram expostas com a
expulsão dos exércitos do
Afeganistão, de modo humi- Um apoiador de Trump mostra uma foto de Hunter Biden na fila de um comício do então presidente, em Erie (Ohio)
lhante. O Talibã lutou contra
o exército mais equipado do secretos de Joe Biden”. Em levando a processos de in-
mundo e derrotou os invaso- um desses emails continha tensa fragmentação inter-
res norte-americanos. a seguinte mensagem: “um na. Após o golpe que esta-
A partir desses dois “pa- executivo ucraniano agra- beleceu um governo fascista
nos de fundo”, Biden escalou deceu a Hunter Biden pela naquele País, a fim de recu-
a retórica beligerante con- oportunidade de se reunir perar os territórios que se
tra as principais barreiras, com seu papai vice-presi- insurgem contra a políti-
nesse momento, à domina- dente”. O filho de Biden é ca ditatorial, o governo da
ção plena do imperialismo: conselheiro da Burisma, Ucrânia passou a evidenciar
China e Rússia. O país eu- empresa de gás da Ucrâ- sua intenção de fazer parte
roasiático, por sua vez, é o nia, desde que Biden foi vi- da OTAN, bloco militar que
principal inimigo do Partido ce-presidente dos Estados encontra-se em um impasse.
Democrata, de Joe Biden. Unidos entre 2009 e 2017. Uma clara política de sub- Políticos da esquerda pequeno-burguesa saudaram o Plano Biden
Mais do que a China, a missão do governo fascista
Rússia passou a ser presen- Política de provocação ao imperialismo norte-ame- veis a uma invasão do Don- Clinton/Obama, com profun-
ça constante das ameaças ricano. bass, enquanto think tanks dos vínculos com a indústria
do imperialismo para recon- A exposição clara da vul- Ao mesmo tempo, os militares como a Atlantic bélica e outros setores in-
quistar relativo “prestígio” nerabilidade do imperialis- EUA querem intensificar o Concil, além de militares li- teressados em uma guerra.
gozado nos dois primeiros mo acabou por radicalizar avanço às linhas russas, por gados ao Pentágono, sabem Diante do cenário de in-
meses de governo, voltan- e intensificar os ataques intermédio de uma guerra os riscos de uma guerra con- certezas, resta à Biden dis-
do-se à Ucrânia, velho co- às Repúblicas independen- por procuração, que já ocor- tra a Rússia. seminar à imprensa impe-
nhecido de Biden e seu filho, tes do Donbass, no leste da re há oito anos, e não há con- Apesar dos riscos esta- rialista e ONGs espalhadas
Hunter Biden. Ucrânia. senso no bloco militar atlan- rem claros para ambos os la- pelo mundo, que a Rússia é
Durante as eleições de A Ucrânia adotou uma ticista e União Européia, em dos, o presidente da Ucrânia, o inimigo. A Rússia, no en-
2020, como uma das últimas política de ampla entrega virtude da importância ener- Volodymir Zelensky, é sufi- tanto, apenas se defende da
cartadas de Trump, o alia- para os capitalistas de sua gética da Rússia para a re- cientemente agressivo para guerra psicológica e provo-
do da imprensa, o magnata imensa infraestrutura esta- gião. Alemanha e Hungria, atender aos desejos de Biden cações estabelecidas pelo
Murdoch, vazou “os e-mails tal após o colapso da URSS, por exemplo, não são favorá- e de seus aliados democratas imperialismo.
caiu de 5,6% para 4,8% (-14%). "esperada". Agora, com uma infla- A tese é estranha uma vez que Elon Musk, segundo homem mais
Se o crescimento cai, a inflação ção de 7% em dezembro, a ideia de os maiores aumentos se deram em rico do planeta, produziu menos de
deve acelerar. O FMI estima um que o fenômeno é passageiro tor- setores essenciais como energia e um milhão de carros no ano pas-
índice de 3,9% para as economias na-se cada vez mais inverossímil. alimentação. O preço dos alimen- sado, enquanto seus concorrentes,
mais avançadas, 1,6% a mais do O índice do mês passado é o tos nos EUA cresceu 6,3% em rela- muito menos valiosos no mundo
que a projeção anterior. Para os mais alto desde 1982 para os EUA. ção ao ano passado. Há, na reali- especulativo de Wall Street, pro-
países pobres, espera-se uma infla- A crise se estende para a Europa, dade, uma demanda reprimida da duzem dezenas de milhões de au-
ção de 5,9%, também maior em re- onde a inflação média foi de 5,3% classe trabalhadora norte-ameri- tomóveis.
lação à previsão anterior de 4,9%. no mesmo período. Na Alemanha, cana que há décadas é empobre- O maior "resgate" da pandemia
O FMI divulgou que a inflação apenas o custo da energia aumen- cida pelo desemprego, trabalhos foi enviado ao setor mais parasi-
será um fenômeno temporário, que tou em 26%. de baixa qualidade e salários con- tário da economia que, como con-
deve desaparecer em 2023. A agên- O jornal norte-americano The gelados. firmado pela crescente inflação,
cia atribui o problema à pandemia New York Times culpa a "interven- Como apontou o relatório pu- não consegue produzir à altura das
e à consequente crise na cadeia ção estatal" pela inflação. Nos EUA, blicado pela Oxfam no início do necessidades da população mun-
mundial de suprimentos. As "pre- atribuem o encarecimento dos pro- ano, quem aumentou sua riqueza dial. A válvula de escape propos-
visões", porém, não aparentam ser dutos aos "generosos" cheques en- durante a pandemia não foi a po- ta pelos reguladores é o aumento
mais do que mera esperança. viados aos trabalhadores durante pulação, mas os dez homens mais dos juros, o que é um ataque aos
Em abril do ano passado, quan- o período da pandemia. O dinheiro ricos do planeta que dobraram salários e à parcela produtiva da
do a inflação nos EUA era de 2,3%, teria criado uma demanda exces- suas fortunas. No mesmo período, economia. Nesse ritmo de destrui-
o Sistema de Reserva Federal siva durante um período de menor mais de 160 milhões de pessoas fo- ção das forças produtivas e aumen-
apontava o fenômeno como passa- produção, alegam cinicamente, de ram jogadas na miséria completa. to da especulação, caminhamos a
geiro. Biden, em agosto, procurou forma semelhante ao que se viu no Essa riqueza é fruto do dinheiro passos largos para uma crise que
tranquilizar a população dizendo Brasil, com as críticas da burguesia injetado no mercado financeiro pe- fará sombra à quebra da Bolsa de
que a situação era "temporária" e ao miserável auxílio emergencial. los governos burgueses. A Tesla de Valores de Nova Iorque em 1929.
