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textos para discussão

152 | Dezembro de 2021

O BNDES e a Covid-19:
uma atuação anticíclica,
temporária e focalizada

Ricardo Barboza
Antônio Ambrozio
Felipe Maciel
Sérgio Guimarães
textos para discussão
152 | Dezembro de 2021

O BNDES e a Covid-19:
uma atuação anticíclica,
temporária e focalizada

Ricardo Barboza
Antônio Ambrozio
Felipe Maciel
Sérgio Guimarães
O presente artigo é de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente,
a opinião do BNDES.
Resumo

Uma das principais atribuições de bancos de desenvolvimento é a correção de falhas de mercado.


Em situações de crise, o mercado não é capaz de resolver esses episódios por conta própria,
o que abre espaço para intervenções de política pública – potencialmente aumentadoras de
bem-estar social. Este trabalho discute a atuação anticíclica do BNDES na crise da Covid-19.
São apresentadas as principais características de cada ação emergencial, seus objetivos e uma
análise qualitativa (e preliminar) dos resultados alcançados. De forma geral, pode-se afirmar
que o BNDES atuou de maneira temporária, com todas as ações emergenciais tendo um prazo
predeterminado de encerramento, e focalizada, com as micro, pequenas e médias empresas
(MPME) e pessoas físicas representando 82% da atuação do Banco. No total, as ações emer-
genciais do BNDES contribuíram para injetar, de forma direta e indireta, R$ 154,8 bilhões na
economia brasileira – algo equivalente a 2,1% do PIB do país em 2020.
Palavras-chave: BNDES. Efetividade. Banco de desenvolvimento. Falhas de mercado. Covid.
Abstract

Development banks are considered an important tool to solve market failures. In crisis situ-
ations, the market is unable to solve such episodes on its own, thereby opening room for pu-
blic policy interventions that may generate welfare gains. This paper discusses the BNDES’s
counter-cyclical performance in the Covid-19 crisis. The characteristics of each measure, its
main objectives, and a qualitative analysis of the results achieved are presented. In general, it
can be stated that, during this period, the BNDES acted in a temporary and focused manner,
contributing to the diret and indirect injection of BRL 154.8 billion (2.1% of the GDP) into the
Brazilian economy.
Keywords: BNDES. Effectiveness. Development bank. Market failures. Covid.
Sumário
1. Introdução 09

2. As medidas anticíclicas do BNDES 12


2.1 BNDES Crédito Pequenas Empresas 16
2.1.1 Principais características e objetivos 16
2.1.2 Resultados e avaliação qualitativa 17
2.2 Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese) 19
2.2.1 Principais características e objetivos 19
2.2.2 Resultados e avaliação qualitativa 20
2.3 Programa Emergencial de Acesso a Crédito (FGI Peac) 22
2.3.1 Principais características e objetivos 22
2.3.2 Resultados e avaliação qualitativa 25
2.4 Programa Emergencial de Acesso a Crédito na modalidade de
garantia de recebíveis (Peac Maquininhas) 27
2.4.1 Principais características e objetivos 27
2.4.2 Resultados e avaliação qualitativa 28
2.5 Programa BNDES Crédito Cadeias Produtivas (CCP) 30
2.5.1 Principais características e objetivos 30
2.5.2 Resultados e avaliação qualitativa 30
2.6 Fundos de Crédito para a MPME (Fidc) 32
2.6.1 Principais características e objetivos 32
2.6.2 Resultados e avaliação qualitativa 33
2.7 Matchfunding Salvando Vidas 34
2.7.1 Principais características e objetivos 34
2.7.2 Resultados e avaliação qualitativa 36
2.8 Programa BNDES de Apoio Emergencial ao Combate
da Pandemia do Coronavírus 37
2.8.1 Principais características e objetivos 37
2.8.2 Resultados e avaliação qualitativa 39
2.9 Programa BNDES Crédito Direto Emergencial 39
2.9.1 Principais características e objetivos 39
2.9.2 Resultados e avaliação qualitativa 40
2.10 Inovação Saúde – Parceria Embrapii 40
2.10.1 Principais características e objetivos 40
2.10.2 Resultados e avaliação qualitativa 41
2.11 Conta-Covid – Energia 42
2.11.1 Principais características e objetivos 42
2.11.2 Resultados e avaliação qualitativa 43
2.12 BNDES Audiovisual – Apoio Emergencial 43
2.12.1 Principais características e objetivos 43
2.12.2 Resultados e avaliação qualitativa 45
2.13 Programa de Apoio ao Setor Sucroalcooleiro (BNDES Pass) 45
2.13.1 Principais características e objetivos 45
2.13.2 Resultados e avaliação qualitativa 46
2.14 Suspensão de pagamentos (standstill) 47
2.14.1 Principais características e objetivos 47
2.14.2 Resultados e avaliação qualitativa 49
2.15 Autorização de uso emergencial por
estados de recursos já aprovados 50
2.15.1 Principais características e objetivos 50
2.15.2 Resultados e avaliação qualitativa 51
2.16 Transferência PIS-Pasep para o FGTS 51
2.16.1 Principais características e objetivos 51
2.16.2 Resultados e avaliação qualitativa 52

3. Considerações finais 53
Referências 55
Ricardo Barboza é gerente do Departamento de Efetividade e Pesquisa Econômica
do BNDES. Antônio Ambrozio e Felipe Maciel são economistas do Departamento
de Efetividade e Pesquisa Econômica do BNDES. Sérgio Guimarães, economista
do BNDES, atualmente é diretor no Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social
(IMDS). Os autores agradecem os comentários, sugestões e o apoio de Sandro
Peixoto, Victor Pina Dias, Ricardo Barros, Fábio Roitman e Leonardo Santos, bem
como a ajuda de Sandro Ambrósio, Humberto Gabrielli, Bruno Plattek, Sandro
Lima, Fernando Mantese e Ciro Magalhães em uma versão anterior deste trabalho.
Em especial, agradecemos ao Márcio Firmo, pelas informações sobre os objetivos
dos programas e ao Luciano Machado pelo envio dos estudos sobre a efetividade
do FGI Peac e do Programa BNDES Crédito Cadeias Produtivas.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 9

1. Introdução

A crise da Covid-19 foi inédita em várias dimensões. Primeiro, porque


pressionou o sistema de saúde de todos os países de forma não vista desde
a década de 1940. Segundo, porque causou a maior contração anual do PIB
da história de diversas economias. Terceiro, porque implicou em reações de
política pública sem precedentes, com ações fiscais e creditícias de grande
magnitude por parte de quase todos os governos do mundo.
No início de 2020, um cenário de caos econômico e social parecia em forma-
ção. Nos Estados Unidos da América (EUA),os pedidos de seguro-desemprego
chegaram a 6,6 milhões em uma única semana de abril, número que tornou a
grande recessão iniciada em 2008 um mero solavanco na série histórica. No
Brasil, estimativas feitas em março de 2020 por especialistas em mercado de tra-
balho indicavam que a taxa de desemprego no país poderia alcançar 25% – o
dobro do máximo observado desde 1976. Em relação ao PIB doméstico, o
Fundo Monetário Internacional (FMI) chegou a prever uma contração de 9,1%
na atividade econômica, o que seria o pior resultado desde 1900.
Foi nesse contexto que as medidas anticíclicas do BNDES foram desenhadas
e implementadas. Toda política anticíclica, como o nome sugere, está relacionada
ao ciclo econômico, sendo este tipicamente medido pelo hiato do produto – isto é,
pela distância entre o PIB efetivo e o PIB potencial. O gráfico 1 mostra que o hiato
do produto brasileiro bateu seu recorde negativo no segundo trimestre de 2020,
com um PIB efetivo 12% abaixo do potencial,1 caracterizando aquele contexto
como o mais recessivo desde pelo menos o quarto trimestre de 1982, data da mais
antiga estimativa para essa variável na economia brasileira,2 e justificando sua
atuação anticíclica.
Bancos de desenvolvimento existem, entre outros motivos, para corri-
gir falhas de mercado, que é precisamente o que ocorre em situações de crise
(GUTIERREZ et al., 2011; STIGLITZ, 2000). Uma vez que a crise chega, é tarde
demais para os governos criarem capacidade institucional para fornecer suporte
de crédito. As instituições já devem existir, com um mandato claro, profissionais
experientes e capacidade para responder às necessidades financeiras e aumentar
suas operações quando o mercado privado falhar (CBOC, 2010, p. 1). No caso
brasileiro, esse papel cabe, ao menos em parte, ao BNDES.

1
Como o hiato do produto é uma variável não observável, com diversos métodos possíveis de
estimação, utilizamos aqui uma média de sete estimativas disponíveis à época.
2
Andrade, Considera e Trece (2020).
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
10 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

Gráfico 1. Estimativas de hiato do produto no Brasil

5%

0%

-5%

-10%

-12%

-15%
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Estimativas Média das estimativas

Fonte: Elaboração própria com base em dados de BCOB, Ipea, Ibre/FGV, IFI, LCA, MCM
Consultores e Santander.

Nas palavras do presidente do BNDES, Gustavo Montezano, em 29 de


março de 2020, “o BNDES está trabalhando em coordenação com todos os entes
do Governo Federal para entregar o máximo que a sociedade brasileira precisa.
Este é o papel do Banco, uma função anticíclica, de operar nestes momentos
difíceis”.3 É digno de nota que esse tipo de atuação estava em linha com o
observado em diversos países. Por exemplo, em março de 2020, o ministro
das Finanças da Alemanha apresentou o conjunto de linhas de financiamento do
banco de desenvolvimento alemão (KfW), que seriam ilimitadas para as empresas
atingidas pelos efeitos da pandemia, como “uma bazuca que será utilizada para
fazer tudo o que for preciso” (CHAZAN; FLEMING, 2020).
Foram muitas as medidas anticíclicas adotadas pelo BNDES em 2020. As cha-
madas “ações emergenciais” tiveram diversos objetivos, mas, de maneira geral,
buscou-se mitigar os impactos da pandemia sobre: (i) micro, pequenas e médias
empresas (MPME)4 – tipicamente com menos acesso ao mercado de capitais e mais
dependentes de recursos próprios e do mercado bancário; (ii) os setores de saúde,
cuja demanda, em razão da pandemia, ficou acima da capacidade regular de oferta;
(iii) empresas em segmentos específicos particularmente afetados pela recessão; e
(iv) entes subnacionais e firmas que, em face do choque recessivo profundo, pode-
riam ter dificuldades de honrar seus serviços de dívida previamente contratados.
A atuação do BNDES também seguiu diretrizes de organismos internacionais.
Por exemplo, a economista-chefe do FMI sugeriu, ainda em março, uma resposta
anticíclica forte e focalizada dos diversos países (GOPINATH, 2020). Como será
discutido neste texto, a resposta do BNDES na crise da Covid-19 pode ser consi-

3
A fala aconteceu em transmissão no canal do BNDES no YouTube. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=GHzGbrgnAYw. Acesso em: 29 mar. 2021..
4
As empresas são classificadas de acordo com sua receita operacional bruta (ROB), de forma que:
microempresas são aquelas com ROB menor ou igual a R$ 360 mil; pequenas empresas têm ROB
acima de R$ 360 mil e menor ou igual a R$ 4,8 milhões; e médias empresas têm ROB maior que
R$ 4,8 milhões e menor ou igual a R$ 300 milhões.
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anticíclica, temporária e focalizada   | 11

derada forte e focalizada, sobretudo para o público das MPMEs, que representou
quase 69% da ação anticíclica do banco.5
O foco primordial em MPMEs se justificou pela maior restrição de crédito des-
sas empresas6 e por sua maior sensibilidade a flutuações econômicas (GERTLER;
GILCHRIST, 1994). Além disso, as poucas pesquisas disponíveis no início da
crise da Covid-19 sobre a situação financeira dessas empresas apontavam, já em
abril de 2020, uma forte demanda não atendida por crédito. O Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por exemplo, entrevistou em
abril cerca de 6.100 micro e pequenos empresários, concluindo que: (i) 59% dos
negócios foram completamente interrompidos, e 30% foram parcialmente inter-
rompidos; (ii) em média, os empresários conseguiriam operar desta forma por mais
23 dias sem falir; (iii) 55% precisavam de empréstimos para evitar demissões; e
(iv) apenas 11% dos empresários que tentaram empréstimos haviam conseguido
o crédito pretendido (SEBRAE, 2020).
Considerando o impacto que o fechamento de MPMEs poderia ter no
mercado de trabalho e no processo de desenvolvimento do país, as ações do
BNDES tiveram a finalidade principal de evitar uma grande redução do em-
prego, decorrente do encerramento de firmas, situação que poderia, via histerese
econômica, comprometer o potencial de crescimento do país.7 Se pouco fosse feito,
um evento transitório de curto prazo poderia gerar danos permanentes (“efeito
cicatriz”). Essa possibilidade era um risco real no início da pandemia: segundo
a Covid-19 Small Business Survey para o Brasil, cerca de metade das MPMEs
entrevistadas em abril declararam que havia uma probabilidade igual ou maior a
50% de fechar as portas nos próximos seis meses.8
No total, a atuação do BNDES, em resposta aos efeitos econômicos da Covid-19,
contribuiu para injetar R$ 154,8 bilhões na economia brasileira, algo equivalente
a 2,1% do PIB de 2020. Além da grande magnitude, as iniciativas anticíclicas do
BNDES foram desenhadas para durar apenas durante o período mais crítico da
pandemia, com grande parte das ações emergenciais tendo datas de encerramento
distribuídas entre junho, setembro e dezembro de 2020, o que qualificaria essa
atuação como temporária. Além disso, observou-se a presença de crédito livre
em muitas das iniciativas, com possibilidade de financiamento de custeio e folha
salarial, entre outras atividades operacionais, bem como foco em impactos sociais

5
Contabilizando as ações para pessoas físicas (transferência para FGTS), o total entre MPMEs e
pessoas físicas representou cerca de 82% da ação emergencial total.
6
A restrição de crédito, por razões diversas, afeta principalmente as MPMEs. Primeiro, porque a
medição do risco dessas empresas é frágil, uma vez que a informação, quando disponível, tem
um grau de confiabilidade limitado. Segundo, porque o baixo valor das operações com essas
empresas torna economicamente inviável para o emprestador utilizar mecanismos sofisticados
para a análise de risco, dificultando a separação dos bons e dos maus pagadores e agravando
o problema de racionamento. Terceiro, porque a menor disponibilidade de ativos desse tipo de
empresa impede que a exigência de colateral seja um instrumento efetivo para filtrar projetos
ruins ou para induzir os empresários a fazer escolhas menos arriscadas.
7
Ver Cerra, Fatás e Saxena (2020) e Furlanetto e outros (2020).
8
Ver https://covid19sbs.org/survey-results-brazil. Acesso em: 22 mar. 2021.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
12 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

ou em indicadores de resultado (e.g. contratação de leitos de UTI, como no caso


de programas setoriais para saúde, ou manutenção de empregos, como no caso do
Progama Emergencial de Suporte a Empregos – Pese). É também válido citar que o
carro-chefe da atuação anticíclica do BNDES em 2020 foi o Programa Emergencial
de Acesso ao Crédito (FGI Peac), baseado em garantias, que viabilizou mais de
R$ 92 bilhões de empréstimos em poucos meses.9
Em suma, o objetivo deste artigo é documentar e discutir a ação do BNDES
durante a crise da Covid-19 em 2020, atendendo a três diferentes propósitos: (i)
servir de aprendizado para atuações anticíclicas futuras do BNDES; (ii) servir
como repositório de informações para o Banco e para a literatura sobre bancos de
desenvolvimento; e (iii) servir como instrumento de transparência da instituição
para a sociedade.
O artigo está dividido em três seções, incluindo esta introdução. A segunda
seção elenca as medidas anticíclicas, sendo cada subseção referente a uma ação
emergencial específica, em que são apresentadas: (i) suas principais características
e seus objetivos em termos de resultados esperados; e (ii) uma análise qualitativa
de seus resultados a partir dos dados disponíveis. A seção final faz algumas con-
siderações, à guisa de conclusão.

