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TEALOGIA: O CULTO A DEUSA MÃE E O RETORNO A VELHA ARTE

É inegável que nos últimos tempos o retorno a ancestralidade tem atraído pessoas em
todo mundo e com ele o aflorar de um esquecido caminho espiritual: a “Tealogia”
(sim, você leu certo, porque se chama tealogia a reverência as diversas faces da
Deusa Mãe e sua conexão com as mulheres numa rede de interações onde o culto ao
feminino se mescla ao culto da própria natureza).
Pinturas, esculturas, altares feitos em pedras e construções megalíticas
reverenciam pelo mundo a fora uma fé centrada na Mãe. Uma fé centrada no poder
criador e regenerador da vida. Não te parece estranho que havendo tantas deusas em
tantas civilizações porque surgiu o culto limitante a um Deus pai distante que
julgava as mulheres as principais responsáveis pela entrada do mau no mundo?
Coisas elevadas nas cerimônias matriarcais passaram a ser feias e sujas como o
sangue menstrual, o parto, o desejo sexual das fêmeas. As Deusas foram apagadas da
memória humana e através do culto a Maria (pura, humilde, meiga, bondosa e
generosa9 foi criado um código de conduta as demais: ou se era como a Mãe de Deus
ou não nunca seriam mulheres de bem.
As mulheres que prosseguiram na prática das Artes da Terra nunca se convenceram.
Sempre souberam da necessidade de centrarmos a fé em arquétipos de equilíbrio,
amor, respeito, cooperação e CURA. Para estas sábias, viver o divino era trazer
para a existência a prática da cooperação e não da competição, a sabedoria da
intuição e não somente o conhecimento racional, um olhar espiritual e não material.
Eram as filhas de uma arte marginal: a velha arte.
E não importa o termo que você use para acessar o campo de ressonância desse poder
tão antigo quanto a própria Terra. Tudo na memória do tempo confirma essa verdade.
A velha Arte reverenciava o poder da natureza, a força vital das outras espécies,
os astros e todos os elementos eram sagrados. O maior templo de todos era o coração
humano e suas intenções.
Para a Velha Arte a maior magia era a nossa “divindade humana”, sei que isso parece
confuso, mas os ancestrais acreditavam que ao vivermos no mundo da carne estávamos
aqui para trilhar o caminho que nos faria divinos e era por isso que a trajetória
de vida de uma mulher aqui era chamada “o caminho da deusa”. Toda mulher era uma,
porque todas eram filhas da Mãe Maior.
A velha Arte tinha pilares de sustentação. Mulheres eram criadoras e refletiam as
marés do tempo no corpo. Elas acreditavam que ferir, difamar ou agredir outras era
insultar a face da Mãe nas outras; nossos corpos se sincronizavam com a lua; nosso
sangue era o símbolo da fertilidade e por isso era usado para abençoar os campos
com plantações; mas o principal pilar era o conhecimento: as mulheres sabiam.
Sabiam por formação e sabiam por intuição e esse saber era transmitido das mais
sábias para as iniciadas e das mais velhas para as mais novas pela PALAVRA. Pela
socialização do conhecimento.
Mulheres ensinavam tudo. Tecer, fiar, cozinhar, orar, abençoar, curar e transmutar
(é o mesmo que manipular as forças ocultas). Abaixo dos elementos naturais havia
respeito, reverência e humildade. Deuses eram convocados para auxiliar com as
intempéries, com as dificuldades da sobrevivência, com a fé, as guerras e com a
passagem para o outro lado do véu quando chegasse a hora.
Hoje observamos com nostalgia ver a teia rompida. Nós mulheres da arte sempre
ensinamos, sempre dividimos, sempre nos alegramos com a chegada de mais uma ao
círculo, enfim, nós sempre arranjávamos motivos para curar. Devia ser lindo quando
em vidas idas nos sentávamos em roda para passar a “palavra”. Hoje temos bruxas,
feiticeiras, iniciadas e sacerdotisas empossadas por suas próprias iniciativas que
sequer tem a humildade de trocar conhecimentos sem se sentirem feridas ou
diminuídas.
Estudem a velha arte! Observem a ancestralidade e vejam como as pretas velhas, as
índias anciãs, as avozinhas apalaches e as doulas executavam o dom de ser mulher,
de ser uma representante da Deusa na Terra e entre as suas irmãs. A velha arte não
condena, acolhe, a velha arte não amaldiçoa abençoa, a velha arte não pune, eleva!
Minhas irmãs: um pouco mais de verdade. Estudar a tealogia e rememorar a velha arte
não é nem de longe um processo seletivo para competir com “Sabrina (aprendiz de
feiticeira) ou para ingressar em Hogwarts com o Harry Potter como mestre dos
feitiços. Leiam e aprendam!

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