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Ao redor de todo o mundo, já foram reforçadas Os PRFC são os mais apropriados para o reforço
com êxito várias estruturas de concreto, incluindo de vigas de concreto armado por causa das
pontes, por meio da aplicação da técnica de colagem propriedades que se seguem: (Figura 3): o alto
exterior de chapas metálicas. Segundo Ripper desempenho mecânico das fibras de carbono;
(1998), o sucesso desta técnica de reforço de resistência à corrosão (o carbono é inerte); leveza
estruturas de concreto armado levou, no início da (peso específico da ordem de 1,8 kN/m3); alta
década de 90, um conjunto de pesquisadores, dentre resistência à tração e grande rigidez.
os quais se destaca Urs Méier, do EMPA, de
Zurique, a se dedicar à investigação de alternativas 5.000
iii
ao aço, particularmente, através do recurso de
materiais mais leves e mais duráveis. A evolução na
vigas reforçadas atinjam modos de ruína clássicos, desprendimento da manta de fibra de carbono da
que são facilmente previsíveis e controláveis, face inferior tracionada das vigas.
impedindo a ocorrência de situações como a de O grupo de vigas número 3, composto por duas
desprendimento do reforço. vigas designadas VR3 e VR4, foram reforçadas à
Os modos de ruína prematuros em vigas flexão semelhantemente às vigas do grupo 2, porém
reforçadas com PRFC devem ser evitados, pois diferenciadas pela adoção de um mecanismo de
antecipam a ruína da viga reforçada através do incremento de ancoragem. Esse mecanismo, para as
desprendimento do reforço. Porém, como evitá-los vigas desse grupo, consistiu de uma manta de fibra
com segurança, ainda é um problema que deve ser de carbono colada em cada uma das extremidades do
resolvido com intensa pesquisa nesta área. reforço, transversalmente ao eixo longitudinal da
viga e sobre a manta de reforço, com um
Programa experimental e caracterização dos comprimento igual à largura da viga (Figura 5). Esse
materiais mecanismo, bem como os mecanismos idealizados
para as vigas dos demais grupos, através de forças de
Vigas do programa experimental e aplicação
compressão transversais ao reforço, têm como
do reforço
finalidade aumentar a aderência do reforço ao
Foram moldadas nove vigas de concreto armado
substrato de concreto, evitando o seu
com seção transversal retangular de 150x200 mm e
desprendimento, durante a solicitação da viga.
comprimento total de 1800 mm, correspondendo a
um vão livre de 1650 mm. Essas vigas foram
Seção longitudinal
igualmente armadas à flexão e ao cisalhamento,
tendo como armadura longitudinal inferior duas
barras de aço CA 50, com 8 mm de diâmetro, perfil metálico
Seção transversal
625 550 625
correspondendo a uma taxa de armadura de 0,34%.
A armadura superior foi composta por dois fios de VR1/VR2
Viga de concreto armado
aço CA 60, com 6,0 mm de diâmetro. A armadura manta de fibra de carbono 120
15 15
transversal consistiu de estribos de aço CA 60 com
6,0 mm de diâmetro, espaçados de 80 mm. A Tabela 150 1500 150
grupos.
Figura 4. Disposição da manta de PRFC nas vigas VR1 e VR2
(grupo 2)
Tabela 1. Especificação das vigas do programa experimental
120
acrescentando-se sobre estas uma chapa de aço- A Figura 8 mostra em detalhe os mecanismos de
carbono fixada por parafusos auto-fixantes, com o incremento de ancoragem do reforço, utilizados nos
objetivo de exercer uma compressão transversal ao grupos de vigas 3, 4 e 5.
reforço para evitar o seu desprendimento, conforme
mostra a Figura 6.
As vigas do grupo 5, designadas por VR7 e VR8,
possuem o sistema de reforço idêntico às vigas do
grupo 2, porém nesse grupo as vigas receberam um
mecanismo de incremento de ancoragem,
constituído por laços de manta de fibra de carbono,
na forma de “U”, localizados próximos das duas
extremidades de cada peça, e na mesma posição dos
mecanismos idealizados para as vigas dos grupos 3 e
4, conforme mostra a Figura 7.
Seção longitudinal
perfil metálico
120
15
150 130 120 reforço ao substrato de concreto das vigas podem ser
Parafuso
agrupados nas duas etapas seguintes:
Detalhes
Posição dos parafusos na chapa 150 seção transversal
80 40
Preparação do substrato de concreto
30
Chapa
200
90
30
OBS: medidas em mm
parafuso do tipo auto-fixante (parabolt)
diâmetro: 3/8"
exposição dos agregados. Este desgaste do substrato
comprimento: 60 mm
foi executado com um disco de lixa grossa acoplado
Figura 6. Disposição da manta de PRFC nas vigas VR5 e VR6 (grupo 4) a uma esmerilhadeira (Figura 9). Em seguida, para
retirada de toda poeira e resíduos acumulados sobre
o substrato de concreto, utilizou-se uma escova com
Seção longitudinal
cerdas de plástico.
perfil metálico Colagem do reforço
Seção transversal Realizada a preparação e retirada de poeira do
VR7/VR8
Viga de concreto armado substrato de concreto, aplicou-se um “primer” com o
200
100
100
120
Figura 12. Posicionamento dos relógios comparadores e esquema A resistência à tração última da manta de fibra de
estático de carregamento carbono foi obtida através de ensaio de tração em
corpos de prova convenientemente preparados,
Caracterização dos materiais adotando-se as recomendações da ISO 527-5 (1997)
Concreto e dando-se, também, especial atenção à execução de
O concreto foi misturado mecanicamente por um reforço nas extremidades dos corpos de prova
entre uma betoneira elétrica com capacidade de 120 para se evitar o contato direto da manta com as
litros, suficiente para a moldagem de uma viga e de garras da prensa, conforme ilustra a Figura 13.
