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LAUDO PERICIAL
Parte integrante dos autos nº. 0135334-09.2015.4.02.5005
COORDENAÇÃO
PERITOS PESQUISADORES
AUXÍLIO
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
1.1 OBJETO
O presente laudo possui 612 folhas e foi subdividido em 05 partes dada a limitação do
tamanho do arquivo a inserido no sistema eletrônico de peticionamento da Justiça
Federal do Espírito Santo.
1.2 OBJETIVO
A partir daquela intimação, seguiram-se outras questões que fossem saneadas, como
a apresentação de planos de trabalho e levantamento de custos, solicitações de
extensão de prazos, etc. Considerou-se como termo inicial dos trabalhos de análise o
dia 05 de julho de 2018, a partir do qual passou-se a fase das solicitações dos
documentos para análises, reuniões de equipe para organização do cronograma de
trabalho, entre outros. No entanto, apenas em 08 de novembro de 2018 chegaram os
primeiros dados e documentos requeridos.
A parceria entre Ifes e Fiocruz perdurou durante os trabalhos, para que se pudessem
cumprir o munus, e desenvolveu-se na medida da metodologia descrita a seguir.
1.2 METODOLOGIA
DADOS SOLICITADOS
O volume de informações contido nesses documentos foi muito grande, e não foram
fornecidos previamente de forma sistematizada para pronta análise. Sendo dados
brutos, foi imprescindível aos Peritos procederem a organização de todas as
informações por área específica de trabalho.
Apenas após esse trabalho minucioso foi que os peritos enxergaram a incompletude
de dados e informações, o que impossibilitava o desenvolvimento de uma análise
definitiva. Por isso, mister ter reiterado por diversas vezes a solicitação de dados e
informações incompletas, ou não fornecidas em requerimentos anteriores, até o limite
de prazo tolerável para a execução do trabalho.
Foram realizadas pelos Peritos 3 (três) visitas técnicas in loco, inicialmente para
conhecer as estações de tratamento de água de Colatina e também para sanar
dúvidas.
Essa visita foi dividida em três momentos, sendo que pela manhã, na sede do Sanear,
aconteceu uma reunião para esclarecimento de dúvidas. Em seguida, realizou-se
visita a ETA I e a ETA II. Não foi possível neste dia visitar as ETA IV e ETA Ifes Itapina
em razão do tempo muito curto. Também, a equipe visitou à Semus. Para documentar
a visita, as reuniões foram gravadas em áudio e, durante a visita às ETA, foram
realizados registros fotográficos.
do Ifes, que funcionou de modo a propiciar maior organização dos dados, com acesso
restrito aos peritos envolvidos no processo.
ETA Ifes Itapina - pontos localizados próximos da ETA Ifes Itapina sendo eles
monitorados pelo Samarco, no período emergencial (montante Ifes Itapina,
ETA Ifes Itapina), após implantação do PMQQS (ETA Ifes Itapina e ponto ROD-
12) e pelo Sanear (ETA-025);
ETA IV Colatina - pontos localizados próximos da ETA IV, sendo eles
monitorados pela Sanear, no período emergencial (Colatina ES Montante,
RDC-36, ETA IV, Montante Colatina), após implantação do PMQQS (ETAIV) e
pelo Sanear (ETA-024);
ETA I e II Colatina - pontos localizados próximo as ETA I e II, sendo eles
monitorados pelo Iema (Ponto 3 - RDC1D 020) na ponte velha de Colatina,
Samarco, no período emergencial (ETA I e ETA II), após implantação do
PMQQS (ponto ROD-13) e pelo Sanear ( ETA-023);
Ponte Nova Colatina - pontos localizados próximo a Ponte Nova, sendo eles
monitorados pela Samarco, no período emergencial (jusante das ETA, RDC-40
e jusante Colatina)
Saída de Colatina - último ponto dentro do município de Colatina monitorado
pela Samarco após implantação do PMQQS (ROD-14)
A perícia teve início em nov/2018, com a análise dos primeiros dados encaminhados
pelas partes arroladas no processo. Somente em set/2019 houve o recebimento das
últimas informações das instituições demandadas. A análise e as conclusões se
encerraram em dez/2019.
Ressalta-se que a manifestação opinativa dos peritos está embasada nos elementos
técnicos constante dos autos e nos dados apresentados, não se caracterizando,
portanto, em elementos de convencimento subjetivo de cada profissional.
Ainda na Tabela 1.1, encontra-se uma síntese da revisão sobre padrões de qualidade
da água potável de 104 países e territórios espalhados nos 5 continentes, elaborado
por WHO (2018).
Apesar da resposta do Quesito 1 ter sido positiva, cabe ressaltar que as legislações
sobre potabilidade da água devem ser revisadas a cada 5 anos, condição que não é
atendida como pode-se observar no breve histórico de revisão das Portarias como
apresentado no Quadro 2.1.
Chama atenção algumas situações como a Portaria 1.469/2000 que foi revogada,
passando a vigorar a Portaria 518/2004, sem alterações, apenas fazendo a
transferência do órgão gestor e prorrogando o prazo para cumprimento da mesma. O
mesmo aconteceu com a Portaria 2914/2011, que foi revogada, passando a vigorar a
Portaria de Consolidação 5/2017, sem alterações, apenas fazendo a consolidação das
normas sobre as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde.
potável de 104 países e territórios espalhados nos 5 continentes, elaborado por WHO
(2018) e não contemplados na Portaria 2914/11.
Ressalta-se que nos casos em que o enquadramento não foi feito, prevalece o
disposto no artigo 42 da Resolução CONAMA 357/05 (CONAMA, 2005), que “[...]
enquanto não aprovados os respectivos enquadramentos, as águas doces serão
consideradas classe 2, [...], exceto se as condições de qualidade atuais forem
melhores, o que determinará a aplicação da classe mais rigorosa correspondente.”.
