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δS = 0, (2.1)
onde o símbolo δ representa a variação funcional, e S é uma função que descreve à ação.
O objetivo deste capítulo é o de introduzir os fundamentos desta ferramenta matemática,
conhecida como cálculo das variações, necessária para formular o princípio de Hamilton. É
importante mencionar que todas as leis fundamentais da física podem ser escritas em termos
deste princípio, desde a relatividade e eletromagnetismo, até o modelo padrão de partículas
elementares.
Exemplo 2.1.1: Consideremos dois pontos (x1 , y1 ) e (x2 , y2 ) num plano, e uma curva y(x)
que conecta esses dois pontos. O comprimento de arco infinitesimal é dado por
r dy 2
(2.3)
p
ds = (dx)2 + (dy)2 = 1 + dx.
dx
Logo, o comprimento da curva desde x1 até x2 é
Z x2 p
s[y] = 1 + (y ′ (x))2 dx, (2.4)
x1
onde y ′ (x) ≡ dx
dy
. Dizemos então que o comprimento s é um funcional de y(x), i.e a cada
função diferenciável y(x) ∈ C ∞ (R), lhe associa um número s[y].
–7–
Figura 1: Curva passando pelos pontos x1 e x2
Neste caso, a área sob a curva A é um funcional que a cada função contínua y(x) lhe associa
um número A[y].
Podemos notar nos dois exemplos anteriores que os funcionais são definidos a través de
uma integral. Essa não é uma propriedade inerente a todo funcional, mas veremos que essa
classe particular de funcionais serão importantes para a formulação do princípio de Hamilton.
Em diante, consideraremos funcionais integrais da forma,
Z x2
F [y] = f (y(x), y ′ (x), x)dx, (2.6)
x1
onde f : R3 −→ R, é uma função determinada para cada sistema em estudo. A ideia do cálculo
variacional será o de encontrar entre todas as curvas continuamente diferenciáveis C ∞ (R) que
passam pelos pontos (x1 , y1 ) e (x2 , y2 ), aquela que minimiza (ou extremiza) o funcional F [y].
Equação de Euler
Vamos supor que existe uma solução y(x) que extremiza o funcional F , e consideremoms uma
outra curva infinitesimalmente próxima, i.e
onde δy(x) representa um acréscimo infinitesimal de y no ponto x. Esta variação não deve ser
confundida com o diferencial dy, pois nesse caso está implicíto também uma variação dx.
–8–
Figura 2: Variação δy(x) de uma curva y(x).
A variaçao δy(x) pode ser entendida como uma variação de ponto fixo (ver Figura 2). Consi-
deremos dois pontos fixo x1 e x2 , i.e
d dy
ȳ ′ (x) − y ′ (x) = δy ′ (x) ←→ δy = δ . (2.10)
dx dx
Logo, dizemos que o operador diferencial comuta com o operador variacional (de ponto fixo).
Agora, consideremos a variação do funcional (2.6),
–9–
Integrando por partes o segundo termo, obtemos
Z x2 Z x2 Z x2
∂f d d ∂f d ∂f
(δy)dx = δy dx − (δy)dx
x1 ∂y ′ dx x1 dx ∂y ′ x1 dx ∂y ′
x 2 Z x 2
∂f d ∂f
= (δy) − (δy)dx. (2.13)
∂y ′ x1 x1 dx ∂y ′
Podemos ver que o primeiro termo da eq. (2.13) se anula pela condição de extremos fixos
(2.8). Logo, obtemos
Z x2
∂f d ∂f
δF = − (δy) dx. (2.14)
x1 ∂y dx ∂y ′
Logo, uma condição necessária para um extremo do funcional F [y] é que sea variação δF seja
nula para qualquer variação δy arbitrária (com extremos fixos), i.e
Z x2
∂f d ∂f
δF = 0 −→ − (δy) = 0. (2.15)
x1 ∂y dx ∂y ′
Em geral, as curvas y(x) que satisfazem esta condição são chamadas de extremantes ou esta-
cionárias. Finalmente, usando o Lema fundamental do cálculo de variações, i.e
para qualquer função η(x), com η(x1 ) = η(x2 ) = 0, então G(x) = 0 em [x1 , x2 ] .
Exemplo 2.1.3 (Geodésicas da esfera) Uma geodésica é uma curva com a menor distância
entre dois pontos dados. Consideremos o comprimento de arco elementar nas coordenadas
esféricas (r, θ, ϕ),
x = r sin θ cos ϕ
y = r sin θ sin ϕ −→ ds2 = dr2 + r2 dθ2 + r2 sin2 θ dϕ2 . (2.17)
z = r cos θ
– 10 –
Na superfície da esfera, r = R, temos
" 2 #
dϕ
ds2 = R2 1 + sin2 θ (dθ)2 . (2.18)
dθ
Logo, para uma curva ϕ(θ), o comprimento entre os pontos θ1 e θ2 , é dador por
Z θ2 q
s[ϕ] = R 1 + sin2 θ (ϕ′ (θ))2 dθ. (2.19)
θ1
q
Podemos identificar a nossa função f (ϕ, ϕ , θ) = R 1 + sin2 θ (ϕ′ (θ))2 . Da equação de Euler,
′
temos
sin2 θ ϕ′ (θ)
∂f d ∂f ∂f
− = 0 −→ = = c1 , (2.20)
∂ϕ dθ ∂ϕ′ ∂ϕ′
q
2 ′ 2
1 + sin θ (ϕ (θ))
dϕ c1 csc2 θ c (1 + cot2 θ)
=p = p 1 q . (2.21)
dθ 1 − c21 csc2 θ 1 − c21 1 − c21 2 cot2 θ
1−c1
Integrando, obtemos
!