Israel pelo outro, o imperialismo
busca conter a luta de libertação
dos povos árabes iniciada com a
deixou milhões desabrigados no de petróleo numa instalação próxi- vestidores nos Emirados Árabes a Revolução Iraniana de 1979.
que é uma das maiores crises hu- ma à capital dos Emirados Árabes, deixar o país já que ele não é mais A derrota no Afeganistão no
manitárias do mundo. Abu Dhabi. O ataque causou um seguro", declarou o generalYahya ano passado, porém, mudou o qua-
Os bombardeios atingiram um incêndio no aeroporto internacio- Saree em conferência de impren- dro político na região. Cientes da
centro de detenção em Sanaá, na nal da capital e deixou três mortos. sa no último dia 24, quando o go- fraqueza e do recuo imperialista,
região norte do país, e deixaram Se ataques à Arábia Saudita verno iemenita voltou a atacar o que sustenta militarmente e eco-
90 mortos, além de centenas de por parte das forças iemenitas são território emirati. nomicamente o conflito, o Ansa-
feridos. Ao mesmo tempo, outro corriqueiros - e vice-versa -, agres- A luta do povo iemenita contra rullah intensificou sua luta. Como
ataque atingiu instalações em Hu- sões a outros países da península as monarquias sunitas é, na reali- demonstrou a luta do Talibã, sem o
daydah que deixaram o país intei- arábica são raras. Aparentemente, dade, uma luta contra o imperia- apoio do imperialismo, um conflito
ro sem acesso à rede mundial de o Ansarullah busca tornar a guerra lismo que sustenta esses governos desigual, aparentemente insuperá-
computadores. economicamente inviável para os autocráticos na península arábica vel, muda de caráter do dia para a
A ofensiva saudita foi retaliação aliados sauditas. como forma de controle da situa- noite, diante da gigantesca revolta
a um ataque de drones das Forças "Nós renovamos nosso conse- ção no Oriente Médio. Com Arábia das massas oprimidas contra seus
Armadas iemenitas a três tanques lho a empresas estrangeiras e in- Saudita por um lado e o Estado de algozes.

100 anos
A preparação da
Semana de Arte
Moderna de 1922
Se, num primeiro mo-
mento, os novos artistas se
sentiram intimidados pela
recepção negativa e os duros
ataques da imprensa bur-
guesa à arte modernista, os
acontecimentos seguintes os
levariam ao que representou
a maior revolução estética
de nossa história, a Sema-
na de Arte Moderna de 1922
Mário de Andrade, por
exemplo, só se manifestaria
em 1926 sobre a exposição
de Anita Malfatti. A perso-
nalidade e a educação des-
se literato, escritor, poeta
e crítico de arte, música e
literatura, faziam dele um
homem tímido e recatado,
pouco movido para debates
e polêmicas. Por outro lado,
a sua formação intelectual,
fez dele um crítico observa-
dor e sagaz. O crítico Má-
rio de Andrade precisava, no
entanto, despertar. E o que o
levou a isso foram as críticas
e a pressão que começaram
a cair sobre ele.
Mário de Andrade es-
treou na poesia com um
livrinho, Há uma gota de
sangue em cada poema, que
revela uma ideologia paci-
fista. Eram poemas que se
declaravam contra a insen-
satez da Primeira Grande
Guerra, quando no Brasil
havia intenso clima pró-im-
perialista. Mas eram tam-
bém bastantes conservado-
res quanto à forma. Para o
próprio autor, contudo, si-
tuavam-se entre o tradicio-
nal e o moderno. O ano de
sua publicação foi 1917, ano
que viu também aparecerem
o Juca Mulato, de Menot-
ti del Picchia, A cinza das
horas, de Manuel Bandeira,
Nós, de Guilherme de Almei-
da; aparecerão também ou-
tros poetas modernos, como
Da Costa e Silva, Gilberto
Amado, Pereira da Silva e
Murilo Araújo. Mas 1917 foi
também um ano chave.
A Primeira Grande Guer-
ra (1914-1918) representou
um grande prejuízo finan-
ceiro para o setor cafeei-
ro. Embora o Brasil tenha
apoiado o conflito, num pri-
meiro momento, fornecen-
do alimentos para a Tríplice
Entente, os navios do Lloyd
Brasileiro eram sistemati-
camente torpedeados por
submarinos alemães. Isso
prejudicava as exportações
de café e, para piorar as coi-
sas, a Alemanha deixava de
pagar o café já comprado
do Brasil. Em outubro de
1917, o país declarou guer-
ra à Alemanha. O conflito
sofreria, logo depois, uma
grande baixa, com o armis-
tício russo. A revolução de
outubro na Rússia colocou
no poder um governo ope-
rário, o qual combatia feroz-
mente a guerra imperialista.
O exemplo da Rússia não
foi apenas um sinal de que a
paz era mais vantajosa para
os povos, mas mostrou tam-
bém que o proletariado po-
dia chegar ao poder. E, no
Brasil, uma grande greve
operária, iniciada em São
Paulo, espalhou-se por todo
o Brasil.
Durante a guerra, com
o crescimento das exporta-
ções, num primeiro momen-
to, para os países da Entente,
começaram a faltar gêneros
alimentícios no Brasil. Esse
fato, aliado com a recorren-
te desvalorização da moeda,
parte da política de defesa
do café, fez com que o custo
de vida subisse 189% entre
ANO 43 • Nº 1.198 • 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022
1914 e 1923, enquanto o sa-
lário subia apenas 71%. O
salário médio de 100 mil réis
era pouco para uma despe-
sa familiar média de mais
de 200 mil réis. Os operá-
rios do Cotonifício Crespi,
na Mooca, organizados no
sindicato têxtil de orienta-
ção anarquista, resolveram
entrar em greve em julho de
1917. A força pública lançou
a cavalaria contra os grevis-
tas ocasionando a morte de
um operário, o sindicalista
espanhol José Martinez.Três
dias depois, 70 mil operários
estavam em greve.
Em seguida, foi organi-
zado o Comitê de Defesa
Proletária. A polícia não
conseguia conter os traba-
lhadores. A sedição se es-
palhou e o governo foi obri-
gado a abandonar a Cidade.
