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 Agricultura Familiar

A agricultura empresarial é a do CAI. Já a familiar possui três características


básicas: pequena área de terra, mão-de-obra familiar (não há salário) e produção de
gêneros de subsistência (mandioca, milho, arroz, feijão). A renda é investida na
propriedade da forma como o chefe de família preferir, seja com tratores, com novos
animais ou para melhorar a horta.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário auxilia a agricultura empresarial e a
familiar. Esta por meio do Programa Nacional de Apoio a Agricultura Familiar
(PRONAF), que é um banco que oferece crédito a Agricultura Familiar. A criação deste
banco, por auxiliar financeiramente esse setor da agricultura, obriga a criação da lei que
define o que é este setor, sendo esta a Lei 11326 de 24/07/2006. Segundo ela, a
agricultura familiar:
 Não deve ultrapassar 4 módulos fiscais: unidade de medida de terra. Um
módulo equivale a menor área dentro de uma realidade regional necessário
para garantir o sustento da família. O tamanho varia de acordo com cada
região.
 Uso predominante da mão-de-obra de membros da própria família.
 Percentual mínimo de renda vindo da sua própria produção (+50%).
 O empreendimento ou estabelecimento é dirigido por um membro da
própria família (chefe de família).

OBS: pescadores e extrativistas também se encaixam nessa lei.

É importante deixar claro que oferecer crédito e assistência técnica a agricultura


familiar não significa inseri-la no CAI, já que esse setor não opera com lucros altos e
salário.

o Grupos dentro da Agricultura Familiar:

Embora muitos autores interpretem os agricultores desse setor como produtores


não capitalistas, quando analisados mais profundamente, esses agricultores formam um
grupo heterogêneo, onde alguns podem ser definidos como pequenos ou até médios
capitalistas enquanto outros podem se encontrar em processo de proletarização. Os
primeiros, em épocas de colheita, podem contratar trabalhadores assalariados
temporários fora da família, pois seu processo de produção é ampliado, tanto em termos
de dinheiro quanto em novos meios de produção, máquinas e equipamentos agrícolas
modernos. Já o segundo, o resultado do processo produtivo mal permite o sustento da
sua família, sendo a família obrigada a complementar renda trabalhando de forma
assalariada e temporária em outros locais. A maioria dos integrantes da agricultura
familiar tem que procurar trabalho fora em épocas de pico de colheita para conseguir
renda extra.
- Rosa (topo): grupo em ascensão (topo da pirâmide), formado por agricultores que
tendem a deixar a agricultura familiar, se tornando pequenos capitalistas e podendo se
incorporar ao CAI. Ex: aquele produtor que é integrado à agroindústria.

- Verde (meio): grupo de agricultores que vivem na agricultura familiar típica.

- Azul (base): grupo na descendente (base da pirâmide), formado por agricultores em


processo de proletarização. Deixam de a agricultura familiar.

A integração nada mais é que a agricultura familiar integrando-se ao CAI, mas só


vale a esse agricultor se integrar em locais onde o CAI existe. Ex: de nada vale ele criar
frango na Amazônia e querer se integrar a Perdigão que é no RGS. A indústria quando
se integra lucra, pois diminui os gastos e as despesas com a produção de matéria-prima.
Pro sitiante esta condição também é boa, pois leva à acumulação de bens de capital
como máquinas e demais equipamentos, mesmo que ele continue sem acumular capital
propriamente dito. A integração também garante que o sitiante não perca a propriedade
e a valoriza. E PRA QUE QUE EU QUERO MAQUINA SE EU SO POSSO
UTILIZA-LA PARA PRODUZIR PRA INDUSTRIA? E PORQUE NÃO PERDE
A PROPRIEDADE? O agricultor faz um empréstimo com a agroindústria que
financia máquinas e sementes, por exemplo. É só um empréstimo. O produtor paga
a agroindústria tudo e depois se ele se desvencilhar ele tem tudo pra ele. O
produtor não é obrigado a permanecer na integração, ele se mantem nela porque é
um mercado certo para o que o produtor esta produzindo. A desvantagem é que o
integrado não tem poder de barganha no mercado sendo forçado a vender para a
agroindústria, pois a grande quantidade produzida só a agroindústria compra.