2. As medidas anticíclicas do BNDES

As medidas anticíclicas do BNDES podem ser classificadas em quatro grandes


grupos. O primeiro teve como público-alvo as MPMEs e reuniu as seguintes ações:

i. BNDES Crédito Pequenas Empresas;


ii. Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese);
iii. Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (FGI Peac);
iv. Peac Maquininhas;
v. Programa BNDES Crédito Cadeias Produtivas (CCP);
vi. Fundos de Crédito para MPMEs (Fidc).

O segundo grupo foi desenhado para dar suporte ao setor de saúde:

i. Matchfunding Salvando Vidas;


ii. Programa BNDES de Apoio Emergencial ao Combate da Pandemia do
Coronavírus;
iii. Programa BNDES Crédito Direto Emergencial – Saúde;
iv. Inovação Saúde – Parceria Embrapii.

9
Cabe mencionar que este artigo teve o ano de 2020 como data de corte para compilar as ações
emergenciais. Essa é uma informação importante pois a definição deste estudo foi anterior ao
surgimento da chamada “segunda onda” e do surgimento das novas variantes de vírus no país.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 13

O terceiro grupo diz respeito às medidas que buscavam aliviar as restrições


de liquidez causadas pela pandemia, seja em empresas, em entes subnacionais ou
em indivíduos:

i. Suspensão de pagamentos – Standstill (diretas, indiretas e setor público);


ii. Autorização de uso emergencial por estados de recursos já aprovados;
iii. Transferência PIS/Pasep para FGTS.

O quarto e último grupo foi composto por programas setoriais (exceto saúde)
motivados por problemas específicos identificados nesses segmentos ou por pos-
síveis consequências negativas sobre o bem-estar social decorrentes de problemas
nesses segmentos.

i. Conta-Covid – Energia;
ii. BNDES Audiovisual;
iii. Programa de Apoio ao Setor Sucroalcooleiro (Pass);
iv. Programa BNDES Crédito Direto Emergencial (CDE) (exceto saúde);
v. Standstill Fase 2 (diretas, indiretas não automáticas e mistas).

Como se nota, não foram poucas as ações anticíclicas,10 e não foram pequenos
os valores envolvidos: R$ 154,8 bilhões injetados na economia brasileira, direta
ou indiretamente (2,1% do PIB). Apenas o FGI Peac representou 59,4% da ação
do Banco, com R$ 92,1 bilhões de empréstimos viabilizados, razão pela qual ele
pode ser visto como o protagonista da atuação do BNDES nessa crise. Além disso,
é importante mencionar que grande parte das ações da tabela 1 foram encerradas
no fim de 2020, ainda que quatro delas tenham seguido ativas em 2021,11 de modo
que a ação anticíclica total será provavelmente maior que R$ 154,8 bilhões –
lembrando que este texto utiliza o ano de 2020 como corte. A tabela 1 sintetiza as
diversas ações anticíclicas e seus dados mais relevantes.
Uma desagregação dos recursos viabilizados pelas ações emergenciais pode
ser feita em relação ao perfil de cliente para cada linha. Na tabela 2, apresentamos
a quantidade de recursos (R$ milhões) que foi destinada, respectivamente, para
pessoas físicas, para MPMEs, para grandes empresas e para o setor público. Esta
desagregação é importante, pois algumas iniciativas têm sido associadas com de-
terminado perfil de cliente, sendo que, na verdade, elas contemplam mais de um
perfil (como o FGI Peac), de modo uma análise agregada se torna imprecisa para
identificar o total direcionado para cada grupo.

10
A rigor, foram mais de 18 iniciativas, como se vê na tabela 1, mas agrupamos aquelas que tinham
o mesmo mecanismo, como o standstill direto, o indireto e o para o setor público. Além disso, o
leitor perceberá que esta seção tem 16 subseções e não 18, o que ocorre pois apresentaremos o
CDE incluindo o setor de saúde e os diversos standstills (incluindo a fase 2) conjuntamente.
11
Fundos de Crédito para MPMEs, Matchfunding Salvando Vidas, Inovação Saúde – Emprapii e
Standstill Fase 2.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
14 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

Tabela 1. Ações anticíclicas do BNDES na crise de Covid-19

Estimativa de
número de
Aprovado
Ação Clientes empregados
(R$ milhões)
das empresas
apoiadas

BNDES Crédito Pequenas Empresas 9.109 27.534 679.418

Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese) 8.022 131.862 2.637.548

Programa Emergencial de Acesso a Crédito 92.093 114.517 6.111.800


(FGI Peac)

Peac Maquininhas 3.190 112.169 -

Programa BNDES Crédito Cadeias Produtivas (CCP) 117 3 -

Fundos de Crédito para MPME (Fidc) 93 - -

Matchfunding Salvando Vidas 77 - -

Programa BNDES de Apoio Emergencial ao Combate 307 12 -


da Pandemia do Coronavírus

Programa BNDES Crédito Direto 492 3 -


Emergencial – Saúde

Inovação Saúde – Parceria Embrapii 20 1 -

Standstill para operações indiretas 3.121 28.615 1.827.823


automáticas setor privado

Standstill para operações indiretas 1.257 61 68.781


não automáticas (Fase 1)

Standstill para operações diretas setor privado (Fase 1) 8.012 465 440.933

Standstill para operações indiretas 26 105 -


automáticas setor público

Standstill para operações diretas setor público 3.948 56 -

Uso emergencial por estados de recursos já aprovados 225 7 -

Transferência PIS-Pasep para FGTS 20.669 - -

Conta-Covid – Energia 2.654 1 -

BNDES Audiovisual 246 13 -

Programa de Apoio ao Setor Sucroalcooleiro (Pass) - - -

Programa BNDES Crédito Direto - - -


Emergencial (exceto saúde)

Standstill para operações indiretas 50 2 2.617


não automáticas (Fase 2)

Standstill para operações diretas setor privado (Fase 2) 1.110 72 29.042

Total 154.838 - -
Fonte: Elaboração própria.
Nota: O valor atribuído ao Pese é o contratado na ponta, incluindo o valor financiado pelo agente
financeiro. No caso do Matchfunding Salvando Vidas, trata-se do valor total arrecadado pela
campanha. A estimativa de número de empregados foi obtida com base no número médio de
empregados, de acordo com a Rais, para cada porte de empresa. Importante mencionar que a ausência
dessa estimativa para algumas ações emergenciais se deve (i) ao fato de que essa estimativa não fazia
sentido para ações que não tinham como objetivo afetar o emprego; e/ou (ii) não havia informações
disponíveis sobre o porte das empresas apoiadas no momento da elaboração desse estudo. Por fim,
cabe mencionar que como um mesmo cliente acessou mais de uma ação emergencial, não é correto
somar total de empregados e clientes apoiados, sob risco de dupla contagem.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 15

Tabela 2. Ações anticíclicas do BNDES por porte de empresa (R$ milhões)

Pessoas Setor
Ação MPME Grande Total
físicas público
BNDES Crédito Pequenas Empresas - 9.,109 - - 9.109
Programa Emergencial de Suporte - 8.022 - - 8.022
a Empregos (Pese)
Programa Emergencial de Acesso - 82.327 9.767 - 92.093
a Crédito (FGI Peac)
Peac Maquininhas - 3.190 - - 3.190
Programa BNDES Crédito Cadeias - - 117 - 117
Produtivas (CCP)
Fundos de Crédito para MPME (Fidc) - 93 - - 93
Matchfunding Salvando Vidas - 77 - - 77
Programa BNDES de Apoio Emergencial - 287 20 - 307
ao Combate da Pandemia do Coronavírus
Programa BNDES Crédito Direto - - 492 - 492
Emergencial – Saúde
Inovação Saúde – Parceria Embrapii - 20 - - 20
Standstill para operações indiretas - 2.423 697 26 3.147
automáticas setor privado
Standstill para operações indiretas - 22 1.236 - 1.257
não automáticas (Fase 1)
Standstill para operações diretas - 215 7.797 - 8.012
setor privado (Fase 1)
Standstill Setor Público – - - - 3.948 3.948
Diretas e Indiretas não automáticas
Uso emergencial por estados de - - - 225 225
recursos já aprovados
Transferência PIS/Pasep para FGTS 20.669 - - - 20.669
Conta-Covid – Energia - - 2.654 - 2.654
BNDES Audiovisual - 175 71 - 246
Programa de Apoio ao Setor - - - - -
Sucroalcooleiro (Pass)
Programa BNDES Crédito Direto - - - - -
Emergencial (exceto saúde)
Standstill para operações indiretas - - 50 - 50
não automáticas (Fase 2)
Standstill para operações diretas - 60 1.049 - 1.110
setor privado (Fase 2)
Total 20.669 106.021 23.950 4.199 154.838

Fonte: Elaboração própria.

A seguir, detalhamos cada ação emergencial do BNDES em uma subseção


diferente. O formato de cada subseção é o mesmo, de modo que cada uma pode
ser lida de forma independente. Em primeiro lugar, são apresentadas as principais
características e objetivos daquela intervenção. Em seguida, é feita uma avaliação
qualitativa da intervenção, com a apresentação de indicadores de eficácia, consi-
derando o conjunto de informações disponíveis até o momento.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
16 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

2.1 BNDES Crédito Pequenas Empresas

2.1.1 Principais características e objetivos


O BNDES Crédito Pequenas Empresas foi anunciado em março de 2020. Trata-se
de uma linha de crédito livre para micro, pequenas e médias empresas, grupo com-
posto por firmas com receita operacional bruta anual (ROB) até R$ 300 milhões.
O programa teria validade até 31 de dezembro do mesmo ano.
Antes da pandemia, essa linha de crédito era acessível apenas para firmas com
ROB anual inferior a R$ 90 milhões. Na prática, a alteração da linha BNDES Cré-
dito Pequenas Empresas durante a crise representou a incorporação de empresas
com ROB anual entre R$ 90 milhões e R$ 300 milhões (as denominadas “empresas
médias II”) em uma linha de crédito livre que já existia e que rodava no âmbito
do produto BNDES Automático. Além disso, houve mudanças nas condições de
crédito, que ficaram mais atrativas.
O limite de crédito foi estabelecido em até R$ 70 milhões por beneficiário, a
cada 12 meses (antes, o limite era de R$ 10 milhões). O prazo de financiamento
permaneceu até 60 meses, com até 24 meses de carência e com uma taxa de juros
composta por três partes: (i) custo financeiro – taxa fixa do BNDES (TFB), taxa
de longo prazo (TLP) ou taxa Selic; (ii) 1,25% a.a. de remuneração do BNDES; e
(iii) taxa do agente financeiro, negociada entre a instituição financeira e o cliente.
A negociação de cada operação foi feita pelo cliente com seu agente financeiro,
sendo em seguida enviada ao BNDES para aprovação. Por se tratar de crédito livre,
não havia exigência de projeto de investimento.12 Os clientes tomadores dessa
linha de crédito tinham a possibilidade de recorrer ao BNDES FGI para reduzir a
exigência de garantia pela instituição financeira de modo que essa linha de crédito
foi complementada por outra linha do BNDES, que será tratada adiante neste artigo.
Foram vários os objetivos do BNDES Crédito Pequenas Empresas. De forma
geral, pode-se dizer que, em um contexto de queda forte de receitas, a existência
de crédito livre é primordial para a sobrevivência de MPMEs e, consequente-
mente, para a manutenção de empregos nas firmas afetadas pela pandemia. Nesse
sentido, e de forma alinhada ao quadro de teoria da mudança (quadro 1) da linha
para micro e pequenas empresas do BNDES Automático (que, na pandemia, foi
temporariamente ampliada para médias empresas com ROB até R$ 300 milhões),
o objetivo geral dessa linha de crédito foi fazer MPMEs crescerem mais e terem
menores taxas de mortalidade. Esse objetivo geral se desmembra nos seguintes
objetivos específicos: (i) aumento de emprego; (ii) aumento de faturamento; (iii)
maior sobrevivência das empresas; e (iv) melhor saúde financeira dos beneficiários.

12
O regulamento do programa exigia apenas as certidões de FGTS, CND e Rais, porém, até 30 de
setembro de 2020, por força da MP 958/2020, ficou suspensa a exigibilidade das comprovações
de CNDs relativos aos Tributos Federais e à Dívida Ativa da União, Certificado de Regularidade
do FGTS (CRF) e Rais.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 17

Ainda que possa parecer estranho mencionar aumento de emprego e de fatu-


ramento de empresas em meio à pandemia, é bom lembrar que o objetivo de uma
intervenção de política pública é sempre pensado em relação ao contrafactual. Ou
seja, comparando o emprego, o faturamento, a sobrevivência e a saúde financeira
das firmas com o que teria ocorrido na ausência do apoio, espera-se um efeito
positivo (portanto, um aumento) da linha de crédito sobre aquelas variáveis.
Aos objetivos específicos dessa ação emergencial, associam-se indicadores de
efetividade, que serão calculados quando os dados necessários estiverem dispo-
níveis. É importante frisar que alguns dados utilizados para esses indicadores só
estarão disponíveis em um ou dois anos – razão pela qual não serão abordados
neste texto, cujo foco será em indicadores de eficácia.

Quadro 1. Quadro de Teoria da mudança da linha BNDES Crédito Pequenas


Empresas para micro e pequenas empresas

Público-alvo Objetivo geral


Micro (inclusive MEI), pequenas e médias empresas dos setores de indústria,
comércio e serviços e pessoas físicas.
Problema

Baixo crescimento e/ou alta mortalidade de empresas de menor porte.


MPMEs crescem
Causa mais e têm menores
taxas de mortalidade.
Restrição de acesso ao mercado de crédito, em especial por empresas de menor
porte que, por sua vez, não obtêm financiamento ou tomam recursos a custos ele-
vados, o que limita seu crescimento e/ou gera vulnerabilidade financeira.
Solução

Promover o acesso a crédito em condições adequadas para empresas de menor porte.

