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Small and medium sized enterprises in Mozambique , situation and challenges


in Portuguese.

Book · January 2020

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Friedrich Kaufmann
Universidade Católica de Moçambique
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2ª edição

PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS EM MOÇAMBIQUE


Situação e Desafios

REPÚBLICA
A DE MOÇAMBIQUE
MINISTÉRIO DA
A INDÚSTRIA
E COMÉRCIO
Ficha Técnica

Título: PMEs em Moçambique \ Situação e Desafios


Editor: Dr. Friedrich Kaufmann
AHK/ ExperTS GIZ
Tiragem: 500 exemplares
Maputo, Moçambique
Ano: 2020
Ragendra Berta
de Sousa

Prefácio
Ministro da
Industria e Comercio

As pequenas e médias empresas (PMEs) desempenham um papel importante no desenvolvimento de


Moçambique. Dados atuais indicam que as PMEs constituem aproximadamente 98 % do total das em-
presas ativas, proporcionando a maioria das oportunidades de emprego, oferta de produtos diversos
no Pais.

Para o seu desenvolvimento é necessário um esforço conjugado e persistente de todos atores da


sociedade, nomeadamente, Governo, agentes económicos e sociedade civil. A correta definição de
conceitos e teorias relevantes a este sector mostram-se de capital importância para a formulação de
políticas e programas de assistência e desenvolvimento das PMEs no Pais.

Não há unanimidade no que se refere a conceptualização e classificação das pequenas e medias em-
presas, pois que cada país adopta formas particulares e de acordo com suas realidades históricas e de
mercado. Assim torna se necessário recorrer a função de produção Ricardina especificamente Capital
Trabalho e Terra, para permitir aprofundamento de cada fator bem como comparabilidade ao longo
do tempo.

Na literatura encontramos traços preponderantes na análise das PMEs em países no mesmo estágio
de desenvolvimento de Moçambique nomeadamente: gestão informal, escassez de recursos e baixa
qualidade de gestão, fatores que tem que ser melhorados substancialmente no Pais para o desenvol-
vimento possa acontecer.

Decorrente da globalização e suas imposições, o mundo contemporâneo vem assistindo ao desenvol-


ver de situações em que o ambiente no qual actuam as empresas se apresenta de forma cada vez mais
turbulenta e dinâmica em termos de mercados, tecnologias, impactos ecológicos, mudanças politica,
económica, culturais e sociais. Alem disso a competição baseada na inovação derruba, a cada dia,
barreiras tradicionais de comércio e investimentos. É neste contexto que as PMEs procuram competir,
procurando, antes de tudo, assegurar a sua sobrevivência.

Análise do empreendedorismo em Moçambique continua a ser um tema de investigação necessária


e obrigatória para a compreensão dos demais fatores, especialmente os culturais e comportamentais,
que determinam o sucesso ou fraco das PMEs.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios iii
Estou convencido de que este livro será uma obra de referência relevantes para a pesquisa e estudos
sobre o funcionamento e crescimento das pequenas e medias empresas em Moçambique.

Maputo, 2 de Novembro de 2019

Ragendra Berta De Sousa

Ministro da Industria e Comercio

PME
iv Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Dr. Friedrich Sobre o Livro
Kaufmann

Em 2007, na altura da criação do IPEME, o Ministério da Indústria e Comércio (MIC), com apoio da
Cooperação Alemã (na altura GTZ, hoje GIZ), tiveram a iniciativa de compilar os conteúdos e fazer
um manual sobre pequenas e médias empresas (PMEs). Até o ano 2016, este manual serviu como
uma referência em relação à promoção das médias e pequenas empresas, melhoria da transparência
e da informação disponível no sector da economia. Diversas instituições públicas e privadas, como
universidades, doadores, investidores, e também o próprio IPEME usaram o manual para tomar
decisões melhor informadas.

Várias razões motivaram-nos a actualizar este manual em 2016: por um lado, o livro já havia se
esgotado há algum tempo, e por outro as várias mudanças que ocorreram no ambiente de negócios,
nas oportunidades para as PMEs, assim como nas áreas relacionadas. Neste ano 2019 vamos com
o mesmo espirito e dedicação trazer novas perspectivas e novos desafios. Assim sendo, decidimos
publicar mais uma edição actualizada do livro PMEs em Moçambique.

A iniciativa é livre e não remunerada. Tanto nós, os organizadores da edição, como os autores dos
capítulos, participaram sem renumeração, meramente por interesse em contribuir para a promoção
das PMEs, e o crescimento de uma economia mais justa, sustentável e mais inclusiva. Gostávamos de
agradecer a todos que contribuíram para que este manual se tornasse realidade.

ABSA/BARCLAYS como patrocinador do livro fez a produção possível; Muito obrigado!

Todas as opiniões expressas nesta edição são dos autores.

Dr. Friedrich Kaufmann


AHK-Gabinete para o Fomento Económico
Moçambique-Alemanha em Maputo,
CIM-GIZ ExperTS

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios v
Lista de Abreviaturas
ACIS Associação de Comércio, Indústria e Serviços
ADA Austrian Development Agency / Agência Austríaca de Desenvolvimento
ADEL Agência de Desenvolvimento Local
AE Ambiente empresarial
AEA Alfabetização e Educação de Adultos
AHK Auslandshandelskammer / Câmera de Comércio Externo
AIA Avaliação de Impacto Ambiental
AIMO Associação Industrial de Moçambique
AT Assistência Técnica
BAT British American Tobacco
BAU Balcão de Atendimento Único
BDS Business Development Services / Serviços de Desenvolvimento de Negócios
BE Business Environment / Ambiente de Negócios
BMO Business Membership Organizations / Organizações de Associação Empresarial

BMZ Bundesministerium für wirtschaftliche Zusammenarbeit und Entwicklung / Ministério


Federal Alemão para a Cooperação Económica e o Desenvolvimento

BVM Bolsa de Valores de Moçambique


CAC Conselho Alargado de Consulta
CaDUP Cada Província um Produto
CAMEC Central African Mining Exploration Company
CAPEX Capital Expenditure / Despesa de Capital
CASP Conferência Anual do Sector Privado
CDM Cervejas de Moçambique
CdV Cadeia de valor
CE Concessão Empresarial
CFO Chief Financial Officer
CEMPRE Censo Empresarial
CEN Conselho Empresarial Nacional
CEO Chief executive officer
CEP Conselho Empresariaa Provincial
CEPAGRI Centro de Promoção da Agricultura

PME
vi Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
CFIB Canadian Federation of Independent Businesses / Federação Canadiana de Empresas
Independentes
CFM Caminhos de Ferro do Mocambique
CIM Companhia Industrial da Matola
CIN Centro de Informação de Negócio
CMH Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos
CMO Chief marketing officer
COO Chief operating officer
CORE Centro de Orientação ao Empresário
CPI Centro de Promoção de Investimentos
CSR Corporate Social Responsibility / Responsabilidade Social Empresarial
CTA Confederação das Associações Económicas de Moçambique
CTC Centros de Transferência de Conhecimento
CTO Chief technical officer
DANIDA Danish International Development Agency
DASP Direcção Nacional de Apoio ao Sector Privado
DECA Desenvolvimento e Comercialização Agrícola
DERG Grupo de Pesquisa de Economia e Desenvolvimento
DFID Department for International Development
DNEAP Direcção Nacional de Estudos e Análise de Políticas
DPIC Direcção Provincial da Indústria e Comércio
DPP Development Partnership with the Private Sector / Parceria de Desenvolvimento com o
Sector Privado
DPP Dialogo Público Privado
DS Documento Simplificado
DSP Desenvolvimento do Sector Privado
DU Documento Único
DUA Documento Único Abreviado
DUAT Direito de Uso e Aproveitamento da Terra
EMAN Estratégia para a Melhoria de Ambiente de Negócios
EME Escala Mínima de Eficiência
EMOSE Empresa Moçambicana de Seguros
ENDE Estratégia Nacional de Desenvolvimento
ENH Empresa Nacional de Hidrocarbonetos
ENRC Eurasian Natural Resources Corporation

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios vii
EPC Engineering, Procurement and Construction
EPCM Engineering, Procurement, Construction and Management
ERM Enterprise resource management
EU European Union
EUA Estados Unidos da América
FAN Fundo de Ambiente de Negócios
FDI Foreign Direct Investment / Investimento Directo Estrangeiro
FID Final Investment Decision / Decisão Final de Investimento
FMI Fundo Monetário Internacional
FNQ Fundação Nacional da Qualidade
GAIN Global Alliance for Improved Nutrition / Aliança Global para Melhor Nutrição
GAZEDA Gabinete das Zonas Económicas de Desenvolvimento Acelerado
GBF Green Belt Fertilizer
GDP Gross Domestic Product / Produto Interno Bruto
GIRBI Grupo Interministerial de Remoção de Barreiras ao Investimento
GIZ Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit / Agência Alemã para a Cooperação
Internacional
GNL Gás Natural Liquefeito
GoM Government of Mozambique / Governo de Moçambique
GTL Gas-to-Liquids / processo de refinação que converte gás natural em produtos refinados
como gasolina e gasóleo.

HCB Hidroelectrica de Cahora Bassa


HSSE Health, Safety, Security, Environment / Saúde, Segurança e Meio Ambiente

I&D Investigação e Desenvolvimento


ICA Investment climate assessment
ICC International Capital Corporation
ICE Imposto sobre Consumos Específicos
ICG Índice de Competitividade Global
ICT Information and communication technology
IDE Investimento Directo Estrangeiro
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IDPPE Instituto Nacional de Desenvolvimento da Pesca de Pequena Escala
IFC International Finance Corporation
IGC International Growth Centre

PME
viii Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
IIM Inquérito a Indústria Manufactureira
ILO International Labour Organisation / Organisação Internacional de Trabalho
INAE Instituto Nacional de Inspecção de Actividades Económicas
InBM Inclusive business model
INE Instituto Nacional de Estatística
INEFP Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional
INNOQ Instituto Nacional de Normalização e Qualidade
IPAC Instituto Português de Acreditação
IPEME Instituto para a Promoção das Pequenas e Médias Empresas
IPEX Instituto de Promoção de Exportações
IPM Imposto sobre Produção Mineira
IRPC Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas
ISO International Organization for Standardization / Organização Internacional de Normali-
zação
ISPC Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes
ISS Imposto sobre Superfície
IVA Imposto sobre o Valor Acrescentado
KfW Kreditanstalt für Wiederaufbau / Banco Alemão de Desenvolvimento
LNG Liquefied Natural Gas
M&A Monitoria e Avaliação
MCT Ministério de Comunicações e Transporte
MEG Modelo de Excelência da Gestão
MIC Ministério da Indústria e Comércio
MINAG Ministério de Agricultura
MINED Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano
MIS Management information system
MITRAB Ministério de Trabalho
MITUR Ministério de Turismo
MMCF Million Cubic Feet / Milhões de Pés Cúbicos
MPD Ministério de Planificação e Desenvolvimento
MPDC Maputo Port Development Company
MPME Micro, Pequenas e Médias Empresas
MZN Metical Moçambicano
NGO Non-Governmental Organisation

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios ix
O&M Operations & Maintenance / Operações e Manutenção
OCAM Ordem dos Contabilistas e Auditores de Moçambique
OECD Organization for Economic Co-operation and Development
OEM Original Equipment Manufacturer / Fabricante de Equipamento Original
OGE Orçamento Geral do Estado
OIT Organização Internacional de Trabalho
OMR Observatório do Meio Rural
OPEX Operating Expenses / Despesa Operacional
PALOP Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
PARP Plano de Acção para a Redução da Pobreza
PARPA Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta
PES Plano Económico e Social
PGC-NIRF Plano Geral de Contabilidade para Empresas de Grande e Média Dimensão
PGCPE Plano Geral de Contabilidade para as Pequenas e Médias Empresas
PGD Projectos de Grande Dimensões (Mega-Projectos)
PIB Produto Interno Bruto
PME Pequenas e Médias Empresas
PPP Purchasing Power Parity
PPP Parcerias Público-Privada
PQG Plano Quinquenal do Governo
PSWG Private Sector Working Group / Grupo de Trabalho Sector Privado
R&D Research & Development / Pesquisa & Desenvolvimento
ROCE Return on Capital Employed / Retorno sobre o Capital Empregue
RH Recurso Humano
SADC Southern African Development Community / Comunidade para o Desenvolvimento da
África Austral
SAEF South African Excellence Foundation
SDC Swiss Development Cooperation / Cooperação Suíça para o Desenvolvimento

SFD Serviços Financeiros Digitais


SNV Stichting Nederlandse Vrijwilligers / Organização Holandesa de Desenvolvimento

SOGA Skills for Oil and Gas / Competências para Petróleo e Gás África
SPEED Support Programme for Economic and Enterprise Development
TBT Technical Barriers to Trade / Barreiras Técnicas ao Comércio

PME
x Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
TVET Technical and Vocational Education and Training /Ensino Técnico Profissional e Voca-
cional
UMC Unidade de Mecanismos Consultivos
UNIDO United Nations Industrial Development Organization / Organização das Nações Unidas
para o Desenvolvimento Industrial

USAID Agência dos Estados Unidos da América para o Desenvolvimento Internacional


WEF World Economic Forum
WMS Word Management Survey
ZEE Zonas Económicas Especiais
ZFI Zonas Francas Industriais

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios xi
Contribuintes e
Contactos
Aparício, Bernardo: Economist, currently Head of Corporate and Investment Banking in Absa Mo-
zambique.
Contacto: bernardo.aparicio@absa.africa

Diniz, Laura: Grupo Banco Mundial,


Contacto: Ldiniz@worldbank.org

Gardner, Pippy: Agricultural value chain specialist, currently managing NCBA CLUSA’s Agri-business
Unit.
Contacto: pippygardner@gmail.com.

Hovens, Dr. Frans: Mestrado em História e Mestrado em Filosofia (Nijmegen - Países Baixos), Doutora-
do em Filosofia (Leiden - Países Baixos). Trabalhou como investigador científico em Leiden, desde 1996
que vive em Moçambique. Trabalhou como consultor numa série de projectos de desenvolvimento
(OIT, UNIDO, entre outros) em Moçambique. Em 2004 estabeleceu a agência de tradução Bestext e
desde então trabalha como tradutor.
Contacto: fhovens@clubnet.co.mz; bestext@gmail.com

IdeiaLAB: Tatiana Pereira | Executive Catalyst


Av. Paulo Samuel Kankhomba, 216 | Maputo | Moçambique
Contacto: tatiana.pereira@ideialab.biz

IPEME: Direcção Geral e Equipa Técnica


IPEME – Av. 25 de Setembro, n°1509, 1° Andar, Maputo
Contacto: Tel: (+258) 21305626, Cell/Whatsapp: (+258) 82 3562923,
Email: info.ipeme@ipeme.gov.mz
Portal: www.ipeme.gov.mz/ www.mic.gov.mz

José, André Cristiano: Advogado. Tem mais de 15 anos de trabalho como consultor e investigador
na área do direito e da sociologia do direito. Experiência na elaboração de propostas de legislação,
análise de políticas e avaliação de programas na área da justiça, e planificação estratégica. Realizou
trabalhos em Moçambique e Angola. Alguns dos seus trabalhos foram publicados em Moçambique no
estrangeiro.
Contacto: infulene@gmail.com

Kampfer, Konstanze: é coordenadora da initiativa CREATEC. Sra Kampfer é mestrado em Geografia,


Etnologia e Economia de Recursos Naturais, ela trabalhou 10 anos em Moçambique na Gestão de
Risco de Calamidades e ocupa desde Janeiro 2017 o cargo da Directora do Centro Cultural Moçambi-
cano-Alemão (CCMA), GOETHE-ZENTRUM Maputo.
Contacto: Konstanze@ Kampfer.net

Kaufmann Dr., Friedrich: Economista, trabalhou mais de 10 anos em Mocambique entre outros na
Universidade Católica como director da faculdade de Economia, como consultor e na GIZ como coor-
denador do projecto no MIC. Actualmente representa a AHK em Moçambique, o gabinete para o fo-
mento económico Moçambique-Alemanha em Maputo como perito GIZ-CIM ExperTS.
Contacto: friedrich.kaufmann@gmx.net; maputo@germanchamber.co.za

Nieradtka, Kurt: Gerente no sector privado. Economista, Mestre em administração de empresas. Ges-
tor de projetos para KfW, BID e UE.
Contacto: gssa@outlook.com

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios xiii
Parlmeyer, Willy: Economista, trabalhou mais de 10 anos em Moçambique, entre outros na Socremo,
UNIDO, GIZ, CE. Actualmente trabalha como consultor independente.
Contacto: wparlmeyer@gmx.de

Peão Lopes, Taciana: Advogada com mais de 17 anos de trabalho nas áreas de Direito Público e Regulatório,
designadamente no domínio do Direito da Energia, Recursos Naturais e Infra-estruturas, Concessões,
Parcerias Público-Privadas e também nas áreas de Ambiente e Terras. É sócia fundadora da sociedade de
advogados TPLA – Taciana Peão Lopes e Advogados Associados.
Contacto: taciana@tpla.co.mz

Sengo, Eduardo: Economista, trabalhou 5 anos na Direcção de Estudos e Análise Económica no Ministério
das Finanças em Moçambique. Passou 2 anos como assessor económico da CTA-Confederação das
Associações Económicas de Moçambique, organização representante do Sector Privado Empresarial.
Actualmente trabalha como Gestor da Unidade de Estudos e Análise Económica.
Contacto: esengo@cta.org.mz ou eduardsengo@yahoo.com.br

Vandenberg, Paul: Consultor, Business Environment Working Group, Committee of Donor Agencies for
Small Enterprise Development (CDASED), traducido por Joaquim Fale (†).
Contacto: vandenberg500@hotmail.com; hanabeeconsulting@gmail.com

Vieira, Marilina: Grupo Banco Mundial


Contacto: mvieira1@worldbank.org.

Vletter de, Fion: Independent consultant based in Mozambique since 1989, specializing in agricultural and
rural finance, agricultural value chains and private sector development.
Contacto: fion333@mail.com.
Índice
PMEs em Moçambique \ Situaçao e Desafios
Prefácio ............................................................................................................................................................................ iii
Ministro Dr. Ragendra

Sobre este Livro .......................................................................................................................................................... v


Dr. Friedrich Kaufmann

Lista de Abreviaturas ............................................................................................................................................... vi

Lista de Contribuintes ............................................................................................................................................ xiii

1. Política Centrada nas Micro, Pequenas e Médias Empresas: Situação, Justificação e


Desafios; .......................................................................................................................................................................... 1
Friedrich Kaufmann; AHK ExperTS

2. A Relevância da Dimensão da Empresa para a Reforma do Ambiente Empresarial; .......... 19


Paul Vandenberg; Consultor

3. O Perfil das PME´s em Moçambique; .............................................................................................................. 37


IPEME

4. Enquadramento Legal das PME´s: Regime específico das Pequenas e Médias Empreas
na Legislação Moçambicana; ............................................................................................................................. 53
Taciana Peão Lopes & André Cristiano José; Taciana Peão Lopes e Advogados Associados

5. Ambiente de Negócios e Competitividade das PME´s ......................................................................... 77


5.1 Dialogo Público-Privado, Ambiente de Negócio e Competitividade das PME; ..................... 77
Eduardo Sengo; CTA

5.2 Doing Business em Moçambique 2019 – Comparando a regulamentação de negócios


para empresas nacionais em 10 províncias com outras 189 economias ................................ 87
Carolin Geginat Worldbank

5.3 Capacitar as PME Moçambicanas para fornecer as grandes cadeias de valor ....................... 95
Bernardo Aparício, ABSA Barclays

6. Financiamento e Serviços financeiros para PME´s ...................................................................... 99


6.1 As Particularidades do Acesso ao Crédito para PME´s ............................................................. 99
Friedrich Kaufmann, AHK; Willy Parlmeyer; Consultor

6.2 Produtos Financeiros e Incentivos disponíveis para o Sector Agrícola de Moçambique .. 107
Fion de Vletter; Gardner, Pippy, Consultores

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios xv
7. Temas Seleccionadas ............................................................................................................................................... 139
7.1. Desafios em gestão e organização de agro-PMEs e MPMEs e suas implicações para
serviços de fortalecimento de capacidades de gestão em Moçambique ................................ 139
Kurt Nieradka, Consultor

7.2. Indústria criativa: CREATEC - uma iniciativa inovadora para Moçambique ............................ 155
Konstanze, Kampfer; CCMA, Friedrich, Kaufmann; AHK

7.3. O emergir de um ecosistema empreendedor em Moçambique - a experiência


da ideiaLab .............................................................................................................................................................. 161
Equipa IdeiaLAB

PME
xvi Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Friedrich POLÍTICA CENTRADA
Kaufmann, NAS MICRO, PEQUENAS
AHK
E MÉDIAS EMPRESAS
Situação, Justificação e Desafios 1
Capítulo 1

1. Ponto de Partida
O sector das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) é um contributo importante e um seg-
mento imprescindível para o desenvolvimento económico e social. Em muitos países, ao longo das
últimas décadas, o sector tem sido o principal motor do crescimento, forma redes e cadeias de valor
com grandes empresas e é visto como um dinamizador do emprego, da produção e da exportação.
Nos países em desenvolvimento, estas empresas também são vistas como um instrumento importan-
te para a erradicação da pobreza.

Os processos da globalização e da informatização da economia constituem uma melhor oportunida-


de para o crescimento da economia dos países em via de desenvolvimento. Mas, apesar do crescimen-
to, também aparecem novos desafios, tais como:

∞ a distribuição desigual de rendimento e da riqueza,


∞ a pobreza,
∞ as condições básicas de segurança social
∞ mudança do clima e
∞ o desemprego em amplos sectores da população.
Por conseguinte, torna-se necessário consolidar as reformas económicas em consonância com a
questão da equidade social e da inclusão (Piketty 2014) e assim da prosperidade das MPMEs.

Para Moçambique alcançar os seus objectivos sociais e económicos, o sector das MPMEs - além dos
mega projectos - deve tornar-se num dos principais contribuintes para a economia do país. Durante a
última década tem sido devotada uma atenção crescente ao sector, que culminou com a elaboração
do Estatuto das MPMEs e do primeiro plano estratégico de cinco anos elaborados em 2007. A Estratégia
de Desenvolvimento das MPMEs (2007-2012) procurou abordar sete principais constrangimentos (…
todos ainda validos ate hoje!):

1. Barreiras regulatórias
2. Falta de acesso ao financiamento
3. Baixa qualificação da força de trabalho
4. Carga fiscal e custo dos procedimentos elevados

1 O artigo baseia-se no capítulo 1 do livro MIC (2016): Pequenas e Medias Empresas em Moçambique, Maputo.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 1
5. Fraco acesso aos mercados
6. Falta de ligações horizontais e verticais entre empresas
7. Falta de espírito empreendedor
Como motor da implementação da Estratégia, o Governo criou o Instituto para a Promoção das Pe-
quenas e Médias Empresas (IPEME) através do Decreto n.˚ 47/2008, de 3 de Dezembro, como a enti-
dade pública que tem a responsabilidade não só de assegurar a implementação da Estratégia para o
Desenvolvimento das MPMEs, mas também acções de promoção e dinamização das MPME’s.

As atribuições estatutárias do IPEME, enquanto instituição pública, não só dinamizam a sua visão “Ser
a plataforma institucional para promoção das micro, pequenas e médias empresas em Moçambique”
e a sua missão “Incentivar a implantação, consolidação e o desenvolvimento das micro, pequenas e
médias empresas”, mas também invocam os valores “Excelência, Ética, Assistência, Eficiência, Compe-
titividade, Empreendedorismo, Parceria”.

Também, o antigo Programa Quinquenal do Governo faz referência a este segmento da economia
nacional: “O Programa Quinquenal do Governo (PQG) prevê no âmbito do Vector Desenvolvimento
Económico e dentro do sub-vector “Desenvolvimento do Empresariado Nacional”, através do objecti-
vo estratégico “ter um empresariado nacional forte, dinâmico, competitivo e empreendedor ….” a ne-
cessidade prioritária de “implementar a estratégia de desenvolvimento das micro, pequenas e médias
empresas, promover o surgimento e desenvolvimento de empresas de micro, pequena e média di-
mensão através de formas adequadas de apoio organizacional….e implementar ….. assistência técnica
e financeira empresariais” (veja também capitulo 3 para conhecer o trabalho actual do IPEME).

2. A Necessidade de um Sector de MPMEs Próspero


Como resultado do estabelecimento de uma série de mega projectos, baseados na exploração de
recursos naturais sem muita ligação com a economia nacional, a contribuição das MPMEs para a eco-
nomia moçambicana é ainda relativamente baixa. Estes projectos têm revelado a falta de competitivi-
dade do sector das MPMEs, com poucas empresas capazes de oferecer produtos e serviços conforme
os requeridos, resultando na perda de significativos volumes de negócio potenciais para competidores
estrangeiros ou as respectivas importações. Perante esta realidade, urge a necessidade de criar novas
empresas e emprego e tornar as pequenas e médias empresas existentes mais competitivas.

O crescimento de um sector MPME competitivo e saudável é, portanto, uma prioridade fundamen-


tal para o país, tanto da perspectiva da microeconomia como da macroeconomia. Este crescimento
será maximizado quando houver uma forte cultura empresarial em todos os níveis da sociedade, um
crescimento contínuo do número de empresas competitivas e um meio envolvente económico e
social que suporte este desenvolvimento. Estas são as áreas chave gerais para o desenvolvimento de
políticas.

O apoio ao sector não só era um elemento essencial da estratégia de redução da pobreza do governo,
PARP (2010-2014) e os antecessores, as PARPAs, mas também joga um papel importante nas Estraté-
gias diversas actuais do país e na Estratégia Nacional de Desenvolvimento (2015-2035).

PME
2 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
3. Elementos de uma Política das PMEs nos Países em Desenvolvimento
3.1. Características quantitativas e qualitativas das PMEs

Características quantitativas

Uma definição da pequena e média empresa é feita de acordo com o nível de seu desenvolvimento
e dos objectivos políticos para a facilitação das pequenas e médias empresas nos limites de um dado
país ou de uma dada economia nacional. As empresas variam consideravelmente, tanto no tamanho
como na estrutura, em função do nível de desenvolvimento de uma economia nacional. Assim, será
importante elaborar uma definição adequada para poder definir políticas das “PMEs” (Hauser 2005).
Internacionalmente, muitas vezes o tamanho duma empresa é definido com base no número dos
trabalhadores ou das receitas, mas também pode ser baseado no capital aplicado ou do “market share”
por exemplo, porém, é necessário tratar criticamente a noção do tamanho da empresa (Vandenberg,
2005). O tamanho e a estrutura das empresas dos países industrializados e das em vias de desenvolvi-
mento não são comparáveis. Nem existe uma relação ou um padrão ideal.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 3
Grande
Pais Micro Empresa Pequena Empresa Média Empresa
Empresa

Austrália 1-19 trab. 20-200 trab.


500 e mais
Alemanha 1-99 trab. 100-499 trab.
trab.
Áustria CE recomendação
Indústria – 19 trab. – 99 trab.
Comércio – 9 trab. – 49 trab.
Brasil, SEBRAE Serviços – 9 trab. – 49 trab.
Venda anual até Venda anual até
169.000 US$ 833.000 US$
500 e mais
Canadá 1-4 trab. varia com sector 100-499 trab.
trab.
definição standard:
até 81.000 US$ até 844.000 US$ até 3.380.000 US$
Chile vendas por ano vendas por ano vendas por ano
para programas:
até 9 trab. até 49 trab. até 199 trab.
– até 250 trab.
– até 10 trab. – até 50 trab.
– até 50 Mio
– até 2 Mio Euro – até 10 Mio Euro
CE Euro vendas por
vendas por ano, critério vendas por ano,
ano, critério de
de balanço critério de balanço
balanço
Indústria – até 10 trab. – até 50 trab – até 250 trab.
México Comércio– até 10 trab. – até 30 trab. – até 100 trab.
Serviços – até 10 trab. – até 50 trab. – até 100 trab.
Roménia,
Eslováquia, CE recomendação
Espanha etc.
Ruanda até 10 trab até 30 trab até 100 trab
Suíça até 9 trab.. até 39 trab. até 249 trab
Tanzânia até 4 trab. 5-49 trab. 50-99 trab. 100 e mais

Tabela 1: Definições MPME no mundo, Fonte: OECD 2008, pesquisa na Internet

Em Moçambique, ainda existem diferentes definições de tamanho de empresas. Por exemplo: O Insti-
tuto Nacional de Estatística (INE) considera uma pequena empresa aquela que emprega entre 1 a 9 tra-
balhadores e a média empresa aquela que emprega entre 10 a 99 trabalhadores. Ministérios e institui-
ções também usam outras definições ou limites para definir politicas, por exemplo nas leis e decretos.

Em Moçambique, no ano 2011, o Estatuto Geral das MPME foi aprovado. O Estatuto de 2011 define
as MPME em termos de volume de negócios e do número de empregados, como ilustrado na tabela
abaixo.

PME
4 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Classificação Número de Trabalhadores Volume de Negócios (MZM)

Micro Empresa 1-4 <1,200,000.00

Pequena Empresa 5 - 49 1,200,000.00 ≤14,700,000.00

Media Empresa 50 - 100 14,700,000.00 ≤ 29,970,000.00


Tabela 2: Definição das MPME2

Além da PME, também merece uma particular atenção o sector informal ou a “empresa familiar” em
Moçambique, que é reconhecido na estabilização e como contribuinte no crescimento das econo-
mias africanas e dos países em desenvolvimento em geral.

Características qualitativas

As características quantitativas são as que melhor distinguem a pequena da média empresa. Uma
PME caracteriza-se fundamentalmente por uma forte prontidão de enfrentar o risco, flexibilidade no
mercado e desempenho. Existe uma relação de interacção directa entre o gestor e a empresa, isto
é, o gestor é normalmente o próprio dono da empresa. Todas as decisões vitais da organização e o
funcionamento da empresa são da responsabilidade do próprio dono. Numa PME, as relações entre os
trabalhadores e o patronato são de carácter pessoal e directo.

As consequências económicas das características qualitativas reflectem-se muitas vezes na escolha de


formas jurídicas, na gestão de financiamentos, nas acções de inovação, e na actividade política local,
por exemplo, nos círculos eleitorais. Em geral, nas PMEs as transacções acarretam menos custos inter-
nos (os chamados custos do “principal - agent”, conhecido como “principal - agent problem”).

Para fins práticos, as características qualitativas, muitas vezes, são mais importantes do que as
quantitativas. O tamanho em si não explica tudo sobre a empresa, porque tudo depende do sector e
do nível do desenvolvimento da economia e de outras estruturas dominantes.

3.2. Fundamentação para uma Política de Facilitação das PMEs

Através de uma política adequada de facilitação, as pequenas e médias empresas podem contribuir
grandemente para o desenvolvimento do país nos aspectos económicos, sociais e sócio-políticos,
como a seguir se fundamenta: A melhor política para PMEs é sempre e primeiro definir uma boa
política económica geral. No entanto, para a definição de uma política adequada não existe uma
estratégia ideal, nem uma opinião uniforme. Devia ser sempre uma estratégia elaborada num diálogo
com o sector privado que trabalho no respectivo ambiente de negócio, incluindo representantes das
PMEs.

Criar condições favoráveis para o sector privado em geral é o grande desafio e a grande necessida-
de em Moçambique desde há muito. (Kaufmann 2005, LaFleur 2006, APRM 2009, KPMG 2011, CTA e
Speed USAID 2014, Baker Tilly 2014, World Bank – Doing Business 2018, IPEME 2015, Roisin 2015, Bal-
chin et al. 2017). È uma condição absolutamente necessária para a prosperidade e a criação de PMEs).
O ambiente de negocio ainda não esta favorável para PMEs. È ou seria uma condição absolutamente
necessária para a prosperidade e a criação de PMEs. Isto inclui um acesso justo e transparente aos fac-
tores de produção e os mercados (level playing field). Ainda há restrições tanto no acesso ao capital, a
terra e trabalho como aos mercados de venda (APRM 2009; Krause, Kaufmann 2011; Leyy 2013).

Uma política específica das PMEs deve ser tratada de forma crítica e com muito cuidado (White 2005),

2 O critério do volume de negócios prevalece sobre o critério do número de trabalhadores.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 5
na base de conta própria, maior é a auto-responsabilização, auto-formação, criatividade, prontidão de
enfrentar o risco e, por conseguinte mais fortes são as estruturas descentralizadas. As agências e as
associações, assim como a actividade por conta própria, são partes fundamentais de uma sociedade
livre e constituem elementos que favorecem a criação de espaços propícios para a iniciativa privada
(Zeitel 1990, p. 39).

Função política e económica

Em muitos países, por vezes torna-se primeiramente necessária a criação de um ambiente de econo-
mia de mercado e sua estabilização. Os princípios dominantes da economia de mercado (propriedade
privada, competição e formação livre de preços) são muitas vezes ameaçados pelas fortes actividades
do Estado, pela corrupção e pelo burocratismo. No campo da competição no mercado, as pequenas
e médias empresas jogam um papel fundamental. A recolha de informação, a descentralização de
decisões, a iniciativa própria, a propensão de enfrentar o risco e a divisão do poder do mercado são
feitas com a participação de uma série multidão de pequenos e médios empresários e pessoas que
trabalham por conta própria. Ao passo da crescente concentração reduz-se, em contrapartida, a elas-
ticidade de adaptação às mudanças estruturais. As estruturas empresariais descentralizadas são flexí-
veis e decidem com rapidez sobre o tipo e a dimensão da produção, o local de produção, as técnicas
de produção etc., reduzindo os riscos relacionados com os erros de alocação. Nos países em vias de
desenvolvimento, muitas vezes caracterizados por sistemas inflexíveis e por uma fraca capacidade de
adaptação, os atributos acima mencionados têm maior peso para a renovação da economia nacional.
Também no interesse de construção de relações de vidas igualitárias, as pequenas e médias empresas
desenvolvem actividades que contribuem para a redução da desigualdade social. Elas contribuem para
a redução das assimetrias no que diz respeito às possibilidades e às oportunidades de emprego, ao
consumo, à distribuição do rendimento, à disponibilização de infra-estruturas e dos serviços.

Função Socio-político

A crescente desigualdade da distribuição de rendimento e da riqueza bem como o alastramento da


pobreza para os sectores mais amplos da população, constituem um problema central dos países em
via de desenvolvimento. Apesar do sucesso que se vai alcançando ao nível da economia, a vida da
maioria das camadas sociais da população não melhorou, e em alguns casos segue até uma nova
manifestação da pobreza. Por conseguinte, a tarefa da política orientada para a promoção da peque-
na e média empresa deve induzir que amplas camadas da população tenham acesso ao emprego,
assim melhorando os seus rendimentos. Com o melhoramento do ambiente envolvente e das infra
-estruturas para o funcionamento das PME’s, criam-se as condições para a expansão das pequenas e
médias empresas e, consequentemente, a geração de emprego. (Kaufmann; Simons-Kaufmann 2015).
É importante realçar que, nas pequenas empresas, cujos proprietários são conhecidos localmente,
os constrangimentos de procura de trabalho em regime parcial são reduzidos. No mesmo tempo, a
política centrada na pequena e média empresa deve proporcionar um clima que facilita a economia
informal e possibilita aos trabalhadores a passagem para actividades por conta própria formais. Assim,
estes não só criam emprego para si próprios, mas também criam oportunidades para o surgimento de
mais postos de trabalho e um maior dinamismo no mercado de trabalho.

3.4 Distorção dos mercados e a necessidade de uma política específica das PMEs

Quando os mercados não funcionam ou funcionam de forma distorcida, é importante que sejam
identificados os obstáculos que impedem o funcionamento saudável deles especialmente aqueles
obstáculos que afectam as pequenas e médias empresas. Para o efeito, deve-se introduzir medidas
correctivas e criar condições próprias para o desenvolvimento das PMEs, procurando legitimar a for-
mulação de uma política económica adequada e criando um ambiente próprio para a actuação das

PME
6 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
empresas de pequeno e médio porte. Mas, antes das medidas intervencionistas do Estado, é preciso
questionar se existem partes externas que prejudicam o funcionamento dos mercados, de inovação,
financeiros, de criação de novas empresas e de mercados de trabalho. Por consequência, as PMEs
recorrem, como alternativa, às fontes do mercado informal, uma vez que os mercados abertos não
oferecem os recursos necessários que o empresário procura. Não é por acaso que, nos países em
desenvolvimento, até grandes empresas se criam na base de laços familiares ou de parentesco. Elas
substituem os mercados abertos ineficientes através da internalização (Leff 1979).

São discutidas, muitas vezes, motivos para subsidiar as PMEs em busca de efeitos externos positivos
para uma economia (USAID 2006, Kaufmann 1995):

O argumento da inovação

A investigação e a capacidade de inovação não são um fim em si. A inovação em matéria dos produtos
e processos deve contribuir e promover a mudança estrutural dos países em vias de desenvolvimento,
com vista a alcançar a competitividade internacional, o bem-estar e um alto grau de ocupação da
população. As questões que se podem colocar em relação às PMEs são as seguintes:

∞ As pequenas e médias empresas são tão inovativas como as grandes empresas?


∞ As pequenas e médias empresas enfrentam maiores problemas na aplicação das inovações
que as grandes empresas?
∞ Podem as PME’s recorrerem aos recursos financeiros e know-how no mercado?
Em relação à primeira questão, seria demasiado simplista considerar que existe uma relação mono-
causal entre o sucesso de um processo de inovação e o tamanho de uma empresa. Contudo, a expe-
riência empírica mostra muitas vezes que as PMEs desenvolvem e implementam inovações de modo
muito mais rápido, flexível, adequado ao mercado e de uma forma comprometida relativamente às
grandes empresas. Por outro lado, é frequente apenas as grandes empresas terem a capacidade para
o desenvolvimento de novos produtos (ex. farmacêutico, automóvel etc.).

Em relação à segunda e a última questão, torna-se necessário verificar se as PMEs estão em condi-
ções de autofinanciar as suas inovações ou de assumir os problemas estruturais. Uma assimetria na
informação, sobretudo nos mercados de capital, fracamente evoluídos, dos países em desenvolvi-
mento, faz com que as PMEs não sejam suficientemente financiadas. Isto resulta da descapitalização
e em particular da falta de capital de risco para financiar as inovações através do venture capital ou
do mercado de bolsa de valores (OECD 1995, p. 56 seg., Beck et al. 2011). Com frequência, estes seg-
mentos de mercado não estão devidamente desenvolvidos ou não funcionam de forma eficiente. Por
consequência, primeiro é necessário criar condições para um adequado funcionamento dos merca-
dos, antes de se pensar numa participação do Estado no financiamento das inovações como estímulo
para a actividade das pequenas e médias empresas. (As contribuições no capitulo de Financiamento
vão tratar destes temas).

O argumento da concorrência e as estruturas do mercado

Nos países em desenvolvimento, por muito tempo as economias estiveram organizadas segundo os
princípios socialistas ou de substituição de importações, enquanto as estruturas do mercado não fo-
ram estimuladas. Estas baseavam-se na competição, operando-se em muitos casos por uma forte
concentração dos processos económicos. Para viabilizar as novas realidades e processos económi-
cos, precisa-se em primeiro lugar da criação de mercados dinâmicos e competitivos (OECD 1995). È
importante eliminar as barreiras para o acesso aos mesmos, (por exemplo, a desregulação) e poder
contribuir para promover um ambiente competitivo e dinâmico num adequado regime de concorrên-
cia. Neste contexto, é recomendável tentar transferir e integrar mais o sector informal nos mercados

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 7
abertos formais. A constituição de novas empresas contribui para uma renovação e revitalização dos
mercados. É um processo de expansão da economia e realiza a função política e social. Com efeito,
em muitos sectores de economia, a formação de novas empresas permitirá um melhor aproveita-
mento das potencialidades, a incrementação da competitividade e a possibilidade de adaptação nos
mercados. Outra estratégia pode ser a subcontratação ou a externalização de funções das PME pe-
las grandes empresas. É também necessário, com base na experiência dos países industrializados na
constituição de novas empresas com tecnologias inovadoras (por exemplo, no sector da informática),
reconhecer que podem surgir problemas em consequência de uma inadequada informação sobre os
mercados e as suas regras, resultando num aumento dos custos financeiros. Portanto, é fundamental
analisar se a conjunção entre mercados permite superar os riscos ou se estamos em presença de uma
distorção que inibe a formação de novas empresas.

Assim, a criação de um ambiente propício para as PMEs, a simplificação do processo de criação de


novas empresas e o fornecimento, qualitativo e quantitativo, de informações torna-se essencial. (Van-
denberg 2005, World Bank 2006, CTA 2004, APRM 2009, WEF 2015).

O argumento da criação de postos de trabalho

Moçambique enfrenta o problema de escassez de capital e um elevado nível de desemprego. Perante


esta realidade, é de interesse saber até que ponto as pequenas e médias empresas podem contribuir
para a criação de um maior número de postos de trabalho competitivos, com menos custos em com-
paração com as grandes empresas. Estudos empíricos confirmam este paradigma, pelo menos parcial-
mente (Nelson 1987, Vandenberg 2005).

Na maioria dos países em desenvolvimento, a pobreza resulta da falta de uma base sustentável de
segurança social e de elevados níveis da falta de ocupação da população, o que constitui um sério
problema de reestruturação e de abertura de mercados. Para combater a pobreza e criar uma maior
desconcentração de rendimento, é necessário estimular uma maior oferta de empregos, internacio-
nalmente competitivos, e a transição do sector informal para uma actividade legalizada. Novas formas
organizacionais de um sector moderno de pequenas e médias empresas de serviços ou da criação de
novas empresas a partir de outras, já existentes, podem ser o objectivo de uma política, centrada nas
PMEs, focalizando no crescimento com impacto positivo no mercado laboral. É claro que o crescimen-
to económico tem um impacto positivo para a criação de emprego e a redução da pobreza e que as
PMEs desempenham um papel importante neste contexto (Beck. et al. 2004, 2011).

3.5 Fortalecimento das PMEs como equidade no acesso às oportunidades

A fundamentação de uma política das PMEs na base da igualdade no acesso à oportunidade é um ar-
gumento perigoso. A ordem e as condições envolventes de uma economia, orientada para o mercado,
deveriam ser iguais para todos os participantes, isto é, ser as mesmas independentemente do tamanho
da empresa e oferecer uma competição transparente na base do desempenho económico.

Cada empresa tem suas vantagens e desvantagens conforme o seu tamanho. Por exemplo, uma em-
presa de grande tamanho tem altos custos de organização interna, porém, em contrapartida, uma
pequena empresa pode ter maiores custos de produção por unidade, porque não tem efeitos de eco-
nomia de escala.

Muitas vezes, a dominância das empresas públicas, as influências das multinacionais e das grandes
empresas nacionais faz com que as PMEs sejam consideradas como empresas da segunda classe
(Neck 1987, p. 18). Como resultado disso, as pequenas e médias empresas e, especialmente, os em-
preendedores são prejudicados no tratamento fiscal, no direito de competição, no sistema das finan-
ças, no jogo de procurement, na adjudicação de encomendas e nas obras públicas. As fortes ligações
entre a grande indústria e o Estado, a fraca capacidade de desencadear lobby por parte das PMEs nos

PME
8 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
países em desenvolvimento também contribuem para esta situação. Antes de se pensar em medidas
de promoção dos desfavorecidos, atacar as causas desta situação, bem como a mudança das con-
dições do ambiente envolvente conducente a criação de igualdade de oportunidades, deveria ser a
prioridade de ordem política.

4. Funções de uma política específica das PMEs e o que podem fazer os


próprios empresários
Em relação à abertura e à reforma da economia nos países em desenvolvimento, existe um consenso
de que as vantagens comparativas salariais só por si não são suficientes para ganhar a competitividade
internacional. Na actualidade, a qualidade do produto, a sua entrega em tempo oportuno, a agressi-
vidade de marketing, a adaptação às tendências da moda, a compatibilidade, o empacotamento, a
observação de normas e das técnicas, a sustentabilidade etc., têm um grande significado e ganham
cada vez mais importância nos países industrializados (IPEME 2015). As diferenças entre os níveis de
desenvolvimento dos países implicam diferentes perspectivas. A longo prazo, os aspectos abaixo des-
critos serão sem dúvida importantes para as PMEs e exigirão uma iniciativa empresarial:

∞ Desenvolvimento de novos conceitos em matéria de logística e de produção para aumentar a


competitividade. Muitos países fracassarão em parte por falta de infra-estrutura de transporte
e de comunicações (IT) adequadas;
∞ Na actualidade, os conceitos em matéria de gestão de produção e de estratégia de mercado
na maioria de empresas, orientam-se muito mais pela redução de preços e muito menos pela
qualidade do produto produzido. Isto é importante, não só para aumentar a capacidade de
exportação, mas também para cumprir com os padrões de controlo de qualidade perante as
crescentes exigências em termos de qualidade e para aproveitar oportunidades de linkages
(veja capitulo XX). Torna-se então necessário uma maior atenção na questão da qualidade e
do serviço, optimizando a gestão de marketing e as capacidades do pessoal;
∞ Uma melhor utilização dos recursos e uma menor contaminação do ambiente, aplicando os
conceitos de “lean production” e “total quality management”, exige um novo estilo de con-
dução, incentivos do pessoal e medidas de capacitação. É preciso modernizar culturas empre-
sariais tradicionais.
∞ Não está adequadamente difundido o uso de processos modernos de produção. Tanto para
uma imitação criativa, assim como para um “up-grading” de tradicionais processos artesanais
e de produção, é essencial demonstrar as técnicas de produção mais eficientes e o uso de
tecnologias mais inovadoras, incluindo informática se for aplicável. Mesmo assim, o uso se
máquinas usadas pode ser uma alternativa interessante para PMEs;
∞ As formas organizacionais devem ser mais flexíveis e eficientes, de tal forma que promovam
diferentes possibilidades de cooperação empresarial, como redes integradas e nichos secto-
riais (Kaufmann 1996). Tanto no caso da racionalização como no da expansão com vista à
exportação, existe a possibilidade de recorrer à estruturas cooperativas para reduzir as desvan-
tagens inerentes ao mesmo tamanho da empresa;
∞ Melhor auto-organização e cooperativismo dentro do sector privado, tanto para o diálogo
com o sector público bem como com a divulgação da informação, oferecimento de serviços
e redução de custos.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 9
5. Abordagem das Pequenas e Médias Empresas no Contexto de uma Política
de Desenvolvimento
Na fase de transição, os Estados concentram maior atenção nas reformas públicas e macro-econó-
micas. Urge agora dedicar maior atenção na especialização das economias das PMEs para a aquisição
activa de vantagens competitivas. Muitas vezes, os empresários não se encontram em condições de
implementar, por si sós, as mudanças pertinentes e necessitam de serem integrados no sistema global,
permitindo-os desenvolverem-se em liberdade na busca de vantagens competitivas na questão de
custos e competências em função dos seus planos microeconómicos. As pequenas empresas sofrem
mais das deficiências do sistema em relação às grandes empresas e a comparação deve nos conduzir
à questão de saber até que ponto as PMEs podem ganhar com a redução dos constrangimentos deste
fenómeno.

Ao nível da média-esfera (meso), isto implica a capacidade de aprendizagem e de consenso. Este pro-
cesso, como mostra a experiência dos países latino-americanos nas décadas de 70 e 80 (Esser/Hille-
brand 1994), deve também ser acompanhado por uma política macro-económica sólida e orientada
para a estabilidade. Os esforços de flexibilização e modernização das empresas devem ocorrer em
condições macro-económicas confiáveis, com infra-estruturas e instituições adequadas.

A estruturação da dimensão meso no contexto macro-económico determina em parte a competitivi-


dade e o desenvolvimento industrial das PMEs. Trata-se de desenvolver uma estrutura institucional efi-
ciente, assim como uma capacidade de estreita interacção entre agentes privados e públicos, criando
originado
uma em torno
“competência do Estado.(Esser/Hillebrand
sistemática“ Esta tarefa de criar1994,um ambiente
p.18) competente
que substitua e profissional
a anterior concentração não é
ori-
apenas responsabilidade do Estado. Com efeito, este processo também diz respeito às
ginado em torno do Estado. Esta tarefa de criar um ambiente competente e profissional não é apenas organizações
não-governamentais,
responsabilidade assim Com
do Estado. comoefeito,
às empresas, aos municípios,
este processo também diz às associações
respeito empresariais,
às organizações aos
não-go-
sindicatos que actuam a nível local, regional e nacional e aos parceiros de cooperação.
vernamentais, assim como às empresas, aos municípios, às associações empresariais, aos sindicatos A criação de
estruturas, destinadas a promover o crescimento, a produção e a competência, beneficia
que actuam a nível local, regional e nacional e aos parceiros de cooperação. A criação de estruturas, também as
PMEs, que não deveriam ser discriminadas, mas consideradas elemento essencial de
destinadas a promover o crescimento, a produção e a competência, beneficia também as PMEs, quedesenvolvimento.
não deveriam ser discriminadas, mas consideradas elemento essencial de desenvolvimento.

Nivel Meta Nivel Macro

Factores socioculturais altitudes e valores, Política monetária, cambiaria, fiscal,


organização política económica, competência, financeira,
estratégia e política. sistema legal.
Competividade
atraves cooperação
e integração.
Nivel Meso Nivel Micro

Política de infra-estrutura, educativa, Gestão de empresas, produção,


industrial (PME), ambiental, regional, inovação, logística,
comércio externo. cooperação.

Figura
Figura 1: Determinantes
1: Determinantes da competitividade
da competitividade sistemática sistemática
As principais tarefas destas políticas para o apoio das PMEs no âmbito das novas exigências interna-
cionais são as seguintes:
As principais tarefas destas políticas para o apoio das PMEs no âmbito das novas exigências interna-
∞ são
cionais Política de promoção da estrutura industrial: o seu objectivo não é definir e promover certos
as seguintes:
sectores como ocorre por muitas vezes nos países em desenvolvimento (Roisin 2015, Krause/
Kaufmann
• Política 2011). O Estado
de promoção não temindustrial:
da estrutura muita competência para fazê-lo.
o seu objectivo não éSó pode ehaver
definir um acom-
promover cer-
tos sectores como ocorre por muitas vezes nos países em desenvolvimento (Roisin 2015,
Krause/Kaufmann 2011). O Estado não tem muita competência para fazê-lo. Só pode ha-
ver um acompanhamento na criação das estruturas industriais competitivas através da
PME
criação de nucleos
10 Pequenas das PMEs
e Médias Empresas e redes industriais. Isso significa promover a criação de redes
em Moçambique
entre situação
a grande e Desafios
indústria e as grandes empresas, assim como outros serviços, para um ambi-
ente competitivo orientado para competência. Para tal são de registar os seguintes aspectos:
panhamento na criação das estruturas industriais competitivas através da criação de nucleos
das PMEs e redes industriais. Isso significa promover a criação de redes entre a grande in-
dústria e as grandes empresas, assim como outros serviços, para um ambiente competitivo
orientado para competência. Para tal são de registar os seguintes aspectos:
a. Expansão dos serviços de qualidade oferecidos pelas associações económicas
e as organizações de ajuda;
b. Uma administração pública eficiente;
c. Organizações destinadas a facilitar as exportações e linkages (Genesis Analyti-
cs 2014).
d. Acesso aos mercados financeiros, às instituições dedicadas a financiar a em-
presa privada e as operações de exportação (por exemplo, comunidades para
garantias de crédito);
e. Infra-estruturas em matéria de assessoria, transferência de tecnologia e infor-
mação;
f. Plataformas para criar sistemas de redes;
g. Parcerias públicas-privadas;
∞ Política de infra-estruturas: é preciso criar uma infra-estrutura física com a correspondente
provisão energética, vias de transporte (exportações) e sistemas de comunicações que permi-
tam as PMEs reduzirem os custos de transacção e aumentarem a competitividade internacio-
nal.
∞ Política educativa e o mercado de emprego: desenvolvimento do capital humano que acom-
panhe o desenvolvimento a longo prazo. Além disso, o acesso a uma melhor qualificação
exige também que os trabalhadores possam adquirir uma formação. Isto beneficia principal-
mente as PMEs que não têm recursos para treinamento interno. Adicionalmente, é necessário
uma capacitação profissional institucional que se ajuste às necessidades dos diferentes sec-
tores da economia e do sistema de um mercado de emprego (ILO 2015). A política educativa
sempre começa nas famílias e escolas!
∞ Política tecnológica: além da transferência de tecnologia dos países industrializados (por ex-
emplo: importação de tecnologias adequadas às PMEs de forma a desenvolver permanente-
mente o sistema inovador propício, que toma em consideração as vantagens competitivas da
cultura regional). É conveniente impulsionar inteligentemente também um desenvolvimento
endógeno (não só importar) e criar interfaces entre a investigação e a pequena indústria, mel-
horando a cooperação de universidades com a economia.
∞ Política regional: a competitividade regional e a atenção especial aos pólos de produção
regionais devem basear-se nas suas próprias forças e apoiar-se nos recursos potenciais de
desenvolvimento endógeno. As potencialidades existentes são um ponto de partida de um
pólo regional em desenvolvimento. A atenção especial às PMEs permite evitar monoculturas
económicas e diversificar melhor. Além disso, é conveniente incluir os actores municipais e
privados, propiciando-lhes um crescimento de baixo para cima, que atenda as necessidades
de cooperação inter-regional.
∞ Política de importação: é necessário criar um ambiente propício de competitividade no mer-
cado interno. Sem embargo e uma protecção selectiva contra as importações, as pequenas
indústrias nos países em desenvolvimento não poderão sustentar-se nem crescer. Por outro
lado seja necessário criar uma certa pressão de ajustamento que facilite fases de adaptação
e de aprendizagem e que não cause um efeito de “shock”. É preferível, numa primeira fase de
desenvolvimento das PMEs, a abertura das zonas de livre comércio, com vantagens recípro-
cas, entre Estados que revelam um nível de desenvolvimento comparável (SADC, Mercosul,

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
situação e Desafios 11
veja também EPAs). Por outro lado, um sistema de importação fácil e barato aumenta a com-
petitividade da produção nacional pela via da redução nos custos.
∞ Política de exportação: a política oficial de exportações deveria considerar explicitamente as
potencialidades das pequenas e médias empresas e prover informações sobre os mercados
e suas regras. Para as PMEs, é necessário o desenvolvimento de actividades de promoção das
exportações de forma conjunta e integrá-las com aquelas actividades que as grandes empre-
sas privadas ou públicas realizam. As redes de Pmes desempenham um papel importante para
a promoção das exportações dos seus sócios facilitando linkages.
∞ Política judicial: O sistema jurídico eficiente e funcional é uma condição fundamental para a
divisão do trabalho nos mercados. São as PMEs que, em primeiro lugar, sofrem com o sistema
judicial ineficiente e não funcional (Vandenberg 2005). Sem uma sólida política judicial não
pode haver um sólido crescimento económico, uma vez que a falta de confiança no sistema
jurídico e nos tribunais cria uma situação de fragilidade no sistema de protecção da proprie-
dade, da liberdade de contratação e da imparcialidade do sistema.
Concretamente, o Governo tem um papel importante a desempenhar na construção de um sector das
MPMEs próspero, através dum diálogo permanente, da política económica em geral e em particular, da
elaboração de leis e regulamentos apropriados, e na construção de uma infra-estrutura institucional
central, regional e local de apoio.

