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ESTRATÉGIAS EXPANSIVAS:
publicações de artistas e seus espaços moventes
1ª edição
Porto Alegre
Edição do Autor
2011
Permite-se a reprodução parcial ou total desde que seja citada a fonte
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA, PROIBIDA A VENDA
1ª edição: 2011
APRESENTAÇÃO
10
estratégias expansivas
apresentação
A década de sessenta abriga inúmeras alterações no
campo da arte, em relação ao espaço expositivo, ao modo
11
apresentação
se como ‘um enunciado impresso emitido para um grupo de
indivíduos’. Conforme já mencionado, o termo publicação de
artista não faz referência somente ao formato-livro, mas sim ao
suporte impresso e ao seu caráter múltiplo e distributivo, pres-
supondo uma edição, uma tiragem e uma provável circulação. 13
Nesse caso, livretos, jornais, revistas, objetos múltiplos,
postais, selos, cartas, folhetos, adesivos, cédulas, cartazes,
jogos, mapas, apostilas, entre outros meios, articulam-se como
veículos rizomáticos que dialogam com as sinalizações: editar,
publicar, disseminar e circular.
Indo além dos circuitos institucionais, tais publicações
podem ser abordadas como espécies de estratégias expansivas,
as quais os artistas empregam em suas poéticas. A noção de
unicidade, valoração e maleabilidade da obra são atualizadas
por produções de tiragens múltiplas, possibilitando, ao trabalho
artístico, uma porosidade em relação ao seu caráter institucional
e geográfico.
No Brasil, podemos observar que as produções, de
forte endereçamento conceitual, possuem sua gênese nos anos
sessenta, ganhando novo fôlego nesta última década. Através
desse tipo de publicação, os papéis ocupados pelo artista
são alterados em relação aos seus modos de execução, de
distribuição, de apresentação, de reflexão e, até mesmo, de
estratégias expansivas
apresentação
sas com artistas, pesquisadores, críticos e curadores brasileiros.
Tal estudo pode ser apreendido como material reflexivo
e de aporte para outras pesquisas que desejem implementar
novas questões. Se antes esse tipo de produção era abordado
como periférica ou marginal, atualmente a sua abordagem cerca 15
noções de local/global, de inserção e de gestão institucional.
Os blocos textuais deste livro partiram de trabalhos
de arte para discutir as questões de circulação e de edição.
Enquanto que a noção de circulação foi abordada como um
princípio de fluxo, a ideia de edição articulou-se com as etapas
de seleção de material a ser publicado e com a possibilidade
de desdobramento de um trabalho artístico. O processo de
construção textual transitou das publicações vanguardistas aos
livros de artista editados, dos jornais às cédulas, dos espaços
moventes aos mecanismos alternativos de mercado.
Na sequência, a segunda parte do livro foi composta por
entrevistas com pesquisadores, artistas e teóricos que alimentam
as reflexões sobre procedimentos operatórios e lugares de uma
publicação de artista.
estratégias expansivas
Notas
16 [1] CNEAI - [Centro Nacional de Edição e Arte Impressa] É um centro
nacional de arte contemporânea, localizado em Chatou/França. Criado em
1997, o CNEAI promove publicações de artistas, encontros de editores
independentes, além de possuir um acervo de publicações em meio
impresso.CNEAI pode ser acessado: http://www.cneai.com/
[2] DO IT - Projeto coordenado por Hans Ulrich-Obrist, desde 1993, é
compreendido por instruções que seus artistas integrantes, entre os quais
alguns brasileiros, apresentam na forma de documentos impressos ou
proposições publicadas na internet.
DO IT pode ser acessada em: http://www.e-flux.com/projects/do_it/
homepage/do_it_home.html
[3] MAC-USP – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São
Paulo, criado em 1963.
Pode ser acessado em: http://www.mac.usp.br/mac/index.htm
[4] Coleção Especial de Livros de Artistas da Escola de Belas Artes da
UFMG – Iniciada em 2010, está formando a primeira coleção especial de
livros de artista em uma biblioteca universitária. Outras informações em:
http://seminariolivrodeartista.wordpress.com/colecao-especial/
EMBLEMAS
Notas
[1]. MALIÉVITCH, Kazímir. Dos Novos Sistemas da Arte. São Paulo: Hedra,
2007. [p.54]
[2]. Ibid., [p.40]
[3]. Ibid., [p. 19]
[4]. TOMKINS, Calvin. Duchamp - uma biografia. São Paulo: Cosac Naify,
estratégias expansivas
2005. [p.219]
[5]. Ibid., [p.220]
[6]. Cf: Klaxon - Mensário de Arte Moderna. Volume I. São Paulo: 1922.
[p. 02]
Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/01005510#page/1/
mode/1up
Ver também: LARA, Cecília de. Klaxon e Terra Roxa e Outras Terras. São
Paulo: Ieb-USP, 1972.
18 [7]. FREIRE, Cristina; LONGONI, Ana, (Orgs.). Conceitualismos do Sul/Sur.
São Paulo: Annablume, 2009. [p.18]
[8]. DIAS-PINO, Wlademir; SÁ, Álvaro de. POEMA PROCESSO:
PROPOSIÇÃO. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda Européia e
Modernismo Brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1976. [p. 422]
[9] BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade
técnica. In: BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios
sobre literatura e história da cultura. Vol. 1. São Paulo: Brasiliense, 1994.
[p.171]
emblemas
Em 1919, oA artista, através
Novos istemas da rte
S
1
russo Malevitch publicou o livro D
do qual observamos como a
os
19
1
Em virtude das traduções encontramos diferentes grafias para o nome do pintor
russo Малевич – Malevitch, Malevich, Maliévitch.
A natureza será vencida, pois minhas pernas não são nada em com-
paração com as rodas criadas por mim. O trem transportará a mim e
a minha bagagem ao redor da Terra com a rapidez de um relâmpago.
Comunicarme-ei com as cidades fácil e confortavelmente. [1]
22
emblemas
rompimento dos cânones tradicionais de representação, como
o fez no Suprematismo, para o Dadaísmo, a mesma era meio
livre de experimentações em colagens, cartazes ou revistas
[Boletim DADA, 391, O Homem Cego, entre outras]. 23
O Homem Cego é o nome de uma publicação que
convidava artistas e escritores para publicar seus trabalhos ou
textos reflexivos, não havendo um tema específico. A primeira
edição foi publicada em Nova Iorque, em 1917, por Marcel
Duchamp e Henri-Pierre Roché. Tal publicação, não possui um
caráter coletivo de manifesto ou um ar uniformizado ao longo
de suas páginas. Conforme podemos observar, há um futuro
incerto, anunciado em sua capa – “O segundo número de O
Homem Cego aparecerá, tão logo você tenha enviado material
suficiente para isso”. A capa do primeiro volume apresenta o
desenho de um homem cego, portando uma bengala e sendo
guiado por um cachorro, em um espaço de arte, talvez, uma
referência ao ‘puramente visual’, tão criticado por Duchamp. A
publicação O Homem Cego era vendida, por 10 centavos, pelos
artistas em galerias e em outros espaços comerciais, tendo sido
realizada apenas uma tiragem de seus dois primeiros números.
O destino de O Homem Cego foi decidido em uma partida de
xadrez, conforme Calvin Tomkins conta:
estratégias expansivas
Picabia considerava The Blind Man uma rival de sua 391, e, certa
noite, no apartamento de Arensberg, ele desafiou Roché para uma
partida de xadrez que decidiria o destino das duas revistas; a vitória
de Picabia condenou The Blind Man, que parou de ser publicada depois
de segundo número. [4]
26
emblemas
foram também disseminadas através da publicação Klaxon. Abor-
dando o modernismo brasileiro, a Klaxon é uma das principais
referências na área de projetos colaborativos, onde os seus
autores e idealizadores participavam de todas as etapas de 27
produção. Divulgando os ideais modernistas, a Klaxon apresentou
uma nova abordagem da arte que se configurava nas primeiras
décadas do século XX. O projeto gráfico da revista Klaxon
chama a atenção por ter uma estética singular em relação aos
seus pares que surgiram nas décadas de 1920 e 1930.
De modo semelhante, os seus conteúdos voltavam-se
para assuntos atuais da época, tais como a produção emergente
de crítica, tanto em artes plásticas como nas artes visuais. Nas
primeiras páginas do volume I de Klaxon [15 de maio de 1922],
podemos observar a abordagem da publicação em relação ao
cinema: “A cinematographia é a criação artística mais repre-
sentativa da nossa época. É preciso observar-lhe a lição”. [6]
Ao total, a Klaxon teve nove edições, as quais possuem
artigos e resenhas críticas sobre cinema assinados por Mário de
Andrade. A ideia de ruptura com o passado e a sua configura-
ção que se fazia ao ar do tempo tornam a Klaxon uma revista
pioneira no território brasileiro, abrindo caminhos para outras
publicações que surgiram nas décadas subsequentes: ESTÉTICA,
estratégias expansivas
emblemas
ças entre “poemas reprodutíveis” e “poemas tridimensionais”.
Segundo os poetas, enquanto que os “poemas tridimensionais”
encontravam a exposição como condição de existência, os
“poemas reprodutíveis” eram próprios para serem impressos em 29
revistas, folhas soltas ou livros. Portanto, a condição física dos
“poemas reprodutíveis” tem a folha de papel como suporte e
a impressão em série como prolongamento do tempo e meio
expansivo da experiência artística.
Ainda em Poema-Processo Proposição, Wlademir Dias-Pino
diz que os “impressos pretendem uma duração maior que os
objetos-poemas”, pois os poemas reprodutíveis, conservados em
revistas, livros ou caixas-bibliotecas têm “uma maior facilidade
de exportação”. No contexto de uma publicação e em termos
de expansão territorial, podemos pensar no termo ‘exportação’,
como uma saída, um escape além das fronteiras dos processos
intermediários e limítrofes de um circuito expositivo tradicional.
POEMA PROCESSO
PROPOSIÇÃO [8]
QUANTIDADE + QUALIDADE
SÓ O CONSUMO É LÓGICA
estratégias expansivas
emblemas
cópias. Deslocando o foco de atenção dos artifícios fotográficos
para os processos de cópias a partir de um original, podemos
associar o pensamento de Benjamin aos princípios seriais de
uma publicação. De acordo com os processos reprodutíveis, 31
em uma publicação haveria um original [escrito à mão, batido
à máquina, ou um arquivo virtual], uma matriz que serve de
base para as suas cópias, todavia, este original não deveria
subestimar os seus duplos.
Assim, a distinção entre os exemplares de uma publi-
cação não ocorre a partir da análise de autenticidade entre
matriz e cópia. Nesse contexto, os atributos de unicidade,
exclusividade e raridade devem ser substituídos pelas dimensões
de multiplicidade e massificação. Diante dessas alterações, não
são apenas os processos de reprodução da imagem que devem
ser refletidos, mas também os seus modos de percepção e
de instauração no mundo. Aqui há uma dimensão política que
perpassa a obra de arte, abrangendo desde a sua produção até
a sua existência comum. Imaginar a arte acessível para uma
multidão, alterando significantemente os atributos que lhe são
inerentes, poderia configurar distorções entre ‘valor de culto’ e
‘valor de exposição’, as quais foram analisadas por Benjamin.
Nesse contexto, vale observar que as produções abor-
estratégias expansivas
JORNAL
Notas
[1]. TEJO, Cristiana. Paulo Bruscky: arte em todos os sentidos. Recife:
Zoludesign, 2009. [p.11].
[2]. FREIRE, Cristina. Paulo Bruscky: arte, arquivo e utopia. São Paulo:
Companhia Editora de Pernambuco, 2006. [p. 46].
[3]. BRITTO, Ludmila da Silva Ribeiro de. A Poética Multimídia de Paulo
Bruscky. Salvador: UFBA, 2009. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-
estratégias expansivas
jornal
criados através do uso de meios impressos pré-existentes.
Através dos anúncios publicados em jornais, a Equipe 37
Bruscky & Santiago articula uma prática pautada por uma es-
pécie de contra-informação, cujas bases de desenvolvimento
estão centradas na linguagem e na circulação desta, por meio
de atentados críticos e poéticos, inserindo-os no sistema mer-
cantil. Sobre o uso da publicação jornal, Cristina Freire observa:
jornal
publicado, com o endereço para possíveis contatos em anexo, o
seguinte anúncio: “ÁREAS – Extensas, Selvagens, Longínquas”.
De quais áreas selvagens, Cildo Meireles estaria falando? 41
Nas extensões territoriais da Amazônia? Não está claro se o
anúncio oferece as terras para venda ou se as busca como
lugar de posse.
Tal anúncio parece estar codificado, ou, de outro modo,
o texto estaria resumido [comprimido], conforme o padrão dos
anúncios que possuem um espaço reduzido de informação.
Sobre esta série, Cildo Meireles comenta:
jornal
através da seguinte declaração:
Esse jornal foi criado, portanto, com duas intenções principais. A primeira, 43
apresentar ao público a estrutura do museumuseu, abrindo possibilidades
de leitura, sem determinar os caminhos a serem percorridos. Estes
se configuram naturalmente dependendo do interesse, do tempo e do
tipo de aproximação de cada um às propostas do Museu. A segunda,
possibilitar ao museumuseu uma intervenção no espaço físico da Bienal
durante o evento – considerando que o jornal já funciona como pre-
sença institucional compreensível –, de forma mais coerente com suas
atividades. [8]
44 Este jornal foi pensado e dedicado a você que pode estar sentado
num dos mais de duzentos bancos dessa nossa Praça da Alfândega;
a você que pode estar assistindo distraidamente um jogo de damas ou
de cartas para passar o tempo, ou a você que está acordando nesse
momento, ou descansando, esperando, trabalhando; a você que observa
a grande quantidade de pessoas caminhando na Rua da Praia, ou
que usa o jornal como pretexto para olhar as meninas ou os rapazes;
a você que está só ou que está (bem ou mal) acompanhado; a você
que pode estar folheando este jornal à procura de notícias ou da pá-
gina policial, à procura de trabalho, amor, religião, esporte, sexo ou
diversão (mas não, parece que não é nada disso); a você que pode
estar somente atrás dos quadrinhos (onde estarão?); a você, artesão,
camelô ou que vende algo de vez em quando; a você que gostaria de
pegar um solzinho no inverno; a você que freqüenta exposições de arte
ou que visita museus, que tenta entender a diferença entre colecionar
quadros e colecionar tampinhas de garrafa; a você que não freqüenta
museus e que acha que fazer arte é coisa de alguém que apronta. [10]
O Jornal Perdidos do Centro de Porto Alegre foi o
resultado de uma oficina que agregou cerca de trinta pessoas
interessadas em pensar a arte no espaço da cidade, sendo coor-
denada por Hélio Fervenza e por Maria Ivone dos Santos, onde
os participantes podiam publicar as experiências que haviam
sido desenvolvidas durante os encontros. A oficina integrou as
atividades paralelas à exposição É hoje na Arte Contemporânea
– Coleção Gilberto Chateaubriand – MAM, realizada em 2006,
no Santander Cultural.
A Praça da Alfândega e o seu entorno localizado no
jornal
centro da capital gaúcha tornaram-se espaços de reconheci-
mento, de intervenções, de ações e proposições em arte. Larissa
Madsen recolheu todos os manuscritos anônimos que encontrou 45
durante uma hora de caminhada pela área da praça, Rosana
Bones e Katlin Jeske estenderam suas roupas em varais mon-
tados em frente ao MARGS [Museu de Arte do Rio Grande
do Sul], Cecília Dutra criou instruções para Esculturas Públicas
Temporárias, espécies escultóricas criadas com lixo e outros
materiais disponíveis, Sandro Bustamante recriou um mapa da
praça de 1840, Márcia Sousa da Rosa entrevistou mulheres
profissionais do sexo que ocupam os bancos da praça, Lilian
Minsky trocou de lugar com um vendedor de antenas [enquanto
a artista vendia antenas, o ambulante foi visitar a exposição no
Santander Cultural]. Outros participantes desenvolveram ações,
entrevistas, cartões de vista, panfletos e projeções.
Ao final da oficina, o material resultante dessas atividades
foi reunido no jornal, o qual retornou para o espaço da Praça
da Alfândega, ao ser distribuído gratuitamente no seu lançamento
no Santander Cultural. A ideia de editar e publicar as atividades
desenvolvidas pelo Perdidos no Espaço já havia sido realizada
em outros dois encontros do Fórum Social Mundial, ocorridos em
estratégias expansivas
jornal
frequente nas publicações de artista) [...]”. [11]
Evidentemente que Silveira, ao prospectar tal pensa-
mento, se refere a um tipo específico de publicação, o qual 47
articula situações não apenas contemplativas. As reminiscências
das práticas conceitualistas, dos relatos de experiências, dos
registros verbais e das inflexões mentais incorporadas, ao longo
das últimas décadas em diferentes poéticas, podem exemplificar
certas publicações de artistas.
Embora os trabalhos abordados neste bloco de texto
possam ser reunidos sob dois conjuntos de projetos [inscrições
da linguagem em sistemas impressos pré-estabelecidos e fabri-
cação integral de um jornal], há, nos mesmos, a ideia implícita
de circulação, disseminação.
48
estratégias expansivas
CÉDULA
Notas
[1] HERKENHOFF, Paulo. Arte é Money [artigo originalmente publicado na
Galeria Revista de Arte, n. 24, março/abril de 1991, p. 60-67]. A sua versão
on-line pode ser acessada em:
http://www.museuvirtual.org.br/targets/cafe/targets/panorama/targets/teoria/targets/
texts/money.html
[2] CALDAS, Waltercio. Manual da ciência popular. São Paulo: Cosac Naify,
estratégias expansivas
2007. [p. 5]
[3] NAVES, Rodrigo. Waltercio Caldas Jr.: de papel. In: NAVES, Rodrigo. O
Vento e o Moinho: ensaios sobre arte moderna e arte contemporânea. São
Paulo: Companhia das Letras, 2007. [p.465]
50
cédula
OP rojeto Cédula, 1970/1976, de Cildo Meireles,
integrante de Inserções em Circuitos Ideológicos, toma a nota
51
cédula
representadas através da imagem de um índio da etnia Krahô
e da foto de um interno de um hospital psiquiátrico.
Cildo Meireles, ao criar uma moeda que possui um valor 53
nulo e ao estampá-la com duas imagens que podem sugerir
a exclusão social, coloca em jogo as dimensões de valoração
monetária e simbólica. Usualmente, o dinheiro carrega ícones
máximos que representam ou que são emblemas da nação, na
qual a moeda circula. Aqui, as duas representações inscritas
nas efígies estão fora de qualquer sistema econômico. Caso
manipulassem notas de dinheiro, os mesmos, talvez, não as
apreendessem com o devido grau de abstração que toda moeda
suscita. Do mesmo modo, poderíamos pensar o circuito onde
essas moedas circularam [museus, galerias e outras instituições]
como sendo o sistema de economia alegórica de Zero Cruzeiro
e de Zero Dollar. Nessa perspectiva, Cildo Meireles, simboli-
camente, faz de uma proposição artística objeto de mercadoria
ficcional que tem um valor nulo como moeda de troca.
