Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DEDICATÓRIA
Buriol.
3
AGRADECIMENTOS
Muito obrigado.
4
Sumário
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Imagens do universo de brinquedos Barbie que retrata uma vida perfeita,
tortura........................................................................................................................17
Figura 8 – Cenas do filme “ O Abominável Dr. Phibes” de 1971 e sua inspiração nas
remédios.................................................................................................................... 26
Figura 11 – Imagem do boneca sendo queimada após ser jogada num fosso. ........ 29
vermelha.................................................................................................................... 31
ambíguo. ................................................................................................................... 39
Figura 23 – Cindy Sherman, Untitled, 1994. Photo couleur. 126,4 x 186,7 cm. ........ 41
boneca. ..................................................................................................................... 42
.................................................................................................................................. 43
Figura 27 – Imagem das minhas simulações retratando uma possível vítima. ......... 46
“Psicose”. .................................................................................................................. 50
7
Figura 33 – Imagem retirada do livro “Serial Killers Made in Brazil” com os restos do
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
formais que impossibilitam qualquer liberdade em abordar alguns temas onde posso
como nas artes visuais é de uma mera ferramenta que auxilia no meu processo de
use suas experiências pessoais para prever a reação do espectador ao observar sua
está seguindo o caminho pretendido. Afinal este caminho é claro para ele pois foi
justamente ele quem desenhou o mapa a ser seguido. Ao elaborar sua obra, o
artista pretende tocar o espectador, mas para que isso se concretize é preciso que
este esteja aberto, seja suficientemente informado e tenha sensibilidade para isto.
de meu trabalho foi o estilo grotesco, que sempre esteve presente tanto na história
como em diversos setores da humanidade, como explica Thiane Nunes em seu livro
pelo desconhecido e por sua vontade de desvendar mistérios, por encantar-se pelo
diferente ou o que lhe chama a atenção. É como uma categoria cultural inserida em
como forma intencional para abordar assuntos atuais. O emprego deste estilo tão
corpo como registro por meio destas imagens. Abordo como objeto de estudo, o
corpo, essa massa de carne, nervos, ossos e pele, que por meio da sua imagem
artístico que por meio das manipulações destas imagens, simulam incursões sobre o
corpo humano real. São processos de criação que produzem a imagem de um corpo
dramatização.
destaco a problemática das relações entre beleza e violência, busco uma reflexão
_____________
1
Da mesma forma que o corpo se perde com a ação do tempo a fotografia, como um suporte frágil,
também se degenera.
13
conjunto de imagens nos faz perceber que normalidade é algo muito relativo em se
dividindo em capítulos, todos ilustrados com imagens, as várias simulações por que
cada procedimento em que a boneca é submetida, tanto aqueles que tiveram êxito
quanto aqueles que não atingiram minhas expectativas. Introduzo imagens de cenas
serviram como base para uma nova fase da pesquisa envolvendo o corpo humano
Por último, comparo o resultado das imagens obtidas durante a pesquisa à realidade
1 CORPOS DE PLÁSTICO
com o tempo, a não ser pela interferência de outro. Um corpo que sem entranhas,
não fede, não apodrece, não lança seus fluidos corporais, nem tosse ou espirra.
Imutável, não envelhece, não emagrece nem engorda, onde unhas e cabelos não
crescem ou caem em que à pele rígida da matéria plástica é o principal órgão como
envoltório do seu interior oco. Um corpo que não pulsa, que não dorme, que não
íntimos e sociais, seu mundo é cor-de-rosa, vive num mundo feito de sonhos e
fantasia, onde tudo é possível, ela pode ser o que quiser, é o que garante o slogan
impossível. É reproduzida em massa e foi à primeira boneca cujo corpo ousou imitar
Fig. 1 – Imagens do universo de brinquedos Barbie que retrata uma vida perfeita, confortável e feliz.
não somos seres perfeitos, nossa identidade é formada também por nossas
incoerente para representar o ser humano diante de toda sua diversidade. Como um
brinquedo assim poderia ser um objeto tão idolatrado e representante dos ideais de
fazendo com que seu corpo de plástico seja elevado ao caráter humano, por meio
de simulações. Por tudo isso, pretendo desmascarar esse andróide bizarro, subjugá-
que me aproprio de sua aparência como modelo sacrificando-a para meu trabalho.
Assim, posso torná-la mais real através dos sofrimentos e angústias humanas.
