Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EDITORA UDESC
Fone: (48) 3664-8100
E-mail: editora@udesc.br
http://www.udesc.br/editorauniversitaria
ESTUDOS DA DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO
Anticapacitismo, Interseccionalidade e Ética do Cuidado
PROJETO GRÁFICO/DIAGRAMAÇÃO
Fernanda Gonçalves
ILUSTRAÇÃO DA CAPA
Paloma Santos
FICHA CATALOGRÁFICA
Inclui referências.
ISBN-e: 978-65-88565-51-3
ISBN: 978-65-88565-52-0
APRESENTAÇÃO 9
Laureane Marília de Lima Costa
Solange Cristina da Silva
Rose Clér Estivalete Beche
PARTE 1
ESTUDOS DA DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO:
UMA PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR
1 – EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM DIREITO 21
FUNDAMENTAL, DIFUSO E INDISPONÍVEL
Thais Becker Henriques Silveira
Carla Ramos Gonçalves
Boa Leitura!
16
REFERÊNCIAS
BARNES, C. Social model of disability: valuable or irrelevant? In: WATSON,
N.; ROULSTONE, A.; THOMAS, C. The routledge handbook of disability
studies. Londres: Routledge, 2012. p. 12-29.
BARNES, C.; THOMAS, C. Introducción. In: BARTON, L. (comp.). Superar las
barreras de la discapacidad: 18 años de disability and society. Madrid:
Ediciones Morata, 2008. p. 15-18.
BRASIL. Decreto nº 10.502, de 30 de setembro de 2020. Institui a Política
Nacional de Educação Especial: equitativa, inclusiva e com aprendizado ao
longo da vida. Diário Oficial da União, edição 189, seção 1, p. 6, Brasília, DF, 1º
out. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-
-10.502-de-30-de-setembro-de-2020-280529948. Acesso em: 15 abr. 2021.
CONJUR. Decreto sobre política de educação especial é suspenso por Toffoli.
2 dez. 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-dez-02/decre-
to-politica-educacao-especial-suspenso-toffoli. Acesso em: 25 abr. 2021.
DINIZ, D. Modelo social da deficiência: a crítica feminista. Série Anis
28, jul. 2003. p. 1-8. Disponível em: https://repositorio.unb.br/han-
dle/10482/15250. Acesso em: 6 nov. 2020.
DINIZ, D. O que é deficiência? São Paulo: Brasiliense, 2007.
GARLAND-THOMSON, R. Integrating disability, transforming feminist the-
ory. NWSA Journal, v. 14, n. 3, p. 1-32, 2002, Disponível em: https://www.
researchgate.net/publication/236811967_Integrating_Disability_Trans-
forming_Feminist_Theory. Acesso em: 20 jul. 2019.
GESSER, M.; BOCK, G. L. K.; LOPES, P. H. (orgs.). Estudos da deficiência:
anticapacitismo e emancipação social. 1. ed. Curitiba: CRV, 2020.
IBGE. Censo demográfico 2010: características gerais da população, reli-
gião e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro, 2010.
LANNA JUNIOR, M. C. M. (org.). História do movimento político das pessoas
com deficiência no Brasil. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos. Secre-
taria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2010.
MAIOR, I. M. M. L. Movimento político das pessoas com deficiência: refle-
xões sobre a conquista de direitos. Inclusão Social, Brasília, v. 10, n. 2, p.
28-36, jan./jun. 2017. Disponível em: http://revista.ibict.br/inclusao/arti-
cle/view/4029. Acesso em: 30 maio 2021.
MELLO, A. G.; NUERNBERG, A. H.; BLOCK, P. Não é o corpo que nos des-
capacita, mas sim a sociedade: a interdisciplinaridade e o surgimento
dos estudos sobre deficiência no Brasil e no mundo. In: SCHIMANSKI, E.;
CAVALCANTE, F. G. (orgs.). Pesquisa e extensão: experiências e perspecti-
vas interdisciplinares. 1. ed. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2014.
17
MELLO, A. G.; NUERNBERG, A. H. Gênero e deficiência: interseções e pers-
pectivas. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 635-655,
set./dez. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?scrip-
t=sci_arttext&pid=S0104-026X2012000300003. Acesso em: 6 nov. 2020.
OMS. Relatório mundial sobre a deficiência. São Paulo: SEDPcD, 2012.
STF. Medida cautelar na ação direta de inconstitucionalidade: ADI
0106743-47.2020.1.00.0000 DF 0106743-47.2020.1.00.0000 – Inteiro
teor. 2020. Disponível em: https://stf.jusbrasil.com.br/jurispruden-
cia/1136239244/medida-cautelar-na-acao-direta-de-inconstitucionali-
dade-adi-6590-df-0106743-4720201000000/inteiro-teor-1136239247.
Acesso em: 18 jun. 2021.
THOMAS, C. How is disability understood? An examination of sociological
approaches. Disability & Society, v. 19, n. 6, p. 569-583, 2004. Disponível
em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/0968759042000252
506. Acesso em: 30 maio 2021.
VIVAS, F.; FALCÃO, M. Toffoli suspende decreto da nova política de edu-
cação para alunos com deficiência. Brasília, 2020. Disponível em: https://
g1.globo.com/politica/noticia/2020/12/01/toffoli-suspende-decreto-do-
-mec-com-nova-politica-de-educacao-para-alunos-com-deficiencia.
ghtml. Acesso em: 23 abr. 2021.
18
PARTE 1
ESTUDOS DA
DEFICIÊNCIA
NA EDUCAÇÃO:
UMA PERSPECTIVA
INTERDISCIPLINAR
CAPÍTULO 1
EDUCAÇÃO INCLUSIVA:
UM DIREITO FUNDAMENTAL,
DIFUSO E INDISPONÍVEL
Thais Becker Henriques Silveira
Carla Ramos Gonçalves
1. INTRODUÇÃO
1 Início da nota de rodapé. Texto original: “For too long critical theo-
rist’s have figured places of marginality and liminality as places of
exile – where the emarginated are to be ‘brought in from the cold’
and integrated so that they too can sit beside the ‘warm fires’ of
liberalism (and all will be well). However, as bell hooks reminds us,
the margin can be ‘[...] more than a site of deprivation [...] it is also
the site of radical possibility, of resistance’". Fim da nota de rodapé.
22
uma construção social, experiência que não é inerente ao
corpo tão somente, mas sim, decorrente da relação entre
uma pessoa e uma sociedade que, por meio da adoção de
um padrão corponormativo, a estigmatiza e lhe atribui um
“menor valor” social.
A esse respeito, Débora Diniz (2007, p. 23) elucida que:
Se para o modelo médico o problema estava na lesão,
para o modelo social, a deficiência era o resultado
do ordenamento político e econômico capitalista,
que pressupunha um tipo ideal de sujeito produtivo.
Houve, portanto, uma inversão na lógica da cau-
salidade da deficiência entre o modelo médico e o
modelo social: para o primeiro, na deficiência era
resultado da lesão, ao passo que, para o segundo, ela
decorria dos arranjos sociais opressivos às pessoas
com lesão. Para o modelo médico, a lesão levava à
deficiência; para o modelo social, sistemas sociais
opressivos levavam pessoas com lesões a experi-
mentarem a deficiência.
23
Durante quase duas décadas, a premissa da inde-
pendência como um valor ético para o modelo social
manteve-se livre de críticas. Os primeiros teóricos do
modelo social eram homens, em sua maioria porta-
dores de lesão medular, que rejeitavam não apenas
o modelo médico curativo da deficiência, como tam-
bém toda e qualquer perspectiva caritativa perante a
deficiência. Princípios como o cuidado ou os benefí-
cios compensatórios para o deficiente não estavam
na agenda de discussões, pois se pressupunha que
o deficiente seria uma pessoa tão potencialmente
produtiva como o não deficiente, sendo apenas
necessária a retirada das barreiras para o desenvol-
vimento de suas capacidades. As teóricas feministas
foram as primeiras a apontar o paradoxo que acom-
panhava as premissas do modelo social. Por um lado,
criticava-se o capitalismo e a tipificação do sujeito
produtivo como não deficiente; mas, por outro, a luta
política era por retirar as barreiras e permitir a parti-
cipação dos deficientes no mercado de trabalho. Ou
seja, a aposta era na inclusão e não na crítica pro-
funda a alguns pressupostos morais da organização
social em torno do trabalho e da independência.
24
de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sen-
sorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdades de condições com as demais pessoas”.
Observamos, assim, que, os dispositivos jurídicos acima
referidos, ao conceituarem a deficiência, a partir da intera-
ção da pessoa com barreiras advindas do contexto, filiam-se a
compreensão inaugurada pelo Modelo Social. Sobre o assunto,
escreve Maia (2017, p. 3-4):
26
2. A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO SISTEMA
JURÍDICO PÁTRIO
27
De um modo geral, na perspectiva da integração,
apresentavam-se restrições quanto à ideia de que
todo e qualquer estudante com deficiência pudesse
inserir-se em classes comuns nas escolas regulares.
Desse modo, tendeu-se à colocação de pessoas com
deficiência em escolas comuns, mas não na mesma
classe, isto é, esses estudantes ficavam restritos às
classes especiais. Os serviços especiais permanece-
ram sendo oferecidos de forma complementar ou
para aqueles avaliados com um maior grau de com-
prometimento (Grifo nosso).
29
§ 2º O atendimento educacional será feito em clas-
ses, escolas ou serviços especializados, sempre que,
em função das condições específicas dos alunos,
não for possível a sua integração nas classes comuns
de ensino regular.
30
Na sequência, em 2001, o Plano Nacional de Educação,
que tem por finalidade dar concretude à LDB, foi aprovado por
intermédio da Lei Federal nº 10.172. No que tange à educação
especial, o Plano identificou, naquele momento, poucas pes-
soas com deficiência matriculadas na rede regular de ensino.
A respeito do assunto, observa Valença (2017, p. 43) que:
32
promoção de políticas públicas, inclusive educacionais, que
dispusessem de seus interesses e, principalmente, que o
fizessem a partir de suas próprias narrativas – como reivin-
dica o lema “nada sobre nós, sem nós”.
Foi, nesse contexto político e social, que a Conven-
ção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU
(CDPCD) foi publicada em 2006 e ratificada – com status de
emenda constitucional, conforme já mencionado na intro-
dução – pelo Governo brasileiro. A Convenção é um marco
histórico-conceitual8 e “divisor de águas” na conquista dos
direitos e busca plena pela inclusão das pessoas com defici-
ência na sociedade.
No que se refere à educação, a Convenção, disciplinou,
em seu art. 24, que o sistema educacional deve ser inclusivo
em todos os níveis, não cabendo a exclusão de uma pessoa,
sob alegação de deficiência, do sistema educacional geral.
Ainda, o dispositivo determina que as crianças com deficiência
não sejam excluídas do ensino primário gratuito e compulsório
ou do ensino secundário, sendo que as pessoas com deficiência
devem ter acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade e
gratuito, e ao ensino secundário, em igualdade de condições
com as demais pessoas na comunidade em que vivem.
Em continuidade, o diploma internacional estabeleceu
o dever de adaptação razoável9, conforme as necessidades
individuais de cada pessoa, assim como determinou, de modo
mais amplo, que os estados signatários tomassem medidas
que garantissem a efetiva educação das pessoas com defici-
ência, para maximização do seu desenvolvimento acadêmico
e social, a fim de concretização da meta de inclusão plena.
33
Na sequência, em 2008, foi publicada a atual Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educa-
ção Inclusiva, por meio da qual, a Educação Especial, de
maneira articulada, passou a compor a proposta pedagógica
do ensino regular, norteando o atendimento aos estudantes
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades e superdotação.
Já no ano de 2011, com o intuito de adequar a legislação
brasileira ao disposto na CDPCD, em especial, no seu supraci-
tado art. 24, foi editado o Decreto Federal nº 7.611/2011, que
dispõe sobre “a educação especial, o atendimento educacional
especializado e dá outras providências”. Esse, em seu artigo
primeiro, estabelece algumas diretrizes para a efetivação do
dever do Estado com a educação das pessoas com deficiên-
cia, dentre as quais, a “garantia de um sistema educacional
inclusivo em todos os níveis, sem discriminação e com base
na igualdade de oportunidades” (inciso I), a “não exclusão
do sistema educacional geral sob alegação de deficiência”
(inciso III) e “a adoção de medidas de apoio individualizadas
e efetivas, em ambientes que maximizem o desenvolvimento
acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena”
(inciso VI) (BRASIL, 2011).
34
Ainda, o referido Decreto, determina que “a educação
especial deve garantir os serviços de apoio especializado vol-
tado a eliminar as barreiras que possam obstruir o processo
de escolarização dos estudantes” (art. 2º, caput), devendo o
atendimento educacional especializado
[...] integrar a proposta pedagógica da escola, envolver
a participação da família para garantir pleno acesso
e participação dos estudantes, atender às necessida-
des específicas das pessoas público-alvo da educação
especial, e ser realizado em articulação com as demais
políticas públicas (art. 2º, § 2º) (BRASIL, 2011).
35
ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o
máximo desenvolvimento possível de seus talen-
tos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e
sociais, segundo suas características, interesses e
necessidades de aprendizagem.
Parágrafo único. É dever do Estado, da família,
da comunidade escolar e da sociedade assegurar
educação de qualidade à pessoa com deficiência,
colocando-a a salvo de toda forma de violência,
negligência e discriminação (BRASIL, 2015).
38
condições para o acesso e permanência na escola” e “o
direito de ser respeitado por seus educadores” – respecti-
vamente, incisos I e II do art. 53 do ECA (BRASIL, 1990a).
Tais dispositivos demonstram, em nossa percepção, de
maneira muito nítida, a educação enquanto direito fundamen-
tal, na medida em que é instrumento de garantia de dignidade
humana, de promoção da cidadania, capaz de acolher, em um
espaço seguro e respeitoso, todas as pessoas.
O direito à educação, nesse sentido, constitui-se não ape-
nas como o direito de frequentar a escola, de ser alfabetizado,
estudar história, geografia, artes etc., mas propriamente, o
direito de o fazer coletivamente, em uma escola em que se
possa ser quem se é e, ao mesmo tempo, que se possa con-
viver com o outro e aprender com a diversidade. Em outras
palavras, o direito a uma educação que seja inclusiva. É,
justamente, dessa forma de compreensão do direito funda-
mental à educação e da finalidade desta última em si, que
decorre nossa proposta de enquadramento da educação
inclusiva, também, enquanto um direito difuso e indisponí-
vel, conforme se verá a seguir.
40
igualdade como fundamento de uma sociedade
democrática que respeita a dignidade humana.
2. À luz da Convenção e, por consequência, da pró-
pria Constituição da República, o ensino inclusivo
em todos os níveis de educação não é realidade
estranha ao ordenamento jurídico pátrio, mas sim
imperativo que se põe mediante regra explícita.
3. Nessa toada, a Constituição da República prevê
em diversos dispositivos a proteção da pessoa com
deficiência, conforme se verifica nos artigos 7º, XXXI,
23, II, 24, XIV, 37, VIII, 40, § 4º, I, 201, § 1º, 203, IV e V,
208, III, 227, § 1º, II, e § 2º, e 244.
4. Pluralidade e igualdade são duas faces da mesma
moeda. O respeito à pluralidade não prescinde do
respeito ao princípio da igualdade. E na atual quadra
histórica, uma leitura focada tão somente em seu
aspecto formal não satisfaz a completude que exige
o princípio. Assim, a igualdade não se esgota com
a previsão normativa de acesso igualitário a bens
jurídicos, mas engloba também a previsão norma-
tiva de medidas que efetivamente possibilitem tal
acesso e sua efetivação concreta.
5. O enclausuramento em face do diferente furta
o colorido da vivência cotidiana, privando-nos da
estupefação diante do que se coloca como novo,
como diferente.
6. É somente com o convívio com a diferença e com
o seu necessário acolhimento que pode haver a
construção de uma sociedade livre, justa e solidária,
em que o bem de todos seja promovido sem precon-
ceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação (Art. 3º, I e IV, CRFB).
7. A Lei nº 13.146/2015 indica assumir o compromisso
ético de acolhimento e pluralidade democrática ado-
tados pela Constituição ao exigir que não apenas
41
as escolas públicas, mas também as particulares
deverão pautar sua atuação educacional a partir
de todas as facetas e potencialidades que o direito
fundamental à educação possui e que são densifica-
das em seu Capítulo IV.
8. Medida cautelar indeferida.
9. Conversão do julgamento do referendo do
indeferimento da cautelar, por unanimidade, em jul-
gamento definitivo de mérito, julgando, por maioria
e nos termos do Voto do Min. Relator Edson Fachin,
improcedente a presente ação direta de inconstitu-
cionalidade13 (STF, 2015, grifo nosso).
42
sociais reconhecidas em lei, sobretudo no texto constitucional,
a exemplo do direito à saúde, à moradia e à educação.
Tais direitos coletivos, subdividem-se, ainda, em direito
coletivo em sentido estrito, direito difuso e direito individual
homogêneo. A respeito do assunto, disciplina o art. 82 do
Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal nº 8.078/1990):
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consu-
midores e das vítimas poderá ser exercida em juízo
individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida
quando se tratar de:
I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos,
para efeitos deste código, os transindividuais, de
natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II – interesses ou direitos coletivos, assim entendi-
dos, para efeitos deste código, os transindividuais, de
natureza indivisível de que seja titular grupo, cate-
goria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a
parte contrária por uma relação jurídica base;
III – interesses ou direitos individuais homogêneos,
assim entendidos os decorrentes de origem comum
(BRASIL, 1990b, grifo nosso).
43
compõem o microssistema de tutela coletiva, possibilitando
refletir, de modo mais amplo, sobre a dimensão dos direitos
coletivos lato sensu e suas subdivisões.
Assim, a partir dele, podemos definir como direitos coleti-
vos, em sentido estrito, aqueles cujos titulares são um grupo,
uma categoria ou uma classe de pessoas. Ainda que este
seja coletivo, é característica distintiva sua a possibilidade
de determinação de seus titulares, o que se dá em razão da
existência de uma relação jurídica entre as pessoas prejudica-
das por sua violação ou entre estas e aquele que violou seus
direitos, como, por exemplo, os direitos dos consumidores de
receber serviços de boa qualidade das prestadoras de servi-
ços públicos essenciais, como de abastecimento de água.
Os direitos individuais homogêneos, por sua vez, são indi-
viduais, em virtude de sua própria natureza e, tradicionalmente,
tratados apenas a título pessoal, todavia conduzidos coleti-
vamente perante o Poder Judiciário, visto terem uma origem
comum. Nesse sentido, tais direitos, ainda que intrinsecamente
individuais, recebem uma proteção coletiva com a finalidade
de otimizar o acesso à justiça de seus titulares, bem como pos-
sibilitar economia processual. Dentre as situações de violação
que se enquadram nessa categoria, podemos citar o reajuste
indevido de mensalidade para todos os estudantes em uma
escola. Isso porque, cada um tem um contrato particular
com a instituição de ensino, mas, se desejar, poderá pleitear
reparação em juízo de maneira coletiva.
Por fim, os direitos difusos são aqueles, cujos titulares
são indeterminados e indetermináveis, ou seja, representam
toda a população submetida à mesma lei da qual decorre
a violação do direito. Tal indeterminação, no entanto, não
significa que ninguém sofra particularmente ameaça ou vio-
lação de direitos difusos, mas sim, que esses são direitos que
merecem especial proteção, na medida em que atingem,
também, simultaneamente a todas as pessoas.
Dentre essas categorizações, entendemos que o direito
à educação inclusiva, a depender do contexto e da situação
44
fática, pode ensejar demandas judiciais que oscilam entre as
classificações acima referidas. Nesse momento, queremos, no
entanto, destacar seu enquadramento enquanto um direito
difuso, de tal modo que sua violação afeta, necessariamente
e de maneira indiscriminada, a todas as pessoas, sejam elas
com ou sem deficiência, brancas, negras, lésbicas, transsexu-
ais, heterossexuais, idosas etc.
Assim, compreender o direito à educação inclusiva,
enquanto um direito difuso, significa ultrapassar o conheci-
mento em sua dimensão individual, destinada, por exemplo,
a garantir o acesso de especificamente uma ou um estudante
com deficiência ao ensino regular. Não que tal dimensão par-
ticular não importe juridicamente, pois importa e muito, mas
reconhecer sua dimensão difusa simboliza compreender a
educação inclusiva enquanto parte indispensável de um pro-
jeto de sociedade. Uma sociedade que, nos termos do texto
constitucional, seja justa, acolhedora, fraterna e que respeite
cada pessoa em sua integralidade, sem excluir identidades
ou discriminar em razão delas.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
46
REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1967)]. Constituição da República Federativa do
Brasil de 1967. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao67.htm. Acesso em: 20 maio 2021.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Brasília: Presidência da República, 2020. Disponível em: http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 30 ago. 2021.
BRASIL. Decreto Federal nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março
de 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/decreto/d6949.htm. Acesso em: 25 abr. 2021.
BRASIL. Decreto Federal nº 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe
sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e
dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7611.htm. Acesso em: 29 maio 2021.
BRASIL. Decreto nº 10.502, de 30 de setembro de 2020. Institui a Política
Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado
ao Longo da Vida. Diário Oficial da União, ed. 189, seção 1, p. 6, 1º out.
2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.
502-de-30-de-setembro-de-2020-280529948. Acesso em: 15 abr. 2021.
BRASIL. Lei Federal nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano
Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.
htm. Acesso em: 25 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/l4024.htm. Acesso em: 10 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 1990a. Dispõe sobre o Estatuto
da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 10 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. 1990b. Dispõe sobre a pro-
teção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acesso em: 10 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes
e bases da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 10 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de
Educação e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.
47
gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm. Acesso em: 29 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclu-
são da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13146.htm. Acesso em: 10 abr. 2021.
BRASIL. Ministério da Educação. Orientações para implementação da
política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva.
2015. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/marco-2015-pdf/
17237-secadi-documento-subsidiario-2015. Acesso em: 10 abr. 2021.
CAMARGO, E. P. Inclusão social, educação inclusiva e educação especial:
enlaces e desenlaces. Ciência & Educação, Bauru, v. 23, n. 1, p. 1-6, mar.
2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ciedu/a/HN3hD6w466F9L-
dcZqHhMmVq/?lang=pt. Acesso em: 25 maio 2021.
CAMPBELL, F. K. Exploring internalized ableism using critical race theory.
Disability & Society, Londres, v. 23, n. 2, p. 151-162, mar. 2008.
CORRÊA, M. Â. M. Educação Especial. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2010.
DINIZ, D. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense, 2007.
GARLAND-THOMSON, R. Feminist Disability Studies. Signs: Journal of Women
in Culture and Society, v. 30, n. 2, Winter, 2005. Disponível em: https://www.
journals.uchicago.edu/doi/pdf/10.1086/423352. Acesso em: 25 abr. 2021.
JANNUZZI, G. M. A educação do deficiente no Brasil: dos primórdios ao
início do século XXI. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2012. (Coleção
Educação Contemporânea).
MAIA, M. Novo conceito de pessoa com deficiência e proibição do retro-
cesso. 2007. Disponível em: www.agu.gov.br/page/download/index/
id/17265873. Acesso em: 10 maio 2021.
MENDES, E. G. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Revista
Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 11, n. 33, p. 387-405, set./dez. 2006.
SANTOS, G. A. Raça e gênero: contribuições para pesquisas nas ciências
sociais e jurídicas. Interfaces Brasil/Canadá, Florianópolis/Pelotas/São
Paulo, v. 18, n. 3, p. 42-77, out. 2018.
STF. Ação Direta de Inconstitucionalidade. Processo Eletrônico Público
nº 0005187-75.2015.1.00.0000. 2015. Disponível em: https://portal.stf.jus.
br/processos/detalhe.asp?incidente=4818214. Acesso em: 25 abr. 2021.