Quando ocorre a integração, a primeira característica da agricultura familiar que é


perdida é a produção de subsistência e, em seguida, a mão-de-obra que deixa de ser
familiar e passa a ser assalariada. A família se eleva ao padrão de classe média. Há,
então, uma liberação dos trabalhadores da família como crianças, filhos, idosos e
mulheres. As crianças e idosos passam a ter atividades no entorno da casa, além do que
as crianças permanecem mais tempo na escola. As mulheres se voltam para o trabalho
artesanal ou pro ramo de alimentos (geléias, pães, etc), aumentando a renda.
Se antes a herança se configurava apenas da passagem da terra da mão do pai para um
dos filhos, (porque apenas um podia ser o dono propriamente dito e os outros
trabalhavam como mão-de-obra familiar), agora, como há ganho de capital, há um
volume de dinheiro que pode ser dividido entre os filhos. Estes passam a comprar
imóveis na cidade. Quando o senhor de terra “se aposenta”, os filhos já foram todos
para a cidade, sobrando apenas o mais novo (caçula) que é quem recebe como herança a
fazenda e fica com a responsabilidade de cuidar dos pais.
Os componentes da base da pirâmide estão longe de se integrar a indústria e a
primeira característica da agricultura familiar que se perde, nesse caso, é a mão-de-obra
familiar, já que os integrantes da família tendem a deixar a propriedade para procurar
outro emprego. Por mais que os integrantes permaneçam e trabalhem na propriedade,
esta não é capaz de assegurar o sustento dessa família, levando a um aumento da
jornada de trabalho (trabalho na propriedade), fato chamado auto-exploração do
trabalho. Se a situação se agravar pode ocorrer até o abandono da terra.
Na prática, para classificar as propriedades segundo as características da pirâmide,
deve-se observar os indivíduos que estão trabalhando. Apenas homens, empregados ou
toda a família. Na base todos trabalham, incluindo crianças e idosos, já na ponta apenas
homens e empregados.
Como os agricultores familiares estão restritos a uma área de apenas 4 módulos
fiscais, para aumentar produtividade e lucro, há a necessidade de se tecnificar. O
governo, porém, não financia essa tecnificação, restando como alternativa ao agricultor
apenas a integração que muitas vezes não é possível, como já foi discutido.O governo
investe em políticas de preços de compra que mantenham esse tipo de produtor
responsável por abastecer o mercado interno com produtos de subsistência, não sendo
do seu interesse que ele deixe de produzir alimentos básicos. Essas políticas garantem
que o produtor venda todo o seu produto, não havendo perdas, ou seja, o governo
compra o excedente da produção. Podemos concluir assim, que a falta de tecnificação
para a agricultura familiar advém da falta de interesse do governo em financiá-la, não
por falta de capacidade ou capital. Além disso, as técnicas agrícolas muitas vezes não
são acessíveis a esse tipo de produtor, por desinteresse de quem vende a técnica.

 Segunda aula: Aula da Junia sobre Agricultura na Europa (não cai na prova)

 Sindicalismo Rural e Movimentos Ruralistas

o Os trabalhadores da Agricultura Brasileira e sua organização sindical

Há uma complexidade das relações de produção na agricultura brasileira que


advém das múltiplas formas de trabalho existentes na zona rural. Existem pequenas
propriedades cuja produção se baseia na unidade familiar, até grandes propriedades que
se assentam no trabalho assalariado. O trabalho assalariado pode ser dividido e
entendido de formas diferentes, como veremos mais adiante. É importante entender essa
complexidade e heterogeneidade, pois os trabalhadores da agricultura brasileira não
podem ser estudados através de uma análise tradicional. Um exemplo de tal
complexidade é: grande parte dos trabalhadores que são assalariados e trabalham muitas
vezes em grandes propriedades, exercem essa função apenas temporariamente, pois em
épocas de baixa produtividade na grande fazenda, eles voltam para sua pequena
propriedade onde vivem da venda de mercadorias básicas. O trabalho temporário se
tornou tão comum na agricultura brasileira que, tanto um minifundista quanto um
grande proprietário de terra, procuram por mão-de-obra assalariada temporária nas
épocas de pico da colheita.
Graziano critica a forma grosseira como se analisa as classes trabalhadoras rurais
e comenta sobre a falta de levantamento mais apurado das relações de trabalho no
campo obtidas pelo INCRA e IBGE. Portanto, a forma com que vamos analisar essas
relações não é de fato as únicas relações que ocorrem pelo Brasil a fora. É apenas uma
forma simplificada de análise.
Com a modernização da agricultura, muitas propriedades não beneficiadas pelo
governo perderam mercado, dificultando o ganho de renda e o sustento das famílias.
Estas, por sua vez, tiveram que procurar renda extra nas cidades ou em empregos em
outras fazendas (bóias-frias). A primeira característica desses trabalhadores é receber
salário e a segunda é trabalhar assalariadamente no campo. São 4 tipos de trabalhadores
do campo, cada um com suas particularidades:

a) Proprietários minifundistas: possuem uma propriedade menor que um módulo


rural (quantidade de terra necessária para garantir subsistência e progresso social e
econômico ao agricultor com área máxima fixada para cada região). São pequenos
proprietários com áreas inferiores a 50 ha. O valor da produção rende apenas até
dois salários mínimos. Tem necessidade de se assalariar fora da propriedade em
certas épocas do ano para complementar a renda da família. Esse fator é decorrente
da própria definição de módulo rural, pois se a quantidade de terra que esse
agricultor tem não atinge nem um módulo, como que essa família pode se manter?
A organização do trabalho nessas propriedades é basicamente mão-de-obra
familiar, incluindo o próprio proprietário e seus dependentes, onde não há
remuneração. A renda é dividida entre a família. São os principais produtores de
alimentos básicos (arroz, feijão, mandioca, milho) para a população brasileira e por
30% de produtos de transformação indutrial (algodão, amendoim, café, cacau,
fumo, chá, etc). Ou seja, essa classe tem importância tanto para a produção de
alimentos básicos, quanto para a produção industrial. Sendo assim, nunca deve-se
dizer que os minifundistas não se desenvolvem por causa da concorrência com
grandes proprietários, ou por falta de tecnologia, pois se eles não podem competir
no mercado é porque o governo não investiu nessa classe, uma vez que o governo
financiou tecnologia para os proprietários de grandes áreas de terra. Essa classe
constitui 25% da força de trabalho empregada no campo e são proprietários
advindos da agricultura familiar que estão em fase de empobrecimento. Possuem
terras, mas como trabalhadores agrícolas são tão dependentes do trabalho
temporário quanto os bóias-frias.

b) Pequenos posseiros: há os verdadeiros posseiros e os falsos posseiros, sendo


estes últimos os grileiros que forçam a valorização das terras, principalmente onde
há incentivos fiscais e abertura de estradas. Eles tomam as terras dos verdadeiros
posseiros que são pessoas que detém apenas a posse, mas não a propriedade legal
(jurídica) da terra (usucapião). São alvos fáceis para ação de grileiros/falsos
posseiros. 80% dos posseiros trabalham como minifundistas, chegando a ter áreas
de 20 ha e são chamados de pequenos posseiros. Estão mais difundidos no
Nordeste, Sudeste e Sul e tem sua força de trabalho baseada na família. Já no
Norte e Centro-oeste que são áreas novas de agricultura, esses pequenos posseiros
representam apenas 10% da ocupação e a maior ocupação é dada por grandes
posseiros (não sei até quanto ha é grande posseiro). Os grandes posseiros tomam as
terras do pequenos posseiros nessas áreas, seja por manipulação jurídica, seja por
meio de violência. Isto revela que há muitos conflitos por terra nessa região. Com
a atividade dos grileiros e expulsão dos pequenos posseiros, temos o surgimento
dos posseiros itinerantes que migram de local para local. Essa classe toda constitui
16% da força de trabalho empregada no campo e também são proprietários em fase
de empobrecimento na agricultura familiar.
c) Pequenos rendeiros: grupo composto por arrendatários, subarrendatários,
agregados e moradores, enfim, todos que pagam ao proprietário da terra uma renda
em trabalho, produtos ou mesmo em dinheiro (aluguel), onde sempre há uma
forma de coerção (coagir, ameaçar). São fundamentalmente, pequenos produtores
baseados em mão-de-obra familiar. Utilizam pequenas áreas inferiores a um
módulo rural que não garante rendimento suficiente para a sobrevivência da
família, tendo que servir de trabalhador assalariado temporário em outras fazendas
maiores nos períodos de maior atividade agrícola. Essa classe constitui 25% da
força de trabalho empregada no campo e também são proprietários em fase de
empobrecimento na agricultura familiar.