A greve logo atingiria ou-
tros Estados. No Rio Gran-
de do Sul a greve foi geral
e os trabalhadores tiveram
suas reivindicações atendi-
das. O mesmo ocorreu em
São Paulo devido à enorme
força do movimento de mas-
sas. A greve deu lugar a uma
ação inédita da vanguarda
operária que, em poucos
anos, formaria o Partido
Comunista. Organiza-se a
primeira tentativa de insur-
reição proletária, que fra-
cassa naturalmente devido à
imaturidade da organização
proletária e pelas condições
políticas, mas que vive como
um marco na evolução da
luta de classe do proletaria-
do brasileiro.
Essa greve foi a maior
que já ocorreu no país. Era
um claro sintoma da evolu-
ção da crise política ou seja
da revolução social, de que
o governo perdia o controle
e de que as instituições co-
meçavam a se decompor. O
sistema estava em perigo.
A classe dominante teve de
reagir e, como sempre ocor-
re, tal reação manifesta-se
de maneira extremada, o
que, em alguns casos, como
na Itália e em Portugal, le-
varia ao fascismo. No Brasil,
o governo seguinte gover-
naria sob Estado de sítio e futurismo, publicou, no dia São Paulo, onde estudavam ofender ninguém. onde eram lançados candi-
a repressão ao movimento 27 de maio de 1921, no Jor- os filhos da elite paulistana, Mas Oswald de Andrade datos políticos, onde, enfim,
operário seria intensa. É por nal do Comércio, um artigo as dondocas que aprendiam não se contenta com a ré- se reunia a elite paulistana.
isso que todas as ideias no- intitulado “Meu poeta futu- a tocar piano para mostrar plica e passa a defender a O pretexto da cerimônia de 9
vas tiveram de ser combati- rista”, a respeito do livro iné- seus dotes para a família. existência de um futurismo de janeiro era comemorar o
das, porque apareciam aos dito de Mário de Andrade, A primeira reação deu- paulista. Sai a caça de poe- lançamento do livro de Me-
olhos da classe dominante Paulicéia desvairada. -se em forma de piadas e go- mas e os começa a revelar. É notti, As Máscaras. Há, na
como uma instigação e como O novo poema de Mário zações. Depois, vieram os futurista o poema “Canções festa, muitos representantes
uma manifestação da revo- de Andrade nada mais tem insultos. E, finalmente, os gregas” de Guilherme de Al- da elite:“políticos, escritores
lução social. que ver com Há uma gota pais começaram a retirar meida; “Os pássaros de aço” da velha guarda, gente das
E o combate a elas se de sangue; além disso, já se os filhos das aulas daquele de Agenor Barbosa; “Angús- finanças e da alta sociedade”
dava em todos os setores distanciou das primeiras ex- “futurista”. Era atacado por tia de Don Juan”, de Menotti e alguns escritores novos,
da sociedade: nos gabine- periências modernistas de artistas, jornalistas e pela del Picchia. entre eles, Oswald de An-
tes, nas redações, nas repar- Menotti e de Guilherme. A própria família. Ao fim e ao cabo, todos drade. Muitos discursam e
tições públicas, nas escolas, paulicéia é a radicalização Sua primeira reação foi concordaram em chamar o Oswald, em nome dos novos
na igreja e, como é habitual, do movimento da arte mo- retratar-se. E respondeu ao futurismo paulista de Mo- escritores, faz um discurso
nas famílias. derna. É um poema inovador artigo de Oswald com outro dernismo. E os modernis- com sabor de manifesto.
Quando Mário de Andra- que Oswald de Andrade o artigo: “Futurista?!” tas teriam de atravessar o Nele Oswald celebra São
de levou para casa um busto, classificaria como futuris- Nele, Mário de Andrade Rubicão. Paulo, “a cidade que... ulula
que lhe havia presenteado ta, com ritmo estranho, for- dirá que não pretendia pu- Entretanto, nesse mesmo uma desconhecida harmo-
o escultor Victor Brecheret ma nova e frase arrojada, blicar o livro, que se trata- ano de 1921, os novos escri- nia de violências humanas...
(Cabeça de Cristo), uma comparável aos poemas de vam de poemas de cunho tores já estão aliados em tor- de lutas... o riquíssimo ma-
escultura que representava Paul Fort, Claudel, Vildrac e íntimo, escritos só para si. no de Anita Malfatti e Victor terial das suas sugestões e
Cristo com tranças, a família Goldoni. Dirá também que nada têm Brecheret, e participavam de a persuasão imperativa das
do crítico, conservadora, im- O artigo é bastante elo- de futurista. Nesse ponto, as- rodas literárias, iam às expo- suas cores e linhas.” São
becilizada e convencional, gioso e exaltador. Exalta, sumirá a postura do crítico sições, às livrarias, etc. Mui- Paulo é a cidade “que pede
ficou horrorizada. contudo, não apenas o autor, e mostrará no que diferem tos já se denominavam mo- romancistas e poetas, que
Mas o acanhado escritor, mas também a nova estética. seus poemas dos escritos dernistas. Mas, se existiam impõe pasmosos problemas
quando se viu acuado, pre- E devia dar fama ao novo futuristas feitos à maneira de fato, faltava torná-los pú- humanos e agita... as pro-
parou-se para a contraofen- poeta. E deu. Uma fama que de Marinetti. A posição do blicos, e a oportunidade apa- fundas revoluções criado-
siva. As novas ideias estéti- levou seu nome para a histó- intelectual é, formalmen- receu em 9 de janeiro desse ras de imortalidade.”“E se S.
cas vinham se manifestando ria de nossa literatura. Mas te, correta. Há muitas dife- ano, num banquete ofere- Paulo pode neste dia fazer a
desde 1913, com a exposição o resultado foi, de imediato, renças entre aquilo que ele cido em homenagem a Me- tua festa... é porque S. Paulo
de Lasar Segall, mas come- desastroso para o poeta. escreve e aquilo que os fu- notti del Picchia no Trianon. atingiu a primeira inquieta-
çaram a ser atacadas siste- A reação logo se manifes- turistas escreveram. Mas é O discurso que Oswald de ção de uma etapa vencida.
maticamente a partir da ex- tou. E os leitores, instigados uma posição extremamente Andrade pronunciou nesse Daqui, para diante!”
posição de Anita Malfatti, pela direita obscurantista, defensiva. E seu artigo ter- banquete demonstrou que a A primeira etapa estava,
em 1917. viram no artista um malu- mina com um pedido: para contraofensiva já se mani- de fato vencida, o próximo
Oswald de Andrade, que co. Mário de Andrade era que o deixem em paz, pois festava abertamente. passo seria a Semana.
trouxera da Europa, havia professor no Conservató- ele aspira apenas ao silên- O Trianon era um local
alguns anos, a “novidade” do rio Dramático e Musical de cio e não teve intenção de onde ocorriam banquetes, (continua na pag. C4)
 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2021

Elza Soares cantou até o fim

Aos 91 anos, cantora
estava ativa nos palcos,
em concertos e gravando
discos
No último dia 20 de ja-
neiro, morreu de causas na-
turais, aos 91 anos, no Rio
de Janeiro, Elza Gomes da
Conceição.