VALENÇA, B. C. O direito fundamental à educação: as barreiras à inclusão do
educando com deficiência no sistema regular de ensino e a (in)eficácia social
da legislação brasileira. 2017. 88 f. TCC (Graduação em Direito) – Universi-
dade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. Disponível em: https://
repositorio.ufsc.br/handle/123456789/182154. Acesso em: 26 out. 2021
48
CAPÍTULO 2
1. INTRODUÇÃO
2. CICLO DE POLÍTICAS
E continua:
53
Com o objetivo de apoiar a transformação dos
sistemas educacionais em sistemas educacionais
inclusivos, a partir de 2003, são implementadas
estratégias para a disseminação dos referenciais
da educação inclusiva no país. Para alcançar este
propósito, é instituído o Programa Educação Inclu-
siva: direito à diversidade, que desenvolve o amplo
processo de formação de gestores e de educadores,
por meio de parceria entre o Ministério da Educa-
ção, os estados, os municípios e o Distrito Federal
(BRASIL, 2016, p. 9).
59
apenas quando estivessem “prontos” para acompanhar os
demais colegas nas atividades escolares, ou enviá-los para
classes especiais dentro de escolas regulares, ou ainda, para
ter integração de tempo parcial nas classes comuns. Nesse
sentido, as pessoas com deficiência que não se qualificavam
para o ensino regular, permaneciam nas instituições espe-
cializadas ou escolas especiais.
Para enfrentar a injustiça de negar o pleno exercício dos
direitos fundamentais das pessoas com deficiência, assim
como de todos que fogem à norma, surge o movimento de
inclusão escolar, tendo como princípio, o reconhecimento da
diferença humana, não mais atrelado ou preso a um modelo
ideal de ser humano. O propósito do movimento inclusivo
é, portanto, de reconhecimento e valorização de diversas
formas de ser e estar no mundo, de promover o potencial
humano, independentemente dos benefícios econômicos
que gere ou eleve os índices de aproveitamento escolar.
Segundo Rosângela Machado (2015, p. 93),
O direito à educação se impôs assegurando a
inclusão de todas as crianças e adolescentes, sem
exceções, nas salas de aula do ensino comum e,
consequentemente, surgiu a necessidade de reor-
ganização dos serviços da Educação Especial, de
modo a assegurar para os estudantes com deficiên-
cia, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação o acesso, a permanência,
a participação e o sucesso escolar nas escolas da
rede regular de ensino (MACHADO, 2015, p. 93).
62
área substitutiva do ensino comum. Por que isso é tão criti-
cado? Por que o AEE é tão criticado por aqueles que defendem
a volta das classes e escolas especiais?
É no AEE, como uma ação da educação especial, que se
tem como prioridade a remoção das barreiras de acesso ao
currículo, garantindo o direito à acessibilidade, bem como
a eliminação do viés capacitista do currículo que se pauta
na valorização das capacidades comuns do estudante sem
deficiência. Não precisamos de um ensino individualizado/
segregado, como se propõe nas escolas e classes especiais,
mas um que leve em consideração os estilos individuais de
aprendizagem. Nada deve substituir o direito à convivência
com as diferenças em espaços comuns escolares, que possibi-
litam aos estudantes a se verem como seres humanos dignos
de respeito, valorização e reconhecimento. Do mesmo modo,
há um grande equívoco em dizer que um sistema inclusivo
pode ter classes e escolas especiais. Esses ambientes não
são alternativas de inclusão, pelo contrário, são alternativas
de segregação, porque pressupõem suplantar uma suposta
inclusão escolar, a partir de uma determinada caracterís-
tica corpórea, falsamente usada como “modelo identitário”.
Educação inclusiva é política de Estado, compromisso esse
consolidado com a ratificação da Convenção sobre os Direi-
tos da Pessoa com Deficiência.
4. MUDANÇA DE PERSPECTIVA
E A RESSIGNIFICAÇÃO DO LUGAR
DA DEFICIÊNCIA
64
segregação baseada na capacidade que ocorre nas
escolas públicas garante um futuro no qual as pes-
soas com deficiência podem esperar um status de
segunda classe (VALLE; CONNOR, 2014, p. 78).
68
Ingressei na Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) aos 20 anos, tendo sido aprovada em primeiro lugar
no vestibular para o curso de Química, vindo a abandoná-
-lo na fase final, devido aos muitos “acidentes de percurso”
que me fizeram migrar para o curso de Ciências Sociais na
mesma universidade. Posteriormente, entre os anos 2014
e 2019, finalizei, respectivamente, o mestrado e doutorado
em Antropologia Social na mesma instituição. Esse resultado
alcançado por mim, uma pessoa com surdez neurossensorial
bilateral profunda e usuária de implante coclear desde 2003,
pressupõe conhecer um pouco sobre como se deu minha
trajetória escolar, anteriormente à entrada na universidade.
Venho de uma família de classe média, meu pai era
empresário de uma fábrica de torrefação de café; minha mãe,
pedagoga formada pela UFSC, atuou como professora de Psi-
cologia Educacional. Com o diagnóstico da minha surdez aos
três anos, minha mãe abandonou seu emprego e desistiu de
um mestrado em Psicologia Educacional para se dedicar a
mim. Operei o ouvido esquerdo também aos três anos, em
uma tentativa de estacionar minha perda auditiva e corrigir
o grave problema de equilíbrio corporal. Depois da opera-
ção, passei a usar aparelho auditivo em “formato caixinha”,
fiz fonoterapia e, claro, fui para a escola.
Eu fui alfabetizada aos nove anos na Escola Dinâmica,
uma escola particular de linha construtivista, considerada
de vanguarda em Florianópolis nos anos 1980, e na época
um exemplo de escola de educação infantil e fundamental
em que me recordo de ter sido incluída em todas as ativida-
des, por todo o período em que permaneci nela, de 1981 a
1986. Tratava-se de uma escola que se antecipou ao próprio
MEC, em relação às políticas educacionais, na perspectiva da
educação inclusiva. Dito de outro modo, aqui o contexto da
prática se antecipou ao contexto da produção de documen-
tos políticos e legais. De fato, nessa escola, fui uma aluna
imersa em práticas de inclusão, na interação com os colegas,
fazendo exercícios juntos e exercitando a liderança, seja em
69
sala de aula, seja no pátio da escola, que no recreio, comia
e compartilhava meus lanches e depois ia jogar bola com os
meninos ou brincar de boneca com as meninas. Ali fiz todas
as atividades ordinárias que toda criança faz quando vai à
escola para aprender conteúdos, interagir e fazer amizades
com colegas.
Naquele momento não existia um AEE ou qualquer outro
serviço de suporte complementar, a inclusão se deu por uma
via de “mão dupla”, com a participação também da família,
porque “toda inclusão começa em casa”. Ou seja, ao mesmo
tempo que era alfabetizada na escola, também recebi da
minha mãe um apoio na escolarização, por meio do apren-
dizado e acompanhamento da leitura e escrita do português.
Assim, na escola aprendi a ler e escrever com o método do
pós-construtivismo e em casa com o método Maria Montes-
sori, pois minha mãe participava de ações pedagógicas, como
“rechear” a casa com cartolinas e outros papéis-cartão com a
escrita do nome das coisas, por exemplo, “geladeira”, “fogão”
e “televisão”. Minha mãe pegava uma cartolina e escrevia em
letras de forma enormes a palavra “televisão” e em seguida
colava ao lado ou sobre a televisão da sala. Foi dessa forma
que passei todo o meu processo de alfabetização, tendo a
casa toda enfeitada de cartolinas escritas com os nomes das
coisas, a fim de memorizar e aprender a ler, escrever e falar
o nome das coisas, em um aprendizado lúdico e constante,
que ativou a minha memória e o gosto pela leitura e escrita.
Em seguida, aos 11 anos entrei para o Colégio Coração
de Jesus, atual Colégio Bom Jesus, frequentando por dois anos
(1986 e 1987), o equivalente aos atuais 3º e 4º ano do ensino
fundamental I, mas em um contexto de classe especial, em
que havia mais dois alunos surdos além de mim. As demais
crianças, aparentemente, não possuíam nenhuma outra defi-
ciência, estavam ali por apresentarem alguma defasagem no
aprendizado ou “déficit de atenção”. Nesse período, o contexto
da prática foi o “modelo especial” de educação, fortemente
ancorado na premissa de que as pessoas com deficiência são
70
incapazes de aprender, muitas vezes, fazendo uma hierarqui-
zação da capacidade de aprender por tipo de deficiência.
Concebo esse período como ambíguo na minha trajetó-
ria escolar. Se, por um lado, vivenciei um ensino repetitivo,
quase infantilizado, com aulas não alinhadas à minha idade
escolar, praticamente com os mesmos conteúdos, o que me
trouxe a sensação de ter repetido de ano mais de uma vez;
por outro lado, percebi que essa experiência foi a responsá-
vel pelo meu amadurecimento escolar, no sentido de que,
ao ter frequentado uma classe segregada na perspectiva da
“educação especial”, pude sentir o peso da angústia do que
não foi bom para mim e, portanto, saber o que não queria
mais em uma escola. Parece que a escola especial é mais
para socialização, a criança ia para a escola especial ape-
nas para socializar, ou tentar socializar, e não aprender. Essa
“vivência segregada” me permitiu ser capaz de verbalizar à
minha mãe, o desejo de voltar ao ensino regular em uma
escola comum.
De fato, cansada do ensino repetitivo da classe especial e
vendo-me sem chances concretas de avançar em uma educa-
ção escolar de qualidade, supliquei à minha mãe para voltar
ao ensino regular. Assim, eu me mudei definitivamente para
o ensino regular, primeiro cursando, em 1988, a antiga quinta
série do primeiro grau no Colégio Barddal, onde permaneci
apenas um ano, experienciando práticas pedagógicas integra-
doras. Quer dizer, na perspectiva da integração, eu tinha que
me adaptar à escola. Em seguida, em 1989 retornei ao Colégio
Coração de Jesus, desta vez para frequentar classes comuns, e
lá concluí o antigo primeiro e segundo graus, respectivamente
em 1991 e 1994. Vivenciei, portanto, todo o meu processo
escolar em três vertentes na seguinte ordem, todas elas não
condizentes com as políticas de governo para a educação de
pessoas com deficiência em cada momento histórico: “edu-
cação inclusiva” (inclusão), “educação especial” (segregação)
e “educação integradora” (integração). Em todas elas, minha
trajetória estudantil sempre foi marcada por um excelente
71
desempenho escolar, mas, com exceção da experiência esco-
lar na Escola Dinâmica, sempre escamoteado pelas práticas de
integração, uma vez que, na maior parte do tempo, sempre
tive que me adaptar para ter acesso ao conhecimento, o que
não mudou, nem quando me tornei universitária.
Mais madura e com grande inserção militante na área da
deficiência, adquirida ao longo dos anos como estudante de
Química, principalmente em questões envolvendo as minhas
próprias reivindicações e demandas por serviços de acessibi-
lidade às comunicações para pessoas surdas oralizadas não
usuárias de língua brasileira de sinais, reconheço que uma
das razões que motivaram a minha escolha pelo primeiro
curso, foi para fugir da “maldição das Ciências Humanas” de
que fala Bourdieu, Chamboredon e Passeron (2002, p. 50),
ou seja, “o fato de abordarem um objeto que fala”. Assim,
como os compostos químicos não falam, supus que “só”
bastaria o sentido da visão para as minhas observações cien-
tíficas. Ledo engano. Mais que na Química e, principalmente,
por sua natureza eminentemente teórico-discursiva acerca
dos fenômenos sociais, as Ciências Sociais, especialmente a
Antropologia (MELLO, 2019), desafiaram-me à comunicação
com o outro, obrigando-me a desenvolver outros tipos de
estratégias compensatórias para poder me comunicar, inte-
ragir e participar dos debates em salas de aula, adivinhar,
antecipar, intervir e, sobretudo, pesquisar pessoas ou grupos
sociais, isto é, sujeitos que falam.
A Política Nacional de Educação Especial na perspec-
tiva da Educação Inclusiva, lançada em 2008, implicou o
envolvimento de educadoras especiais nas discussões sobre
inclusão, no âmbito da educação especial, revelando contra-
dições internas entre as duas perspectivas hegemônicas de
educação para pessoas com deficiência. Ao mesmo tempo, a
própria lógica da elaboração e execução de políticas públicas
sobre inclusão escolar dependeu, desde sempre, da partici-
pação e trabalho de educadores especiais, como também,
fomentou ampla e diversamente a formação de profissionais
72
da educação especial, a partir da discussão sobre educação
inclusiva para todos os profissionais de educação, procu-
rando, também, romper com a educação especial excludente
e com viés biomédico da deficiência. O que foi mais defen-
dido por essa política, foi a ideia de que a escolarização dos
estudantes com deficiência se dá na sala de aula comum (o
direito à educação, sem exceção), sendo a Educação Espe-
cial responsável em prover os recursos de acessibilidade para
que o estudante com deficiência acesse o conhecimento e
ambiente escolares – com foco educacional e não clínico –,
não estando mais desvinculado dos ideais da sociedade e de
suas condições materiais de existência. Para Debora Diniz e
Livia Barbosa (2010),
74
REFERÊNCIAS
AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. São Paulo: Pólen Produção Editorial Ltda, 2019.
BALL, S. J.; BOWE, R. et al. Reforming education and changing schools:
case studies in policy sociology. London: Routledge, 1992.
BARBOSA, L. O Estado como produtor da deficiência: desafios biopolíticos
e democráticos para a construção do modelo único de avaliação da defi-
ciência. Seminário Internacional Fazendo Gênero, v. 11, 2017.
BOURDIEU, P.; CHAMBOREDON, J.-C.; PASSERON, J.-C. A profissão de soció-
logo: preliminares epistemológicas. Petrópolis: Vozes, 2002.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, 2020. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 30 ago. 2021.
BRASIL. Decreto nº 3.956, de 8 de outubro de 2001. Convenção intera-
mericana para a eliminação de todas as formas de discriminação contra
as pessoas portadoras de deficiência, Brasília, 2001.
BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a
Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasi-
leira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro
de 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 2 abr. 2021.
BRASIL. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Con-
venção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu
Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007.
Brasília, 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm. Acesso em: 2 abr.2021.
BRASIL. Decreto nº 10.502, de 30 de setembro de 2020. Institui a Política
Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado
ao Longo da Vida. Diário Oficial da União, ed. 189, seção 1, p. 6, 1 out.
2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.
502-de-30-de-setembro-de-2020-280529948. Acesso em: 2 abr. 2021.
BRASIL. Lei º 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e
critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de
deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm. Acesso em: 2 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasi-
leira de Sinais – Libras e dá outras providências. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em: 15 abr. 2021.
75
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiên-
cia). Brasília-DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 2 abr. 2021.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão Diretoria de Políticas de Educação
Especial. A consolidação da inclusão escolar no Brasil de 2003 a 2016.
Brasília: MEC/SECADI, 2016.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Inclusão:
revista da educação especial, v. 4, n. 1, jan./jun. 2008. Brasília: MEC/SEESP, 2008.
CAMPBELL, F. K. Inciting legal fictions: ‘disability’s’ date with ontology and
the ableist body of the law. Griffith Law Review, v. 10, n. 1, p. 42-62, 2001.
DINIZ, D.; BARBOSA, L. Direitos humanos e as pessoas com deficiência no
Brasil. In: VENTURI, G. (org.). Direitos humanos: percepções da opinião
pública – análises de pesquisa nacional. Brasília: Secretaria de Direitos
Humanos, 2010. p. 209-210.
KASSAR, M. C. M. Deficiências múltiplas e educação no Brasil: discurso e
silêncio na história de Sujeitos. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.
KITTAY, E. F. The ethics of care, dependence, and disability. Journal of
Jurisprudence and Philosophy of Law, v. 24, n. 1, p. 49-58, 2011.
LANNA JÚNIOR, M. C. M. (comp.). História do movimento político das pessoas
com deficiência no Brasil. Brasília/DF: Secretaria de Direitos Humanos; Secreta-
ria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2010. 443 p.
LOPES, A. C.; MACEDO, E. M. Contribuições de Stephen Ball para o estudo
de políticas de currículo. In: BALL, S. J.; MAINARDES, J. (orgs.). Políticas
educacionais: questões e dilemas. São Paulo: Cortez, 2011. p. 248-282.
MACHADO, R. Educação especial e o direito à educação. In: COUTINHO, Â.
S. (org.). Qualidade da educação: democratização do acesso, permanên-
cia, avaliação, condições de participação e aprendizagem. Livro 4. Curi-
tiba, PR: CONAE; Appris, 2015.
MACHADO, R. O atendimento educacional especializado (AEE) e sua
repercussão na mudança das práticas pedagógicas, na perspectiva da
educação inclusiva: um estudo sobre as escolas comuns da Rede Munici-
pal de Ensino de Florianópolis/SC. Tese (Doutorado) – Universidade Esta-
dual de Campinas, Campinas/SP, 2013.
MAINARDES, J. Abordagem do ciclo de políticas: uma contribuição para
a análise de políticas educacionais. Educ. Soc., Campinas, v. 27, n. 94, p.
47-69, jan./abr. 2006.
76
MELLO, A. G. Olhar, (não) ouvir, escrever: uma autoetnografia ciborgue.
184 p. Tese. (Doutorado em Antropologia Social), Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2019.
MORAES, M. C. O paradigma educacional emergente. 9. ed. Campinas/
SP: Papirus, 2003.
NUERNBERG, A. O capacitismo, a educação especial e a contribuição
do campo de estudos sobre deficiência para educação inclusiva. In:
MACHADO, R.; MANTOAN, M. T.E. (orgs.). Educação e inclusão: entendi-
mentos, proposições e práticas. Blumenau: Edifurb, 2020.
SILVA, A. G. O movimento apaeano no Brasil: um estudo documental
(1954-1994). Dissertação (Mestrado em Educação), Pontifícia Universi-
dade Católica, São Paulo, 1995.
VALLE, J. W.; CONNOR, D. J. Ressignificando a deficiência: da abordagem
social às práticas inclusivas na escola. Porto Alegre: AMGH, 2014.
VIEIRA, S. L. O público, o privado e o comunitário na educação. Educação
e Sociedade, São Paulo, n. 27, p. 5-12,1987.
77
CAPÍTULO 3
1. INTRODUÇÃO
80
2. UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS DE
FORMAÇÃO NA REDE MUNICIPAL
DE ENSINO DE FLORIANÓPOLIS
Objetivamos apresentar, em linhas gerais, um resgate e
uma análise acerca da formação continuada ofertada pela
Gerência de Educação Especial da Rede Municipal de Ensino
de Florianópolis, lócus deste capítulo. Para tanto, citamos o
que traz a nossa Proposta Curricular:
82
afins) e que a outra metade da hora/ atividade seja
compartilhada com a unidade educativa (propostas
de planejamento, participação em reuniões coleti-
vas, conselho de escola, colegiado de classe, reuniões
com as famílias, entre outras), sempre respeitando o
parágrafo 6.º do artigo 1.º da referida Portaria: A orga-
nização das atividades pedagógicas inerentes ao
exercício do cargo e função deverá respeitar o limite
mensal de até 50% para atividades desenvolvidas
no próprio local de trabalho ou espaços definidos
pela Direção da Unidade Educativa ou atividades
planejadas pela Secretaria Municipal de Educação
(FLORIANÓPOLIS, 2016a, p. 50).
REFERÊNCIAS
AUGUSTIN, Ingrid. Modelos de deficiência e suas implicações na Educa-
ção Inclusiva. Trabalho apresentado na IX ANPED Sul. 2012. Disponível
em: http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anped-
sul/paper/viewFile/1427/65. Acesso em: 25 maio 2021.
BRASIL. Ministério da Educação. Conferência Nacional de Educação.
Democratização do acesso, permanência, avaliação, condições de parti-
cipação e aprendizagem. Livro 4. Curitiba: Appris, 2015.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Aten-
dimento Educacional Especializado – Formação Continuada a Distância
de Professores para o Atendimento Educacional Especializado – Aspectos
Legais e Orientações Pedagógicas. Brasília: SEESP/MEC, 2007.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política
Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Inclu-
são: revista da educação especial, v. 4, n. 1, jan./jun. Brasília: MEC/SEESP, 2008.
DA SILVA, S. C.; BECHE, R. C. E. Laboratório de educação inclusiva – LEdI:
uma experiência de inclusão. Cidadania em Ação. Revista de Extensão e
Cultura, [S.l.], v. 4, n. 1, 2010. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/
index.php/cidadaniaemacao/article/view/2117. Acesso em: 26 maio. 2021.
DINIZ, D. Modelo social da deficiência: a crítica feminista. Série Anis, Bra-
sília, v. 28, p. 1-10, 2003. Disponível em: http://www.anis.org.br/serie/
artigos/sa28(diniz)deficienciafeminismo.pdf. Acesso em: 25 maio. 2021.
FLORIANÓPOLIS. Escola aberta às diferenças. Florianópolis: SME, 2004.
93
FLORIANÓPOLIS. Plano Municipal de Educação. Florianópolis, 2015.
FLORIANÓPOLIS. Secretaria Municipal de Educação. Departamento de Edu-
cação Fundamental. Proposta Curricular. Florianópolis: PMF/SME/DEF, 2008.
FLORIANÓPOLIS. Secretaria Municipal de Educação. Departamento de Edu-
cação Fundamental. Proposta Curricular Florianópolis. PMF/SME/DEF, 2016.
FLORIANÓPOLIS. Secretaria Municipal de Educação. Diretrizes Curricula-
res para Educação Básica da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis.
Florianópolis: PMF/SME, 2015.
FLORIANÓPOLIS. Secretaria Municipal de Educação .Portaria SME nº
06/2016. Normatiza a Jornada de Trabalho dos Servidores do magistério
Público Municipal de Florianópolis, define Diretrizes para Organização
das Atividades Pedagógicas inerentes ao Exercício do cargo e função
(Hora Atividade) nas Unidades Educativas da Rede Municipal de Ensino
de Florianópolis, durante o ano de letivo de 2016, e estabelece outras
providências. Florianópolis, 2016.
FLORIANÓPOLIS. Secretaria Municipal de Educação. Portaria nº 122/2016
– Estabelece as diretrizes da Política de Educação Especial da Rede Muni-
cipal de Ensino de Florianópolis. Florianópolis, 2016.
MACHADO, Rosângela. O Atendimento Educacional Especializado (AEE) e
sua repercussão na mudança das práticas pedagógicas, na perspectivada
Educação Inclusiva: um estudo sobre as escolas comuns da Rede Munici-
pal de Ensino de Florianópolis/SC. Tese (Doutorado), Campinas, SP, 2013.
NÓVOA, A. O passado e o presente dos professores. In: NÓVOA, A. (org.).
Profissão professor. Porto: Porto Editora, 1999.
NÓVOA, A. Os professores na virada do milênio: do excesso dos discursos
à pobreza das práticas. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 25, n. 1, p.
11-20, jan/junho, 1999b.
TORRES, R. M. Que (e como) é necessário aprender?: necessidades básicas de
aprendizagem e conteúdos curriculares. 5. ed. Campinas, SP: Papirus, 2003.
94
95
PARTE 2
CAPACITISMO
NA EDUCAÇÃO
E NO TRABALHO
96
CAPÍTULO 4
1. INTRODUÇÃO
2. COMPREENDENDO O SEXISMO:
O QUE É E COMO SE MANIFESTA?
O debate sobre o sexismo vem ganhando destaque nos
meios sociais, políticos e econômicos, e impulsionado pelo
feminismo, o qual se caracteriza como um movimento social
que denuncia as diversas práticas opressivas, experienciadas
no cotidiano da mulher. De acordo com Botton et al. (2019),
sexismo se aproxima do gênero, uma vez que também é
cultural e tende a se estabelecer desde a infância, formas
distintas no tratamento de meninas e meninos.
98
Tal perspectiva é explicada pelo referido autor ao nos
revelar a forma binária, a partir da qual, a sociedade cultural-
mente compreende os indivíduos, ou seja, desde a notícia da
chegada de um bebê, carregada de expectativas a respeito
de ser menino ou menina, já se estabelecem diversos este-
reótipos que definirão os lugares que cada um/uma ocupará
na sociedade. Além disso, esses estudiosos mostram uma
relação indissociável entre as atitudes sexistas que estão,
intrinsecamente, relacionadas a postulados patriarcalistas.
Nesse sentido, Carvalho, Andrade e Junqueira (2009, p.
36) compreendem o patriarcado como um “sistema social
baseado na autoridade masculina”. Nessa forma de organi-
zação estabelecida por tal modelo de sociedade, as mulheres
em alguns casos, são diretamente atingidas ao serem excluí-
das de posições as quais exerceriam poder sobre os homens,
sendo assim, elas devem permanecer subordinadas a eles.
De acordo com Lips (1993 apud FERREIRA, 2004), o
sexismo é considerado como uma, dentre as inúmeras pos-
sibilidades de expressão do preconceito, atuando por meio
de avaliações negativas e atos discriminatórios que atingem
diretamente meninas e mulheres. Lott e Maluso (1995 apud
FERREIRA, 2004) afirmam que o sexismo pode se revelar, a
partir de duas maneiras: a institucional, que se dá pelas bar-
reiras no acesso à esfera pública/laboral; e a interpessoal, que
se verifica por meio de ações e comportamentos negativos
manifestos pelos homens para com as mulheres nas relações
interpessoais (FERREIRA, 2004).
Além disso, a cultura sexista acaba materializando a divi-
são sexual do trabalho, ou seja, a partir da hierarquização do
sexo masculino se estabelecem papéis sociais distintos para
homens e mulheres, estando as mesmas concentradas na
esfera reprodutiva, cabendo aos homens, funções de desta-
que na esfera produtiva.
Nessa ótica, um dos princípios que regulam essa forma
de divisão social do trabalho, diz respeito a separação que
determina postos de trabalhos específicos para mulheres e
99
homens, os quais, detém a hierarquia, seja do ponto de vista
do prestígio sociocultural, seja no tocante à remuneração
resultante de seus trabalhos (KERGOAT, 2009).
Diante de tais apontamentos, é perceptível que o
sexismo vai se desenhando na sociedade e influenciando sua
organização, atingindo particularmente meninas e mulheres,
que, desde a infância até a vida adulta, tem, por vezes, suas
vidas condicionadas à vontade de seus pais, namorados,
maridos, chefes, entre outros, opressão essa que se intensi-
fica para aquelas que experimentam outros marcadores de
desigualdade, a exemplo da raça, discussão que abordare-
mos a seguir.
4. CAPACITISMO E CORPONORMATIVIDADE
NO BRASIL: BREVES ANOTAÇÕES
A corponormatividade, termo escassamente empregado
nas pesquisas científicas desenvolvidas em nosso país, foi ide-
alizada com o intuito de explorar e, para além disso, denunciar
uma estrutura social enraizada em sucessivas experiências de
discriminação para com as pessoas que fogem dos padrões
corporais hegemônicos culturalmente estabelecidos, tendo
em vista o modelo de sociedade totalmente centrado na ideia
de incapacidade da pessoa com deficiência.
Segundo Mello e Nuernberg (2012, p. 636), podemos
compreender a corponormatividade
[...] como um processo que não se encerra no corpo,
mas na produção social e cultural que define determi-
nadas variações corporais como inferiores, incompletas
ou passíveis de reparação/reabilitação quando situadas
em relação à corponormatividade, isto é, aos padrões
hegemônicos funcionais/corporais.
104
querem ser. A evidência sugere que muitas pessoas
estão preparadas para desafiar o capacitismo, ado-
tando a deficiência como uma identidade positiva
(LOJA et al., 2017, p. 198).
5. DISCUTINDO OPRESSÕES:
COMPREENDENDO VULNERABILIDADES
A opressão econômica constitui, notadamente, um dos
elementos mais visíveis que caracterizam a desigualdade
humana. Entretanto, há um conjunto de práticas opressivas,
explícitas ou veladas, bem presentes no cotidiano de certos
grupos que, quando intercruzadas, maximizam esta condição.
Nesta seção, apresentamos as contribuições advindas
do conceito de capacitismo e sexismo, compreendendo
como tais experiências marcam as trajetórias de mulheres
com deficiência, em particular daquelas cuja condição racial
reforça este contexto de exclusão e discriminação.
Inscrita numa cultura falocrática, impregna o ima-
ginário social e o prepara a um vasto conjunto
de representações socialmente partilhadas, de
opiniões e de tendência a práticas que despre-
zam, desqualificam, desautorizam e violentam as
mulheres, tomadas como seres de menor prestí-
gio social (VON SMIGAY, 2002, p. 34).
107
6. PERCURSO METODOLÓGICO
7. PERSPECTIVAS INTERSECCIONAIS DA
DEFICIÊNCIA: A PRODUÇÃO ACADÊMICO-
-CIENTÍFICA NO BRASIL
109
e de entrelaçamentos de diversas formas de
poder expressas por categorias de diferença e de
diversidade, sobretudo as de ‘raça’, etnia, gênero,
sexualidade, classe/camada social, bem como,
eventualmente, as de religião, idade e deficiên-
cias (KERNER; TAVOLARI, 2012, p. 55).
112
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AKOTIRENE, C.; LOPES, G. W. Construindo análises sociais abrangentes:
contribuições da interseccionalidade. AdolesCiência: Revista Júnior de
Educação, v. 7, n. 1, p. 79-80, 2020.
ALMEIDA, S. L. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte-MG:
Letramento, 2018.
ANDRADE, S. Capacitismo: o que é, onde vive, como se reproduz. 2015.
Disponível em: https://asgordas.wordpress.com/2015/12/03/capacitismo-
-o-que-e-ondevive-como-se-reproduz/. Acesso em: 12 jan. 2021.
BOCCATO, V. R. C. Metodologia da pesquisa bibliográfica na área odontoló-
gica e o artigo científico como forma de comunicação. Rev. Odontol. Univ.
Cidade de São Paulo, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 265-274, 2006.
BOTTON, A.; STREY, M. N.; ROMANI, P. F.; PALMA, Y. A. Sexo/Sexismo. In: COLLING,
A. M.; TEDESCHI, L. A. (orgs.) Dicionário crítico de gênero. 2. ed. Dourados-MS:
Ed. Universidade Federal da Grande Dourados, 2019, p. 666-669.
CARVALHO, M. E. P.; ANDRADE, F. C. B.; JUNQUEIRA, R. D. Gênero e diversi-
dade sexual: um glossário. João Pessoa: Ed. Universitária UFPB, 2009.
DINIZ, D. O que é deficiência. Brasiliense, 2017.
FARIAS, A. Q. Gênero e deficiência: uma história feminina de ruptura e
superação de vulnerabilidade. 2011. Dissertação (Mestrado em Educação)
– Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2011.
FARIAS, A. Q. Trajetórias educacionais de mulheres: uma leitura intersec-
cional da deficiência. 2017. 138 f. Tese (Doutorado em Educação) – Uni-
versidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2017.
FERREIRA, M. C. Sexismo hostil e benevolente: inter-relações e diferenças
de gênero. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 12, n. 2, p. 119-126, 2004.
HOOKS, B. Teoria feminista: da margem ao centro. São Paulo: Perspectiva, 2019.
KERGOAT, D. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. In:
HIRATA, H.; LABORIE, F.; LE DOARÉ, H.; SENOTIER, D. (orgs.). Dicionário crí-
tico do feminismo. São Paulo: Ed. Unesp, 2009. p. 67-75.
114
KERNER, I.; TAVOLARI, B. Tudo é interseccional?: sobre a relação entre
racismo e sexismo. Novos estudos CEBRAP, n. 93, p. 45-58, 2012.
LIMA, M. E. O.; VALA, J. As novas formas de expressão do preconceito e do
racismo. Estudos de Psicologia, Natal, v. 9, n. 3, p. 401-411, 2004.
LOJA, E. et al. Disability, embodiment and ableism: stories of resistance.
Disability & Society, v. 28, n. 2, p. 190-203, 2013.
MELLO, A. G. Gênero, deficiência, cuidado e capacitismo: uma análise
antropológica de experiências, narrativas e observações sobre violências
contra mulheres com deficiência. Dissertação (Mestrado em Antropologia
Social) –Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, 2014.
MELLO, A. G.; NUERNBERG, A. H. Gênero e deficiência: interseções e pers-
pectivas. Revista Estudos Feministas, v. 20, n. 3, p. 635-655, 2012.
PERROT, M. Escrever uma história das mulheres: relato de uma experiên-
cia. Cadernos Pagu, n. 4, p. 9-28, 1995.
SOUZA, O. S. H. Itinerários da inclusão escolar: múltiplos olhares, saberes
e práticas. Porto Alegre: ULBRA. 2008.
THOMSON, R. G. Reconfigurar, repensar, redefinir: estudos feministas da
deficiência. In: SANTOS, A. C. et al. Mulheres, sexualidade e deficiência: o
interdito da cidadania íntima. Coimbra: Almeida, 2019.
VON SMIGAY, K. E. Sexismo, homofobia e outras expressões correlatas de
violência: desafios para a psicologia política. Psicologia em revista, v. 8,
n. 11, p. 32-46, 2002.
115
CAPÍTULO 5
O ESTUDANTE COM
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
NA EDUCAÇÃO SUPERIOR18
Cristiane Lazzarotto-Volcão
Rose Clér Estivalete Beche
1. INTRODUÇÃO
116
com diversas barreiras, podem obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com
as demais pessoas” (BRASIL, 2009).
Essa definição está prevista na Convenção sobre os Direi-
tos das Pessoas com Deficiência da ONU, assinada em 13 de
dezembro de 2006, ratificada pelo Brasil e internalizada ao
ordenamento jurídico nacional com status de Emenda Cons-
titucional por força do § 3º art. 5º da Carta Constitucional de
1988. Esse marco legal é o primeiro a vincular, normativa-
mente, o Modelo Social da Deficiência19, outro pressuposto
assumido neste trabalho, para o qual a deficiência decorre
dos arranjos sociais opressivos às pessoas que têm um corpo
com lesão (DINIZ, 2007).
Segundo o Modelo Social, a deficiência é considerada
parte da diversidade humana e não deve ser vista como uma
falta, tragédia ou algo que precise ser consertado, conforme
visão do Modelo Biomédico ainda muito persistente na atu-
alidade (DINIZ, 2007). De forma resumida, essa visão propõe
um fim ao reducionismo do fenômeno às lesões e aos impe-
dimentos do corpo e incorpora questões sociais e políticas
em sua análise (GESSER; NUERNBERG; TONELI, 2012).
A deficiência é uma condição experienciada por cerca
de um bilhão de pessoas em todo o mundo (ONU, 2006).
De acordo com o último censo realizado no Brasil, 23,9% da
população brasileira declara ter algum tipo de deficiência
(IBGE, 2010)20, portanto, entender a deficiência pelo olhar do
Modelo Social, permite que se promova justiça social para
117
com essa população invisibilizada e que se traga a questão
da deficiência para a esfera pública, tirando-a da esfera pri-
vada/familiar. Como parte de um recorte necessário, o tema
deste capítulo é a pessoa com deficiência intelectual (dora-
vante, DI) na educação superior, a partir do olhar de estudos
realizados em Programas de Pós-Graduação brasileiros com
essa temática.
A escolha do tema deste trabalho está ancorada na pos-
sibilidade de, dentre todas as experiências de deficiência, a
DI ser aquela que mais pode encontrar barreiras atitudinais
e de acessibilidade no ensino superior, pela crença que há
de que apenas estudantes “inteligentes” e que “aprendem”
como os demais, podem chegar a esse nível de ensino.
Acreditamos, pela nossa prática profissional, que há muitas
barreiras, mesmo para pessoas que não têm um diagnóstico
de DI, mas que chegam à universidade com uma história de
aprendizagem que se distancia daquela idealizada pelo ima-
ginário acadêmico.
Pretende-se, com este trabalho, responder à seguinte
pergunta de pesquisa: o que tem sido pesquisado acerca das
experiências de ingresso e permanência de estudantes com
DI na educação superior?
Para responder a essa pergunta, este estudo tem como
objetivo geral investigar teses e dissertações desenvolvidas
no Brasil, disponibilizadas pela Biblioteca Digital Brasileira de
Teses e Dissertações (BDTD), que tenham realizado estudos
com/sobre estudantes com DI na educação superior. Para
atingir esse objetivo geral, os objetivos específicos da pes-
quisa são: identificar o percurso metodológico dos trabalhos
selecionados; indicar os pressupostos teóricos adotados pelos
autores das pesquisas; e discutir os principais achados e con-
clusões dos estudos.
Na seção seguinte, discutiremos a relação entre estudan-
tes com deficiência intelectual e os processos de escolarização
historicamente instituídos para eles.
118
2. ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA
INTELECTUAL E ESCOLARIZAÇÃO
119
b) a avaliação da deficiência intelectual deve conside-
rar a diversidade linguística e cultural, além dos fatores
comunicativos, sensoriais e motores da pessoa;
c) limitações coexistem com capacidades;
d) as limitações são identificadas objetivando a
oferta de apoios necessários;
e) os apoios têm efeito positivo no funcionamento
da pessoa com deficiência intelectual, conside-
rando sua aplicação nos aspectos, intensidade e
duração necessários.
120
A partir da década de 60, essas crianças, quando não
afastadas do convívio familiar e social, passaram a ser aten-
didas em classes ou em escolas especiais23, mas ainda sob
uma perspectiva de normalização. O intuito dessas classes e
escolas era preparar o estudante com DI para que pudesse
“acompanhar” o ensino em escolas regulares. O ensino não
era centrado no indivíduo, mas o fracasso e o déficit, sim. Ou
seja, não se buscava construir planos de estudos individu-
ais, de modo que cada estudante pudesse evoluir, a partir de
suas especificidades e potencialidades.
Já nos anos 90, passa-se a considerar a possibilidade de
uma real inclusão de pessoas com deficiência em classes
regulares, tendo como marco a Conferência Mundial de Edu-
cação para Todos em 1990, na Tailândia, e a Declaração de
Salamanca, em 1994, na Espanha. No Brasil, em 2008, é lan-
çada a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva
da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), que busca assegurar o
acesso, a participação e a aprendizagem dos estudantes com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação nas escolas regulares, garantindo,
entre outras coisas:
• Transversalidade da educação especial desde a
educação infantil até a educação superior;
• Atendimento educacional especializado;
• Continuidade da escolarização nos níveis mais
elevados do ensino; [...] (BRASIL, 2008, p. 10).
121
Em uma década, houve um aumento de cerca de 200% no
número de matrículas desses estudantes, indo de 639.718
em 2009 para 1.250.967 em 2019.
O censo escolar (INEP, 2010, 2020) também revela o
número de estudantes público-alvo da educação especial,
matriculados em classe regular e em classe exclusiva: em 2009
havia 387.031 matriculados em classes regulares e 252.687,
em classes exclusivas. Já em 2019, havia 1.090.805 estudantes
em classes comuns e 160.162, em classes exclusivas.
Essa geração de estudantes com deficiência, tendo a pos-
sibilidade de obter formação na educação básica (ainda que
não se discuta a qualidade dessa formação e dos critérios de
certificação), começa a chegar aos bancos das universidades,
institutos e centros universitários. Observa-se que, somente
em 2011, o censo do INEP registra como uma de suas cate-
gorias de análise, os estudantes com necessidades especiais
(termo utilizado pelo documento à época) matriculados em
cursos superiores (anteriormente a essa data eram totalmente
ignorados enquanto uma categoria com especificidades).
Naquele ano, o número era de 23.250, aumentando para
43.633 em 2018, o que significa um aumento de 87% no
número de matrículas.
Como consequência da crescente mudança de para-
digma da educação básica para uma escola inclusiva, e de
outros marcos legais24, mais um fator que parece contribuir
para o aumento do número de estudantes com deficiência
na educação superior é o Programa de Acessibilidade na
Educação Superior (Incluir) do Ministério da Educação. Esse
122
programa atua desde 2005 para garantir o acesso pleno da
pessoa com deficiência nas Instituições Federais de Ensino
Superior (Ifes). Inicialmente, o objetivo do programa era fomen-
tar a criação de núcleos de acessibilidade nas Ifes, os quais
seriam responsáveis pela organização de ações institucionais
que garantissem a inclusão de pessoas com deficiência no
ambiente acadêmico, eliminando barreiras pedagógicas, com-
portamentais, arquitetônicas e de comunicação (BRASIL, 2013).
De 2005 a 2011, foram lançados editais para que as Ifes plei-
teassem apoio financeiro e, a partir de 2012, essa ação entrou
na matriz orçamentária de todas as instituições, induzindo,
assim, o desenvolvimento de uma política de acessibilidade
ampla e articulada.
Embora a maior parte das matrículas de estudantes com
deficiência na educação superior ainda seja em instituições
privadas – em 2018, as matrículas nessas instituições repre-
sentavam cerca de 60% do total – o que se verifica após a
implementação da universalização do programa Incluir, é um
aumento no número de matrículas em instituições públicas,
especialmente nas Ifes, tanto em termos absolutos, quanto
em comparação com instituições estaduais e municipais
(INEP, 2019). Outro fator que certamente também contribuiu
para esse cenário foram as ações afirmativas adotadas pelas
instituições públicas, reservando cotas para o ingresso de
pessoas com deficiência nos seus processos seletivos.
Analisando o perfil dos estudantes com deficiência, matri-
culados em cursos superiores em 2011, vê-se que a maior
parte desses estudantes tinha deficiência física, baixa visão ou
deficiência auditiva. Apenas 2% das matrículas eram de estu-
dantes com DI, ao passo que em 2018, os estudantes com DI
passaram a representar 6% das matrículas (INEP, 2019).
Nesse ponto, é importante destacar que, na maior parte
das instituições, o estudante deve autodeclarar-se pessoa
com deficiência. Em se tratando de pessoas com DI, é possí-
vel pensar que haja estudantes que não têm esse diagnóstico
formalizado e/ou que, também, haja aqueles que preferem
123
não se autodeclarar, considerando os diferentes processos
excludentes vivenciados, possivelmente, ao longo de sua
trajetória acadêmica nos outros níveis de escolaridade. Isso
apontaria para os processos de discriminação, possivelmente
vividos como estudantes até então.
Feitas essas considerações, de modo a atingir os objetivos
deste estudo e responder à pergunta de pesquisa apresentados
na introdução, na próxima seção, detalha-se a metodologia uti-
lizada no presente estudo.
3. METODOLOGIA
D - Dissertação
T - Tese
D - Dissertação
129
Quadro 2 – Resumo das escolhas metodológicas dos trabalhos
selecionados (conclusão)
Tipo de pesquisa/ Instrumentos Participantes Objeto de estudo
delineamento
T1 Experimental, Escala Quatro estudantes Programa de
Análise Intensidade com DI transição para
quantitativa de Apoio (SIS) 27 professores a vida adulta
e qualitativa Protocolo de universitários no ambiente
Diário de Campo 32 tutores universitário
Protocolo de
Registro de
Desempenho
de Atividades
Questionário de
Validade Social
T - Tese
130
Dissertação 3 – Tipo de pesquisa/delineamento: descritivo/exploratória.
Análise qualitativa. Instrumentos: questionário, observação não parti-
cipante e entrevista semiestruturada. Participantes: 10 estudantes com
deficiência, um deles com DI, quatro professores universitários e quatro
servidores técnico-administrativos. Objeto de estudo: Núcleo de Acessi-
bilidade de uma universidade pública.
Tese 1 – Tipo de pesquisa/delineamento: experimental, análise quantitativa
e qualitativa. Instrumentos: Escala Intensidade de Apoio (SIS), Protocolo de
Diário de Campo e Protocolo de Registro de Desempenho. Participantes: qua-
tro estudantes com DI, 27 professores universitários e 32 tutores Objeto de
estudo: programa de transição para a vida adulta no ambiente universitário.
Tese 2 – Tipo de pesquisa/delineamento: pesquisa documental, pesquisa
de campo, com observação sistemática. Análise qualitativa. Participantes:
14 estudantes com deficiência, sete professores, cinco servidores técnico-
-administrativos, dois bolsistas e um monitor. Objeto de estudo: projeto
Incluir: acessibilidade em uma universidade pública.
Tese 3 – Tipo de pesquisa/delineamento: descritivo-exploratória. Análise
qualitativa. Instrumentos: entrevista semiestruturada. Entrevista narra-
tiva. Participantes: 32 pessoas entre professores, coordenadores de curso,
servidores técnico-administrativos. Objeto de estudo: aprendizagem dos
estudantes com DI em cursos superiores de quatro universidades públi-
cas. Fim da descrição do Quadro 2.
4.1. DISSERTAÇÃO 1
133
visual/cegueira e baixa visão e deficiência intelectual/Sín-
drome de Down. Por intermédio de questionário e entrevista
semiestruturada, analisou de forma descritivo-exploratória
as falas desses estudantes, matriculados em instituições de
Recife e João Pessoa, tendo como pressupostos teóricos, o
Modelo Social da Deficiência e a área dos Estudos Culturais.
Como principais achados, a autora constatou que as
garantias previstas em lei, no que se refere à acessibilidade,
ainda não fazem parte, totalmente, dos espaços institucio-
nais, com destaque para as barreiras arquitetônicas e para
a falta de acessibilidade comunicacional, por exemplo. A
autora relata que muitos dos participantes demonstram não
saber de todos os direitos que possuem e que sua perma-
nência só foi/é possível, a partir do apoio dos familiares e de
profissionais envolvidos com os cuidados das pessoas com
deficiência, tal qual preconiza a segunda geração do Modelo
Social (GESSER; NUERNBERG; TONELI, 2012).
Também indica que a inclusão, desses estudantes, ainda
é um caminho a ser trilhado, com a necessidade de muitas
mudanças nas instituições. A autora não apresenta nenhum
achado específico para os estudantes com DI e, nas consi-
derações finais, nomeia algumas singularidades, apenas dos
outros participantes da pesquisa. Encerra seu trabalho afir-
mando que “a pessoa com deficiência reivindica o direito de
ser escutada em suas necessidades, elas estão abertas ao
debate e podem contribuir para a construção de uma socie-
dade mais justa” (NASCIMENTO, 2011, p. 97).
4.2. DISSERTAÇÃO 2
4.3. DISSERTAÇÃO 3
4.4. TESE 1
4.5. TESE 2
4.6. TESE 3
140
nos cadastros das instituições e, em especial, a formação
de docentes e técnico-administrativos para o atendimento
específico desses estudantes.
Os trabalhos aqui analisados também identificaram que
os estudantes com DI podem aprender, mas podem ter sua
aprendizagem potencializada se tiverem um plano de estu-
dos individualizado. Isso pode levar os docentes a refletirem
sobre suas práticas de ensino e, dessa forma, outros estu-
dantes com diferentes perfis de aprendizagem, também se
beneficiarem dessas mudanças.
Também se pôde observar que os estudos estão em con-
sonância com o Modelo Social da Deficiência (DINIZ, 2007;
GESSER; NUERNBERG; TONELI, 2012), pois mesmo os que não
trazem essa concepção de forma explícita, defendem que a
aprendizagem e a permanência de um estudante com defi-
ciência na educação superior não são questões particulares
do estudante, mas algo que precisa ser abordado de forma
coletiva pela instituição. Assim, transferem-se as diferenças/
disfunções corporais dos indivíduos para a incapacidade da
instituição em prever e se ajustar a essa diversidade.
Por fim, destacamos a necessidade de apoio para o
desenvolvimento e a aprendizagem da pessoa com DI na
educação superior (na verdade, em todas as fases da vida),
o que também vai ao encontro do Modelo Social. Apoio que
pode vir da família, mas que deve vir, especialmente, de um
conjunto de atores das universidades: professores; coorde-
nadores de curso; profissionais dos núcleos de acessibilidade;
tutores; monitores; e colegas. Com isso, o conceito de autono-
mia passa a ser ressignificado. Tauber (2005 apud GAUDENZI;
ORTEGA, 2016, p. 3068) diz que
141
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AAIDD. Intellectual disability: definition, classification, and systems of
supports. 11. ed. Washington, DC: AAIDD, 2010.