c cot θ
ϕ = − arccos p1 + c2 (2.22)
1 − c21
ou
c1 cot θ
cos(ϕ − c2 ) = p . (2.23)
1 − c21
ou
c1
Ax + By = Cz com A = cos c2 , B = sin c2 , C=p . (2.25)
1 − c21
Logo, a curva geodésica é a interseção da esfera r = R com o plano dado pela equação eq.
(2.25), que passa pela origem. Estas correspondem aos círculos grande de raio R, cujo centro
está no centro (origem) da esfera.
– 11 –
2.2 O problema da Braquistrocrona
O problema da Braquistrocrona, proposto por Johann Bernoulli (1696), é o problema que
originalmente estimulou o desenvolvimento do cálculo variacional. O problema consiste basi-
camente em determinar a curva unindo dois pontos P1 e P2 , não pertencentes a uma mesma
linha vertical, tal que uma partícula de massa m sob a ação da força gravitacional deslize sem
atrito ao longo dela no menor tempo possível.
Figura 3: O problema da braquistrocrona. Uma partícula deslizando sem atrito num campo
gravitacional constante.
O tempo para a partícula deslizar uma distância infinitesimal ds é dado por dt = ds/v.
Portanto, o tempo total é dado por
Z 2
ds
t= . (2.26)
1 v
Por conveniência vamos escolher y como a variável independente. Logo, podemos escrever o
comprimento infinitesimal da seguinte forma
s
2
dx
(2.27)
p p
2 2
ds = (dx) + (dy) = (dy) + 1 = (dy) (x′ )2 + 1.
dy
Além disso, a conservação da energia pode ser usada para relacionar a velocidade com o
deslocamento vertical y da partícula, i.e
1 2
(2.28)
p
mv = mgy −→ v= 2gy.
2
Substituindo as expressões acima encontramos que o tempo total é dado por
Z y2 s
1 + (x′ )2
t[x] = dy, (2.29)
y1 2gy
– 12 –
Da equação de Euler temos,
x′
∂f d ∂f ∂f
− =0 −→ = = c1 , (2.31)
∂x dy ∂x′ ∂x′
p
y (1 + (x′ )2 )
o que implica
s
y
c21 y
Z
x(y) = dy. (2.32)
0 1 − c21 y
x(θ) = a (θ − sin θ)
y(θ) = a (1 − cos θ) . (2.34)
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Note que aqui temos escolhido y como nossa variável independente, e portanto consideramos
curvas x(y). Logo,
(2.36)
p
f [x, x′ , y] = (x′ )2 + 1,
x′
r
dx c
p =c −→ ′
x = = = constante. (2.38)
1 + (x′ )2 dy 1 − c2
x(y) = ay + b, (2.39)
com a e b constantes.
Consideremos uma superfície gerada pela rotação em torno do eixo y de uma curva plana
passando por dois pontos fixos. Então, podemos nos perguntar qual é a curva que gera a
superficie de revolução com área mínima?. O elemento de área infinitesimal é dado por:
(2.40)
p
dA = (2πx)ds = (2πx) 1 + (y ′ )2 dx.
Aqui temos escolhido x como variável independente, de modo que a área total é dado por
Z x2 p
A[y] = 2π x 1 + (y ′ )2 dx. (2.41)
x1 | {z }
f [y,y ′ ,x]
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Da equação de Euler, temos:
xy ′
∂f d ∂f ∂f
− =0 −→ = = a, (2.42)
∂y dx ∂y ′ ∂y ′
p
1 + (y ′ )2
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Agora, os extremos do funcional F são achadas a partir da condição de variação nula, δF = 0.
Se todas as variações δyk (x) forem linearmente independentes, então encontramos que o
critério de extremo é dado por uma conjunto de n equações de Euler, uma para cada curva
yk , i.e:
∂f d ∂f
− =0 k = 1, . . . , n. (2.50)
∂yk dx ∂yk′
Exercícios
(2.1) Resolva o problema 2.4 do livro texto de Nivaldo.
(2.4) Mostre que a equação paramétrica do ciclóide pode ser escrita como
y p
x(y) = a arccos 1 − − y(2a − y),
a
e o tempo mínimo no problema da Braquistrocrona é dado por
r
a
t= θ.
g
(2.5) Mostre que a equação de Euler pode ser reescrita na seguinte forma:
∂f d ′ ∂f
− f − y ′ = 0.
∂x dx ∂y
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