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A Caixa preta de Vilém Flusser e a Performance de Schechner:

Explorando a Interseção entre Arte e Teoria

A Caixa preta, um conceito elaborado por Vilém Flusser, e a performance de


Schechner, um elemento central nos estudos teóricos da arte cênica, são dois
conceitos intricadamente conectados que revelam aspectos comuns. Ambos
fornecem perspectivas inovadoras sobre a relação entre o indivíduo, a tecnologia e
a sociedade, abrindo caminhos para reflexão crítica e criação artística.

A Caixa Preta, segundo Flusser, representa os dispositivos técnicos que


mediaram nossa interação com o mundo, tais como câmeras, computadores e telas.
Essas caixas pretas nos provêm com imagens e informações, ao mesmo tempo em
que moldam nossa percepção e experiência da realidade. Flusser argumenta que
estamos constantemente imersos em uma "imagem técnica", uma realidade
construída por essas caixas pretas que influenciam nossa visão de mundo. Essa
compreensão nos instiga a questionar a natureza da realidade mediada pela
tecnologia e a explorar as implicações sociais, políticas e culturais dessas
mediações.

A performance tratada aqui como um estudo de Richard Schechner e outros


estudiosos das artes performativas, enfoca a ação e a encenação como formas de
conhecimento e expressão. Ao assumir que “Tudo é performance” e que tudo pode
ser analisado e estudado através da performance, essa categoria se torna um meio
de desafiar, subverter e transformar normas e estruturas sociais. Ela envolve uma
consciência do corpo, da presença e da interação com o público, com o espaço,
com o cotidiano, criando experiências que rompem os limites da arte e das
estruturas sociais, permitindo uma reflexão/ação sobre identidade, política e
subjetividade, trazendo à tona questões frequentemente ignoradas ou
marginalizadas.

Ao relacionar a Caixa Preta de Flusser com a performance de Schechner,


podemos explorar a interseção entre tecnologia, representação e ação. A Caixa
preta nos incita a examinar de forma crítica as maneiras como as imagens técnicas
moldam nossa visão de mundo, enquanto a performance nos encoraja a agir e nos
envolver ativamente com essa realidade construída. A performance, em si, pode ser
vista como uma maneira de expor as limitações das caixas pretas, desafiando a
lógica de poder subjacente a essas mediações tecnológicas.

Nesse contexto, performadores e teóricos podem criar obras que exploram a


interação entre a Caixa Preta e a performance, revelando e questionando as
estruturas de poder que sustentam a tecnologia e suas representações. Por meio da
performance, é possível revelar as fissuras e as possibilidades de resistência
presentes nas caixas enigmáticas, convidando o público a tomar consciência de sua
própria relação com essas mediações tecnológicas e a se engajar ativamente na
reconfiguração das narrativas dominantes.

A relação entre Flusser e a Schechner destaca a importância da consciência


crítica e da ação transformadora no contexto da sociedade tecnológica atual. Ao
explorar essa interseção, podemos questionar e reinventar as normas e os sistemas
de poder que nos envolvem, abrindo espaço para novas possibilidades de
expressão, resistência e emancipação. A combinação desses conceitos oferece
uma abordagem rica e provocativa para a compreensão da arte, da tecnologia e da
sociedade contemporânea.

Além disso, essa interseção permite a criação de obras que transcendem os


limites tradicionais da arte e desafiam as convenções estabelecidas. Os artistas
podem explorar a relação entre a tecnologia e a performatividade com outro olhar,
questionando as estruturas de poder que permeiam nossa sociedade cada vez mais
tecnológica.

Ao se aprofundar nessa interação, os performadores podem desvendar as


contradições e os impactos ocultos das caixas pretas em nossa vida cotidiana. Eles
podem revelar como a tecnologia e suas imagens moldam nossa percepção da
realidade, muitas vezes influenciando nossas crenças, valores e comportamentos
de maneira sutil e imperceptível. A performance artística, nesse contexto, torna-se
uma plataforma para a resistência e a transformação social ao desafiar as narrativas
dominantes e oferecer uma voz às perspectivas marginalizadas. Através da ação
performática, os performadores podem questionar as noções estabelecidas de
identidade, gênero, poder e controle, abrindo espaço para novas possibilidades de
expressão e emancipação.

Essa interação entre a Caixa Preta e a performance convida o público a se


tornar participante ativo nesse diálogo. Ao assistir ou participar de uma performance
que aborda a relação entre tecnologia e sociedade, os espectadores são desafiados
a refletir sobre seu próprio papel nesse contexto e a questionar como suas
interações com as caixas enigmáticas influenciam sua percepção da realidade.

Assim, a interseção entre os dois temas destaca a importância da arte como


um meio de investigar e questionar as complexidades da sociedade tecnológica. Ela
nos convida a considerar as implicações éticas, políticas e culturais da tecnologia
em nossas vidas e a buscar novas formas de expressão e resistência. Ao explorar
essa interseção, performadores e teóricos podem desvendar as camadas ocultas da
realidade mediada pela tecnologia e imaginar um futuro mais consciente, crítico e
inclusivo.

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