Você está na página 1de 6

MICHEL TEMER DIZ QUE

IMPEACHMENT ACONTECEU
PORQUE DILMA REJEITOU
‘PONTE PARA O FUTURO’
Em palestra para empresários nos EUA, Temer declarou
que Brasil passa por “estabilidade política extraordinária”
ao defender implementação de agenda neoliberal.
Inacio Vieira

22 de Setembro de 2016, 12h38

Foto: Leila Macor/AFP/Getty Images

READ IN ENGLISH

O presidente Michel Temer deixou escapar um “segredo” em discurso
para empresários e investidores nos EUA: o impeachment de Dilma
Rousseff ocorreu para implementar um plano de governo radical-
mente diferente do que foi votado nas urnas em 2014, quando o PT
ganhou a presidência pela quarta vez, e não por irregularidades prati-
cadas pela ex-presidente.

Na sede da Sociedade Americana/Conselho das Américas (AS/COA), em


Nova York, nesta quarta-feira, dia 21, Temer disse que ele e seu par-
tido começaram a articular o afastamento de Rousseff em consequên-
cia direta da não aceitação do programa neoliberal do PMDB pela ex-
presidente.

Veja o vídeo aqui:

Impeachment aconteceu porque Dilma rejeit…


rejeit…

“E há muitíssimos meses atrás, eu ainda vice-presidente, lançamos um


documento chamado ‘Uma Ponte Para o Futuro’, porque nós verificáva-
mos que seria impossível o governo continuar naquele rumo. E até suge-
rimos ao governo que adotasse as teses que nós apontávamos naquele
documento chamado ‘Ponte para o futuro’. E, como isso não deu certo,
não houve adoção, instaurou-se um processo que culminou agora com a
minha efetivação como presidência da república.”
O “Ponte para o futuro” prescreve a desvinculação dos recursos da
saúde e da educação, desindexação dos benefícios e do salário mí-
nimo, mudança de idade para a aposentadoria, parcerias com o setor
privado e abertura comercial. Essas ideias estavam claramente refleti-
das na fala de Temer na AS/COA, que visava dar seguimento à incansá-
vel empreitada de privatizações e facilitação da entrada do capital es-
trangeiro no país, listando as vantagens e garantias que seu governo
planeja implementar para assegurar o lucro dos membros da plateia,
que o ouviam (não tão atentamente) enquanto desfrutavam de suas
refeições.

Marcadas pelos já conhecidos eufemismos neoliberais para o que po-


deria simplesmente chamar de venda do patrimônio nacional, as ga-
rantias listadas pelo presidente incluíram a “universalização do mer-
cado brasileiro”, o “restabelecimento da confiança”, uma tal “estabili-
dade política extraordinária”, parcerias entre os setores público e pri-
vado e o avanço de reformas “fundamentais” nas áreas trabalhista,
previdenciária e de gastos do governo. “Venho aqui convidá-los a par-
ticipar dessa nova fase de crescimento do país,” concluiu em tom de
leilão.

Os dois grupos são compostos por representantes de corporações mul-


tinacionais e membros do estabelecimento de política exterior dos
EUA em América Latina. Foram fundados pelo industrialista ameri-
cano David Rockefeller e têm John Negroponte como presidente emé-
rito – um político neoconservador fundamental para a guerra suja da
CIA em Honduras e para a invasão do Iraque em 2003. Em seu site, o
Conselho das Américas se define como uma “organização internacio-
nal cujos membros compartilham um compromisso comum com o
desenvolvimento econômico e social, mercados abertos, estado demo-
crático de direito e democracia por todo o hemisf ério ocidental”.

Essa é apenas mais uma singela confirmação de que o impeachment


de Dilma não se deu por conta das supostas “pedaladas fiscais”, como
quis fazer crer a facção que agora ocupa o executivo federal. Não foi
pela família brasileira, não foi por Deus, não foi contra a corrupção.
Foi contra o trabalhador e em favor do empresariado. Foi por impuni-
dade, lucro e poder.

ANTES QUE VOCÊ SAIA… Este é o ano das mais importantes eleições de
nossa História. É um daqueles momentos em que fazer jornalismo demanda
mais recursos, equipe, segurança física e jurídica, dinheiro e atenção. É um
daqueles momentos em que fazer jornalismo com relevância pode transformar
a realidade — e moldar o futuro no qual vamos viver. Como você sabe, fazemos
jornalismo independente graças à nossa comunidade de apoiadores.
Agradecemos imensamente aos que acreditam no nosso trabalho e fazemos um
convite para os que ainda não estão conosco. Precisamos de mais apoiadores
para seguir com autonomia e independência na cobertura eleitoral. Pense no
que podemos fazer, com a sua ajuda, no ano em que políticos, empresários e
lobistas vão tentar defender seus próprios interesses e manter o país no caos,
em detrimento do que é de interesse público. O Brasil não pode perder a
chance que este ano nos traz. Seu apoio é fundamental para que o Intercept
siga em frente – e para que 2023 seja, finalmente, um ano de esperança.

Fazemos jornalismo independente e sem rabo preso com os poderosos — e


existimos graças a nossos apoiadores.

R$ 25 R$ 50 R$ 100 R$ 200

ÚNICA MENSAL

Faça parte do TIB


CONTEÚDO RELACIONADO
Casos de corrupção envolvendo Michel Temer caem no
ostracismo, e eles são muitos

ARTIGOS RECENTES

Bolsonaro anunciou o golpe: não


há mais espaço para omissão
João Filho — 3:00 a.m.

Bolsonaro avisou o mundo que não


confia nas urnas. Grandes
personalidades e entidades que ficarem
caladas serão coniventes com o
golpismo. Até a Fiesp deu um passo a
frente.

EXCLUSIVO: Universal embolsa R$


33 bilhões em quatro anos e meio
só em doações bancárias
Gilberto Nascimento — Jul. 20

Quebra de sigilo bancário revela ainda


valores de depósitos feitos por filiais da
TV e da Rádio Record à igreja.

Empresário e ex-fiel: ‘Eu lavei


dinheiro e fui condenado. A
Universal, não’.
Gilberto Nascimento — Jul. 18

Da prisão onde cumpre uma pena de


mais de 70 anos, empresário revela
esquema de doações à Igreja Universal e
relações com políticos e pastores.
Carregando mais

Você também pode gostar