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CAPÍTULO

O BRASIL DE HOJE E O
DEBATE COM A ÉTICA
Competências

c C5 e C6

Habilidades

c H33, H35, H36 e H40

SS
RE
HAP
/F OL
TO
PHO
SS
RE
XP
/FO
GA
FA
IS
CR
O GOVERNO TEMER E A ELEIÇÃO DE BOLSONARO
Com o impeachment de Dilma Rousseff, o vice Michel Temer assumiu a presidência da República.
Mesmo fazendo parte da chapa vencedora na eleição de 2014, foi apoiador político do processo que
retirou o cargo da presidente eleita por maioria de votos. Assumiu o governo com apoio da maioria
do Congresso Nacional e prometeu realizar reformas que permitissem a retomada do crescimento
econômico; para isso, lançou o programa Uma Ponte para o Futuro. O documento, publicado no
dia 29 de outubro de 2015, afirmava a busca por “preservar a economia brasileira e tornar viável o seu
desenvolvimento, devolvendo ao Estado a capacidade de executar políticas sociais que combatam
efetivamente a pobreza e criem oportunidades para todos” (p. 2). Nesse sentido, partia da concepção
de que o Estado deveria “ser funcional” e distribuir “os incentivos corretos para a iniciativa privada e
administrar de modo racional e equilibrado os conflitos distributivos que proliferam no interior de
qualquer sociedade” (p. 4).
A primeira medida tomada foi reduzir o número de ministérios, de 32 para 25. Alguns foram
extintos, outros fundidos. Outros tiveram sua capacidade diminuída, caso do Ministério da Cultura.
Transformado em uma secretaria do Ministério da Educação, voltou a ser ministério somente após a
pressão de artistas e da opinião pública. O primeiro ano do governo Temer também ficou marcado
pelo afastamento de seis ministros denunciados por corrupção ou envolvimento em irregularidades.
No campo da economia, encontrou um clima mais favorável, com a diminuição do risco-país
junto aos investidores. Isso facilitou a obtenção de amplo apoio do setor privado e do Legislativo
para realizar as reformas. Apostando em uma política econômica centrada no equilíbrio das contas
públicas, na redução das taxas de juros e na queda da inflação, não conseguiu impulsionar o cresci-
mento econômico, mesmo diante da liberação do saque das contas inativas do Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço (FGTS). Embora tenha conseguido controlar a inflação, o alto endividamento
público e o número crescente de desempregados resultaram em uma lenta recuperação da economia.

JORGE WILLIAM/AGæNCIA O GLOBO

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


Após aprovação de reformas em abril de 2018, Michel Temer empossa novos ministros.

Com o apoio de diversos setores empresariais, do agronegócio e de parte da mídia, foi apro-
vada a Emenda Constitucional (PEC 241/2016) que congela por 20 anos as despesas do governo,
visando diminuir os gastos públicos para tentar reduzir o tamanho da dívida do governo, que vinha
aumentando e representando uma parcela cada vez maior do PIB. Isso implicou manter o mesmo
orçamento do ano anterior para gastos públicos, apenas levando em conta a correção pela inflação.
Na prática, levou a uma diminuição de investimentos em áreas fundamentais, como saúde e educação.
Temer também deu continuidade ao projeto da Reforma trabalhista (Lei n. 13 467), que
flexibiliza as relações de trabalho, por exemplo, permitindo trabalho remoto (home office), trabalho
intermitente, fracionamento das férias em até três períodos, não obrigatoriedade do salário mínimo na
remuneração por produção. Além disso, a reforma acabou com as chamadas horas in itinere – quando

A jovem democracia brasileira e o debate com a ética 59


o tempo despendido até o local de trabalho, no caso de trabalhos em locais de difícil acesso, eram
custeado pelo empregado, que deveriam considerar as horas de deslocamento como parte da jor-
nada – e promoveu o fim da obrigatoriedade da representação sindical para os trabalhadores em
negociação com as empresas. As alterações na legislação foram efetuadas com a promessa de ampliar
o número de empregos. Porém, isso não conseguiu conter o aumento do desemprego iniciado no
governo anterior; em 2018, havia 13 milhões de pessoas desempregadas, aproximadamente 12% da
População Economicamente Ativa (PEA), segundo o IBGE.
Michel Temer teve também que enfrentar o perigo da cassação, por conta do julgamento de
uma ação que acusava a chapa Dilma-Temer por abuso de poder e de receber propina, a qual foi
arquivada. Outro acontecimento importante ocorreu na noite de 17 de maio de 2017, quando áudios
da delação do empresário Joesley Batista foram vazados para a imprensa e insinuavam que Temer
havia aprovado pagamentos de propina para manter o ex-deputado Eduardo Cunha, que estava
preso, em silêncio. Apesar do abalo político e de muita pressão popular para que o presidente renun-
ciasse, Temer permaneceu no cargo até o fim do mandato, ainda que com índices de pessoas que
consideravam seu governo como ruim ou péssimo acima de 80%, segundo pesquisas do Datafolha.
Durante o período em que Temer esteve no

CRIS FAGA/ZUMA PRESS, INC./ALAMY/FOTOARENA


poder, o Brasil viveu um contexto de extrema instabi-
lidade que aprofundou o acirramento da polarização
política, inclusive por conta da maneira como chegou
ao cargo máximo do poder executivo. Em decorrên-
cia dessa polarização, observou-se o aumento da
violência contra ativistas de movimentos populares e
integrantes de grupos minoritários. O assassinato da
vereadora Marielle Franco, do Partido Socialismo e
Liberdade (PSOL), na cidade do Rio de Janeiro, em
14 de março de 2018, foi um dos mais emblemáticos
conflitos. A representante eleita democraticamente,
possuidora de um mandato em um dos maiores
centros urbanos do país, foi sumariamente executada.
A investigação aponta que a morte da deputada do
PSOL no Rio de Janeiro está ligada à atuação das
milícias da região metropolitana da capital carioca.
O caso Marielle Franco não foi o único. Houve
Manifestação no centro da cidade
de São Paulo, cobrando a solução do
um aumento significativo de ataques violentos contra lideranças indígenas e líderes campesinos,
crime de assassinato da vereadora alimentados pelo discurso de ódio assumido por diversos setores da sociedade. Foi esse o cenário
carioca Marielle Franco. de fundo para a realização das eleições presidenciais de 2018.