d) Empregados assalariados: representam 1/3 da força de trabalho empregada na


agricultura brasileira. É o grupo mais heterogêneo, incluindo os trabalhadores
permanentes e os trabalhadores assalariados temporários. Os trabalhadores
permanentes são a menor parcela, 10%, mas não são menos importantes, pois são a
principal mão-de-obra empregada nas grandes propriedades. Já os trabalhadores
temporários representam metade da mão-de-obra empregada nas altas da atividade
agrícola. Há dois tipos de trabalhadores temporários: o puro que vive
exclusivamente da sua força de trabalho, está separado dos meios de produção,
reside nas periferias das pequenas e médias cidades do interior e é conhecido como
bóia-fria; e o segundo tipo é formado por pequenos posseiros e pequenos
minifundistas que necessitam trabalhar em outras propriedades para complementar
a renda, se colocando na situação de ora empregador, ora empregado, pois também
contrata mão-de-obra para trabalhar na sua propriedade em épocas de colheita, mas
não se personifica como patrão, pois contrata esses trabalhadores a título de
“ajudantes”.

Entendendo:
Pequeno minufundista – é dono da sua terra.
Pequeno posseiro – utiliza a terra, mas não é dono legalmente (usucapião).
Pequeno rendeiro – aluga a terra de outro senhor de terra.
Mas, todos são produtores da base da pirâmide da agricultura familiar que estão em
fase de empobrecimento e necessitam procurar complementar a renda da família com
empregos assalariados temporários.

Usucapião: quando uma pessoa tem posse por mais de 5 anos sem que o real
proprietário reivindique a posse. Termo utilizado só quando as terras são particulares.

Grileiro: não é posseiro, como já foi dito. Toma posse de uma área com grande
potencial especulativo e uso de falsificação de documentos para garantir a posse da
terra, além de violência. Nesse caso, a posse seria legal por conta do documento
(mesmo que falsificado). Também não são trabalhadores da terra, são apenas
especuladores imobiliários, ou seja, não utilizam a terra para produzir.

OBS: arrendamento é mais produtivo que a posse da terra, pois como no arrendamento
tem-se que pagar um aluguel, é necessário que se produza para ter dinheiro, enquanto
que a posse de terra não obriga ao dono dela a produzir.
o O sindicalismo rural brasileiro

