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MARIANA ESPOSITO
BIOÉTICA
CAPÍTULO 3. SAÚDE E PESQUISA CIENTÍFICA
OBJETIVO
• Compreender o surgimento do SUS como direito Constitucional e da sua
importância;
• Contextualizar o surgimento da ética em pesquisas humanas e a
formação do comitê de ética.
SUMÁRIO
1 Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua
regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física
ou jurídica de direito privado. Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem
um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III -
participação da comunidade.
§ 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. § 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente,
em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre
I - no caso da União, a receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro, não podendo ser inferior a 15% (quinze por cento
II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os
arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios
III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam
os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º.
§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá
I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do § 2º;
II - os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados
destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais;
III - as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital
§ 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio
de processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua atuação
§ 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação
das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência
financeira complementar aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial
§ 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às
de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos
específicos, fixados em lei, para o seu exercício.
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante
contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.
§ 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos.
§ 3º É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos
em lei. § 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de
transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo
de comercialização.
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos,
equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;
V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação;
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; VII -
participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
Figura 1. Plenário da ONU no dia 10 de dezembro de 1948 (Fonte: Agência
Senado).
A Lei Orgânica da Saúde (Lei n° 8.080/90)2, por outro lado, apresenta uma
leitura que engloba ainda no conceito de saúde um conjunto de ações
públicas que assegurem uma vida digna e a autonomia dos sujeitos
beneficiários. Por isso mesmo, fala-se em medidas de saúde preventiva e
medidas de saúde
2 TÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos
de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para
a sua promoção, proteção e recuperação.
§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade.
Art. 3o Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre
outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o
lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais.
Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força docondições de bem-estar físico, mental e social. disposto no
artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade
Uma discussão importante, levantada por Marcos Gouvêa, fica por conta de
saber se há um direito subjetivo ao recebimento de medicamentos por parte
do Estado. O autor observa que a partir da década de 1990, foi se tornando
cada vez mais comum o ajuizamento de ações perante o Judiciário
invocando o direito ao recebimento de medicamento por parte do Poder
Público - principalmente no caso de pacientes com AIDS, câncer, cirrose,
doenças renais, etc. Num primeiro momento, essas ações estavam fundadas,
principalmente, no art. 196 da Constituição de 1988; após pressões político-
sociais, foi publicada a Lei n° 9.313, dispondo sobre a "distribuição gratuita de
medicamentos aos portadores do HIV e doentes de AIDS". Os recursos para
tais medicamentos viriam dos respectivos orçamentos da União, dos Estados e
dos Municípios, a serem regulamentados (FERNANDES, 2017).
Outra questão importante sobre o tema (do direito social à saúde), envolve a
discussão sobre o intitulado atendimento de urgência na rede hospitalar.
Certo é que, a recente Lei n° 12.653 de 28.05.2012, tipificou o crime de
condicionar atendimento médico-hospitalar emergencial a qualquer tipo
garantia. Nesses termos, conforme o recém-criado art. 135-A do Código Penal,
é crime exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem
como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição
para o atendimento médico-hospitalar emergencial. A pena será de
detenção, de 3 (três) meses a l (um) ano, e multa. A pena é aumentada até o
dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza
grave, e até o triplo se resulta a morte. Temos ainda, que, o estabelecimento
de saúde que realize atendimento médico-hospitalar emergencial, a partir da
nova Lei, ora em comento, fica obrigado a afixar, em local visível, cartaz ou
equivalente, com a seguinte informação: "Constitui crime a exigência de
cheque-caução, de nota promissória ou de qualquer garantia, bem como do
preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o
atendimento médicohospitalar emergencial, nos termos do art. 135-A do
Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Fernandes,
2017).
Pesquisa científica e Comitê de ética
O que foi dito até aqui não se contradiz com o surgimento visível e explícito de
uma preocupação ética com a pesquisa envolvendo seres humanos a partir
dos julgamentos de Nurembergue. Nessa ocasião, foram julgados criminosos
da Segunda Guerra Mundial, entre os quais se encontravam alguns médicos
que tinham protagonizado ou participado de torturas disfarçadas de
pesquisa. Hans-Martin Sass (1983 apud KOTTOW, 2008) apresenta situações
ainda anteriores à guerra, como a de uma circular emitida pelo Ministério da
Saúde alemão em 1931, um documento que regulamentava, de forma muito
ávida e contemporânea, as “novas terapias e experimentação humana”,
abordando a vontade do participante, a diferença entre ensaios terapêuticos
e não-terapêuticos e a responsabilidade do médico como pesquisador e
como terapeuta. O esquecimento cultural e legal no qual recaiu essa norma
do Terceiro Reich contrasta penosamente com outra publicação da época,
que introduziu com sucesso o conceito de “vidas indignas de serem vividas” e
o tornou a base do genocídio, dos campos de concentração e das torturas
médicas que caracterizaram esse período (BINDING et al. 1920 apud KOTTOW,
2008).
Figura 4. Julgamento de Nurembergue. À frente, de cima para baixo:
Hermann Göring, Rudolf Heß, Joachim von Ribbentrop, Wilhelm Keitel. Atrás,
de cima para baixo: Karl Dönitz, Erich Raeder, Baldur von Schirach, Fritz
Sauckel (Fonte: Work of the United States Government - Esta mídia está
disponível no acervo do
1
https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/1988/Reso01.doc
2
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/1996/res0196_10_10_1996.html
Os CEPs terão sempre caráter multi e transdisciplinar, não devendo haver mais
que metade de seus membros pertencentes à mesma categoria profissional,
participando pessoas dos dois sexos. Sua constituição deverá incluir a
participação de profissionais da área de saúde, das ciências exatas, sociais e
humanas, incluindo, por exemplo, juristas, teólogos, sociólogos, filósofos,
bioeticistas e, pelo menos, um membro da sociedade representando os
usuários da instituição. É importante ressaltar que é assegurado aos CEPs
independência na tomada de decisões e que seus membros não podem
sofrer qualquer tipo de pressão por parte dos superiores hierárquicos. Todas as
pesquisas em seres humanos, no Brasil, deverão ser submetidas à apreciação
de um Comitê de Ética em Pesquisa (ALVES; TUBINO, 2006).
Referências
ALVES, Elaine; TUBINO, Paulo. Ética na pesquisa em seres humanos. Rev Med
Fameplac, v. 1, p. 25-36, 2006.
Material de apoio
https://www.youtube.com/watch?v=zZAHdF0fNps
https://www.youtube.com/watch?v=qDYdc_7eHRQ
https://www.youtube.com/watch?v=nw2nGxJpVDg
https://www.youtube.com/watch?v=uApu0Eg1brY
https://www.youtube.com/watch?v=jgnzObbfy-c
https://www.youtube.com/watch?v=1DeW04it9xU
L8080. -
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm#:~:text=L8080&text=LEI%20
N%C2%BA%208.080%2C%20DE%2019%20DE%20SETEMBRO%20DE%201
990.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20as%20condi%C3%A7%C3%B5es%20
para,correspondentes%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias
CF 88 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm