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ATO IV – CENA 1

(Entra Ofélia, fora de si) OFÉLIA: Onde está a radiosa rainha da Dinamarca?
RAINHA: O que foi, Ofélia?
OFÉLIA: (Canta.) Como distinguir de todos o meu amante fiel? Pelo bordão e a
sandália; Pela concha do chapéu.
RAINHA: Minha encantadora jovem, que significa essa canção?
OFÉLIA: O que diz? Não, presta atenção, por favor. (Canta.) Está morto, senhora, foi
embora; Está morto, foi embora. Uma lápide por cima e grama verde por fora. Oh, oh!
(Entra o Rei)
RAINHA: Ai de mim, veja isso, senhor.
OFÉLIA: (Canta.) O pranto do amor fiel fez as flores perfumadas descerem à tumba
molhadas.
REI: Como está você, minha bela jovem?
OFÉLIA: Bem! E Deus vos ajude. Dizem que a coruja era filha de um padeiro.
REI: Ela pensa no pai.
RAINHA: Gentil Ofélia!
REI: Há quanto tempo ela está assim?
OFÉLIA: Eu espero que tudo saia bem. Mas não posso deixar de chorar pensando que o
enfiaram nessa terra fria. Meu irmão Laertes tem que ser informado. Vem, minha
carruagem! Boa-noite, amáveis senhoras; boa-boite, boa-noite. (Sai.)
REI: Oh, Gertrudes, quando as desgraças chegam, elas não vêm sozinhas, mas em
batalhões. Primeiro o pai dela assassinado; depois, a partida de Hamlet. Pobre Ofélia,
perdida de si própria e de sua razão. E há ainda a ameaça mais grave: Laertes voltou da
França em segredo e não faltam mentiras para envenenar seus ouvidos contra nós.
(Barulho fora de cena)
RAINHA: Meu Deus, que barulho é esse?
REI: Onde estão meus suíços? Que guardem a porta.
CAVALHEIRO (entrando em cena): Protegei-vos, senhor! O maior dos maremotos não
devora as terras com mais fúria do que o jovem Laertes derruba vossos comandos.
LAERTES (entrando e passando por trás do rei e da rainha, armado, com muita raiva,
olhando para todos os lados procurando o rei): Onde está esse rei? Tu, rei canalha, me
devolve meu pai!
RAINHA: Calma, bom Laertes
LAERTES: Uma gota de sangue que ficar calma em mim me diz: bastardo! Onde está
meu pai?
REI: Morto! (Laertes tenta atacar o rei, mas a rainha entra na frente)
RAINHA: Mas não por ele.
REI: Deixe que ele pergunte até ficar bem farto.
LAERTES: Como foi que morreu? Não pensem que me iludem! Pro inferno a
obediência! Cheguei a um extremo em que já não me importa este mundo ou o outro.
Aconteça o que acontecer; quero apenas vingar meu pai, completamente.
REI: Eu não tenho culpa na morte de teu pai, E sinto a dor mais profunda pelo fato.
(Entra Ofélia com flores nas mãos. Ela entra saltitando/ dançando. Passa pela frente
dos outros personagens em cena para que possam vê-la.)
LAERTES:  Boa irmã, gentil Ofélia! (Ofélia se levanta.)
OFÉLIA: (Para Laertes.) Este é um rosmaninho, serve para lembrança. Eu te peço,
amor, não esquece. E aqui amores-perfeitos, que são para os pensamentos. (Ao Rei.)
Funchos para o senhor, e aquiléias. (À Rainha.) Arruda para a senhora, para mim
também alguma coisa. Gostaria de lhe dar algumas violetas, mas murcharam todas
quando meu pai morreu – Dizem que ele teve um bom fim... (Sai cantando e saltitando)
LAERTES: Estás vendo? Tudo isso grita do céu à terra e exige vingança!
REI: Tu a terás; venha comigo. (vão para o proscênio)

ATO IV - CENA 7 (música de fundo – teclado)


