Questão de identidade: Heloisa ‘aposenta’ sobrenome

Buarque de Hollanda, adota Teixeira e explica troca SEGUNDO CADERNO

OGLOBO
ISSN 2178-5139

9 772178 513002

Irineu Marinho (1876-1925) (1904-2003) Roberto Marinho RIO DE JANEIRO, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE JULHO DE 2023 ANO XCVIII - Nº 32.851 • PREÇO DESTE EXEMPLAR NO RJ • R$ 5,00

INÊS249 AFP

CABE NO BOLSO Governadores se

Mercado opõem a Lula para
liderar direita
de seguros Com o vácuo na direita aberto pela inele-
gibilidade de Jair Bolsonaro, governado-

para baixa
res como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema
e Eduardo Leite têm marcado contraposi-
ção a Lula em temas caros a este eleitora-
do, como as escolas cívico-militares, para

renda vive
garantir espaço político nacional. PÁGINA 4

boom no país
ENTREVISTA/TEREZA CRISTINA

‘Se o PP tiver alguém

no governo, não será
Microempreendedor individual indicação do partido’
e autônomos recorrem ao modelo Troca de guarda Em meio a negociações da sigla por cargos, se-
nadora diz que o PP é de oposição e que even-
tuais nomeações não significarão adesão à ba-
Com oferta de serviços que vai da proteção residencial ao
pagamento de dívidas em caso de desemprego, o mercado de
na grama sagrada se de Lula. Ela defende manutenção em 2026
da aliança que apoiou Bolsonaro. PÁGINA 5
seguros acessíveis, que podem custar menos de R$ 10 por mês,
mais do que dobrou em cinco anos. Eles são focados na baixa
renda, em autônomos e microempreendedores individuais.
Há modalidades para garantir remuneração mensal em caso de
Constituição traduzida dá
acidente e até para ressarcir o valor do celular após furto. PÁGINA 11 pertencimento a indígenas
Carta Magna ganha sua primeira versão em
nheengatu, língua derivada do tupi e falada
por 25 mil pessoas de várias etnias. PÁGINA 8
Brasil tem 25 mil servidores com supersalários
que causam impacto de R$ 3,9 bilhões por ano
Levantamento do Centro de Liderança Pública mostra que a
CAMPEONATO BRASILEIRO
economia com o fim dos salários acima do teto do funcionalis-
mo, hoje em R$ 41,6 mil, seria maior nos estados. PÁGINA 12
Fla-Flu de gols anulados pelo
VAR favorece o líder Botafogo
FERNANDO GABEIRA
Rubro-negros e tricolores fizeram um
O extremismo e a tática do escândalo PÁGINA 2 clássico intenso, com polêmicas de
arbitragem, mas sem gols. Vantagem
alvinegra na liderança é de 12 pontos.
IRAPUÃ SANTANA
O exemplo sangue bom de Ludmilla PÁGINA 3
Disputa de arranha-céus,
NATÁLIA PASTERNAK
uma corrida sem limites
Liberar ozonioterapia é um erro PÁGINA 9 REPRODUÇÃO

JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS

Parem as máquinas! Rio ganha nova livraria SEGUNDO CADERNO

IMUNIZANTES NACIONAIS
Finep amplia investimento em vacinas brasileiras
visando romper dependência estrangeira PÁGINA 9

OBITUÁRIO/JANE BIRKIN
VALERY HACHE/AFP/8-7-2021

Uma vida
de ousadia
Nascida em Londres, atriz
e cantora foi um ícone
francês do cinema, da
música e na moda,
sempre com atitude de
vanguarda. SEGUNDO CADERNO

ARTE DE SHIKO

FAUNA E FLORA
Os Curupiras da vida real
na proteção à floresta 97 andares. O Tianjin Finance Centre, na China

No Dia Nacional do Protetor Símbolo externo de pujança econômica e

de Florestas, um caderno Um épico de 4h42 em Wimbledon confirma a transição de geração até atração turística, os arranha-céus não
dedicado ao tema traz uma do tênis. Carlos Alcaraz,de 20 anos, venceu a batalha saem de moda na Ásia. Os asiáticos já
coleção de histórias de quem de talento e esforço contra Novak Djokovic, de 36, e se garantiu dominam a lista, e a Malásia está prestes a
dedica a vida à preservação no topo do ranking mundial.Foi o segundo grand slam do espanhol, inaugurar o segundo prédio mais alto do
do bioma. CADERNO ESPECIAL batendo o sérvio dono do recorde histórico (23). ESPORTES mundo, de 670m. Confira o ranking. PÁGINA 21
2 |
Opinião do GLOBO
Ampliação do Brics
não é interessante
para o Brasil
Projeto chinês de aumentar
número de participantes visa a
criar bloco com viés antiocidental
O U
Bric, ainda sem o “s” de
África do Sul em inglês,
nasceu em 2001 como
acrônimo criado pelo
economista-chefe do
banco Goldman Sachs, Jim O’Neill,
para designar Brasil, Rússia, Índia e
China, vistos por ele como países
que aumentariam seu peso na eco-
nomia global. O’Neill estava certo, e
hoje há no Brics quem considere a
necessidade de ampliar o bloco, na
verdade um projeto chinês para
construir uma barreira aos interes-
ses do Ocidente, liderado pelos Es-
tados Unidos.
Cria-se assim uma encruzilhada
para o Brasil, que precisa manter
sua postura aberta nas instituições
multilaterais, mas sem se afastar
dos valores ocidentais que funda-
mentam sua política externa. Ana-
lista político e professor da Escola
de Relações Internacionais da Fun-
dação Getulio Vargas (FGV) em São
Paulo, Oliver Stuenkel lembra que a
China foi quem promoveu a entrada
da África do Sul no bloco, que para
os chineses deve ser algo mais am-
plo e centrado em Pequim. “Não é
uma estratégia secreta”, disse em
Saneamento precisa de investimento
privado para atingir universalização
Governo deveria preservar o Marco
Legal, em vez de fazer mudanças por
decretos que enfraquecem legislação
D
epois de um acordo no Se-
nado, onde se desenhava
mais uma derrota incô-
moda para o Planalto, o
governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva recuou na
proposta estapafúrdia de desfigurar
alguns dos pontos principais do Mar-
co Legal do Saneamento Básico, apro-
vado há três anos. Na quinta-feira, fo-
ram publicados decretos anulando
decisões equivocadas tomadas em
abril. Entre elas, a permissão para que
empresas estaduais deficitárias conti-
nuassem prestando o serviço sem lici-
tação e a autorização para que conces-
sionárias usassem contratos precários
para atestar capacidade de investi-
mento que não têm. Melhor assim.
Embora de modo geral o recuo tenha
agradado às empresas de saneamento
—os decretos anteriores eram absur-
dos —, a nova regulamentação ainda
mantém pontos polêmicos. Um deles é
o prazo até 31 de dezembro deste ano
para que as companhias comprovem
capacidade econômico-financeira pa-
ra realizar os investimentos, de modo a
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: João Roberto Marinho
VICE-PRESIDENTES: José Roberto Marinho e Roberto Irineu Marinho
O GLOBO
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20.230-240 • Tel.: (21) 2534-5000 Fax: (21) 2534-5535
entrevista ao GLOBO. É natural
uma grande potência ascendente
ter a ambição de construir um siste-
ma de governança global que, de al-
guma forma, reflita esse poder.
Para o Brasil, o Brics é uma forma
de o país construir sua postura não
alinhada, em um mundo multipo-
lar. Contanto que o não alinhamen-
to não se confunda com o velho ter-
ceiro-mundismo, o delírio de uma
grande aliança de países pobres e re-
mediados para se contrapor a
Washington. Isso nunca funcionou,
mas ecos aparecem aqui e ali vez
que outra. Antes de assumir o poder
em janeiro, Luiz Inácio Lula da Silva
cometeu o equívoco de dar o mes-
mo peso à Rússia agressora e à Ucrâ-
nia invadida — posição posterior-
mente revista.
O Brasil possui laços importantes
com instituições lideradas por po-
tências ocidentais, como o FMI e o
Banco Mundial. Nos últimos anos,
estreitou a aproximação com a Or-
ganização para a Cooperação e De-
senvolvimento Econômico (OC-
DE). O Brics compõe essa malha de
relacionamentos, que precisa ter
um equilíbrio coerente.
cumprir as metas fixadas: levar água a
99% e coleta de esgoto a 90% dos brasi-
leiros até 2033. Originalmente, o prazo
ia até março de 2022. Foi mantida tam-
bém autorização para que empresas in-
capazes de comprovar solidez finan-
ceira possam apresentar um plano de
metas futuramente. Estima-se que em
pelo menos um quinto dos municípios
brasileiros as companhias não tenham
capacidade para fazer os investimentos
necessários.
Oideal era que o governo mantivesse
a legislação tal como foi aprovada em
2020. O Marco do Saneamento é uma
conquista da sociedade para tentar re-
verter os indicadores indigentes do se-
tor. Segundo o Sistema Nacional de In-
formações sobre Saneamento (SNIS),
35 milhões de brasileiros não têm aces-
so à água e 100 milhões são privados de
coleta de esgoto, números que deveri-
am envergonhar qualquer país. Entre
os muitos méritos da legislação aprova-
da, está a abertura do setor à iniciativa
privada, aumentando a competição, a
capacidade de investimentos e a efici-
ência dos serviços.
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O projeto chinês de expandir o
Brics não contava inicialmente
com a possibilidade de apoio da
Rússia, que também rejeita a ampli-
ação do Conselho de Segurança da
ONU, contra os interesses do Brasil.
“Só que agora, com a guerra na
Ucrânia e a pressão ocidental, a ex-
pansão do Brics faz mais sentido pa-
ra a Rússia”, opina Stuenkel. Afinal,
distante do Ocidente, Moscou pas-
sou a ser mais dependente de Pe-
quim, e o que Xi Jinping propuser,
Vladimir Putin tenderá a apoiar.
A maior aproximação da Rússia
com a China cria no bloco um eixo
francamente antiocidental. Entre
os diversos argumentos contra a ex-
pansão do grupo há o do tamanho:
se o número de países participantes
fosse decisivo para o Brics, o G77,
coalizão de países em desenvolvi-
mento na ONU, seria poderoso,
mas não é. Ex-embaixador em Pe-
quim, Luiz Augusto de Castro Ne-
ves também não vê sentido na am-
pliação, que, para ele, se tornaria
“um G20 do B” . O centenário Ita-
maraty tem experiência suficiente
para ajudar o governo a não cair nu-
ma armadilha diplomática.
Um estudo feito pelo Trata Brasil em
parceria com a GO Associados mostra
que, para atingir as metas de universa-
lização até 2033, os investimentos em
saneamento teriam mais que dobrar.
Nos últimos cinco anos, a média foi de
R$ 20 bilhões anuais, mas seriam ne-
cessários R$ 44,8 bilhões. É evidente
que as companhias estaduais, que por
décadas dominam o setor, não têm or-
çamento para isso. Daí a importância
da iniciativa privada.
O governo Lula, eleito com o discur-
so de priorizar os pobres, deveria estar
interessado em dar-lhes condições dig-
nas de vida, o que inclui a garantia de
serviços básicos. É inadmissível que
em pleno século XXI ainda haja brasi-
leiros sem água tratada nas torneiras e
com esgoto a céu aberto na porta de ca-
sa, aumentando o risco de doenças. Es-
sa situação degradante não será reverti-
da num passe de mágica, mas com in-
vestimentos maciços e vontade políti-
ca. O Marco do Saneamento é um ins-
trumento poderoso para alcançar a al-
mejada universalização. Querer enfra-
quecê-lo é flertar com o retrocesso.
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Segunda-feira 17.7.2023 | OGLOBO
Artigos
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FERNANDO
GABEIRA
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Extrema direita e a
tática do escândalo
m dos problemas de estudar a História da extrema direita
é que, às vezes, durmo no sofá e tenho curtos pesadelos.
Supremacia branca, antissemitismo, homofobia, raiva de
mulheres —cada grupo tem seu gosto, e juntos formam a
chamada direita alternativa —alt-right.
Uma coisa que aprendi nas horas de estudo e vigília é que a
extrema direita tem uma tática de escandalizar para emergir
no chamado mainstream. Foi assim quando Hillary Clinton,
nas eleições de 2016, mencionou a alt-right. Muitos grupos
celebraram por terem sido citados.
— Conseguimos entrar na cabeça dela — postaram
nas suas redes.
Sou pai de professora e tenho tudo para estar indignado
com o deputado Eduardo Bolsonaro, que comparou os mes-
tres brasileiros a traficantes de drogas.
No entanto não posso deixar de colocar sua fala no contex-
to, como dizíamos antigamente. O pai foi derrotado na vota-
ção da reforma tributária.
Nesse quadro de isolamento, uma tábua de salvação é
precisamente dizer algo bombástico. Os adversários
comentam e movem processos, o próprio governo
manda investigar.
Um encontro insignificante de pessoas que defendem
armas acaba tendo uma divulgação que o salvou de passar
completamente em branco, ou em cinza, dependendo de
como se avalia o anonimato.
Sempre se pode questionar a racionalidade política de
quem escolhe frases bombásticas para marcar posição. Mas
a análise básica é que existe um sistema opressor, e quem se
levanta contra ele, não importa como, acaba ganhando
adeptos. Em outras palavras, vivemos na matrix e precisa-
mos distribuir pílulas vermelhas da rebeldia. Isso pode ter
acontecido num certo momento. Mas é conjuntural.
A extrema direita personificada por Bol-
Os últimos sonaro caminha para anos difíceis. Assim
acontecimentos como Trump, com o Partido Republicano,
no interior do PL Bolsonaro também se abriga em partidos
mostram que o que não criou. Ambos são uma espécie de
bolsonarismo hóspedes barulhentos que exigem seus di-
não tarda reitos com base nos votos que atraem.
muito a Bolsonaro não pode ser candidato, sua ta-
virar a mesa refa se limita à de um cabo eleitoral. Mas os
últimos acontecimentos no interior do PL
mostram que o bolsonarismo não tarda muito a virar a
mesa. O grupo de zap do partido foi interrompido por
causa da troca de insultos entre seus membros.
Obolsonarismo já implodiu um partido, o PSL. A bancada
eleita em 2018, na esteira do líder carismático, se liquidou
em lutas fratricidas. É previsível que se destruam. Foram for-
mados num contexto de redes sociais, guiados pela lógica al-
gorítmica, confrontos, trolagem e indignação.
No período pré-digital, os quadros se formavam com reu-
niões presenciais, assembleias, formação de correntes, tro-
cas e discussão de documentos. O processo de se iniciar na
política implicava um certo aprendizado em negociação,
num nível de tolerância com as ideias diferentes.
As novas lideranças formadas pela direita privilegi-
am as redes e usam seus smartphones, como crianças
egocêntricas. Sua sobrevivência depende do confron-
to, do atrito e da sensação.
De uma certa maneira, é fácil prever que não se acomo-
dam num partido de direita tradicional e que vão fustigá-lo
como a alt-right fustiga os republicanos.
Há uma diferença talvez no tratamento do adversário mais
próximo. Como a luta racial e também sexual tem um peso
marcante nos Estados Unidos, os conservadores moderados
são tidos como machos beta pela alt-right. Aqui no Brasil, co-
mo o perigo do comunismo ainda é um grande tema, são trata-
dos como melancias, verdes por fora, vermelhos por dentro.
Mas o fato nacional, diferente dos Estados Unidos e da
própria Europa, é o que o principal nome da extrema di-
reita não pode concorrer. Isso dá fôlego, mas, se não
houver uma tática correta para isolá-la e se o mundo po-
lítico ficar de costas para a sociedade, tudo pode aconte-
cer. Bolsonaro foi produto de um momento, novos mo-
mentos trazem consigo novas produções.
(preço de segunda a domingo) AGÊNCIA O GLOBO DE NOTÍCIAS: Venda de noticiário:
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OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023 Opinião | 3

_ SEG _ Fernando Gabeira _ Demétrio Magnoli (quinzenal) _ Miguel de Almeida (quinzenal) _ Edu Lyra (quinzenal) _ Irapuã Santana (quinzenal) _ Washington Olivetto (quinzenal)
_ TER_ Merval Pereira _ Carlos Andreazza _ QUA_ Vera Magalhães _ Elio Gaspari _ Bernardo Mello Franco _ Roberto DaMatta (quinzenal) _ QUI_ Merval Pereira _ Malu Gaspar
_ SEX_ Vera Magalhães _ Flávia Oliveira _ Pedro Doria _ Bernardo Mello Franco _ SÁB_ Carlos Alberto Sardenberg _ Eduardo Affonso _ Pablo Ortellado _ DOM_ Merval Pereira _ Dorrit Harazim _ Bernardo Mello Franco

MIGUEL DE IRAPUÃ
ALMEIDA SANTANA

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A direita e a Ludmilla dá
extrema direita o sangue
N o momento em que escrevo, Bolsonaro se
assemelha ao aspartame, ambos com mui-
to passado e nenhum futuro. Intitulado líder da
A cantora Ludmilla prometeu dar
um ingresso de seu show “Numa-
nice” para cada pessoa que doasse
direita brasileira, se encontra encostado como sangue entre os dias 5 e 7 de julho no
funcionário bem remunerado do Valdemar; no Rio de Janeiro.
papel de mau oficial, ainda em liberdade, obser- Como resultado, recordes de doações
va seus arruaceiros atrás das grades. foram batidos. O interessante é que o a-
Nem muito longe que o esqueçam, nem núncio foi feito no dia 4 do mesmo mês e
muito perto que o comprometam, antigos viralizou, chegando a 550 doações num
correligionários saem disfarçadamente da primeiro dia e 535 no segundo, que ago-
cena do crime; pé atrás de pé, traçam no chão ra figuram nos dois primeiros lugares
uma linha de separação, a começar pela no- históricos, desde 1944, segundo as infor-
minação —Bolsonaro seria de extrema direi- mações do Hemorio.
ta; eles, como Valdemar, aquele que paga o sa- O impacto disso é que as 2.015 bol-
lário, ou ainda Ciro Nogueira ou Marcos Pe- sas de sangue poderão ajudar no tra-
reira, se dizem apenas de direita. tamento de saúde de 8.060 pessoas,
Seria educativo não fosse balela, a deno- considerando que cada uma pode sal-
minação gritada pelos ex-bolsonaristas: o var até quatro vidas.
que é ser direita e extrema direita? A dife- Ao ver os números, eu pensei que este
rença estaria entre aquele que já fugiu e o seria um belíssimo caso em que a eco-
que ainda não caiu a ficha. nomia comportamental pode explicar
Dois momentos recentes, de fato cons- o fenômeno. Ela é uma disciplina que
trangedores pelo mau roteiro, escandem o surge da incorporação, pela economia,
desabrigo dos extremistas do capitão. de desenvolvimentos teóricos e desco-
Na primeira cena, encontra-se o ministro ral —o que poderia ser visto como maturida- Parlamento, ameaçavam as mulheres, levanta- bertas empíricas no campo da psicolo-
madeireiro, o hoje deputado Ricardo Salles, de econômica, além luta de classes —e se vê vam maldições. Até que as hordas de seguidores gia, da neurociência e de outras ciênci-
em gesticulações apopléticas diante das eclipsado pela extrema direita de auditório. É —como já aconteceu no Brasil recente —mata- as sociais. Numa via diferente da tradi-
ponderações de Tarcísio de Freitas —a di- uma incongruência em princípio, mas o bra- ram seus desafetos políticos em discussões de cional, por meio dessa área de estudo se
reita não pode perder o bonde da reforma, sileiro, até o momento em que escrevo, já se beira de balcão. Deus, Pátria, Família. entende que as pessoas decidem não
dizia o governador paulista. Salles, espécie acostumou a ventríloquos e a enredos surre- Diante de quem incendeia a própria roupa, apenas pela racionalidade, mas tam-
de Carla Zambelli com calça de tergal, ten- ais. Haja vista a Michelle. os profissionais do Centrão se afastam ao tra- bém com base em hábitos, experiência
tava manchar o antigo companheiro de mi- Na segunda cena, na CPI dos Ataques Golpis- çar no chão a linha para identificar o que seria pessoal e regras práticas simplificadas.
nistério como um direitista arredio. Tal um tas, os bolsonaristas indolentes se entregam a de fato a direita —e não a extrema direita en- Aceitam soluções apenas satisfatórias,
jurado de programa de calouros, com ensai- um deus-dará de insultos e aleivosias, glossário carnada por Salles. É uma questão de oportu- buscam rapidez no processo decisório,
ada indignação, rodava o terninho apertado da incivilidade dicionarizada pelo capitão. De- nidade. Valdemar e Ciro sabem somar, divi- têm dificuldade em equilibrar interes-
sem conseguir argumentar por que todos putados de retórica de WhatsApp, alavancados dir e subtrair (aqui sem ironia); notaram en- ses de curto e longo prazo e são forte-
ali deveriam ser contra a reforma tributá- por posts homofóbicos e manipuladores da in- fim que perderam a eleição com a máquina mente influenciadas por fatores emoci-
ria. Estivesse num palco sério, seria vaiado segurança pública, oferecem a Deus, Pátria e na mão; depois de todos os golpes econômi- onais e pelo comportamentos dos ou-
pelo exagero de esgares, pela voz em desa- Família uma reedição, com o dinheiro dos con- cos, se viram derrotados e diante de uma soci- tros. Assim, as influências psicológicas,
balado falsete e pela qualidade do texto em tribuintes, do culto da porta dos quartéis. edade que cobra o escândalo dos 700 mil emocionais, conscientes e inconscien-
improviso —ideologicamente a nova pro- Diante de tamanha inanição ideológica, de mortos da pandemia. Melhor virar casaca. tes que afetam o ser humano em suas
posta tributária é de caráter liberal, jamais assanhada autoimolação política, percebe-se Acena da reunião do PL, com os bozofascis- escolhas são incorporadas aos modelos.
aparentada ao perfil de personagens estati- como o fechamento dos bingos gerou uma tas tentando calar Tarcísio de Freitas, remete Dito isso, sabemos
zantes como Dilma Rousseff e Guido Man- facção desamparada de opções de lazer. ao final da ditadura militar. Diante do impas- Cantora e que somos influenci-
tega, de triste memória. Bem fez Romeu Zema ao lembrar Benito se trazido pela candidatura de Paulo Maluf, sua equipe ados pelo meio em
São as contradições forjadas pelo indigesto Mussolini num post revelador de sua crença no Colégio Eleitoral, o presidente da Arena, gabaritaram e que vivemos. Dentro
subdesenvolvimento do debate político bra- política. Trouxe à cena do crime a lembrança José Sarney, então um governista de quatro fizeram uma dessa perspectiva, a
sileiro. O que parece ser tatu é abelha; e o que dos espancadores de reputação, os histéricos costados, rasgou a bandeira e abandonou o campanha persuasão se torna a
parece ser capitão é um paletó largado no en- fascistas que conduziram a Itália ao abismo na- barco dos generais. Sua dissidência o levou a de manual, estratégia de comu-
costo da cadeira. Um governo visto como de zista. Está lá no “Filho do século”, de Antonio compor a chapa com Tancredo Neves, pondo merecendo os nicação mais utiliza-
esquerda oferece um embrulho de cepa libe- Scurati: na falta de argumentos, gritavam no fim a 21 anos de regime autoritário. nossos aplausos da para exercer essa
influência. E ela será
exercida por incentivos, que são bati-
zados como nudge.
WASHINGTON Nos últimos tempos, passou por uma re-
forma geral, em um trabalho liderado pelo
cortes, num dos andares da loja. Lá também
pode ser visto o famosíssimo diamante ama-
Mas se engana quem acha que é um
meio de convencer as pessoas a fazer o
OLIVETTO CEO Global da empresa, Anthony Ledru.
Francês de nascimento, casado com uma
relo. Aliás, segundo especialistas, os diaman-
tes amarelos são um ótimo investimento, pois
que não querem. Na verdade, o objetivo
é instigá-las a tomar decisões que pro-
argentina e radicado nos EUA há muito tem- estão cada vez mais raros. porcionarão bem-estar ou alguma com-
po, Anthony adora o Brasil e os brasileiros: Dos dez andares do prédio, sete são centro pensação positiva. Hoje se sabe que nos-
prestigia ao máximo seu vice-presidente e di- cultural e loja, um contém os escritórios ad- sas decisões não são 100% racionais. É o
blogs.oglobo.globo.com/opiniao retor executivo para o norte da Europa e Áfri- ministrativos e dois têm espaços abertos emocional que conduz esse processo, as-
washington@washingtonolivetto.com.br
ca, Alexandre Rodrigues Frota; admira a fa- que podem ser alugados para grandes even- sociado à experiência acumulada e ao
mília Auriemo, do Grupo JHSF; e considera o tos. Em cada andar, existem desde coisas reconhecimento, na grande maioria das
Bonecona de luxo restaurante Fasano, de Gero Fasano, a grande
novidade gastronômica de Nova York. Para
fazer a reforma da Tiffany, Anthony Ledru
históricas, que valem milhões de dólares,
até produtos considerados acessíveis para o
público jovem, recentemente criados.
vezes. É aí que entra o empurrãozinho
para combinar as estratégias sensoriais e
emocionais. Comparando com outros
G randes marcas precisam se renovar de tem-
pos em tempos. Isso vale para produtos de
consumo maciço, como a Coca-Cola, e tam-
contratou o arquiteto Peter Marino, amigo de
Andy Warhol e do pessoal da Factory, e autor
de reformas históricas como a dos prédios da
No meio de tudo isso, encontra-se uma sa-
la com a projeção de cenas do filme “Break-
fast at Tiffany’s” e o vestido e as joias que Au-
períodos, temos a real dimensão de tu-
do. Os dados mostram que em fevereiro
de 2022 a média diária era de menos de
bém para produtos elitizados, como a Chanel. Barneys em Nova York, da Chanel em Tóquio drey Hepburn usou durante a filmagem. 240 doações e, segundo o próprio He-
Ogrande desafio em qualquer um dos casos e da Dior em Paris. Em outro andar, podem ser vistos os dia- morio, essa média foi melhor do que a
é renovar a marca sem perder seu DNA, algo Na Tiffany de Nova York, Marino criou, mantes que Richard Burton dava de presen- dos anos anteriores.
que tanto a Coca-Cola quanto a Chanel fa- em dez andares, com 10 mil metros quadra- te a Elizabeth Taylor. E para quem quiser Veja que podemos até jogar bingo
zem com perfeição. dos de área construída, um centro cultural um café da manhã, almoço ou chá da tarde aqui. Recompensa: se você doar sangue,
Nos últimos tempos, quem está se reno- chamado Landmark, onde varejo e arte se no Tiffany Blue Box Cafe, existe o café cria- terá direito a ir ao show especial da Lud.
vando é a Tiffany. Depois de ser comprada misturam o tempo todo. As obras da Tiffany do por Daniel Boulud. Escassez: show marcado para um sába-
pelo bilionário francês Bernard Arnault, a convivem com mais de 40 obras de grandes Dos dez andares do prédio, os únicos não do, o anúncio ocorreu na terça anterior,
Tiffany começou a rejuvenescer em sua for- artistas. abertos ao público são o andar administrati- as portas abriram no dia seguinte e se fe-
ma, sem abrir mão de seu conteúdo. Já no primeiro andar, há um quadro de vo e o último, que tem sala de jantar, salas de charam na sexta. Prazo curto, custo zero,
Criou produtos para serem usados por Basquiat, com a cor da Tiffany no fundo, o reunião, mesas para demonstração e prova eisso leva ao último ponto. Pela referên-
ícones da cultura pop, como Beyoncé. Pa- famoso azul Tiffany, criado em 1845. de joias, concierges à disposição e uma es- cia, temos pessoas que gostam de samba
trocina os espetáculos da artista e de seu Estrategicamente espalhadas pelo pré- petacular biblioteca com raridades, inclu- epagode. Aí a memória afetiva se ativa e,
marido, Jay Z. E realizou uma espetacular dio, existem obras de Damien Hirst, Julian indo o primeiro exemplar do livro “Break- então, até quem não planejava ir passa a
reforma em sua histórica loja da Quinta Schnabel, Rashid Johnson, Anna Wintour, fast at Tiffany’s”, junto com algumas folhas considerar a possibilidade.
Avenida, próxima à Rua 57, em Nova York. Daniel Arsham e Vik Muniz. dos originais com anotações e correções fei- Nessa linha, é necessário identificar,
Aquela loja, que foi a primeira casa de arti- As peças históricas da Tiffany estão em ex- tas à mão por Truman Capote. Esse andar só entre outras coisas, o poder da recom-
gos de luxo próxima ao Central Park e tam- posição com as devidas explicações. Lá, o visi- abre para reis e rainhas, príncipes e prince- pensa, a noção de escassez e ter uma re-
bém a primeira a ter um relógio voltado pa- tante aprende que os diamantes da Tiffany sas, grandes estadistas, bilionários, celebri- ferência emocional. Ludmilla e sua
ra a rua, ficou mundialmente conhecida brilham mais do que outros diamantes da dades e cerebridades. equipe simplesmente gabaritaram e fi-
por meio do filme “Breakfast at Tiffany’s”, mesma qualidade, devido ao seu corte exclu- Como o criador da marca, Charles Lewis zeram uma campanha de manual, me-
estrelado por Audrey Hepburn em 1961, e sivo, que gera um efeito espelho. Alguns lapi- Tiffany, que se tornou célebre graças ao seu recendo os nossos aplausos, admiração
se manteve igual por mais de 80 anos. dadores podem ser vistos trabalhando nesses cérebro. —e que busquemos replicar.
4 |
Política
Campos opostos. Lula em reunião que teve a presença de governadores, em janeiro: chefes do Executivo do Sul e Sudeste, como Tarcísio de Freitas e Cláudio Castro (primeiro e terceiro à mesa) tentam reforçar imagem de oposição de olho em 2026
SINAIS DE DIVERGÊNCIA
Governadores reforçam contraposição
a Lula de olho em vácuo pós-Bolsonaro
MARLEN COUTO
marlen.couto@oglobo.com.br
-
E m meio à disputa pelo es-
pólio do ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL), a rea-
ção ao fim do programa fe-
deral de escolas cívico-mili-
tares reforça uma estratégia
de governadores do Sul e
Sudeste cotados para a pró-
xima disputa presidencial: a
de enfatizar ao eleitorado
contrapontos ao governo
Lula. O episódio se soma a
outras sinalizações de diver-
gências à gestão petista nos
últimos meses, principal-
mente na área econômica.
Embora tenha ocorrido
em 13 estados —não restrito
apenas aos governados por
nomes alinhados ao bolso-
narismo —, o anúncio de
continuidade dessas escolas
recebeu defesa mais enfáti-
ca de aliados do ex-presi-
dente, principalmente em
regiões nas quais Bolsonaro
teve melhor desempenho
eleitoral em 2022. O gover-
nador paulista, Tarcísio de
Freitas (Republicanos), foi
um dos primeiros a se mani-
festar pouco depois do co-
municado federal, ao lado
de Ratinho Júnior (PSD), do
Paraná, e Ibaneis Rocha
(MDB), do Distrito Federal,
também apoiadores do ex-
presidente. Ao abordar o te-
ma, o mineiro Romeu Zema
(Novo) aproveitou para ace-
nar às Forças Armadas ao
elogiar “a tradição, a disci-
plina e o prestígio” das insti-
tuições de ensino.
O posicionamento enfáti-
co ocorreu após mandatári-
os aliados a Bolsonaro se
manifestarem a favor da Re-
forma Tributária, aprovada
na Câmara dos Deputados e
encampada pelo governo
Lula. O apoio ao texto gerou
desgaste entre Tarcísio e
Bolsonaro, que orientou no
PL voto contrário à propos-
ta. O governador chegou a
ser alvo de ataques da base
bolsonarista nas redes.
Apesar do alinhamento a LADOS OPOSTOS
Lula na Reforma Tributária,
os governadores do campo
da direita já fizeram uma sé-
rie de críticas à gestão fede-
ral na agenda econômica.
Um dos principais focos são
as pressões de Lula ao presi-
dente do Banco Central, Ro-
berto Campos Neto, por
manter a taxa de juros em
13,75% ao ano. O grupo
também se uniu ao se posi-
cionar contra os decretos do
petista publicados em abril
que buscavam flexibilizar o
Marco Legal do Saneamen-
to Básico. Após derrotas no
Congresso, o governo re-
cuou e costurou com o Se-
nado alternativa à medida.
Mesmo nomes que tentam
uma aproximação com Lula
mantiveram críticas nesses
temas. Foi o caso do governa-
dor do Rio Grande do Sul,
Eduardo Leite (PSDB).
— A tentativa de rever o
marco do saneamento é um
retrocesso —disparou Edu-
ardo Leite em entrevista ao
GLOBO, em maio.
Embora já tenha recebido
o petista e ministros no esta-
do, o tucano adota estraté-
gia oposta a de sua correligi-
onária, a governadora de
Pernambuco, Raquel Lyra,
que enfatiza a neutralidade.
Outro tema usado pelos
governadores para marcar
diferenças com Lula são as
ações do MST, alvo de uma
CPI no Congresso e aliado
do petista, e a exaltação ao
agronegócio. Em abril, Ro-
naldo Caiado, de Goiás, fa-
lou que em seu estado não
existe “mês vermelho”, em
referência ao termo usado
para tratar o avanço de in-
vasões, e que já havia acio-
nado as forças de segurança.
Em outra frente, o chama-
do Consórcio de Integração
Sul e Sudeste (Cosud), que
reúne os executivos dos es-
tados das duas regiões, tenta
reproduzir o modelo adota-
2ª Edição Segunda-feira 17.7.2023 | OGLOBO
ALÉM DE MORAES PARA
ACESSAR
STF: ministros já foram alvos de ataque APONTE
O CELULAR
PARA
NA WEB Relembre casos em que magistrados da Corte foram agredidos verbalmente O QR CODE
RICARDO STUCKERT/PR/9-1-2023
do por gestões do Nordeste
na oposição em bloco ao go-
verno anterior.
O Cosud também se trans-
formou em um espaço para
marcar posição, fazer arti-
culação política e se proje-
tar nacionalmente. Embora
tenha sido criado em 2019,
só agora foi oficializado.
Dois encontros foram reali-
zados este ano, o último em
junho, em Belo Horizonte.
Zema citou, no evento, que
a inspiração foi o Consórcio
Nordeste, que ganhou pro-
tagonismo com o enfrenta-
mento a Bolsonaro.
OCUPANDO ESPAÇO
Diretor da empresa de pes-
“
ESCOLAS CÍVICO-MILITARES Fui aluno de Colégio Militar e quisa Quaest e professor de
Após o Ministério da Educação sei da importância de um
encerrar o programa, 13 governadores ensino de qualidade e como
Ciência Política da Univer-
anunciaram sua continuidade nos
é preciso que a escola sidade Federal de Minas Ge-
estados. Tarcísio de Freitas, Ibaneis
Rocha e Ratinho Jr. se manifestaram transmita valores corretos rais (UFMG), Felipe Nunes
horas depois do comunicado federal. O TARCÍSIO DE FREITAS, para os nossos jovens” avalia que os governadores
em postagem nas
mineiro Romeu Zema aproveitou para
fazer acenos às Forças Armadas. redes na semana
aproveitam oportunidades
passada abertas pelo governo Lula
para ocupar espaço na opo-
sição e reforçar seu alinha-
“
BANCO CENTRAL Nós tivemos discursos
As recorrentes críticas de Lula ao desencontrados (de Lula), mento ideológico com a ba-
presidente do Banco Central,
Roberto Campos Neto, por manter a
contra avanços obtidos nos se bolsonarista. Um exem-
últimos anos. Há tópicos plo do impacto dessa agen-
taxa de juros em 13,75% ao ano,
sensíveis, como a questão
motivaram reação. Em maio, Tarcísio
saiu em defesa de Campos Neto e o ROMEU ZEMA, do Banco Central" da para o eleitorado mais
chamou de “genial” e “brilhante”. em agenda com distante do PT, aponta o ci-
Zema e o governador do Rio Grande governadores entista político, é a posição
do Sul, Eduardo Leite, passaram a no Rio
enfatizar a defesa da autonomia da
adotada pelo prefeito do
instituição financeira. Rio, Eduardo Paes (PSD),
que também anunciou a
continuidade de uma escola
“
MARCO DO SANEAMENTO A tentativa de rever o marco do
Decretos do governo Lula publicados saneamento é um retrocesso. O cívico-militares em funcio-
em abril que flexibilizam o Marco do
Saneamento também entraram na
presidente diz que tem que se namento na cidade.
mira dos governadores. Tarcísio e
dar um voto de confiança às — Primeiro, esses gover-
empresas estatais. Esse voto foi
Eduardo Leite, por exemplo, chama-
dado durante décadas e pouco
nadores mostram que não
ram a medida de “retrocesso” em EDUARDO LEITE,
entrevistas e publicações nas redes em entrevista ao conseguiram atender às são Lula, mesmo sendo de-
sociais. Após derrotas no Congresso, GLOBO em maio expectativas de investimentos" mocráticos e mantendo en-
o governo costurou com o Senado
uma alternativa à medida.
contros e reuniões com o
presidente. Segundo, não
querem passar (imagem) de
“
MST E AGRONEGÓCIO Em Goiás deixei claro para as
Foco de uma CPI no Congresso, o MST é forças de segurança. Todos
traidores e repetir a situação
outro alvo de oposição. Zema já chegou os meses são verde de governadores como João
a dizer que não iria mais "tolerar
invasão de terra” em Minas, enquanto
e amarelo. Não tem mês Doria e Wilson Witzel —ex-
Tarcísio defendeu "cadeia para invasor vermelho no meu estado de plica Nunes.
de terra" em evento com produtores RONALDO CAIADO, Goiás e não aceito invasão Pesquisador da Universi-
rurais. O governador de Goiás, Ronaldo durante evento de propriedade rural"
Caiado, também faz com frequência em abril dade Federal do Rio de Ja-
ataques ao movimento, que é aliado de neiro (UFRJ), o cientista
Lula. Enquanto o presidente enfrenta
desgaste com o agronegócio, os
político Josué Medeiros
governadores costumam exaltar o setor acrescenta que os posicio-
em discursos e postagens. namentos expressam o de-
safio de reorganizar o cam-
po bolsonarista. Os gover-
“
OPERAÇÕES NO RIO Eu sonho com um dia em que o
No Rio, Cláudio Castro já se contrapôs
ao governo Lula ao defender a
Estado entre para arrumar a nadores buscam se descolar
realização de operações policiais em
segurança pública, não venha do ex-presidente, sem aban-
uma ministra de Estado
favelas. A manifestação ocorreu em
criticar a polícia porque entrou donar pautas importantes
abril, após a ministra da Igualdade
Racial, Anielle Franco, criticar a invasão CLÁUDIO CASTRO, no Ciep (escola pública) para para seu eleitorado.
pela polícia militar fluminense de uma ao rebater fala tirar o bandido que tinha —Se a disputa na esquer-
escola pública na favela da Maré. de Anielle Franco invadido o Ciep” da se organiza pelos parti-
dos, para essa direita, eles
“
PORTO DE SANTOS Digo e repito: a privatiza- não importam. A chave de
O tema opõe Tarcísio e a gestão
Lula. Enquanto o governador
ção do Porto de Santos organização são as gestões
tem potencial para
defende sua privatização para
transformar a realidade da estaduais. Por isso, o foco
ampliar investimentos e gerar
empregos, o que não é cogitado Baixada Santista, pois ela em quem vai ser a liderança
pelo governo federal. Ministro dos TARCÍSIO DE FREITAS, traz a maior oportunidade do bolsonarismo está nos
Portos e Aeroportos, Márcio França em entrevista de mobilizar capital em governadores, que têm uma
descartou a medida sob o em maio pouco tempo"
argumento de que o porto tem gestão e resultado prático
importância estratégica. para mostrar e uma máqui-
EDITORIA DE ARTE
na à disposição.
OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023 Política | 5

BRENNO CARVALHO
ENTREVISTA plada, mas tem coisas ainda.
Tereza Cristina / LÍDER DO PP NO SENADO O trabalho pesado ficou para
o Senado. Temos um ponto,
Senadora diz que não há chance da sigla integrar que é o artigo 20, que não é só
a base, afirma que é cedo para debater eleições e para agricultura, mas para to-
dos os produtos, as commodi-
antecipa que apresentará emendas à Tributária ties para exportação, que pre-
LAURIBERTO POMPEU lauriberto.pompeu@bsb.oglobo.com.br BRASÍLIA cisa de algumas adequações.
(O artigo abre brecha a esta-
dos e municípios criarem no-

‘SE TIVER PP NO
vo tributo sobre produtos pri-
mários e semielaborados).
Estamos trabalhando para

GOVERNO NÃO apresentar emendas sobre es-

se artigo 20. Tem o problema
desse conselho, que para os

SERÁ INDICAÇÃO estados é uma coisa muito ca-

ra, e essa Casa é a casa dos es-

DO PARTIDO’
tados. Tenho ouvido que deve
votar em outubro (no Sena-
do) para voltar para Câmara,
então temos dois meses e
meio de muita discussão.