Nascida em 23 de junho
de 1930, morreu como um
ícone da música brasilei-
ra, uma força da natureza,
um símbolo de luta contra
o racismo e contra os pre-
conceitos, construindo uma
carreira única que começou
com uma infância extrema-
mente pobre, passando pelo
conturbado casamento com
o craque de bola Mané Gar-
rincha e gravando uma espe-
tacular discografia por onde
passeia por inúmeros esti-
los, do samba à bossa nova
e ao soul.
Elza nasceu na favela de
Moça Bonita, hoje em dia
a Vila Vintém, no bairro de
Padre Miguel, no Rio de
Janeiro. Ainda pequena se
mudou para um cortiço da
Água Santa onde foi criada.
Aos onze anos de idade foi
obrigada pelo pai a abando-
nar os estudos para se casar
com Lourdes Antônio Soa-
res, conhecido como Alaúr-
des. No ano seguinte nasceu
o primeiro filho, João Carlos.
muito mais gorda que ela,
ajustado com vários alfine-
tes. Ela foi motivo de risos.
Ary tentou lhe ridicularizar
perguntando: “de que plane-
ta você veio, minha filha?”,
ao que ela retrucou:“do mes-
mo que o senhor, Seu Ary,
do planeta fome”. A apre-
sentação foi um sucesso e
ela ganhou a nota máxima.
Depois disso o irmão de
Elza, Avelino, que era vio-
lonista e tocava na Orques-
tra Garam de Bailes, a in-
dicou ao maestro Naegli e
Elza conseguiu um emprego
como cantora da orquestra,
onde permaneceu até 1954.
Em 1959 finalmente con-
seguiu seu primeiro contra-
to com uma gravadora, a
Odeon, onde lançou seu pri-
meiro disco, um 78 rotações
com as músicas “Se Acaso
Você Chegasse” (de Lupicí-
nio Rodrigues e Felisberto
Martins) e“Mack The Knife”.
“Se Acaso Você Chegasse”
se tornou grande sucesso e
um clássico da música bra-
sileira. Nessa música Elza
introduziu o scat, um recur-
so característico do jazz e
muito associado a cantores
como Louis Armstrong. No
ano seguinte saiu o primei-
ro LP, também chamado “Se
Acaso Você Chegasse”. No
ano seguinte o segundo ál-
bum, “A Bossa Negra”, que
trouxe músicas como “Ma-
tinho e o baterista Wilson
das Neves, aprofundando
seus laços com o samba, o
que lhe rendeu o diploma de
“Embaixatriz do Samba” do
Conselho de Música Popular
do Museu da Imagem e do
Som. Em 1969 lançou seu
primeiro livro, “Minha Vida
Com Mané”.
Nos anos da ditadura mi-
litar, em 1970, fugiu com a
família para a Itália após
receber ameaças. A gota
d’água foi um bilhete dei-
xado em sua porta que dizia
“você tem 24 horas para dei-
xar o país”. Fez turnês pelos
Estados Unidos e pela Euro-
pa e voltaram ao Brasil no
final de 1975. Nessa época
Elza estava grávida e deu à
luz ao seu único filho com
Garrincha, Manoel Francis-
co dos Santos Júnior, apeli-
dado Garrinchinha.
Após 16 anos de casa-
mento, Elza se separa de
Garrincha em 1982 por con-
ta de inúmeros episódios de
agressão física, ciúmes, trai-
ções e humilhações, onde o
alcoolismo de Garrincha já
se tornara insuportável. O
jogador acabou morrendo
no ano seguinte por cirro-
se hepática. A essa tragé-
dia se seguiu outra alguns
anos depois. Garrinchinha
faleceu aos nove anos em
um acidente de carro, em
1986. Elza ficou desespera-
Reprodução

Elza sofreu muito nesse ca- rambaia” e “Beija-me”. da e entrou em depressão.

samento arranjado, sendo
submetida a vários episó-
dios de violência domésti-
ca e sexual.
Quando tinha 15 anos
sofreu um enorme trauma.
Seu segundo filho morreu de
fome enquanto o marido es-
tava doente, com tuberculo-
se. Aos 18 anos oficializou o
matrimônio passando a usar
o nome Elza da Conceição
Soares e aos 21 anos ficou
viúva quando o marido pe-
gou uma nova tuberculose
e não resistiu.
Em 1950 sofre outro cho-
que, sua filha Dilma, recém-
-nascida, é sequestrada pelo
casal que tomava conta da
menina enquanto Elza tra-
balhava fora. A menina só
foi localizada 30 anos depois
e nem fazia ideia de sua his-
tória.
Em 1953 ela resolve se
inscrever no concurso mu-
sical de um programa radio-
fônico, “Calouros em Des-
file”, apresentado por Ary
Barroso na Rádio Tupi. Para
essa apresentação ela usou
um vestido da mãe, que era
Elza conheceu, em 1962,
o jogador Garrincha, que na
época já era casado. Cansa-
da das promessas de Gar-
rincha de que largaria a
mulher, Elza o abandona e
em 1963 grava a música “Eu
Sou a Outra”. Eles decidi-
ram morar juntos em 1966 e
em seguida oficializaram a
união. O casamento foi mo-
tivo de revolta para os fãs
da cantora e do jogador, que
acusaram a cantora de ter
acabado com o casamento
de Garrincha. Para fugirem
ao assédio foram morar em
São Paulo.
Em 13 de abril de 1969,
viajando de carro para o Rio
de Janeiro, com Garrincha
dirigindo, ocorreu uma gran-
de tragédia. Garrincha esta-
va alcoolizado e capotou na
Rodovia Presidente Dutra. A
mãe de Elza foi arremessada
para fora do carro e morreu
imediatamente. Elza, Gar-
rincha e a filha Sara sofre-
ram ferimentos leves.
Entre 1966 e 1970 Elza
lançou no total oito LPs, al-
guns em parceria com Mil-
Após um tempo decidiu via-
jar pelo mundo e focar ex-
clusivamente em sua carrei-
ra. Fez muitos shows, morou
em vários países e só voltou
ao Brasil nove anos depois.