COMPREENDENDO CONCEITOS

Discurso de ódio
O discurso de ódio está situado num equilíbrio complexo entre direitos e princípios fundamentais, incluindo a liberdade de expressão
e a defesa da dignidade humana. De maneira geral, o discurso de ódio costuma ser definido como manifestações que atacam e incitam
ódio contra determinados grupos sociais baseadas em raça, etnia, gênero, orientação sexual, religiosa ou origem nacional. [...] Esse tipo
de discurso tem alvos bem claros: LGBTs, mulheres e pessoas negras, além de outras minorias. Navegando pela web não é difícil cruzar
com mensagens, posts ou tweets com conteúdo racista, misógino, ou mesmo que incite a violência contra determinado público. [...]
A liberdade de expressão é um direito humano fundamental garantido pela Constituição brasileira. Mas isso não significa que qualquer
pessoa possa falar qualquer coisa por aí. A liberdade de expressão termina se ela coloca em risco a liberdade de outra pessoa. É esse o caso
do discurso de ódio.
É preciso reforçar, no entanto, que nem tudo é discurso de ódio. Banalizar o termo pode fazer com que discussões relevantes e de
interesse público possam ser retiradas do ar, sem que necessariamente sejam violações de direitos.
O QUE é discurso de ódio. SaferLab. Disponível em:
http://saferlab.org.br/o-que-e-discurso-de-odio/index.html. Acesso em: 29 jun. 2020.

60 A jovem democracia brasileira e o debate com a ética


O Brasil polarizado: as eleições de 2018
O processo de eleição do novo presidente, que ganhou impulso com início da campanha elei-
toral na televisão em agosto de 2018, foi um dos mais polarizados e polêmicos da história do Brasil.
Isso porque despontavam como favoritos o ex-presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), e
Jair Messias Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), representantes de visões políticas, socioeco-
nômicas e culturais completamente antagônicas. No entanto, em 31 de agosto, o Tribunal Superior
Eleitoral indeferiu o registro da candidatura de Lula, até então líder nas pesquisas, impedindo-o de
ser o candidato pelo PT, e deu dez dias para que o partido indicasse um novo candidato.
Diante disso, Jair Bolsonaro despontou nas lideranças das pesquisas eleitorais, apresentando uma
larga vantagem sobre os outros candidatos. O seu oponente mais próximo foi Fernando Haddad,
novo candidato do PT, que compôs uma chapa com Manuela D’Ávila, do Partido Comunista do
Brasil (PCdoB). Outro candidato era Ciro Gomes do Partido Democrático Trabalhista (PDT), que atraía
votos de eleitores de centro-esquerda que rejeitavam o PT; no campo dos eleitores de centro-direita,
havia o candidato Geraldo Alckmin, pelo PSDB.

PARA AMPLIAR
O debate entre Direita e Esquerda
É muito comum ouvirmos falar de posicionamentos políticos alinhados à esquerda ou à direita. Mas
o que isso significa? Conheça, a seguir, algumas informações sobre o tema trazidas pelo historiador
inglês Perry Anderson e pelo antropólogo brasileiro Cesar Alberto Ranquetat Junior.

Na definição proposta por Bobbio, a Esquerda sustenta a opinião de que a desigualdade


natural entre os seres humanos é menor que a sua igualdade; que a maior parte das formas
de desigualdade é socialmente modificável; que bem poucas dessas formas (admitindo-se que
existam) têm uma função positiva; que, enfim, em número sempre maior, elas terminarão por
se demonstrar historicamente efêmeras. Por outro lado, a Direita é impelida pela convicção
de a desigualdade natural dos seres humanos ser superior a sua igualdade; que bem poucas
formas de desigualdade são modificáveis; que a maior parte delas tem uma função social; que
em sua evolução não há qualquer direcionalidade.
ANDERSON, Perry. O sentido da esquerda. In: BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razões
e significados de uma distinção política. São Paulo: Editora UNESP, 1995. p. 163-164.

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


Entendo que a direita apresenta alguns traços essenciais, estruturais e constitutivos,
como: o pessimismo antropológico, o realismo político e metafísico, a defesa dos princípios de
autoridade e da hierarquia, a preservação dos corpos sociais intermediários e das instituições
tradicionais – como a família e a religião –, o senso comunitário e patriótico e a crença no valor
e na importância da tradição. Para a direita, o homem não é nem uma criatura angelical, nem
uma besta demoníaca. [...] A concepção cristã do pecado original está presente explícita ou
implicitamente no pessimismo antropológico da direita.
RANQUETAT JR, Cesar. Da direita moderna à direita tradicional. Curitiba: Danúbio, 2018. p. 75-78.

O primeiro debate dos presidenciáveis em rede de televisão aberta ocorreu no dia 9 de agosto
de 2018 e contou com a presença de Álvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Geraldo
Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique
Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) – Fernando Haddad não participou, visto que sua candida-
tura viria a ser registrada oficialmente somente mais adiante. Esse primeiro debate se notabilizou
por ter sido o único que Jair Bolsonaro participou. Em 6 de setembro de 2018, na cidade de Juiz
de Fora, em Minas Gerais, o presidenciável sofreu um atentado no qual foi esfaqueado por Adélio
Bispo dos Santos, o qual, após investigação, foi considerado inimputável pela justiça, ou seja, não
poderia ser condenado por sofrer de transtornos psiquiátricos, e sua prisão foi convertida em
internação por tempo indeterminado.