E x-ministra da Agricultura
de Jair Bolsonaro e líder do
PP no Senado, Tereza Cristi-
na (MS), diz que apesar da
aproximação de nomes da sua
sigla com o governo Lula, não
há possibilidade de a legenda
integrar a base. Segundo ela,
caso algum filiado assuma um
ministério, será uma escolha
pessoal do presidente, e não
uma indicação do partido.
Tereza evita se colocar co-
mo candidata após ser citada
pelo presidente do PP, sena-
dor Ciro Nogueira (PI), como
possível vice em 2026, e diz
que o importante é os parti-
dos que deram sustentaram a
Bolsonaro —além do PP, PL e
Republicanos —não se dividi-
rem. Ela, porém, se posiciona
na contramão de Bolsonaro e
parte da direita, ao defender a
aprovação da Reforma Tribu-
tária no Senado. Mas anteci-
pa que deve apresentar emen-
das contra pontos que vê co-
mo prejudiciais ao agronegó-
cio, sua base eleitoral.
Integrantes do PPtem
negociado aderir ao governo.
Como vê essa possibilidade?
O presidente (do PP) Ciro
(Nogueira) tem dito que ele é
de oposição, tenho visto todo
dia ele falando. No governo
passado a minha escolha (co-
mo ministra da Agricultura) e
do (Luiz Henrique) Mandet-
ta, por exemplo, não foi indi-
cação do DEM, partido que
éramos filiados. Foi uma es-
colha pessoal (do Bolsonaro),
e o DEM ficou fora do gover-
no. Agora acontece a mesma
coisa. O PP pode ter alguém
indicado por A ou B, mas é um
nome, não quer dizer que o
partido vá para o governo.
Há alguma chance de o PP
barrar filiados no governo?
Eu não vejo esse movimen-
to. Aqui no Senado a nossa
bancada é muito coesa, tem
sido de oposição, mas uma
oposição responsável, votan-
do pelo Brasil. Não é só por-
que é oposição que tem que
votar contra tudo. Falando do
meu caso, nunca recebi uma
orientação: “Vote contra ou a
favor disso”. O PP encaminha
sim, mas temos a liberdade de
tomar nossas decisões. Mes-
mo porque, o Brasil sendo um
país tão grande, os problemas
dos deputados do Nordeste
são diferentes dos deputados
do Sudeste e do Sul. O PP não
é um partido de fechar ques-
tão. Se tiver alguém indicado
para o governo não será uma
indicação do PP.
Asenhora passou a ser citada,
inclusive pelo presidente do seu
partido,como possível vice em
2026.Qual sua disposição para
entrar na disputa?
Ninguém é candidato de si
próprio. Agora, eu acho que
são especulações de nomes,
assim como o governador (de
São Paulo) Tarcísio (Freitas),
o governador (de Minas Ge-
rais) Zema, o governador (do
Paraná) Ratinho Jr., o próprio
senador Ciro, tem várias pes-
soas nesse campo (da direita)
e os nomes vão surgir. Tem
muito tempo ainda, muita
água para correr debaixo des-
sa ponte. Nosso campo só não
pode se dividir, temos que es-
tar juntos, PP, PL, Republica-
nos e outros mais. Se a gente
estiver unido, vamos achar o
melhor candidato para presi-
dente e vice, pragmaticamen-
te, para ganhar as eleições.
Seu nome já foi cotado em 2022
como vice de Bolsonaro.
Chegou a ser consultada?
Nunca. Às vezes, Valdemar
(Costa Neto, presidente do
PL) brincava comigo: “Você
pode ser a melhor vice do
mundo”. Eu sei que ele gosta
muito de mim, assim como
gosto dele, mas nunca senta-
ram comigo: “Tereza, venha
aqui vamos conversar sobre
ser vice”. Nunca aconteceu.
Com Bolsonaro inelegível, fica
Como vê a atuação da
oposição na CPI do MST?
mais fácil ou difícil vencer Lula? Se o governo tivesse sido fir-
Isso fecha uma das opções me (em coibir invasões de ter-
que o campo da direita tinha. ra) no início, talvez a CPI nem
Mas Lula era inelegível há tivesse existido. Um governo
dois anos e meio atrás. Volto a que é pró-reforma agrária,
dizer, é muito cedo. Hoje esta- mas que deixa um movimen-
mos fazendo as especulações, to fazer invasão de proprieda-
mas a política é dinâmica. de privada, é muito ruim.
Em relação à Reforma Como estão as negociações
Tributária,a senhora deve para aprovação do chamado PL
seguir a posição de Bolsonaro dos Agrotóxicos?
contrária à proposta? Há acordo para votar agora
no segundo semestre. É um
Não é que ele foi contra. A
reforma está aí, ela passou.acordo feito com o presidente
Vamos ficar fora da reforma do Senado, Rodrigo Pacheco,
ou tentar melhorar? É isso que passou a relatoria para o
que as pessoas precisam en- senador Fabiano Contarato
(PT-ES). O governo entendeu
tender. Eu sou oposição ao go-
verno, mas sou responsável, que isso não é um assunto de
tem coisa que temos que tra-governo, é altamente técnico,
a modernização da utilização
balhar para melhorar e tentar
dos pesticidas. O ministro da
colocar nosso ponto de vista.
Agricultura (Carlos Fávaro) já
Como representante do agro, esteve aqui (no Senado) con-
deve apresentar emenda? versando, dizendo que o go-
A agricultura foi contem- verno quer que aprove.

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6 | Política
Suspeito de atacar Moraes já foi candidato pelo PL
Roberto Mantovani Filho concorreu à prefeitura de Santa Bárbara d’Oeste em 2004; ontem, um dos três apontados
como autores das agressões ao ministro do STF e a seu filho, em Roma, disse não ter tido ‘qualquer participação’
BIANCA GOMES, PATRIK
CAMPOREZ E PAOLLA SERRA
politica@oglobo.com.br
SÃO PAULO E BRASÍLIA
-
A pontado como um dos
agressores do ministro
do Supremo Tribunal Fede-
ral (STF), Alexandre de Mo-
raes (STF), e seu filho no ae-
roporto de Roma, na última
sexta-feira, o empresário Ro-
berto Mantovani Filho já foi
candidato a prefeito pelo PL,
partido que atualmente abri-
ga o ex-presidente Jair Bolso-
naro. O suspeito se candida-
tou pela cidade de Santa Bár-
bara d’Oeste, no interior de
São Paulo, no ano de 2004,
mas perdeu as eleições.
Marido de Andreia Muna-
rão, outra apontada pelas
agressões, Mantovani Filho é
atualmente empresário na
cidade do interior paulista.
Um terceiro suposto agres-
sor, Alex Zanatta prestou de-
poimento à Polícia Federal
na manhã de ontem, em Pira-
cicaba (SP), e negou ter pro-
ferido ofensas ao magistrado.
Na oitiva que durou duas ho-
ras, Zanatta disse não ter tido
“qualquer participação” no
episódio de agressão ao presi-
dente do Tribunal Superior
Eleitoral e sua família.
A equipe da coluna Malu
Gaspar teve acesso ao conteú-
do da representação de Mora-
es à PF. O ministro descreve
três dos quatro membros de
uma mesma família como
Segunda-feira 17.7.2023 | OGLOBO
REPRODUÇÃO
agressores: Roberto Manto-
vani Filho, sua mulher, An-
dreia Munarão, além de Alex
Zanatta, que é genro deles.
Em nota divulgada pela defe-
sa do casal, eles lamentaram o
ocorrido, mas afirmam que
houve “mal entendido”.
Primeiro suspeito ouvido
pela Polícia Federal, Zanatta
declarou não ter presenciado
oinício da confusão. Ele ainda
disse acreditar no “envolvi-
mento equivocado” dos seus
familiares no episódio. Os de-
mais suspeitos devem prestar
esclarecimentos amanhã.
Em nota, Mantovani e Mu-
narão alegam que as ofensas
teriam sido proferidas por ou-
tra pessoa, e não Andreia, que
teria sido atacada por duas
pessoas que acompanhavam
Moraes na viagem. Nesse mo- Suspeitos. Roberto Mantovani Filho (à esquerda) e Alex Zanatta (à direita), que prestou depoimento ontem: eles negam ter agredido ou atacado Moraes
mento, ainda segundo a nota,
Roberto precisou “conter os cia do grupo teve por objetivo
ânimos do jovem ofensor”. O Torres deve mensais e ficou detido definição de como os as medidas cabíveis coagi-lo ou constrangê-lo no
casal nega ter ameaçado o mi- devolver por 117 dias,no Batalhão valores serão restituídos para se evitar possíveis exercício de seu ofício, au-
nistro, que teria “casualmen- R$120 mil de Aviação Operacional à corporação ou a partir abusos”,informou. mentando a pena para até oito
te passado por eles”. da Polícia Militar, no de quando devem ser anos de reclusão.
O grupo pode ser investiga- Guará,em Brasília, por descontados dos seus > Adecisão tem como
dos por crimes contra a honra > APolícia Federal de- suspeita de omissão nos contracheques. base uma nota técnica PGR ACIONA PF
ou até por tentativa de abolir o terminou que o ex- atos antidemocráticos do Ministério do Plane- A PGR solicitou à Polícia Fe-
Estado Democrático de Direi- ministro da Justiça de 8 de janeiro. > Ao GLOBO,o advoga- jamento,Orçamento e deral informações sobre as
to, de acordo com especialis- Anderson Torres devol- do Eumar Novacki,que Gestão,de 2013,que agressões sofridas por Moraes
tas. Embora os ataques pos- va cerca de R$ 120 mil > Torres responde a um representa Anderson prevê a suspensão dos e seu filho, na Itália. O MPF
sam configurar delito contra a em salários recebidos Processo Administrati- Torres,afirmou desco- pagamentos em caso de afirmou que tomará as medi-
dignidade pessoal do magis- enquanto esteve preso. vo Disciplinar (PAD) na nhecer a decisão acerca prisão preventiva.Tor- das cabíveis a respeito do ca-
trado, com pena de até seis Como delegado da PF que investiga possí- da devolução dos salári- res é investigado pelo so. O procurador-geral da Re-
meses de detenção, a avalia- corporação,ele recebe veis ilegalidades come- os.“Caso a informação (STF),acusado de sabo- pública, Augusto Aras, que es-
ção é que a PF ou o Ministério remuneração de aproxi- tidas como servidor seja procedente,assim tar o esquema de prote- tá fora do Brasil, enviou men-
Público Federal (MPF) po- madamente R$ 30 mil público.Ainda não há que notificada,tomará ção para evitar ataques. sagem ao magistrado e mani-
dem considerar que a violên- festou solidariedade.
OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023 2ª Edição
PT quer ampliar alianças por mais prefeitos no Rio
Partido estuda repetir no estado movimentos feitos no cenário nacional, o que levaria a apoio a candidatos de
outras siglas fora da esquerda; em outra frente, expectativa é eleger de quatro a dez nomes, após derrotas recentes
JULIA NOIA
julia.noia@oglobo.com.br
-
D e olho em ampliar sua in-
fluência nas principais
cidades do Rio, onde vem so-
frendo repetidas derrotas nas
últimas eleições municipais,
o PT estuda repetir no estado
as alianças da última corrida
presidencial e os movimen-
tos que tem feito atualmente
no cenário nacional, incluin-
do a aproximação com siglas
de fora do campo da esquer-
da. Assim, na contramão do
que fez em pleitos anteriores,
petistas devem apoiar candi-
daturas de aliados em detri-
mento de lançar nomes da
própria legenda.
Na capital, o PT já sinali-
zou que deve apoiar a candi-
datura do prefeito Eduardo
Paes (PSD) à reeleição, na
busca de poder indicar um
nome para vice na chapa.
No entanto, há um movi-
mento de trazer uma opção
ligada a Paes, como o depu-
tado federal Pedro Paulo
(PSD) ou o presidente da
Câmara Municipal, Carlo
Caiado (PSD), o que para in-
terlocutores petistas pode
levar a legenda a indicar um
nome próprio.
Fora da capital, entre os
partidos que o PT conversa
está o Republicanos, legen-
da chefiada no estado por
Waguinho, marido da ex-
ministra do Turismo, Dani-
ela Carneiro (União). Inte-
grantes próximos ao diretó-
rio nacional defendem que
o presidente Lula tem “fatu-
ras a pagar” com o prefeito
de Belford Roxo, diante de
atritos que levaram à saída
de Daniela da pasta. Evan-
gélico, o casal apoiou Lula
no segundo turno da dispu-
ta contra Jair Bolsonaro
(PL). Na cidade, o PT deve
deixar de lançar candidatu-
ra própria para apoiar Ma-
theus Carneiro (Republica-
nos), sobrinho de Wagui-
nho. Ele deve enfrentar o ex-
aliado e agora rival do atual
prefeito, o deputado estadu-
al Márcio Canella (União).
Em Duque da Caxias, Zito
Secretários recorrem à bancada da bala por lei ‘linha-dura’
Grupo com titulares da Segurança de 5 estados se articula por projetos mais rígidos; frente parlamentar perdeu espaço com Lula
GUILHERME CAETANO
E ALINE RIBEIRO
politica@oglobo.com.br
SÃO PAULO
-
S ecretários de Segurança
Pública de cinco estados
têm se articulado junto a par-
lamentares “linha-dura” pa-
ra alterar a legislação penal e
aprovar projetos de seu inte-
resse. O grupo, chamado de
Sulmassp e de predominân-
cia bolsonarista, é encabeça-
do por São Paulo e composto
também por Rio Grande do
Sul, Paraná, Santa Catarina e
Mato Grosso do Sul.
Entre as principais reivindi-
cações está a revisão e endure-
cimento do Código Penal. Pa-
ra o presidente da Frente Par-
lamentar da Segurança Públi-
ca —informalmente chama-
da de bancada da bala —, Al-
berto Fraga (PL-DF), a articu-
lação tem como foco pautas
que estão represadas no Con-
gresso, como o fim das saídas
temporárias de presídios, de
autoria de Guilherme Derri-
Na capital. PT almeja a vaga de vice na chapa de Eduardo Paes no Rio
A DISPUTA PELO ESTADO
Nomes cotados para as disputas municipais do ano que vem
NOVA IGUAÇU
Ainda sem definição,
o PT não deve lançar
candidatura em Nova
Iguaçu. O ex-prefeito
Lindbergh Farias, NETINHO
agora deputado REIS
federal, não
confirmou que deve
concorrer. No campo
da esquerda, há a
possibilidade de
ZITO
Dudu Reina, pelo PDT.
QUEIMADOS
O deputado federal Max
Lemos (PDT) deve
tentar voltar à prefeitu-
ra, posto que já ocupou
por oito anos. Na
disputa, deve enfrentar
o atual prefeito, Glaudo
Kaiser (Solidariedade),
que deve tentar a
reeleição, e Rogério
Brandi, que deve se
desfiliar do PDT.
BELFORD ROXO
No reduto de
Waguinho, o
presidente estadual
do Republicanos deve
WAGUINHO lançar o sobrinho,
Matheus Carneiro.
Ele deve enfrentar
nomes como o do
deputado estadual
Márcio Canella
MÁRCIO
CANELLA
(União), rompido com
Waguinho.
caminha para a filiação ao
PV e é pré-candidato. Como
o partido faz parte da fede-
ração com PT e PCdoB, o
lançamento do nome do ca-
cique político local frearia
uma candidatura própria
petista. Zito pode concorrer
te, secretário de Segurança de
São Paulo, do governo Tarcí-
sio de Freitas (Republicanos).
O projeto foi aprovado na Câ-
mara e está parado no Senado.
Após uma rodada de en-
contros pelos estados, o gru-
po deve se reunir com parla-
mentares em Brasília, ao
longo deste segundo semes-
tre, para tentar destravar os
projetos. Um dos grupos
mais fiéis ao governo Jair
Bolsonaro, a bancada da ba-
la perdeu relevância no
Congresso após a eleição do
presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) e enfrenta difi-
culdades para avançar com
suas bandeiras —apesar do
aumento de 36% no núme-
ro de policiais e de militares
na atual legislatura.
FOCO OPERACIONAL
OSulmassp nasceu com foco
operacional, visando ao
compartilhamento de dados
de Inteligência e a realização
de operações conjuntas em
ONOFRE VERAS/ONOFRE VERAS/THENEWS2
DUQUE DE CAXIAS
Na tentativa de
manter a família Reis
no páreo, Washington
Reis deve lançar o
sobrinho, Netinho
Reis. No campo da
esquerda, o PDT
estuda apresentar
Marcos Tavares como
candidato, enquanto
o PV estrutura a
filiação de Zito, figura
histórica na Baixada,
ao PV.
RIO DE
JANEIRO
SÃO JOÃO DE
MERITI
Na cidade, devem
se enfrentar no
pleito os
deputados
estaduais Léo
RODRIGO
NEVES
Vieira (PSC) e
Valdecy da Saúde
(PL), além de
Paulinho do
Sindicato, pelo PT. CARLOS
JORDY
com Marcos Tavares (PDT).
Ainda na cidade, o ex-pre-
feito Washington Reis
(MDB) vem encontrando
dificuldades em achar al-
guém para manter a influ-
ência da família no reduto,
mas tenta cacifar seu sobri-
Articulação. Alberto Fraga defende fim de saídas temporárias de presídios
áreas de fronteiras e divisas
—uma vez que grupos crimi-
nosos da parte Sul do país
têm uma atuação “sem fron-
teiras” entre esses estados, na
avaliação dos secretários.
Mas Derrite, que é deputado
federal licenciado, sugeriu
que o grupo fosse usado para
lobby no Congresso, aprovei-
tando de seu relacionamento
Em 2024. O PT, de Marcelo Freixo, deve apoiar candidatos de outros partidos
PETRÓPOLIS
O prefeito Rubens
Bomtempo (PSB)
deve tentar a
reeleição em 2024,
MARQUINHO
disputando contra
BACELLAR
nomes como o do
deputado federal
Hugo Leal (PSD) e do
deputado estadual
Yuri Moura (PSOL).
RIO DE
JANEIRO
CAPITÃO
NITERÓI NÉLSON
O ex-prefeito Rodrigo Neves (PDT)
deve voltar ao páreo, depois de
quatro anos, e deve contar com o
apoio do PT. Ainda no campo da
esquerda, a deputada federal
Talíria Petrone (PSOL) se
apresenta como pré-candidata. Na
ala bolsonarista, o deputado
federal Carlos Jordy deve ser o
nome do PL, apoiado pelo
governador Cláudio Castro.
nho, Netinho.
Em Niterói, há alinha-
mento do diretório do PT
em apoiar uma possível can-
didatura do ex-prefeito Ro-
drigo Neves (PDT), aponta-
do como nome da sigla para
o pleito, em vez do atual pre-
‘ZECA RIBEIRO/CÂMARA DOS DEPUTADOS
com outros parlamentares.
Com o próximo encontro
marcado para setembro, a
ideia agora é expandir o nú-
mero de integrantes.
— A gente combinou que
nos próximos encontros con-
vidaremos Minas Gerais, Goi-
ás, Rio de Janeiro e talvez até
Espírito Santo. Se a gente so-
mar as bancadas desses esta-
HERMES DE PAULA/2-9-2022
CAMPOS DOS GOYTACAZES
Cidade comandada pelas
famílias Bacellar e Garotinho
deve ter Marquinho Bacellar
(Solidariedade) e o prefeito
WLADIMIR Wladimir Garotinho (PP), filho
do ex-governador Anthony
GAROTINHO
Garotinho, que tentará a
reeleição. No município, o PT
deve lançar o professor
Jefferson, reitor do IFF.
ITABORAÍ
O nome de Zeidan (PT) se
fortalece na cidade, com o
apoio do ex-marido Washington
Quaquá, um dos dirigentes
ZEIDAN nacionais do partido.
SÃO GONÇALO
O prefeito Capitão Nélson
(PL) deve tentar a reeleição
em disputa contra Dimas
DIMAS
Gadelha (PT), Professor
Josemar (PSOL) e Dejorge
GADELHA Patrício, que deve sair do
Republicanos para o PDT.
MARICÁ
No histórico reduto petista, o
ex-prefeito Washington
Quaquá volta como candidato,
após oito anos fora do cargo. A
WASHINGTON ala bolsonarista deve lançar o
QUAQUÁ deputado estadual Felipe
Poubel (PL).
Editoria de Arte
feito, Axel Grael. No entan-
to, o PSOL também projeta
o nome da deputada federal
Talíria Petrone, outra repre-
sentante do campo da es-
querda, para a disputa. Os
dois candidatos devem en-
frentar o deputado federal
dos todos (na Câmara), va-
mos aprovar projetos com
mais facilidade —diz Derrite.
Sandro Caron, secretário
gaúcho e presidente do Con-
selho Nacional de Secretários
de Segurança Pública (Con-
sesp), diz que a articulação
junto ao Congresso para alte-
rar o Código Penal já domina
boa parte dos trabalhos. Mes-
mo não sendo a favor do “en-
carceramento generalizado”,
é “ferrenho defensor” de que
autores de crimes violentos
permaneçam presos enquan-
to não são julgados.
—A legislação atual permi-
te que eles estejam no dia se-
guinte na rua com uma torno-
zeleira eletrônica. A chance
de voltarem a cometer crimes
é imensa. Estamos colocando
a sociedade em risco. Precisa-
mos abrir este debate nacio-
nal sobre a alteração da legis-
lação penal —diz Caron.
Antonio Carlos Videira, se-
cretário de Justiça e Seguran-
ça Pública sul-mato-grossen-
Política | 7
bolsonarista Carlos Jordy
(PL), que deve ser apoiado
pelo governador Cláudio
Castro (PL) na campanha.
CANDIDATURAS PRÓPRIAS
Em outra frente, a expecta-
tiva de dirigentes é conse-
guir eleger de quatro a dez
prefeitos do partido nos 92
municípios. Isso represen-
taria aumento significativo
ante os últimos oito anos,
em que, no Rio, o PT venceu
apenas em Maricá, com Fa-
biano Horta, afilhado políti-
co de um dos vice-presiden-
tes nacionais do partido,
Washington Quaquá. Em
2012, durante o primeiro
governo da ex-presidente
Dilma Rousseff, a legenda
elegeu dez prefeitos entre
os 30 candidatos próprios.
Para o presidente estadual
do PT, João Maurício de
Souza, o pleito de 2024 será
diferente em relação ao de
2020, em função da eleição
de Lula no ano passado.
Com o crescimento de de-
putados da sigla eleitos —
foram sete estaduais e cinco
federais, contra três estadu-
ais e dois federais em 2018
—, a sigla agora aposta em
maior expressão nas dispu-
tas nos municípios:
—Nossa meta é eleger, no
mínimo, dez prefeituras no
estado e dobrar o número de
vereadores (em 2020, fo-
ram eleitos 19 vereadores),
com foco na Região Metro-
politana e contando com o
apoio do bloco de partidos
que estiveram conosco no
segundo turno da eleição do
presidente Lula no Rio —
diz o dirigente.
Em São Gonçalo, o PT quer
lançar o deputado federal Di-
mas Gadelha. Ele pode en-
frentar pelo menos outros
dois nomes do campo da es-
querda: Dejorge Patrício —
hoje filiado ao Republicanos,
mas que deve migrar para o
PDT —e o Professor Josemar
(PSOL). Pelo PL, dois nomes
estão postos: do prefeito Ca-
pitão Nélson, para tentar a
reeleição, e do deputado esta-
dual Coronel Salema.
se, ressalta que, mesmo que
os estados tenham deman-
das divergentes, eles preten-
dem trabalhar alinhados ao
Congresso.
Como exemplo, ele cita a
reivindicação de São Paulo de
aumentar a pena para autores
de roubos de celulares, pro-
blema considerado já resolvi-
do no Mato Grosso do Sul e
que pode inflar ainda mais o
sobrecarregado sistema peni-
tenciário do estado, que tem
um dos maiores déficits de va-
gas do Brasil.
— Mesmo não sendo do
nosso interesse, essa mu-
dança legislativa vai aten-
der uma parcela maior da
população. Então vamos pe-
dir à nossa bancada para
apoiar no Congresso os in-
teresses de São Paulo tam-
bém —afirma Videira.
Os secretários se reuniram
em Curitiba, em abril, e na se-
de da Federação das Indústri-
as do Estado de São Paulo (Fi-
esp), em junho. No último en-
contro, estiveram presentes
dez deputados federais, além
do senador Sergio Moro (Uni-
ão-PR). Em carta redigida de-
pois do encontro, eles se defi-
nem como um grupo “pró-ví-
timas e pró-sociedade”.
8 | Segunda-feira 17.7.2023 | OGLOBO

RESGATE NO ES PARA

Brasil
ACESSAR

Marinha salva 41 pessoas de escuna APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB Barco estava à deriva em Guarapari. Sudeste sofre com efeitos de ciclone O QR CODE

ARQUIVO PESSOAL
PAOLLA SERRA que o trabalho de tradução
paolla.serra@infoglobo.com.br
BRASÍLIA
foi intenso ao longo dos me-
ses, com plantão de 24 horas
-
por profissionais de Direito

N ascido às margens do Rio

Içana, na fronteira entre
Brasil, Colômbia e Venezuela,
Edilson Martins foi alfabetiza-
do no idioma baníwa, falado
por indígenas da região. Aos 10
anos, se mudou com a família
para outra aldeia, também na
cidade de São Miguel da Ca-
choeira (AM), e teve contato
pela primeira vez com o
nheengatu, considerada a lín-
gua geral amazônica, criada a
partir do tupi antigo e utilizada
por mais de 25 mil pessoas de
diferentes etnias até hoje.
Martins cursou Letras na
Universidade Federal do
Amazonas (UFAM), con-
cluiu mestrado em Linguís-
tica na Universidade de Bra-
sília (UNB) e passou a di-
fundir conhecimento a co-
munidades ao seu redor.
Há três meses, foi um dos
convidados a traduzir pela
primeira vez a Constituição
para o idioma nheengatu. O
texto será lançado na quar-
ta-feira pela ministra Rosa
Weber, presidente do Su-
premo Tribunal Federal
(STF) e do Conselho Nacio-
nal de Justiça (CNJ).
—Num passado recente, so-
fríamos preconceito ao sair-
mos do interior das aldeias por
não falarmos português. Essa
iniciativa vem ao encontro do
anseio de valorização dos po-
vos indígenas. Além disso,
vem concretizar os direitos
para tirar dúvidas.
—A tradução exige o domí-
nio de ambos os idiomas e,
nesse caso específico, de um
elemento cultural muito im-
portante que aproxima ao
mesmo tempo que distancia
realidade e língua. Precisáva-
mos de falantes de língua ma-
terna, que encontramos na
Academia de Nheengatu, e tí-
nhamos um conteúdo com
elementos abstratos e técnico-
jurídicos, cujas dúvidas iam
sendo sanadas em um plantão
de 24 horas pelos profissionais
do Direito —explicou.
Presidente da Academia de
Nheengatu, Edison Cordeiro
Gomes pertence ao povo Baré,
que vive no curso do Rio Ne-
gro, e conta que o nheengatu
se fez ainda mais presente na
região diante do isolamento
social provocado pela pande-
mia de Covid-19. Na ocasião,
ele passou a publicar vídeos
nas redes sociais sobre os cui-
dados necessários para evitar a
disseminação do vírus. Rapi-
damente, o conteúdo com o
idioma foi compartilhado pe-
los vizinhos em perfis no Insta-
gram e Facebook.
— Nosso maior desafio foi
não criarmos palavras novas,
mas darmos sentido às que já
existem. Como muitas das ex-
pressões em português não
existem no nosso idioma, pre-
Trabalho de tradução. A advogada Inory Kanamari: ela é uma das consultoras da Constituição no idioma indígena, que será lançada no STF cisávamos pensar em como
explicar esses termos aos fa-

DE TODOS OS POVOS
que o próprio texto constituci- lantes. Nunca havíamos nos
onal, principalmente nos arti- deparado com portarias, de-
gos 231 e 232, garante, que são cretos e artigos —disse.
o reconhecimento aos índios
dos seus costumes, línguas, REUNIÕES VIRTUAIS

Constituição Federal ganha

crenças, tradições e terras que A juíza Andrea Medeiros, do
ocupam —disse Martins. Tribunal de Justiça do Amazo-
O professor integrou um nas e uma das coordenadoras-
grupo de 15 tradutores e con- executivas do projeto, conta

versão em nheengatu, língua

sultores, formados por indíge-
nas bilíngues, além de advoga-
dos e representantes do Tribu-
nal de Justiça do Amazonas,
mobilizados pelo CNJ e STF.
Diariamente, por pelo menos
três horas e ao longo de três
meses, eles se dedicaram a in-
terpretar, compreender e bus-
car sinônimos das expressões
jurídicas da Carta Magna bra-
sileira. Rosa Weber se empe-
nhou institucionalmente pela
realização do projeto.
—A nossa Constituição Ci-
dadã de 1988 expressa os an-
seios da sociedade brasileira,
formada ao longo dos séculos
por grupos sociais das mais va-
riadas origens étnicas, que lo-
graram resistir à colonialidade
e à escravidão. Ao traduzir a
nossa Lei Maior ao idioma
nheengatu, preservado por
comunidades distribuídas na
Região Amazônica, buscamos
que vem do tupi antigo
efetivar a igualdade, assegu-
rando o acesso à informação e
à justiça e permitindo que os
povos indígenas conheçam os
direitos, os deveres e os funda-
mentos éticos e políticos que
dão sustentação ao nosso Esta-
do Democrático de Direito —
disse a magistrada.
O nheengatu começou a se
formar pelo contato entre in-
dígenas de diferentes etnias
no período colonial, e sofreu
influência dos portugueses,
sobretudo dos missionários
religiosos que buscaram gra-
matizá-la e padronizá-la.
Segundo dados do Censo do
IBGE em 2010, o Brasil tinha
à época 274 línguas indígenas
para uma população de
817.963 mil originários de
305 etnias. Esses números se-
rão atualizados em agosto,
com o Censo de 2023. Mas
mostram que o projeto é o pri-
meiro passo dessa integração.
Por isso, diz a ministra dos Po-
vos Indígenas, Sônia Guajaja-
ra, a iniciativa será reproduzi-
BRENNO CARVALHO
Em nheengatu. A capa do novo texto
da para outras línguas:
—Estamos na Década das
Línguas Indígenas e empe-
nhados em fortalecer esta dis-
cussão para a valorização des-
ses idiomas no Brasil, evitan-
do a extinção de alguns, ame-
açados devido a ter poucos fa-
lantes. Vamos reproduzir pa-
ra outras línguas e mais povos.
PLANTÃO 24 HORAS
O presidente do Biblioteca
Nacional e curador do proje-
to, Marco Lucchesi, disse
que palavras corriqueiras no
universo jurídico viraram
enorme desafio para a tradu-
ção. Um grupo de WhatsApp
foi criado para discutir o pro-
cesso e unir a equipe espalha-
da por cinco cidades da imen-
sidão amazônica:
—Além das reuniões sema-
nais virtuais, criamos um gru-
po no WhatsApp em que ficá-
vamos à disposição para discu-
tirmos termos técnicos que
não são do dia a dia dos indíge-
nas, como pensão alimentícia,
imposto, precatório.
Para a advogada e militante
dos Direitos Humanos Inory
Kanamari, consultora do pro-
jeto, a tradução da Constitui-
ção Federal para uma das lín-
guas indígenas acabará por
aproximar o Poder Judiciário
dos povos originários, dando a
eles o real pertencimento co-
mo integrantes do país.