São instrumentos potenciais de uma política orientada para as PMEs, a criação de um regime jurídico
adequado, as medidas destinadas a melhorar a situação financeira, as transferências reais e a criação
de condições gerais dentro das quais se desenvolvem as actividades (…melhor ranking no Doing Bu-
siness e implementação dos EMANs). Um meio ambiente legal, regulamentar e administrativo “amigá-
vel” às MPMEs poderia ser caracterizado, entre outros, como um meio em que:

∞ Os direitos de propriedade são claramente reconhecidos,


∞ Os contratos são facilmente aplicados,
∞ Um sistema fiscal simples, transparente e de baixo custo está em vigência, sendo percebido
como justo,
∞ As empresas são capazes de registarem-se junto às autoridades competentes através de um
sistema simples e barato, de preferência por acesso remoto através da Internet,
∞ Os requisitos de licenciamento de negócios são minimizados e, quando aplicados, o objectivo
é proteger a saúde e segurança dos consumidores e do trabalho, ao invés de ser uma fonte de
receita para o governo local e/ou central,
∞ As regulamentações do trabalho são equilibradas e flexíveis, protegendo os direitos do traba-
lhador e da empresa de forma igual,
∞ A interacção das MPMEs com a administração aduaneira, quer na exportação ou importação,
realiza-se de forma simplificada, eficiente, simples e transparente,
∞ A regulamentação do sector financeiro (banca, seguros, leasing) reconhece os constrangi-
mentos das MPMEs e introduz os instrumentos legais e regulamentares que permitam que os
activos das MPMEs, comumente disponíveis, possam ser usados como garantia,
∞ Os administradores públicos a nível local incentivam os empreendedores e reconhecem-nos
como contribuintes para o crescimento económico, tratam-nos de forma justa e estão com-
prometidos em erradicar a corrupção,
∞ A legislação e regulamentação são sensíveis ao género, o estado de direito e as regras de jogo
aplicam-se igualmente a homens e mulheres,
∞ As MPMEs podem facilmente formar e participar de organizações na sociedade, e a legislação
sobre falência não impõe indevidamente multas elevadas sobre o empreendedor ou sobre a
MPME,

PME
12 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
∞ O Governo não prejudica as MPMEs nas suas políticas e no public procurement.
Regulamentos apropriados são o elemento mais importante de uma estratégia de desenvolvimento
das MPMEs. São menos custosos em relação a instrumentos de intervenção ou ao subsídio activo.

A caixa abaixo ilustra os princípios das melhores práticas para a regulação das MPMEs:

Proporcionalidade
O impacto da regulamentação sobre as pequenas empresas é identificado, estabelecendo um
equilíbrio adequado entre benefício e custo ao nível micro e macro.
Pedidos desnecessários não são endereçados ao pequeno negócio formalizado.

Transparência
Os objectivos da política, incluindo a necessidade de regulamentação, são claramente definidos
e comunicados de forma eficaz a todos os envolvidos por canais apropriados.
Aqueles que estão sob regulamentação compreendem as suas obrigações e sabem o que
esperar das autoridades responsáveis pela aplicação da regulamentação.

Responsabilidade e Dialogo
As propostas são publicadas e todos os afectados são consultados antes da tomada de decisões.

Consistência
Novas regulamentações são consistentes com as normas vigentes.

Regulamentos são aplicados de forma consistente em todo o país e a todos níveis administrativos
e legais.

Eficiência
O custo administrativo, que a legislação provoca, tem que ser razoável, tanto para a administração
pública como o sector privado

Caixa 1: Princípios de boa legislação para as MPMEs, Fonte: Elaboração própria em base de: MIC (2014)

6. Agentes e Coordenação de uma Política das PMEs


Em geral, a implementação de uma política centrada nas pequenas e médias empresas nos países
em desenvolvimento depende do diálogo entre o sector privado e o sector público. Para melhorar o
grau de eficiência, torna-se necessário que os parceiros deleguem as tarefas (bottom up) às entidades
regionais, municipais ou comunais, de acordo com o princípio de subsidiariedade, devendo integrar
entidades privadas e estabelecer incentivos económicos vinculativos. As grandes empresas podem
também ser agentes de facilitação de uma política de pequenas e médias empresas, na medida em
que existam efeitos sinergéticos na sua capacidade produtiva (distritos industriais, linkages).

Os desafios, elaborados em cima, mostram claramente que a implementação de uma política de PME
não é fácil. É uma obra de priorização e coordenação entre vários agentes, instituições e autoridades.
A promoção do sector privado é sempre um desafio inter-sectorial. Um só Ministério (ou um IPEME)
nunca poderá cumprir esta tarefa.

Será importante e necessário definir e comunicar com todos parceiros

∞ o mandato da respectiva instituição no âmbito da política PMEs,


∞ as responsabilidades,
∞ as prioridades,

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 13
∞ as competências e orçamentos,
∞ o grão de cooperação (leadership).
Como é um trabalho intersectorial, será importante ter o apoio do Ministro de Indústria e Comércio e
do Conselho dos Ministros com um mandato muito forte, para fazer isto com sucesso.

7. Considerações Finais
Para o desenvolvimento económico, social e a modernização da economia nos países em desenvolvi-
mento, é necessário que todos os participantes do mercado compreendam cabalmente a importância
e o potencial das PMEs. Com a perspectiva dos novos mega-projectos (gas) e o debate do “conteúdo
local” é ainda mais importante ter um sector PME competitivo em Moçambique que pudesse participar
e seja competitivo.

A melhor política de facilitação das PMEs é a eliminação das barreiras ou constrangimentos que ini-
bem o desenvolvimento da dinâmica própria das PMEs. Formam parte desta política, a criação de infra
-estruturas adequadas e das instituições correspondentes assim como a implantação de um conjunto
de condições não discriminatórias com relação ao tamanho das empresas. É reconhecido que as PMEs
sofrem mais em relação às grandes empresas na questão relacionada com o ambiente pouco propício
ao negócio. O ambiente em que se encontram integradas as PMEs tem que ser competitivo no seu
conjunto e a administração publica tem que oferecer serviços de qualidade não corruptos. A melhor
política para PMEs è uma boa política económica em geral!

Qualquer medida que exceda este objecto ou que tenha um carácter intervencionista deve ser avalia-
da com muita cautela (Altenburg; Lütkenhorst 2015). Com efeito, a promoção específica deste sector
é pertinente e beneficia a economia dos países no seu conjunto, na medida que existem efeitos espe-
cíficos comprovadamente do tamanho das empresas. Mas não devemos esquecer que toda política de
promoção particular das PMEs visa criar estruturas de mercado mais eficientes, geradores de emprego,
acelerar inovações ou criar estruturas regionais e sociais que, simultaneamente, também irão produzir
custos e distorções. E além disso uma promoção particular sem um ambiente de negócio favorável
será bastante inefectivo.

Então, a mensagem para Mocambique é bastante claro: O desafio está primeiro no melhoramento do
ambiente de negócio. Segundo, dada a complexidade e o caracter de inter-sectorialidade, todas insti-
tuições do estado têm que cooperar e coordenar. A tarefa do IPEME devia ser ser “Advogado dos PMEs”
e coordenar as instituições do Estado na preparação de um bom clima para PMEs no pais. Terceiro,
como os desafios são múltiplos e complexos, tem que priorizar bem. Não se pode fazer tudo, e è mais
importante fazer poucas coisas importantes em vez de querer resolver todos problemas dos PMEs
com pouco efeito. Quarto, será importante seguir a própria política (Estratégia PMEs) e focar bem, ali-
nhando os programas dos doadores. Não faz sentido fazer algo, só porque houvesse fundos ou ofertas.

PME
14 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
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PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 17
Paul
Vandenberg,
Consultor A RELEVÊNCIA
DA DIMENSÃO
DA EMPRESA
Capítulo 2 PARA A REFORMA
DO AMBIENTE
EMPRESARIAL1
1. Introdução: O contexto e a importância
O desenvolvimento de um sector privado activo é considerado como um dos componentes principais
de empenho alargado para sustento do crescimento económico, emprego e redução da pobreza em
economias em desenvolvimento e em transição. Enquanto o desenvolvimento do sector privado, ou
DSP, tem sido considerado como a abordagem para o desenvolvimento há várias décadas, continua a
haver discussões e um desacordo construtivo sobre o modo como promover o sector privado e me-
lhor abranger diferentes elementos do sector privado.

O actual debate evolui de duas maneiras. Primeiro, há um crescente consenso em como o apoio para
a melhoria do ambiente empresarial é um elemento crítico do DSP porque pode afectar significati-
vamente um número máximo de empresas. O AE (ambiente empresarial) é um conceito amplo que
inclui os factores que afectam o desempenho empresarial e são exteriores à empresa. Fundamentais
para o AE são as “regras do jogo” como determinadas pelas políticas, leis e regulamentos directivos
para empresas e mercados e o contexto social e cultural2. Em segundo lugar, surgiu um debate sobre
se os doadores e governos deveriam prestar particular atenção a pequenas empresas ou, ao invés
disso, deveriam procurar o desenvolvimento de empresas de todas as dimensões.

A primeira perspectiva baseia-se no facto de que muitas (a maior parte) das pessoas que trabalham
para pequenas empresas são pobres, e de que estas empresas encontram limitações específicas no
seu desempenho e crescimento. A visão posterior sustenta que empresas de todas as dimensões po-
dem, e contribuem para os objectivos de desenvolvimento.

Estas duas questões fundamentais são analisadas conjuntamente neste documento, o qual questiona:
a dimensão da empresa é importante para a reforma do ambiente empresarial? Para clarificação, este
documento utiliza a expressão dimensão-neutral para apresentar argumentos, indícios e pontos de
vista que defendem uma resposta “não” às questões, e dimensão-especifica uma resposta “sim”.

1 O artigo baseia-se em partes no capítulo 2 do livro MIC (2007): Pequenas e Medias Empresas em Moçambique, Maputo.
2 ‘Consultar White & Chacaltana 2002: 15-17 para uma discussão abrangente sobre o que faz parte do ambiente empresarial. Há
um aspecto internacional do AE que inclui mercados e acordos internacionais. Nacionalmente, o AE tem aspectos macro,
mezzo e micro. Enquanto os regulamentos que regem os mercados são um aspecto fundamental do AE, os mercados em
si também fazem parte do AE.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 19
Como um documento de base, a intenção aqui não é de defender um ponto de vista em particular
mas, em vez disso, providenciar uma avaliação equilibrada de ambas as partes do debate. Isto inclui a
apresentação de diferentes pontos de vista e investigação opostos que podem auxiliar a compreender
a matéria. Em resumo, com este documento pretende-se estimular a reflexão e encorajar os leitores a
formular os seus próprios pontos de vista.

2. Questões debatidas: campo de operações equilibrado, desvantagens


inerentes, impacto
Há provas recentes em como PMEs (pequenas e médias empresas) enfrentam um AE mais difícil que
empresas maiores (Schiffer & Weder 2001; Becket al. 2005b). Estas provas, analisadas abaixo, baseiam-
se num levantamento de mais de 4 000 empresas em 54 países e sugerem que a reforma do AE bene-
ficiaria significativamente as PMEs, mas não as GEs, as quais são menos limitadas pelo ambiente. No
entanto, não foi debatido aqui se as PMEs enfrentam um AE mais difícil. Em vez disso, é dado ênfase
sobre se essa diferença, onde existente, deveria afectar a abordagem para alterações. Em resumo, os
doadores deverão apoiar reformas dimensão-neutral em geral ou reformas de dimensão mais espe-
cífica?

A questão pode ser abordada de duas maneiras. Por um lado, podemos tomar cada área do AE e con-
siderar se deve ser seguida uma abordagem dimensão-especifica ou dimensão-neutral. Isto é uma
abordagem óbvia e estruturará a análise ao longo da maior parte do documento. Uma segunda abor-
dagem, no entanto, questiona primeiro se as PMEs, de facto, contribuem para o desenvolvimento mais
global dos objectivos dos doadores, tais como crescimento económico, redução da pobreza e criação
de postos de trabalho. Se concluirmos que não contribuem, então deixa de ser menos convincen-
te a questão sobre reformas dimensão-especifica. Sim, as PMEs podem enfrentar um AE mais difícil
que empresas maiores e reformas dimensão-especifica podem ajudá-las, mas e depois? Os doadores
querem dedicar tempo e dinheiro a experimentar reformas dimensão-específicas quando as mesmas
podem não contribuir para objectivos mais abrangentes de desenvolvimento? Esta segunda linha de
argumentos não é tratada em detalhe neste documento mas discutida no capítulo 2.2 abaixo.

2.1. Nível Campo de operações, desvantagens inerentes e limites/


progressividade

A existência destas desvantagens pode ter origem em dois factores:

Desvantagem criada: São necessárias reformas para criar um nível de campo de operações que pende
favoravelmente para as grandes empresas. Sobre este ponto, o pendor não apareceu naturalmente
mas foi criado pelas acções, tencionais ou não, de centros de decisão, sistemas judiciais, grupos de
pressão, etc.

Desvantagem natural: PMEs são confrontadas com uma desvantagem natural devido à sua dimensão
e por isso, reformas dimensão-específicas são necessárias para assegurar que o BE (leis, regulamentos,
cultura) não lhes imponha uma carga desproporcionada.

Quanto à primeira abordagem, reformas podem envolver a remoção de certas vantagens que as GEs
têm alcançado sobre as PMEs. Isto sugere que, por algum motivo, as GEs tem tido acesso a vantagens
que não são concedidas a PMEs (direitos de importação, contractos governamentais, um regime fiscal
mais favorável e recursos naturais propriedade do Estado). Estas vantagens podem, muitas vezes, advir
do crescente poder de pressão e ligações políticas das maiores empresas. O nivelamento do campo

PME
20 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
de operações poderia assegurar que todas as empresas têm os mesmos direitos, responsabilidades,
requisitos administrativos, etc. Deste modo, a reforma é elaborada para “anular uma vantagem da GE”.

Em relação à segunda abordagem, podem ser necessárias reformas para ultrapassar algumas natu-
rais limitações com base na dimensão. A ideia comum é a de que pequenas empresas têm menos
capacidade interna para lidar com os requisitos legais, administrativos e reguladores impostos pelos
governos. Não têm a capacidade pessoal, contabilística e jurídica como grandes empresas mantém
na sua infra-estrutura. Têm menos tempo para obter a informação necessária. Podem ser necessárias
reformas dimensão-específicas para apoio no controlo destes requisitos. Na discussão é importante
lembrar os prós e contras quanto a condições jurídicas e reguladoras de dimensão-especifica. Re-
formas com base em dispensa por dimensão (ou limites de conformidade com base na dimensão)
podem reduzir os requisitos reguladores de pequenas empresas. Por exemplo, uma empresa com
menos de dez trabalhadores pode estar isenta, parcial ou totalmente, de regulamentos relacionados
com admissão e despedimento, saúde e segurança profissional, contribuições para a segurança social,
etc. No entanto, estas isenções também podem conduzir à criação de armadilhas de dimensão por se
basearem em interrupções à conformidade. Uma dispensa por dimensão pode ter três consequências
negativas: pode criar desincentivo para que as firmas cresçam para lá do limite; pode criar concorrên-
cia desleal com empresas que tem de se sujeitar; e pode ter impacto social ou percepções negativas
para o público (e.g. isenção de sujeição à legislação laboral, padrões ambientais). Estas possíveis con-
sequências negativas devem ser consideradas em oposição aos benefícios da dispensa para o desem-
penho e crescimento da empresa, e para o empresário e trabalhadores.

Uma abordagem semelhante à reforma dimensão-especifica é baseada no princípio da progressivi-


dade, na qual um plano gradual de pagamentos ou requisitos reguladores é estabelecido com base
na dimensão. Em resumo, o pagamento ou requisitos reguladores aumentam progressivamente com
a dimensão. Esta abordagem evita as maiores descontinuidades criadas pela imposição de um limite
único; i.e. o reduzido crescimento na conformidade custos/esforço é menos passível de constituir um
impedimento ao crescimento.

A progressividade é frequentemente utilizada na determinação de taxas para licenças de registo de


empresas, por exemplo. É uma medida dimensão-especifica que pode ser justificada por questões de
equidade (como o é na maioria dos sistemas de imposto sobre o rendimento)3.

2.2. Indicações da ligação entre PMEs, crescimento e redução da pobreza

Em relação à dimensão, é essencial determinar se o desenvolvimento de pequenas empresas tem um


impacto positivo em áreas chaves do desenvolvimento – redução da pobreza, criação de postos de
trabalho e crescimento económico. As pequenas empresas podem enfrentar um ambiente mais difícil
que as empresas grandes mas, se as grandes empresas contribuem mais para o desenvolvimento po-
de-se defender que o AE lhes deveria ser mais favorável. Claro que o oposto também é verdade: se as
PMEs contribuem mais, então deveriam ser mais favorecidas.

Mas como sabemos que tipos de empresas contribuem mais para o processo de desenvolvimento?
Esta é uma questão empírica. Sabemos que as PMEs constituem a esmagadora maioria do universo
empresarial nos países desenvolvidos e em desenvolvimento (normalmente acima dos 95%). Também,
PMEs formais e empresas informais4 contribuem com 62-69% do PIB em países com salários baixos,
médios e altos, e 69–72% do emprego em países com salários médios e altos. A quota de emprego nos
3 Pode se afirmar que todos os cidadãos deveriam pagar a mesma quantia global de imposto sobre os rendimentos porque
todos têm o mesmo acesso a estradas, tribunais ou protecção de invasão estrangeira.
4 Estas categorias não incluem as pequenas quintas. Os números neste parágrafo sobre emprego e salário são de Ayyagari et
al. (2003).

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 21
países com baixos salários é de 47%5. Além disso, pequenas empresas são propriedade local e desta
maneira sustentam o desenvolvimento de um forte sector privado doméstico. Uma relativa parte das
grandes companhias em qualquer economia é propriedade do exterior e esta parte é significativa em
alguns países em desenvolvimento. Em alguns sectores, pequenas empresas podem por vezes ser
uma importante fonte de inovação de produtos e serviços.

Com os números acima, poder-se-ia argumentar que a criação de um ambiente geral de assistência
empresarial significa criar um ambiente adequado a PMEs. Os doadores tem estado inclinados a ver
uma forte ligação, pelo menos de forma conceptual, entre o desenvolvimento de PMEs e a redução
da pobreza, em parte porque muitos dos pobres operam ou trabalham em micro e pequenas empre-
sas (Vandenberg, 2005). Como um trabalho do Comité de Doadores sugere, “há ligações claras entre
redução e DSP [e] desenvolvimento de PMEs torna-se relevante como um instrumento para o desen-
volvimento do sector privado e redução da pobreza porque alarga a participação no sector privado e,
por envolver muitas pessoas que vivem em condições de pobreza, providencia um mecanismo para a
sua capacitação” (White and Chacaltana, 2002:24).

Em relação a estas medidas, existem questões se as PMEs criam mais empregos que grandes empre-
sas, se são mais inovadoras e se pagam salários mais elevados e melhores condições de trabalho. Ao
mesmo tempo é difícil generalizar no tempo e no espaço, e embora uma genuína discussão esteja
fora de alcance deste documento. muitos dos benefícios geralmente associados a PMEs não resistem
a um rigoroso exame empírico6.

Um estudo recente que requer aqui uma mais detalhada abordagem é o de Thorsten Beck e seus co-
legas (Beck et al., 2005). O seu estudo investiga o impacto da dimensão do sector PME no crescimento
económico, pobreza e desigualdade salarial. Além disso, inclui uma variante sobre o impacto do AE no
crescimento económico. Deste modo, os resultados são muito relevantes para as questões abordadas
neste documento.

Os resultados do estudo podem ser resumidos de seguinte forma:

∞ A dimensão do sector PME está positivamente correlacionada com o crescimento económico,


e;
∞ No entanto, a dimensão do sector PME não parece exercer um impacto causal no crescimen-
to;
Além disso, o indicador para a dimensão do sector PME é a proporção do emprego das PME no em-
prego total no sector fabril. Assim, o corolário dos resultados acima incluiria:

∞ A dimensão do sector GE não está correlacionada com crescimento económico, e;


∞ A dimensão do sector GE não exerce um impacto causal no crescimento económico7.
Com efeito, os resultados tendem a sugerir que a estrutura sólida da produção fabril não interessa para
o crescimento económico, ou utilizando uma formulação mais positiva, o crescimento económico
pode ser alcançado através de diferentes combinações de PMEs e GEs.

Além do mais, existem três problemas com os indicadores e a metodologia. As principais preocupa-

5 Os números são inferiores para países com salários baixos porque tem uma maior percentagem de trabalhadores activos na
agricultura.
6 Para revisão, ver Hallberg (1999) e Vandenberg (2004).
7 Esta conclusão está aqui especificada em termos leigos, tendo em conta o vasto leque de leitores do documento. Um
economista/econometrista escreveria, mais detalhadamente que: “não podemos rejeitar a hipótese nula de que a variante
dimensão- PME não está significativamente associada à variante dependente (crescimento económico), uma vez que se
controle a causa inversa ou a tendência de simultaneidade (i.c. que um terceiro factor dirija ambos) ”.

PME
22 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
ções são as seguintes8. Primeiro, a variável PME é a proporção do emprego das PMEs no emprego
total (no sector fabril). Neste contexto, um maior sector PME significa um sector GE mais pequeno. Por
isso, não é uma questão se o sector PME se está a expandir, mas se a sua dimensão está aumentando
comparativamente ao sector GE. Apesar disso, também é interessante que um maior sector PME está
correlacionado com crescimento económico. (Podemos explicar isto através de melhores relações
interempresas resultantes de custos de transacções reduzidos, o que torna as empresas mais susceptí-
veis de delegar em outros provedores, componentes de produção ou serviços). Em segundo, a análise
debruça-se apenas sobre empresas no sector fabril, onde, devido à economia de escala, pequenas
empresas estão naturalmente em desvantagem. E em terceiro, a análise não se debruça sobre a pro-
dutividade ou competitividade. É um maior – não um mais vibrante-sector PME que é considerado.

Também pode ser feito um detalhe final acerca deste importante estudo. O documento foi considera-
velmente revisto. Nos esboços iniciais - os quais podem ser mais bem conhecidos entre a comunidade
doadora – os resultados prestavam qualificado sustento à noção em como um melhor AE (para todas
as empresas) ajudava o crescimento económico, uma distribuição de rendimentos mais equilibrada
e redução da pobreza (Beck et al., 2004:24-25). A consequente mensagem destes resultados era: não
se concentrem em PMEs mas promovam um bom AE para todas as empresas e o crescimento eco-
nómico surgirá. Por seu lado, o crescimento conduzirá à redução da pobreza (Dollar and Kraay 2005).

No entanto, as versões finais não sustentam esta mensagem. O AE não é o centro de interesse destas
versões e não se aborda a sua importância. Todavia, a variável AE é incluída em reversões no cres-
cimento económico (como variável de controlo) mas não se considera ser significante9. Em termos
técnicos, não podemos rejeitar a inútil hipótese em como um melhor AE não tem um impacto cau-
sal no crescimento económico. Em termos simples, os resultados não dão consistência à ideia de
que um melhor AE seja bom para o crescimento. A importância de um bom AE para o crescimento
é suportada, claro, na maior parte da literatura empírica sobre crescimento económico10. Além do
mais, Beck e os seus colegas realizaram outros estudos, abordados em seguida, os quais demons-
tram que um melhor ambiente financeiro e jurídico (os quais fazem parte do AE) permite que as
PMEs cresçam.

3. Síntese dos mais importantes argumentos pró e contra


O “ambiente empresarial” é um conceito geral que, como se notou, inclui leis, regulamentos, políticas,
mercados, cultura e outros elementos. Com toda esta diversidade, é útil dividir o AE nas suas vertentes.
Esta revisão ponto por ponto é feita em seguida.

Ao debruçar-se sobre esta revisão, recomenda-se que o leitor(a) que trabalha com uma organização
doadora, não considere apenas questões conceptuais e práticas. Pode também considerar se existem
políticas ou programas de dimensão-específicas no seu próprio país. De facto, eles existem em mui-
tos casos (programas de crédito, considerações sobre os impostos, procedimentos administrativos
simplificados, etc.). Os doadores podem, em alguns casos, defender uma abordagem para países em
desenvolvimento enquanto é adoptada outra abordagem nos seus próprios países. Pode haver razões
para esta dualidade (e.g. diferentes níveis de competência burocrática) mas também pode haver boas
razões para acções dimensão-específicas em países desenvolvidos que deveriam ser aplicáveis a paí-

8 Na verdade, os autores reconhecem algumas destas limitações e as acções propostas (Beck et al., 2005a: 10-11).
9 A conclusão pode resultar, em parte, do facto de o AE não ser a variável de interesse nas regressões e, por isso, o exemplo
de regressão baseia-se na disponibilidade de dados sobre a parte das PMEs na manufacturação e não no AE.
10 Barro (1991), por exemplo, mostra que o crescimento económico e investimento estão irreversivelmente correlacionados
com instabilidade política, distorção de preços nos bens de investimento e a proporção de gastos governamentais do PIB.
Da mesma maneira, Mauro (1995) acha que o crescimento económico está inversamente correlacionado com um sistema
jurídico fraco e elevados níveis de burocracia.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 23
ses em desenvolvimento. O leitor(a) também pode pensar, com razão, que os programas ou políticas
PME no seu próprio país deveriam ser eliminados.

Lobby, Advocacia

O campo de operações pode não ser nivelado porque as GEs têm pressionado com sucesso para ob-
terem um tratamento preferencial. As GEs individuais tem certamente uma maior influência na sua re-
lação com centros de decisão e políticas do que as PMEs. De facto, em alguns países, nomeadamente
em países em via de desenvolvimento, podemos falar de “controlo”, captura de governos por grandes
empresas. (Thomas et al. 2000: 135-168). Isto funciona muitas vezes através de ligações preferenciais
com famílias poderosas que tem postos importantes, tanto nas grandes empresas como no governo.
Alem disso, grandes empresas estrangeiras estão frequentemente em condições ou aproveitam-se
de incentivos fiscais e reguladores incluindo os relacionados com zonas de manufacturação para ex-
portação e posições de monopólio ou oligopólio. Embora esta última situação tenha diminuído nos
últimos anos, a mesma ainda persiste em alguns países.

Além disso, as GEs controlam com frequência a maioria das organizações de pressão empresarial
(associações ou federações empresariais, organizações nacionais de empregadores, associações de
exportadores, etc.). Nalguns países, as GEs constituem a maioria dos membros nesses grupos empre-
sariais. No entanto, em muitos países, isso não acontece. Uma pesquisa da ILO sobre as organizações
nacionais de empregadores em 71 países constatou que em média, 86% dos membros eram PMEs (ILO
1999: 26)11. Da mesma maneira, uma pesquisa entre os membros europeus aquando da Assembleia-
geral da Organização Internacional de Empregadores em 2004 concluiu que mais de 80% dos mem-
bros dessas organizações eram PMEs (Ramirez, 2004). A qualidade de membro não influi nas políticas
que são seguidas por uma organização empresarial, mas a ligação entre o número de membros e as
políticas seguidas pode não ser clara. Os centros de decisão chave (e membros do Conselho de Admi-
nistração) ainda podem ser escolhidos entre as grandes empresas.

Também é verdade que diferentes organizações empresariais podem pressionar com sucesso a favor
dos seus membros. Um exemplo claro é a Federação Canadiana de Empresas Independentes (CFIB),
a qual nasceu do esforço para contestar propostas de alterações fiscais que teriam ajudado muito as
grandes empresas, e prejudicado as pequenas. O CFIB contestou com sucesso ou trabalhou com o
governo em vastas questões das PMEs tais como tributação, regulamentação e crédito12.

Legislação laboral

Legislação laboral restritiva pode tornar difícil e dispendioso para empresas a contratação, manuten-
ção e despedimento de trabalhadores. No estado indiano de Uttar Pradesh, por exemplo, as empre-
sas devem obedecer a 38 leis principais e 10 leis estatais relacionadas com o trabalho. As empresas
enfrentam a sobrecarga de manter diversos registos, preencher certidões e responder a inspectores.
Muitas vezes são obrigadas a contratar dispendiosos serviços de aconselhamento jurídico para lidar
com os requerimentos e muitos preferem arriscar-se a terem de pagar multas no lugar de suportar os
custos implícitos ao cumprimento com todos os requerimentos. (Chandra & Parashar 2005: 10). Para
pequenas empresas é particularmente difícil orientar-se neste emaranhado de legislação. Ao mesmo
tempo, o objectivo da legislação laboral é proteger os trabalhadores contra coisas como acidentes
profissionais, tratamento injusto, doença e perca de emprego.
11 No entanto, em alguns casos, empresas médias eram definidas como tendo até 1000 trabalhadores.
12 Um curto estudo de caso sobre a CFBI pode ser encontrado em “Reaching out to SMEs: An electronic toolkit for employer’s
organizations“, CD-ROM (Geneva: ILO, 2005). Ver também www.cfbi.ca

PME
24 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Questão Dimensão da empresa não é Dimensão da empresa é relevante
relevante

1. Lobby, Advocacia PMEs têm as suas próprias organi- Grandes empresas estão melhor capa-
zações representativas que podem citadas para defender políticas de apoio
influenciar políticas governamen- para si próprios tendo em conta o acesso
tais (CFIB no Canada); PME’s podem directo a políticos e funcionários gover-
apoiar ou apoiar-se nos esforços de namentais e o seu controlo de organiza-
lobby de organizações empresariais ções representativas (sindicatos, associa-
dominadas por grandes empresas ções empresariais)

2. Legislação Todos os trabalhadores deveriam es- Pequenas empresas estão pior capacita-
laboral tar protegidos por legislação e políti- das para suportarem os custos e adminis-
cas laborais sem ter em conta dimen- tração de legislação laboral (OSH, ausên-
são da empresa; excepções podem cia por doença, subsídios, contribuições
conduzir a armadilhas na dimensão, para a segurança social) e são necessários
i.e. as empresas mantém-se pequenas sistemas simplificados de conformidade
para evitar os regulamentos

3. Politicas do Reformas gerais e o desenvolvimento Requisitos colaterais são difíceis para pe-
sector financeiro do sector financeiro aliviariam as quenas empresas; um custo administra-
pressões financeiras das PMEs e tivo (por unidade) superior para os ban-
ajudariam o seu crescimento (Beck et cos reduz os empréstimos a pequenas
al. (2005b)) empresas; provas sugerem que pequenas
empresas estão mais condicionadas pelo
subdesenvolvimento financeiro (Schiffer
& Weber 2001; Beck et al. (2005a))

4. Redução da Um estudo recente de (Beck et al. A utilização de indicadores em (Beck


pobreza (2005b) sugere que a dimensão do et al.(2005b) é fraca, i.e. foca-se na
sector de manufactura de PMEs não manufactura na dimensão do sector PME,
tem impacto causal no crescimento em firmas formais, etc.
económico ou redução da pobreza

5a. Tributação Impostos fixos (i.e. sem progressivida- Um programa de impostos progressivos
nível/taxa de) possibilitam um tratamento justo permite que pequenas empresas voltem a
a todas as empresas ou proprietários/ investir e proprietários conservem mais da
accionistas sua riqueza (aumentando o rendimento
doméstico, permitindo o reinvestimento)

5b. Administração Para empresas de todas as dimensões, Necessidade e procedimentos simplifi-


tributária é caro cumprir e empregar pessoal cados para PMEs porque poucos ou ne-
para recolher e remeter impostos nhum pessoal administrativo/contabilís-
indirectos tico, isso toma oneroso compreender e
agir de acordo com a legislação tributária

6. Corrupção Todas as empresas afectadas por cor- Pequenas empresas são mais confronta-
rupção governamental geral (desper- das subornos e outras práticas corruptas
dício de recursos) e por exigências de porque estão menos preparadas para se
pagamento de subornos; grandes em- defenderem ou recorrem a políticos; de
presas pagam subornos mais elevados qualquer modo, Schiffer & Weder (2001)
opinam que as PMEs são mais importu-
nadas pela corrupção

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 25
7. Registo, Quando as taxas são estabelecidas Quando as taxas são estabelecidas em
Licenciamento como uma taxa de qualquer dimen- montantes fixos, são proporcionalmente
são, i.e., volume de produção, inves- mais dispendiosas para pequenas empre-
timento ou postos de trabalho, as sas
pequenas empresas não ficam em
desvantagem (Nairobi)

8. Escala mínima de Grandes e pequenas empresas che- É necessária uma dimensão maior para
eficiência (EME) gam a acordo para conseguirem ren- conseguirem EME de modo a conseguirem
vs. Eficiência dimentos através de subcontratos competir internacionalmente, i.e. carros
colectiva (grupos) organização, grupagem, i.e., terceira de Coreia, aço
Itália, Taiwan, Sailkot (Paquistão)

9. Politica de Fazer cumprir políticas de concorrên- Grandes empresas podem controlar mer-
concorrência cia significa criar um campo de jogos cado através de práticas de preços mo-
(anti monopólio) e nivelado (igual) para empresas de to- nopolísticas ou oligopolisticas, elevadas
procurement das as dimensões despesas com publicidade, controlo de
governamental fontes de abastecimento primárias e se-
cundárias, bundling (Microsoft)

10. Cultura Promoção de tal cultura deveria di- Esforços de promoção de cultura são di-
empresarial e rigir-se a todos os elementos da so- reccionados á criação de PMEs. Muitas
empresariado ciedade. Preconceitos em género pequenas empresas são dirigidas por mu-
feminino deveriam ser promovidos de todas as lheres que se defrontam com discrimina-
políticas e ser aplicáveis a empresas ção, em termos de direito legal de pro-
de todas as dimensõe priedade, acesso a crédito, credibilidade
junto dos fornecedores; requer uma ac-
ção afirmativa para estas empresas.

11. Capacidade e Uma força de trabalho instruída, capaz Pequenas empresas não estão tão capa-
Formação de utilizar os números, formada e citadas para prestar formação interna ou
educada beneficia todas as empresas permitir que os seus trabalhadores se au-
sentem para esse fim

12. Infra-estruturas Boas infra-estruturas físicas fazem Pequenas empresas têm tendência a es-
físicas com que o mercado funcione para to- tarem em áreas com deficiente prestação
das as empresas de serviços na área de transportes, comu-
nicação, água, electricidade, esgotos, etc.

13. Sistema jurídico Todas as empresas têm acesso ao Grandes empresas têm a capacidade de
mesmo sistema jurídico financiar o acesso ao sistema jurídico;
os custos de aconselhamento jurídico e
taxas de tribunais são proporcionalmente
mais elevadas para pequenas empresas

Também protege o seu direito de associação e de negociar colectivamente com os empregado-


res13.

Um apropriado regime laboral para cada tipo de empresa pode equilibrar o bem-estar dos trabalhadores
com a necessidade das empresas em se ajustarem a alterações na organização laboral interna e
13 Legislação laboral pode incluir: salário mínimo, horas extras e limites horários, ausências pagas, seguro de desemprego,
indemnização do trabalhador, negociações colectivas e liberdade de associação, anti discriminação e igualdade de
oportunidades, trabalho forçado ou infantil, despedimento sem justa causa, saúde e segurança, pré-aviso e discussões sobre
despedimentos maciços, licenças por parto ou familiares, consulta ao trabalhador e o direito de transferir direitos (Fenwick
2005: 20).

PME
26 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
procura do mercado. Nalguns países, micro e pequenas empresas estão completamente dispensadas
da legislação laboral. No entanto, estes casos são relativamente raros — um recente levantamento de
178 países concluiu que apenas 10 por cento destes países proporcionam tal excepção (Daza 2005:
23-24). Ao mesmo tempo, há poucos países onde seja requerido que as micro e pequenas empresas
cumpram na íntegra a legislação laboral. Este último cenário deve-se provavelmente ao esforço em
criar uma carga reguladora mais leve para pequenas empresas, e o reconhecimento em como não é
possível administrativamente para o governo assegurar a conformidade total para com a legislação
(Fenwick 2005:36).

De algum modo mais de 10 por cento dos países proporcionam uma dispensa de legislação de
saúde segurança profissional, enquanto menos de 10 por cento proporcionam dispensa de todo o
quadro legislação de segurança social (Daza 2005). Muitas das isenções de legislação laboral foram
encontradas nas antigas colónias britânicas onde a legislação foi projectada com base na Lei Fabril
(Britânica)14.

Deste modo, por um lado pode-se sustentar que todas as empresas deveriam cumprir a legislação
laboral para proteger os trabalhadores e evitar armadilhas de dimensão (mais tarde). Por outro lado,
para pequenas empresas pode ser particularmente difícil lidar com toda a carga administrativa e
reguladora que acarreta o cumprimento total da legislação laboral. Normalmente, não tem o pessoal
administrativo necessário para lidar come obedecer à complicada legislação.

Políticas do sector financeiro

São sobejamente conhecidas as dificuldades que pequenas empresas enfrentam no acesso a finanças.
Um trabalho recente de Beck et al. procurou quantificar as diferenças entre grandes e pequenas
empresas neste domínio. Uma pesquisa de percepção dirigida a cerca de 4000 empresas em 54 países
revelou que o crescimento de pequenas empresas era mais afectado por obstáculos financeiros que
no caso das grandes empresas. Num leque de questões financeiras, o crescimento de GEs era afectada
apenas por altas taxas de juro. Em comparação, o crescimento de pequenas e médias empresas era
afectada por:

∞ Requerimentos de garantias indirectos


∞ Elevado nível de papelada burocrática e procedimentos bancários
∞ Necessidade de ligações especiais com os bancos
∞ A não disponibilidade por parte dos bancos, de dinheiro para crédito
∞ Acesso ao leasing financeiro de equipamento
∞ Altas taxas de juro
O crescimento de pequenas empresas (mas não de médias) era também dificultado pela dificuldade em
ter acesso a financiamento para a exportação (ibid. 161). O estudo conclui que os resultados “fornecem
prova em como obstáculos financeiros tem um muito maior impacto na operação e crescimento de
pequenas empresas que de grandes empresas” (ibid). Os pesquisadores também concluíram que o
desenvolvimento do sistema financeiro abrandaria as limitações financeiras e melhoraria o acesso a
empresas mais pequenas.

A conclusão a que chegaram os investigadores é a de que o desenvolvimento global do sector finan-


ceiro ajudaria as PMEs. Esta leitura pode ser vista ambos como uma abordagem dimensão-neutral ou
dimensão-especifica. É neutral em relação à dimensão porque procura desenvolver o sector financeiro
14 Estes números são as percentagens de países, não a percentagem dos trabalhadores dos 178 países pesquisados. Uma das
antigas colónias britânicas que ainda baseia a sua legislação na Lei Fabril é a ĺndia, que tem um sexto da população mundial.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 27
na sua globalidade. No entanto, porque sabemos que tal desenvolvimento afectará o crescimento das
PMEs– e não das GEs – pode então ser visto, em última análise, como uma medida dimensão-especi-
fica. O sector financeiro está a ser reformado porque sabemos que isso irá ajudaras PMEs.

Assuntos não discutidos no estudo acima incluem a ausência de cartórios de património e agências
de crédito, o que torna difícil para as pequenas empresas demonstrarem o seu mérito para crédito.
Para empresários na economia informal é particularmente difícil utilizar património como garantias
(de Soto 2000).

Infra-estruturas físicas e serviços públicos

Empresas de todas as dimensões necessitam de infra-estruturas físicas seguras e acesso a


serviços públicos. Por isso, é provavelmente necessária uma abordagem dimensão-neutral para o
desenvolvimento do sector privado. E verdade que em países em desenvolvimento, as infra-estruturas
e acesso a serviços públicos são por vezes fracos e inseguros. Além do mais, a cobertura tende a não
ser compreensiva deixando grandes áreas (ou áreas completas) sem, ou com serviços deficientes.
A preocupação do governo em relação às grandes empresas, juntamente com o poder de pressão
das GEs, pode resultar em melhores serviços para áreas de grandes empresas (parques industriais) e
uma relativa negligência em relação a áreas utilizadas por pequenas empresas (área indústria ligeira).
Isto pode significar uma desvantagem competitiva para pequenas empresas. Um campo de jogos
equilibrado requer condições iguais para firmas de todas as dimensões, mas seria realizado com vista
a apoiar PMEs.

Em alguns países e indústrias, as empresas são forçadas a assumir e prestar serviços (públicos). Estradas
e pontes construídas por companhias mineiras ou florestais são os exemplos mais óbvios. Isto pode
constituir um custo adicional para a realização de actividades económicas para grandes empresas, em
especial multinacionais. Em outros casos, podem ser relativamente acessíveis a empresas de todas as
dimensões certas formas de serviços privados (e.g. geradores de reserva).

Sistema jurídico

Como sugerido em Beck et al. (2005b), pequenas empresas são mais afectadas por um sistema jurídico
fraco ou subdesenvolvido. Os resultados baseiam-se num levantamento perceptivo de mais de 4 000
empresas em 54 países.

Empresas de todas as dimensões sentem que um sistema jurídico fraco é uma importante limitação
nas actividades empresariais. No entanto, só no caso de pequenas e médias empresas foi constatado
um impacto negativo significante no crescimento empresarial (com base nas vendas). Testes num
número específico de aspectos do sistema jurídico mostraram significantes diferenças entre grandes
e pequenas empresas, em relação ao impacto no crescimento empresarial. No entanto, estes factores
não eram, na sua maioria, significativos para o crescimento empresarial em cada sub amostra de
dimensão da empresa.

O impacto de um sistema jurídico pobre no crescimento das pequenas empresas era pior que nas
grandes empresas, e esta diferença era estatisticamente significante nos seguintes pontos:

∞ Disponibilidade de informação sobre leis e regulamentos;


∞ Qualidade e eficiência global dos tribunais; se os tribunais são vistos como justos e imparci-
ais;

PME
28 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
∞ Rapidez dos tribunais em tratar dos casos;
∞ Se os julgamentos em tribunal são consistentes; confiança no sistema legal para fazer cumprir
contractos e direitos de propriedade; e
∞ Confiança no sistema legal para manter direitos de propriedade há 3 anos e actualmente.
Esforços que melhorariam a eficiência jurídica levam geralmente à melhoria do desempenho de pe-
quenas e médias empresas, mas parecem não ter impacto nas grandes. Investigações relacionadas
com direito de propriedade e financiamento (Beck et al. 2004b) sugerem que direito de propriedade
mais forte tende a gerar um efeito mais significativo para pequenas do que para grandes empresas
na estimulação de acesso a financiamento externo. O efeito é o financiamento bancário e de capital
próprio. Há poucas provas registadas quanto ao impacto de abordagens dimensão-específicas mais
claras tais como o desenvolvimento de tribunais de pequena instancia para lidar com os conflitos de
pequenas empresas15. Tais tribunais permitiriam que um queixoso apresente o seu caso sem ter de
utilizar um conselheiro jurídico. Pequenas empresas tendem a achar dispendioso abordar questões
jurídicas por causa da necessidade de assegurar perícia jurídica externa. As GEs costumam ter pessoal
jurídico entre o seu pessoal, embora o mesmo seja dispendioso para manter.

Registo e licenciamento empresarial

O tempo e custos necessários para iniciar uma actividade são muitas vezes um sinal se o ambiente
regulador do país é favorável ou opressivo. De facto, por vezes parece estranho, dada a importância
da actividade empresarial para uma economia, porque é que alguém num país pode registar uma
empresa em alguns dias com um capital mínimo enquanto noutro país precisa de 198 dias (como
no Laos) e no outro necessita de $61,000 como capital inicial (Síria). O tempo e custos necessários
para o estabelecimento da empresa são um importante factor na criação de novas empresas, as quais
são predominantemente PMEs. Quando são estabelecidos valores fixos para o registo empresarial e
outras taxas de licenciamento, os mesmos são proporcionalmente mais dispendiosos para pequenas
empresas e podem por isso inibir o estabelecimento da empresa. Isto pode sugerir uma abordagem
dimensão-especifica na qual as taxas são estabelecidas com alguma garantia em relação à dimensão
(i.e. investimento inicial, emprego inicial, média de rendimento financeiro, etc.)16. Além disso, pode-se
sustentar que os pedidos de grandes empresas deveriam ser mais intensamente escrutinados dado o
seu maior futuro impacto em áreas como a competição, emprego, meio ambiente, etc. Pelo contrário,
taxas baixas e prazos curtos são benéficos para empresas de todas as dimensões que iniciam a sua
actividade. Isto sugere que pode ser tomada uma abordagem dimensão-neutral nesta matéria.

Tributação

Uma recente revisão das taxas de impostos corporativos em países da OCDE revelou uma separação
quase exacta sobre se taxas mais baixas era prevista para PMEs (Chen et al. 2002). Catorze dos 29 paí-
ses tinham taxas mais baixas para PMEs, enquanto os restantes 15 membros não faziam distinção. Os
E.U. tinham uma das maiores diferenças com uma taxa básica de 35% comparada com uma taxa de
PMEs de 15%. A taxa básica no Reino Unido era de 30%, descendo para 10-20% para PMEs (ibid., 13).

Além disso, há países que tem outras condições para taxas corporativas para apoio a PMEs. De 1999 a
2003 a Coreia do Sul concedeu às PMEs 50% de redução nas taxas sobre o rendimento e propriedade
15 Ou mais correctamente, as mais pequenas quantidades de conflitos apresentados por pequenas empresas.
16 O relatório anual do Banco Mundial Doing Business (2005) regista o número absoluto de dias e o custo como uma
percentagem do rendimento médio per capita do país. A implicação é que o tempo e as taxas deveriam ser mantidos num
mínimo e relacionarem-se com o nível médio de rendimento pessoal.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 29
até 5 anos e isenção de taxas de registo e transacção por dois anos. Diversos países tem condições
especiais de impostos para investimentos em industrias de alta tecnologia e/ou para R&D. A Itália e o
Reino Unido têm dos mais generosos créditos especiais para impostos R&D para PMEs. Outras condi-
ções incluem créditos para investimentos no capital próprio de PMEs e isenções no (mais-valias) ren-
dimento do capital. As PMEs estão isentas de IVA na maior parte dos países da OCDE e existem taxas
reduzidas para PMEs nos países que não oferecem isenção total. Os lucros do trabalho independente
(actividade não incorporada) são taxados de acordo com condições gerais do código de impostos para
pessoas empregadas. Um número de países tem taxas de impostos mais reduzidas, procedimentos
simplificados ou requerem contribuições reduzidas para a segurança social para o trabalhador inde-
pendente em comparação com os que auferem salários. Todas estas condições fazem parte duma
abordagem dimensão-especifica quanto à tributação. O estudo da OCDE realça também que taxas
reduzidas são normalmente motivadas pelo reconhecimento de que PMEs incorporadas e trabalhado-
res independentes se deparam com um número de limitações ou desvantagens, nomeadamente os
relativamente mais elevados custos para cumprimento com as regulamentações governamentais e o
reduzido acesso a financiamento. Os lucros das PMEs tendem a ser mais reduzidos e por isso, também
são criadas condições por motivos de equidade. No entanto, a OCDE adverte que alguns dos moti-
vos mais gerais para a concessão de reduções a PMEs podem não ser bem fundamentados. Sugere
que “uma grande parte das PMEs estabelecidas não são criadores significativos de novos postos de
trabalho ou de inovação” e por isso, reduções de impostos podem, por esse motivo, não se justificar
(ibid., 19). Reduções também podem criar armadilhas a (prazo) tamanho/dimensão, pois as empresas
mantêm-se pequenas para evitar uma taxação mais elevada. Estes vários argumentos suportam uma
abordagem dimensão-neutral em relação à tributação e são provavelmente parte dos motivos porque
muitos países não possibilitam taxas corporativas reduzidas para PMEs.

Formação

É mais provável que grandes empresas prestem ou apoiem a formação dos seus empregados. Existem
provavelmente quatro razões para que assim seja. Em primeiro lugar, as GEs têm um custo de capi-
tal para investimento em formação mais baixo. Em segundo, o custo da formação por trabalhador é
mais baixo em GEs devido à economia de escala na provisão da formação. Terceiro, as GEs tem uma
escolha maior de posições para trabalhadores qualificados e por isso, há menos probabilidades que
os trabalhadores por elas formados se mudem para outras empresas. E por último, na formação para
a área de gestão, há maiores oportunidades para subir na carreira dentro da companhia. Ao mesmo
tempo, as pequenas empresas estão por vezes menos conscientes das vantagens da formação para o
desempenho da empresa (Hughes 1997: 13-14). As desvantagens naturais que as PMEs têm na oferta
de formação podem ser por isso motivo para créditos especiais para formação (i.e. dedução de im-
postos) a tais empresas. Se os trabalhadores não ficam na empresa, não há uma maior perca para o
investimento (porque é parcialmente financiado através de créditos a impostos). Alem disso, formação
em PMEs apoiado pelo governo com base na empresa gera percepções externas positivas que são
captadas pela empresa, pequena ou grande, para onde o trabalhador se mude. Em geral no mundo
em desenvolvimento, as instituições de formação são excessivamente centralizadas e não se orientam
pela procura. As pequenas empresas, que confiam mais em formação pré emprego e não com base
na empresa, são mais susceptíveis de beneficiar das políticas de formação que tornem os sistemas de
formação mais relevantes para as necessidades do sector privado. O argumento dimensão-neutral
seria que os benefícios da formação deveriam estar disponíveis para empresas de todas as dimensões.
A formação, como a educação, podem ser vistas como um bem público e, além do mais, as pequenas
empresas projectam uma imagem positiva para o exterior quando empregam um trabalhador forma-
do por uma grande empresa.

PME
30 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Política de concorrência e “procurement” governamental

A competição pode ser inibida pela concentração de poder de mercado em uma ou mais grandes
empresas. Por isso, a dimensão das empresas é importante para assegurar uma concorrência im-
parcial. As grandes empresas podem controlar fontes de matéria-prima primárias ou secundárias e/
ou dominar mercados consumidores. A teoria de micro economia demonstrou já há muito tempo
que tais situações de monopólio ou (oligarquia) oligopólio têm efeitos negativos para a prosperidade.
Por esse motivo, a maior parte dos países desenvolvidos pôs em prática políticas de concorrência
(também conhecidas como anti monopólio, antitrust ou restrição de práticas comerciais). A União
Europeia desenvolveu uma política regional que é activamente posta em prática. Tais políticas são um
reconhecimento directo em como grandes empresas com substancial poder de mercado podem, e
procedem de um modo contrário ao interesse público, Inerentemente, tais políticas são uma medida
dimensão-específica para assegurar a concorrência imparcial: elas procuram providenciar um campo
de jogos nivelado reduzindo o poder das grandes empresas.

Ao mesmo tempo, os governos restringem com frequência a concorrência através das suas próprias
políticas de procurement. As quantidades requeridas num contrato governamental podem ser tão
grandes que apenas grandes companhias as podem providenciar. Alguns doadores têm trabalhado
com governos para assegurar um melhor acesso de pequenas empresas a contratos para fornecimen-
tos, construção de estradas e construção civil e serviços municipais. Isto significa, em parte, dividir
grandes encomendas em encomendas mais pequenas ou descentralizando a aquisição (ver exemplos,
ILO 2004:17, 31, 43,47).

Corrupção

Os investigadores já suspeitaram há muito o impacto negativo da corrupção no crescimento econó-


mico. Mauro (1995) foi o primeiro a confirmar que essa ligação em regressões de crescimento inter
países. Recentes investigações sugerem que pequenas empresas podem ser mais confrontadas com
corrupção e que a mesma tem um maior efeito material no desempenho das mesmas, em compa-
ração com as grandes empresas (Beck et al., 2005b). Estas indicações baseiam-se em dados de cerca
de 4,000 empresas em 54 países. Numa pesquisa de questões sobre à percepção, pequenas empresas
manifestarem significantes maiores preocupações (frustrações) com a corrupção, em comparação
com empresas maiores. Além do mais, estas percepções eram justificadas tendo em conta que o
impacto negativo da corrupção no crescimento das empresas é muito significativo para as pequenas
empresas. Era significante mas bastante inferior (cerca de 5%) para empresas de dimensão média e não
era significante para grandes empresas. Além disso, a proporção das receitas de uma empresa utilizada
para o pagamento de subornos reduz significativamente o crescimento das pequenas e médias em-
presas. Pelo contrário, não reduz o crescimento das grandes empresas. A corrupção de funcionários
bancários também afectou significativamente o crescimento das pequenas empresas mas não teve
um impacto semelhante em médias ou grandes empresas. Em resumo, as grandes empresas vêem a
corrupção como um obstáculo mas tal não afecta o seu nível de crescimento (ibid., p. 162). Não é sur-
preendente que o estudo também tenha chegado à conclusão que se um país fosse capaz de reduzir
a corrupção, tal teria um significativo efeito benéfico nas pequenas empresas.

As conclusões sugerem que a corrupção a ter de ser reduzida é aquela que afecta as pequenas em-
presas. Isto sustenta uma abordagem dimensão-especifica que melhore as instituições (e na realidade
o pessoal) mais em contacto comas pequenas empresas.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 31
Economia informal

Uma importante questão para a reforma do ambiente de negócios é a economia informal. Muitos
empreendedores escolhem a via informal porque o ambiente regulador é demasiado pesado. Noutros
capítulos discutimos as áreas reguladoras que podem inibir a formalização (licenciamento e registo
empresarial, legislação laboral, tributação). Na maior parte dos países, a economia informal é com-
posta quase exclusivamente por micro e pequenas empresas. O esforço para encorajar a formalização
(fazendo compreender os benefícios, ajustando os requisitos) não é directamente uma questão di-
mensão-específica (i.e. o esforço é para se formalizar todas as empresas informais). O mesmo requer,
no entanto, compreensão e sensibilidade quanto às questões enfrentadas por pequenas empresas.