Portanto o objeto central de minha obra é este ideal feminino, que segue o
padrão estético definido todas com o mesmo tamanho de busto e quadril, pernas e
Fig. 2 – Imagem com as bonecas escolhidas para participar das simulações de tortura.
sobre meus pensamentos. Era sinistro ouvir apenas as vozes vindas daquelas
silhuetas indefinidas. A meia luz as sombras adquiriam formas tão estranhas quanto
obscuridade das obras de Hans Bellmer (1902 – 1975) que revelam tudo aquilo que
está escondido nas trevas de nossa psique, liberando terríveis desejos para fora da
escuridão afim de que pudéssemos assimilar a plena realidade das nossas paixões
Meu trabalho tem seu início pontuado pelo ingresso neste cenário intrigante
utilizei algumas bonecas numa maquete com uma temática semelhante. Busquei
estas bonecas e separei partes de seu corpo plástico colocando-as sob o ampliador.
Tirei fotos das bonecas Barbies que tinha, levei-as para o meio digital e imprimi as
19
meio digital. Fiz algumas interferências gráficas nas imagens com textos ou
simplesmente palavras de efeito, foi uma maneira de dialogar com o design gráfico e
o que me levou a pensar melhor sobre a sensação que aquelas imagens causavam
20
Agora, a boneca já não tinha a mesma beleza, uma nova estética estava se
formando.
obscuro e incerto. A perda, a imprevisibilidade da vida como algo que não podemos
Fig. 5 – Trabalho da disciplina de Fotografia com colagem dos fotogramas no interior da caixa pintada
de preto.
21
uma caixa de madeira pintada de preto e fechada com uma tampa de vidro. Era a
logomarca, porém mais parecia uma pequena urna funerária envolvendo o produto
“La Poupée”, a boneca criada por Hans Bellmer serve de referência para
meu trabalho, sua criação apresenta um objeto de pretensões eróticas, uma criatura
dorso de uma mulher adulta. É uma escultura que evoca denuncia ao culto ao corpo
produzidos pela obra de arte e sobre as relações com seu próprio. Nessa imagem,
possibilidade de uma cena de violência real bem como as situações que fotografo.
22
Com ainda pouca idade a criança não verbaliza com facilidade seus
órgãos e características sexuais bem definidos, como forma de tentar chegar o mais
Utilizei plástico bolha de cor laranja, como material para envolver o corpo da
da segunda caixa de madeira agora pintada de branco e envolvida com uma tampa
por açúcar. A ação de devorar é repulsiva, a dor na carne pelo veneno do inseto
pânico congeladas.
Bíblicas sobre o Egito utilizadas também no filme da série “Dr. Phibes”, interpretado por
Vincent Price (1911 – 1993), um dos maiores monstros sagrados do cinema de horror.
Javé disse a Moisés: Estenda a mão sobre o Egito, para que venham
gafanhotos sobre o país, e devorem toda a vegetação da terra e tudo o que
salvou da chuva pedras (BÍBLIA SAGRADA, 1990, p. 82).
Nesta Série dirigida em 1971 por Robert Fuest, Dr. Phibes é um psicopata
gênio louco e incompreendido que quer ser vingar dos médicos que o julgaram culpado
pela morte da esposa. Com o rosto desfigurado, transformou-se numa criatura hedionda
Testamento. De visual colorido e estética brega, tocava melodias fúnebres num órgão
estilo “ O Fantasma da Ópera” e possuía uma orquestra de bonecos de cera dos quais
humor negro.
25
Fig. 8 – Cenas do filme “ O Abominável Dr. Phibes” de 1971 e sua inspiração nas históricas dez
pragas de Deus contra um faraó egípcio.
devorando vivo, para isso fui capturando as formigas que aos poucos iam
Barbie, era interessante também esse detalhe do falso, da imitação da boneca por
outra semelhante. Faria o mesmo a todas que tentassem serem iguais a ela. O fato
introduzo em minhas imagens. Abaixo uma citação onde o autor explicita a ligação
incursões que vão do fogo ao lixo. Reduzi sua integridade física, desrespeitei limites
promovendo todo um ritual bizarro deixando aquele corpo de boneca mais humano.
O ato de proferir a violência sobre a boneca fica ainda mais chocante por se
2.1 A Incineração
pela luz, sombras e cor do fogo. O fogo, para mim, representa o fim, a perda, uma
uma realidade inusitada. Separei as partes queimadas com novas formas e cores.
Fig. 11 – Imagem do boneca sendo queimada após ser jogada num fosso.
30
experiência com o relato da cena produzida pelo assassino Dennis Nielsen, para
ocultar vitimas.