ANTÔNIO quenos projetos, anunciados com pompa e

circunstância pelos governos de ocasião.
GOIS Conforme reportagem de Bruno Alfano no
Globo, o Pecim, em seu auge, atendeu ape-
nas 0,1% das escolas públicas do país, mas
consumiu quase R$ 100 milhões entre
2020 e 2022, tendo ficado entre as 15 maio-
antonio.gois@jeduca.org.br res verbas discricionárias (em que o minis-
tro decide onde gastar) da educação básica.
O programa seguiu uma receita muito co-
Aprendizados mum para iludir a opinião pública: concen-
tra-se vultosos investimentos em poucas
or nível socioeconômico.
O problema é que os resultados positivos
—quando acontecem —não são replicá-
veis em larga escala. A questão não é só fi-
nanceira. Mesmo se houvesse recursos su-
ficientes e decisão política para universali-
zar um modelo (seja ele qual for), é certo
que os indicadores de qualidade não seri-
am os mesmos a partir do momento em
que toda a população
Há experiências escolar fosse atendi-
exitosas de escolas da. A afirmação soa
Tanto que vários estados anunciaram que
manterão estratégias locais com recursos
próprios. Será necessário, também, um es-
forço de humildade de todos que se opõem
ao modelo. Em muitas comunidades esco-
lares de alguma forma militarizadas, há
professores, pais e alunos que o apoiam.
Uma das razões frequentemente aponta-
das para isso é que haveria menos indisci-
plina nessas unidades.
Aqui é preciso reiterar que há experiên-
cias exitosas de escolas públicas que, sem

da militarização
unidades de ensino que, justamente por to- que, sem apelar óbvia, mas é frequen- apelar para o autoritarismo, foram capa-
da a propaganda e verba recebida, terão para o temente ignorada zes de construir coletivamente um clima
mais procura por parte das famílias. Se a es- autoritarismo, quando estamos dis- escolar com convivência respeitosa e pro-
se procedimento for adicionada a prática de foram capazes de postos a acreditar em pícia à aprendizagem. Esses são ambien-
selecionar apenas os estudantes mais bem construir um clima soluções mágicas, tes de baixa indisciplina, mas onde há

A experiência com o Programa Nacional

de Escolas Cívico-Militares (Pecim),
cujo fim foi anunciado na semana passada
pelo MEC, é oportuna para lembrar e evitar
erros historicamente repetidos na condu-
ção de políticas públicas educacionais. Um
deles é acreditar que a solução para nossos
grandes problemas educacionais virá de pe-
preparados, é garantido que, em pouco
tempo, haverá resultados a mostrar em pro-
pagandas eleitorais. Isso vale para escolas
militarizadas, militares, ou qualquer outra
instituição federal, estadual ou municipal
que realize alguma espécie de vestibulinho
ou que, por sua localização geográfica ou ca-
racterística peculiar, atraia famílias de mai-
com convivência
respeitosa
desde que conver-
gentes com nossas
visões de mundo.
também aprendizado na prática sobre co-
mo resolver conflitos por meio do diálogo.
É um caminho que demanda maior esfor-
No caso do Pecim, há outro ponto de ço de construção e manutenção, mas que
atenção. Conforme destacado em várias atende muito mais aos propósitos de uma
análises de especialistas, o fim do progra- educação que busque também formar ci-
ma nacional não significa que essa tendên- dadãos mais preparados para o exercício
cia seja erradicada da política educacional. pleno da democracia.
OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023 | 9

CONTRA O TEMPO PARA

Saúde
ACESSAR

Ciência testa pílula rejuvenescedora APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB Grupo de Harvard descobriu substâncias capazes de reverter envelhecimento O QR CODE

MADE IN BRAZIL
Governo dobra investimento para acelerar
desenvolvimento de vacinas nacionais
KAROLINI BANDEIRA Único de Saúde (SUS) — o Ainda não existe nenhu- febre de mayaro e dengue. saúde de outros países cau- de Imunizações (PNI).
karolini.bandeira@bsb.oglobo.com.br
BRASÍLIA
que inclui, além de vacinas, ma vacina desenvolvida Oterceiro estudo, de pesqui-
sou um prejuízo de US$ 23 A produção de vacina fi-
- medicamentos e outros mate- 100% no Brasil. A mais bilhões ao Brasil em 2022.
sadores da Universidade Fede- nanciada pelo governo mais
riais. Para isso, o órgão financia próxima de ser aprovada ral de Santa Catarina (UFSC),
O país é dependente de adiantada é contra a malá-

A pós uma pandemia que

expôs a dependência in-
ternacional do Brasil para
a construção de um Centro
Nacional de Vacinas, em Belo
Horizonte (MG), para apoio a
pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvi-
sa) é a SpiN-TEC, imuni-
também tem como foco a den-

lhões para criar uma vacina

obter insumos de saúde, o
governo de Luiz Inácio Lula
da Silva decidiu acelerar a
produção de vacinas nacio-
nais. Desde janeiro, a Finan-
ciadora de Estudos e Proje-
tos (Finep), principal órgão
de fomento à ciência no pa-
ís, investiu R$ 4,4 milhões
no desenvolvimento de
imunizantes contra malá-
ria, chikungunya, febre do
mayaro e dengue. O valor é o
dobro do desembolsado du-
rante todo o ano passado.
Os recursos dispensados
até agora foram voltados para
três projetos específicos de-
senvolvidos por universida-
des federais, e o planejado é
investir, até dezembro, R$
10,5 milhões, cifra que supera
os valores dos últimos anos.
Em 2020, primeiro ano da
pandemia de Covid-19, foram
R$ 9,4 milhões liberados para
odesenvolvimento de vacinas.
Em 2021, contudo, não houve
novos recursos para a área. Já
em 2022, apesar de a financia-
dora ter assinado contratos
que somavam R$ 9,2 milhões
para pesquisas de imunizan-
tes, somente R$ 2,2 milhões
foram efetivamente liberados.
A maior parte dos recursos
tem como fonte o Fundo Na-
cional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico
(FNDTC), cujo orçamento
neste ano é de R$ 5 bilhões.
Em 2022, um texto elaborado
pelo governo de Jair Bolsona-
ro abria caminho para travar
as verbas do fundo, mas a pro-
posta foi rejeitada pelo Con-
gresso, que proibiu contin-
genciamento de recursos pa-
ra o fomento da ciência.
Segundo o presidente da Fi-
nep, Celso Pansera, a meta do
governo é construir até o fim
de 2026 uma infraestrutura
capaz de atender 70% da de-
manda de insumos do Sistema
projetos de pesquisa com foco
em imunizantes com tecnolo-
gia 100% brasileira.
—É um objetivo bastante
ambicioso e vamos traba-
lhar muito para ajudar a
cumprir essa meta. Será
uma das nossas priorida-
des. Isso significa tanto
aportar na infraestrutura
das universidades e cen-
tros de pesquisa, que fazem
a parte mais básica, quanto
nas empresas que já possu-
em produtos maduros ou
em processo de investi-
mento para produção —
disse ao GLOBO Pansera,
que foi ministro de Ciência
e Tecnologia no governo de
Dilma Rousseff.
zante contra a Covid-19 de-
senvolvida pelo Centro de
Tecnologia de Vacinas da
Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG).
Desde novembro do ano
passado, ela é testada em
humanos, em um processo
chamado de teste clínico.
Das três produções de imu-
nizantes financiadas pela Fi-
nep neste ano, duas são toca-
das pelo mesmo time de pes-
quisadores da SpiN-TEC.
Uma, já em estado avançado,
previne contra a malária cau-
sada pelo parasita Plasmo-
dium vivax, a mais comum no
país. A outra consiste no de-
senvolvimento de ácidos nu-
cleicos contra chikungunya,
90% dos insumos farma-
cêuticos produzidos fora.
gue, e irá receber R$ 2,3 mi-
— A vulnerabilidade do
ria, da UFMG. A pesquisa já
leva cerca de dez anos e a
produção, segundo o coor-
nosso país na área da saúde,
polivalente contra os quatro denador do CTVacinas e
sorotipos do vírus. pensando o conjunto, medi- pesquisador da Fiocruz, Ri-
A prioridade dada à produ-
camentos, vacinas e equipa- cardo Gazzinelli, encontra-
mentos médicos, no ano de
ção nacional já foi alvo de crí- se no ensaio clínico fase I,
ticas por políticos de oposição
2022, foi de US$ 23 bilhões. ou seja, testagem em huma-
no caso da vacina da dengue.
Se trata de uma grande de- nos para avaliar a seguran-
Como revelou O GLOBO, pendência —afirmou a mi- ça. A expectativa é que o
mesmo com aval da Anvisa nistra durante reunião do produto esteja pronto para
desde março, um imunizante Conselho Nacional de De- ser comercializado até o se-
produzido pelo laboratório ja-
senvolvimento Industrial gundo semestre de 2024.
(CNDI), no início do mês.
ponês Takeda só deve ser in- —Se o Brasil conseguir ter
corporado ao SUS no ano que Hoje, há duas grandes pro- uma vacina para malária Vi-
vem. O Ministério da Saúde dutoras de vacinas no país: a vax, será um imunizante
argumenta que o prazo é ne-Fiocruz/Bio-Manguinhos, com muito valor não só aqui
no Rio de Janeiro, e o Insti-
cessário para que passe por to- como no exterior. Um valor
das as análises internas. tuto Butantan, de São Pau- internacional. Além disso,
lo. Juntos, os laboratórios nós temos um produto que
DEPENDÊNCIA são responsáveis pela fabri- pode ser uma grande inova-
Segundo a ministra da Saú- cação de mais de 80% de to- ção na área de doenças in-
de, Nísia Trindade, a de- dos os imunizantes utiliza- fecciosas —afirmou o pes-
pendência de insumos de dos no Programa Nacional quisador da Fiocruz.
FREEPIK
Autonomia.
Pandemia mostrou
os riscos da
dependência de
insumos de saúde

CIÊNCIA Ignorada pelo legislador, a agência tem

Natalia Pasternak
Microbiologista, presidente do IQC,
professora na Universidade de Columbia
(EUA) e FGV-SP e autora dos livros Ciência
no Cotidiano e Contra a Realidade
Veta o ozônio,
Lula!
muito a dizer. Em nota técnica emitida em
2022, ressalta que “há riscos à saúde oriun-
dos da utilização indevida e indiscriminada
desta tecnologia, sob indicações de uso que
não foram, até o momento, científica e cli-
nicamente comprovadas”. A Anvisa somen-
te autoriza a ozonioterapia para fins odon-
tológicos e estéticos. Os equipamentos ge-
radores de ozônio aprovados pela agência
foram validados apenas para isso. Os manu-
ais dos fabricantes declaram que as máqui-
nas só devem ser empregadas para fins
odontológicos ou estéticos. No entanto,
vendedores da terapia oferecem ozônio (às
vezes, por via retal) para condições que vão
sias “off-label” durante a pandemia, endos-
sa a ozonioterapia, permitindo apenas uso
paciente deve ser informado disso. Como
seria? “Caro paciente, eu tenho aqui uma
em condições experimentais. máquina que foi testada e autorizada so-
Norma publicada pela FDA, órgão do go- mente para tratar cáries ou estética da pe-
verno dos Estados Unidos análogo à Anvisa, le, mas vou usar para injetar ozônio no seu
proíbe a ozonioterapia em qualquer cir- ânus, ou nas suas articulações, porque tem
cunstância: “o ozônio é uma lei que diz que eu posso. Mas é só com-
Tanto o uso um gás tóxico sem ne- plementar.” Tanto o uso “off-label” do
off-label do nhuma aplicação mé- equipamento quanto o caráter “comple-
equipamento de dica conhecida”. O mé- mentar” põem o paciente em perigo. Há
ozonioterapia dico e pesquisador de
quanto o caráter terapias alternativas
alemão Edzard Ernst,
estudos que mostram que mesmo quando
apenas “complementares”, terapias inefi-
cazes tendem a reduzir a adesão a terapias
complementar
põem o paciente no compêndio “Medi- válidas e reduzir sobrevivência.
em perigo cina alternativa: análi- Legislar passando por cima da Anvisa, do
se crítica de 202 moda- CFM e das sociedades médicas e científicas

O Senado aprovou, em 12 de julho, o Pro-

jeto de Lei (PL) 1.438/2022, autorizan-
do a prática da ozonioterapia como trata-
mento de saúde de caráter complementar
em todo o país. O tratamento poderá ser ad-
ministrado por qualquer profissional de
saúde inscrito em conselho profissional. O
PL diz apenas que o uso está “permitido”,
sem referir as regulamentações da agência
responsável por avaliar eficácia e segurança
de tratamentos de saúde, a Agência Nacio-
nal de Vigilância Sanitária (Anvisa).
de Covid-19 à depressão e câncer.
O ozônio é um gás tóxico e corrosivo, com
propriedades germicidas. É usado como de-
sinfetante de ambientes e purificador de
água. De maneira controlada e regulamen-
tada, estas propriedades podem ser utiliza-
das para tratamentos tópicos de dentista
(para limpar uma cárie, por exemplo) e de
pele. Qualquer coisa além disso é conside-
rada prática “off-label”, ou seja, não prevista
em bula. Nem mesmo o Conselho Federal
de Medicina, tão entusiasmado com fanta-
lidades”, avalia a plausibilidade, segurança,
eficácia e equilíbrio risco/benefício da ozo-
nioterapia. O resultado, para qualquer con-
dição de saúde, é negativo: a conclusão é
que não deve jamais ser usada.
No Brasil, a despeito da Anvisa e do
CFM, a ozonioterapia figura como uma
das 29 Práticas Integrativas e Complemen-
tares (PICs) autorizadas no SUS. O projeto
aprovado no Senado traz a desculpa de
sempre: é só para uso complementar, não
deve substituir tratamentos de verdade, e o
não é novidade no Parlamento brasileiro.
Basta lembrar da liberação, populista e anti-
científica, de remédios para emagrecer em
2017 (sancionada pelo então presidente da
Câmara Rodrigo Maia), e da fosfoetanola-
mina em 2016 (sancionada por Dilma
Rousseff num de seus últimos atos antes do
impeachment). Presidente Lula, foi bonita
a festa das medalhas do Mérito Científico
com a faixa “a ciência voltou”. Mas, depois
do bolo e do refrigerante, é preciso mostrar
que ela voltou para ficar.
10 | Saúde Segunda-feira 17.7.2023 | OGLOBO

Cuidar é nosso compromisso

COM O PLANETA

O dia de hoje nos lembra da importância de se preservar as

florestas, fundamentais para o funcionamento do nosso
planeta. Confira nossos conteúdos e entenda melhor o
verdadeiro tamanho destes ecossistemas e o porquê
devemos sempre protegê-los.

17 DE JULHO DIA MUNDIAL DE

PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS

UMSOPLANETA.GLOBO.COM
PARCEIROS APOIO REALIZAÇÃO
OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023
Economia
De volta aos campos. O personal trainer Igor Falcão contratou um seguro para proteção de renda depois de ter ficado 4 meses afastado de suas atividades após quebrar o pé em uma partida de futebol
FOCO EM BAIXA RENDA E MEI
EM BUSCA DE
PROTEÇÃO
Mercado de seguro com prestação
menor mais do que dobra em 5 anos
LETYCIA CARDOSO
letycia.cardoso@oglobo.com.br
-
O s seguros inclusivos —com
prestações mais baixas e
cobertura customizada —
cresceram 165% na arrecada-
ção nos últimos cinco anos, ga-
nhando impulso principal-
mente a partir do novo marco
regulatório de 2021, que tirou
travas e conferiu maior flexibi-
lidade aos produtos. Há op-
ções com valores mensais a
partir de R$ 5, voltadas princi-
palmente para baixa renda e
microempreendedores indivi-
duais (MEIs). Os produtos co-
brem desde os custos de fune-
ral até a quitação de dívidas em
caso de desemprego.
Outra característica é a vi-
gência mensal, comum em
muitos desses seguros. O con-
sumidor paga por mês pela
prevenção. Caso desista, pode
interromper pagamentos sem
ônus e encerrar o contrato.
Com mais de 1 milhão de cli-
entes ativos, a Axa Seguradora
oferece um seguro de vida de
R$ 9,90 ao mês, com indeniza-
ção de R$ 6 mil em caso de do-
ença grave, além de cobertu-
ras para morte e invalidez. O
segurado ainda pode usar ser-
viço de telemedicina — o qual
AS PRINCIPAIS OPÇÕES
Seguro prestamista
Um dos mais vendidos em
parceria com varejistas.
Ao contratá-lo,o consumi-
dor tem garantia de que,
caso fique desempregado,
terá suas dívidas quitadas
enão ficará com nome
sujo.Em geral,as parcelas
são descontadas do
cartão de loja.
funciona 24 horas por dia —,
evitando recorrer ao SUS com
frequência. Já o seguro resi-
dencial, que cobre incêndio,
queda de raio e explosão, sai
por R$ 14,90 mensais.
—O seguro para baixa renda
é importante porque, em caso
de contratempo, esse público
demoraria muito para juntar o
valor pago de indenização, ou
teria que se endividar para re-
solver o problema —defende
Patrícia Soeiro, superinten-
dente de Vida e Parcerias da
Axa Seguros.
Com dois salários mínimos
de renda, a aposentada Ana
Angélica Gonçalves, de 63
anos, possui seguro residen-
cial, pelo qual paga parcelas
que somam R$ 180 no ano.
—Explode uma panela, pe-
ga fogo na fiação, e a gente fica
sem o nosso bem maior que é a
residência. Quantos anos vou
levar para reconstruir isso? É o
trabalho de uma vida! —diz.
Ana ainda contratou uma
proteção funeral com cobertu-
ra de R$5 mil, pela qual paga
R$ 5 mensais descontados no
cartão de crédito, com o objeti-
vo de “evitar que a família te-
nha que fazer vaquinha” para
ela ter um enterro digno.
O aposentado Armando
Carvalho, de 72 anos, também
se preocupou com isso e resol-
veu fazer uma apólice para a
família inteira, pagando cerca
de R$ 80 para seis pessoas.
—Além das despesas do ve-
lório, o beneficiário recebe R$
3mil em caso de morte natural
e R$ 30 mil, em caso de morte
acidental —conta.
CULTURA DA PREVENÇÃO
Para conscientizar a popula-
ção sobre a importância da
prevenção, a Confederação
Nacional de Seguros (CNSeg)
tem feito parcerias com enti-
dades que fomentam a educa-
ção e a inclusão financeira.
—Se você compra um item e
não tem condições de repor,
precisa de seguro —defende a
diretora de Sustentabilidade e
Relações de Consumo da CN-
Seg, Ana Paula de Almeida.
A indústria do seguro, que
arrecadou R$ 618,7 bilhões
em 2022, tem a meta de alcan-
çar o equivalente a 10% do PIB
(R$ 1,13 trilhão) em arrecada-
ção e aumentar em 20% a par-
cela de população atendida até
2030. Para o Superintendente
da Susep, Alessandro Octavia-
ni, ampliar o acesso ao seguro
é mais do que uma questão
econômica. É “um projeto de
ALEXANDRE CASSIANO
Renda garantida
Acontratação garante
não ter a renda reduzida
em caso de doença.Para
trabalhadores celetistas,
a seguradora comple-
menta o benefício do
INSS por até seis meses.
No caso de autônomos, o
pagamento é equivalente
aos três últimos salários.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Saiba quem comanda o app Remini
NA WEB Febre nas redes sociais,aplicativo simula gravidez e futuros filhos
país mais justo e produtivo".
O presidente da Caixa Segu-
ridade, Felipe Montenegro
Mattos, destaca o papel social
dos seguros e assistências.
Através do Caixa Tem, diz, a
empresa conseguiu acelerar as
vendas para um grupo que não
costuma ter a cultura da pre-
venção. Mas, apesar de toda a
conveniência do digital, a mai-
oria das apólices ainda é feita
nas agências da Caixa, onde o
público-alvo se sente mais se-
guro por ter contato com fun-
cionários para tirar dúvidas.
—Se a pessoa consegue usu-
fruir de um produto que traz
mais qualidade de vida, se
transforma em uma cliente as-
sídua e fiel para outros produ-
tos também —acredita.
Com valores a partir de R$
Tranquilidade.
Ana Angélica
Gonçalves
contratou
seguro
residencial
HERMES DE PAULA
18,90, a Caixa Seguridade tem
produtos que oferecem não só
coberturas por morte, mas be-
nefícios como descontos de
até 80% em farmácias e cestas
básicas por até três meses.
A empresa prepara o lança-
mento do Rapidex MEI, com
custo em torno de R$ 50, que
inclui guincho e troca de pneu
para moto; serviços de enca-
nador, eletricista e chaveiro
para empresas que funcionam
em casa; e assistência tecnoló-
gica e orientação financeira.
Na Zurich, micro, peque-
nas e médias empresas têm a
opção de contratar o seguro
prestamista, produto disse-
minado entre pessoas físicas.
—Podem ser garantidos por
meio desse seguro emprésti-
mos adquiridos, financiamen-
to de bens, saldo de cartões de
crédito ou limite de contas-
correntes —explica Luis Reis,
Diretor Executivo de Parcerias
da Seguradora Zurich.
Já o Itaú oferece Renda Pro-
tegida, a partir de R$ 50 men-
sais, focado em profissionais
autônomos. Com ele, o cliente
recebe um valor equivalente à
remuneração média, em caso
de acidentes ou doenças que o
impeçam de trabalhar.
Foi um seguro como esse
Cobertura funeral
Vendida separadamente
ou junto de seguros de
vida,essa proteção garan-
te pagamentos entre R$ 3
mil e R$ 5 mil para cobrir
custos relativos ao enter-
ro.Alguns contratos ainda
oferecem indenizações
aos beneficiários que
chegam a R$ 30 mil.
| 11
PARA
ACESSAR
APONTE
O CELULAR
PARA
O QR CODE
que o personal trainer Igor Fal-
cão, de 37 anos, contratou no
início do ano. A decisão ocor-
reu depois de um susto. Em
2018, quebrou o pé jogando
futebol com amigos e ficou
afastado de suas atividades por
quatro meses. Nesse tempo,
viu a renda despencar e parou
de jogar por anos:
—Agora, eu voltei a jogar
futebol três vezes na semana.
PRESENÇA NAS REDES
Pelos preços mais baratos para
o cliente e pelo alto custo ope-
racional para as empresas, a
disseminação dessa modalida-
de de seguro, porém, é um de-
safio. Do ponto de vista dos
corretores, é mais vantajoso fi-
nanceiramente vender produ-
tos mais caros, como seguros
de carro. Já sob a ótica das em-
presas, o negócio só vale a pena
a partir de um volume expres-
sivo de apólices. Por isso, elas
apostam na diversificação dos
canais de distribuição para
ampliar contratações.
O presidente da associação
de microsseguros, Edson Ca-
lheiros, conta que apólices co-
letivas feitas por entidades, co-
mo sindicatos e associações,
são uma saída. As seguradoras
têm tentado ampliar a presen-
ça nas redes sociais para che-
gar ao consumidor individual.
—Conseguimos distribuir o
seguro pelo celular. Basta
mandar o link pelo WhatsApp,
e a pessoa faz a compra sozi-
nha. Hoje, grande parte da po-
pulação economicamente ati-
va tem um smartphone —diz.
Outra maneira encontrada
pelas seguradoras para alcan-
çar consumidores é por meio
de parceiros comerciais, como
varejistas. Os clientes são apre-
sentados aos produtos em lo-
jas de eletrodomésticos ou de
departamentos e, se resolve-
rem aderir, passam a ter as par-
celas descontadas diretamen-
te do cartão da loja.
No mercado, há opções de
produtos para todos os bolsos.
Focado nas classes C, D e E, a
ALM oferece seguros de vida
de R$ 6 a R$ 80. Segundo o
CEO da Seguradora ALM,
Alexandre Dominguez, algu-
mas apólices para caso de de-
semprego incluem auxílio-ali-
mentação e auxílio-moradia.
No Itaú, o seguro cartão pro-
tegido, de R$ 9,90 ao mês, ofe-
rece ressarcimento de itens
pessoais dentro da bolsa, em
caso de roubo ou furto —car-
teira, relógio, smartphone,
óculos de sol ou de grau, cos-
méticos, notebook, tablet,
kindle, carteira de trabalho,
passaporte e chave de carro. A
XP tem produto semelhante,
direcionado a clientes. Os pa-
gamentos, de R$14,90 ou de
28,90 mensais, garantem
reembolso de até R$ 15 mil. O
C6 oferece o Tag Rodovia, de
R$ 10 mensais. O seguro dá as-
sistência 24h de guincho para
remoção de carro por até 400
km e cobertura de até R$ 5 mil
para despesas com reparos de-
correntes de acidentes em ro-
dovias com pedágio, sendo R$
2,5 mil para carro próprio e R$
2,5 mil para carro de terceiros.
12 | Economia Segunda-feira 17.7.2023 | OGLOBO

SEG _ Rachel Maia (quinzenal) _Ricardo Henriques (quinzenal)_ TER _ Míriam Leitão _ QUA _ Zeina Latif _ QUI _ Míriam Leitão _ SEX _ Fabio Giambiagi (quinzenal)_Rogério Furquim Werneck (quinzenal) _ SÁB _ Carlos Góes (mensal) _ Alvaro Gribel (quinzenal) _ DOM _ Míriam Leitão

RICARDO presentar um caldeirão preenchido pelo en-

contro da arte com a cultura, cruciais para o
telenovelas e com nossa música. Um simples
chinelo de borracha ganha valor no mercado
atividades com projeção internacional. Par-
cela importante de sua grandeza encontra-se
HENRIQUES desenvolvimento de habilidades como racio-
cínio crítico e criatividade, envolve também a
externo ao ser associado a nossa cultura, des-
perta interesse sobre o Brasil, movimenta co-
na enorme capilaridade que possui, reunin-
do e movimentando milhões de pessoas em
produção e o comércio de bens e serviços base- mércio externo e gera empregos. festas gigantescas, como o São João de Carua-
ados intensivamente em conhecimento. Mas é certo que poderíamos fazer muito ru e Campina Grande, o Bumba Meu Boi nas
De acordo com a Unesco (2021), o merca- mais. A culinária na Amazônia, apenas para regiões Norte e Nordeste, a Congada do Cea-
oglobo.com.br/economia
do cultural está entre os mais dinâmicos da citar um exemplo, poderia ser mais utilizada rá ao Rio Grande do Sul, as romarias a Trinda-
economia@oglobo.com.br economia global, gerando cerca de 29,5 mi- para ampliar a influência internacional do de, em Goiás, o carnaval país afora, além de
lhões de postos de trabalho em todo o mundo. Brasil. Hoje, comer num restaurante perua- outras festas, celebrações, shows e atividades
Economia criativa No Brasil, Valiati, Moler e Lang estimam, em
artigo de 2023, que os setores de produção ar-
no, tailandês ou coreano não é somente uma
decisão corriqueira. É também resultado do
artísticas que ocorrem diariamente em todo
o Brasil. Altamente intensivas em mão de

como ativo de tística, patrimônio e economia criativa movi-

mentaram 3,11% do PIB em 2020, ante
2,06% do setor automotivo no mesmo ano. É
investimento desses países na gastrodiplo-
macia, com o objetivo de fortalecer o turismo
e as economias locais.
obra, tudo isso alimenta enorme leque de
bens e serviços, com um efeito multiplicador
dependente do labor humano, relevante para
desenvolvimento evidente, pois, que se trata de um setor capaz
de gerar dinamismo sobre toda a economia.
Aeconomia criativa pode ser fortemente im-
pulsionada pela tecnologia e pela inovação. O
a geração de emprego e renda, inclusive em
locais com economia menos dinâmica.
Mas, como potencializá-lo? avanço das tecnologias digitais tem ampliado as Para explorar plenamente o potencial da eco-

N um mundo em que máquinas e sistemas de

inteligência artificial avançam cada vez
mais sobre empregos tradicionais, é funda-
Uma das formas é por meio do que a teoria
das relações internacionais chama de Soft
Power. Segundo Joseph Nye em “Soft Power:
mental identificar setores onde a mão de obra The Means to Success in World Politics”, arti-
humana continue sendo a mais valorizada. A go de 2004, o conceito refere-se à capacidade
economia criativa emerge como alternativa de influenciar e atrair outros países por meio
particularmente relevante, com enorme po- de valores culturais, ideias, instituições e polí-
tencial a ser aproveitado pelo Brasil. Segundo ticas, em contraste com o Hard Power, que en-
a Conferência das Nações Unidas sobre Co- volve o uso de força militar ou coerção econô-
mércio e Desenvolvimento, em relatório de mica. Por exemplo, a produção de filmes e séri-
2022, o setor representa 3,1% do PIB mundial, es de TV difunde a língua portuguesa e a cultu-
promovendo inclusão social, diversidade cul- ra brasileira, ampliando a influência do país no
tural e desenvolvimento humano. Além de re- mercado internacional, como já fizemos com
possibilidades de criação e distribuição de con-
teúdo criativo, abrindo novas oportunidades.
Ao mesmo tempo, a criatividade também bene-
ficia a tecnologia. A inteligência artificial pode
fazer melhor e mais rápido o trabalho de pro-
gramadores de sistemas computacionais, mas
os novos games, programas ou aplicativos que
farão sucesso no futuro dependerão, principal-
mente, da capacidade humana de antecipar ce-
nários e buscar soluções inovadoras e criativas
para demandas da sociedade contemporânea.
Lembremos, por outro lado, que a econo-
mia criativa não diz respeito somente a essas
nomia criativa, o Brasil deve investir em educa-
ção, capacitação profissional e infraestrutura,
bem como em políticas públicas que incenti-
vem a inovação e a proteção dos direitos auto-
rais. Dessa forma, teremos melhores condições
de impulsionar o desenvolvimento regional e a
inclusão social, ao estimular a criação de proje-
tos e empreendimentos locais, não apenas em
grandes centros urbanos. Essa descentraliza-
ção pode contribuir para reduzir desigualda-
des, impulsionando o crescimento econômico
e a geração de empregos. O caminho é promis-
sor, desde que saibamos aproveitá-lo.

Supersalários de 25 mil
BRENNO CARVALHO/12-5-2023
Impacto.
Esplanada dos
Ministérios:

servidores custam
de acordo com
o CLP, com o
fim dos
supersalários,

R$ 3,9 bi por ano ao país

a União teria
economia de
R$ 900 milhões,
os estados, de
R$ 2,5 bilhões
e os municípios,
Estudo do Centro de Liderança Pública defende aprovação de R$ 400
milhões
do projeto de lei que combate os salários acima do teto

GERALDA DOCA
geralda@bsb.oglobo.com.br
res federais com remunera- ma do teto teria impacto
BRASÍLIA ção acima do teto; 15,3 mil anual de R$ 3,1 bilhões.
-
servidores estaduais e 2,275 Segundo Daniel Duque,

O Banco Citibank S.A. (“Citibank”) torna público o presente Edital para fazer de
conhecimento geral e convocar os antigos locatários dos cofres a seguir relacionados,
A aprovação do projeto
que ataca os supersalá-
rios pelo Congresso pode-
mil servidores municipais.
O levantamento foi feito
com base na Pesquisa Nacio-
gerente de inteligência téc-
nica do CLP, por ser conside-
rado um país subdesenvolvi-
localizados nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Belo ria gerar uma economia nal por Amostra de Domicíli- do, o gasto médio do Brasil
Horizonte, Recife, Salvador, Brasília e Campinas, bem como todos os demais
locatários dos cofres que não tenham feito a retirada dos bens em momento anterior,
anual de R$ 3,9 bilhões — os Contínua (Pnad) do IBGE com servidores é elevado.
ainda que tais cofres não estejam abaixo mencionados, a retirarem os pertences recursos que poderiam ser de 2022. O universo de servi- — O Brasil já se destaca
negligenciados por ocasião do término da locação. Os interessados deverão destinados para reforçar dores com supersalários cor- em termos de gasto médio
comprovar sua titularidade por via direta ou sucessão, bem como se responsabilizarem áreas prioritárias, como responde a 0,23% do total de com servidores, conside-
por eventuais custos relacionados à guarda de bens após o término da locação. Os saúde, educação e segu- 11 milhões de estatutários, rando nosso nível de de-
bens que não vierem a ser retirados no prazo de 60 dias, contados da data do presente rança. A conclusão é de um aprovados em concurso pú- senvolvimento. Não há ba-
Edital, poderão vir a ser descartados pelo Citibank.
estudo do Centro de Lide- blico e empossados. A pes- ses de dados sobre supersa-
O Citibank esclarece que o serviço de locação de cofres foi definitivamente rança Pública (CLP). Se- quisa foi antecipada pelo Es- lários pelo mundo, mas di-
descontinuado em outubro de 2017, tendo sido os contratos ativos encerrados gundo o levantamento, tado de S. Paulo. ficilmente, nos países de-
por notificação enviada aos locatários nos seus respectivos endereços de cadastro. 25,5 mil trabalhadores da senvolvidos, é vista situa-
elite do funcionalismo nos LOBBY EMPERRA DEBATE ção semelhante — disse
Caso haja necessidade de mais informações, favor entrar em contato por meio três níveis, União, estados A maior parte do gasto está Duque, acrescentando: —
do endereço eletrônico: edital@citi.com
e municípios, recebem, concentrada nos estados, o No Brasil, infelizmente um
Os cofres em questão são os: 5, 7, 8, 20, 31, 38, 44, 45, 53, 66, 67, 73, 74, 79, 83, 85, em média, por mês R$ equivalente a 60% do total, lobby de uma parcela míni-
91, 93, 97, 98, 118, 129, 130, 135, 136, 139, 142, 157, 166, 177, 192, 196, 214, 12,68 mil acima do teto. R$ 2,54 bilhões. No caso da ma parece que vem emper-
219, 221, 232, 239, 253, 261, 282, 334, 356, 359, 385, 393, 394, 481, 524, 674, O teto é definido pelo salá- União, as despesas somam rando as discussões sobre
712, 1133 1142, 1177, 5068, 001A, 001E, 003A, 009F, 011E, 015B, 015C, 020D, rio pago aos ministros do R$ 900 milhões, o que repre- impedir os salários acima
021E, 022A, 029C, 029E, 029F, 030C, 031D, 035A, 038A, 039E, 043A, 043C, Supremo Tribunal Federal senta 29,8% e dos municípi- do teto.
043E, 045C, 047B, 047D, 047E, 048C, 04MM, 050C, 051F, 058A, 061D, 064C,
066A, 066C, 067D, 070E, 072D, 078B, 079B, 079C, 080C, 083C, 084F, 085E,
(STF), hoje em R$ 41,6 mil. os, R$ 440 milhões (10,2%). O Ministério da Gestão,
091C, 091D, 092C, 092F, 095B, 095F, 099C, 099F, 100D, 100E, 101E, 102A, 102E, O projeto que regulamenta De acordo com o estudo, a comandado pelo ministra
103A, 104E, 1056P, 106E, 108A, 110C, 110E, 111C, 118E, 1215MM, 122B, 123D, o teto do funcionalismo remuneração média acima Esther Dweck, defende a re-
129F, 130F, 131D, 132E, 133A, 134D, 135D, 136D, 136F, 137A, 140B, 141A, 143A, avançou na Câmara em do teto nos estados é de R$ gulamentação do teto do
144A, 145E, 146F, 147A, 147F, 149E, 150B, 150E, 151A, 152A, 152D, 154A, 159B, 2021 e está parado na Co- 13.838; nos municípios so- funcionalismo, mas o proje-
160D, 163A, 164E, 165C, 168C, 169B, 171F, 173C, 175D, 175F, 176A, 176E, 180A,
181A, 182A, 183E, 185B, 186E, 188D,193A, 209F, 213A, 213E, 214F, 217F, 218C,
missão de Constituição e be para R$ 14.041 e na Uni- to enfrenta obstáculos. Na
219D, 220E, 223B, 225B, 228F, 229C, 233F, 234E, 238F, 246E, 247F, 251F, 251P, Justiça (CCJ) do Senado. ão, de R$ 9.902. avaliação de técnicos da pas-
253D, 257B, 263D, 270F, 271F, 275E, 280A, 281E, 286A, 286E, 290F, 293E, 296A, Da economia estimada No documento, o CLP ta, a proposta avançou na
300A, 301F, 306A, 306C, 306D, 307A, 311D, 316D, 318F, 320C, 321F, 322E, 322F, pelo CLP, R$ 900 milhões ressalva que parte dos ga- Câmara como uma resposta
323A, 326E, 339A, 339C, 340D, 342F, 345D, 349MM, 351A, 352C, 352F, 355C, ficariam com a União; R$ nhos extra-teto são refe- da Casa às ações do Judiciá-
357E, 359D, 360C, 361C, 361F, 362F, 365A, 366F, 368E, 370E, 372E, 373D, 373F,
374F, 375A, 376D, 379E, 382A, 383A, 386A, 391A, 392A, 402D, 404E, 409C,
2,5 bilhões com os estados e rentes a indenizações legí- rio. A situação, contudo, te-
410E, 414A, 414E, 427E, 428D, 433F, 444A, 451A, 457A, 458F, 459A, 470F, 471A, R$ 400 milhões com os mu- timas. Mas, mesmo exclu- ria sido amenizada no atual
475A, 476A, 478A, 479F, 481D, 488A, 492A, 511A, 519F, 522A, 526F, 528A, nicípios. O estudo aponta indo da conta os ganhos le- cenário, tanto no governo,
529A, 538A, 542A, 547A, 549F, 550A, 554A, 562A, 571MM, 572F, 573A, 600A, que existem 7,7 mil servido- gítimos, o rendimento aci- quanto no Congresso.
603F, 622A, 630A, 637A, 642F, 643A, 653A, 654A, 676A, 693F, 718F, 725F, 727F,
911MM, 959A, AP285, B2397, B2412, B2565, B2613, B2625, B2661, B2677,
B2814, B3011, B3077, B3166, B3210, B3266, B3317, B3441, B3595, B4118,
B4253, B4313, B4383, B4525, B4533, B4619, B4673, B4734, B4902, B4942,
GASTO ANUAL ACIMA DO TETO
B4957, B5002, B5060, B5177, B5232, B5269, B5347, B5404, B5439, B5467,
Federal 0,9 (em R$ bilhões)
B5497, B5700, B5738, P0022, P0278, P0347, P0451, Y0026, Y0028, Y0029,
Y0034, Y0039, Y0054, Y0058, Y0059, Y0075, Y0080, Y0082, Y0100, Y0102, Estadual 2,54
Y0106, Y0117, Y0119, Y0171, Y0220, Y0221, Y0230, Y0247, Y0248, Y0251, Municipal 0,44
Y0252, Y0253, Y0258, Y0276, Y0291, Y0297, Y0307, Y0309, Y0314, Y0329, TOTAL 3,9
Y0352, Y0366, Y0388, Y0402, Y0406, Y0408, Y0417, Y0420, Y0421, Y0432,
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
Y0440, Y0452, Y0536, Y0558, Y0584, Y0595, Y0602, Y0609, Y0623, Y0639,
Y0708, Y0715, Y0729, Y0741, Y0795, Y0813, Y0821, Y0862, Y0864, Y0880, Divisão por esfera de governo Remuneração média acima do teto, por esfera de governo (em R$ )
Y0883, Y0884, Y0905, Y0920, Y0930, Y0931, Y0947, Y0953, Y1001, Y1003, entre os servidores que
Y1017, Y1214, Y1235, Y1261, Y1273, Y1285, Y1295, Y1301, Y1328, Y1372, ganham acima do teto (Em %) Federal 9.902
Y1374, Y1410, Y1431, Y1445, Y1446, Y1502, Y1507, Y1551, Y1603, Y1614, Estadual 13.838
Y1642, Y1659, Y1665, Y1668, Y1679, Y1713, Y1759, Y1806, Y1813, Y1824, Federal Estadual Municipal Municipal 14.041
Y1827, Y1850, Y1851, Y1871, Y1877, Y1961, Y1965, Y1966, Y2037, Y2098,
29,8 60 10,2 TOTAL 12.685
Y2101, Y2148, Y2231, Y2263, Y2318, Y2352, Y2384, Y2413, Y5224.
0 3 6 9 12 15