Aglomeração industrial (escala de eficiência mínima vs. eficiência colectiva)

Nalgumas indústrias a competitividade requer a concretização de uma escala mínima de eficiência


(EME) de operação, e isso pode significar um AE que apoie investimentos de grandes empresas. A EME
assegura que um grande investimento feito em equipamento e maquinaria seja recuperado através de
uma alta produtividade, assegurando assim um baixo custo de produção por unidade. Também são
requeridos baixos custos de produção por unidade para se competir globalmente com outros grandes
produtores. As indústrias de construção automóvel, química e construção naval são três exemplos
nos quais a escala é importante. Os governos podem ter um papel activo apoiando grandes empresas
a atingir EME através duma política industrial que inclua aspectos como o comércio, investimento e
crédito.

Os países industrializados da Ásia Oriental utilizaram tais políticas, apoiadas como eram por burocra-
cias competentes e algum nível de concorrência doméstica para apoio governamental (Wade 1990). O
governo japonês racionalizou a indústria do aço — através da criação de algumas grandes empresas a
partir de muitas pequenas empresas – de modo a se tornar concorrencial no mercado internacional.
O governo da Coreia do Sul utilizou politica industrial para proteger e apoiar as suas indústrias iniciais
e ajudou-as a atingir a escala e competitividade internacional. Estes sucessos foram comparados com
esforços noutros países que apenas levaram à criação de “elefantes brancos” industriais, os quais não
eram eficientes e não tinham capacidade para concorrência internacional.

Pelo contrário, a competitividade pode ser conseguida em muitos sectores através da aglomera-
ção de micro, pequenas e médias empresas que são organizadas em grupos (Schmitz 1999). Estes
grupos requerem um AE que suporte frequentes acções negociais e colectivas (sobre formação,
marketing, padrões de qualidade, etc.)17. Diversas grandes empresas serão habitualmente envolvidas
no grupo e procedem ao agrupamento final, aquisições e organização e/ou marketing. Nestes ca-
sos, a reforma do ambiente empresarial não deve ter em conta os diversos grandes produtores mas
também a multitude de mais pequenos que são uma parte essencial do grupo. Através de políticas
governamentais ou a acção colectiva de associações sectoriais, as muitas firmas num grupo podem
trabalhar em direcção à melhoria da qualidade, padrão, expedição e experiência. Os grupos podem
aparecer em muitos países e muitas indústrias. Alguns são a base para o desenvolvimento industrial
em geral e competitividade global de um país, tais como o grupo (industrial) de microelectrónica
combase em PMEs em Taiwan.

Cultura empresarial, incluindo mulheres empresárias

O desenvolvimento de uma cultura empresarial vibrante pode ser importante para estimular a criação
17 Quantos aos aspectos de formação dos grupos, ver Marchese and Sakamoto (2005).

PME
32 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
de empresas. Isto é particularmente confirmado em países em transição com planeamento centrali-
zado. Além disso, é relevante para esses países onde o desejo para a criação de emprego se concen-
tra em assegurar postos de trabalho na área de serviços públicos. Programas governamentais que
incentivam o empresariado, nomeadamente através dos meios de comunicação social ou por meio
de estímulos fiscais ou de crédito, são normalmente dirigidos a pessoas mais jovens. O alvo também
tendem a ser aqueles que são mais prováveis de iniciar uma empresa relativamente pequena. Isto per-
mite prestar a tais programas uma abordagem dimensão-especificamas, ao mesmo tempo, serve para
todos os segmentos da sociedade.

Programas que se concentram em encorajar o empresariado feminino também se poderiam dirigir a


empresas relativamente pequenas, pelo menos no início. Assim, os mesmos argumentos para incen-
tivo à cultura empresarial em geral são também aplicáveis para esforços focalizados para mulheres.
Seja como for, há um elemento adicional de igualdade que pode ser um objectivo social suplementar
para estes programas. (Outros modos de encorajamento para o empresariado incluem a criação de
ambientes fiscais e reguladores favoráveis a novas empresas. Estas questões foram abordadas noutros
capítulos).

4. Implicações

Este documento tenciona possibilitar uma discussão equilibrada sobre se a dimensão é relevante na
reforma do ambiente empresarial. Como tal, as implicações dividem-se em dois grupos, aqueles que
apoiam uma abordagem dimensão-especifica e os que apoiam uma abordagem dimensão-neutral.
Muitas dessas implicações já foram debatidas na discussão geral no Capítulo 2 e alistagem elemento
por elemento no Capítulo 3. O que se apresenta aqui são pontos de vista relacionados com os princi-
pais temas da conferência.

Relevância da dimensão para avaliação do ambiente empresarial

A análise econométrica detalhada como debatida previamente no documento sugere que a dimensão
é muito relevante para avaliação do AE. A análise mostrou que em questões jurídicas, financeiras e de
corrupção, havia diferenças significativas na percepção dos obstáculos no AE para PMEs e GEs. Ainda
mais importante, havia (estatisticamente) diferenças significativas no provável impacto sobre o cres-
cimento económico que resultariam se alguns destes obstáculos fossem removidos. Como resultado
disso, as PMEs cresceriam, mas as GEs não. Uma avaliação do AE que não diferencie entre grandes e
pequenas empresas pode enfraquecer ou obscurecer o impacto, muitas vezes considerável, que um
ambiente difícil tem em pequenas empresas. Estatisticamente, as diferenças entre pequenas e grandes
empresas são provavelmente niveladas. Desta maneira, em trabalho estatístico mas também em es-
tudos baseados em entrevistas ou outros esforços para capturar o impacto do ambiente empresarial,
pode ser importante terem conta as percepções e realidades das pequenas empresas.

Relevância para o projecto de programas de reforma apoiados pelos doadores

O documento forneceu poucas provas empíricas que apoiem a necessidade de reforma dirigida a
todas as empresas. Isto apesar do facto de o documento estar compelido a discutir tal ponto de vista.
Os estudos de Beck e os seus colegas não apoiavam a necessidade de reforma em geral. Mais signifi-
cativamente, a variável AE não foi consideravelmente correlacionada com o crescimento económico,
o qual os autores viram como um importante caminho para a redução da pobreza. As provas sugerem,

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 33
no entanto, que um AE para PMEs teria um impacto causal no seu crescimento. Não foi testado se isto
teria um impacto no crescimento económico e redução da pobreza.

Relevância para a realização de reformas

Uma grande questão, para a qual faltavam provas, era o tipo de reformas necessário para as PMEs. Exis-
te pouca investigação rigorosa que compare os esforços de reforma do AE mais gerais com os mais
direccionados. Esta é uma questão muito importante para a comunidade doadora, tendo em conta a
recente deslocação de BDS gerais, para abordagens sectoriais, cadeia de valores e grupos, como um
modo de “fazer os mercados trabalhar para os pobres”. A abordagem emergente é mais holística, mais
enraizada em processos económicos e mais aberta a combinar BDS com reforma do AE (Miehlbradt
& McVay, 2005). A comunidade doadora deve concentrar-se em reformas gerais do AE para todas as
empresas ou em seleccionadas e combinadas reformas do AE com apoio BDS para sectores escolhi-
dos, subsectores ou cadeias de valores? Esta é uma questão fundamental.

Relevância para a avaliação dos resultados e impacto de reformas apoiadas pelos doadores

Como mencionado na primeira parte deste capítulo, investigação rigorosa sugere a necessidade de
diferenciar entre o impacto do AE nas PMEs e GEs. Parece haver significativas diferenças quanto aos
obstáculos enfrentados, e o impacto das reformas nesses dois grupos de empresas. Com base nesses
resultados, é por isso importante registar os diferentes impactos de qualquer reforma do AE apoiada
pelos doadores. Também é importante comparar os resultados de reformas de dimensão-neutral com
os de reformas de dimensão-especifica.

PME
34 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
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PME
36 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
IPEME O Perfil das PME´s
em Moçambique

Capítulo 3

1. Introdução
O Programa Quinquenal do Governo (2015-2019) tem na prioridade III: Promover o Emprego e Me-
lhorar a Produtividade e Competitividade e na prioridade IV: Desenvolver Infra-estruras Económicas
e Socias, o direcionamento estratégico do suporte as MPME’s no desenvolvimento da sua capacidade
produtiva através do suporte empresarial para a facilitação do acesso a informação, a tecnologia e
financiamentos, o desenvolvimento de habilidades técnicas e de gestão corporativa bem como a ex-
pansão de infra-estruturas de suporte.

Inserido no âmbito da promoção empresarial, a presente análise da situação actual das MPME’s tem
como base o último Censo Empresarial, realizado em 2014 pelo Instituto Nacional de Estatística, cujos
dados estão interconectados a base de dados das MPME’s, refletindo, as dinâmicas conjunturais das
MPME’s em Moçambique.

2. Quadro Institucional
2.1 Quadro Legal

O Instituto para a Promoção das Micro, Pequenas e Médias Empresas – IPEME, é uma entidade pública
de âmbito nacional, criada pelo Decreto nº 47/2008, de 3 de Dezembro, com o mandato de desen-
volver acções de promoção e apoio as Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME’s) e, também, de
assegurar a implementação e monitoria da Estratégia para o Desenvolvimento das MPME’s em Mo-
çambique.

2.2 Atribuições

As atribuições estatutárias do IPEME como instituição pública e que foram a base-guia para as reali-
zações do quinquénio, não só dinamizam a sua visão “Ser a plataforma institucional para promoção
do micro, pequeno e médio empresário mas, como também, enformam os valores “Excelência, Ética,
Assistência, Eficiência, Competitividade, Empreendedorismo, Parceria”.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 37
As atribuições do IPEME concentram-se nas seguintes áreas:

I. Fomentar a criação, desenvolvimento e modernização das Pequenas e Médias Empresas;


II. Estimular a implementação de micro, pequenas e médias unidades industriais de processa-
mento de produtos nacionais;
III. Enquadrar a actividade de promoção de equipamento de processamento apropriado para
zona rural dentro das estratégias sectoriais orientadas para o desenvolvimento rural;
IV. Criar capacidade de gestão empresarial das Pequenas e Médias Empresas;
V. Facilitar a assistência técnica e coordenação de acção de formação para os intervenientes;
VI. Promover e criar incubadoras empresariais;
VII. Assegurar a gestão das incubadoras existentes;
VIII. Facilitar o acesso ao financiamento, através de protocolos estabelecidos com a Banca, para
disponibilização de instrumentos complementares de capitalização das empresas e acesso ao
crédito;
IX. Promover acordos para constituição de fundos de co-garantia assim como a sua correcta
gestão;
X. Mobilizar recursos financeiros para o apoio ao desenvolvimento empresarial;
XI. Promover as ligações entre as MPME’s e entre estas e as grandes empresas.

2.3 Focalização Estratégica

A Estratégia Nacional de Desenvolvimento (2015-2035) considera que a industrialização deve desem-


penhar um papel fundamental na dinamização da economia ao impulsionar o desenvolvimento dos
principais sectores de actividade (agricultura e pesca), na criação de emprego e na capitalização dos
moçambicanos, definindo deste modo o sector industrial e os a ela ligados como prioridade na dina-
mização e suporte pelo governo.

Neste quadro, o IPEME presta uma atenção especial no suporte aos sectores prioritários definidos
nesta estratégia e em outros instrumentos programáticos do Governo.

No quadro dos seus 10 anos de existência, celebrados em 2018, um nova etapa foi traçada tendo como
pressupostos básicos: a focalização estratégica, a consistência dos programas PME; a dinamização do
ecossistema, a relevância dos serviços PME, a eficácia das plataformas PME e a mobilização de recur-
sos.

Para o percurso da nova década, foi traçada uma nova agenda que incorpora o desenvolvimento da
imagem corporativa, do capital humano e maior interatividade com as MPME’s e associações empre-
sariais.

A grelha de programas PME está alicerçada numa abordagem de sustentabilidade, com enfâse parti-
cular no desenvolvimento de parcerias com vários stakeholders em vertentes como negócios, ecos-
sistema de desenvolvimento, inovação, formalização, entre outros.

A oferta de serviços no quadro da década IPEME envolve a profissionalização de negócios de em-


preendedores e MPME’s nos bairros, ruas, oficinas de negócios, a qualificação empresarial, internacio-
nalização de negócios, subvenção PME, promoção do empreendedorismo nas escolas, no meio rural,
entre outros actividades relevantes e com impacto na competitividade das MPME’s

PME
38 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
2.4 Plataformas Institucionais de Apoio as PMEs

2.4.1 Centro de Desenvolvimento de Negócios (COrE)


O COrE é um Serviço público de atendimento e apoio ao negócio e investimento de âmbito nacional
que disponibiliza soluções de assistência e desenvolvimento de negócios a Pequenas e Médias Empre-
sas; Empreendedores; Associação de Produtores e Investidores ao longo do país.

Actualmente, este serviço está disponível aos empresários e demais interessados na cidade e província
de Maputo, bem como nas províncias de Manica, Sofala, Tete, Nampula e Cabo-Delgado, e nos distri-
tos de Manhiça, Mocuba, Caia, Catandica e Chiúta, perspetivando- se a expansão gradual as restantes
províncias.

A abordagem contemporânea de expansão dos COres inclui o modelo de parcerias público-privada,


ampliando-se não somente as oportunidades de diversificação dos serviços mas também de susten-
tabilidade da plataforma. São exemplos desta abordagem o COrE ds cidade da Beira operacionalizada
através da parceria com uma empresa local, assim como o Centro de Desenvolvimento Empresarial
Comunitário na cidade de Maputo, operacionalizado por uma associação de serviços comunitários no
bairro de Inhagoia.

2.4.2 Incubadoras Empresariais


As Incubadora de Empresas como serviços de atendimento e apoio estratégico ao negócio e investi-
mento, tem em vista disponibilizar soluções de assistência e desenvolvimento de negócios a médio e
longo prazo para micro e pequenas empresas na fase de arranque.

A implementação de incubadoras empresariais para além de ser uma das atribuições, justifica-se
como instrumento de criação e fortalecimento competitivo de micro e pequenas empresas a partir de
um ambiente facilitador e de assistência técnica dedicada, voltado ao alcance de uma maior eficiência
e sustentabilidade de negócios na fase de arranque.

Atualmente, está em processo de revitalização a incubadora de empresas da Machava, a título piloto,


bem como decorre o processo de implantação de uma incubadora de empresas do ramo agroindus-
trial na província de Manica. Pretende-se, assim, fortalecer as capacidades competitivas de empreen-
dedores e das pequenas empresas dos ramos Agronegócios e Indústria Transformadora nas províncias
Maputo e Manica.

2.4.3 Programa de Promoção e apoio no acesso à tecnologias


O programa de promoção e apoio no acesso a tecnologias abrange o desenvolvimento de Centros
de Transferência de Tecnologias (Fixo e móvelque constituem serviços de assistência empresarial no
desenvolvimento de negócios e transferência de conhecimentos sobre processos produtivos, transfor-
mação de produtos agrícolas e desenvolvimento empresarial).

A implantação e operacionalização de Centros de Transferência de Conhecimento (CTC), tem em


vista o fomento e assistência de implantação de pequenas unidades de processamento e fortificação
alimentar a nível local, através de acção combinada de gestão e desenvolvimento de negócios, com
parceiros estratégicos.

Actualmente, o IPEME dispõe de plataformas móveis de transferência de tecnologias de processa-


mento que apoiam os empreendedores do sector alimentar a criar e desenvolver negócios. Estas,
para além de acções de fomento do processamento alimentar disseminam e ministram conteúdos de
literacia tecnologia, financeira, de mercado e de negócios.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 39
Por outro lado, o programa compreende igualmente o apoio ao desenvolvimento do empreendedo-
rismo rural através da profissionalização dos empreendedores locais na implementação de modelos
de negócios sustentáveis a partir das oportunidades ligada a nutrição bem assim pela criação de opor-
tunidades para q fortificação alimentar de micro e pequenas indústrias do meio rural.

2.4.4 Feiras
Serviço e Instrumento de acesso ao mercado, através do apoio empresarial as MPME’s de diferentes
sectores de actividade como indústria, Agricultura e Serviços, constituindo, igualmente, um veículo de
transferência e partilha de conhecimentos, promoção de ligações empresariais, capacitação, formali-
zação e apoio ao marketing empresarial.

O IPEME tem já institucionalizado a Feira Internacional de Embalagem e Impressão, a feira PME Mulher
Empreendedora e a Conferência Conheça e Use Financiamento PME que decorrem anualmente m
diferentes locais ao longo do país.

Para além destas, foi institucionalizado na 53ª edição da FACIM o pavilhão PME Exporte como platafor-
ma de promoção que anualmente congrega e auxilia MPME’s para sua internacionalização.

2.4.5 Premio 100 Melhores PMEs


Mecanismo de registo, assistência no acesso ao mercado e de promoção empresarial da Micro,
Pequena e Média Empresa. É Realizado anualmente desde 2012, em parceria com o grupo Soico,
envolvendo MPME’s de todas as províncias, valoradas na base do crescimento, inovação, e inclusão,
comportando os seguintes prémios: PME do ano, PME Inovação e PME Inclusão e igualmente
portando as seguintes distinções: Jovem Empreendedor, Mulher Empreendedora, Produto Nacional,
Melhor Exportador, PME Gestão, PME Imagem, PME Start-Up, PME Desenvolvimento Pessoal
Responsabilidade Social, PME Agro-Negócio, PME Turismo, PME Indústria, PME Fiscalidade, PME
Resiliente e PME Exportadora.

Para além das plataformas acima referidas o IPEME implementa duas metodologias de suporte
empresarial, designadamente: A metodologia “Cada Distrito um Produto” (CaDUP) e A metodologia
“Tenologias de Gestão de Produção” (TGP).

Metodologia CaDUP: implementada no período de 2014 a 2016 como projecto-piloto, para a espe-
cialização e fortalecimento de cadeias produtivas locais, com suporte do governo do Japão através
da JICA, teve impacto significativo na competitividade, geração de emprego, renda e ligações com o
mercado, nas 30 MPME’s beneficiárias nessa fase.

Por essa razão, foi institucionalizado como programa de apoia ao desenvolvimento de cadeias produ-
tivas de empreendedores e MPME’s locais nos sectores do Agricultura, Indústria, Turismo e Artesanato,
contribuindo no desenvolvimento competitivo das MPME’s através facilitação no acesso a informação
e financiamentos, potenciando as MPME’s para o estabelecimento de ligações, adoção de embalagem
adequada, práticas corretas de gestão e de qualidade nas províncias de Maputo, Gaza e Inhambane,
Manica, Nampula e Cabo Delgado.

Metodologia TGP: que está orientado ao fortalecimento das MPME’s do ramo industrial, tendo o su-
porte do governo da Argentina através do Instituto Nacional de Tecnologias Industrias (INTI), foi im-
plementado a título piloto em 2015, com impacto significativo nos índices de produtividade das MP-
ME’s abrangidas.

Assim, foi institucionalizado como programa PME que visa elevar os índices de produtividade e de
competitividade através da minimização das perdas, manuseamento eficiente de ferramentas e uten-
sílios de trabalho, desenvolvimento de práticas de Higiene e Segurança no Trabalho, adoção e im-

PME
40 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
plementação das normas de qualidade para além de melhorar os níveis de gestão corporativa das
MPME´s.

Ambas metodologias estão também inseridas na agenda da nova década IPEME, com uma abordagem
mais integradora, tendo os agentes locais como principais implementadores, envolvendo o sector pú-
blico, privado e parceiros de cooperação.

O Perfil das PME’s em Moçambique


3. Contexto
Conforme foi referenciado, a presente análise tem como fonte de dados o ficheiro do INE baseado no
Censo de Empresas realizado em 2014, com dados actualizados em 2017, através de inquérito do INE.

São também usados como referência, resultados de estudos realizados nos últimos anos, no ecossis-
tema da micro, pequena e média empresa, no geral e, no âmbito de negócios com grandes empresas,
bem como estudos de base para o desenvolvimento de metodologia de interacção para a melhoria da
capacidade competitiva das MPME’s.

4. Dimensão no Tecido Empresarial


Em Moçambique as MPME’s constituem o segmento empresarial mais significativo representando
97.1% do total de empresas registadas. Deste universo a maior parte das empresas são de pequena
dimensão.

Figura 1: Distribuição de empresas por tamanho (2017)

Tal como em outros países, em Moçambique as MPME’s têm, um papel importante no crescimento
económico e alívio a pobreza. Este segmento contribui com 23,4% para o PIB e representa cerca de
97,1% do total de empresas registadas no país de acordo com os dados do Instituto Nacional de Esta-
tística (INE).

5. Distribuição das Empresas segundo a Dimensão


Actualmente existem no país cerca de 49.734 MPME’s empregando 270.402 trabalhadores. Destas,
1.996 são médias, 27.426 pequenos e 20.312 micro empresas. Em termos de distribuição no contexto

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 41
empresarial nacional 40% das empresas são de micro dimensão, 53% de pequena e 4% de média di-
mensão respetivamente.

De acordo com o INE as MPME’s empregam 270.402 pessoas, o que representa 46,4%, do número total
de trabalhadores, enquanto as grandes empresas retêm 312.381, ou 53,6%.

Tabela 1: Distribuição das Empresas Segundo a Dimensão

Média. No.
Total das Unidades Total Trabalhadores
Trabalhadores/
Tamanho das
Empresas (a) (b) Firma**
No. %* No. %* (b)/(a)
Micro 20.312 40 43.819 7.5 2
Pequenas 27.426 53 167.537 28.7 6
Médias 1.996 4 59.046 10.1 30
Total PME’s 49.734 97,1 270.402 46,4 55
Grande 1.503 2,9 312381 53.6 208
Total 51237 100.0 582.783 100 511
Fonte: INE 2017

6. Volume de Negócios nas Pequenas e Médias Empresas


Em termos de volume de negócio as pequenas empresas alcançaram o maior valor, mais de 157,8 mil
milhões de meticais (cerca de 5,8 milhões de meticais por empresa) contra o registo alcançado pelas
micro e médias empresas, conforme a figura a seguir.

Figura 2: Volume de negócios por tamanho de empresa

Volume de Negocios (MT)

700,000,000,000.00 648,667,382,963.97

600,000,000,000.00

500,000,000,000.00

400,000,000,000.00

300,000,000,000.00

200,000,000,000.00 157,777,847,895.72

100,000,000,000.00 34,320,661,845.44
5,628,362,999.82
-
Micro Pequenas Medias Grandes

Fonte: INE: 2017

PME
42 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
6. Distribuição Por Sectores de Actividade
Os dados indicam ainda que, dentre as actividades mais representativas exercidas pelas MPME’s, des-
taca-se o sector do comércio a grosso e a retalho com 30.418 empresas (41,8%) do total do número de
MPME’s, seguido de actividades de alojamento e restauração com 4.782 (6,6%), a indústria transforma-
dora, com 3.503 (4,8 %), e as actividades de consultoria com 2.594 (3,6%)

Tabela 2: Número de empresas por tipo e sector de actividade

Sectores do CAE Micro Pequenas Medias Grandes Total


A-Agricultura, Produção Animal, Caça, 95 276 63 72 506
Florestas e Pescas
B-Indústrias Extractivas 24 117 24 41 206

C-Indústrias Transformadoras 1132 1890 253 228 3503

D-Electricidade, Gás, Vapor de água 55 98 15 14 182


quente e Fria e Ar Frio
E-Captação, Tratamento e distribuição 38 128 17 14 197
DE ÁGUA, Saneamento, Gestão de
resíduos e despoluição
F-Construção 334 1356 198 204 2092
G-Comércio por grosso e a retalho; 14165 15084 755 414 30418
Reparação de Veículos Automóveis e
Motociclos
H-Transportes e armazenagem 308 805 99 110 1322
I-Alojamento, restauração e similares 1652 2897 151 82 4782
J-Actividades de informação e 166 439 48 34 687
comunicação
K-Actividades financeiras e de seguros 416 52 11 27 506
L-Actividades Imobiliárias 46 190 24 18 278
M-Actividades de Consultoria, 629 1755 134 76 2594
cientifica, técnica e similares
N-Actividades administrativas e de 354 497 92 107 1050
serviços de apoio
P-Educação 66 518 56 30 670
Q-Actividades de saúde humana e 50 158 16 16 240
acção social
R-Actividades artísticas, de espetáculos, 19 70 9 98
desportivas e recreativas
S-Outras actividades de serviços 763 1096 31 16 1906
Total 20312 27426 1996 1503 51237

Fonte: INE 2017

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 43
Tabela 3: Número de empresas por sector de actividade por Província (CAE)

adoras
r

di
a
r

c
Motoc

oe
similares

onsul-
ri écnica e
simi

human

Fonte: INE, 2017

6. Principais Desafios/Oportunidades das MPME’s


A vasta literatura sobre os constrangimentos das MPME’s apontam como principais os seguintes:
Acesso a financiamento, tributação, dificuldades de gestão empresarial, qualificação de mão-de-obra,
infraestruturas de desenvolvimento, o acesso a mercados e a coordenação das várias partes interve-
nientes.

Esta abordagem é complementada com a contestação feita no estudo 2, Magtap (2016) que identi-
ficou como principais constrangimentos das MPME’s nas zonas Sul, Centro e Norte os seguintes: a
obtenção de fundos e financiamento bancário, a falta de pagamento/atraso dos clientes, e os recursos
da empresa (equipamento, transporte, electricidade e armazenagem).

PME
44 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
6.1 Tributação

Através do Decreto 14/2009 foi introduzido o Imposto Simplificado Para os Pequenos Contribuintes
(ISPC) com objectivo de alargar a base tributária e garantir adesão do micro e pequeno empresário ao
sistema tributário.

De acordo com a pesquisa “FINSCOPE PME, 2012” 86% das empresas actuam na informalidade, sem
efectuar o licenciamento das suas actividades. Verifica-se, então que não obstante ao incentivo, a
maioria dos micro e pequenos empresários continuam fora do sistema.

O limite para o benefício é estar na categoria que vai até 2.500.000 Meticais em termos de volume de
negócios, o que significa que abarca a totalidade das micro e apenas uma parte não significativa do
segmento das pequenas empresas.

O estudo “PME em Moçambique Desafios e Oportunidades” (2013) revela que a carga fiscal é con-
siderada exagerada para as empresas recém - criadas e em crescimento. O nível elevado das taxas
aplicadas para os impostos nacionais é um dos constrangimentos à capacidade de financiamento das
empresas, pois as mesmas vêm-se privadas de recursos financeiros para suportarem novos investi-
mentos. (ACIS 2012).

O facto de haver uma parte importante das MPME’s a que não se aplica o ISPC coloca ainda maior re-
levância na procura de um quadro fiscal de incentivo que impulsione o crescimento e fortalecimento
das Pequenas e Médias Empresas (PME’s) que não podem beneficiar daquele regime fiscal.

Neste contexto, Um quadro de incentivos fiscais é recomendado para melhorar o desempenho corpo-
rativo bas mesmas, designadamente:

∞ Incentivo à formação profissional de trabalhadores e gestores moçambicanos;


∞ Incentivo ao investimento na aquisição de activos novos para a exploração, considerados re-
levantes;
∞ Incentivo à adopção de normas internacionais de certificação (qualidade, higiene, segurança,
ambiente, etc.);
∞ Incentivo ao reinvestimento de lucros retidos;
∞ Incentivo ao fortalecimento das MPME’s pela via da diminuição da discriminação negativa
fiscal do financiamento por capitais próprios;
∞ Incentivo à solidificação da estrutura jurídico-societária das MPME’s;
∞ Incentivo à fixação das actividades económicas e da população fora das maiores cidades.
Outra das questões levantadas no mesmo estudo é o facto de as empresas se ressentirem pelas difi-
culdades do governo em efectuar o pagamento do IVA dentro do prazo.

Para além disso aponta-se a existência de barreiras ao comércio com o exterior, seja na importação
ou exportação em resultado da morosidade dos processos e elevados custos associados (burocracia,
taxas alfandegárias e corrupção).

Outro desafio do sistema tributário é a necessidade de pagamento sistemático. O estudo “Pagamento


de Impostos em Moçambique¹” refere que as empresas têm de efectuar o pagamento de impostos e
taxas 42 vezes durante o ano, implicando um elevadíssimo custo de transacção, salientado, igualmente
serem complexos os procedimentos para o pagamento, os quais obrigam a que as empresas suportem
custos elevados decorrentes maioritariamente do tempo necessário para se proceder ao pagamento.

Este custo está associado a existência de um conjunto extenso de impostos, designadamente: Tributa-
ção Directa (Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRPC), Imposto sobre o Rendimento
das Pessoas Singulares (IRPS) e Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes (ISPC); Tributação
Indirecta (Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), Imposto sobre Consumos Específicos (ICE) e Di-

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 45
reitos Aduaneiros) e outros Impostos (Imposto de Selo, Imposto sobre Sucessões e Doações, Imposto
Especial sobre o Jogo e Imposto sobre Reconstrução Nacional); Impostos autárquicos (Sisa, Imposto
Sobre Veículos, Imposto Predial Autárquico, Imposto Pessoal Autárquico, Contribuição de Melhorias,
Taxas por Licenças e Taxas por Actividade Económica, e Tarifas por Taxas pela Prestação de serviços
(taxa de lixo, reclames luminosos e outros).

6.2 Qualificação da Mão-de-obra

De acordo com inquérito ao Orçamento Familiar (IOF 2014/15) o nivel de ocupação diminui quando
o nível de escolaridade aumenta, revelando que ainda há fragilidades no que tange ao nível de es-
colaridade da força de trabalho. Assim, a população sem nenhum nível de escolaridade é aquela que
regista o nível de ocupação mais elevada (78,5%). O que possui o nível secundário e mais tem a taxa
mais baixa (48,3%).

O estudo sobre os desafios e oportunidades das PME’s refere que muitas micro e pequenas empresas
nacionais não dispõem de políticas de desenvolvimento de Recursos Humanos e nem de recursos
financeiros para investir na formação dos colaboradores. Por isso, o desenvolvimento do capital hu-
mano é considerado prioritário nos instrumentos programáticos do governo como a estratégia nacio-
nal desenvolvimento, Politica e Estratégia Industrial e estratégia das MPME’s implicando não somente
acções endógenas às empresas mas também suporte dos vários actores interessados.

Os programas de extensão industrial, formação PME e assistência dedicada PME são o veículo através
do qual MPME’s beneficiárias dos serviços do IPEME podem melhorar os níveis de produtividade labo-
ral bem como as habilidades técnicas dos gestores e trabalhadores.

6.3 Gestão e Desenvolvimento Empresarial

A Estratégia Para o Desenvolvimento das PMEs (2007-2022) aponta como um dos maiores constrangi-
mentos das PMEs as dificuldades a nível da gestão de negócios.

A pesquisa “FINESCOP PME, 2012” mostra que 85% dos empresários individuais têm ensino primário
ou menos (incluindo 15% sem educação formal). Dos empresários com trabalhadores 69% têm ensino
primário ou menos, incluindo 13% sem educação formal.

Neste cenário aspectos da gestão corporativa como planificação, relação com fornecedores, marke-
ting, finanças, stocks entre outros não são do domínio dos gestores das MPME’s devido ao seu nível
educacional.

Para criar capacidades de gestão no que tange a informação, mercados, produção, financiamento,
operações, planeamento estratégico e empreendedorismo, o IPEME desenvolve acções de assistência
e capacitação empresarial, implementando o Catalogo de Formação PME, que contempla mais de
40 temas sobre negócios e gestão corporativa, ministrados através dos Centros de Desenvolvimento
Empresarial existentes.

Os Centros de desenvolvimento Empresarial são o também o veículo pelo qual o IPEME se faz pre-
sente e implementa programas a nível local. Assim, através destes promove e implementa outras ini-
ciativas como: uma escola um empreendedor que fomenta e desenvolve o empreendedorismo nas
escolas do ensino geral; provedor PME por via da disponibilização de serviços na rua; empreender PME
que qualifica, subvenciona e promove a ligação com o mercado; e a qualificação PME para inserção
no mercado das grandes empresas.

Desde a sua criação em 2008 o IPEME já assistiu cerca de 30.000 Empreendedores e MPME’s nas
matérias de desenvolvimento de negócios. Entretanto o desafio actual consiste em intensificar estas
acções de forma dedicada e especializada com incidência particular junto aos centros produtivos.

PME
46 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
No caso do desenvolvimento de competências e habilidades de gestão das MPME’s que operam nas
áreas de mineração petróleo e gás, o estudo 3, (MAGTAP 2017) concluiu ser fundamental a criação
de Centros Empresariais de Especialidade de natureza público-privada, para indução da aquisição de
capacidades de modo que as MPME’s forneçam bens e serviços aos projectos de mineração, petróleo
e gás.

Em termos geográficos os Centros Empresariais situar-se-ão perto de um projecto âncora para redu-
zir a barreira de distância entre as MPME’s e as oportunidades do mercado, fornecendo serviços nas
componentes de prestação de informações; Avaliação Empresarial; Formação e Acompanhamento e
Serviços de infraestrutura e apoio. O mesmo estudo, refere que os mesmos devem entre outras carac-
terísticas básicas incluir:

∞ A criação de benefícios para as MPME na vizinhança de um projecto âncora de mineração,


petróleo e gás
∞ Acessível aos parceiros do sector privado interessados, às MPME, bancos, bolsas de valores,
fundos de investimento, doadores, etc.
∞ Financeiramente auto-sustentável
∞ Abordagem prática e adequada à prestação de serviços com o mínimo de burocracia
∞ Uso eficaz dos recursos através da coordenação entre os parceiros institucionais
∞ Assistência técnica que é profissional, de alta qualidade, orientada pelos resultados, com boa
relação ‘custo/benefício’
∞ Alavancagem da vantagem comparativa e da perícia dos parceiros

6.4 Infra-estruras de Desenvolvimento

Lall (2000) sugere a existência de um gap tecnológico nos países africanos em desenvolvimento, pre-
dominando pequenas empresas menos eficientes e pouco inovativas, sendo as grandes empresas as
que detém os melhores processos tecnológicos.

A Estratégia da Ciência Tecnologia e Inovação mostra que a situação tecnológica actual do país é mis-
ta onde, por um lado existe um fraco acesso a tecnologia e/ou transferência tecnológica, por outro, as
novas empresas ao instalarem-se no país trazem consigo tecnologias actualizadas contribuindo para
a melhoria do parque tecnológico no país.

O Inquérito as indústrias manufactureiras realizado em 2012 e a Estratégia Nacional de Desenvolvi-


mento (2014) ressaltam a necessidade de melhoria da infraestrutura de suporte à tecnologia (acesso à
electricidade de qualidade, sinal, velocidade e consistência da internet entre outros) como investimen-
to complementar para estimular a eficiência produtiva e induzir a industrialização do país.

Assim, a PEI (2016) considerada ser fundamental para a industrialização do país, na componente do
desenvolvimento de infraestruturas: Consolidar o Projecto dos parques industriais; Consolidar a Estra-
tégias dos Corredores de Desenvolvimento, Consolidar a Estratégias de Desenvolvimento Integrado
dos Sistemas de Transportes e Consolidar o Programa de Zonas Económicas Especiais.

6.5 Acesso a Serviços Financeiros

A Estratégia de Desenvolvimento das PMEs (2007-2022) e vários estudos realizados sobre as MPME’s
em Moçambique, apontam a falta de financiamento como o principal constrangimento enfrentado
pelas MPME’s em Moçambique, mostrando que o acesso é muito limitado para esta camada empre-
sarial ao contrário do que acontece para as grandes empresas que não parecem ter muitos problemas
de acesso ao crédito bancário.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 47
O relatório de Inclusão Financeira de 2018 revela que o nível de intermediação financeira, medido em
termos do Crédito à Economia em percentagem do PIB, situou-se em 25% (3pp abaixo do observado
em 2017 e 14pp acima do observado em 2005). Realça que, depois de ter se registado uma queda
acentuada do crédito à economia em 2017, em 2018 este agregado apresentou uma variação negativa
2,6%, contra a variação negativa de 13,6% registada no período anterior, com efeito nas MPME’s mo-
çambicanas.

Aliás, Sveinung Fjose, Leo A. Grünfeld, Chris e Green (2010) mostraram que há poucos instrumentos
financeiros na Africa Sub-sahariana disponíveis e adequados para PMEs mantendo-as vulneráveis es-
tando o apoio financeiro mais focado a micro empresa.

Por outro lado, mostraram ainda que o Gap de acesso das PME’s a financiamento deriva também da
falta de informação financeira/literacia financeira. Está conclusão também é realçada na estratégia de
inclusão financeira (2016-2022), que sugere igualmente a educação financeira como o caminho para
aumentar a inclusão financeira.

O IPEME assiste as MPME’s em matérias de literacia financeira através de acções de formação e rea-
lização de conferências denominadas “Conheça e Use Financiamento PME”. e Sessões “Neteworking
Especial PME” voltados a divulgação de oportunidades de financiamento e negocios. Todavia, devido
a crescente demanda por estes serviços existe o desafio de beneficiar mais empresas.

A Estratégia de Desenvolvimento do Sector Financeiro (2013-2022) refere que há pouca concorrência


no sector bancário, os custos, spreads e comissões bancárias são elevadas e não-transparentes, con-
tribuindo para custos de empréstimo muito elevados.

Ilustra igualmente que as instituições tendem a concentrar as suas infraestruturas em zonas urbanas,
com maior incidência na zona sul do país não atingindo uma porção significativa do segmento que
actua nas regiões centro e norte do país, bem como em zonas distantes dos principais centros urba-
nos.

De acordo o relatório de inclusão financeira, em 2018, houve um ligeiro aumento na bancarização


da população passando de 360 para 362 contas bancárias por cada 1.000 adultos, em 2017 e 2018,
respectivamente.

Os dados do mesmo relatório indicam que de um total de 154 Distritos, o país passou a contar com
100 Distritos cobertos com agências de Bancos e 15 Distritos com cobertura de Microbancos e Coo-
perativas de Crédito representando um nível de cobertura de 65% e 11% do total de Distritos, respecti-
vamente menos 8pp e 3pp quando comparado a 2017 (BM:2019).

A pesquisa FINESCOPE 2012 refere que a maioria dos proprietários de negócios sobretudo a nível lo-
cal não usam conta bancária para os seus negócios. Apenas 4,9% dos proprietários dos negócios usa
conta bancária para os seus negócios. Apenas 0,3% dos proprietários de negócios usam uma conta
bancária em nome da empresa. Refere, igualmente que 75% dos proprietários das PME’s estão parcial-
mente excluídos, não usa nenhum serviço ou produto financeiro. Apenas 9% usa produtos/serviços de
bancos comerciais usados principalmente para transacções em numerário.

Existem em Moçambique diversos fundos de fomento do Governo nos diferentes sectores económi-
cos e um Fundo de Reabilitação Económica (FARE) que está a estimular o desenvolvimento de opera-
dores de micro crédito, em particular a nível local. Contudo, estes enfrentam constrangimentos como
sejam o baixo índice de retorno do investimento, fraca capacidade de resposta à procura das provín-
cias e distritos, gestão dos recursos financeiros de investimentos, fraca divulgação e deficiente fluxo
de informação desde o nível central até os distritos, reduzindo o impacto ao nível dos beneficiários.

Dado que as PMEs em Moçambique, são na sua maioria sociedades não anónimas e apresentam uma
fraca aplicação de princípios da governação corporativa, tem dificuldades para o acesso aos serviços
alternativos financeiros através da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM).

PME
48 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
6.6 Acesso aos Mercados

Lall (2000) ressalta os problemas estruturais nos países em desenvolvimento, em particular os da Afri-
ca subsaariana enfatizando que as PME’s nestes países actuam em actividades tradicionais e permane-
cem com baixos níveis de produtividade, baixa qualidade de produtos, servindo pequenos mercados.

Como resultado dos constrangimentos da estrutura económica do país as PME’s têm incapacidade
em satisfazer os padrões e requisitos exigidos pelos grandes compradores e pouco beneficiam das
ligações empresariais.

A inconsistência da qualidade dos produtos e serviços prestados pelas MPME’s nacionais implica, em
muitos casos, que sejam preteridos por produtos que vêm de economias mais industrializadas da re-
gião e do resto do mundo que possuem padrões internacionais de maior qualidade.

Neste sentido, a criação do Sistema Nacional de Qualidade (SNAQ), aprovado pelo parlamento em
2018, tem em vista, entre outros objectivos, contribuir para o desenvolvimento de acções que per-
mitam o alcance de padrões de qualidade dos produtos e serviços exigidos pela implementação das
normas nacionais e internacionais.

No quadro dos constrangimentos de acesso ao mercado, figura também a falta de informação sobre
negócios e oportunidades de mercado, com um impacto adverso para o fornecimento de bens e ser-
viços das PMEs conforme referencia a Estratégia Para o desenvolvimento das PME’s 2007-2022.

A nível do comércio internacional, por exemplo, as MPME’s que não estão familiarizadas com certifi-
cados de origem, isenções tarifárias e não-tarifárias inerentes ao acordo de livre comércio, são menos
competitivas e, portanto, têm benefício limitado dos recentes esforços de integração regional a nível
da SADC, bem como outros acordos de comércio internacional (AGOA, EBA, ACP e outros).

Como forma de alavancar as MPME’s para aceder a mercados, no que tange a matérias relevantes
como acesso a informação, estruturação empresarial e qualidade, o IPEME tem dentre outros o Pro-
grama PME Exporte.
Este, tem o intuito de apoiar a internacionalização de MPME’s com um foco particular no mercado
do AGOA. O mesmo constitui um mecanismo de reforço da capacidade competitiva através da assis-
tência na qualificação empresarial, subvenção e promoção empresarial das MPME’s e cooperativas de
produtores potenciais e efectivas nas cadeias de valor de Oleaginosas (Gergelim, Castanha de Caju,
Girassol, Amendoim e outras), plantas medicinais, óleos de essências, frutas, leguminosas e vegetais
de alto valor comercial.

Tem como instrumento o pavilhão PME Exporte que anualmente concentra empreendedores e MP-
ME’s para exposição, intercâmbio e negociação na Feira Internacional de Maputo. Para além deste,
tem também como instrumento o Catalogo Digital PME, ferramenta promocional de intermediação
e apoio dedicado e personalizado de negócio de cooperativas de produtores e MPME’s. Serve como
plataforma dinamica e interactiva entre as MPME’s nacionais e outras empresas nacionais e estrangei-
ras, que potencia, faz a inclusão económica e facilita o acesso a informação e o estabelecimento de
ligações empresariais.

A abordagem indutora do acesso ao mercado, alicerçada na literatura sobre o desenvolvimento das


MPME’s nacionais, contempla para além da promoção do estabelecimento de centros empresárias de
especialidade anteriormente referidos, a facilitação do acesso a informação sobre as oportunidades e
requisitos de acesso, acções de capacitação empresarial em temáticas chaves designadamente: de-
senvolvimento de parcerias; gestão Profissional das MPME’s para acesso a mercados; preparação de
documentos de concurso; melhoria contínua na eficiência produtiva: 5S, 7 perdas, gestão de qualida-
de total e layout; e cadastro na plataforma de bens e serviços de AMA1 – Achilles.

Outro mecanismo que se mostra relevante no suporte as MPME’s no acesso a mercados é a plata-
forma Networking PME, que consiste em sessões mensais de apresentação de temáticas relevantes,

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 49
oportunidades, debates e partilha de diversas informações e mecanismos de superação de constran-
gimentos. Os empreendedores e PME’s participantes tem também benefiado da plataforma interrativa
de negócios whatsap Networking PME para exposição, negociação e informação de negócios, estando
cadastradas na plataforma 389 micro e pequenos empresários.

Outro aspecto relevante e actual é a questão dos nichos de Negócios. Um estudo sobre Nichos de
Negócios empresariais para MPME’s realizado em 2015, concluiu ser importante dar suporte aos ni-
chos de negócios nas áreas do Agronegócios, Turismo, Construção Civil e Apoio aos grandes projec-
tos, através do envolvimento dos principais players, partilha de informação e oportunidades com os
empreendedores e MPME’s locais, apoio estratégico na remoção dos constrangimentos das MPME’s
e desenvolvimento institucional. Neste âmbito, por exemplo, o IPEME está a promover um programa
denominado “Empreender PME” em parceria com a Mozal. Este programa iniciou em 2018 e tem vindo
a assistir/capacitar e subvencionar empreendedores e MPME’s a volta da Mozal, no Municipio de Boane
e Cidade da Matola, para que possam ser integradas na cadeia de fornecimento desta grande empresa.

6.7 Coordenação dos Vários Intervenientes

No caso específico de um segmento das PMEs, a coordenação de uma multiplicidade de intervenien-


tes é uma tarefa que requer trabalho constante em áreas sectoriais diferenciadas e complementares.

As MPMEs encontram-se dispersas em vários sectores de actividade e existem muitos temas transver-
sais ao segmento. As questões relativas ao ambiente de negócios, ao género, a educação e formação
profissional, ao empreendedorismo, a cidadania e ao desenvolvimento de negócios inclusivos são
questões transversais que devem ser consideradas em todas as políticas adoptadas pelo Governo, não
sendo as PMEs uma excepção.

Além dos temas transversais, as MPME’s devem ser alvo de considerações específicas no âmbito sec-
torial como indústria, comércio, o turismo, agricultura, pescas, recursos minerais além dos serviços
e infra-estruturas. Apesar do segmento das MPME’s ser considerado como prioritário nos programas
orientadores do Governo, actualmente falta uma coordenação eficaz entre os vários intervenientes no
apoio e desenvolvimento das MPME’s, o que leva a uma assimetria de informação e a duplicação de
acções tanto por parte do Governo como por parte dos parceiros de cooperação.

Esta falta de coordenação pode implicar o uso de recursos de forma excessiva em alguns sectores e/
ou a não abrangência de sectores importantes.

Além disso, a nova classificação das MPME’s, definida pelo Estatuto Geral das MPME’s ainda não foi
adoptada em algumas instituições do Governo e dos parceiros de cooperação facto que pode levar a
que alguns estudos e/ou políticas desenvolvidas não sejam comparáveis e possam criar alguma con-
fusão e ineficácia na sua implementação.

PME
50 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Referências
Banco de Moçambique (2019) Relatório de Inclusão Financeira 2018;

CM (2007): Estratégia Para o Desenvolvimento das Pequenas e Médias Empresas;

CM (2010): Estratégia Nacional da Ciência e Tecnologia;

CM(2013): Estratégia de Desenvolvimento do Sector Financeiro;

CM (2014): Estratégia nacional de Desenvolvimento;

FINMARKTRUST (2012): FINISCOPE PME;

FINAMARKTRUST (2014) FINISCOPE Consumer;

INE (2004) Ficheiro de Dados Estatísticos;

INE (2012) Ficheiro de Dados Estatísticos;

INE (2013) Ficheiro de Dados Estatísticos;

INE 2016 Relatório ao Orçamento Familiar IOF2-14/15 - Relatório do Módulo da Força de Trabalho;

IPEME (2014): PME em Moçambique, Desafios e Oportunidades;

IPEME (2014): Nichos de Negócios em Moçambique;

Lall, S (2000): Strengthening SMEs for International Competitiveness. 2000, Working Paper;

MAGTAP (2017): Estudo 1: Nichos prioritários para análise da cadeia de valor tendo em vista melhorar
a capacidade competitiva das MPMEs que operam com grandes projectos de Mineração, Petróleo e
Gás em Moçambique;

MAGTAP (2017): Estudo 2: Estudo para o fortalecimento da capacidade competitiva das MPMEs nacio-
nais para participarem nas cadeias de fornecimento dos grandes projectos de Mineração, Petróleo e
Gás em Moçambique;

MAGTAP (2017): Estudo 3: Identificar modelos de assistência para MPME’s e o papel do IPEME tendo
em vista melhorar a capacidade competitiva das MPME’s que operam com grandes projectos de Mine-
ração, Petróleo e Gás em Moçambique;

MAGTAP (2017): Estudo 4: Quadro de incentivos, taxas e impostos tendo em vista melhorar a capaci-
dade competitiva das MPME’s que operam com grandes projectos de Mineração, Petróleo e Gás em
Moçambique;

MPD (2012): Inquérito as Indústrias Manufactureiras 2012, Maputo;

SPEED Programe (2013): Pagamento de Impostos em Moçambique, Maputo.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 51
André
Cristiano José Enquadramento
& Taciana Peão Legal das PME´s:
Lopes, Taciana
Peão Lopes Regime específico
Advogados & das Pequenas e
Associados. Médias Empreas
Capítulo 4 na Legislação
Moçambicana
A tabela a seguir mostra a legislação em vigor com importância para as empresas de pequena dimen-
são. A tabela abaixo visa a dar uma orientação aos pequenos empresários bem como a reguladores,
investidores e doadores.

TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Constituição da República Constituição de 2015 alte- O Estado reconhece a con- Produção em pequena escala
rada pela Lei 1/2018 de 12 tribuição da produção de
de Junho (Lei da Revisão pequena escala para a eco-
Pontual da Constituição da nomia nacional e apoia o seu
República de Moçambique) desenvolvimento como forma
de valorizar as capacidades e
a criatividade do povo (artigo
106)

Empresariado nacional situado


O Estado cria os incentivos nas zonas rurais
destinados a proporcionar o
crescimento do empresariado
nacional em todo o país, em
especial nas zonas rurais (artigo
107, nº 2)

Produção do sector familiar


O Estado incentiva e apoia a
produção do sector familiar e
encoraja os camponeses, bem
como os trabalhadores indivi-
duais, a organizar-se em formas
mais avançadas de produção
(artigo 105, nº 2)

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 53
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Estratégia para o Desen- Aprovada pela 22ª Sessão O Governo define a estratégia PMEs
volvimento das Pequenas Ordinária do Conselho de para o desenvolvimento das
e Médias Empresas em Ministros em 21 de Agosto PMEs, de modo que
Moçambique de 2007 esta contribua para a revitaliza-
ção do sector das PMEs e per-
mita o alcance dos objectivos
estabelecidos no PARPA II.
Para o efeito, são definidos os
seguintes vectores estratégicos:
(1) a melhoria do ambiente de
negócios, (2) a criação da capa-
cidade tecnológica e de gestão
e (3) o desenvolvimento do
apoio estratégico para as PMEs.
Os vectores são apoiados por
uma diversidade de planos de
acção que facilitarão a imple-
mentação da Estratégia.

Estratégia para Melhoria do Resolução n.º 3/2008 de A presente Estratégia tem como PMEs e Grandes Empresas
Ambiente de Negócios 29 de Maio objectivo final a criação de
um melhor ambiente para o
desenvolvimento da actividade
empresarial e atrair investimen-
tos.
Assim, visa assegurar que
estejam definidos os princi-
pais vectores da actuação do
Governo, com vista a que no
processo de remoção das bar-
reiras administrativas e outros
obstáculos ao investimento, se
assumam responsabilidades
com prazos definidos. As ac-
ções do Governo consideradas
prioritárias são:
(1) Simplificação de proce-
dimentos para se iniciar um
negócio;
(2) Simplificação do Sistema de
Requisitos e de Procedimentos
para Licenciamento das Activi-
dades Económicas;
(3) Criação de uma Inspecção-
Geral Única para Actividades
Económicas;
(4) Adopção e adaptação de
normas internacionais (ISO)
e regionais de acordo com a
necessidade do sector privado;
(5) Simplificação de Procedi-
mentos para fazer uma Impor-
tação e Exportação.
Instituto para a Promoção Decreto n.º 47/2008 de 3 É criado o Instituto para a Pro- IPEME
das Pequenas e Médias de Dezembro moção das Pequenas e Médias
Empresas Empresa (IPEME) instituição PMEs
que garante a implementação
da Estratégia das Pequenas e
Médias Empresas, capaz de
incentivar o desenvolvimen-
to propício de negócios das
empresas, em geral, e das
pequenas e médias em especial

PME
54 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Política e Estratégia In- Resolução n.º 23/2016 de O objectivo geral da Política e PMEs
dustrial 12 de Setembro (Aprova a Estratégia Industrial é tornar
Política e Estratégia Indus- a indústria o principal veículo
trial referente ao período para o alcance da prosperidade
2016-2019 e revoga a e bem-estar do país através
Resolução n.º 38/2007 de da geração da maior parte de
18 de Dezembro, que apro- postos de emprego, produção
va a Política e Estratégia e contribuição na valorização
Industrial (PEI 2007) para de recursos naturais, mais es-
Moçambique pecificamente: (1) Aumentar a
produção industrial, através de
maior atracção do investimento
para o sector, desenvolvimento
de economias de escala na
produção industrial e maior
acesso ao mercado interno e
externo das empresas do ramo;
(2) Aumentar a contribuição
no emprego do Sector, através
da aposta nas indústrias de
mão-de-obra intensiva e aposta
nas Micro, Pequenas e Médias
Empresas; (3) Contribuir para a
melhoria da balança comercial,
apostando nas indústrias com
potencial para substituição das
importações e das exportações;
(4) Expandir a cadeia de valor
e o valor acrescentado dos
produtos industriais através da
maior utilização de matéria
-prima nacional; (5) Promo-
ver maior conteúdo local na
produção industrial, através de
maiores ligações económicas
a montante e a jusante das
empresas do sector.

Estratégia e política de Resolução n.° 22/2009 São objectivos da estratégia e Produtores de pequena escala
biocombustíveis de 21 de Maio (aprova a política de biocombustíveis,
estratégia e política de entre outros, promover o PMEs
biocombustíveis) desenvolvimento rural através
de investimentos em biocom-
bustíveis e do apoio aos produ-
tores de pequena escala.