De acordo com a Resolução n°91/2008, que dispõe sobre procedimentos gerais para
o enquadramento dos corpos de água superficiais, em seu artigo 2° §2º, o
[...] processo de enquadramento pode determinar classes diferenciadas por
trecho ou porção de um mesmo corpo de água, que correspondem a
Parâmetros Teor aumentado após a passagem da pluma Valores acima do VM da CONAMA 357/2
Parâmetros Teor aumentado após a passagem da pluma Valores acima do VM da CONAMA 357/2
A análise de variação dos parâmetros foi feita seguindo uma metodologia de média
dos valores encontrados, para cada parâmetro, antes do evento (período definido de
2010 a 17/11/2015) e média dos valores encontrados após o evento (período definido
de 18/11/2015 a 2018).
Os dados das séries históricas de vazões e cotas das estações representam as bases
de interpretação dos processos de escoamento e de variação de transporte de
sedimentos na Área Representativa de Colatina, onde estão inseridas as Estações de
Tratamento de água do município.
Deve-se ressaltar que não foram informadas outras seções nos documentos
recebidos que justificassem tratamento hidrológico, mas apenas diversos pontos de
amostragem de qualidade de água na área designada pelos Peritos de áreas de
interesse.
As fichas descritivas das Estações são apresentadas nas Figuras 4.2 e 4.3.
.
Fonte: Fls 5651
Após solicitação de dados às instituições ANA, Iema, Samarco e Sanear, via processo
judicial (fls 3995 a 4004), foi gerada a Tabela 5.1 anexa. Os dados foram organizados
considerando o período de 04/2010 a 09/2018, para que fosse possível verificar o
restabelecimento das condições médias vigentes antes do rompimento da barragem
da Samarco.
Ressalta-se que os dados faltantes na Tabela 5.1 são aqueles que não constam dos
laudos fornecidos pelas instituições. As informações destacadas referem-se aos
dados fornecidos pela Samarco, porém sem a comprovação dos respectivos laudos
para conferência. Os demais dados fornecidos estão apresentados conforme e foram
mantidos.
Para desenvolvimento deste quesito foi utilizada a tabela 5.1. As Figuras 6.1 a 6.5
apresentam a evolução ao longo do tempo (04/2010 a 09/2018) dos parâmetros
temperatura, pH, OD, turbidez e condutividade elétrica e vazão.
Após solicitação de dados às instituições ANA, Iema, Samarco e Sanear, (fls 3995
a 4004) foi gerada a Tabela 7.1 anexa. Os dados foram organizados considerando-
se o período de 04/2010 a 09/2018, para que fosse possível verificar o
restabelecimento das condições médias vigentes antes do rompimento da
barragem da Samarco.
Ressalta-se que os dados faltantes na Tabela 7.1 não constam dos laudos
fornecidos pelas instituições. Ainda, para análise de inconsistências, requer-se a
consulta a resposta do Quesito 8, muito embora tais informações não tenham sido
excluídas do banco de dados.
Após solicitação de dados às instituições ANA, Iema, Samarco e Sanear, (fls 3995
a 4004), considerando o período de 04/2010 a 09/2018, foi gerada a Tabela 8.1,
apresentando por parâmetro as inconsistências identificadas nos resultados da
água bruta.
Cabe ressaltar que as inconsistências não foram retiradas das planilhas e dos
gráficos apresentados, até mesmo porque os dados foram disponibilizados
unilateralmente pelas instituições interessadas.
Após solicitação de dados às instituições ANA, Iema, Samarco e Sanear, (Fls 3995
a 4004), considerando o período 04/2010 a 09/2018, foi gerada a Tabela 7.1, de
onde foram extraídas as concentrações de sólidos em suspensão.
Após solicitação de dados à instituições ANA, Samarco e Sanear, (fls 3995 a 4004),
foi gerada para o período de 08/11/2015 até 16/08/2018, em função da cota e da
vazão do rio com base nos registros da Estação fluviométrica Cód. 56994500 em
Colatina, de responsabilidade da Agência Nacional de Águas – ANA, e medições
de descarga sólida fornecidas pela Samarco (Fls 5761 a 5763 – Item 01 – Água
Bruta – PMQQS; fls 6716 e 6717 – itens 1 a 4 – laudos de análise de água – período
emergencial e PMQQS). Os resultados da consolidação estão apresentados na
Tabela 10.1, referentes às ETA I e II, e Tabela 10.2, referentes à ETA IV em anexo.
uma vez que essas variáveis são uma função da vazão para uma mesma seção do
rio.
Estas folhas constituem Parte do Laudo Pericial acostado aos autos n. 0135334-09.2015.4.02.5005
e devem ser consideradas na completude do documento.
Após solicitação de dados às instituições ANA, Iema, Samarco e Sanear, (Fls 3995
a 4004), considerado o período 11/2010 a 09/2018, foi gerada a Tabela 11.1 em
anexo.
Estas folhas constituem Parte do Laudo Pericial acostado aos autos n. 0135334-09.2015.4.02.5005 e
devem ser consideradas na completude do documento.
Não foi apresentado plano alternativo para captação de água em recurso hídrico não
contaminado pela lama. As ações realizadas não resultaram em alternativas viáveis
para suprir a demanda de abastecimento de água para a cidade de Colatina.
A Samarco ainda perfurou 6 poços na região (fls 5762, item 08) (Samarco, 2018). Em
reunião realizada em Colatina no dia 12-12-2018, o Sanear relata que os poços
perfurados pela Samarco não foram recebidos por não possuírem qualidade e
quantidade de água satisfatórios. Os seis poços chegaram a uma vazão de 47L/s,
insuficiente para atendimento da cidade e ainda demandariam um consumo elevado
de energia elétrica.
Após a passagem da pluma a Samarco construiu uma captação de água no rio Santa
Maria do Doce, com vazão de recalque de 80L/s para abastecer a ETA I que distribui
água para o lado sul do município. Para abastecer o lado norte do município a
Samarco construiu uma captação no rio Pancas, com vazão de recalque de 150L/s
para abastecer a ETA II. Segundo Sanear (2019), o sistema de Santa Maria do Doce
foi testado, mas nunca utilizado, e o sistema rio Pancas foi testado, mas não recebido
pelo Sanear devido a problemas fundiários com o proprietário do terreno da
captação/elevatória.
O que permite caracterizar a qualidade da água são os parâmetros que retratam suas
principais características físicas, químicas e biológicas. Quanto a água bruta, esses
parâmetros correspondem aos listados na Resolução Conama 357/05, que estabelece
padrões de valores limites aceitáveis para cada uma das classificações das águas
definidas conforme o uso. No caso do rio Doce, esses valores são os padrões de
qualidade da resolução para águas de classe 2, conforme informações constantes no
Quesito 3.