Cena começa com o rei e Laertes no proscênio conversando
REI: Hamlet me escreveu. Está voltando da Inglaterra. Se desejas vingança, Laertes,
permanece fechado no teu quarto. E aí provocaremos um duelo de esgrima entre vocês.
LAERTES: Assim será feito; E com esse veneno untarei minha espada (mostra o
veneno). É tão mortal que basta mergulhar nele uma lâmina. Molharei no veneno a
ponta da minha espada e o mais simples toque será a morte.
REI: E eis aqui o nosso plano para que não falhe: quando, no meio do combate,
sentirem sede e Hamlet pedir bebida, eu já terei um cálice preparado para a ocasião, no
qual basta ele tocar os lábios. (Entra a Rainha. Laertes e Rei se assustam) Que foi,
meiga Gertrudes?
RAINHA: Uma desgraça marcha no calcanhar de outra. Tua irmã se afogou, Laertes.
LAERTES: Afogada! Onde?
RAINHA: (Fala olhando para o horizonte, como se estivesse imaginando o
acontecimento) Ela foi até o riacho e quando tentava subir nos galhos de um enorme
salgueiro, um ramo se quebrou; ela e suas flores despencaram juntas. Suas roupas
inflaram e, como sereia, a mantiveram boiando um certo tempo. Mas não demoraria
para que suas roupas pesadas pela água a arrastassem para o fundo.
LAERTES: Ai de mim! Minha irmã afogada! (Laertes chora e a rainha sai da cena
devagar, retirando Laertes com ela. O rei, pensativo, sai andando atrás deles)

ATO V – CENA 1
Ensinor. Cemitério. Dois coveiros com pás, fazendo uma nova cova. Entram Horácio e
Hamlet.
HAMLET: (ao primeiro coveiro) De quem é essa cova, rapaz?
PRIMEIRO COVEIRO: Minha, senhor.
HAMLET: Tua, claro. Estás todo encovado.
SEGUNDO COVEIRO: Sua é que não é.
PRIMEIRO COVEIRO: O senhor parece preocupado, e esta cova é pós-ocupada (os
dois coveiros riem entre si).
HAMLET: Para que homem está cavando o túmulo?
PRIMEIRO COVEIRO: Para homem nenhum, senhor.
HAMLET: Para qual mulher, então?
PRIMEIRO COVEIRO: Nenhuma, também.
HAMLET: Então o que é que você vai enterrar aí?
PRIMEIRO COVEIRO: Alguém que foi mulher, senhor; mas, paz à sua alma, já
morreu. (Riem entre si)
SEGUNDO COVEIRO: Olha, vê aquele crânio? Estava enterrado aí há vinte e três
anos.
HAMLET: De quem era?
SEGUNDO COVEIRO: Foi o crânio de Yorick, o bobo da corte do rei.
HAMLET: (Pega o crânio do chão) Eu o conheci. Um rapaz de infinita graça. Mil
vezes me carregou nas costas; e agora, me causa horror só de lembrar! Olá, pobre
Yorick! Onde andam agora as tuas piadas? Tuas cantigas? Tua alegria que fazia a mesa
explodir em gargalhadas? Nem uma gracinha mais? Olha, diga a minha querida mãe
que, mesmo que se pinte com dois dedos de espessura, este é o resultado final; vê se ela
ri disso!  (Põe o crânio de novo no chão a sua frente)
PRIMEIRO COVEIRO: O Rei vem aí! (Hamlet e Horácio correm e se escondem no
canto do palco)

HAMLET: Quem é que eles seguem? E com um cortejo assim tão incompleto?

(Entram o Rei, Rainha e Laertes, com padres e fidalgos em procissão, calmamente e


lentamente, em formação de triângulo. )

LAERTES: Mais alguma cerimônia?

HAMLET: (para o público) Esse é Laertes.