A plataforma da Política assenta


na promoção da pesquisa em
iniciativas inovadoras que fa-
voreçam o estabelecimento de
pequenas e médias empresas
(PMEs), atraindo investimentos
em tecnologias apropriadas
para a produção e o consumo
de biocombustíveis no país

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 55
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
PMEs Decreto n.º 44/2011 de 21 Estabelece as normas gerais re- PMEs
de Setembro (Aprova o lativas ao tratamento específico
Estatuto Geral das Micro, aplicável às Micro, Pequenas
Pequenas e Médias Em- e Médias Empresas (MPME’s)
presas) e aos critérios gerais da sua
classificação, e é aplicável às
MPME’s constituídas à luz do
direito moçambicano, com
excepção das MPME’s que
desenvolvam as actividades de
fabrico de armas, munições e
explosivos, ou se dediquem à
exploração de jogos de fortuna
e azar
Promoção do investimen- Decreto nº 60/2016, de São funções da APIEX a promo- PME’s e Grandes Empresas
to nas Zonas Económicas 12 de Dezembro alterado ção e facilitação do investi-
Especiais e Zonas Francas por Decreto nº 54/2017, mento privado, público e as
Industriais de 20 de Outubro que cria exportações, de acordo com os
a Agência para a Promo- objectivos e metas da política
ção de Investimento e económica do Governo e por
Exportações (APIEX), na atribuições o desenvolvimento
parte respeitante às suas e implementação de acções
atribuições relativas às Zo- com vista à promoção e gestão
nas Económicas Especiais de processos de realização
(ZEE’s) e Zonas Francas de investimentos privados ou
Industriais (ZFI’s), e ainda públicos, de origem nacional
à tutela, gestão, direcção, ou estrangeira, a promoção e
regime de pessoal e órgãos coordenação de acções rela-
consultivos cionadas com a criação, desen-
volvimento e gestão das Zonas
Económicas Especiais (ZEE’s) e
Zonas Francas Industriais (ZFI’s)
e a promoção das exportações
nacionais.

Promoção do investimen- Diploma Ministerial nº São funções do gabinete PMEs


to nas Zonas Económicas 22/2015, de 21 de Janeiro regional do GAZEDA promover
Especiais e Zonas Francas que aprova o Estatuto-tipo a criação de parcerias entre
Industriais das Delegações Regionais investidores nacionais e estran-
do Gabinete das Zonas geiros, bem como oportunida-
Económicas de Desen- des de ligações empresariais
volvimento Acelerado entre os projectos de grande
(GAZEDA) dimensão e as pequenas e
médias empresas nacionais

O Departamento de ZEE e ZFIs


tem como função a tramitação
de pedidos de benefícios de
isenção de direitos aduaneiros
formulados por empresas com
projectos já aprovados (artigo
8, nº 3, alínea c))

PME
56 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Promoção de investimen- A contratação de empreen- Médias e grandes empresas
tos (parcerias público-pri- Lei n.º 15/2011 de 10 dimentos de PPP, PGD e CE
vadas) de Agosto (Lei das PPP, sujeita-se à observância,
projectos de grandes entre outros, do princípio do
dimensões e concessões estabelecimento de parcerias
empresariais) empresariais entre os empreen-
dimentos de PPP, PGD e CE e
as micro, pequenas e médias
empresas, bem como a transfe-
rência de tecnologia e do “saber
fazer” (artigo 4, alínea h))

O contrato de concessão do
empreendimento de PPP,
PGD e CE deve, ainda, conter
cláusulas que especifiquem, de
forma expressa, os benefícios
sócio-económicos a proporcio-
nar por cada empreendimento,
a expensas próprias deste, para
a economia nacional e para
a sociedade moçambicana,
nomeadamente, os benefícios
relativos a contribuição para o
desenvolvimento de negócios
de pequenas e médias empre-
sas moçambicanas, via ligações
empresariais e tecnológicas
entre o empreendimento e tais
empresas (artigo 34, alínea e))

A entidade responsável pela tu-


tela das parecerias público-pri-
vadas deve assegurar a tomada
de providências para garantir
o estabelecimento de parce-
rias empresariais entre cada
empreendimento e as micro,
pequenas e médias empresas
(artigo 5, nº 2, alínea c))

Sem prejuízo das disposições


legais aplicáveis, o júri de
avaliação das propostas de
empreendimentos de PPP, PGD
e CE, bem como as entidades
responsáveis pelas tutelas sec-
torial e financeira e a Autorida-
de Reguladora devem garantir
que o contrato relativo a cada
empreendimento contenha, de
forma explícita, as relativas ao
estabelecimento de parcerias
empresariais entre os empreen-
dimentos e as micro, pequenas
e médias empresas (artigo 37,
nº 2, e))

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 57
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Promoção de investimen- Decreto nº 16/12, de 4 de A entidade responsável pela Médias e grandes empresas
tos (parcerias públi- Junho (aprova o Reg- tutela do sector das PPP deve
co-privadas) ulamento da Lei sobre garantir, relativamente a cada
Parcerias Público-Privadas, tipo de empreendimento o
Projectos de Grande estabelecimento de parce-
Dimensão e Concessões rias empresariais entre cada
Empresariais) empreendimento e as micro,
pequenas e médias empresas
(artigo 5, nº 2, alínea c))

O contrato de PPP, PGD e CE


deve ainda conter cláusulas
que explicitem a partilha dos
benefícios financeiros e a
prossecução dos benefícios
sócio-económicos previstos, de
modo particular o estabeleci-
mento de parcerias empresari-
ais entre os empreendimentos
e as micro, pequenas e médias
empresas (artigo 37, nº 2, alínea
d))
Promoção de investimen- Decreto n.º 69/2013 (Apro- Empreendimentos com inves- PME’s
tos (parcerias públi- va o Regulamento de Par- timento de valor não superior
co-privadas) cerias Público-Privadas e a 5 milhões de meticais é con-
Concessões Empresariais, siderado PPP e CE de pequena
de Pequena Dimensão) dimensão (artigo 1, n.º 2).
A contratação de empreen-
dimentos de PPP e CE de
pequena
dimensão é efectuada por via
de Concurso Público (artigo 5,
n.º 1)
A contratação pode, excepcio-
nalmente, ser efectuada
por via de Ajuste Directo e é
aplicável nos casos em
que o concurso anteriormente
lançado pela entidade con-
tratante
tenha ficado deserto por
ausência ou desclassificação
de todos
os concorrentes. (artigo 5, n.º 2
e artigo 7).
O contrato de empreendimento
de PPP e CE de pequena
dimensão deve conter as
cláusulas obrigatórias previstas
no artigo 8 e pode revestir as
seguintes modalidades:
a) Contrato de concessão;
b) Contrato de cessão de ex-
ploração;
c) Contrato de gestão. (artigo
9, n.º 1)

PME
58 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Promoção do Investimen- Decreto nº 74/2013, de Compete ao Departamento PMEs
to (exportação) 31 de Dezembro Diploma Jurídico do Instituto Nacional
Ministerial n.º 107/2014 de Normalização e Qualidade
de 30 de Julho (aprova o actuar como Ponto Focal de
Estatuto Orgânico do Insti- Barreiras Técnicas ao Comércio,
tuto Nacional de Normal- auxiliando as pequenas e mé-
ização e Qualidade) dias empresas na componente
exportação, visando à supera-
ção de barreiras técnicas (artigo
20, nº 1, alínea k))

Promoção de pequenas Diploma Ministerial n.º O Plano segue o método de Instituto para a Promoção das
e médias empresas (In- 312/2012 de 21 de No- classificação por assunto, à Pequenas e Médias Empresas
stituto para a Promoção vembro (aprova o Plano semelhança do Plano das
das Pequenas e Médias de Classificação e a Tabela Actividades-meio, obedecendo
Empresas) de Temporalidade de o critério funcional. É constituí-
Documentos das Activida- do por três (3) classes, e estas
des-fim do Instituto para a por sua vez subdividem-se em
Promoção das Pequenas e subclasses que traduzem as
Médias Empresas) actividades da mesma institui-
ção, e segue relativamente às
actividades, os tipos e espécies
documentais que representam
globalmente as funções atribuí-
das ao IPEME, à luz do Decreto
n.º 47/2008, de 3 de Dezembro,
que aprova o Estatuto Orgânico
desta instituição.
As três classes contidas no
plano:
100: Desenvolvimento Técnico
e Produtividade
200: Marketing e Assistência
Financeira
300: Estudos e Estatísticas

Comercial Decreto-lei nº 2/2005, de Os pequenos empresários Pequenos empresários


27 de Dezembro (apro- podem ser dispensados no
va o Código Comercial) todo ou em parte das obriga- Nota: a norma não está regu-
alterado pelo Decreto-lei ções especiais dos empresários lamentada
n.º 2/2009 de 24 de Abril e comerciais, nomeadamente
Decreto-lei n.º 1/2018 de 4 das obrigações de adoptar uma
de Maio firma, escriturar em ordem uni-
forme as operações, inscrever
na entidade competente os ac-
tos sujeitos ao registo comer-
cial, e prestar contas (artigos 16,
17 e 43)

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 59
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Comercial Decreto-lei n.º 1/2006 de O Registo de Entidades Legais PME’s
3 de Maio (Regulamento tem por objectivo geral a
do Registo de Entidades materialização prática e efecti- Grandes Empresas
Legais) va do processo de desburocra-
tização
e simplificação de procedimen-
tos, visando:
a) Introduzir procedimentos de
registo simples e uniformes;
b) A introdução do sistema
informatizado de registo;
c) Implementação do conceito
de balcão único para o registo;
d) O acesso mais rápido e fácil
à informação segura e
actualizada;
e) Uma organização de registo
mais eficiente. (artigo 2, n.º 2)

Licenciamento comercial Decreto n.º 34/2013 de 2 Compete ao Director Executi- Micro e pequenas empresas
de Agosto (aprova o Regu- vo do Balcão de Atendimento
lamento do Licenciamento Único autorizar o licenciamen-
da Actividade Comercial) to do exercício do comércio a
grosso, comércio a retalho, de
prestação de serviços e o regis-
to de operadores de comércio
externo e emissão de cartão de
operador de comércio externo.
No entanto, onde não existam
os Balcões de Atendimento
Único, compete ao Adminis-
trador Distrital autorizar o licen-
ciamento do exercício do co-
mércio a retalho e de prestação
de serviços por parte de micro
e pequenas empresas tal como
definidas no estatuto aprovado
pelo Decreto n.º 44/2011, de 21
de Setembro (artigo 4, nº 2 e 3)

PME
60 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Licenciamento comercial Decreto n.º 39/2017 de 28 O Regime Jurídico Simplificado PME’s
de Julho (Aprova o Regime do Licenciamento
Jurídico Simplificado do para o Exercício de Actividades
Licenciamento para o Económicas tem por objecto o
Exercício de Actividades estabelecimento do regime
Económicas, que com- da licença simplificada e da
preende a Licença Simplifi- certidão
cada e a Certidão da Mera da mera comunicação prévia
Comunicação Prévia) das actividades económicas
que pela
sua natureza, não acarretam
impactos negativos para o
ambiente,
saúde pública, segurança e para
a economia em geral. (artigo
2, n.º 1)
Compete aos Balcões de Aten-
dimento Único a tramitação
e emissão de licenças simplifi-
cadas e de certidões de mera
comunicação prévia, bem
assim a suspensão e revogação.
Nos locais onde não existam
Balcões de Atendimento
Único, são competentes, para
a tramitação e emissão da
licença
simplificada os Governos Distri-
tais. (artigo 4, n.º 1 e 2)

Licenciamento da activi- Decreto 22/2014, de 16 de Estabelece o regime jurídico do Todas as empresas que, pela
dade industrial Maio (aprova o Regula- licenciamento simplificado das sua natureza, não acarretam
mento do Licenciamento actividades económicas. impactos negativos para o
da Actividade Industrial ambiente, saúde pública,
e altera o Decreto n.º O exercício das actividades segurança e para a economia
5/2012 de 7 de Março que económicas abrangidas está em geral
aprovou o Regulamento isento do Estudo do Impacto
do Licenciamento Simpli- Ambiental e da Vistoria prévia
ficado para Exercício de (artigo 6)
Actividades Económicas)
A entidade competente deve
emitir a licença simplificada
presencialmente e no prazo
máximo de um dia (artigo 9)

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 61
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Concorrência Lei n.º 10/2013 de 11 de O regime jurídico da con- PME’s
Dezembro (Regime Jurí- corrência é aplicável a todas
dico da concorrência, no as actividades económicas Grandes Empresas
exercício das actividades exercidas no território nacional
económicas) ou que nele produzam efeitos.
(artigo 3, n.º 1)
A Lei não se aplica: (a) aos
acordos colectivos estabeleci-
dos ou que venham a ser esta-
belecidos com as organizações
dos trabalhadores, nos termos
da Lei de Trabalho vigente; (b)
às práticas destinadas a realizar
um objectivo não comercial;
(c) aos acordos que derivam de
obrigações internacionais que
não prejudiquem a economia
nacional; (d) aos casos de ne-
cessidade de protecção especí-
fica de um sector da economia,
em benefício do interesse
nacional ou do consumidor.
(artigo 4)
A garantia do respeito das
regras da concorrência é
assegurada por uma entidade
reguladora de que se fazem
representar as associações
empresariais, os sindicatos e os
consumidores nos limites das
atribuições e competências que
lhe são legalmente cometidas.
A proibição das práticas de anti
concorrenciais bem como o
controlo das operações de con-
centração de empresas é efec-
tuada pela entidade reguladora
da concorrência. (artigo 5)

PME
62 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Concorrência Decreto n.º 97/2014, de Ao determinar se uma opera- Pequenas empresas ou empre-
31 de Dezembro (aprova ção de concentração pode ou sas controladas por pessoas
o Regulamento da Lei da não se justificar por razões de historicamente desfavorecidas
Concorrência) e Diploma interesse público, a Autoridade
Ministerial n.º 79/2015 de 5 Reguladora da Concorrência
de Junho (Aprova a tabela deve considerar o efeito que a
de taxas devidas pelos pro- operação terá sobre a capaci-
cedimentos realizados dade das pequenas empresas,
perante a Autoridade Re- ou empresas controladas
guladora da Concorrência ou pertencentes a pessoas
historicamente desfavorecidas,
para se tornarem competitivas
(artigo 18, nº 6, alínea c)).

Taxas devidas pelos Procedi-


mentos Realizados Perante a
Autoridade Reguladora da Con-
corrência (ARC): (1) Submissão
do pedido de isenção – MTn
200.000,00; (2) Anuidade pela
Isenção – MTn 150.000,00;
(3) Opinião da ARC – MTn
40.000,00; (4) Notificação de
concentrações – 5% do volume
de negócios do ano anterior;
(5) Cópias e Certidões – MTn
40,00

Trabalho Lei nº 23/2007, de 1 de As pequenas e médias empre- PMEs


Agosto sas podem livremente celebrar
contratos a prazo certo, nos Pequenas empresas são aque-
primeiros dez anos da sua acti- las que empregam até dez
vidade (artigo 42, nº 3) trabalhadores (artigo 34, nº 1,
alínea c))

O “delegado sindical” é o órgão Médias empresas são aquelas


representativo dos trabalha- que empregam de dez até ao
dores nas pequenas empresas máximo de cem trabalhadores
(artigo 152, nº 2, alínea a)) (artigo 34, nº 1, alínea b))

Nota: o número de trabalha-


dores corresponde à media
dos trabalhadores existentes
no civil anterior; e no primeiro
ano de actividade, o número
de trabalhadores reporta ao do
início de actividade (artigo 34,
nº 3 e 4)

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 63
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Higiene e segurança no Lei nº 23/2007, de 1 de As pequenas e médias em-
trabalho Agosto presas não são obrigadas a
providenciar, directamente ou
por terceiro, um serviço para
prestar primeiros socorros, em
caso de acidente, doença súbi-
ta, intoxicação ou indisposição,
a não ser que aquelas que cujas
actividades sejam penosas,
insalubres ou envolvam um
alto grau de perigosidade a
que os trabalhadores estejam
permanentemente expostos
(artigo 219)

Contratação de tra- Decreto n.º 55/2008 de 30 O empregador, consoante o


balhadores estrangeiros de Dezembro revogado tipo de classificação da empre-
por Decreto 37/2016 de 31 sa, pode ter ao seu serviço ci-
de Agosto dadãos estrangeiros de acordo
com as seguintes quotas:
a) 8% da totalidade dos traba-
lhadores, nas médias empresas;
b) 10% da totalidade dos
trabalhadores, nas pequenas
empresas (artigo 9)

No entanto, as pequenas
empresas podem ter ao seu
serviço um cidadão estrangeiro,
mesmo que o número total de
trabalhadores nacionais seja
inferior a dez (artigo 8, nº 4)

Contratação de tra- Decreto n.º 63/ 2011 de O empregador, consoante o


balhadores estrangeiros 7 de Dezembro (Regula- tipo de classificação da empre-
nos sectores petrolífero e mento de Contratação de sa, pode ter ao seu serviço ci- Nota: a classificação das em-
mineiro Cidadãos de Nacionalidade dadãos estrangeiros de acordo presas segue o critério estabe-
Estrangeira no Sector de com as seguintes quotas: lecido na Lei do Trabalho
Petróleos e Minas) a) 8% da totalidade dos traba-
lhadores, nas médias empresas;
b) 10% da totalidade dos
trabalhadores, nas pequenas
empresas (artigo 5)

No entanto, as pequenas
empresas podem ter ao seu
serviço um cidadão estrangeiro,
mesmo que o número total de
trabalhadores nacionais seja
inferior a dez (artigo 4, nº 4)

PME
64 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Contabilidade Decreto n.º 70/2009 de 22 Aprovação do Sistema de PMEs
de Dezembro Contabilidade para o Sector
Empresarial (SCE), o qual se ba-
seia nas Normas Internacionais
de Relato Financeiro e integra
o Plano Geral de Contabilidade
para Empresas de Grande e
Média Dimensão (PGC-NIRF) e
o Plano Geral de Contabilidade
para as pequenas e demais em-
presas (PGCPE), e ajustamento
do Plano Geral de Contabili-
dade em vigor, aprovado pelo
Decreto n.º 36/2006, de 21
de Setembro, e revogação do
referido diploma

Contabilidade Decreto n.º 36/2006 de 21 Aprova o Plano Geral de PMEs e Grandes Empresas
de Setembro Contabilidade (PGC), e revoga
a Resolução n.§ 13/84, de 14 de
Dezembro

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 65
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Fiscal (IRPC) Lei n.º 34/2007 de 31 de Ficam abrangidos pelo regime Empresas com volume de
Dezembro (com alterações simplificado de determinação negócios não superior a
introduzidas pela Lei nº do lucro tributável os sujei- 2.500.000,00MT;
19/2013) tos passivos residentes que
exerçam a título principal, uma Empresas que não possuem
actividade de natureza co- uma contabilidade organizada;
mercial, industrial ou agrícola,
com a excepção dos que sejam Empresas não exercem, a
obrigados a possuir contabili- título principal, a actividade
dade devidamente organizada comercial
e que apresentem, um volume
de negócios não superior a
2.500.000,00MT e que não
tenham optado pelo regime
de escrituração simplificada;
ou Pessoas colectivas e outras
entidades residentes que não
exerçam, a título principal,
actividade comercial, industrial
ou agrícola (artigo 47)

Regime simplificado de escri-


turação para entidades que
exercem actividade comercial
a título principal, mas que não
possuem uma contabilidade
organizada (artigo 76)

Regime simplificado de escritu-


ração para entidades que não
exercem actividade comercial a
título principal (artigo 76)

Fiscal (IRPS) Lei nº 33/2007 de 31 de Ficam abrangidos pelo regime Empresários e profissionais
Dezembro (com as as simplificado de determinação cujos rendimentos anuais não
alterações introduzidas do rendimento colectável os sejam superiores a
pela Lei 19/2017 de 28 de sujeitos passivos enquadrados 2 500.000,00MT
Dezembro) na Segunda Categoria (rendi-
mentos empresariais e profis-
sionais) que não tendo optado
pelo regime de contabilidade
organizada ou pelo regime
simplificado de escrituração,
e apresentem, no exercício
anterior ao da aplicação do
regime, um volume total anual
de negócios não superior a 2
500.000,00MT (artigo 33)

PME
66 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Fiscal (IVA) Lei n.º 32/2007 de 31 Os contribuintes sujeitos ao Contribuintes com volume
de Dezembro (com as regime de tributação simplifi- anual de negócios superior
alterações introduzidas cada, apuram o imposto devido a 750.000,00MT e inferior
pela Lei 13/2016 de 30 de ao Estado através da aplicação a 2.500.000,00MT, que não
Dezembro) de percentagem de 5% ao valor possuindo, nem sendo obri-
das vendas realizadas ou servi- gados a possuir, contabilidade
ços realizados, com excepção regularmente organizada para
das vendas de bens de investi- efeitos de tributação sobre o
mento corpóreos que tenham rendimento, não efectuem
sido utilizados na actividade operações de importação,
por eles exercida (artigo 42). exportação ou actividades
conexas.

Fiscal (benefícios fiscais) Lei n.º 4/2009 de 12 de Consideram-se benefícios fis- Pessoas singulares e colecti-
Janeiro cais, as medidas que impliquem vas, desde que devidamente
a isenção ou redução do mon- registadas para efeitos fiscais
tante a pagar dos impostos em
vigor, com o fim de favorecer
as actividades de reconhecido
interesse público, bem como
incentivar o desenvolvimento
económico do país.
São concedidos benefícios a
quase todas áreas de activida-
de, sendo que o regime varia
em função do local (província,
ZEE, ZFIs, etc.) do investimento
Fiscal (benefícios fiscais) Decreto n.º 56/2009 de 7 Aprova o Regulamento do
de Outubro Código dos Benefícios Fiscais
o qual estabelece a forma e os
procedimentos necessários à
operacionalização do gozo dos
benefícios previstos no Código
dos Benefícios Fiscais, aprova-
do pela Lei n.º 4/2009, de 12 de
Janeiro

Fiscal (benefícios fiscais) Despacho de 6 de Janeiro Estabelece os mecanismos de Pessoas singulares e colecti-
de 2010 implementação do Regulamen- vas, desde que devidamente
to do Código dos Benefícios registadas para efeitos fiscais
Fiscais, aprovado pelo Decreto
n.§ 56/2009, de 7 de Outubro

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 67
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Fiscal (Isenção de Imposto Lei n.º 28/2014 de 23 de Estão isentos do IPM: a) os Pessoas singulares, na terra
sobre Produção Mineira) Setembro (aprova o regime produtos mineiros extraídos onde é usual realizar-se essa
específico de tributação para a construção, em áreas extracção, quando os materiais
e de benefícios fiscais não sujeitas a título mineiro ou extraídos são para ser usados
da actividade mineira) autorização mineira nessa região, na construção de
alterado por Lei 15/2017 b) os produtos mineiros extraí- habitações e outras instala-
de 28 de Dezembro (Altera dos para investigação geo- ções, desde que seja para fins
e república o Regime Espe- lógica, realizada pelo Estado não lucrativos
cífico de Tributação e de através de empresas públicas
Benefícios Fiscais da Acti- especializadas, por instituições Pessoas singulares utentes de
vidade Mineira, aprovado educacionais ou de investiga- terra, quando esses materiais
pela Lei n.§ 28/2014, de 23 ção científica, nos termos da são para a produção artesa-
de Setembro) Lei de Minas; nal de cerâmica, incluindo
c) o auto-consumo do minério, a construção de habitações,
desde que autorizado no armazéns e instalações nas
quadro de um plano de lavra áreas de extracção
aprovado ao abrigo da Lei de
Minas; Pessoas singulares ou colecti-
d) as amostras de minerais, sem vas, que destinem esses mate-
valor comercial, extraídas pelas riais a projectos de construção,
entidades que exerçam opera- reabilitação ou manutenção
ções de prospecção e pesquisa. de estradas, linhas férreas, bar-
(artigo 8) ragens e outros trabalhos de
engenharia ou infra-estruturas
de domínio público, em terra
sujeita a título de uso e apro-
veitamento da terra, quando
os mesmos projectos sejam
realizados pelas mesmas pes-
soas, mediante aprovação do
sector de tutela da respectiva
actividade.

pessoas singulares ou colec-


tivas, detentoras ou não de
título mineiro, que desenvol-
vam a actividade mineira em
Os sujeitos passivos do ISS território nacional
ficam isentos do pagamento da
taxa anual de uso e aproveita-
mento da terra, relativamente
à área de título mineiro (artigo
22).

PME
68 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Aduaneiro (desembaraço) Decreto nº 34/2009 de 6 As formas de declaração adua- Importadores exportadores de
de Julho (aprova as Regras neira de mercadorias são: pequenas quantidades
Gerais do Desembaraço a) Documento Único (DU);
Aduaneiro de Mercado- b) Documento Único Abreviado
rias) alterado por Decreto (DUA); Empresas que operem em
n.º 9/2017 de 6 de Abril c) Documento Simplificado zonas francas industriais
(Aprova as Regras Gerais (DS);
do Desembargo Aduaneiro d) Outras previstas na lei.
de Mercadorias e revoga o (artigo 7)
Decreto n.º 34/2009, de 6
de Julho) O Sistema Abreviado para Im-
portação e Exportação constitui
a forma de despacho aduaneiro
de mercadorias em quantida-
des reduzidas, destinadas a fins
comerciais, usando a mesma
forma de Documento Único
(DU), mas com menos caixas
obrigatórias (artigo 9).

Zona Franca é o regime espe-


cial aplicável a uma área física
de livre comércio de importa-
ção e exportação e estabele-
cida com a finalidade de criar
exclusão dentro do território
aduaneiro.

As mercadorias destinadas às
zonas francas gozam de sus-
pensão de direitos aduaneiros e
demais imposições.
As mercadorias que se en-
contrem nas Zonas Francas e
que sejam introduzidas para o
consumo no mercado interno,
são equiparadas à importação
(artigo 43, n.º 2 e 3).

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 69
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Aduaneiro (desembaraço) Diploma Ministerial n.º As importações e exportações Pequenos importadores e
16/2012 de 1 de Fevereiro cujo valor FOB seja igual ou exportadores
(aprova o Regulamento do inferior a 100 000,00MT podem
Desembaraço Aduaneiro ser desembaraçadas através de
de Mercadorias) Documento Único Abreviado. Operadores de ZEEs e ZFIs
É também permitida a
utilização do Sistema Abreviado
na importação e exportação
de peças, sobressalentes
de reposição urgente, para
máquinas e equipamentos de
unidades produtivas, incluindo
sistemas de comunicação, de
fornecimento de energia, água
e unidades industriais, sem
limite de valor, nos portos e
aeroportos.
(artigo 46)

Zona Económica Especial


(assim como a zona franca) é o
regime especial aplicável a uma
área geográfica de livre comér-
cio de importação e exportação
para as entidades certificadas e
estabelecidas com a finalidade
de criar exclusão dentro de
território aduaneiro.
As mercadorias importadas que
se destinem às entidades cer-
tificadas para operar nas zonas
económicas especiais, gozam
de suspensão de direitos adua-
neiros e demais imposições.
(artigos 30 e 31)

PME
70 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Fiscal e aduaneiro (ZEEs Diploma Ministerial n.º Os operadores e empresas de Empresas que operem nas
e ZFIs) 202/2010 de 24 de Novem- ZEE, bem como os operadores ZEEs e ZFIs
bro (aprova o Regulamento de ZFI, gozam de isenção de
do Regime Fiscal e Adua- direitos aduaneiros na importa-
neiro das Zonas Económi- ção de materiais de construção,
cas Especiais e das Zonas máquinas, equipamentos, aces-
Francas Industriais) sórios, peças sobressalentes,
acompanhantes e outros bens
destinados à prossecução da
actividade licenciada nas ZEE e
ZFI, nos termos do Código dos
Benefícios Fiscais.
Esta isenção é extensiva ao IVA,
incluindo o devido nas aquisi-
ções efectuadas no mercado
interno. Estão, igualmente,
isentas do IVA, nos termos do
Código do IVA, as transmissões
de bens e prestações de servi-
ços que se efectuarem na área
geográfica das ZEE e ZFI, assim
como as prestações de serviços
directamente conexas com tais
transmissões e prestações de
serviços enquanto permanece-
rem em tais zonas.
(artigo 8)

Fiscal e aduaneiro (ZEEs Decreto n.º 11/2019 de 27 É criada a Zona Económica PME’s e Grandes Empresas
e ZFIs) de Fevereiro (Criação da Especial de Ute, com uma área
Zona Económica Especial de 681 hectares, localizada no
de Ute) Povoado de Ute, Distrito de
Chimbunila, Província da Nias-
sa. (artigo 1)

Compete a Agência para


Promoção de Investimento e
Exportações (APIEX) promo-
ver as acções necessárias ao
efectivo desenvolvimento da
Zona Económica Especial de
Ute. (artigo 3)

Aduaneiro Diploma Ministerial n.º Determina o uso do Sistema Todos importadores de mer-
25/2012 de 12 de Março da Janela Única Electrónica cadorias
para a submissão da declara-
ção aduaneira e prestação de
demais informação inerente
ao desembaraço aduaneiro de
mercadorias

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 71
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Mercado de valores mo- Decreto-Lei n.º 4/2009 Na bolsa de valores existirá um Pequenas e médias empresas
biliários de 24 de Julho (aprova o Segundo Mercado, destinado à
Código do Mercado de transacção de valores mobiliári-
Valores Mobiliários) os emitidos por pequenas e
médias empresas (artigo 82,
nº 1).

Minas Lei 20/2014, de 18 de Compete ao Instituto Nacional


Agosto (Aprova a Lei de de Minas promover, controlar e
Minas) apoiar a mineração de pequena
escala (artigo 26, nº 2, alínea e))

Às pessoas singulares e
colectivas que realizem
operações mineiras de
pequena escala é atribuído um
certificado mineiro (artigo 45,
nº 1)

Às comunidades locais são


atribuídas senhas mineiras
(artigo 49)

Pesca Decreto n.º 62/98, de 24 de Cria o Instituto Nacional de Pesca de pequena escala
Novembro revogado por Desenvolvimento da Pesca e
Decreto n.º 3/2016 de 10 Aquacultura (IDEPA), instituição
de Fevereiro pública tutelada pelo Ministro
que superintende a área das
pescas e aquacultura ao qual
incumbe, designadamente, a
elaboração de estudos estatís-
ticos de especialidade sobre as
actividades pesqueiras e para o
desenvolvimento de infra-es-
truturas de apoio à pesca e
aquacultura de pequena escala
e a elaboração de propostas de
políticas e estratégias, planos e
programas sobre o desenvol-
vimento e extensão da pesca e
aquacultura, com ênfase na de
pequena escala, definindo-se
ainda as suas competências,
estrutura orgânica, órgãos
colectivos e direcção-geral, e
revogação dos Decretos n.º
62/98, de 24 de Novembro.
Pescas Diploma Ministerial n.º Aprova o Regulamento Inter- Pesca de pequena escala
39/2008 de 24 de Abril no do Instituto Nacional de
Desenvolvimento da Pesca de
Pequena Escala (IDPPE)

PME
72 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Pescas Lei n.º 22/2013 de 1 de Estabelece o regime jurídico Pesca de pequena escala
Novembro (aprova a Lei das actividades pesqueiras e das
das Pescas=) actividades complementares da
pesca, tendo em vista a protec- Pesca artesanal
ção, conservação e utilização
sustentável dos recursos bioló-
gicos aquáticos nacionais.

Compete ao Governo: a) Pro-


mover a implementação de
medidas de política geral para a
criação de oportunidades eco-
nómicas às pessoas nacionais
para o acesso às actividades
relacionadas com recursos bio-
lógicos aquáticos, a salvaguar-
da dos sistemas de vidas das
comunidades piscatórias e a
contribuição dessas actividades
para a melhoria da segurança
alimentar;
b) Incentivar as parcerias pú-
blico-privadas na gestão e/ou
investimento para desenvolvi-
mento de infra-estruturas por-
tuárias de pesca.
(artigo 6)

Com vista a um melhor orde-


namento das actividades pes-
queiras o Governo adopta, entre
outras, medidas relativas à ca-
pacitação dos profissionais do
sector pesqueiro, com destaque
para a pesca, actividades com-
plementares da pesca, gestão
das pescarias e aquacultura de
pequena escala.
(artigo 12)

O Governo incentiva e apoia o


desenvolvimento das formas
produtivas de pequena esca-
la, com destaque para a pesca
artesanal e actividades de pe-
quena produção que lhe estão
associadas.
(artigo 20)

A pesca de subsistência é isenta


de licenciamento, sem prejuízo
da inscrição obrigatória das ar-
tes de pescausadas.
(artigo 39, nº 3)

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 73
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Pescas Decreto n.º 60/2018 de 1 O regulamento estabelece os Pesca de pequena escala
de Outubro (Altera e re- critérios, requisitos e períodos
pública o Regulamento de de concessão de direitos de
Concessão de Direitos de pesca para cada pescaria, as Pesca artisanal
Pesca e de Licenciamento normas a observar no acto de
da Pesca, aprovado pelo licenciamento da pesca, bem
Decreto n.º 74/2017, de 29 como as respectivas taxas a pa-
de Dezembro) gar. Aplica-se às actividades de
pesca e de operações conexas
de pesca exercidas nas águas
jurisdicionais moçambicanas e
no alto mar. (artigo 1 e 2)

A pessoa singular ou colectiva


nacional ou estrangeira, que
pretenda exercer qualquer tipo
de actividade de pesca, deve
requerer ao Ministro que su-
perintende a área das pescas a
concessão de direitos de pesca.
(artigo 11, n.º 1)

Os direitos de pesca são con-


cedidos a pessoas singulares
ou colectivas nacionais, caso a
caso, em função das contrapar-
tidas previstas na Lei das Pescas
e no presente regulamento,
por um período máximo de 20
anos.
Na pesca artesanal os direitos
de pesca são concedidos por
períodos de cinco (5) anos
renováveis anualmente no acto
de licenciamento, ou através
do registo de artes de pesca
tratando-se de pesca de subsis-
tência. (artigo 13, n.º 1 e 2)

Acesso à terra Lei 19/97, de 1 de Outubro Podem ser sujeitos do direito


(aprova a Lei de terras) de uso e aproveitamento da
terra as pessoas nacionais,
colectivas e singulares, homens
e mulheres, bem com as comu-
nidades locais;

As pessoas singulares e co-


lectivas estrangeiras podem
ser sujeitos de direito de uso
e aproveitamento desde que
tenham um projecto devida-
mente aprovado. Neste caso,
as pessoas singulares deve-
rão residir em Moçambique
há mais de cinco anos; e as
pessoas colectivas devem estar
constituídas ou registadas em
Moçambique

PME
74 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Terra (pagamento de taxas) Lei 19/97, de 1 de Outubro Os titulares do direito de uso e Titulares de DUAT
(aprova a Lei de terras) aproveitamento da terra estão
sujeitos ao pagamento de
taxas anuais e de autorização, Comunidades locais
determinada em função da sua
dimensão, localização e finali-
dade do uso (artigo 28). Cooperativas e associações
agro-pecuárias de pequena
O direito de uso e aprovei- escala
tamento da terra é gratuito
quando se destina às explo-
rações familiares, às comuni-
dades locais e cooperativas e
associações agro-pecuárias de
pequena escala (artigo 29)

Ambiente Decreto nº 45/2004, de A classificação das actividades


29 de Setembro (aprova o depende da dimensão dos
Regulamento sobre o Pro- projectos e dos impactos ou Aplicam-se a todas as acti-
cesso de Avaliação do Im- riscos ambientais que compor- vidades públicas ou privadas
pacto Ambiental) revogado tam. Por ordem decrescente, que directa ou indirectamente
por Decreto n.º 54/2015 de as actividades podem ter a possam influir nas componen-
31 de Dezembro classificação A, B ou C. tes ambientais.

Ficam isentas da realização


do EIA Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) ou do Estudo
Ambiental Simplificado (EAS),
as acções imediatas que visam
fazer face a situações de emer-
gência derivadas de desastres
ou calamidades naturais assim
como, situações de emergên-
cias resultantes de actividades
de desenvolvimento.
Ficam igualmente isentas as
actividades destinadas à defesa
e segurança nacional que
constituem segredo do Estado.
(artigo 5, n.º 2 e 3)

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 75
TRATAMENTO ESPECIAL/
LEGISLAÇÃO/ÁREA DIPLOMA GRUPO-ALVO
ISENÇÃO
Bancário Decreto nº 57/2004, de 10 Estabelece o regime jurídico Operadores de microfinanças
de Dezembro das microfinanças e respectivos das seguintes categorias:
operadores, excluindo os Ban-
cos que operam neste sector. A - Operadores que recebem
depósitos do público;
A decisão sobre o pedido de B - Operadores que recebem
constituição de microbianos e depósitos apenas dos seus
cooperativas de crédito é toma- membros;
da pelo Governador do Banco C - Operadores que concedem
de Moçambique, num prazo de créditos;
90 dias (artigos 8 e 10) D - Operadores que inter-
mediam a a captação de
Estão sujeitos a uma supervisão depósitos
prudencial por parte do Banco
de Moçambique. Quando a di-
mensão, localização ou outros
elementos relativos às coopera-
tivas de crédito não o justifi-
quem, o Banco de Moçambique
poderá dispensar a supervisão
prudencial, passando sobre as
mesmas a efectuar-se apenas
uma monitorização.
(artigos 25 e seguintes)

PME
76 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Ambiente de
Negócios e
Competitividade
das PME´s 5.1. DIÁLOGO PÚBLICO-
PRIVADO
AMBIENTE DE NEGÓCIO E
Capítulo 5 COMPETITIVIDADE DAS PME

Eduardo Sengo, CTA

1. Diálogo Público-Privado
O Diálogo Público-Privado (DPP) iniciou com a criação da CTA em 1996 e evoluiu para uma etapa de
relações institucional entre a CTA e o Governo. Para a efectivação do DPP, foram institucionalizados
mecanismos e fóruns de participação do sector privado no processo de concepção, implementação,
monitoria e avaliação de políticas relevantes para a melhoria do ambiente de negócios no País através
do DPP.

No mesmo seguimento foi igualmente aprovado e institucionalizado um modelo que permite a par-
ticipação e coordenação institucional dos actores do DPP desde o nível Provincial ao Central, a apro-
vação de uma agenda comum de reformas, a padronização das metodologias de trabalho, maior
responsabilização pelos resultados e elevação do compromisso político, entre outros aspectos perti-
nentes para a promoção da eficácia e eficiência do DPP.

Ao nível da base, os Governos Provinciais tem materializado o DPP nas interações com as Delegações
Empresarias Provinciais. Ao nível dos Ministérios, sob coordenação do Ministério da Indústria e Co-
mercio, através de trabalhos conjuntos com os Pelouros criados pela CTA.

Conforme pode-se observar na Figura 1, ao nível central, o DPP tem no Conselho de Monitoria do
Ambiente de Negócios (CMAN) dirigido pelo Primeiro-ministro, um órgão superior de gestão e moni-
toria do DPP com função principal de definir a agenda de reformas, monitoria, balanço e preparação
da Conferência Anual do Sector Privado (CASP), ponto mais alto do DPP, liderado por Sua Excelência o
Presidente da República de Moçambique.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 77
Figura 1: Estrutura de Diálogo Público Privado

Fonte: CTA, 2018

No quadro da plataforma do DPP para a melhoria do ambiente de negócios, diferentemente dos anos
passados, o Governo e o Sector privado elaboram uma matriz conjunta com prioridades de reformas
nos diversos sectores da economia do País, a serem implementadas e monitoradas ao longo do ano.

As acções identificadas como de cariz sectorial são implementadas pelos sectores do Governo e os
Pelouros da CTA, e a sua monitoria é feita pelos Ministros de cada sector e sempre que se mostrar
pertinente pelo Primeiro-ministro.

No que respeita ao processo de diálogo permanente entre o Governo e a CTA registou-se progressos
ao nível das reformas necessárias para permitir o desenvolvimento da economia de Moçambique de
modo a criar empregos e a permitir a geração de riqueza.

Contudo, apesar dos avanços registados no processo de DPP, persistia a dispersão dos fóruns de diálo-
go, e conjugado com a ausência de um instrumento orientador do DPP, com a diversidade de assuntos
tratados aos vários níveis do DPP mostrava-se crucial o desenho de um modelo de DPP. É neste âmbito
que se desenha o novo modelo do DPP em 2015, sobre o qual as matrizes de prioridades de reformas
acordadas entre o Sector Privado e o Governo passavam a ser seladas através de um Memorando de
Entendimento assinado pela CTA e o Governo.

Ainda no contexto do novo modelo do DPP, esta plataforma estratégica passou a integrar também os
parceiros de cooperação, com a designação de Private Sector Working Group (PSWG).

Com efeito as questões identificadas nas Matrizes de Prioridades de Reformas reflectem os diversos
constrangimentos na realização de planos de negócios e de novos investimentos que a maior parte

PME
78 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
dos empresários em Moçambique ainda enfrenta após mais de 20 anos de abertura de economia à
iniciativa privada e maior integração económica à economia mundial. A Figura 2 mostra o fluxo de
questões que os empresários consideram necessárias de reformar no período 2000 a 2019.

Figura 2: Dinâmica da Matriz de DPP, 2000-2019

Fonte: CTA, 2018a

Constatou-se que o passo de implementação de reformas tem sido considerado lento, tendo em
conta a quantidade de reformas que o País precisa. Com efeito, entre 2007 e 2014 a média de tempo
para aprovação de reformas era de 3 e com o novo modelo do DPP instituído em 2015, regista-se uma
tendência de melhoria substancial na velocidade de reformar, com um tempo médio de efectivação
das reformas a situar-se em 1 a 2 anos.

No entanto, apesar da velocidade que se está a imprimir em reformas para melhoria do ambiente de
negócio, persistem desafios, pois há assuntos despoletados há vários anos que ainda não tiveram um
desfecho. A tabela 1, a seguir, mostra o exemplo do Balanço da Matriz de Prioridades em 2017.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 79
Tabela 1: Balanço da Matriz de Prioridades de 2017

REVISÃO PONTUAL DO CÓDIGO COMERCIAL

∞ Remover a obrigação da assinatura presencial no contrato de sociedade


∞ Clarificação relativa à exigência do depósito do capital social, que deve assegurar que não
é obrigatório no acto da constituição
∞ Protecção de sócios minoritários

Rever o Decreto que aprova o Licenciamento Simplificado

Aprovar o Diploma Ministerial a alterar o valor do Visto

Aprovar o regulamento sobre as Normas de Funcionamento do Quadro de Interoperabilidade

Aprovar a proposta de Decreto que institucionaliza a Plataforma Integrada de Prestação de


Serviços ao Cidadão

REVER O CÓDIGO DO REGISTO PREDIAL

Finalizar o Processo de Digitalização dos livros de Registo Predial de modo a permitir o uso do
SIRP.

Estabelecer o direito de opção na exportação da castanha do Cajú

Rever a sobretaxa de exportação da castanha de Cajú

Elaborar a proposta do regulamento de circulação de veículos automóveis de dimensões


anormais e transporte de carga perigosa

Fonte: Matriz de Prioridades 2017

A matriz prioridades 2017 continha 10 actividades. Destas, três foram realizadas dentro do prazo, o que
corresponde a uma realização de 30%, sendo que estavam em curso a implementação de 4 activi-
dades, o que corresponde a 40% e para as restantes três actividades não foi desencadeada nenhuma
acção para a sua implementação, o que significa 30% de estagnação, como mostra a Figura 3.

PME
80 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Figura 3: Desempenho da Matriz Prioridades 2017

Fonte: VCMAN, Avaliação da Matriz de prioridades 2017

O desempenho da Matriz de prioridades 2017 é sintomático sobre a evolução do processo de reformas


em que se nota uma tendência de se estabelecerem compromissos, mas não se dá um seguimento
regular dos assuntos e, fundamentalmente, não existe um consenso amplo entre o sector público e as
empresas, sobre como solucionar os constrangimentos que minam o ambiente de negócios no País.

∞ A não materialização do potencial de reformas previstas naquele período (2000-2017);


∞ Ausência de uma visão comum sobre o desenvolvimento do País;
∞ Fraca capacidade de implementação das reformas sectoriais e transversais e ausência de um
sistema de monitoria permanente de resultados.

Face ao quadro, recomendou-se:

i. Estabelecimento de um compromisso formal do DPP;


ii. Inclusão das reformas ao Ambiente de Negócio no ciclo de Planificação do Governo (Programa
Quinquenal do Governo e no Plano Económico Social); e
iii. Aprimoramento dos mecanismos de M&A.

Esta análise consubstancia a constatação de que os esforços feitos ao longo dos últimos 20 anos para
melhorar o ambiente de negócios e fortalecer o sector privado em Moçambique, têm sido insufi-
cientes, facto que se reflecte na classificação do País no índice de Doing Business 2019 (135º dos 190
países) e no seu desempenho no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas 2018 (180º
dos 189 países).

2. Ambiente de negócios na base do relatório do Banco Mundial


Fazer negócios em Moçambique para as Pequenas e Médias Empresas (PME’s) tem sido cada mais
facilitado, segundo o relatório do Banco Mundial Doing Business 2019. Na última publicação do Doing
Business, a economia de Moçambique viu a sua classificação melhorada em 3 posições, mercê das re-

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 81
formas introduzidas, como resultado das medidas advogadas pela CTA e implementadas pelo Gover-
no. Contribuíram para o posicionamento do País, as melhorias no indicador de acesso a electricidade
que passou da posição 150 para 100, o indicador do comércio internacional que passou da posição
109 para 91, e o indicador relativo a execução de contratos que passou da posição 184 para 167.

A subida registada no ranking do Doing Business não vale mais pelo número de posições que Moçam-
bique conseguiu alcançar. Vale, sim pela inversão da tendência de queda que o País vinha registando
neste raking nos últimos três anos consecutivos, bem como pelo sinal que lança para o mercado inter-
nacional sobre o seu comprometimento com a implementação de reformas para tornar mais amigável
o ambiente de negócio.

A nível de crédito, a classificação de Moçambique no último relatório do Doing Business reflecte a


contribuição do DPP, uma vez que se tornou a matriz de prioridades de reformas sensível aos indica-
dores do Doing Business, dedicando uma parte da matriz para responder aos mesmos. Neste sentido
foram indicados, entre outros, a revisão do código comercial que contribuiu grandemente para a su-
bida do ranking bem como a revisão do regulamento do IVA que facilita o reembolso do IVA para as
grandes empresas.

Tabela 2: Evolução da classificação de Moçambique no Doing Business,

Indicador DB13 DB14 DB15 DB16 DB17 DB18 DB19


Abertura de empresas 70 95 107 124 134 137 174
Obtenção de alvarás de constru- 84 31 30 56 64
126 77
ção
Obtenção de electricidade 172 171 164 164 168 150 100
Registo de propriedades 156 152 101 105 107 104 133
Obtenção de crédito 150 130 131 152 157 159 161
Protecção de investidores mino- 94 99 132 138 140
46 52
ritários
Pagamento de impostos 107 129 123 120 112 117 125
Comércio internacional 136 131 129 129 106 109 91
Execução de contratos 131 145 164 184 185 184 167
Resolução de Insolvência 143 148 107 66 65 75 84
Total (Rank) 142 139 127 133 137 138 135

Fonte: Dados dos Relatórios do Banco Mundial (vários anos).

Começar um negócio em Moçambique demora 17 dias, o mesmo número da avaliação anterior, mas
ainda longe dos líderes da lista. Na Nova Zelândia, país que ocupa a primeira posição do ranking, é
necessário apenas meio-dia e Singapura que ocupa a segunda posição são necessários 2 dias para
iniciar um negócio.

Em outros indicadores isolados, usados para fazer o ranking geral, Moçambique também ocupa as
últimas posições da classificação, na facilidade para uma PME “obter crédito”, está no 161º lugar; no
indicador pagamento de impostos, no 125º lugar; na facilidade para “registos de propriedades”, no
133º lugar. No indicador obtenção de alvará para construção em Moçambique com a posição 64ª no
ranking é um dos que vem registando melhorias ao longo dos anos estando estimado em média 118
dias o tempo necessário para aquisição da permissão para construção.

As cinco primeiras posições do ranking geral continuam na posse da Nova Zelândia, Singapura, Hong

PME
82 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Kong, Dinamarca e Coreia do Sul. Os últimos lugares são ocupados pela Eritreia (189º) e Somália
(190º). Na SADC, o país mais bem colocado é as Maurícias (20º lugar), seguido pela África do Sul (82º).
Moçambique encontra-se no 11º lugar, comparando com os países da SADC. Maurícias é, igualmente,
o país da SADC que continua com o passo acelerado nas reformas ao ambiente de negócio contabili-
zando-se 5 reformas captadas no relatório do Doing Business 2019.

O relatório conclui que houve progressos na melhoria da regulamentação pelo mundo com o ob-
jectivo de facilitar os negócios para as PME´s, sobretudo em países de alta renda da Europa, da Ásia
central e da África Subshariana. Em 128 países houve avanços na regulação para fazer negócios, uma
expansão de 7,6% na comparação com o relatório anterior. Foram implementadas um número recorde
de 314 reformas regulatórias em todo o mundo.

3. Competitividade das PMEs


Estando integradas no comércio externo, então significa que as MPME´s enfrentam, actualmente, uma
concorrência de nível regional e global. A este nível, para serem competitivas, não basta uma boa
gestão interna para ganhar a concorrência. É necessário que as políticas globais possam acompanhar
este processo. Para fundamentar este ponto de vista, fez-se um levantamento comparativo de alguns
custos relativos à mão de obra.

Tabela 3: Competitividade sob ponto de vista de custos

Percentagem
Quantos Dias a
do quanto da
Quanto Dias Empresa paga
Salário Mínimo produção de PIB Per
Economia Trabalha ao trabalhador
(USD) cada trabalhador Capita
por semana no período de
é absorvido pelo
férias/ano
Salário Mínimo

Africa do Sul 282 0,4 6 18,3 5.430,00

Angola 114,1 0,2 6 22 3.330,00

Botswana 81,9 0,1 6 15 6.820,00

Namibia Não Tem SM 5,5 20 4.600,00

Maurícias 247,7 0,2 6 17 10.140,00

Malawi 33,2 0,7 6 18 320,00

Zambia 148,5 0,7 6 24 1.300,00

Zimbabwe 298 2,2 6 22 910,00

Seycheles 542,5 0,3 6 21 14.180,00

Eswatini 123,5 0,3 5,5 15 2.960,00

Lesotho 139,4 0,8 6 12 1.280,00

RDC 65 0,9 6 13 450,00

Madagascar 51 0,9 6 24 400,00

Moçambique 90 1,3 6 24 420,00

Fonte: Dados compilados do Relatório do Doing Business 2019

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 83
Da tabela anterior, pode-se depreender:

Ø Comparativamente as economias da região da SADC que apresentam um rendimento ou PIB


per capita similar ao de Moçambique, o nosso país possui um dos salários mínimos mais ele-
vado.
Ø Naturalmente, as economias com alto rendimento ou PIB per capita (Maurícias, África do Sul
Syecheles) têm salários mínimos mais elevados;
Ø Do valor da produção adicional por trabalhador em Moçambique, 130 é absorvido pelo salá-
rio mínimo. Ou seja, dada a baixa produtividade do factor trabalho, aquilo que o trabalhador
adiciona na produção não é suficiente para pagar o seu salário, em média. Sendo assim, a
empresa acrescenta 30% para o seu pagamento;
Ø Em Moçambique, a empresa deve pagar por 24 dias úteis de férias/ano a cada trabalhador. A
média da SADC são 18,8 dias.
Ou seja, a questão laboral constitui um aspecto negativo na concorrência das MPME´s, conside-
rando o contexto regional da SADC.
CTA (2018b) concluiu que, em Moçambique são 37 os impostos e taxas que se pagam numa base
anual e que se aplicam a todas as empresas, de uma forma geral, e são necessárias cerca de 200 horas
para cumprir com essas obrigações. Das opiniões colhidas, a ideia geral é de que o número de impos-
tos e taxas que as empresas têm que pagar anualmente não é propriamente o maior problema, mas
sim as taxas elevadas e a complexidade dos procedimentos para o pagamento, os quais obrigam a que
as empresas suportem custos elevados e tempo necessário para se proceder ao pagamento.

De facto, uma análise comparativa regional, constante na tabela 4 corrobora com os desafios que ain-
da persistem na competitividade das empresas moçambicanas.

Tabela 4: Análise comparativa do peso dos impostos nas empresas a nível regional,

Custo da Electricidade (% do Cobertura do Registo de Carga Fiscal (%


ECONOMIA
PIB Per capita) crédito (% de adultos) dos lucros)

Africa do Sul 156,7 67,3% 29,1%

Angola 786,7 1,6% 49,1%

Botswana 340,4 53,6% 25,1%

Namibia 266,5 60,8% 20,70

Mauricias 304,4 100,0% 22,1%

Malawi 2.026,3 30,0% 34,5%

Zambia 2.329,1 10,9% 15,6%

Zimbabwe 2.631,5 7,1% 31,6%

Seycheles 377,7 66,3% 30,1%

Eswatini 689,2 43,0% 35,7%

Lesotho 1.247,1 11,3% 13,6%

RDC 14.195,0 0,7% 54,6%

Madagascar 4.866,9 6,3% 38,3%

Moçambique 3.214,4 7,3% 36,1%

Fonte: Dados compilados do Relatório do Doing Business 2019

PME
84 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Da tabela anterior, pode-se depreender:

Ø O Custo de acesso a electricidade, ainda, é muito alto. Em Moçambique, em média, uma


empresa gasta 3.214,4% do rendimento per capita para ter electricidade. Isto corresponde a
13.500,48 USD/média por ano para ter electricidade;
Ø O Custo de acesso a electricidade, ainda, é muito alto. Em Moçambique, em média, uma
empresa gasta 3.214,4% do rendimento per capita para ter electricidade. Isto corresponde a
13.500,48 USD/média por ano para ter electricidade;
Ø Esta avaliação negativa está ligada ao baixo nível de informação de cada potencial tomador
de crédito. A central de informação de crédito existente cobre, apenas, 7,3% dos adultos.
Portanto, nesta dimensão confirma-se, inclusive a questão das deficientes infra-estruturas como um
dos entraves das MPME´s e que podem torna-las pouco competitivas, estando integradas no comércio
externo. O exemplo disso é a deficiência das infra-estruturas de transporte e distribuição de energia
eléctrica que tornam o seu custo de acesso bastante elevado.

A título de exemplo nos últimos 3 anos as tarifas de electricidade aumentaram cerca de 300% e com-
parando com os países mais competitivos da região verifica-se que o custo da electricidade aplicado
ao sector industrial no País é entre 40% a 60% mais caro.

Se a competitividade no sector empresarial diminui em consequência do ambiente de negócios des-


favorável poderá afectar a atração de novos investimentos. Neste sentido os constrangimentos que
persistem no quadro do ambiente de negócios conjugado com a fraca implementação das reformas
aprovadas no âmbito do DPP podem tornar-se num risco para o ambiente de negócios em Moçam-
bique. Por isso, urge o engajamento dos diversos actores no processo de reformas para a melhoria do
ambiente de negócios.