ACCORSI, M. I. A inclusão do estudante com deficiência intelectual na educação
superior do IFRS Bento Gonçalves: um olhar sobre a mediação docente. 2016.
168 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em
Educação, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2016. Disponível em:
https://repositorio.ucs.br/xmlui/handle/11338/1323. Acesso em: 15 mar. 2020.
BRASIL. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Con-
venção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e
seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de
2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/decreto/d6949.htm. Acesso em: 1 jul. 2020.
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiên-
cia). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 20 mar. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na
perspectiva da educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=downloa-
d&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-
-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192. Acesso em: 6 jul. 2020.
BRASIL. Programa Incluir – acessibilidade na educação superior. Brasília: MEC,
2013. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&-
view=download&alias=12737-documento-orientador-programa-incluir-pdf&ca-
tegory_slug=marco-2013-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 20 jul. 2020.
BREITENBACH, F. V. A aprendizagem do estudante com deficiência intelec-
tual na educação superior: obstáculos e possibilidades. 2018. 250 f. Tese
(Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação,
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2018. Disponível em:
https://repositorio.ufsm.br/handle/1/16240. Acesso em: 1 mar. 2020.
143
CARNEIRO, M. S. C. A deficiência mental como produção social: uma discus-
são a partir de histórias de vida de adultos com Síndrome de Down. 2007.
195 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em
Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.
CARVALHO, E. Deficiência intelectual: conhecer para intervir. Pedagogia
em Ação, v. 8, n. 2, Belo Horizonte, Edição Especial Dossiê, 2016. Disponí-
vel em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/pedagogiacao/article/
view/12845. Acesso em: 15 jul. 2020.
DINIZ, D. O que é deficiência. São Paulo: Editora Brasiliense, 2007.
GAUDENZI, P.; ORTEGA, F. Problematizando o conceito de deficiência a partir
das noções de autonomia e normalidade. Ciência e saúde coletiva, Rio de
Janeiro, v. 21, n. 10, p. 3061-3070, out. 2016. Disponível em: https://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232016001003061&
lng=en&nrm=iso. Acesso em: 20 jul. 2020.
GESSER, M.; NUERNBERG, A. H.; TONELI, M. J. F. A contribuição do Modelo
Social da Deficiência à Psicologia Social. Psicologia & Sociedade, v. 24,
n. 3, p. 557-566, 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/psoc/
v24n3/09.pdf. Acesso em: 13 mar. 2020.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
IBGE. Censo demográfico: 2010: características gerais da população, religião
e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: https://
www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9662-censo-demogra-
fico-2010.html?edicao=9749&t=publicacoes. Acesso em: 1 mar. 2020.
INEP. Sinopse estatística da educação básica 2009. Brasília: INEP, 2010.
Disponível em: http://inep.gov.br/sinopses-estatisticas-da-educacao-ba-
sica. Acesso em: 5 jul. 2020.
INEP. Sinopse estatística da educação superior 2018. Brasília: INEP, 2019.
Disponível em: http://inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas-da-e-
ducacao-superior. Acesso em: 5 jul. 2020.
INEP. Sinopse estatística da educação básica 2019. Brasília: INEP, 2020.
Disponível em: http://inep.gov.br/sinopses-estatisticas-da-educacao-ba-
sica. Acesso em: 5 jul. 2020.
LOPES, B. J. S. Programa de transição para a vida adulta de jovens com defi-
ciência intelectual em ambiente universitário. 2016. 246 f. Tese (Doutorado
em Educação Especial) – Programa de Pós-Graduação em Educação Especial,
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2016. Disponível em: https://
repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/8121?show=full. Acesso em: 2 abr. 2020.
MANZINI, E. J. Considerações sobre a elaboração de roteiro para entrevista semi-
-estruturada. In: MARQUEZINE, M. C.; ALMEIDA, M. A.; OMOTE; S. (orgs.). Coló-
quios sobre pesquisa em Educação Especial. Londrina: EDUEL, 2003. p. 11-25.
144
NASCIMENTO, V. C. G. Quando as exceções desafiam as regras: vozes de
pessoas com deficiência sobre o processo de inclusão no ensino superior.
2011. 117 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-
-Graduação em Educação, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa,
2011. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/tede/4647.
Acesso em: 5 maio 2020.
ONU. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 2006.
Disponível em: http://www.assinoinclusao.org.br/downloads/convencao.
pdf. Acesso em: 3 dez. 2011.
PEREIRA, J. O. Políticas institucionais de acessibilidade na educação supe-
rior: percursos e desafios para a inclusão de estudantes com deficiência
na UFMA. 2017. 217f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa
de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Maranhão,
São Luís, 2017. Disponível em: http://tedebc.ufma.br:8080/jspui/handle/
tede/1926. Acesso em: 10 abr. 2020.
SASSAKI, R. K. Nada sobre nós, sem nós: da integração à inclusão. Benga-
laLegal, Rio de Janeiro, 22 de junho de 2011. Disponível em: http://www.
bengalalegal.com/nada-sobre-nos. Acesso em: 12 jul. 2020.
SEVERINO, M. P. S. R. S. Avaliação do processo de implementação do
Programa Incluir na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(2012-2014). 2017. 401 F. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Pro-
grama de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, Natal, 2017. Disponível em: https://repositorio.ufrn.
br/jspui/handle/123456789/24364. Acesso em: 5 maio 2020
145
CAPÍTULO 6
O CAPACITISMO VIVENCIADO
PELA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
NO CONTEXTO ESCOLAR:
UM ENSAIO TEÓRICO
Sabrina Mangrich de Assunção
Fabiane Araujo Chaves
155
negativo, direcionado para as pessoas com deficiência, não
levando em consideração a valorização das suas habilida-
des individuais. O autor relaciona capacitismo como estando
atrelado às crenças, ações e práticas produzidas conforme
as habilidades que atribuem valores para uma compre-
ensão que é particular de cada pessoa, em relação ao seu
corpo e relacionamento com outras pessoas da humanidade,
sendo também com outras espécies e ambiente, incluindo a
maneira como é julgado pelos outros (WOLBRING, 2018).
A partir da compreensão do que é discriminar pessoas
pela deficiência, precisamos repensar nossas atitudes para
mudança de valores, crenças, práticas, discurso. E você, já
parou para pensar em suas atitudes?
Assim como em outros contextos, no ambiente escolar,
o capacitismo acontece de maneira frequente. Embora nem
sempre seja identificado, mesmo que invisibilizado, este jul-
gamento ou maneira de perceber a pessoa com deficiência
é recorrente. Alguns autores destacam os motivos e de que
forma ele ocorre, o que é objetivo deste texto.
Segundo Storey (2007), o capacitismo está presente,
tanto na escola como na sociedade em geral, principalmente
vindo de um Modelo Médico, cujo objetivo é o de que as pes-
soas com deficiência sejam “consertadas”. Ainda, apresenta
que as escolas defendem o multiculturalismo e aceitação das
diferenças, mas negligenciam as habilidades e a deficiência.
O autor cita alguns aspectos importantes para pensarmos
em como combater o capacitismo na escola (STOREY, 2007):
162
cada pessoa deste segmento um ser humano total-
mente cidadão (DIAS, 2013, p. 4).
Quando tratamos sobre a falta de acessibilidade do mate-
rial, como descrito na situação 3, além do que destacamos em
relação a situação 2, algumas outras questões podem ser indi-
cadas como motivo para que este fato se repita, ainda com
frequência, no atendimento aos estudantes com deficiência
no contexto escolar. Muitas vezes há desconhecimento em
relação ao material que o estudante necessita, o que pode-
ria se resolver, se o profissional perguntasse ao estudante. É
importante que o professor tenha autonomia para adequar e
modificar o método que considerar mais adequado conforme
seus objetivos, sempre levando em consideração para que
possa apoiar o estudante a expressar-se da melhor maneira,
conforme a sua possibilidade. Tal ação vem ao encontro do
que se propõe, a partir do estudo do Desenho Universal para
Aprendizagem (Universal Design for Learning – UDL), que
segundo Rose e Meyer (2002 apud BERSCH, 2017, p. 19),
[...] é um conjunto de princípios baseados na pes-
quisa e constitui um modelo prático para maximizar
as oportunidades de aprendizagem para todos os
estudantes. Os princípios do Desenho Universal se
baseiam na pesquisa do cérebro e mídia para ajudar
educadores a atingir todos os estudantes a partir da
adoção de objetivos de aprendizagem adequados,
escolhendo e desenvolvendo materiais e métodos
eficientes, e desenvolvendo modos justos e acura-
dos para avaliar o progresso dos estudantes.
167
REFERÊNCIAS
BERSCH, R. Introdução à tecnologia assistiva. Porto Alegre, 2017. Dispo-
nível em https://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.
pdf. Acesso em: 20 fev. 2020.
BOCK, G. L. K.; GESSER, M.; NUERNBERG, A. H. Desenho Universal para a
aprendizagem: a produção científica no período de 2011 a 2016. Rev.
bras. educ. espec., Bauru, v. 24, n. 1, p. 143-160, mar. 2018.
BRASIL. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Proto-
colo Facultativo à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência:
decreto legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008: decreto nº 6.949, de 25 de
agosto de 2009. 4. ed. rev. e atual. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos;
Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2011.
BRASIL. Decreto Legislativo nº 186, de 2008. Aprova o texto da Convenção sobre
os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, assinados
em Nova Iorque, em 30 de março de 2007. 2008. Disponível em: http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/congresso/dlg/dlg-186-2008.htm. Acesso em: 2 set. 2021.
BRASIL. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Con-
venção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu
Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007.
2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/decreto/d6949.htm. Acesso em: 2 set. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 16 out. 2018.
CAMPBELL, F. K. Inciting legal fictions: disability’s date with ontology and
the ableist body of the law. Griffith Law Review, v. 10, n. 1, p. 42-62, 2001.
CAMPBELL, F. K. Introducing studies in ableism. Disabled Women & Activism
Workshop. Womens Liberation Conference 50th University. London: UCL, 2020.
DIAS, A. Por uma genealogia do capacitismo: da eugenia estatal a nar-
rativa capacitista social. Anais do I Simpósio Internacional de Estudos
sobre a Deficiência – SEDPcD/Diversitas/USP Legal, São Paulo, jun. 2013.
IBGE. Censo Demográfico 2010: características gerais da população, reli-
gião e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.
JÚNIOR, L.; MARTINS, M. C. História do movimento político das pessoas
com deficiência no Brasil. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos; Secre-
taria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2010.
LOURO, V. Fundamentos da aprendizagem musical da pessoa com defi-
ciência. São Paulo: Editora Som, 2012.
168
MAIOR, I. M. M. L. Movimento político das pessoas com deficiência:
reflexões sobre a conquista de direitos [Political movement of disab-
led persons: reflections on the achievement of rights]. Inc. Soc., v. 10,
n. 2, p. 28-36, 2017. Disponível em: https://www.inclusive.org.br/arqui-
vos/30808. Acesso em: 20 ago. 2021.
MELLO, A. G. Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade: do capacitismo
ou a preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa
da UFSC. Ciênc. saúde coletiva [online], v. 21, n. 10, p. 3265-3276, 2016.
MENEGHETTI, F. K. O que é um ensaio teórico? Documentos e debates.
Curitiba: Anpad, 2011.
STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Trad.
Magda França Lopes. Porto Alegre: Artmed, 2007.
STOREY, K. Combating ableism in schools. Preventing School Failure, 2007.
VALLE, J. W.; CONNOR, D. J. Ressignificando a deficiência. Da abordagem
social às práticas inclusivas na escola. Trad. Fernando de Siqueira Rodri-
gues. Porto Alegre: AMGH, 2014.
WOLBRING, G. The politics of ableism. Development, v. 51, p. 252-258,
2018. DOI: 10.1057/dev.2008.17. Acesso em: 16 maio 2021.
169
CAPÍTULO 7
ESTUDOS DA DEFICIÊNCIA:
IMPLICAÇÕES DO CAPACITISMO
NO ÂMBITO DO ENSINO SUPERIOR
Adenize Queiroz de Farias
Andreza Vidal Bezerra
Lívia Laenny Vieira Pereira de Medeiros
Jackeline Susann Souza da Silva
1. INTRODUÇÃO
2. DEFICIÊNCIA E CAPACITISMO NA
ABORDAGEM DOS DISABILITY STUDIES
As pessoas com deficiência têm sido, por séculos, expostas
a diferentes tipos de barreiras e mantidas em uma posição de
desigualdade em relação às pessoas sem deficiência. Aquele
grupo social, sistematicamente, vive experiências de discri-
minação, preconceito, exploração, negligência, abandono,
segregação e isolamento (AINSCOW, 1993; FERREIRA, 2006;
MELLO; FERNANDES, 2017; SILVA, 2014).
Para corrigir o contexto de grande exclusão e discri-
minação, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência (ONU, 2006) defende a garantia dos direitos
humanos, da segurança e da liberdade plena para esse
grupo social. A Convenção (ONU, 2006) enfatiza a indefini-
ção do termo deficiência, uma vez que essa condição, mais
171
que uma estrutura corporal biologicamente comprometida, é
resultado de distintas relações com o ambiente. Em suma, o
texto se refere à deficiência como condição individual – com-
prometimento físico, sensorial e/ou intelectual – associada à
interação com o meio ambiente. O preâmbulo do documento
transfere o estado de “deficiência” para a interação social
(ONU, 2006).
Baseada em estudos realizados em diversos países, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou em 2011, o
modelo “biológico-psíquico-social” para definir os tipos de
deficiência na nova Classificação Internacional de Funcionali-
dade, Incapacidade e Saúde (CIFS). A nova CIFS compreende
“funcionalidade e deficiência como a interação dinâmica
entre problemas de saúde e fatores contextuais” (OMS, 2011,
p. 16). A mudança da CIFS conceitua a deficiência a partir de
indicadores da funcionalidade humana, articulados ao grau
de participação social da pessoa, que pode variar de acordo
com a “classificação de facilitadores e/ou barreiras; fatores
ambientais e/ou pessoais” (OMS, 2011, p. 16).
A partir dessa nova definição e, sobretudo, em decorrên-
cia do ativismo fortemente exercido por homens e mulheres
com deficiência que, no Brasil, se intensificou, na década de
1980, tornando nítido o avanço político e teórico da pers-
pectiva social da deficiência, no discurso oficial. No entanto,
é preciso que essa discussão avance quando propõe analisar
a experiência da deficiência, a partir do prisma da cultura,
constituído na subjetividade e nas relações de poder na edu-
cação superior. Pesquisadores e pesquisadoras de vertentes
pós-estruturalistas, assim como estudiosas feministas (DINIZ;
GUILHEM, 2000; MELLO; FERNANDES, 2017; MELLO; NUER-
NBERG, 2012; MORRIS, 1991; PINTO, 2013) vêm ampliando as
análises sobre a deficiência em suas intersecções e a cultura
torna-se pano de fundo de investigação.
Nessa direção, os Disability Studies questionam as pes-
quisas que abordam a deficiência como uma realidade
objetiva, concreta e definida, cuja análise está centrada
172
apenas no indivíduo com deficiência ou no ambiente. Bus-
cam perceber as relações entre as pessoas com deficiência,
pessoas sem deficiência e ambientes dentro de arranjos
culturais. O campo dos Disability Studies é referência na des-
construção da categoria deficiência, a partir dos significados
implicados na posição da não deficiência (SILVA, 2014, 2019).
Nessa linha, segundo Mello e Nuernberg (2012), o com-
parativo de valor que compõe aquilo que é deficiência e não
deficiência baseia-se no pressuposto da corponormatividade
compulsória. Este conceito é relevante para compreender a
visão predominante nos discursos públicos sobre a defici-
ência. A estrutura social qualifica “[...] determinados corpos
como inferiores, incompletos ou passíveis de reparação/
reabilitação quando comparados aos padrões hegemônicos
funcionais/corporais” (MELLO; FERNANDES, 2017, p. 13) e,
com isso, valoriza determinados atributos físicos em detri-
mento de outros, criando padrões sociais para a forma como
o corpo e a mente devem ser e se apresentar (SILVA, 2014).
Associado ao conceito de corponormatividade, está o
capacitismo que significa:
A discriminação praticada contra as pessoas com
deficiência. Trata-se de uma categoria que define
a forma como as pessoas com deficiência são tra-
tadas como incapazes (incapaz de trabalhar, de
frequentar uma escola de ensino regular, de cur-
sar uma universidade, de amar, de sentir desejo, de
ter relações sexuais etc.) aproximando as deman-
das dos movimentos das pessoas com deficiência a
outras discriminações como o sexismo, o racismo e
a homofobia (MELLO; FERNANDES, 2017, p. 6).
4. PERCURSO METODOLÓGICO
5. EXCLUSÃO E DISCRIMINAÇÃO
NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO:
VOZES DE MULHERES NORDESTINAS
COM DEFICIÊNCIA
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AINSCOW, M. Special needs in the classroom. A teacher education guide.
London: Jessica Kinsley/UNESCO, 1993.
ANDRADE, S. Capacitismo: o que é, onde vive, como se reproduz. 2015.
Disponível em: https://asgordas.wordpress.com/2015/12/03/capacitis-
mo-o-que-e-ondevive-como-se-reproduz/. Acesso em: 15 jan. 2021.
ANSAY, N. N. O acesso de estudantes com deficiência ao ensino superior
no Brasil: direito ou concessão? Revista Educação e Políticas em Debate,
v. 4, n. 1, 2015.
BRASIL. Dados do censo escolar indicam aumento de matrícula de alu-
nos com deficiência. Abr. 2015. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/
educacao/2015/03/dadosdo-censo-escolar-indicam-aumento-de-matri-
culas-de-alunos-com-deficiencia. Acesso: 10 jan. 2021.
184
BRASIL. Documento orientador Programa Incluir – Acessibilidade na
Educação Superior. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade/Secretaria de Educação Superior, 2013.
DINIZ, D.; GUILHEM, D. Feminismo, bioética e vulnerabilidade. Revista
Estudos Feministas, ano 8, n. 1, p. 238-244, 2000.
FARIAS, A. Q. Trajetórias educacionais de mulheres: uma leitura inter-
seccional da deficiência. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, PB. 2017.
FERREIRA, W. B. Educar na diversidade: práticas educacionais inclusivas
na sala de aula regular. Ensaios Pedagógicos, Educação Inclusiva: direito
à diversidade. Brasília: Ministério da Educação; Secretaria de Educação
Especial, 2006. p. 125-131.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
LOPES, M. C.; DAÍ’IGNA, M. C. (orgs.). In/exclusão: nas tramas da escola.
Canoas: Ed. Ulbra, 2007.
MACHADO, E. V. Políticas públicas de inclusão no ensino superior. In:
SOUZA, O. S. H (org.). Itinerários da inclusão escolar: múltiplos olhares,
saberes e práticas. Porto Alegre: Ulbra, 2008.
MEDINA, I. K. F. A invisibilidade da mulher com deficiência no movimento
feminista. TCC (Graduação em Serviço Social) – Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2020. Disponível em: https://repositorio.
ufsc.br/handle/123456789/220668. Acesso em: 24 ago. 2020.
MELLO, A. G. Gênero, deficiência, cuidado e capacitismo: uma análise
antropológica de experiências, narrativas e observações sobre violên-
cias contra mulheres com deficiência. 2014. Dissertação (Mestrado
em Antropologia Social) – . Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2014.
MELLO, A. G.; FERNANDES, F. B. M. Guia de orientações sobre gênero, deficiên-
cia e acessibilidade no Seminário Internacional Fazendo Gênero 10. In: Carti-
lha da Comissão de Acessibilidade do SIFG 10. Florianópolis: UFSC, 2017. 34p.
MELLO, A. G.; NUERNBERG, A. H. Gênero e deficiência: interseções e pers-
pectivas. Revista Estudos Feministas, v. 20, n. 3, p. 635-655, 2012.
MORRIS, J. Orgulho contra o preconceito: transformando atitudes face à
deficiência. Londres: Imprensa da Mulher, 1991.
OMS. Relatório mundial sobre a deficiência. 2011. Disponível em: http://whqlib-
doc.who.int/hq/2011/WHO_NMH_VIP_11.01_por.pdf. Acesso em: 30 abr. 2013.
ONU. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 2006.
Disponível em: http://www.assinoinclusao.org.br/downloads/convencao.
pdf. Acesso em: 3 dez. 2011.
185
PINTO, P. C. Deficiência, sociedade e direitos: a visão do sociólogo. Dis-
ponível em: http://www.icjp.pt/sites/default/files/media/723-1116.pdf.
Acesso em: 20 out. 2013.
SILVA, J. S. S. A sombra da discriminação e as barreiras de gênero no coti-
diano de mulheres com deficiência na universidade. Revista Educação
Especial, v. 33, p. 1-25, 2020.
SILVA, J. S. S. Acessibilidade, barreiras e superação: estudo de caso de
experiências de estudantes com deficiência na educação superior. 2014.
242f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, 2014.
SILVA, J. S. S. Indicadores de accesibilidad para la educación superior
desde la perspectiva de la equidad de género. 2019. 456f. Tese (Douto-
rado em Educação) – Universidad de Salamanca, Salamanca, 2019.
SILVA, J. S. S.; FERREIRA, W. B. Sombreando a pessoa com deficiência: apli-
cabilidade da técnica de sombreamento na coleta de dados em pesquisa
qualitativa. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 23, p. 185-200, 2017.
SOARES, A. M. Nada sobre nós sem nós: formando jovens com deficiência
para o exercício da autoadvocacia, 2010. 127f. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.
WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e con-
ceitual. In: SILVA, T. T. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos
culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.
186
CAPÍTULO 8
1. INTRODUÇÃO
2. DEFICIÊNCIA E CAPACITISMO:
CONCEPÇÕES E MARCAS
NA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO
PARA O MUNDO DO TRABALHO
192
contexto, todos somos atravessados de alguma maneira por
ele, reproduzindo-os em situações cotidianas. A partir dessa
lógica, o capacitismo
[...] condiciona, atravessa e constitui sujeitos,
organizações e instituições, produzindo formas
de se relacionar baseadas em um ideal de sujeito
que é performativamente produzido pela reitera-
ção compulsória de capacidades normativas que
consideram corpos de mulheres, pessoas negras,
indígenas, idosas, LGBTI e com deficiência como
ontológica e materialmente deficientes (GESSER;
BLOCK; MELLO, 2020, p. 18).
194
Muitas das habilidades e competências necessárias
para ingressar no mercado de trabalho são desenvolvidas
por meio das atividades realizadas no contexto pedagógico,
assim, é possível compreender que o preparo para escolhas
profissionais dos estudantes, perpassa a formação educacio-
nal recebida no ensino escolar.
Contudo, ao ignorar as especificidades dos indivíduos e
atribuir uma certa descrença às capacidades dos estudantes
com deficiência, de se qualificarem para ocuparem papéis
sociais diversos, a escola perpetua uma construção social que
desqualifica as pessoas, promovendo o estigma do precon-
ceito e exclusão. Essa visão acompanha a pessoa ao longo da
sua história e quando na vida adulta, afeta também a visão
dos empregadores.
Nesse contexto, importa lembrar que os seres humanos
são seres sociais, que fazem parte de um momento histó-
rico, sendo produtos e produtores da cultura que reproduz
a representação da realidade social (PEREIRA; PASSERINO,
2012), sendo que essa concepção se torna fundamental para
reconhecer a intersecção entre as questões da educação,
trabalho e inclusão.
Portanto, necessário é, para as questões que corres-
pondem à educação, trabalho e inclusão, contextualizar
as determinações sociais, visto que refletem paradigmas e
apresentam consequências diretas na organização do traba-
lho e na vivência dos trabalhadores com deficiência.