Destaca-se que não cabe, neste caso, listar os parâmetros ausentes em razão de ter
ocorrido análises de todos os parâmetros exigidos pela resolução Conama 357/05
para Classe 2, porém com temporalidades distintas. Em outras palavras, na maioria
das vezes não foram realizadas análises de todos os parâmetros em um mesmo dia
ou em uma mesma amostra, permitindo assim a produção de indicadores de
caracterização da qualidade da água. Em outras palavras, na maioria das vezes não
foram realizadas análises de todos os parâmetros num mesmo dia ou numa mesma
amostra.
No processo em questão, não foi apresentado pelo Sanear ou pela Samarco, um plano
de monitoramento da qualidade da água bruta para o período emergencial, quando
da passagem da pluma. Segundo Renova (2017) o Programa de Monitoramento
Quali-Quantitativo Sistema de Água e Sedimentos (PMQQS) só teve início em
agosto/2017 após a constituição da Renova.
A Tabela 11.1 do Quesito 11, apresenta o banco de dados com 176 parâmetros
monitorados na água bruta, sendo que 99 destes, possuem valores máximo (VM) de
referência na Resolução Conama 357/05. Foram encontradas algumas
inconsistências, tais como: presença de Outilier, Limite de detecção do equipamento
superior ao valor máximo estabelecido na pela Resolução Conama 357/05 e não
fornecimento de laudos para confirmação de valores planilhados, conforme listadas
na resposta ao Quesito 8. Entretanto, todos foram mantidos no banco de dados pela
impossibilidade de confirmação de tais inconsistências.
• Importante destacar que são informados nas Planilhas de Controle Operacional das
ETA que as estações estiveram paralisadas em diferentes momentos do dia, devido
a circunstâncias adversas como manutenção nas ETA, falta de energia,
manutenção na rede de distribuição, manutenção na casa de bomba, manutenção
na rede de água bruta, limpeza do poço de captação, bomba dosadora em
manutenção, manutenção das bombas de captação, reservatório cheio. Ressalta-
se que em alguns casos foi informado que a ETA esteve paralisada durante
algumas horas, sem que fosse apresentado o motivo e, ainda, que não foram
identificadas paralisações decorrentes da qualidade da água do manancial. Assim,
o monitoramento dos parâmetros com frequência horária foi interrompido durante
estas paralisações do tratamento.
ETA I
a) Saída do Tratamento
Turbidez, Cloro residual livre e pH que devem ser monitorados a cada 2 horas (1
amostra), em alguns meses de 2015, 2016 e 2017 não atenderam a portaria. O Sanear
analisa estes parâmetros a cada 1 hora, no entanto, em certos períodos do dia, eles
não foram analisados. Para o Fluoreto que também deve ser monitorado a cada 2
horas (1 amostra), de acordo com o apresentado nas Planilhas de Controle
Operacional, o especificado na Portaria não foi atendido até 12/06/2018, pois durante
este período ele foi analisado apenas duas vezes ao dia, manhã e tarde. A partir desta
data, a portaria foi atendida.
b) Rede de Distribuição
No caso da ETA I, o mês de maio de 2018 foi o único em que as informações foram
apresentadas, mas não atendeu ao especificado no Anexo XII da Portaria para os
parâmetros Turbidez, Cloro residual livre, Coliformes totais e E. coli. Para estes
parâmetros foram analisadas 50 amostras, quando deveriam analisar 53 e para
Bactérias heterotróficas foram analisadas 8, quando deveriam analisar 11 amostras.
ETA II
a) Saída do Tratamento
Turbidez, Cloro residual livre e pH que devem ser monitorados a cada 2 horas (1
amostra), em alguns meses de 2015 não atenderam a portaria. A Turbidez também
não atendeu em junho de 2016 e Cloro Residual livre setembro de 2018. O Sanear
analisa estes parâmetros a cada 1 hora, no entanto, em certos períodos do dia, eles
não foram analisados. Para o Fluoreto que também deve ser monitorado a cada 2
horas (1 amostra), de acordo com o apresentado nas Planilhas de Controle
Operacional, o especificado na Portaria não foi atendido até 30/05/2018, pois durante
este período ele foi analisado apenas duas vezes ao dia, manhã e tarde. A partir desta
data, 01/06/2018, o especificado na portaria foi atendido.
b) Rede de Distribuição
Para a ETA II, o mês de maio de 2018 foi o único em que as informações foram
apresentadas, mas não atendeu ao especificado na Portaria para o parâmetro
Bactérias heterotróficas em que deveriam ser analisadas 12 amostras e analisaram
10.
ETA IV
Turbidez, Cloro residual livre e pH que devem ser monitorados a cada 2 horas (1
amostra), em alguns meses de 2015, 2016 e 2017 não atenderam a portaria. O Sanear
analisa estes parâmetros a cada 1 hora, no entanto, em certos períodos do dia, eles
não foram analisados. Para o Fluoreto que também deve ser monitorado a cada 2
horas (1 amostra), de acordo com o apresentado nas Planilhas de Controle
Operacional, o especificado na Portaria não foi atendido até 12/06/2018, pois durante
este período ele foi analisado apenas duas vezes ao dia, manhã e tarde. A partir desta
data, a portaria foi atendida.
b) Rede de Distribuição
Cor 10 Mensal - - -
Turbidez 12 Mensal - - -
Cloro residual
12 Mensal - - -
livre
Coliformes totais 12 Mensal - - -
E. coli 12 Mensal - - -
Bactérias
3 Mensal - - -
heterotróficas
Elaborado pelos Peritos (2019)
Nota: (1) Apenas para os meses que as informações foram disponibilizadas. (2) 2016 – Foram
disponibilizados para avaliação somente os meses de maio, junho, julho e outubro. (3) 2017 e 2018 –
Foram disponibilizados para avaliação somente os meses de março a julho.