Em 1930, no governo Vargas, criou-se as Leis Trabalhistas Urbanas que não se


aplicavam à zona rural, ficando esta esquecida. Em 1967, na segunda Ditadura, criou-se
as Leis Trabalhistas Rurais que regulamentava a relação capital X trabalho e empregado
X patrão. Os sindicatos, então, surgiram inspirados na corporação fascista, onde tudo
estava atrelado ao Estado (no caso do Brasil, ao Ministério do Trabalho), por mais que
os sindicatos não devessem ter relação nenhuma com o Governo. O sindicato tem a
função de unir trabalhadores de mesma categoria e é sustentado por esses próprios
componentes que pagam um valor (um dia de salário por ano por cada empregado
registrado) pra se manter dentro do sindicato.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) é o
órgão máximo do sindicalismo brasileiro (apesar de ser fiscalizado pelo MT). Abaixo
do CONTAG, existem as FETAGs, órgão a nível estadual, onde cada estado tem uma,
totalizando 27 federações. Cada município do estado pode ter um sindicato. O Rio de
Janeiro pode ter 92 sindicatos de trabalhadores rurais. O CNA (Confederação Nacional
dos Agricultores) é equivalente a CONTAG para patrões.
A CONTAG foi criada em 1963, mas só foi reconhecida de fato em 1965, pois
quando instalada a ditadura, sofreu uma intervenção (parou de funcionar). A primeira
diretoria (65-67) não hostilizava o governo militar na intenção de diminuir a repressão
aos movimentos sindicais e foi acusada de sempre colocar panos quentes sobre a
situação. A segunda diretoria (a partir de 68) passou a empreender um esforço maior
para defender efetivamente os interesses dos trabalhadores rurais, minimizando a fama
de pelegos (quando uma instituição está mais para o patronato do que para o
trabalhador), mas não o suficiente para diminuir as críticas. Entre as críticas a
CONTAG (mesmo essa de 68) estão a de não enfatizar as organizações de base, a de
manter uma postura muito legalista (tomar as decisões que podem ser tomadas perante a
Lei apenas) e a de não buscar alianças nos setores mais progressistas. A CONTAG não
exerce uma forte pressão reivindicatória de fato e por isso cai em descrédito com a
população trabalhadora rural. Esse comportamento foi devido a falta de apoio de outros
setores da sociedade durante a época da repressão, daí ficou-se tomando medidas que
evitassem qualquer tipo de repressão pelo governo ditador.
Além das críticas, a CONTAG manteve em alta a luta contra o monopólio de
terras, fazendo isso sob a bandeira da reforma agrária, apesar da luta na prática ser
sempre pelo cumprimento da lei vigente e não por meio de movimentos de classe. A
CONTAG denunciou invasões de terra de posseiros, a cumplicidade do governo com os
grandes proprietários rurais permitindo o avanço deles pela fronteira agrícola,
denunciou o desrespeito aos direitos dos bóias-frias, etc. São feitos vitoriosos que se
contrapõem as críticas. Num balanço geral, entre 68 e 78, a CONTAG poderia ter feito
mais sim, mas apesar disso, manteve alta bandeira da luta dos trabalhadores.
Hoje, como a Lei permite que haja apenas um sindicato para cada classe
trabalhadora por município, há um complicador, pois dentro da classe de trabalhadores
rurais há várias classificações com interesses diferentes, não conseguindo a CONTAG
atender a todos. Com a invasão do capitalismo no campo, as relações de trabalho
mudaram e se tornaram mais complexas, onde o a principal fonte de mão-de-obra é o
assalariamento temporário. Assim, hoje os trabalhadores são divididos em dois lados,
onde um está totalmente separado dos meios de produção e outro assume uma condição
de empregador-empregado, dependendo da época do ano, como já foi falado. Tanto o
grande produtor quanto o pequeno produtor que contrata mão-de-obra assalariada
temporária, pagam um salário muito baixo para o trabalhador. Apesar de que não se
poderia esperar situação contrária, já que o pequeno produtor também se encontra em
uma situação precária, onde para complementar a renda precisa trabalhar como
empregado. Sendo essa a organização do trabalho pelo país, os sindicatos se vêem
brigando por condições esdrúxulas de trabalho, como por exemplo, água potável e
rinchas entre empregados e empregadores-empregados. Muitas vezes, os sindicatos se
tornam juntas de conciliação entre esses tipos de trabalhadores. Percebe-se, então, uma
desordem do sindicalismo, onde precisa-se lutar por causas pequenas que não deveriam
existir, não fosse as mudanças provocadas pelo capitalismo na fonte de trabalho rural e
não fosse a união de duas classes diferentes (empregados e empregadores-empregados)
num mesmo sindicato.
Atualmente, briga-se pela separação em dois sindicatos, um apenas de
trabalhadores assalariados e outro apenas de pequenos produtores, pois os interesses são
diferentes. Quando uma chapa de trabalhadores assalariados venceu em um sindicato
em São Paulo, houve melhora significativa nas condições de trabalho dessas pessoas.
Dessa forma, o sindicato de trabalhadores rurais deve surgir no intuito de reivindicar
seus direitos e não de surgir apenas como um sindicato cujo controle é do governo,
senão seria apenas outra forma de manipulação desses sindicatos pelos grandes
proprietários de terra que se beneficiariam em dividir a classe trabalhadora de base.

Anotação do caderno: Conforme o governo foi deixando de ser repressor e a questão


agrária foi ressurgindo (na ditadura tudo era levado a panos quentes para não gerar
revolta do governo contra a CONTAG), surgiram movimentos sociais que
desacreditavam na CONTAG. Eram organizações livres, não permanentes, que surgiram
em determinado momento porque algum motivo desagradou a classe trabalhadora rural.
A Igraja Católica e a Luterana apoiaram esses movimentos que culminou em 1981-82,
no surgimento do MST no RGS. Embora o MST seja permanente, ainda é considerado,
hoje, como um movimento social amplo, sem relações governamentais. A CONTAG
por descrédito, então, permitiu o surgimento de um movimento social contrário as suas
idéias, apesar de brigar pela mesma classe e no cenário atual, os dois vivem em conflito.

OBS: Sindicato dos trabalhadores da agricultura – trabalhadores (empregado)


Sindicato Rural – Fazendeiro (empregador)

 Dinâmica de Grupo (escravidão moderna e trabalho infantil)

o Trabalho infantil: é classificado por idade.