Remetendo à história recente, vemos que o mundo do tra-
balho está marcado pelo taylorismo/fordismo/toyotismo em
um sistema predominantemente capitalista, que evoluiu para
a flexibilização do trabalho. Essa flexibilização, por sua vez,
trouxe um novo discurso, relacionado ao trabalho por compe-
tência, transpondo a terminologia e ideia de qualificação.
Para Bernardo (2009, p. 37):
195
da pessoa do trabalhador que extrapolam a simples
ideia de habilitação contida na noção de qualificação’
e que ‘[...] o enfoque da competência também prevê
mudanças no gerenciamento cotidiano do trabalho’.
196
Por conseguinte, o que ocorre é que as pessoas com
deficiência são absurdamente apenadas pela sua
condição física, estigmatizadas como totalmente
incapazes para o trabalho. Além disso, se não bas-
tasse à ineficiência do Estado em promover a garantia
de uma vida digna a todo e qualquer cidadão, agora,
pela falta do trabalho e do salário, milhares de pessoas
que, em face de sua classe social e por sua condição
física, deixam de desfrutar a tantos outros direitos
que, diretamente ou indiretamente, são alcançados
pelo trabalho – como a educação, saúde, alimentação,
moradia, lazer e previdência (ASSIS, 2016, p. 44).
199
atitudes, bem como a disseminação de informações
que levem as pessoas a se conscientizarem que todos
devem ser respeitados nas suas diferenças requer, de
cada um de nós, a compreensão para entender que
somos seres sociais e que, portanto, com necessidade
de vivermos em sociedade, em espaços públicos que
favorecem o convívio com a diversidade.
200
da administração pública federal direta e indireta.
A Lei nº 13.146/15, ‘Institui a Lei Brasileira da Inclu-
são da Pessoas com Deficiência’ (Estatuto da Pessoa
com Deficiência) (BRASIL, 2018).
201
de carteiras assinadas. Em referência aos 45 milhões
de PcDs no país, como consta no censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 0,9% de
empregados (representando 400 mil) é muito pouco.
Ainda é preciso evoluir em diversos aspectos. Direito
das pessoas com deficiência no mercado de traba-
lho (FOLHA DIRIGIDA, 2019, grifo do autor).
Gênero Raça/Cor
Branco
63,3%
Negro
34,1%
Amarelo
2,4%
62,76% 37,24% Indígena
Feminino Masculino 0,2%
202
Início da descrição: Imagem de fundo branco, a esquerda na parte supe-
rior está escrito gênero na cor preta. Abaixo há três fileiras de bonecos
femininos laranja, seguido da escrita 62,76% feminino, em laranja. Ao lado
há duas fileiras de bonecos masculinos verdes, seguido da escrita
37,24% masculino, em verde. A direita, na parte superior, está escrito raça/
cor em preto. Abaixo há quatro tópicos: no primeiro está escrito
branco 63,3%, na cor rosa; no segundo está escrito negro 34,1%, em
verde; no terceiro está escrito amarelo 2,4% em cinza; no quarto está
escrito indígena 0,2% em marrom. Embaixo, à esquerda, está escrito
percentual total de pessoas com deficiência em cinza. Abaixo há
um gráfico em forma de pizza, em cinza, com a escrita 99,3% Demais
servidores(as) e uma fenda branca com a escrita 0,7% servidores(as) com
deficiência, em rosa. Fim da descrição.
6. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
209
REFERÊNCIAS
AREOSA, J. Capitalismo e precarização do trabalho. In: VELOSO, L. et al.
(org.). Anarquismo, trabalho e sociedade. Coimbra: Almedina, 2017.
ASSIS, J. G. A. A pessoa com deficiência no serviço público: análise das
condições de trabalho na Universidade Federal de Goiás regional Jataí.
2016. 174 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal
de Goiás, Jataí, 2016. Disponível em: https://repositorio.bc.ufg.br/tede/
handle/tede/6429. Acesso em: 13 fev. 2021.
BARNES, C.; MERCER, G. (eds.). Doing disability research. Leeds:
Disability Press, 1997.
BERNARDO, M. H. Trabalho duro discurso flexível: uma análise das con-
tradições do toyotismo a partir da vivência de trabalhadores. 1. ed. São
Paulo: Expressão Popular, 2009.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, 2020. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 30 ago. 2021.
BRASIL. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta
a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacio-
nal para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as
normas de proteção, e dá outras providências. Brasília: Presidência da
República, 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/d3298.htm. Acesso em: 5 abr. 2021.
BRASIL. Decreto nº 9.508, de 24 de setembro de 2018. Reserva às pessoas
com deficiência percentual de cargos e de empregos públicos ofertados
em concursos públicos e em processos seletivos no âmbito da adminis-
tração pública federal direta e indireta. Brasília: Presidência da República,
2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2018/Decreto/D9508.htm. Acesso em: 5 abr. 2021.
BRASIL. Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013. Regulamenta o
§ 1o do art. 201 da Constituição Federal, no tocante à aposentadoria da
pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de Previdência Social –
RGPS. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/
Kujrw0TZC2Mb/content/id/30038834/do1-2013-05-09-lei-complemen-
tar-no-142-de-8-de-maio-de-2013-30038827. Acesso em: 4 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime
jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fun-
dações públicas federais. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/LEIS/L8112cons.htm. Acesso em: 4 abr. 2021.
210
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Disponível em: https://www2.senado.leg.
br/bdsf/bitstream/handle/id/70320/65.pdf. Acesso em: 5 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão
da Pessoa com Deficiência. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm. Acesso em: 4 abr. 2021.
CAMPBELL, F. K. Inciting legal fictions: ‘disability’s’ date with ontology and
the ableist body of the law. Griffith Law Review, v. 10, n. 1, p. 42-62, 2001.
CARVALHO, M. R. O acesso de servidores públicos com deficiência na
Universidade Federal da Paraíba e as barreiras atitudinais no ambiente
de trabalho. 2018. 116 f. Dissertação (Mestrado Profissional) – Universi-
dade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2018. Disponível em: https://repo-
sitorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/15224. Acesso em: 14 abr. 2021.
CAVALCANTI, M. T. Desamparo e doença mental. In: JARDIM, S.; SILVA
FILHO, J. F. A danação do trabalho: a organização do trabalho e sofri-
mento psíquico. Rio de Janeiro: Te Corá, 1997.
DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo da psicopatologia do trabalho.
3. ed. São Paulo: Cortez-Oboré,1987.
DEL-MASSO, M. C. S. Educação e trabalho: temas a considerar para inclu-
são de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. In: MIRANDA, T.
G.; GALVÃO FILHO, T. A. (orgs.). O professor e a educação inclusiva: for-
mação, práticas e lugares. Salvador: EDUFBA, 2012.
DIAS, A. Por uma genealogia do capacitismo: da eugenia estatal a narrativa
capacitista social. 2013. Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre
a Deficiência – SEDPcD/Diversitas/USP Legal, São Paulo, 2013. Disponível
em: http://www.memorialdainclusao.sp.gov.br. Acesso em: 16 fev. 2021.
DINIZ, D. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense, 2007. (Coleção Pri-
meiros Passos).
ENAP. Servidores com deficiência. Jun. 2018. Disponível em: https://repo-
sitorio.enap.gov.br/bitstream/1/3218/1/Servidores_PCD_sum%c3%a-
1rio_estat%c3%adstico.pdf. Acesso em: 21 maio 2021.
FOLHA DIRIGIDA. Direito das pessoas com deficiência no mercado de
trabalho, São Paulo, 11 set. 2019. Disponível em: https://folhadirigida.
com.br/mais/noticias/especiais/direito-das-pessoas-com-deficiencia-
-no-mercado-de-trabalho. Acesso em: 21 maio 2021.
GESSER, M.; BLOCK, P.; MELLO, A. G. Estudos da deficiência: intersecciona-
lidade, anticapacitismo e emancipação social. In: GESSER, M.; BÖCK, G. L.
K.; LOPES, P. H. (orgs.). Estudos da deficiência: anticapacitismo e emanci-
pação social. Curitiba: CRV, 2020.
211
GRANEMANN, S. O processo de produção e reprodução social: trabalho e
sociabilidade. 2021. Disponível em: http://www.cressrn.org.br/files/arqui-
vos/s709726Gx6l8W29E12Si.pdf. Acesso em: 16 fev. 2021.
JACQUES, M. G. C. Identidade e trabalho: uma articulação indispensável.
Trabalho, organizações e cultura, v. 11, p. 21-26, 1996.
KITTAY, E. F. The ethics of care, dependence, and disability. A Internacional
Journal of Jurisprudence and Philosophy of Law, v. 24, n. 1, p. 49-58, 2011.
LUIZ, K. G. Deficiência pela perspectiva dos Direitos Humanos. In: CONS-
TANTINO, C.; LUIZ, K. G.; COSTA, L. M. L.; SILVEIRA, T. B. H.; BERNARDES, V.
(orgs.). Mulheres com deficiência: garantia de direitos para exercício da
cidadania, maio 2020.
MARTINS, B. S. et al. Investigação emancipatória da deficiência em Por-
tugal: desafios e reflexões. In: MORAES, M. et al. Deficiência em questão:
para uma crise da normalidade. Rio de Janeiro: Nau, 2017.
MARTINS, B. S.; FONTES, F. (orgs). Deficiência e emancipação social: para
uma crise da normalidade. Coimbra: Almedinha, 2016.
NEFFA, J. C. O Trabalho humano e sua centralidade. Revista Ciências do
Trabalho, n. 4, jun. 2015.
ONU. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 2006.
Disponível em: http://www.assinoinclusao.org.br/downloads/convencao.
pdf. Acesso em: 3 dez. 2011.
PEREIRA, A. C. C.; PASSERINO, L. M. Pessoas com deficiência no mercado
de trabalho: um estudo da cultura organizacional. In: MIRANDA, T.G.; GAL-
VÃO FILHO, T.A. (orgs.). O professor e a educação inclusiva: formação,
práticas e lugares. Salvador: EDUFBA, 2012.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos pro-
cessos psicológicos superiores. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
212
213
PARTE 2
ÉTICA DO CUIDADO
E O ENFRENTAMENTO
DO CAPACITISMO
NA EDUCAÇÃO
E NO TRABALHO
214
CAPÍTULO 9
1. INTRODUÇÃO
223
com deficiência, como cegos/as, surdos/as e deficien-
tes mentais30, com o objetivo de reabilitá-las e curá-las.
Essas instituições eram edifícios que ficavam afastados das
cidades ou pavilhões anexos a hospitais psiquiátricos que
ficavam separados dos demais locais frequentados pelas
pessoas sem deficiência, o que reforçou a segregação
(JANUZZI, 2004; MAZZOTTA, 1996).
Com a ênfase nas questões científicas e a preocupação
em desenvolvê-las, com o advento da Escola Nova no Brasil,
houve a valorização da infância e a abolição dos castigos
e vigilâncias disciplinares. Essa época contou com mudan-
ças efetivas e surgiram ideias do pensamento taylorista
com relação à administração e gestão do trabalho. Assim,
a escola consolidou-se como uma instituição parceira de
outras organizações direcionadas às questões industriais,
com o objetivo de “[...] acionar o acelerar do tempo social”
(ROCHA, 2000, p. 190), corroborando com os ideais socio-
econômicos e da divisão social do trabalho, vinculando-se
aos princípios de “[...] racionalização, serialização e especia-
lização” (ROCHA, 2000, p. 190).
Na tentativa de minimizar a exclusão total, a sociedade
procurou integrar as pessoas com deficiência em diver-
sos espaços sociais como o trabalho, a escola, entre outros.
Porém, a integração poderia ser possível, desde que a pessoa
com deficiência pudesse inserir-se nestes espaços, consistindo
em um esforço unilateral (SASSAKI, 1997). Particularmente,
com relação aos sistemas de ensino, não havia esforço “[...]
na adequação dos espaços e estratégias às necessidades dos
estudantes” (GESSER, 2020, p. 96), o que gerava processos de
exclusão de todos aqueles que, em alguma medida, desvia-
vam-se do ideal normativo de estudante.
224
Hodiernamente, diversas mudanças ocorreram na área
da Educação, principalmente quando legislações foram sis-
tematizadas, com o objetivo de auxiliar na organização das
instituições escolares. Nessa direção, a perspectiva da Educa-
ção Inclusiva, avança progressivamente nas legislações, a partir
das demandas de movimentos políticos e sociais de pessoas
com deficiência, que lutaram para inclusão de direitos nas
legislações e quanto à participação efetiva nos espaços sociais.
As autoras Lima, Ferreira e Lopes (2020, p. 178-179) advertem,
“[...] que as pessoas com deficiência vinham sofrendo, como
a falta de notoriedade, o não reconhecimento de suas ações
como válidas para prosperidade de uma sociedade normaliza-
dora e o desrespeito às suas ações efetivas no mundo”.
As pessoas com deficiência, militantes, pais e profissionais
atuantes na área da Educação, buscaram maior participação
política e social, por conta de privações de direitos e justiça
social (LANNA JUNIOR, 2010). Isso impactou positivamente na
revisão legislativa da Constituição Federal (BRASIL, 1988) que
também assegura o direito das pessoas com deficiência e na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996)
na garantia da Educação Inclusiva.
A Convenção de Direito das Pessoas com Deficiência
(CDPD), ocorreu no ano de 2006, na cidade de Nova York. O
Brasil participou da referida convenção e compõe os Estados
Partes que assumiram o compromisso de seguir e cumprir os
preceitos indicados no texto, construído na referida convenção.
O documento da CDPD foi incorporado à legislação brasileira
em 2009, pelo Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009, como
emenda constitucional, portanto, com força de lei.
A CDPD, resultado da luta política de associações de pes-
soas com deficiência ao redor do mundo, constitui-se em
um grande avanço na participação dos movimentos sociais
e políticos das pessoas com deficiência, com relação à garan-
tia de direitos, acesso aos diversos espaços sociais e na
supressão de barreiras que impeçam sua plena participação
e autonomia. O propósito da CPDP está contido no artigo 1,
225
no intuito de “[...] promover, proteger e assegurar o exercício
pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promo-
ver o respeito pela sua dignidade inerente” (CDPD, 2012, p.
26). Com relação à Educação, na CDPD, os Estados Partes pre-
cisam assegurar sistemas educacionais inclusivos em todos
os níveis de ensino, na garantia do pleno desenvolvimento
do seu potencial humano, apoio necessário, acessibilidade e
adaptações razoáveis31.
No ano de 2008, o documento da Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, foi
organizado no sentido de garantir sistemas educacionais
inclusivos, “[...] implicando uma mudança estrutural e cul-
tural da escola para que todos os estudantes tenham suas
especificidades atendidas” (BRASIL, 2008, p. 1). O documento
corrobora com o fato da necessidade de supressão de prá-
ticas discriminatórias, capacitistas, sexistas, racistas, entre
outras, que impactam, diretamente, na formação individual
dos estudantes.
Nessa direção, foi promulgada a Lei Brasileira de Inclu-
são da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
Deficiência), Lei nº 13.146 de 06 de julho de 2015, que “[...]
destinada a assegurar e a promover, em condições de
igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades funda-
mentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão
social e cidadania” (BRASIL, 2015, p. 10). A LBI, estrutu-
rada com base na CPDP e inspirada no Modelo Social da
226
Deficiência, busca garantir acessibilidade, acesso à justiça
e direitos fundamentais, e dentre estes, o direito à Educa-
ção, com o objetivo de assegurar sistemas educacionais
inclusivos e “[...] aprendizado ao longo de toda a vida, de
forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de
seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e
sociais, segundo suas características, interesses e necessi-
dades de aprendizagem” (BRASIL, 2015, p. 19).
As legislações supracitadas corroboram os princípios da
Educação Inclusiva, o que torna imprescindível a aplicabilidade
na estrutura das escolas e sistemas de ensino inclusivos para
todos os estudantes, principalmente, com deficiência, para
ampliar a participação efetiva, acessibilidade, metodologias e
práticas educativas voltadas ao seu pleno desenvolvimento,
por meio do trabalho coletivo. Valle e Connor (2014, p. 215),
indicam que “A inclusão requer trabalho duro por parte de
administradores, professores e estudantes. É um processo
orgânico que requer reflexão sistemática e resolução coletiva
de problemas entre todos os envolvidos”.
A Ética do Cuidado enquanto teoria aplicada à perspec-
tiva inclusiva, favorece na (re)estrutura de escolas e sistemas
de ensino para sua aplicabilidade, conforme destacam os
autores Geisa Letícia Kempfer Böck, Marivete Gesser e Adriano
Henrique Nuernberg (2020, p. 374), “[...] para a construção
de processos educativos inclusivos e voltados à garantia dos
direitos humanos, é de fundamental importância que os pro-
fissionais da educação planejem suas ações com base nos
princípios da interdependência e da Ética do Cuidado”, em
conformidade do que trazem os autores Valle e Connor (2014,
p. 215), “A inclusão requer cuidado”.
Diante disso, no próximo tópico serão abordadas algu-
mas contribuições da Ética do Cuidado e suas interfaces
com os Estudos da Deficiência para a perspectiva da Edu-
cação Inclusiva e práticas educativas na escola, voltadas ao
acolhimento de pessoas com deficiência e demais grupos
marginalizados por processos sociais opressivos.
227
4. CONTRIBUIÇÕES DA ÉTICA DO CUIDADO
PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
231
GESSER, M.; NUERNBERG, A. H. A participação dos estudantes com deficiência
física e visual no ensino superior: apontamentos e contribuições das teorias
feministas da deficiência. Educ. rev., Curitiba, n. spe. 3, p. 151-166, 2017. DOI:
https://doi.org/10.1590/0104-4060.52925. Disponível em: http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-406020170007001
51&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 8 maio 2021.
GESSER, M. Por uma educação anticapacitista: contribuições dos Estudos
sobre Deficiência para a promoção de processos educativos inclusivos na
escola. In: OLTRAMARI, L. C.; GESSER, M.; FEITOSA, L. R. C. (orgs.). Psicologia
escolar e educacional: processos educacionais e debates contemporâneos.
[recurso eletrônico]. Florianópolis: Editora do Bosque, 2020. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/217611. Acesso em: 1 jun. 2021.
HARARI, Y. N. Sapiens – uma breve história da humanidade. 1. ed. Porto
Alegre: L&PM, 2015.
JANUZZI, G. M. A educação do deficiente no Brasil: dos primórdios ao iní-
cio do século XXI. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2004.
KITTAY, E. F. Dependency, Difference and the Global Ethic of Longterm Care.
The Journal of Political Philosophy, v. 13, n. 4, p. 443-449, 2005. Disponível
em: https://www.researchgate.net/publication/228019318_Dependency_Dif-
ference_and_the_Global_Ethic_of_Longterm_Care. Acesso em: 3 jun. 2021.
KITTAY, E. F. Love’s labor: essays on women, equality and dependency.
New York: Routledge.1999.
KITTAY, E. F. The ethics of care, dependence, and disability. Ratio Juris, v.
24, n. 1, p. 49-58, 2011. Disponível em: http://evafederkittay.com/wp-con-
tent/uploads/2015/01/The-ethics-of-care.pdf. Acesso em: 3 jun. 2021.
LANNA JÚNIOR, M. C. M. História do movimento político das pessoas com
deficiência no Brasil. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos; Secretaria
Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2010. 443 p.
LIMA, E. B.; FERREIRA, S. M.; LOPES, P. H. Influências da eugenia na legislação
educacional brasileira: as produções capacitistas na educação especial. In:
GESSER, M.; BÖCK, G. L. K.; LOPES, P. H. (orgs.). Estudos da deficiência: anti-
capacitismo e emancipação social. Curitiba: Editora CRV, 2020. Disponível
em: https://editoracrv.com.br/produtos/detalhes/35413-estudos-da-defi-
ciencia-branticapacitismo-e-emancipacao-social. Acesso em: 29 jun. 2021.
MAZZOTTA, M. J. S. Educação especial no Brasil: história e políticas públi-
cas. São Paulo: Cortez editora, 1996.
MELLO, A. G.; GAVÉRIO, M. A.; VON DER WEID, O.; AYDOS, V. Contracartilha
de acessibilidade: reconfigurando o corpo e a sociedade. Comitê Deficiên-
cia e Acessibilidade da Associação Brasileira de Antropologia. ABA; ANPOCS;
UERJ; ANIS; CONATUS; NACI: Brasília; São Paulo; Rio de Janeiro, 2020. 14p.
232
MORAES, M. PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual. In: MORAES,
M.; KASTRUP, V. (orgs.). Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa com pes-
soas com deficiência visual. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2010. p. 26-51.
OLIVER, M. Changing the social relations of research production?
Disability & Society, v. 7, n. 2, p. 101-114, 1992. DOI: https://doi.
org/10.1080/02674649266780141. Acesso em: 16 maio 2021.
ROCHA, M. L. Educação em tempos de tédio: um desafio à micropolítica.
In: TANAMACHI, E.; ROCHA, M. L.; Proença, M. (orgs.). Psicologia e educa-
ção: desafios teórico práticos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de
Janeiro: WVA, 1997.
SINS INVALID. 10 principles of disability justice. 2015. Disponível em:
https://www.sinsinvalid.org/blog/disability-justice-a-working-draft-by-
-patty-berne. Acesso em: 16 maio 2021.
TRONTO, J. C. Moral boundaries. A political argument for an ethic of care.
New York: Routledge, 1993; Paris: Editions La Decouverte, 2009.
TRONTO, J. C. Mulheres e cuidados: o que as feministas podem aprender sobre
a moralidade a partir disso. Gênero, corpo, conhecimento, p. 186-203. 1997.
TRONTO, J. C. Women and caring: or, what can feminists learn from caring?
In: JAGGAR, A.; BORDO, S. (eds.). Gender/Body/Knowledge feminists
reconstructions of being and knowing. New Brunswick: Rutgers Univer-
sity Press, 1989, p. 172-187. Reeditado em: HELD, V. (ed.) Justice and care:
essential readings in feminist ethics. Boulder: Westview Press, 1995.
VALLE, J. W.; CONNOR, D. J. Ressignificando a deficiência: da abordagem
social às práticas inclusivas na escola. Tradução de Fernando de Siqueira
Rodrigues; Revisão técnica Enicéia Mendes e Maria Amélia Almeida. Porto
Alegre/RS: AMGH, 2014.
ZIRBEL, I. Uma teoria político-feminista do cuidado. Tese (Dou-
torado em Filosofia) – Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2016. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/han-
dle/123456789/167820?show=full. Acesso em: 10 jun. 2021.
233
CAPÍTULO 10
1. INTRODUÇÃO
2. A INCLUSÃO DE AUTISTAS
NA EDUCAÇÃO BÁSICA
O autismo é uma condição neurodiversa que compõe a
diversidade humana. Como tal, pessoas autistas se diferem
no modo de interação social e comunicação, que na relação
com a sociedade ocasiona uma série de demandas que, mui-
tas vezes, são diferentes das apresentadas por pessoas não
autistas. Partimos do princípio de que, o que faz o autismo
ser uma deficiência, são as consequências sociais oriundas
da relação da diferença corporal e comportamental com o
ambiente, que não acolhe essa variação humana e que tem
suas demandas ignoradas ou rotuladas, a partir do Modelo
Biomédico. Isso faz com que pessoas autistas sigam sem o
suporte social necessário para o seu desenvolvimento, exer-
cício da cidadania e participação plena.
Embora o Brasil tenha avançado muito sobre os Direi-
tos das Pessoas com Deficiência, de modo geral, ainda
tem sido descrito com termos típicos do Modelo Médico,
o qual, especificamente aqui, conceitua o autismo como
Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pessoa autista
ainda é considerada, na maioria dos textos legislativos
sobre o tema, como alguém com um transtorno. Esse
apego conceitual, com base na perspectiva biomédica,
afeta como um todo a legislação e o cotidiano das pessoas
236
com deficiência, diminuindo o potencial de avanços e jus-
tificando políticas de retrocesso.