Insumos Atividades Produtos e serviços Objetivos específicos


• Incentivos • Manter plataformas • Operações de • Empresas geram
financeiros e operacionais financiamento/ mais empregos.
creditícios para disponíveis empréstimo realizadas.
a aquisição de e normativos • Empresas
investimentos fixos e atualizados. • Clientes apoiados. faturam mais.
capital de giro. • Novos clientes • Empresas
• Criticar e aprovar
• Agentes financeiros operações por meio apoiados. sobrevivem por
e outras instituições das plataformas. mais tempo.
• Valor financiado por
parceiras para grandes grupos de • Empresas
realizar operações • Autorizar produtos e
serviços. produtos e serviços. apresentam
com o público-alvo. melhor saúde
• Produtos e serviços • Acompanhar financeira.
autorizados. operações
financeiras.
• Plataformas
operacionais e • Gerir os recursos
normativos que financeiros do(s)
regulamentem instrumento(s).
e estabeleçam
condições a
serem aplicadas
pelos agentes e
instituições.
• Recursos financeiros
que compõem
o funding do(s)
instrumento(s)
financeiro(s).
Fonte: Elaboração própria.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
18 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

2.1.2 Resultados e avaliação qualitativa


Ao longo de 2020, foram aprovados no BNDES Crédito Pequenas Empresas
R$ 9,1 bilhões em 30.625 operações de 27.534 clientes com cerca de 680 mil em-
pregados. O tíquete médio foi de R$ 297 mil e, desse total, R$ 6,9 bilhões foram
desembolsados ainda em 2020.13
O gráfico 2 compara a distribuição de aprovações da linha com a mobilidade
em locais de trabalho14 ao longo de 2020. Essa comparação é importante já que a
pandemia gerou isolamento social, fazendo com que diversas empresas fossem
obrigadas a fechar temporariamente as portas. Com custos pré-determinados e
receitas interrompidas, as firmas aumentaram sua demanda por crédito para arcar
com suas obrigações. Esse movimento foi particularmente intenso no setor de
comércio e serviços – não à toa o setor mais demandante do BNDES Crédito
Pequenas Empresas com 79,8% do valor aprovado.

Gráfico 2. Evolução do BNDES Crédito Pequenas Empresas (2020)


2.000
1.800
-6%
1.600 -10%
1.400
1.200
1.000
800
600
400
200
-37%
0
mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Aprovação (R$ milhões) Mobilidade escritórios

Fonte: Elaboração própria com base em dados de BNDES e Google.

O gráfico 2 mostra que, em 2020, houve maior concentração de recursos apro-


vados entre os meses de abril e julho, justamente os de maior restrição às atividades
por causa da pandemia. O fato de o BNDES Crédito Pequenas Empresas consistir
em uma linha já existente, cujas condições foram apenas alteradas, foi funda-
mental para uma resposta quase imediata aos efeitos da pandemia. A redução das
aprovações a partir de julho pode ser creditada ao retorno gradual das atividades,
bem como à entrada em operação de outras ações emergenciais, que precisaram
de mais tempo para serem colocadas em prática.
Os gráficos 3 e 4 mostram a distribuição do BNDES Crédito Pequenas Empresas
relativamente ao porte dos clientes. Pelo gráfico 3, vemos que a maior parte dos

13
A dotação inicial da linha foi inicialmente definida em R$ 5 bilhões, patamar que foi alcançado
rapidamente e, posteriormente, ampliado para R$ 10 bilhões.
14
Os dados de mobilidade foram obtidos dos relatórios de mobilidade da comunidade disponibilizados
pelo Google. Eles mostram tendências de deslocamento ao longo do tempo por região e categoria
de local, com base na mediana do dia da semana correspondente, durante o período de cinco
semanas de 3 de janeiro a 6 de fevereiro de 2020.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 19

recursos aprovados no BNDES Crédito Pequenas Empresas se destinou a empre-


sas pequenas e da categoria média I. Entretanto, quando observamos o número
de empresas apoiadas (gráfico 4), a distribuição se move em direção aos menores
portes: 87% são de micro e pequenas empresas.

Gráfico 3. Valor aprovado pelo BNDES Crédito Pequenas Empresas por porte de
empresa em 2020 (R$ milhões)

Micro

Pequena

Média I

Média II

- 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000

Fonte: Elaboração própria.

Gráfico 4. Número de empreses apoiadas pelo BNDES Crédito Pequenas


Empresas por porte (2020)

Micro

Pequena

Média I

Média II

0 5.000 10.000 15.000

Fonte: Elaboração própria.

2.2 Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese)

2.2.1 Principais características e objetivos


O Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese) foi criado em abril de
2020 com o objetivo de financiar a folha de pagamento das empresas, garantindo
a sustentação do emprego, tendo em vista que a manutenção de empregos e salá-
rios era uma das grandes preocupações do debate econômico naquele contexto de
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
20 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

paralisação de atividades. Sua criação ocorreu por meio da Medida Provisória 944,
de 3.4.2020, com duração inicialmente prevista para ocorrer até 30 de junho.
Em um primeiro momento, o público-alvo do Pese foram as pequenas e
médias empresas até determinado porte, compreendendo firmas com receita
bruta anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões. O programa se destinava a empre-
sários, sociedades empresárias e sociedades cooperativas (exceto as sociedades de
crédito), limitando-se a financiar valor equivalente a até dois salários-mínimos
por empregado.
Uma de suas principais características era a condição imposta para acessar o
crédito: a empresa tomadora do empréstimo não poderia interromper, sem justa
causa, vínculos de emprego durante a vigência da operação ou até dois meses
após o recebimento da última parcela, na mesma proporção do total da folha
de pagamento que tiver sido paga com recursos do programa. Caso a condição
não fosse observada, o vencimento da dívida seria imediatamente antecipado.
Na estruturação do Pese, definiu-se que 85% dos recursos do programa deveriam
ser aportados pela União e 15% pelas instituições financeiras (IF) participantes.
Essa foi uma forma de dividir os riscos do programa com os bancos, evitando
problemas de risco moral. O custo da linha de crédito foi definido em 3,75%
a.a. (taxa Selic vigente na época da criação do programa), com prazo total de
36 meses para o pagamento e seis meses de carência (com juros capitalizados
durante esse período). O risco de inadimplemento das operações de crédito e as
eventuais perdas financeiras seriam assumidos pela União e pelas IFs na mesma
proporção de sua participação no programa.
Durante a operacionalização do Pese, foi identificada a necessidade de
promover alterações pontuais em seu desenho, com o objetivo de potenciali-
zar o alcance do programa. A segunda fase do Pese recebeu operações até 31 de
outubro e teve como principais mudanças: (i) o aumento do período de financia-
mento das folhas de pagamento de dois para quatro meses; (ii) a inclusão de
sociedades simples, organizações da sociedade civil e empregadores rurais, com
sede e administração no Brasil, além de empresários, sociedades empresárias e
cooperativas, no rol de beneficiários; (iii) a ampliação do acesso ao programa
para clientes com receita bruta anual superior a R$ 360 mil e igual ou inferior a
R$ 50 milhões; (iv) a possibilidade de que os recursos fossem também utilizados
para a quitação de verbas trabalhistas; e (v) a vedação de cobrança de tarifas de
serviço ou quaisquer outras espécies de contraprestações pecuniárias por parte das
IFs para a operacionalização do Pese.

2.2.2 Resultados e avaliação qualitativa


Ao longo de 2020, foram aprovados R$ 6,82 bilhões de recursos aportados pelo
Tesouro no BNDES, que, somados ao valor aportado pelas instituições finan-
ceiras, resultou em R$ 8,02 bilhões financiados pelo Pese. Esses recursos foram
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 21

distribuídos em 344.561 operações de 131.862 clientes, com um tíquete médio de


R$ 23 mil. O gráfico 5 mostra a distribuição dos financiamentos contratados por
meio do Pese ao longo do ano.

Gráfico 5. Evolução do financiamento contratado por meio do Pese (2020)

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0
abr mai jun jul ago set out nov

Fonte: Elaboração própria.

O gráfico 5 também permite visualizar as duas fases do Pese. A primeira,


cujo protocolo encerrou em 30 de junho de 2020, financiou R$ 4,6 bilhões em
222.325 operações de 114.013 clientes. A segunda fase, com protocolo até 31
de outubro, financiou R$ 3,4 bilhões em 122.236 operações de 66.349 clientes.
Por meio do Pese, foram financiadas folhas de pagamento contemplando
2.637.548 empregados. Como podemos constatar no gráfico 6, 94% das ope-
rações do Pese foram para empresas com menos de 59 empregados.

Gráfico 6. Empresas apoiadas pelo Pese por porte (2020)

0a9

10 a 29

30 a 59

60 a 99

> 100

0 20.000 40.000

Fonte: Elaboração própria.

Outra característica marcante do Pese é que o setor de serviços, altamente traba-


lho intensivo e um dos mais afetados pela conjuntura de restrições de mobilidade
e de isolamento social, teve a maior concentração de recursos emprestados pelo
programa emergencial. O gráfico 7 mostra a distribuição dos recursos emprestados
por setor de atividade, considerando os dez setores mais apoiados pelo programa.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
22 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

Também merece destaque a terceira colocação, ocupada pelo setor de saúde,


saneamento e educação.

Gráfico 7. Distribuição dos recursos do Pese por setor de atividade (R$ milhões)


Distribuição por Setor de A�vidade

Serviços

Construção, Madeira e Móveis

Saúde, Saneamento e Educação

Mídia e Lazer

Têxtil e Couros

Transportes

Alimentos

Varejo

Máquinas e Equipamentos

Químico, Farmacêutico e Higiene


0 500 1.000 1.500 2.000 2.500

Valor financiado (em milhões)

Fonte: BCB.

Além disso, cabe registrar que a maior parte dos empregos sustentados pelo
Pese (cerca de 80%) foi referente a ocupações cuja remuneração era inferior a dois
salários-mínimos (gráfico 8), ou seja, o programa parece ter sido capaz de ajudar
na manutenção das ocupações mais vulneráveis, de pessoas com menor renda.

Gráfico 8. Estratificação do Pese por salário-mínimo


1200

1000
Empregados (em milhares)

800

600

400

200

0
Até 1 SM De 1 a 1,5 SM De 1,5 a 2 SM De 2 a 5 SM Acima de 5 SM

Fonte: BCB.

Por fim, cabe um esclarecimento sobre o desempenho do Pese (de R$ 8 bi-


lhões) diante da previsão inicial de empréstimos de R$  40  bilhões. Essa dis-
crepância não deve ser encarada como sinal de fracasso do programa e pode
ser explicada por diversos fatores, desde a dificuldade em prever a demanda
de empréstimos para um programa inédito, em contexto igualmente inédito e
formulado em caráter de urgência, até o fato de que surgiram em paralelo outras
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 23

políticas públicas visando a manutenção de emprego, algumas até mais vantajo-


sas para o pequeno empresário do que o Pese.15 Nesse sentido, o maior destaque
foi o Programa Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm),
que possibilitou a suspensão do contrato de trabalho e a redução de jornada
com pagamento de uma complementação por parte do governo, que beneficiou
9,8  milhões de trabalhadores em 2020 (número quase quatro vezes superior
ao do Pese). O sucesso (ou fracasso) do Pese deveria ser medido por meio de
avaliação de impacto com análise contrafactual, considerando os objetivos do
programa (sustentação do emprego), e não com base em discrepâncias entre
valor realizado e inicialmente previsto.

2.3 Programa Emergencial de Acesso a Crédito (FGI Peac)

2.3.1 Principais características e objetivos


Criado por meio de uma parceria do BNDES com a Secretaria Especial de
Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec) do Ministério da Economia
e instituído pela MP 975/2020, esse programa representou a disponibilização
de garantias do Tesouro (por meio do Fundo Garantidor de Investimentos –
BNDES FGI, administrado pelo BNDES) para empréstimos a empresas de pequeno
e médio portes. Posteriormente, com a conversão da MP na Lei 14.042/2020,
foi permitida também a contratação de operações por grandes empresas, desde
que atuassem nos setores da economia mais impactados pela pandemia (listados
na Portaria 20.809/2020) e que assumissem o compromisso de manutenção de
empregos por dois meses a partir da data de contratação da operação, havendo
um limite de 10% do capital integralizado pela União para garantia de emprés-
timos de empresas desse porte.
Para dar suporte ao programa, o BNDES FGI teve suas normas de uso alteradas
e o Tesouro ficou autorizado a transferir R$ 20 bilhões para o referido fundo até
31 de dezembro (em tranches consecutivas de R$ 5 bilhões, aportadas à medida
que as tranches anteriores eram consumidas). Esses R$ 20 bilhões poderiam ser
utilizados pelo BNDES FGI para garantir empréstimos “na ponta” na proporção de
20% dos valores contratados com médias e grandes empresas e 30% dos valores
contratados com pequenas empresas, o que poderia gerar uma alavancagem de
quase cinco vezes o valor aportado pelo Tesouro, viabilizando quase R$ 100 bi-
lhões em empréstimos.
Os recursos destinados à cobertura das garantias do FGI Peac foram apartados
dos demais do fundo, com previsão de liquidação após 18 meses de encerramento
do programa. Dado o objetivo de garantir novas operações de crédito para combater

15
A prioridade da política pública no contexto mais grave da crise foi a preservação de empregos, o
que explica a necessidade de o governo utilizar diversos instrumentos para alcançar seu objetivo.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
24 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

os efeitos da pandemia, vedou-se à instituição financeira reter empréstimos do FGI


Peac para liquidação de dívida anterior do cliente.
As garantias concedidas pelo FGI no âmbito do Peac observaram as seguintes
condições, cumulativamente: (i) cobertura de 80% do valor do crédito por ope-
ração de crédito, considerando apenas o principal da dívida; (ii) limite máximo
de R$ 10 milhões para o somatório dos valores do crédito em operações objeto
de garantia do FGI Peac para cada tomador de crédito por agente financeiro; e
(iii) limite mínimo de R$ 5 mil para o valor do crédito em cada operação.
O prazo de carência das operações foi de no mínimo seis e no máximo 12
meses, e o prazo total para pagamento do empréstimo ficou estabelecido entre
12 e 60 meses. A taxa de juros para os empréstimos contratados com garantia do
programa foi negociada entre a empresa e o agente financeiro. No entanto, a taxa
média praticada, em sua carteira, por cada agente financeiro não poderia exceder
1,0% ao mês,16 sob pena de redução da cobertura do programa.
O FGI Peac ficou autorizado a outorgar garantia às operações cujo risco fosse
classificado pelo agente financeiro como nível “AA”, “A”, “B”, “C” ou “D”.
A recuperação do crédito lastreado pelo FGI Peac ficou sob responsabilidade
do agente financeiro, que deve incorrer em todos os esforços usuais para a recu-
peração do crédito. Inclusive, obriga-se a IF a vender os créditos inadimplidos
em leilão em prazo definido na medida provisória.
As IFs que operaram o programa ficaram dispensadas de exigir dos clientes
uma série de documentos, tais como certidões de quitação de dívidas trabalhis-
tas, de compromissos com a justiça eleitoral e de tributos federais; certificado de
regularidade do FGTS; certidão negativa de débito; entre outros.
O BNDES definiu um quadro de teoria da mudança (QTM) para o FGI Peac,
tal como apresentado a seguir (quadro 2). O objetivo geral do programa é o de
fazer pequenas e médias empresas acessarem crédito, com vistas a preservar
empregos e renda durante a crise sanitária e acelerar a posterior retomada do
crescimento econômico. Os objetivos específicos são a suavização dos efeitos
negativos sobre: (i) emprego e renda nas empresas apoiadas; e (ii) a taxa de
mortalidade das empresas apoiadas.17

16
No início do programa, este limite foi fixado em 1,2%, mas logo foi revisto para 1,0%.
17
A esses objetivos específicos, associam-se indicadores de efetividade, que serão calculados quando
os dados necessários estiverem disponíveis – estima-se que um ou dois anos após a realização da
operação.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 25

Quadro 2. Quadro de teoria da mudança do FGI Peac

Público-alvo Objetivo geral

Pequenas e médias empresas.

Problema

Retração da atividade econômica, aumento da mortalidade de PMEs e aumento


do desemprego. Pequenas e médias
empresas acessam
crédito, com vistas a
Causa preservar empregos e
renda durante a crise
Restrição de acesso ao mercado de crédito por empresas de menor porte, sanitária e acelerar a
decorrente do aumento da percepção de risco dos agentes financeiros com a posterior retomada do
pandemia de Covid-19. crescimento econômico.