Acerca do uso do dinheiro como fonte de investigação,
podemos igualmente mencionar os artistas brasileiros: Jac
Leirner [Os Cem, 1985/1987, Litlle Pillow, 1991], Waltercio
Caldas [Dinheiro para Treinamento e Notas para Ambiente, ambos
estratégias expansivas
cédula
circulação. Ao mesmo tempo, o dinheiro criado por Waltercio
Caldas dialoga com o apuro da forma e com a síntese, sem
identificação alguma, dos principais elementos de uma cédula 55
comum. Dinheiro para Treinamento pode funcionar como um
esboço ou como um estudo que vislumbra ações futuras sem
corromper a sua forma-matriz.
Esse trabalho foi inserido nas páginas do Manual da
ciência popular, publicação que integrou a Coleção ABC da
Funarte, lançada no início dos anos oitenta. Manual da ciência
popular é uma publicação de artista, ilustrada com fotografias
de trabalhos, sendo acompanhadas por pequenos textos. Em
2007, a mesma ganhou uma segunda edição pela Cosac Naify,
revisada e ampliada, de capa dura, com dimensões levemente
aumentadas e papel mais encorpado, sendo menos interessante
que a primeira edição, a qual possuía uma encadernação
despretensiosa muito próxima de um manual. Nas páginas iniciais
do Manual da ciência popular, Waltercio Caldas diz:
cédula
existe em função da reprodução, ideia que lhe persegue, desde
o seu interior até a sua embalagem. Essa parece ser também
uma característica das cédulas de dinheiro – existir em função 57
da reprodução, seja econômica ou ideológica.
58
estratégias expansivas
VALOR
Notas
[1]. LOPES, João Texeira. Tensões do artista e do artístico no dealbar do
novo século. In. CARVALHO, Isabel; NORA, Pedro (Orgs.). A economia do
artista. Cidade do Porto: Braço de Ferro, 2010. [p.183].
[2]. BURY, Stephen. Artists’ Multiples 1935- 2000. London: Ashgate Publishing
Limited, 2001. [p. 23].
[3]. SANTOS, Maria Ivone dos. Diante da perda do arquivo: reinvenções e
estratégias expansivas
valor
E, deditadaEdwardem 1962-1963,
Stations
a publicação T - G
wenty six asoline
Ruscha, problematiza a discussão sobre a
61
2
Stephen Bury, ao empregar a expressão “múltiplos”, não faz distinção entre
publicações de artistas e outros trabalhos em série. Assim, seu interesse está
voltado para produções que possuem uma tiragem relativamente expressiva,
independente de seu meio.
O múltiplo poderia ser o melhor exemplo da separação e proximidade
ao mundo real, conferindo-lhe um valor simbólico, abstrato. E ainda é
negociável, vendável e amplamente distribuído. [2]
valor
forma, o livro de Ruscha, apreendido como suporte artístico,
tange fronteiras ideológicas, através das quais uma publicação
também consegue se valer. Nessa direção, a pesquisadora Maria 63
Ivone dos Santos, abordando a publicação de Ruscha, como
espaço político de difusão e descentralizadora da problemática
da exposição, afirma:
Os livros impressos tornam mais complexa sua inserção dentro do
que se costuma referenciar como livros artesanais feitos por artista.
Obedecem à outra lógica quanto à fatura, visto que incluem processos
de editoração e impressão industrial. Ao eliminarem igualmente o valor
atribuído a uma obra única, a uma pintura, e ao atribuir diferentes
valores a uma série fechada de fotografias, eles problematizam a ideia
de obra. O trabalho se descentra do circuito de validação e se aven-
tura em outros sistemas, como os de uma biblioteca, por exemplo. [3]
3
Cf. ROUILLÉ, André. A Fotografia entre Documento e Arte Contemporânea.
São Paulo: SESC, 2008.
Não podemos ignorar as problematizações que a publi-
cação de Ruscha impôs nas estruturas convencionais de apre-
sentação de um projeto artístico, entretanto não descartamos
a sua existência enquanto uma mercadoria de arte que, ao
longo do tempo, se tornou rara. Ao direcionar o foco para essa
problemática de mercado, poderíamos pensar na manutenção
estratégias expansivas
valor
‘livro morto’. [5] Nesse sentido, Paulo Silveira, questionando a
apresentação do livro Velázquez, de Waltercio Caldas, [durante
o Panorama de Arte Brasileira 1997, no MAM de São Paulo] 65
dentro de vitrinas, pergunta: “Seria por precaução ou por mise-
en-scène?” [6]
A assinatura de Waltercio e a numeração na penúltima
página do livro Velázquez são indícios de que essa publicação
conserva ainda características de um trabalho artístico, sofrendo
[ou simulando] as habituais influências do circuito econômico que
rege o mercado da arte. Sobre esse aspecto, Silveira interroga
se o gesto de assinar e numerar: “Seria por convenção ou
seria um comentário crítico final?”. [7] As dúvidas que surgem
de tal interrogação são intensificadas pela forma expositiva que
a publicação de Waltercio infligiu. Sendo a sua assinatura um
comentário crítico final e a sua apresentação equivalendo a uma
encenação, a publicação Velázquez opera no frágil limite entre
uma ‘obra’ de arte e um livro feito por um artista.
As questões de valoração econômica estão estreitamente
ligadas à valoração simbólica, na qual as publicações de Ruscha
e Waltercio se inscrevem. Independente das cogitações sobre
edição ou tiragem, esses dois trabalhos impressos, quando
estratégias expansivas
66
valor
67
FORMATO-LIVRO
Notas
[1]. SILVEIRA, Paulo. A Página Violada: da ternura à injúria na construção
do livro de artista. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2001. [p. 72]
[2]. A CASA COMO CONVÉM é o nome de um ateliê-morada de Cristiano
Lenhardt, Cristina Gouvêa, Jonathas de Andrade, Priscila Gonzaga e Silvan
Kälin, localizado na casa onde habitam ou já habitaram, em Recife.
[3]. O edital do II Concurso Mário Pedrosa de Ensaios sobre Arte e Culturas
estratégias expansivas
formato-livro
em transplantar uma planta [muito provavelmente uma erva
daninha] que havia nascido em uma rachadura de um viaduto
próximo da UFPE, levando-a para a sacada de seu apartamento.
A planta possuía cerca de sete metros de altura, me-
dida aproximada da distância do viaduto até o solo, sendo 71
equivalente a altura da sacada de seu apartamento. Carregando
uma visualidade potente e uma atmosfera simbólica, o projeto
Transplanta, apesar de não ter sido realizado, foi incluído jun-
tamente com outras imagens e outros textos na publicação
Relación Ornamental. As fotografias de cômodos e de caminhões
de mudança documentavam a vida itinerante de Cristiano, segun-
do o qual, no intervalo de um ano, havia dormido em mais de
trinta quartos diferentes.
O ano de 2006 marca a mudança de Cristiano para
Recife e o contato com as experiências tropicais da cidade,
com todos os seus afetos e temores. O gesto simbólico de
transplantar uma espécie de erva daninha, que havia brotado
em uma fenda de concreto, levando-a para outro ambiente,
poderia gerar uma situação de risco para a planta, a qual pro-
vavelmente não se adaptaria as mudanças. Dispensar cuidados,
provendo água e terra fértil, talvez não fosse suficiente para
a manutenção de uma forma de vida que estava adaptada às
adversidades do seu ecossistema original. Conforme Cristiano
estratégias expansivas
formato-livro
que versem sobre o tema escolhido: ARTE E MUNDO APÓS
A CRISE DAS UTOPIAS”. [3] Daniela e Fabio usaram o tema
do concurso como parte do título de seu ensaio, empregando
a mesma grafia em caixa alta.
Jogando com a problemática do assunto, no seu sub- 73
título, os autores deixam clara a ausência de notas de rodapé,
como possíveis suportes explicativos que o tema suscita. Ou
seja, o título do ensaio de Daniela e Fabio, aparentemente, daria
conta do assunto que o livro trata, não necessitando de maiores
explanações. Nesse caso, o título é como uma frase enfática, a
qual exclama uma afirmação que não pode ser questionada. Ou
de outro modo, o título é tão problemático que não necessita
de explicações aprofundadas, as quais o tornariam redundante.
A metodologia empregada na construção do ensaio
aborda todas as palavras do tema - [ARTE], [E], [MUNDO],
[APÓS], [A], [CRISE], [DAS], [UTOPIAS], demonstrando que a
análise individualizada dos termos acarretaria no estabelecimento
de relações complexas entre os mesmos. De um modo crítico,
Daniela e Fabio estabelecem uma abordagem atualizada do
tema, por meio de um discurso bem-humorado. Em determinado
momento do ensaio, os autores se propõem a pensar a partir
do título, caso a conjunção [E] ganhasse um acento agudo,
tornando-se o verbo [É]. Outro ponto que deve ser abordado
estratégias expansivas
formato-livro
que acompanham o acontecimento artístico, conferindo-lhe um
sentido atual, diferente dos textos históricos. [5] De outra forma,
o autor conclui seu pensamento sobre textos de artistas: “[...]
que eles naturalmente sempre escreveram, ganharam uma nova
qualidade com Marcel Duchamp, que refletia sua obra em textos 75
que logo não podiam ser mais diferenciados dela e produziam
mais quebra-cabeças do que a própria obra”. [6]
Resgatado pela arte conceitual, Duchamp desempenhou
um papel fundamental nas formulações das proposições que
interrogavam a função da arte, onde talvez a sua importância
esteja ligada, não somente ao desprendimento do objeto estético,
mas às questões do contexto artístico, se ancorando nos seus
discursos internos para balizar ou colocar em xeque as suas
próprias premissas. A produção textual de Duchamp e os seus
jogos com a língua francesa são importantes objetos de estudo
para problematizarmos questões da linguagem em arte. Desse
modo, as palavras em Duchamp, usadas nos títulos de seus
trabalhos ou nos seus escritos, poderiam se articular como espé-
cies de ready-mades linguísticos. Segundo Jean-Michel Foray:
A linguagem foi pega – naquilo que nomeamos hoje de Arte Conceitual
– seja como um ready-made, pela sua capacidade de substituir pedaços
de textos existentes aos objetos e aos materiais tradicionais; seja como
uma língua. No primeiro caso são as suas qualidades exóticas de
estratégias expansivas
formato-livro
não é subjugada pelos modelos externos de uma exposição
institucional. Em contrapartida, a noção de edição, aqui pode
ser ampliada, de um artista que edita o seu material, tomando
as decisões de escolha e de corte dos seus conteúdos, para
a ideia de edição como multiplicação e transformação de um 77
trabalho de arte. Ou seja, a ideia de re-edição, a qual já havia
sido tratada no início deste bloco de texto, aproxima-se da
publicação como um espaço de edição de projetos artísticos.