LAERTES: Minha irmã será um anjo eleito entre os eleitos. (Ofélia começa a entrar
devagar no palco, se posicionando no meio)
HAMLET: O quê, a pura Ofélia?! Não! Parem um momento a terra para que eu a aperte
uma última vez em meus braços. (Chega mais perto de Ofélia e tenta atacá-la.)
LAERTES: Que o demônio carregue a tua alma! (Laertes avança para Hamlet e aperta
sua garganta).
HAMLET: Eu te peço, tira teus dedos da minha garganta; Tira as tuas mãos!
RAINHA: Hamlet! Hamlet!
HAMLET: (a Laertes) Eu amava Ofélia. Quarenta mil irmãos não poderiam amar
Ofélia tanto quanto eu!
REI: Ele está louco, Laertes.
RAINHA: Pelo amor de Deus, deixem-no só. (Laertes, relutante, solta Hamlet)
HAMLET: Pelo sangue de Cristo, o que pretendes fazer, vai chorar? Vai lutar? Jejuar?
Beber um rio? Comer um crocodilo? Eu farei isso. Veio aqui choramingar? Ou me
desafiar? Mande que te enterrem vivo junto dela e eu farei o mesmo. Faria qualquer
coisa por ela. (Horácio tira Hamlet de cena cuidadosamente. Os dois saem.)
REI: (a Laertes, no prescênio) Fortalece a tua paciência. Em breve chegará a nossa hora
de paz; (Os dois saem com a rainha andando um pouco atrás. )