A tabela 15.1 foi elaborada com base nas planilhas já apresentadas nos Quesitos 5 e
7. Ao todo foram monitorados 176 parâmetros, sendo 56% (99 parâmetros) exigidos
pela Resolução Conama 357/05 para Classe 2 e 44% (77 parâmetros), além das
recomendações da referida resolução.
Com base nos Relatórios encaminhados pela Samarco (fls 5761 e 6716) e Semad (fls
6920 a 6950), o rejeito carreado para o rio Doce pelo rompimento da barragem da
Samarco foi caracterizado tendo como destaque os seguintes parâmetros: Alumínio,
Antimônio, Arsênio, Bário, Cálcio, Carbono Orgânico Total, Chumbo, Cianeto,
Cloreto, Cobalto, Cobre, Cromo, Ferro, Fluoreto, Fósforo, Magnésio, Manganês,
Mercúrio, Níquel, série Nitrogenada (Total, Kjedalhl, Nitrato, Nitrito e Amoniacal),
Potássio, Sódio, Sólidos, Sulfato, Sulfeto, Surfactantes, Titânio, Vanádio e
Zinco.
A Tabela 16.1 apresenta a tabulação destas informações de onde pode-se inferir que:
• Outros parâmetros tais como Boro, Cadmio, Fenóis, Lítio e Prata foram
analisados no rejeito, mas suas presenças estiveram abaixo do limite de
quantificação do método analítico, entretanto encontram-se acima do VM na água
do rio Doce em Colatina.
Tabela 16.1 — Distribuição dos parâmetros analisados no rio Doce em Colatina por
valores aumentados após a passagem da pluma, valores acima do valor máximo da
Resolução Conama 357/05 e valores presentes no rejeito da Barragem da Samarco
(continua)
Itens com Itens com Parâmetros monitorados na
valores valores acima fração sólida do Rejeito
Parâmetros
aumentados do VM na proveniente da Barragem da
na água água Samarco
Alumínio dissolvido (mg/L Al) x x
x
Alumínio Total (mg/L) x
Antimônio total (mg/L Sb) x x x
Arsênio Dissolvido (mg/L) x
x
Arsênio Total (mg/L As) x x
Bário Dissolvido (mg/L) x
x
Bário total (mg/L Ba) x
Berílio total (mg/L Be) x <LQ
Boro Dissolvido (mg/L) x
<LQ
Boro total (mg/L B) x x
Cádmio Dissolvido (mg/L) x
<LQ
Cádmio total (mg/L Cd) x x
Cálcio Dissolvido (mg/L) x
x
Cálcio Total (mg/L) x
Carbono organico dissolvido
x
(mg/L) x
Carbono organico total (mg/L) x
Chumbo Dissolvido (mg/L) x
x
Chumbo total (mg/L Pb) x x
Cianeto livre (mg/L CN) x x x
Cloramina (mg/L) x
Cloreto total (mg/L Cl) x x x
Cloro residual total
x x
(combinado + livre) (mg/L Cl)
Cobalto total (mg/L Co) x x
Cobre dissolvido (mg/L Cu) x x
x
Cobre total (mg/L Cu) x
Colif, termotolerantes
x x
(NMP/100mL)
Coliformes Totais
x
(NMP/100mL)
Condutividade (µS/cm) x
Cor aparente (uH) x
Cor verdadeira (mg Pt/L) x x
Corantes de fontes Antrôpicas x x
Cromo total (mg/L Cr) x x x
DBO (mg/L) x x
Tabela 16.1 — Distribuição dos parâmetros analisados no rio Doce em Colatina por
valores aumentados após a passagem da pluma, valores acima do valor máximo da
Resolução Conama 357/05 e valores presentes no rejeito da Barragem da Samarco
(continuação)
Itens com Itens com Parâmetros monitorados na
valores valores acima fração sólida do Rejeito
Parâmetros
aumentados do VM na proveniente da Barragem da
na água água Samarco
Densidade de cianobactérias
x
(cel/ml)
Diclorometano (mg/L) x
DQO (mg/L) x
Dureza Cálcio (mg/L) x
Dureza Magnésio (mg/L) x
Dureza Total (mg/L) x
eh (Potencial Redox) (mV) x
Escherichia Coli NMP/ 100 mL x
Estanho Total (mg/L) x
Estreptococos fecais UFC/100
x
mL
Fenóis totais (mg/L C6H5OH) x x < LQ no solubilizado do Rejeito
Feofitina μg/L x
Ferro dissolvido (mg/L Fe) x x
Ferro II (mg/L) x
x
Ferro III (mg/L) x
Ferro Total (mg/L) x
Fluoreto total (mg/L F) x
Fosforo dissolvido (mg/L) x
x
Fósforo total (mg/L P) x x
Lítio Dissolvido (mg/L) x
<LQ
Lítio total (mg/L Li) x x
Magnésio Dissolvido (mg/L) x
x
Magnésio total (mg/L) x
Manganês Dissolvido (mg/L) x
x
Manganês total (mg/L Mn) x x
MBAS (Surfactantes) (mg/L) x x
Mercúrio Dissolvido (mg/L)
x
Mercúrio total (mg/L Hg) x x
Metilmercurio (µg/L) x
Microcistinas (μg/L) x
Molibdenio total (mg/L) x <LQ
N total (mg/L) x
N(kj)* (mg/L) x
Níquel Dissolvido (mg/L) x
x
Níquel total (mg/L Ni) x x
Nitrato (mg/L N) x x
Nitrito (mg/L N) x x x
Tabela 16.1 — Distribuição dos parâmetros analisados no rio Doce em Colatina por
valores aumentados após a passagem da pluma, valores acima do valor máximo da
Resolução Conama 357/05 e valores presentes no rejeito da Barragem da Samarco
(continuação)
Itens com Itens com Parâmetros monitorados na
valores valores acima fração sólida do Rejeito
Parâmetros
aumentados do VM na proveniente da Barragem da
na água água Samarco
Nitrogênio amoniacal total
x x
(mg/L N)
Mercúrio Dissolvido (mg/L)
x
Mercúrio total (mg/L Hg) x x
Metilmercurio (µg/L) x
Microcistinas (μg/L) x