A jovem democracia brasileira e o debate com a ética 61


O episódio acabou beneficiando a candidatura de Bolsonaro, que ainda liderava as pesquisas,
mas enfrentava alta rejeição e era alvo de ataques dos outros candidatos. Seu favoritismo se refletiu
no resultado do primeiro turno, quando obteve 46% dos votos válidos, com vantagem de 18 milhões
de votos em relação ao segundo colocado, Fernando Haddad.
A possibilidade da vitória de um candidato da extrema direita mobilizou diversos setores pro-
gressistas da sociedade. Dentre as manifestações contrárias a Bolsonaro, destacou-se a Marcha das
Mulheres a Favor da Democracia, com seu slogan “Ele Não!”.
Em 30 de setembro de 2018, um dia depois da Marcha das Mulheres, foram realizadas mani-
festações pelo país a favor de Bolsonaro, revelando uma clara identificação de parte da população
brasileira com os ideais representados por ele.
Ao final do pleito eleitoral, Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República em segundo turno
com 55,13% dos votos válidos, superando Fernando Haddad, que obteve 44,87%. O processo elei-
toral para presidente da República em 2018 também ficou marcado pela realização de campanha
em aplicativos de mensagens e redes sociais, e pelas fake news, distribuição deliberada de notícias e
informações mentirosas e sem base em qualquer informação real.
Sua eleição é vista como uma reação das parcelas mais conservadoras da sociedade brasileira a
uma política que vinha lentamente favorecendo uma perspectiva mais progressista nos campos moral
e cultural, além de um discurso, em teoria, contra a corrupção.

PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS

NELSON ANTOINE/FOLHAPRESS
Manifestação contra Bolsonaro em setembro de 2018 na cidade Manifestação a favor de Bolsonaro na cidade de Salvador/BA
de São José dos Campos/SP. em setembro de 2018.

ENQUANTO ISSO...
...nos Estados Unidos

Uma antiga funcionária da Cambridge Analytica revelou pormenores da estratégia que a empresa britânica teria usado para aju-
dar Donald Trump a vencer as presidenciais norte-americanas de 2016, usando plataformas digitais como o Google, Snapchat, Twitter,
Facebook e YouTube. O documento interno foi apresentado aos colaboradores da empresa após a vitória do republicano, para divulgar
as técnicas utilizadas para influenciar os eleitores. [...]
Tratamento intensivo de dados recolhidos em inquéritos e algoritmos desenvolvidos pela empresa foram algumas técnicas utilizadas
para enviar 10 mil mensagens para públicos diferentes, meses antes das eleições. Segundo a apresentação da Cambridge Analytica, os
anúncios foram visualizados milhares de milhões de vezes. [...]
Nenhuma das técnicas descritas pela empresa britânica apresentação é ilegal, escreve o jornal. Mas, a ser verdade que a Cambridge
Analytica acedeu a dados de mais de 50 milhões de utilizadores do Facebook, o debate passa para o plano da segurança nas redes sociais
e de que forma os seus utilizadores estão ou não protegidos na era digital.
O DOCUMENTO que explica como a Cambridge Analytica ajudou a eleger Trump. Di‡rio de Not’cias, 23 mar. 2018. Disponível em: https://www.dn.pt
/mundo/como-a-cambridge-analytica-ajudou-na-eleicao-de-trump-9209379.html. Acesso em: 22 jun. 2020.

62 A jovem democracia brasileira e o debate com a ética


PARA CONSTRUIR
1 Observe o gráfico.
H36
Taxa de desocupação das pessoas de 14 anos ou mais (%)

LAB212
14

13,5

13

12,5

12

11,5
nov-dez-jan fev-mar-abr mai-jun-jul ago-set-out nov-dez-jan fev-mar-abr mai-jun-jul ago-set-out nov-dez-jan
2017 2017 2017 2017 2018 2018 2018 2018 2019

Brasil

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua mensal.

Com base nos estudos desenvolvidos no decorrer do capítulo e nas informações oferecidas pelo IBGE, analise a variação do
desemprego no Brasil entre 2017 e 2019. Discorra sobre os fatores que podem estar relacionados com as variações apresentadas
no gráfico e apresente ao menos uma forma de lidar com o desemprego no momento atual do país.
Resposta: o estudante deve apontar as crises econômicas, políticas e sociais durante o segundo mandato de Dilma, além das investigações
envolvendo o impeachment e as posteriores decisões econômicas do Presidente Temer, dentre elas, os cortes de gastos e as reformas.
Como opção para o contexto atual, temos o fortalecimento de empresas nacionais, emissão de títulos, investimento em novas tecnologias,
facilitação do acesso ao crédito e efetivação de tratados internacionais, com vistas a maior confiabilidade e atração de investimento.

2 Leia o texto a seguir:

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


H35
Um outro fator coloca em questão a própria noção central do apelo à vontade do povo na justificação do governo
democrático: a existência inquestionável de partes sociais distintas. Considerando-se a realidade efetiva da multiplici-
dade das partes que compõem o corpo político, o apelo à vontade popular como fonte exclusiva do poder torna-se
questionável na medida em que a própria ideia de vontade popular, como superação das vontades particulares em uma
mesma e única vontade, é contestável em sua inteligência. [...]
FARHI NETO, Leon. A equivocidade essencial da Democracia. In: VILAS BOAS, João Paulo S.; FARHI NETO, Leon; PERIUS, Oneide (org.).
Filosofia em debate: questões de ética, educação e política. Florianópolis: Néfiponline, 2016.