Até 14 anos – proibido


14 a 16 anos – só como aprendiz, carga horária reduzida (até 4h) e tem que freqüentar
escola
16 a 18 anos – não pode ser empregado convencional, tem que estar na escola
também, menos de 8h de trabalho (não pode atrapalhar a entrada da escola) e não
pode fazer trabalhos insalubres (pesados).
18 a 21 anos – só não é permitido em atividades pesadas como minas subterrâneas

A criança da agricultura familiar não se encaixa na definição de trabalho infantil,


pois não há obrigação, não ocorrendo exploração.
o Escravidão Moderna

Escravidão consiste em uma condição de exploração da força física e/ou mental,


sem fornecimento de condições e direitos mínimos implícitos àquele tipo de trabalho.
As pessoas escravizadas, hoje, são colocadas nessa condição de três maneiras: em
troca de dívidas, tráfico internacional de mão-de-obra e casamento para exploração de
mão-de-obra doméstica.
O trabalho em troca de dívida é uma armadilha criada pelo empregador, onde cria-
se um dívida constante do explorado com o explorador. Ex: o transporte até a
propriedade é cobrado, a moradia é cobrada, as ferramentas utilizadas são cobradas do
explorado e como ele não tem dinheiro para pagar, ele trabalha para conseguir esse
dinheiro, sendo que a dívida inicial já era acima do que ele podia pagar e vai se
acumulando infinitamente. Ou seja, a pessoa fica presa aquele compromisso que firmou
com o explorador, se expondo a uma relação degradante e humilhante de trabalho.

 Assistência Técnica e Segurança Alimentar

o Parte I: Assistência Técnica

Há dois modelos de Assistência Técnica: o fomento e a extensão rural. O


fomento é uma assistência técnica que procura melhorar o que o produtor já produz,
visando aumentar a produção. Não há nenhum caráter revolucionário no fomento. Ao
contrário da Extensão Rural, onde o objetivo é revolucionar a vida daquele produtor.
Esse tipo de assistência tem caráter educativo informal, ou seja, ensina alguma coisa a
algum público-alvo, não necessitando de uma escola para isso. Tem o objetivo de mudar
o comportamento de vida do produtor, onde além de ensinar como aumentar a
produtividade e elevar a produção da sua fazenda, ensina-se a ler e a escrever, a embalar
o produto, a plantar um determinado gênero vegetal, a importância da escola para as
crianças, etc. Além disso, o trabalho de extensão é um trabalho em equipe onde esta é
multigênero (mulheres e homens) e multiprofissional (veterinários, agrônomos,
biólogos, advogados, etc). Todo técnico de campo que estiver comprometido com
mudanças é um extensionista. O trabalho dele favorece o desenvolvimento de uma
classe rural. Já o fomentista não tem o interesse em revolucionar a vida do seu público e
apenas tem interesse em melhorar fisicamente a produção.