Nota de Redação: Excepcionalmente nesta segunda-feira não será publicada a seção Valor Investe.
OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023
Rio
CAMINHOS DA ADOÇÃO
Situação de crianças em abrigos
desafia Vara da Infância há um século
Histórias de abandono. Documento da antiga Casa dos Expostos no Museu da Justiça: acervo doado no centenário do 1º Juizado de Menores do Brasil trata de crianças em abrigo desde o século XVIII
ROBERTA DE SOUZA
roberta.souza@oglobo.com.br
-
H á cem anos, a legislação
para a infância ganhava
atenção especial do Estado.
Em 1923, foi criado o 1º Jui-
zado de Menores do Brasil e
da América Latina, no Rio
de Janeiro, então Distrito
Federal. E, desde o início a
sua história, a 1ª Vara da
Infância e da Juventude lida
com processos de abando-
no. Já no segundo ano de
funcionamento, 81% das
movimentações estavam li-
gadas a crianças e adoles-
centes em situação de vul-
nerabilidade, muitas viven-
do nas ruas, que necessita-
vam de abrigos e dependiam
do juiz para isso.
Ao longo de um século de
existência, houve inúme-
ras mudanças no campo ju-
rídico e social, mas a reali-
dade desses jovens conti-
nua sendo um desafio: há
1.597 crianças e adoles-
cente abrigadas no estado
do Rio. Alguns de forma
provisória, aguardando a
reestruturação familiar,
outras à espera de adoção.
Com um trabalho de desta-
que que envolve busca ati-
va de famílias para crianças
que podem ser adotadas, a
1ª Vara conseguiu concluir
200 processos do tipo des-
de julho do ano passado.
Hoje, há 2.690 pessoas in-
teressadas na fila e 145 jo-
vens aptos a um novo lar.
No passado, as crianças
que não tinham mais famíli-
as eram encaradas como um
objeto de caridade ou como
uma alternativa para quem
não tinha herdeiros. A práti-
ca da adoção, que existia an-
Roda. Cilindros onde crianças eram deixadas para serem cuidadas por instituição: reencontro com as famílias era raro
tes mesmo do Código Civil,
tinha requisitos específicos
que limitavam sua ampla
utilização.
— Apesar dos avanços,
sabemos que os desafios
ainda são inúmeros dada a
complexidade do tema e a
responsabilidade que exi-
ge. Mas nosso esforço pre-
cisa da parceria de outros
atores fundamentais: os
poderes Executivo e Legis-
lativo e, claro, a sociedade
— analisa o presidente do
TJRJ, desembargador Ri-
cardo Rodrigues Cardozo,
ao dizer que garantir o di-
reito das crianças e adoles-
centes é um dever de toda a
sociedade.
ABANDONADOS NA “RODA”
Bem antes de todo o respal-
do jurídico para esses me-
nores existir, o Rio tinha
apenas um abrigo formal
para as crianças abandona-
das. A primeira foi criada há
285 anos, na sede da Santa
Casa de Misericórdia, no
Centro. Ela tinha uma roda
fixada em uma dependência
próxima à portaria, junto à
igreja, onde os pequenos
eram colocados em um su-
porte cilíndrico que girava.
Um sino era tocado para avi-
sar que, naquele momento,
alguém estava deixando ali
uma criança para que a ins-
tituição cuidasse.
Esse método, que era utili-
zado na era medieval para
entregar mensagens ou co-
mida, foi uma alternativa
criada para evitar o abando-
no de crianças em locais co-
mo bosques, lixos e portas
de igreja, onde ficavam ex-
postas ao frio, fome ou ata-
ques de animais.
Ao contrário do que se
pensa, nos anos em que a
roda funcionou, ela não
recebia apenas crianças
NA LAGOA RODRIGO DE FREITAS
Capivara Armando é achada ferida
NA WEB Acionada, Patrulha Ambiental diz que levará animal para centro de tratamento
1.597
crianças e adolescentes
em abrigos
O total hoje no estado,sendo que
algumas estão de forma tempo-
rária e outras à espera de adoção
2.690
pessoas interessadas
em adotar
Número hoje na fila do Rio de
Janeiro,que tem 145 jovens
aptos a uma nova família
“indesejadas”. Muitas
eram colocadas lá com bi-
lhetinhos que explicavam
as razões do abandono, ge-
ralmente relacionado a di-
ficuldades financeiras, e
que prometiam o retorno.
A Casa dos Expostos, que
FOTOS DE HERMES DE PAULA
depois recebeu o nome de
Fundação Romão Duarte,
abrigou jovens durante
três séculos e fechou as
portas definitivamente no
ano passado. No início
desse mês, ela doou parte
do seu acervo ao Museu da
Justiça.
Entre os itens cedidos, há
documentos e livros com in-
formações sobre a entrada
de crianças na instituição e
a própria “roda dos expos-
tos”. Nos livros de registros
que foram para o museu, é
possível encontrar detalhes
minuciosos sobre objetos
deixados com as crianças
entregues na roda, assim co-
mo descrições da roupas
que elas usavam e suas ca-
racterísticas físicas. Apesar
do esforço em identificar os
menores, os reencontros
com os pais eram raros devi-
do à alta mortalidade infan-
til, em que mais da metade
morria até os três anos, co-
mo pontua a historiadora
Mary Del Priore.
FILHOS DE ESCRAVIZADAS
Segundo ela, a crescente ur-
banização a partir do século
XVIII e a promulgação do
Ventre Livre, lei abolicio-
nista que determinada que
os filhos de escravizadas se-
riam considerados livres,
foram alguns dos fatores
que contribuíram para au-
mentar o número de crian-
ças espalhadas pelas ruas do
país. Isso porque, para fugir
das obrigações estabeleci-
das no decreto, os senhores
obrigavam mulheres por
eles escravizadas a deixar os
próprios filhos.
Em 1927 foi estabelecido
o primeiro Código de Me-
nores do Brasil. Nele, foi de-
| 13
PARA
ACESSAR
APONTE
O CELULAR
PARA
O QR CODE
cretado o fim do sistema de
rodas. Mas elas continua-
ram funcionando em diver-
sas cidades do país. No Rio,
por exemplo, a roda só foi
abolida onze anos depois.
Em 1965, houve outro
ponto importante no direi-
to da infância: a lei 4.655,
considerada um marco na
evolução da adoção no Bra-
sil. Ela estabeleceu as regras
para a legitimação adotiva,
cuja aplicação se direciona-
va aos casos de adoção de
crianças com até sete anos,
abandonadas pelos pais bio-
lógicos. Porém, como expli-
ca a professora de Direito da
FGV Rio Elisa Cruz, o ponto
de virada mais significante
nessa história é a Constitui-
ção Federal de 1988:
— Até 1988, a adoção era
vista como uma forma de ca-
ridade, muito carregada no
sentido religioso, ou como
uma alternativa de quem não
tinha herdeiros para deixar o
patrimônio. Foi só com a
Constituição que a sociedade
passou a ter um olhar proteti-
vo para a criança, e a adoção
passou a ser considerada
uma forma de proporcionar
uma família para ela — conta
a professora, dizendo que a
Constituição também foi res-
ponsável por proibir a discri-
minação entre os filhos de
qualquer origem.
Coordenadora do setor de
Psicologia do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de
Janeiro (TJRJ), Érika Pieda-
de coloca a convivência fa-
miliar como um dos proces-
sos mais importantes de co-
nhecimento de mundo e diz
que, no fundo, todas as cri-
anças precisam ser adota-
das, seja por sua família bio-
lógica ou não.
— Todo filho precisa ser
adotado emocionalmente
Se ele não é adotado pela
própria família, ele acaba
sendo filho de algum outro
parente ou de uma pessoa
próxima que o acolhe afeti-
vamente —diz Érika.
Carlos Renato Barbosa,
começou o processo para
adotar sentimentalmente e
financeiramente uma cri-
ança aos 44 anos. O gerente
de projetos descobriu a pos-
sibilidade de adoção mono-
parental por meio de um
amigo, e viu nessa possibili-
dade a chance de realizar o
sonho de ser pai.
—Eu sempre quis ser pai,
mas não sabia da possibili-
dade de adotar uma criança
sendo solteiro —conta ele,
que entrou na fila imagi-
nando um filho entre seis e
sete anos de idade.
Durante o processo, que
durou dois anos, ele conhe-
ceu Christofer, que tinha
12. E mudou radicalmente
de ideia. Isso foi em 2012.
Carlos Renato recorda:
—Era triste ter que visitar
meu filho no abrigo e não po-
der levá-lo para casa. Foi uma
época dolorosa —conta ele,
que hoje vê orgulhoso o filho,
aos 22 anos, seguir seus pas-
sos na arte do desenho. —
Meu filho é muito talentoso.
 14 | Rio Segunda-feira 17.7.2023 | OGLOBO

Com cidade em clima de

MARCIA FOLETTO

férias, hotéis esperam

ocupação acima de 70%
Praias da Zona Sul e pontos turísticos como o Pão de Açúcar e
o Cristo já sentem aumento de turistas de outros estados

MADSON GAMA E NATÁLIA BOERE

granderio@oglobo.com.br
melhores destinos turísti-
cos do mundo. Eu acho
-
maravilhosa essa junção de
maravilhosa, muito com-
pleta. Tem a praia, tem os
morros, tem uma infraes-

Em pleno inverno, as féri- mar, montanha e floresta

as no Rio foram brinda-
das com fim de semana de
que a cidade tem. Isso é
muito raro. Eu sempre ve-
trutura boa, tem muitos
pontos turísticos para co-
nhecer. Vamos embora
sol e mais turistas, especial- nho por causa disso e dos amanhã (hoje) e ainda não Cara de verão. Pessoas admiram a paisagem e os surfistas no mar de cima da Pedra do Arpoador: programa de férias
mente de estados vizinhos, teatros e shows—contou a conseguimos fazer tudo — LEO MARTINS
circulando por pontos tu- funcionária pública. lamentava Kelly, que mora terói, os surfistas de ondas
rísticos, como o Pão de Açú- Presidente do HotéisRIO, na Região Metropolitana de grandes deram espetáculo
car e Cristo Redentor. A Alfredo Lopes, diz que a São Paulo. na Praia de Itacoatiara. No
estimativa da HotéisRIO é tendência é a cidade rece- sábado, numa manhã cha-
que a ocupação hoteleira da ber mais pessoas do que o “SONHO DE INFÂNCIA” mada de “épica”, as ondas
cidade supere a casa dos esperado inicialmente: A empreendedora Elizama chegaram a quatro metros
70% este mês, já que mes- —No início do mês nossa Moura, de 24 anos, vive na por causa da ressaca, permi-
mo agora na estação mais expectativa era de 70%, Ilha de Marajó, no Pará, e tindo a primeira chamada da
fria muita gente procura a com viés de alta. Isso por- ontem aproveitava a Praia competição de tow-in — em
cidade como destino. que se trata de um mercado da Urca ao lado da mãe e da que o atleta é levado por um
Ontem, a temperatura nacional, com turistas pre- tia. Hospedada no Leme há jetski até a onda, por causa
chegou a atingir 29 graus, dominantemente oriundos 20 dias, ela conta que co- de sua potência —do Itacoa-
segundo o Alerta Rio. Na dos estados de São Paulo e nhecer o Rio era um sonho tiara Big Wave (IBW).
orla da Zona Sul, a Pedra do de Minas Gerais, que fazem de infância: O campeonato teve parti-
Arpoador ficou cheia du- a reserva mais em cima da —Cada local novo que cipação dos principais no-
rante o dia, com gente ob- hora. Logo, essa taxa de conhecemos nos surpreen- mes brasileiros da modali-
servando os surfistas enca- ocupação deve crescer — demos, porque o Rio é a dade, como Gabriel Sam-
rando ondas de até dois aposta Lopes. coisa mais linda do mundo “Turistando”. A mineira Eliane Cabral: natureza e cultura do Rio são atrativos paio e Lucas Chumbo.
metros, ainda por causa da Pela primeira vez na cida- —disse Elizama, encantada Hoje, a previsão para o
ressaca provocada pelo de, a comunicadora Kelly com a viagem. Telegraph. A publicação panha, e Veneza, na Itália. Rio, de acordo com o Alerta
ciclone extratropical. Marques, de 36 anos, está E os turistas estrangeiros destacou pontos famosos “É o ponto mais festejado Rio, é de nebulosidade, mas
Mineira de Belo Horizon- hospedada com a mãe e não discordam dela: o Rio como o Cristo Redentor e o do Brasil no mapa”, desta- sem chuva. Já amanhã e
te, a turista Eliane Cabral, duas tias na Barra da Tijuca, de Janeiro ficou entre as dez Pão de Açúcar, colocando a cou o jornal. quarta, o tempo fica instá-
de 57 anos, aproveitou o mas ontem resolveu se des- cidades eleitas como me- capital fluminense em 7º O clima de quase verão do vel, com possibilidade de
domingo ensolarado no locar para a Zona Sul e co- lhores destinos turísticos lugar no ranking, atrás de fim de semana também to- chuva fraca a moderada,
Arpoador. nhecer o Pão de Açúcar. do mundo, numa lista feita cidades como Vancouver, mou areias do outro lado da por causa da passagem de
—O Rio é mesmo um dos —O Rio é uma cidade pelo jornal britânico The no Canadá, Sevilla, na Es- Baía de Guanabara. Em Ni- uma frente fria.
OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023 Rio | 15

Tempo
TEMPERATURA SOL E LUA Nasc. 6H32 Cheia Ming. Nova Cresc.
> 40º 37º/40º 33º/36º 29º/32º 25º/28º
12º/14º 20º/24º 16º/19º 12º/15º < 12º Poente 17H25 01/08 16/07 17/07 25/07

PREVISÃO Sol Nublado Nublado Pancadas Nublado Chuvas e Geada MARÉ Hora BAIXA 0h41m 5h51m BAIXA 13h03m 18h43m
parcialm. de chuva c/ chuvas trovoadas Altura 0,5m ALTA 1,1m 0,3m ALTA 1,1m

27°
Macapá Fortaleza
BRASIL RIO Porciúncula
13° Previsão
ZONA
SUL
ZONA
NORTE
ZONA
OESTE
SENSAÇÃO
TÉRMICA/RIO
PROBABILIDADE
DE CHUVA
Boa Vista 24°/ 31° 23°/ 32° Amanhecer frio e geada no Dia de sol, com poucas Bom Jesus do 28°
23°/ 30° Natal
RS. Chuva segue concen- nuvens e tempo firme. As Itabapoana 14° HOJE 15°/25° 14°/27° 14°/27° 19°/28° Baixa
São Luís 22°/ 29°
Belém trada no leste e litoral do RN, temperaturas sobem mais à 30°
AMANHÃ 16°/24° 15°/26° 15°/26° 20°/23° Alta
Manaus 24°/ 33° João Itaperuna NORTE São Francisco 29°
24°/ 32°
23°/ 32° PB, PE e SE. Pancadas tarde e faz calor. 14°
de Itabapoana 16°
Pessoa Santo Antônio 29° QUARTA 18°/19° 17°/21° 17°/21° 21°/23° Alta
23°/ 28° isoladas na Região Norte e de Pádua 14°
Porto Velho
22°/ 34°
Teresina Recife chuva forte no PR. 30° São João 29° QUINTA 16°/21° 15°/23° 15°/23° 20°/21° Alta
22°/ 36° São Fidélis Campos
30° da Barra 15°
22°/ 28° 15°
Rio Branco Palmas Maceió
16° SEXTA 19°/21° 18°/23° 18°/23° 19°/21° Alta
19°/ 36° Santa Maria 24°
18°/ 31° 21°/ 27°
27° Paraíba SERRANA Madalena 10° SÁBADO 18°/24° 17°/26° 17°/26° 17°/22° Baixa
Brasília Salvador Aracaju 14° do Sul Nova 20°
Cuiabá Friburgo 9°
17°/ 33° 13°/ 28° 23°/ 27° 23°/ 28° 20° Visconde 24°
24°
Teresópolis
DOMINGO 18°/24° 17°/26° 17°/26° 19°/23° Baixa
de Mauá Valença 30°
Vitória 11° 11° Casimiro 30° Macaé
Campo Grande 16° 16°
15°/ 30° 25° Volta de Abreu 15°
17°/ 28° 25° 16° Redonda Barra 27° Cachoeiras Rio das 30°
Belo Horizonte Resende Petrópolis de Macacu
16° do Piraí 17° Ostras 16°
11°/ 27° 25° Barra 23° 28° Silva Jardim
Goiânia
16° Mansa 27° Duque 10° 29° 27° Praias - Impróprias: Barra da Ondas - Ondas de 1,0 metro. Ventos - Rajadas de vento
14°/ 31° Rio de Janeiro SUL 13° Búzios
14°/ 27° 16° de Caxias LAGOS 16° 14° Tijuca, Botafogo, e Leblon. Ondulação de sul-sudeste. variando de 40 a 50 km/h no
29°
26° Araruama
27° Melhores locais: Arpoador, litoral norte.
São Paulo Mangaratiba 27° Rio de 15° Cabo Frio
17°
14°
Janeiro Niterói
Maricá Saquarema 14° Macumba Ricopoint e Prainha.
12°/ 23° Angra 25°
26° 27° 28°
dos Reis METROPOLITANA 16°
Porto Alegre Florianópolis Curitiba 17° 14° 15° informações: Inea informações: Ricosurf
25°
7°/ 16° 13°/ 18° 11°/ 19° Paraty
16°

Pai e filha são presos por ataque e morte em hospital

Os dois são acusados de homicídio pela Polícia Civil porque, durante o quebra-quebra na unidade, uma paciente acabou morrendo

CARMÉLIO DIAS E dois também invadiram a sala sacato. Samara foi autuada mou que, por volta das 3h30, (SMS), a equipe tentou rever- filha presos, alegou que o
GIULIA VENTURA
grandrio@oglobo.com.br vermelha —onde ficam paci- ainda por coação, já que ame- André Luiz chegou à emer- ter o quadro, sem sucesso. O atendimento é precário na
-
entes com quadros mais gra- açou a médica de morte ao gência com “pequeno corte óbito foi constatado às 4h30. unidade, “com apenas uma

U m quebra-quebra no Hos-
pital Municipal Francisco
da Silva Telles, em Irajá, na
ves. Pouco depois, uma idosa
de 82 anos, que estava em es-
tado gravíssimo, morreu.
ser presa, segundo informou
o delegado Geovan Omena,
da 27ª (Vicente de Carva-
em um dedo da mão esquerda,
sem gravidade”. Ele estava
acompanhado da filha, que le-
A Polícia Civil relaciona a
morte da mulher com o ocor-
rido. A SMS diz que óbito foi
médica e pouquíssimas enfer-
meiras”. Sobre isso, a secreta-
ria informou que, “no setor de
Zona Norte do Rio, levou pai e Segundo a Polícia Civil, al- lho), que investiga o caso. vava com ela uma criança de constatado uma hora após os clínica médica desta unidade,
filha a serem presos em fla- guns dos pacientes diagnos- —Foi um ataque de fúria, al- colo. “Os dois já chegaram à dois entrarem no hospital e o plantão noturno é compos-
grante por homicídio doloso, ticados com infarto chega- go completamente injustificá- unidade bastante alterados e que só a polícia poderá dizer se to por dois médicos”, mas que
com dolo eventual, na ma- ram a deixar a sala para se es- vel. Eles estavam descontrola- ele dizia estar armado”, infor- a confusão impediu atendi- “um dos profissionais escala-
drugada de ontem. André conder. A médica plantonis- dos e aprontaram um caos no mou a direção, em nota. mento a um paciente cuja dos para esta noite teve um
Luiz do Nascimento Soares, ta foi agredida com um soco hospital porque queriam ter o morte poderia ter sido evitada. problema de saúde e não pôde
de 48 anos, e Samara Kiffini no rosto , caiu no chão e foi privilégio de passar na frente PACIENTE EM RISCO A SMS afirma ainda que comparecer”.
do Nascimento Soares, de 23, chutada pelo homem. Ela te- de todos. Não lhes foi negado Em meio à confusão, às 4h, “todas as emergências da ci- O advogado disse ainda que
se irritaram com a demora no ve corte na parte interna da atendimento, mas eles não ti- uma paciente de 82 anos, que dade atendem por classifica- “acusar os réus de homicídio
atendimento, destruíram vi- boca, recebendo cinco pon- veram paciência para esperar estava em estado gravíssimo e ção de risco, com prioridade de um paciente que já estava
dros da unidade de saúde e tos. Por isso, além do homicí- a vez —disse o delegado Geo- necessitava de monitoramen- absoluta aos pacientes com internado naquela unidade,
agrediram uma médica, a úni- dio, André e a filha também van Omena, da 27 DP (Vicen- to, teve uma parada cardior- quadros de maior gravidade”. possivelmente com um qua-
ca que estava no plantão no- responderão por lesão corpo- te de Carvalho). respiratória. Segundo a Secre- Ao G1, o advogado Cláudio dro clínico ruim, é forçoso de-
turno na clínica médica. Os ral, dano ao patrimônio e de- A direção do hospital infor- taria municipal de Saúde Rodrigues, que defende pai e mais”.

Paes: comércio em área

MARCIA FOLETTO

residencial pode ser revisto

Proposta da prefeitura no novo Plano Diretor atinge trechos da Zona Sul

LUIZ ERNESTO MAGALHÃES

luiz.magalhaes@oglobo.com.br
hoje só podem ser construí- primeira discussão, realiza-
das casas em trechos ou ruas da no fim de junho. Um dos
-
inteiras de bairros como Jar- pontos polêmicos é a revo-

O prefeito Eduardo Paes di-

vulgou ontem pelas redes
sociais que o governo munici-
dim Botânico, Leblon e Cos-
me Velho.
— É um tema super com-
gação de legislações especí-
ficas dos bairros com a apro-
vação de um texto válido pa-
pal ainda não teria uma posi- plexo, delicado, que envolve ra toda a cidade, que não le-
ção fechada sobre novas re- uma série de questões da ci- va em conta a história e par-
gras urbanísticas em análise dade. A Câmara está discu- ticularidades dos lugares.
na Câmara de Vereadores tindo a matéria com toda res- Em Botafogo e no Humaitá,
dentro da revisão do Plano Di- ponsabilidade. O governo a versão aprovada permiti- Polêmica. Rua residencial no Jardim Botânico: associações criticam mudanças liberando comércio nessas áreas
retor. Em um vídeo, Paes cita não tem uma posição fecha- ria, por exemplo, a constru-
reportagem do GLOBO de da, que tem que ser isso ou ção de novos hospitais e es- o triplo da área construída vérsia é a previsão de que na votado até o fim deste ano.
sexta-feira sobre um disposi- ser aquilo. Mas estamos bus- colas, proibidos há mais de caso sejam convertidos em maior parte da cidade a cons- —A gente defende que se-
tivo já aprovado em primeira cando flexibilizar, melhorar 30 anos para evitar mais habitação. Já integrantes da trução de garagens seja facul- jam mantidas as regras ex-
discussão que libera ativida- a legislação do Rio. A atual é transtornos ao trânsito e à comissão criada pelo Legis- tativa quando o imóvel for er- clusivas para os bairros e
des comerciais em ruas exclu- muito antiga, de 1976, em qualidade de vida. lativo para estudar o projeto guido em áreas bem atendi- que seja regulamentada no
sivamente residenciais, prin- uma lógica urbana diferente, Há ainda itens que geram têm outra leitura sobre esse das pelo transporte público. Plano Diretor a forma como
cipalmente na Zona Sul. Pro- em uma cidade diferente. A interpretações diferentes. ponto. Para eles, os usos co- A última discussão do Pla- será aplicado o Estudo de
posta pela própria prefeitura, gente está aberto a sugestões. O texto, segundo leitura de merciais seriam permiti- no Diretor ocorrerá a partir Impacto de Vizinhança —
em uma emenda encaminha- Vamos olhar isso com muito alguns especialistas, teria dos, mas de forma restrita. de agosto, quando termina o diz a vice-presidente da Fe-
da ao Legislativo municipal carinho—disse Paes. brechas como a que permi- Bares, clínicas e outras ati- recesso de meio de ano. Os deração das Associações de
no fim do ano passado, a me- Especialistas reclamam tiria em atuais zonas resi- vidades só poderiam ocupar vereadores devem propor Moradores do Rio (Fam-
dida permitiria restaurantes, de uma série de dispositivos denciais exclusivas que cerca de 30% da área total. mais de mil emendas . A pre- Rio), Regina Chiaradia, que
lojas, escolas e clínicas onde aprovados em votação na imóveis comerciais tenham Outro motivo de contro- visão é que o texto final seja pede encontro com Paes.

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16 | Rio
Leitores
MENSAGENS CARTAS@OGLOBO.COM.BR
As cartas, contendo telefone e endereço do autor, devem ser dirigidas à seção Leitores. O GLOBO, Rua Marquês de Pombal 25, CEP 20.230-240. Pelo fax, 2534-5535 ou pelo e-mail cartas@oglobo.com.br
Educar, não adestrar
Magistral a conclusão de Daniel
Becker em seu artigo sobre a
guerra da extrema direita
contra a escola (16 de julho).
Segundo ele, a escola, espelho
da sociedade, está precisando
do apoio desta e dos governos
para cumprir bem a sua mais
importante missão, a de formar
cidadãos críticos, que a nossa
frágil democracia está tanto a
precisar. A reflexão crítica deve
ser o pilar da educação, e o
verdadeiro mestre é aquele que
ensina a criticar e duvidar,
inclusive dele mesmo. E o que a
extrema direita defende é uma
escola militarizada, onde, em
vez de educar, se adestra.
PEDRO HENRIQUE M. FONSECA
RIO
_
Muito obrigado, Daniel Becker.
Nada melhor do que usar a
inteligência para escrever sobre
escolas de paz, como você fez
recentemente no mesmo jornal e,
agora, apresentando argumentos
irrefutáveis contra a guerra
ideológica travada por setores
extremistas contra a escola
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44. O leitor deve checar os resultados também em agências oficiais e no site da CEF porque, com os horários de fechamento do jornal, os números aqui publicados, divulgados sempre no fim da noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados.
Segunda-feira 17.7.2023 | OGLOBO
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pública brasileira. Precisamos de Por que, em vez do ócio e de manter o status quo que lhe é dependendo do restaurante, os
mais e mais escolas que supostas conspirações, as Forças extremamente favorável, num clientes param seus carros na Colar de melancia
trabalhem com base nos Armadas não tentam resgatar dos países mais desiguais do porta, em fila dupla!
ensinamentos de Paulo Freire, grandes áreas da Amazônia mundo. Quando terroristas Pequenos locais mais do que Futebol é coisa séria. Assim, o
que possam semear a ocupadas pelo narcotráfico passaram a usar aviões como duplicam sua área avançando jogador que tira a camisa após
inteligência, ampliar associado a garimpeiros e armas, foram adotadas pela área externa! Tá fácil para um gol deveria ser expulso na
possibilidades para expandir a madeireiros traficantes? A cada medidas de prevenção que, se os restaurateurs e chefs… hora por conduta inadequada.
liberdade de pensamento, dia o país vem perdendo terreno feriam “liberdades individuais”, (“Gastronomia de cara nova”, 16 Quer aparecer? Que tal uma
solidariedade, respeito ao outro e para a bandidagem nacional e mostraram-se eficazes na de julho). E… não adianta ligar melancia pendurada no pescoço?
direito de voz ativa. O ensino internacional, enquanto os proteção à vida. Faz-se e/ou reclamar pelo 1746. ALTAIR HUMBERTO SANTOS
público de boa qualidade requer, militares parecem preferir o necessário algo semelhante CLÁUDIA SÁ RIO
acima de tudo, professores, falatório e os delírios golpistas, para proteger a nossa frágil RIO
didática e pedagogicamente, não tão delirantes assim. democracia. tão sujeita a
bem preparados e dedicados, e Talvez seja a hora se calçar o golpes ao longo da História! Futebol e mais nada
não militares da ativa ou coturno e trabalhar ODILON JUNQUEIRA
Livres para ver Marta
aposentados que venham ocupar efetivamente pela preservação RIO Atualmente uma equipe brasileira
funções próprias dos docentes da soberania do país. Num país com sérios participa com brilhantismo de um
em escolas militarizadas, que ANTONIO FARIAS problemas a ser resolvidos e a certame paraolímpico. Inúmeras
jamais deveriam existir. NITERÓI, RJ
Um boom do mal maioria do povo sequer sabe os medalhas têm sido ganhas.
SINVALDO DO NASCIMENTO SOUZA nomes das atletas brasileiras Torneios de vôlei masculino e
RIO No Leblon, o número de que irão disputar a Copa do feminino, onde competem as
Ações de prevenção restaurantes e bares cresce Mundo de futebol feminino a melhores equipes do mundo, têm
sem parar, muito, pela falta de ser realizada na Austrália em tido excelentes participações de
Ócio castrense Os covardes ataques de fiscalização, que permite que os 2023, o governo decretar ponto nossas equipes. O GLOBO não
neofascistas brasileiros às mesmos avancem por calçadas facultativo e dispensar os publica nada a respeito. Assim
Segundo a Wikipedia, as Forças autoridades no exterior, o mais e estacionamentos de rua, funcionários públicos de suas como não informa seus leitores a
Armadas brasileiras possuem recente deles ao ministro do prejudicando ou até impedindo funções em dias de jogos da respeito de basquete, lutas,
360 mil militares, num aparente Supremo Alexandre de Moraes a passagem de moradores, nossa seleção é no mínimo um esportes aquáticos, ginástica...
estado de ócio. A imagem do e seus familiares, evidenciam a carrinhos de crianças etc. Mais equívoco. Além do mais, o Sobre o futebol, só as equipes de
faz-tudo tenente-coronel necessidade de a democracia ainda, a falta de fiscalização Brasil não é mais somente o ponta, desconhecendo as bases e
Mauro Cid fardado e cheio de brasileira adotar medidas mais permite que músicas altas país do futebol, e parece que só as agremiações menores.
comendas se recusando a falar severas de proteção. Esses incomodem a vizinhança pelo o governo não se apercebeu Considerem essa mensagem
na CPI (quem cala, consente) ataques em geral partem de tempo e no horário que disso. como uma crítica construtiva.
enquanto o povo rala de sol a uma elite privilegiada, disposta quiserem! Estacionamento MARCOS COUTINHO ALFREDO ESSINGER
sol gerou reações. a tudo, inclusive matar para também não é problema, pois, RIO RIO
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Segunda-feira 17.7.2023 | Classificados | OGLOBO | 17

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NEGÓCIOS&LEILÕES
JOÃO EMÍLIO
Máquinas,
equipamentos
e veículos

WILLIAM FAWCETT/GETTY IMAGES

CRITÉRIOS ASG
O levantamento do
Pacto Global da ONU
no Brasil mostra que,
entre as empresas
que faturam mais de
R$ 5 bilhões, 91,9%
já inseriram critérios
ASG na elaboração das
estratégias de negócio.

Cuidado ambiental.
Empresas recuperam e
preservam áreas de mata

O
PROTEÇÃO A
Dia de Proteção às preservação de corpos hídri-
Florestas não é come- cos — e apoia a gestão dos
morado apenas por ambien- locais com o uso da tecnolo-
talistas a cada 17 de julho. gia e da capacitação de briga-

FLORESTAS: LUCRO
Cuidar desse patrimônio das contra incêndios.
natural já é uma missão O objetivo é adotar ao
adotada por muitas empre- todo uma área equivalente
sas que, além de cumprirem à de suas florestas próprias

um papel complementar ao
do poder público e de contri-
buírem para o futuro da
Humanidade, estão obser-
vando benefícios para suas
atividades e negócios com a
adoção dessa estratégia.
Parte das ações está
compreendida na letra
“A” da famosa sigla ASG
(Ambiental, Social e de
Governança) e guarda rela-
ção com benefícios sociais
de comunidades que se rela-
cionam com as matas e que
proporcionam uma visão
de longo prazo sustentá-
vel para os negócios. Por
isso, tem crescido a adesão
a programas ambientais
como o de proteção às
florestas.
Segundo pesquisa feita
no ano passado pelo Pacto
Global da ONU no Brasil,
em parceria com a plata-
forma Stilingue e a consul-
toria Falconi, 78,4% das
organizações já inseriram
critérios ASG em suas
estratégias de negócio,
e 59,5% alocaram essas
ações no orçamento. Entre
E SUSTENTABILIDADE
Investimento em áreas de preservação de matas ajuda a combater o
aquecimento global, preserva a biodiversidade e valoriza as marcas
as participantes, 40% são do
setor de serviços; 20%, da
indústria; 11%, de energia; e
8%, do agronegócio.
Cuidar das florestas ajuda
a combater o aquecimento
global, a preservar a biodi-
versidade e a valorizar as
marcas. A Farm, marca de
moda feminina, tem meta
de plantar mil árvores por
dia em seis biomas brasilei-
ros: Amazônia, Caatinga,
Cerrado, Mata Atlântica,
Pampas e Pantanal. O
trabalho com especialis-
tas parceiros já resultou
no plantio de mais de um
milhão de mudas que serão
fonte de alimentos para os
habitantes das regiões. A
grife também procura zerar
suas emissões de CO2 e
obter créditos de carbono.
— O trabalho é muito
complexo e desafiador, mas
está dando certo. O projeto é
fruto da estratégica de fazer
algo com forte poder, como
o de um megafone. Somos
uma marca responsável e
buscamos ser sustentáveis
cada vez mais — explica o
head de Marketing da Farm,
Diego Francisco.
O investimento na pre-
servação do verde está
longe de ser um dinheiro
jogado fora. Para o grupo de
transporte e logística Águia
Branca, a posse de uma área
no Espírito Santo de mais
de 2,2 mil hectares numa
região de Mata Atlântica foi
a oportunidade para conver-
ter o lugar em uma reserva
particular do patrimônio
natural (RPPN), o que
implica responsabilidade na
preservação de mais de 800
espécies da flora e da fauna.
Os gastos com a manu-
tenção da propriedade são
compensados pela melhor
avaliação da empresa, que
ganha em reputação e se
consolida como uma marca
associada à responsabili-
dade ambiental e social. A
preservação da mata, explo-
rada pelo ecoturismo, ainda
serve de apoio para pesqui-
sas científicas e ajuda a
conservar corpos hídricos.
— Não podemos negar
que a reputação positiva
é um grande benefício
associado ao trabalho que
desenvolvemos na comu-
nidade local e com nossos
públicos de interesse. É um
orgulho contribuir para a
construção de uma socie-
dade mais justa, equitativa
e sustentável — afirma
Bruno Chieppe, diretor de
Relações Institucionais do
Grupo Águia Branca.
PILAR ESTRATÉGICO
A produtora de celulose
Bracell, presente na Bahia e
em São Paulo e Mato Grosso
do Sul, também se dedica
à recuperação e à proteção
de áreas verdes. A fábrica
é abastecida com flores-
tas de eucalipto, mas, além
do compromisso de não
desmatar matas nativas, a
empresa adota áreas públicas
voluntariamente e promove
ações de plantio, prevenção
contra incêndios, combate
ao furto de madeira e à
caça de animais silvestres e
até o fim de 2025, e a meta,
que pode ser estimada em
centenas de milhares de
hectares, já está próxima de
ser alcançada. O programa
foi batizado de “compro-
misso um para um”.
O objetivo ousado traz
benefícios de imagem, mas
também ajuda a promo-
ver mais segurança para
as áreas próprias de plan-
tações que fornecem a
madeira para a produção de
celulose, já que parte delas
fica próxima a florestas, e a
ocorrência de incêndios não
é nada bem-vinda.
— A sustentabilidade é um
pilar estratégico da empresa,
que tem desdobramentos
em todos os campos de atua-
ção. Temos o compromisso
de contribuir para a preser-
vação dos estados onde
atuamos, o que gera muitos
benefícios para a comuni-
dade como um todo. A ideia
deveria até ser copiada por
outras empresas — sugere
Márcio Nappo, VP de Comu-
nicação Corporativa e Sus-
tentabilidade da Bracell.