As eleições de 2014 e 2018 marcaram o acirramento do embate político do Brasil. A convivência entre ideias e valores faz
parte do processo democrático, mas nem sempre essa convivência ocorre de maneira harmoniosa ou responsável, como
alguns episódios das eleições puderam demonstrar. Considerando isso, relacione o texto acima ao contexto político brasileiro
dos últimos anos.
Resposta: a resposta é pessoal; no entanto, espera-se que o aluno perceba a ocorrência de alguns episódios como a adoção de falas
antidemocráticas e ofensivas durante manifestações, a ausência em debates eleitorais e o atentado ao então candidato Jair Bolsonaro,
em 2018, como exemplos de uma convivência pouco saudável entre diferentes ideais. Professor, utilize as respostas a esta atividade para
debater com a sala a importância da responsabilidade na expressão de opiniões e posicionamentos políticos para a sobrevivência do
regime democrático.

A jovem democracia brasileira e o debate com a ética 63


FAÇA VOCÊ MESMO
1 Leia um trecho da reportagem a seguir:

H36
Brasil e EUA têm 32% de todas as mortes por

80'S CHILD/SHUTTERSTOCK
armas no mundo
O Brasil lidera um ranking ingrato: somos o
país com o maior número de mortes por armas de
fogo no mundo. Somando o número de homicídios
e suicídios do tipo com os dados dos Estados
Unidos, os dois países representam 32% do total
mundial. O número é do Global Burden of Disease,
um projeto que reuniu 3 600 pesquisadores de 145
países para compilar e analisar dados de 2016. No
Brasil, houve mais de 43 mil mortes por arma de
fogo naquele ano; 94% delas, homicídios. Os EUA
contabilizaram 37 mil óbitos, mas lá a maior causa é o suicídio, que representa 64% das mortes.
BATTAGLIA, Rafael. Brasil e EUA têm 32% de todas as mortes por armas no mundo. Superinteressante, 9 jun. 2019. Disponível em:
https://super.abril.com.br/sociedade/brasil-e-eua-tem-32-de-todas-as-mortes-por-armas-no-mundo/. Acesso em: 21 jul. 2020.

Brasil e EUA são países com números muito expressivos quando se trata de armas de fogo e violência. Contudo, em nenhum
desses países existe um consenso sobre a facilidade de aquisição, posse e uso de armas e a relação com a violência cotidiana.
Tendo como base esse debate, pesquise casos de países com políticas restritivas e países com políticas permissivas de posse de
armas. Compare-as com os dados de violência para estruturar um argumento a respeito da liberalização da posse de armas pela
população em geral. Debata com a turma as suas conclusões.
Orientações no Manual do Professor.
2 Leia o resumo de um texto escrito por Silvio Genesini na Revista USP.
H40
Não há nenhuma novidade na tentativa de falsificação política através da distorção de fatos e informações.
O novo é que estamos em uma nova era turbinada pela internet e pelas redes sociais, em que o crescimento é viral e
o efeito, exponencialmente explosivo. O novo é o Facebook, o Google e o Twitter, não a tentativa de contar mentiras
ou falsificar informações, o que sempre existiu na história do mundo.
GENESINI, Silvio. A pós-verdade é uma notícia falsa. Revista USP, n. 116, jan./fev./mar. 2018. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/
article/view/146577/140223. Acesso em: 23 jul. 2020.

PRAPAT AOWSAKORN/SHUTTERSTOCK

Leia o artigo na íntegra e faça uma análise do papel da imprensa e das tecnologias para a distribuição da informação no mundo
ao longo da história. Compartilhe suas ideias com seus professores e colegas, reelaborando-as após uma discussão em grupo.
Orientações no Manual do Professor.

64 A jovem democracia brasileira e o debate com a ética


REFORMAS E DIREITOS
O fim dos governos petistas fez com que algumas pautas voltassem à tona, em especial na
economia e na política, sobre a necessidade de um conjunto de reformas para reestruturar o país. As
ideias de um modelo neoliberal ganharam força: reformas estruturantes em busca da diminuição da
regulamentação da economia por parte do Estado, bem como maior controle dos gastos públicos.
Como exemplos dessas novas ideias colocadas em prática podemos citar a reforma trabalhista,
aprovada no governo de Michel Temer, e a Proposta de Emenda Constitucional 241 (na Câmara)
ou 55 (no Senado), que estabelece um teto para os gastos públicos em busca de saneamento das
contas públicas.
Além delas, existem outras propostas que vêm sendo discutidas na sociedade, ou ao menos em
setores dela. Uma delas é a reforma da previdência, que também tem como justificativa a política
de diminuição dos gastos públicos. Nessa proposta, a idade mínima para a aposentadoria é ampliada,
com a fixação de uma idade mínima de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres, bem como
a ampliação do tempo de contribuição. Além disso, seriam alterados o sistema de pensões para
dependentes e a estrutura de contribuição.
Outra reforma constantemente pautada é a tributária, que trata da lógica de cobrança e pa-
gamento dos impostos. A necessidade urgente de reforma no sistema de tributação no país é um
tema que se faz presente nos setores à direita e à esquerda da sociedade. Contudo, as propostas são
bem distintas. Por um lado, pede-se a taxação de heranças e grandes fortunas; por outro, defende-se
a diminuição de impostos sobre o capital e a produção.

WILLIAN MOREIRA/FUTURA PRESS/FOLHAPRESS

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


O “impostômetro” foi instalado pela
Associação Comercial de São Paulo
(ACSP), no centro da capital paulista,
para marcar a quantidade de imposto
pago pelos contribuintes nas três
esferas: municipal, estadual e federal.

Um dado importante sobre esse assunto é que, no Brasil, a população mais pobre proporcio-
nalmente é a que mais paga imposto, visto que os impostos incidem muito mais sobre os produtos
do que sobre a renda. Ao consumir, ricos e pobres pagam o mesmo valor; no entanto, proporcio-
nalmente à renda, o valor do imposto acaba sendo muito maior para o pobre do que para o rico.