4. Conclusão
Moçambique tem vindo a dar passos concretos no que se refere a reformas para a melhoria do am-
biente de negócios. Entretanto, esses passos têm sido lentos, tendo em conta o fluxo de questões
consideradas necessárias de serem reformadas e o número de reformas efectivadas. Apesar disso, as
reformas feitas possibilitaram o País melhorar a classificação no último Doing Business, sendo neces-
sário continuar-se com o processo de reformar e de forma mais assertiva por forma a possibilitar o País
a ascender a posições de destaque no Doing Business.

As reformas propostas têm impacto directo na competitividade das empresas. A comparação que é
feita, actualmente, mostra que os custos de transacção e de alguns factores, como o trabalho, têm
contribuído para a melhoria de competitividade não seja rápida. No caso do trabalho, o aspecto cen-
tral é a sua produtividade considerada baixa, fazendo com que, o que a sua remuneração seja elevada
que o produto adicional.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 85
Referências
Baker Tilly, (2014): PME em Moçambique Oportunidades e Desafio. Trabalho encomendado pelo IPE-
ME e financiado pela USAID-SPEED.

CTA (2018a). Reflexão sobre o Processo de Reformas para Melhoria do Ambiente de Negócios em Mo-
çambique 1996-2017

CTA. (2018b). “Reflexão sobre a política tributária e a sua optimização para a competitividade do sector
privado em Moçambique”

DNEAP (2006): “Enterprise Development in Mozambique: Results Based on Manufacturing Surveys


Conducted in 2002 and 2006”, National Directorate of Studies and Policy Analysis, Ministry of Planning
and Development, Mozambique.

ICA (2009): “Mozambique Investment Climate Assessment”, the World Bank, Regional Program for En-
terprise Development (RPED), Africa Finance and Private Sector (AFTFP).
INE (2011): “CEMPRE 2002” (revised in 2011), Instituto Naçional de Estatistica (INE).

INE (2017): “Indicadores económico-financeiros das empresas 2015.

Remane, Natércia V. (2013): “Pagamento de impostos em Moçambique”. Estudo sobre o pagamento de


impostos em Moçambique no âmbito dos resultados apresentados pelo Banco Mundial no relatório
“Doing Business 2012”. Este documento foi encomendado pela CTA com financiamento da Agência
dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) através do Projecto Speed. Junho .

World Bank: Doing Business (2015): Going Beyond Efficiency, Washington DC. http://www.doingbusi-
ness.org/reports

PME
86 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Ambiente de
Negócios e
Competitividade
5.2 Doing Business
das PME´s em Moçambique 2019
Comparando a regulamentação
de negócios para empresas
nacionais em 10 províncias com
Capítulo 5 outras 189 economias

Laura Diniz; Marilina Vieira, Banco


Mundial

Durante a última década Moçambique introduziu várias reformas destinadas a melhorar o am-
biente de negócios para o sector privado. Recentemente, tornou mais rápida a ligação à rede eléc-
trica impondo novos prazos e simplificando procedimentos; tornou o pagamento dos impostos mais
fácil reduzindo o tempo que os contribuintes têm de aguardar para solicitar o reembolso do imposto
sobre o valor acrescentado (IVA); e implementou uma janela única electrónica para o comércio inter-
nacional. No entanto, as empresas continuam a enfrentar dificuldades na criação de novas empresas,
assim como a sua operação e expansão - um resultado, em parte, da burocracia governamental exces-
siva1. Enquanto Moçambique tem um desempenho acima da média tanto a nível regional como global
na obtenção de alvarás de construção ou na resolução de insolvência, classifica-se entre as últimas
economias na classificação entre as 190 economias medidas pelo Doing Business quando se trata de
abrir uma empresa ou resolver litígios comerciais nos tribunais2. A falta de coordenação entre os orga-
nismos governamentais, legislação desactualizada, regulamentação demasiado complexa e práticas
de implementação ineficientes apresentam-se como as principais razões.

O relatório Doing Business do Banco Mundial, mede anualmente os regulamentos empresariais


que afectam as empresas nacionais de pequeno e médio porte localizadas na principal cidade
de negócios em 190 economias. A existência desses dados levou com que Maputo fosse o centro
de atenção das reformas destinadas a melhorar o ambiente de negócios. No entanto, Maputo não
conta a história toda. Embora a cidade capital do país e a sua província associada (Cidade de Maputo)
represente o maior centro económico, com cerca de um terço de todas as empresas do país3, contém
apenas cerca de 4% da população moçambicana4. Empresários podem enfrentar diferentes desafios
consoante à área onde operam. A informação sobre processos regulatórios pode ser difícil de aceder
além da Cidade de Maputo, dificultando a implementação de reformas. Mozambique tem estatísticas
muito limitadas, dados e capacidade para realizar uma tal analise por iniciativa própria.
1 Fórum Económico Mundial. 2017. The Global Competitiveness Report 2017-2018. Disponível em http://www3.weforum.org/
docs/GCR2017- 2018/05FullReport/TheGlobalCompetitiveness Report2017%E2%80%932018.pdf.
2 Entre as 48 economias africanas subsarianas, Moçambique surge em 7º em termos de obtenção de licenças de construção
e 8º em resolução de casos de insolvência. Mas tem uma pontuação baixa em termos de criação de novas empresas (174º
entre as 190 economias medidas pelo Doing Business) e na resolução de litígios comerciais através de tribunais (167)
3 Número de empresas por província: Cidade de Maputo (14.904), Maputo (5.427), Sofala (4.839), Zambézia (3.372), Gaza
(3.230), Nampula (2.605), Inhambane (2.247), Cabo Delgado (1.840), Tete (1.762), Manica (1.510) e Niassa (1.273). Com base
nos dados de um recentemente concluído censo empresarial: 2014/2015 Censo de Empresas (CEMPRE). O censo cobre
apenas empresas formalmente registadas.
4 Instituto Nacional de Estatística. Disponível em http://www.ine.gov.mz/estatisticas/ estatisticas-demograficas-e-
indicadoressociais/projeccoes-da-populacao/ populacao-projectada-por-distritos-maputocidade-2007_2040.xls/view.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 87
O primeiro passo em direção à melhoria do ambiente de negócios é gerar dados para guiar os
formadores de política. Assim, com a proposta de estender essa análise à outras localidades de
um país, os relatórios subnacionais Doing Business apresentam dados primários e um quadro
com mais nuances. Muitos regulamentos e medidas administrativas são implementadas ou emitidas
pelas autoridades locais. Publicado em junho, 2019 o relatório Doing Business em Moçambique 2019
foi o primeiro estudo subnacional Doing Business para o país e analisa o ambiente de negócios em 10
províncias representadas pelas suas capitais. As províncias medidas são: Cabo Delgado, Cidade de Ma-
puto, Gaza, Inhambane, Manica, Nampula, Niassa, Sofala, Tete e Zambézia. Assim, o estudo identifica
restrições regulatórias importantes e documenta boas práticas em 9 províncias pela primeira vez, além
da maior cidade de negócios, Maputo. Ele apresenta os resultados para estas localidades relativamente
à três áreas regulamentares: abertura de empresas, registo de propriedades e execução de contratos.
Um quarto indicador mede as transacções do comércio internacional através dos portos de Beira, Ma-
puto e Nacala e a fronteira terrestre de Ressano Garcia5.

QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CONCLUSÕES DO RELATóRIO DOING BUSINESS EM MOÇAMBIQUE


2019?

Nenhuma província tem o mesmo nível de desempenho em todos os indicadores analisados. É


mais fácil abrir uma empresa na Cidade de Maputo onde o processo é três semanas mais rápido do
que nas outras nove províncias (tabela 1.1). Lá, empresários conseguem registar a empresa e publi-
car os estatutos da sociedade no Boletim da República no mesmo local - a Conservatória do Registo
de  Entidades  Legais  (CREL)6. A Zambézia é a província que tem melhor desempenho no processo
de registo de propriedades, devido a um processo de aprovação de transferência simplificado a nível
autárquico, digitalização avançada dos planos cadastrais e à implementação de um sistema de infor-
mação geográfica. Resolver um litígio comercial é mais fácil em Manica, graças a processos judiciais
relativamente rápidos e baixos honorários de advogados.

Todas as províncias excepto Sofala e Tete se posicionam nos três primeiros lugares em pelo me-
nos um indicador dos três medidos. Gaza salienta-se ao posicionar-se nos três primeiros lugares em
dois indicadores. No processo de abertura de uma empresa está entre as três províncias que publicam
um extracto simplificado dos estatutos da sociedade; assim, os custos de publicação são metade dos
custos das outras províncias. No processo de registo de propriedades, Gaza está entre as províncias
mais céleres na actualização do cadastro autárquico, e o custo e tempo total para a transferência de
propriedades são mais baixos do que a média. Gaza também se salienta em termos da transparência
das informações devido ao facto de sua Conservatória do Registo Predial publicar o prazo de entrega
de serviços prestados como uma certidão do registo predial.

5 Informações acerca dos parâmetros deste estudo, os indicadores escolhidos e metodologia dos indicadores do Doing
Business, estão disponíveis no relatório Doing Business em Moçambique 2019 e no website www.doingbusiness.org.
6 Os dados deste relatório são com data de 30 de Setembro de 2018.

PME
88 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Tabela 1.1 Doing Business em Moçambique 2019 - onde é mais fácil?

Quanto ao comércio internacional, Ressano Garcia supera o desempenho dos três portos maríti-
mos medidos (tabela 1.2). Ressano Garcia regista tempos mais curtos e custos mais baixos relativos
aos serviços de processamento de carga em terminais e menos requisitos documentais. O seu bom
desempenho é também resultado da implementação gradual do projecto de Fronteira de Paragem
Única, conforme o acordo de 2007 entre Moçambique e a África do Sul para melhorar os processos de
desembaraço aduaneiro para carga comercial na fronteira e reduzir os tempos de espera.

Entre os três portos marítimos, é mais fácil exportar carvão através do porto da Beira devido a um
processo mais rápido de desembaraço, que não requer certificados fitossanitários, assistência
fiscal ou inspecção não intrusiva por scanner. Nacala, posiciona-se em último lugar entre as quatro
localidades medidas devido aos pesados e dispendiosos procedimentos para exportar feijão boer para
a Índia, especialmente considerando que a assistência fiscal acontece geralmente no Terminal Espe-
cial de Exportação de Nacala - TEEN onde há longas filas e altas taxas. É mais fácil exportar alumínio
do que açúcar através do porto de Maputo porque a principal empresa exportadora, a Mozal, opera
o seu próprio terminal portuário de alumínio; além disso, as exportações de alumínio não exigem a
certificação fitossanitária7.

A importação de peças para veículos8 é mais fácil através de Nacala devido aos honorários con-
sideravelmente mais baixos dos despachantes aduaneiros. No entanto, o processo é mais moroso
em Nacala do que em Maputo. O tempo para cumprir as exigências documentais é uma área em que
todas as travessias de fronteira, por mar ou terra, têm um bom desempenho graças à implementação
da Janela Única Electrónica (JÚE), um portal de ligação entre as principais partes interessadas.

7 Ao avaliar o processo de exportação, a metodologia Doing Business supõe que cada localidade de comércio internacional
esteja enviando seu principal produto em valor de exportação. No caso do maior porto de Moçambique, Maputo, este
estudo também avalia o segundo produto de exportação (açúcares e produtos de confeitaria - HS 17 segundo o Código
de Classificação do Sistema Harmonizado) para complementar os dados utilizados no estudo global Doing Business, que
assume exportações da principal exportação de Maputo (HS 76 - alumínio e suas obras). Para mais detalhes, consulte a
Tabela 6.1, pressupostos do estudo de caso, no capítulo comércio internacional.
8 Os estudos de caso sobre a importação e a exportação supõem a comercialização de productos diferentes. No Doing
Business parte-se da premissa de que cada economia importa um carregamento padronizado de 15 toneladas de peças de
automóvel em contentores (HS 8708) do seu principal parceiro de importação – a economia da qual ela importa o maior
valor (calculado em preço vezes quantidade) de peças de automóvel.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 89
Tabela 1.2 Comércio internacional - onde é mais fácil?

As províncias moçambicanas têm muito a aprender umas com as outras nas áreas analisadas pe-
los indicadores. Em execução dos contratos, por exemplo, uma localidade hipotética na qual se resol-
ve um litígio comercial em 348 dias (como em Tete), custa 21,8% do valor da dívida (como em Manica)
e pontua 8,5 no índice da qualidade dos processos judiciais (como na Cidade de Maputo, Nampula,
Sofala e Tete) posicionar-se-ia em 35º na classificação global desse indicador - 132 lugares acima da
classificação actual de Moçambique entre 190 economias, segundo o Doing Business 2019 (figura 1.1).
Para o registo de propriedades, uma localidade em que o processo leva 37 dias (como em Inhambane),
custa 5,2% do valor da propriedade (como na Cidade de Maputo e Zambézia), exige sete procedimen-
tos (como em seis províncias9) e tem uma pontuação de 10 no índice da qualidade da administração
fundiária (como em Tete) classificar-se-ia em 113º lugar. Isso representa um salto de 20 lugares na
classificação global, ultrapassando o Quénia. Ao todo, se Maputo adoptasse todas as boas práticas que
se encontram nas 10 províncias, a classificação geral do país na medição global Doing Business subiria
22 posições dentro de 190 economias na facilidade de se fazer negócios, de 135º para 113º.

9 Gaza, Inhambane, Manica, Niassa, Sofala e Zambézia

PME
90 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Figura 1.1 Se todas as boas práticas locais fossem adoptadas, o desempenho global de Moçambi-
que melhoraria e subiria 22 posições

Existem lacunas significativas entre as províncias com melhor e pior desempenho para cada indi-
cador, mas as diferenças de desempenho na execução de contratos e no comércio internacional
se destacam. A diferença no desempenho entre localidades é melhor ilustrada utilizando a pontuação
da facilidade de se fazer negócios, que revela quão perto uma localidade está das melhores práti-
cas globais registadas (figura 1.2). Elas sugerem que há lições importantes que as províncias podem
aprender entre si para as ajudar a melhorar os seus ambientes de negócio. Manica apresenta o melhor
desempenho em execução de contratos - um resultado de baixos honorários dos advogados (10%
do valor da dívida) e tribunais relativamente rápidos (380 dias no total). Em contrapartida, na Cidade
de Maputo os processos de execução de contratos levam mais tempo, cerca de 950 dias (mais de o
dobro do tempo de Manica), e é mais dispendioso, custando aos empresários mais do que metade do
valor da dívida - quase duas vezes a média das 10 províncias. Grandes atrasos no agendamento das
audiências arrastam tempos de julgamento, causando acumulação de casos - um problema estrutural
e generalizado nos tribunais de instâncias inferiores em Moçambique, mas que aparece exacerbado
na Cidade de Maputo. A Cidade de Maputo apresenta um dos honorários de advogados mais elevados
- mais de 50% acima da média das 10 províncias medidas - e os custos judiciais e de execução mais
elevados.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 91
Figura 1.2 A diferença de desempenho entre as províncias em Moçambique é maior para execu-
ção de contratos e comércio internacional

Em comércio internacional, Ressano Garcia é a localidade com maior facilidade para se fazer
comércio em Moçambique e ficaria no terço superior das economias na classificação global10. Do
outro lado, Nacala, estaria no terço inferior da classificação, especialmente em virtude do tempo que
é necessário para garantir a conformidade com as exigências da fronteira para as exportações (de-
sembaraço aduaneiro, inspecções e operações portuárias de processamento de cargas). Em relação
ao comércio marítimo, os portos analisados de Moçambique têm, em média, melhor desempenho
do que os portos vizinhos da Tanzânia e da África do Sul, à excepção de Porto Elizabeth e Ngqura na
África do Sul.

Em Moçambique as diferenças em desempenho não são tão grandes no processo de abertura de


empresas e registo de propriedades. Estes dois indicadores são também aqueles onde as localidades
estão colectivamente mais distantes das melhores práticas globais. Os desempenhos em registo de
propriedades são dificultados por um grande número de procedimentos - devido à falta de coorde-
nação entre os organismos envolvidos na administração fundiária urbana - e pontuações mais baixas
no índice de qualidade, que incide na confiabilidade da infraestrutura, transparência das informações,
cobertura geográfica e resolução de disputas fundiárias urbanas.

Execução de contratos e comércio internacional são aqueles em que, em média, Moçambique


ultrapassa o desempenho dos seus vizinhos Os indicadores de execução de contratos e comércio
internacional são aqueles em que, em média, Moçambique supera os seus vizinhos. Em média, os tri-
bunais moçambicanos resolvem litígios comerciais em pouco mais do que 20 meses - um mês mais
10 Ressano Garcia posicionar-se-ia em 67o lugar globalmente no indicador de comércio internacional.

PME
92 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
rapidamente do que nos países da África subsariana. Com uma média de 41 horas para cumprir as
conformidades na fronteira para importaçãoes, os portos Moçambicanos têm um desempenho cerca
de três vezes mais rápido do que a média das economias da SADC (Comunidade para o Desenvolvi-
mento da África Austral) que fazem comércio por mar (151 horas), e os procedimentos aduaneiros no
porto levam em média 18 horas - consideravelmente mais rápidos do que as economias da SADC que
importam por mar (51 horas). O tempo de conformidade com as exigências na fronteira para impor-
tações através de Ressano Garcia (nove horas) é também seis vezes mais rápido do que as economias
da SADC que também importam por terra (54 horas).

Por outro lado, em registo de propriedades, Moçambique está aquém dos seus parceiros da SADC.
Apesar de ser mais rápido—com três dias menos, e menos dispendioso—com 1.1% do valor da
propriedade a menos, do que os seus vizinhos da SADC, o processo de registar propriedades em
Moçambique é mais complicado com três pontos menos. O país também fica atrás no índice de
qualidade da administração fundiária. Moçambique também tem um desempenho fraco no processo
de abertura de empresas. Mesmo a Cidade de Maputo - a província com melhor desempenho, em que
o processo exige dez procedimentos, leva 17 dias e custa 120,5% do rendimento per capita - não se
aproxima da média regional da SADC de 7,9 procedimentos, 27,4 dias e 35,3% do rendimento per capita.

Por último, uma análise sobre o processo de abertura de empresas e registo de propriedades
revela que os empresários em Moçambique têm que seguir muitos passos para concluir cada
processo. Quando se considera a média das dez províncias, Moçambique está, globalmente, entre as
12 economias nas quais o processo de abertura de empresas é mais complexo, atrás dos seus pares
regionais. A complexidade do registo junto com alto custo de publicação dos seus estatutos de socie-
dade no Boletim da República são os principais obstáculos.

OPORTUNIDADES PARA MELHORAMENTOS E BOAS PRÁTICAS GLOBAIS PODEM ORIENTAR O CA-


MINHO PARA DIANTE

O relatório identifica algumas alterações administrativas que podem ser implementadas num curto
período de tempo. Outras podem ser mais complexas e requerem mais recursos financeiros e huma-
nos, além de mais capacidade técnica. Emergem questões transversais que requerem liderança dos
responsáveis políticos nacionais e locais.

Em todo o país fica evidente que existe uma lacuna entre a introdução de reformas e sua im-
plementação. Várias melhorias têm sido introduzidas pelo regulamentos, mas ainda têm de ser
implementados na prática nas províncias. Um exemplo recente é a reforma do licenciamento de em-
presa que introduziu a licença por mera comunicação prévia, eliminando o custo e reduzindo o tempo
para se obter a licença simplificada. Em teoria, os BAÚs de todas as províncias podem emitir a licença
por mera comunicação prévia. No entanto, só em Cabo Delgado, Cidade de Maputo, Inhambane,
Manica e Niassa os empresários optam por este procedimento. Em Sofala, Tete ou Zambézia poucas
licenças por mera comunicação foram emitidas desde que a lei entrou em vigor. Em Gaza e Nampula,
o BAÚ não tem experiência no processamento da mera comunicação prévia e os empresários não a
conhecem.

A informação sobre processos regulatórios é difusa e difícil de aceder, dificultando a implemen-


tação de reformas além da Cidade de Maputo. Juntamente com uma campanha de sensibilização, o
acesso do público às leis e regulamentos tem de ser melhorado a nível subnacional. Para se consultar
as leis em Moçambique, os advogados, os empresários e mesmo os juízes precisam de ir pessoalmen-
te aos arquivos da Imprensa Nacional, situada em Maputo, ou pedir a cópia de uma lei por escrito
- ambas perante o pagamento de uma taxa. Fornecer informação acessível e clara ao usuário sobre
regulamentos e procedimentos é importante em todas as áreas da regulamentação do ambiente de
negócios – e isso não requer necessariamente grandes recursos. Onde os utentes não têm esta infor-
mação, têm muito mais dificuldade em responsabilizar os organismos governamentais, uma situação
que fomenta a informalidade e a corrupção.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 93
Promover maior coordenação entre os governos autárquicos, provinciais e nacionais pode resul-
tar em ganhos de eficiência em abertura de empresas e registo de propriedades. Os organismos
nestas duas áreas têm tendência a trabalharem em silos, tornando os processos mais complicados
para os empresários. Para o registo de propriedades, as autarquias e conservatórias do registo predial
não partilham informação sobre quem tem titularidade: os proprietários têm de visitar dois organis-
mos para completarem todos os requisitos para o registo. Melhorar a comunicação entre os organis-
mos ajudaria a reduzir as interacções com o público, eliminando etapas e custos.

A redução da carga regulamentar para as empresas também deve ser acompanhada pelo aumen-
to da capacidade técnica a nível subnacional para melhorar os serviços relacionados ao ambiente
de negócios. A falta de capacidade apresenta-se em duas áreas: infraestrutura e capital humano. No
que se refere à execução de contratos, não há suficientes oficiais de justiça formados para apoiarem os
juízes nas tarefas administrativas e não há um programa regular para formação de juízes e de oficiais
de justiça. Em termos de infraestrutura, a maior parte dos procedimentos em todos os indicadores não
são automatizados e na maior parte dos organismos os funcionários partilham o uso dos computa-
dores.

Um exercício de comparação tal como o Doing Business em Moçambique 2019 pode motivar go-
vernos a reformar. Eles revelam áreas onde existem obstáculos e realçam oportunidades para melho-
rar a qualidade e eficiência dos regulamentos. Comparar localidades no mesmo país pode impulsionar
reformas, uma vez que torna mais difícil para os governos locais e responsáveis políticos justificarem
por que fazer negócios em sua cidade ou província é mais complicado que nas localidades vizinhas.

As boas regras criam um ambiente onde novos participantes com energia e boas ideias podem
iniciar negócios e onde boas empresas podem investir, expandir e criarem postos de trabalho. O
objectivo é encorajar a concepção de regulamentos eficientes, acessíveis a todos e simples de imple-
mentar. Regulamentação onerosa faz divergir a energia dos empresários evitando que estes desenvol-
vam o seu negócio. Mas regulamentação eficiente, transparente e simples facilita a criação, expansão
e a inovação do negócio e torna mais fácil para empreendedores competirem em pé de igualdade.

Bibliografia
World Bank (2019): Doing Business in Mozambique 2019. Washington, DC: World Bank. (www.
doingbusiness.org/Mozambique)

PME
94 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Ambiente de
Negócios e
Competitividade
das PME´s 5.3 Capacitar as
PME Moçambicanas
para fornecer as
Capítulo 5 grandes cadeias de
valor
Bernardo Aparicio, ABSA
Acesso às grandes cadeias de valor

Ao analisar o tecido empresarial de Pequenas e Médias Empresa (PME) é importante destacar dois
aspectos: (1) existe capacidade de produção ou de prestação de serviços em diversos sectores de
actividade para os quais não necessitamos de importações e (2) muitas PME continuam a operar com
informalidade e não cumprem os requisitos mínimos das grandes cadeias de valor.

O antagonismo entre estes dois aspectos tem levado a um sentimento de que os Moçambicanos não
terão acesso aos contractos adjudicados pelos grandes projectos e de que existem barreiras artificiais
à entrada de fornecedores locais.

No entanto, o Governo tem o desenvolvimento do conteúdo local como objectivo primário e as ini-
ciativas que está a lançar, para fomentar a participação de empresas moçambicanas na cadeia de valor
dos Recursos Naturais, deverão contribuir para alcançar os mesmos.

Mas antes de analisar as iniciativas é importante entender quais são os principais factores que li-
mitam o número de PMEs com capacidade de fornecer o sector de recursos naturais a um preço
competitivo.

Das análises que realizámos, identificámos cinco factores:

- Dificuldade em cumprir com os requisitos mínimos legais e de compliance exigidos pela


indústria – nestes inserem-se temas como licenças, documentação da sociedade, políticas
internas anti-corrupção, certificações e outra documentação sectorial. Uma das principais
razões para este ser o factor principal prende-se com o custo e a burocracia necessária para
a obtenção desta documentação.
- Dificuldade em encontrar pessoal qualificado – este factor tem um impacto na produtividade
das empresas e consequentemente no custo de fornecimento, tornando-as menos competi-
tivas em comparação com o mercado internacional. A forma que combater este problema é
com o investimento em formação de recursos humanos, investimento este que muitas vezes
não está ao alcance de qualquer PME.
- Capacidade de planeamento e visão estratégica – com os desafios que as PMEs enfrentam
no mercado moçambicano diariamente, nem sempre os gestores têm tempo e capacidade

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 95
para criar uma visão estratégica da empresa e planear o futuro. Este factor tem impacto na
capacidade de ganhar contratos, executar contratos e expandir o negócio.
- Maximização do potencial de empreendorismo – a mentalidade empreendedora dos mo-
çambicanos é uma vantagem competitiva, no entanto a mesma deverá ser complementada
com foco comercial e capacidade técnica para responder à documentação dos concursos,
muitas vezes extensa e complexa.
- Falta de experiência para optimizar a estructura de capital e de tesouraria – grande parte dos
gestores de PMEs em Moçambique têm um conhecimento detalhado do negócio mas pouca
experiência na estructuração do financiamento, quer de longo prazo para investimento, quer
de curto prazo para a tesouraria. O resultado é empresas com capacidade de produção ou
prestação de serviços mas com o crescimento ou operação constrangida por não utilizarem
os instrumentos de financiamento adequados.
Com base nos factores identificados podemos concluir que existem PMEs que podem fornecer as
grandes cadeias de valor com base na capacidade técnica para a produção ou prestação de serviços
existente. As lacunas prendem-se com o processo de qualificação, o processo de contratação e no
desenvolvimento sustentável do negócio.

Estas lacunas são utilizadas pelas entidades contratantes como a razão principal para serem obriga-
dos a contratar fornecedores estrangeiros, enquanto que o elevado custo associado a cumprir com
todas as obrigações é apontado pelas PMEs como a principal razão para não poderem aceder a estes
contratos.

Capacitação como forma de fomentar o envolvimento de empresas locais

Existem várias formas de fomentar a utilização do conteúdo local, desde as impostas por lei até às
mais liberais que preferem deixar o mercado funcionar. A primeira tem tendência para criar disfunções
no mercado, o que resulta num aumento dos custos da cadeia de valor onde as empresas estão inse-
ridas. A segunda tem um horizonte temporal de desenvolvimento muito longo e aumentam o risco
de empresas estrangeiras ocuparem o espaço do fornecimento das cadeias de valor, impedindo que
empresas locais possam entrar nesses mercados.

É minha opinião que a combinação das duas poderá permitir atingir os objectivos pretendidos, sem
criar disfunções de mercado e num horizonte temporal mais curto. Esta combinação implica:

- a criação de leis para que a indústria receptora dos fornecimentos, em particular a indústria
extractora de recursos naturais, invista em capacitação das PMEs. Capacitação esta que deverá
estar focada em eliminar as lacunas acima identificadas.
- a disponibilidade e compromisso das PMEs em investir na melhoraria do ambiente de
governação, em recursos humanos, em melhorar o foco comercial e reduzir os custos de
produção.

Desta forma, eliminamos as razões apontadas por parte das entidades contratantes para não haver
mais PMEs a fornecer as grandes cadeias de valor.

A ideia fundamental destas iniciativas é não só criar um equilíbrio competitivo entre as empresas mo-
çambicanas e as empresas estrangeiras, mas também melhorar o ambiente de concorrência entre as
próprias empresas moçambicanas. Ao capacitarmos as PMEs, para poderem aceder a contratos das
grandes cadeias de valor a um custo acessível, estamos na prática a democratizar o conteúdo local
alargando a todas as PMEs o potencial de crescerem à medida que os grandes projectos crescem.

PME
96 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Financiar os programas de capacitação

É muito importante criar programas nacionais que promovam a capacitação de empresas, que abar-
quem diversas áreas desde a formação técnica a requisitos legais e de certificação, mas cujo custo
para as PMEs esteja de acordo com a sua capacidade financeira.

Neste sentido, é importante encontrar mecanismos, que permitam reduzir os custos de capacitação e
financiamento das empresas locais, e que sejam inclusivos e facilmente acessíveis para empresas na
cadeia de valor. Só assim iremos democratizar o acesso aos contratos das grandes cadeias de valor e
fomentar um desenvolvimento sustentável e abrangente.

Existem alguns bons exemplos no continente que podem ser adaptados à realidade moçambicana.
O caso da Agência para o conteúdo local da Nigéria (Nigerian Content Development and Monitoring
Board, “NCDMB”) é um bom exemplo de um agente aglutinador de iniciativas e com dotação orça-
mental para financiar essas iniciativas. Os fundos provêm de um imposto de 1% sobre as transações
entre as empresas do sector de petróleo e gás e os seus fornecedores, permitindo ao NCDMB financiar
a capacitação e o desenvolvimento de empresas locais.

Mas não temos necessariamente de colocar o custo da capacitação das PMEs moçambicanas apenas
nas entidades contratantes, é importante repartir esse esforço com as próprias PMEs e potencialmente
utilizar fundos disponibilizados pelos diversos parceiros de cooperação de Moçambique.

Conclusão

A capacitação das PMEs, o aumento dos produtos e serviços prestados e o desenvolvimento de clus-
ters locais de fornecedores das grandes cadeias de valor tem um efeito multiplicador na economia e
no bem-estar dos moçambicanos muito maior que as próprias indústrias extractivas.

Num ambiente de taxas de juro altas é um grande desafio para as empresas locais conseguirem inves-
tir em capacitação e capacidade produtiva ao mesmo tempo.

Cabe ao Governo determinar as políticas que promovam um desenvolvimento sustentável e inclusivo


do tecido empresarial Moçambicano, e cabe ao sector privado participar no diálogo e desenvolver
iniciativas que respondam a este objectivo.

No entanto, é fundamental a criação de plataformas de diálogo conjunto de forma a que haja uma
abordagem integrada à capacitação das empresas Moçambicanas e evitar o lançamento de iniciativas
isoladas e desenquadradas dos objectivos do Governo.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 97
Financiamento
e Serviços
Financeiros para
PME´s
6.1 AS PARTICULARI-
DADES DO ACESSO AO
CRÉDITO PARA PMEs
Capítulo 6
Friedrich Kaufmann, AHK &
Willy Parlmeyer, Consultor

1. Problemas gerais
Em Moçambique, o mercado de capital bem como o sector bancário, aparentemente, têm problemas
pertinentes. As Pequenas e Médias Empresas (PMEs) encontram constrangimentos, não só de natureza
financeira mas também não financeira, que as excluem do sistema ou pelo menos encarecem o aces-
so ao capital. A falta de mercados eficientes de capital e das respectivas instituições dificultam extre-
mamente a vida e as perspectivas de crescimento das empresas. Até hoje e já desde muito tempo,
qualquer pesquisa entre empresários mostra que o acesso ao financiamento é um dos problemas mais
graves para o sector privado (Finmarktrust 2013, ICC 2014, Baker Tilly 2014, Worldbank 2015, WEF 2015).
Além disso, o nível de juros em Moçambique e o custo de capital em geral são ainda muito alto. O
ranking do Banco Mundial do Doing Business mostra que o sistema financeiro ainda está longe de ser
competitivo, obter crédito (getting credit) é mais complicado e mais caro que na média dos países da
África subsariana. (Ranking 165) (World Bank 2019)

Outros factores importantes, que não podemos discutir aqui, são mais da natureza socioeconómica. É
frequente PMEs constituírem um sistema social-família com responsabilidades e expectativas da famí-
lia, muitas vezes não permitindo a acumulação dentro da empresa (autofinanciamento).

Um fenómeno global são os custos de financiamentos, facultados pelas instituições financeiras às


pequenas e médias empresas, relativamente elevados quando comparado com as empresas de gran-
de dimensão. Porém, o teorema da irrelevância do financiamento não é válido na realidade, dadas as
imperfeições do mercado de capital (Miller/Modigliani 1958).

A questão é: Quais são os argumentos que jogam um papel fulcral na perspectiva das pequenas e
médias empresas em Moçambique? Antes de respondermos à questão em discussão, convém enu-
merarmos desde já os factores típicos que jogam um papel chave no acesso ao crédito para todas as
PME, dadas as suas características e a sua dimensão (Kaufmann 1997):

§ os custos de transacção de capital;


§ as assimetrias de informação;
§ a falta de fungibilidade de títulos de financiamento;
§ falta de informação e planificação da própria empresa;

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 99
§ falta de poder de negociação;
§ os riscos e
§ as garantias existentes.
Custos de transacção de capital
Os custos de transacção monetária, por exemplo, possuem a característica típica e comum de eles
serem de natureza decrescente. Isto é, quanto maior for o valor do empréstimo, menor serão os custos
de transacção. Isto quer dizer que, para transacções de baixo porte, ou seja as realizadas pelas PMEs,
os custos são elevados. Em certos casos são elevados também pelo carácter fixo dos custos, ou seja,
independentemente de as transacções serem ou não elevadas, aplicar-se-ão custos fixos. O mesmo
se verifica com os custos de transacção, originados por um pedido de crédito, que vão desde a verifi-
cação da bondade, a monitoria, o registo de garantias, entre outros. Eles variam relativamente pouco
ou nada em função do volume de crédito. Sendo assim, pequenas empresas, que tipicamente pedem
pequenos valores, hão-de contrair maiores custos de transacção por unidade de crédito do que as
grandes empresas. Por outro lado, sabendo isso, a banca oferece menos produtos para PMEs, porque
os seus custos administrativos são relativamente mais caros e tais produtos lucram menos.

Assimetrias de informação
A inexistência de informações objectivas, credíveis e transparentes em relação a determinada empre-
sa, faz com que o credor (banco ou instituições financeiras) peça uma certa compensação particular
para este tipo de risco adicional. Quanto mais grave as assimetrias entre credor e devedor, mais alta
será a compensação. Em casos extremos poderá suceder o caso de o financiamento ser reprovado
(credit rationing), (veja Stiglitz/Weiss 1981).

Existem três tipos de assimetrias de informação que podem criar barreiras ao financiamento:

∞ Informação relativa ao tomador do empréstimo e/ou financiamento: Incertezas sobre o carác-


ter e habilidades do empresário / empresa;
∞ Incerteza sobre o comportamento do empresário/ empresa respectivamente às actividades e
à aplicação dos fundos;
∞ Incerteza sobre o aproveitamento de lacunas específicas nos contractos de investimento.
Em geral, o empresário ou a empresa que está a pedir capital sabe mais e melhor destes assuntos que
um potencial financiador. Assim existe uma assimetria de informação. A falta ou a incerteza de infor-
mação sobre estas situações implica custos adicionais do financiamento (veja também Worldbank
2019). A geração de informações ou de garantias para evitar problemas deste género é complicada
e custosa e, mais uma vez, custa relativamente mais às pequenas empresas, por estas carecerem
normalmente de informações na praça (tais como registos contabilísticos credíveis, falta de audito-
ria, entre outros (Finmarktrust 2013)). E a maioria das PMEs não tem nenhuma reputação ou historial
sólido. Isto para não falarmos das PMEs emergentes ou de índole inovador. Pois as grandes empresas,
principalmente as de sociedade anónima, funcionam mais transparentes, as actividades desenvolvidas
são do conhecimento e de fácil acesso; mesmo porque a demonstração de resultados e a posição
(ranking) é publicada pelos órgãos de informação.

A própria PME em Moçambique, e sobretudo pequenas e micro empresas, raramente dispõem de con-
tas bancárias, planos de negócio e estratégias transparentes. O nível de literacia financeira ainda está
muito baixo (Ayani 2013; Finmarktrust 2013).

PME
100 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Falta de fungibilidade de títulos de financiamento
Tipicamente, PMEs não têm acesso ao mercado de capital organizado. Não podem, por exemplo,
emitir acções com vista à capitalização da própria empresa em casos de necessidades ou mesmo por
motivos estratégicos, mesmo porque elas raramente se adoptam a este tipo de estatuto.

Tocando um pouco mais neste caso de participações (capital próprio), muitas empresas não gostam
da intervenção de outros agentes, instituições ou de novos sócios. Sendo assim, as tais empresas ex-
cluem antemão possibilidades de capitalização e financiamento por motivos psicológicos. O facto de
se pautar por um capital familiar (por exemplo) limita eventuais potencialidades de crescimento da
própria empresa.

Falta de informação e planificação da própria empresa


Um problema geral é a falta de informação relativamente ao mercado local, nacional ou mesmo in-
ternacional por parte das empresas/ empresários. Muitas das vezes, encontram-se no mercado alter-
nativas de financiamento, tais como as instituições micro financeiras, as ONGs com programas de
financiamento em determinados sectores económicos, linhas de crédito bonificadas e muitos outros
fora da visão ou da capacidade do próprio empresário. Muitas empresas não conhecem as instituições
para se informar (como p.ex. o IPEME). Outros grupos não fazem devidamente uma planificação e
preparação interna para pedir créditos a tempo.

Falta do poder de negociação


Como em todos os mercados, pequenas empresas têm menor poder de negociação para com os
bancos comerciais relativamente às grandes empresas, seja pelo volume menor ou pela falta de infor-
mação e acesso a outras possíveis alternativas (no estrangeiro, por exemplo).

O que se tem verificado é que determinadas PMEs não conseguem, no final do exercício, reinvestir
parte do lucro na empresa. Este facto pode-se explicar pelo facto de a empresa ter gerado resultados
negativos ou irrisórios. Esta falha deve-se ao facto delas (as empresas/ empresários) terem uma visão
de curto prazo em relação ao desenvolvimento e oportunidades de investimento no futuro. Se o fluxo
de caixa e a situação económica permitirem acumular lucros, urge-se a necessidade de um financia-
mento interno, reduzindo cada vez mais a dependência em relação aos bancos. Contudo, as pequenas
empresas, em processo de crescimento, ainda não têm esta capacidade e, assim sendo, dependem
mais do financiamento externo.

Riscos elevados
No negócio, riscos traduzem-se em custos. Quanto maior a exposição a riscos, maior é a compensa-
ção/ prejuízo. Sem dúvida, o capital investido numa típica PME encontra-se sujeito a maiores riscos
relativamente ao capital de uma grande empresa. Na Alemanha, por exemplo, a rentabilidade do ca-
pital das PMEs é muito mais variável do que a das grandes empresas. Consequentemente, o risco da
falência é mais alto.

A diversificação interna de riscos não é possível num país como Moçambique, em que uma PME tem
poucos projectos, poucos produtos e um só mercado. Além disso, o rumo da empresa depende de
uma ou de poucas pessoas; o controlo interno e a avaliação da estratégia são mais fracos.

As PMEs poucas vezes conseguem receber ajuda e subvenções importantes do Estado. O risco de
perder todo o capital é maior. Em última consequência, uma grande empresa tem acesso mais fácil a
subvenções ou outros apoios para “salvar a sua vida” e os postos de trabalho.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 101
Falta de Garantias de Crédito
Uma PME pode ter menos possibilidades de oferecer garantias reais do que uma grande empresa.
Além disso, registar propriedade ainda não é fácil em Moçambique (Worldbank 2019). Este problema
de falta de garantias reais está agravado para empresas recém-fundadas ou tecnológicas que investem
mais em recursos humanos e no saber-fazer. A banca ainda prefere exigir garantias reais em vez de
estudar as perspectivas económicas ou confiar no futuro e num bom plano de negócio. (ICC 2014).

Além disso, garantias reais, penhoradas das PMEs, podem ser muito específicas de modo que a liqui-
dação das mesmas cause dificuldades. Para agravar a situação, o sistema legal produz custos relativa-
mente elevados e/ou até proibitórios no processo de liquidação de garantias (ILO 2004, World Bank
2019). Também, o tempo para o enforcement dum contrato é extremamente longo, o que significa um
custo, respectivamente um risco. O Doing Business calcula que o custo de enforcement pode ser mais
alto do que o valor em disputa (World Bank 2019)!

Para se obter um crédito, as PMEs não têm garantias suficientes a oferecer ao sistema financeiro. A ter-
ra não pode servir de garantia, dado que a propriedade privada da mesma é proibida em Moçambique.
Muitas das vezes, os níveis de garantias reais, requeridas pelas instituições financeiras, atingem mais
de 100 % do valor do crédito, facto que parece excessivamente exigente.

2. A Banca e o Crédito
O sistema está em expansão, mas ainda com um nível de competição relativamente baixo. Actual-
mente conta com 19 bancos, 9 Microbancos e 8 cooperativas de credito. Sociedades Gestoras de Ca-
pital de Risco existe so um (Banco de Moçambique 2019). Os três maiores bancos representam acerca
de 85% dos activos do sector e têm uma rentabilidade muito alta (Castel-Branco 2015; Ayani 2013).

Tal como foi mencionado anteriormente, a população em geral e as PMEs em Moçambique, ate hoje,
têm dificuldades em aceder o financiamento. Estima-se que apenas 46% da população nos centros
urbanos e 19% nas zonas rurais têm uma conta bancária (Banco Mundial 2014). E só poucas (acerca
de 2%) das MPMEs trabalham com crédito bancário. Mas tem havido progresso também: Havia certas
melhorias, tal como uma expansão do crédito, o ratio crédito ao sector privado/BIP melhorou entre
2005 e 2012 de 13,2% a mais de 28% e 33% em 2018 (World Economic Forum 2018). Há melhor atenção
dos bancos ao segmento PME com mais agências e novas linhas de crédito bonificado e outras formas
de apoio pelos doadores no país (Ayani 2013, Vletter, Gardener 2019). Mas isto não resolve realmente e
duma maneira sustentável o fundo do problema do mercado; ainda ficam problemas. O sector privado
considerer o acesso ao credito ainda muito mal e limitado (World Economic Forum 2018). As razões
deste mal são atribuídas à oferta limitada de crédito às PMEs e ao baixo ratio empréstimo/ depósito. A
oferta limitada, por sua vez, é causada por varios factores:

∞ o risco proveniente do crédito às PMEs, excluindo muitas vezes sectores produtivos como
agricultura e industria com um crescente focus nos sectores construção, transporte e o siste-
ma extractivo (Castel Branco 2015)
∞ a falta de capital próprio (….mão funcionamento da bolsa de valores), que dificulta o finan-
ciamento com capital alheio.
∞ o fluxo de crédito para o governo e grandes firmas,
∞ a falta de competição, inovações e duma melhor gestão no sector financeiro para PMEs,
∞ uma infra-estrutura ainda deficiente (com uma presença e concorrência limitada da banca
sobretudo nas zonas rurais) (Beck et al. 2011). A oferta está concentrada nos centros urbanos,
mas a maioria das pequenas empresas, incluindo microempresas, está nas zonas rurais.
∞ E, finalmente, a competição com programas públicos, que têm elementos de subvenção (por
exemplo “7 Milhões”) e que nem sempre têm uma boa “cultura de crédito”.

PME
102 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Dada a história e a experiência do sistema financeiro em Moçambique, a expansão do crédito para
as PMEs envolve um grande risco aos bancos devido a incertezas de lucratividade das PMEs. Existem
poucos bancos
bretudo vocacionados para
nas zonas rurais) as et
(Beck PMEs e com
al. 2011). verdadeiros
A oferta peritos nanos
está concentrada matéria dos
centros PMEs. mas
urbanos, Daí que
a
os bancos não esperam grandes proveitos de serviços bancários prestados às
maioria das pequenas empresas, incluindo microempresas, está nas zonas rurais. PMEs e buscam muitas
vezes negócios mais fáceis ou lucrativos. Prova disso é o facto de existirem poucos grandes bancos
• E, finalmente, a competição com programas públicos, que têm elementos de subvenção (por ex-
que dominam o sector micro financeiro, duas das quais ascenderam à categoria de banco comercial.
emplo “7 Milhões”) e que nem sempre têm uma boa “cultura de crédito”.
Ainda no sector de micro crédito verifica-se um fluxo de concessão de créditos altamente concentra-
doDada
nas principais
a história cidades do país do
e a experiência (emsistema
detrimento da área
financeiro emrural).
Moçambique, a expansão do crédito para
Emasadição,
PMEs envolve um grande risco aos bancos devido a incertezas de lucratividade das PMEs. Existem
os bancos correm grandes riscos devido à falta de informações e de centrais dos credores.
poucos bancos vocacionados para as PMEs e com verdadeiros peritos na matéria dos PMEs. Daí que
Isto torna os bancos relutantes à oferta de crédito às PMEs (o tal aspecto de imperfeição do mercado).
os bancos não esperam grandes proveitos de serviços bancários prestados às PMEs e buscam muitas
O outro risco encontra-se relacionado com o sistema judicial vigente em Moçambique. Leva muito
vezes negócios mais fáceis ou lucrativos. Prova disso é o facto de existirem poucos grandes bancos que
tempo
dominame acarreta custos
o sector microcontratuais, isto das
financeiro, duas é, oquais
registo de colaterais
ascenderam (penhor),
à categoria de a colecção
banco de registo
comercial. Ainda de
revelia ao pagamento de empréstimos, e outros. Tudo isto faz com que os bancos
no sector de micro crédito verifica-se um fluxo de concessão de créditos altamente concentrado nas evitem as PMEs
ouprincipais
estão a pedir taxas de juros bastante altas. Não
cidades do país (em detrimento da área rural).constitui surpresa nenhuma que em Moçambique
grande porção do crédito bancário vai para o sector público. Uma vez que o crédito para o sector
público é mais
Em adição, osseguro
bancos ecorrem
lucrativo, bancos
grandes preferem
riscos devido àofalta
sector público a PMEs
de informações e deaquando da credores.
centrais dos decisão do
crédito (problema
Isto torna os bancosde crowding
relutantes àout ). Este
oferta de efeito
créditode
às“exclusão”
PMEs (o talfaz com de
aspecto que a oferta dedocrédito
imperfeição às PMEs
mercado). O
seja irrisória.
outro risco encontra-se relacionado com o sistema judicial vigente em Moçambique. Leva muito tempo
e acarreta custos contratuais, isto é, o registo de colaterais (penhor), a colecção de registo de revelia ao
Ospagamento
bancos emdeMoçambique
empréstimos,sofrem
e outros.dificuldades
Tudo isto faznacomcanalização de depósitos
que os bancos evitem asde forma
PMEs a usarem-nos
ou estão a pedir
para fins de empréstimos. Isto é ilustrado pelo ratio
taxas de juros bastante altas. Não constitui surpresa nenhuma que em Moçambique grandeempréstimos.
de transformação de depósitos em porção do
Um crédito ratio empréstimo/depósito
fracobancário vai para o sector público.irá trazer
Uma vezdespesas elevadas
que o crédito paraeoreceitas baixasé para
sector público mais os bancos.
seguro e
Bancos comerciais são altamente avessos a riscos. As PMEs, especialmente na agricultura
lucrativo, bancos preferem o sector público a PMEs aquando da decisão do crédito (problema de crowd- e na agro
-indústria,
ing out). são
Estenegativamente discriminadas
efeito de “exclusão” faz com queem comparação
a oferta com
de crédito outros
às PMEs sectores
seja irrisória.da economia como
o comércio e os serviços, devido à expectativa de retornos relativamente baixos, risco e período de
recuperação
Os bancos relativamente
em Moçambique longos.
sofrem dificuldades na canalização de depósitos de forma a usarem-nos
para fins de empréstimos. Isto é ilustrado pelo ratio de transformação de depósitos em empréstimos. Um
A informação assimétrica entre credores
fraco ratio empréstimo/depósito e devedores
irá trazer despesas gera euma
elevadas elevada
receitas baixasincerteza no ambiente
para os bancos. Bancos de
negócio.
comerciais são altamente avessos a riscos. As PMEs, especialmente na agricultura e na agro-indústria, e
Então, para reduzir o risco de fracasso, credores estabelecem taxas de juro exorbitantes
o crédito fica propenso
são negativamente a grandes em
discriminadas empresas e empresas
comparação de propriedade
com outros estrangeira.
sectores da economia Os obancos,
como comérciopara
expandirem os seus
e os serviços, devidopoderes e alcançarem
à expectativa de retornosseusrelativamente
objectivos, criam
baixos, fortes
risco eligações
período com companhias
de recuperação
bem estabelecidas
relativamente em detrimento das PMEs, consideradas ineficientes, de grande risco, portanto, não
longos.
merecedoras de créditos.

Retirada

Sector Público/
Grandes Empresas

Crédito Falta de Crédito/


Bancário Riscos Custos Elevados

Uma peq, fracção


PMEs do depositado

Fonte: Lee, Jae-Hoon: Korean Small Business Institute, República de Moçambique/MIC (2008).
Fonte: Lee, Jae-Hoon: Korean Small Business Institute, República de Moçambique/MIC (2008).

PME
131 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 103
Além disso, os bancos não queriam tornar mais transparentes a estrutura dos custos para os clientes,
que são considerados muito altos em Moçambique.

3. Como melhorar o acesso ao financiamento


A questão do acesso ao crédito é uma função que deve ser respondida por várias medidas e factores. A
título de exemplo, referimo-nos a variáveis como: o ambiente de negócio, incentivos fiscais, o sistema
judicial, a situação política e, acima de tudo, a capacidade e habilidade de gestão e de iniciativas em-
presariais. Porém, a nossa abordagem cingiu-se em redor do assunto em epígrafe: “acesso ao crédito”.
É verdade que o problema de acesso ao crédito ou da falta de capital é um desafio do próprio país em
si. Isto incluiu também o acesso ao capital próprio (ICC 2014). Só com uma boa base de capital próprio
e acesso ao crédito será mais fácil.

A chave para o financiamento de um projecto ou de uma empresa é sempre a expectativa de uma


rentabilidade atractiva sobre o capital aplicado com um risco adequado. Os argumentos acima men-
cionados indicam que o financiamento das PMEs é de facto mais difícil respectivamente a grandes
empresas, mais custoso e até impossível em casos extremos.

Sendo assim, as empresas têm que fazer esforços para melhorarem dramaticamente seus níveis de
produtividade e competitividade. As empresas têm que melhorar em termos de qualidade de informa-
ções, profissionalismo no trabalho e de mentalidade. No mercado de capital, o nível de concorrência
tem que ser sofisticado e melhorado, os custos de transacções e os juros devem ser reduzidos e a
oferta de produtos financeiros diversificada.

Talvez, a melhoria do clima de investimento, do clima de negócios e na criação de um ambiente fa-


vorável seja mais importante. Só assim a empresa privada pode ser capaz de responder às exigências
dos mercados de capital e de crédito.

Para tal propõem-se os seguintes desafios com vista a melhorar a qualidade de acesso ao crédito bem
como aumentar e expandir os serviços bancários:

(i) Melhorar o ambiente de negócio em geral


(ii) Profissionalizar a gestão das empresas e aumentar a competitividade das mesmas
(iii) Fazer com que mais recursos financeiros se encontrem disponíveis às PMEs (incluindo cré-
ditos de fornecedores, pagamento imediato de facturas do estado);
(iv) Reduzir taxas de juro em geral e dos T-Bills em particular como ponto de referência para o
crédito ao sector privado
(v) Reduzir o risco de empréstimos para as PMEs; (sistema de garantias, sistema judicial mais
eficiente, mais transparência no mercado de crédito e capital, reduzir assimetrias e melho-
rar a informação e transparência (Centrais de Registo de Crédito)
(vi) Aumentar o nível de competição a nível do sector bancário (exigir transparência dos custos
para os clientes, admitir novos bancos)
(vii) Promover alternativas (leasing, factoring, business angels),
(viii) Desenvolver e abrir mercados de capital (bolsa de valores) e melhorar acesso e conheci-
mentos sobre formas de capital próprio para PMEs
(ix) Estimular e consolidar financiadores de micro-negócios incluindo uma plataforma business
angels.
(x) Melhorar os serviços das associações e do IPEME, prestando mais e melhor informação e
assistência respectivo ao financiamento das PMEs.

PME
104 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Referências
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Stiglitz, J; Weiss A. (1981): Credit Rationing in Markets with Imperfect Information, in: American
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World Economic Forum (2018): The Global Competitiveness Report 2018, Geneva.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 105
Financiamento 6.2 PRODUTOS
e Serviços
Financeiros para FINANCEIROS
PME´s E INCENTIVOS
DISPONÍVEIS PARA O
SECTOR AGRÍCOLA DE
Capítulo 6 MOÇAMBIQUE1
Fion de Vletter e
Pippy Gardner, Consultores

I. DEFINIÇÕES
Agro-garante - a adesão do banco ao Fundo de Garantia de Crédito;

Bancarizacão - o nível de acesso e o grau de utilização dos serviços financeiros formais em geral, e
dos serviços bancários em particular;

Garantia - propriedade ou outro bem oferecido pelo mutuário para o credor poder garantir o em-
préstimo;

Instituição de Financiamento de Desenvolvimento ou banco de desenvolvimento - uma institui-


ção financeira que proporciona capital de risco para projectos de desenvolvimento económico;

Fundos de Acções - um fundo aberto ou fechado, que investe principalmente em acções, permitindo
que os investidores adquirirem junto do fundo e, assim, comprem uma cesta de acções mais facilmen-
te do que poderiam fazer no caso de comprar títulos individuais;

Subvenção - recompensa, contribuição, presente ou subsídio (em dinheiro ou espécie) outorgado por
um governo ou outra organização (chamado de concedente) para fins específicos a um destinatário
elegível (chamado de beneficiário);

Fundos de garantia - dinheiro mantido por uma bolsa de valores para pagar os investidores no caso
de uma empresa da sua lista não poder pagar;

Empréstimo - dinheiro, propriedade ou outros bens materiais dados a outra parte em troca do reem-
bolso futuro do montante do valor do empréstimo, juntamente com juros ou outros encargos finan-
ceiros;

Rotação Longa em EFF - Espécies cultivadas para toros de serração de alto valor, normalmente são
cultivadas em rotações de 20 a 50 anos;

Subvenções Equivalentes - a estipulação estabelecida por um organismo concedente de subven-


ções, segundo o qual os beneficiários de uma subvenção angariam uma certa percentagem do di-
nheiro de que necessitam, geralmente uma quantia mais ou menos igual à quantia em dinheiro que
é concedida;

1 Tradução Dr. Frans Hovens

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 107
Rotação Curta em EFF - um sistema integrado de uso agrário florestal, combinando a produção de
biomassa com o uso e a purificação de águas residuais, normalmente cultivada em plantações de
menos de 10 anos para celulose ou combustível de madeira.