Obras de arte e imóveis destacam-se na agenda

Além de unidades residenciais e comerciais, na capital e no interior, há ofertas de centenas de veículos
S
erá encerrado amanhã,
às 20h, o leilão de gran-
des oportunidades que
Roberto Haddad comanda
desde a semana passada.
Ainda estão disponíveis
para lances obras de arte e
antiguidades a preços bem
abaixo dos praticados pelo
mercado. Um dos desta-
ques é um quadro de Shiró
Niwa (foto), com valor
inicial de R$ 4 mil. Ao longo
desta semana, ele estará
em captação de peças para
uma nova temporada de
leilões, com data ainda a
ser definida.
As ofertas de imóveis da
semana começam hoje,
às 12h, pelo martelo de
Jonas Rymer, que oferece
apartamento de 41 metros
quadrados na Glória (R$
349,3 mil). Caso não seja
arrematado, o imóvel
voltará a pregão na próxima
quinta-feira, no mesmo
horário, pela metade do
preço de avaliação.
Amanhã, às 11h, Paulo
Botelho estará à frente do
pregão de terrenos (R$
120,3 mil e R$ 211,5 mil) e
de sítio em Campos dos
Goytacazes, quatro lotes
de 600 metros quadrados
cada um em Búzios (R$ 175
mil), casa em Niterói (R$
2,5 milhões), apartamentos
em Campo Grande (R$ 50
mil) e em Santa Teresa (R$
275 mil), além de loja em
Copacabana (R$ 228 mil).
Mais tarde, às 13h30,
apregoa apartamento em
Cabo Frio (R$ 301 mil) e
casa em Niterói (R$ 300
mil). Na quarta, às 11h,
oferta casa em Jacarepa-
guá (R$ 250 mil). Nos
mesmos dias e horários
leiloa veículos, máquinas e
equipamentos.
Amanhã, às 14h, Leonardo
Schulmann oferece apar-
tamentos em Copacabana
(R$ 800 mil), em São
Conrado (R$ 3 milhões),
em Jacarepaguá (R$ 300
mil), na Vila da Penha (R$
400 mil) e no Méier (R$ 300
mil) e casa na Lagoa (R$ 2,9
milhões).
Na quinta, às 14h, Aline
Marques comanda leilão
ROBERTO HADDAD/DIVULGAÇÃO
de gleba (R$ 223,7 mil) e
de prédio de 416 metros
quadrados (R$ 540,1 mil)
em Nova Friburgo, de duas
lojas em Volta Redonda
(R$ 144 mil, o conjunto) e de
apartamentos em Campo
Grande (R$ 390 mil) e em
Petrópolis (R$ 140 mil).
A semana tem ainda a
oferta de 240 veículos multi-
marcas de bancos e segu-
radoras nos tradicionais
leilões comandados hoje,
quarta e quinta-feira, às
14h, por Rogério Menezes.
O primeiro pregão será
on-line, os demais, on-line
e presenciais. Na quar-
ta-feira, às 10h, ele bate o
martelo para diversos equi-
“Peixes”. Óleo sobre tela do artista japonês Shiró Niwa pamentos de informática.
18 | OGLOBO | Classificados | Segunda-feira 17.7.2023

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strangeiros), Móveis (design e antigos), Joias,
lógios e Antiguidades (pratas, cristais, porcelanas
rfins, bronzes, tapetes, móveis…)
Segunda-feira 17.7.2023 | Classificados | OGLOBO | 19

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20 | OGLOBO | Classificados | Segunda-feira 17.7.2023
Leilão
LEILÃO 3774
28º Leilão de Postais,
Fotografias, Impressos e
Colecionáveis
EXPOSIÇÃO
Solicitar através do
telefone (21) 99166-1692.
LEILÃO: Dias 20 e 21 de
Julho de 2023
Quinta e Sexta-feira às 15h
Somente on-line
Organização: PATRICIA
COHEN
Informações: (21) 3322-3050 /
99166-1692 / 99900-1044
pcacohen@yahoo.com.br
LEILOEIRO
Franklin Levy - JUCERJA Nº 93
LOCAL
ONLINE NO SITE
www.levyleiloeiro.com.br
LEILÃO 36417
68º Leilão de Joias da
Reason to Buy Joalheria
EXPOSIÇÃO: informações no
WhatsApp (21) 2522-2280 e
E-mail:
leiloes@reasontobuyjoias.com.br
LEILÃO: Dias 25 e 26 de
Julho de 2023. Terça e
Quarta-Feira às 19h
Exclusivamente Online
LEILOEIRA: Patricia Levy
- JUCERJA Nº 268
LOCAL: hopping Cassino
Atlântico - Av. Atlântica,
4.240 Lj 110 - Térreo -
Copacabana - Rio de
Janeiro - RJ.
(21) 2522-2280/3256-5225
WhatsApp (21) 2522-2280
LEILÃO 36196
LEILÃO DE PREÇOS
REDUZIDOS
ANTIQUARIATO DE
ANTIGUIDADES,
CURIOSIDADES E
COLECIONISMO
EXPOSIÇÃO: Dia 21 de Julho
de 2023. Sexta-Feira das 10h às
15h, com pré agendamento.
LEILÃO SOMENTE ONLINE
Dia 24 de Julho de 2023
Segunda-Feira às 15h
LEILOEIRO: Franklin Levy -
JUCERJA Nº 93
LOCAL: ESTRADA DOS
BANDEIRANTES, 13620,
Vargem Pequena, Rio de
Janeiro - RJ. Telefone : (21)
3258-2274 / (21) 98405-0053
E-mail:
leiloes@antiquariato.com.br
'+.Ì1 &' 7#&415X 5%7.674#5X
'4+)4#(+#5X #2'6'5 '45# ' Ø8'+5
'LD  jV  KRUDV
([SRVLomR GH  D 
(QGHUHoR 5XD 0DUTXrV GH 6mR 9LFHQWH
 ORMD   6KRSSLQJ GD *iYHD
/HLORHLUR 6HYHUR %DUERVD
-XFHUMD  0DWUtFXOD 
HPDLO VEOHLORHLUR#JPDLOFRP
LEILÃO 3773
LEILÃO ART LUZ
EXPOSIÇÃO: APENAS
ONLINE
(21)99589-9986 (HORÁRIO
COMERCIAL) -ITANA NEIVA
E-MAIL:itananeiva@hotmail.com
LEILÃO: Dia 24 de Julho
de 2023
Segunda-Feira às 19h
Organização: ITANA NEIVA.
Informações: (21) 9 9589-9986
SOMENTE ON LINE
SEM RETIRADA NO LOCAL
SOMENTE ENVIO VIA SEDEX
OU PAC
LEILOEIRO: Pedro Sergio Silva
- JUCERJA Nº 234
LOCAL: RUA CAMPOS 104
Parque Lafaete Duque de
Caxias- RJ
LEILÃO 3761
AUREA ANTIGUIDADES
EXPOSIÇÃO: SOMENTE ON-
LINE OU AGENDADO NOS
TELEFONES (21) 22476811 /
971006378
Email: aurealuiz@gmail.com
LEILÃO: DIAS 27 e 28 DE
JULHO DE 2023, Quinta
e Sexta-feira às 19h30
APENAS ON-LINE, LANCES
PRÉVIOS E POR TELEFONE
(21) 99953-1890
Organização:
Aurea e Luiz Guilherme
E-MAIL: aurealuiz@gmail.com
Tel/WhatsApp para contato: (21)
22476811 / 971006378.
LEILOEIRO: Franklin Levy -
JUCERJA Nº 93
LOCAL: Rua Raul Pompéia -
Copacabana - Posto VI - RJ
LEILÃO 3768
CONSTRUCTIVE
LEILÃO ARTE E
COLECIONISMO -
LEILÃO DE JULHO 2023
EXPOSIÇÃO SOMENTE
COM AGENDAMENTO
LEILÃO: Dias 27 de
Julho de 2023
Quinta-Feira às 19h
LEILOEIRA: Patricia Levy
- JUCERJA Nº 268
LOCAL: PRAÇA
EDMUNDO REGO, 38/
608 GRAJAU
Informações: (21) 98155-
9761
CONSTRUCTIVELEILAO
@GMAIL.COM
LEILÃO 3756
GRANDE LEILÃO
O RELICÁRIO
EXPOSIÇÃO: FAVOR
AGENDAR HORÁRIO
Tel.: (21) 98808-8236
WHATSAPP CELSO
LEILÃO: Dias 24 25 e 26
de JULHO de 2023
Segunda - Terça e Quarta-
feira às 19h
E-mail:
reinadodalua@outlook.com
Organização: CELSO PAIVA
LEILÃO SOMENTE ON-LINE
TELEFONE: (21) 98808-8236
WHATSAPP
LEILOEIRO: Franklin Levy -
JUCERJA Nº 93
Local de exposição: Estrada dos
Bandeirantes, nº 22.768,
Vargem Grande - RJ
LEILÃO 3775
LEILÃO DE ARTE E
ANTIGUIDADES
RESIDENCIAL LEME
EXPOSIÇÃO: Somente
agendada: (21) 99636-2529
LEILÃO: Dia 21 de Julho
de 2023
Sexta-Feira às 19h
Somente Online
Organização: Suely
Martins e Gleide Porto
LEILÃO 36530
Telefones: (21) 99636-
ENGENHO De Dentro. Apto. 65ª EDIÇÃO - NEW ART 2529/ 99636-2539/ 99974-
202 da R.Dona Teresa, 75. 6338
Leilão Judicial 38ªvc, proc LEILÕES - ARTE E
LEILOEIRA: Patricia Levy
0342577-87.2015.8.19.0001. ANTIGUIDADES
Dia 25/07 a partir de 15h pela EXPOSIÇÃO: Agendamento - JUCERJA Nº 268
avaliação. Dia 27/07 a partir prévio LOCAL: RIO DE
de 15h, acima de R$ Telefone: (21) 99230-7960 / (21) JANEIRO, LEME
171.000,00. Leiloeiro Onildo 3208-7348
Bastos-Tel.96687-6276. onil-
dobastos.com.br LEILÃO: Dia 17 de Julho
de 2023.
Segunda-Feira às 19h Empréstimos
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LEILÃO SOMENTE e Finanças
F
LEILÃO 3702 ONLINE
LEILOEIRA: Patricia Levy
LEILÃO DE JÓIAS - JUCERJA Nº 268
LOCAL: Rua Siqueira Campos
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PAULA FREITAS
143, Sobreloja 64
COPACABANA - RIO DE
Antes de solicitar
JULHO DE 2023
JANEIRONEW ART Email: um empréstimo ou
newartleiloes@gmail.com
EXPOSIÇÃO: Somente Online efetuar uma tran-
LEILÃO:
LEILÃO 35272
sação comercial,
verifique a idonei-
Dia 24 de Julho de 2023
NOVIDADES E
Segunda-Feira às 20h ANTIGUIDADES dade de quem
LEILOEIRA: Patricia Levy -
Leilao de Acervo Residencial, está negociando,
JUCERJA Nº 268 Rico Mobiliário, Quadros,
Porcelanas
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LOCAL: Rua Paula Freitas 83 EXPOSIÇÃO: ONLINE OU mentos que identi-
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Informações: (21) 2541-2080 /
COM AGENDAMENTO fiquem o fornece-
novidadesantiguidades@gmail.com
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(21) 97160-0450 3241-0827
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LEILÃO ONLINE E
TELEFONE: DIAS 18 e
19 de JULHO, TERÇA E
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LEILOEIRA: Patricia Levy
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OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023
Mundo
Rumo às alturas. Vista projetada de Kuala Lumpur à noite, com o Merdeka 118 ao centro: Ásia tem mais arranha-céus do que todos os outros continentes juntos, em exibição de poderio econômico, inovação e até forma de fomentar turismo
A CORRIDA DOS
ARRANHA-CÉUS
Nova torre de 678m
na Malásia é símbolo
da pujança da Ásia
DAVI FERREIRA*
davi.ferreira@oglobo.com.br
-
P restes a ter suas obras con-
cluídas em Kuala Lumpur,
o Merdeka 118 nasce como o
segundo prédio mais alto do
planeta. Seguindo a tendência
observada com força na Ásia
da década passada, a Malásia
se firma como o sexto país com
mais arranha-céus, em uma
lista liderada pela China e do-
minada pelo continente. Ape-
sar da queda na velocidade de
novos espigões no mundo,
construções como a malaia
ainda refletem interesses que
prevaleceram em outros mo-
mentos: servem como forma
de sinalização da pujança eco-
nômica dos países, da sua ca-
pacidade de inovação e tam-
bém, em certos casos, de im-
pulso ao turismo.
O novo gigante de concreto
eaço de Kuala Lumpur foi ide-
alizado em 2010 e começou a
ser construído em 2016, com
custo superior a US$ 1 bilhão.
Seu design, feito pela empresa
de arquitetura australiana
Fender Katsalidis, é baseado
na silhueta de Tunku Abdul
Rahman, primeiro chefe de
governo da Malásia indepen-
dente. Na cerimônia em que
proclamou a independência
do país do domínio britânico,
em 1957, levantava a mão en-
quanto bradava “Merdeka!”,
palavra em malaio para “liber-
dade”. O prédio fica no terreno
do estádio de mesmo nome,
onde a declaração aconteceu,
revelando um toque de nacio-
nalismo por trás do projeto.
Na lista dos dez maiores ar-
ranha-céus do mundo, a Ásia
conta com nove, de acordo
com os dados do Conselho de
Edifícios Altos e Habitat Urba-
no (CTBUH). O único “intru-
so” é o One World Trade Cen-
ter, em Nova York. Ainda co-
mo soberano está o Burj Khali-
fa, em Dubai, nos Emirados
Árabes Unidos, com 828 me-
tros de altura e 163 andares.
EUA JÁ FORAM POLO
A construção de grandes pré-
dios já teve seu principal eixo
na América do Norte, sobretu-
do em cidades como Nova
York e Chicago, no fim do sé-
culo XIX e início do XX. Po-
rém, desde o fim dos anos
1970, a Ásia moderna decidiu
enveredar pela verticalização.
Primeiramente, criou solu-
ções habitacionais em países
cada vez mais populosos, que
transitavam do rural para o ur-
bano, e depois identificou uma
estratégia inovadora para ala-
vancar suas imagens.
—É uma forma de anunciar
a entrada no nível dominante
da economia global, e dizer pa-
ra o mundo que “nós somos
poderosos, temos uma econo-
mia robusta e estamos aqui co-
mo país” —disse ao GLOBO o
americano Daniel Safarik, di-
retor de Pesquisa e Liderança
de Pensamento no CTBUH.
A construção do Merdeka
118 é conduzida pela Permo-
dalan Nasional Berhad
(PNB), empresa malaia de
gestão de fundos. Outros gran-
des arranha-céus do país são o
The Exchange 106, com 453
metros, e as Torres Petronas —
que chegaram a ocupar o pos-
to de maiores prédios do mun-
do —da estatal de petróleo e
gás, inauguradas em 1998,
com 451,9m de altura cada.
Devido à magnitude de suas
estruturas, os arranha-céus —
um prédio recebe essa nomen-
clatura quando passa de 150
metros de altura e 40 andares
—têm uma multifuncionali-
dade que abrange hotéis, escri-
tórios e até mirantes. Embora
haja grandes edifícios apenas
habitacionais, os grandes líde-
res de altura focam nas ativida-
des comerciais.
—Seus ciclos de criação po-
dem levar mais de dez anos, do
design e financiamento ao lan-
çamento das obras. Durante
este tempo, os “ventos econô-
micos” podem mudar —apon-
ta Safarik. —Então, você vai
querer ter um equilíbrio de
tendências nesses edifícios.
Há um conceito que funciona
para eles: o de uma “cidade
dentro de uma cidade”.
A arquiteta e professora An-
drezza Pimentel, doutora em
arquitetura pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), identifica uma
questão simbólica que vai
muito além da utilização dos
espaços e a consequente mul-
tiplicação do terreno urbano.
—Tem cidades que a gente
acaba conhecendo mais pela
arquitetura de alguns edifíci-
os, e passam a atrair as pessoas.
Quem pensava que os Emira-
dos Árabes virariam um desti-
no turístico? Essa é uma outra
função do edifício. Tudo tem a
ver com o caráter imagético e o
símbolo da torre.
Leis permissivas e subsídios
NO PAÍS DOS AIATOLÁS
Polícia volta a punir iranianas sem véu
NA WEB Código de vestimenta islâmico obriga mulheres a usarem hijab desde 1979
PRÉDIOS MAIS ALTOS DO MUNDO
Top 10 - Altura em metros
800
600
400
200
1 2 3 4
Posição no ranking mundial
1 Burj Khalifa
DUBAI (EMIRADOS ÁRABES UNIDOS) • 2010
2 Merdeka 118
KUALA LUMPUR (MALÁSIA) • 2023
3 Shanghai Tower
XANGAI (CHINA) • 2015
4 Makkah Royal Clock Tower
MECA (ARÁBIA SAUDITA) • 2012
5 Ping An Finance Center
SHENZHEN (CHINA) • 2017
6 Lotte World Center
SEUL (COREIA DO SUL) • 2017
7 One World Trade Center
NOVA YORK (EUA) • 2014
8 Guangzhou CTF Finance Centre
CANTÃO (CHINA) • 2016
9 Tianjin CTF Finance Centre
TIANJIN (CHINA) • 2019
10 CITIC Tower
BEIJING (CHINA) • 2018
243 One Tower Balneário Camboriú
BALNEÁRIO CAMBORIÚ (BRASIL) • 2022
Top 10 países mais altos
Número de edifícios a partir de 150 metros
1 China
2 EUA
3 Emirados Árabes Unidos
4 Coreia do Sul
5 Japão
6 Malásia
7 Austrália
8 Indonésia
9 Canadá
10 Filipinas
Fonte: CTBUH
estatais a investidores permiti-
ram a vários países da Ásia
inaugurar os maiores arranha-
céus do mundo. A China é o lu-
gar que tem mais edifícios des-
te porte no planeta: 4.234.
—Nos EUA, se os investido-
res não acham que vão ter re-
torno financeiro construindo
| 21
PARA
ACESSAR
APONTE
O CELULAR
PARA
O QR CODE
DIVULGAÇÃO
a Malásia tem 321 arranha-
céus e se firmará como sexto
país mais “alto” do mundo, se-
gundo o CTBUH. Fica atrás só
de China, EUA, Emirados Ára-
EDIFÍCIO MAIS bes, Coreia do Sul e Japão. O
ALTO DO BRASIL
top 10 é completado por Aus-
trália, Canadá, Indonésia e Fi-
lipinas. A Ásia tem mais edifí-
cios acima de 150m do que o
resto do mundo somado.
Quando se analisam nações
do Oriente Médio, como os
Emirados Árabes e a Arábia
Saudita, importantes fornece-
doras mundiais de petróleo,
5 6 7 8 9 10 243
elas também querem exportar
a imagem de lugares inovado-
ALTURA (M) res. Os recursos de combustí-
ANDARES
veis fósseis são finitos e não os
828 163
deixarão ricos eternamente.
—Perceberam que não se-
678,9 118
rão capazes de extrair e vender
petróleo para sempre. Estão
632 128 desenvolvendo imóveis como
recurso econômico para aju-
601 120 dar seus países a sobreviver na
era pós-petróleo —diz Safarik.
599,1 115
554,5 123
PROCESSO CONTÍNUO NA ÁSIA
Mesmo em momentos ruins
para a economia global, a Ásia
541,3 94
nunca parou de se verticalizar.
Pimentel reforça que muitos
530 111 arranha-céus estão relaciona-
dos a fins de ciclos econômi-
530 97 cos, como o caso das Torres Pe-
tronas, cuja inauguração mar-
527,7 109 cou o início de uma queda do
ritmo dos Tigres Asiáticos.
290 70 —Podemos pensar que há o
fim de um bom ciclo econômi-
co, com um excesso de especu-
lação ou uma oferta de crédito
4.234 muito grande. Há bons exem-
1.146 plos falando sobre a “maldição
502 dos arranha-céus”, que não é
362
324
uma questão supersticiosa.
321
A corrida para tocar os céus
205 vem desacelerando, até mes-
184 mo na China e talvez o Mer-
168 deka 118 seja o projeto mais al-
166 to que veremos durante algum
tempo. A arquiteta também
questiona a necessidade de es-
pigões gigantes após a pande-
mia de Covid-19, que tornou
rotineiro o trabalho remoto.
—Estamos entrando numa
era em que se tentarão fazer
edifícios melhores, em vez de
BRASIL OCUPA A 16ª
POSIÇÃO, COM 65 apenas altos. Prédios em cida-
ARRANHA-CÉUS
Editoria de Arte des muito aglomeradas vão ser
desenvolvidos por necessida-
de e não para quebrar recordes
um arranha-céu, não o farão ou pôr cidades desconhecidas
—explica Safarik, de seu escri- no mapa. Se não prezarmos
tório em Chicago Loop, na por construções de excelência
metrópole americana. — em todos os aspectos, estare-
Aqui, há mais espaço e um es- mos desperdiçando recursos
tilo de vida mais suburbano, preciosos —finaliza Safarik.
onde vemos menos mercado
para prédios residenciais altos. (*Sob supervisão de Flávio
Casa do novo Merdeka 118, Henrique Lino)
 22 | Mundo
Acordo da UE
com Mercosul
é eclipsado em
viagem de Lula
Diferenças entre blocos afastam tema de
cúpula da Europa com América Latina e
Caribe; China e guerra causarão divergências
PAOLA DE ORTE
Especial para O GLOBO
internacio@oglobo.com.br
BRUXELAS
-
A participação do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva
na III Cúpula da Comunidade
de Estados Latino-America-
nos e Caribenhos (Celac) e da
União Europeia (UE) marca a
retomada dos encontros entre
as duas regiões depois de uma
pausa de oito anos, em um mo-
mento de retomada também
da imagem do Brasil no exteri-
or. Sob a impossibilidade de
avançar nas negociações do
acordo comercial Mercosul-
UE, uma das principais diver-
gências entre as regiões aca-
bou sendo como tratar a guer-
ra na Ucrânia no texto da de-
claração final.
Apesar da expectativa, o
acordo Mercosul-UE não en-
trará na agenda oficial. Ambos
os blocos apresentam diver-
gências sobre temas como
compras governamentais e
meio ambiente, o que deve
postergar as negociações. O
governo brasileiro não gostou
do documento chamado de si-
de letter enviado pelos euro-
peus, que prevê sanções co-
mercias em caso de descum-
primento de compromissos
ambientais.
OFENSIVA CHINESA
O entendimento de fontes do
governo é de que alguns países
europeus usam o argumento
ambiental para esconder sua
vontade de proteger seu mer-
cado agrícola interno da com-
Putin diz que contraofensiva
da Ucrânia ‘não teve sucesso’
Presidente russo ameaça usar bombas de fragmentação se Kiev o fizer
KIEV E MOSCOU
-
O presidente da Rússia, Vla-
dimir Putin, afirmou on-
tem que a tão esperada con-
traofensiva do Exército ucra-
niano, iniciada em junho, fra-
cassou diante da resistência
da defesa aérea russa no leste
e sul da Ucrânia.
—Todas as tentativas do
inimigo de romper nossas
defesas não tiveram suces-
so desde que a ofensiva co-
meçou. O inimigo não te-
ve sucesso — declarou o
mandatário russo em uma
entrevista ao canal Ros-
sia-1 exibida ontem.
O presidente russo tam-
bém considerou que a situa-
ção é “positiva” para as for-
ças russas mobilizadas no
território ucraniano.
—Nossas tropas estão atu-
ando de forma heroica. E de
maneira inesperada para o
adversário, elas estão até
mesmo partindo para a
ofensiva em certos setores e
capturando posições mais
vantajosas —declarou.
petição brasileira —seria o ca-
so de França e Irlanda.
O Brasil já preparou uma
contraproposta ao docu-
mento, mas o texto acaba de
ser enviado aos parceiros do
Mercosul para avaliação.
Um consenso não deve sair
tão cedo. Hoje e amanhã em
Bruxelas, o tema do acordo
deve aparecer em reuniões
bilaterais, como no encon-
tro de Lula com a presidente
da Comissão Europeia, Ur-
sula von der Leyen, o pri-
meiro compromisso oficial
do presidente.
A China será o “elefante na
sala” do segundo compromis-
so do dia. Lula participa da
abertura do fórum empresari-
al União Europeia-América
Latina, momento em que os
europeus devem abordar o
Global Gateway. A iniciativa é
uma estratégia da UE para in-
vestimentos em infraestrutu-
ra ao redor do mundo, mas o
foco na América Latina, neste
caso, é explicado pelo temor
causado pelo avanço da pre-
sença da China na região. O
entendimento é de que os eu-
ropeus devem reforçar sua
presença na região, destino ca-
da vez mais importante de in-
vestimentos chineses. Na
quarta-feira passada, o jornal
Financial Times publicou um
editorial afirmando que os eu-
ropeus estavam chegando
atrasados à América Latina.
A guerra na Ucrânia é uma
das principais divergências
que vem ocupando a cabeça e
o tempo dos negociadores de
A Ucrânia iniciou a aguar-
dada contraofensiva no mês
passado, depois de acumular
armas fornecidas por aliados
ocidentais e reforçar suas ca-
pacidades de ataque. Nas últi-
mas semanas —inclusive du-
rante a reunião de cúpula dos
países da Organização do Tra-
tado do Atlântico Norte
(Otan) —o presidente ucra-
niano, Volodymyr Zelensky,
vem sendo enfático em cul-
par o que considera o engaja-
mento insuficiente dos alia-
dos pelo ritmo lento e pelos
poucos resultados do avanço
sobre o território ocupado pe-
lo inimigo.
DRONES ABATIDOS
Na sexta-feira, o chefe do Ga-
binete da Presidência ucrani-
ana, Andrii Yermak, admitiu
que a operação “atualmente
não avança tão rápido”. A
contraofensiva de Kiev avan-
ça lentamente diante de tro-
pas russas que tiveram tem-
po para estabelecer defesas
sólidas, incluindo campos
repletos de minas, e que ain-
Fora da agenda oficial. Lula e a primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, desembarcam em Bruxelas: acordo UE-Mercosul deve aparecer só em bilaterais
ambas as regiões em Bruxelas.
Enquanto os europeus tinham
aexpectativa de inserir no tex-
to da declaração final da cúpu-
la uma condenação explícita
da Rússia, os latino-america-
nos —sobretudo Brasil, Cuba
e Venezuela —preferem uma
linguagem mais neutra.
‘QUESTÃO’ MADURO
Segundo fontes do governo
brasileiro, o Brasil concorda
em tratar do tema reconhe-
cendo que é caro e sensível e
que há diferentes posições
dentro dos dois blocos. Esses
interlocutores lembram que o
Brasil condena a invasão da
Ucrânia, posição estabelecida
na ONU, mas afirmam que,
para o país, a versão ideal para
o texto final da cúpula seria
chamar a atenção para a ne-
cessidade de solucionar con-
trovérsias pacificamente e pe-
dir para que as partes dialo-
guem. O governo quer focar os
debates em temas birregionais
e considera que, apesar de
da têm um poder de fogo sig-
nificativo para atacar as for-
ças ucranianas.
Ontem, o governo ucrania-
no afirmou que as tropas es-
tão avançando no leste, nas
proximidades da cidade de
Bakhmut, capturada em
maio pela Rússia na batalha
mais longa e violenta desde o
início da invasão. “Estamos
avançando gradualmente na
região de Bakhmut”, anunci-
ou no Telegram a vice-minis-
tra ucraniana da Defesa,
Hanna Maliar. Ela destacou
avanços no flanco sul ao re-
dor de Bakhmut. “No flanco
norte, estamos tentando
manter nossas posições. O
inimigo está atacando”, disse.
A vice-ministra também
citou “batalhas violentas” e
indicou que as posições “mu-
dam várias vezes ao dia”. Se-
gundo ela, suas forças estão
na defensiva contra posições
russas perto da cidade de Ku-
piansk, no leste do país.
Em Moscou, o Ministério da
Defesa da Rússia afirmou que
neutralizou 10 drones ucrani-
Ucrânia ser um tema existen-
cial para os europeus, a III Cú-
pula EU-Celac não é sobre o
país, e, sim, sobre temas de in-
teresse para as duas regiões.
Outro tema sensível é o go-
verno da Venezuela sob Nico-
lás Maduro, que não deve
comparecer à cúpula e enviou
em seu lugar a vice-presidente
Delcy Rodríguez. Enquanto os
países europeus são unânimes
na condenação a Maduro, os
países latino-americanos
mantêm posições divergentes
sobre o governo venezuelano.
A “questão Maduro” é dife-
rente do debate sobre a guerra
na Ucrânia, de toda forma, já
que a Venezuela é membro da
Celac, diferentemente do país
do Leste Europeu, que não é
membro da UE, portanto não
tem voz para mexer no texto.
Os próprios negociadores ve-
nezuelanos têm o poder de ve-
tar menções negativas a seu
governo.
Além da participação na cú-
pula, onde o principal tema a
Batalhas encarniçadas. Soldados ucranianos carregam um foguete num lançador múltiplo perto de Bakhmut
anos lançados a partir da pe-
nínsula anexada da Crimeia,
perto de Sebastopol, QG da
frota russa no Mar Negro. Em
comunicado, o ministério afir-
mou que derrubou dois dro-
nes com sua defesa antiaérea e
desativou outros cinco graças
aos sistemas de interferência.
A nota também cita a destrui-
ção de dois drones navais do
Exército ucraniano, embarca-
ções sem tripulação. O gover-
nador russo de Sebastopol,
Mikhail Razvojayev, informou
no Telegram que o décimo
drone foi neutralizado sobre o
Mar Negro com sistemas de
interferência eletrônica.
Na entrevista ao canal Ros-
Segunda-feira 17.7.2023
ser discutido será a arquitetura
financeira internacional, o
presidente Lula deve também
manter encontros bilaterais.
Símbolo da retomada da ima-
gem do Brasil no exterior da
esperança de maior cuidado
do país com o meio ambiente
—tema caro à população eu-
ropeia —Lula deve se reunir
com a premier da Dinamarca,
Mette Frederiksen.
FUNDO AMAZÔNIA
Nessa reunião, a expectativa
do governo brasileiro é que ela
anuncie investimentos do seu
país para o Fundo Amazônia.
Segundo fontes do governo do
Brasil, os governos europeus
têm interesse doméstico em
participar do fundo, pois o im-
pacto positivo com o público
interno de estar contribuindo
para o fim do desmatamento
compensa o investimento fi-
nanceiro.
Além da líder dinamarque-
sa, Lula deve se reunir tam-
bém com o rei belga, Philippe,
sia-1, Putin afirmou ainda que
o Exército do país tem uma
“boa reserva” de bombas de
fragmentação, ameaçando re-
correr ao armamento — bani-
do em mais de uma centena de
países —caso Kiev utilize este
tipo de bomba fornecida pelos
EUA. Washington anunciou o
envio à Ucrânia desse tipo de
armamento polêmico —que o
Brasil produz e exporta —pro-
vocando repercussões negati-
vas inclusive na Otan. Quando
disparadas, as bombas de frag-
mentação se abrem e disper-
sam centenas de munições
menores.
—Na Rússia há uma boa re-
serva de bombas de fragmen-
| OGLOBO
RICARDO STUCKERT/PR
e seu premier, Alexander de
Croo, a premier de Barbados,
Mia Mottley, e a presidente do
Parlamento Europeu, Roberta
Metsola.
Amanhã pela manhã, ele se
reúne com líderes de partidos
progressistas europeus, en-
contro organizado pelo líder
socialista e ex-premier da Súe-
cia Kjell Stefan Löfven. Partici-
pa também o premier espa-
nhol Pedro Sánchez, que ligou
aLula na semana passada para
convencê-lo a participar da cú-
pula na Europa apesar de hesi-
tações do brasileiro, que cogi-
tava enviar seu vice, Geraldo
Alckmin.
Ainda não está decidido se
Lula participará ou não do en-
cerramento da Cúpula dos Po-
vos amanhã. Sua porta-voz,
Paula Polanco, tem a expecta-
tiva de que o presidente parti-
cipe do evento e espera tam-
bém que ele convença os líde-
res europeus a mudarem sua
linguagem com relação à guer-
ra na Ucrânia.
ANATOLII STEPANOV/AFP/13-7-2023
tação, de diferentes tipos —
disse Putin, completando: —
Até agora não as utilizamos,
apesar de, em algum mo-
mento, ter faltado munição.
Mas se forem utilizadas con-
tra nós, nos reservamos o di-
reito de adotar represálias.
OS DOIS LADOS JÁ USARAM
Não é o que diz a Coalizão
contra Munições de Frag-
mentação (CMC, na sigla
em inglês), organização que
monitora o uso desses arma-
mentos no mundo. De acor-
do com a CMC, os dois lados
do conflito na Ucrânia já
usaram as bombas de frag-
mentação. (Com AFP).
 OGLOBO | Segunda-feira 17.7.2023

ESPORTES
A COLUNA DE ENTREVISTA COM
RODRIGO CAPELO FORMIGA
Para onde vai o Volante relembra
dinheiro? a Copa de 2019
esporteglb@oglobo.com.br PÁGINA 2 PÁGINA 3

FOTOS DE ALEXANDRE CASSIANO

Confusão. Fla-Flu no Maracanã foi marcado por muitos cartões amarelos e uma expulsão, de Luiz Araújo por entrada em Marcelo; tricolor foi melhor e esteve mais perto da vitória, enquanto rubro-negro, segundo Sampaoli, ‘suportou o jogo’

SEM TIRA-TEIMA
DIOGO DANTAS Após um início de dificulda-
diogo.dantas@extra.inf.br
de pelo fato de o Flamengo
-
pressionar a saída de bola, o

Fminense
oi a terceira competição Fluminense conseguiu sair do

Fluminense e Flamengo
em que Flamengo e Flu- sufoco na técnica de Marcelo e
mediram forças na Ganso. O lateral foi protago-
temporada. Ao mesmo tem- nista na criação de situações e
po, foi o terceiro embate en- deu muito trabalho para o jo-
tre Jorge Sampaoli e Fernan- vem Wesley. Depois que o Fla

ficam no empate em clássico

do Diniz. Depois do título es- baixou a pressão, o Flu se insta-
tadual para o Flu em cima do lou daquele lado com Arias su-
time comandado por Vítor bindo de produção e Ganso
Pereira e a classificação ru- distribuindo bem o jogo.

marcado por gols anulados

bro-negra na Copa do Brasil
com um empate e uma vitó- VAR ENTRA EM CENA
ria, já sob o comando do ar- Mas o Flamengo também in-
gentino, o treinador brasilei- comodava pelo seu lado es-
ro deu o troco em termos de querdo , com Gerson, Arras-
desempenho, mas o placar caeta e Everton Cebolinha.
pelo Brasileirão ficou no 0 a O problema é que o atacante
0. As duas equipes “pararam” mais uma vez não aprovei-
no árbitro de vídeo, que anu- São Paulo goleia e 0 0 tou a chance e não dava con-
lou gols de Arias e Gabigol. está no G4; Inter e tinuidade às jogadas. O Flu-
Num jogo com reclama- Palmeiras empatam minense trabalhou bolas
ções de lado a lado, com pedi- longas para sair do aperto e,
dos de pênaltis, mais de dez em uma delas, Ganso alçou
cartões amarelos e um ver- > No dia em > Enquanto o Fluminense Flamengo na área e Cano teve a primei-
melho, o árbitro Savio Perei- que o Morumbi São Paulo Fábio; Samuel Matheus Cunha; ra chance real, de cabeça.
Xavier,Nino, Wesley, David Luiz
ra Sampaio terminou a parti- recebeu o seu chegou a seis Felipe Melo (Pablo),Léo
No segundo tempo, as mu-
da vaiado em uníssono pelas melhor público jogos sem (John Kennedy) Pereira e Filipe danças ditaram a tônica do jo-
duas torcidas. no ano (58.127 derrota,o time e Marcelo Luís; Thiago Maia go. O Flamengo recuou suas
Se em campo o resultado pessoas),o santista ampli- (Felipe Andra- (Luiz Araújo), linhas e Matheus Cunha pre-
de); André, Gerson, Arrascae-
acabou sendo melhor para o São Paulo ou sua crise — Martinelli ta (André Luiz) e
cisou trabalhar. No gol de Ari-
Flamengo, superado pelo Flu goleou o San- tem apenas (Lelê), Lima e Everton Ribeiro as, o juiz reviu o lance por falta
na soma dos dois tempos, em tos por 4 a 1 uma vitória nas Ganso (Leo (Victor Hugo); na origem da jogada. Em se-
termos de classificação não ontem e entrou últimas 14 Fernández); Everton (Allan) e guida, Nino quase marcou.
Arias e Cano. Gabigol.
foi bom negócio: a distância no G4. partidas. O Fluminense colocava o
para o líder Botafogo ficou Árbitro: Savio Pereira Sampaio (Fifa-DF).
rival nas cordas e parecia que
em 12 pontos. O empate com > Calleri mar- > Em Porto Cartões amarelos: Felipe Melo,André, a vitória era questão de tem-
sabor de derrota tricolor se cou duas ve- Alegre,Inter- Ganso,Cano,Lima,John Kennedy,Thiago po. Sampaoli lançou Allan e
deveu a um domínio cons- zes,David nacional e Maia,Everton Ribeiro,André Luiz, Gabigol e depois Luiz Araújo para recu-
Filipe Luís.Cartão vermelho: Luiz Araújo.
truído em progressão desde o ampliou e Palmeiras Público: 62.354 (57.258 pagantes).
ar Wesley. O Flamengo che-
primeiro tempo, e a escalada Alexandre Pato empataram Personagem. Everton Ribeiro reclama com o árbitro Savio Pereira Sampaio Renda: R$ 3.593.120,50.Local: Maracanã. gou a marcar com Gabigol,
do protagonismo a partir da marcou seu em 0 a 0.Foi o mas Savio Pereira Sampaio
entrada de Lelê na etapa fi- primeiro gol no quinto jogo do —Quando o Diniz trocou e Ribeiro, depois Arrasca, per- ticas. Variou bastante o jo- foi chamado pelo árbitro de
nal. Com as saídas de Ever- retorno ao time treinado começou a usar os lados e va- demos técnica e começamos go, curto, longo, direto, pe- vídeo e anulou, por falta do
ton Ribeiro e Arrascaeta, o tricolor.Mar- pelo português riar o jogo, a gente não pres- a suportar o jogo —afirmou lo corredor. Estava difícil zagueiro Pablo sobre Cano.
Flamengo perdeu o pouco cos Leonardo Abel Ferreira sionou. Nos surpreendeu o técnico argentino, admi- marcar o nosso time. Encai- Já perto do fim, Luiz Araú-
poder de criação e, como dis- descontou sem vitória no um pouco isso, e complicou. tindo que seu time foi pior, xamos o jogo e merecíamos jo foi expulso, em nova inter-
se Sampaoli, “suportou” o jo- para o Santos Campeonato Terminamos ficando no enquanto Diniz fez o oposto. a vitória —afirmou o trei- venção do VAR, após entra-
go até o fim, com o rival me- já perto do fim. Brasileiro. nosso campo. O cansaço co- —A gente se adaptou sem nador do Fluminense e da da forte em Marcelo, que foi
lhor e mais perto da vitória. meçou a pesar. Primeiro saiu fugir das nossas caracterís- seleção brasileira. substituído sentindo dores.

