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JUNARA COMPREENDE, SIM.

A vida dos jovens modernos pode trazer muitas dúvidas, principalmente no tocante ao seu futuro.
São muitas pressões e diante das cobranças que chegam sobre faculdade e trabalho, o que fazer?
Essa era uma indagação que não saía da cabeça de Junara. Com 18 anos, tinha acabado de sair do
Ensino Médio, mas sua família só queria que ela se decidisse sobre qual caminho iria seguir dali pra
frente.
Primogênita, morava em uma casa com seus pais e mais 4 irmãos, era inevitável que seus pais
depositassem nela a perspectiva de melhoria de vida; afinal, haviam apostado todas as fichas em seus
estudos iniciais e vislumbravam Junara com o diploma que faltava a eles e que lhes fora tirado pela falta
de oportunidade e necessidade de enveredar pelo caminho do trabalho.
E lá estava ela, voltando novamente de uma caminhada vespertina. Esperava que a atividade física
restaurasse suas energias, depois de um dia cheio de discussões e insinuações por ela só ficar em casa,
mas parece que a adrenalina não adiantou muito...
 Você só quer saber dessa vida, né bichinha?! – indaga seu pai, que estava sentado à mesa,
depois da volta do trabalho.
 Oi, pro senhor também, meu pai. – Respondeu, sendo irônica.
 E você se acha no direito de me responder assim? – pergunta o pai, indignado. Passa o dia
inteiro jogada pela casa...
 Jogada pela casa, não! – interrompe Junara, impaciente. O senhor não vê porque fica o dia
naquela feirinha, mas eu passo meus dias procurando emprego. Mas não tem, posso fazer o quê?
 Que tal estudar, se especializar? – grita o pai. – Tanto que sua mãe e eu alertamos você sobre
a importância de estudar, enquanto estava na escola... mas não! Preferiu empurrar com a barriga;
agora tá aí, encostada! Minha filha, você nem decidiu se quer ir pra faculdade, se quer trabalhar, se
vai montar seu próprio negócio. Parece que não aprendeu nada naquelas aulas do tal Núcleo na
escola! Tá na hora de agir, poxa!
Junara não suportava mais! Caiu num choro ali mesmo e seu João se deu conta de como estava
sendo rigoroso e injusto. Vendo sua filha no chão, ele foi até ela, ajudou-a a levantar e apontou a cadeira
para que ela se sentasse. Depois de enxugar suas lágrimas, Junara falou:
 Pai, o senhor precisa entender... Hoje tudo é muito difícil. Todos os dias naquela feira, o
senhor sente na pele como anda a economia em nosso país. Vários fatores colaboraram com isso: a
pandemia, a má gestão do governo, a crise econômica, tudo... Isso mexeu com todas as possibilidades
que nós tínhamos e fez as oportunidades sumirem. Eu preciso primeiro me entender, saber quais
caminhos combinam comigo e como eu posso usar isso ao meu favor. Também preciso conhecer se o
que eu quero, tem a ver com o que está sendo ofertado ou se é o momento para isso. – Junara tentava
explicar para seu pai que tinha aprendido alguma coisa na escola.
 É, fácil não está. Eu mesmo já mudei várias vezes os itens que vendo lá na feira para me
adequar àquilo que o mercado pede ou ao que a tal crise permite. – disse seu João, parecendo
compreender Junara.
 Pois então, meu pai. Tudo isso influencia e muito na escolha do jovem e na motivação para
essa escolha. Nos falam de competências, habilidades, conhecimentos, atitudes, tantos nomes... É
preciso autoconhecimento e eu tô tentando buscar o meu. As minhas escolhas vão depender de como
os caminhos se apresentam pra mim e isso faz parte de um processo e eu tô nele, acredite! –
Respondeu Junara, segurando a mão de seu pai, como que pedindo sua compreensão.
 Tá bom, minha filha. Como trabalhador eu sei que tudo está mais difícil, mas não posso
deixar de me preocupar com você. – respondeu seu João, tentando ser mais paciente.
 Eu sei, pai... – disse Junara, sorrindo para seu pai.
 Tô vendo que você aprendeu alguma coisa, afinal... Por isso, você vai ter o seu tempo, filha,
eu prometo... – afirmou seu João. – Mas não demore muito, viu! – afirmou incisivo, sorrindo e
abraçando sua filha.
Foi um momento de catarse, mas necessário para seu João entender que os jovens como Junara
não saem do Ensino Médio prontos, sabendo qual caminho seguir. O mercado e a crise econômica
contribuem para a tomada de decisão e desestabilizam toda uma geração. Para sair desse enrosco, resta à
juventude compreender-se e entender o seu meio para assim, decidir seu futuro, diante das cobranças,
dos julgamentos e das expectativas que são depositam neles. É fácil? Não. Mas é o que lhes resta.

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