Nos anos 80 e 90 foram
poucos discos, resultado de
uma política comercial das
grandes gravadoras, que a
consideravam fora de moda.
Mas em 2000 foi premiada
como a “melhor cantora do
milênio”, prêmio dado pela
BBC em Londres quando
se apresentou em um con-
certo ao lado de Gal Costa,
Chico Buarque, Gilberto Gil,
Caetano Veloso e Virgínia
Rodrigues.
O novo milênio trouxe um
novo interesse do público na
veterana cantora. O álbum
“Do Cóccix até o Pescoço”de
2002 lhe rendeu uma indi-
cação ao Grammy e inúme-
ras apresentações em todo
o mundo. Nos últimos anos,
Elza lançou discos notáveis
como “Vivo Feliz” (2004), “A
Mulher do Fim do Mundo”
(2015),“Deus é Mulher”(2018)
e “Planeta Fome” (2019).
Elza, a voz da música brasileira, morreu no mesmo dia de seu ex-companheiro Garrincha
Elza Deusa Soares
Samba-Enredo 2020 - G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel (RJ)
Laroyê e Mojubá, liberdade Quebrar as agulhas que vestem a dor
Abre os caminhos pra Elza passar É hora de acender
Salve a mocidade No peito a inspiração
Essa nega tem poder Sei que é preciso lutar
É luz que clareia Com as armas de uma canção
É samba que corre na veia A gente tem que acordar
Lá vai menina Da lama nasce o amor
Lata d’água na cabeça Quebrar as agulhas que vestem a dor
Vencer a dor, que esse mundo é todo seu Brasil
Onde a água santa foi saliva Enfrente o mal que te consome
Pra curar toda ferida Que os filhos do planeta fome
Que a história escreveu Não percam a esperança em seu cantar
É sua voz que amordaça a opressão Ó nega!
Que embala o irmão Sou eu que te falo em nome daquela
Para a preta não chorar (para a preta não chorar) Da batida mais quente
Se a vida é uma aquarela O som da favela
Vi em ti a cor mais bela É resistência em nosso chão
Pelos palcos a brilhar Se acaso você chegar
É hora de acender Com a mensagem do bem
No peito a inspiração O mundo vai despertar
Sei que é preciso lutar Deusa da vila Vintém
Com as armas de uma canção Eis a estrela
A gente tem que acordar Teu povo esperou tanto pra revê-la
Da lama nasce o amor

Brizola, um representante do
impotente nacionalismo burguês
O último dia 22 marcou o
centenário do nascimento de
Leonel Brizola.
Brizola pode ser conside-
rado um integrante daque-
la geração nacionalista que
acompanhou Getúlio Vargas
depois do Estado Novo. Ele
era, à época, um jovem inte-
grante do PTB (Partido Tra-
balhista Brasileiro). Em seus
primeiros anos de atividade
política, durante a juventude,
Brizola se colocou como um
ativista combativo em defesa
das causas nacionais.
Brizola se notabilizou
como um dos representan-
tes do nacionalismo burguês,
um movimento com enormes
limitações políticas, que ten-
tava se colocar como oposi-
ção ao imperialismo. O polí-
tico gaúcho foi protagonista
de alguns episódios de des-
taque da política nacional,
como a “campanha da le-
galidade”, cujo objetivo era
garantir a posse do vice de
Jânio Quadros (que renun-
ciou), o também “naciona-
lista” João Goulart.
O brizolismo, no entanto,
se limitou a essa ação lega-
lista, não tendo participado
de nenhuma ação mais orga-
nizada e direta de resistên-
cia ao golpe, assim como fez
o próprio João Goulart, que
capitulou diante da conspi-
ração militar pró-imperia-
lista.
Quando retorna do exílio,
em 1979, Brizola passa a as-
sumir uma nova fisionomia
política, diferente da que o
caracterizou nos anos de sua
juventude.
Em 1985, antes de apoiar
a ida ao Colégio Eleitoral,
Brizola fez a defesa da pror-
rogação do mandato do ge-
neral Figueiredo. Ato contí-
nuo, apoia o candidato da
“oposição”, o direitista Tan-
credo Neves, no mesmo Co-
légio Eleitoral.
Em 1989, na volta das
eleições diretas à presidên-
cia, Brizola se candidatou ao
cargo máximo do País pelo
PDT. Não tendo chegado ao
segundo turno,“apoia”, sem
muito entusiasmo, a candi-
datura de Lula contra o can-
didato direitista Fernando
Collor. Mais tarde, diante
da crise do governo Collor,
Brizola viria a hipotecar seu
apoio ao moribundo gover-
no do “caçador de marajás”.
Leonel Brizola, em vários
momentos, assumiu uma
postura de franca hostilida-
de à esquerda, em especial
ao PT e à Lula, tendo, em
vários momentos, dirigido
ataques pessoais ofensivos
ao ex-presidente.
O nome de Brizola está
inscrito na história do Brasil
como um dos representantes
mais destacados do impo-
tente nacionalismo burguês.

A concepção marxista da história
Friedrich Engels
Do artigo “Karl Marx”,
escrito em junho de 1877
(...) Das muitas desco-
bertas importantes com que
Marx inscreveu o seu nome
na história da ciência, pode-
mos aqui pôr em evidência
apenas duas.
A primeira é o revolucio-
namento, por ele completa-
do, em toda a concepção da
história mundial. Toda a vi-
são da história até aqui re-
pousava sobre a representa-
ção de que era de procurar
os fundamentos últimos de
todas as mudanças históri-
cas nas ideias, que mudam,
dos homens, e que, de todas
as mudanças históricas, de
novo, as políticas seriam as
mais importantes, dominan-
do toda a história. De onde
vêm, porém, aos homens as
ideias e quais são as causas
motoras das mudanças po-
líticas, por isso nunca se ti-
nha perguntado. Só à escola
mais moderna de historió-
grafos franceses e, em Par-
te, também à dos ingleses se
impôs a convicção de que,
pelo menos, desde a Idade
Média, na história europeia,
a força motora foi a luta da
burguesia, que se desenvol-
via, contra a nobreza feu-
dal pela dominação social e
política. Ora, Marx demons-
trou que toda a história até
aqui é uma história de lutas
de classes, que em todas as
múltiplas e complexas lutas
políticas se trata apenas da
dominação social e política
de classes da sociedade, da
manutenção da dominação
pelo lado das classes mais
antigas, da conquista da do-
minação pelo lado das clas-
ses recentemente ascenden-
tes. Mas, por que nascem e
continuam a existir estas
classes? Pelas condições
materiais, grosseiramente
sensíveis, de cada altura,
em que a sociedade, num
dado tempo, produz e tro-
ca o sustento da sua vida.