Solução

Prover garantia em operações de crédito para empresas de menor porte,


mitigando o risco dos agentes financeiros e permitindo o acesso a recursos.

Insumos Atividades Produtos e serviços Objetivos específicos

• Agentes financeiros • Manter plataformas • Operações garantidas • Há suavização dos


e outras instituições operacionais pelo programa. efeitos negativos
parceiras para disponíveis sobre o emprego e
realizar operações e normativos • Clientes apoiados renda nas empresas
com o público-alvo. atualizados. na ponta. apoiadas.
• Produtos financeiros • Criticar e aprovar • Instituições • Há suavização dos
passíveis de garantia operações por meio financeiras que efeitos negativos
pelo programa. das plataformas. garantem créditos sobre a taxa de
com o programa. mortalidade das
• Plataformas • Autorizar produtos empresas apoiadas.
operacionais e financeiros a operar
normativos que com o programa.
regulamentem
e estabeleçam • Acompanhar
condições a serem operações
aplicadas pelos financeiras.
agentes • Gerir os recursos
e instituições. financeiros do
• Recursos financeiros programa.
que compõem o
programa.

Fonte: Elaboração Própria

2.3.2 Resultados e avaliação qualitativa


O FGI Peac apoiou 135.650 operações de crédito de 114.517 clientes, que tota-
lizaram cerca de R$ 92 bilhões concedidos por quarenta agentes financeiros.
Estima-se que as empresas apoiadas pelo programa tenham aproximadamente
6,1 milhões de empregados. O gráfico 9 apresenta a evolução do crédito con-
cedido utilizando garantias do FGI Peac ao longo de 2020.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
26 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

Gráfico 9. Evolução FGI Peac (2020)


30.000

Milhões 20.000

10.000

0
jul ago set out nov dez

Fonte: Elaboração própria.

Como se vê, houve rápido crescimento dos empréstimos com garantia do pro-
grama entre julho e agosto, totalizando um pouco mais de R$ 30 bilhões de crédito
concedido em menos de dois meses. Nos meses seguintes, houve um decrescimento
monotônico dos empréstimos, até seu encerramento em dezembro.
Para se visualizar a importância do FGI Peac no mercado de crédito brasileiro,
é interessante comparar a evolução do saldo de crédito para MPMEs (grupo que
inclui o maior público-alvo do programa) com o saldo para grandes empresas
ao longo de 2020, especialmente após o mês de julho, quando o programa foi
implantado. Esse exercício é feito no gráfico 10. De fato, os dados do Banco
Central sugerem uma mudança de tendência no saldo de crédito para MPMEs
no mês de introdução do FGI Peac, ainda que seja importante mencionar que
o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno
Porte (Pronampe), lançado em maio de 2020, e com público-alvo de micro e
pequenas empresas, também afetou positivamente o aumento do crédito para
MPMEs no país.

Gráfico 10. Saldo de crédito para MPMEs versus grandes empresas

140
Início PEAC
135 133,3
130,1
130
125,2 125,4
125
118,4
120
115 111,9 117,2
115,0 115,8
112,3 113,4 112,9
110 111,2 111,8
111,4
109,1 103,5
105 101,8 102,1 102,8
100,0
100
100,0
95
90
fev/20 mar/20 abr/20 mai/20 jun/20 jul/20 ago/20 set/20 out/20 nov/20 dez/20

MPME Grande

Fonte: BCB
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 27

Outro ponto de destaque no FGI Peac é a análise de custo-efetividade


ex-ante realizada pelo BNDES sobre o programa. A relação custo-efetivi-
dade esperada foi medida como a relação entre a massa salarial adicional
total gerada diretamente pelo programa e seu custo fiscal total. A análise foi
feita antes do início do programa e atualizada após seu encerramento, com
dados efetivos sobre o número e o perfil das empresas apoiadas. As principais
conclusões estão na tabela 3.18

Tabela 3. Estimativa de custo-efetividade do FGI Peac

Porte Massa salarial Custo fiscal Custo


(Número de adicional total (R$ MM) efetividade
empregados) (R$ MM)
0-9 481 4.565 0,11
10-49 1.783 4.594 0,39
50-249 4.439 5.657 0,78
250 ou mais 13.918 4.843 2,87
Total 20.621 19.658 1,05
Fonte: Elaboração própria com base em documento interno – Nota Técnica AP/DEPEC nº 02/2021.

O total de massa salarial adicional estimada para as operações do programa


é de aproximadamente R$ 20,6 bilhões, considerando as empresas apoiadas
encontradas na Rais (cerca de 110 mil empresas) e as estimativas de BNDES
(2019) sobre a efetividade dos empréstimos do Banco com recursos do Fundo
de Amparo ao Trabalhador (FAT) sobre o emprego para aproximar o impacto
esperado do FGI Peac. Esse valor supera o custo fiscal máximo do programa
para o volume de crédito considerado (R$ 19,7 bilhões). Como resultado, a
estimativa de custo-efetividade é de 1,05, ou seja, a massa salarial adicional
supera em aproximadamente 5% o custo fiscal máximo do programa. Dessa
forma, os resultados ex-ante indicam que o programa pode vir a compensar
seus custos fiscais com a geração de massa salarial adicional, sendo, portanto,
potencialmente custo-efetivo.
Importante mencionar que, além dos efeitos diretos sobre emprego (logo,
sobre massa salarial) calculados, deve haver geração de empregos indiretos,
associados aos fornecedores das firmas apoiadas, e de efeito-renda, associado
ao consumo decorrente dos empregos diretos e indiretos gerados. Além disso,
o programa deve atuar na sobrevivência das empresas e, portanto, tende a ter
impacto médio sobre emprego maior do que o estimado. Nesse sentido, pode-
-se afirmar que a análise apresentada é conservadora, sendo o custo-efetividade
do FGI Peac potencialmente mais favorável.

18
No exercício, foram utilizados dados da Rais. É importante mencionar que algumas empresas
apoiadas não foram encontradas na base da Rais, o que gerou um número de empresas na análise
diferente do total de empresas apoiadas pelo programa. Isso posto e utilizando dados de firma
média apoiada para as faixas de emprego apresentadas, foi possível projetar o impacto do programa
sobre emprego médio e massa salarial média com base em BNDES (2019). De posse disso, os
resultados foram extrapolados para o total de empresas apoiadas em cada faixa. A adição de massa
salarial total do programa e seu custo fiscal total é obtida pela soma das variáveis nas faixas.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
28 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

2.4 Programa Emergencial de Acesso a Crédito na modalidade


de garantia de recebíveis (Peac Maquininhas)

2.4.1 Principais características e objetivos


O Peac Maquininhas é um programa com financiamento do Governo Federal, em
que o BNDES atua como intermediário e o Tesouro Nacional garante as operações
no modelo “crédito fumaça”. Esse modelo consiste em uma operação entre ban-
cos e lojistas, na qual cada lojista tem um limite de crédito múltiplo de sua média
mensal histórica de faturamento com máquinas de pagamento digital.
Diferentemente de uma operação de crédito lastreada por recebíveis (que
consiste em mera antecipação de fluxos que decorrem de vendas já ocorridas),
nesse modelo de financiamento não existe nenhuma garantia de que o fluxo
ocorrerá. Essa operação de crédito fumaça, em termos normais, tem uma taxa
de juros baixa, já que o histórico recente é um bom preditor do fluxo futuro
de recebíveis. Assim, as amortizações e serviços são cobrados como desconto
sobre o fluxo de caixa, quando as vendas futuras gerarem os recebíveis. Ocorre
que, com a pandemia, a linha de crédito fumaça encurtou (ou seja, o “múltiplo
da média histórica” diminuiu). Nesse contexto, de modo a ampliar a seguran-
ça da instituição financeira ao realizar a operação (ou seja, fazer o múltiplo
subir e a taxa de juros cair), o governo ofereceu, nos moldes do Pese, liquidez
(intermediada pelo BNDES) e garantias do Tesouro associadas à operação.
O retorno do empréstimo ocorre na forma de desconto sobre o fluxo de caixa
e, para evitar fraudes (o mesmo crédito ser comprometido como lastro para diver-
sos créditos), as empresas credenciadoras (donas das maquininhas) têm papel de
certificação do fluxo de recebíveis alocado em cada operação de financiamento.
O Peac Maquininhas foi destinado a microempreendedores individuais, micro-
empresas e empresas de pequeno porte com volume faturado com liquidação em
sistemas de compensação autorizados pelo Banco Central e sem outras operações
de crédito ativas garantidas por recebíveis a se constituir. Definiu-se prazo de 36
meses, com seis meses de carência e taxa de juros de até 6% ao ano. O valor do
crédito por mutuário ficou limitado ao dobro da média mensal das vendas liquida-
dos por meio de arranjos de pagamento19, até a quantia máxima de R$ 50 mil. Para
garantia da operação de crédito, os mutuários deveriam ceder fiduciariamente às
instituições financeiras 8% de seus direitos creditórios a constituir de transações
futuras de arranjos de pagamentos.
As operações de crédito foram integralmente realizadas com os recursos alo-
cados pela União (potencialmente até R$ 10 bilhões, em duas tranches de igual
valor), sendo os riscos de inadimplência e eventuais perdas financeiras também
suportados pela União. O repasse dos recursos às instituições financeiras ocorreu
19
Média apurada entre 1º de março de 2019 e 29 de fevereiro de 2020, excluídos os meses em que
o valor foi igual a zero.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 29

à taxa fixa de 3,75% ao ano, sendo a União remunerada em 3,25%. A remunera-


ção das instituições financeiras era composta pela diferença entre a taxa de juros
cobrada do mutuário final, de até 6,00% a.a., e a taxa de juros captada com o
BNDES, de 3,75% a.a.
O Peac Maquininhas utilizou o mesmo quadro de teoria da mudança que o
FGI Peac (quadro 2), já que seu objetivo também foi o de promover o acesso ao
crédito, preservando empregos e renda durante a crise, e acelerando a posterior
retomada do crescimento econômico. Os objetivos específicos do programa
foram a suavização dos efeitos negativos: (i) sobre o emprego e renda nas
empresas apoiadas; e (ii) sobre a taxa de mortalidade das empresas apoiadas. A
esses objetivos específicos, associam-se indicadores de efetividade, que serão
calculados quando os dados necessários estiverem disponíveis – possivelmente
um ou dois anos após a contratação.

2.4.2 Resultados e avaliação qualitativa


As operações do Peac Maquininhas se concentraram em novembro e dezembro de
2020, ou seja, foi um programa de curta duração. Foram contratados R$ 3,19 bi-
lhões em 112.179 operações de 112.169 clientes, o que resulta em um tíquete médio
de R$ 28,4 mil. Esse tíquete médio é compatível com o perfil dos clientes finais,
composto por microempreendedores individuais, microempresas e empresas de
pequeno porte.
No gráfico 11, apresentamos a distribuição dos valores emprestados pelo
Peac Maquininhas de acordo com a participação dos agentes financeiros ha-
bilitados a operá-lo.

Gráfico 11. Participação dos agentes financeiros no Peac Maquininhas (2020)


80%

70%
70%

60%

50%

40%

30%

20% 17%

10% 9%
4%
0% 0%
0%
Banco do Brasil Money Plus Banco Safra Caixa Econômica Banco Inter Banco BMG

Fonte: Elaboração própria

Como se vê, houve uma alta participação dos bancos públicos no Peac Ma-
quininhas, com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica responsáveis por 73,5%
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
30 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

dos valores emprestados. Essa alta de participação de bancos públicos reflete, em


parte, o alinhamento de política pública existente entre essas instituições.
O Peac Maquininhas representou a única opção de crédito para 18% dos mi-
croempreendedores individuais (MEI), 4% das microempresas e 2% das empresas
de pequeno porte durante o último trimestre de 2020. Além disso, de acordo com
nota da Secretaria de Política Econômica (2021), o programa auxiliou na manu-
tenção de negócios em setores atingidos diretamente pelas medidas de restrição
necessárias para combater a pandemia, como empresas do setor hoteleiro, bares
e restaurantes (SPE, 2021).
Segundo estudo do Ministério da Economia, ao se comparar o Peac Ma-
quininhas com o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de
Pequeno Porte (Pronampe), constatou-se que ambos tinham público-alvo seme-
lhante e que, apesar do menor desembolso total do primeiro, ambos os programas
obtiveram êxito em seus objetivos de sustentar o fluxo de crédito durante o ano
de 2020. Por outro lado, as contratações no âmbito do Peac Maquininhas apre-
sentam distribuição geográfica mais equilibrada, com 58% das operações totais
e 59% dos valores totais concentrados nas regiões Sul e Sudeste do país. O
Pronampe, por sua vez, teve 73% das operações totais e 74% dos valores totais
concentrados nessas regiões. Do ponto de vista da focalização dos programas,
sublinha-se que o Peac Maquininhas logrou concentrar recursos nos MEI e
nas microempresas, justamente as categorias que mais apontaram problemas de
obtenção de crédito ao longo de 2020. Por meio do Peac Maquininhas, o Governo
Federal conseguiu ampliar o crédito para os dois segmentos, que ficaram com
86% das operações totais e 80% dos desembolsos totais, no valor médio de
R$ 28 mil. O Pronampe, por sua vez, teve 45% das operações totais e 23% dos
desembolsos direcionados a microempresas, com valor médio de R$ 80 mil.

2.5 Programa BNDES Crédito Cadeias Produtivas (CCP)

2.5.1 Principais características e objetivos


O programa BNDES Crédito Cadeias Produtivas forneceu capital de giro para
cadeias produtivas, tendo como alvo as empresas de menor porte (MPME). Nesse
programa, em vez de utilizar instituições financeiras, a intermediação financeira foi
feita por meio de empresas-âncora. Essa foi uma maneira de resolver o problema de
assimetria informacional que enferruja os canais de crédito: fornecer liquidez para
empresas-âncora dotadas de boa situação econômico-financeira (suficientemente
grandes e, portanto, capazes de realizar operações de maior tíquete diretamente
com o BNDES) para que essas, por sua vez, fornecessem crédito para firmas me-
nores (potencialmente de maior risco para o BNDES, mas de baixo risco para as
empresas-âncora, por conta de seu relacionamento existente).
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 31

Com uma dotação de R$ 2 bilhões, definiu-se o limite máximo de financiamento


em R$ 200 milhões por grupo econômico e o valor mínimo de R$ 10 milhões por
operação. A ideia era que a empresa-âncora, de grande porte, (com ROB anual
maior ou igual a R$ 300 milhões) financiasse o capital de giro de empresas em
sua cadeia de produção (fornecedores, distribuidores e franqueados). A empre-
sa ancorada financiada não poderia fazer parte do mesmo grupo econômico da
empresa-âncora. Não havia restrição de setor nem para a empresa-âncora nem
para as empresas apoiadas na ponta.
O custo financeiro do programa foi dado pela taxa Selic, a remuneração básica
do BNDES foi estipulada em 1,1% e o spread de risco variou de acordo com a
classificação de risco da empresa-âncora. O prazo de financiamento foi de até 60
meses, com até 24 meses de carência.
A empresa-âncora poderia incluir em seu pleito até 5% do valor total a ser
repassado para as empresas ancoradas, a título de capital de giro isolado
para seu próprio uso. Além disso, a âncora poderia repassar às ancoradas
alguns custos incorridos para concessão do crédito pelo BNDES: despesas
com eventual fiança bancária, a Comissão por Colaboração Financeira e
o IOF-Crédito.
O objetivo geral do programa foi a manutenção do tecido produtivo brasi-
leiro, evitando-se perdas importantes de elos em cadeias produtivas, de modo
a ajudar na retomada do crescimento após a pandemia. Os objetivos específi-
cos esperados eram que as empresas mantivessem, na medida do possível, o
funcionamento, a produção, a prestação de serviços e os empregos.