Molibdenio total (mg/L) x <LQ
N total (mg/L) x
N(kj)* (mg/L) x
Níquel Dissolvido (mg/L) x
x
Níquel total (mg/L Ni) x x
Nitrato (mg/L N) x x
Nitrito (mg/L N) x x x
Nitrogênio amoniacal total
x x
(mg/L N)
Nitrogênio Orgânico (mg/L) x
ÓLEOS E GRAXAS TOTAIS
x
(mg/L)
ÓLEOS E GRAXAS VISÍVEIS x x
Oxigênio Dissolvido (mg/L) x
Polifosfato (mg/L) x
Potássio Dissolvido (mg/L) x
x
Potássio Total (mg/L) x
Prata Dissolvido (mg/L) x
<LQ
Prata total (mg/L Ag) x x
Resíduos sólidos objetáveis x x
Selênio Dissolvido (mg/L)
<LQ
Selênio total (mg/L Se)
Sódio Dissolvido (mg/L) x x
Sólidos Totais (mg/L) x
Sólidos dissolvidos totais (500
x x
mg/L)
Sólidos sedimentáveis (mL/L) x x
Sólidos suspensos (mg/L) x
Sulfato total (mg/L SO4) x x
Sulfeto (H2S não dissociado)
x x x
(mg/L S)
Sulfeto dissolvido (mg/L) x
Sulfeto Total (mg/L) x
Temp, água(ºC) x
Temp, ar (ºC) x
Tabela 16.1 — Distribuição dos parâmetros analisados no rio Doce em Colatina por
valores aumentados após a passagem da pluma, valores acima do valor máximo da
Resolução Conama 357/05 e valores presentes no rejeito da Barragem da Samarco
(conclusão)
Itens com Itens com Parâmetros monitorados na
valores valores acima fração sólida do Rejeito
Parâmetros
aumentados do VM na proveniente da Barragem da
na água água Samarco
Titânio x
Trihalometanos Totais (mg/L) x
Turbidez (UNT) x x
Urânio total (mg/L U) x
Vanádio Dissolvido (mg/L) x
x
Vanádio total (mg/L V) x x
Zinco Dissolvido (mg/L) x
x
Zinco total (mg/L Zn) x x
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
Valores presentes no rejeito e acima do VM de referência na Resolução Conama 357/05 para
classe 2 na água.
Valores presentes no rejeito e aumentados na água após a passagem da pluma
Valores monitorados no rejeito com resultados abaixo do LQ mas acima do VM de referência na
Resolução CONAMA 357/05 para classe 2 na água
Para fundamentar a resposta, a composição do rejeito carreado para o rio Doce pelo
rompimento da barragem da Samarco foi identificada a partir de Relatórios
encaminhados pela Samarco (2018, 2019) e Semad (2019) como descrito a seguir:
Observa-se que não foram apresentadas na tabela 16.2 análises de outros metais
encontrados no rejeito. Então, não é possível afirmar que composição do rejeito está
unicamente relacionada ao minério processado.
Caracterização do rejeito
Alumínio < LQ
Arsênio < LQ < LQ
Bário < LQ < LQ
Cadmio < LQ < LQ
Chumbo < LQ < LQ
Cianeto < LQ
Cobre < LQ
Cloreto 0,24mg/L < limite NBR 10004
Cromo < LQ < LQ
Fenois < LQ
Ferro 0,027 mg/L < limite NBR 10004
Fluoreto < LQ < LQ
Manganês 0,008 mg/L < limite NBR 10004
Mercúrio < LQ < LQ
Nitratos 0,89 mg/L < limite NBR 10004
Orgânicos (Piridina) 1,13 < limite NBR 10004 < LQ
Orgânicos (Surfactantes) < LQ 0,132 < limite NBR 10004
pH 4,92 6,28
Prata < LQ < LQ
Selênio < LQ < LQ
Sódio 1,85 mg/L < limite NBR 10004
Zinco < LQ
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
Nota: LQ – Limite de Quantificação
Tabela 16.6 – caracterização resíduo massa bruta – lama usina 1 (NBR 10.004) –
laudo 3-30-05-2019 - 08/2014
(continua)
Parâmetros Massa Bruta Lixiviado
Antimônio <LQ
Arsênio < LQ
Berílio < LQ
Cadmio < LQ
Carbono Orgânico Total 1,98 %p/p
Cianeto 1,7 mg/Kg
Chumbo 33,8 mg/Kg
Cloreto 11 mg/l
Cobalto 5,67 mg/Kg 0,0164 mg/l
Cromo 17,9 mg/Kg
Fluoreto 0,1 mg/l
Manganês 1730 mg/Kg 0,316 mg/l
Mercúrio 0,68 mg/Kg 0,00024 mg/l
Nitrato 2,17 mg/Kg
Nitrito 0,94 mg/Kg
Nitrogênio Total Kjedalhl 513 mg/Kg
Tabela 16.7 – caracterização resíduo massa bruta – lama usina 1 (NBR 10.004) –
laudo 3-30-05-2019 - 08/2014
(conclusão)
Parâmetros Massa Bruta Lixiviado
Tabela 16.9 – Níveis de metais nas amostras compostas dos rejeitos armazenados
na Barragem do Germano
Composta AE Composta B3 Composta CT Composta DA
Parâmetros
[mg/Kg] [mg/Kg] [mg/Kg] [mg/Kg]
Alumínio 1433 2670 2356 2394
Antimônio 5,09 12,1 <1 6,25
Arsênio 1,40 7,26 2,5 3,87
Bário 13,3 22,9 16,5 13,9
Berílio <3 <3 <3 <3
Cádmio <1 <1 <1 <1
Cálcio 214 511 324 204
Chumbo <8 <8 <8 <8
Cobalto <8 <8 <8 <8
Cobre 4,89 7,99 6,1 4,26
Cromo 9,99 37,0 13 11,9
Ferro 83627 171294 72047 101711
Magnésio 110 113 106 92,2
Manganês 141 553 242 265
Molibdênio <3 <3 <3 <3
Níquel 3,20 <3 <3 <3
Potássio 63,9 95,9 81,9 100
Prata <1 <1 <1 <1
Selênio <1 <1 <1 <1
Sódio 137 185 207 90,2
Tálio <20 <20 <20 <20
Titânio 34,0 72 42 47,6
Vanádio <8 10,0 <8 <8
Zinco 13,0 20,0 17 14,9
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
Qss = 0,0864 x Q x CS
Na Equação,
Qss = descarga sólida em suspensão (t/dia);
Q = vazão do rio (m3/s);
CS = concentração de sedimentos em suspensão (mg/l; ppm).