A Ética do Cuidado (KITTAY, 2011) serve bem ao propósito de
romper com esse padrão, pois afirma uma interrelação estru-
tural entre todas as pessoas componentes do corpo social. Por
isso, ao se falar em inclusão, fala-se também em uma impor-
tante e imprescindível rede de cuidados, cuja necessidade tem
sido ignorada, mantendo-se modelos que colocam as pessoas
com deficiência como responsáveis pela sua própria exclusão.
E a Ética do Cuidado, ao focar no aspecto interdependente das
relações sociais (KITTAY, 2011), traz o ferramental necessário à
essa mudança.
O rompimento com o corpo teórico do Modelo Biomé-
dico, para possibilitar a adoção do Modelo Social e de direitos
humanos como referência, se faz necessário. Assim, é preciso
considerar o autismo como uma condição que faz parte da
diversidade humana e propor ações e políticas que salientem
a promoção da acessibilidade, eliminando as barreiras que
obstaculizam a participação desse grupo.
A escola se configura como um ambiente de mudança
social. A construção de uma sociedade inclusiva passa,
imprescindivelmente, por esse espaço e por políticas de
Educação. A inclusão de estudantes autistas na escola
regular de ensino é um direito muito recente e que se
encontra, sempre e reiteradamente, sob sérios riscos de
retrocessos, a exemplo do Decreto nº 10.502/2020, sus-
penso pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil (STF) após
um movimento da sociedade civil, de entidades de repre-
sentação das pessoas com deficiência e de instituições de
ensino superior, conforme detalhamento adiante.
Em 1971, a nossa legislação definia as pessoas com defici-
ência como “excepcionais” e as ações voltadas a essas pessoas
eram pautadas tipicamente no modelo caritativo. Em 1988,
a Constituição Federal, apesar de cidadã, deixou uma brecha
importante para a segregação das pessoas com deficiência. O
termo “preferencialmente”, constante no inciso III do artigo
237
208 da Constituição, colocava a possibilidade de que pessoas
com deficiência recebessem atendimento especializado fora
da escola regular. Durante muito tempo e ainda hoje, esse
termo tem sido usado para justificar a segregação de pes-
soas autistas em escolas especiais.
Com a revogação da LDB de 1971 a partir da promulgação
da Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996), a chamada “Edu-
cação Especial” foi o tema de um capítulo inteiro e ampliou
seu público para atender, também, os nela denominados
estudantes “com transtorno global do desenvolvimento”,
público este, do qual o autismo fazia parte. Em 2012, a Lei nº
12.764 (BRASIL, 2014a) instituiu a Política Nacional da Pessoa
com Transtorno do Espectro Autista, regulamentada em 2014
sob o Decreto nº 8.368 (BRASIL, 2014a), mesmo ano em que
é instituído o Plano Nacional de Educação, com vigência de
10 anos (período de 2014 a 2024), pela Lei nº 13.005/2014
(BRASIL, 2014b). Avançamos muito desde então e, hoje,
temos uma legislação mais robusta, mas ainda carente de
ajustes e avanços para a garantia dos Direitos Humanos. O
caminho que nos trouxe a Lei nº 13.146/2015 – Lei Brasileira
de Inclusão da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2015), foi um
importante marco para as pessoas brasileiras com deficiência,
pois foi construído a partir das lutas das pessoas com defi-
ciência e de suas famílias. Hoje, a educação de estudantes
autistas é um direito presente no ordenamento jurídico bra-
sileiro, embora ainda sob sérios riscos de retrocessos.
Em 2020, o Decreto nº 10.502 instituiu a chamada Polí-
tica Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e
com Aprendizado ao Longo da Vida (PNEE) com o intuito
de consolidar as legislações anteriores. Tal política trouxe as
escolas especializadas como espaços de atendimento edu-
cacional para aqueles que, segundo sua lógica, “[...] não se
beneficiam, em seu desenvolvimento, quando incluídos em
escolas regulares inclusivas e que apresentam demanda por
apoios múltiplos e contínuos [...]” (BRASIL, 2020). O argu-
mento, a partir de uma perspectiva do Modelo Biomédico,
238
coloca a responsabilidade da segregação na própria pessoa
com deficiência, algo que fere diretamente o conceito vigente
de deficiência, que tem como base o Modelo Social. Além
disso, encerra a pessoa em um rótulo, qual seja, o de pessoa
que não se beneficia da escola comum por ter um problema
individual/biológico e, portanto, deve ocupar espaço sepa-
rado, compondo o que o referido Decreto denomina como
“educandos da Educação Especial”. Com isso, é excluída do
convívio com outros estudantes do ambiente escolar comum.
Ao apontar a deficiência como resultante da interação
com as barreiras presentes no ambiente, a CDPD faz um
marco teórico-prático importante, que é desrespeitado pelo
referido decreto. Felizmente, tal normativa teve seus efeitos
suspensos por uma liminar do STF, ainda em 2020, e voltará
em discussão e votação provavelmente no mesmo ano. O
decreto passou, por seu teor e possíveis efeitos, a ser popu-
larmente denominado, por todo um movimento de lutas
pela educação inclusiva, como decreto da exclusão. Esse epi-
sódio exemplifica bem os riscos que a inclusão de pessoas
com deficiência (e, nesse recorte, autistas), correm no Brasil.
Os recorrentes riscos de retrocesso na inclusão de estu-
dantes autistas, principalmente aqueles com maior demanda
de suporte social, e os argumentos que, reiteradamente,
colocam nesses estudantes e em suas famílias toda a res-
ponsabilidade pela exclusão que sofrem, fizeram com que
elencássemos aqui, alguns pontos imprescindíveis para o
processo inclusivo dessas pessoas. Dado que a inclusão
de todos os estudantes autistas, independente do grau de
demanda de suporte, é um direito presente no ordenamento
jurídico brasileiro, faz-se importante a aplicação de ferra-
mentas teóricas e práticas, que permitam que essa inclusão
seja efetiva. Nesse ferramental teórico-metodológico estão
incluídos os conceitos de capacitismo, de neurodiversidade,
de barreiras, de Tecnologia Assistiva (principalmente de
Comunicação Alternativa e Aumentativa – CAA para os não
oralizados), de “Autistar” e a linha teórica denominada de
239
Ética do Cuidado, que serão apresentados na sequência. Para
tanto, procedemos algumas considerações básicas sobre os
itens citados e, logo em seguida, o aprofundamento sobre a
Ética do Cuidado.
O Capacitismo, como apresentado na parte 2 deste livro,
é um conceito trazido para o Brasil pela antropóloga e ati-
vista Anahi Guedes de Melo. Refere-se à discriminação e ao
preconceito, com base em um padrão normativo de superiori-
dade humana, direcionada às pessoas consideradas fora desse
padrão (MELLO, 2016; WOLBRING, 2008). Atinge, principal-
mente, as pessoas com deficiência por historicamente serem
consideradas incapazes, em decorrência da sua deficiência
(MELLO, 2016). Para Dias (2013, p. 10) “esta percepção cons-
trói um conjunto de suposições (consciente ou inconsciente)
e de práticas que promovem um tratamento desigual de
pessoas por causa de deficiências reais ou presumidas”. Ges-
ser, Block e Mello (2020, p. 18) afirmam que
[...] o capacitismo é estrutural e estruturante, ou seja, ele
condiciona, atravessa e constitui sujeitos, organizações
e instituições, produzindo formas de se relacionar base-
adas em um ideal de sujeito que é performativamente
produzido pela reiteração compulsória de capacidades
normativas que consideram corpos de mulheres, pes-
soas negras, indígenas, idosas, LGBTI e com deficiência
como ontológica e materialmente deficientes.
241
no campo dos direitos humanos, posicionando a dignidade
humana como o norte de tais ações, pois sem isso, é impos-
sível promover a inclusão das pessoas com deficiência, grupo
no qual estão inseridas as pessoas autistas.
243
hábitos que essas pessoas usam para relaxar, passar o tempo,
se regular; são comportamentos que, no Modelo Médico, têm
sido chamados de estereotipia e colocados como sintomas a
serem extirpados.
Por ser verbo, Autistar também faz um deslocamento
semântico importante que nega o autismo como um adje-
tivo, um rótulo e que o coloca como ação, trazendo a campo,
a subjetividade das pessoas autistas. “Adjetivos caracterizam
pessoas e podem qualificá-las ou desqualificá-las. Verbo é
ação, estado, fenômeno, ocorrência, desejo” (TORRES, 2018).
Autistar é importante para o desenvolvimento cognitivo
e para a aprendizagem de pessoas autistas. Nessa lógica,
características como a ecolalia, por exemplo, não devem ser
reprimidas como um sintoma, mas devem entrar como parte
do processo de desenvolvimento e aprendizagem.
Ativistas autistas têm reivindicado espaços de fala e de
participação na sociedade, travando uma disputa de narrativas,
principalmente, no que tange às atuações que objetivam inter-
vir na construção de políticas e serviços voltados a esse público.
As narrativas referentes ao autismo sempre foram dominadas
por pessoas não autistas, sejam familiares, profissionais ou
mesmo pesquisadores que, exatamente por estudarem sobre
e atuarem com o autismo, não sendo pessoas autistas, acabam
por ocupar espaços privilegiados de fala sobre o tema. Como
resultado dessa disputa de narrativas, em 2019, a Associa-
ção Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas Autistas
(Abraça) realizou a campanha “Autistar é Resistir – Identi-
dade, Cidadania e Participação”34. Uma ação importante da
campanha foi a realização da primeira audiência pública,
totalmente protagonizada por pessoas autistas, na Câmara
dos Deputados, em Brasília, inclusive com a participação de
um autista não oralizado, feito inédito no país.
244
Crianças autistas, ainda sem autonomia e espaço de
fala, seguem sofrendo capacitismos e os efeitos da pato-
logização de seus comportamentos. Que espaço há para a
educação dessas crianças, quando suas expressões e modos
de aprendizagem são tratados como “sintomas de doen-
ças”? O principal efeito da adoção desse verbo, na educação
infantil, é permitir o desenvolvimento das crianças autistas
dentro de seu próprio modelo cognitivo, respeitando suas
expressões. Portanto, é uma ferramenta conceitual que
também deve ser aprofundada, inclusive com estudos de
sua aplicabilidade em diferentes contextos.
246
Kittay (2011) traz o entendimento da interdependência como
parte das relações humanas e condição para sua sobrevi-
vência e bem-estar. Da mesma forma, o cuidado não remete
a uma limitação da pessoa, mas compõe as relações entre
todas as pessoas. Kittay, Jennings e Wasunna (2005) alertam
que é preciso cautela ao exercer o cuidado, no sentido de
não demover a capacidade de escolha da pessoa cuidada,
bem como possibilitar dependências ou relações hierárqui-
cas e impositivas desnecessárias.
Simplican (2015) critica Kittay, argumentando que a Ética
do Cuidado proposta por ela nem sempre tem êxito, quando
se pensa em relações complexas, no qual o cuidador, por
vezes, não consegue captar a necessidade de quem é cui-
dado. Para tanto, propõe que o cuidado seja ampliado para
uma rede de cuidado mais ampla, tornando as necessidades
de quem é cuidado mais legíveis e o cuidado, em si, público.
Assim, estaria o cuidado da pessoa com deficiência em uma
rede, em que público e privado se entrelaçam, e os cuida-
dos necessários ao cuidador/a também seriam considerados.
Dentro dessa lógica do cuidado como uma responsabilidade
também em âmbito público, e da interdependência como
parte das relações humanas, a Ética do Cuidado deve fazer
parte das ações nos diferentes contextos.
No âmbito educacional, Bock, Gesser e Nuernberg
(2019) propõem o Desenho Universal para Aprendizagem
(DUA), como um exercício da Ética do Cuidado. O Desenho
Universal para Aprendizagem (DUA) ou Universal Design
for Learning (UDL) surge a partir do Desenho Universal
(DU) (Universal Design), que se propunha a construção de
ambientes e produtos acessíveis para que pudessem ser
utilizados por um maior número possível de pessoas. Com
base nesse propósito, o DUA adequa os princípios do DU
para o campo da Educação, com base em três aspectos da
aprendizagem: 1) Representação (o “quê” da aprendiza-
gem) – como é categorizado o que é visto, ouvido e lido;
2) Ação e expressão (o “como” da aprendizagem) – como
247
as ideias são organizadas e expressadas e as tarefas são
planejadas e executadas e; 3) Engajamento (o “porquê”
da aprendizagem) – o que motiva e desafia os estudantes
para a aprendizagem (CAST, 2011, 2013). Esses aspectos
estão relacionados a três redes neurais no funcionamento
do cérebro, ligados ao processo de aprendizagem: 1) Redes
de conhecimento; 2) Redes estratégicas; e 3) Redes afetivas
(CAST, 2011, 2013; SENNET, 2015;). A partir desses estudos e
com apoio na neurociência, o DUA constrói como princípios
de ação: 1) proporcionar modos múltiplos de apresentação;
2) proporcionar modos múltiplos de ação e expressão; 3)
proporcionar modos múltiplos de autoenvolvimento (CAST,
2013; ROSE et al., 2002). O DUA contempla um conjunto de
princípios para o desenvolvimento curricular flexível, para
eliminar as barreiras da aprendizagem e possibilitar oportu-
nidades igualitárias para aprendizagem (NCUDL, 2014). Para
Silva e Souza (2015), um quesito essencial na construção
de processos pedagógicos inclusivos é a flexibilidade que
o DUA propõe, pois possibilita que os estudantes persona-
lizem/modulem o conteúdo apresentado, o ambiente, os
recursos e a expressão do conhecimento mais adequados
ao seu perfil e estilo de aprendizagem, com vista à elimina-
ção de possíveis barreiras para a aprendizagem.
Esse processo de construção estimula uma ação proativa
dos docentes, os quais precisam antecipar as necessidades
educacionais diversas dos futuros estudantes, propondo uma
apresentação adequada aos diferentes perfis de estudan-
tes, para evitar adaptações futuras (GRIFUL-FREIXENET et al.,
2017). Todavia, não podemos desconsiderar “a necessidade
das incorporações de outras estratégias que podem emergir
na relação entre o objeto da aprendizagem e o sujeito que se
apropria do conhecimento”, em uma proposta de aperfeiçoa-
mento, como parte constante desse processo inclusivo (BOCK;
GESSER; NUERNBERG, 2019, p. 13). Block, Gesser e Nuernberg
(2019, p. 13) esclarecem que
248
[...] é preciso ter atenção e escuta a fim de encon-
trarmos as melhores estratégias no modo de o
estudante se relacionar com o conhecimento, atra-
vés de uma ligação que privilegie a voz do sujeito
do cuidado numa relação de mão dupla, recíproca
e co-construtiva.
249
sobre acessibilidade, propõe que esta seja essa pensada de
forma mais ampla, e baseada na ideia de justiça da deficiência,
afirmando que:
Não é necessário saber tudo sobre as especificidades
do outro! As acomodações nascem das interações.
Cada pessoa é única, cada experiência é singular.
Os marcos legais e os padrões técnicos, embora
extremamente necessários, nunca serão suficientes.
É preciso uma mudança na atitude, no comporta-
mento, na disponibilidade para se transformar, fazer
as coisas de outro jeito, com base na relação com o
outro e no modo como se é interpelado e movido
pelas diferenças.
251
buscar recursos para qualidade de vida e o que é
para se enquadrar, entrar num padrão. [...] Fazer a
inclusão acontecer é rever conceitos, educar cons-
ciência, transformar atitudes; é muito mais do que
fazer o que é certo e garantir direitos, é ressoar a
diversidade humana como a maior riqueza e a inclu-
são como uma necessidade comum de todos nós
sempre (ROSA, 2019).
254
os estudantes expressarem o que aprenderam. Esse
tipo de abordagem cuidadosa sobre a aprendizagem
beneficia alunos com e sem deficiências.
Nesse sentido, o DUA fazendo parte da cultura educativa,
oportunizado um fazer pedagógico de acordo com a Ética
do Cuidado, possibilita, aos estudantes autistas, equidade de
acesso e recursos diversificados e a eliminação de barreiras
que dificultam sua aprendizagem e permanência na escola.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
256
REFERÊNCIAS
BOCK, G. L. K.; GESSER, M.; NUERNBERG, A. H. O Desenho Universal para
aprendizagem como um princípio do cuidado. Revista Educação Especial,
Santa Maria, v. 32, p. 1-18, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufsm.
br/educacaoespecial/article/view/34504/html_1. Acesso em: 20 jun. 2017.
BRASIL. Decreto Legislativo nº 8.368, de 2 de dezembro de 2014. Regulamenta
a Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Diário
Oficial da União, Brasília, coleção 3, p. 2, 3 dez. 2014a. Disponível em: http://
legis.senado.leg.br/norma/413934. Acesso em: 16 maio 2021.
BRASIL. Decreto nº 10.502, de 30 de setembro de 2020. Institui a Política
Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao
Longo da Vida. Diário Oficial da União, edição 189, seção 1, p. 6, Brasília, DF,
1 out. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-
-10.502-de-30-de-setembro-de-2020-280529948. Acesso em: 28 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 5.692 de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o
Ensino de Primeiro e Segundo Graus, e dá outras Providencias. Diário Ofi-
cial da União, Brasília, p. 6377, col. 1, 12 ago. 1971. Disponível em: https://
legis.senado.leg.br/norma/547565. Acesso em: 10 nov. 2020.
BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. Diário Oficial da União, p. 27833, col. 1, Brasília,
23 dez. 1996. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/norma/551270#:~:-
text=Estabelece%20as%20diretrizes%20e%20bases%20da%20educa%-
C3%A7%C3%A3o%20nacional.&text=AUTOR%3A%20DEPUTADO%20OCTA-
VIO%20ELISIO%20%2D%20PL,1258%20DE%20198. Acesso em: 10 nov. 2020.
BRASIL. Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacio-
nal de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e
altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Diário Ofi-
cial da União, p. 2, Brasília, 28 dez. 2012. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm. Acesso em: 1 nov. 2019.
BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacio-
nal de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília, Edição Extra, n. 120-A, col. 1, p. 1, 6 jun. 2014b. Disponível em:
https://legis.senado.leg.br/norma/584816. Acesso em: 5 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Diário Oficial da União, p. 2, Brasília, 7 jul. 2015. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm.
Acesso em: 28 maio 2017.
257
CAST – CENTER FOR APPLIED SPECIAL TECHNOLOGY. About universal
design for learning. 2013. Disponível em: http://www.cast.org/our-work/
about-udl.html#.WSoRamjyvIU. Acesso em: 1 nov. 2019.
CAST – CENTER FOR APPLIED SPECIAL TECHNOLOGY. Design Universal
para aprendizagem. GuidelinesVersion 2.0. Wakefield, 2011.
DIAS, A. Por uma genealogia do capacitismo: da eugenia estatal a nar-
rativa capacitista social. Anais do I Simpósio Internacional de Estudos
sobre a Deficiência – SEDPcD/Diversitas/USP Legal, São Paulo, jun. 2013.
DOMINGS, Y.; CREVECOEUR, Y. C.; RALABATE, P. K. Universal Design for lear-
ning: meeting the needs of learners with autism spectrum disorders. In:
Technology tools for students with autism innovations that enhance inde-
pendence and learning. Baltimore: Paul H. Brookes Publishing, 2014. p. 21-41.
FIETZ, H. M.; MELLO, A. G. A multiplicidade do cuidado na experiência da defi-
ciência. Revista Anthropológicas, [S. l.], ano 22, v. 29, n. 2, p. 114-141, 2018.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educa-
tiva. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).
GESSER, M.; BLOCK, P.; MELLO, A. G. Estudos da deficiência: intersecciona-
lidade, anticapacitismo e emancipação social. In: GESSER, M.; BOCK, G. L.
K.; LOPES, P. H. (orgs.). Estudos da deficiência: anticapacitismo e emanci-
pação social. Curitiba: CRV, 2020. p. 17-36.
GRIFUL-FREIXENET, J.; STRUYVEN, K.; VERSTICHELE, M.; ANDRIES, C. Higher educa-
tion students with disabilities speaking out: perceived barriers and opportunities
of the Universal Design for Learning framework. Disability & Society, [S. l.], v. 32,
n. 10, p. 1627-1649, 2017. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full
/10.1080/09687599.2017.1365695. Acesso em: 31 out. 2019.
INSTITUTO ALANA E ABT ASSOCIATES. Os Benefícios da educação inclu-
siva para estudantes com e sem deficiência. 2016. Disponível em:
https://alana.org.br/wp-content/uploads/2019/10/os-beneficios-da-e-
ducacao-inclusiva.pdf. Acesso em: 20 maio 2021.
KITTAY, E. F.; JENNINGS, B.; WASUNNA, A. A. Dependency, difference and
the global ethic of longterm care. Journal of Political Philosophy, v. 13,
n. 4, p. 443-469, 2005. Disponível em: http://doi.wiley.com/10.1111/j.
1467-9760.2005.00232.x. Acesso em: 20 dez. 2019.
KITTAY, E. F. The ethics of care, dependency, and disability. Ratio Juris, v.
24, n. 1, p. 49-58, 2011. Disponível em: http://evafederkittay.com/wp-con-
tent/uploads/2015/01/The-ethics-of-care.pdf. Acesso em: 19 set. 2017.
MELLO, A. G. Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade: do capacitismo ou
a preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa da
UFSC. Ciênc. saúde coletiva [online], v. 21, n. 10, p. 3265-3276, 2016.
258
MELLO, A. G.; GAVÉRIO, M. A.; VON DER WEID, O.; AYDOS, V. Contracartilha
de acessibilidade: reconfigurando o corpo e a sociedade. Comitê Deficiên-
cia e Acessibilidade da Associação Brasileira de Antropologia. ABA; ANPOCS;
UERJ; ANIS; CONATUS; NACI: Brasília; São Paulo; Rio de Janeiro, 2020. 14p.
NCUDL. What is Universal Design for learning. 2014. Disponível em:
http://www.udlcenter.org/aboutudl/whatisudl. Acesso em: 28 maio 2017.
RAMOSE, M. B. Sobre a legitimidade e o estudo da filosofia africana.
Ensaios Filosóficos, v. IV, out. 2011. Disponível em: http://www.ensaiosfilo-
soficos.com.br/Artigos/Artigo4/RAMOSE_MB.pdf . Acesso em 26 abr. 2021.
RIBEIRO, D. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017.
ROSA, M. Diversidade que move o mundo. (Youtube). 2019. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=EqpbmmEO6iQ. Acesso em: 5 maio 2021.
ROSA, M. Mudar a escola e não mudar de escola. Diário da mãe da Alice.
Escola Legal, 2020. Disponível em: https://aescolalegal.com.br/mudar-a-
-escola-nao-de-escola/. Acesso em: 31 ago. 2021.
ROSE, D. H. et al. Teaching every student in the digital age: universal design for lear-
ning. United States: Association for Supervision and Curriculum Development, 2002.
SENNET. Inclusão e acesso às tecnologias. SENnet 2012-2014. European Scho-
olnet, 2015. Disponível em: http://inclusaoeacessoastecnologiaspt.weebly.com/
3---desenho-universal-na-aprendizagemudl.html. Acesso em: 28 maio. 2017.
SILVA, S. C.; SOUZA, M. V. Desenho Universal para aprendizagem e Moocs: uma refle-
xão preliminar. In: Mídias digitais, redes sociais e educação em rede: Experiências na
Pesquisa e Extensão Universitária. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2015. p. 129-138.
SIMPLICAN, S. C. Care, disability, and violence: theorizing complex depen-
dency in Eva Kittay and Judith Butler. Hypatia, v. 30, n. 1, p. 217-233, 2015.
DOI: http://doi.wiley.com/10.1111/hypa.12130. Acesso em: 16 maio 2021.
SINGER, J. Odd People in: the birth of community amongst people on the autis-
tic spectrum. A personal exploration based on neurological diversity. Faculty
of Humanities and Social Science University of Technology, Sydney, 1998.