BRASILEIRO SÉRIE A
CLASSIFICAÇÃO P: Pontos ganhos. J: Jogos. V: Vitórias. E: Empates. D: Derrotas. GP: Gols pró. GC: Gols contra

EQUIPE P J V E D GP GC EQUIPE P J V E D GP GC
15ª RODADA 16ª RODADA
1 Botafogo 39 15 13 0 2 26 7
LIBERTADORES

11 Internacional 22 15 6 4 5 13 16
2 Flamengo 27 15 8 3 4 27 18 12 Atlético-MG 20 14 5 5 4 18 14
SÁBADO Botafogo 2 x 0 Bragantino 22/7 16h Flamengo x América-MG
ONTEM Cruzeiro 0 x 0 Coritiba 16h Palmeiras x Fortaleza
3 Grêmio 26 14 8 2 4 24 20 13 Cuiabá 19 15 5 4 6 14 17
Fluminense 0 x 0 Flamengo 18h30 Bahia x Corinthians
4 São Paulo 25 15 7 4 4 22 14 14 Santos 16 15 4 4 7 16 23
São Paulo 4 x 1 Santos 18h30 Cuiabá x São Paulo
5 Fluminense 25 15 7 4 4 21 14 15 Corinthians 15 14 4 3 7 12 17 Artilheiro.
Fortaleza 0 x 1 Cuiabá
PRÉ

21h Grêmio x Atlético-MG

6 Palmeiras 25 15 6 7 2 25 13 16 Bahia 13 15 3 4 8 15 23 Tiquinho,
Internacional 0 x 0 Palmeiras 23/7 16h Santos x Botafogo
7 Bragantino 24 15 6 6 3 22 16
SUL-AMERICANA

17 Goiás 11 14 3 2 9 14 26
do Botafogo,
REBAIXAMENTO

Athletico 2 x 0 Bahia 16h Bragantino x Internacional

8 Athletico-PR 23 15 7 2 6 20 18 18 Coritiba 11 15 2 5 8 14 28 HOJE 20h Goiás x Atlético-MG 16h Cruzeiro x Goiás
9 Fortaleza 23 15 6 5 4 16 12 19 Vasco 9 14 2 3 9 11 23 ADIADO Corinthians x Grêmio 18h30 Vasco x Athletico
com 10 gols
10 Cruzeiro 22 15 6 4 5 16 11 20 América-MG 9 14 2 3 9 16 32 ADIADO América-MG x Vasco 24/7 19h Coritiba x Fluminense
VITOR SILVA/BOTAFOGO
2 | Esportes Segunda-feira 17.7.2023 | OGLOBO

RODRIGO centenas de milhões de reais na conta ban-

cária? E aí está um dos maiores riscos a que
CAPELO já estivemos sujeitos, coletivamente, na era
moderna do futebol brasileiro.
Lembremos dos números, para que não pa-
reça exagero meu. A Libra tem acordo encami-
nhado com o fundo árabe Mubadala, enquan-
Twitter: @rodrigocapelo to o Forte assinou com a americana Serengeti
e a curitibana LCP. Em ambos os blocos, o que
está sendo vendido é um percentual de direi-
Pra onde vai o tos de transmissão pelos próximos 50 anos.
Cin-quen-ta! Por mais que as parcelas de cada
riam os clubes, ganharia a seleção brasileira.
Duro é contar que dirigentes tomem a deci-
são difícil e acertada, diante da tentação de gas-
tar a grana em atletas para já. Num sistema ain-
da dominado por associações civis sem fins lu-
crativos, muitos presidentes não estarão no
cargo já no ano que vem. Que responsabilida-
de eles têm sobre daqui a cinco, dez ou cin-
quenta anos? É por isto que o dinheiro precisa
ser carimbado pelo in-
Temos um longo
histórico de
vestidor. Não por bonda-
de ou idealismo, mas pa-
seja, ou estará limitado pelo investidor e/ou
pelo bloco comercial de alguma maneira?
Carimbar o dinheiro foi a solução encon-
trada pela liga de clubes da Espanha com a
CVC, em acordo similar ao que está sendo cos-
turado aqui e agora. Eles direcionaram 70% do
investimento para a modernização da infraes-
trutura e da administração dos clubes; 15% pa-
ra a redução das dívidas; e 15% para a compra
de direitos de jogadores. Tempos atrás, nossos
dirigentes diziam se inspirar nessa referência
e até anunciaram a consultoria da LaLiga para

dinheiro?
clube pareçam grandes —R$ 100 milhões pa-
ra cá, R$ 200 milhões para lá —, o tempo con-
cedido é longo demais em qualquer hipótese.
Como um negócio desses faria sentido? Só
se o dinheiro possibilitasse ao futebol corrigir
oportunidades ra que o ativo no qual ele a nossa liga. Esse ponto passou em branco.
desperdiçadas no está investindo realmen- Temos um longo histórico de oportunida-
futebol brasileiro te valorize. des desperdiçadas no futebol brasileiro. As
Tanto a Libra quanto luvas que Globo e Turner pagaram em 2016,
o Forte Futebol afirmam, nos bastidores, na última venda de direitos de transmissão,

E mbora ainda não haja liga de clubes, por

causa das divergências entre Libra e For-
te Futebol, existem investidores e bancos
dispostos a antecipar verbas. Há dinheiro, e
falta pouco para que ele comece a ser depo-
sitado. Com as competições nacionais dis-
putadas pela metade e a janela de transfe-
rências aberta, quem não quer algumas
problemas crônicos e crescer em ritmo mais
acelerado do que o atual. Se as dívidas dos clu-
bes fossem reduzidas a um nível aceitável, or-
çamentos seriam liberados para que mais e
melhores jogadores fossem contratados. Se
houvesse investimento em infraestrutura e
categorias de base, haveria mais e melhores
oportunidades para jovens talentos. Ganha-
que têm regras para o direcionamento do di-
nheiro de seus investidores. Nenhum dos
dois apresentou detalhes para público e
mercado. E deveriam. A seguinte pergunta
precisa ser respondida com clareza: se o
presidente de um clube puser as mãos em
R$ 100 milhões amanhã, ele estará liberado
para gastar R$ 100 milhões em reforços, que
foram queimadas pelos interesses imedia-
tistas dos cartolas. Na época em que se ten-
tou o clube-empresa pela primeira vez, en-
tre 1998 e 2000, os aportes de Bank of Ame-
rica, Hicks Muse e ISL também sumiram,
sem deixar legado na maioria dos casos. Se
não tivermos aprendido nada até agora, er-
raremos feio. De novo.

A nova ‘corrida
AFP/08-07-2023

pelo ouro’ do
futebol da
Arábia Saudita
A organização e as regras do governo
para investir quase US$ 1 bilhão no
desenvolvimento da liga nacional

AHMED AL OMRAN, RORY SMITH Arábia Saudita reservou cer-

E TARIQ PANJA
Do New York Times
ca de US$ 800 milhões para
reforçar o plantel da liga nes-
-
te verão, com o objetivo de fa-

A s ligações e mensagens de
texto começaram a che-
gar no celular do treinador
belga Jan Van Winckel há al-
guns meses e não pararam
mais. São cerca de 10 por dia,
um fluxo constante de “espe-
ro que esteja bem” de velhos
conhecidos, contatos arqui-
vados, amigos de amigos.
Van Winckel, de 49 anos,
trabalha nos Emirados Ára-
bes Unidos, mas passou boa
parte da sua carreira no fute-
bol da Arábia Saudita, tendo
sido treinador e diretor técni-
co da seleção do país.
Esse é o ponto que o torna
valioso para os agentes, corre-
tores e executivos que lhe tele-
fonam repetidamente para pe-
dir a mesma coisa: ser apre-
sentado a um presidente de
um clube saudita, uma cone-
xão com um responsável da Li-
ga Profissional Saudita, o nú-
mero de telefone de alguém,
qualquer pessoa que os possa
ajudar a entrar na nova “corri-
da pelo ouro” do futebol.
Na primeira semana de ju-
nho, autoridades do futebol
da Arábia Saudita e o seu fun-
do de riqueza soberano
anunciaram um plano auda-
cioso para transformar o fu-
tebol no país: o Fundo de In-
vestimento Público (PIF) as-
sumiria o controle de quatro
dos clubes mais proeminen-
tes da Arábia Saudita, e seri-
am disponibilizados cente-
nas de milhões de dólares pa-
ra comprar algumas das mai-
ores estrelas do futebol.
Não demorou muito para
que o plano desse frutos.
Poucos dias depois do anún-
cio do PIF, Karim Benzema já
estava em um jato privado
em direção a Jedá, onde assi-
naria contrato com o Al-Itti-
had. Nas semanas seguintes,
seis outros profissionais que
jogavam na Europa seguiram
os passos do centroavante
francês, entre os quais Kanté
e Roberto Firmino.
O Ministério do Esporte da
zer pelo menos 18 contrata-
ções de alto nível.
Arapidez com que a liga sau-
dita conseguiu selecionar no-
mes tão conhecidos, ainda que
em declínio, de clubes de elite
europeia fez com que a ambi-
ção do país parecesse algo ine-
vitável. Entretanto, conversas
com duas dúzias de agentes,
treinadores, dirigentes e exe-
cutivos com experiência em
transferências da Arábia Sau-
dita mostraram uma imagem
muito diferente.
SEM REPETIR A CHINA
A intervenção saudita, como
disse um agente, desencade-
ou um “vale-tudo” no merca-
do de transferências do fute-
bol. Um executivo de um
grande clube europeu des-
creveu as últimas semanas
como um “caos”.
Os clubes europeus têm si-
do contatados por intermedi-
ários que afirmam represen-
tar equipas sauditas. As prin-
cipais agências tiveram suas
caixas de entrada de e-mails
entupidas com ofertas para os
seus jogadores por parte de
equipes da Pro League.
Algumas chamadas são de
agentes com jogadores para
vender, outras são de equi-
pes desesperadas para des-
carregar os seus excedentes
para a Arábia Saudita.
No entanto, ninguém foi
tão afetado pelo turbilhão
criado pela visão de futuro
da Arábia Saudita como os
próprios sauditas.
Foram precisos meses para
que a Saudi Pro League, o Mi-
nistério do Esporte e o PIF ela-
borassem um plano para mu-
dar o futebol saudita. Foram
contratados caros consultores
externos para garantir que o
projeto fosse “autêntico”.
Opaís não queria repetir os
inúmeros erros cometidos
pela liga chinesa no seu breve
edeslumbrante momento de
glória em 2016. A intenção,
tal como acontece com mui-
DIVULGAÇÃO AL-AHLI
História das Arábias. O atacante francês Karim Benzema, Bola de Ouro da revista France Football no ano passado, trocou o Real Madrid pelo Al-Ittihad
tos dos projetos ligados ao
programa Visão 2030 do
Príncipe Herdeiro Moham-
med bin Salman, era cons-
truir algo sustentável.
As finanças dos clubes po-
dem ser surpreendentemen-
te imprevisíveis. A certa altu-
ra, o Al-Ittihad não pagou o
salário de alguns dos seus
empregados durante três
meses. Mesmo quando as re-
centes contratações foram
anunciadas, o clube ainda
não tinha pago os bônus rela-
tivos à campanha que levou o
time à conquista do título na
temporada passada.
O clube saudita era tam-
bém um dos vários que ainda
tinham casos pendentes na
câmara de resolução de litígi-
os na Fifa, organismo onde os
jogadores e as equipes que fo-
ram prejudicados por salári-
os não pagos ou taxas de
transferência se dirigem para
apresentar queixa. O mesmo
aconteceu com o Al-Nassr,
onde joga Cristiano Ronaldo.
As autoridades sauditas
perceberam que teriam que
supervisionar o recrutamen-
to de jogadores. O governo
forneceria o dinheiro —co-
mo um presente, em vez de
um empréstimo —mas a liga
teria um certo controle cen-
tral na forma como a quantia
seria gasta, a fim de garantir
que fosse utilizada para aju-
dar a melhorar a competição.
— Eles são muito inteli-
gentes. Não estão apenas es-
palhando dinheiro por aí.
Há uma estratégia — disse
Van Winckel.
REGRAS BÁSICAS
A Pro League apresentou
aos clubes uma lista com al-
gumas dezenas de contrata-
ções recomendadas, na sua
maioria jogadores na casa
dos 30 anos, muitos em fim
de contrato com equipes eu-
ropeias, e um conjunto de
regras básicas.
Qualquer jogador com um
salário anual superior a US$
3 milhões teria de ser apro-
vado pela liga. Os clubes
Reforço.
Firmino acertou
com o Al-Ahli
não deveriam negociar uns
contra os outros e qualquer
jogador que fosse identifica-
do usando uma equipe co-
mo moeda de troca para ob-
ter um salário mais lucrati-
vo em um time rival seria
imediatamente bloqueado.
Os clubes foram obrigados
a pensar coletivamente e foi
sugerida a ideia de nomear
um diretor esportivo para
trabalhar em toda a liga.
O Al-Hilal, um dos quatro
clubes que serão adquiridos
pelo PIF, optou por não con-
tratar Luka Modric quando
ficou claro que ele só aceita-
ria um contrato de um ano.
Mas não demorou muito
para que os oportunistas que
povoam os cantos mais obs-
curos do mercado de transfe-
rências detectassem as bre-
chas no sistema. Os executi-
vos sauditas, pouco habitua-
dos à procura ativa de jogado-
res, ficaram perplexos com o
número de agentes que rei-
vindicavam um mandato ex-
clusivo para negociar em no-
me dos seus clientes.
Ao mesmo tempo, a liga
constatou que as suas avalia-
ções variavam por vezes mui-
to em relação às dos presiden-
tes dos clubes, que aparente-
mente estavam satisfeitos por
usar o dinheiro do Estado pa-
ra pagar muito acima do valor
de mercado. Quando o Al-Hi-
lal apresentou uma oferta em
bloco por cinco jogadores do
Chelsea, os dirigentes fica-
ram furiosos com o que consi-
deraram ser uma taxa extre-
mamente inflacionada.
Em poucas semanas, a liga
percebeu que precisava mu-
dar a sua forma de aborda-
gem, para encontrar um mo-
do de impor algum tipo de or-
dem no caos. A tarefa de fazer
essa transição caberia a um
funcionário que tinha cons-
truído uma carreira influen-
te, embora discreta, no es-
porte saudita. Esse homem,
Saad Al-Lazeez, se tornaria a
pessoa mais importante do
futebol europeu.
Al-Lazeez tem adotado a
mesma abordagem meticu-
losa desde que substituiu
um executivo britânico,
Garry Cook, como presi-
dente da Saudi Pro League
em maio. Os colegas descre-
vem-no como urbano, efi-
caz e inteligente.
Na tentativa de agilizar as
tentativas de contratação de
jogadores pela Pro League,
Al-Lazeez se mudou para a
Europa. Ele fez tudo o que
pôde para cortar os ruídos e
manter os planos cuidado-
samente elaborados no ca-
minho certo.
O acesso a ele é estrita-
mente controlado. Para
conseguir uma reunião, os
agentes que se dizem repre-
sentantes de um jogador
têm que apresentar um do-
cumento impresso ou, me-
lhor ainda, o próprio joga-
dor, em carne e osso.
Atualmente, Al-Lazeez con-
trola, em última instância, o
acesso ao mercado saudita. É
ele que escolhe os jogadores,
os agentes e os clubes que lu-
cram com a corrida ao ouro.
Ele é o número de telefone
que todos querem e, para a
maioria, é o único que nun-
ca conseguirão obter.
OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023 Esportes | 3

JOÃO COTTA/TV GLOBO

ENTREVISTA só o meu trabalho, mas de tan-
Formiga / JOGADORA DE FUTEBOL tas outras meninas lá atrás, pi-
oneiras, que plantaram essa
Volante da seleção, que jogou sete Mundiais, sementinha. Não tem como
relembra despedida na Copa de 2019 e aconselha não se sentir honrada e aben-
çoada de poder ter feito parte
Marta a disputar o próximo torneio se for no Brasil dessa construção.
TATIANA FURTADO tatiana.furtado@oglobo.com.br
Essa deve ser a última Copa da
Marta.Tem falado com ela

‘HOUVE
sobre isso?
Eu não acredito que seja a
última Copa dela. Conver-

EVOLUÇÃO, E sei com ela pessoalmente,

incentivando, dando forças
para que ela acredite que

EU ESPERO QUE tem condições de jogar mais

uma Copa do Mundo. Não

CONTINUE’
tem cenário melhor para ela
sair, se a Copa de 2027 for no
Brasil. Seria o cenário per-
feito para que ela possa ter
uma despedida digna por

H á quatro anos, Formiga se

tornou recordista de par-
ticipação em Mundiais, com
sete torneios no currículo.
Na Copa do Mundo da Fran-
ça, a talentosa volante deu
adeus à competição junto
com a seleção brasileira na
derrota para a França nas oi-
tavas de final. Agora, do lado
de fora dos gramados — aos
45 anos, ela ainda não deu
adeus definitivo aos campos
—, ela analisa a evolução da
seleção brasileira no último
ciclo e se prepara para co-
mentar a competição da Aus-
trália e Nova Zelândia na TV
Globo. De quebra, pede para
Marta repensar a aposenta-
doria da seleção brasileira:
"Não tem cenário melhor pa-
ra ela sair se a Copa de 2027
for no Brasil".
Há quatro anos,você se
despediu das Copas do
Mundo. Quais as principais
lembranças?
Tenho lembranças boas e
ruins A ruim é a eliminação.
É horrível, principalmente,
pela entrega. Eu, no primei-
ro jogo, acabei virando o
meu pé, tive uma torção. Fiz
o exame, aí o resultado deu
que eu tive um leve aumen-
to no meu ligamento, mas
que também não me impe-
dia de jogar. Joguei com uma
limitação, mas passando
por cima de dor, como sem-
pre. Também lembro muito
do jogo contra a Austrália
(perdeu de virada por 3 a 2).
Estávamos ganhando de 2 a
0. Eu saí já no intervalo, a
Marta também estava ma-
chucada, mas estávamos ali
dando o nosso melhor, nos-
so sangue. Foi um jogão.
Tem sido diferente o dia a dia
sem treinos e jogos depois de
tantos anos?
É claro que houve uma
preparação para o “depois
de parar", né? Mas quando
a gente toma uma decisão,
tem que estar bem decidi-
da daquilo que vai fazer.
Mas eu não parei total-
mente ainda. Tenho pla-
nos de jogar, mas isso vai
acontecer um pouco mais
para frente. Agora, com a
Copa do Mundo já batendo
na porta, estou focada
mais nesses trabalhos pa-
ralelos ao futebol.
Aos 45 anos. Formiga se aposentou da seleção após a Copa de 2019, mas diz que tem planos de seguir jogando
Quais os planos para o ano?
Os projetos são realmen-
te fazer os cursos, tanto da
CBF, quanto da Federação
Paulista, e o de treinadora.
Meu intuito é continuar
no esporte, ajudar ainda
mais o futebol feminino.
Mas o meu foco hoje é jus-
tamente a gestão. Eu espe-
ro concluir esse curso e
poder mudar as coisas de
dentro para fora.
Vê evolução de 2019 para cá?
Houve evolução, e eu espe-
ro que continue, que o Brasil
não dê dois passos para trás,
mas sim, cinco para a frente,
para atingir o nosso maior
objetivo, que é ganhar essa
Copa do Mundo. Mas para is-
so a gente precisa, urgente-
mente, melhorar algumas si-
tuações dos clubes.
Como está a expectativa para
esse Mundial? Será o primeiro
que você não estará lá dentro
de campo...
É a melhor possível. Eu es-
tou acreditando muito na
postura da nossa seleção. De-
pois dos dois últimos jogos
com potências, como a Ale-
manha e a Inglaterra, perce-
be-se uma mudança mental
da equipe. Também tenho ex-
pectativas de como vai ser re-
alizado esse Mundial. São
dois países, diferente do que
eu já vivi durante sete Copas
do Mundo. Vendo esse cresci-
mento mundial da modalida-
de, fico muito feliz de ver não
tudo que ela fez pela seleção
brasileira, pelo futebol fe-
minino no mundo. Eu estou
torcendo muito para que ela
permaneça. Eu sei o quanto
é difícil. Tem a fase de con-
centração, a viagem, a gente
acaba não tendo vida. Espe-
ro que ela tenha pelo menos
colocado na cabeça dela o
que eu falei.
O que a nova geração está
recebendo de diferente das
outras?
Hoje, você vê milhões de
pessoas na comissão técnica.
Eu me espantei, vou ser sin-
cera. Também parece que
melhorou a logística de via-
gem, para a equipe chegar
bem descansada, treinar
tranquila. Não sei como está
a questão de valores, de pre-
miações da CBF. Não sei se já
estão combinando antes da
competição. Com a gente, só
falavam do assunto perto de
começar o Mundial, e isso ti-
rava as atletas do foco. Irrita-
va pela maneira que era abor-
dado o assunto no grupo. Co-
mo se fôssemos mercenárias.
Então, quem saía mal da his-
tória eram sempre as atletas.

Copa tem chaveamento ‘mais pesado’ de um lado Brasil e duas para o Canadá.
O caminho do Brasil pode
ser complicado: se ficar em
segundo do Grupo F, en-
Seleções dos grupos A,C, E e G, que se cruzam nas oitavas, somam 11 títulos entre Mundiais e Jogos Olímpicos frenta o primeiro colocado
do Grupo H, que tem a Ale-
manha como a equipe mais
LAÍS MALEK
lais.silva.rpa@edglobo.com.br
Embora os prováveis con- dos na modalidade, com forte. A boa notícia é que,
frontos do mata-mata indi- quatro Mundiais e quatro OS GRUPOS DA COPA DO MUNDO em abril, a seleção venceu as
-
quem duelos equilibrados ouros olímpicos. O Japão GRUPO A GRUPO B GRUPO C GRUPO D alemãs por 2 a 1 em um

A partir da próxima quinta-

feira, 32 seleções se en-
frentam na nona edição da
—é possível ter uma semifi-
nal entre Estados Unidos e
Holanda, que decidiram a
aumenta a conta com o
Mundial de 2011, e a Noru-
ega tem Sydney-2000 e a
Nova Zelândia
Noruega
Austrália
Irlanda
Espanha
Costa Rica
Inglaterra
Haiti
amistoso. Se a adversária for
a Colômbia, o retrospecto
também é favorável, já que o
Copa do Mundo feminina, última Copa; ou um duelo Copa de 1995. Filipinas Nigéria Zâmbia Dinamarca Brasil triunfou sobre a equi-
sediada na Austrália e Nova nas quartas entre Inglaterra Do outro lado, nos grupos B, Suíça Canadá Japão China pe na final da Copa América
Zelândia. É a estreia do novo e Alemanha, finalistas da D, F e H, são quatro títulos: Noruega: Canadá: Japão:
de 2022.
formato, nos moldes do tor- Euro do ano passado —, um duas Copas (2003 e 2007) e 1 Copa e 1 Olimpíada 1 Copa O chaveamento também
neio masculino, represen- lado da chave é mais “pesa- uma Olimpíada (Rio-2016) 1 Olimpíada possibilita uma eventual final
tando um acréscimo de oito do” do que o outro. da Alemanha, enquanto o Ca- GRUPO E GRUPO F GRUPO G GRUPO H
entre Brasil e Estados Unidos.
equipes em relação às últi- nadá é o atual campeão olím- O confronto já aconteceu em
EUA França Suécia Alemanha
mas edições. As duas melho- SOBERANIA AMERICANA pico. O Brasil pode reencon- duas Copas, com um empate
res seleções dos oito grupos A chave que será formada a trar as canadenses nas quar- Vietnã Jamaica África do Sul Marrocos euma goleada do Brasil, por 4
avançam para o mata-mata partir das oitavas pelos tas, em reedição do duelo Holanda BRASIL Itália Colômbia a 0, na semifinal do Mundial
—até 2019, os dois primeiros grupos A, C, E e G soma 11 olímpico, que terminou com Portugal Panamá Argentina Coreia do Sul
de 2007. Mas no geral, as
classificados dos seis grupos conquistas entre Copas do a eliminação da seleção nos americanas levam vantagem:
e mais os quatro melhores Mundo e Olimpíadas. O pênaltis. De lá para cá, foram Estados
4 Copas e
Unidos: Alemanha:
2 Copas e
são 12 vitórias em 18 confron-
terceiros colocados disputa- número alto se deve à so- três confrontos entre as equi- 4 Olimpíadas 1 Olimpíada tos, com três empates e três
vam as oitavas. berania dos Estados Uni- pes, com uma vitória para o triunfos da seleção brasileira.

BOTAFOGO FUTEBOL INTERNACIONAL CHANDAN KHANNA/AFP

VASCO

Caçapa se despede Messi é apresentado Pedro Raul fica perto

exaltando defesa
Avitória sobre o
Bragantino,na noite de
sábado,marcou a des-
pedida de Cláudio Caça-
pa como técnico interi-
no do Botafogo.O dire-
tor-executivo de futebol,
André Mazzuco,disse
que a inscrição do por-
tuguês Bruno Lage está
quase finalizada.
Na coletiva,Caçapa
exaltou a defesa alvine-
gra,que não leva gol há
705 minutos:
— O segredo desse time
pelo Inter Miami de deixar o clube
é a solidariedade, a Nem mesmo a sença de celebridades. Pedro Raul deve Vasco contratado
união.Eles detestam forte chuva impediu que Messi tem contrato até o trocar o Vasco pelo junto ao Kashiwa
tomar gol.Tem que Lionel Messi desse o fim de 2025. Toluca, do México. A Reysol,do Japão, por
ser assim, tem que primeiro passo para — Quero começar a proposta de US$ 4 US$ 2 milhões (cerca
detestar tomar gol. começar um novo mo- treinar,a competir, sigo milhões (cerca de R$ de R$ 10 milhões).
Porque,quando se mento em sua carreira. querendo ganhar e 20 milhões) foi bem O atacante Rwan,que
detesta,todo mundo Ele foi oficialmente crescendo.Espero recebida, e o jogador estava emprestado
recompõe,todo apresentado ontem pelo desfrutar e vou me também está disposto pelo Santos,foi nego-
mundo marca,todo Inter Miami,dos Estados dedicar 1.000% — a mudar de ares. ciado com o Ludogo-
mundo defende. Unidos.O evento,que afirmou Messi,que deve Vice-artilheiro do Brasi- rets,da Bulgária.
Com 12 pontos de teve seu início atrasado estrear sexta-feira, leirão do ano passado, O Vasco volta a cam-
vantagem sobre o por causa das condições contra o Cruz Azul-MEX, pelo Goiás,Pedro Raul po pelo Brasileirão no
Flamengo,o Botafo- climáticas,aconteceu pela Copa das Ligas. marcou apenas dois domingo,contra o
go volta a campo no no Estádio DRVPNK, em O Inter Miami também gols até o momento na Athletico,jogo que
próximo domingo, Fort Lauderdale,e con- apresentou ontem edição deste ano.O marcará a estreia do
visitando o Santos. tou com shows e pre- Busquets,ex-Barcelona. Camisa 10. Messi tem contrato com o Inter até 2025 jogador chegou ao técnico Ramón Díaz.
 4 | Esportes
Alcaraz destrona
Djokovic e conquista
Wimbledon
Espanhol supera jogo épico de quase cinco horas para vencer
segundo Grand Slam da carreira, o primeiro na grama londrina
LONDRES
-
“É um sonho que se reali-
za para mim”, disse
Carlos Alcaraz após erguer o
troféu de Wimbledon. Se
continuar jogando como
ontem, o espanhol ainda vai
realizar muitos sonhos em
sua carreira. O tenista de
apenas 20 anos destronou o
sérvio Novak Djokovic em
um jogo épico de quase cin-
co horas (4h42min) para
conquistar vencer o segun-
do Grand Slam de sua car-
reira (o outro foi o US Open
do ano passado), o primeira
na grama londrina e consi-
derado o mais icônico entre
os quatro grandes torneios
do circuito.
— Claro que é incrível
vencer, mas mesmo se eu ti-
vesse perdido estaria orgu-
lhoso com o que fiz. Fazer
história nesse lindo torneio,
jogando uma final contra
uma lenda do nosso esporte
—disse o espanhol.
A vitória de Alcaraz veio
em cinco sets: 1/6, 7/6(6),
6/1, 3/6 e 6/4. Líder do
Ginástica rítmica sobe ao pódio
quatro vezes em Copa do Mundo
Seleção brasileira leva um ouro, uma prata e dois bronzes na Romênia
A seleção brasileira de gi-
nástica rítmica continua
fazendo história. Pela pri-
meira vez, o Brasil conquis-
tou mais de uma medalha em
uma mesma etapa de Copa
do Mundo. E foram quatro,
em Cluj-Napoca, na Romê-
nia. Ontem, o país levou ouro
no conjunto misto, prata no
simples e bronze na final in-
dividual de fita, com Bárbara
Domingos. As três medalhas
se somam ao bronze no con-
junto geral na véspera.
Para o Brasil, a Copa do
Mundo serve de prepara-
ção para o Mundial da mo-
dalidade, que será disputa-
do em agosto na Espanha.
O Brasil terá ainda outra
etapa de Copa até lá: dia 21,
ranking mundial, o espa-
nhol embolsou uma premi-
ação de cerca de R$ 14,7 mi-
lhões. Número 2 do mundo,
Djokovic levou o equivalen-
te a R$ 7,38 milhões.
O sérvio buscava igualar o
recorde de oito títulos na
grama londrina, marca que
pertence a Roger Federer, e
aumentar para 24 o seu nú-
mero de conquistas de
Grand Slams, empatando
com a australiana Margaret
Court. Ele tinha uma marca
de 34 vitórias seguidas em
Wimbledon, onde não per-
NÚMEROS DO JOGO
Carlos
Alcaraz
ACES
9 2
DUPLAS FALTAS
7 3
BREAK POINTS
5/19 5/15
WINNERS
66
ERROS NÃO FORÇADOS
45
Editoria de Arte
Mundial à vista. Equipe brasileira com medalhas conquistadas na Romênia
na Itália. O Brasil busca
classificação para os Jogos
de Paris já no Mundial em
agosto. Se conseguir, será
mais um feito inédito
—chegar à Olimpíada por
dia desde as quartas de final
de 2017, em jogo disputado
na quadra 1. Na quadra cen-
tral, Djoko não era superado
desde a final de 2013, quan-
do perdeu para o britânico
Andy Murray.
Um jogo entre dois pesos
pesados do esporte só pode-
ria ser emocionante, cheio
de reviravoltas. Djokovic ar-
rasou Alcaraz com um iní-
cio firme em 6/1.
— Depois do primeiro
set pensei: “Carlos, au-
menta o nível, todos vão fi-
car desapontados” —con-
fessou Alcaraz, que arru-
mou forças para reagir.
— Tenho que parabeni-
zar o Novak, é um jogador
incrível, é ótimo jogar con-
Novak tra ele. Você me inspira
Djokovic muito, comecei a jogar tê-
nis vendo você, desde que
nasci você já ganhava tor-
neios, é incrível.
O terceiro set foi um atra-
tivo à parte. Alcaraz e
32
Djokovic protagonizaram
um game que durou 26 mi-
40 nutos e que teve 13 igualda-
des e sete break points. O es-
DIVULGAÇÃO
esta porta de entrada. Para
isso, o Brasil precisa termi-
nar entre os cinco primei-
ros do conjunto. No Mun-
dial de 2022, o Brasil foi
quinto.
panhol conseguiu a quebra
para abrir 4/1, consolidan-
do sua reação na partida.
Apesar da duração acima da
média, o game não foi o mais
longo já registrado no tênis
masculino. De acordo com o
Guinness Book, um game
entre Anthony Fawcett e
Keith Glass pelo torneio de
Surbiton, em maio de 1975,
foi o que mais durou até ho-
je: 31 minutos. Segundo os
registros, foram 37 igualda-
des e 80 pontos disputados.
No quinto set, quando Al-
caraz emplacou ótimas jo-
gadas e dava sinais de que
A treinadora do conjunto,
Camila Ferezin, chorou
muito durante a execução
do Hino Nacional, na ceri-
mônia de premiação. E con-
tou que a série foi montada
em homenagem ao seu pai:
—Fiquei muito feliz, por-
que essa série estava enta-
lada. Vínhamos cometen-
do erros na execução. A
gente vinha trabalhando
muito essa série nos trei-
nos, conseguindo execu-
ções cravadas. Mas na hora
de competir é mais compli-
cado, porque tem a parte
emocional. Felizmente,
hoje elas conseguiram ter a
cabeça fria e a execução
veio perfeita, certinha, do
jeito que sabíamos que elas
eram capazes de fazer —
disse a treinadora, que ex-
plicou como se sentiu na
hora em que viu suas atle-
tas no degrau mais alto do
pódio. —Montei essa série
como uma homenagem ao
meu pai. Conseguimos cra-
var uma vez em competi-
ção e depois nunca mais ti-
Segunda-feira 17.7.2023
Carlos Alcaraz precisou
cinco horas para bater o
estava apto a vencer a parti-
da, Djokovic se irritou com a
própria performance. Ele
chegou a estraçalhar a ra-
quete ao golpeá-la no supor-
te da rede. Ao fim do con-
fronto, deu o objeto de pre-
sente a um torcedor que exi-
bia a bandeira da Sérvia na
arquibancada.
EMOÇÃO E AGRADECIMENTOS
Na cerimônia de premia-
ção, o sérvio não aguentou a
emoção ao ver os filhos na
plateia e chorou.
Djokovic ainda brincou
dizendo que achava que
ADRIAN DENNIS/AFP
nha saído. Desta vez, ver o
resultado de tanto trabalho
finalmente ser coroado, às
vésperas de um Mundial
Pré-Olímpico, me tocou
muito.
Na última prova da com-
petição, no conjunto misto
de três fitas e duas bolas, as
ginastas brasileiras soma-
ram 31.700, superando a
Itália (31.500) e a Bulgária
(30.850) para garantir o pri-
Elhomcirurgia
meiro lugar. Na final dos
cinco arcos, a seleção brasi-
leira alcançou 34.450, con-
quistando a medalha de pra-
ta, ficando atrás da campeã
Itália (35.500) e à frente do
México (32.150). No sába-
do, o Brasil também se des-
tacou, conquistando a me-
dalha de bronze na competi-
ção de conjuntos.
Além de Bárbara, que obte-
ve 30.250 para levar o bron-
ze, atrás da alemã Darja Var-
folomeev e da búlgara Eva
Brezalieva, o Brasil bateu na
trave com Geovanna Santos,
quarta colocada na final indi-
vidual de bola.
| OGLOBO
GLYN KIRK/AFP
Êxtase espanhol.
Número 1 do ranking,
de cinco sets e quase
sérvio Novak Djokovic
não teria tanta dificulda-
des para vencer Alcaraz na
grama, piso onde o espa-
nhol não era considerado
um especialista:
— Eu pensei que só teria
problemas com você no sai-
bro e duro, não na grama.
Que maneira de se adaptar à
superfície, incrível — elogi-
ou o sérvio. —Difícil de en-
golir (a derrota), quando vo-
cê está tão perto. Mas, nova-
mente, esses são os momen-
tos pelos quais você trabalha
todos os dias, para jogar nas
quadras mais importantes e
nos torneios mais impor-
tantes do mundo. Estou
muito grato. Perdi para um
jogador melhor, só tenho
que parabenizá-lo e seguir
em frente.
Alcaraz agradeceu ao ad-
versário e revelou estar gos-
tando de mais um piso:
—Estou me apaixonando
pela grama. É incrível, não
esperava jogar nesse nível
em um período tão curto.
Joguei apenas quatro tor-
neios na grama e ganhei no
Torneio de Queens e aqui.
Alison dos
Santos é
bronze em
volta às pistas
sua volta às pistas após a
realizada no joe-
direito em fevereiro, Ali-
son dos Santos, o Piu, já su-
biu ao pódio.
Bronze olímpico em Tó-
quio-2020 e campeão mun-
dial em 2022 nos 400m com
barreiras, o brasileiro optou
por correr os 400m rasos na
etapa de Silesia-POL da Dia-
mond League.
Ele terminou em terceiro,
com o tempo de 44s73, fican-
do atrás do campeão mundi-
al, o sul-africano Wayde van
Niekerk (44s08) e de Bayapo
Ndori (44s61), da Botsuana.
Na próxima etapa da Dia-
mond League, semana que
vem, em Mônaco, Piu deve dis-
putar os 400m com barreiras.
 LEO MARTINS
MARIA FORTUNA
mariafortuna@oglobo.com.br
OGLOBO | Segunda-feira 17.7.2023

H SEGUNDO CADERNO
eloisa Buarque de Hol- Certidão.
landa está mudando de Heloisa, mais
nome. Não quer mais ser conhecida pelo
segundocaderno@oglobo.com.br
conhecida pelo sobreno- sobrenome do então
me do falecido marido. A marido, que agora
escritora, pesquisadora e assina Teixeira: “Na
professora emérita da Uni- separação, tinha que
versidade Federal do Rio ter pulado fora. Não
de Janeiro (UFRJ) agora pulei. Por achar o
vai se chamar Heloisa Tei- nome lindo, porque
xeira, alcunha materna. me facilitava, por
Embalada pelo lema “meu preguiça e inércia.
corpo, minhas regras”, uma Mas não quero mais”
das maiores pensadoras do
feminismo brasileiro já até
tatuou o novo nome nas cos-
tas. Cena devidamente regis-
trada pela cineasta Roberta
Canuto, que finaliza docu-
mentário sobre o processo.
Batizado de “O nascimento
de H. Teixeira”, o filme tem
produção de Clélia Bessa,
amiga de longa data da prota-
gonista, e se debruça sobre
vida e obra da professora, que
se confundem com a história
da cultura brasileira.
Na entrevista abaixo, a in-
telectual afirma que, ao aco-
lher o sobrenome da mãe,
busca homenagear uma mu-
lher cuja “potência feminina
foi oprimida” pelo patriarca-
do. Sempre farol ao antecipar
comportamentos da socie-
dade, Helô reflete também
sobre “uma nova velhice que
está sendo inventada”. Fala
ainda de sua posse na Acade-
mia Brasileira de Letras, mar-
cada para o próximo dia 28.

Você está com 83 anos,fez

carreira,ficou famosa,
construiu um legado.A
mudança de nome só fará
diferença para você,e isso é
bonito demais.
Sim, é para mim. Tem
uma hora que a ficha cai,
principalmente, com a coi-
sa feminista. De repente fa-
lei: “Caraca, tenho o nome
do marido”. Confesso que
ajudou. No banco, era fatal.
Quando eu ia para a fila, o
balconista perguntava: “É
prima do Chico?” Casei
mais de 50 anos atrás. Era
ofensa não colocar o nome
do marido (o advogado e ga-
lerista Luiz Buarque de Hol-
landa, primo de Chico e pri-
meiro marido de Helô, que
também foi casada com o fo-
tógrafo João Carlos Horta,
morto em 2020). Na separa-
ção, tinha que ter pulado fo-

HELOISA TEIXEIRA.
ra. Não pulei. Por achar o
nome lindo, porque me faci-
litava, por preguiça e inér-
cia. Mas não quero mais.

EX-BUARQUE
Quero ter o sobrenome da
minha mãe.