ATO V - CENA 2
Entram Hamlet e Horácio, viram de frente um para o outro no meio do Palco
HAMLET: A vida de um homem é só o tempo de se contar “um”. Sinto por ter me
excedido com Laertes, Horácio, pois nossas causas são semelhantes. Mas estou firme
em meu propósito, que se ajusta à vontade do Rei. Se ele está preparado, eu estou
pronto. Vamos ao duelo!
HORÁCIO: Vai perder essa aposta, meu senhor.
HAMLET: Não creio. Eu vencerei. Você nem imagina a angústia que tenho aqui no
coração.
HORÁCIO: Se há alguma apreensão em seu espírito, obedeça. Providenciarei para que
não venham, dizendo que o senhor não está preparado.
HAMLET: Em absoluto! (Entram o Rei, a Rainha e Laertes, com luvas de esgrima,
jarra, taça e o lenço da rainha, e colocam tudo na mesa)
Os personagens se posicionam no meio do palco e na frente da mesa.
REI: Vem, Hamlet, vem, e aperta a mão que a minha mão te estende. (O Rei põe a mão
de Laertes na de Hamlet.)
HAMLET: Perdão, senhor. Eu te ofendi. Mas me perdoarás, como um cavalheiro. E tu
mesmo deves ter ouvido, que fui atacado por cruel insânia.
LAERTES: Estou satisfeito nos meus sentimentos de vingança. No entanto, recebo
como afeto o afeto que oferece, E prometo respeitá-lo.
HAMLET: Os floretes, senhores! Vamos lá!
LAERTES: Vamos. Um aqui para mim.
Vem um cavaleiro e entrega os dois floretes. Sai correndo atravessando o palco.
REI: Sobrinho Hamlet, conheces a aposta?
HAMLET: Muito bem, senhor; Vossa majestade protege a parte mais fraca.
REI: Não temo por isso; já vi ambos lutando. (Eles se preparam.) Coloquem os jarros
de vinho nesta mesa. Se Hamlet der o primeiro toque, o Rei beberá ao fôlego de Hamlet
com uma pérola única dentro da taça. (Som de trompa.) Vamos, comecem. (Se senta
para observar o duelo)
HAMLET: Em guarda, senhor.
LAERTES: Em guarda, meu senhor; (Lutam – round 1)
HAMLET: Um!
LAERTES: Não!
HAMLET: Julgamento!
HORÁCIO: Um toque. Um toque bem visível.
LAERTES: Muito bem. De novo.
REI: Um momento. (Entra no meio de todos, com a taça levantada.) Hamlet, esta
pérola é tua. À tua saúde. Dêem esta taça a Hamlet. (Oferece a taça na direção de
Hamlet.)
HAMLET: Mais um assalto, antes; deixe a taça aí. Em guarda. (Lutam – round 2)
Toquei outra vez; que diz agora?
LAERTES: Tocou, tocou – eu reconheço.
REI: Nosso filho vai ganhar.
RAINHA: Está suando e sem fôlego. Aqui, Hamlet, toma meu lenço, enxuga a testa. A
Rainha brinda à tua fortuna. Hamlet.
(Ela pega a taça envenenada.)
HAMLET: Gentil senhora!
REI: Gertrudes, não beba!
RAINHA: Vou beber, meu senhor; rogo que me perdoe. (Bebe.)
REI: (À parte.) A taça envenenada; tarde demais.
(A Rainha oferece a taça a Hamlet.)
HAMLET: Não, ainda não, senhora; bebo daqui a pouco.
RAINHA: Deixa eu enxugar teu rosto.
LAERTES: (À parte e fala virado para o público.) Vou acertá-lo agora.
HAMLET: Em guarda para o terceiro assalto, Laertes. Tu estás brincando; eu te peço:
ataca com a maior violência; Receio que estejas querendo me fazer de bobo.
LAERTES: Achas isso? Em guarda, então! (Lutam – round 3)
(Laertes fere Hamlet; então, na violência, as armas saltam e são trocadas. Hamlet fere
Laertes.)
REI: Separem-nos. Estão furiosos.
HAMLET: Não, não. Continua! Ataca! (Continua tentando ir para cima de Laertes)
(A Rainha cai na cadeira ao lado da mesa.)
HORÁCIO: Socorram a Rainha – a Rainha!
HAMLET: A Rainha?
REI: Desmaiou quando os viu ensanguentados.
RAINHA: Não, não, a bebida, a bebida – (Se vira para Hamlet) Oh, querido Hamlet, A
bebida, a bebida! Fui envenenada!
HAMLET: Ó, infâmia! Hei – tranquem as portas. Traição! Procurem o traidor.
(Laertes cai.)
LAERTES: Está aqui, Hamlet; Hamlet, você está morto; Nenhum remédio no mundo
poderá te salvar, não sobra em ti meia hora de vida. O instrumento traidor está em tua
mão, sem proteção e envenenado. O plano torpe voltou contra mim; olha, eis-me caído
para não me erguer jamais. Tua mãe foi envenenada. O Rei, o Rei é o culpado.
HAMLET: A ponta! Envenenada também! Então, veneno, termina tua obra!
(Fere o Rei.)
REI: Ai! Defendam-me ainda, amigos! Estou apenas ferido! (Olhando ao seu redor)
HAMLET: Toma, Rei maldito, assassino. Que sua alma queime no inferno!
(O Rei morre.)
LAERTES: (Já no chão com a mão em sua ferida) Teve o que merecia; O veneno que
ele próprio preparou. Troca o teu perdão com o meu, nobre Hamlet. Que minha morte e
a de meu pai não pesem em ti. Nem a tua em mim! (Morre.)
HAMLET: O céu te absolva! Vai, eu te sigo. (Se vira para Horácio, que começa a se
ajoelhar junto de Hamlet.) Eu estou morto, Horácio. Pobre Rainha, adeus! (A todos.)
Todos vocês que estão pálidos e trêmulos diante deste drama; que são apenas
espectadores mudos desta cena, se me sobrasse tempo – mas a morte, essa justiceira
cruel, é inexorável nos seus prazos. Mas que assim seja. Eu estou morto, Horácio; Você
vive.  Mantém teu sopro de vida neste mundo de dor para contar minha história. Eu
morro, Horácio. O poderoso veneno domina o meu espírito. O resto é silêncio. (Hamlet
morre – no centro do palco.)
HORÀCIO: (Se agacha ao lado do corpo de Hamlet) Assim estoura um nobre coração.
Boa-noite, amado príncipe, Revoadas de anjos cantando te acompanhem ao teu repouso!
Contarei sua história. (Abaixa a cabeça e as cortinas se fecham)

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