O corpo permaneceu ali por sete meses e meio, até ser queimado numa
fogueira juntamente com borracha, para disfarçar o cheiro de carne assada.
Jogou as cinzas no chão, espalhando-as e o jovem nunca foi identificado
(Dennis Nielsen, Serial Killer inglês, disponível em:
www.serialkiller.com.br/cur_nielsen.html).
31
2.2 O Afogamento
simulando o sangue. Com um corte feito no corpo da boneca ela fica mergulhada em
sangue. A cor vermelha da fotografia foi saturada por meio digital dando maior
impacto a cena. A vítima foi afogada, seu corpo, virado e revirado sob a água turva
da banheira. A cor da água com sangue gerou nova forma à imagem, os cabelos
longos flutuavam sobre a água num movimento suave, era a imagem semelhante ao
desprendimento da alma e do corpo seu corpo físico, uma matéria rarefeita, uma
aspectos semelhantes com outro relato das violências do assassino Dennis Nielsen.
predador.
foi uma experiência satisfatória por não criar a impressão de realidade devido à
33
em si.
Outra situação que me deparei foi quando montei uma pequena instalação
sobre uma base inox simulando um andróide como no filme “Metrópolis”, filme mudo
dirigido por Fritz Lang em 1926 com cenários e efeitos especiais fantásticos onde
portanto, não alcançou seu objetivo inicial. Novamente o problema da escala dos
enforcamento no corpo da boneca não causava impacto algum, era apenas a mera
brinquedos.
35
sacos plásticos. Era mais realista o resultado desta instalação que provoca a
resto de um corpo recolhido e que não se quer expor. Para simular a morte,
2.4 O Soterramento
Retratava uma maneira esconder aquele corpo, guardar a vítima sob a terra, como
abrir um buraco no chão com uma pá. Em meio à vegetação, o corpo da boneca ia
sendo envolvido pela terra escura do vaso de plantas. Aquele belo cabelo agora
38
coberto pela terra já não tinha a mesma dona, ele agora era meu. A ação de soterar
carrega um significado de guardar para si o corpo sem vida, desta forma o indivíduo
[...] relatou ao delegado que, após seis dias, ele teve receio de que alguém
pudesse descobrir o corpo enterrado e, por isso, decidiu desenterrar e levar
o corpo para o quintal da casa dos pais [...] (disponível em:
www.noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI2035625-EI5030,00.html).
Nesta nova etapa do trabalho, convido alguém para brincar, chamo uma
amiga que servirá como modelo. A vítima é o objeto do maníaco. Já não posso fazer
tudo isso sozinho porque a pesquisa agora ganha proporções maiores. Nesta série
não precisei me preocupar com a escala já que não fotografei o corpo da boneca,
mas a modelo com intenção de imitar a boneca. Antes simulava o ser humano,
agora faço o contrário. Conto com o auxílio da técnica fotográfica, da luz e sombra e
queria transportar-me para uma outra fase mais próxima do real, como algo que
entre ficção e realidade. Considerei o que era focado e aquilo que era ocultado pela
ordeno seus gestos de maneira que não me sinta integrado aquelas cenas. Minha
vontade faz parte daquelas cenas, mas não me exponho a qualquer forma de perigo.
ocupo o papel de personagem sem invadir as cenas que crio, não participo delas.
desta história.
Fig. 23 – Cindy Sherman, Untitled, 1994. Photo couleur. 126,4 x 186,7 cm.
42
Fig. 24 – Imagem de meu trabalho mostrando a junção da modelo real com a boneca.
43
Por meio destas imagens, crio um mundo inventado que simula situações
dos fatos. Na pose se revela uma encenação que é da ordem da simulação. Cindy
quem sabe, seja precisamente fazendo isso que eu crio um auto-retrato, fazendo
uma narrativa fotográfica que utiliza essa estética para contar uma história. O
resultado das imagens neste tipo de trabalho é mais satisfatório quando não
Preparei minha vítima para que eu pudesse controlar seu corpo como
dos objetos em cena. Tudo é plástico, transformei este corpo em matéria moldável
até estar pronto para ser profanado. Monto as cenas que me convém imaginando
Nem tudo deve ser explicitado, a verdade dos fatos é relativa, deixo evidente
aquilo que é relevante ao resultado final, aparece apenas o que quero. Preocupo-me
com a composição das cenas e suas cores. As poses são controladas, bem como a
luz do spot fotográfico que proporciona sombras disformes criando novas linhas e
que poderia ter ocorrido é o resultado principal que almejo com meu trabalho. A
ataque maníaco. A raiva é uma emoção natural do ser humano, podemos ser
humanas. A cor adquirida com a luz amarela do spot de luz fotográfica sobre a pele
meu trabalho com as do filme Psicose, por exemplo, em que Norman Bates
cenas são semelhantes às imagens que criei. O filme “Silêncio dos Inocentes”
Fig. 31 – Imagem de meu trabalho com aspectos semelhantes à cena do filme “Psicose”.