PME
108 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
1. INTRODUÇÃO & ANTECEDENTES
No início de 2018, a Sra. Pippy Gardner, da ONG americana CLUSA, produziu um estudo abrangente
dos produtos financeiros disponíveis para o sector agrícola. O presente relatório é uma versão actuali-
zada e ampliada desse estudo, produzido pelo GIZ ProEcon em colaboração com a CLUSA. Durante o
período de 10 meses desde o estudo original da CLUSA, verificaram-se algumas mudanças significa-
tivas no cenário financeiro, nomeadamente: i) o aparecimento do Banco Nacional de Investimentos
(BNI) estatal como gestor de várias linhas de crédito de doadores e fundos de garantia financiados pelo
governo; ii) um aumento significativo na quantidade de potencial capital de empréstimo disponível
para a agricultura através dos bancos comerciais; iii) o aparecimento de novos grandes mecanismos
de financiamento com base externa; e iv) arranjos inovadores entre o sector privado e os bancos co-
merciais, para ajudar os pequenos agricultores sob contrato a terem acesso ao financiamento.

Neste período, as taxas preferenciais de juros baixaram de cerca de 28% para menos de de 20%. Este
período também foi marcado por uma mudança no pensamento do governo sobre o fornecimento
de financiamento, que geralmente tem sido altamente subsidiado e com taxas de reembolso insigni-
ficantes, devido à relutância do governo em agir contra os infractores. Em vez disso, o governo está a
alavancar empréstimos bancários comerciais para o sector agrícola, através da criação de fundos de
garantia.

Dizia-se que o crédito agrícola era difícil de obter, e dispendioso. Este estudo mostrou que existe uma
grande variedade de produtos financeiros disponíveis para o sector agrícola, com uma ampla gama
de condições e custos (muitas vezes subsidiados). O que o consultor não conseguiu estabelecer foi,
o quão difícil é obter empréstimos dos bancos comerciais, muitos dos quais continuam a não ter
capacidade suficiente em termos de avaliação e gestão de pedidos de empréstimos agrícolas. A lista
dos produtos apresentados é uma informação que foi obtida das instituições financeiras e dos gesto-
res ou implementadores de produto. Não foi realizado nenhum teste de produto, mas obtiveram-se
alguns comentários de alguns clientes. Não foi tarefa do consultor avaliar e classificar a qualidade dos
produtos.

O presente estudo serve apenas como uma directriz para os agronegócios em termos de serviços
financeiros agrícolas disponíveis, juntamente com os contactos de cada prestador. Conforme teste-
munhado pelo consultor durante o tempo da missão, os produtos financeiros estão em constante
evolução, e devem ser monitorizados de forma regular. Infelizmente, poucos são anunciados nos
meios de comunicação social, por isso caberá ao potencial usuário ou a consultores pesquisar as
várias opções disponíveis.

A secção dois é dividida em 8 subsecções, que cobrem as várias categorias de produtos financeiros
encontrados (empréstimos de bancos comerciais, financiamento para o desenvolvimento, emprésti-
mos de microfinanciamento, produtos financeiros administrados pelo governo, subvenções corres-
pondentes, fundos de garantia, financiamento de capital e outros).

A secção três analisa brevemente os desenvolvimentos recentes e as novas tendências susceptíveis


de afectar as finanças agrícolas e rurais, e apresenta algumas recomendações.

2 REVISÃO DOS PRODUTOS FINANCEIROS


2.1 Empréstimos Convencionais a retalho de Bancos Comerciais
Os bancos convencionais têm sido muito cautelosos no que se refere a iniciar empréstimos agrícolas,
além do financiamento das necessidades sobretudo sazonais das três principais indústrias de exporta-
ção agrícola - o açúcar, o tabaco e o algodão. Cada vez mais, os bancos, sobretudo o Standard Bank,
têm emprestado a empresas de plantações de culturas arbóreas, nomeadamente à banana, líchias e
macadâmia. Os custos de financiamento (taxas básicas) desde a crise financeira de 2016 mantiveram-
se em torno de 28-30%, substancialmente acima dos mínimos de cerca de 14% de alguns anos atrás.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 109
Recentemente, as taxas começaram a diminuir novamente para pouco mais de 19%, o que é encora-
jador, mas ainda considerado muito elevado pela a maioria dos agronegócios. Vários doadores (p.ex:
USAID, o Banco Mundial, IFAD ou os bancos de desenvolvimento internacional (KFW)) financiam linhas
de crédito, regimes de subvenções ou acordos de participação concebidos para reduzir o custo de
capital de exploração ou o capital de longo prazo.

Existem vários fundos de garantia, nomeadamente a agro-garantia financiada pela Dinamarca (visan-
do qualquer banco comercial interessado) e os fundos de garantia financiados pelo DCA/SIDA, que
visam especificamente o Banco Oportunidade/ MyBucks e o Banco Terra de Moçambique (BTM). Estes
fundos de garantia tiveram um impacto positivo, mas até agora muito lento, no aumento dos emprés-
timos bancários comerciais ao sector.

O BTM dedicou a maior parte da sua carteira à agricultura, enquanto o Standard e o Barclays têm sido
emprestadores tradicionais às grandes empresas agro-exportadoras. O BCI, através do financiamento
da USAID, adquiriu experiência no financiamento do sector do caju, e está a construir de forma gra-
dual a sua carteira de empréstimos para o agronegócio das PME. Lançou recentemente a sua linha
de crédito financiado pelo KFW, com taxas de empréstimos subsidiados (ver abaixo), e muito recente-
mente linhas de empréstimo visando agricultores de soja. O Millenium BIM, está a criar lentamente a
sua carteira agrícola, em grande parte utilizando as agro-garantias. Verificou-se ao longo da avaliação
da subcomponente agro-garantia do programa geral de agro-investimento, que o volume de emprés-
timos reflectia o conhecimento agrícola ou a experiência com empréstimos dos gerentes dos bancos
locais. Assim, a carteira agrícola do Millenium BIM na área de Chokwé era muito superior a outras
áreas, devido à experiência agrícola comparativa do gerente da agência.

Outros bancos comerciais a serem observados são o Banco ABC, que manifesta um crescente inte-
resse em empréstimos para PME agrícolas, e o recém-criado Banco Mais, de propriedade chinesa,
que procura financiar agronegócios ligados a investidores chineses por meio do programa PIGA (ver
abaixo).

O maior obstáculo ao aumento dos empréstimos comerciais às agroindústrias é a combinação de: i) o


conhecimento incipiente do sistema bancário das novas áreas de iniciativas de negócios agrícolas, e ii)
a incapacidade dos potenciais mutuários do agronegócio concluírem pedidos de empréstimo signifi-
cativos. A experiência da ONG Building Markets concentrou-se em colmatar estas lacunas, fornecendo
assistência técnica tanto ao pessoal dos bancos como às PME da área dos agronegócios. Infelizmente,
esta iniciativa terminou, devido a um corte no financiamento.

Por razões que não são claras, ao longo dos últimos 2-3 meses, os bancos comerciais têm oferecido
empréstimos agrícolas bem abaixo da taxa básica de juros em meticais (p.ex: o Barclays está a dar em-
préstimos com juros variáveis a cerca de 5% abaixo da taxa básica, sob a condição de que as garantias
sejam valorizadas ao dobro do montante do empréstimo).

Actualmente, os empréstimos em dólares norte-americanos estão a ser oferecidos com taxas a cerca
de 6 a 10%.

PME
110 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Tabela 1: Empréstimos de Retalho de Bancos Comerciais Convencionais

Sector alvo
Instituição Tipo de empresa
Tipo de empréstimo Termos
Nome do produto
Áreas elegíveis
Millenium BIM Empréstimos a juros reduzidos Produção agrícola, comércio de Juros: 10% p.a. Até MZN 12 milhões.
Programa para o Relançamento do mercadorias, prestação de serviços, agro-
Sector Privado (PRSP). Financiado indústria, locação. PME.
pela Embaixada da Itália e gerido Manica, Sofala, Zambézia.
pelo Moza Banco
Millenium BIM Empréstimos a juros reduzidos Actividades nas áreas Juros: 15% p.a.; sem mínimo, máximo
Linha de Crédito Agrícola do (USD 3 milhões para 3 bancos rurais. MPME. MZN 15 milhões; prazos até 7 anos; prazo de
(duração de 1 ano até meados de envolvidos; realizados pelo tolerância de 3 meses.
2019) Banco de Moçambique). Nacional.

Banco Terra Linha de financiamento com Agricultura. Juros: 23.5% (diminuiu-se desde a
Promoção da Segurança Alimentar taxa de juros reduzida. MPME e grandes agronegócios. Chimoio, diminuição da taxa de referência) para
Angónia, Malema, Cidade de Nampula. capital de exploração ou investimentos.
MZN
500,000 a 2.5 milhões. As condições são
iguais às dos empréstimos padrão.
Banco Terra Empréstimos padrão de prazo fixo. Agricultura. Juros: taxa de referência (FPC) mais o
(financiado pelo Ministério de PME e empresas maiores. diferencial de BTM; Mínimo MZN 500,000.
Finanças) Termos de Pagamento a ser negociados
Todas as províncias.
numa base casuística.
Moza Empréstimos a juros reduzidos Produção agrícola, comércio de mercadorias, Juros: 10% p.a. Até MZN 12 milhões.
Programa para o Relançamento do prestação de serviços, agro-indústria, Requisitos normais aplicam-se: conta
Sector Privado (PRSP). Financiado locação. da Moza, NUIT (Número Único de
pela Embaixada da Itália. Gerido
pelo Moza Banco PME. Identificação Tributária), garantias, etc.
Manica, Sofala, Zambézia.

Situação e Desafios
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
PME
BCI Empréstimos a juros reduzidos Produção agrícola, comércio de Juros: 10%p.a., até MZN 12 milhões.
Programa para o Relançamento do mercadorias, prestação de serviços, agro-

111
Sector Privado (PRSP). Financiado indústria, locação.
pela Embaixada da Itália. PME.
Instituição Tipo de empréstimo Sector alvo Termos
Nome do produto Tipo de empresa
Áreas elegíveis

112
Manica, Sofala, Zambézia.
BCI Empréstimos a juros reduzidos Actividades nas áreas rurais. Juros: 15% p.a.; sem mínimo; máximo

PME
Linha de Crédito Agrícola de KFW (USD 3 milhões para 3 bancos MPME. MZN 15 milhões; termos até 7 anos;
(uma ano até o fim de 2019) envolvidos – realizados pelo Banco prazo de tolerância de 3 meses.
de Moçambique). Nacional.

Situação e Desafios
BCI Empréstimos padrão de prazo fixo. Agricultura. Taxas de juro normais (referência (FPC)
N/A PME. mais diferencial de até 4%); aplicam-se
Nacional. condições normais;
BCI tem um balção agro. Projectos são
avaliados localmente e referidos para
o balcão agro para apoio adicional se
necessário. Também há descoberto

Pequenas e Médias Empresas em Moçambique


bancário e locação.
Barclays Novos empréstimos capex de Todos os sectores. Juros: 15 a 17% p.a. (variável e revisto
N/A múltiplos sectores, com juros Médias- grandes empresas. anualmente); empréstimos de 24 a 60
reduzidos. Nacional. meses de MZN 15 milhões a 2 mil milhões;
garantias a serem valorizadas a, pelo
menos, o dobro do valor do empréstimo.
Barclays Financiamento agrícola padrão Agricultura. Condições de financiamento normais
Financiamento padrão para agronegócios.
N/A (empréstimos de prazo fixo). Enfoque em médio a grande. Não há aplicam-se, começando com taxas de
produtos específicos para pequenos juro de cerca de 22% (agora mais baixas);
agricultores, agricultores emergentes
ou MPME. Nos projectos de risco mais até MZN 30 milhões; até 7 anos para
elevado, pagamentos podem ser feitos investimentos e 12 meses para capital de
directamente aos fornecedores, negociar
estruturas de reembolso mais flexíveis etc. exploração.
Nacional.
Barclays Financiamento de equipamento Agricultura. Lonagro paga a primeira parcela, o cliente
agrícola com Lonagro paga 20% do valor do equipamento, depois o
(concessionário de John Deere). MPME.
N/A cliente paga o resto em parcelas (incluindo
Negociando esquema de Todas as províncias.
pagamento mais flexível (cliente o pacote de manutenção, 4 x manutenção
começa a reembolsar 12 meses por ano).
após receber o equipamento.
Sector alvo
Instituição Tipo de empresa
Tipo de empréstimo Termos
Nome do produto
Áreas elegíveis

Standard Bank Financiamento agrícola padrão e Agricultura; enfoque em culturas arbóreas. Condições normais para empréstimos
empréstimos de prazo fixo. Médio empresas e empresas maiores. comerciais. Juros: taxa de referência do Banco
N/A
Central (FPC)
Todas as províncias.
plus spread of 0.5–4%).
Standard Bank Locação (ver Barclays & John Pode fazer locação com outros fornecedores
Deere). de equipamento, embora sem celebrar
N/A
contratos formais.

yet.
Banco Único Financiamento agrícola padrão Agricultura. Taxas de juro tal como outros bancos para
e empréstimos de prazo. empréstimos auto-financiados.
N/A Médio empresas e empresas
maiores. Todas as províncias.

Situação e Desafios
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
PME
113
2.2 Financiamento de Desenvolvimento (Empréstimos)
Actualmente, o GAPI é o único Financiador do Desenvolvimento no país. Gere ou fornece uma grande variedade de produtos, incluindo micro
-empréstimos e empréstimos a PME, através de linhas de crédito financiadas por doadores e fundos de garantia.

114
Antes da dominância do BNI, o GAPI era a instituição focal para gerir e desembolsar fundos de doadores, destinados a estimular o financiamento

PME
de empréstimos do sector privado.

Tabela 2: Financiamento de Desenvolvimento (Empréstimos)

Situação e Desafios
Sector alvo
Instituição
Tipo de empréstimo Tipo de empresa Termos
Nome do produto
Áreas elegíveis
GAPI (Banco de Empréstimo. Agricultura; comércio de mercadorias, aves; exclui Juros: 18% p.a. Máximo MZN 3 milhões; até 36 meses;
Financiamento de garantia: geralmente pelo menos 120% do valor do
silvicultura. empréstimo;
Desenvolvimento)
MPME. outros requerimentos de empréstimo padrão.
Agri Empreender Todas as províncias.

Pequenas e Médias Empresas em Moçambique


(financiado pela Danida até
o fim de 2019)

GAPI Empréstimo. Agricultura, pequena indústria, agro-indústria, Juros 18 a 32% p. a.; MZN 900,000 a
BADEA serviços; exclui turismo. 9 milhões; até 36 meses;
(Banco Árabe de MPME. Garantia: pelo menos 120% do valor do empréstimo;
Desenvolvimento
Económico Africano) Nampula, Cabo Delgado, Niassa. outros requerimentos de empréstimo padrão.

GAPI Empréstimo. Geral (todos os sectores). Juros: 18 a 32% p/a; máximo MZN 5 milhões; até 5 anos;
Fundos Próprios MPME. para capital de exploração ou investimentos; Garantia:
Todas as províncias. pelo menos 120% do valor do empréstimo; outros
requerimentos de empréstimo padrão..

GAPI Empréstimo. Agricultura, aves; exclui silvicultura. Juros: 12% p.a.; Máximo MZN 700,000; 36 meses;
Agri Jovem (financiado pela Empreendedores jovens de 18 a 35 anos de idade; garantia: depósito de 1% do valor do empréstimo.
GAPI entra em parcerias com instituições de formação
Dinamarca, até o fim de
para treinar estudantes, identificar potenciais clientes
2019) e dar AT.
Todas as províncias.
2.3 Instituições de microfinanças (às vezes com empréstimos às PME)
As microfinanças em Moçambique entraram em grave declínio, havendo apenas dois bancos co-
merciais que se dedicam ao microfinanciamento, um dos quais (a Socremo) decidiu recentemente
constituir-se como micro-banco (categoria de instituição financeira que lhe permite operar como
banco comercial, mas com requisitos de capital mais baixos), enquanto o outro (Opportunity Bank,
agora MyBucks Banking Corporation (MBC)) se concentra cada vez mais nos empréstimos assalaria-
dos (empréstimos que debitam automaticamente nos salários bancários). Os bancos comerciais de
microfinanciamento anteriores, a ProCredit e a Tchuma, foram comprados por bancos ou investidores
estrangeiros, e agora operam como bancos comerciais convencionais (Ecobank e Banco Mais). Em-
bora o Opportunity / MyBucks possua uma experiência considerável na prestação de empréstimos
agrícolas, em parte devido ao apoio dos fundos de garantia da DCA, não fez nenhum esforço notável
para expandir esta carteira.

O IFAD e o AfDB, através do Programa de Apoio às Finanças Rurais e da agência de implementação


do governo FARE, ajudaram a criar cerca de 70 operadores rurais de microfinanças, na esperança de
promover um financiamento rural mais inclusivo, complementando a política governamental de ban-
carização. Infelizmente, sobreviveram muito poucas destas MFI, e apenas algumas (CCOM, Hluvuku e
CPL) fornecem crédito agrícola em áreas limitadas do país (todas no Sul).

Existe um potencial considerável para as MFI desempenharem um papel importante em modalidades


de financiamento off-take com empresas agregadores, tal como a Mozambique Tobacco Leaf Com-
pany (MLTC), as empresas de algodão, as açucareiras e vários agregadores menores nas áreas de pro-
dução de aves, milho, avicultura, árvores frutíferas, etc. Contudo, experiências recentes realizadas com
aprovações tardias de empréstimos, e com as elevadas taxas de juros cobrados pelas MFI, não augura
nada de bom para as microfinanças agrícolas em grande escala, pelo menos para o futuro imediato.

Os empréstimos para empresas praticando off-take até agora limitaram-se a sementes, fertilizantes
e insumos químicos, mas o insumo principal – a mão de obra - nunca foi incluído. No entanto, nas
discussões entre o fornecedor de dinheiro móvel Bibi Money e Opportunity/MyBucks) essa possibili-
dade tornou-se mais credível, permitindo que as MFI (ou qualquer instituição financeira) forneçessem
crédito de dinheiro móvel aos agricultores, que permitisse pagar a mão-de-obra (sendo os créditos
subsequentemente recuperados da empresa agregadora praticando off-take). Não se sabe que fase
essas discussões atingiram.

Opportunity/MyBucks também esteve envolvido na iniciativa de introduzir recibos de entreposto em


Moçambique, apoiada pela USAID. Este sistema permite ao agricultor armazenar grãos em armazéns
credenciados, e utilizar o recibo e o entreposto como garantia para empréstimos agrícolas. O arranque
desta iniciativa tem sido lento e, neste momento, não se sabe se conseguirá o nível de massificação
(segundo a última comunicação, actualmente a iniciativa está inactiva).

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 115
Tabela 3: Instituições de Microfinanças (por vezes com empréstimos às PME)

Sector alvo
Instituição
Tipo de empréstimo Tipo de empresa Termos

116
Nome do produto
Áreas elegíveis
Opportunity Bank Capital de exploração e Todos os sectores. Juros: 3.5% por mês; Mínimo valor do

PME
(agora MyBucks Banking investimento. Pequeno e médio. empréstimo MZN 400,000 a 25% do capital
Corporation–MBC) Todo o país. social; taxas 2% do valor do empréstimo;
Empréstimos às PME prazo mínimo 4 meses; prazo máximo 60
meses.

Situação e Desafios
Opportunity Bank Empréstimos de produção Agricultura (enfoque nos agro Taxa de juros: 4.2% por mês. Valor do
Empréstimos agrícolas (principalmente através de -comerciantes, produção, vendas). empréstimo vai de MZN 10,000 a 400,000
offtake pelo agregador; também Indivíduos e grupos). (médio MZN 15,000); mais 2% para a taxa de
grupo de solidariedade (pelo Manica, Zambézia. administração do empréstimo; prazo vai de
menos 5 membros). 35 semanas a 12 meses (médio 7 meses).
Garantia não precisa de ser legalizada, e pode

Pequenas e Médias Empresas em Moçambique


constar de bens domésticos etc., pelo menos
50% do valor do empréstimo; 15% do valor
do empréstimo primeiro deve ser depositado
numa conta de poupança; contrato de venda
preferido.
Opportunity Bank Empréstimos individuais Comércio, investimento e consumo. Taxa de juros 4.2% por mês. Valor do
Micro empréstimos (principalmente para Micro-empresas e trabalhadores empréstimo vai de MZN 10,000 a 400,000
comerciantes informais mas assalariados. (médio MZN 24,000); taxa de administração
agora cada vez mais para Províncias onde a MBC tem agências do empréstimo de 2%; prazo 6 meses a 36
trabalhadores assalariados). meses (médio 11 meses).
(Maputo, Gaza, Sofala, Manica, Tete,
Zambézia e Nampula).
Opportunity Bank Recibos de entreposto. Bens Agricultura. Pode financiar 70% do valor de bens; máximo
Recibos de entreposto (nota: depositados no armazém de MPME, agricultores emergentes, MZN 500,000, mas cerca de MZN 10,000 a
actualmente este produto está ETG em associações, cooperativas etc. 300,000 mais comum; 3% de juros por
inactivo). Chimoio servem como garantia. Até a data, este piloto foi apenas testado mês.
na província de Manica. Reembolso: um único pagamento no fim do
período, ou parcelas mensais.
CCOM Empréstimo. Agricultura. Pequenos agricultores. Taxa de juros de 3% fixos por mês; mínimo
empréstimo MZN 10,000; sem máximo,
mas até a data MZN 300,000; empréstimos
(no processo de tornar-se um Províncias de Maputo, Gaza e Cabo agrícolas têm 3 opções de prazo (90 dias, 6
microbanco) Delgado. meses e 9 meses).

Empréstimos agrícolas
Sector alvo
Instituição Tipo de empresa
Tipo de empréstimo Termos
Nome do produto
Áreas elegíveis
HLUVUKU Empréstimo. Agricultura. Taxa de juros de 2.9% por mês (saldos decrescentes).
Empréstimos agrícolas Pequenos Oferecidos dois tipos de empréstimos: i) capital de
agricultores. exploração 3 a 6 meses com pagamento de juros
Província de Maputo (todos os (mensal) sendo o principal pago no fim do período
distritos). do empréstimo; ii) empréstimos a longo prazo
(incluindo para investimentos de capital) 12 a 18 meses
incluindo juros e o principal em parcelas mensais. Valor
mínimo MZN 5,000; máximo MZN 500,000. Fornece
normalmente empréstimos individuais mas a MFI
pode fornecer empréstimos de grupo; garantias: bens
móveis incluindo equipamento adquirido utilizando o
empréstimo.
AFRICA WORKS Microcrédito. Vendedores no mercado. Empréstimos individuais: Taxa de juros 7.5% por mês.
Empréstimos para micro-empresas Micro-empresas informais. Valor pode vai de MZN 30,000 a 200,000; garantias de
Províncias de Inhambane, Gaza 150% do valor do empréstimo; 2 a 6 meses; valores e
e Maputo. principais aumentam com empréstimos sucessivos.
Grupos Comunitários: tamanho mínimo 10 membros;
valor do empréstimo MZN 4,000 a 50,000; taxa de juros
como referido acima; 4 a 6 meses.
Grupos Especiais: 4 a 10 membros; valor do empréstimo
MZN 20,000 a 80,000; taxa de juros como referido acima;
prazo de reembolso de 4 a 6 meses.
Grupos de Solidariedade: 2 a 4 membros; valor do
empréstimo MZN 20,000–200,000; taxa de juros como
referido acima; garantia 95% do empréstimo; prazo de
reembolso de 4–6 meses.

AFRICA WORKS Empréstimos Empréstimo para MPME Agricultores e processadores (ainda não divulgado).
agrícolas (Piloto previsto a ser envolvidos nas cadeias de valor

Situação e Desafios
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
PME
de mandioca, horticultura e
lançado Janeiro-Abril, ligado ao carne vermelha. Actualmente
projecto PROSUL financiado pelo 17 multiplicadores de mandioca

117
IFAD) vendem à empresa agregadora
DADTCO.
Sector alvo
Instituição Tipo de empresa
Tipo de empréstimo Termos
Nome do produto
Áreas elegíveis

118
Agricultura.
Será pilotado em Inharrime,

PME
Chokwé e Manhiça.

CPL Microcrédito. Agricultores. Juros “competitivos incluindo 10 a 16% p.a.”


(Cooperativa dos Produtores de Indivíduos, associações e micro- Valor de empréstimo vai de MZN 5,000 a 50,000;
Limpopo) Empréstimos Agrícolas empresas (agricultura). Província de prazo de 6 a 60 meses.

Situação e Desafios
(vários fontes) Gaza. CPL, em colaboração com AGRA, experimenta
com empréstimos de voucher (sem desembolso
de dinheiro, apenas vouchers para a aquisição de
insumos.
and capital).

CPL Empréstimos para MPME. Vários sectores. O valor do empréstimo vai de MZN 5,000 a
Empréstimos para o comércio, Indivíduos e empresas. 300,000;
construção, gado e bens de Conforme indicado acima. taxas de juros como acima; 3 a 24 meses.

Pequenas e Médias Empresas em Moçambique


consumo (Fundo para Reabilitação
Económico)

CPL Empréstimos para MPME. Sector de Energia Renovável. O valor do empréstimo < MZN 1 milhão; taxas
Empréstimos para Energia Indivíduos e empresas. de juros como acima; 12 a 36 meses.
Renovável (Fundo Nacional de Conforme indicado acima.
Electricidade FUNAE)

CPL Microcrédito. Pesca Artesanal. O valor do empréstimo vai de MZN 5,000 a


Empréstimos para a Pesca Pescadores individuais, 300,000; taxas de juros como acima; 6 a 24 meses.
(Fundo de Desenvolvimento associações, comerciantes,
Pesqueira FFP) processadores.
Tal como acima.
GAPI Agricultura. Para blocos pequenos de agricultores API identifica agricultores em blocos, ou EF;
Micro-financiamento através da que produzem culturas para Ikuru agricultores celebram contrato de produção
Associação de Produtores da Ikuru (gergelim, milho, feijão, amendoim, com API e contrato de empréstimo com GAPI.
(API) financiado pela Danida, como semente, caju). API é fiador; funciona como um grupo de
parte de Agri-Empreender. Província de Nampula. solidariedade.
Conforme detalhes de Ribaué abaixo.
Financiamento para preparação de terra,
produção, comercialização etc. Dinheiro
desembolsado em parcelas. Não só para
membros de Ikuru mas para qualquer EF
ou grupos produzindo VC de Ikuru.
Sector alvo
Instituição Tipo de empresa
Tipo de empréstimo Termos
Nome do produto
Áreas elegíveis
GAPI Microfinanças e grupos. Agricultura; aves; agronegócios Juros: 4% por mês; mais flexível do que Agri-
e indústrias relacionadas com a Empreender; MZN 2,000 a 250,000; garantia:
Microfinanças (com base em fundos agricultura; outras indústrias, p.ex: mobiliário e bens móveis; declaração de
da Agri-Empreender) (financiado transporte, retalho. residência/BI/NUIT/alvará; GAPI ajuda a organizar
pela Danida) os documentos; financiamento para grupos.
MPME (incluindo EF).
O processo de solicitação geralmente
Nampula (Ribaué). simplificado; garantia: normalmente pelo
menos 120% do valor do empréstimo, mas
mais flexível do que outras linhas de crédito,
e disposto de aceitar itens domésticos etc.; BI
básico aceite para o registo.

Gestão de Cereais Lda. Empréstimos agrícolas / Pequenos agricultores e PME Valor do empréstimo: começa com valores
empréstimos de juros baixos. agrocomerciantes. Província de Manica. pequenos (acerca de MZN 20,000) até MZN
Microfinanças e empréstimos às 200,000 (para clientes confiáveis).
PME
Taxas: 4.5% por mês, + 1% de comissão. Se o
cliente pague através de M-pesa, também irá
pagar as taxas de M-pesa (1%).

Duração: para a produção: empréstimos de


produção coincidem com ciclo de produção do
produto, acerca de 3 meses (para a horticultura).
Para agrocomerciantes: depende do tempo
que leva para vender o produto (normalmente
acerca de 2 meses); período de empréstimo
deve coincidir com o movimento das vendas do
produto. Referência exigida.

Situação e Desafios
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
PME
119
Instituição Tipo de empréstimo Sector alvo Termos
Nome do produto Tipo de empresa
Áreas elegíveis

120
Banco Socremo Empréstimos para MPME. Todos os sectores, mas geralmente exclui Taxa de juros: Depende de vários factores
(Microbanco) a agricultura. (não indicados), sobretudo a qualidade

PME
Todo o país, com a excepção de Cabo das garantias. Valores de empréstimo: MZN
Delgado e Tete. Tem 14 agências em 351,000 a 7 milhões;
todo o país.) comissão de 1.5% do empréstimo.
Garantias: hipoteca sobre propriedade imóvel ,

Situação e Desafios
penhor de propriedade móvel, fiador.
Micro-empréstimos. Principalmente comércio. Taxa de juros: Depende de vários factores,
Conforme indicado acima. mas a média é de 58% p.a.: comissão de 1% do
empréstimo;
valor vai de MZN 5,000 a 350,000;
prazos de 3 a 24 meses; garantias: bens

Pequenas e Médias Empresas em Moçambique


domésticos, bens imóveis, estoque comercial,
casa, carro, fiador, depósito a prazo fixo.
Elegibilidade: deve ser localizado num raio
de 10 km duma agência, experiência de, pelo
menos, 6 meses com o negócio apoiado,
rendimento mensal regular.
2.4 Linhas de Crédito Financiados por Doadores e Geridos pelo Governo
O Banco Nacional de Investimento (BNI), da propriedade do Governo, era originalmente destinado ao financiamento de infra-estruturas, mas
especializou-se em gerir linhas de crédito de doadores e fundos de garantia financiados pelo governo. Anteriormente pediu-se geralmente ao
GAPI, parcialmente de

Tabela 4: Linhas de Crédito Financiados por Doadores e Geridos pelo Governo

Sector alvo
Instituição
Tipo do Produto Tipo de empresa Termos
Nome do produto
Áreas elegíveis
BNI Linha de Crédito Todas. Valores dos empréstimos
podem ir de MZN 300,000
(BANCO NACIONAL DE (USD 20 milhões). PME e empresas grandes (5 PME financiados em
2018). Nacional. a 4 milhões; período de
INVESTIMENTO)
tolerância até 12 meses.

Cooperação Islâmica para o


Desenvolvimento do Sector Privado
(ICD)
BNI Linha de Crédito (USD 30 Empresas rurais (agricultores e qualquer outra actividade que gere Detalhes a serem
milhões) do IFAD (empréstimo rendimento). determinados, e podem
Programa de Financiamento das
Empresas Rurais (REFP) (6 anos; ao governo). variar, dependendo das
desde o início) MPME. Nacional.
instituições envolvidas.
BNI Linha de Crédito Agricultura. Juros vão de 5 a 10%;
Empréstimos vão de
Fundo para o Agronegócio e o (EUR 6 milhões). Recém-licenciados das escolas TVET localizados no Vale do
MZN
Empreendedorismo (FAE). O FAE Zambeze na área dos agronegócios; empresas e cooperativas
está sob a tutela da Agência para envolvidas nas cadeias de valor estratégicas, agronegócios e 800,000 a 1.2 milhões.
o Desenvolvimento do Vale do outras áreas afins. Já foram financiados 71 projectos no valor de
Zambeze. MZN 65 milhões, sendo actualmente analisados 101 projectos no
valor de MZN 84 milhões, e prevê-se que sejam aprovados antes
do fim do ano.

Vale do Zambeze (Tete, Manica, Sofala e

Situação e Desafios
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
PME
Zambézia).

121
propriedade do Governo, que gerisse estes tipos de fundos e os empréstimos directos (ver 2.2). Ac-
tualmente, o BNI está a gerir aproximadamente USD 100 milhões de fundos financiados por doadores
e pelo governo, a maior parte dos quais se presume visar as áreas rurais.

2.5 Subvenções Equivalentes


Esta é uma forma cada vez mais popular de apoiar o sector agrícola de modo financeiro. Até 2017, o
African Enterprise Challenge Fund (AECF) desempenhou um papel muito importante na concessão
de subvenções e empréstimos sem juros ao sector agrícola, tendo concedido até USD 1.5 milhões a
alguns dos agro-negócios emergentes mais conhecidos.

Desde então, o AECF lançou linhas para a energia renovável e sementes de culturas. O Fundo Catalítico
para Inovação e Demostração, financiado pelo Banco Mundial, forneceu um produto muito semelhan-
te ao mesmo grupo-alvo (agricultura). Desde então, vários outros programas de subvenções foram
iniciados, com uma ampla gama de elegibilidade (geográfica e setorial).

PME
122 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Tabela 5: Subvenções Equivalentes

Sector alvo
Instituição
Tipo do Produto Tipo de empresa Termos
Nome do produto
Áreas elegíveis
Banco Mundial/FNDS Subvenções equivalentes Agricultura, criação de animais (aves e Nível 1: Planos de negócios de USD 5,000 a
(Fundo Nacional de carne vermelha). Agricultores comerciais 100,000: Subvenção de 50% contribuição pessoal de
Desenvolvimento pequenos emergentes e MPME). 50% (próprios recursos ou crédito com contribuição
Sustentável) Mecanismo de Zambézia (Mocuba, Íle, Gilé, Alto pessoal de, pelo menos, 10% em dinheiro).
Subvenções Comparticipadas Molocué, Gurué) e Nampula (Ribaué, Nível 2: Planos de negócios de USD 100,00 a
do Sustenta (MSC) Rapale, Mecuburi, Malema, Laláua). 1,000,000: as regras do nível 1 aplicam-se aos
primeiros USD 100,000; quanto aos valores superiores
aos USD 100,000, o beneficiário receberá uma
subvenção de 20%, mas ele próprio deve fornecer o
resto, do qual, pelo menos, 10% deve constar de uma
contribuição pessoal em dinheiro.
Banco Mundial/FNDS Subvenções equivalentes. PME e comunidades que pretendem criar Rotação Curta: contribuição de 50% pelo
Esquema de plantações florestais comerciais. beneficiário, com valores da subvenção de MZN
Desenvolvimento PME/comunidades que pretendem criar uma 900,000 a 11,250,000 (pressuposto: estimam-se os
Florestal de MozFIP (EFF) plantação florestal de, pelo menos, 20 ha custos de estabelecimento de plantações de 20 a
(2017–2022) (devem ter DUAT ou, pelo menos, 20 ha.). 250 ha em
Zambézia (Gurué, Ile, Alto Molocué, MZN 90,000/ha.)
Mocuba e Mulevala). Rotação Longa: contribuição do Beneficiário de
35%, com contribuição de EFF (65%), de MZN 1,170 a
14,625,000.

Situação e Desafios
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
PME
123
Sector alvo
Instituição Tipo de empresa
Tipo de Produto Termos
Nome do produto
Áreas elegíveis

124
AFAP Subvenções equivalentes. Insumos. Subvenções Equivalentes: MG de 50% para instalações
e infraestrutura, alguns itens de estoque.

PME
(African Fertilizer and Agrocomerciantes – grossistas e retalhistas.
Agribusiness Partnership Grossistas: USD (equivalente) de USD 20,000 a 50,000;
Vale do Zambeze.
- Parceria Africana
retalhistas: USD 5,000 a USD 10,000. Nalguns casos
de Fertilizantes e

Situação e Desafios
pode fornecer MG a empresas de insumos, p.ex: Mozfert
Agronegócios) AGRA
(empresa de mistura de fertilizantes).
AFAP Subvenções equivalentes e Agrocomerciantes – grossistas. Sofala. MG: MG de 50% para instalações e infraestrutura,
garantias.
FAR alguns itens de estoque. Grossistas: USD (equivalente) de
USD 20,000 a 50,000; retalhistas: USD 5,000 a USD 10,000.
Nalguns casos pode fornecer MG a empresas de insumos.

Pequenas e Médias Empresas em Moçambique


LG: AFAP garante 50% da consignação inicial, o cliente
paga 25%, p fornecedor suporta um risco de 25%.
RAMA BC (Land Subvenções de Inovação Agricultura (Enfoque na melhoria de Partilha dos custos de 30% pelo recipiente. Pode ser em
O’Lakes e CLUS; (Subvenções equivalentes). infraestruturas, bens de equipamento, espécie, mas preferência pelo dinheiro. Diminui para
financiado pela USAID) dar assistência técnica ou apoiar 10% para entidades de propriedade de mulheres; Partilha
ONG/projecto fornecedores de insumos com dos custos de 30% (10% para mulheres). Subvenção de
suprimentos tal como sementes ou Obrigação Fixa (FOG) (pagamentos são libertados com
fertilizantes; preferência às mulheres). base na realização dos marcos).
MPME (incluindo agrocomerciantes,
associações de produtores, prestadores
de serviços etc.). Deve ser legalizado.
Produtores devem ter DUAT e licença.
Devem apoiar pelo menos um VC de
Feed the Future: sementes oleaginosas
(amendoim, gergelim, soja), vagens (feijões
comuns, feijão nhemba e feijão boer) e
frutas (banana). Podem-se considerar outras
culturas, incluindo milho.
Corredor da Beira.
Sector alvo
Instituição Tipo de empresa
Tipo de Produto Termos
Nome do produto
Áreas elegíveis
TechnoServe Subvenções equivalentes / Pequenos agricultores O projecto atribui 50% do valor pedido; O BCI concede 40% do
(financiada pela Embaixada Banco Comercial comerciais e grupos de valor e o agricultor paga 10% (mesmo modelo que o aplicado ao
dos Países Baixos) Empréstimos de Bancos agricultores que produzem soja. projecto anterior de Finagro, gerido pela TechnoServe.
Projecto de Apoio aos Comerciais para produtores Distrito de Gurué, Zambézia.
Produtores de Soja de soja

Projecto de Polos de Subvenções equivalentes. Agro-indústria e mega-projectos. Janela 1: Agronegócios com ligações fortes com agricultores
Desenvolvimento, do Banco Agronegócios médios e grandes. pequenos. Subvenções do equivalente de USD 0.5 a 1.5
Mundial Vale do Zambeze e Corredor de Nacala milhões; própria contribuição de 10 a 90% do investimento.
O Fundo Catalítico para (Cabo Delgado, Niassa, Nampula, Janela 2: Agronegócios com subvenções de USD 300,000 a
Inovação e Demonstração
(FCID) (fim de 2019) Zambézia, Tete, Manica, 900,000.
A última ronda de Sofala). Requerimentos para as janelas: projectos de investimento
aprovações realizou-se
devem ser financeiramente viáveis e tecnicamente sólidos;
em Setembro de 2018.
muitos beneficiários e impacto quantitativo e qualitativo
forte em pequenos agricultores e MPME; inovação e
demonstração, tal como o uso de novas tecnologias e
novas abordagens para conectar com pequenos agricultores;
sustentabilidade institucional, operacional e ambiental.

AECF Subvenções equivalentes. Energia renovável. Contribuição da AECF, de USD 0.5 a 1.5 milhões; Partilha
(African Enterprise Medias a grandes empresas. Podem dos custos com beneficiário (valor total para projecto até USD
Challenge Fund) ser empresas em fase de arranque. 3 milhões). Tecnicamente o beneficiário deve reembolsar a
Fundo para toda a África Nacional. parte do empréstimo, mas na prática alguns não cumprem,
aparentemente sem serem penalizados.

AECF Subvenções equivalentes. Promoção de variedades de Como indicado acima, mas o mínimo é de USD 250,000.
Países seleccionados, sementes melhoradas, com
incluindo Moçambique preferência pelas altamente
nutritivas e resistentes às mudanças

Situação e Desafios
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
PME
climáticas.
Medias a grandes empresas. Podem

125
ser empresas em fase de arranque.
Nacional.
2.6 Fundos de Garantia de Empréstimo
Os Fundos de Garantia de Empréstimo (LGF) são instrumentos usados para incentivar os bancos a em-
prestar a grupos beneficiários seleccionados, reduzindo o risco exposto garantindo uma percentagem
acordada de qualquer incumprimento que possa ocorrer. Isso ajuda os bancos a familiarizarem-se
com estes grupos e a criar confiança. Os LGF são eliminados após um período de tempo acordado.
Existem vários fundos de garantia de empréstimo que operam há vários anos, com novos fundos go-
vernamentais recentemente iniciados pelo BNI (FDA e INCAJU). O fundo de garantia global DCA/SIDA
está operacional em Moçambique há cerca de 10 anos, e apoia o financiamento agrícola através do
banco comercial de microfinanças Opportunity Bank/MyBucks e o BTM.

O contrato LGF com o BTM foi renovado muito recentemente (final de Setembro de 2018). Existem
também acordos de LGF mais recentes com a Socremo e o Banco Único, mas sem evidência de cré-
dito agrícola ser apoiado.

O Fundo Internacional de Garantia de Thembani (TIGF) esteve recentemente envolvido num grande
empréstimo agrícola de bancos comerciais, com uma taxa de juros de 6% e 3% adicionais p.a. para o
TIGF.

PME
126 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Tabela 6: Fundos de Garantia de Empréstimo

Sector alvo
Instituição
Tipo de Produto Tipo de empresa Termos
Nome do produto
Áreas elegíveis
DCA (EUA), SIDA Suécia Fundo de Garantia de MPME e pequenos Cobertura de riscos de 50%; acordos com
Empréstimo que se agricultores. Opportunity Bank/MyBucks, BTM, Banco Único e
DCA/SIDA Fundo de Garantia do
concentra na agricultura.
Empréstimo Nacional. Socremo.

GAPI (gestor do fundo) Fundo de Garantia. Produção agrícola (culturas); comércio Fornece 20 a 65% do valor da garantia, do valor de
de mercadorias; avicultura (dividido MZN 500,000 a 12 milhões (quanto maior o valor do
Agri Garante
aproximadamente em três parte iguais). empréstimo menor a garantia). O plano de negócio
PME. deve ser aprovado. Requerimentos normais pelo
banco comercial que participa.
Todas as províncias.

Bancos que se inscreveram: BCI, Standard


Bank, FNB, Moza, Único, EcoBank, BIM,
Banco Terra. Os bancos não estão muito
empenhados e a adopção tem sido lenta.
A Gapi é capaz de mudar a gestão dos
fundos para resolver este problema.

Situação e Desafios
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
PME
127
Sector alvo
Instituição Tipo de empresa
Tipo de Produto Termos
Nome do produto
Áreas elegíveis

128
GAPI (gestor do fundo) Fundo de Garantia. Agricultura e silvicultura. Abrange 50% dos empréstimos bancários
obtidos através do Projecto Sustenta.

PME
Esquema de Garantia Parcial Pequenos agricultores comerciais
para Crédito Sustenta
(EGPC) (2018 a 2021). emergentes; PME.

Zambézia (Mocuba, Íle, Gilé, Alto Mo- locué,

Situação e Desafios
Gurué) e Nampula (Ribaué, Rapale, Mecuburi,
Malema, Laláua).
Thembani International Fundo de Garantia (baseado Todos os sectores, com ênfase na agricultura. Os bancos preparam uma folha de prazo
Guarantee Fund na África do Sul, fundos indicativa, listam a garantia disponível e
Principalmente empresas maiores.
provenientes da América analisam a diferença entre este valor e o
Fundo de Garantia
através de Citibank, desde Nacional. empréstimo procurado; a Indiqua Consulting
Internacional Thembani
2012). (anteriormente Building Markets) foi contratada

Pequenas e Médias Empresas em Moçambique


para a avaliação; se aprovado, o processo é
avaliado pelo Comité de Crédito de Thembani
(membros internacionais); se o comité
aprovar, o candidato será submetido a todas
as diligências. Todo o processo irá levar uns 2
meses; em Moçambique existem cerca de 10
empresas que receberam o apoio de garantia
Thembani;

3% do Empréstimo é cobrado como taxa anual.


BNI (gestor) Fundo de Garantia para MPME Agricultura. O LGF irá abranger 80% do risco; os
agrícolas (MZN MPME. empréstimos devem ser concedidos a taxas
FDA (Fundo para o
subsidiadas.
Desenvolvimento Agrícola) 190 milhões). Nacional.

BNI (gestor) Instituto Fundo de Garantia (MZN Cadeia de valor de caju. O LGF irá abranger 80% do risco; os
Nacional de Caju
(INCAJU) empréstimos devem ser concedidos a taxas
60 milhões). MPME envolvidas na produção, no comércio
subsidiadas.
nacional e no processamento de caju, que
procuram financiamento. Nacional.
2.7 Fundos de Capital

Os investidores de capital Norfund e Agdevco operam em Moçambique há muitos anos. A AgDevCo


inicialmente tinha como alvo os agronegócios das PME num projecto piloto, em colaboração com
o Corredor de Crescimento Agrícola da Beira e, com 14 beneficiários de investimento no centro de
Moçambique. Após a crise financeira de 2016, surgiram problemas com estes empréstimos, e desde
então a AgDevCo afastou-se das PME e agora é parceira de algumas das maiores empresas. A NorFund
sempre trabalhou com grandes sociedades investidoras. Uma vantagem de ter accionistas de capital
próprio é que as investidoras são capazes de garantir empréstimos participativos de custo relativa-
mente baixo (empréstimos concedidos à investidora pelo investidor de fundos de capital) que foram
fornecidos a todas as investidoras da AgDevCo.

Infelizmente, muitas PME receberam empréstimos indexados ao USD pouco antes da crise financeira de
2016, o que resultou em empréstimos que dobraram de tamanho em termos de meticais. Outra des-
vantagem é que as investidoras perdem a sua independência em termos de decisões de investimento
e planeamento de negócios. Por outro lado, as parcerias de capital trazem importantes benefícios de
gestão para as investidoras com bons conhecimentos agrícolas e perspicácia empresarial fraca.

A iniciativa PIGA, financiada pelo DFID em colaboração com o International Trade Center, ajuda agro-
processadores e indústrias leves moçambicanas a encontrarem mercados chineses, bem como poten-
ciais investidores de capital, subsidiando a participação em feiras de negócios chinesas, organizando
encontros B2B entre potenciais investidores e investidoras, e trocando de perfis de negócios. A orga-
nização AMSCO (ver 2.8) também ajuda empresas moçambicanas a encontrar potenciais investidores
de capital.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 129
Tabela 7: Fundos de Capital

Sector alvos
Instituição Tipo de Produto Tipo de empresa Termos

130
Áreas elegíveis

PME
AgDevCo Empréstimos participativos Agricultura. Geralmente os empréstimos participativos
(DFID) (normalmente para investimento) e de Agronegócios de médio a grande porte. Nacional. são concedidos em USD, com taxas de
accionista (normalmente para capital juros que vão de 5 a 10%, dependendo dos
de exploração). termos e da avaliação de risco.

Situação e Desafios
Norfund Empréstimos participativos Principalmente a agricultura, mas também energia limpa e Idealmente, o capital máximo <35%,
(Governo (normalmente investimentos) e a produção de alimentos. 70% da carteira global é na África, empréstimo máximo <49% do valor total
Norueguês) de accionista (normalmente para quase todo na agricultura. do balanço (os investimentos devem
capital de exploração). Preferência Agronegócios de médio a grande porte; ser avaliados em, pelo menos, USD
pelas acções. Investimento médio é de 8 a 10 anos; actual carteira em 5 milhões. Mas alguns investimentos
são menores se oferecerem boas

Pequenas e Médias Empresas em Moçambique


Moçambique: Matanuska, Carthage Lda (Moamba, papaia).
perspectivas de crescimento). Pode
Enfoque crescente no processamento e no acréscimo de
misturar acções e investimento.
valor.
Nacional.

Parceria para Intermediação através de apoio à Objectivo: Introduzir empresas moçambicanas a Prevê-se que amente as exportações
Investimento e participação em feiras comerciais na potenciais investidores de capital chineses. (principalmente para a China) e os postos
Crescimento na China e facilitando interacção de B2B de emprego.
PME envolvidas no agro-processamento e na indústria
África (PIGA)
(2015-2021). ligeira.
(DFID)
Moçambique, Etiópia, Zâmbia, Quénia
2.8 Outros Fundos

Dos quatro “outros” produtos, um (o Fundo de Desenvolvimento Distrital) existe há muitos anos e é
financiado pelo governo. O Fundo Distrital de Desenvolvimento fornece “empréstimos”, mas estes rara-
mente são reembolsados porque os beneficiários sabem que o governo não irá tomar sanções contra
os infractores. Estes fundos têm sido frequentemente atribuídos a associações de agricultores, bem
como a agricultores / empresários individuais que estão politicamente ligados ou são considerados
agricultores ou empresários principais na área.

O Fundo de Capital Activo da CTA é basicamente um empréstimo bancário estrangeiro em USD, faci-
litado e negociado pela CTA. As taxas de juros são muito atraentes para a agricultura, mas há custos
ocultos a serem pagos se a solicitação for endossada pela CTA.

A AMSCO presta uma variedade de serviços a empresas moçambicanas, que podem beneficiar de
assistência técnica subsidiada ou de capital próprio, identificando parceiros de investimento interes-
sados. A AMSCO ajuda as empresas a encontrarem gestores seniores adequados que não estejam su-
jeitos às restrições de cota de emprego do Ministério do Trabalho. Recentemente a AMSCO encontrou
investidores de capital para a Dream Farms no Niassa (financiando uma fábrica de processamento de
feijão).

Finalmente, a Hollard Insurance está a introduzir um seguro multi-risco para sementes (e possivel-
mente para outros insumos). Este permite aos pequenos agricultores receberem um substituto das
suas sementes no caso de uma safra ruim devido a várias causas (incluindo as condições climáticas),
que podem ter tido um impacto negativo na colheita.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 131
Tabela 8: Outras oportunidades de fundos

Sector alvos
Nome Tipo de Produto Tipo de empresa Termos

132
Áreas elegíveis

PME
CTA (Confederação Fundo de Capital Activo Todos. Valor do empréstimo: USD 1 a 20 milhões; taxa de juros de 6% para
das Associações (empréstimos). Médias e grandes agricultura e de 10% para outros sectores. Deve ser paga uma taxa de
Económicas) empresas. Nacional. USD 25.000 para proceder a uma análise pormenorizada da empresa.
(actuando como Esta é reembolsável se o candidato não obtiver o empréstimo, e é
intermediário adicionado ao valor do contrato se o empréstimo for obtido. Os

Situação e Desafios
para o Fundo de empréstimos servem apenas para despesas de capital, com excepção
Empréstimo) das agroindústrias, que podem receber financiamento para custos
correntes durante o primeiro ciclo de safra (excluindo culturas
arbóreas). Existem “taxas de facilitação” escondidas, que devem ser
pagas através do “guardião do portão”.
Fundo Distrital de Empréstimo com taxa de Agro-pecuária; comércio; pesca; MZN 100,000 a 500,000 para indivíduos, MZN 100,000 a
Desenvolvi- juros reduzida aquacultura; indústria ligeira; 600,000 para associações. Duração de 2 a 60 meses. Sem juros. Os
mento (FDD) processamento; turismo rural. reembolsos podem ser diferidos por 3 a 24 meses. Aplicação através

Pequenas e Médias Empresas em Moçambique


MPME. de SDAE; exclui funcionários públicos.
Nacional.
African Mistura de provedor de Treinamento para empresas menores
Management treinamento subsidiado (gratuito); Provisão de Assistência
Services por doador e provedor Técnica (taxa de administração de
Company de assistência técnica 20%) e intermediação para identificar o
(AMSCO) e facilitador com investidor.
fins lucrativos, para MPME e grandes empresas.
investimentos de capital Todos os sectores, especializada em
a partir de cerca de USD 5 Seguros relacionados com a AT.
milhões. Nacional.

Mix of donor subsi-


dized training pro-
vider and profit-
making technical
assistance provider and
facilitator for equity
investments
from around USD
5 million.
Hollard Insurance Seguro agrícola de multi Agricultura. A Hollard é pioneira na introdução do tipo de seguro agrícola indexado
Company risco (p.ex: seguro de ao clima, começando com sementes. Actualmente, está a negociar
sementes indexado às Todas as com empresas de sementes e distribuidores de insumos a inclusão
condições climáticas. empresas. do prémio do seguro no preço das sementes. O seguro nesta fase é
Nacional muito simples, substituindo o custo da semente em caso de quebra
de colheita devido a várias razões (condições meteorológicas, pragas,
doenças, não germinação, etc.).
3 OBSERVAÇÕES E RECOMENDAÇÕES GERAIS
Em quase todos os inquéritos relacionados com o ambiente de negócios de Moçambique, o acesso
ao financiamento é considerado a principal restrição à realização de negócios em Moçambique. O
“acesso” provavelmente foi confundido com o custo, uma vez que o custo do financiamento tradicio-
nalmente tem sido consideravelmente mais elevado do que na maioria dos outros países da SADC.
Antes da crise financeira de 2016, o Banco de Moçambique conseguiu, ao longo de vários anos, reduzir
a taxa de referência (FPC) para 7,5% p.a., sendo as taxas básicas ligeiramente superiores a 14% (Setem-
bro de 2015). Na sequência da crise da dívida oculta de 2016, a FPC quase triplicou para cerca de 28%,
mas desde então voltou a 17,25%, sendo as taxas básicas 2% mais elevadas. Com mais de 16 bancos
comerciais actualmente a operar no país, não está em causa o acesso, mas o custo.

Para as finanças agrícolas e rurais, a questão sempre foi acesso e custo, devido aos riscos (clima,
doenças, pragas e mercados imprevisíveis) associados à agricultura - agravada pela falta de experiên-
cia da maioria dos bancos, com a avaliação e gestão de empréstimos agrícolas. A chegada da BTM
tornou-se uma verdadeira mudança no agronegócio. Mas os volumes totais de crédito para o sector
agrícola continuam a ser baixos em 3,5% do total (contudo, importa notar que, os empréstimos para
o processamento agrícola se enquadram na categoria de “indústria”). Desde as intervenções do BTM,
outras iniciativas, tais como fundos de garantia, fundos catalíticos e linhas especiais de créditos, têm
incidido na agricultura mas, até agora, com efeito limitado.