A dominação feudal da Ida-
de Média repousava sobre
a economia auto-suficiente
de pequenas comunidades
de camponeses, produzin-
do elas próprias quase tudo
o que lhes era necessário,
quase sem troca, às quais a
nobreza belicosa concedia
protecção contra o exterior e
coesão nacional ou, pelo me-
nos, política; quando vieram
as cidades e, com elas, uma
indústria oficinal separada
e um intercâmbio comercial
— primeiro, no espaço do
país, mais tarde: internacio-
nal —, a burguesia citadina
desenvolveu-se e conquistou
para si, em luta com a nobre-
za, ainda na Idade Média, a
sua inserção como estado
[Stand] igualmente privile-
giado na ordem feudal. Mas,
com a descoberta da Terra
extra-europeia, a partir de
meados do século quinze,
esta burguesia adquiriu um
campo de comércio muito
mais abrangente e, com isso,
um novo acicate para a sua
indústria; nos ramos mais
importantes, a oficina ar-
tesanal [Handwerk] foi su-
plantada pela manufactura
já fabril e esta foi-o de novo
pela grande indústria, torna-
da possível pelas invenções
do século anterior, nomea-
damente, a máquina a vapor,
[grande indústria essa] que,
de novo, retroagiu sobre o
comércio, ao suplantar, nos
países que tinham ficado
para trás, o antigo trabalho
manual e ao criar, nos mais
desenvolvidos, os presentes
novos meios de comunica-
ção: máquinas a vapor, ca-
minhos-de-ferro, telégrafos
eléctricos. A burguesia re-
uniu, assim, cada vez mais,
as riquezas sociais e o po-
der social nas suas mãos, en-
quanto, durante longo tempo
ainda, permaneceu excluída
do poder político que se en-
contrava nas mãos da nobre-
za e da realeza apoiada pela
nobreza. Mas, num certo es-
tádio — em França, desde a
grande revolução —, ela con-
quistou também este [poder
político] e, pelo seu lado, tor-
nou-se, então, classe domi-
nante face ao proletariado
e aos pequenos campone-
ses. A partir deste ponto de
vista — com conhecimento
suficiente da situação econó-
mica da sociedade de cada
altura, o qual falta, sem dú-
vida, totalmente aos nossos
historiógrafos de profissão
— explicam-se todos os fe-
nómenos históricos da ma-
neira mais simples e expli-
cam-se, do mesmo modo, de
maneira sumamente simples
as representações e ideias
de cada período da histó-
ria, a partir das condições
económicas de vida e das
relações sociais e políticas
desse período, por aquelas
por sua vez condicionadas.
A história foi pela primeira
vez colocada sobre as suas
bases reais; o facto palpável,
mas sobre o qual até aqui se
passou totalmente por cima,
de que os homens, antes de
tudo, têm de comer, beber,
abrigar-se e vestir-se, por-
tanto, têm que trabalhar,
antes de poderem lutar pela
dominação, fazer política,
religião, filosofia, etc. — este
facto palpável acedeu ago-
ra finalmente ao seu direito
histórico(18*).
Para a visão socialista,
porém, esta nova concep-
ção da história teve o maior
significado. Ela demonstrou
que toda a história até aqui
se move em oposições de
classes e lutas de classes,
que sempre houve classes
dominantes e dominadas,
exploradoras e exploradas
e que a grande maioria dos
homens sempre esteve con-
denada a trabalho duro e
pouca fruição. Porquê isto?
Simplesmente porque, em
todos os estádios anteriores
do desenvolvimento da hu-
manidade, a produção esta-
va ainda tão pouco desenvol-
vida que o desenvolvimento
histórico só podia ocorrer
nesta forma oposicional, que
o progresso histórico, grosso
modo, estava remetido à ac-
tividade de uma pequena mi-
noria privilegiada, enquanto
a grande massa permane-
cia condenada a conseguir
pelo seu trabalho o magro
sustento da vida para si e,
além disso ainda, para os
privilegiados que se tor-
navam sempre mais ricos.
Mas, a mesma investigação
da história que, desta manei-
ra, explica natural e racio-
nalmente a dominação das
classes até aqui — de outro
modo só explicável a partir
da maldade dos homens —
leva também à compreensão
[Einsicht] de que, em conse-
quência das forças de produ-
ção [Produktionskräfte], tão
colossalmente aumentadas,
do presente, se desvaneceu
também o último pretexto
para uma separação dos
homens em dominantes e
dominados, exploradores e
explorados, pelo menos, nos
países que mais progredi-
ram; de que a grande bur-
guesia dominante [já] cum-
priu a sua vocação histórica,
de que não está mais à altu-
ra da direcção [Leitung] da
sociedade e se tornou mes-
mo um obstáculo para o de-
senvolvimento da produção,
como as crises comerciais
e, nomeadamente, o últi-
31 DE JANEIRO A 6 DE JANEIRO DE 2022
mo grande craque[N46], e
a situação deprimida da
indústria em todos os paí-
ses demonstram; de que a
direcção histórica passou
para o proletariado, uma
classe que, por toda a sua
situação na sociedade, só se
pode libertar se, em geral,
eliminar toda a dominação
de classe, toda a servidão e
toda a exploração; e de que
as forças produtivas [Pro-
duktivkräfte] sociais que
extravasam das mãos da
burguesia apenas anseiam
pela tomada de posse [delas]
pelo proletariado associado
para estabelecerem um esta-
do [de coisas] que possibilite
a cada membro da sociedade
a participação, não apenas
na produção, mas também
na repartição e administra-
ção das riquezas sociais e
que aumente de tal modo as
forças produtivas sociais e
os seus rendimentos [Erträ-
ge], pela exploração plani-
ficada de toda a produção,
que a satisfação de todas as
necessidades racionais de
cada um permaneça assegu-
rada numa medida sempre
crescente.