2.5.2 Resultados e avaliação qualitativa


Foram apresentados 16 projetos de empresas-âncora, totalizando R$ 1,37 bilhões.
Ao fim de 2020, 13 operações continuavam ativas (R$ 1,02 bilhões), das quais três
aprovadas (R$ 117 milhões). Assim sendo, ainda é preciso aguardar para verificar
a evolução dessas operações e seus resultados efetivos.
Nesse ínterim, o BNDES fez uma análise de efetividade ex-ante dessa
ação emergencial, de modo a mapear seu potencial impacto. Os resultados
esperados foram estimados em termos do impacto esperado no emprego e na
massa salarial adicional das firmas beneficiárias. O cálculo da efetividade utilizou
as seguintes premissas: (i) as estimativas de impacto médio sobre emprego
formal são similares às obtidas em BNDES (2019) para as políticas de crédi-
to do Banco com recursos do FAT, com efeito marginal sobre o emprego de
10%; (ii) as estimativas de impacto obtidas no referido estudo para o ano de 2016
servem como referência para o ano de 2020, uma vez que em 2016 também foi
observada queda no nível de atividade e de emprego; (iii) o volume de emprego
formal adicional esperado dos programas será mantido (e remunerado) por todo
ano nas empresas a serem apoiadas; (iv) o número de empresas a serem apoiadas
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
32 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

foi estimado em dez âncoras, com dez ancoradas para cada âncora, totalizando
cem empresas ancoradas; (v) a efetividade esperada foi calculada apenas para as
empresas ancoradas a serem apoiadas, desconsiderando um potencial efeito sobre
as empresas-âncora, seja decorrente da possibilidade de apoio direto no âmbito
do programa, seja pelo efeito indireto sobre as ancoradas; (vi) o efeito médio es-
perado do apoio é homogêneo e será calculado com base na expectativa sobre as
características da firma representativa, dada pela firma mediana em termos do
emprego e da remuneração na amostra de empresas usadas em BNDES (2019).
A tabela 4 resume os efeitos esperados.

Tabela 4. Estimativa de efetividade do Programa BNDES Crédito


Cadeias Produtivas

Firma representativa Premissas Efeito anual total

Pessoal ocupado Remuneração Efeito Nº empresas Emprego Massa


(unidades) anual (R$) marginal apoiadas (unidades) salarial
(R$ milhões)

7 19.623 10% 100 70 1,4

Fonte: Elaboração própria com base em documento interno – Nota Técnica AP/DEPEC 04/2020.

As estimativas apresentadas na tabela 4 mostram que se espera que o Programa


BNDES Crédito Cadeias Produtivas adicione aproximadamente setenta postos de
trabalho formais (resultado de 7*100*10%), o que representaria cerca de R$ 1,4 mi-
lhão (isto é, 70*19.623) em salários ao longo de um ano.
As estimativas apresentadas são conservadoras, uma vez que desconsideram
efeitos sobre a sobrevivência das empresas apoiadas e efeitos indiretos sobre em-
prego e renda. Efeitos da crise que desestabilizem as cadeias produtivas podem,
por exemplo, implicar em volatilidade adicional relevante no nível de emprego de
âncoras e ancoradas. Dessa forma, é possível que o efeito desse programa sobre
emprego e renda seja bem maior, pois: (i) um aumento esperado na sobrevivência
das empresas resultaria em um maior efeito sobre as ancoradas, e a dimensão
desse efeito será proporcional à dependência da ancorada em relação à âncora
e à capacidade do programa em prover liquidez para as ancoradas em melhores
condições que o mercado; e ii) as empresas âncoras elegíveis ao programa são
grandes empresas, de modo que, ao evitar disrupções no fornecimento de insumos
e, consequentemente, oscilações no próprio nível de emprego das âncoras, o pro-
grama pode gerar efeitos sobre massa salarial em volume ainda mais significativo.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 33

2.6 Fundos de Crédito para a MPME (Fidc)

2.6.1 Principais características e objetivos


Em maio de 2020, o BNDES, por meio de sua subsidiária BNDESPAR, lançou
chamada pública para seleção de até dez fundos de crédito para MPMEs, estru-
turados como fundos de investimento em direito creditório (Fidc). A ação busca
facilitar o acesso a crédito, reforçando canais de distribuição não bancários, em
um momento de grandes incertezas no mercado.
A BNDESPAR aportará até R$ 4 bilhões, com limite máximo de R$ 500 mi-
lhões por fundo, com objetivo de apoiar na ponta MPMEs ou pessoas físicas que
exerçam atividade econômica. A participação máxima da BNDESPAR no capital
comprometido de cada fundo selecionado não poderá ultrapassar o limite máximo
de 80% em fundos com classe de cota única e de 90% em fundos com classe de
cota sênior. A chamada foi dividida em duas modalidades:

• Fundo originador: aqueles que investem, obrigatoriamente, em direitos


creditórios originados a partir da base de clientes de grande empresa (ori-
ginadora), a partir de plataforma eletrônica.
• Fundo PME: estruturados por gestora registrada na CVM e que realiza
operações de crédito por meio de plataforma eletrônica própria ou de em-
presas parceiras.

Os fundos devem investir em: (i) direitos creditórios; (ii) títulos representativos
de novas operações de crédito corporativo, incluindo debêntures; ou (iii) subscri-
ção de novas cotas de fundos de investimentos em direitos creditórios. A política
de investimento deverá prever uma exposição máxima do fundo por operação, de
modo que haja diversificação do risco de crédito.
O BNDES definiu um quadro de teoria da mudança (QTM) para os fundos
de crédito para MPME (quadro 3). O objetivo geral é possibilitar que MPMEs
acessem crédito, sobrevivam e se recuperem dos efeitos da crise. Os objetivos
específicos são a suavização dos efeitos negativos sobre: (i) o emprego nas
empresas apoiadas; (ii) a taxa de mortalidade das empresas apoiadas; (iii) o
faturamento das empresas apoiadas. A esses objetivos específicos, associam-se
indicadores de efetividade que serão calculados quando os dados necessários
estiverem disponíveis (provavelmente após um ou dois anos do início da
operação do fundo).
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
34 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

Quadro 3. Quadro de teoria da mudança dos fundos de crédito para MPMEs

Público-alvo Objetivo geral

Micro (inclusive MEI), pequenas e médias empresas dos setores de indústria,


comércio e serviços e pessoas físicas que exercem atividade econômica.

Problema

Retração da atividade econômica, com aumento da mortalidade de MPMEs, que


têm pouco acesso a crédito, e aumento do desemprego.

Causa MPMEs acessam


crédito, sobrevivem e se
Restrição de liquidez no mercado de crédito decorrente do aumento da recuperam da crise.
percepção de risco com a pandemia de Covid-19 e alta concentração do
crédito em canais bancários, levando à dificuldade de acesso pelos clientes não
bancarizados ou precariamente bancarizados.

Solução

Promover o acesso a crédito por canais não bancários em condições adequadas


para empresas de menor porte e pessoas físicas que exercem atividade econômica.

Insumos Atividades Produtos e serviços Objetivos específicos

• Fundos de • Subscrever cotas • Operações de • Há suavização dos


Investimento em de fundos de financiamento efeitos negativos
Direitos Creditórios investimento. ou empréstimo sobre o emprego nas
– Fidc. realizadas por meio empresas apoiadas.
• Efetivar as dos fundos.
• Fundos de chamadas de capital • Há suavização dos
Investimento em (integralização de • Operações efeitos negativos
Cotas de Fidc – cotas) dos fundos de caracterizáveis sobre a taxa de
FIC Fidc. investimento. como microcrédito. mortalidade das
empresas apoiadas.
• Originadores • Acompanhar o • Clientes finais
parceiros. desempenho dos apoiados. • Há suavização dos
fundos. efeitos negativos
• Outros investidores. • Novos clientes sobre o faturamento
• Acompanhar e apoiados. das empresas
• Recursos financeiros exercer os direitos e
da BNDESPAR. • Valor do crédito. apoiadas.
deveres como cotista
dos fundos. • Originadores e
canais operadores.

Fonte: Elaboração própria.

2.6.2 Resultados e avaliação qualitativa


Foram recebidas 73 propostas para a ação, sendo trinta para a modalidade Fundo
Originador e 43 para a modalidade Fundo PME.20 As seis melhores classificadas
de cada modalidade foram submetidas a análises gerenciais e jurídicas, poden-
do ser posteriormente submetidas à fase de diligência (ver quadro 4) das quais
a BNDESPAR escolherá dez para subscrever cotas, com limite de seis fundos
por modalidade. Até o fim de 2020, havia um fundo PME aprovado no valor de
R$ 93,5 milhões. Uma operação havia sido cancelada e outras dez estavam em
processo de análise.

20
Duas propostas inicialmente submetidas na modalidade Fundo PME foram reclassificadas para
Fundo Originador, para melhor adequação aos termos do item 2 do edital. Assim, chegou-se ao
total de 32 propostas para a modalidade Fundo Originador e 41 propostas para Fundo PME.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 35

Quadro 4. Fidcs – Seis primeiros classificados por modalidade

Fundo Originador Originadora

Pagseguro BNDES Fundo


1 de Investimento em Direitos Pagseguro Internet S.A.
Creditórios

Brasil Microcrédito Impacto SumUp Soluções de


2
Social Fidc Pagamentos Brasil Ltda.

3 FIDC CIELO E BNDES Cielo S.A.

4 SOMA II FIDC Stone Pagamentos S.A.

Magalu I Fundo De
5 Investimentos Em Direitos Magazine Luiza S.A.
Creditórios

Fundo de Investimento em
B2W Companhia Digital +
6 Direitos Creditórios MPME
Ame Digital Brasil Ltda.
Integral B2W

Fundo PME Gestora Fintechs

Fundo de Investimento em
BRPP Gestão de Produtos
1 Direitos Creditórios BNDES CashMe
Estruturados Ltda.
CASHME-PLURAL

Solis Investimentos Ltda +


Nexoos, Monkey
2 BSA FIC FIDC Augme Capital Gestão de
Omiexperience, BLU e Provi
Recursos Ltda

XP Vista Asset Management


3 FIC-FIDC BNDESPAR XP Aquio e One7
Ltda

LIBRA Fundo de Investimento


4 Captalys Gestão Ltda Tomatico
em Direitos Creditórios – FIDC

SRM Exodus PME Fundo de


Nova SRM Administração de
5 Investimentos em Direitos Trusthub
Recursos e Finanças S.A.
Creditórios

Empírica Investimentos
Gestão de Recursos Ltda +
6 FIDC BizCapital Finpass PME Finpass e Biz Capital
Gauss Capital Gestora de
Recursos Ltda

Fonte: https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/mercado-de-capitais/fundos-de-
investimentos/chamadas-publicas-para-selecao-de-fundos/chamada-publica-para-selecao-de-
fundos-de-credito-para-mpmes. Acesso em: 5 mar. 2021.

Diante disso, pode-se afirmar que ainda é cedo para avaliar os efeitos dessa
ação emergencial, uma vez que ela ainda se encontrava em andamento quando do
fechamento deste texto. Já se pode afirmar, porém, que, enquanto ação emergencial,
esse tipo de intervenção requer um tempo de execução maior do que o esperado
para uma ação anticíclica.

2.7 Matchfunding Salvando Vidas

2.7.1 Principais características e objetivos


Trata-se de um modelo de financiamento compartilhado de ações emergenciais
direcionadas a santas casas e hospitais filantrópicos. O projeto, que utiliza
recursos do Fundo Social do BNDES, estruturou e operacionalizou um fun-
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
36 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

do para captação de recursos por meio de captação direta e de campanha de


arrecadação via plataforma de crowdfunding para a aquisição de materiais,
insumos e equipamentos médico-hospitalares necessários ao enfrentamento da
pandemia do coronavírus. Para cada real em doações de terceiros, o BNDES
aportou R$ 1 até o limite de R$ 50 milhões, gerando um potencial de apoio
de até R$ 100 milhões.
A Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades
Filantrópicas (CMB) centralizou as demandas, distribuindo os itens entre os
hospitais. A Sitawi Finanças do Bem (Bionexo), com o apoio da plataforma de
matchfunding Benfeitoria, ficou responsável pela gestão financeira, prestação
de contas, aquisição dos itens e coordenação da campanha. A Bionexo disponi-
bilizou ainda a plataforma de tecnologia de cotação de preços dos provedores,
que permite a comparação dos preços dos itens e suas respectivas especifica-
ções, além de ter acompanhado, com a CMB, a entrega dos itens nos hospitais. O
programa foi auditado pela Ernst & Young.
Os recursos arrecadados pelo Matchfunding Salvando Vidas destinaram-
-se ao atendimento de dois grupos específicos: (i) profissionais de saúde da
linha de frente que precisavam se proteger para que não fossem contaminados
no tratamento dos pacientes; (ii) pacientes internados que precisavam de
estrutura adequada para tratamento. Assim sendo, foi prevista a aquisição
de itens referentes ao kit de proteção para o profissional de saúde (KPPS)
e ao kit de sobrevivência para o paciente (KSP) com foco em instituições
filantrópicas de saúde.21
A distribuição dos recursos para os hospitais seguiu alguns critérios. Primeiro,
para a elegibilidade das instituições, exigiu-se Certificado de Entidade Bene-
ficente de Assistência Social na Área de Saúde (Cebas) válido em 27 de abril
de 2020. Segundo, definiu-se um teto de doação por instituição, baseado nos
valores da produção dos serviços ambulatoriais e hospitalares de média com-
plexidade no exercício de 2019, reproduzindo lógica do Ministério da Saúde
em políticas públicas do segmento. Terceiro, as instituições priorizadas foram
definidas com base em três indicadores: (i) pertencimento a municípios com
maiores taxas de morte em decorrência de Covid-19 por cem mil habitantes; e
(ii) pertencimento a macrorregiões de saúde com maiores taxas de ocupação de

21
O KPPS poderia incluir, por exemplo, touca, óculos de proteção, máscara cirúrgica, avental de
manga longa, luvas, oxímetro de pulso, estetoscópio e aparelho de pressão. Boa parte dos itens é
de uso descartável (touca, máscara, avental), mas outros são reutilizáveis mediante esterilização.
O KSP, por sua vez, poderia incluir, por exemplo, ventiladores pulmonares, cama, monitor de
sinais vitais, além de todo o enxoval necessários ao tratamento do paciente.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 37

leitos. Tais critérios, em conjunto, resultaram em um ranking das instituições


filantrópicas da linha de frente em situação mais crítica.22
O Matchfunding Salvando Vidas tem acompanhamento definido por meio de
quadro de resultados próprio. Os efeitos esperados serão medidos por meio do
número de profissionais de saúde envolvidos no combate ao coronavírus apoiados
e do número de pacientes SUS atendidos (atendimentos em ambulatório e emer-
gência destinados ao coronavírus).

2.7.2 Resultados e avaliação qualitativa


O Matchfunding Salvando Vidas arrecadou R$ 39 milhões ao longo de 2020. Com
a complementação do BNDES, de um real aportado para cada real arrecadado, a
ação garantiu R$ 77 milhões para os hospitais. Até dezembro, o BNDES já havia
formalizado a doação de R$ 19 milhões, resultando em R$ 58 milhões formalizados
no ano. O gráfico 12 mostra a evolução das doações ao longo de 2020.