É nessa linha que a publicação Transposições do Deserto, de
Hélio Fervenza, transita.
Transposições do Deserto, 2010, é uma espécie de livreto
de capa amarela com vinte páginas de texto e tiragem de 400
exemplares em offset p&b. Tal publicação é um desdobramento
de uma ação de mesmo nome realizada em 2003, fazendo um
reenvio à outra publicação de Hélio Fervenza intitulada O + é
deserto, também de 2003. Essa última é o terceiro volume da
Série Documento Areal, coordenada por Maria Helena Bernardes
e André Severo, projeto contemplado na 2ª Seleção do Programa
Petrobras Artes Visuais, 2001. Na publicação O + é deserto,
Hélio Fervenza falava de questões investigativas que perpas-
savam a sua poética – o vazio, o deserto, os limites e as suas
fronteiras. Em 2003, ao receber o convite de Celina Albornoz
para fazer o lançamento da publicação O + é deserto, na cidade
estratégias expansivas
formato-livro
dos currículos pedagógicos, das trocas afetivas e dos assun-
tos transversais, o qual permeou o projeto Transposições do
Deserto, foi adaptado, em 2010, para uma publicação de nome
congênere. Vale destacar que a publicação é bilíngüe [português 79
e espanhol], conservando a coerência interna do projeto. Os
trechos do texto de Fervenza são dispostos nas páginas, lado a
lado, como se fossem a tradução um do outro, entretanto, em
decorrência das suas diferenças gráficas, eles se perdem ao
longo das folhas. Tal fato demonstra as sutilezas de duas línguas
que estão muito próximas, pelas grafias, pelos significados e
pelos sons, mas que em determinados pontos divergem, se
afastam, se corrompem, dadas às fronteiras que, apesar de
invisíveis, demarcam os seus limites.
Ainda em 2010, a publicação Transposições do Deserto
integrou a exposição Dois Pontos, ocorrida no Museu Murilo
La Greca, na cidade de Recife. Sob a curadoria de Fernanda
Albuquerque, a exposição foi selecionada pelo Projeto Ampli-
ficadores, reunindo nove artistas, dentre os quais estava Hélio
Fervenza. A participação do artista, nessa exposição, através de
sua publicação, atesta a dinâmica de um projeto que continua
em operação, onde os seus relatos não encontraram um limite
de extinção. Transposições do Deserto teve origem a partir de
estratégias expansivas
ESPAÇOS MOVENTES
Notas
[1]. RANCIÈRE, Jacques. A Partilha do Sensível: estética e política. São
Paulo: Ed.34, 2005. [p.43]
[2]. ALBERRO, Alexander. Conceptual art and the politics of publicity.
Massachusetts: MIT Press, 2003. [p.133]
[3]. LIPPARD, Lucy. Seis Años: La desmaterialización del objeto artístico: de
1966 a 1972. Madrid: Akal, 2004. [p. 22]
estratégias expansivas
[4]. MELIN, Regina. Exposições Portáteis. In: MARX, Daniela; SARI, Marcos.
Meio. Porto Alegre: Ed. Panorama Crítico, 2010. [p. 07]
[5]. ZANINI, Walter. A Atualidade de Fluxus. In: Ars - Revista do
Departamento de Artes Plásticas/ECA - USP, São Paulo, ano 2, nº 3,
p. 10-21, 2004. [p. 19]
[6]. Cf. HENDRICKS, Jon. O Que é Fluxus? O Que Não É! O Porquê. Rio
de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2002. [p. 170]
82 [7]. Cf. OBRIST, Hans Ulrich. Uma Breve História da Curadoria. São Paulo:
BEI Comunicações, 2010. [p. 50]
[8]. FOUCAULT, Michel. Isto não é um Cachimbo. São Paulo: Paz e Terra,
2007. [p. 60]
espaços moventes
Os espaços habituais de arte, divididos em parcelas
e parâmetros de galerias comerciais, de fundações culturais
83
espaços moventes
maleta-biblioteca de Luciana Paiva, Projeto Malote [2005],
maleta de Luana Veiga que viaja pelas cidades carregando,
coletando e expondo trabalhos portáteis de diferentes artistas,
Sofá, publicações coletivas coordenadas por Raquel Stolf desde
2004, Arquivo de Emergência, projeto-pesquisa da Arquivista
Cristina Ribas, entre outros. 85
Do mesmo modo, uma publicação pode ser o lugar de
uma exposição, abrigando no espaço plano de suas páginas um
projeto curatorial ou apenas um texto que descreve proposições
de arte. Nas décadas de sessenta e setenta, o curador norte-
americano Seth Siegelaub desenvolveu projetos significativos que
utilizavam a publicação como espaço expositivo. Catálogos, antes
empregados somente para divulgar exposições, nos projetos de
Siegelaub, passaram a ocupar o papel principal ou exclusivo
daquilo que seria uma exposição de arte. November, 1968, de
Douglas Huebler, Statements, de Lawrence Weiner e The Xerox
Book, ambos de 1968, são exemplos de catálogos-exposição
ou de publicações-exposição, idealizados por Siegelaub, os
quais abriam novas perspectivas para práticas artísticas através
do meio impresso. Alexander Alberro analisa The Xerox Book,
afirmando que:
espaços moventes
na Meio (Volume I)4, publicação que agrupa trabalhos de artistas
feitos originalmente em meio impresso. No referido texto, a
pesquisadora Regina Melim, abordando um conjunto de mostras
que se dão no espaço da publicação, observa:
Seu formato portátil (ou de bolso), tal como livros, blocos, cadernos ou 87
folhas avulsas, acrescido do baixo custo destas publicações, através de
tiragens impressas e geralmente ilimitadas para a reprodução carregam
o objetivo expresso de alargar o espectro de audiência e participação.
Além disso, o fato de poder levar consigo e poder interagir tactilmente
com esta exposição altera profundamente a forma convencional de
recepção que usualmente temos diante de um trabalho de arte. [4]
4
A publicação Meio (Volume I), organizada por Marcos Sari e Daniele Marx,
configura-se como a compilação de dez edições do projeto Meio, iniciado em
2003, na cidade de Porto Alegre. Tal projeto possibilita a seus colaboradores a
utilização de meio papel A4 para a experimentação gráfica, fotográfica, dentre
outras. Além da reunião de dez edições do referido projeto, Meio (Volume I) abriga
ainda, textos de críticos, de curadores e de artistas. Essa edição foi contemplada
pelo edital público Conexões Artes Visuais da Funarte 2010.
Além de pesquisar e refletir sobre a publicação como
espaço expositivo, Regina Melim desenvolve espécies de
propostas curatoriais mediadas por publicações editadas pela
Par(ent)esis, tais como PF, Amor Leve com Você, Coleção e
os livros Conversas e ARTE E MUNDO APÓS A CRISE DAS
UTOPIAS: assim mesmo, em CAIXA ALTA e sem notas de rodapé.
estratégias expansivas
espaços moventes
fixo, era um tipo de emblema ou uma espécie de sinalização,
a qual se utilizava de estruturas físicas pré-existentes para
acomodar as suas estantes e mesas. Instalada em tais locais,
a LOJA ficava aberta por um curto período de tempo. Em uma
edição da LOJA, durante o seu fechamento, pude observar
que todo o seu material de venda cabia dentro de uma mala 89
de viagem. Naquela ocasião, associei o projeto LOJA ao modo
de existência ‘mascate’ e ao sistema de mercado ambulante.
Tal iniciativa exemplifica, através de suas operações simbólicas
e de suas negociações efetivas [agenciamento dos lugares,
curadoria dos artistas, transporte dos trabalhos, divulgação das
edições, modos de apresentação, participação do público e
comercialização dos trabalhos], uma provável expansão dos
territórios negociáveis da arte.
Assim, LOJA aponta diretamente para as experiências
prospectadas nas décadas de sessenta e setenta pelo Fluxus.
Lembremos que, encabeçado pelo artista lituano George
Maciunas, o Fluxus agrupou profissionais de diferentes áreas
e partes do mundo, da literatura à economia, realizando apre-
sentações de concertos musicais, ações visuais, improvisações,
‘produtos flux’, vocalizações, instruções, partituras, manufatura
de instrumentos estranhos, arte postal, caixas e maletas com
tiragens de edições, entre outros múltiplos. Fluxus nasceu como
um coletivo informal, sob o signo de influências e reminiscências
estratégias expansivas
espaços moventes
De um modo geral, quase todos os itens mencionados
por Maciunas são reconfigurações de produtos já existentes,
articulando-se com a noção de ready-made. Assim, as ideias de
originalidade e de edição implícitas no conceito de ready-made
fariam parte do legado que Duchamp deixou ao Fluxus. Vale 91
observar que grande parte dos ready-mades, hoje existentes,
não é original. Ao serem perdidos ou extraviados, na década
de cinquenta e sessenta, Duchamp realizou novas edições dos
seus trabalhos, assinando e datando-os conforme seus ‘originais’.