A segunda descoberta
importante de Marx é o es-
clarecimento [Aufklärung]
definitivo da relação de ca-
pital e trabalho, por outras
palavras, a demonstração de
como, na sociedade actual,
no modo de produção capi-
talista existente, se completa
a exploração [Ausbeutung]
do operário pelo capitalis- te necessário incorporado isso a coisa de uma manei- o trabalho servo e que to-
ta. Desde que a economia na sua produção, portanto, ra totalmente diferente: Eu das estas formas da explo-
política estabeleceu o prin- também na sua reprodução; comprei, diz ele, a força de ração só se diferenciam pela
cípio de que o trabalho é a o valor da força de traba- trabalho deste operário, não maneira diversa em que o
fonte de toda a riqueza e de lho de um homem médio por seis horas, mas por um trabalho não-pago é apro-
todo o valor, tornara-se ine- durante um dia, mês, ano, dia todo e, em conformidade, priado. Com isto, porém, re-
vitável a pergunta: como é, [é determinado], portanto, faz o operário trabalhar, se- tirava-se também de debaixo
então, conciliável com isso pela quantidade de traba- gundo as circunstâncias, 8, dos pés a todos os ditos hi-
que o operário assalariado lho que está incorporada na 10, 12, 14 e mais horas, de tal pócritas das classes possi-
não receba toda a soma de quantidade de meios de vida modo que o produto da séti- dentes a última base, segun-
valor criada pelo seu traba- necessária para a manuten- ma, oitava e seguintes horas do a qual na ordem social
lho, mas tenha de entregar ção desta força de trabalho seja um produto de traba- actual reinam direito e jus-
uma Parte dela ao capita- durante um dia, mês, ano. lho não-pago e, que antes tiça, igualdade de direitos e
lista? Tanto os economis- Se admitirmos que os meios do mais, entra para o bolso de deveres e harmonia geral
tas burgueses como os so- de vida do operário, para um do capitalista. Deste modo, o de interesses; e desvendava-
cialistas se esforçaram por dia, requerem seis horas de operário ao serviço do capi- -se a sociedade burguesa de
dar uma resposta cientifi- trabalho para a sua produ- talista reproduz, não apenas hoje, não menos do que as
camente sólida à pergunta, ção ou, o que é o mesmo, que o valor da sua força de tra- suas predecessoras, como
mas em vão, até que final- o trabalho neles contido re- balho, pelo qual ele é pago, uma grandiosa instituição
mente Marx avançou com presenta uma quantidade de mas produz também, além para exploração da imensa
a solução. Esta solução é a trabalho de seis horas — en- e acima disso, uma mais-va- maioria do povo por uma mi-
seguinte: o modo de produ- tão o valor da força de tra- lia que, apropriada antes do noria mínima e que se torna
ção capitalista hodierno tem balho por um dia exprime-se mais pelo capitalista, no cur- cada vez mais pequena.
por pressuposto a existência numa soma de dinheiro que so ulterior, se reParte pela O socialismo científico,
de duas classes da socieda- igualmente incorpora em si classe toda dos capitalistas, moderno, fundamenta-se
de; de um lado, os capita- seis horas de trabalho. Se segundo leis económicas de- nestes dois factos importan-
listas, que se encontram na admitirmos, além disso, que terminadas, e forma o fundo tes. No segundo volume do
posse dos meios de produ- o capitalista que emprega básico [Grundstock] de onde Capital, estas e outras não
ção e dos meios de vida e, o nosso operário lhe paga saem renda fundiária, lucro, muito menos importantes
do outro lado, os proletários essa soma, [paga-lhe], por- acumulação de capital, em descobertas científicas [re-
que, excluídos dessa posse, tanto, o valor completo da suma, todas as riquezas con- ferentes] ao sistema capi-
apenas têm para vender uma sua força de trabalho. Se, sumidas ou acumuladas pe- talista de sociedade serão
única mercadoria: a sua for- agora, o operário trabalha las classes não-trabalhado- mais desenvolvidas e, com
ça de trabalho; e que, por- seis horas do dia para o ca- ras. Com isto era também elas, também os aspectos
tanto, têm que vender esta pitalista, ele reembolsou de demonstrado que a aquisi- da economia política ainda
sua força de trabalho para novo completamente esse ção de riqueza pelos capita- não aflorados no primeiro
ficarem de posse de meios seu desembolso — seis horas listas de hoje consiste tanto volume serão submetidos a
de vida. O valor de uma de trabalho por seis horas de na apropriação de trabalho um revolucionamento. As-
mercadoria é, porém, de- trabalho. Com isto, não fica- alheio não-pago como a do sim possa Marx em breve
terminado pela quantida- va por certo nada para o ca- dono de escravos ou a do se- poder entregá-los para im-
de de trabalho socialmen- pitalista e este concebe por nhor feudal que explorava pressão.
C4 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2022

Os mestres do passado
(continuação da pág. C1)
A timidez de Mário de
Andrade finalmente daria
lugar a uma militância em
prol das novas tendências
estéticas. Em 1922 ele foi ao
Rio de Janeiro arregimentar
artistas e escritores para a
Semana. Entretanto, antes
de dar à luz o nascimento do
Modernismo no Brasil, pre-
cisou chancelar o atestado
de óbito da cultura oficial.
O que era essa cultural
oficial? Os historiadores
mostram de maneira es-
quemática e falsa uma luta
entre o modernismo e o par-
nasianismo, como se fosse
uma guerra de doutrinas,
a tal ponto que as escolas
brasileiras inculcam nos
estudantes um preconcei-
to contra o parnasianismo
que carece completamente
de justificação. Nada pode-
ria ser mais falso. A cultura
oficial explorava em benefí-
cio próprio o enorme pres-
tígio do parnasianismo, seu
culto da forma, a virtuosi-
dade dos grandes escrito-
res como Bilac e os versos
de extraordinário apelo de
grandes artistas como Rai-
mundo Correia, Vicente de
Carvalho e Alberto de Oli-
veira, homens que perten-
ciam à geração dos maiores
escritores brasileiros, produ-
to da revolução que conduz
à República e que contava
com nomes como Machado
de Assis, Raul Pompéia, Rui
Barbosa e muitos outros. No
entanto, o que restava eram
apenas os exploradores ofi-
ciais de uma glória passada,
do talento alheio. Haviam
transformado o sistema par-
nasiano em uma receita mi-
serável que se transformou
em dogma. Os “mestres do
passado” serviam para dar
legitimidade a uma coisa há
muito tempo morta. Sua ati-
oficiais e institucionais do
prestígio da escola, uma
verdadeira burocracia lite-
rária. Com algumas exce-
ções eram de uma mediocri-
dade e de uma trivialidade
sem limite. Apresentavam os
grandes escritores como os
mestres de então. Mas para
os modernistas, eram mes-
tres do passado. A produção
cultural havia se transferi-
do. O caráter universalista
das doutrinas dos mestres
anteriores transformou-se
em ostentação da idolatria à
mais superficial cultura es-
trangeira em oposição ao
povo brasileiro, esmagado
pela oligarquia. O conven-
cionalismo ritual da forma,
um passaporte burocrático
para a aprovação dos me-
díocres em um sistema pura-
mente burocrático. A lingua-
gem culta se transformou
em uma verborragia vazia
de conteúdo, típica das bu-
rocracias provincianas e in-
cultas que o Brasil sempre
teve e continua a ter até hoje.