PARA AMPLIAR
REPRODU‚ÌO/GNT

Assista ao documentário:
Salto livre: o futuro das escolhas. Canal GNT, 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=e3oDX-QVQm4. Acesso em: 22 jun. 2020.
Tomar decisões não é fácil – você já parou para pensar quantas escolhas faz por dia? E como seria viver
em uma sociedade sem liberdade de escolha? Será que razão e emoção andam separadas nesse pro-
cesso? Salto Livre é um estudo desenvolvido pelo GNT, em parceria com a Inesplorato, que fala sobre
o processo de escolhas de cada um de nós e de como somos influenciados pela tecnologia, pelo nosso
passado, por outras pessoas e pelos nossos hábitos.

A jovem democracia brasileira e o debate com a ética 65


Por fim, é postulada por setores da sociedade a reforma política. Um dos principais argumentos
pela reforma é o questionamento do atual sistema proporcional na eleição para o legislativo. Pela
regra, as cadeiras do legislativo são ocupadas de acordo com o número de votos de um partido ou
coligação. Dessa forma, um candidato ou candidata que possua uma votação elevada nas eleições
acaba elegendo também candidatos muito pouco votados. A consequência disso é que candidatos
com um bom número de votos acabam ficando de fora do parlamento. Um caso emblemático
foi o do candidato Tiririca, na Câmara dos Deputados. Ele recebeu uma votação expressiva como
forma de “protesto” (mais de um milhão de votos) e acabou sendo responsável diretamente pela
eleição de outros dois candidatos do Partido da República (PR). E esta é uma das principais críticas
ao modelo: os partidos acabam investindo em candidatos com dinheiro para fazer campanha ou
que chamem muito a atenção, deixando de lado propostas e projetos políticos para a sociedade.
Por outro lado, esse modelo permitiria a representação de setores importantes da sociedade, mas
que teriam menor visibilidade política.
O debate de todas essas reformas é fundamental neste momento em que crescem os discursos
de aversão à política. As propostas lidam diretamente com perspectivas de direitos e deveres da
população. Todavia, o que tem ficado de lado do foco das ações dos governos – apesar do aumento
das demandas sociais nesse sentido – são as questões ambientais.

O direito ao ambiente saudável


Como já vimos, a Constituição de 1988 é conhecida como a “Constituição Cidadã”. Ela assegura
uma série de direitos que historicamente foram negados a boa parte da população. Pelo fato de ser
recente, traz alguns avanços que a fazem ser considerada uma das melhores Constituições do mundo,
por trazer elementos jurídicos vinculados às discussões de uma sociedade contemporânea, e não de
décadas ou até século atrás.
Um dos exemplos mais representativos é a forma pela qual a Constituição de 1988 aborda
a questão ambiental e a relação da sociedade brasileira com a natureza e os ecossistemas do país.
Observe o que fala o seguinte artigo:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 jun. 2020.

HERBERT VILLAR/SHUTTERSTOCK

Área de cerrado em Alto Paraíso de Goiás (GO), na Chapada dos Veadeiros.

66 A jovem democracia brasileira e o debate com a ética


Ao analisarmos o artigo 225 da Carta Magna, percebe-se que o acesso à natureza e a um ecos-
sistema equilibrado passou a ser visto como um direito dos cidadãos brasileiros. O direito a um meio
ambiente equilibrado tem o mesmo nível de importância que o acesso à educação ou à saúde, por
exemplo. Essa noção decorre do fato de percebermos atualmente que a qualidade de vida de uma
população está diretamente vinculada à qualidade do ecossistema na qual ela vive.
Uma boa forma de percebermos isso é pensar sobre a coleta e o tratamento de esgoto em
relação aos rios nos quais esses efluentes serão lançados. Caso o esgoto seja lançado sem tratamento
adequado nos corpos hídricos, as pessoas que tiverem contato com essa água terão problemas com
doenças. Portanto, as questões ambientais não são um problema ligado apenas a plantas e animais,
mas também à sociedade, à saúde pública, inclusive à economia, pois pessoas doentes produzem
menos e demandam um custo para o sistema de saúde.
Além disso, a natureza passou a ser tratada como um bem comum; ou seja, se uma pessoa tem a
nascente de um rio em uma propriedade sua, isso não lhe dá direito a usar aquela água da forma que bem
entender. Na verdade, isso lhe traz o dever de cuidar daquela nascente para que não chegue água de baixa
qualidade para as demais pessoas que vivem às margens daquele rio. Essa segunda ideia é reforçada pelo
artigo quando afirma que é responsabilidade do Poder Público e da coletividade cuidar dos ecossistemas.
Como toda lei, ela carece de interpretação. Nesse sentido, uma possível compreensão desse
artigo é a ideia de que, se a natureza é um bem coletivo, os benefícios econômicos decorrentes
de sua utilização também deveriam sê-lo. De certa forma isso ocorre quando o Estado brasileiro
recebe royalties pela exploração de recursos minerais – ferro, alumínio, petróleo, por exemplo – e,
por meio de políticas públicas, esse dinheiro é distribuído para a população mediante melhores
serviços públicos e infraestrutura.
Por conta disso, a população brasileira precisa se dar conta de que ter acesso a ambientes
saudáveis e equilibrados não é um luxo, mas sim um direito constitucionalmente garantido. Além
disso, essa perspectiva é importante para nós e para o mundo todo, pois o Brasil é o país que con- COMPREENDENDO
tém em seu território a maior parte da Floresta Amazônica – a floresta com as maiores biomassa
e biodiversidade do planeta –, além do Cerrado e da Mata Atlântica, também com grande biodi-
CONCEITOS
versidade. Não por acaso, o Brasil é um dos poucos países do mundo considerados megadiversos. Biodiversidade
Essa característica pode representar um trunfo para o futuro. O avanço da engenharia genética
O conceito de biodiversidade se
pode trazer uma oportunidade de desenvolvimento tecnológico se associado à biotecnologia.
vincula às variedades existentes
Contudo, contraditoriamente, as atividades econômicas têm gerado impactos cada vez maiores de espécies (e suas variedades
nos mais variados ecossistemas do mundo, e a biodiversidade está cada vez mais em risco. No caso genéticas) de determinado lugar,
brasileiro, internacionalmente se destaca o descaso com a fiscalização e as políticas de defesa da ecossistema ou bioma.

