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NOTÍCIA E CRÔNICA
9º ANO – ENSINO FUNDAMENTAL II – 2023 11
Professora: Rosandra Sêda
Leia a notícia abaixo.
Morador de rua monta “casa” em cima de ponto de ônibus na Av. Carandaí
Dormindo no ponto. Não passa pela cabeça de pedestres que transitam pela Avenida Carandaí que
um ponto de ônibus, no passeio ao lado da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, esteja servindo de
residência para um morador de rua, no mínimo, criativo. A estrutura de concreto pré-moldado, que exibe a
logomarca de uma empresa já extinta, serve ainda de garagem para o carrinho de compras do novo morador,
que, segundo pessoas da região, se instalou no local há cerca de um mês. A vizinhança afirma ainda que o
inusitado inquilino é pessoa honesta e que, à noite, do alto do ponto, vigia a praça de possíveis ataques de
ladrões.
SANTOS, Túlio. Estado de Minas, 24 ago. 2015. Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/08/24/interna_gerais,681222/morador-de-rua-monta-casa-em-cima-de-ponto-de-
onibus-na-av-carandai.shtml. Acesso em: 05 maio 2023.
1) O autor da notícia iniciou o texto com a expressão “Dormindo no ponto”. Baseado em seus
conhecimentos de mundo, responda: o morador relatado na notícia está dormindo no ponto?
Justifique sua resposta.
Ao ler notícias como a anterior, podemos parar e pensar: o que leva uma pessoa a viver em condições
tão precárias quanto as descritas pelo repórter? Quem são as pessoas que vivem em situação de rua?
Alguns poderiam concluir que essas pessoas chegaram a esse ponto porque não batalharam ou
porque não são persistentes. Há alguns que vão mais longe e acreditam que esses cidadãos podem
apresentar uma falha de caráter ou coisa do tipo.
Com base em raciocínios semelhantes a esses, o cronista Paulo Mendes Campos decidiu criar um
texto cheio de ironia para analisar a questão dos moradores de rua e das pessoas que passam por eles
dando esmolas.
Veja o enfoque dado no texto e tente perceber como a situação provoca no leitor uma reflexão sobre
a vida do protagonista.
MENDIGO
Paulo Mendes Campos
Eu estava diante de uma banca de jornais na Avenida, quando a mão do mendigo se estendeu. Dei-
lhe uma nota tão suja e tão amassada quanto ele. Guardou-a no bolso, agradeceu com um seco obrigado e
começou a ler as manchetes dos vespertinos. Depois me disse:
— Não acredito um pingo em jornalistas. São muito mentirosos. Mas tá certo: mentem para ganhar
a vida. O importante é o homem ganhar a vida, o resto é besteira.
Calou-se e continuou a ler as notícias eleitorais:
— O Brasil ainda não teve um governo que prestasse. Nem rei, nem presidente. Tudo uma cambada
só.
Reconheceu algumas qualidades nessa ou naquela figura (aliás, com invulgar pertinência para um
mendigo), mas isso, a seu ver, não queria dizer nada:
— O problema é o fundo da coisa: o caso é que o homem não presta. Ora, se o homem não presta,
todos os futuros presidentes serão ruínas. A natureza humana é que é de barro ordinário. Meu pai, por
exemplo, foi um homem bastante bom. Mas não deu certo ser bom durante muito tempo: então ele virou
ruim.
Suspeitando de que eu não estivesse convencido da sua teoria, passou a demonstrar para mim que
também ele era um sujeito ordinário como os outros:
— O senhor não vê? Estou aqui pedindo esmola, quando poderia estar trabalhando. Eu não tenho
defeito físico nenhum e até que não posso me queixar da saúde.
Tirei do bolso uma nota de cinquenta e lhe ofereci pela sua franqueza.
— Muito obrigado, moço, mas não vá pensar que eu vou tirar o senhor da minha teoria. Vai me
desculpar, mas o senhor também no fundo é igualzinho aos outros. Aliás, quer saber de uma coisa? Houve
um homem de fato bom. Chamava-se Jesus Cristo. Mas o senhor viu o que fizeram com ele?
CAMPOS, Paulo Mendes. Para gostar de ler. v. 2. São Paulo: Ática, 1978.
3) O cotidiano é a matéria-prima da crônica: o fato corriqueiro é pinçado da realidade e iluminado pelo olhar
do cronista. Justifique essa afirmação com elementos do texto.
A) evidencia, por meio da fala do mendigo que usa a si mesmo como exemplo de sujeito ruim, uma
contradição de raciocínio.
B) tem a intenção de levar o leitor a refletir sobre a relação do homem com as atividades que trazem
qualidade de vida.
C) aborda um momento na vida do mendigo, leitor de jornais, que se posiciona em relação às manchetes
políticas atuais.
D) contrasta características inerentes aos políticos com as peculiaridades dos demais cidadãos do nosso
país.
5) As frases “Não acredito um pingo em jornalistas.” e “São muito mentirosos.” guardam implícitas uma
relação de sentido de causa/consequência. Reescrevendo-as em um único período e conservando esse
sentido, teremos:
6) Assinale a alternativa que apresenta a mesma ideia contida neste trecho: “Meu pai, por exemplo, foi um
homem bastante bom. Mas não deu certo ser bom durante muito tempo: então ele virou ruim.”
7) “Dei-lhe uma nota tão suja e tão amassada quanto ele. Guardou-a no bolso, agradeceu com um seco
obrigado e começou a ler as manchetes dos vespertinos”.
8) “O Brasil ainda não teve um governo que prestasse. Nem rei, nem presidente. Tudo uma cambada só.”
Nesse momento, o mendigo ainda comenta as manchetes do jornal. É um comentário contundente, e essa
contundência revela-se na estrutura da frase utilizada por ele, típica da linguagem oral. Comente as
características dessa linguagem nesse trecho.
9) Leia atentamente o quinto e o sexto parágrafos do texto e transcreva um trecho que constitui claramente
um comentário do cronista. Em seguida, explique o que ele quer dizer com esse comentário.
10) A que o mendigo faz referência ao usar a expressão “barro ordinário” para definir a natureza humana?
13) Explique com que finalidade o mendigo usa este questionamento: “Mas o senhor viu o que fizeram com
ele?”.
14) Infelizmente é muito comum vermos mendigos perambulando pelas ruas das grandes cidades de nosso
país. Na sua opinião, quais são as razões para haver tantos mendigos?