Gráfico 12. Evolução das doações para o Matchfunding Salvando Vidas (2020)

15

10
R$ Milhões

0
abr mai jun jul ago set out nov dez

Fonte: Elaboração própria.

22
Além da metodologia para escolha e priorização das entidades filantrópicas contempladas, foram
incluídas regras complementares a partir da interação com grandes doadores, a fim de contemplar
as solicitações desses doadores e potencializar a captação de doações, viabilizando a ampliação dos
valores arrecadados. Assim sendo, foi prevista a possibilidade de se realizar doações dirigidas, ou
seja, aquelas em que, ao doador, é facultado determinar a alocação dos bens e serviços, desde que
para instituições de saúde públicas ou sem fins lucrativos que tivessem, no mínimo, 50% de sua
capacidade dedicada ao atendimento gratuito da população. Nesse caso, as instituições escolhidas
receberam doações somente de bens e serviços adquiridos com os recursos provenientes desses
doadores, sendo o valor aportado por meio do match do BNDES utilizado nas doações para as
instituições filantrópicas relacionadas na lista de prioridades da CMB, obedecendo aos critérios
de elegibilidade e priorização anteriormente citados. Além disso, foi prevista a possibilidade de
apoio a projetos especiais estruturantes, desde que aprovados previamente pelo superintendente
da Área de Gestão Pública e Socioambiental do BNDES, que preenchessem cumulativamente as
seguintes condições: (i) serem de iniciativa de doadores que tenham contribuído com, pelo menos,
R$ 100 mil para o Salvando Vidas; (ii) estivessem claramente vinculados ao enfrentamento da
pandemia do coronavírus; e (iii) fossem aderentes à finalidade contratual da iniciativa. Os projetos
especiais estruturantes podiam ser contemplados com recursos provenientes do match do BNDES
desde que a doação fosse destinada a instituições de saúde sem fins lucrativos e que oferecessem,
no mínimo, 50% de sua capacidade para o atendimento de saúde gratuito da população, com
exceção daquelas vinculadas à União.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
38 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

Em 2020, foram entregues R$ 36,8 milhões em doações, conforme o gráfico 13.

Gráfico 13. Evolução das entregas do Matchfunding Salvando Vidas (2020)

12

8
R$ Milhões

0
jun jul ago set out nov dez

Fonte: Elaboração própria.

O total arrecadado pelo programa, até o fim de 2020, envolveu doações de mais
de 1.650 pessoas físicas e de cerca de trinta empresas, além do próprio Banco.
As doações atenderam a 268 hospitais em 218 municípios de 26 estados do país,
tratando-se do maior matchfunding da história do Brasil.

2.8 Programa BNDES de Apoio Emergencial ao Combate da Pandemia


do Coronavírus

2.8.1 Principais características e objetivos


O Programa BNDES de Apoio Emergencial ao Combate da Pandemia do Coro-
navírus teve como objetivo aumentar a oferta de leitos emergenciais, equipa-
mentos, materiais, insumos, peças, componentes e produtos críticos para saúde,
para atender às necessidades de assistência de vítimas da pandemia. O apoio foi
realizado por meio de crédito para empresas ou instituições que: (i) atuassem na
montagem e disponibilização de leitos emergenciais provisórios para tratamento
intensivo; (ii) prestassem serviços de saúde; (iii) atuassem na produção, importação
ou comercialização de equipamentos, materiais, insumos, peças, componentes ou
produtos para saúde; e (iv) pretendessem adaptar sua atividade produtiva regular
para atuar excepcionalmente no fornecimento de leitos, equipamentos, materiais,
insumos, peças, componentes ou produtos para saúde.
O apoio ocorreu na forma direta, com taxa de juros formada por (i) TLP; (ii)
1% ao ano de remuneração do BNDES; e (iii) taxa de risco de crédito limitada
ao máximo de 4,26% ao ano. O orçamento do programa foi de R$ 2 bilhões, com
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 39

limite de financiamento de R$ 150 milhões por grupo econômico23 e valor mínimo


de R$ 10 milhões por operação. O prazo de financiamento estabelecido foi de até
sessenta meses, com carência de três a 24 meses.
A constituição de garantias reais foi flexibilizada para operações com até
R$ 50 milhões em financiamento; e para operações com até R$ 75 milhões em
financiamento, quando apresentado contrato de aquisição emergencial de bens e
serviços a partir de demanda do Ministério da Saúde ou das secretarias estaduais
ou municipais de saúde. Para instituições filantrópicas certificadas, foram aceitas
garantias em pagamentos recebíveis do Sistema Único de Saúde.
O Programa Emergencial para o Setor de Saúde será acompanhado por
meio de quadro de resultados próprio. Os efeitos esperados serão medidos por
meio dos seguintes indicadores de resultado:

• Leitos emergenciais e/ou provisórios montados e disponibilizados (número


de leitos);
• Internações hospitalares de emergência e/ou tratamento intensivo (número
de pacientes/dia);
• Fabricação de tecidos para confecção de equipamentos médicos/hospi-
talares (m2);
• Equipamentos médicos produzidos – ventiladores e respiradores (número
de equipamentos);
• Materiais médicos produzidos – máscaras cirúrgicas, luvas, capotes/aventais,
óculos de proteção e máscaras de proteção respiratória (número de itens);
• Materiais médicos vendidos – máscaras cirúrgicas, luvas, capites/aventais,
óculos de proteção e máscaras de proteção respiratória (número de itens);
• Kits de diagnóstico produzidos (número de kits);
• Kits de diagnóstico vendidos (número de kits);
• Medicamentos para saúde humana produzidos – unidades prontas para
venda (milhares de SKU);
• Medicamentos para saúde humana vendidos – unidades prontas para venda
(milhares de SKU);
• Atendimentos hospitalares de emergência e consultas realizados (números
de atendimentos);
• Receita da empresa apoiada obtida com leitos, equipamentos e materiais
vendidos (R$ mil).

23
A cada seis meses.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
40 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

2.8.2 Resultados e avaliação qualitativa


Foram apresentadas 47 operações ao Programa BNDES de Apoio Emergencial
ao Combate da Pandemia do Coronavírus, totalizando R$ 1,16 bilhão. Ao longo
de 2020, 14 operações foram aprovadas (R$ 331,9 milhões). Ao fim do ano, 11
operações estavam contratadas (R$  293,4  milhões), houve desistência de duas
operações aprovadas (R$ 25 milhões) e uma operação aprovada não havia sido
contratada (R$ 13,5 milhões).
Até o fim de 2020, a ação financiou cerca de 2,9 mil leitos dedicados a
Covid-19, 490 mil testes de diagnóstico para o coronavírus, 4.500 equipamentos
médicos e 201 milhões de luvas cirúrgicas. Há que se destacar que, em con-
texto de escassez desses itens fundamentais para o combate aos impactos da
pandemia, a efetividade da intervenção transcende as entregas imediatas, pois
impacta diretamente na redução de óbitos, morbidade e contágio provocados
pela Covid-19.

2.9 Programa BNDES Crédito Direto Emergencial

2.9.1 Principais características e objetivos


O Programa BNDES Crédito Direto Emergencial foi criado para apoiar a eventual
necessidade de liquidez (capital de giro) das grandes empresas dos setores apoiados.
O foco do programa foi: (i) a cadeia produtiva de saúde humana; e (ii) a cadeia de
serviços e de infraestrutura econômica associada ao funcionamento das cidades.
Os setores elencados foram:24

i. energia (distribuição de gás);


ii. água e esgoto;
iii. metrôs e trens urbanos;
iv. gestão de aeroportos e serviços de apoio;
v. telecomunicações (prestadores de pequeno porte);
vi. saúde (incluindo associações civis e fundações de direito privado).

O apoio ocorreu na modalidade direta, com taxa de juros formada por (i) Se-
lic; (ii) 1,5% ao ano de remuneração do BNDES; e (iii) taxa de risco de crédito
de acordo com a classificação de risco do cliente. O orçamento do programa
foi de R$ 5 bilhões, sendo R$ 2 bilhões para o crédito direto emergencial com
foco em saúde e R$ 3 bilhões para os demais setores apoiados. Foi estabele-
cido limite de financiamento de até R$ 200 milhões por grupo econômico e valor
mínimo de R$ 10 milhões por operação. Além disso, estipulou-se um prazo de

24
Inicialmente, o setor de transporte aéreo também estava na lista de beneficiários. Na mesma
alteração que o retirou, foi incluído o setor de telecomunicações entre os beneficiários.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 41

até 48 meses, incluída carência de até 12 meses. O encerramento do programa


foi previsto para setembro de 2020.
A fim de preservar empregos e renda, o programa ofereceu a possibilidade de
redução do spread básico para 1,1% ao ano e a concessão de seis meses adicionais
de carência, mediante alcance de meta de manutenção, reposição ou ampliação
de postos de trabalho, calculada pela média do número de empregados do quadro
permanente da empresa nos 12 meses anteriores ao mês de protocolo da operação.
Caso após 12 meses a partir do mês do protocolo, a média do número de empre-
gados do quadro permanente da empresa, nesse período, fosse igual ou superior à
meta, o cliente faria jus à melhoria nas condições da operação.
O Programa BNDES Crédito Direto Emergencial será acompanhado por meio
de quadro de resultados de capital de giro.

2.9.2 Resultados e avaliação qualitativa


Foram apresentadas vinte operações ao Programa BNDES Crédito Direto Emer-
gencial, totalizando R$ 2,53 bilhões. Ao fim de 2020, 18 operações (R$ 1,69 bilhão)
continuavam ativas, sendo três aprovadas (R$ 492 milhões) e nenhuma contratada.
Todas as operações aprovadas foram do setor de saúde.
Com relação ao crédito para os demais setores, a execução nula deveu-
-se principalmente a dois fatores. Primeiro, a presença de empresas públicas
nos segmentos impactou a possibilidade de concessão de crédito em função de
limitações ao endividamento. Segundo, a atratividade para grandes empresas
privadas acabou sendo baixa, pois, em alguns segmentos, o impacto da crise
foi menor do que o previsto para o segundo trimestre do ano (quando o pro-
grama foi criado) e, em outros casos, empresas conseguiram acessar recursos
no mercado, sem necessidade de apoio do BNDES.

2.10 Inovação Saúde – Parceria Embrapii

2.10.1 Principais características e objetivos


A parceria do BNDES com a Embrapii se destina ao apoio de projetos rela-
cionados ao combate, tratamento e diagnóstico do coronavírus e desenvolvi-
dos por empresas em conjunto com a Embrapii.25 O apoio financeiro é não
reembolsável e cobre o desenvolvimento das fases finais do projeto, como lote
piloto e certificações, permitindo a entrada no mercado de soluções nacionais.
Além disso, busca fortalecer as competências da base industrial brasileira,
atendendo às necessidades do sistema de saúde do país, e o desenvolvimento
de tecnologias habilitadoras, como internet das coisas (IoT), sensores, inteligência
artificial, novos materiais, entre outras, que auxiliem na retomada da economia.
25
Mais informações sobre o modelo de operação da Embrapii podem ser obtidas em embrapii.org.br.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
42 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

A parceria também incentiva o uso de tecnologia de alta complexidade, cuja


aplicação tende a ser ampliada inclusive no período posterior à superação da
pandemia. O programa tem vigência até setembro de 2021.
Os projetos apoiados pela parceria devem ter como foco:

i. desenvolvimento de testes diagnósticos clínicos sensíveis, específicos,


rápidos e de custo competitivo;
ii. desenvolvimento de ventiladores pulmonares, bem como de seus compo-
nentes críticos;
iii. desenvolvimento, melhoria, simplificação e aceleração da produção de
equipamentos de proteção individual (EPI) e coletiva (EPC) para profis-
sionais de saúde e de outros instrumentos ou equipamentos para proteção
e isolamento de pacientes; e
iv. outras soluções em projetos relacionados ao combate, tratamento e diag-
nóstico de Covid-19, como o desenvolvimento de tomógrafos, a realização
de testes clínicos de medicamentos ou vacinas, entre outros.

A parceria consiste na destinação de até R$ 20 milhões de recursos do Fun-


do Tecnológico (BNDES Funtec) à Embrapii, com 18 meses de prazo máximo
para utilização dos recursos e para execução dos projetos, contados da data da
contratação. A participação financeira do BNDES pode chegar até 50% do total do
investimento apoiável, limitada a 90% por projeto, sendo o restante complemen-
tado por aportes não financeiros das unidades Embrapii (UE, centros de pesquisa
credenciados) e contrapartidas das empresas parceiras.
Cada projeto terá como indicadores de eficácia: (i) a massa salarial de pesqui-
sadores alocada em projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) (R$ mil); e (ii)
homem-hora de pesquisadores alocados em projetos de P&D (hh). Como indica-
dores de efetividade, tem-se as parcerias entre Instituições de Ciência e Tecnologia
(ICT) e outras empresas, medidas pelo número total de acordos entre empresas
e ICT em decorrência do projeto apoiado. Deve ser registrado ainda o número
de parcerias geradas em decorrência do apoio do BNDES na data de conclusão.

2.10.2 Resultados e avaliação qualitativa


A parceria Embrapii consistiu em uma operação de R$ 20 milhões em recursos
não reembolsáveis contratada em setembro de 2020. Até o fim de 2020, houve
liberação de R$ 5,4 milhões para duas instituições de pesquisa (Senai Cimatec e
Instituto Senai de Inovação de Biossintéticos) visando o desenvolvimento de pro-
jetos de testes de diagnóstico, sistemas de oxigenação e acompanhamento do ciclo
respiratório de pacientes, entre outros. Esses projetos, no entanto, encontravam-se
em fase inicial de execução.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 43

Na parceria BNDES-Embrapii, o apoio se deu por meio de repasses de


recursos via Embrapii para que os institutos de pesquisa (UE) formassem uma
carteira de projetos de pesquisa e desenvolvimento aplicado. Além dos dois
institutos citados previamente, outras UEs encontravam-se em fase de captação
de projetos ao fim de 2020. Diante dessa situação, e como a iniciativa tem previsão
de durar até setembro de 2021, com prazo de execução de 18 meses, ainda é
cedo para analisar os resultados dessa ação emergencial.