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


Floresta Amazônica.

PARA AMPLIAR

Por que Pantanal vive “maior tragédia ambiental” em décadas


O Pantanal passa pela sua fase mais crítica das últimas décadas. O bioma enfrenta uma de suas maiores secas da história recente,
sofre com o desmatamento e tem o pior período de queimadas desde o fim dos anos 90.
A atual situação do Pantanal, maior área úmida continental do planeta, preocupa ambientalistas.
Nos primeiros sete meses deste ano, o principal rio do Pantanal atingiu o menor nível em quase cinco décadas. A chuva foi escas-
sa. O desmatamento cresceu. Os incêndios aumentaram. E a fiscalização por parte do poder público, segundo entidades que atuam na
preservação da área, diminuiu.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que os primeiros sete meses de 2020 foram os que registraram
mais queimadas em comparativo ao mesmo período de anos anteriores, ao menos desde o fim do anos 90 — período em que o Inpe
desenvolveu a plataforma que se tornou referência para monitorar focos de calor no Brasil. [...]
Um dos fatores associados à falta de chuva no Pantanal e em outros biomas brasileiros é a degradação da Amazônia. "Com a ace-
leração do desmatamento da Amazônia, ao longo dos anos, o período de chuvas tem encurtado e as secas se tornaram mais severas na
região central e sudeste do país", ", explica Vinícius Silgueiro, do Instituto Centro de Vida.
LEMOS, Vinicius. Por que Pantanal vive “maior tragédia ambiental” em décadas. BBC Brasil, 5 ago. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/
portuguese/brasil-53662968. Acesso em: 5 ago. 2020.

A jovem democracia brasileira e o debate com a ética 67


O caso da Floresta Amazônica
PARA AMPLIAR
A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do planeta e incorpora a maior rede hidrográfica
Assista ao documentário: do mundo, a Bacia do Rio Amazonas. Esses elementos somados, especialmente devido a evapotrans-
O Sal da Terra. Direção: Wim piração das árvores, lançam constantemente na atmosfera uma gigantesca quantidade de vapor de
Wenders, Juliano Salgado. Brasil, água. Isso é importante para o balanço climático mundial. Além disso, a Floresta Amazônica apresenta
2015 (110 min). uma grande quantidade de matéria orgânica, ou seja, carbono aprisionado na biodiversidade. Com
o avanço do desmatamento, esse carbono acaba sendo liberado na atmosfera, especialmente na

REPRODUÇÃO/LE PACTE
forma de dióxido de carbono, um dos principais potencializadores do aquecimento global.
Até meados dos anos de 1990, a Amazônia Brasileira tinha sido muito pouco impactada pelas
atividades econômicas. Contudo, com o avanço do agronegócio a melhoria da infraestrutura nacio-
nal a partir daquela década, passou a ser cada vez mais desmatada, principalmente por empresas
dos setores de mineração e madeireiras, além do considerável aumento do número de grilagem de
terras, implementação de pastagens e monoculturas agrícolas.
Paralelamente, foi a partir da década de 1990 que os movimentos ambientalistas ganham
maior notoriedade e importância. A ECO-92 – Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento –, realizada em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, foi um marco na
discussão. O evento reuniu as principais lideranças políticas do mundo e organizações da sociedade
civil organizada. Juntas, foram responsáveis pela elaboração de diversos documentos importantes,
tais como a Convenção do Clima, no qual se expressa a preocupação global com as mudanças
climáticas, e a Convenção da Biodiversidade, que expressa a preocupação com os impactos nas
O documentário conta a trajetória diversas formas de vida no planeta.
do fotógrafo Sebastião Salgado, Na medida em que as discussões políticas sobre questões climáticas e de biodiversidade fo-
criador de fotografias impressio- ram avançando no mundo, os impactos na Amazônia foram se ampliando e, consequentemente,
nantes sobre temas de cunho resultaram em uma preocupação internacional e maior cobrança sobre o caminho tomado pelo
social e ambiental. Entre suas fo-
Brasil em suas políticas ambientais. Nas discussões internacionais, o país sempre colocou que
tografias mais emblemáticas está
a série sobre a exploração mineral deveria adotar ações práticas para conservar a floresta, mas também frisava que, sendo um país
em Serra Pelada, no Pará. em desenvolvimento, poderia gerar impactos (desmatamento, por exemplo) para garantir seu
crescimento econômico.

SANDRO PEREIRA/CÓDIGO19/FOLHAPRESS

Imagem de drone de área


desmatada e queimada na
parte rural de Humaitá,
no sul do Amazonas, 2019.

68 A jovem democracia brasileira e o debate com a ética


Essa perspectiva fica bastante clara quando o Brasil assume um papel de liderança no debate
ambiental internacional defendendo e pautando pontos da Agenda 21, instrumento para o desen-
volvimento sustentável em diferentes contextos geográficos, culturais e econômicos. O documento
está dividido em quarenta capítulos e quatro eixos. São eles: dimensões econômicas e sociais,
conservação e gerenciamento dos recursos, fortalecimento do papel dos grupos atuantes e
meios de implementação das estratégias para o desenvolvimento sustentável.
Todavia, apesar do papel internacional nos debates, o Brasil sempre teve muita dificuldade de
cuidar dos seus recursos naturais de forma adequada e de estabelecer estratégias para um desenvolvi-
mento verdadeiramente sustentável. Na Amazônia, em especial, os grandes problemas sempre foram
fiscalizar e garantir um efetivo funcionamento das Unidades de Conservação (UCs) e preservação da
natureza, das terras indígenas, das terras devolutas e das terras privadas. O resultado dessa ausência
estrutural do Estado na região amazônica foi a ampliação dos índices de desmatamento, violência
no campo, violência contra os indígenas e contra as comunidades tradicionais.
Sobre o desmatamento, desde 1988, o Brasil, a partir do uso de imagens de satélite, especial-
mente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), vem monitorando a situação na região
da Amazônia Legal. Atualmente, 17% da cobertura florestal da Amazônia no Brasil já foi desmatada,
sendo quase metade disso nos últimos 20 anos. Observe no gráfico a seguir que, ao analisar de for-
ma mais aprofundada os números da região, percebe-se que, após 2004, a taxa de desmatamento
caiu substancialmente até o ano de 2012, quando atingiu sua mínima dentro do período ao qual
possuímos dados, quando voltou a crescer.
A Amazônia, região que possui uma das maiores biodiversidades do planeta, deve ser pesquisada
e compreendida em suas dinâmicas ecológicas. É possível utilizar a biodiversidade da Amazônia
para o desenvolvimento de biotecnologia de forma sustentável. Se derrubamos a floresta, estamos
extinguindo espécies que poderiam servir de cura para doenças. No lugar de produzir ainda mais
soja e carne, de baixo valor agregado no mercado, poderíamos produzir outros produtos de alto
valor agregado no mercado e alavancar a pesquisa nacional.