Nesse sentido, os modernis-
tas nunca lutaram contra o
“parnasianismo”, mas con-
tra o resultado pútrido da
decomposição da cultura
criada pela revolução re-
publicana e pela geração de
1879 e 1880, uma caricatura
grotesca.
Em 1921, Mário de An-
drade, reagindo às provo-
cações da crítica conserva-
dora, publicou no Jornal do
Comércio, graças ao incen-
tivo de Oswald, um artigo
intitulado, justamente, de
“Mestres do passado”. Nele,
Mário de Andrade passa em
revista os cinco nomes prin-
cipais do Parnaso, nesta or-
dem: Francisca Júlia, Rai-
mundo Correia, Alberto de
Oliveira, Olavo Bilac e Vicen-
te de Carvalho.
Mário começa o artigo
mostrando-se enojado com
Reprodução

vidade criativa era do sécu- as injustiças, as perversida-

lo XIX e seu canto de cisne
era da época da guerra. O
livro Tarde, sugestivo título,
de Olavo Bilac, que Mário
de Andrade considera como
uma culminação é, na rea-
lidade, o canto de cisne do
parnasianismo, um canto há
muito postergado.
O parnasianismo foi um
movimento literário que
pouco se manifestou fora da
França. O movimento abo-
licionista e revolucionário
brasileiro viu nele, nos seus
altos ideais, a corporifica-
ção da sua ideologia do Es-
tado racional e perfeito, e
recebeu-o de braços abertos,
produzindo grandes poetas
e juntamente com o realis-
mo, que é seu irmão de san-
gue em nosso país, a maior e
mais profícua geração literá-
ria que o Brasil já teve. Tal-
vez tenha sido a escola lite-
rária de maior importância
da cultura do país. Grandes
nomes como Olavo Bilac, Al-
berto de Oliveira, Francisca
Júlia, Vicente de Carvalho
e Raimundo Correia estão
entre os maiores nomes de
nossa literatura.
Mas por volta de 1910
esse veio estava exaurido.
Seus poemas já não apre-
sentavam novidade; era uma
produção repetitiva e que
não interessava mais aos
novos tempos. Os próprios
parnasianos o reconheciam.
Embora Poemas e Canções,
de Vicente de Carvalho só
viesse à luz em 1912, no mes-
mo ano da proclamação da
república, 1889, Raimun-
do Correia já considerava
o parnasianismo como su-
perado.
Mas nas primeiras déca-
das do século XX o establish-
ment literário era formado
pelos epígonos do parnasia-
nismo ou ainda mais preci-
samente por exploradores
des, leviandades e mentiras
que norteavam a crítica lite-
rária no Brasil. E afirma que
tudo o que se pretendia era
evitar o debate de questões
de fato pertinentes à arte e
à literatura, nada mais que a
verdade. E a reação de Má-
rio foi escrever “umas linhas
sobre os poetas parnasianos
do Brasil”.
E passa a elogiá-los desta
maneira: “Ó Mestres do Pas-
sado, eu vos saúdo!Venho de-
por a minha coroa de grati-
dões votivas e de entusiasmo
varonil sobre a tumba onde
dormia o sono merecido!”Os
mestres são louvados, mas,
agora, estão todos mortos e
sepultados. É a hora e a vez
da nova literatura.
Mas o artigo não é, de
maneira alguma, irônico ao
elogiar os poetas parnasia-
nos. É crítico, justo e profun-
do. Mostra o que tinham de
melhor esses poetas; revela
a beleza de seus versos, a
maestria com que criavam,
a precisão na escolha de pa-
lavras, no uso de imagens
e de figuras de linguagem.
Contudo, o artigo mostrava
também que era justamen-
te nesses mesmos aspectos
em que eram mestres que
eles falharam. Com o tempo
a criatividade os abandonou,
como acontece seguidamen-
te, e eles, sem terem mais
o que escrever, repetiam o
que já haviam feito: eram
as mesmas escolhas de pa-
lavras, as mesmas imagens,
as mesmas figuras, as mes-
mas metáforas. Eram velhos.
Mestres do passado.
E esses mesmos poetas
que saudou, que colocou no
mais alto patamar de nossa
literatura... esses mesmos
poetas Mário de Andrade
amaldiçoa. Porque, depois
de venerá-los, passou a odiá-
-los e negou-lhes a paterni-
dade.“Malditos para sempre
os Mestres do Passado! O
vosso exemplo... inda per-
turbará... a luminosa evo-
lução das artes? [...] Que o
Brasil seja infeliz porque vos
criou! Que a Terra vá bater
na Luz arrastada pelo peso
dos vossos ossos! Que o Uni-
verso se desmantele porque
vos comportou! E que não
Oswald de Andrade
Mário de Andrade
fique nada! nada! nada!”
E encerrará o artigo des-
ta forma:“Não. Melhor é que
tudo fique assim como está:
nem o Universo se desman-
tele, nem a Terra vá bater na
Lua, nem o Brasil seja infe-
liz. Mas que fique também
o riso, a alegria, a criança-
da! O Sr. Tristão de Ataíde
já verificou, citando Hegel,
que tudo isso é sintoma de
épocas de transição. Viva o
riso, a alegria, a ‘blague’! Es-
taremos nós por acaso numa
época de transição?”
Certamente estávamos
numa época de transição po-
lítica, social e cultural. No
mesmo ano em que ocorreu
a Semana de Arte Moder-
na, outros acontecimentos
se seguiriam a ela: o Levan-
te do Forte de Copacabana
– evento que marca o início
do movimento tenentista –,
a fundação do Partido Co-
munista do Brasil (PCB) e,
pouco depois, a decretação
do estado de sítio pelo presi-
dente Artur Bernardes.
Mas, ainda que os ante-
cedentes da Semana de Arte
Moderna tenham sido um
reflexo das mudanças por
que passava o país, e que
culminaram na Revolução
de 1930, em relação às artes
não se podia falar de uma
época de transição, a não ser
em sentido revolucionário.
Os Mestres do Passado esta-
vam mortos e a Semana de
Arte Moderna consolidada.
Ela foi, como vimos, produto
da agitação e das transfor-
mações por que passavam o
Brasil e o mundo. Não pode,
pois, ser considerada, como
propôs o articulista da Folha
de S. Paulo, um produto da
elite cafeeira. Foi uma rea-
ção direta a ela.