O IFAD e o AfDB, através do Fundo para a Reabilitação Económica (FARE), tentaram estimular o financia-
mento rural com o Programa de Apoio às Finanças Rurais (RFSP). Através de subsídios e linhas de crédito, o
RFSP foi fundamental na criação de mais de 50 Instituições de Financiamento Rural (MFI) que, devido à má
preparação, má gestão e prestação de serviços limitada (excluindo efectivamente a agricultura) lutaram
para sobreviver, com apenas alguns remanescentes, com carteiras limitadas.

O programa de bancarização do governo resultou numa rede nacional mais ampla de serviços ban-
cários, sendo o objetivo ter um banco por distrito até 2019, mas isto só teve um efeito limitado na
promoção das actividades agrícolas e de processamento. Os bancos rurais actuaram em grande parte
como fornecedores de depósitos de empréstimos para empréstimos urbanos e empréstimos baseados
em salários rurais (baixo risco).

A falta de entusiasmo dos bancos comerciais em fornecer crédito agrícola foi claramente demonstrada
pela aceitação muito limitada do Fundo de Garantia Agro-garante, do Projecto Agro-Investe, apoiado
pela DANIDA. Mais de 10 bancos eram signatários entusiastas, mas o compromisso com a aprovação
de empréstimos agrícolas continua a ser muito fraco fora dos sectores considerados bastante seguros:
açúcar, algodão, tabaco e agroindústrias maiores e bem capitalizadas. O fundo de garantia DCA-SIDA
teve algum impacto nas carteiras agrícolas de 2 bancos influenciados pelos fundos de garantia. No
entanto, um banco que fornece microcrédito a produtores subcontratados e a alguns grupos de soli-
dariedade indicou que, sem o fundo de garantia, não continuará na agricultura, a menos que parte do
risco seja minimizado com um seguro multi-risco.

O Fundo de Garantia Thembani é o único fundo aplicado a casos individuais e, normalmente, a


empréstimos maiores de milhões de dólares.

Em 2018, houve um avanço muito importante para os empréstimos de agricultores contratados. Um


contrato de empréstimo negociado entre a Illovo e o Standard Bank, originalmente garantido pelo
Fundo de Garantia Thembani, tornou-se muito complicado e muito dispendioso, razão pela qual a
Illovo decidiu garantir o empréstimo à associação de pequenos agricultores que, por sua vez, o re-
passaria aos seus membros. Espera-se que isso sirva de modelo para outras empresas agregadoras,
tal como a Westfalia com os seus produtores externos de líchia, a ECA (milho); a Moçambique Leaf
Tobacco, as empresas de fiação de algodão, os produtores de lacticínios etc. Até agora, os acordos
de empréstimo agregador foram para empréstimos para insumos sazonais. No entanto, a experiên-
cia de Illovo abre o caminho para empréstimos de capital em grande escala.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 133
A presente pesquisa segue a da CLUSA de Fevereiro de 2018. Para além de uma cobertura mais ampla,
ocorreu ao longo do período em que o Banco Nacional de Investimento (BNI), detido pelo estado,
voltou a centrar a sua acção no financiamento rural, originalmente começando como um banco
de investimento em infra-estruturas. Sob o incentivo do actual Ministro de Finanças e Economia e
ex-presidente do Conselho do BNI, o BNI agora desempenha o novo papel significativo de gestor do
desenvolvimento (especialmente produtos de financiamento rural/agrícola, fornecidos por agências
doadoras e pelo governo).

Outro desenvolvimento importante tem sido a emergência de instrumentos especiais que promo-
vem a equidade e os empréstimos, fornecem insumos subsidiados, tal como assistência técnica,
e ajudam as empresas moçambicanas a ter acesso a novos mercados. Recém-chegados notáveis
nesta área são a AMSCO, que ajuda as empresas a encontrar especialistas em áreas especiais a cus-
tos mais baixos (isentos de restrições de cotas de mão-de-obra estrangeiras) e, ao mesmo tempo,
a encontrar potenciais investidores participantes. A iniciativa PIGA, financiada pelo DFID, ajuda as
empresas moçambicanas a encontrar mercados na China e as introduz a potenciais investidores
chineses.

Subvenções equivalentes/fundos catalíticos tornam-se mais populares entre os doadores, e têm de-
sempenhado um papel fundamental no apoio a algumas das maiores agroindústrias. Basicamente são
grandes subsídios, geralmente difíceis de obter, por causa dos procedimentos de aplicação desgas-
tantes e muitas vezes desnecessários. Devido ao volume das informações e ao nível de sofisticação
exigido (p.ex: planos de negócios detalhados com fluxos de caixa descontados), a maior parte das
empresas menores não consegue ter acesso a este tipo de financiamento.

Uma má notícia para os pequenos produtores e para as agroindústrias das PME é que, tanto os ban-
cos comerciais como os fundos de capital afastam-se dos clientes de empréstimos menores. A BTM
concentra-se mais em empresas maiores depois de ter problemas com associações de agricultores,
enquanto a AgDevCo deixou de investir em PME e prefere as grandes empresas. A NorFund sempre
investiu em grandes empresas. A carteira de empréstimos para pequenos produtores não progrediu,
embora existam alguns sinais de esperança, como é o caso da Gestão de Cereais. Esta é uma nova
iniciativa dirigida a agricultores contratados em Manica que, se gerida comercial e profissionalmente,
pode influenciar outros a explorar o enorme potencial neste mercado.

A longo prazo, é provável que a tecnologia digital dê um grande passo na promoção de empréstimos
ao agricultor na parte inferior da pirâmide. Actualmente, a MBS (antiga Opportunity Bank) está a tra-
balhar com o fornecedor móvel de dinheiro Bibi Money, com o objectivo de permitir à MBS conceder
empréstimos a agricultores contratados destinados a financiar o principal insumo agrícola – a mão-de
-obra. Até agora, os arranjos de agregadores não foram capazes de incluir a mão-de-obra como parte
do empréstimo. Através da Bibi Money, que opera por meio de todos os três operadores móveis exis-
tentes, a MBS pode emprestar aos agricultores que pagam aos seus trabalhadores em dinheiro móvel,
enquanto a MBS pode recuperar o empréstimo através do agregador, quando os agricultores vendem
os seus produtos. Nesta fase, a principal restrição é a incapacidade da Bibi Money de criar uma rede
de agentes. Se esta iniciativa funciona ou não a curto prazo, parece inevitável que os empréstimos de
dinheiro móvel se tornem comuns.

Um bom exemplo de como a tecnologia digital está a ser desenvolvida com êxito para apoiar os
pequenos agricultores tem sido o sistema de informações de mercado Lima-Links (MIS) na Zâmbia.
Este sistema ligou 70.000 pequenos proprietários a fornecedores de insumos e comerciantes de mer-
cadorias. Desempenhou um papel importante em estimular os fornecedores de insumos a abastecer
os pequenos proprietários (anteriormente concentraram-se quase exclusivamente em agro-negócios
maiores e agricultores de pequenas e médias empresas), facilitando compras a granel de produtos de
pequenos produtores para comerciantes de mercadorias. O sistema permite aos usuários pagantes
rastrear o comportamento dos agricultores (identificados através dos seus números de telefone celu-
lar). Neste momento explora-se a capacidade deste sistema de fornecer informações comportamen-
tais básicas úteis sobre potenciais clientes às instituições financeiras.

PME
134 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
As empresas apoiadas pelo projecto ProEcon da GIZ são muito diversas, com necessidades de finan-
ciamento significativamente diferentes (abrangendo todo o espectro), incluindo microfinanciamento
para pequenos proprietários, empréstimos de infraestruturas para fruticultores contratados, emprésti-
mos de capital de médio e grande porte, capital de exploração e parcerias participativas. Este relatório
foi produzido para toda a gama de partes interessadas no sector agrícola privado e abrange todo o
espectro de produtos financeiros. Além das formas mais convencionais de financiamento, existem
uma variedade de outros instrumentos, tal como os fundos catalíticos, que tendem a visar certas áreas
geográficas e/ou subsectores. O guia também apresenta uma variedade de produtos menos conheci-
dos, tal como o seguro multi-risco e o financiamento de recibos de armazenagem.

Este exercício põe em evidência o reduzido conhecimento dos produtos financeiros disponíveis e o
quão pouco esforço tem sido feito para divulgar essas informações. Faria sentido disponibilizar de
forma regular este tipo de informação aos milhares de potenciais beneficiários do financiamento agrí-
cola, e dar aos fornecedores de produtos/serviços a oportunidade de actualizar as informações sobre
as suas ofertas e sobre os tipos de projecto que são susceptíveis de receber financiamento, a fim de
alcançar os seus potenciais clientes.

Idealmente, este guia deveria ser um trabalho em progresso contínuo, sob a gestão de uma entidade
cujo mandato seria realizar uma actualização anual de todos os produtos, fornecedores e contactos.
Um grande constrangimento enfrentado pelos prestadores de serviços financeiros é que a conscienti-
zação dos seus produtos e serviços é limitada, e os canais de divulgação não atingem adequadamente
os seus públicos-alvo. Um guia anual deste tipo rapidamente conquistaria reconhecimento, e logo
seria usado como guia de referência essencial para potenciais usuários e os provedores existentes.

Uma publicação anual desta natureza também poderia incluir uma secção mais analítica, dedicada à
revisão de iniciativas inovadoras de financiamento, que foram lançadas nos últimos 12 meses. Uma
tal análise na publicação geral também seria de grande interesse para os doadores, o governo e os
pesquisadores. Numa fase mais avançada, os agronegócios poderiam organizar uma plataforma inte-
ractiva, que poderia apresentar uma lista de produtos como apresentada aqui, mas com comentários
e com as avaliações das empresas que usaram os produtos. Isto não ajudaria apenas os potenciais
usuários, mas também poderia melhorar os serviços oferecidos pelos prestadores.

4 CONTACTOS
Ao longo da pesquisa estabeleceram-se os seguintes contactos. Podem ser contactados para obter
mais informações.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 135
NOME DA INSTITUIÇÃO /
TIPO DE INSTITUIÇÃO CONTACTO
ORGANIZAÇÃO
AECF African Enter- prise Subvenções para Energia Lucinda Tyser, Gestora da Carteira da África Austral,
Challenge Fund Renovável e Sementes LTyser@aecfafrica.org;
+263 776578400; Aplicar online:
https://www.aecfafrica.org/
AFAP Subvenções de Projecto e Sérgio Ussaca 82 458 4240 sussaca@afap-partnership.org
Subvenções Equivalentes
Africa Works Operador de Microcrédito Claudien Nsengimana; 823004480;
cnsengimana@africaworks.org;
African Management Services Facilitador de Financiamento Helian Nsthandoca helia.nsthandoca@amscobv.com;
Company (AMSCO) Participativo 845245822, 6th floor Hotel Rovuma

AgDevCo Provedor de Financiamento Rui Sant’ana Afonso;


Participativo rafonso@agdevco.com ; 84 328 9560
Banco Terra Banco Comercial José Jege, jjege@bancoterra.co.mz;
21 359 900)
Danilo Abdula; dabdula@btm,co.mz;
828274580
Banco Único Banco Comercial Leyla Latif leyla.latif@bancou- nico.co.mz;
84 3220543
Barclays Banco Comercial Marcelino Botão, 843124613, marcelino.botao@barclays.
co.mz;
Januário Valente, 82 535 3004
januario.valente@barclays.co.mz; Sabate Massango,
840600221
Sabate.Massango@barclays.co.mz;
BCI Banco Comercial José de Sousa Pinto jspinto@bci.co.mz; 82 731 9307
Fátima Sando; Fatima.Sando@bci.co.mz; 822946627

Catalytic Fund for In- Subvenções Equivalentes para Michelle Souto msouto@ifc.org;
novation and Demon- stration Projectos apoio@fundocatalitico.co.mz;
(FCID) 845987821; 827417327
CCOM Operador de Microcrédito Enoque Changamo, CEO. 828153880;
tornando-se Microbanco erchangamo@hotmail.com
(banco de microfinanciamento
com requerimentos de capital
mais baixos)
than commercial bank)
CPL Operador de Microcrédito José Bungane jbungane@gmail.com;
824780260
Estevão Chaguala efchaguala@gmail.com; 824780260

CTA (Confederação das Facilitador de Empréstimos de Pedro Muiambo;


Associações Económicas) Capital pedro.muiambo@gmail.com;
Confederation) 829564521

Fundo Distrital de Provedor Governamental de Leya Bila, Dir Nacional de Desenvolvimento Rural leiabila@
Desenvolvimento (FDD) Empréstimos Rurais hotmail.com;
leyabila@gmail.com

PME
136 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
NOME DA INSTITUIÇÃO /
TIPO DE INSTITUIÇÃO CONTACTO
ORGANIZAÇÃO

Gapi Instituição Financeira para o Av Samora Machel,


Desenvolvimento Nr 323 - 4º Andar. Maputo
T: (+258) 21 316 505
F: (+258) 21 316 827
Gestão de Cereais Operador de Microcrédito (ainda Sr Titosse Ofico Sitole, titosofi- sim@gmail.com; Sr
Lda não autorizado) Julio Manjate, ju- lio.manjate@mconsultores.co.mz;
Sr. Andre van der Vyver, andre@grainmanagement.
co.za

HLUVUKU Microbanco (ver acima) Bernardo Tembe, CEO. Hluvuku- ademsa@teledata.mz;


843447780

Hollard Insurance Provedor de Seguro Multi-risco de Israel Muchena; isrealm@ho- llard.co.mz; 853230300
Insumos

Millenium BIM Banco Comercial Sidónio Pique (21 351 500; 85 31


06820)
Moza Banco Comercial 82 20 20; 84 20 20 ou 21 34 20 20

Fundo Nacional para o Gestor de Fundos para MSC: Dânia Falcão


Desenvolvimento Sustentável Subvenções Equivalentes MSC Email: dania.falcao@fnds.gov.mz fnds@fnds.gov.mz
(Banco Mundial com MITADER) e EEF
Tel: +258 2142 1507 ou +258 8230
84108
EFF: Eurico Cruz; eu- rico.cruz@fnds.gov.mz; fnds@fnds.
gov.mz; Tel: +258 2142
1507 ou +258 8230 84108
Banco Nacional de Banco de Investimento Ancha Omar, Manager of the Busi- ness Development
Investimento (BNI) pertencente ao Estado and Sustainability Unit;
ancha.omar@bni.co.mz; 843049690

Norfund Provedor de Financiamento Chisamiso Mawoyo; 84 303 2422 chisamiso.mawoyo@


Participativo norfund.nor;

Opportunity Bank Banco Comercial de Tome Chamu, tome.tchamo@opportunitybank.co.mz


Microfinanciamento

Esquema de Garantia Parcial de Fundo de Garantias Amiro Abdula amiro.ab- dula@gapi.co.mz; info@gapi.
Crédito Sustenta (EGPC) co.mz;
+258 21 316 505

Partnership for In- vestment Facilitador de Financiamento Mário Gomes, National Project Coor- dinator;
and Growth Participativo mgomes@intracen.org;
in Africa (PIGA) 843102578

RAMA BC (Land Subvenções Equivalentes para Nic Dexter, LOL: ndexter@lan- dolakes.org
O’Lakes e CLUSA) Projectos

Socremo Bank Banco Comercial de Gildo Daniel Gildo.Daniel@So- cremo.com; 843987695


Microfinanciamento tornando-se
microbanco

Standard Bank Banco Comercial Miguel Correia; 331 9890


Miguel.correia@standardbank.co.mz;
82
Thembani International Fundo de Garantias Phindile Spies CEO, phindile@tigf.co.za
Guarantee Fund

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 137
7.1. Desafios
Temas
em gestão e
Selecionadas organização de
agro-PMEs e MPMEs
e suas implicações
Capítulo 7 para serviços de
fortalecimento
de capacidades
de gestão em
Moçambique
Kurt Nieradka, Consultor
Abstrato
A pesquisa de campo por amostra pequena foi realizada em Moçambique no final de fevereiro e iní-
cio de março de 2019. As condições-quadro nas províncias são examinadas a partir das perspectivas
econômica, financeira e de mercado. Uma classificação taxonômica é desenvolvida para agro-PMEs
e suas atuais capacidades de gestão são descritas. Conclusões são alcançadas em relação à demanda
por serviços de fortalecimento da capacidade de gestão.

1. Condições-quadro nas províncias


Econômico:

Moçambique tem uma população de ca. 30 milhões e a maioria dos moçambicanos rurais dedicam-se
a atividades de subsistência, especialmente a agricultura familiar. Colocar o tamanho da economia de
Moçambique em perspectiva é um exercício interessante. O PIB de 2017, de USD 12.6bn1, está situado
na parte inferior dos países da SADC e é aproximadamente equivalente em tamanho ao PIB da cidade
alemã de Kiel, ou da metade do PIB da cidade de Bonn2.

Colocar o tamanho do apoio dos doadores a Moçambique em perspectiva também é um exercício


valioso. O atual apoio de doadores totaliza USD 14,8 bilhões3. Mesmo considerando diferentes formas
de calcular e comparando números de anos recentes porém diferentes, a conclusão fundamental é

1 https://data.worldbank.org/country/mozambique
2 https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_German_cities_by_GDP
3 Veja: www.odamoz.org.mz Cifra atual pesquisada: soma total vigente até 03/2019

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 139
que, numa base de ordem de grandeza, Moçambique pode ser caracterizado como uma economia
significativamente impactada pela cooperação internacional para o desenvolvimento.

Cada província tem suas próprias características, mas todas são afetadas pelos contínuos efeitos da
desaceleração macroeconômica desde 2016 , e recentemente pelos ciclones no centro e no norte do
pais. O sentimento nas províncias é que a economia nacional ainda estará desacelerando ou contrain-
do nos próximos anos. As intermitentes altas nos números do PIB são atribuíveis aos poucos grandes
projetos extrativistas que têm pouco impacto fora de suas zonas imediatas e os retornos dos quais
não atingem as economias locais. A conclusão é que as expectativas para uma melhora nas condições
macroeconômicas a curto prazo não são dadas.

A desvalorização da moeda de cerca de 30 para 60 MT/US$ deveria proporcionar alguma melhora na


competitividade das exportações, mas isso ainda não aconteceu nas empresas entrevistadas. Algumas
empresas reclamam de pagamentos atrasados em contratos com o setor público.

As províncias da Zambézia e Nampula não foram visitadas nesta missão, mas duas empresas já têm
planos para se expandirem para essas províncias quando as condições-quadro melhorarem. Devido
aos seus défices de infraestrutura, distância de Maputo, população dispersa e capitais urbanas relati-
vamente pequenas, estas províncias enfrentam condições semelhantes às de Manica, mas com outros
solos, clima e características físicas que determinam a composição de cultivos, e distintas característi-
cas culturais que influenciam em aspectos agrícolas.

Algumas empresas do norte de Manica tem ido para o Malaui (baobá); a situação econômica compa-
rativamente pior no Zimbabué continua a fornecer recursos humanos às empresas de Manica. Integrar
o Corredor de Beira é um benefício para a província de Manica.

A Província de Sofala ancora o Corredor de Beira e é talvez a província mais desenvolvida em termos
de procura de serviços de apoio à capacidade de gestão, bem como o fornecimento de talentos para
o desenvolvimento de abordagens ao estilo de BDS4 clássico para apoiar agro-PMEs e MPMEs.

A Província de Inhambane tem a sorte de estar relativamente perto de Maputo e ligada pela infraestru-
tura rodoviária que conduz aos mercados da África do Sul. As entidades de apoio empresarial a nível
médio são, em grande parte, pequenas ONGs ou PMEs com modelos de negócios inclusivos formados
por ONGs. Já está sendo feito, mas o lado da demanda poderia ser atendido ainda mais, vinculando
as empresas consolidadas com as agro-MPMEs (na maioria pequenos agregadores) porém com abor-
dagens para estádios de gestão anteriores aos atendidos pelos modelos clássicos de BDS.

Gaza e Maputo parecem ser os relativamente menos afetados pela crise macroeconómica em curso
devido à sua infraestrutura mais desenvolvida, presença da cooperação internacional, concentração
de negócios, densidade populacional e proximidade com a África do Sul.

Finança:

No que diz respeito à disponibilidade de financiamento e especialmente para as agro-PMEs e MPMEs,


todas as províncias com talvez a exceção parcial de Maputo enfrentam desafios semelhantes.

No entanto, a falta de opções de financiamento adequadas ou apropriadas, a falta de penetração de


serviços financeiros e os custos de qualquer tipo de dívida significam que empresas líderes enfrentam
condições macroeconômicas adversas e precisam gerar seu próprio superávit para poder aumentar

4 Business Development Services: produtos (serviços) para desenvolvimento empresarial.


Incluem incubação, aceleração, treinamento, capacitação, viagens de intercâmbio comercial e participação em férias,
fomento financeiro, certificação e outros.

PME
140 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
seu capital de trabalho ou investir. Muitas das empresas entrevistadas afirmaram que, nas condições
atuais, não estão gerando excedentes; algumas empresas estão encolhendo e operando sob condi-
ções de sobrevivência.

Nos lados a montante das cadeias de valor, pequenos agricultores e ADAs5 enfrentam um ambiente
similarmente desafiador. Os esquemas de microcrédito não têm raízes suficientes, nem a inclusão
financeira é ainda suficiente, para que as instituições financeiras e os bancos atinjam a base geral,
ou seja, que provenham uma alta cobertura nas províncias. Importantes avanços estão sendo feitos,
especialmente com soluções de banco agente e também baseadas em ITC (por exemplo MPesa), mas
estas ainda não são capazes de fazer uma diferença material nos negócios das agro-PMEs e MPMEs.
Esta é uma das importantes fontes de arrasto para o desenvolvimento do negócio agrícola incluindo
suas capacidades de gestão e, portanto, incidindo na sua demanda por serviços de desenvolvimento
empresarial.

Mercado:

Todos os mercados domésticos estão sofrendo os efeitos da crise macroeconômica, com consequên-
cias principalmente negativas, à medida que a renda disponível é reduzida e os planos de investimento
adiados. A Província de Maputo gera demanda por alguns produtos agrícolas de nicho premium que
são menos afetados e apresentam oportunidades de desenvolvimento de mercado.

Moçambique é caracterizado por um número substancial de doadores que perseguem um numero re-
duzido de empresas. Embora isto seja geralmente entendido como uma condição negativa, dado que
“poucas empresas monopolizam o apoio dos doadores para si”, ou “são sempre as mesmas empresas
que estão a ser beneficiadas”, isto representa o contexto moçambicano no qual os esforços de apoio
à capacidade de gestão ocorrem.

Isso também resultou em um desenvolvimento de mercado único, no qual as empresas têm mode-
los de negócios específicos que utilizam recursos de doadores para seu próprio desenvolvimento, de
maneira positiva e transparente.

Por exemplo, ganhando escala na produção através da incorporação de pequenos agricultores e o


uso de modelos de negócios inclusivos para partes específicas de seus negócios. Isso, por si só, é uma
indicação de habilidade e sofisticação de gestão, aproveitando as oportunidades à medida que se
apresentam e construindo operações comerciais sustentáveis por meio delas, e está concentrado nas
empresas líderes consolidadas.

2. Classificação taxonômica da agro-PME e capacidade atual de


gestão
A metodologia empregada baseou-se na escuta ativa e na observação em primeira mão durante reu-
niões de trabalho e visitas a sedes, campos e plantas/fabricas, seguidas de entrevistas semiestruturadas
guiadas por uma planilha previamente entregada para estimular a reflexão aberta sobre o tema das
capacidades gerenciais.

Os tipos de empresa que foram identificados e visitados durante as visitas de campo e que também
são representativos dos tipos de agroempresas encontrados em Moçambique como um todo, são
caracterizados da seguinte forma:

5 Agente de Desenvolvimento Agrário

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 141
Classificação taxonômica da agro-PME

O espectro de empresas varia desde corporações multinacionais a empresas iniciantes com modelos
de negócios inclusivos e raízes em ONGs a organizações associativas. A localização de uma firma
nesse espectro não implica em nada quanto ao nível de habilidades gerenciais existentes ou de capa-
cidade de gestão necessária ou empregada para ser uma empresa bem-sucedida. O que implica é uma
diferenciação entre o tipo de apoio à gestão de negócios para desenvolver capacidades de gerencia-
mento adequadas para cada tipo de empresa:

corporações multinacionais são tipicamente evoluídas e sofisticadas no que diz respeito à gestão,
uma vez que competem na arena internacional e estão sujeitas a algumas das mais fortes pressões
competitivas que as empresas podem enfrentar. Isso implica que suas necessidades de apoio ao ge-
renciamento de negócios são muito específicas, geralmente exigindo expertise altamente especiali-
zada e uma entrada que é muito específica para seus negócios em determinado momento. A maioria
das multinacionais satisfazem suas necessidades específicas de apoio gerencial diretamente da casa
matriz ou do mercado competitivo.

empresas comercialmente consolidadas são aquelas que normalmente operam em indústrias mais
maduras, que dependem de ganhos de eficiência e ganhos de escala para garantir seus negócios. Estas
empresas tendem também a ter capacidades de gestão maduras, no sentido de que a gestão é profis-
sionalizada e se baseia em especializações que são evidentes em suas estruturas internas e que geral-
mente são organizadas em torno de áreas funcionais. As empresas comercialmente consolidadas que
podem se reinventar, ou sempre melhorar seus processos, ou atualizar suas estratégias, antecipando-
se aos desenvolvimentos do mercado e da indústria, são as que têm mais poder de permanência. Da
mesma forma que as multinacionais, estas empresas usam apoio à gestão muito específico, pontual e
especializado, limitado a tempos determinados e providos dos mercados abertos.

empresas pioneiras consolidadas. As empresas que operam nas fronteiras, sejam elas fronteiras agrí-
colas ou tecnológicas ou outras fronteiras, são caracterizadas por um conjunto de habilidades espe-
ciais em sua gestão, que muitas vezes combina um espírito para conquistar e desafiar com um agudo
senso de gestão de risco. Este tipo de empresa é muitas vezes dirigida por empresários transplantes,
aqueles que se mudaram para abrir novas áreas físicas ou intelectuais que não existiam dessa forma
anteriormente. Sua gestão é muitas vezes caracterizada por operar em um ambiente de crises cons-
tante e por um grau tipicamente mais elevado de diversificação de negócios do que o observado em
empresas comercialmente consolidadas, que tendem a se ater às suas atividades principais. Os pio-
neiros geralmente têm uma gama muito mais ampla de necessidades para desenvolvimento gerencial
do que as multinacionais ou as comercialmente consolidadas.

PME
142 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Empresas empreendedoras dinâmicas são geralmente gerenciadas pelo seu fundador ou em con-
junto com seu(s) investidor(es) inicial(ais). Estes são caracterizados por serem inovadores em alguns
aspectos que resultam em uma vantagem competitiva para a empresa, em seu mercado definido.
Geralmente elas são ágeis, e seu gerenciamento muitas vezes não é profissionalizado. Os sistemas da
empresa são ajustados frequentemente, mas ainda na versão original 1.0, e as necessidades de melho-
ria são abrangentes. Existem produtos e treinamentos no mercado aberto e também virtual, que po-
dem ajudar nas necessidades de desenvolvimento de gestão. No entanto, muitas vezes o empresário
não quer profissionalizar a administração da empresa, a fim de manter o grau de controle que precisa
durante o estágio de desenvolvimento em qual se encontra o empreendimento.

Empresas startups comerciais de modelos inclusivos são empresas com sua prova de conceito
confirmada, e estão operando baixo termos comerciais à medida que buscam crescer e se estabelecer
como competidores viáveis. Sua principal característica é que elas são estritamente dirigidas pelo mer-
cado. Elas identificaram oportunidades para aproveitar e se estruturaram de uma maneira que captu-
rassem as mesmas desde o início. Determinar como elas devem ser gerenciadas e organizadas em de-
talhe é deixado para depois, quando se torna uma necessidade. Isso inclui sua cadeia de suprimentos,
onde seu trabalho com fornecedores MPMEs requer perícia externa para montar sistemas, com mão
de obra especializada que eles não possuem internamente. Seus requisitos de apoio à capacidade de
gestão são amplos ao nível da empresa e profundos ao nível dos fornecedores.

Startups com modelos de negócios inclusivos e raízes em ONGs. Estas firmas são semelhantes
às startups de modelos de negócios inclusivos comerciais, com a grande diferença sendo que elas
tiveram ou têm sua razão de ser centrada em conceitos sociais ou outros conceitos primeiro, e pro-
curaram por acomodação de mercado, segundo. Estas startups muitas vezes carecem de capacidades
competitivas de gestão orientadas para o mercado; estas precisam ser desenvolvidas à medida que o
negócio se estabelece por si mesmo e prova seu conceito. Uma vez comprovado o conceito, o seguin-
te nível de necessidade de apoio à capacidade de gestão é atingida: geralmente é bastante ampla e
bastante profunda, em toda a organização, e inclui a gestão do fluxo de informação (data) ascendente
proveniente das MPMEs revendedoras-agregadoras. Essas empresas geralmente são muito receptivas
a cooperar e podem ser boas parceiras para a cooperação internacional. Muitas vezes o desafio está
em ajudá-las a se graduarem para o status de mercado comercial completo antes que seu financia-
mento externo seja retirado.

Organizações startup associativas. Associações de produtores e cooperativas agrícolas incipientes


enfrentam desafios organizacionais adicionalmente aos meros desafios de fazer negócios rentáveis e
duradeiros. As estruturas de gestão são estipuladas por lei e os gestores tem uma rotatividade obriga-
tória. O pool de talento de RH que fornece os gestores da entidade são os próprios associados, tornan-
do a capacitação dos mesmos imperativo. Associações e cooperativas são expostas à sequestro pelo
promotor; nem precisa ser intencional, como no caso em qual os associados não querem ser eleitos
aos cargos requeridos para o funcionamento da entidade. A maioria das associações e cooperativas
nascentes precisam de apoio externo para se organizar, para capacitar os associados e para sobreviver
os primeiros anos antes de começar a se consolidar como negócio.

Uma vista compacta que condensa as observações de campo em uma tabela é fornecida abaixo:

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 143
Capacidade atual de gestão - resumo

Esta vista geral resumida é condensada e destina-se a servir como uma orientação rápida para o con-
teúdo descritivo sobre gestão apresentado por extenso abaixo:

corPorações multinacionais

Níveis gerais atuais:


Alto nível de capacidade gerencial geral (o talento de recursos humanos é identificado, atraído e
retido de forma sistemática, que inclui treinamento interno e desenvolvimento de carreira definido;
todas as funções e responsabilidades de gerenciamento foram profissionalizadas e delegadas e a
especialização da gestão existe dentro de uma estrutura corporativa definida. Capacidade de tra-
duzir ideias para a prática, evidências de protótipos repetidos e desenvolvimento de produtos até o
mercado, evidências de desenvolvimento profissional dentro da organização para apoiar especiali-
zação funcional, divisão em áreas funcionais especializadas, desenvolvimento de mercado através
de estrutura corporativa internacional bem definida; sofisticação e definição clara de vantagem
competitiva através de seu modelo de negócio).
Por área funcional:
As capacidades de gerenciamento são completas e maduras.
Desafios ou obstáculos:
Nenhuma restrição crítica; A empresa está bem capitalizada e sua estrutura internacional e seu
modelo de negócios permitem que ela resista às desacelerações macroeconômicas internas, bem
como aproveite as oportunidades, em parte pela mudança de operações entre os países.

PME
144 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Corporações comercialmente consolidadas

Níveis gerais atuais:


Alta capacidade de gestão (a estrutura corporativa é plana e ágil; a administração geral tem uma
estrutura de governança corporativa totalmente desenvolvida com um C-Suíte completo: CEO,
CFO, COO, CTO, CMO; liderança, planejamento e controle são evidentes; sofisticado ERM sustenta
o MIS e suporta a tomada de decisões gerenciais, sistemas funcionais são todos baseados em TI e
integrados ao ERM, existem vínculos operacionais internos e são apoiados pelo ERM, conhecimento
profundo do mercado existe, o conceito de marketing é claro e apoiado por promoção e vendas
com pessoal dedicado; ligações entre planejamento e organização são feitas; gestão financeira é
evidente e inclui emparelhamento / correspondência de diferentes fontes de fundos para diferentes
linhas de negócios; sistema de controle de estoque é sofisticado e opera em tempo real; RH atrai,
qualifica e retém talentos).
Por área funcional:
- As áreas funcionais são todas claramente definidas e apoiadas e contam com RH qualificado.

- Políticas de desenvolvimento de RH estão definidas e em vigor.

- As áreas funcionais são todas integradas no sistema ERM modular da empresa.

- Estrutura organizacional é relativamente plana; a gestão é 100% profissionalizada.


Desafios ou obstáculos:
- As empresas estão sujeitas a contrações macroeconômicas como qualquer outra.

- O negócio é caracterizado por margens pequenas, colocando o sistema de controle de estoque


no centro do ERM da empresa. Os sistemas exigem manutenção constante e atualização frequente
para acompanhar as exigências do mercado.

- Os custos de transporte doméstico são altos e continuam sendo um desafio.

- Margens: a falta de uma diferença entre os preços de atacado e varejo, da maioria dos produtos
agrícolas produzidos em pequena escala a nível nacional, continua a ser um desafio para alcançar
escala e, consequentemente, preservar ingressos.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 145
Empresas pioneiras consolidadas

Níveis gerais atuais:


Alto nível de capacidade de gestão geral, muitas vezes concentrado no proprietário; muitas vezes
sob incessante gestão de crises. Diretrizes operacionais, fluxos de processos, procedimentos inter-
nos, descrições de cargos e outros instrumentos de gerenciamento são documentados e estão em
vigor; divisão em áreas funcionais básicas; funções de gestão geral e responsabilidades foram dele-
gadas / especialização de gestão intermédia existe; atividades principais são complementadas com
empreendimentos paralelos para distribuir o risco; o talento de recursos humanos é identificado,
atraído e retido de forma sistemática, o que inclui treinamento interno e desenvolvimento definido
da carreira; evidência de desenvolvimento profissional dentro da organização para apoiar a espe-
cialização funcional; capacidade de traduzir ideias para a prática; o grau de inovação de processos
é alto; evidência de prototipagem repetida, desenvolvimento de processo e produto até o mercado;
evidência de desenvolvimento de mercado; reconhecimento dos requisitos de sucessão da admi-
nistração).
Por área funcional:
- As capacidades de gestão nas diferentes áreas funcionais (gestão geral, pesquisa e desenvolvimen-
to, operações, gestão financeira, contabilidade, treinamento e extensão, vendas e marketing) são
desenvolvidas e trabalhadas de maneira sistemática e planejada.

- As áreas funcionais individuais são controladas de maneira eficaz e não exigem a presença do fun-
dador / proprietário para manter as operações em andamento.
Desafios ou obstáculos:
- Os funcionários muitas vezes não têm uma compreensão sistêmica dos negócios, limitando sua
compreensão de seu papel e contribuindo para sobrecarregar o gerente geral.

- Sistemas de ITC e MIS funcionais, mas ainda rudimentares, com margem para um maior desenvol-
vimento para ganhos de eficiência via operações, bem como a capacidade de resposta ao merca-
do.

- Concentração no mercado interno não aproveita condições de exportação potencialmente favo-


ráveis (taxa de câmbio); a inteligência de mercado para exportação não é prontamente procurada.

- A demanda do mercado por rastreabilidade é uma restrição quando não está implementada; tam-
bém é uma oportunidade para agregar valor ao produto através das histórias que a rastreabilidade
documenta.

- A falta de diferença entre os preços do atacado e do varejo para a maioria dos produtos agrícolas
produzidos em pequena escala nacional continua sendo um desafio para alcançar escala e pre-
servar os ingressos.

- Os custos de transporte doméstico são altos e continuam sendo um desafio.

PME
146 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Empresas empreendedoras dinâmicas

Níveis gerais atuais:


Alto nível de capacidade de gestão (evidência de planejamento estratégico; clareza e articulação do
conceito de negócio; evidência do conceito de marketing desenvolvido; uso de técnicas diversifica-
das de gerenciamento de fluxo de caixa; pronta identificação dos requisitos de desenvolvimento de
RH) é de natureza empreendedora e concentrada apenas no proprietário; as capacidades de gestão
descentralizadas são mais baixas e requerem maior desenvolvimento, como formação em vendas,
marketing e comunicações; precisam de melhores sistemas de gerenciamento de estoque e treina-
mento nos mesmos; sistemas de compras e treinamento nos mesmos.
Por área funcional:
A equipe de funcionários é dividida funcionalmente (administração, contabilidade, compras, opera-
ções), embora as funções ainda precisem se sobrepor para manter os fluxos internos.
Desafios ou obstáculos:
- Os MIS, incluindo gerenciamento financeiro, geralmente são todos baseados em XL e exigirão
atualizações à medida que os volumes de data e a complexidade da manipulação da mesma au-
mentam; será necessária assistência externa especializada para apoiar a definição e implementa-
ção de soluções de TIC.

- A rastreabilidade é uma exigência do mercado e os procedimentos de fluxo de informações ainda


precisam ser desenvolvidos. Isso é especialmente válido para alcançar segmentos Premium.

- O desenvolvimento contínuo da estrutura organizacional preferentemente não ficaria para depois


do crescimento do negocio; mas isto requereria investimento adicional e/ou aumento do capital
de trabalho.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 147
Startups comerciais de modelos inclusivos

Níveis gerais atuais:


- Médio nível de capacidade de gestão geral instalada (recursos humanos funcionais especializados
requerem desenvolvimento; protótipos, desenvolvimento de produtos e processos são incipien-
tes; desenvolvimento de mercado ainda não internalizado; gerenciamento de operações requer
refinamento contínuo; gerenciamento financeiro não independente).

- Fundador (alta capacidade de gestão: qualidades empreendedoras, pioneiras e visionárias; capa-


cidade de lidar com crises; capacidade de identificar e capturar oportunidades; desenvolvimento
de gestão de riscos) se esforça ativamente para organizar e desenvolver as capacidades de gestão
profissional das empresas.

- A capacidade de gestão instalada é relativamente baixa em relação aos requisitos impostos pelo
mercado, como por exemplo certificações (orgânica, SMETA-SEDEX). Existem necessidades para o
desenvolvimento contínuo e melhorias no layout da planta e nos fluxos de produção, manuseio
de materiais, segurança ocupacional, estocagem de resíduos e outras áreas.
Por área funcional:
- As áreas funcionais estão sendo desenvolvidas e atualmente se sobrepõem.

- Operações, administração e gestão comercial são profissionalizadas, mas atualmente concentra-


das em um único indivíduo.

- Capacidade de gestão financeira profissionalizada a ser desenvolvida.

- Perícia técnico-operacional existe dentro da empresa a nível de supervisão.


Desafios ou obstáculos:
- A sofisticação da capacidade gerencial geral é frequentemente concentrada no fundador. No en-
tanto, sua mentoria (tutoria) remota poderia apoiar e contribuir para a consolidação gerencial
eficaz, uma vez que um gerente geral contratado esteja no lugar.

- A pouca disponibilidade de talentos de gestão e, portanto, a identificação e atração / desenvolvi-


mento / retenção é um desafio.

PME
148 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Startups com modelos de negócios inclusivos e raízes em ONGs

Níveis gerais atuais:


Capacidade de gerenciamento geral médio-alto (capacidade de levar ideias à prática; evidência
de prototipação; evidência de desenvolvimento profissional dentro da organização; divisão em
áreas funcionais básicas; sistemas são rudimentares mas adequados e parecem funcionar; plena
compreensão do modelo de negócios é evidente; alto grau de resiliência de gestão é evidente, com
base nos desafios enfrentados, capacidade de gerenciar sob circunstâncias complexas e ambiente
frequentemente mudando; evidência de decisões de gestão oportuna tomada sob restrições de in-
formação incompleta; gerenciamento identifica e persegue oportunidades de desenvolvimento de
negócios ativamente; capacidade de gestão pode estar concentrada no gestor fundador, em quanto
a gestão delegada pode ser concentrada no gerente, o que pode criar desequilíbrios).
Por área funcional:
- A capacidade de gestão estratégica, incluindo planejamento, está concentrada no fundador / pro-
prietário.
- A liderança está concentrada no fundador / proprietário, assim como a gestão financeira.
- A contabilidade administrativa e financeira é delegada e é eficaz.
- A gestão operacional com algum grau de controle é delegada e é eficaz.
- Nem todas as funções ou linhas de negócios possuem gerenciamento em tempo integral (sazo-
nalidade).
Desafios ou obstáculos:
- As restrições enfrentadas são muitas, mas talvez a mais importante em termos de capacidade de
gestão seja a necessidade de mudança da mentalidade dos pequenos agroempresarios, para des-
pertar características mais empreendedoras.
- O apoio ao agricultor em pequena escala através de treinamentos multiplicados e enfoque na
consciência empresarial continua sendo uma obrigação; os agregadores MSME continuam a de-
sempenhar um papel fundamental nesse aspecto, mas é compreendido que tenham capacidades
de gestão rudimentares.
- A falta duma plataforma ancorada num banco de dados requer um alto grau de manipulação ma-
nual de dados, o que por sua vez, não permite a disponibilidade oportuna de informações para fins
de gestão, controle e geração de relatórios.
- Uma graduação dos sistemas baseados em XL para um sistema de informação gerencial baseado
em ITC mais robusto será necessária no futuro próximo, mas a equipe ainda não possui as habili-
dades de TI necessárias para essa implementação.
- A mentalidade e as práticas de gestão estritamente comerciais e orientadas para o mercado podem
precisar ser fortalecidas ou reforçadas.
- O modelo de negócio inclusivo empregado está sendo limitado pela falta de disponibilidade de
financiamento para os clientes / fornecedores MPMEs, especialmente para a aquisição de insumos.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 149
Startup de organização associativa de agricultores / cooperativa
Níveis gerais atuais:
Baixo. A capacidade de gestão é muitas vezes concentrada em um único indivíduo que também é o
principal promotor ou impulsionador da iniciativa.

Por área funcional:

Ainda não existente; apenas em papel.


Desafios ou obstáculos:
Expostos a todas os desafios e riscos inerentes a órgãos associativos nascentes, inclusive as coope-
rativas agrícolas.

3. Conclusões: demanda por apoio em capacidade de gestão


Moçambique ainda não possui uma massa crítica de prestadores de serviços de desenvolvimento de
negócios nas províncias, a partir dos quais se poderia criar um pool de mentores de BDS prontamente
qualificáveis que pudessem atender às PMEs clientes. Aqueles que existem estão concentrados na
área da Grande Maputo e são muito heterogêneos em suas origens, tipos de experiência e níveis de
treinamento. Muitos estão vinculados a projetos financiados por doadores, direta ou indiretamente.

Estas limitações do lado da oferta provincial, sendo uma escassez de um conjunto de formadores
qualificáveis mais uma escassez de organizações de serviços de desenvolvimento de negócios a nível
médio, podem ser explicadas, em parte, pela falta de uma verdadeira população de PMEs elegíveis que
impulsionaria a demanda por tais serviços.

Ainda que existem definições formais, o termo “PME” é frequentemente usado de forma muito solta,
quando seria mais correto falar sobre MEs (microempresas) e ainda não sobre as MPMEs. O termo
MPMEs inclui a microempresa, mas também faz alusão a pequenas e médias empresas e estas já im-
plicam um certo grau de sofisticação no sentido da alfabetização de negócios6 e formalização - que
a maioria das microempresas simplesmente não possuem. E quando os pequenos agricultores são
incluídos na nomenclatura dos MSME, isso se torna ainda mais acentuado7.

Estas condições estruturais nas províncias não vão mudar a curto prazo nem presumivelmente a médio
prazo, influenciadas por défices de gestão no sector público e em parte também devido ao ingrediente
de cooperação internacional para o desenvolvimento que faz parte do panorama em Moçambique.

A conclusão saliente a respeito desta investigação é que a população de “verdadeiras” PME de Mo-
çambique (no sentido de PMEs elegíveis8: formalizada, pelo menos uma dúzia de empregados, em
atividade produtiva há mais de três anos, declaradora de imposto de renda, alfabetizada, financeira-
mente alfabetizada, alfabetizada em TI, e em rede) está concentrada em Maputo e nas províncias está
abaixo do tamanho da massa crítica necessária. Pelo menos, uma população de PMEs agrícolas sufi-
cientemente desenvolvida, suficientemente grande e concentrada dentro das províncias, para apoiar

6 Refere-se a “business literacy”


7 Pesquisas mostram que empreendedores individuais representam 93% do todas empresas, em quanto microempresas (1 a 4
funcionários) totalizam 6.6% e pequenas empresas (5 a 49 funcionários) são 0,7%. Somente 0.02% de empresas são medias,
empregando de 50 a 100 funcionários. Pelo PNUD em: African Economic Outlook AfDB, OECD, UNDP 2016.
Desses 93% de empreendedores individuais, cerca de 80% é informal. A maioria ou são agricultores ou são comerciantes
informais, tais como as mamanas “que vendem MT 50 num dia para levar MT 10 para casa”. Ragenda de Souza, Vice Ministro
de Industria e Comercio, em AIM Moçambique, 21 de julho de 2017.
“Aumentando a produtividade da agricultura é indispensável.” Sam Jones, Prof. Adjunto da Universidade de Copenhague,
blog do Banco Mundial, 24.05.2016.
8 Elegíveis para formatos de BDS clássico.

PME
150 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
a introdução de produtos e serviços “clássicos” de BDS, em quais as PMEs pagam por uma boa parte
dos serviços recebidos.

A constatação é que, dada a realidade das condições-quadro de Moçambique, as medidas de apoio


à capacidade de gestão precisam de atender àqueles que precisam e que as querem. Isso implica em
um upstreaming (a montante) em direção às verdadeiras pequenas empresas e agro-empreendedores
MPMEs com ferramentas e abordagens que são apropriadas para eles. Adquirindo uma compreensão
sistêmica de negócios pode apalancar as praticas e os conhecimentos técnicos transferidas pela ex-
tensão agrícola, e juntos melhor aumentar a produtividade do pequeno produtor e do agregador co-
merciante agrícola. No entanto, a maioria dos requisitos de elegibilidade dos produtos BDS tradicionais
excluiriam a maioria das pequenas agro-PMEs e agro-MPMEs nas províncias.

É preciso também considerar a disposição das empresas em atender ou satisfazer as necessidades


de afinar capacidade de gestão com produtos, ferramentas ou abordagens provenientes do mercado
aberto, da cooperação para o desenvolvimento, ou não adquiridas. Se uma empresa prefere não sa-
tisfazer suas necessidades por meio da cooperação, essa é obviamente uma decisão a ser respeitada.
Nesses casos essas PMEs ou MPMEs não deveriam ser contabilizados como parte do conjunto ime-
diato de empresas-alvo.

Em conclusão, todas as empresas ao longo deste espectro taxonômico têm requisitos de desenvolvi-
mento de capacidades de gerenciamento. Elas diferem de necessidades altamente específicas, muito
especializadas e temporais para as empresas em relação à esquerda, para serem mais gerais, básicas e
amplas para as empresas voltadas para o lado direito.

Cada empresa requer uma atenção caso a caso, mas isso não significa que ferramentas e abordagens
não possam ser compartilhadas ou escalonadas. Ao contrário, as sinergias devem ser exploradas, e
os custos iniciais de adaptação de novas ferramentas e abordagens devem ser amortizados sobre um
número maior de empresas parceiras, durante o engajamento da cooperação. As ferramentas e abor-
dagens que já foram testadas e que funcionam em Moçambique devem continuar a serem utilizadas
e amortizadas, ajustando o sequenciamento quando necessário.

Do ponto de vista das empresas: As abordagens estratégicas recomendadas para trabalhar com os
diferentes tipos de empresa de acordo com suas necessidades de apoio à capacidade de gestão são
resumidas no quadro abaixo:

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 151
apoio à capacidade de gestão recomendado por tipo de empresa

O foco no fortalecimento da gestão de pequenas agro-PMEs e MPMEs por via do aumento da com-
preensão sistêmica de negócios cria um alicerço sólido para melhorar a gestão das empresas nas
províncias e é uma importante contribuição para Moçambique neste momento.

PME
152 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Referências
Banco de dados ODAMOZ (estadísticas doadores/Moçambique para pesquisas):

http://www.odamoz.org.mz/reports/custom/new Modelos de negocio inclusivos:

http://seasofchange.net/wp/wp-content/uploads/2017/04/2Theme_IBModels_corr2.pdf

http://www.fao.org/3/a-i5068e.pdf

http://www.fao.org/family-farming/detail/en/c/308859/

Cadeias de valor:

https://www.marketlinks.org/search?criteria=Mozambique

h t t p s : / / w w w. i fc .o rg / w p s / wc m / c o n n e c t / f 63 3 f f 80 4 b 5 f 0 5 a d b c 3 a fd 08 b c 5 4 e 20 b / G A F S P _
CountryDiagnostic_MOSAMBIQUE_Full_rev.pdf?MOD=AJPERES

https://cgspace.cgiar.org/handle/10568/49606

Definições MPMEs, informalidade e produtividade:

https://www.undp.org/content/dam/mozambique/docs/Poverty/Mozambique_Africa_Economic_
Outlook%20_%20Mozambique%202016.pdf

https://clubofmozambique.com/news/more-than-7-million-economic-agents-in-mozambique-are-
informal/

https://blogs.worldbank.org/jobs/growth-not-enough-mozambique-s-informal-workers

https://data.worldbank.org/topic/private-sector?locations=MZ

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 153
7.2 Indústria
Temas
criativa: CREATEC
Selecionadas - uma iniciativa
inovadora para
Moçambique
Capítulo 7
Friedrich Kaufmann, AHK e
Konstanze Kampfer, CCMA

“Há muito trabalho, mas pouco emprego”, jovens moçambicanos enfrentam o dilema do combater
com o alto nível de desemprego em Moçambique. Entre uma população de 28 Mio. Moçambicanos e
uma camada activa de ca. 15 Mio., encontramos só 1. Mio. postos de emprego formal com não muito
mais de 50.000 empresas.

Por outro lado, mais de 500.000 jovens (Banco Mundial 2018) cada ano entram no mercado laboral
ou, melhor dito, querem entrar e dificilmente encontram um emprego decente. Uma solução e o auto
-emprego, o empreendedorismo na Industria Criativa, uma indústria que contribui em particular para
a ocupação da juventude. CREATEC e uma tentativa de contribuir para a inclusão de jovens talentos
no mercado de trabalho.

1.) “Creative Industry”

- gere quanto 3 % do BIP global e emprega 1 % ou seja 29,5 milhões postos de emprego e por isto esta
sendo considerado como factor económico central.

- pode gerir ate quanto % no nível nacional e assim contribuir para X postos de emprego

- a relevância da Industria Criativa para Africa

2.) O objectivo do CREATEC e os seus conductores

O objectivo é de inspirar e motivar jovens talentos para validar as suas ideias de negócio e leva-las
até o start-up.

A visão e de criar um income para jovens criativos.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 155
Figura 1: a marca crEatEc é o elemento fundamental para as relações públicas

CREATEC é um projecto piloto que procura caminhos para motivar jovens criativos de se formar em
empreendedorismo. Isto porque a maioria dos jovens conhece bem a sua arte, mas não tem conheci-
mento sobre o funcionamento do mercado.

O projecto é financiado pela Agencia da cooperação Internacional (GIZ ExperTS) e implementado pelo
Gabinete do Fomento Económico (AHK) junto com o Centro Cultural Moçambicano Alemão (Goethe).
O Centro Cultural Moçambicano Alemão é uma instituição que dá espaço aos jovens criativos de se
expressarem e apresentarem os seus projectos e constitui um lugar fundamental para a cooperação
cultural entre Alemanha e Moçambique. A experiencia que o Centro tem em trabalhar com jovens ar-
tistas mostrou que Moçambique tem talentos muitos grandes. Eles apresentam o seu talento no ramo
da arte contemporânea, na poesia e literatura, produção de filmes, na música, na fotografia, no teatro
ou dança, mas a maioria tem uma dificuldade em comum. O dilema que os artistas enfrentam é de
não conseguirem entrar no mercado para gerir uma receita suficiente de sustentar a sua carreira. Ou
seja, ao mesmo tempo que o criativo está a produzir a sua arte, muitas vezes não tem a capacidade
de vender a mesma, estudar o mercado, colocar preço, procurar os clientes, fazer parcerias, etc. Diz-se
que “cultura é a base da sociedade”, mas infelizmente os jovens muitas vezes enfrentam uma falta da
sustentabilidade na indústria criativa. É neste contexto que o projecto foi desenhado para dar resposta
a isto tendo como objectivo fomentar o empreendedorismo e a criação de start-ups inovadores e
sustentáveis na indústria criativo.

O Gabinete para Fomento Económico (AHK) acompanha o projecto a criar ângulos no mercado
apoiando o cruzamento do projecto com empresários e constituí um pilar fundamental para o pro-
jecto fornecendo uma experiência vasta no desenho de projectos inovadores. A intuição pretende de
criar oportunidades para que haja encontros e sinergias entre os criadores e os seus clientes. O CCMA,
AHK e a Embaixada da República de Alemanha estabelecem contactos com a expectativa de conseguir
mais empresa com interesse de participar no projecto.

2) a abordagem do piloto inovador em duas fases

A inovação do CREATEC é que combina criatividade e tecnologia digital, e cria oportunidade os jo-
vens talentos para juntar as suas ideias com desenvolveres de soluções digital para sua arte e negócio
com quais desejam entrar ao mercado. Tem dois elementos inovadores quais são a abordagem de
juntar ITs aos artistas e a organização do projecto em curtas fases de formação que permitem uma
avaliação continua e a flexibilidade de adaptação do curso do projecto baseado nas experiencias da
primeira fase. Na primeira fase do projecto foi realizado em apenas 3 meses o lançamento, um “boot-
camp” e “hackathon”, trabalho em grupos, “coaching” dos mesmos e um “pitch” dos resultados (figura
2 abaixo). O desenho da fase basou-se numa troca de experiencia com o CREATIVE HUB do Instituto
GOETHE em Joanesburgo, África de Sul, e com a empresa MAPAL C-Com em Aalen, Alemanha. Parte
integral e fundamental é o Bootcamp e Hackathon realizado no início do projecto com talentos pré-
selecionados. Os temas para abordar o empreendedorismo em geral, a venda de productos digitais e
a transformação de ideias para um negócio. Uma metodologia conhecida para tal transformação é o
Design Thinking. Apos três semanas de trabalho em grupos há mais duas sessões de coaching para

PME
156 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
a preparação dos participantes ao pitch dos protótipos desenvolvidos para um júri de empresários e
  empreendedores culturais.
 