Sua mãe conseguiu ser quem

era? Ou foi reprimida?
Era aquela mulher cheia de
vontades e meio oprimida.
Meu pai era baiano, sedutor,
médico cheio de novidade e
quórum. Minha mãe era mi-
neira, desconfiada. Ficava de
longe vendo tudo, mas não
falava nada. Tinha voz de
contralto linda, queria ser
cantora. Era professora, mas
não conseguiu. Meu pai ti-
nha uma dependência visce-
ral dela, que tinha que ficar a
postos. É ela, potência femi-
nina pura, que quero que fale
através de mim. Meu pai já
tagarelou demais. Sou Helô
Teixeira, filha da minha mãe
e não do meu pai.
Desculpe pela ousadia, mas
tenho a sensação de que
agora você virou feminista
de verdade.
Pura verdade. Quando co-
mecei a olhar as mulheres
mais de perto, pensei: “O
que eu tô fazendo com essa
roupa, com esse sobrenome
que não é meu?”
Quando a ficha caiu?
Quatro anos atrás. Estava
em uma fazenda e tinha um
quadro com um brasão da fa-
mília Buarque. Enorme,
cheia de brilho. Olhei e falei
“Xô, brasão”. Adriana (Vare-
jão, sua nora) também olhou
com estranhamento. Era um
sentimento de abafamento.
Pensei: “Vou sair dessa”. Adri-
ana me deu a maior força. Ela-
boramos a ideia juntas.
E chegou a hora de realizá-la…
É uma coisa de liberdade.
Não vou morrer sendo Heloi-
sa Buarque de Hollanda, não
nasci assim. Quero morrer
confortável, de mãos dadas
com a minha mãe, que não
pôde falar. É difícil, porque
meu Buarque é uma marca,
tipo Colgate (risos).
Sua decisão teria a ver com o
seu aprofundamento nos
feminismos atuais,
decolonial, negro,lésbico,
indígena,trans etc.?
Certamente tem a ver
com as meninas e com idei-
as de mulheridades. E tem a
coisa de o nome social ter vi-
rado opção, mesmo para os
teóricos. Há historiadores
da minha idade fazendo
transição. Não fiz transição,
meu motivo maior é o emo-
DE HOLLANDA
AOS 83 ANOS E ÀS VÉSPERAS DE TOMAR POSSE mas que só há pouco ganhou
um conceito…
NA ABL, ESCRITORA QUE É UMA DAS MAIORES Para mim, era elogio, eu
amava ser assediada, o fiu-fiu,
PENSADORAS DO FEMINISMO BRASILEIRO RESOLVE o “olha a bunda”. Me achava a
ADOTAR (E TATUAR) SOBRENOME DA MÃE. ‘DE REPENTE, gostosa. Na minha geração,
era outra linguagem. As coi-
FALEI: CARACA, TENHO O NOME DO MARIDO’, DIZ sas não tinham nome. E quan-
do você tem uma palavra no-
cional, a vontade. Acho que É um capital acumulado… As netas acham que sempre va, é porque ela precisou ser
está legal esse movimento Um puta capital! Antiga- foi assim, que não tinha outro inventada. Assédio é uma coi-
porque velhos também es- mente, mulheres tinham jeito… A gente não podia sa determinada há pouquíssi-
tão querendo mudar. vergonha de dizer que eram nem sentar direito, né? En- mo tempo. Lembro da Danu-
avós e pediam para os netos tão, parei minha vida para es- za Leão dizendo “adoro ser as-
Existe uma “nova velhice" chamarem pelo nome. Nessa crever livros e deixar uma bi- sediada” e o neto perguntan-
acontecendo? nova velhice, a ideia é: você blioteca com conceitos fun- do “minha avó tá gagá?”. A avó
Sim. Ninguém sabia o que incorpora o que viveu. Veja o damentais para que elas estu- não estava gagá. Ela não sabia
era ser velho, porque não se Gil vovô, o Caetano vovô, to- dem a dimensão histórica. Os o que queria dizer assédio, es-
chegava a essa idade. Era 80 do mundo abraçando os ne- meninos, de 12 anos para bai- tava falando de elogio.
estourando, mesmo assim, tos, a generosidade de passar xo, estão muito diferentes. Já
poucos. E iam esticando, fa- para frente, sair de cena dei- têm vocabulário e realidade Um “elogio” que pode ser
zendo preenchimento, gi- xando outros. Para você ter nova, jamais vão se compor- muito pesado…
nástica e dieta. Todo um in- neto, é preciso ter tido filho e tar como antigamente. Os Muito pesado. E o mais pe-
vestimento para não parecer um rolo pavoroso com o seu que têm entre 20 e 15 ficaram sado a elite não sofre, porque
velho. A velhice dos privilegi- trabalho. É tanta história nes- acuados. Perceberam que anda de carro. Vai no trem da
ados da classe média era essa. sa descendência até chegar não podem brincar em servi- Central para saber o que é… A
Quando dizem “não parece ao neto, que é tudo muito lin- ço, ou são cancelados. Veem a Catherine Deneuve disse
que tem 83 anos”, penso “co- do. Aí vai me chamar de He- mulher de forma diferente. aquela besteirada porque não
mo assim? Meus anos foram lô? De jeito nenhum! Sabem que tem certo e erra- anda na rua sozinha, nin-
para o Pitanguy?”. Quero do, antes não sabiam. Eu não guém vai pegar na bunda dela.
mais que pareça! São sete ne- Que elementos,no sentido da sabia o que era assédio...
tos, três filhos, 80 trabalhos, quebra do patriarcado, NÃO É MAIS HORA DE
sofri, chorei, dei risada… identifica nos seus netos? Algo que sempre aconteceu, FALAR DE JOVENS, PÁG. 2
2 | Segundo Caderno Segunda-feira 17 .7 .2023 | OGLOBO

DOIS DOCUMENTÁRIOS
MARIA FORTUNA
mariafortuna@oglobo.com.br

Q uando a cineasta Rober-

ta Canuto e a produtora

PARA A NOVA IDENTIDADE

Clélia Bessa tomaram co-
nhecimento do desejo de
Heloisa Buarque de Hollan-
da de mudar de nome, não
conseguiram mais pensar
em outro mote que não fos- LEO MARTINS
se este para conduzir o filme minista no Brasil. Há a lente
que tinham na cabeça. poética particular dela mis-
A princípio, a inspiração Vida e obra. turada a esse contexto.
inicial do documentário era A produtora Roberta
o livro “Marginais anos 70”, Canuto e a diretora COMPANHEIRAS
em que Heloisa reflete sobre Clélia Bessa: O filme mostra o percurso de
a cultura alternativa daquela olhar feminino uma geração de artistas das
época. Mas, diante de uma quais Heloisa sempre falou: a
nova Helô, muito mais inte- atriz Helena Ignez, as cineas-
ressada em falar sobre trans- tas Leticia Parente, Lucia Mu-
formação do que passado, de- rat e Helena Solberg. Todas re-
cidiram mudar a rota. E bati- presentadas na história da pro-
zaram o projeto de “O nasci- tagonista do documentário.
mento de H. Teixeira”. Protagonista essa que, di-
— A gente agarrou essa ante da câmera, solta o ver-
ideia, porque é muito coe- bo sem cerimônia.
rente com toda a história da —Helô tem falado de velhi-
Heloisa. É como se fosse in- ce e, quando se chega na ve-
corporação de tudo que ela lhice, fica-se sem freio, fala-
defendeu a vida inteira — se o que quer. Fazer um filme
define Roberta. —Não só a nesse momento deu a ela e a
relação dela com o feminis- nós muita liberdade. Ela está
mo, mas essa coisa ousada, se permitindo, não há nada
de estar à frente do tempo, que a segure. Tem filme que é
antenada, sensível a tudo filme explosão. Esse tem um
que está acontecendo. lugar de filme pra sempre, fil-
Parceria com o Canal Cur- me registro —afirma Clélia.
ta!, o longa está previsto pa- E Heloisa Teixeira ganhará
ra estrear ano que vem hon- um segundo documentário.
rando Heloisa como “fonte Lula Buarque de Hollanda
inesgotável de conheci- está finalizando “Helô”, um
mento, inspiração e refle- doc de filho para mãe.
xões”, como define Clélia. —É uma visão do filho que
— Ela é visionária, uma sentiu a necessidade de contar
parabólica, uma antena gi- um tom de “caleidoscópio”, Roberta complementa: ahistória dessa intelectual ma-
gante que está sempre em TRAJETÓRIA DE HELOISA TEIXEIRA segundo Clélia: — O feminismo é a lente ravilhosa de um ponto de vista
movimento —diz Clélia. — SERÁ REVISTA EM UMA PRODUÇÃO —Usamos imagens de fil- dela, o que costura tudo. É mais íntimo —resume Lula.
E nunca teve esse protago- mes e de momentos marcan- legal porque é um relato O diretor aguarda a posse
nismo de ser a dona de um DAS AMIGAS ROBERTA CANUTO E tes das artes dos quais ela fa- pessoal sobre uma mudança da mãe na ABL para finalizar
filme dela. Acho que ela pre- CLÉLIA BESSA, COM ESTREIA EM 2024, lou. Tem o pilar do feminis- geracional, cultural. É inte- o filme, uma coprodução de
cisava contar sua história mo, os marginais, a atuação ressante perceber como o Espiral, Conspiração e Hys-
em primeira pessoa. E EM OUTRA, DO FILHO LULA BUARQUE na universidade, para onde percurso dela, que fala so- teria, com roteiro de Isabel
E a história de Heloisa se ela levou novas luzes. Todos bre os pais e a família que de Luca e Julia Anquier. O de-
confunde com a da cultura DE HOLLANDA, QUE PRETENDE esses momentos da vida dela construiu, vai costurando a sejo de Lula é estrear no Fes-
brasileira, o que dá ao filme LANÇAR FILME AINDA ESTE ANO são retratados. história da cultura e luta fe- tival do Rio, em outubro.

CONTINUAÇÃO DA CAPA

É PRECISO
LEO MARTINS
Está escrevendo novos livros? to, errado, bom ou ruim, e
“Rebeldes e marginais” so- não tem nada mais político e
bre os anos 1960 e 1970, vai importante. Acho que seria
sair agora com entrevistas
inéditas com Hélio Oitici- FALAR maravilhoso divulgar a gra-
vidade desse assunto para o

DOS VELHINHOS
ca, Zelito Vianna contando público em geral. É bacana
como foi a primeira leitura defender a palavra, a língua,
de “Terra em transe”, Zé Cel- a literatura nacional, a liber-
so falando da estreia de “Rei dade de expressão.
da Vela”. Tem material ar- A ideia é falar sobre a velhice a tar toda tatuada (são 11 tatua-
quivo que transformamos partir do que você vive... gens). Não existe velho tatua- Ainda mais ocupando a
em QR Code. Estou escre- Sim. Porque… vai falar de do porque a pele é toda enru- cadeira que foi da Nélida
vendo outro sobre identita- jovem? Já falamos demais. gadinha. Tem que escolher Piñon, primeira mulher no
rismo, esse problemão que Era o assunto nos anos 1960, um lugar retinho, resistente. mundo a presidir uma
tem confronto, cancela- quando aparece. Porque an- É um diálogo com o corpo. academia de letras...
mento, a coisa de branco tes não tinha jovem também, Nélida foi presidente da ABL
não poder falar por preto, né? Cada coisa dessas é uma No dia 28,você toma posse na antes de a França, modelo que
preto não poder falar por invenção. Jovem era faixa etá- ABL,instituição ainda bem a gente repete, e o restante da
branco, homem não poder ria, mas não um sujeito políti- masculina.Como pretende Europa ter uma mulher no
fazer papel de trans. E tem o co, não fazia porra nenhuma. bagunçar esse coreto? posto. Rachel de Queiroz en-
“Escolhas”. Fiz aos 60, aos Uma passeata dos anos 1960 Com a presença mesmo, trou na ABL antes de qual-
70 e agora aos 80, com foco éuma passeata de jovens, tem que muda as coisas. A ABL quer mulher na França. A
total na velhice. E não tem operário, patrão, mãe, pai… não é uma instituição vazia, gente tem um pioneirismo de
nada escrito sobre isso. O li- Quer dizer, não é uma coisa de velhos tomando chá. Re- mulher que poder ser poten-
vro da Simone de Beauvoir de classe, de raça, era uma presenta o Brasil, decide cializado. E tem uma nova le-
sobre velhice tem números, coisa etária. É legal acompa- muita coisa importante. O va na ABL que é animadora. A
estatísticas, mas não fala de- nhar essa invenção, princi- que é discutido ali é muito geração dos velhinhos dos
la, como se não fosse uma palmente, se for no próprio sério. São os problemas da anos 1960. Vamos inventar a
experiência também. corpo. Tenho orgulho de es- língua nacional, o que é cer- Feito tatuagem. Heloisa Teixeira registrou na pele a nova assinatura velhice na ABL também.

HORÓSCOPO Cláudia Lisboa

ÁRIES (21/3 a 20/4) Elemento: Fogo. Modalidade: Impulsivo.
Signo complementar: Libra. Regente: Marte.
A confiança em suas próprias ações aumentará e,
assim, você se sentirá seguro para tomar as decisões necessá-
rias. Dê um passo firme na direção daquilo em que você acredi-
ta e deseja conquistar. Siga com fé.
CÂNCER (21/6 a 22/7) Elemento: Água. Modalidade: Impulsivo.
Signo complementar: Capricórnio. Regente: Lua.
O dia lhe trará enorme sensibilidade, de forma que
seus sentimentos e pensamentos estarão mais vivos e poten-
tes. Lembre-se do poder de suas emoções e da riqueza de seu
interior. Eleve seus pensamentos.
LIBRA (23/9 a 22/10) Elemento: Ar. Modalidade: Impulsivo.
Signo complementar: Áries. Regente: Vênus.
Seu poder de observação e balanço estará ampliado,
o que lhe proporcionará uma análise precisa acerca de seus
sentimentos e desejos sobre o futuro próximo. Priorize a confi-
ança nas suas escolhas.
CAPRICÓRNIO (22/12 a 20/1) Elemento: Terra. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar: Câncer. Regente: Saturno.
O dia abrirá novos caminhos possíveis para ternura e
afetuosidade. Permita-se cuidar e ser cuidado, desfrutando das
sutilezas da sensibilidade e da riqueza dos encontros. Aproveite
o que não tem preço.

TOURO (21/4 a 20/5) Elemento: Terra. Modalidade: Fixo. Signo
complementar: Escorpião. Regente: Vênus.
As ideias que você fortalecerá em seu interior lhe
ajudarão a criar a realidade que deseja ver ao seu redor. Não
deixe que padrões mentais ultrapassados condicionem suas
ações. Reflita sobre seus ideais.
LEÃO (23/7 a 22/8) Elemento: Fogo. Modalidade: Fixo. Signo
complementar: Aquário. Regente: Sol.
O momento será conveniente para se recolher e
recarregar as energias físicas e emocionais. Seu brilho pessoal e
ar majestoso são frutos de um coração que pulsa apaixonado.
Cuide de si no tempo preciso.
ESCORPIÃO (23/10 a 21/11) Elemento: Água. Modalidade:
Fixo. Signo complementar: Touro. Regente: Plutão.
Agora você deverá ter cuidado com seu próprio
poder de transformação. Fique atento para não descartar
experiências valiosas, por puro medo da frustração. Cuide com
dedicação aquilo que você cultivou.
AQUÁRIO (21/1 a 19/2) Elemento: Ar. Modalidade: Fixo. Signo
complementar: Leão. Regente: Urano.
Ao permitir que a ansiedade ultrapasse o domínio da
razão, você perderá a chance de viver aprendizados importantes
para o seu desenvolvimento pessoal. Cultive a calma para
restaurar seu equilíbrio.

GÊMEOS (21/5 a 20/6) Elemento: Ar. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Sagitário. Regente: Mercúrio.
A esfera profissional da sua vida pedirá movimento,
seja promovendo mudanças ou investindo em parcerias com
quem trará novos olhares e valores para a sua produtividade.
Transforme energias com novos ares.
VIRGEM (23/8 a 22/9) Elemento: Terra. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Peixes. Regente: Mercúrio.
Agora será fundamental avaliar o que deve ser reno-
vado em sua vida, para que você possa se manter alinhado com
o que deseja realizar. Crie um ambiente confortável para si.
Atualize-se de dentro para fora.
SAGITÁRIO (22/11 a 21/12) Elemento: Fogo. Modalidade:
Mutável. Signo complementar: Gêmeos. Regente: Júpiter.
Você enfrentará desafios ao precisar expor seus
sentimentos, e a melhor forma de promover entendimento entre
aqueles que você ama será expressando o que se passa em seu
coração com honestidade. Coragem.
PEIXES (20/2 a 20/3) Elemento: Água. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Virgem. Regente: Netuno.
Sua sensibilidade deverá ser vivida com seriedade e
dedicação, para que suas emoções lhe conduzam a um amadu-
recimento consciente. Lide com seus mistérios de forma sensa-
ta e corajosa. Honre seus caminhos.

Editora : Gabriela Goulart (gab@oglobo.com.br).Editor adjunto: Marcelo Balbio (balbio@oglobo.com.br).Editor assistente: Eduardo Rodrigues (earodrigues@oglobo.com.br) .Diagramação: Gustavo Amaral (gdamaral@edglobo.com.br)
oglobo.com.br/cultura Telefones: Redação:2534-5703. Publicidade: 2534-4310 publicidade@oglobo.com.br Correspondência: Rua Marquês de Pombal 25, 4º andar. CEP 20.230-240
OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023 Segundo Caderno | 3
_ SEG_Play_ TER_Play_ QUA_Play_ QUI_Patrícia Kogut_ SEX_Play_ SÁB_Play_ DOM_Patrícia Kogut

PLAY Por Anna Luiza Santiago

Com Roberta Escansette, Gabriel Menezes e Giulia Costa • oglobo.globo.com/play • colunaplay

FÁBIO ROCHA/GLOBO
Mudança Betinho adolescente
radical
Depois do sucesso como
Alexandra Marcinho em “Os outros”,
Richter aparecerá Antonio Haddad viverá
muito diferente Herbert de Souza na
na TV. Ela entrará juventude em “Betinho: no
em “Terra e fio da navalha”, também
paixão” como uma série do Globoplay. O
Para “O príncipe que nunca Nice, uma mulher ator fará o personagem dos
foi rei”,da Netflix. religiosa que 14 aos 18 anos. Nessa
O documentário trata de se diz herdeira época, ele contraiu
um crime envolvendo um de Cândida tuberculose. As cenas
membro da família real (Susana Vieira) representarão memórias do
italiana.É interessante. e passa a protagonista na fase adulta,
administrar o bar papel de Julio Andrade.
com muito rigor.
Em cena, a atriz Biografias
usará uma peruca
preta: “Nice Por falar em Julio, ele fará
chega de cara uma participação em outra
lavada, com produção do Globoplay,
unhas sem “Raul Seixas: metamorfose
esmalte, zero ambulante”, estrelada pelo
arrumada. seu irmão, Ravel Andrade.
Para a Paramount+,que Acho maravilhoso
oferece a série “The porque a Julinha Remake
neighborhood”,mas sem a de ‘Além de ilusão’
primeira temporada.Outra era bem perua, César Mello será o marido
incompleta é “Blue bloods”. o símbolo do de Maria Clara Spinelli em
Seria jogo de adivinhação? exagero” “Elas por elas”.

JOGOS QUADRINHOS
LOGODESAFIO Foram encontradas 55 palavras: 34 de 5 letras, 14 de 6 letras, 5 de 7 MACANUDO Liniers
POR SÔNIA PERDIGÃO
letras, 2 de 8 letras, além da palavra original. Com a sequência de letras
BO foram encontradas 14 palavras. ENTÃO VOCÊ QUER VOCÊ TEM UM SLOGAN POLÍTICO BOM...TEM GENTE QUE
LANÇAR SEU CANDIDATO PARA A CAMPANHA? GANHA FALANDO COISAS
Instruções: Este jogo tem os seguintes objetivos: 1. Encontrar a À PRESIDÊNCIA? MAIS ESTRANHAS.
I I T I palavra original utilizando todas as letras contidas apenas no quadro
maior. 2. Com estas mesmas letras formar o maior número possível de
OLGA! OLGA!
OLGA!
O palavras de 5 letras ou mais. 3. Achar outras palavras (de 4 letras ou OLGA.

N
BO mais) com o auxílio da sequência de letras do quadro menor. As letras
só poderão ser usadas uma vez em cada palavra. Não valem verbos,
plurais e nomes próprios.
E M R S
BO: bôer, boné, bonito, bote, boto, estribo, nimbo, oboé, rombo, sebo, tombo, tribo, trombone, trombose.
treino// inteiro, ínterim, mineiro, minério, término// ministro, mistério// MINISTÉRIO. Com a sequência de letras NADA COM COISA ALGUMA José Aguiar
treno, trino// imenso, imerso, inseto, íntimo, isento, mentor, mérito, mísero, mister, montês, sênior, sétimo, tensor,
sério, setor, símio, sírio, sítio, somiê, sorte, temor, tênis, tenor, tenro, tenso, termo, terno, terso, tisne, tremó,
Solução: estio, ístmo, menor, menos, metro, misto, monte, morte, nisto, noite, norte, ontem, resto, riste, rítmo,

FORA DE FOCO Eduardo Arruda

O CORPO É PORTO André Dahmer

BICHINHOS DE JARDIM Clara Gomes

URBANO, O APOSENTADO A. Silvério

4 | Segundo Caderno Segunda-feira 17 .7 .2023 | OGLOBO
_ SEG_ Joaquim Ferreira dos Santos _ TER_ Leo Aversa_ QUA_ Ana Paula Lisboa (quinzenal) _ Martha Batalha (quinzenal)_ QUI_ Cora Rónai_ Luis Fernando Verissimo _ SEX_ Ruth de Aquino_Nelson Motta_ SÁB_ José Eduardo Agualusa_ DOM_Cacá Diegues

JOAQUIM FERREIRA vros. São pílulas de vida tão boas quanto as

do jingle do Dr. Ross, podem curar o fígado e
DOS SANTOS o que vai de triste na alma de todos nós. De-
segundocaderno@oglobo.com.br sassossego? Tome Fernando Pessoa.
A Casa 11 fica em Laranjeiras, quase em
frente ao Instituto Nacional de Cardiolo-
Fazer parte de uma sociedade dodói torna
alguns insensíveis a fenômenos da patolo-
gia urbana, como o do quarteirão de Copa-
cabana com cinco delas na mesma calçada.
Será que não podiam abrir uma livraria para
cada uma delas? Ninguém discute se Me-

EXTRA! EXTRA! gia, onde trabalham alguns dos médicos-

sócios-livreiros. Foi uma psicóloga quem
teve a ideia depois de ver num muro o grafi-
lhoral é melhor e não faz mal —mas que tal a
maravilha terapêutica de um dia frio e um
bom lugar para ler um livro?

ABRIRAM te “Menos drogaria, mais livraria”.

Se a palavra falada, como Freud sacou, aju-
dava a aliviar os sintomas de ansiedade e de-
Os médicos desse inesperado pronto-so-
corro receitam a medicina milenar da poesia,
dos contos e dos romances. Acreditam estar

UMA LIVRARIA! pressão, a psicóloga acredita em cura pela lei-

tura. Contra os males do estresse urbano, dez
sonetos de Drummond pela manhã; contra
ajudando, com cultura e os preços baratos de
um sebo, na implantação de um tratamento,
sem contraindicações, sem efeitos colaterais,
as dores da desespe- para atacar as moléstias da cidade-paciente,

D everia ser notícia de primeira página,

um repórter correndo à oficina para gri-
tar “parem as máquinas!”, um pequeno jor-
la PM contra um inocente, uma fila em bus-
ca de atendimento nos hospitais, um ôni-
bus do BRT trafegando sem as portas e um
A INAUGURAÇÃO
DA CASA 11 É
rança, use à noite os
diários de Carolina
sempre tão linda, mas, como mostram os te-
lejornais, à beira de ser intubada numa UTI.
FINALMENTE UMA Maria de Jesus. A inauguração da livraria Casa 11 é final-
naleiro berrando “extra! extra!”, mas vai atraso de horas provocado pelo furto de ca- Nenhum desses mente uma boa notícia em meio ao ciclone
aqui mesmo, modestamente, nesta janela bos no leito dos trens. Mudam os repórteres BOA NOTÍCIA EM médicos tem qual- das drogarias, e seus médicos-livreiros estão
que o jornal abre na última página para o lei- e as delegacias, mas, como na música do Gil, MEIO AO CICLONE quer objeção à peni- prontos para aviar receituários de leitura. Pa-
tor respirar alguma leveza. É o anúncio al- as notícias que vejo, eu conheço, já sabia an- DAS DROGARIAS, cilina, à morfina, ao ra combater os sintomas da angústia e da soli-
vissareiro de que neste fim de semana foi tes mesmo de ver. Elas passaram ontem, an- E SEUS LIVREIROS corticoide e às vaci- dão, aplique sem moderação, ao calor de um
inaugurada uma livraria no Rio de Janeiro. teontem também. A cidade está doente. ESTÃO PRONTOS nas, mas acham que chá de hortelã, os versos de Ana Martins Mar-
Os telejornais que cuidam da cobertura Por isso seria necessário, no alto da página é preciso um remé- ques. Se a vida em volta é só usura e alma seca,
da cidade apresentam diariamente a mes- primeira, o registro de que um grupo de 54 PARA AVIAR dio contra a doença vá de Rubem Fonseca. Saúde é coisa séria. No
ma pauta básica de um tiroteio pela manhã médicos percebeu a carência de prateleiras RECEITUÁRIOS carioca da prolifera- lugar de gotas e comprimidos, páginas e mais
numa comunidade, uma bala disparada pe- com um remédio de alto poder curativo: li- DE LEITURA ção das drogarias. páginas. Tudo vai mal? João Cabral.

OBITUÁRIO • JANE BIRKIN, ATRIZ E CANTORA, 76 ANOS

FBritânica,
ARTISTA-SÍMBOLO DE
ilha de uma atriz e de um
tenente da Marinha Real
Jane Mallory
Birkin nasceu em 14 de de-

UMA DÉCADA AGITADA

zembro de 1946. Com talen-
to para as artes, já na adoles-
cência estreou no cinema, e
logo deixaria sua marca
também no mundo da músi- AFP/9-1970
ca e da moda. Em pouco
tempo, Jane se tornaria um
ícone de beleza e comporta-
mento para boa parte das
mulheres ocidentais nos
conturbados anos 1960.
A carreira de Jane no ci-
nema começou com pe-
quenos papéis em filmes de
Michelangelo Antonioni,
como “Blow-Up: Depois
daquele beijo” (1966), pri-
meira obra do diretor itali-
ano falada inteiramente
em inglês. A jovem britâni-
ca tornou emblemática sua
curta participação no filme
ao protagonizar o primeiro
nu frontal de uma produ-
ção britânica.
Em 2008, em entrevista
ao jornal The Daily Mail,
ela relembrou o furor que
causou ao interpretar “A
loura”, como sua persona-
gem fora creditada.
“Nunca pensei que aqui-
lo iria chocar. Nonsense.
Eu fiz todas as coisas que fiz
pelas mesmas razões”, dis-
se ela ao repórter, que per-
guntou se a motivação era
financeira. “Isso é um in-
sulto. A verdade é que fiz
todas essas coisas para
agradar os homens de EM 60 ANOS ve três relacionamentos im- tocar nas rádios de alguns A atriz e cantora também Gemidos e
quem eu gostava na época. portantes. O primeiro foi países, inclusive no Brasil, esteve no Brasil em 2009, em sussurros.
Sempre fiz o que eles queri- DE CARREIRA, com John Barry, (1933-2011) mas também chegou ao to- um tributo da Orquestra Im- Jane Birkin
am, pois tinha medo de músico famoso por compor a po das paradas de muitos perial a Gainsbourg, cantan-
perdê-los”. A INGLESA trilha sonora dos filmes do outros. Em 1971, os dois ti- do “Je suis venu te dire que je
e Serge
Gainsbourg,
NATURALIZADA espião 007. Nasceu daí sua veram uma filha, Charlotte m'en vais” ao lado de Caeta- em 1970. Casal
RELAÇÕES CONTURBADAS primeira filha, Kate (1967- Gainsbourg, hoje cantora e no Veloso, em São Paulo. No gravou “Je
Em seis décadas de carreira, FRANCESA 2013). O casamento termi- atriz. O relacionamento ano seguinte, colaborou com t'aime... moi
a atriz participou de cerca
de 70 filmes, como “Morte
PROTAGONIZOU nou em 1968.
Um ano depois, já vivendo
acabou em 1980.
Após se separar de
Sergio Dias, ex-integrante
dos Mutantes, no álbum “We
non plus”,
canção que
sobre o Nilo” (1978), “As- MOMENTOS boa parte do tempo na Fran- Gainsbourg, a quem ela are the lilies”. foi censurada
sassinato num dia de sol” ça, iniciaria um relaciona- descreveria como violento Com personalidade mar-
(1982), “La pirate” (1984), POLÊMICOS mento com o músico Serge e alcoólatra (“um homem cante, silhueta e beleza ado-
em vários
países, inclusive
“A bela intrigante” (1991) e NO CINEMA Gainsbourg (1928-1991), muito difícil”, disse a can- lescente Jane estava longe no Brasil
“Merci docteur Rey” que conhecera durante as tora à revista Russh, em de precisar de maridos fa-
(2002), entre outros. E NA MÚSICA gravações do filme “Slogan”. 2020), Jane conheceu o di- mosos para ter seu próprio
Já em 2007, Jane fez sua es- Na época, Jane estava com retor Jacques Doillon, nome em destaque. Sua fa-
treia como diretora no filme 22 anos e ele, com 40, saíra com quem teve a filha Lou ma crescente no mundo da
“Caixas”, em que atuou ao de um de um relacionamen- Doillon, em 1982, que moda fez a grife Hermès cri-
lado de Geraldine Chaplin, to conturbado com a atriz também é cantora, atriz e ar uma bolsa com seu nome,
filha de Charles Chaplin. Brigitte Bardot. modelo. O casamento ter- um dos produtos mais cobi-
Na época, veio divulgá-lo no Naturalizada francesa, Ja- minou em 1991. çados da famosa marca do
Festival do Rio. ne formou com Gainsbourg mercado de luxo.
—Nunca vou esquecer co- um dos casais mais celebra- PERSONALIDADE Birkin morreu ontem, em
mo o Festival do Rio foi calo- dos da época, ora por um Na carreira musical, Jane sua casa em Paris, aos 76
roso comigo —disse ela em certo glamour, ora por gravou, ao todo, 14 álbuns anos. As causas da morte
2008, ao GLOBO, quando escândalos que vieram à to- de estúdio, o último deles, ainda não foram divulgadas,
esteve no Rio. na. Em 1969, eles gravaram “Oh! Pardon tu dormais”, mas ela havia cancelado
Oroteiro de “Caixas”, escri- a canção “Je t'aime... moi em 2020. Em 2017, lançou shows recentemente por
to pela própria Jane, é inspi- non plus”, feita original- “Birkin/Gainsbourg: Le problemas de saúde.
rado na vida dela e conta a mente para Bardot e que in- symphonique”, um tributo à O presidente francês, Em-
história de uma mulher, três cluía gemidos e sussurros si- parceria musical da dupla, manuel Macron, disse que Ja-
amores passados e três filhas. mulando orgasmos. Censu- com canções que ele havia ne era uma “artista completa”,
Assim como a personagem rada publicamente pelo Va- escrito para ela durante e que “cantou as mais belas pa-
principal do longa, a atriz te- ticano, acabou proibida de depois do casamento. lavras de nossa língua”.

OGLOBO | Segunda-feira 17.7.2023
ESPECIAL
DIA DO PROTETOR
DE FLORESTAS
GUARDIÕES
DA NATUREZA
HISTÓRIAS INSPIRADORAS de gente que dedica a vida à
preservação ambiental, tentando assegurar o futuro do planeta
U
ma cientis- indígena que incentiva seu
ta que in- povo a usar tecnologia de
vestiga o ponta para defender seu terri-
poder de tório de invasões de garimpei-
cura da ros, madeireiros e grileiros.
Amazônia Neste 17 de julho, come-
para rege- mora-se o Dia do Protetor
nerar áreas de Florestas, também cha-
degradadas na floresta. Agen- mado de Dia do Curupira,
tes ambientais que fazem do em referência à figura do
combate às queimadas um folclore brasileiro. Conhe-
propósito de vida. Um líder cido por seus cabelos de fo-
PARCEIROS
go e os pés virados para trás,
o personagem que defende
matas e animais de seus
vilões está em histórias de
ficção passadas de geração
em geração. Mas engana-se
quem acha que Curupira
não existe.
Neste caderno, reunimos
exemplos de curupiras da
vida real. Gente como a pes-
quisadora Ima Vieira. Mara-
APOIO
joara com mestrado na USP
e doutorado na Escócia, pio-
neira no estudo dos poderes
regenerativos da Floresta
Amazônica, ela se dedica a
ampliar o conhecimento so-
bre o vasto bioma, com o in-
tuito de protegê-lo.
Jogam no time de Ima os ser-
vidores de órgãos ambientais
que monitoram e reprimem o
deflorestamento ilegal, em
REALIZAÇÃO
ARTE DE SHIKO
um arriscado trabalho de cam-
po que, com respaldo de inteli-
gência, apresenta resultados.
São todos aliados recentes
de líderes indígenas como
Almir Suruí, que cresceu
combatendo agressões a seu
território, em Rondônia, e,
hoje, usa drones, GPS e ima-
gens de satélite para moni-
torar e denunciar invasões
em tempo real.
Conheça #UMSÓPLANETA – o
maior movimento editorial
brasileiro para promover
práticas sustentáveis e enfrentar
a mudança climática. Acesse
umsoplaneta.globo.com
2 |
PERFIL
Ima Vieira/ ECÓLOGA
Especialista em impactos do desmatamento e queimadas, paraense foi pioneira em derrubar a crença
de que a maior floresta tropical do planeta não se regenera —e se dedica, há décadas, a fazê-la renascer
Uma cientista
que investiga o
poder de cura
da Amazônia
ANA LUCIA AZEVEDO
ala@oglobo.com.br
-
P
roteger uma flores-
ta é também desco-
brir como fazê-la se
curar de suas feri-
das, tratar suas cha-
gas abertas pelo desmata-
mento e fazê-la renascer das
cinzas das queimadas. Na
Amazônia, o caminho para a
sobrevivência alia o conheci-
mento tradicional à ciência
de vanguarda e à força da mai-
or floresta tropical do planeta,
afirma a ecóloga paraense
Ima Vieira, uma das mais res-
peitadas especialistas em im-
pactos do desmatamento e
restauração do bioma.
A floresta está em Ima des-
de sempre. Levada pelo pai,
que era juiz, cresceu nas ma-
tas da Ilha de Marajó, onde a
riqueza da biodiversidade
contrasta com a pobreza da
população. Em Marajó estão
os municípios com os meno-
res IDHs do Brasil. Não falta
comida, pois a floresta e os ri-
os proveem, mas inexistem
educação e saneamento.
—Meu pai gostava da natu-
reza e herdei isso dele. Marajó
é um lugar de extremos: de ri-
queza, a da natureza; e da po-
breza, a humana. Aprendi
desde muito cedo que não
existem soluções isoladas e
que você não pode separar o
natural do social. Não existe
bioeconomia sem sociobiodi-
versidade. Cresci vendo isso e
levei para a vida —afirma.
Em sua trajetória, ela acom-
panhou os altos e baixos da
conservação, o surgimento de
desafios, as mudanças da polí-
tica e do clima. E a cientista
encontrou um porto seguro
na certeza de que não resis-
RITMO DA MUDANÇA CLIMÁTICA PREOCUPA
Novo estudo mostra que espécies de árvores e plantas precisariam migrar em velocidade muito superior à atual para se adaptar
A s mudanças climáticas
avançam na Amazônia
num ritmo muito superior ao
que a natureza é capaz de se
adaptar, alerta o mais recente
estudo de Ima Vieira e seu
grupo de pesquisa. Publicado
na revista científica Plos One,
o trabalho estima a velocida-
de com que o clima transfor-
ma a Floresta Amazônica e
evidencia que nem mesmo as
unidades de conservação lo-
calizadas no coração da flo-
resta estão a salvo.
Os pesquisadores da Uni-
Especial - Dia do protetor de florestas
Editor responsável: William Helal (william@oglobo.com.br) Editor: Renan Damasceno (renan.damasceno@oglobo.com.br) Repórteres: Ana Lucia Azevedo (ala@oglobo.com.br),André Borges (Especial para O GLOBO) e Ruan de Sousa Gabriel (ruansg@infoglobo.com.br).
Diagramação: Pablo Tavares Fotografia: Ana Branco Infografia: Gustavo Cannia Moore Ilustração da capa: Shiko
tem soluções únicas para con-
servar a Amazônia, mas que
todas elas dependem de estar
ancoradas em sua gente.
Ima é como a floresta, uma
combinação de diversidades.
Para ter visão mais ampla do
uso da terra, se formou agrô-
noma, na Universidade Fede-
ral Rural da Amazônia. O
mestrado foi em genética, na
Universidade de São Paulo
(USP). Queria entender a di-
versidade das plantas e lá foi
ela estudar uma forrageira
amazônica —que serve de ali-
mentação para o gado. Uns
matinhos desses “que as pes-
soas pisam sem nem notar” e
que, tempos depois, foram
gourmetizados, batizados
com mais charme de pancs
(sigla para plantas alimentíci-
as não convencionais). Na-
quela época, “quase não se fa-
lava em desmatamento da
Amazônia”.
Ima conseguiu uma bolsa
no Museu Paraense Emílio
Goeldi, em Belém. E lá co-
nheceu cientistas como o
americano Christopher Uhl.
—Uhl foi o primeiro que viu
opapel da extração de madeira Restauração. Ima se notabilizou em investigar a resiliência da Floresta Amazônica ao desmatamento e às queimadas
como um gatilho para impac-
tos muito maiores, como as
grandes queimadas, o desma-
tamento para expansão da pe-
cuária, a degradação da flores- “Não é verdade que a
ta e sua consequente perda de floresta não volta.
biodiversidade. Ele achava im-
portante influenciar políticas Podemos recuperar. Não cidades e plantações há mais mas de pós-graduação em Ci-
públicas. É dele a ideia da cria- tudo, mas uma parte
ção do Instituto do Homem e significativa”
do Meio Ambiente da Amazô-
nia (Imazon) —lembra.
O doutorado em Ecologia a “Não tenho coragem de sibilitou de continuar o traba-
levou à Escócia, na Universi- me aposentar. É preciso lho de campo —ser mulher, perita no Sínodo para a Ama-
dade de Stirling, em 1996, pa- produzir mais ciência
ra estudar com John Proctor, na Amazônia, reduzir a de trabalhar na floresta. Vol- cisco e atua ainda como asses-
um dos maiores especialistas iniquidade”
em impactos do uso do solo
versidade Federal do Pará, da
Universidade Federal Rural
do Pará e do Museu Paraense
Emílio Goeldi usaram mode-
los numéricos para avaliar até
2050 os efeitos das mudanças
climáticas sobre as unidades
de conservação e terras indí-
genas dos nove países por on-
de a floresta se estende. Na
natureza, as espécies lenta-
mente migram à medida que
se deslocam as condições cli-
máticas às quais estão adapta-
das. Se o clima muda depressa
demais, a maioria não acom-
Segunda-feira 17.7.2023 | OGLOBO
ANA BRANCO
mia Brasileira de Ciências.
Ima se notabilizou em in-
vestigar a resiliência da Flo-
resta Amazônica ao desmata-
mento e às queimadas. E foi
pioneira em derrubar a cren-
ça de que a Amazônia não se
regenerava. Tem mostrado
que a floresta pode voltar, evi-
denciando a importância das
matas secundárias para se-
questrar carbono e as formas
de alcançar a restauração.
Trabalha em muitos luga-
res, mas continua a estudar a
Bragantina, que se estende de
Belém ao litoral do Pará —o
mais degradado dos oito cen-
tros de endemismo (origem
de espécies exclusivas, berços
de biodiversidade) da Ama-
zônia. Restam lá apenas cerca
de 30% da floresta original.
São as matas que a cientista
Luciana Gatti, do Inpe, mos-
trou, em 2021, que já emitem
mais CO2 do que absorvem,
numa inversão perversa do
papel da floresta.
—Não é verdade que a flo-
resta não volta. Podemos re-
cuperá-la. Não tudo, mas uma
parte significativa. Restaura-
mos biomassa. Com a biodi-
versidade é muito mais difícil,
algumas espécies não volta-
rão. O aprendizado é longo.
Acientista investiga como a
floresta se regenera sozinha,
se deixada em paz. E também
como pode ser auxiliada a
crescer de novo. A melhor
técnica depende do lugar e
das circunstâncias.
—Restaurar não é sair plan-
tando árvores. É conhecer a
composição do que existia e
selecionar as espécies com
chances de recuperar. É pre-
ciso entender a dinâmica. São
muitas as amazônias e nume-
rosos os caminhos.
Com o novo governo, os ín-
dices de desmatamento dimi-
do mundo. No seu trabalho, quisadora titular e que passou nuíram, mas o risco continua.
Ima investigou o impacto de a fazer parte de sua vida. Em — Estou confiante de que
mudanças do uso do solo na 2005, se tornou a primeira vamos segurar o desmatamen-
região Bragantina, no Nor- mulher a dirigir o museu. Per- to. Mas também é preciso
deste do Pará, onde a floresta maneceu no cargo até 2009 e combater a degradação. Ela é a
começou a dar lugar a pastos, hoje é professora dos progra- doença da floresta, e a Amazô-
nia doente não cumpre todo o
de dois séculos. ências Ambientais e de Botâ- seu papel —enfatiza.
De volta à Amazônia, en- nica, no Pará, no próprio mu- Aos 62 anos, a aposentado-
gravidou do primeiro de seus seu, na Embrapa, na Univer- ria não está entre os planos.
dois filhos, o que não a impos- sidade Federal Rural do Pará. — Não tenho coragem de
Encontrou tempo para ser me aposentar. Quero conti-
nuar em campo. Há tanto a
afirma ela, nunca a impediu zônia a convite do Papa Fran- descobrir, a fazer e a lutar. É
preciso produzir mais ciência
tou também ao Emílio Goel- sora da presidência da Finep, na Amazônia, reduzir a ini-
di, instituição da qual é pes- além de membro da Acade- quidade. Eu sigo em frente.
animais e do vento para dis-
persar suas sementes.
É um processo complexo e
muito longe de ser bem co-
nhecido. Apenas cerca de
5.000 das 16 mil espécies de
árvores amazônicas foram
panha e desaparece.
Estima-se que a velocidade
média de migração de diver-
mite e qualquer alteração su-
til pode ter grandes efeitos.
—As espécies estão adapta-
chamam de “análogo climáti-
co”, lugar onde as espécies
possam se refugiar. A área
objeto de algum tipo de estu-
do. Se sabe que algumas espé-
cies se deslocam 25 metros/
sos grupos de plantas seja de 2 das a nichos específicos. E es- mais vulnerável, segundo o ano em direção aos Andes. Já a
km/ano. Mas na Amazônia, ses nichos dependem de cli- estudo, é o Centro-Leste. velocidade do clima é medida
mostrou o estudo, as espécies mas igualmente bem deter- —Muitas áreas vão entrar em quilômetros por ano.
necessitariam migrar a uma minados. Tudo isso está em num clima desconhecido e as O cenário não parece alen-
taxa de 7,6 km/ano até 2050 transformação —diz Ima. espécies não mudam tão de- tador. Mas Ima diz que adap-
para acompanhar a velocida- A Amazônia já registra um pressa assim —diz ela. tações são possíveis e que a
de das mudanças no clima. aumento de temperatura mé- Uma possibilidade de adap- natureza nunca deixa de sur-
Os cientistas verificaram dia superior ao global e o futu- tação seria criar corredores preender positivamente.
que, dada a taxa de transfor- ro não parece melhor. Segun- entre unidades de conserva- —A natureza nos dá opor-
mação atual, muitos dos mi- do Ima, 33,5% das unidades ção e terras indígenas, cami- tunidades. Precisamos cola-
croclimas tendem a desapa- de conservação tendem a so- nhos contínuos para a disper- borar com ela, se quisermos
recer. Na Amazônia, as plan- frer transformação profunda são. Mas árvores e plantas não nós mesmos sobreviver —
tas e os animais vivem no li- e não há o que os cientistas se locomovem, precisam de destaca a cientista.
OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023 | 3

A nossa energia rumo a um futuro mais sustentável.