Figura 17.1 – Mapa área de interesse com localização das estações fluviométricas e pluviométrica de referência no estudo
Deve-se ressaltar que os parâmetros escolhidos não foram os únicos alterados, mas
foram considerados os mais relevantes em função da magnitude dos respectivos
aumentos após a passagem da pluma e por violarem diversas vezes os valores
máximos permitidos para corpos hídricos da classe 2, da Resolução 357/05 do
Conama. Alguns exemplos são: Alumínio dissolvido, Arsênio Total, Cádmio total,
Chumbo total, Cobre dissolvido, Cor verdadeira, Ferro dissolvido, Manganês total,
Níquel total e Turbidez.
Embora tenha ocorrido uma diminuição dos níveis de alguns parâmetros após certo
período de tempo, posterior ao período crítico da pluma (ex.: arsênio total e chumbo
total), quando comparados ao período anterior ao evento, ainda tem-se valores
aumentados de alguns parâmetros (ex.: alumínio dissolvido, cádmio total, cobre
dissolvido, cor verdadeira, ferro dissolvido, manganês total, níquel total e turbidez),
como observado no Quadro 18.2.
O regime pluviométrico da bacia do rio Doce é caracterizado por dois períodos bem
distintos. O período chuvoso, que se estende de outubro a março, com maiores
índices no mês de dezembro (no qual a precipitação varia de 800 a 1.300 mm) e o
período seco, que se estende de abril a setembro, com estiagem mais crítica de junho
a agosto (com precipitação variando entre 150 a 250 mm).
Este programa faz parte das ações reparatórias e compensatórias, dentro dos
Programas Socioambientais, definidas nas Clausulas 177, 178 e 179 do Termo de
Transição e Ajustamento de Conduta – TTAC, assinado em março de 2016 pelo
Governo Federal e dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo e a Samarco e suas
acionistas Vale S.A. e BHP Billiton Brasil Ltda. Neste mesmo termo ficou definida a
criação de uma Fundação de direito privado, sem fins lucrativos, a Fundação Renova,
instituída, em agosto de 2016 pela Samarco e suas acionistas, com o objetivo de
elaborar e executar todas as medidas reparatórias e compensatórias definidas no
TTAC.
foram incluídos parâmetros para avaliar as alterações na qualidade das águas do rio
Doce decorrentes da implantação das medidas de controle dos impactos e as
compensatórias.
pluma, corroborando a discussão anterior, que para alguns parâmetros parece não
haver um retorno às condições anteriores à passagem da pluma, sugerindo que ao
menos uma parte destes poluentes tenha ficada retida nos sedimentos do rio Doce e
que ocasionalmente, observem-se novamente altos níveis destes poluentes.
Queira o Sr. Perito comentar a(s) interrupções nas captações da Sanear devido
a extrapolação dos valores impostos pela Resolução Conama n° 357/05, em
especial frente as esperadas alterações nas concentrares de aluminio, de ferro,
de manganês e de sólidos.
Cabe destacar que existe uma interligação na rede de distribuição entre as ETA II e
IV com objetivo de fornecer água para o Bairro Columbia em momentos de
desabastecimento quando das interrupções na operação da ETA IV para manutenção
e reparos na mesma ou na captação.
A análise dos valores que extrapolam o valor máximo de referência (VM), definido pela
Resolução Conama 357/05 para mananciais classe 2, foi extraída da Tabela 11.1 do
Quesito 11, considerando o período de paralisação e até dois dias que antecedem tal
evento. Os parâmetros alumínio, ferro, manganês e sólidos encontram-se em
destaque nesta análise
Com base nestes dados, pode-se observar que ocorreram paralizações totais e
parciais na captação e no tratamento, entretanto não existe relato de que as mesmas
ocorreram devido a qualidade da água. A tabela 19.1 sintetiza os resultados
encontrados.
Pode-se observar que a ETA IV apresenta o maior número de paralisações ao longo
do ano de 2017 e 2018
Com base nestes dados, pode-se afirmar que foram, e até a data de 16/08/2018,
ainda estavam sendo realizadas análises ecotoxicológicas com testes agudos e
crônicos em amostras de água e sedimentos, coletados em diferentes pontos do
rio Doce, nas proximidades das captações da empresa Sanear, em dois períodos
de tempo: Emergencial (de 08/11/2015 a 16/08/2017) e durante o Programa
Monitoramento Quali-Quantitativo Sistemático (PMQQS) de 11/08/2017 a
16/08/2018.
Por outro lado, existem laudos, cujos resultados não foram entregues, que
constam planilhados. As planilhas recebidas não estavam preenchidas
adequadamente, existindo várias lacunas e mesmo resultados contraditórios,
como o resultado de um teste específico indicar toxicidade da amostra, mas na
avaliação final da mesma, ela ser classificada como não tóxica. Ainda foram
contratados vários laboratórios diferentes ao longo do período para realizar as
análises, sendo que alguns testes foram subcontratados a outros laboratórios
localizados em diferentes estados brasileiros.
Segundo Costa et al. (2008), mesmo quando uma substância química não
produz efeitos tóxicos mensuráveis sobre organismos aquáticos em testes de
toxidade aguda, isso não indica que ela não seja tóxica para estes organismos
em outras condições de exposição. Esta variabilidade observada entre os
resultados dos testes ecotoxicológicos pode ser explicada, ao menos
parcialmente, pela diferença da aplicabilidade e adequação de testes agudos e
crônicos.
De fato, 27% das amostras de sedimentos testadas (avaliada nos testes com
Grandidierella bonnieroides e Hyalella azteca) no período Emergencial,
apresentaram toxicidade. Uma quantidade maior que as amostras de água.
Deve-se ressaltar que o teste com Ceriodaphnia dúbia foi utilizado, durante o
PMQQS, para avaliar tanto amostras de água quanto de sedimento. Os
sedimentos se mostraram novamente mais tóxicos que as amostras de água em
dois pontos de coleta (RDO12 e RDO 13).