 
Lancamento  
  Bootcamp  
e  selecao  dos  
CREATEC   1  mes  
  talentos   (3  dias)  
Fase  II  
 

  Coaching  
Pitch  II  
 

 
6  meses   Pitch  I  
  Master-­‐
CREATEC  
classes    
  Fase  I  
 

  Figura 2: Processo

Com suporte do GIZ ExperTS a iniciativa conta com uma segunda fase, em que os maiores talentos do
Figura  2:    
CREATEC 1 receberão Master-classes seguindo o Business Modell Canvas. Este ensino e de alta rele-
vância desde que os estudos de Business Foundation não fazem parte dos estudos regulares das artis-
Com  suporte  do  GIZ  ExperTS  a  iniciativa  conta  com  uma  segunda  fase,  em  que  os  maiores  talentos  do  
tas e ITs, desde que tinham feitos estes estudos particulares. Num final Pitch, após 6 meses, comuni-
CREATEC   resultadosMaster-­‐classes  
carem1  osreceberão   para uma audiência   seguindo   o   Business  
constituído Modell   Canvas.  
por empresários e outrosEste   ensino  
possíveis e   de   alta  
financiadores.
relevância   desde   que   os   estudos   de   Business   Foundation   não   fazem   parte   dos   estudos   regulares   das  
3) Os
artistas   e   criativos
ITs,   desde   talentos no CREATEC
que   tinham   feitos   estes   estudos   particulares.   Num   final   Pitch,   após   6   meses,  
comunicarem   os   resultados  
Apresentou se o projecto inovador para   uma  
emaudiência   constituído  
que foi trazido por   empresários  
a tecnologia para o mundo e  artístico,
outros   possíveis  
trabalhan-
financiadores.  
do com empreendedores   culturais e especialistas da área de tecnologia. Dos 143 candidatos, foram
selecionados 25 artistas e 26 ITs dos quais participam na iniciativa 36 jovens, entre 18 e 36 anos. Os
  canais da publicidade eram posters em pontos chaves de cultura, introdução na agenda cultural do
CCMA
3)  Os   (impressos
criativos   talentos  endistribuídos
o  CREATEC   1200 exemplares), foram feitos anúncios na média social (whatsapp
e facebook), distribuídos via email do CCMA, Ideialab e MOZDEVZ network, anunciado o projecto no
Apresentou  se  o  projecto  inovador  em  que  foi  trazido  a  tecnologia  para  o  mundo  artístico,  trabalhando  
Radio de Moçambique e nos jornais Canal de Moçambique e Jornal de Notícias. As artistas foram se-
com  lecionadas pelo CCMA
empreendedores   e os ITs
culturais   e   via MOZDEVZ,da  
especialistas   umárea  
parceiro crucial da iniciativa.
de   tecnologia.   Dos   143   candidatos,   foram  
selecionados   25   artistas   e   26   ITs   dos   quais   participam   na   iniciativa   36   jovens,   entre   18   e   36   anos.   Os  
canais   da   publicidade   eram   posters   em   pontos   chaves   de   cultura,   introdução   na   agenda   cultural   do  
4) Os resultados da primeira fase
CCMA  (impressos  e  distribuídos  1200  exemplares),  foram  feitos  anúncios  na  média  social  (whatsapp  e  
facebook),  
Foram dapresentados
istribuídos  via   email  
sete do  CCMA,  
protótipos Ideialab  
digitais parae  M
umOZDEVZ  
júri denempresários
etwork,  anunciado   o  projecto  no  culturais
e empreendedores Radio  
no fim da primeira fase do projecto. Os protótipos presentem formatos digitais que procuram
de  Moçambique  e  nos  jornais  Canal  de  Moçambique  e  Jornal  de  Notícias.  As  artistas  foram  selecionadas   respon-
der as necessidades existentes no mercado e tem como objectivo principal de gerir um rendimento.
pelo  CCMA  e  os  ITs  via  MOZDEVZ,  um  parceiro  crucial  da  iniciativa.    
Apresenta-se o portfolio dos produtos:
 
4)  Os  resultados  da  primeira  fase  

  3   PME
 
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 157
maLambE

Malambe é uma plataforma Web onde os utilizadores poderão ter acesso a


músicas 100% moçambicanas e os músicos por sua vez poderão divulgar as
suas músicas. Adicionalmente, os utilizadores poderão ter conteúdo perso-
nalizado, em formatos diversificados (áudio, vídeo) e poderão gerar os seus
próprios conteúdos. Os músicos poderão ganhar um rendimento susten-
tável através da divulgação das suas músicas, combater a pirataria, ganhar
reconhecimento e muito mais.

marquIZ

MarQuiz é um jogo de banda desenhada interactiva, volta-


da para uma camada infantil dos seus 8 a 12 anos de ida-
de. O jogo tem como objectivo a evolução literária in-
fantil assim como inversão entre os pais e filhos, como
alternativa a entregar os telemóveis aos filhos para verem
vídeos sem conteúdo educativo. O jogo tem uma in-
terface idêntica às bandas desenhadas e os jogado-
res terão de seguir as histórias e dar destino às personagens. Mais tarde MarQuiz irá abor-
dar também novas áreas tais como eventos infantis, maratonas narrativas e programas de
televisão.

YourartE

A YourArt é um estúdio virtual onde cantores, poetas, compositores e


produtores musicais, entre outros amantes da arte da música, poderão
trocar experiências e comprar trabalhos uns dos outros. Ex: um cantor
pode comprar uma letra de um compositor e um instrumental de um
produtor.

artLIst

A ArtList é um “hub” de músicos (cantores, produtores e compositores) que con-


siste numa plataforma de venda de música, instrumentais e composições mu-
sicais online. Visa combater a pirataria musical e promover a interação entre os
artistas tornando sua arte sustentável.

dEZaInE app

Dezaine é uma aplicação móvel para publicação, leitura, interação


e partilha de conteúdos sobre design e comunicação, baseada em
Moçambique.
 

PME
158 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
cuLartE

CulArte é uma aplicação móvel para artistas e pessoas genuinamente


curiosas sobre o mundo artístico. Ao artista, CulArte oferece um meio
seguro para publicação e venda dos seus produtos. Aos clientes, oferece
uma vasta gama de categorias de arte do seu país.

editora 3009

A Editora Trinta Zero Nove tem como objectivo principal a criação de uma
geração de leitores globais e actuais, oferecendo narrativas premiadas em
todo o mundo, traduzidas e narradas para uma conveniência de leitura, com
a preocupação pela igualdade de género e acessibilidade para cegos e anal-
fabetos.

“Lessons learnt”

Um resultado desta fase piloto era que muitos jovens têm talento e boas ideias, mas ainda falta o
acompanhamento para um conceito economicamente viável e sustentável. Algumas ideias eram pou-
co realísticas, ou seja, faltou uma análise profundo do mercado.

Um resultado desta fase piloto era que muitos jovens têm talento e boas ideias, mas ainda falta o
acompanhamento para um conceito economicamente viável e sustentável. Algumas ideias eram pou-
co realísticas, ou seja, faltou uma análise profundo do mercado.

Uma segunda observação – pouco surpreendente – e a falta de financiamento (veja artigo XX). Um
start-up sempre tem um risco alto e exige capital de risco. Mas este mercado de capital de risco ainda
não esta bem desenvolvido em Moçambique. Uma solução poderia ser facilitar o contacto entre os
jovens/projectos e os “business angels” que poderiam não só financiar uma parte mas também acom-
panhar um start -up com sua experiencia e seus conhecimentos.

Demonstrou-se também uma participação fraca de mulheres na iniciativa, uma lacuna que tem de ser
analisado para dar oportunidades iguais as jovens.

Referências
Banco Mundial (2018). Lachler, U., Walker, I. “Jobs Diagnostic Mozambique”. Banco Mundial: Washington
DC.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 159
7.3. O emergir de
Temas
um ecossistema
Selecionadas empreendedor
em Moçambique:
a experiência da
Capítulo 7 ideiaLab

Co-autoria da equipa ideiaLab


Introdução

O empreendedorismo está inquestionavelmente em crescimento, globalmente e em Moçambique. É


uma tendência actual, em que são muitos aqueles que querem empreender ou estar activos no ecos-
sistema empreendedor.

Para além de uma tendência, o empreendedorismo é também um estilo de vida. É um modo de estar
que leva a que um empreendedor torne a sua ideia em realidade, usando da sua criatividade e poder
de inovação para identificar oportunidades e, com os recursos de que dispõe, materializá-las em algo
tangível. Os empreendedores são agentes activos na resolução de desafios da sociedade onde se in-
serem, impulsionando mudanças e procurando soluções para problemas reais.

Para a ideiaLab os empreendedores encontram-se no centro do ecossistema empreendedor. Operam


dentro de um contexto local que impacta a sua habilidade para começar, manter e crescer negócios
que proporcionam um retorno para as suas comunidades, sociedade e economia nacional. Este con-
texto local é composto por elementos como o enquadramento político que viabiliza a existência de
actividades empreendedoras, o acesso a financiamento e a mercados, uma cultura favorável e um
mercado incentivador ao empreendedorismo, a existência de capital humano capacitado e outros
mecanismos de suporte ao empreendedorismo. Também requer um elevado esforço de alinhamento
e colaboração entre as diversas iniciativas e actores que desempenham um papel em proporcionar
um ambiente que potencie o empreendedorismo. É a este ambiente favorável (e a tudo aquilo que o
compõe) que nos referimos quando discutimos ecossistemas empreendedores.

Acreditamos no potencial do empreendedorismo e da inovação, enquanto motor para o crescimento


e desenvolvimento inclusivo de Moçambique, igualmente reforçado pelo Banco Mundial (2019) que
reconhece estes factores como aspectos chave de economias dinâmicas e competitivas. No contexto
específico de Moçambique, que se encontra a passar por uma transição demográfica, com uma força
laboral maior que as oportunidades de emprego formal, o desafio é transformar estes eventos em
oportunidades económicas. O auto-emprego e o empreendedorismo revelam-se alternativas urgen-
tes para o desenvolvimento socioeconómico inclusivo do país.

O propósito deste artigo é expor, a partir da nossa experiência (enquanto catalisadores do ecossiste-
ma empreendedor), o estado actual dos desenvolvimentos emergentes e necessidades contínuas do
ecossistema empreendedor local em Maputo. A par da nossa experiência, suportamo-nos de modelos
e frameworks de diversos especialistas, alguns dos quais exploramos neste artigo. Este artigo desti-

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 161
na-se a agentes que, não se encontrando directamente envolvidos no ecossistema empreendedor,
pretendem compreender os fundamentos do empreendedorismo e a sua importância para o desen-
volvimento socioeconómico inclusivo do País. Verificamos que o ecossistema empreendedor actual é
ainda se encontra fragmentado, pelo que uma melhor compreensão da sua envolvente e maior sen-
sibilização para o desenvolvimento de um ecossistema empreendedor permitirá melhorar e propor-
cionar um ambiente que potencie o surgimento de novos empreendedores e que permita que os seus
negócios sobrevivam e cresçam, até gerarem um retorno efectivo para a sociedade, com a criação de
novos empregos, geração de riqueza e resolução de problemas reais.

Sobre a ideiaLab

Somos uma organização de apoio ao empreendedorismo (entrepreneurship support organization -


ESO), presentes no ecossistema local desde 2010. A ideiaLab tornou-se gradualmente numa referência
para o desenvolvimento do empreendedorismo em Moçambique, e além-fronteiras, com o propósito
de inspirar empreendedores, apoiar o desenvolvimento de startups e acelerar o crescimento de MP-
MEs. A nossa visão e o sonho dum país empreendedor começam com o apoio aos empreendedores e
aos seus negócios, enquanto agentes chave para o desenvolvimento socioeconómico inclusivo.

Apoiamos os empreendedores através de formação, aconselhamento, mentoria, acesso a mercados,


a finanças, a recursos e a outras ferramentas. Ao longo dos anos, formamos mais de 2880 pessoas,
apoiamos mais de 630 negócios, e construímos uma comunidade com mais de 14000 seguidores.
Existem diversos factores que influenciam o sucesso de um empreendedor e do seu negócio e as suas
necessidades de apoio são diferentes à medida que se desloca ao longo da “jornada empreendedora”.
Esta jornada, dividida em três fases, descreve a trajectória de desenvolvimento do empreendedor, que
é amplamente impactada pelo ecossistema onde se insere e sua capacidade em possibilitar o seu
crescimento. Descrevemos estas três fases:

1. Estimular: Inspiramos, sobretudo os jovens, a darem o primeiro passo para fazerem a dife-
rença. Mostramos que o empreendedorismo pode ser um caminho a seguir, bem como uma
forma de criar um impacto positivo na sociedade.
2. Activar: Guiamos os empreendedores desde a concepção à consolidação do negócio. Parti-
lhamos ferramentas e transmitimos as competências que os empreendedores precisam para
lançarem startups inovadoras e sustentáveis.
3. Acelerar: Desafiamos os empreendedores a levarem os seus negócios para o nível seguinte.
Fortalecemos a capacidade do empreendedor de acelerar o crescimento da sua startup ou
MPME de forma sustentável e inovadora.
Para cada uma dessas fases existem programas distintos, desenhados para públicos também distintos.
Cada programa tem critérios de selecção diferentes. Por exemplo, para a fase de ‘inspirar’ temos acti-
vidades mais abertas – um primeiro contacto com o mundo de empreendedorismo – que consistem
em eventos, palestras e workshops de ideação. Na fase de ‘activar’ implementamos programas como
o Orange Corners, para jovens dos 18 aos 35 anos, recém-graduados ou nos últimos anos da univer-
sidade, com uma ideia sólida, e com o desejo de materializá-la num projecto/negócio. Finalmente na
fase de ‘acelerar’, temos programas de aceleração como o Femtech, exclusivo para mulheres que já
têm um negócio. Estes programas e actividades têm sido parte do panorama do empreendedorismo e
proporcionam alguns exemplos do tipo de intervenções que contribuem para impulsionar um ecos-
sistema local.

Focamo-nos no centro do ecossistema empreendedor, isto é, no empreendedor, e esforçamo-nos em


explorar formas de desenvolver um ecossistema favorável para este agente. Se as atitudes, capacidades
e aspirações do empreendedor são condições críticas para o seu desenvolvimento, o grau com que
MPMEs são capazes de atingir o seu potencial é condicionado por um conjunto alargado de factores
relativos ao contexto onde se inserem, tais como: políticas, inovação, pesquisa e desenvolvimento,
educação, infra-estrutura, sector financeiro e corporativo (GEDI, 2018). Assim, são a estes aspectos
que teremos de dedicar tempo e atenção se quisermos transformar a produtividade de indivíduos

PME
162 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
empreendedores em capacidade real da economia em criar postos de trabalho e riqueza para o país.

O que é um ecossistema empreendedor?

Esta secção resume diversas linhas de pensamento sobre ecossistemas empreendedores em geral.
Apresentamos dois estudos que analisam os factores base para a criação de um ambiente favorável
para os empreendedores, proporcionando-nos um melhor entendimento das características e estru-
tura necessárias para que o empreendedorismo floresça. Mais adiante neste artigo, discutimos as par-
ticularidades do empreendedorismo em Moçambique e do ecossistema empreendedor local (centra-
do em Maputo) com base na nossa experiência como actores, catalisadores e facilitadores chave do
ecossistema.

Os empreendedores não existem em ambientes isolados ou em vácuo; fazem parte de um ecossiste-


ma complexo, composto por partes, conexões, processos e o ambiente envolvente. É a este sistema
que nos referimos quando falamos de um ecossistema empreendedor que, tal como na natureza (de
onde o termo é inspirado), depende de vários componentes interligados e interdependentes.

Importa notar que os ecossistemas empreendedores são locais (neste artigo referimo-nos ao ecos-
sistema empreendedor de Maputo) muito embora possam estar ligados a outros ecossistemas, e si-
multaneamente integram, contribuem para e são impactados pelo ambiente geral. Assim, é essencial
distinguir estes diferentes níveis:

∞ Os empreendedores e os seus negócios, que existem dentro do ecossistema empreendedor


local,
∞ O macro ambiente (o ambiente macroeconómico, sociocultural e de negócio).

Figura 1: O ecossistema empreendedor distinto do macro ambiente

Claramente, o macro ambiente tem impacto no ecossistema empreendedor e vice-versa; o macro


ambiente pode suportar ou enfraquecer o empreendedorismo. Além disso, o ecossistema pode con-
tribuir para fortalecer o macro ambiente (adicionando empregos, diversificando a economia, criando
soluções para desafios sociais e estimulando inovação). A ligação entre os dois níveis é significativa.
Muitas vezes os actores ou áreas de intervenção para o desenvolvimento do ecossistema empreende-
dor são os mesmos que os do macro ambiente, mas as necessidades são diferentes.

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 163
A realidade do nosso ecossistema local está constantemente em mudança, com agentes e iniciativas a
integrar e a deixar o ecossistema. Os modelos apresentados de seguida ajudam-nos a compreender o
nosso ecossistema de forma objectiva, de modo a conseguir aferir as forças e falhas existentes. Assim,
quais são os componentes e ligações necessárias para que um ecossistema empreendedor funcione?
Para responder a esta questão baseamo-nos em dois modelos de referência: (i) o modelo do Global
Entrepreneurship Monitor (GEM), e (ii) o Isenberg’s Six Domains of Entrepreneurship (um modelo de
referência do Babson College, um instituto educacional reconhecido e focado em empreendedo-
rismo). A sua implementação a nível global, aceitação pública e a quantidade de dados empíricos e
académicos como referência, dão credibilidade a estes modelos tornando-os amplamente usados.

O modelo do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2018/9) tem uma abordagem sistémica e apre-
senta como aspecto inicial o contexto social, cultural e político que impactam tanto o enquadramento
empreendedor como o enquadramento nacional (figura 2). Ambos os enquadramentos devem asse-
gurar que existem as condições certas para possibilitar que o empreendedorismo enraíze e floresça. O
modelo realça a importância do perfil do empreendedor e dos valores da sociedade, dentre os quais
os empreendedores têm de navegar. Também enfatiza as interconexões e fluxos multidireccionais dos
processos, de uma forma muito realista, que espelha a nossa experiência de um ecossistema dinâmico
e em constante mudança.

Por fim, o modelo destaca o resultado que é possível alcançar através do estímulo de actividades em-
preendedoras: crescimento socioeconómico, em consequência da criação de empregos e geração de
valor.

Fig. 2: Modelo de Empreendedorismo - GEM 2018/2019 Global Report


(*TEA - Total early-stage Entrepreneurial Activity; SEA - Social Entrepreneurial Activity; EEA -Employee
Entrepreneurial Activity)

O modelo mais acessível e que fornece uma visão geral é o ‘Domínios do Ecossistema Empreendedor’
(Isenberg, 2011). Este modelo descreve 6 domínios propícios para empreendedorismo: mercados, po-
líticas, apoio, capital humano, finanças e cultura (figura 3). O modelo sugere que o desenvolvimento
destas seis áreas gera um impacto positivo nos empreendedores (em todas as fases da jornada em-
preendedora), contando que providencia um ambiente (o ecossistema empreendedor) que é con-
ducente para a efectivação do poder do empreendedorismo na criação de valor social e económico.

PME
164 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Figura 3 - Domínios de Ecossistema Empreendedor - Babson College

Apesar de entendermos estes componentes como facilitadores de empreendedorismo, a ausência de


um, alguns ou todos não faz com que o empreendedorismo desapareça. O modelo proporciona-nos
uma forma sistemática de pensar acerca do nosso próprio ecossistema e potenciais pontos de acesso
para o fortalecer. Em Maputo, o ecossistema local está em fase inicial, temos actores a entrarem e saí-
rem, alguma inconsistência, mas ainda assim existem empreendedores a arrancar e a gerir negócios
contra todas as probabilidades.

O Ecossistema Empreendedor Moçambicano

Empreendedorismo: tendência actual ou progresso?

Temos visto que a utilização do termo “empreendedorismo” é uma tendência actual, não só em Mo-
çambique como na maior parte do mundo. No entanto, denotamos que, em Moçambique, o em-
preendedorismo ainda não é percebido na sua totalidade e para além de se encontrar numa fase
inicial, está também fragmentado. Como consequência encontra-se incapaz de alcançar o pleno po-
tencial de contributo para o desenvolvimento socioeconómico do país.

Como é do conhecimento geral, a situação económica do país também não é actualmente das mais
favoráveis para o crescimento das startups e MPMEs e para o desenvolvimento do sector privado. Após
duas décadas de um crescimento constante de 7% do PIB de Moçambique, este reduziu para 3,8%
em 2016 e mais ainda em 2018, a uma taxa de crescimento de 3,3%. A classificação do ambiente de
negócios do país, de acordo com o “Ease of Doing Business Index”, coloca Moçambique em 2019 na

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 165
135.ª posição num total de 190 economias globais, tendo piorado significativamente desde 2014, onde
ocupava a posição de 128.º (Banco Mundial, 2018; Trading Economics, 2018). Este facto não facilita a
participação do sector privado na actividade económica do país. O mercado Moçambicano apresenta
limitações, tendo a maioria da população baixo poder de compra e cerca de metade da população
encontra-se a viver abaixo do nível da pobreza. O crescimento do PIB não se traduz na melhoria do
“Human Development Index”, continuando Moçambique a estar nos 10 piores países neste índice
(Banco Mundial, 2018).

Simultaneamente, a camada jovem continua a crescer exponencialmente, com 51,2% da população


em idade activa e uma taxa de crescimento da força de trabalho de 500 mil jovens formados por ano
(Banco Mundial, 2018). No entanto, as taxas de emprego formal permanecem estáticas e não são
capazes de responder à urgência de dar acesso aos jovens Moçambicanos a um emprego digno e
estabilidade financeira. Por este e outros motivos, Moçambique continua a ser dos países com maior
taxa de actividade no sector informal, rondando os 90%, e sendo responsável por 85% da actividade
económica total do país (ILO, 2016; INE, 2015).

Por sua vez, o capital humano mantém-se também como uma preocupação: a classificação do “Global
Talent Competitiveness Index”1 (INSEAD, 2018) que compara 125 países no nível de capacitação, atrac-
ção e retenção de talentos de cada país, coloca Moçambique como o 3º último país no ranking geral
e o pior do continente Africano no indicador de “crescer” (i.e. “como um país desenvolve o seu povo,
por exemplo, através de um bom sistema de educação que ofereça aprendizagem ao longo da vida”).
O sistema nacional de educação apresenta-se debilitado e, embora as estatísticas tenham registado
um crescimento na participação de crianças no ensino primário e no número de escolas do ensino
secundário, a deficiência na qualidade do ensino intensifica-se, com inevitáveis consequências na
qualidade dos jovens formados no país.

As classificações em relação ao empreendedorismo também não são optimistas: o “Seedstars Index”


(SSI, 2018)2 que avalia a qualidade, maturidade e potencial dos ecossistemas de startups, posiciona
Moçambique (mais especificamente Maputo) na 61ª posição em 75 países onde a iniciativa opera,
e em penúltimo lugar dos países avaliados em África. Moçambique é classificado como tendo um
desempenho abaixo do seu nível de PIB e com uma classificação média que corresponde a metade
da classificação do líder deste índice em África – a África do Sul. No “Global Entrepreneurship Index”
(GEDI, 2018), Moçambique é também avaliado numa posição baixa – 124ª posição num total de 137
países - e conta com uma pontuação de apenas 14%, igual à de Angola e Madagáscar.

Contudo, nem tudo é negativo. Na última década constatou-se uma evolução do ecossistema em-
preendedor em Moçambique, realçando-se o facto do empreendedorismo ter sido consagrado como
uma das seis prioridades da Política da Juventude de 2013, do Governo Moçambicano.

Um ecossistema com vida, mas ainda a dar os primeiros passos

Se olharmos para a história do país nos últimos 100 anos, vivemos primeiramente um período colonial,
onde a economia era caracterizada pela exportação de matérias-primas e mais tarde o surgimento de
um sector industrial de bens de consumo e intermediários destinados ao mercado interno, mas ainda
dominado pelas autoridades coloniais. Seguidamente, dá-se a independência em 1975 e adopta-se o
chamado “regime socialista-científico”, em que os meios de produção passaram a pertencer ao estado
e este, por sua vez, passou a ocupar uma posição central na economia do país, não incentivando o
aparecimento e crescimento de iniciativas privadas nacionais. Esta situação deteriorou-se progressiva-
mente com a instabilidade política e guerra civil que assolou o país durante mais de uma década nos
anos 80. É no início dos anos 90, com o ambiente de paz e a adopção de uma estratégia de economia
de mercado, que se começa a registar a privatização de algumas empresas e indústrias; contudo, em

1 Índice de Competitividade Global de Talentos


2 O índice do Seedstars usa os seguintes fatores para avaliar um ecossistema empreendedor: mindset,
dinamismo da comunidade, infra-estrutura, instituições, talento, financiamento, treino e mentoria,
e mercado.

PME
166 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
paralelo, Moçambique também passa a depender da ajuda externa num nível muito elevado - um dos
mais elevados na África Subsaariana (IESE, 2017).

Nos finais de 90, começa a haver um desenvolvimento do sector extractivo mineral para exportação,
os primeiros sinais do que hoje conhecemos por “Mega Projectos”, e continua a crescer a conscien-
cialização sobre a necessidade de investimento no capital humano e de apoio ao sector privado,
incluindo às PMEs.

Em 2007, o governo elabora o 1º plano estratégico de desenvolvimento das MPMEs (2007-2012) que
culmina na formação do IPEME a 3 de Dezembro de 2008, não só para dar suporte às MPMEs, como
também para criar e implementar acções de promoção e dinamização destas. Em 2009, cria-se o
Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes (ISPC) com o objectivo de alargar a base tributária
a pequenos negócios. Surge também, na Universidade Eduardo Mondlane, a primeira incubadora tec-
nológica do país - o Instituto de Tecnologias de Informação e Comunicação de Moçambique (MICTI)
– e começam a multiplicar-se os esforços das ONGs para apoiar as comunidades na elaboração de
projectos de geração de renda e de criação de grupos de poupança, numa tentativa de ultrapassar a
subsistência. Começam também a proliferar os bancos e micro bancos ao longo do país.

Em 2010 surge a ideiaLab, também observantes e contribuintes para os avanços na promoção de MP-
MEs e empreendedores. O Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) aposta na promoção da inovação
tecnológica e, em 2012, aprova a criação do primeiro Parque Tecnológico do país, em Maluana. O Mi-
nistério da Indústria e Comércio cria o Prémio das 100 Melhores PMEs, em parceria com a SOICO. Em
2013, novamente o MCT, junto com a GAPI, na sua missão para implementar programas de apoio ao
sector empresarial privado, criam o primeiro concurso de ideias de negócio do país: o “Fora da Caixa”.
Este concurso nacional focou-se no sector das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e
integrou visitas a 4 províncias, onde foram capacitadas 250 pessoas sobre como modelar um negócio
e candidatar-se ao prémio. A expectativa era que se verificasse um número reduzido de candidaturas
dado o cariz digital do concurso, uma vez que as candidaturas eram online. Contudo, a expectativa
foi mais do que triplicada, com 6000 visualizações no website, 600 subscritores, 183 candidaturas, 15
ideias pré-seleccionados e 3 vencedores. Provou-se que no seio da juventude já havia um enorme
potencial de empreendedores inovadores.

A partir de 2014, assistiu-se ao aumento da visibilidade destes empreendedores e de alguns casos de


sucesso, promovidos pelo aparecimento de um crescente número de eventos e competições, nacio-
nais e internacionais na capital: a primeira edição do evento TechCamp na África Austral, denominado
“Machamba de Tecnologia – Para uma Geração Inovadora”, organizado pela Embaixada dos EUA em
parceria com a Embaixada da Suécia; a primeira edição do Seedstars Maputo, evento internacional
para promoção de startups em mercados emergentes, promovido pela UX; a MozTech, que embora
com empresas mais maduras também passou a dar espaço a jovens empreendedores para exibirem
os seus produtos e serviços; e vários hackathons e bootcamps, tais como o Startup Weekend para o
desenvolvimento de startups em 54 horas, a EcoTech para o desenvolvimento de soluções para pro-
blemas do meio ambiente, em parceria com a UX, entre muitos outros.

Começaram também a surgir algumas infra-estruturas, primeiro como espaços de coworking, que
davam a possibilidade a empreendedores e pequenos negócios com poucos recursos de terem um
espaço e serviços de escritório a um custo acessível, numa altura em que o mercado imobiliário em
Maputo se encontrava proibitivo. Entretanto, surgiram as primeiras incubadoras: o espaço de inovação
da UEM, a incubadora do Ideário, a incubadora do Standard Bank e o Orange Corners da Embaixada
da Holanda, entre outras. Ao mesmo tempo, nós vimos entidades como o International Labour Or-
ganization (ILO) e o International Finance Corporation (IFC) a apostar no suporte ao sector privado,
em necessidades de negócio específicas, e outros actores a oferecer serviços de suporte a mico em-
preendedores de base de pirâmide (como a Technoserve e outras ONGs) ou a “agri-preneurs” (como
na programa Agro-Jovem da GAPI, focado nos empreendedores no sector da agricultura). Estes de-
senvolvimentos contribuíram positivamente para o ambiente geral de negócios em Moçambique; no
entanto, não se tratavam ainda de esforços estratégicos e intencionais para a criação de um ecossis-

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 167
tema empreendedor integrado mas acções pontuais e isoladas.

Em 2016, Moçambique encontra-se no spotlight dos media internacionais: não obstante os recursos
naturais com um potencial enorme para o país, a descoberta das dívidas ocultas e a tensão entre os
partidos políticos recebem elevada cobertura nas notícias. Este acontecimento, em parte, revela-se
uma oportunidade para as startups Moçambicanas que são alvo de atenção nos media; surgem star-
tups Moçambicanas a serem premiadas em competições internacionais, tais como o Making All Voices
Count - Global Innovation Competition no Gana, o African Entrepreneurship Awards em Marrocos e o
Slush Impact na Finlândia, para mencionar alguns. Neste contexto, o sector privado no geral, incluindo
as pequenas e médias empresas, teve uma retracção acentuada no seu crescimento, por via da redu-
ção da procura – de ambos sectores privado e público –, da redução do investimento (dados os níveis
da dívida) e do elevado custo do crédito (Banco Mundial, 2017). Acresce o aumento dos encargos
de endividamento e a política fiscal de Moçambique que aumentou significativamente. Um exemplo
concreto foi o aumento, em 468% entre 2015 e 2018, dos encargos para abrir e registrar uma empresa,
incitando aos empreendedores que se mantenham na informalidade (CTA, 2018).

Ainda assim, hoje, em Maputo, o ecossistema empreendedor encontra-se mais robusto. Todos os
anos, surgem novos eventos, competições, programas de literacia financeira e digital, programas de
suporte a negócios, incubadoras e redes de mentores. Cada vez surgem mais empreendedores em
fase inicial, novos negócios e actores interessados no ecossistema, entre eles doadores, academia
e sector privado, neste último caso através das suas iniciativas de Responsabilidade Social. Um dos
aspectos interessantes nesta evolução é que grande parte desses eventos, competições e formações,
foram conceptualizados, implementados e impulsionados pelos próprios empreendedores, na ausên-
cia de um ecossistema e de uma política nacional de suporte. Tornaram-se eles os líderes desse mo-
vimento, não só contribuindo para o desenvolvimento de um ecossistema que os apoie, mas também
colocando Moçambique no mapa do empreendedorismo.

Ecossistema de Maputo: onde nos encontramos hoje

Acima descrevemos a nossa percepção da evolução do ecossistema nos últimos 10 anos: o desen-
volvimento do ecossistema é um processo dinâmico e não-linear; há uma oscilação dos agentes,
que vão e vêm; a relevância de certas iniciativas altera-se; e as necessidades dos empreendedores
evoluem ao longo do tempo. Com isto em mente, apresentamos o panorama do ecossistema local no
qual operamos - a tabela abaixo expõe uma visão geral indicativa daquilo que vemos actualmente ao
longo dos seis domínios que o modelo de Babson sugere como componentes críticos para o sucesso
de um ecossistema.

Também partilhamos algumas impressões sobre quais são as lacunas que se mantêm e o que seria
necessário para reforçar ainda mais o ecossistema. Isto não deverá ser visto como um mapeamento
exaustivo do ecossistema local, mas sim uma captação dinâmica da nossa perspectiva sobre o que
actualmente existe e que necessita progredir para melhorar a envolvente dos empreendedores e dos
seus negócios.

PME
168 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Tabela 1: Visão global, destaques e recomendações para a situação actual

Política Situação actual Lacunas e necessidades


∞ O ambiente de negócios mantém-se flu- ∞ Burocracia permanece exagerada e dis-
tuante e nos últimos anos a facilidade de pendiosa, o que é um desafio para em-
fazer negócios regrediu, o que gera um preendedores e pequenos negócios
ambiente operacional volátil para as MP- ∞ Não existe uma estratégia e visão nacio-
MEs (por exemplo, desafios recentes para nal unificada: a implementação de en-
os empreendedores incluem o custo de quadramentos é esporádica, e a maioria
criar uma empresa, que aumentou 400% das políticas específicas existe ao nível
em 2018) de cada Ministério ou Município Local
∞ Empreendedorismo é indirectamente ∞ Apesar do potencial da promoção do
apoiado e promovido pelo Governo atra- empreendedorismo para dinamizar e di-
vés de alguns enquadramentos políticos versificar o sector privado como agente
(por exemplo, as Estratégias Nacionais de desenvolvimento inclusivo, o mesmo
de Inovação e de Desenvolvimento, as não tem recebido o suporte e atenção
Estratégias para Melhoria Ambiente Ne- necessária e muitas vezes não é enten-
gócios (EMAN I e II) e o recente Plano de dido como tal
Acção para Melhoria do Ambiente de Ne-
gócios (PAMAN) Recomendações:
∞ Também em 2017, CTA (Confederação ∞ Necessidade de uma estratégia, uma vi-
das Associações Económicas) estabe- são nacional que alinhe e crie comple-
leceu o Pelouro Mulher Empresária e mentaridade e sinergias entre o governo
Empreendedorismo, que é o primeiro local, municipal e as agências governa-
pelouro exclusivamente dedicado ao mentais
empreendedorismo, neste órgão influen- ∞ O Governo assumir um papel de facili-
te tador e promotor de um ambiente que
promova maior robustez no ecossiste-
ma empreendedor, removendo barreiras
reais existentes para os empreendedores
ou a estabelecendo incentivos que po-
tenciem o ecossistema

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 169
Mercado ∞ Em geral o mercado é pequeno e com ∞ A importância de ligar empreendedores
fraco poder de compra, embora em cres- às oportunidades mantém-se uma prio-
cimento e com um número crescente ridade chave, dado o estado actual; as
de pessoas com rendimento disponível plataformas existentes dependem forte-
- isto faz com que seja ainda mais crítico mente da boa vontade dos empreende-
criar mecanismos para conectar os em- dores e o benefício de fazer parte destas
preendedores com potenciais clientes. networks nem sempre é efectivo
∞ Algumas plataformas emergiram com ∞ Embora as plataformas actuais provi-
o propósito específico de fazer a liga- denciem acesso a potenciais clientes
ção com potenciais clientes/ mercados logo desde uma fase inicial, há a neces-
ou alavancar oportunidades entre em- sidade de criar conexões para além do
preendedores (de empreendedor para mercado local se o potencial destes ne-
empreendedor). Estas incluem ANJE, gócios é para ser desbloqueado
FEMME, APME, Network de Femmies da ∞ Soluções e apoio ao ecossistema em-
ideiaLab (para mulheres empreendedo- preendedor precisam de ser adequados
ras), Organização Nacional de Empreen- e desenhados com o sector informal em
dedores (ONE) e mais. mente
∞ A grande maioria do mercado é com- ∞ Não obstante o surgimento dos mega-
posta por negócios informais, o que projectos e a necessidade de incluírem
gera implicações na sua sustentabilida- conteúdo local nas suas iniciativas; isto
de, contribuição e competitividade, mas tem um impacto positivo no ambien-
não deverá ser assumido que negócios te de negócios em geral, mas a lacuna
inovadores e com elevado potencial de continua para as MPMEs que não con-
crescimento não possam ser encontra- seguirem aceder a estas oportunidades
dos entre estas iniciativas informais emergentes

Recomendações:

∞ Para estabelecer acesso aos mercados


para MPMEs será necessário encontrar
mecanismos para amalgamar as opor-
tunidades existentes no mercado e tor-
ná-las mais facilmente acessíveis para
os empreendedores no ecossistema, e
até entre ecossistemas (tornar dispo-
níveis oportunidades nacionais, regio-
nais e/ou globais)
∞ Criar espaço para MPMEs na imple-
mentação das legislações de conteúdo
Local e reforçar requerimentos - MP-
MEs e ecossistemas empreendedores
locais podem ser apoiados, conecta-
dos e preparados para serem provedo-
res de serviços para os megaprojectos
e parcerias público-privadas.

PME
170 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Finanças ∞ Instituições financeiras começam a de- ∞ Apesar do significativo Investimento Di-
monstrar interesse num crescente con- recto Estrangeiro e alguns ganhos (em-
junto de empreendedores e surgiram bora flutuantes) ao nível macroeconó-
algumas soluções de micro finanças e mico, os mesmos não geraram nenhum
investimento de impacto (destaques benefício directo para empreendedores
incluem trabalhos desenvolvidos pelo
∞ Serviços e produtos financeiros ainda
GAPI, FSD e outros micro bancos); con-
não se encontram ajustados nem aces-
tudo, as mesmas não são habitualmente
síveis para empreendedores e o custo do
direccionadas para as startups
capital é proibitivo
∞ Actualmente encontra-se ainda pou-
∞ Potenciais investidores nacionais ten-
co explorado o capital de risco e verifi-
dem a ser avessos ao risco e não exis-
cam-se muitos bloqueios ao nível fiscal
tem incentivos ou mecanismos fiscais
e legislativo - organizações de Business
que possibilitem investimentos em em-
Angels como a Associação Moçambica-
preendedores ou nos seus empreendi-
na de Business Angels (AMBA) e B Angels
mentos
estão a explorar/advogar para criação de
espaço/enquadramento para este tipo de
investimentos
Recomendações:
∞ Em 2018, a Angel Fair Africa foi realizada
pela primeira vez em Moçambique - este ∞ Conceptualizar e implementar produtos
evento facilita a interacção de um grupo e serviços financeiros, tendo em mente
internacional e altamente selectivo de in- o empreendedor, e continuar a explorar
vestidores, empreendedores e parceiros soluções inovadoras e descentralizadas
de negócio (e potencialmente tecnológicas) para a
inclusão financeira da larga percenta-
gem de negócios informais
∞ Desenvolver enquadramento legislativo
e fiscal para permitir o acesso a finan-
ciamento a negócios em fases iniciais, e
implementar incentivos e mecanismos
que atraiam e minimizem o risco de po-
tenciais investidores (locais e estrangei-
ros) - diversos agentes no ecossistema
têm recomendações de como isto po-
derá ser feito, contudo, necessitam de
apoio dos decisores políticos
∞ Também poderá haver oportunida-
des de financiamento em soluções de
“crowdfunding” baseadas na tecnologia
e na comunidade

PME
Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 171
Capital ∞ Elevado nível de iliteracia e falta de aces- ∞ A educação é ainda bastante teórica,
Humano so à educação ou baixa qualidade de está pouco centrada no desenvolvimen-
educação (quase metade da população to de competências e está pouco ade-
em Moçambique é considerada iletrada) quada às exigências dos nossos tempos
é um desafio para o país no geral, e im-
∞ Os cursos de gestão e de empreende-
pacta a capacidade empreendedora
dorismo de instituições académicas não
∞ Verifica-se um interesse crescente das providenciam as competências para
instituições académicas e educacionais conceptualizar e implementar ideias de
para incluir programas que despertem negócio inovadoras; ensinam como ge-
uma mentalidade e competências em- rir parte ou o todo de uma empresa, mas
preendedoras, mas ainda há pouca com- não a criá-la e nutri-la para crescimento
preensão sobre como isto pode ser feito e impacto
∞ Verifica-se um maior enfoque e incentivo ∞ O foco em construir capacidade em-
para a formação profissional e regista-se preendedora e inovação encontra-se
um maior investimento na estruturação ainda bastante atrás da necessidade de
de provedores de Formação e Educação desenvolvermos talentos em Moçambi-
Técnica e Profissional (TVETs), em parti- que que sejam competitivos, altamente
cular no sector da construção e produ- capacitados e preparados para o futuro
ção
∞ A experiência de programas e organiza-
Recomendações:
ções de apoio aos empreendedores su-
gere que todos podem empreender, pelo ∞ Existe uma óptima oportunidade para
que está a estabelecer-se um historial alavancar a inovação e o empreende-
sólido que demonstra o potencial impac- dorismo no desenvolvimento de uma
to positivo do desenvolvimento do em- população em crescimento em Mo-
preendedorismo çambique (geralmente referido como
“dividendo demográfico”). Não deverá
assumir-se que inovação é só para Si-
licon Valley; uma abordagem prática e
localmente ajustada poderá ser um fac-
tor diferenciador para garantir emprega-
bilidade, mudança social e prosperidade
para os Moçambicanos
∞ Como país, precisamos de olhar com
atenção à necessidade de melhoria da
qualidade de ensino e reformas no sec-
tor de educação - este processo deveria
ser focado em criar as competências ne-
cessárias para o futuro e preparar jovens
para inovar e solucionar problemas na
nossa comunidade

PME
172 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Cultura ∞ Existem agora diversas plataformas para ∞ As plataformas existentes estão essen-
promover os empreendedores e os seus cialmente focadas no ecossistema de
negócios, e os eventos centrados no em- Maputo
preendedorismo são habitualmente bem
∞ Na nossa experiência denotamos ainda
frequentados. Exemplos recentes in-
uma falta de compromisso e perseve-
cluem: Startup Grind, Startup Girls, THUD
rança, sobretudo nos jovens, em perse-
Maputo, Lionesses of Africa, Fuck up Ni-
guir as oportunidades identificadas.
ghts, Southern Africa Start Up Awards,
Seedstars, eventos do ideário e pitching ∞ Ainda precisamos de entender os facto-
competitions. res sociais e culturais que impactam os
indivíduos, e como construir o apoio,
∞ Um conjunto alargado de canais de me-
comprometimento e perseverança ne-
dia (ex. o programa de televisão Super
cessária para a jornada empreendedora.
Mentores lançado em 2018 pela STV, ar-
Já sabemos que ainda existem barreiras
tigos nos jornais e principais revistas de
culturais para que o empreendedorismo
negócios) partilham casos reais e mo-
seja visto como uma opção de carrei-
çambicanos de sucesso que servem de
ra válida, viável e respeitada. Ouvimos
role model para outros; assim o termo e
ainda muitos jovens a descrever o seu
conceito de empreendedorismo são hoje
medo de partilhar as suas aspirações
em dia muito melhor percebidos.
empreendedoras com as suas famílias, e
∞ A Global Entrepreneurship Week (GEW) a entrada das mulheres empreendedo-
tornou-se um evento regular no calen- ras nesta jornada é ainda mais desafian-
dário de Maputo, decorrendo anualmen- te.
te, com diversos eventos incluindo cele-
brações do Dia do Empreendedorismo
Feminino (“Women’s Entrepreneurship Recomendações:
Day”) e outras conferências e encontros.
A conferência anual da ANJE (o evento ∞ Tornar o empreendedorismo um cami-
principal do GEW) tem vindo a crescer nho aceite e inclusivamente desejado,
ao longo dos últimos anos com o ob- para que os aspirantes a empreendedo-
jectivo de criar espaços para promover res alterem a sua mentalidade - even-
o empreendedorismo e advogar para a tuais pontos de partida para esta altera-
inclusão de empreendedores no enqua- ção podem ser a mostra de role models
dramento político nacional empreendedores, com os media locais
a desempenhar um papel activo de di-
vulgação, e a criação de iniciativas ins-
piradas no empreendedorismo que edu-
quem e quebram mitos.
∞ Participação activa do sector privado na
promoção destes eventos e desta cultu-
ra empreendedora

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Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 173
Apoios ∞ Já existe um conjunto de organizações e ∞ Os exemplos crescentes de iniciativas de
iniciativas que apoiam o empreendedo- apoio ao empreendedorismo criaram uma
rismo, seja através de eventos, advocacia massa crítica de empreendedores aspiran-
ou pela oferta de ferramentas e formação tes ou estabelecidos - no entanto, muitas
para os empreendedores (exemplos in- iniciativas ainda são de difícil acesso, caras
cluem ideiaLab, IDEÁRIO, ANJE, IPEME, e insuficientes para responder às neces-
MozInnovationLab, ONE, GAPI e outras) sidades; estas iniciativas poderiam fazer
- todos estes agentes do ecossistema mais para se centrar na conexão e unifica-
contribuem para tornar o empreende- ção do ecossistema
dorismo mais viável e possível para em- ∞ Existe ainda uma grande falta de informa-
preendedores ção acerca do empreendedorismo e dos
∞ Surgiu também um conjunto de actores requisitos legais/fiscais para iniciar negó-
do ecossistema que são eles próprios cios; acesso a informação é um desafio e
empreendedores consolidados e sen- a informação que existe não é estruturada,
tem a necessidade de retribuir, desem- consistente ou organizada. A experiência
penhando um papel activo na promoção é que os empreendedores e muitas vezes
do empreendedorismo e colocando Mo- as próprias fontes de informação (institui-
çambique no mapa ções do estado, agentes públicos, canais
de comunicação) dizem coisas diferentes
∞ Infra-estruturas como os espaços e in- a cada visita
cubadoras estão cada vez mais presen-
tes, significando que mais pessoas são ∞ As intervenções de suporte e infra-estru-
alcançadas e se encontram envolvidas turas de apoio ao empreendedorismo es-
no empreendedorismo. Existem agora tão principalmente centradas na fase ini-
diversos espaços de coworking (Co-Work cial da jornada empreendedora (estimular,
Lab, Mozo, N41 Business Center, MMO, da ideia ao negócio), descurando a fase
16Neto, etc.), bem como incubadoras de aceleração e crescimento potencial de
como a do Standard Bank, Orange Cor- negócios em fase inicial
ners Maputo e o Sandbox do Banco de ∞ Os doadores e agências de desenvolvi-
Moçambique. Algumas Universidades mento não conseguem (nem devem)
também indicam ter incubadoras substituir soluções locais de desenvolvi-
∞ Um conjunto de Parques Industriais e mento. Além disso, as suas iniciativas por
Tecnológicos iniciaram actividades (ex. vezes não se encontram alinhadas com
Parque de Maluana, Parque Industrial de as necessidades reais e tendem a impor
Beluluane) - estes parques têm o poten- as suas próprias agendas fomentando a
cial para trazer enfoque e atenção à ino- competição, ao invés da colaboração en-
vação, criação de empregos e geração de tre os agentes locais. Consequentemente,
competências que beneficiem o ambien- por imporem os seus conceitos e directri-
te de negócios geral zes limitam a inovação e o impacto dessas
mesmas iniciativas
∞ Percepcionamos um crescente interesse
em empreendedorismo, tanto por parte
dos doadores como das agências inter-
nacionais e do sector privado, que vêem
no empreendedorismo uma maneira de
apoiar a obtenção de resultados efectivos
em Moçambique e potenciar uma eco-
nomia mais inovadora

PME
174 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Apoios ∞ O sector privado começa a investir em Recomendações:
empreendedorismo como forma de in- ∞ Um mapeamento claro das necessidades
vestir na sua cadeia de valor, ou numa da jornada empreendedora que inclua uma
estratégia para atracção de novos clien- descrição específica e detalhada dos papéis
tes e retenção de clientes. Também in- a desempenhar e das acções a desenrolar
veste como parte das suas estratégias pelos actores do ecossistema. Este mapea-
de Responsabilidade Social Corporativa mento deve estar alinhado com as neces-
ou para aumentar a sua visibilidade sidades dos empreendedores e traria “insi-
ghts” interessantes; porém este processo de
mapeamento requer colaboração e partici-
pação de todos os actores do ecossistema
(assegurar “buy-in”) e deverá ser open sour-
ce
∞ Abordar a lacuna e inconsistência de infor-
mação requer atenção dedicada: devem ser
disponibilizadas e acessíveis publicamente,
e de forma simplificada, informações pre-
cisas e consistentes sobre os detalhes do
início e do funcionamento de cada nova
empresa
∞ No entanto, já temos uma vasta experiên-
cia e conhecimentos que sugerem alguns
caminhos a seguir. Por exemplo, temos
exemplos tangíveis do que funcionou bem
na promoção do ecossistema de Maputo -
estas intervenções podem ser dimensiona-
das e replicadas em outros ecossistemas em
Moçambique
∞ O ecossistema de Maputo está agora numa
fase em que precisa de mais atenção para o
estágio de aceleração da jornada empreen-
dedora; isto significa acesso a financiamen-
to e mercados, conexões e ligações a outros
ecossistemas e mercados
∞ Investir na capacidade empreendedora
deve ser de interesse crescente e estratégi-
co para o sector privado - além de ter bene-
fícios claros para os negócios (desenvolve
uma cadeia de distribuição local robusta,
promove uma redução de custos, alimen-
ta os talentos locais etc.) também atende às
suas metas de responsabilidade social
∞ Criar um ambiente facilitador para todos os
agentes que têm um impacto no apoio ao
empreendedorismo nacional, não só para
que estes cresçam, mas também para que
mais agentes assumam um papel de catali-
sadores do ecossistema

Princípios para fortalecer o nosso ecossistema

Neste artigo, descrevemos o trabalho que efectuamos para o desenvolvimento do empreendedo-


rismo, a par do crescente número de agentes no ecossistema, focando especialmente no centro do

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Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios 175
mesmo (o empreendedor e o seu negócio). A nossa experiência demonstra-nos que o empreende-
dorismo surge mesmo apesar da existência de um ambiente hostil e começamos a ver o impacto de
desbloquear o potencial empreendedor no desenvolvimento socioeconómico. Contudo, alcançar isto
requererá atenção ao ecossistema como um todo e acções dos agentes nos diversos domínios do
ecossistema.

Ao longo do artigo, demonstramos que ecossistemas empreendedores que promovem a capacitação


são aqueles que possuem fortes conexões e colaboração entre actores e iniciativas – aqueles que
asseguram um forte alinhamento e minimizam a fragmentação e a duplicação. No futuro, as acções e
intervenções no ecossistema devem concentrar-se nas necessidades dos empreendedores e dos seus
negócios. Da nossa experiência vemos que, quando essas necessidades são satisfeitas, os empreen-
dedores devolvem ao ecossistema e às suas comunidades, de forma exponencial, e os seus negócios
tornam-se um contributo impactante para o desenvolvimento socioeconómico inclusivo no país.

Em Maputo, houve numerosos desenvolvimentos bem-sucedidos nos últimos anos; as aprendizagens


precisam agora de ser replicadas e dimensionadas, não apenas em Maputo, mas em todo o país. Para
fazer isso, vários actores precisam intervir e desempenhar um papel com foco e investimento dedica-
dos ao fortalecimento dos seis domínios descritos neste artigo. Tecemos um conjunto de recomenda-
ções acima, mas resumimos o apelo à acção urgente da seguinte forma:

∞ O Governo deve assumir o seu papel na promoção e priorização do empreendedorismo,


criando um quadro visionário para o empreendedorismo e a inovação em Moçambique. Deve
também garantir que esse quadro seja implementado a nível local e municipal, e pensar na
integração em todo o sector público (ou seja, alimentando-se de melhorias no sistema de
educação), assumindo um papel facilitador, ao invés de interventivo
∞ Os formuladores de políticas e os legisladores precisam de trabalhar rápida e estrategicamente
para remover os desincentivos e implementar incentivos reais que apoiem o empreendedo-
rismo. Isso inclui remover a burocracia, simplificar os processos, reduzir os custos de iniciar
e administrar uma MPME, e melhorar o acesso a informações precisas e consistentes e criar
mecanismos de acesso a financiamento.
∞ O sector privado deve ver as MPMEs como parceiras e contribuintes para seus próprios negó-
cios e empreendimentos. Este sector está em condições de investir em empreendedorismo
para garantir as suas cadeias de suprimentos e atrair / manter clientes, e potencialmente au-
mentar o seu mercado.
∞ Os media, influenciadores e líderes de pensamento, poderiam ter um papel mais activo na
mobilização dos empreendedores, demonstrando o empreendedorismo e aumentando a
conscientização e participação em todo o ecossistema. Ambos são formadores de cultura
e comentadores e têm a oportunidade de impactar “corações e mentes” para construir uma
cultura de empreendedorismo.

O nosso papel e visão para o futuro

Embora apontemos as lacunas no ecossistema de empreendedorismo e o papel que gostaríamos


que outros agentes desempenhassem, também reflectimos sobre o nosso próprio papel e visão para
o futuro. Claramente, continuamos a contribuir para o desenvolvimento do ecossistema de Maputo
e começamos a replicar os nossos esforços em outros ecossistemas também, tanto nacional, como
regionalmente.

Descrevemos um ecossistema que regista uma evolução significativa nos últimos anos, contudo, que
se encontra ainda numa fase inicial: os empreendedores moçambicanos dispõem hoje de uma es-
trutura de apoio que não existia há cerca de 10 anos atrás. O ecossistema será sempre dinâmico e em
evolução, mas deverá tornar-se mais estável e menos hostil para os empreendedores que nele operam.

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176 Pequenas e Médias Empresas em Moçambique
Situação e Desafios
Juntamente com outras organizações de apoio ao empreendedorismo e agentes do ecossistema,
continuamos a desempenhar um papel activo como catalisadores do empreendedorismo e da inova-
ção. Continuamos a associar-nos, a colaborar e a defender o serviço do ecossistema como um todo.
E continuamos a apoiar empreendedores e os seus negócios directamente através de programas inte-
grados e com um foco crescente na aceleração de MPMEs de alto potencial, em fase de crescimento.

Na nossa experiência, os empreendedores emergem contra todas as probabilidades e o empreende-


dorismo está a crescer em Moçambique, apesar dos desafios no ecossistema. As aspirações, sonhos e
perseverança dos empreendedores estão presentes mesmo sem um ambiente propício - é nosso pa-
pel apoiar isso para garantir a longevidade e o sucesso destes pioneiros. Com a colaboração e alinha-
mento de todo o ecossistema, e com outros actores importantes a assumir o seu papel, gostaríamos
de ver um entendimento geral e a aceitação da importância do empreendedorismo como um motor
para o desenvolvimento e crescimento inclusivo.

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