Tal fato é descrito pelo curador Pontus Hultén, ao lembrar-se
de uma exposição realizada em uma livraria, onde Duchamp
participou com seus ready-mades:
O similar se desenvolve em séries que não têm nem começo nem fim,
que é possível percorrer num sentido ou em outro, que não obedecem
a nenhuma hierarquia, mas se propagam de pequenas diferenças em
pequenas diferenças. [8]
espaços moventes
singulares que tais produções encerram.
Atualmente, existem lojas virtuais que comercializam
alguns ‘produtos flux’, disponibilizando-os para colecionadores
e para outros interessados, entretanto, especialistas em Fluxus
analisam esses itens com certa hesitação. A morte de Maciunas,
o qual se auto-intitulava como sendo o fundador do grupo, em 93
1978, parece ter extinguido boa parte do ânimo que movia o
Fluxus em suas ações irônicas, seus projetos artísticos e em
seus empreendimentos comerciais. Grande parte das iniciativas
artísticas de criação de espaços que distribuem múltiplos e
publicações articula-se como um reflexo da abertura principiada
pelo Fluxus.
Aqui, esta discussão não buscou delinear traços de
semelhanças, através de uma paridade conceitual entre os
projetos abordados, mas, sim, observou as confluências entre
‘invenção de formas sensíveis’ e ‘modos de agir e habitar’. Ao
aproximar os projetos de curadoria portátil de Regina Melim às
proposições de Siegelaub e de Obrist ou ao acolher no mesmo
ideário Duchamp e Fluxus, constatou-se que ambos não se
esgotam nas relações de originalidade e de portabilidade. Tais
projetos, buscando espaços moventes e propondo aberturas
para o escoamento da produção artística, abrem questões que
restam em suspenso. Assim, ao abordar um trabalho de arte
que simula características de um produto em série, mesmo que
estratégias expansivas
112
entrevistas
emblema, uma placa de sinalização e ativação do espaço que
temporariamente ocupa. Vejo neste processo de agenciamento
uma relação com questões institucionais da arte e, ao mesmo
tempo, informais. Estou no caminho certo? 113
Regina
Sim. Mas, também, é importante assinalar que tudo começou
quando os dois primeiros volumes da série Conversas (Ana
Paula Lima e Ben Vautier / Fabio Morais e Marilá Dardot)
estavam prontos e senti a necessidade (igual havia sido com o
PF, amor: leve com você e Coleção) de criar um circuito próprio
para eles. Não era em uma prateleira de livraria (tão somente),
porque essa série eu vejo como um modo outro de expor,
cujo lugar é o de uma publicação. Assim, surgiu a ideia de
fazer uma exposição onde pudesse inserir outras ‘exposições’,
outras publicações onde não apenas compartilharia com outras
produções, outros pares, mas poderia começar a debater sobre
esse lugar-publicação, tanto como uma exposição (cada uma
delas, independentemente) e também, no conjunto, seus modos
de expor. Além disso, uma questão sempre me perseguiu: publi-
cação tem que ser manipulada, folheada, lida. O espectador
tem que ter essa proximidade e um tempo diferenciado daquele
estratégias expansivas
entrevistas
Não poderia ser desse modo. Eu tinha uma referência muito
importante que eram as lojas Fluxus e no meu imaginário, pas-
sar na Canal Street, NY, em 1964, entrar e adquirir ou levar
algo que estivesse ali para ser distribuído gratuitamente, era o 115
mesmo que passar no mercado e levar frutas, ou passar na
padaria e levar pão. Tudo tratado como gênero de primeira
necessidade. Pode soar estranho, mas foi isso que me motivou.
E a logo da LOJA - um carrinho de compras, daqueles de ir
à feira - potencializava isso.
Michel
A segunda questão [...]
O nome LOJA [escrito em letras garrafais] joga com a força
que o título pode instituir. Lembro aqui do museumuseu da Mabe
B. [ressalto que estou falando sobre as suas semelhanças
constitutivas do título e não dos modos de operação do referido
trabalho]...
Regina
LOJA - assim mesmo, em caixa alta - para reforçar a ideia de
que ali o espectador vai encontrar uma série de publicações
que estão à disposição para o manuseio, venda e distribuição
gratuita.
estratégias expansivas
Michel
Observo em alguns trabalhos anteriores [PF, amor leve com você
e Conversas] - a publicação como um vetor de condensamento
de artistas e de seus trabalhos, ideias e pensamentos. Na
LOJA, isto acontece também [agora são as publicações e os
objetos múltiplos que estão agrupados sobre o mesmo escopo].
116 Como que funciona o processo de contato com os artistas que
possuem trabalhos vinculados a LOJA?
Regina
Funciona da mesma forma que os projetos anteriores que
você à pouco citou, ou seja, através de uma rede que vem
se formando, ao longo do tempo, por afetos e proximidades
conceituais.
Michel
Há um limite de preço estipulado para os trabalhos que são
comercializados na LOJA? Por quê?
Regina
Porque o que sempre me interessou nos procedimentos artísti-
cos, cujos formatos são o de publicações, é a possibilidade de
poder multiplicar, de ser uma série que se estende e passa a
lidar com outros valores, menos extorsivos, muitos deles com
valores tão ínfimos que qualquer um pode possuir. Nunca me
interessei por publicações que se apóiam em tiragens mínimas
como uma qualidade que as singularizam. A força está na
circulação e na expansão do circuito.
entrevistas
Michel
Em todo este processo - o valor dos trabalhos é repassado
integralmente aos seus autores. Isto, novamente, quebra com a 117
lógica de uma loja comum. Assim, me pergunto: A LOJA seria
um trabalho de arte que passa invisível aos olhos dos outros?
Ou é outra coisa?
Regina
A LOJA pode ser tratada como um trabalho artístico sim. Do
mesmo modo que uma exposição pode ser tratada, em muitos
casos, como um trabalho artístico. Mas tem outro lado que
gostaria de assinalar que é o fato da LOJA, assim como os
outros projetos que tenho desenvolvido, estarem todos muito
aderidos à minha prática de professora e pesquisadora na
universidade. Não consigo desvincular uma atividade da outra.
Assim, A LOJA também se traduz como uma amostragem
das prospecções de uma pesquisa acadêmica, cujo objetivo é
suscitar debates acerca dos modos de apresentação de uma
pesquisa experimental em arte. Trato a LOJA como uma expo-
sição e essa exposição do mesmo modo como se estivesse
apresentando um texto ou um artigo. Em cada edição da LOJA
estratégias expansivas
Michel
Do mesmo modo que a LOJA possui uma portabilidade congê-
nere aos objetos que abriga, ela também possui edições [como
uma publicação pode ter]. Já está na quinta edição?
Regina
Sim, na quinta e última edição. E o mais interessante é que
ela fecha como LOJA e como seminário, dentro de uma
universidade.
Michel
Como elas aconteceram? Os lugares e os públicos foram
diferentes?
entrevistas
Regina
Então, como o formato da LOJA, enquanto exposição, difere
daquilo que estamos acostumados a conviver, o lugar e o
público, igualmente são diferentes e com muitas variantes. A 119
primeira edição foi realizada em Curitiba (PR), no Núcleo de
Estudos de Fotografia - um lugar que é coordenado por dois
artistas, Milla Jung e Felipe Prando. A LOJA permaneceu durante
três semanas do mês de novembro de 2009, convivendo com
visitantes que ali chegaram para ver a exposição, bem como
os alunos que durante a semana assistiam aulas ministradas
por esses dois artistas. Ocupamos a sala principal, onde as
aulas são ministradas e onde os artistas trabalham. Foi um
convívio interessante, disse um dos alunos quando fizemos a
habitual conversa com o público. Em dezembro deste mesmo
ano, fizemos a LOJA em Florianópolis (SC). Durante uma
semana ocupamos uma pequena sala, no centro da cidade,
conhecida como Memorial Mayer Filho e que é destinada a
espaço expositivo. Pelo fato de ser na área central da cidade,
com um grande fluxo de pessoas, e estarmos a poucos dias do
natal, o público foi o mais diversificado possível. A LOJA tomou
aspecto de espaço de comercialização mesmo! Não parávamos
de atender, fazer pacote. Não houve a mínima possibilidade
estratégias expansivas
Michel
Por enquanto, era isso. Abraço.
entrevistas
Regina
E eu digo o mesmo, por enquanto era isso. Abraço e até breve.
121
122
CRISTINA FREIRE
[MUSEU]
entrevistas
123
estratégias expansivas
124
entrevistas
podem empregar ou abrir mão das estruturas convencionais de
edição, publicação, distribuição e de circulação.
1] Nesse sentido, acredito que o lugar de onde falamos pode ser 125
um dos indicativos dos nossos modos de pensar a arte. Por tal
motivo, gostaria de abordar a tua experiência como professora-
pesquisadora da universidade e vice-diretora do MAC-USP. A
meu ver, dois lugares que, essencialmente, vivem de relações
dinâmicas entre pesquisa e arquivo, e que muitas vezes podem
esbarrar nos processos distributivos e de circulação, tanto da
produção intelectual, como da produção artística. Como o museu
de arte contemporânea pensa este tipo de produção que articula,
em seus processos intrínsecos, circulação, manuseio e leitura?