Por outro lado, o terceiro ponto de coleta desse período (RDO 14) foi o que
apresentou maior número de amostras tóxicas (amostras de água), cerca de
80% das amostras testadas com Ceriodaphnia dúbia eram tóxicas. Estes dados
sugerem que, ao menos parte dos poluentes, tenha ficado retida no sistema
aquático. Por exemplo, os sedimentos aquáticos podem reter poluentes (ex.:
metais) por longos períodos de tempo (SILVA; POMPÊO; PAIVA, 2015).
Entretanto, dois testes são para avaliar toxicidade dos sedimentos (Hyalella
azteca e Grandidierella bonnieroides). O primeiro organismo teste é indicado
para avaliar tanto os efeitos tóxicos agudos (letalidade) quanto crônicos (inibição
do crescimento) da exposição a sedimentos, sendo o mesmo um anfípodo de
água doce. Já o segundo organismo teste é indicado para avaliar apenas efeitos
tóxicos agudos (letalidade) de sedimentos marinhos e estuarinos, visto que é um
anfípodo marinho. Portanto, a priori, este segundo organismo não seria
adequado para avaliar a toxicidade de sedimentos do rio Doce.
Por outro lado, existe uma grande diferença em relação ao teste ecotoxicológico
em questão. Os testes realizados com Danio rerio, Daphnia similis,
Grandidierella bonnieroides e Vibrio fischeri, praticamente não detectaram
toxicidade nas amostras, o que provavelmente seria esperado, uma vez que
estes testes são indicados para investigar apenas efeitos agudos graves (morte
rápida do organismo) decorrentes de uma exposição recente a altas
concentrações de poluentes. Isto seria relevante apenas durante ou próximo da
passagem da pluma dos rejeitos de minério nos pontos amostrados.
Estes testes indicaram que cerca de 60% e 30% das amostras testadas,
respectivamente, possuíam toxicidade, mesmo anos após a passagem da pluma
de rejeitos nos pontos amostrados. Isto sugere que, ao menos parte dos
poluentes, tenha ficado retido no sistema aquático. Esta hipótese é reforçada
quando considerado que o segundo teste avaliou a toxicidade de amostras de
sedimentos, ou seja, não só a maioria das amostras de água testadas nesse
período apresentou toxidade crônica, como também quase um terço das
amostras de sedimentos dos mesmos pontos.
Deve-se ainda destacar que o teste ecotoxicológico das microalgas foi realizado
em um laboratório subcontratado pelo ALS Corplab, responsável pelas coletas
de amostras e outros testes ecotoxicológicos realizados nesse período.
Cabe destacar que no PMQQS, está explicito no seu item 6.1 _ Documentação
de Campo:
Quanto à outorga, ainda cabe ressaltar que a ANA foi criada pela Lei nº
9.984/2000. É a agência reguladora dedicada a fazer cumprir os objetivos e
diretrizes da Lei das Águas do Brasil, a lei nº 9.433 de 1997.
Nas ETA I e II a água bruta pode ser tratada por dois circuitos diferentes e
independentes, chamados Planta Velha e Planta Nova, em que esta diferença
está relacionada aos tipos de decantadores e filtros utilizados. Em cada estação,
independentemente de a água bruta ser tratada na Planta Velha ou na Planta
Nova, ao final do tratamento estas águas são misturadas para distribuição à
população. Na ETA IV o tratamento é realizado por apenas um circuito.
Existe uma interligação na rede de distribuição entre as ETA II e ETA IV, utilizada
de acordo com a necessidade. Esta interligação tem como objetivo fornecer água
tratada da ETA II para o bairro Columbia (abastecido pela ETA IV) em momentos
de desabastecimento, ou quando são realizadas interrupções na operação da
ETA IV para manutenções e reparos.
ETA I
Margem direita do rio Doce, lado sul do município de Colatina
Localização
Coord X (SIRGAS2000) = 327719 / Coord Y (SIRGAS2000) = 7838721
Capacidade de
45.000 habitantes
atendimento
Luiz Iglesias, Marista / Sagrado Coração de Jesus, Santa Terezinha, Raul Giuberti, Olívio Z
Nova, Centro, Operário, Perpétuo Socorro, Moacyr Brotas, Jardim Planalto, Vista da Serra,
Bairros atendidos
Vicente, Colatina Velha, Santa Margarida, IBC (Benjamim Carlos dos Santos), Barbados, Sã
Maria Ortiz, Santa Cecília, Por do Sol, Córrego da Lavra, Córrego Santa Fé (Presídios) (Lad
Planta Velha: 60 L/s
Vazão atual
Planta Nova: 100 L/s
Período de Planta Velha: 13h/dia – 7h às 20h
funcionamento Planta Nova: 24h
Sistema de Tratamento Convencional (coagulação, floculação, decantação, filtração, fluoret
Sistema de Tratamento possui duas plantas denominadas “Planta Velha” e “Planta Nova”. Após filtração, os efluente
contato.
ETA I
Planta Velha
• 1 misturador rápido do tipo Calha Parshall onde ocorre também a medição de vazão.
• 1 floculador hidráulico vertical com 18 câmaras.
Intervenção realizada pela Samarco - implantação de 2 misturadores rápidos na pr
durante período de uso do Tanfloc SG.
• 2 decantadores convencionais.
• 2 filtros rápidos descendentes com camada suporte de seixo e leito simples de areia de dif
Planta Nova
• 1 misturador rápido do tipo Calha Parshall onde ocorre também a medição de vazão.
• 1 floculador hidráulico vertical com 9 câmaras.
Intervenção realizada pela Samarco - implantação de 2 misturadores rápidos, um n
câmara, sendo utilizado durante período de aplicação do Tanfloc SG.
Descrição
• 1 decantador de alta taxa com placas de amianto.
• 1 decantador de alta taxa com módulos tubulares.
Intervenção realizada pela Samarco - implantação de módulos de decantação tubu
placas de amianto que estavam parcialmente quebradas (quarto trimestre de 2016
• 5 filtros Russos – para lavagem de cada filtro são utilizados 200 m3 de água (acumulada e
minutos, sendo lavados a cada 10 dias.