o Parte II: Segurança Alimentar X Segurança dos Alimentos

A agricultura gera alimentos para uma população e quando pensamos em


alimentos, pensamos em fome. Muitas vezes a plantação de algum gênero, como a cana-
de-açúcar, gera não só alimentos como outros produtos não alimentícios, como
exemplo, o álcool. Isto representa um gasto com terras que poderiam ser utilizadas para
produção de alimentos para a população.
Segundo a FAO, mesmo com a utilização dessas terras para a produção de soja,
álcool e outros produtos não utilizados diretamente na alimentação humana, há comida
suficiente no planeta para alimentar todos os seus habitantes. O que ocorre é que a renda
mal distribuída diminui a capacidade desses habitantes de comprar alimento, gerando,
então, a fome. Há dois tipos de fome: por questões conjunturais e por questões
estruturais. Questões conjunturais são aquelas impostas ou por catástrofes naturais ou
em situações de guerra, onde o país fica destruído e tem que se recuperar para poder
atender as necessidades da sua população. Já as questões estruturais são aquelas onde a
população não tem renda por má distribuição do governo e a população não consegue
comprar comida. O Brasil, primeiro exportador de soja, carne bovina e de frango e
quarto exportador de carne suína, tem 10 milhões de pessoas passando fome.
Desde a década de 40, o termo segurança alimentar é utilizado. Nessa época o
conceito era: cada país tem que produzir quantidade suficiente de alimentos para
abastecer sua população. Hoje, a preocupação é maior com a população em si e não com
a quantidade produzida de alimentos porque como já foi dito, tem-se comida para todos.
Hoje o conceito se Segurança Alimentar é: direito de toda a população ter acesso a
alimentos que proporcionem ao indivíduo a quantidade adequada de calorias diárias
(2000 kcal/dia) e acesso a alimentos de qualidade, visto que as DTA’s (Doenças
Transmitidas por Alimentos) são casos graves e de saúde pública que acometem
milhões de brasileiros. Alimentos de qualidade são os inócuos e não são os que chegam
a todos os habitantes. Quando falamos de alimentos de qualidade falamos de segurança
dos alimentos.
A diferença entre os termos é que Segurança Alimentar é uma expressão utilizada
no campo do Direito, garantindo tudo o que foi descrito no conceito. Já Segurança dos
Alimentos é um termo técnico utilizado na área da saúde designando o que de fato é o
alimento de qualidade que toda a população deve ter acesso. Segurança alimentar
depende da Segurança dos Alimentos para cumprir o seu significado, enquanto a
Segurança dos Alimentos pode ocorrer independente da Segurança Alimentar.
Vale lembrar que o brasileiro muitas vezes confunde os termos em inglês e acaba
por ter interpretações errôneas sobre as políticas públicas empregadas em outros países,
como EUA. Segurança Alimentar é Food Security, enquanto que Segurança dos
alimentos é Food Safe.
A Soberania Alimentar é um termo cujo conceito garante que ocorra a Segurança
Alimentar. Esse termo está em contramão a OMC (Organização Mundial do Comércio)
que defende a idéia de que os países podem padronizar sua produção (por exemplo,
Brasil produzir só soja) e com o lucro da venda do produto final comprar os outros
produtos básicos para a população. No entanto, se houver uma inflação e os produtos
encarecerem demais, como proceder diante da falta de dinheiro para adquirir tais
alimentos? A Soberania Alimentar, então, garante a Segurança Alimentar, pois defende
a capacidade que um determinado governo tem de produzir os alimentos básicos para a
sua população. Sendo assim, garante que os habitantes não passem por nenhum tipo de
fome: fome por falta de alimentos (total falta de alimento), subnutrição (alimentos de
má qualidade ou de baixa caloria) e obesidade (alimentos de má qualidade nutricional).

 Última aula: Reforma Agrária

Como conclusão de todo os curso, vimos que a modernização aumentou a


produtividade, sem mexer na estrutura fundiária e nas suas diferenças sociais. Ou seja,
resolveu-se a questão agrícola e não a agrária. Como para todo o problema há uma
solução, a solução para essa problemática que o Brasil se encontra seria a Reforma
Agrária.
Reforma Agrária, no Brasil, se torna complicado porque terra é sinônimo de poder
e riqueza, desde o período colonial. Terra é o único bem que não deteriora e o seu
acúmulo significa acúmulo de riqueza, porque a tendência é sempre da valorização.
Bens-de-capital deterioram e demoram a retornar o lucro, enquanto a terra sempre gera
lucro, mesmo sem ocorrer a sua utilização.
A Reforma Agrária aparece pela primeira vez na Constituição de 46, final da
ditadura Vargas e começo de uma nova democracia. Aparece em um artigo, mas a sua
efetivação é inviável porque o governo deve desapropriar e com isso tem-se que
indenizar e se o governo não tiver dinheiro não há como fazer reforma agrária, até
porque a situação econômica brasileira era precária. Em 64, no governo Castelo
Branco, surge o Estatuto da Terra. Dentro deste, existe um modelo de Reforma Agrária,
mas novamente nada ocorreu. Esse assunto sempre surge com grande importância em
diferentes épocas históricas, porém nunca é resolvido de fato. Quando a ditadura acaba,
surge a Constituição de 88, onde a discussão ressurge com força. A população pré-
modernização é rural e agora, ela é urbana. A sociedade urbana é muito mais sensível a
essas questões. Na Assembléia Constituinte de 88, o MST teve um grande papel,
brigando pelos problemas rurais e sensibilizando essa sociedade urbana. As pessoas
passaram a se importar com as condições em que o povo rural vivia. Surge, também, a
UDR (União Democrática Ruralista), movimento social liderado pelo Ronaldo Caiado,
que fez pressão durante essa Assembléia sobre o assunto Reforma Agrária. A Reforma
Agrária ganhou, então, um capítulo na Constituição de 88 (em 46 era só um artigo).
Apesar de todo esse esforço, nenhum artigo era auto-aplicável pois dependia de
legislações, ou seja, as leis que pertenciam a esse capítulo não eram ordinárias (efetivas,
valiam de nada).
Para que essa política seja efetiva, a divisão de terras que significa uma divisão de
riqueza, daí a sua complexidade, precisa ser bem organizada. Devem existir duas pré-
condições para ocorrer Reforma Agrária:
a) Terra: deve ter terra livre (sobrando), seja devoluta (pertencente ao Estado) ou terra
subutilizada, onde o governo pode tomá-la. O Estado tem poder jurídico para tomar
qualquer terra (desapropriação ou confisco). Num regime democrático, ocorre
desapropriação que é feita mediante indenização. Em situações de revolução, ocorre
o confisco, que é a tomada da terra sem a necessidade de indenizar.
b) Gente sem terra: é o problema que faz o assunto Reforma Agrária existir. Se não
fosse esse problema, não haveria porque discutir a redistribuição de terra.

