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Gênero e Relações de Poder

A identidade de gênero é socialmente importante para configuração das relações de


poder, e isto pode ser observado na própria definição da identidade de uma criança no
ambiente social, a qual se dá mesmo antes do nascimento. Em nossa sociedade, a
definição de “quem você é” está relacionada intimamente com o gênero e a
sexualidade. De acordo com a prevalência de um determinado gênero nas relações de
poder, a autonomia genital de uma criança que nasce ganha significativa importância
cultural. O lugar simbólico do homem e da mulher determina diferenças entre os
indivíduos que vão além da sua estrutura anatômica. Essa diferença torna possível o
desenvolvimento de relações de dominação com base no gênero, como o patriarcado.
O modelo das sociedades ocidentais associa a masculinidade como potência, força e
atividade, enquanto o feminino é identificado com fragilidade, docilidade e
passividade. A forma de dominação pautada nessas considerações é bastante
naturalizada. O movimento crescente de reivindicação pelo fim das relações de
dominação baseadas no gênero coloca em questão os padrões tradicionais do que é o
masculino e o feminino, provocam mudanças sociais e políticas que visam a extinção da
violência e da discriminação e estabelecem relações de gênero mais democráticas. Os
efeitos da dominação masculina sobre o feminino podem ser observados, por
exemplo, nas condições de trabalho entre as mulheres e homens. As mulheres ganham
menos, ocupam posições menos qualificadas e enfrentam quase sempre dupla jornada
de trabalho, com tarefas dentro e fora do lar. Os homens, em geral, ocupam cargos de
posição superior ou de chefia tanto no Estado quanto na iniciativa privada.
Ao longo do século XX ocorreram mudanças importantes na relação entre os sexos e
nos papéis sociais relativos ao gênero, como o aumento da autonomia da mulher e da
aceitação social de homossexuais e transgêneros:
• Maior participação da mulher no mercado de trabalho, e sua consequente
independência econômica;
• Maior liberdade sexual feminina com a difusão da pílula anticoncepcional;
• Igualdade de direitos civis e políticos entre os gêneros;
• Aumento da expressividade dos movimentos sociais envolvidos com as questões de
gênero, como no questionamento às relações de dominação próprias do patriarcado;
• Casamentos entre casais homoafetivos.
Divisão sexual do trabalho: o papel de subordinação da mulher
Os estudos de gênero no Brasil surgiram a partir dos estudos sobre mercado de
trabalho, os quais mostravam que as mulheres ocupavam postos menos qualificados,
com menores salários e associados aos papéis femininos (professoras, enfermeiras,
afazeres domésticos). Por outro lado, o homem, reconhecido pelo patriarcado como o
provedor responsável pelo sustento da família, sempre fora mais valorizado em
ocupações e salários. Os estudos feministas além de criticar as relações de trabalho
também se voltavam para desconstruir o modelo familiar androcêntrico (marido,
esposa e filhos), desnaturalizando esse modelo e as próprias facetas da sociedade
capitalista, que impunha padrões de comportamento que reproduziam uma opressão
material e simbólica contra as mulheres. Uma opressão dupla: subordinação no
mercado do trabalho e serviçais do ambiente familiar, além de serem consideradas
incapazes de exercerem poder de mando na sociedade. Atualmente, a luta das
feministas não se concentra apenas em ser por condições de igualdade entre homens
e mulheres, mas principalmente pela não negação da diferença entre ambos, já que a
igualdade deve ser considerada dentro do âmbito de direitos legalmente
estabelecidos. As mesmas também apontam que não há uma unidade identitária em
“ser mulher”, pois existem várias formas de ser mulher. Algumas feministas, no
entanto, apontavam que as preocupações de emancipação feminina ainda estavam
vinculadas ao modelo familiar burguês. O movimento que levou as mulheres a
ingressar no mercado de trabalho nos anos 1950 não considerava outras
desigualdades fundamentais, como as de classe. Assim, novas orientações do
feminismo, como o feminismo pós-colonial e feminismo negro, criticaram o
individualismo burguês do movimento feminista tradicional. A partir dos anos 1990,
com a ampliação do debate sobre a globalização e seus efeitos, os estudos de gênero e
trabalho se diversificaram ainda mais e mostraram que as assimetrias entre homens e
mulheres ainda persistem, mesmo que de formas implícitas. O que houve foi uma
“feminização” do trabalho, como mulheres ocupando cargos em áreas antes
consideradas masculinas. De qualquer modo, aqueles trabalhos ainda considerados
predominantemente femininos tendem a ser mais mal remunerados e são exercidos
em condições mais precárias. Além de que, esses lugares considerados exclusivamente
femininos são ambientes onde os casos de assédios e piadas ofensivas direcionadas às
mulheres se tornam comuns. Assim, as desigualdades de gênero continuam se
reproduzindo, mesmo com o avanço das mulheres no mercado de trabalho.

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