Brasil: desmatamento na Amazônia Legal (1988-2019)

LAB212
30 000

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


25 000

20 000
km2

15 000

10 000

5 000
21 050,00

29 059,00

21 650,00
25 396,00
27 772,00
17 770,00
13 730,00

13 786,00

17 383,00
17 259,00
18 226,00
18 161,00

18 165,00
14 896,00
14 896,00

14 286,00
11 030,00

11 651,00

10 129,00
19 014,00

12 911,00
13 227,00

7 000,00
7 464,00

4 571,00
5 891,00

7 893,00

7 536,00
6 418,00

5 012,00
6 207,00

6 947,00

0
88
89
90
91
92
93
94
95
96

19 7
98
99
00

20 1
02
03
04
05
06

20 7
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09
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17
18

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0
9

20
20

20
20
20
20
20
20

20
20
20
19
19
19
19
19
19
19
19
19

19

19

20
20
20
20
20

20
20

INPE. Disponível em: http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/legal_amazon/rates. Acesso em: 23 jul. 2020.

A jovem democracia brasileira e o debate com a ética 69


CONEXÃO CIÊNCIAS DA NATUREZA
Etnobiopirataria

AMYLV/SHUTTERSTOCK
Sabemos que a tecnologia é a base dos processos de desenvolvimento
sociais, econômicos e culturais na atualidade. Dentre as diversas formas de
desenvolvimento tecnológico, um dos principais ramos é aquele que se
utiliza da vida como matéria-prima. Contudo, algumas pessoas poderiam
se perguntar: “Mas, quando caçávamos e coletávamos, a vida já não era a
matéria-prima?” A resposta, logicamente, é sim. Entretanto, não é exatamente
esse o olhar na atualidade.
Hoje em dia, a busca principal é do código genético das diversas formas de vida.
A engenharia genética vem estudando o código genético para maximizar o uso Alguns óleos essenciais extraídos de árvores são matéria-prima
em novos produtos, remédios, materiais, cosméticos, dentre outros. Ou seja, o de medicamentos e de produtos como cremes e maquiagem.
que as empresas e laboratórios vêm buscando nas plantas e nos animais é o O óleo extraído do pau-rosa, por exemplo, é usado por
DNA, e não mais a madeira, ou sua carne ou pele. Contudo, essa nova perspectiva perfumistas do mundo todo e é uma das substâncias usadas
coloca novos dilemas em pauta: no perfume Chanel no 5.

[...] a título de exemplo: para a cura da diarreia usa-se a folha de uma árvore conhecida, no Amapá, como preciosa. Esta informa-
ção, na mão de uma corporação transnacional da área biomédica, costuma ser levada para laboratórios localizados na Europa, Estados
Unidos e Japão, para que se isole o princípio ativo e depois seja patenteado, ignorando todo o conhecimento-fonte que foi legado do
camponês ou do indígena. A lei de patentes industriais ignora o know-how do saber tradicional indígena/camponês, que também é saber,
que não foi produzido em laboratório e não é propriedade privada, posto que é da comunidade como um todo. Isso exige inovação em
termos de direitos. São direitos coletivos, não são direitos apoiados no direito individualizado, privado. Aliás, qualquer cientista sério
sabe que nenhum conhecimento é produzido exclusivamente por um indivíduo. Todavia, a tradição liberal traduz o conhecimento, que
é coletivo, em propriedade privada, o que constitui uma violação do conhecimento na tradição indígena e camponesa. As informações
que essas populações detêm, insisto, são fundamentais. Jamais seria possível pagar o trabalho de fazer um levantamento de todas as
espécies existentes na Amazônia para saber da sua utilidade, se fosse necessário. Por isso, o roubo, não de espécies, que seria pirataria,
mas sim do conhecimento sobre as espécies, o que configura etnobiopirataria, vem sendo amplamente praticado. Repito: não é de
pirataria que se trata, mas sim de etnobiopirataria, o que implica que a defesa contra esse roubo deve ser a defesa simultaneamente
desses povos, e não simplesmente a defesa da floresta. Assim, os povos que habitam a região têm uma cultura vasta, uma enorme
riqueza acumulada que em muito pode, e deve, contribuir para um outro mundo possível.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Amazônia enquanto acumulação desigual de tempos: uma contribuição para a ecologia política da região.
Revista Cr’tica de Ci•ncias Sociais, n. 107, 2015. Disponível em: http://journals.openedition.org/rccs/6018. Acesso em: 16 jul. 2020.

1. De acordo com o texto, qual a diferença entre biopirataria e etnobiopirataria?


Resposta: a biopirataria é o roubo da biodiversidade de um território. Contudo, em lugares com muita biodiversidade e com comunidades
tradicionais, não faz sentido falar de biopirataria, mas sim de etnobiopirataria, pois as comunidades tradicionais historicamente utilizam e
desenvolvem conhecimento sobre a biodiversidade, e esse conhecimento é utilizado como base para as pesquisas da biodiversidade.