Disponível em: https://www.academia.edu/27033194/Odd_People_In_The_
Birth_of_Community_amongst_people_on_the_Autistic_Spectrum_A_perso-
nal_exploration_based_on_neurological_diversity. Acesso em: 3 set. 2021.
TORRES, A. Autistar é verbo. Disponível em: https://abraca.net.br/autis-
tar-e-verbo-opiniao-adriana-torres/. Acesso em: 28 maio 2021.
VALLE, J. W.; CONNOR, D. J. Ressignificando a deficiência: da abordagem
social às práticas inclusivas na escola. Porto Alegre: AMGH, 2014.
WOLBRING, Gregor. The politics of ableism. Development, v. 51, n. 2, p.
252-258, 2008. Disponível em: http://www.palgrave-journals.com/doi-
finder/10.1057/dev.2008.17. Acesso em: 19 set. 2017.
259
CAPÍTULO 11
1. INTRODUÇÃO
263
a responsabilidade pelos processos educativos do estudante
com deficiência no ambiente escolar, atendendo às necessi-
dades e peculiaridades de cada um.
O colaborador estudante de Letras/Português, acadêmico
da UFSC, relata que durante o ano de 2020, o projeto DUA/
Coamar desenvolveu uma série de atividades que trabalharam
com os conhecimentos sobre descrição e audiodescrição40,
ao produzir dois livros digitais, desenvolvidos pelos estudan-
tes do CA/UFSC; e duas contações de histórias para a Semana
Nacional do Livro e da Biblioteca, ocorrida em outubro do
corrente ano. Além de mantermos uma parceria colaborativa
entre projeto e a Biblioteca Setorial do CA (BSCA), no qual foi
desenvolvido o trabalho diretamente com a equipe da biblio-
teca, com foco na melhoria da acessibilidade na mesma.
A proposta de promover acessibilidade, por meio das
descrições e audiodescrições, como um recurso para melho-
rar o acesso dos estudantes, propulsou a aplicabilidade dos
conhecimentos teóricos, para corresponder às demandas
que a prática exigia. Na reformulação das páginas da BSCA e
comunicações feitas pela biblioteca, bem como nas publica-
ções do projeto, foram constantes no referido ano. Quanto à
acessibilidade para todos, argumentamos que:
[...] independentemente das suas condições ou
impedimentos, surgiu a ideia de integração de tal
conceito aos processos de ensino e aprendizagem,
baseando-se num ensino pensado para atender as
necessidades variadas dos alunos, pois além das
barreiras físicas, também existem hoje as barreiras
pedagógicas (MENDES; ZERBATO, 2018, p. 150).
264
Baseando-nos nisso, buscamos modos acessíveis comuni-
cacionais para todos os nossos estudantes por essa iniciativa, no
sentido de promover os conceitos de descrição e audiodescrição.
As intervenções das pesquisadoras/docentes nas ações
deste projeto, foram significativas, pois contribuíram por
meio da inter-relação da teoria utilizada nas atividades de
extensão, nos estudos e aprofundamento, para a articulação
com as práticas no projeto e na busca da criação de jogos
e materiais acessíveis para todos. Tal prerrogativa, auxiliou,
positivamente, na formação inicial dos bolsistas (colabora-
dores acadêmicos) em atuação constante no projeto, bem
como, a formação continuada dos profissionais e pesqui-
sadoras para o aprofundamento em teorias inspiradas no
Modelo Social da Deficiência, DUA, Estudos Feministas da
Deficiência e capacitismo41.
O fluxo e oferta de materiais para leituras, indicados inter-
namente e a participação no grupo de estudo do LEdI/Udesc,
colaborou para (re)escrita e (re)ordenamento do projeto, com
relação às ações e metodologia vinculadas à extensão. Nessa
direção, favoreceu a construção das ementas de cursos/ofici-
nas ofertados/as ao público-alvo que participou ativamente.
A partir de conceitos e teorias refletidas pelos ministrantes,
estas foram incorporadas em suas práticas cotidianas, em
âmbito profissional e pessoal, e dialogadas durante as discus-
sões, acerca das temáticas organizadas para estes momentos.
265
Atentando-nos ao fato das necessidades específicas
dos estudantes, das variadas formas de aprendizagem e de
ensino que os docentes podem exercer em suas práticas,
reunimos o arcabouço teórico que esclarece sobre posicio-
namentos capacitistas na educação. O uso de materiais e
recursos variados para a complementação e enriquecimento
dos processos educativos, o projeto debruçou-se em fatores
que orientam o trabalho para que, de alguma forma, pudés-
semos provocar fissuras no capacitismo (GESSER, 2020)
impregnado nas barreiras impostas e presentes no ambiente
escolar. Fissuras nas práticas capacitistas, exercidas dentro
e fora da escola, influenciam na formação dos estudantes
como sujeitos que compreendem as variações humanas
como parte da vida.
Diante disso, a metodologia executada no projeto DUA/
Coamar busca minimizar o capacitismo estrutural (GESSER,
2020), por meio de ações que corroborem com a colaboração
de todos na formação inicial e continuada de acadêmicos,
bolsistas, pesquisadores e docentes. O aprimoramento de
saberes foi inspirado no Modelo Social da Deficiência e nos
Estudos Feministas da Deficiência, que reconhece que todos
somos interdependentes no processo de ensinar e aprender.
No pensamento freiriano, nos inspiramos e compactuamos
com esta afirmativa: “É na inconclusão do ser, que se sabe
como tal, que se funda a educação como processo perma-
nente” (FREIRE, 2018, p. 57).
269
Nuernberg (2020, p. 378) em seu artigo que trata do DUA como
um princípio do cuidado, que “é inerente à condição humana
a perene necessidade de aperfeiçoamento e ampliação do
potencial inclusivo de suas tecnologias e práticas sociais”.
Dessa maneira, ao colocarmos os estudantes como participan-
tes diretos no desenvolvimento do jogo, quisemos propiciar
uma prática em que a aula fosse feita com os estudantes e
para os estudantes, colocando-os como protagonistas do seu
próprio aprendizado, corroborando com a rede de afeto (enga-
jamento) que os incentiva ao posicionamento pessoal.
Cabe ainda ressaltar, que para romper a padronização
do currículo, torna-se necessário vincular a Ética do Cuidado
aos princípios do DUA, assim como abordam Böck, Gesser e
Nuernberg (2020), diversificando as possibilidades de ensino
e aprendizagem para contemplarmos as variações do modo
como os estudantes aprendem. Nesse sentido, ratificamos o
que dizem Böck, Gesser e Nuernberg (2020), que para alcançar
a atenção, escuta e respeito, ao dinamizarmos um material ou
jogo flexibilizado e acessível à toda a turma, é imprescindível
termos como fim “o modo do estudante se relacionar com o
conhecimento, por meio de uma ligação que privilegie a voz
do sujeito do cuidado, numa relação de mão dupla, recíproca
e construtiva” (BÖCK; GESSER; NUERNBERG, 2020, p. 378).
No que tange a formação inicial e continuada dos
colaboradores do projeto, o qual ressalta a importância
da atividade de descrição e da audiodescrição, como prio-
ritária para a acessibilidade em todo e qualquer material
ou recurso, destaca-se o engajamento de um dos colabo-
radores acadêmicos e autor neste capítulo, na promoção
desta. A voz utilizada para a audiodescrição dos materiais
e recursos do projeto, por meio do trabalho realizado em
cooperação, foi realizada por outros dois colaboradores,
sendo uma destas, autora neste capítulo. Sendo assim, a
teoria sob o ponto de vista da Ética do Cuidado, que com-
plementamos a nossa postura pedagógica inclusiva, dentro
dos pressupostos do Modelo Social da Deficiência.
270
Nós autores, que desempenhamos um papel ativo dentro
do projeto (pesquisadores e colaboradores), refletimos sobre
nossa prática durante a imersão na teoria e aplicação cotidiana,
criação e flexibilização dos materiais e recursos. Baseamo-
-nos, primeiramente, nos pressupostos do Modelo Social, que
“entende a deficiência como uma categoria identitária, uma
forma de opressão que opera com outras categorias sociais
como, gênero, raça/etnia, sexualidade, classe, dentre outras”
(MELLO; MOZZI, 2018, p. 19). Portanto, nós os autores, neste
projeto, mantivemo-nos imbuídos da observação e cuidado
quanto às relações “entre um corpo com impedimentos de
natureza física, sensorial, mental ou intelectual” (MELLO;
MOZZI, 2018, p. 19) e, dessa forma, estabelecendo critérios
acessíveis que acolhem as variações corporais, favorecemos
a participação efetiva da maior quantidade de estudantes em
suas peculiaridades, sendo estes com ou sem deficiência.
Cada um/a de nós, instigados pela meta comum na
criação dos materiais e recursos, para romper barreiras que
impedem a participação ativa dos estudantes em sala de
aula, cumprimos os objetivos que primaram por materiais e
recursos por diferentes vias didáticas, visando o alcance do
conceito destas. O acesso foi viabilizado por audiodescrição,
Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), diferentes abordagens e
interdisciplinaridade do conceito de tempo no currículo da
turma e criação de regras, a partir da linguagem do grupo.
Consideramos que, ao mesmo tempo que nos aproxima-
mos de grande parte dos estudantes, por um instrumento
didático que reúne variadas possibilidades de acesso, ainda
assim, sabemos que não alcançamos a todos, enquanto seus
potenciais. Os potenciais humanos são tão amplos e diver-
sos, que nos cabe a humildade diante destes, de sabermos
que nosso trabalho é o de buscarmos o rompimento de bar-
reiras que impeçam o acesso.
Porém, compreendemos que ainda assim haverá estudan-
tes, para os quais, teremos de nos dedicar a suas singularidades,
que são inerentes a este sujeito naquele grupo. Nesse sentido,
271
o Modelo Social da Deficiência preconiza o acolhimento das
variações humanas, tornando o ambiente, materiais e recur-
sos acessíveis, para que não geremos opressão, diretamente
ligada ao corpo deficiente e, principalmente, atentarmos
para as opressões que interseccionam na relação com este
estudante em gênero, classe, raça/etnia, entre outros.
A maior contribuição nesta reflexão, teórica e prática, foi
a responsabilidade de não negligenciar as singularidades das
pessoas com as quais trabalhamos e, para as quais produ-
zimos recursos didáticos pedagógicos acessíveis. Para tanto,
entendemos que os instrumentos de ensino e aprendizagem
são eficientes, quando mediados de forma interdependente45.
A articulação dos fazeres dos autores, composta pela ati-
vidade e proatividade de cada um dos membros, gerou um
resultado previsto como meta do projeto, porém, alcançou
patamares inesperados pelas contribuições pessoais que se
somaram, advindas das habilidades de cada um.
E, assim, poderemos ver o mesmo ocorrendo com os
estudantes em inter-relação com o material e recurso ofere-
cido, delineando processos singulares de avanços pessoais,
para além do conjunto de conhecimentos produzidos no cole-
tivo. Com tudo isto, percebemos, a cada dia, que a fidelidade
com o processo e pensamento do estudante deve ser aco-
lhida e respeitada, enquanto nos colocamos na relação de
interdependência, para formalizarmos o seu projeto, e não o
resultado que queremos neste trabalho, pois o efeito será a
expressão identitária do sujeito em formação. Sendo assim,
podem ocorrer fissuras no capacitismo estrutural, procu-
rando romper com formas de opressão, distanciando-se de
qualquer entendimento que se atrele ao que se compreende
dentro da corponormatividade46.
272
4. A ÉTICA DO CUIDADO E POSSIBILIDADES
DE FISSURAS NO CAPACITISMO NAS AÇÕES
DO PROJETO DUA/COAMAR
Neste tópico, abordaremos sobre a vinculação da Ética
do Cuidado com os Estudos Feministas da Deficiência, mais
especificamente, da segunda geração do Modelo Social da
Deficiência, trazendo sobre o seu conceito e outras questões
importantes que fazem parte desta, como a interdependên-
cia, dependência e mito da independência, articulando essa
teoria como base dentro do projeto DUA/Coamar e que cor-
robora na busca de fissuras na luta contra o capacitismo,
especificamente, nas ações escolares. Bill Hughes et al. (2019,
p. 102) complementam, com apoio a vozes feministas, por
se tratar de “uma visão concreta, experiencial, emocional e
política das relações de cuidado”.
A Ética do Cuidado é uma teoria abordada pela autora
Eva Feder Kittay (2005), que a conceitua como
[...] o apoio e a assistência que um indivíduo necessita
de outro onde aquele que precisa de cuidados é ‘ine-
vitavelmente dependente’, isto é, dependente porque
são muito jovens, doentes ou comprometidos demais,
ou muito frágeis, para gerenciar sozinhos a manuten-
ção diária (KITTAY, 2005, p. 443-444, tradução nossa47).
273
A autora traz esse amplo conceito dentro do que ela men-
ciona como “cuidados de dependência”, que engloba diversos
serviços. Enfatiza, ainda, que o cuidado é um tipo de trabalho,
até mesmo quando não remunerado, ou seja, quando se dá
em âmbito privado, sendo realizado por pessoa da família.
Partindo dessa teoria, as feministas ”promovem a com-
preensão de que, assim como a deficiência, o cuidado e a
interdependência também são constituintes e inerentes à
própria condição humana” (MELLO; MOZZI, 2018, p 20) e que
precisam vincular-se a promoção de justiça social e de direi-
tos humanos. Faz-se necessário, que compreendamos que as
questões de cuidados precisam estar dissociadas do papel,
majoritariamente, de mulheres e, consequentemente, uma
ação desvalorizada. Por isso, a necessidade de desvincular
a compreensão de que o cuidado é uma atividade relacio-
nada, diretamente, com o universo feminino e próprio deste
e, muitas vezes, desvalorizada em âmbito social como algo
inferior (DINIZ, 2003, 2007; KITTAY; JENNINGS; WASUNNA,
2005; MELLO; NUERNBERG, 2012).
Além disso, a autora Kittay (2005) traz o princípio da
interdependência como transversal nas relações humanas,
em que somos interdependentes uns dos outros e isso está
presente em todos os espaços que coexistem relações huma-
nas (escolas, hospitais, demais instituições).
As pesquisadoras Karla Garcia Luiz e Thaís Becker Henrique
Silveira (2020), trazem em seus estudos, com base em autoras
feministas da segunda geração, que discutem sobre a Ética do
Cuidado, dependência e interdependência, e mostram que
Uma ética do cuidado pressupõe o reconhecimento
da interdependência como característica fundamen-
tal das relações humanas e, ainda, que leve em conta
as preferências e escolhas do sujeito que recebe cui-
dados. Ou seja, no caso de pessoas com deficiência,
precisamos ser protagonistas das ações que envolvem
o cuidado não só do nosso corpo, mas de toda gestão
da nossa vida (LUIZ; SILVEIRA, 2020, p. 117-118).
274
Vinculado às questões de formação inicial e continuada no
trabalho cotidiano do projeto em questão, buscamos a articu-
lação dos saberes, necessidades pessoais e posicionamentos
próprios da vivência de cada um dos autores, componentes
do projeto, de forma que uns apoiassem aos outros, tanto na
criação de jogos, materiais e recursos, quanto no aprimora-
mento e compartilhamento dos conhecimentos significativos,
quanto na acessibilidade do público para quem produzimos
os artefatos educacionais. Essa articulação, de forma inter-
dependente, estimulou o engajamento ao trabalho coletivo,
acolhendo e enriquecendo a formação inicial e continuada
dos membros do projeto.
A aplicação teórica na prática dos fazeres no projeto,
proporcionou vivências de interdependência colaborativa e
forjou a possibilidade de se colocar no lugar do outro, assim,
tornamo-nos mais sensíveis para prover o direito de nós mes-
mos e dos estudantes, ou seja, ao nos melhorarmos enquanto
profissionais e pessoas, melhoramos nossas ações com os
outros. Nessa direção, nas relações de cuidados, as partes
coexistem e são ligadas, profundamente, pelas influências
das ações exercidas uns sobre os outros (FIETZ; MELLO, 2018).
Com relação ao “mito do independente”, autoras como
Helena Moura Fietz e Anahi Guedes de Mello (2018), a partir
dos estudos de Garland-Thomson e Eva Kittay, que são auto-
ras que compõem a segunda geração do Modelo Social da
Deficiência, compreendem a independência como possibili-
dade de decidir e tomar suas decisões e fazer suas próprias
escolhas. Tal entendimento se difere do que a sociedade, em
geral, compreende por independência, como o estado de
não depender de ninguém, da condição de pessoa livre, pois
o que se atrela a palavra é o entendimento que advém da
normatividade e o estigma não estaria ligado às necessida-
des de ganhar cuidados (KITTAY, 2007).
Assim sendo, o mito do independente é uma ideia cal-
cada em nossa cultura e compreendemos erroneamente,
porque de uma forma ou de outra e, indiretamente,
275
precisamos do outro, pois não conseguimos fazer tudo
por nossa própria conta. Conforme indica a pesquisadora
Mia Mingus (2017), estudiosa da área do Disability Justice48,
tudo que é produzido e fabricado em nosso entorno, de
alguma maneira nos beneficia daquilo que alguém reali-
zou: trabalho, material ou produto. Nesse sentido, “somos
dependentes um do outro, ponto final” (MINGUS, 2017, p.
8, tradução nossa)49.
Diante disso, o mito do independente, em meio a uma
sociedade capitalista e individualista, reflete o privilégio
de poucos em detrimentos de muitos, sendo que a utopia
imposta é a de que a possibilidade de ser independente, só
se torna possível, quando consigo realizar o que almejo, sem
o outro. Mas como a autora Mia Mingus (2017, p. 8) afirma:
“o Mito da Independência não é apenas sobre a verdade de
estar conectado e interdependente um do outro; é também
sobre o alto valor que se atribui ao acreditar no mito e acre-
ditar que você é independente”50.
276
O projeto DUA/Coamar atém-se a esse pensamento,
principalmente em situações de criação e enriquecimento
curricular, buscando o trabalho interdependente com todos
os estudantes. Porém, vimos que o mito do independente
está atrelado a uma visão errônea e autônoma, quanto aos
estudantes com AH/SD. Encontramos em nossa experiência,
situações de crenças docentes e discentes de que os sujei-
tos com AH/SD fazem parte de um grupo, cuja capacidade
corresponderia a todo o seu ser. Por exemplo: o sujeito com
deficiência é oprimido pela visão de dependência humana
como incapacidade, que culturalmente, desconsidera a vida
possível deste. Da mesma forma, o sujeito com AH/SD é
uma pessoa também com variações humanas em interes-
ses, conhecimentos, vivências e habilidades específicas, mas
é tratado como se todo o seu Ser fosse superdotado. Essa
visão totalitária impede que o estudante seja considerado
em sua singularidade e o coloca em situação de vulnerabi-
lidade, à medida que ele não é acolhido e respeitado no seu
direito à diversidade.
No Brasil, contamos com o amparo legal na Lei Brasi-
leira da Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), de 2015,
que se observa a existência de pressupostos sobre decisões
que podem ser compreendidas como autonomia, mesmo que
se tenha o apoio necessário, com vistas a perceber o desejo
daquela pessoa e respeitar em sua deliberação. Na área da
Educação, mais especificamente, a LBI (BRASIL, 2015), traz em
sua redação, o cuidado em adotar medidas que atendam as
especificidades dos estudantes, bem como, o apoio humano
para ampliar o seu desenvolvimento no espaço escolar, quanto
à acessibilidade e adoção de práticas pedagógicas inclusivas.
Diante disso, reafirmamos o pensamento das autoras
feministas que indicam a necessidade de que a autonomia ou
independência (mito do independente), interpretada errone-
amente pela ideologia de poder do masculino, presente na
sociedade, deve ser substituída pela interdependência entre
os seres humanos (HUGHES et al., 2019).
277
Portanto, “a interdependência nos afasta do mito da inde-
pendência e nos leva a relacionamentos em que todos somos
valorizados e temos coisas a oferecer” (MINGUS, 2017, p. 8)51.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
278
movimento, e como dizia Paulo Freire: “Na verdade, o inaca-
bamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência
vital. Onde há vida, há inacabamento” (FREIRE, 2018, p. 50).
Ressaltamos que desde 2015, já temos como política
pública, a LBI (BRASIL, 2015) que delibera sobre o direito do
apoio profissional às pessoas com deficiência que necessi-
tam, respeitando as decisões da pessoa cuidada quanto ao
que deseja para si, no que tange ao seu corpo, afeto, comu-
nicação, tempo, espaço aprazível e formas de aprendizagens.
Para tanto, a realização de ações pedagógicas que
refletem e transformam as posturas capacitistas na escola,
desmontando as barreiras atitudinais e comunicacionais,
podem ser consideradas como os primeiros passos para
um fazer anticapacitista. Entendemos que, o anticapaci-
tismo, ancorado nas posturas atitudinais e comunicacionais,
demandam uma mudança pessoal e pedagógica do profis-
sional que sucederá o apoio, considerando as características
fundamentais, indicado pela dependência humana e evi-
tando, assim, colocá-lo em uma situação de vulnerabilidade.
Dessa forma, as ações que buscamos promover durante
o ano, se desenvolveram de maneira gradativa, ou seja, a par-
tir dos estudos foi-nos possível melhorá-las passo a passo,
muito embora reconheçamos que ainda não atingimos a
totalidade dos estudantes. Porém, conseguimos diminuir sig-
nificativamente os empecilhos ao desenvolvimento de cada
um dos nossos estudantes, com ou sem deficiências, em
maior ou menor grau.
E, como resultado desse esforço coletivo, produzimos
materiais em parceria com os estudantes das turmas nas
quais atuamos, permitindo-lhes colocar à mostra o apren-
dizado coletivo e individual, sem restringi-los ou limitá-los,
valorizando as potencialidades e habilidades.
Destacamos a importância de fazer parte de um grupo de
estudos como o LEdI/Udesc e NED/UFSC, que proporcionou
diferentes reflexões e diálogos sobre deficiência, a partir de
leituras de artigos com bases teóricas que sustentam os temas
279
abordados, assim como a participação de pessoas dedicadas a
provocar debates, que são extremamente necessários para se
romper padrões normativos.
Com este capítulo, consideramos que houve um fortale-
cimento em nossas escolhas teórica e prática. Conseguimos
ver a convergência entre o DUA com a perspectiva do Modelo
Social da Deficiência, tendo como proposta pedagógica e
didática, as relações de interdependência e afeto, com base
nos estudos sobre a Ética do Cuidado e pedagogia freiriana.
Tal enfoque foi uma escolha do projeto DUA/Coamar
após a reflexão neste texto, para a continuidade das ações de
extensão, com o intuito de romper/minimizar com o pensa-
mento voltado para as capacidades do sujeito nos momentos
de planejamento e execução dos jogos, materiais e recursos.
Como uma das considerações relevantes, apontamos pos-
turas pedagógicas constantes para implementar fissuras no
capacitismo estrutural na Educação. Queremos ressaltar que
as consequências de ter as capacidades como centro, geram
posturas que levam ao acadêmico ou professor da área da
Educação, a lançar propostas com expectativas prévias. E
com isso, (per)formatar os estudantes em padrões comuns
de ensino e aprendizagem.
Assim sendo, aprofundaremos a reflexão na formaliza-
ção e na continuidade de nosso trabalho, desmistificando o
mito da independência e trabalhando com os estudantes,
de acordo com as suas variações humanas. Romper com as
expectativas da normalidade, é fundamental para se pensar
e agir com os estudantes que temos, culminando em um
olhar que reconhece os sujeitos como vidas incomparáveis
(LIMA; FERREIRA; LOPES, 2020).
280
REFERÊNCIAS
BÖCK, G. L. K. O Desenho Universal para aprendizagem e as contribuições na
educação a distância. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis/SC, Brasil, 2019. Disponível em: https://repo-
sitorio.ufsc.br/handle/123456789/214398. Acesso em: 11 maio 2021.