Cristina
Na minha atividade de ensino, nos cursos de graduação e de
pós-graduação que ministro, assim como nas minhas palestras,
nos textos que escrevo de uma maneira ou de outra meu ponto
de partida é sempre o museu. Esse é o lugar (no sentido
antropológico, histórico, arquitetônico, de onde partem minhas
reflexões etc, etc). Ou seja, meu pensamento sobre as práticas
artísticas é sempre contextualizado e volta-se criticamente para
estratégias expansivas
entrevistas
A primeira, e eu acho que isto que vai diferenciar o trabalho
da pesquisa num museu de arte, do trabalho de investigação
em outros contextos, é que a obra de arte é o ponto de par-
tida. Não deve-se cair no risco de tratar a obra de arte como 127
algo isolado e autônomo, mas, sim, pensar na retórica que ela
engendra numa coleção. Essa retórica é feita de palavras e
silêncio, ou seja, de presenças e ausências. Isto quer dizer que
é significativo do ponto de vista artístico e político dar atenção
aos artistas menos conhecidos. Isto porque, muitas vezes, existe
aquela tentação mercadológica de reiterar o mesmo. E a nossa
situação num museu de arte público e universitário é justamente
resistir a essa sedução, cada vez mais forte, que o mercado e
as organizações espetaculares criam em relação ao sistema da
arte. É preciso admitir que fazemos muito, muito mesmo, por
poucas obras e fazemos pouco por centenas de milhares de
outras. Isto requer deixar um pouco de lado a expectativa do
público, já moldada pela sociedade de consumo e por meio de
uma pesquisa em profundidade levantar outras questões que
possam estar abrindo outras veredas.
Michel
2] As publicações de artista são caracterizadas por terem
estratégias expansivas
entrevistas
de arte contemporânea. Cada uma dessas funções, pois tendo
como origem um conceito de obra moderna (autônoma) ainda
pautado nas categorias herdadas das Belas Artes. Publicação de
artista, portanto como categoria dá conta de uma variada gama 129
de práticas artísticas. Tenho buscado ampliar a compreensão
do que venha a ser ‘publicação de artista’ no âmbito das
práticas museológicas. Isso quer dizer, por exemplo, reconhecer
a existência de zonas de trânsito, por exemplo, entre a reserva
técnica, a biblioteca e o arquivo no museu vis-à-vis a produção
artística contemporânea. Essas zonas, creio eu, não devem ser
obliteradas, mas avaliadas cuidadosamente em suas correlações
para que possam redefinir o papel e o lugar do museu no
século 21.
Michel
3] Ao ar do tempo, o histórico do MAC-USP, iniciado pelo
professor Zanini, já demonstrava uma especial atenção para
este tipo de produção. Não é? Na lógica do acolhimento de
experimentações em arte contemporânea, poderia comentar as
reverberações que ainda hoje ecoam?
4] As narrativas que história da arte nos apresenta, em grande
estratégias expansivas
entrevistas
momento, representava este ‘espaço operacional’. Isto é um
espaço de produção e recepção artística fundidos como arte e
vida. Dirigido pelo prof. Walter Zanini, grande incentivador da
arte de vanguarda desconstrói-se, nesse momento, a autonomia 131
do museu e da obra de arte. Outras proposições entram no
campo da definição do que deva ser ou que pode ser o objeto
de arte: a arte postal, os livros de artista, as instalações e os
vídeos. Coloca-se hoje, então, a questão extremamente im-
portante, dentro do conceito de curadoria de arte e de arte
contemporânea: o que significa conservar e o que significa
restaurar? Conservar, especialmente no conceito próprio à arte
contemporânea, sugere dar inteligibilidade aos trabalhos e o
papel da pesquisa é aí fundamental. Isto é, trata-se, sobretudo
de atribuir a estes projetos significado e valor, ao inseri-los
numa rede simbólica mais ampla. No caso da América Latina,
a história política do continente deve ser considerada. Isto
porque esta rede simbólica compreende o contexto político e
social da realização das obras, as condições de sua legitimação
ou exclusão institucional, assim como repertórios de intenções
dos artistas. Deste modo, restaurar pode significar recuperar
a função política do museu, ao reinventar suas práticas, para
que ele possa representar o lugar privilegiado estratégico,
estratégias expansivas
134
entrevistas
Perspectivas do Livro de Artista, ocorrido em 2009 na UFMG,
e qual a importância deste na prospecção de uma Coleção
Especial de Livros de Artistas na Biblioteca da EBA da univer-
sidade? Como foi o processo de negociação com a Biblioteca 135
da EBA, para se inserir está coleção - a qual, muitas vezes,
parece ser inclassificável? Como começou a coleção e como
ela continua? Como se dá o processo de seleção do material
e aquisição dos livros? Como se dará o acesso ao público?
5
Projeto criado em 2007 pela Galeria Vermelho [SP], TIJUANA tem como objetivo
a apresentação de obras impressas cujo suporte as diferencia dos formatos
tradicionais de obras de arte como a pintura, a fotografia ou a escultura. No
TIJUANA, obras de arte como livros de artista, gravuras, pôsteres, vinis e DVDs
são produzidos, apresentados, e comercializados. O projeto acomoda também
lançamentos de diversos tipos de publicações de artistas e de projetos editorias,
criando com esses procedimentos uma plataforma ampla de apresentação e
discussão acerca da arte impressa.
E o que falta para isso ocorrer? Pelo que percebi, na tua fala
e no exemplares da coleção, há uma tendência pelos múltiplos
e pelas publicações... Poucos exemplares são trabalhos únicos...
Acredito que tal fato possui uma lógica interna em relação ao
lugar que os abriga - uma biblioteca. Caso fossem trabalhos
sem tiragem, o contato com o público, talvez, seria de outra
estratégias expansivas
Amir
136 A ideia do seminário: A pós-graduação da EBA realizava todo
ano seminários, abertos ao público, mas obrigatórios para os
alunos. A Cacau, minha orientadora, era coordenadora da pós,
e pensamos em fazer um seminário temático. Ela participou da
banca de defesa do Paulo Silveira, e tem interesse em livros
de artista, assim propusemos este tema. Depois de confirmar
a participação do Paulo Silveira e do Paulo Bruscky, os outros
convidados prontamente aceitaram participar. Era para ser um
evento pequeno, ele foi crescendo aos poucos: era para ter
apenas as mesas-redondas, mas decidimos aproveitar a vinda
dos convidados para oferecer uma palestra ou curso, pensamos
que um ou outro aceitaria esta atividade extra, sem receber
cachê, apenas bilhete aéreo e estadia, e todos toparam.
A coleção iniciou um pouco antes, e haveria uma mostra com
os livros, que também foi crescendo: inicialmente era o meu
acervo pessoal e da Cacau, e alguns exemplares recebidos
para a formação da biblioteca, depois incorporamos obras dos
convidados, e finalmente dos alunos, ex-alunos e professores
da EBA. A mostra incluiu uma instalação, obras únicas, livros
alterados, fac-similes.
entrevistas
outra consequência direta foi que vários participantes deixaram
obras para a nossa coleção. Algumas pessoas que foram as-
sistir às palestras também doaram livros de sua autoria. Mas,
não lembro de muitos livros que foram citados no seminário 137
que tenham sido incorporados ao acervo. O Brad Freeman
apresentou um livro chamado Belo Horizonte, de um artista
alemão, Joachim Schmid: pedimos a ele, Schmid, a doação
deste livro, e recebemos um pacote com 4 ou 5 livros diferen-
tes, alguns em alemão. Para minha comunicação, sobre livro
infantil, consegui a doação de um importante catálogo italiano,
do OPLA, que vem com um CD-Rom. O Brad enviou 120
exemplares do JAB para distribuição durante o seminário (ed.
23 a 25). Recebemos alguns livros teóricos: sobre o Bruscky,
sobre o Felipe Ehrenberg, o Artist’s Book Yearbook, e Libros
de Artista, catálogo de Martha Hellion. Demorou certo tempo
para conseguirmos apoio, colocaram empecilhos quanto à verba
para aquisição, pessoal para cuidar, espaço físico. Fizemos
um projeto em que detalhamos isso, destacando as doações
por meio de cartas-convite. A expectativa, na época, era de
receber 40 livros. A nova diretora também apoiou a causa, e
tem intenção de se especializar na catalogação deste tipo de
material. O Paulo Silveira enviou uma cópia do Artists’ books:
estratégias expansivas
entrevistas
realizado no CCSP em 1985 (curadoria de Annateresa Fabris e
Cacilda Teixeira da Costa); Ex-Libris/Home Page, Paço das Artes,
São Paulo, 1998 (curadoria de Giselle Beiguelman); Livro-objeto:
A Fronteira dos Vazios (curadoria de Marcio Doctors, evento 139
paralelo a Bienal de Veneza, 1993 / Centro Cultural Banco do
Brasil – CCBB–RJ, 1994 / MAM–SP, 1995); BRASIL: sinais de
arte – livros e vídeos 1950-93 Milão, Veneza, Florença e Roma,
1993 (curadoria de Paulo Herkenhoff).
Repare que faz dez anos que não acontece uma grande mostra
só de livros de artista no Brasil. O público tem acesso aos livros,
mas não pode retirar da biblioteca. Ainda não definimos como
será o manuseio, se precisa de luva, se um funcionário vira a
página. Vamos conversar com o pessoal da conservação, e as
bibliotecárias do setor de livros raros, para ver como procedem.