51
Meus ensaios fotográficos nada mais são do que a criação de uma realidade
falsa simulando uma realidade de horror. A boneca substitui o corpo humano bem
das fotografias que sugerem muito mais do que realmente está se mostrando.
52
Fig. 33 – Imagem retirada do livro “Serial Killers Made in Brazil” com os restos do corpo mutilado da
vítima.
devido o seu teor brutal. Fotografias sobre grandes homicídios costumam chocar
pelo impacto de suas imagens, torna-se cruel pensar que o homem possa ter sido
oco e frio como uma boneca. Segue abaixo o relato do espectador das referidas
imagens:
[...] Ao abrir a porta do terraço, Joaquim encontrou uma mala, uma sacola e
vários sacos plásticos. Abriu para ver o que era e, a princípio, pensou que
se tratasse de peças e um manequim. A ilusão durou pouco. Atônito,
percebeu que estava mexendo com partes de um corpo de verdade e
brutalmente retalhado (Serial Killers, p. 118).
54
deformado a um objeto.
Fig. 36 – Imagem do meu trabalho fazendo um comparativo com as imagens a cima citadas.
no assassino, faz enlouquecer e almejar a posse daquele corpo, e com o amor não
correspondido pela musa temos a mutilação, a amputação dos seus membros para
mesma. Entendi que não é meu objeto de estudo trabalhar com o corpo morto real,
mas apenas com sua simulação. Diferente de alguns trabalhos do artista fotográfico
Joel Peter Witkin que mistura corpos defeituosos, pedaços de cadáveres em suas
imagens. Aprecio seu trabalho ousado e crítico com a busca pela beleza através da
estética do grotesco.
56
de ódio, felicidade e raiva. As atrocidades humanas passam pela cabeça sem afetar
a verdadeira conduta, atitude das pessoas. São simples desejos obscuros, fetiches,
pensamento pode ser descontrolado, mas não se torna público, mas a partir do
nossa vida, nossa identidade. Esta atitude de mostrar-se a partir de seus ideais tem
sujas, mas ao imaginar que lhes são atribuídos esses pensamentos sujos”
Como na citação acima corro este risco pois acredito na relação do trabalho
temas que são pertinentes na vida do artista e de tudo que o cerca. É uma maneira
de dialogar com seu público e também convidá-lo a dividir o sentimento que surge
CONSIDERAÇÕES FINAIS
que envolvem não só meu íntimo como dos que me cercam. No começo da
controlava, mas agora a controlo por meio dos atos de crueldade, como no caso do
projeto que me fez conhecer minhas atitudes e opiniões diante de novas situações
violência. Será que ela provém da mídia que impõe seus padrões de anúncios de
diferenças. Seríamos nós mesmos? Afinal, somos parte dessa sociedade. Nossas
idéias, conceitos e desejos estão representados nela. Enquanto a mídia, ela nos
seduz pois nos apresenta exatamente o que queremos ver e ouvir. No texto “Narciso
no país das maravilhas” de Contardo Calligari, o autor coloca que o homem moderno
busca o amor e a admiração dos outros, e quando essa busca é frustrada, este trata
60
e deste modo, ser integrado e amado pelo grande grupo. Tornamos-nos mais felizes
e paixão dos demais. A propaganda que a mídia apresenta todos os dias apresenta
com famílias morando ao relento, não nos horrorizamos com o número de mortos
Esta tortura que se apresenta de uma forma tão doce e sedutora é uma violência
disfarçada e sutil imposta pelos meios de comunicação, pela sociedade e, enfim, por
nós mesmos.
fragilidades diante desta violência. Como um psicopata revidei com violência física
tudo àquilo que me oprime, queimei, afoguei e sufoquei, nada mais, do que minhas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
62
SAGRADA, Bíblia.
Home pages:
http://juvenatrix.blogspot.com/2005/11/o-abominvel-dr-phibes-1971-e-vingana.html
2007.
64
Anexos:
65
66
67
68