2.11 Conta-Covid – Energia

2.11.1 Principais características e objetivos


A Conta-Covid, criada pelo Decreto 10.350/2020 e regulamentada pela Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 23.6.2020, consistiu em empréstimo,
destinado a preservar a liquidez das empresas do setor e, ao mesmo tempo, ali-
viar os impactos da crise nas contas de luz pagas pelos consumidores durante
a pandemia. Tratou-se de uma operação de mercado, sem recursos do Tesouro
Nacional, estruturada sob a forma de empréstimo sindicalizado por um grupo
de 16 instituições financeiras (29% públicas e 71% privadas).
A crise econômica decorrente da pandemia associada à Covid-19 teve um
impacto particularmente relevante sobre o setor de energia elétrica, uma vez
que houve significativa retração do consumo de energia nos setores industriais
e de comércio e serviços. Embora tenha ocorrido algum aumento do consumo
residencial, reflexo do isolamento social e da prática do home office, este foi
insuficiente para compensar a queda observada nas demais classes de consumo,
sem contar que a crise ainda levou a um aumento da inadimplência residencial.
A crise impactou principalmente o segmento de distribuição, considerado o
“caixa” do setor elétrico por concentrar a maior parte da arrecadação no setor,
com uma ROB anual da ordem de R$ 250 bilhões em 2019. Destaque-se ade-
mais que cerca de 80% desses recursos são destinados às geradoras, transmissoras,
encargos setoriais e impostos.
Designada como gestora da Conta-Covid, a Câmara de Comercialização de
Energia Elétrica (CCEE) foi definida como responsável pela contratação da ope-
ração de crédito e repasse dos recursos para as distribuidoras. A medida garantiu
às distribuidoras os recursos financeiros necessários para compensar a perda de
receita temporária em decorrência da pandemia e protegeu os demais agentes do
setor ao permitir que as distribuidoras continuassem honrando seus contratos.
A Conta-Covid teve teto estabelecido em R$ 16,1 bilhões e participação do
BNDES de até R$ 4 bilhões (limitada à maior participação além do BNDES).
As condições financeiras da operação compreenderam taxa de juros formada
por CDI mais 2,8% ao ano, com 11 meses de carência e prazo de 54 meses
para amortização.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
44 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

A iniciativa representa a postergação e o parcelamento de impactos ta-


rifários que, caso contrário, teriam efeitos imediatos nas contas de energia. Os
eventuais aumentos na tarifa, necessários diante da situação, serão diluídos em
sessenta meses.

2.11.2 Resultados e avaliação qualitativa


A Conta-Covid foi uma operação aprovada no valor de R$ 4 bilhões, sendo que,
desse total, foram contratados R$ 2,65 bilhões. O BNDES liderou o sindicato de
bancos e foi responsável por 17,3% dos recursos do programa. A Conta-Covid
ganhou o prêmio internacional Deals of the Year Awards, oferecido pelo grupo
LatinFinance, na categoria financiamento estruturado. Segundo a instituição que
concedeu o prêmio, o programa permitiu a sustentação do setor elétrico no
período mais grave da pandemia em 2020, ajudando na recuperação da econo-
mia no segundo semestre, que foi mais rápida do que o esperado. Além disso,
o programa evitou, segundo estimativa da CCEE, um dramático aumento na
conta de energia dos consumidores brasileiros, da ordem de 12%, em 2020,
com o reajuste efetivo tendo ficado em menos de 4%.26

2.12 BNDES Audiovisual – Apoio Emergencial

2.12.1 Principais características e objetivos


O BNDES Audiovisual – formado por recursos do Fundo Setorial do Audiovisual
(FSA), é uma iniciativa de apoio ao enfrentamento dos efeitos econômicos da pan-
demia do coronavírus no setor por meio do financiamento da folha de pagamento
(salários), de despesas operacionais e de gastos com fornecedores.27
Os beneficiários são empresas brasileiras de capital nacional da cadeia produ-
tiva do audiovisual,28 com experiência mínima de dois anos, conforme registro na
Ancine, pertencentes aos seguintes segmentos:

i. estúdios cinematográficos;
ii. produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão;
iii. pós-produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão;
iv. distribuição cinematográfica, de vídeo e de programas de televisão;
26
Ver detalhes em: http://read.nxtbook.com/latinfinance/magazine/2021_q1/cover.html. Acesso em
25 mar. 2021.
27
Além disso, foram financiáveis os gastos para pagamento de verbas rescisórias devidas em caso
de demissão de funcionários e os pagamentos de fornecedores relativos a conteúdo audiovisual,
além da aquisições de máquinas e equipamentos.
28
Excepcionalmente, empresas brasileiras de exibição cinematográfica com capital estrangeiro
puderam acessar esse instrumento. As empresas brasileiras de capital nacional tiveram prioridade
no acesso aos recursos do FSA. Transcorrido o período de priorização (15 dias após o lançamento
do apoio emergencial), as empresas brasileiras com capital estrangeiro do segmento de exibição
cinematográfica também tiveram a possibilidade de acessar os recursos, respeitando o orçamento
restante após o atendimento das solicitações prioritárias.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 45

v. exibição cinematográfica;
vi. gravação de som e edição de música;
vii. programadoras e atividades relacionadas à televisão por assinatura.

A taxa de juros foi definida como taxa referencial (TR) mais 4% a.a., po-
dendo ser reduzida para TR mais 0,5% a.a., caso a empresa cumprisse metas
contratuais de manutenção, reposição ou ampliação de postos de trabalho após
12 meses. O prazo de financiamento foi de até oito anos, com carência de até
dois anos, e o limite máximo do financiamento de 25% da receita operacional
bruta do grupo econômico do cliente em 2019, limitado a R$ 40 milhões. Para
operações até R$ 20 milhões, foram exigidas apenas garantias pessoais, desde
que respeitado o seguinte critério: (valor do financiamento + dívida bancária
líquida)/Ebitda < = 3.
O BNDES Audiovisual – Apoio Emergencial será acompanhado por meio
de quadro de resultados próprio. Os objetivos da linha são suavizar os efeitos
negativos da crise da pandemia sobre a atividade e os empregos da indústria au-
diovisual (i) na produção e distribuição; e (ii) na exibição.
Os projetos têm como indicadores de eficácia:

i. empregos financiados (número de empregos);


ii. fornecedores e prestadores de serviços financiados (número de empresas);
iii. valor financiado destinado à folha de pagamento (R$ mil);
iv. valor financiado destinado a fornecedores e prestadores de serviços (R$ mil); e
v. valor financiado destinado a outras despesas operacionais fixas (R$ mil).
Para o objetivo relacionado a produção e distribuição, os indicadores de efe-
tividade são:

i. obras em produção durante a carência (número de obras);


ii. obras finalizadas durante a carência (número de obras);
iii. obras distribuídas (número de obras);
iv. empregos ao final da carência (número de empregos); e
v. faturamento da empresa ao final da carência (R$ mil).

Para o objetivo relacionado a exibição, os indicadores de efetividade são:

i. salas de cinema abertas ao final da carência (número de salas);


ii. empregos ao final da carência (número de empregos); e
iii. faturamento da empresa ao final da carência (R$ mil).
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
46 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

2.12.2 Resultados e avaliação qualitativa


Foram solicitados R$ 381 milhões em 23 operações ao BNDES Audiovisual –
Apoio Emergencial. Ao longo de 2020, 11 operações foram aprovadas
(R$ 246 milhões).29 Ao fim do ano, dez operações estavam contratadas (R$ 226 mi-
lhões) e havia uma operação de R$ 20 milhões aprovada não contratada. Não há
informações disponíveis sobre o quadro de resultados de cada operação, uma vez
que são operações ainda recentes, muitas com contratos assinados no fim de 2020.

2.13 Programa de Apoio ao Setor Sucroalcooleiro (BNDES Pass)

2.13.1 Principais características e objetivos


O Programa de Apoio ao Setor Sucroalcooleiro (BNDES Pass) foi criado com o
objetivo de financiar as necessidades de liquidez das empresas de estocagem de
etanol combustível decorrentes da crise de Covid-19. O apoio foi estruturado via
capital de giro vinculado à estocagem do produto, nas modalidades de apoio direto,
misto e indireto não automático.
Tendo como público-alvo grandes empresas (ROB igual ou superior a
R$ 300 milhões), o orçamento do programa foi estabelecido em R$ 1,5 bi-
lhão, com valor de financiamento entre R$ 10 milhões e R$ 200 milhões por
grupo econômico, sendo mandatório o compartilhamento do financiamento
com outro credor em, pelo menos, igual valor ao do BNDES, a ser calculado
pela multiplicação do volume de etanol objeto do financiamento pelo preço de
referência (R$ 1,62/l de etanol anidro e R$ 1,54/l de etanol hidratado).
A atuação do BNDES foi pensada de maneira integrada a outras instituições
bancárias. Nas operações diretas, a participação do Banco se limitaria a 50%
do crédito, de modo que, na prática, em cada financiamento direto, outros bancos
participariam com montante maior ou igual ao valor financiado pelo BNDES.
A taxa de juros foi definida pelo somatório de Selic; 1,5% ao ano de remuneração
do BNDES; taxa de risco de crédito nas operações diretas ou taxa de intermedia-
ção financeira (0,15%) e remuneração da instituição financeira credenciada nas
operações indiretas. A taxa de remuneração do BNDES poderia ser reduzida para
1,1% caso a empresa cumprisse metas contratuais de manutenção, reposição ou
ampliação de postos de trabalho. Foi estabelecido até 24 meses de prazo de finan-
ciamento, com até 12 meses de carência. As operações de crédito seriam cobertas
por garantias pessoais ou reais e, nesse último caso, o valor do etanol estocado
usado como garantia deveria corresponder a, no mínimo, 150% do saldo devedor,
visando cobrir possíveis flutuações de preço.
Para o Programa de Apoio ao Setor Sucroalcooleiro foi criado quadro de resul-
tados próprio. Os indicadores de eficácia e de efetividade foram definidos de forma
29
Na tabela 1, constam 13 clientes, pois foram 13 CNPJs contemplados nas 11 operações aprovadas.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 47

a mensurar o impacto no equilíbrio da oferta nacional de etanol. Como indicador


de eficácia, seria monitorado o volume de etanol estocado (m³). Como indicador
de efetividade, seria monitorada a razão entre o volume de etanol estocado e a
capacidade de estocagem de etanol da empresa (%).

2.13.2 Resultados e avaliação qualitativa


Não houve operações apoiadas por meio do BNDES Pass, o que se explica
pelas mudanças ocorridas no mercado de açúcar e etanol após o lançamento do
programa, que reduziram a atratividade dessa ação emergencial.
De fato, o programa foi anunciado em 8 de junho de 2020, com prazo de
protocolo até 30 de setembro do mesmo ano. Nesse período, houve aumento
de produção de açúcar (e correspondente redução da produção de etanol), o que
diminuiu a atratividade da estocagem de etanol relativamente à produção de açúcar.
A tabela 5 deixa claro como as vendas de açúcar mais do que compensaram as
perdas com o etanol, sendo que as vendas de etanol também se recuperaram
em algum grau a partir de junho. Importante mencionar também que a forte
desvalorização do real em 2020 (de 25,8% entre fevereiro e agosto) aumentou a
lucratividade das vendas de commodities, reduzindo a atratividade do BNDES
Pass, que tinha custo de mercado.

Tabela 5. Variação da produção de açúcar e etanol entre safras 2019/2020 e


2020/2021

Etanol total Açúcar total


Quinzena
2019/2020 2020/2021 Var. (%) 2019/2020 2020/2021 Var. (%)

1ª abr 1.182.457 797.432 -32,6% 732.611 854.012 16,6%

2ª abr 1.328.704 995.646 -25,1% 806.356 1.181.363 46,5%

1ª mai 1.353.268 1.054.533 -22,1% 998.962 1.342.776 34,4%

2ª mai 1.675.485 1.128.631 -32,6% 1.127.774 1.862.720 65,2%

1ª jun 1.313.445 1.178.238 -10,3% 1.106.265 1.456.726 31,7%

2ª jun 1.396.494 1.221.395 -12,5% 1.150.368 1.961.326 70,5%

1ª jul 1.388.336 1.191.620 -14,2% 1.047.994 1.687.650 61,0%

2ª jul 1.555.438 1.488.084 -4,3% 1.351.615 2.372.398 75,5%

1ª ago 1.469.857 1.204.102 -18,1% 1.178.533 1.692.655 43,6%

Fonte: Elaboração própria.

Além disso, houve recuperação dos preços do etanol, seja do etanol hidratado
ou do etanol anidro, como mostra o gráfico 14. Os preços alcançaram patamares
superiores aos valores de referência do programa, prejudicando sua atratividade.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
48 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

Gráfico 14. Preços do etanol para o produtor (R$/l)


2,4
2,2
2
1,8
Pass Anidro: R$ 1,62
1,6
1,4 Pass Hidratado: R$ 1,54
1,2 Início da quarentena no Brasil
(por volta de 15/03/2020) Aprovação do Pass(04/06/2020)
1
03/01/2020
10/01/2020
17/01/2020
24/01/2020
31/01/2020
07/02/2020
14/02/2020
21/02/2020
28/02/2020
06/03/2020
13/03/2020
20/03/2020
27/03/2020
03/04/2020
09/04/2020
17/04/2020
24/04/2020
30/04/2020
08/05/2020
15/05/2020
22/05/2020
29/05/2020
05/06/2020
12/06/2020
19/06/2020
26/06/2020
03/07/2020
10/07/2020
17/07/2020
24/07/2020
31/07/2020
07/08/2020
14/08/2020
21/08/2020
28/08/2020
04/09/2020
Anidro Hidratado

Fonte: Elaboração própria com base em Cepea/ESANQ.

2.14 Suspensão de pagamentos (standstill)

2.14.1 Principais características e objetivos


A suspensão de pagamentos (standstill) possibilitou a suspensão temporária,
por prazo de até seis meses, de amortizações de empréstimos contratados com o
BNDES. Em sua primeira versão, aprovada em 1º de abril de 2020 e que aceitou
solicitações até 30 de junho do mesmo ano, permitiu a suspensão dos pagamentos
de operações nas modalidades direta, indireta não automática e mista, sem distinção
de setor, uma vez que a crise, naquele momento, parecia sistêmica, sem ser muito
clara a diferenciação entre setores mais ou menos afetados (podendo haver mais
custo do que benefício na seleção setorial para o programa naquele momento).
Essa suspensão não alterava o prazo final de pagamentos da operação.
O principal objetivo do standstill foi permitir alívio no caixa das empresas bra-
sileiras, mitigando os efeitos da pandemia de Covid-19. No caso da suspensão de
pagamentos das operações diretas, tratou-se também de uma estratégia de defesa
do balanço, para evitar downgrade da carteira (obrigatório em caso de atraso).
Para evitar renegociação do crédito, quando se tem uma crise em larga escala, o
bom senso indica que o credor anuncie unilateralmente a suspensão de pagamentos
como primeira reação à crise anunciada.30
A possibilidade de suspensão de pagamentos não se aplicou a operações: (i) objeto
de equalização pelo Tesouro Nacional; (ii) de pessoas jurídicas de direito público
interno e de entidades por elas direta ou indiretamente controladas; (iii) de clientes ou
agentes financeiros inadimplentes com o BNDES; (iv) de clientes ou agentes financei-
ros com apontamento que pudesse implicar em restrições ou em substancial risco de
imagem ao BNDES; e (v) com outra circunstância impeditiva, a critério do BNDES,
em razão do risco da operação. Especificamente no caso de operações diretas, não se
aplicou a operações: (i) com debêntures (exceto debêntures simples subscritas pelo
30
Pouco tempo após o anúncio do BNDES, a Febraban anunciou programa similar.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 49