Talvez adotemos um procedimento assim para obras delicadas,
em pequena tiragem. O Mário Ishikawa pediu algumas garan-
tias de conservação das obras, antes de decidir se faz uma
doação. O material ainda não está catalogado, temos cobrado
para agilizar isso, havia outra prioridade, que era a catalogação
de livros novos, para os cursos do Reuni, do governo federal.
estratégias expansivas
140
CRISTIANO LENHARDT
[RELACIÓN ORNAMENTAL]
entrevistas
141
estratégias expansivas
142
Cris,
A Relación Ornamental é uma publicação de artista muito
especial para mim...
entrevistas
pensamento que não dissocia a imagem, da documentação, do
texto...]. Enfim, das relações da arte e da vida. Já se passaram
quatro anos de sua publicação [ela foi editada em setembro de
2006]. Parece-me que esta publicação marca uma fase da tua 143
vida - de mudança de Porto Alegre para Recife. Dos encontros
felizes...Tem interesse em falar um pouco sobre esta publicação?
Na capa da «Relación Ornamental» há uma fotografia de um
trabalho teu, chamado «Transplanta»? É isso, não é? Fale sobre
este trabalho que está na capa e que perpassa os textos das
páginas internas da publicação? Como que nasceu a ideia de
publicar? Ela tinha uma tiragem, ou tu foi fazendo e não contou?
Como foi a sua distribuição? Restam algumas?
entrevistas
Por esse tempo escrevi de um lugar em que me encontrava,
a felicidade e a transformação.
Meu encontro com o mundo tropical foi impactante, senti os os- 145
sos aquecidos. A vontade era de fazer essa descoberta circular.
Para mim, escrever é encontrar um lugar onde uma espécie de
intuição se aproxima do verbo e encoraja o fabular, destrava
o limite entre o real e o artifício. Um encontro com algo que
está bem mais adiante de mim.
Fiz 100 livrinhos, um tanto eu vendi por 1 real durante o SPA
das artes em 2006, outro tanto eu dei a amigos e artistas.
Um abraço, Cris.
Nota
Em 2010, foi produzida uma segunda tiragem de Reláción Ornamental para
a exposição A CASA COMO CONVÉM na Galeria Mariana Moura [PE],
espaço que, a partir de janeiro de 2011, abriga a BANCA [projeto móvel e
independente concebido pela arquiteta Cristina Gouvêa e por Silvan Kälin,
apresentado e comercializando trabalhos múltiplos e impressos de artistas.
estratégias expansivas
146
PAULO SILVEIRA
[PUBLICAÇÃO DE ARTISTA]
entrevistas
147
estratégias expansivas
148
entrevistas
publicações de artistas, ao mesmo tempo, podem se afastar da
formatação padrão de um livro?
Paulo 149
A formatação padrão de livro é uma das apresentações possíveis
de uma publicação de artista. Existem as revistas, jornais,
folhetos e outras conformações, que geralmente associamos aos
formatos gráficos de leitura. Entretanto, acho (de fato não tenho
certeza) que o termo ‘publicação’ não tem sua origem ligada
ao livro. Acredito que esteja ligado à etimologia de ‘público’. E
editar tem relação com entregar, pôr fora, apresentar, mostrar.
Sempre é bom lembrar que éditos não são livros, mas decisões
ou proclamações vindas oficialmente a público, que se fazem
saber em voz alta (neste caso, voz impressa). A ideia de
publicação me parece associada à ideia de divulgação, efetivada
pela entrega ao público de algum tipo de material multiplicado
por equipamentos gráficos. É objetivamente funcional (e palpável,
diferente de difusão, por exemplo). Tornar público é uma
ação que vem em oposição ao permanecer privado. Podemos
insolentemente atribuir julgamentos como correto ou incorreto,
bom ou mau, etc., mas não há arrogância em perceber uma
existência mais ativa ou mais passiva de uma obra, no todo ou
estratégias expansivas
150 Michel
Indo ainda na mesma direção da pergunta anterior, algumas
publicações de artistas, concebidas para terem um preço
relativamente baixo, circularem por distintos lugares e serem
manuseadas ao sabor da leitura, com o passar do tempo,
ganham outro estatuto [retornam ao meio em que foram criadas
e conseqüentemente perdem as suas características de objetos
do mundo]. Aconteceu isto com a publicação Twenty-six Gasoline
Station, do artista Ed Ruscha e com tantas outras. A possi-
bilidade de o artista manter uma tiragem constante poderia
quebrar com essa lógica? [Parece-me que o Cildo Meireles
ainda faz tiragens da notas Zero Cruzeiro...]
Paulo
A lógica da mais-valia e do fetiche é constitutiva de qualquer
mercado de trocas. Ela pode, sim, ser aplacada pela impressão
por demanda, pela reedição ou outras soluções. Mas sempre
haverá um comprador disposto a pagar mais por um rebento
da primeira impressão ou mesmo um exemplar de uma edição
espúria.
Michel
entrevistas
Poderia falar sobre alguns trabalhos, na arte brasileira, que tu
considera como sendo emblemáticos da publicação de artista
[tiragem e circulação]?
151
Paulo
Há alguns livros que são muito importantes, como os livros
- objetos de Augusto de Campos e Julio Plaza; o Manual da
Ciência Popular, de Waltercio Caldas (com reedição inclusive
em inglês); a produção histórica e marginal de livretos feitos em
fotocopiadoras; e algumas edições atuais (e às vezes luxuosas)
de editoras maiores e com público cativo. Temos, também,
o material postal de Paulo Bruscky e seu círculo, os periódi-
cos criados e mantidos por artistas (muitos sequer passaram
dos números iniciais), os registros fonográficos (esses mais
raros), os objetos inclassificáveis e a memorabilia em geral (de
qualquer natureza ou grau de ‘artisticidade’, do Zero Cruzeiro
aos cartazes de exposição). Esse é um território em que obra
plástica, documento, crítica, política e anedota se misturam, e
que aguarda uma prospecção intensa, construída com metodo-
logia e seriedade. É um campo ainda em aberto, mas com
pesquisas de alto gabarito acadêmico surgindo.
estratégias expansivas
Michel
E sobre os seus espaços de inscrição [como que estes trabalhos
transitam em diferentes meios do social]
Paulo
Os espaços de inscrição são os de domínio das trocas culturais:
152 você compra ou faz escambo de bens símbolicos. O circuito é
segmentado e faz parte de uma união de grupos específicos,
com escala de valores diferenciados. Acredito que o trânsito
desses impressos e artefatos esteja facilitado pelo colecionismo
contemporâneo de produtos e subprodutos indiciais ‘alternativos’,
um hábito aceito com grau elevado de aprovação social.
Michel
E, de um modo específico, sobre os lugares considerados
artísticos nos quais estas produções se inscrevem...
Paulo
Neste caso prefiro uma distinção entre um local ser específico
da arte ou ser artístico. Estas produções quase que apenas se
inscrevem nos lugares (solenes ou alternativos) da arte e nos
“lugares artísticos” (neste último caso as aspas são uma ironia,
uma afetação). Entretanto, elementos como o humor, a narra-
tividade ‘estilizada’ ou a presença facilitadora de signos culturais
urbanos podem favorecer a oferta para grupos de consumidores
não necessariamente interessados nas dimensões sublimes da
arte ou de seus príncipes (os artistas). O consumidor aqui pode
ser uma pessoa física (leiga ou iniciada) ou uma instituição
entrevistas
(mesmo exterior ao sistema artístico).
O cenário dito street, por exemplo, consome, devolve ao sistema
e consome novamente uma retórica visual com elementos híbri- 153
dos do temperamento adolescente, da comunicação de massa
e da arte intermidial, num resultado que se coloca entre uma
expressão meramente confusa e recursos já muito estudados
pela publicidade gráfica e audiovisual. E nós, consumidores
eruditos de bens simbólicos, assistimos pranchas de skate
galgando paredes de museus de arte e antropologia. No final
das contas, é justo: você me empresta o seu pódio e eu lhe
empresto o meu. O lugar alternativo se funde ao espaço do
sagrado.
estratégias expansivas
154
MARIA IVONE DOS SANTOS
[TRÂNSITO]
entrevistas
155
estratégias expansivas
Olá Ivone
Gostaria de estabelecer uma interlocução contigo, a partir de
alguns questionamentos... Atento para o que segue, ressalto
que as questões são amplas. E desta forma, podem ser refi-
nadas pelas direções que tu escolher. Nosso assunto é sobre
publicação e sobre o que está além dele - reflexões, ações,
posições e pesquisa em arte.
entrevistas
Isto não é uma pergunta.
Vejo uma estreita relação entre os grupos Perdidos no Espaço e
Veículos da Arte - a caminhada, a circulação, o trajeto que uma 157
proposição artística desenha ao ser lançada em circunstâncias
de espaços [públicos e privados]. Enquanto que o Perdidos
[projeto originário do Grupo de Extensão - Formas de Pensar a
Escultura da UFRGS] acolhe participantes eventuais e público
externo à Universidade, o Veículos é um Grupo de Pesquisa
formado por professores e pesquisadores, todos vinculados, de
alguma forma à instituição.
Poderia falar um pouco sobre estas duas experiências coletivas?
Maria Ivone
Posso falar dos Perdidos no Espaço que define a condição na
qual nos encontrávamos em Porto Alegre em meados de 2002.