BÖCK, G. L. K.; GESSER, M.; NUERNBERG, A. H. O Desenho Universal para
aprendizagem como princípio do cuidado. Revista Educação, Artes e
Inclusão, Florianópolis, v. 16, n. 2, abr./jun. 2020. Disponível em: https://
www.periodicos.udesc.br/index.php/arteinclusao/article/view/15886.
Acesso em: 20 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão
da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial
da União, p. 2, Brasília, 7 jul. 2015, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 28 maio 2017.
CAMPBELL, F. A. Incitar a data das ficções jurídicas-deficiência com a ontologia
e o corpo abieísta da lei. Griffith Law Review, London, v. 10, n. 1, p. 42-62, 2001.
DINIZ, D. Modelo social da deficiência: a crítica feminista. Série Anis, Bra-
sília, v. 28, p. 1-10, 2003. Disponível em: http://www.anis.org.br/serie/
artigos/sa28(diniz)deficienciafeminismo.pdf. Acesso em: 1 junho 2021.
DINIZ. D. O que é deficiência. São Paulo. Brasiliense, 2007.
FIETZ, H. M.; MELLO, A. G. A multiplicidade do cuidado na experiência da
deficiência. Revista Anthropológicas, Recife, ano 22, v. 29, n. 2, p. 114-141,
2018. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaanthropo-
logicas/article/view/238990. Acesso em: 4 jun. 2021.
FRANCO, E. P. C.; SILVA, M. C. C. Audiodescrição: breve passeio histórico.
In: MOTTA, L. M. V. M.; ROMEU FILHO, P. (orgs.). Audiodescrição: trans-
formando imagens em palavras. São Paulo: Secretaria dos Direitos da
Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, 2010.
FREIRE, P. A pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática edu-
cativa. 54. ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2018.
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
GARLAND-THOMPSON, R. Integrating disability, transforming feminist
theory. NWSA Journal, v. 14, n. 3, p. 1-32, 2002.
GESSER, M. Por uma educação anticapacitista: contribuições dos Estudos
sobre Deficiência para a promoção de processos educativos inclusivos na
escola. In: OLTRAMARI, L. C.; GESSER, M.; FEITOZA, L. R. C. (orgs.). Psicologia
Escolar e Educacional: processos educacionais e debates contemporâneos.
281
Florianópolis: Editora do Bosque, 2020. Disponível em: https://repositorio.
ufsc.br/handle/123456789/217611. Acesso em: 4 jun. 2021.
HUGHES, B. et al. Trabalhos de amor perdidos? Feminismo, movimento de
pessoas com deficiência e éticas do cuidado. In: DEBERT, G. G.; PULHEZ, M.
M. (orgs.). Desafios do cuidado: gênero, velhice e deficiência. 2. ed. Campi-
nas: UNICAMP/IFCH, 2019.
KITTAY, E. F. A feminist care ethics, dependency, and disability. APA News-
letter on Feminism and Philosophy, v. 6, n. 2, p. 3-7, 2007.
KITTAY, E. F. Dependency, difference and the global ethic of longterm
care. The Journal of Political Philosophy, v. 13, n. 4, p. 443-449, 2005.
Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/228019318_
Dependency_Difference_and_the_Global_Ethic_of_Longterm_Care.
Acesso em: 6 jun. 2021.
KITTAY, E. F.; JENNINGS, B.; WASUNNA, A. A. Dependency, difference and
the global ethic of longterm care. Journal of Political Philosophy, v. 13,
n. 4, p. 443-469, 2005. Disponível em: http://doi.wiley.com/10.1111/j.
1467-9760.2005.00232.x. Acesso em: 20 dez. 2019.
KITTAY, E. F. Love’s labor: essays on women, equality and dependency.
New York: Routledge, 1999.
KITTAY, E. F. The ethics of care, dependence, and disability. Ratio Juris, v. 24,
n. 1, p. 49-58, 2001. Disponível em: http://evafederkittay.com/wp-content/
uploads/2015/01/The-ethics-of-care.pdf. Acesso em: 20 dez. 2019.
LIMA, E. B.; FERREIRA, S. M.; LOPES, P. H. Influências da eugenia na legis-
lação educacional brasileira: as produções capacitistas na educação
especial. In: GESSER, M.; BÖCK, G. L. K.; LOPES, P. H. (orgs.). Estudos da
deficiência: anticapacitismo e emancipação social. Curitiba. Paraná: Edi-
tora CRV, 2020. Disponível em: https://editoracrv.com.br/produtos/deta-
lhes/35413-estudos-da-deficiencia-branticapacitismo-e-emancipacao-
-social. Acesso em: 1 jun. 2021.
LUIZ, K. G.; SILVEIRA, T. B. H. Pessoas com deficiência e (inter)dependência:
uma perspectiva da ética do cuidado para a promoção de justiça social. In:
GESSER, M.; BÖCK, G. L. K.; LOPES, P. H. (orgs.). Estudos da deficiência: anti-
capacitismo e emancipação social. Curitiba: Editora CRV, 2020. Disponível
em: https://editoracrv.com.br/produtos/detalhes/35413-estudos-da-defi-
ciencia-branticapacitismo-e-emancipacao-social. Acesso em: 1 jun. 2021.
MELLO, A. G. Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade: do capacitismo
ou a preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa
da UFSC. Ciênc. saúde coletiva [online], v. 21, n. 10, p. 3265-3276, 2016.
MELLO, A. G.; MOZZI, G. A favor da deficiência nos estudos interseccio-
nais de matriz feminista. In: ROSA, M. V. F. et al. (orgs.). Políticas públicas,
282
relações de gênero, diversidade sexual e raça na perspectiva intersec-
cional. 1. ed. Porto Alegre: Secco Editora, 2018. Disponível em: https://
www.academia.edu/37815133/A_favor_da_defici%C3%AAncia_nos_
estudos_interseccionais_de_matriz_feminista. Acesso em: 25 maio 2021.
MELLO, A. G.; NUERNBERG, A. H. Gênero e deficiência: interseções e perspec-
tivas. Revista Estudos Feministas, v. 20, n. 3, p. 635-655, 2012. DOI: https://
doi.org/10.1590/S0104-026X2012000300003. Acesso em: 16 maio 2021.
MENDES, E. G.; ZERBATO, A. P. Desenho universal para a aprendizagem
como estratégia de inclusão escolar. Educação Unisinos, v. 222, p. 147-
155, abr./jun. 2018. DOI: 10.4013/edu.2018.222.04. Disponível em: http://
revistas.unisinos.br/index.php/educacao/article/view/edu.2018.222.04.
Acesso em: 20 jul. 2020.
MINGUS, M. Access intimacy, interdependence, and disability jus-
tice. 2017. Disponível em: https://leavingevidence.wordpress.
com/2017/04/12/access-intimacy-interdependence-and-disability-jus-
tice/. Acesso em: 14 maio 2021.
TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pes-
quisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005.
ZERBATO, A. P. Desenho Universal para aprendizagem na perspectiva da
inclusão escolar: potencialidades e limites de uma formação colaborativa.
Tese (Doutorado em Educação especial) – Universidade Federal de São
Carlos/UFSCAR, São Carlos/SP, 2018. Disponível em: https://repositorio.
ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/9896/ZERBATO_Ana%20Paula_2018.
pdf?sequence=4&isAllowed=y. Acesso em: 15 abr. 2021.
283
CAPÍTULO 12
1. INTRODUÇÃO
2. METODOLOGIA
286
vistas a obter indicadores quantitativos ou qualitativos que
permitam a inferência de conhecimentos, podendo ser
aplicada em diferentes discursos (CÂMARA, 2013). Poste-
riormente foram criadas categorias, tendo os objetivos da
pesquisa como base. Na sequência, foi feita a análise dos
relatos, identificando falas em comum. Foram construídas
categorias que possibilitassem a sistematização do conjunto
de informações, com vistas a responder os questionamentos
presentes nesta pesquisa (MARCONI; LAKATOS, 2003).
Nesta pesquisa, pretende-se refletir sobre a acessibili-
dade e a interdependência de profissionais com deficiência
visual frente à organização do trabalho, a partir de relatos
de experiência. Foram utilizados nomes de pássaros, a fim
de preservar minimamente a identidade e a privacidade dos
participantes deste estudo, cujas identificações seguem:
288
precisamos uns dos outros, e que não é somente a
deficiência o fator que nos condiciona a necessitar de
auxílio (ARARA, 40 anos).
Nessa linha de pensamento, a filósofa Eva Kittay (1999)
trabalha com a ideia de continuidade, com base em Gilligan
(1982), ao afirmar que as relações entre pessoas consideradas
dependentes e independentes é algo contínuo e abrangente.
Para Kittay (1999), a interdependência é algo responsável por
unir as pessoas dependentes das independentes, uma vez
que os indivíduos nascem totalmente dependentes, ou seja,
a experiência da vida humana proporciona, ao nascer, uma
dependência extrema, abrangente, inerente, de longa dura-
ção e finaliza com a fragilidade presente em um quadro de
doença, vulnerável, que está próxima da morte. Assim, seria
algo cíclico, que inicia com a dependência extrema, pas-
sando para dependências parciais, chegando, até mesmo, a
ser independente e responsável por outros dependentes, ini-
ciando a descida da curva, tornando-se pouco dependente,
até chegar novamente à dependência extrema (ZIRBEL,
2016). Portanto, a independência seria uma ilusão/ficção,
haja vista que se vive em relações de dependência, como
bem coloca Diniz (2003, p. 5): “[...] são exatamente esses
vínculos de dependência em que se estruturam as relações
humanas, pois a dependência é algo inescapável da história
de vida de todas as pessoas”. Acerca disso, pode-se notar no
relato sobre as relações de trabalho citadas por Beija-flor:
Entendo que também essa ‘fluidez’ em desenvolver
esta atividade se dá por uma mudança minha de
percepção das relações de interdependência que é
comum a todos nós enquanto seres humanos. Antes
eu tinha certa resistência em solicitar auxílio dos cole-
gas de trabalho para realizar determinadas atividades
ou de outras pessoas, como os próprios alunos ou
outros servidores do espaço escolar. Mas, ao parti-
cipar do grupo de estudos do LEdI no ano passado,
289
compreendi que o cuidado, o auxílio é de âmbito
coletivo, comum a todos. Que tanto eu posso precisar
como também posso oferecer, tirando, assim, aquele
peso das minhas costas. Claro que ainda acontecem
alguns entraves de acesso a determinados sistemas
operacionais, por não serem muito acessíveis, mas a
relação de trabalho melhorou um pouco, no que se
refere ao reconhecimento do meu potencial enquanto
profissional (BEIJA-FLOR, 38 anos).
299
De acordo com Leite (2011 apud PAULINO; CARVALHO,
2019), a Constituição Federal (BRASIL, 1988) traz, em seu
artigo 227, normas para a construção dos logradouros e dos
edifícios de uso público, com vistas a garantir acesso ade-
quado às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida,
e o artigo 244 normatiza a aplicação em edifícios já cons-
truídos. Com o mesmo propósito, a Norma Técnica Brasileira
(NBR) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
9050/2015 estabelece padrões para a execução em novas
construções, bem como reformas para adequação em meio
urbano, com vistas a implantar a acessibilidade nesses espa-
ços. Nesse sentido, ao planejar a construção e/ou a reforma
de ambientes, deve-se assegurar o acesso livre a todos, pri-
mando pela segurança, pelo conforto e pelo bem-estar, o
que se caracteriza como inclusão arquitetônica.
Quando o planejamento e a execução dessas constru-
ções ou adaptações não ocorrem de maneira adequada,
além de pôr em risco as pessoas que transitam por esses
ambientes, geram nos sujeitos, a sensação de insegurança,
perceptível no trecho do relato de Beija-flor:
A questão da acessibilidade da estrutura do prédio
[...] era muito complicada. Estava acontecendo uma
reforma, então onde um dia estava de um jeito, no
outro dia já estava diferente, fora que havia uns cor-
redores que pareciam labirintos com armadilhas. De
vez em quando, batia a testa em um patamar de
escada [...] (BEIJA-FLOR, 38 anos).
303
[...] a central telefônica do Tribunal Regional Elei-
toral de Santa Catarina (TRE-SC) não era acessível,
suas informações eram extremamente visuais, e eu
tinha grande dificuldade em operar a mesa telefô-
nica. [...] Muitas vezes, por falta de acessibilidade no
equipamento, acabava cometendo equívocos ou
sobrecarregava minha companheira de trabalho.
Nesses momentos me sentia inútil e improdutiva
(CALOPSITA, 42 anos).
304
Quando a coordenação da referida escola desconsidera
a formação profissional e o conhecimento de Arara frente
ao trabalho que poderia executar, focando apenas na falta
da visão, ignora todo o trabalho que poderia ser construído
em equipe, levando em consideração sua singularidade e as
ações consolidadas, a partir de uma relação de interdepen-
dência e Ética do Cuidado.
Nessa perspectiva, Kittay (2011), também a partir dos
estudos de Gilligan (1982), defende que a dependência deve
ser vista em oposição ao isolamento, concluindo que não
depender de ninguém pressupõe isolamento, o que para os
seres humanos é inviável, já que as pessoas estão em uma
rede de relações e mesmo as consideradas “mais autôno-
mas”, em uma visão capitalista, centrada na independência,
precisam de diversas instituições ou outros indivíduos para
garantir sua independência. Logo, para Kittay (2011), a depen-
dência do outro salvaria o ser humano do isolamento.
Diante do exposto, perceber que a interdependência é
inerente a todo ser humano implica aceitar e conviver com
a diferença, sendo comum esse estranhamento inicial, na
medida em que impulsiona pela busca de perceber o outro,
com suas especificidades e potencialidades, dando espaço
ao diálogo que contemple a participação de todos os sujei-
tos, com suas vozes e histórias, em uma ação coletiva, para
uma inclusão de fato.
No relato de Águia, é evidenciado o quanto é impactante
o estranhamento perante o diferente e o despreparo profissio-
nal pela busca de alternativas e promoção da acessibilidade:
Um aspecto que gostaria de ressaltar, porque mar-
cou bastante minha trajetória profissional, seja
mesmo antes de ingressar na Udesc, seja depois, é
o despreparo presente nos diversos espaços profis-
sionais para lidar com as diferenças e nem digo com
as deficiências. Basta você ser diferente do padrão
que as pessoas não sabem o que fazer, sem falar nas
305
questões de acessibilidade, que são definitivamente
muito precárias (ÁGUIA, 38 anos).
Assim, uma vez que se entende que os seres humanos,
por viverem em sociedade, dependem uns dos outros para
realizar atividades e suprir necessidades, tem-se a compreen-
são do que configura o conceito de interdependência. Nesse
aspecto, Kittay (2011) traz a reflexão sobre a afirmação de que
a dignidade estaria presente quando se teria uma vida inde-
pendente, alterando essa visão e passando a considerar que
a dignidade está centrada em uma vida de cuidados mútuos,
recíprocos: “[...] estou investindo na ideia de que o cuidado é
um bem indispensável e até mesmo central – sem o qual uma
vida de dignidade é impossível e que é em si uma expressão
da dignidade de uma pessoa” (KITTAY, 2011, p. 52). Portanto,
isso se faz presente na vida de todos, como seres humanos,
independentemente de ser ou não pessoa com deficiência.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ABNT. NBR 9050: acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência às edifi-
cações, espaço mobiliário e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
ABREU, G. V. Conversas entre deficiência e educação: por uma política da inter-
dependência nos cotidianos escolares. 2019. Dissertação (Mestrado em Psicolo-
gia Institucional) – Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, Vitória, 2019.
ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaios sobre a afirmação e a
negação do trabalho. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2009.
ANTUNES, A. Sociedade da informação. Coimbra: Universidade de
Coimbra, 2008. Disponível em: http://www4.fe.uc.pt/fontes/traba-
lhos/2008007.pdf. Acesso em: 4 mar. 2021.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
BARNES, C. What a difference a decade makes: reflections on doing ‘emanci-
patory’ disability research. Disability & Society, Milton Park, v. 18, p. 3-17, 2003.
BÖCK, G. L. K.; GOMES, D. M.; BECHE, R. C. E. A experiência da deficiência
em tempos de pandemia: acessibilidade e ética do cuidado. Criar Educa-
ção, Criciúma, v. 9, n. 2, ed. esp., p. 122-142, 2020.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Brasília: Presidência da República, 2020. Disponível em: http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 30 ago. 2021.
BRASIL. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Conven-
ção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Proto-
colo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Brasília:
Presidência da República, 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm. Acesso em: 25 jan. 2021.
307
BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas
gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras pro-
vidências. Brasília: Presidência da República, 2000. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm. Acesso em: 21 fev. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclu-
são da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasí-
lia: Presidência da República, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 15 fev. 2021.
CÂMARA, R. H. Análise de conteúdo: da teoria à prática em pesquisas
sociais aplicadas às organizações. Gerais: Revista Interinstitucional de
Psicologia, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 179-191, jul./dez. 2013.
CHAVEIRO, E. F.; VASCONCELLOS, L. C. F. Ponte ao mundo: inserções espaciais da
pessoa com deficiência. Revista PEGADA, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 90-106, dez. 2016.
DEFENDI, E. L. Tecnologias assistivas e empregabilidade da pessoa com defici-
ência visual. Benjamin Constant, Rio de Janeiro, ano 22, ed. esp., p. 87-96, 2016.
DINIZ, D. Modelo social da deficiência: a crítica feminista. Série Anis, Bra-
sília, v. 28, p. 1-10, jul. 2003.
DINIZ, D. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense, 2007.
FRANÇA, T. H. Modelo social da deficiência: uma ferramenta sociológica para a
emancipação social. Lutas Sociais, São Paulo, v. 17, n. 31, p. 59-73, jul./dez. 2013.
GESSER, M.; BLOCK, P.; MELLO, A. G. Estudos da deficiência: intersecciona-
lidade, anticapacitismo e emancipação social. In: GESSER, M.; BOCK, G. L.
K.; LOPES, P. H. (orgs.). Estudos da deficiência: anticapacitismo e emanci-
pação social. Curitiba: CRV, 2020. p. 17-36.
GUEDES, L. C. Barreiras atitudinais nas instituições de ensino superior:
questão de educação e empregabilidade. 2007. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Recife, 2007.
KITTAY, E. Love’s labor: essays on women, equality, and dependency. New
York: Routledge, 1999.
KITTAY, E. The etics of care, dependence and disability. Ratio Juris, Boulder,
v. 24, n. 1, p. 49-58, mar. 2011.
LEITE, M. V. R. Um estudo sobre o conhecimento em acessibilidade digital
entre desenvolvedores de aplicações móveis no Brasil. 2020. Dissertação
(Mestrado em Ciências) – Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, 2020.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica.
5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
308
MARTINS, B. S. et al. Investigação emancipatória da deficiência em Portugal:
desafios e reflexões. In: MORAES, M. et al. (orgs.). Deficiência em questão:
para uma crise da normalidade. Rio de Janeiro: Nau, 2017. p. 51-76.
MELLO, A. G.; MOZZI, G. A favor da deficiência nos estudos interseccionais
de matriz feminista. In: ROSA, M. V. F. et al. (orgs.). Políticas públicas, rela-
ções de gênero, diversidade sexual e raça na perspectiva interseccional.
v. 1. Porto Alegre: Secco, 2018. p. 17-36.
MELO, A. M. Acessibilidade e inclusão digital. In: KRONBAUER, A.; NERIS,
V. P. A. (orgs.). Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas
Computacionais (IHC), Foz do Iguaçu. Anais [...]. Foz do Iguaçu: Livro dos
Tutoriais, 2014. p. 29-54. Parte C.
PAULINO, R. A.; CARVALHO, L. C. Acessibilidade aplicada em calçadas:
verificação para deslocamentos em Varginha-MG. Varginha, 29 nov. 2019.
Disponível em: http://repositorio.unis.edu.br/bitstream/prefix/1273/1/
Raphael%20Alves%20Paulino.pdf. Acesso em: 27 ago. 2021.
SANTA CATARINA. Lei nº 17.292, de 19 de outubro de 2017. Consolida
a legislação que dispõe sobre os direitos das pessoas com deficiência.
Florianópolis: Alesc, 2017. Disponível em: http://leis.alesc.sc.gov.br/
html/2017/17292_2017_lei.html. Acesso em: 30 abr. 2021.
SASSAKI, R. K. As sete dimensões da acessibilidade. Araraquara: Larvatus
Prodeo, 2019. (Coleção Singularidades).
SASSAKI, R. K. Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho e educação.
Revista Nacional de Reabilitação (Reação), São Paulo, ano XII, p. 10-16,
mar./abr. 2009.
SCHUINDT, C. C.; SILVEIRA, C. A educação inclusiva em espaços não for-
mais: uma análise dos museus de ciências brasileiros. Educação em
Revista, Belo Horizonte, v. 36, p. 1-22, 2020.
SQUINCA, F. O debate sobre a deficiência e cuidado como desafios para
as teorias de justiça. Revista de Estudos Universitários, Sorocaba, v. 34, n.
1, p. 57-69, jun. 2008.
VASCONCELOS, F. D. Muito além do concurso: cotas para pessoas com
deficiência no serviço público. Revista do Ministério Público do Trabalho,
Brasília, ano XXV, n. 49, p. 205-218, 2016.
ZIRBEL, I. Uma teoria político-feminista do cuidado. 2016. Tese (Douto-
rado em Filosofia) – UFSC, Florianópolis, 2016.
309
SOBRE AS(OS) AUTORAS(ES)
310
Ana Luiza Moura Mafra
ana.mafra@prof.pmf.sc.gov.br
311
Ana Paula Felipe
anapaula.felipe@sme.pmf.sc.gov.br
312
Anahí Guedes de Mello
anahigm75@gmail.com
314
Carla Ramos Gonçalves
carlaramos.advocacia@gmail.com
315
Cláudia Iara Vetter
claudia.iara.vetter@gmail.com
316
Cristiane Lazzarotto-Volcão
cristiane.volcao@gmail.com
317
Daiani Domingos
daiani.domingos@sme.pmf.sc.gov.br
318
Daniele Marla Soares Dias
danim4@gmail.com
319
Débora Marques Gomes
debora.gomes@udesc.br
321
Fabiane Araujo Chaves
fabichaves.psico@gmail.com
322
Geisa Letícia Kempfer Böck
geisa.bock@udesc.br
323
Gilmar Silva Amaral
gilmarsa@sed.sc.gov.br
324
Inês Berlanda Seidler
inesberlanda@gmail.com
326
Laureane Marília
de Lima Costa
laureanelimacosta@gmail.com
328
Lívia Laenny Vieira
Pereira de Medeiros
livialaenny@hotmail.com
329
Lucas Yuri Ferraz
lucasyferraz98@gmail.com
330
Marivete Gesser
marivete.gesser@ufsc.br
331
Mayanne Júlia
Tomaz Freitas
mayannetomaz51@gmail.com
332
Mayara Amanda Pereira
mayaramandap@gmail.com
333
Paula Helena Lopes
paulahelenalopes.phl@gmail.com
334
Rita Louzeiro
ritalouzeiro@yahoo.com.br
335
Rosangela Machado
rosangelamachado865@gmail.com
336
Rose Clér Estivalete Beche
rose.beche@udesc.br
337
Sabrina Mangrich
de Assunção
sabrina.m.a@hotmail.com
338
Simone De
Mamann Ferreira
simone.mamann@ufsc.br
339
Solange Cristina da Silva
solange.silva@udesc.br
340
Thais Becker
Henriques Silveira
thaisbeckersilveira@gmail.com
341
Valquiria Hillesheim Lamb
valquiriahillesheim@gmail.com
342
Vera Lucia Batista dos Santos
veralm3.vs@gmail.com
343
Viviane Oliveira
de Araújo da Silva
vivinhadasilvaa@gmail.com
344
CARACTERIZAÇÃO DO LABORATÓRIO
DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA (LEDI)
E A EXTENSÃO
346
❧