O conceito de função social da terra, que não é incorporado pela lei brasileira,
deixa explícito que terra é para ser usada e não para ficar parada, pois terra é emprego e
se tem terra parada, há desemprego. A reforma agrária é apresentada como solução
significando um projeto social de mudança da sociedade, já que ela prega a distribuição
de renda e poder.
A Reforma Agrária tem que ser bem definida e planejada para ser válida. Que
terras podem ser desapropriáveis? Há duas classificações de terras em vigor: a do
Estatuto da Terra e a lei agrícola de 93 (mais utilizada hoje em dia). O Estatuto da Terra
cria uma unidade de medida que é o módulo rural (menor quantidade de terra necessária
para a produção gerar renda naquela área). A lei agrícola de 93 chama módulo rural de
módulo fiscal, mantendo o significado. O tamanho do módulo rural não define tamanho,
variando conforme a região. No Sudeste valia 50 ha. O módulo fiscal define o tamanho
por município (por cidade), onde há uma diminuição do tamanho do módulo, já que
releva a cidade e não o estado todo. O Estatuto da Terra cria, então, 4 tipos de fazenda
no país inteiro, baseado no módulo rural:
- minifúndio: pequena propriedade com área inferior a 50 ha, ou seja, um módulo rural.
Se segundo a definição um módulo é o viável para gerar renda, o minifúndio não é terra
suficiente para garantir a renda de uma família. Economicamente inviável.
- empresa rural: até 600x o módulo rural e produz 70% da sua área agricultável
(utilizada para plantação e pecuária, com exceção de área construída, reservas, rios, etc).
Propriedade padrão. Excluída de uma intervenção de Reforma Agrária porque sua
definição é perfeita (padrão).
- latifúndio por extensão: grande propriedade de terra que extrapola 600x o módulo
rural. Não importa o que ou quanto ele produza, o governo pode utilizá-la para Reforma
Agrária.
- latifúndio por exploração: grande propriedade de terra que extrapola 600x o módulo
rural e se produz menos de 70% da área agricultável. Área sujeita a Reforma Agrária.

A lei de 93, pelo módulo fiscal, tem 3 classificações:


- pequena propriedade: até 4x o módulo fiscal.
- média propriedade: até 100x o módulo fiscal.
- grande propriedade: acima de 100.

Desta forma, defini-se que propriedades podem ser desapropriadas. Agora, deve-
se pensar em como será essa desapropriação. A forma de indenização: pelo valor de
mercado ou pelo valor declarado. A forma de pagamento: em espécie ou em títulos
públicos.
O último critério é a quem beneficiar com a reforma agrária. Pode ser um ex-
empregado, moradores próximos, mas trazer gente de fora é a última opção, tendo em
vista o respeito pelos laços familiares. Por exemplo, dar terra para alguém de
Sumidouro no Acre. Como entregar a terra, a forma de pagamento e a forma legal da
terra também são critérios a serem definidos. É proibido comercializar terras de reforma
agrária, apesar de que no Brasil muito se faz.
A seriedade do projeto de Reforma depende também do que o governo vai
proporcionar ao beneficiado depois, como exemplo, assistência técnica.

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