Este nome surgiu como um apelido carinhoso ao Programa de
Extensão denominado Formas de Pensar a Escultura - FPES,
coordenado por mim no Departamento de Artes Visuais da
UFRGS. Desde o inicio nosso objetivo foi criar um ambiente
para praticar e discutir as expansões da arte, partindo de es-
paços pré-definidos no âmbito de cada ação e da articulação
estratégias expansivas
entrevistas
das reflexões delas decorrentes. Com a realização do III Fórum
Social Mundial para Porto Alegre em janeiro de 2003, decidimos
propor a realização de um projeto dentro do módulo temático
Mídia, Cultura e Contra-Hegemonia, apoiados financeiramente com 159
uma pequena verba destinada pela ADUFRGS e contando com
a parceria da PROREXT e do Museu da UFRGS. Realizamos
as intervenções no campus e publicamos 1000 exemplares
do primeiro jornal dos Perdidos, o número zero. O jornal teve
ampla distribuição durante o Fórum e também depois. Ali já
havia um trabalho de teorização que se iniciava visto que
recebemos diversas contribuições. Nós mesmos havíamos nos
encarregado de gerar um canal de difusão para nossas propostas
e inquietações, criando nosso próprio jornal. [...] Propusemos
também no Museu da UFRGS um seminário inscrito como
atividade do PPGAV, no qual participaram Geraldo Orthof da
UnB - Brasília, Julio Castro do projeto Prêmio Interferências
Urbanas / Santa Teresa – Rio de Janeiro, o professor José
Dallo Frota da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, entre
outros. Nossa ideia foi olhar para as experiências da arte na
sua relação com os lugares e contextos e as experiências
coletivas que surgiam. Isto possibilitou uma conexão importante
entre aspectos da arte e os temas sociais do Fórum, e
estratégias expansivas
entrevistas
como tínhamos uma mesa com um representativo acervo de
publicações que havíamos reunido ao longo do tempo. [...]
entrevistas
ministradas. Passamos a escrever e a publicar mais, sempre
atentos a fragilidade de nosso assunto e vendo de que forma
a arte se relaciona com os eventos efêmeros, com os lugares
e contextos nos quais se insere. Isto tudo tem agregado uma 163
dimensão política às nossas reflexões. […]
Podemos hoje ter uma distância crítica e ver que rumos tomaram
as coisas e como tudo isto foi crescendo. Para mim, a questão
da autonomia e da heterogeneidade de pontos de vista segue
sendo crucial. Eu vejo esta questão como projeto de arte,
pois sabemos que os processos de normalização social e de
apaziguamento, alguns produzidos pela indústria cultural ou
por políticas públicas, por vezes neutralizam iniciativas em sua
potência transformadora. Os pontos de vista hegemônicos (e não
me cabe julgar) têm vindo na esteira das grandes produções
artísticas que aterrisam e se formam em Porto Alegre: abertura
de centros culturais, criação do museu Iberê e consolidação
do projeto político da Bienal do MERCOSUL. Um sistema com
um formato mais vertical difere do processo de investigação
ao qual nos propomos que é de fato mais horizontal e aberto.
Acredito que a arte é um processo de pensamento original,
estratégias expansivas
entrevistas
sos ex-alunos. Vi nascer e crescer a Revista Panorama Crítico
(2009), a Investigação 11 (2010) e tornar-se livro o que começou
como um zine, o Meio (2010) organizado por Sari e Daniele
Marx, entre outros tantos projetos. Isto tudo se encontra num 165
mesmo movimento que busca potencializar iniciativas de artistas
valorizando a arte como um saber.
O Grupo de pesquisa Veículos da arte nasceu pela reunião de
um grupo de mestrandos e doutorandos (Hélio, Paulo, Paula,
Solana, Mariana e eu) em 2006. O Hélio me convidou para
partilhar a coordenação do grupo com ele em 2007. O Paulo
Silveira, doutorando orientado pelo Hélio, organizou o Ciranda,
uma publicação que reunia artistas convidados a produzirem um
capítulo visual. Destaco que o livro foi um projeto pioneiro visto
que aliava a prática da publicação no interior de um projeto de
tese em HTC, produzindo uma experiência curiosa, visto que o
Paulo de certa forma testava seu assunto, as narrativas visuais,
propondo aos artistas pensar os encadeamentos de imagens
formando um capítulo. Ao lado de análises de narrativas visuais
canônicas (O livro de Ruscha, por exemplo), havia este projeto
que propunha observar distintos processos narrativos, como
laboratório. Foi à primeira publicação aprovada pelo conselho
estratégias expansivas
entrevistas
na Universidade e discutir a prática da caminhada. Reunimos
naquela ocasião um grupo de 12 arquitetos artistas. Este foi um
bom laboratório, que infelizmente não resultou em publicações
por motivos econômicos e burocráticos, mas do qual guardo 167
agradáveis lembranças.
entrevistas
reconhecidas como arte. No plano teórico o livro de Osborne,
Conceptual Art, reposiciona estas ações e dá uma amostragem
de experiências conceituais mostrando que este movimento abriu
um leque novo de ações para a arte que passa a se inserir em 169
outros sistemas, no político, nos temas sociais e nos sistemas
da comunicação. Lippard havia aberto o caminho para pensar
na desmaterialização da obra de arte. Nos anos 70 proliferam
os escritos de artista o que evidencia uma tomada de posição
do artista que tem por impacto tencionar a função crítica e os
lugares da crítica. (Oiticica entre outros tantos artistas elencados
na publicação organizada pela Glória Ferreira e Cecília Cotrin
e em revistas de arte americanas e européias).
entrevistas
produz o artista?
Assim, pensando, percebi que por mais que as publicações e
suas redes venham sendo assumidas por um mercado editorial 171
ou por sistemas indexadores, há no ato de difusão uma potência
subversiva intrínseca e incontrolável dada pela transitorialidade
do veículo, pela capacidade de chegar a distintos pontos, e
que pela leitura e interpretação que prescinde a um leitor, outro
sujeito que cria lugar para o objeto pela leitura. Assim, quando
o artista se investe em editor de um mundo que ele deseja dar
a ler, ele pode selecionar o mundo em filtro vermelho (Rennó),
extrair o texto de um jornal (Danziger) deixando as imagens
soltas pela folha, ou apor outros escritos a esse suporte. Ele
pode alterar a percepção aplicando filtros sobre as imagens
(Waltercio), ou se ocupar de ver o mundo sob uma ótica outra,
como nos documentos e devaneios de Bernardes no livro Vaga
em Campo de rejeito, ou nas ruminações de escritos volumosos,
visíveis blocos duros a digerir de Severo, ou na criação de
dicionários para as sensações de Coutinho. Basbaum produz
relatos performáticos de seus sistemas relacionais, quando faz
transitar seu NBP. Hélio faz uma dupla tomada de posição no
seu livro O + é Deserto, onde relata e retoma numa prosa rara
estratégias expansivas
Michel
Muitas vezes, espaços de ações e reflexões se ampliam, na
medida em que escapam dos domínios do restrito, daquilo
que não é público. Assim, como uma publicação pode ser
considerada uma forma política de intervenção no mundo?
Maria Ivone
Michel, eu teria vontade de esmiuçar tua dúvida. Tua questão
me coloca diante de duas frentes amplas. O político e o comum.
Do que pode ser visto para além da política entendida como
consenso, mas como exercício do espaço público e democrático.
Cabe a arte revelar a singularidade da posição de quem fala?
Vermeer era político assim como Hans Haacke? Cada qual
entrevistas
enunciava seus conteúdos sob certas formas. Considero que
as publicações são de fato práticas políticas assim como outras
formas. Para os artistas contemporâneos a difusão representa
a possibilidade de exercer autonomia conquistada à duras 173
penas. Publicar é uma forma de ser e de estar no mundo que
se endereça diretamente a um leitor. Isto não é pouca coisa
desde Gutenberg.
entrevistas
Monica Narula, Cláudia Zanatta, PORO, GIA, Stéphane Huchet, Cristina Ribas,
Daniela Cidade, Gláucis de Morais, Grupo URBOMAQUIA, Muriel Caron, Mari
Linnman, Fabiúla Tasca, Hélio Fervenza, POIS, Mabe Bethônico, Raquel Stolf,
Elaine Tedesco.
Jornal Perdidos no Espaço no Centro de Porto Alegre 175
[Número 2, maio / junho, Porto Alegre, Brasil, 2006]
Equipe editorial: Maria Ivone dos Santos, Hélio Fervenza, Glaucis de Morais e
Mariana Silva da Silva. Colaboraram: Melissa Flores, Sandro Bustamante, Larissa
Madsen, André Venzon, Rosana Bones, Katlin Jeske, Cecília Fonseca Dutra,
Márcia Sousa da Rosa, Lilian Minsky, Ana Becher, Janaina Czolpinski, Marcio
Lima, Bitta Marin, Fabrizio Rodrigues, Jaqueline Peixoto, Eduarda Gonçalves,
Fernanda Gassen, Michel Zózimo, Pablo Paniagua.
Nota: Todos os textos publicados nos jornais impressos encontram-se também nos
jornais eletrônicos do site: www.ufrgs.br/artes/escultura/. Nos jornais eletrônicos
se agregam outros colaboradores: (2003) Orlando da Rosa Farya, Mariana Silva
da Silva, Patrícia Franca, Arteconnexion (FR), Geraldo Ortoff, Arte Construtora.
(2005): Pablo Paniagua, Lilian Minsky, Georg Schöllhammer (Áustria), Janaina
Bechler, Maria Ivone dos Santos. (2006) Alfonso Santos.
estratégias expansivas
176
AGRADECIMENTOS
agradecimentos
Crítica em Artes Visuais, pela Fundação Nacional de Artes, em 2010,
possibilitou seu pleno desenvolvimento. A contribuição de todos
os envolvidos, durante os curtos seis meses de realização desta
pesquisa, foi fundamental para torná-la possível. Não posso deixar de
mencionar os nomes de todos aqueles que, de alguma forma, estão 177
presentes neste livro: Amir Brito, Cristiano Lenhardt, Cristina Freire,
Denise Helfenstein, Fabio Morais, Fernanda Gassen, Juliano Lopes,
Maria Ivone dos Santos, Maria Lucia Cattani, Marina Polidoro, Pablo
Paniagua, Paulo Silveira, Regina Melim e Valserina Bulegon Gassen.
[Kartika].[Papel Pólen Bold 90g/m²].[Offset].[2.000 exemplares]
Para Circe, Nãna e Fernanda.