2. De que forma a biodiversidade de um país poderia servir para alavancar seu desenvolvimento tecnológico?
Resposta: os países que possuem biodiversidade poderiam condicionar a utilização de seu patrimônio genético a pesquisas realizadas em
seu próprio território nacional ou a partir de parcerias entre empresas, laboratórios e universidades públicas, estimulando a formação de
tecnopolos no próprio país.
3. Pesquise os países que mais possuem biodiversidade no mundo e os países que possuem as principais pesquisas sobre essa biodiversidade.
Resposta: os países mais biodiversos do mundo são Brasil, México, Índia, China, República Democrática do Congo, Colômbia, Indonésia
e outros poucos. As pesquisas são realizadas principalmente na Europa Ocidental, EUA e Japão.
4. Pesquise alguns casos de etnobiopirataria envolvendo o Brasil.
Resposta: alguns casos históricos são os do pau-brasil, do cacau e da seringueira. Atualmente, pode-se falar sobre: cupuaçu, a rã amazônica
Epipedobates tricolor, andiroba, copaíba, jaborandi, dentre outros.

70 A jovem democracia brasileira e o debate com a ética


PARA CONSTRUIR
1 Analise a charge abaixo. Atente para as instituições e os sujeitos sociais retratados. Reflita sobre as diferentes visões acerca da
ação do Estado que estão presentes na charg e crie uma hipótese sobre o que pode ter inspirado o artista a elaborar esta crítica.
H40

© BRUNO SAGGESE/ACERVO DO CARTUNISTA


Resposta: a resposta deve levar em conta o aumento significativo
da morte de jovens periféricos e negros nos últimos anos. Esse
aumento acaba criando visões diferentes de frações da sociedade
perante a polícia: alguns enxergam a força policial como provedora
de segurança, enquanto outros a enxergam como ameaça a sua
existência. É interessante que os alunos atentem para a forma
como a família é representada na charge. A polarização política
pode servir também como base para a resposta.

Fonte: http://www.corte.tv.br/bruno/charge/#prettyPhoto[gallery1]/0/

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


FAÇA VOCÊ MESMO
1 Leia o seguinte trecho de uma publicação de abrangência internacional:
H33
Como viveremos em 2050?
[...] O primeiro artigo, escrito especialmente para a versão em português pelos cientistas brasileiros Ismael Nobre
e Carlos A. Nobre, apresenta e detalha o projeto Amazônia 4.0. Lançada em 2016, a iniciativa propõe um novo para-
digma de desenvolvimento que alie conhecimento profundo da biodiversidade amazônica às amplas possibilidades da
Indústria 4.0. “Ao gerar bioindústrias locais e diversificadas, produtos de valor agregado em todos os elos da cadeia,
empregos e inclusão social, a ‘economia da floresta em pé, preservada e produtiva, com os rios fluindo’, beneficiará o
Brasil como um todo, mas principalmente os estados amazônicos e seus habitantes”, escrevem os autores.
SORJ, Bernardo; FAUSTO, Sergio. Apresentação. Futuribles, n. 2, set. 2019. Plataforma Democr‡tica. Disponível em:
http://www.plataformademocratica.org/Arquivos/Futuribles2/Futuribles2_ProjetoAmaz%C3%B4nia4.0.pdf. Acesso em: 16 jul. 2020.

Acesse o texto mencionado acima e leia-o na íntegra. Identifique suas principais propostas e, em seguida, localize projetos que
seguem essa linha ideológica e de ação. Com as informações necessárias, organize um fôlder ou um banner sobre um desses
projetos e apresente para o restante da turma.
Orientações no Manual do Professor.

A jovem democracia brasileira e o debate com a ética 71


VOCÊ É O AUTOR
Neste projeto, você irá elaborar uma entrevista com cidadãos a respeito do grau de satis-
fação que eles possuem com o regime democrático e seu nível de atuação política. A intenção
é medir a satisfação e a atuação dessas pessoas e seus impactos nas instituições políticas da
democracia brasileira.

OLGA ZAKHAROVA/SHUTTERSTOCK
Elabore um roteiro de entrevista com cinco perguntas fechadas e duas perguntas abertas sobre
o tema. Lembre-se de usar as seguintes variáveis na confecção da entrevista:
▶ Grau de confiança do entrevistado na instituição escolhida.
▶ Grau de atuação do entrevistado para melhoria da democracia e cidadania.
É recomendável usar, nas perguntas fechadas, as seguintes variações de resposta: Muito Satisfeito,
Satisfeito, Pouco Satisfeito, Insatisfeito, para tratar sobre as instituições políticas, e Muito Atuante,
Pouco Atuante e Nada Atuante, para tratar do grau de atuação política. As perguntas abertas devem
complementar as fechadas. Elabore-as de forma clara para o entrevistado, por exemplo: "De que
forma acha que os cidadãos podem ajudar os governos?".
Essas entrevistas podem ser feitas com a sua família, com pessoas conhecidas ou com mem-
bros da sociedade civil organizada.
Após a aplicação do questionário, para estabelecer um perfil estatístico coerente com a rea-
lidade nacional, faça a tabulação das respostas. Junte-se com colegas em um grupo e analisem os
dados conjuntamente para desenvolver um posicionamento coletivo sobre as pesquisas.
Com esses dados em mãos, o grupo deve elaborar um plano para melhoria ou desenvolvimento
de mecanismos de ampliação dos processos democráticos e/ou de ampliação da participação da
população na política nacional, para além das eleições a cada dois anos.
Neste projeto, é importante orientar seus alunos e alunas para que eles mesmos elaborem perguntas
pertinentes sobre cidadania. A Constituição de 1988 pode ser usada como base para as perguntas.

72 A jovem democracia brasileira e o debate com a ética


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