três corpos de prova cilíndricos de concreto por
betonada. Foram utilizados agregados miúdos (com Vista superior do corpo de prova
massa específica de 26,0 kN/m3 e dimensão máxima
250
50 150 50
Cargas em kN
manta de PRFC por tração excessiva, conforme +66%
80 +66% 78
74
72
70 66
64 65
62
60
60
50
40 38
30
20
10
45
40
97% para as vigas reforçadas com adição de 35
4 e 5 respectivamente. 20
15
A Tabela 3 apresenta os valores das cargas de 10
5
ruína experimentais para cada viga e seus modos de 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
ruína, além das diferenças entre resultados teóricos e Deslocamento vertical no meio do vão (mm)
VRE VR1 VR2 VR3 VR4 VR5
experimentais. VR6 VR7 VR8
A Figura 16 apresenta a evolução dos
deslocamentos verticais máximos registrados Figura 16. Curvas experimentais carga versus deslocamento na
através dos relógios comparadores fixados na seção central das vigas
seção central de cada viga ensaiada. Nessa figura
A adição da manta de fibra de carbono provoca respectivamente, em 1,17; 1,14 e 1,24 vezes à
um aumento da capacidade resistente à flexão e da carga de ruína das vigas do grupo 2;
ductilidade das vigas reforçadas em relação à de - Os resultados experimentais mostraram que é
referência (viga sem reforço). O reforço divide as possível romper por tração o reforço à flexão
tensões de tração com as barras de aço, reduzindo com manta de fibra de carbono, desde que se
as deformações da armadura. Por meio de evite o seu desprendimento por meio de
comparação do comportamento da viga de adição de mecanismos de incremento de
referência com a viga reforçada VR7, pode-se ancoragem;
observar na figura 17 que a plastificação do aço na - Dos três mecanismos de incremento de
viga de referência ocorre a um nível de carga ancoragem propostos, dois possibilitaram que
(aproximadamente 33 kN) próximo de sua ruína toda a capacidade resistente do reforço fosse
(38 kN), muito diferente da viga reforçada, VR7, alcançada, evitando o surgimento do
onde a plastificação do aço ocorre a um nível de desprendimento prematuro do mesmo, e
carga (aproximadamente 50 kN), 44% inferior à provocando a ruptura da manta de fibra de
sua carga de ruína (72 kN). carbono;
- O mecanismo de incremento de ancoragem
idealizado para a viga VR3 (manta de fibra de
72
68 ruptura carbono apenas na face inferior da viga) não
64 do
60
56
reforço foi suficiente para evitar o desprendimento do
52
48 plastificação do aço
reforço. Na outra viga do mesmo grupo, viga
44 VR7 VR4, o mecanismo, semelhante ao da viga
Carga (kN)
40 VRE
36
32
fissuras com grandes aberturas
VR3, evitou o desprendimento da manta
plastificação do aço
28
24
provocando a sua ruptura. Diante do
20
16
comportamento distinto das vigas VR3 e
início fissuração
12
8
VR4, não se pôde avaliar a eficiência do
4
mecanismo de incremento de ancoragem
0
idealizado para estas vigas;
2 4 6 8 10 12 14 16 18
Deslocamento vertical no meio do tramo (mm)
- O modo de ruína caracterizado pelo
Figura 17. Vigas VRE e VR7: comparação carga versus desprendimento da manta de fibra de carbono
deslocamento vertical no meio do tramo do substrato de concreto, observado neste
trabalho experimental, iniciou-se em todos os
casos (vigas VR1, VR2 e VR3) a partir de uma
Conclusões de suas extremidades. Esse desprendimento
- O excelente desempenho do reforço ocorre de forma rápida e é apenas precedido
estrutural com manta de fibra de carbono foi por pequenos estalos.
verificado por meio de aumentos
significativos na capacidade última de carga, Referências
no incremento de rigidez e na ductilidade das ACI-AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. State-of-
vigas reforçadas à flexão; the-art report on fiber reinforced plastic reinforcement for
- As vigas reforçadas, sem adição de concrete structures - ACI 440R-96, Detroit, Michigan,
mecanismo de incremento de ancoragem EUA, 1996.
(vigas VR1 e VR2), apresentaram modos de ACI-AMERICAN CONCRETE INSTITUTE . Guide
ruína caracterizados pelo desprendimento da for the design and construction of externally bonded
manta de fibra de carbono do substrato de systems for strengthening concrete structures - ACI 440,
concreto; 2000.
- As vigas reforçadas com adição de mecanismo ABNT-ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
de incremento de ancoragem, com exceção da TÉCNICAS. Materiais metálicos - Determinação das
viga VR3, apresentaram modos de ruína propriedades mecânicas à tração, NBR 6152/92. Rio de
Janeiro, 1992.
caracterizados pela ruptura da manta de fibra
ISO-INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR
de carbono;
STANDARDIZATION. Plastics - Determination of
- Com a adição de mecanismo de incremento tensile properties - Part 5: Test conditions for
de ancoragem, a carga de ruína das vigas VR4, unidirectional fibre-reinforced plastic composites. ISO
VR7 e VR8 foi incrementada, 527-5, 1997.
RIPPER, T. Plásticos armados com fibras como solução Received on September 13, 2002.
para o reforço de estruturas. Belo Horizonte: Apostila, Accepted on November 05, 2002.
1998.