BNDES); (ii) que utilizassem retenção de caixa livre do cliente como modalidade
exclusiva de garantia de pagamento; (iii) do BNDES Exim Pós-Embarque; e (iv) de
empresas em regime de falência, recuperação judicial ou extrajudicial.
No caso das operações indiretas, o risco de balanço é do agente financeiro. Por
conta disso, ficou por sua conta a decisão de solicitar ou não a suspensão ao BNDES.
Em 2 de junho de 2020, o BNDES aprovou o standstill para o setor público.
Nesse caso, foi permitida a suspensão, por prazo de até 12 meses (compre-
endidos entre janeiro e dezembro de 2020), dos financiamentos tomados por
estados, Distrito Federal e municípios, nas modalidades direta e indireta não
automática, com possibilidade de prorrogação do prazo de financiamento por
igual período (nesse caso, com uma característica diferente do standstill oferecido
aos clientes privados). O standstill para o setor público foi a operacionalização
de medida disciplinada no art. 4º da Lei Complementar 173/2020 (Programa
Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus Sars-CoV-2), que visava contri-
buir para a rápida mobilização de recursos públicos para medidas emergenciais
de combate à crise e para efetivo provimento de serviços públicos essenciais.
O montante que deixaria de ser pago pelo setor público durante o período de
suspensão seria capitalizado e incorporado ao principal da dívida.
Em 8 de outubro de 2020, o BNDES aprovou uma nova edição do standstill
que, no caso do setor privado, ficou conhecida como Standstill – Fase 2. Essa
medida autorizou a suspensão por seis meses (até 31 de maio de 2021), limitando
o apoio a operações nas modalidades direta, indireta não automática e mista de
empresas dos seguintes setores:

i. atividades esportivas e de recreação e lazer;


ii. audiovisual;
iii. editorial;
iv. hoteleiro;
v. fabricação de peças e acessórios para veículos automotores;
vi. construção de embarcações e estruturas flutuantes;
vii. transporte metroferroviário de passageiros;
viii. aeroportuário;
ix. navegação de apoio;
x. comércio varejista de tecidos, artigos de armarinho, vestuário e calçados;
xi. confecção de artefatos do vestuário e acessórios;
xii. impressão e reprodução de gravações;
xiii. fabricação de móveis e indústrias diversas;
xiv. comércio de outros produtos em lojas especializadas; e
xv. microcrédito.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
50 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

O Standstill – Fase 2, diferentemente da ação anterior (Fase 1), foi direcionado


apenas para setores ainda afetados pela pandemia naquele momento. A definição
dos setores teve como base a relação de 34 setores mais impactados pela pande-
mia, elaborada pela Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competiti-
vidade (Sepec) do Ministério da Economia. A relação foi formalizada na Portaria
ME 20.809/2020, publicada no Diário Oficial de 15 de setembro de 2020, com
o objetivo de orientar as agências financeiras oficiais de fomento. A partir dessa
lista, foram filtrados os setores, em três etapas/critérios, analisando: (i) dados da
variação da arrecadação por setor (utilizada como proxy para a atividade econô-
mica setorial, uma vez que a arrecadação geralmente tem elasticidade unitária
em relação à produção); (ii) se o setor pertencia à carteira de crédito do BNDES
de operações diretas e indiretas não automáticas; e (iii) a variação do crédito do
sistema financeiro total para o setor e a análise setorial do BNDES.
Já no caso de estados, Distrito Federal e municípios, a medida foi batizada
como Linha BNDES de Renegociação de Operações Indiretas Automáticas para o
Setor Público (BNDES Renegociação Setor Público) e permitiu a suspensão para
operações indiretas automáticas de prestações com vencimento entre outubro e
dezembro de 2020, mantendo o prazo de pagamento original.
Cada operação tem quadro de resultados próprio. Além disso, a suspensão
de pagamentos teve como objetivo a manutenção de empregos, mediante esti-
mativa com base na média de empregados de empresas previamente apoiadas.

2.14.2 Resultados e avaliação qualitativa


No total, foram R$ 17,5 bilhões com pagamentos suspensos: R$ 13,6 bilhões para
o setor privado e R$ 3,9 bilhões para o setor público.
Na primeira fase, o BNDES aprovou R$ 12,4 bilhões em suspensão de pa-
gamentos. Foram R$ 8,01 bilhões de 465 empresas (estimativa de 441 mil em-
pregados) nas operações diretas, R$ 1,26 bilhões de 61 empresas (estimativa de
69 mil empregados) nas operações indiretas não automáticas, e R$ 3,12 bilhões
de 28.615 empresas (estimativa de 1,8 milhão de empregados) nas operações
indiretas automáticas. Na segunda fase do standstill, foram R$ 1,11 bilhão de
72 empresas (estimativa de 29 mil empregados) nas operações diretas, e R$ 50 mi-
lhões de duas empresas (estimativa de 2,6 mil empregados) nas operações indi-
retas não automáticas.
Para o setor público, foram R$ 3,95 bilhões de 56 estados e municípios nas
operações diretas e indiretas não automáticas e R$ 26 milhões de 105 municípios
nas operações indiretas automáticas.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 51

2.15 Autorização de uso emergencial por estados de recursos já aprovados

2.15.1 Principais características e objetivos


Em maio de 2020, o BNDES autorizou a utilização de saldos livres de 16 contra-
tos com 13 estados, no montante de até R$ 456 milhões. O objetivo foi auxiliar
os estados a enfrentar a pandemia e a mitigar seus efeitos sobre a economia, seja
pela via do apoio direto à saúde ou garantindo a continuidade de investimentos
em outros setores fundamentais da esfera pública estadual.
Os contratos em questão eram planos de investimento com finalidade con-
tratual ampla. Aprovava-se um montante global de crédito destinado a despesas
de capital contempladas nos planos plurianuais e demais leis orçamentárias
dos entes, mas o acesso aos recursos ficava condicionado à aprovação prévia
de cada projeto pelo BNDES.
A operacionalização da medida se deu pelo adiantamento da etapa de liberação
e postergação dos processos inerentes à etapa de análise. No modelo de solicita-
ção de recursos emergenciais, não é exigida a identificação prévia de detalhes
de projeto e da utilização pretendida. Após a liberação de recursos, o estado
tinha o prazo de até noventa dias a partir da data de término de vigência do
estado de calamidade pública federal (ou 31 de março de 2021 – o que ocor-
resse primeiro) para apresentar a documentação de análise das intervenções
objeto do desembolso dos recursos emergenciais, a fim de serem submetidas à
aprovação do BNDES, assim como a prestação de contas referente à aplicação
desses recursos.
Essa iniciativa prevê duas etapas de monitoramento e avaliação (M&A).
Para a etapa de autorização de utilização dos recursos, é preenchido quadro
de resultados, cujo objetivo geral é viabilizar despesas de capital de estados
necessárias ao enfrentamento da pandemia e contribuir para a mitigação de seus
efeitos na economia. O indicador de eficácia será o valor recebido pelo estado
(isto é, autorizado pelo BNDES) a título emergencial em milhares de reais,
que servirá de medida para o resultado imediato do apoio: a disponibilização
de recursos para o gasto em despesas de capital. Os indicadores de efetividade
serão: (i) o percentual do valor recebido pelo estado utilizado em despesas de
capital em 2020 (%); e/ou (ii) despesas de capital totais efetuadas pelo esta-
do em projetos apoiados pelo BNDES no âmbito da liberação emergencial
(R$ mil). Tais indicadores de efetividade medirão o resultado desse objetivo
geral: a efetivação de despesas de capital e a manutenção dos projetos em
andamento. O segundo indicador se relaciona ainda à adicionalidade advinda
da efetivação dessas despesas, na medida em que mede o valor total investido
nos projetos, e não apenas o valor apoiado pelo BNDES.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
52 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

Para a etapa de aprovação de uso dos recursos, com o recebimento da informação


do detalhe dos projetos efetivamente implantados e das metas físicas alcançadas,
será possível avaliar a eficácia e a efetividade dos investimentos apoiados em cada
estado, por meio de quadros de resultados setoriais.

2.15.2 Resultados e avaliação qualitativa


Dos 13 estados com saldo a liberar (R$ 446 milhões), sete enviaram pedidos de
liberação ou autorização de uso de recursos, totalizando R$ 225 milhões em valores
liberados ou autorizados.

2.16 Transferência PIS-Pasep para o FGTS

2.16.1 Principais características e objetivos


A MP 946/2020 determinou a extinção do Fundo PIS-Pasep, a transferência de
seus recursos para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e permitiu
o saque de até R$ 1.045 por trabalhador titular de conta vinculada ao FGTS no
período entre 15 de junho e 31 de dezembro de 2020. A medida visou auxiliar os
trabalhadores afetados pela crise, bem como garantir um estímulo ao consumo e,
assim, mitigar a retração de emprego e renda.
Como agente responsável pela aplicação dos recursos do PIS-Pasep, o
BNDES aprovou, em março de 2020, a transferência de cerca de R$ 20 bilhões
do fundo para o FGTS. Destaca-se que o eventual recebimento de ativos não
líquidos pelo FGTS inviabilizaria a distribuição imediata desses recursos. Do
total de recursos do PIS-Pasep em poder do BNDES em 31 de março de 2020,
R$ 15 bilhões encontravam-se aplicados em carteira de crédito cujo risco era
do BNDES, R$ 175 milhões, em uma carteira de renda variável – Fundo de
Participação Social (FPS) –, e R$ 5,2 bilhões, em disponibilidades.
Para conferir ao PIS-Pasep a liquidez necessária, realizou-se, em 16 de abril de
2020, a troca da fonte de recursos nos contratos de financiamento da carteira do
BNDES. Alterou-se a fonte de Fundo PIS-Pasep (risco suportado pelo BNDES)
para FAT e Tesouro, assegurando a manutenção dos custos de captação originais,
assim como eventual equalização para os contratos que já apresentavam esse
benefício creditício.
Também foi aprovada a aquisição pela BNDESPAR dos ativos em renda
variável pertencentes à carteira do FPS. Apesar de o valor dos ativos contabili-
zados no FPS representar um percentual relativamente pequeno do patrimônio
total do PIS-Pasep, essa transação foi uma etapa fundamental do processo de
transferência integral, em reais, dos recursos do PIS-Pasep para o FGTS, de
forma ágil para o Governo Federal.
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 53

Finalmente, autorizou-se transferência para o BNDES de contratos de finan-


ciamento cujo valor contábil, líquido de provisões e apurado no balanço do Fundo
PIS-Pasep de 30 de abril de 2020, fosse correspondente a zero. Essa transferência
não teve como consequências desembolsos financeiros pelo BNDES.
A transferência dos recursos do PIS-Pasep para o FGTS foi uma medida de
origem externa ao BNDES, motivada pela MP 946/2020. Em sua exposição
de motivos,31 o Ministério da Economia argumenta que a transferência do
patrimônio do Fundo PIS-Pasep incrementaria as disponibilidades do Fundo
de Garantia em cerca de R$ 20 bilhões permitindo a todos os brasileiros com
contas vinculadas no FGTS o saque no valor de R$ 1.045 por trabalhador sem
comprometimento das operações de apoio aos setores de habitação, saneamento
e infraestrutura, que são importantes para a manutenção de empregos e renda.

2.16.2 Resultados e avaliação qualitativa


O BNDES aprovou, em março de 2020, a transferência de cerca de R$ 20,7 bi-
lhões do PIS-Pasep para o FGTS, reforçando o fundo e permitindo o saque de até
R$ 1.045 por trabalhador titular de conta vinculada ao FGTS, no período entre 15
de junho e 31 de dezembro de 2020. Essa medida, em conjunto com as demais
medidas do Governo Federal (sobretudo o auxílio emergencial), deu impulso à
recuperação em formato de “V” no consumo das famílias na economia brasileira
em 2020 (ver gráfico 15).

Gráfico 15. Consumo das famílias na economia brasileira com ajuste sazonal –
1º tri/2020=100

103
101,9
100,8
101
100,0
98,7 98,8
99

97

95

93

91

89 88,7

87
1T2018 2T2018 3T2018 4T2018 1T2019 2T2019 3T2019 4T2019 1T2020 2T2020 3T2020 4T2020

Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE.

31
EM 00106/2020 ME.
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
54 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

3. Considerações finais

Este trabalho discutiu a atuação anticíclica do BNDES na crise de Covid-19


em 2020, documentando e debatendo a ação do BNDES durante a crise. Para
cada ação emergencial, foram apresentadas: (i) uma descrição de suas principais
características e objetivos; (ii) uma análise qualitativa e preliminar de seus
resultados a partir dos dados disponíveis.
É importante destacar que as medidas têm tempos diferentes de maturação.
Consequentemente, há uma variação em relação à disponibilidade de informações
a respeito dos resultados de cada uma. Em primeiro lugar, algumas medidas tiveram
início ainda em março de 2020, enquanto outras foram aprovadas ao longo desse
mesmo ano. Algumas das ações têm tramitação mais rápida: operações indiretas
desembolsam rapidamente, enquanto operações diretas têm uma fase de análise
naturalmente mais demorada. Algumas medidas têm efeitos imediatos (aquelas
associadas ao capital de giro, por exemplo) enquanto outras levam mais tempo (pro-
jetos de investimento). Finalmente, os dados para verificar seus resultados podem
não estar rapidamente disponíveis. As avaliações de impacto no âmbito do sistema
de promoção da efetividade do BNDES serão realizadas futuramente a depender da
disponibilidade das informações reque­ridas para comparar grupos de tratamento e
controle, e também a depender das prioridades dentre tantas ações emergenciais.
A partir das informações disponíveis, pode-se afirmar que o BNDES atuou de
maneira focada, tanto temporalmente quanto no público-alvo. De fato, todas as
ações emergenciais tiveram prazo de encerramento preestabelecido, com quase
todas as ações se encerrando até dezembro de 2020 – o que as qualifica como
temporárias. As MPMEs, em conjunto com pessoas físicas, representaram 82%
da ação anticíclica do banco em 2020 – o que demonstra o foco das ações anticí-
clicas. No total, a atuação anticíclica do BNDES contribuiu para injetar, de forma
direta e indireta, R$ 154,8 bilhões na economia brasileira – equivalente a 2,1%
do PIB de 2020.
Pode-se dizer também que as ações do BNDES tiveram quatro grandes objetivos.
Primeiro, suavizar os efeitos negativos da recessão sobre MPMEs, reduzindo os
impactos da crise no emprego, na saúde financeira e na taxa de mortalidade dessas
empresas. Segundo, reduzir a pressão sobre o setor de saúde, cujos desequilíbrios
de oferta e de demanda ficaram evidentes em diversas regiões do país. Terceiro,
auxiliar setores específicos, particularmente afetados pela recessão, de modo cri-
terioso e alinhado ao Governo Federal. Por fim, aliviar necessidades de liquidez
para consumidores, firmas e entes subnacionais, que atravessaram um momento
de grande dificuldade para honrar seus compromissos previamente contratados.
Por fim, pode-se dizer que este trabalho atende a três diferentes propósitos:
(i) servir de aprendizado para atuações anticíclicas futuras do BNDES; (ii) servir
como repositório de informações para o Banco e para a literatura sobre bancos de
O BNDES e a Covid-19: uma atuação
anticíclica, temporária e focalizada   | 55

desenvolvimento; e (iii) servir como instrumento de transparência da instituição


em relação à sociedade.
Para o futuro, é possível elencar quatro características que poderão ins-
pirar a atuação do BNDES, a partir da experiência na crise de Covid-19: (i)
a prioridade dada à criação de soluções para atender o público das MPMEs;
(ii) a temporalidade bem definida para eventuais reações anticíclicas; (iii) o foco
crescente no resultado esperado (e não nos usos específicos dos recursos); e (iv)
a importância de apoios não creditícios. Sobre esse último ponto, cabe men-
cionar que se trata de uma tendência em vários bancos de desenvolvimento do
mundo. Segundo Martin Raiser, diretor do Banco Mundial, “bancos de desen-
volvimento de outros países vêm deixando cada vez mais de ser meros credores
para alavancar financiamentos comerciais por meio de garantias […] e o BNDES
pode se beneficiar muito dessas experiências” (BANCO MUNDIAL, 2017).
Ricardo Barboza, Antônio Ambrozio,
56 Felipe Maciel, Sérgio Guimarães

Referências

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155, 2019, Brasília, DF. Anais […]. Brasília, DF: Conselho Deliberativo do
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