A Eletrobrasilidade é a força que nos move em direção

a um mundo melhor. E, no que depender da gente,
esse mundo já está aqui. A Eletrobras tem 97% de sua
matriz elétrica composta de energia renovável e o
compromisso com a transição energética para zerar
suas emissões de carbono até 2030.

Saiba mais em eletrobras.com

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4 |
JORNADA
DE RISCOS
E DEVOÇÃO
À FLORESTA
Agentes ambientais contam suas rotinas
e experiências para proteger a natureza;
dados mostram retomada das fiscalizações
ANDRÉ BORGES
Especial para O GLOBO
brasil@oglobo.com.br
BRASÍLIA
-
A agente ambiental Graci-
cleide dos Santos Braga
cumpria uma missão nas
águas do Parque Nacional
do Cabo Orange, no Oiapo-
que, em Roraima, quando
infratores ambientais dis-
pararam tiros contra ela e
sua equipe. Escapou por
pouco. No Maranhão, o ana-
lista ambiental Roberto Ca-
bral descia de um helicópte-
ro sobre a terra indígena
Araribóia, no município de
Arame, quando foi alvejado
no braço por um tiro de es-
pingarda de madeireiros
que saqueavam a floresta.
Os episódios vividos pelos
fiscais do Ibama e do Insti-
tuto Chico Mendes de Bio-
diversidade (ICMBio) ilus-
tram uma rotina de riscos,
exaustão e, muitas vezes,
precariedade que costuma
marcar o cotidiano de quem
faz da proteção ambiental o
seu propósito na vida.
Neste 17 de julho, quando
é comemorado o Dia do Pro-
tetor de Florestas, agentes
do meio ambiente de todo o
país vivem um misto de alí-
vio e expectativa. Depois de
quatro anos de esvaziamen-
to promovido pela gestão de
Jair Bolsonaro, um período
marcado pela letargia ope-
racional dos órgãos federais
e a perseguição ferrenha aos
servidores, o momento é
visto como de retomada.
—Sobrevivemos, mesmo
com todas as dificuldades
enfrentadas. O momento é
de reorganização e de valo-
rização do agente ambien-
tal. As pessoas são o princi-
pal ativo na defesa do inte-
resse público —diz Jair Sch-
mitt, diretor de proteção
ambiental do Ibama, que es-
tá no órgão desde 2002.
O dia a dia não é fácil. Com
menos da metade do quadro
funcional que tinha uma dé-
cada atrás, o Ibama cuida de
todo o território nacional
com apenas 2.920 servido-
res, incluindo funções ad-
ministrativas. Em campo,
efetivamente, são menos de
700 funcionários. Do total
do quadro, um terço são mu-
lheres. Entre elas, está Gra-
cicleide dos Santos Braga.
Agente ambiental desde
2005, Gracicleide está base-
ada em Macapá. Já passou
por várias unidades estadu-
ais e recebeu convite para
trabalhar em Brasília, mas
achou importante ficar na
Amazônia, onde vive com
três filhos. Mais do que lidar
com o crime organizado que
saqueia a floresta, ela enca-
ra o desafio de ser a minoria
em uma profissão marcada
pela presença masculina.
—A gente sabe que o uni-
verso da fiscalização é mas-
culino. Então, é um desafio
diário, mas fico feliz por ter
encontrado um ambiente
de acolhimento aqui — diz.
Hoje, as quatro divisões
Segunda-feira 17.7.2023 | OGLOBO
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
Desafio
dobrado.
A agente
Gracicleide
Santos Braga:
‘A gente sabe
que o universo
da fiscalização
é masculino.
Então, é um
desafio diário,
mas fico feliz
por ter
encontrado
acolhimento
aqui’
técnicas da superintendên-
cia do Ibama no Amapá são
comandadas por mulheres.
Paraense, nascida na Ilha
de Marajó, Gracicleide diz
que a profissão impõe cus-
tos pessoais.
—A mulher tem uma situ-
ação diferente nesta profis-
são. A maioria vive sozinha, DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA
porque o cargo exige muito
deslocamento e dedicação. Dados do primeiro semestre de 2023 mostram resultados
Os homens, de maneira ge- da retomada nas fiscalizações ambientais
ral, não sabem lidar com is- 3.988
so. Acham que apenas as 4.000
Volume registrado 1º semestre de cada ano.
mulheres devem se adaptar 3.605
Área desmatada no período (em km2)
às suas rotinas, não há com- 3.500
preensão —diz ela. — Acon- 3.081
tece que a minha vida toda 3.000
sempre foi trabalhar pela 2.649
2.443 2.446
proteção ambiental. Segui- 2.500
2.213
rei assim.
Essa entrega constante ao 2.000
ofício já colocou o analista
ambiental Roberto Cabral 1.500 1.332
em situações inesperadas.
1.000
Ele procurava uma casa para
comprar em Brasília, onde
500
vive, quando visitou uma
propriedade e viu que a do- 0
na tinha um pássaro em si- 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023
tuação irregular.
— Era um papagaio, não
estava legalizado. Não podia
me omitir. Não comprei a
casa, multei a dona e recolhi
o pássaro —conta.
Em outro imóvel, Cabral
se deparou com dois jabutis
no quintal da casa. Pergun- RESULTADOS Quantidade Valor total Quantidade Quantidade Número de
tou sobre os animais: DE AÇÕES DO de multas das multas de embargos de destruição apreensão
—A dona ironizou e disse IBAMA NO 1º e área total de máquinas de máquinas
que eu só não podia contar SEMESTRE
para o Ibama. Mostrei que DE 2023 3.341 R$ 2,3 2.086 297 1.283
eu era servidor, multei e autuações termos, com 206 casos termos
apreendi os animais. O cor- bilhões mil hectares de
área embargada
retor de imóveis serviu co-
mo testemunha. Vejo que a
fiscalização é necessária pa-
ra conter o crime ambien-
tal, mas é a educação que po-
derá vencer o crime. A gente
precisa mudar como a soci-
edade vê a natureza.
Crescimento sobre
a média do 1º
AUMENTO DA FISCALIZAÇÃO semestre dos
No cenário nacional, os re- últimos 4 anos
sultados da fiscalização
mais efetiva começam a 166% 167% 111% 260% 115%
aparecer. No primeiro se- Fonte: Ministério do Meio Ambiente, Ibama
mestre deste ano, 2.086
propriedades rurais na
Amazônia tiveram parte de
suas áreas embargadas, de-
vido a desmatamento ilegal
—aumento de 111% sobre a
média do mesmo intervalo
dos últimos quatro anos.
—Temos atuado de forma
mais intensiva e continua-
remos assim. Há um plane-
jamento em curso e vamos
persegui-lo —diz André Li-
ma, secretário extraordiná-
rio de Controle de Desmata-
mento e Ordenamento Am-
biental Territorial do Minis-
tério do Meio Ambiente.
É esse trabalho vigilante o
que estimula agentes como
Gracicleide, que já come-
çou a construir a próxima
geração de fiscais ambien-
tais. Seu filho Jorge, de 17
anos, disse que pretende se-
guir a trilha da mãe.
— Ele quer entrar nesse
universo da carreira ambi-
ental. Fico feliz, sei que ele
tem orgulho do que faço —
conta a agente. Em campo. Gracicleide em ação do Ibama no Amapá Dedicação. Roberto Cabral: ‘Precisamos mudar como a sociedade vê a natureza’
 OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023
Preparação. Agentes na Terra Tenharim Marmelos, no Amazonas: povos originários são maioria entre brigadistas temporários
QUEM MAIS DESMATA ILEGALMENTE
NA AMAZÔNIA LEGAL
Resultado verificado
no primeiro semes-
tre de 2023
Roraima
122
Amazonas
553
Acre
38 Rondônia
253
FISCALIZAÇÃO NA TERRA
INDÍGENA YANOMAMI ENTRE
JANEIRO E JUNHO DE 2023
82% 335
de redução dos acampamentos
alertas de desmata- desmobilizados
mento para mineração
Apreensões de material ligado ao deflorestamento
25 28 mil 36 mil
aeronaves litros de toneladas de
combustível cassiterita
INTELIGÊNCIA A SERVIÇO DA PROTEÇÃO
Ministério do Meio Ambiente trabalha para integrar diferentes base de dados e agilizar monitoramento de práticas ilegais no país
A realização de operações
constantes dentro da
floresta, no combate a ma-
deireiros, garimpeiros e gri-
leiros de terras, além do
avanço ilegal do gado e da
soja, continua a ser crucial
para coibir as práticas proi-
bidas. Mas é fora da mata
que muitos agentes ambi-
entais têm atuado no moni-
toramento constante dessas
ações —sem o qual o traba-
lho de fiscalização se torna-
ria impossível.
A prioridade do Ministé-
rio do Meio Ambiente, hoje,
é integrar uma série de ba-
ses de dados já disponíveis,
mas que, seja por falta de in-
teresse político ou estraté-
Amapá
6 Tqueodos os anos, durante os
Pará
744
Mato Grosso
905
GO
MS
PR
SC
RS
248 33
motores equipamentos
de comunicação
por satélite
gico, não foram consolida-
das pela gestão passada.
Secretário extraordinário
de Controle de Desmata-
mento e Ordenamento Am-
biental Territorial do Minis-
tério do Meio Ambiente,
André Lima conta que o tra-
balho está em fase de estru-
turação para automatizar
aquilo que, hoje, é feito “na
unha” pelos servidores.
Bases de informação co-
mo o Cadastro Ambiental
Rural (CAR) começaram a
ser integradas aos dados
georreferenciados das uni-
dades de conservação am-
biental e terras indígenas.
A esse cruzamento, serão
somados os alertas de des-
Área devastada
no período
(em km2)
Maranhão
25
PI
Tocantins
2 formam hoje, em todo o
BA
DF
MG
SP RJ
92 32
geradores balsas
de energia
matamento e de incêndios,
além de informações do
Sistema Nacional de Con-
trole da Origem dos Produ-
tos Florestais (Sinaflor),
que integra o controle da
origem da madeira.
O que se pretende, no fim
do dia, é ter uma fotografia
detalhada do que vem acon-
tecendo em campo, mos-
trando os principais indica-
tivos de irregularidades que
ocorrem dentro da floresta.
—Estamos concentrados
nesse esforço tecnológico
no momento, e os resulta-
dos já começaram a surgir
—diz André Lima.
Entre janeiro e junho des-
te ano, o Ibama emitiu
Combate ao fogo. Indígenas ajudam na contenção de queimada no Amazonas
INDÍGENAS NA LUTA
CONTRA QUEIMADAS
Povos originários formam hoje a maior efetivo
de brigadistas temporários do Ibama no país
seis meses mais secos
marcam a “temporada
do fogo” na Amazônia, in-
dígenas de centenas de al-
deias, protetores históri-
cos de suas terras, assu-
CE RN
mem uma função vital em
PB
tempos de queimadas cri-
minosas: eles se tornam
brigadistas contra os in-
PE
cêndios. Não se trata ape-
nas de uma participação
SE
AL
coadjuvante. Os indígenas
Brasil, o maior contingen-
te de brigadistas temporá-
rios do Ibama.
Em 2023, o Ibama au-
mentou em 17% o número
de brigadistas, na compa-
ração com o efetivo contra-
tado no ano passado: são
ES 2.101 agentes temporários
em diversas partes do país.
Desse total, mais da meta-
de (52%) são indígenas.
Na terra Tenharim Mar-
melos, no Sul do Amazo-
nas, entre os municípios de
Humaitá e Manicoré, já é
tradição a contratação de
uma equipe de brigadistas
indígenas para atuar no
combate ao fogo. Uma base
do Centro Nacional de Pre-
venção e Combate aos In-
30 3 cêndios Florestais (Prevfo-
barcos tratores go), divisão do Ibama, está
localizada dentro da reser-
EDITORIA DE ARTE va demarcada, onde os
2.086 termos de embargos
de área contra propriedades
rurais na Amazônia, devido
“A figura do a evidências de desmata-
protetor mento ilegal —um aumen-
ambiental se to de 111% em relação à mé-
confunde com dia desse mesmo período
a de todo nos últimos quatro anos. Ao
servidor que todo, 206 mil hectares de
atua na área foram bloqueados, tor-
proteção. nando-se proibida qualquer
Todo servidor atividade produtiva nesses
que trabalha terrenos. Se isso ocorrer, o
pela proteção proprietário rural é autuado
ambiental novamente.
tem essa Todo trabalho foi feito por
missão” agentes de forma remota,
_ sem a necessidade de se des-
Jair Schmitt, locar a todas as áreas. Como
analista do boa parte dos cadastros ru-
Ibama rais trazem informações de
| 5
agentes temporários são
treinados, agrupados e des-
locados para os pontos de
queimada.
Com a contratação dos in-
dígenas, os órgãos federais
oferecem uma fonte de ren-
da extra aos agentes tempo-
rários e, em contrapartida,
passam a contar com o co-
nhecimento das regiões e as
habilidades dos povos origi-
nários da floresta para pro-
tegê-las das queimadas.
POVOS ISOLADOS
A parceria dos agentes am-
bientais com os indígenas
também é prática intensa
quando se trata da fiscali-
zação de povos mais isola-
dos, como acontece nos
trabalhos realizados na re-
gião do Vale do Javari, no
Amazonas.
Expedições de monito-
ramento e fiscalização da
área realizadas por agen-
tes ambientais e fiscais da
Fundação Nacional do Ín-
dio (Funai) costumam ser
feitas com o apoio funda-
mental de uma equipe for-
mada pelos próprios indí-
genas. Era o que fazia, por
exemplo, o indigenista
Bruno Pereira, que foi as-
sassinado no Vale do Java-
ri, ao lado do jornalista in-
glês Dom Phillips, em ju-
nho do ano passado.
contato de seus proprietári-
os, estes foram notificados
sobre os embargos por meio
eletrônico. Quando isso não
é possível, o Ibama envia
cartas pelos Correios e faz
publicação do polígono blo-
queado no Diário Oficial da
União.
— A realidade é que a fi-
gura do protetor ambien-
tal acaba se confundindo
com a de todo servidor pú-
blico que atua na proteção
do meio ambiente. Todo
servidor que, em seu ofí-
cio, trabalha pela proteção
ambiental, tem essa mis-
são — diz Jair Schmitt,
analista ambiental do Iba-
ma. — Cada uma dessas
pessoas, em sua posição de
trabalho, tem valor inesti-
mável para a sociedade,
porque atua na posição de
garantir a qualidade de vi-
da do planeta, seja para
agora ou para o futuro.
6 |
ENTREVISTA
Almir Suruí/ LÍDER INDÍGENA
Ativista que cresceu em meio a conflitos descreve
como seu povo utiliza ferramentas digitais para
flagrar queimadas e prega diálogo contra violência
WILLIAM HELAL FILHO william@oglobo.com.br
‘TECNOLOGIA
VIROU ALIADA
NA DEFESA DO
TERRITÓRIO’
A lmir Narayamoga Suruí
nasceu em 1974, cinco
anos após o contato inicial
do seu povo, os Suruí Paiter,
com o homem branco. Ele
viu centenas de parentes
morrerem em conflitos mo-
tivados por invasões de seu
território ou devido a epide-
mias de sarampo, malária e
outras doenças trazidas pe-
los “colonizadores” à região,
na fronteira entre entre
Rondônia e Mato Grosso.
Crescendo em meio a tanta
dor, Almir aprendeu a usar
as ferramentas da própria
sociedade ocidental para
combater as agressões.
Graças a uma parceria es-
tabelecida pelo líder indíge-
na com o Google, os Suruí
usam smartphones, drones,
GPS, imagens de satélite e
softwares de dados abertos
para identificar e denunciar
o desmatamento ilegal do
Território Sete de Setem-
bro, ameaçado pela ação de
madeireiras, garimpeiros e
grileiros de terra. Além dis-
so, os membros da etnia se
valem das redes sociais para
expor seus agressores e mo-
bilizar a opinião pública ao
redor de sua causa.
Nesta entrevista, Naraya-
moga, que é pai da ativista
Txai Suruí, de 24 anos, con-
ta como seu povo se estrutu-
ra para preservar não ape-
nas a sua cultura, mas tam-
bém o Planeta Azul.
É POSSÍVEL LUCRAR MAIS COM A MATA DE PÉ
Iniciativas buscam formas de preservar sem deixar de lado necessidades da população e demandas dos povos indígenas
REJANE AGUIAR
Especial para o VALOR
brasil@oglobo.com.br
SÃO PAULO
-
N ão é trabalho fácil calcular
o valor de uma floresta,
ainda mais quando se trata da
amazônica. Há uma conjun-
ção de fatores econômicos,
sociais e fundiários que inter-
ferem nessa área gigantesca,
numa dinâmica tão complexa
quanto o próprio ecossistema
da Amazônia. Segundo esti-
mativa do Banco Mundial, o
valor da floresta de pé é de
US$ 317 bilhões por ano, mui-
to mais do que renderia a mes-
ma área desmatada para ex-
ploração privada —para agri-
cultura e outras atividades
econômicas —, projetada em
US$ 46 bilhões. O estudo
considerou a Amazônia Legal
(estados do Norte do país
mais o Mato Grosso e a por-
ção oeste do Maranhão).
O desafio é encontrar ma-
neiras de incentivar finan-
ceiramente práticas que aju-
dem a manter a floresta de pé
sem desconsiderar as neces-
sidades das populações da re-
gião e as demandas dos povos
indígenas. Ao mesmo tempo,
desenvolver mecanismos
que desincentivem o desma-
tamento, limitando a expan-
Como era a vida na sua aldeia
durante sua infância,após o
contato inicial dos Suruí com
o homem branco?
Cresci vendo os conflitos se
agravarem. Nossa área chegou
a ser ocupada por mais de mil
famílias de colonos. Aprendi
com meu pai e meus tios a lu-
tar para proteger o que tinha
sobrado do nosso povo. Mui-
tas centenas de nós morreram
nessa época, por causa das epi-
demias e dos conflitos. Nosso
povo é dividido em quatro clãs,
e todos perderam seus líderes.
Eu tinha 17 anos quando fui es-
colhido como líder do meu
clã, o Gameb (significa marim- “Achava que haveria
bondo preto). conflitos demais e
Que ideia você fazia da que eu iria viver pra
relação com o homem branco sempre em guerra.
e que ideia você tem agora? Mas, hoje, vejo como
Achava que haveria confli- é importante o diálogo
tos demais e que eu iria viver
pra sempre em guerra. Mas, para evitar a violência”.
hoje, vejo como é importante
o diálogo para evitar a violên-
cia, que não nos leva a lugar
nenhum. Precisamos nos reu-
nir e pensar em soluções para
os desafios que o mundo está
enfrentando. Cada um tem a
sua responsabilidade. Eu co-
nheço a floresta e entendo que
minha missão é dizer para a
Humanidade se desenvolver
com respeito ao meio ambien-
te, para não faltar água, para
não faltar vida. Me sinto res-
ponsável por pregar esse res-
peito à floresta.
são de propriedades para a
pecuária e a monocultura, a
compra de terras para espe-
culação, a grilagem e o uso ir-
regular de áreas públicas ou
legalmente protegidas.
O valor monetário da Ama-
zônia está relacionado a vários
aspectos. O Banco Mundial
projeta que apenas em arma-
zenamento de carbono a flo-
resta corresponda a US$ 210
bilhões por ano. Além disso, a
Amazônia oferece os chama-
dos serviços ecossistêmicos,
que consistem, por exemplo,
em seu papel central para o re-
gime de chuvas no continente
epara a proteção contra erosão
do solo e incêndios.
A venda de créditos de car-
bono é uma das possibilida-
des financeiras para se de-
sincentivar a derrubada da
floresta. A emissão desses
créditos está relacionada a
desmatamentos evitáveis
— ou seja, área que por lei
poderia ser aberta, mas que
o proprietário decidiu pre-
servá-la. Mas, para isso, é
preciso incentivo, como a
possibilidade de venda de
créditos de carbono.
—O problema é o preço da
terra. Alguém compra um
hectare na Amazônia por US$
100 (cerca de R$ 480), desma-
Você se orgulha de ver a sua
filha, Txai Suruí, se tornando
uma voz de alcance global em
defesa do meio ambiente?
Estamos todos lutando pa-
ra transformar nosso estado
e nosso país em exemplos de
economia que respeita a di-
versidade. Isso eu e minha
mulher passamos para to-
dos os nossos oito filhos e te-
nho orgulho deles. Fico feliz
de ver a Txai ganhando voz.
É preciso potencializar a
força dos jovens para que
Preservar é preciso. Imagem aérea do Rio Jurura, em Carauari, no coração da floresta amazônica
ta e vende a área por US$ 500
(R$ 2.400) para plantio de
monoculturas. Se essa área ge-
rar créditos de carbono, pode
valer US$ 1.000 (R$ 4.800)
por hectare, o que tira o incen-
tivo ao desmatamento — diz
Luís Adaime, CEO da climate-
ch (startup para soluções rela-
cionadas ao clima) Moss. —É
preciso aumentar o potencial
de remuneração da floresta de
pé, e os créditos de carbono
podem fazer isso.
A questão é que a emissão
de créditos, dependente de
projetos de alto custo pagos
em dólar, não está acessível
Segunda-feira 17.7.2023 | OGLOBO
GUSTAVO MIRANDA
Almir Suruí.
Parceria com
Google para
combater
destruição
eles sejam donos de seu des- Setembro e como vocês usam receber pessoas de fora da re-
tino. A luta pela floresta não a tecnologia para defender a serva que queiram conhecer a
acaba nunca. reserva? forma como vivemos em co-
As ameaças são arrenda- munhão com a floresta. As-
Tivemos quatro anos de um mento ilegal da terra, garim- sim, preservamos nossa cultu-
governo que não dialogava po e retirada criminosa de ra, que é fundamental para
com os povos indígenas. madeira. Há muito desmata- nossa existência, e podemos
Como foi esse período? mento. Usamos drones, GPS, conscientizar os turistas sobre
Foi terrível. Tivemos que imagens de satélite e outras a importância de se conservar
recorrer à Justiça para obrigar ferramentas para vigiar terri- o meio ambiente. Temos uma
o governo a respeitar nossos tório em tempo real, com área de reflorestamento na al-
direitos. Em 2021, eu e o Ca- softwares adequados para es- deia onde já plantamos mais
cique Raoni, líder dos Caia- se monitoramento. A tecno- de 1 milhão de mudas de árvo-
pó, fomos ao Tribunal Penal logia virou aliada, mas a gen- res nativas da região.
Internacional denunciar o te precisa de mais apoio para
então presidente, Jair Bolso- obter equipamentos avança- É uma causa que vale a pena?
naro, por crimes contra a Hu- dos e condições para defen- A floresta é a nossa razão
manidade. Também busca- der o território. de viver. Mas defender a
mos apoio do Ministério Pú- Amazônia nos coloca em
blico para combater as in- O que os Suruí podem ensinar grande risco, estamos sem-
vasões, que aumentaram à sociedade ocidental sobre pre sob ameaça de morte,
muito. E foi importante a uni- um desenvolvimento mais tentando desfazer o precon-
ão de todos os povos indíge- equilibrado? ceito contra os povos indí-
nas do país nesse período, pa- Aqui na aldeia, plantamos genas. Mas sobrevivemos
ra frear o desmatamento. cacau, café, banana, casta- até aqui e vamos continuar
nha... Muitos de nós estão en- dando nosso depoimento de
Quais as principais ameaças volvidos com iniciativas de tu- que é necessário o respeito
no Território Sete de rismo, criando projetos para com as futuras gerações.
do Forest Stewardship
Council (FSC), ONG inter-
nacional que atua na pro-
moção do manejo florestal
sustentável.
Para ajudar a população
FLORENCE GOISNARD/AFP/15-3-2020
que depende dos ganhos que
a floresta oferece e pequenos
empreendedores, o FSC
apoia iniciativas como as do
Instituto de Conservação e
Desenvolvimento Sustentá-
vel da Amazônia (Idesam)
relacionadas à produção de
óleos essenciais amazônicos
e objetos de madeira. A certi-
ficação envolve uma área de
produção de 44 mil hectares.
— Se não se dá valor aos
benefícios ecossistêmicos
da floresta, fica aberto o es-
paço para outros usos —
acrescenta Vilela.
São muitos os projetos
que visam sustentar a flores-
ta de pé. Mas, na opinião do
diretor-executivo do Clima-
para todos na Amazônia. A que pretende financiar a te Policy Initiative (CPI),
elaboração desses projetos, transição para uma agricul- Juliano Assunção, eles po-
que envolvem auditorias e tura sustentável na Amazô- dem não ser suficientes pa-
registros diversos, pode al- nia e no Cerrado por meio de ra garantir a redução neces-
cançar US$ 1 milhão (cerca linha de crédito e assessoria sária do desmatamento sem
de R$ 4,8 milhões). técnica para o processo. políticas públicas que com-
—Todos os anos abrimos batam, por exemplo, a grila-
INVESTIMENTOS edital para ideias para novos gem de terras.
Algumas alternativas são de- instrumentos financeiros —Os problemas fundiári-
senvolvidas com a ajuda do relacionados a essa transi- os deterioram o ambiente
Global Innovation Lab for ção —diz Phillipe Käfer, ge- institucional e acabam afu-
Climate Finance, acelerado- rente do Lab no Brasil. gentando investidores. As
ra de mecanismos financei- — A necessidade de se iniciativas para acabar com
ros destinados a atrair inves- manter a floresta em pé não o desmatamento na Amazô-
timentos privados para a significa que ela não possa nia devem estar no nível da
transição climática. Um ser manejada para fins eco- jurisdição como um todo, e
exemplo é o Vox Vert Land nômicos —defende Danie- não dos projetos isolada-
Use Transition fund, fundo la Vilela, diretora-executiva mente —avalia Assunção.
OGLOBO | Segunda-feira 17 .7 .2023 | 7
8 |
Ópera. Montagem
de ‘O guarani’ no
Teatro Municipal de
São Paulo, em maio:
concepção do
jornalista e escritor
Ailton Krenak
RUAN DE SOUSA GABRIEL
rsgabriel@edglobo.com.br
SÃO PAULO
-
N a noite anterior ao in-
cêndio que o matou, no
início do mês, o dramaturgo
José Celso Martinez Corrêa,
do Teatro Oficina, trabalha-
va no projeto que descreveu
como o mais importante de
sua existência: uma adapta-
ção de “A queda do céu”, do
xamã ianomâmi Davi Kope-
nawa e do antropólogo Bru-
ce Albert. Misto de autobio-
grafia, descrição dos impac-
tos da invasão do “povo da
mercadoria” e cosmogonias
ianomâmis, o livro só cres-
ceu em influência desde sua
publicação, em 2010.
Parceiro do dramaturgo
no projeto, Roderick Hime-
ros conta que Zé Celso fazia
questão de que a peça fosse
protagonizada por indíge-
nas. Brancos só interpreta-
riam garimpeiros, missio-
nários e funcionários da Fu-
nai, conta Himeros.
—Desde a Tropicália, Zé
Celso buscava descolonizar
os corpos e a cultura. Essa
busca desembocou na cul-
tura indígena —afirma.
A aproximação de Zé Cel-
so do pensamento indígena
não só comprova que, até o
fim da vida, o diretor soube
identificar de onde sopra-
vam os ventos de renovação
da arte brasileira. Também é
indício do crescente diálogo
entre as artes e as culturas
dos povos originários. Do
teatro às artes plásticas, do
audiovisual à literatura.
A adaptação de “A queda
do céu” ainda não tem data
de estreia. De todo modo,
não será a primeira ocupa-
ção indígena de um dos es-
paços cênicos mais tradicio-
nais de São Paulo. Em maio,
o Theatro Municipal apre-
sentou uma versão da ópera
“O guarani”, de Carlos Go-
mes, idealizada pelo pensa-
dor Ailton Krenak. Os pro-
tagonistas, o guarani Peri e
branca Ceci, foram inter-
pretados pelos atores indí-
genas Davi Vera Popygua Ju
e Zahy Tentehar (os tenores
Atalla Ayan e Enrique Bravo
e as sopranos Nadine Kout-
cher e Débora Faustino fica-
ram responsáveis pela can-
toria). Um coro guarani
também subiu ao palco.
Para Zahy Tentehar, o mé-
rito da nova encenação de
“O guarani” foi não tratar os
OLHARES INDÍGENAS
PARA DESCOLONIZAR
PRODUÇÃO CULTURAL
Artistas de povos originários ampliam espaço em galerias, cinema,
teatro e literatura: ‘Hoje, o nosso arco e flecha é a caneta’, diz atriz
Nas galerias. Ibã Huni Kuin, Maná Huni Kuin, do coletivo MAHKU: artistas indígenas ampliam espaço em exposições, assim como em outras artes
indígenas como meros figu-
rantes e incluí-los nos pro-
cessos criativos.
Saudada por Zé Celso co-
mo a “nova Cacilda Becker”,
Zahy também é artista plás-
tica e interpretou a vilã Dé-
bora na segunda temporada
da série “Cidade invisível”,
da Netflix. Inspirada no fol-
clore nacional, a série foi
inicialmente criticada pela
falta de representatividade
indígena, mas acertou o
passo na segunda tempora-
da (a cineasta Graciela Gua-
rani dirigiu alguns episódi-
os). Zahy também aparece-
rá na série “Americana”, do
Starplus, prepara o monólo-
go teatral “Azira’i” e, com
Felipe Bragança, vai dirigir
uma nova versão do “Macu-
naíma”, clássico modernista
de Mário de Andrade inspi-
rado em culturas indígenas.
Ela explica que o trabalho
do atriz indígena é de cons-
tante “negociação”.
—Não queremos só cum-
Maloca do Japó. Obra de Carmézia Emiliano, que estará na SP-Arte
prir a cota da diversidade.
Meu coração só vai se acal-
mar quando puder interpre-
tar uma personagem que
não seja definida apenas co-
mo indígena —diz.
A representação indígena
no audiovisual tem, de fato,
aumentado e se distanciado
EDUARDO ORTEGA
dos estereótipos do passado
(“bom selvagem”, excessi-
vamente sexualizado ou
simplório). Em maio, “A flor
do buriti”, filme de João Sa-
laviza e Renée Nader Mes-
sora em parceria com o povo
krahô, foi premiado em
Cannes. No ano que vem,
Segunda-feira 17.7.2023
EDUARDO ORTEGA
chega aos cinemas “O casa-
mento”, de Maíra Bühle, so-
bre Diacuí, primeira indíge-
na a se casar com branco no
Brasil. A safra de documen-
tários também deve aumen-
tar, com “Mundurukânia”,
de Aldira Akay, Beka Mun-
duruku e Rilcélia Akay, so-
bre a luta dos munduruku, e
“O contato”, de Vicente Fer-
raz, que retrata três famílias
de povos originários.
NOVAS CORES E LETRAS
Artistas indígenas também
vêm conquistando espaço
em museus e galerias. Entre
as 120 atrações da 35ª Bienal
Internacional de Arte de São
Paulo, que começa em se-
tembro, há 17 indígenas. A
SP-Arte: Rotas Brasileiras,
que acontece entre 30 de
agosto e 3 de setembro, tam-
bém na capital paulista, vai
expor artistas indígenas co-
mo Carmézia Emiliano, Du-
higó e o coletivo MAHKU. A
22ª Bienal Sesc_Videobrasil
| OGLOBO
MARIA ISABEL OLIVEIRA/4-5-2023
já confirmou nomes como
Antonio Pichillá Quiacaín e
Seba Calfuqueo. O Masp tem
dedicado o ano a “Histórias
indígenas”, título de uma
mostra marcada para outu-
bro. A instituição tem três cu-
radores indígenas: Edson
Kayapó, a Kássia Borges Ka-
rajá e a Renata Tupinambá.
— A arte indígena trouxe
frescor às instituições, novas
linguagens estéticas e ma-
neiras diferentes de enxergar
o outro. Nós, indígenas, nun-
ca nos esquecemos do outro
—diz Kássia, que acrescenta
que, diferentemente dos oci-
dentais, os povos originários
não separaram a vida da arte,
que, por sua vez, é tratada co-
mo um instrumento de cura.
A escritora Rita Carrelli
percebeu isso desde cedo. Fi-
lha de antropólogos, ela cres-
ceu em aldeias e se encantou
com os rituais que organi-
zam a vida comunitária, co-
mo a reclusão das meninas
da primeira menstruação até
o Kuarup, festa dos mortos
observada no Alto Xingu. Or-
ganizadora dos livros de Ail-
ton Krenak, Rita venceu o
Prêmio São Paulo de Litera-
tura de 2022 com o romance
“Terrapreta” (Editora 34),
que narra a imersão da ado-
lescente Ana numa aldeia do
Xingu após a morte da mãe.
“Terrapreta” faz parte de
uma fornada de ficções re-
centes inspiradas nas cultu-
ras indígenas, como “A repe-
tição”, de Pedro Cesarino e
“O som do rugido da onça”,
de Micheliny Verunschk. O
diálogo com os povos nativos
também orienta a edição da
revista literária “Granta” que
será lançada esta semana.
Rita Carello lembra que a
aprovação da Lei nº 11.645,
que tornou obrigatório o en-
sino das história indígena e
afro-brasileira nas escolas
contribuiu para a publicação
de livros que dialogam com
as culturas originárias. Mas
há outras razões:
—A pressão do colapso cli-
mático e o esgotamento do
pensamento ocidental tem
levado à descoberta de outras
epistemologias, que conce-
bem a vida de outra forma —
diz ela, que relaciona o au-
mento da representação à as-
censão das lutas dos povos
originários por direitos.
Zahy Tentehar concorda. E
acrescenta:
—Hoje o nosso arco e fle-
cha é a caneta.