Intervenção realizada pela Samarco – troca dos leitos filtrantes de todos os filtros
Geral
• Tanque de contato (único tanque para atender a Planta Nova e a Planta Velha) - reservató
do pH com cal hidratada e fluoretação com fluossilicato de sódio.
• Intervenção realizada pela Samarco - instalação de bomba dosadora de Tanfloc SG p
viscoso; instalação de tanques para armazenamento do Tanfloc SG.
ETA II
Localizada na margem esquerda do rio Doce, lado norte do município de Colatina
Localização
Coord X (SIRGAS2000) = 328196 / Coord Y (SIRGAS2000) = 7840219
Capacidade de
60.000 habitantes (aproximadamente 60% da população da sede do município).
atendimento
Mário Giurizatto, Santa Helena, Riviera I, Maria das Graças, Castelo Branco, Lacê, São Silv
Amélia, Santo Antônio, Morada do Sol, Santos Dumont, São Pedro, São Braz, Martinelli, Ho
Bairros atendidos Horizonte, Antônio Damiani, São Miguel, Padre José de Anchieta, Santa Mônica, San Diego
dos Jacarandás, Carlos Germano Naumann, Ayrton Senna, João Manoel Meneghelli, Vicen
cidade, exceto o bairro Columbia).
Planta Velha: 60 L/s
Vazão atual
Planta Nova: 140 L/s
Período de Planta Velha: 13h/dia – 7h às 20h
funcionamento Planta Nova: 24h/dia
Sistema de Tratamento Convencional (coagulação, floculação, decantação, filtração, fluoret
Sistema de Tratamento possui duas plantas denominadas “Planta Velha” e “Planta Nova”. Após filtração, os efluente
contato.
ETA II
Planta Velha
• 1 misturador rápido do tipo Calha Parshall onde ocorre também a medição de vazão.
• 1 floculador hidráulico vertical com 8 câmaras.
Intervenção realizada pela Samarco - implantação de 1 misturador rápido na prime
período de uso do Tanfloc SG.
• 2 decantadores convencionais.
• 2 filtros rápidos descendentes com camada suporte de seixo e leito simples de areia de dif
Planta Nova
• 1 misturador rápido do tipo Calha Parshall onde ocorre também a medição de vazão.
• 1 floculador hidráulico vertical com 9 câmaras.
Descrição
Intervenção realizada pela Samarco - implantação de 1 misturador rápido na prime
período de uso do Tanfloc SG.
• 2 decantadores convencionais.
• 8 filtros Russos – para lavagem de cada filtro são utilizados 200 m3 de água (acumulada e
minutos, lavados em dias alternados, sendo um por dia.
Geral
• Tanque de contato (único tanque para atender a Planta Nova e a Planta Velha) - reservató
do pH com cal hidratada e fluoretação com fluossilicato de sódio.
• Intervenção realizada pela Samarco - instalação de bomba dosadora de Tanfloc SG p
viscoso; instalação de tanques para armazenamento do Tanfloc SG.
ETA IV
Localizada na margem esquerda do rio Doce no Bairro Columbia
Localização
Coord X (SIRGAS2000) =321272 / Coord Y (SIRGAS2000) = 7839881
Capacidade de
Aproximadamente 6.000 habitantes.
atendimento
Bairros atendidos Bairro Columbia (Lado norte da cidade)
Vazão atual 19 L/s
Período de
15h a 16h/dia
funcionamento
Sistema de Tratamento Sistema de tratamento convencional (coagulação, floculação, decantação, filtração, fluoreta
• 1 misturador rápido do tipo Calha Parshall onde ocorre também a medição de vazão;
• 1 floculador hidráulico vertical com 14 câmaras.
Intervenção realizada pela Samarco - implantação de 1 misturador rápido na segun
período de uso do Tanfloc SG.
• 2 decantadores convencionais.
Intervenção realizada pela Samarco - implantação de módulos de decantação tubu
Descrição decantadores convencionais (quarto trimestre de 2016).
• 6 filtros rápidos descendentes com camada suporte de seixo e leito simples de areia de dif
Intervenção realizada pela Samarco – troca dos leitos filtrantes (iniciado em outub
• Tanque de contato (único tanque para atender a Planta Nova e a Planta Velha) - reservató
do pH com cal hidratada e fluoretação com fluossilicato de sódio.
• Intervenção realizada pela Samarco - instalação de bomba dosadora de Tanfloc SG p
viscoso; instalação de tanques para armazenamento do Tanfloc SG.
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019).
A Samarco realizou a troca das placas de um decantador na Planta Nova da ETA I por
módulos de decantação tubulares de PVC, sendo que algumas placas estavam
quebradas e, na ETA IV foi realizada instalação de módulos de decantação tubulares de
PVC nos dois decantadores. A instalação destes módulos faz com que a vazão a ser
tratada seja aumentada, otimizando o processo de tratamento (VIANA, 2019). Foram
também trocados todos os leitos filtrantes (camada suporte – seixo e leito filtrante – areia)
das ETA I, II e IV, visando melhorar a qualidade da água a ser distribuída para população,
provavelmente em razão da colmatação do leito filtrante, pela troca do coagulante.
Outra informação a ser acrescentada é que consta nas planilhas de controle operacional
fornecidas pelo Sanear (Sanear, 2019a) a utilização de Carvão Ativado apenas nas ETA
I e II, mas não foi informado o período exato. Na ETA I consta registro de uso deste
produto de 10/12/15 a, aproximadamente, 10/06/16 e na ETA II de 20/12/15 a,
aproximadamente, 21/02/16. O Sanear informou, em resposta à visita técnica realizada
em 05/07/2019, que a “ [...] decisão de se utilizar o carvão ativado ocorreu após visita à
ETA de Governador Valadares que utilizava o produto para minimizar os fatores
organolépticos e da presença de cianobactérias no rio Doce”.
Existiu, ou ainda existe, algum projeto de adequação física das instalações das
estações de tratamento de água da Sanear em face da situação emergencial
ocorrida em novembro/dezembro de 2015, a fim, de resgatar a normalidade da
qualidade da água fornecida à população? Caso positivo, queira o Sr. Perito
descrever essa adequação e sua eficiência na qualidade da água a ser distribuída
à população colatinense.
Sim, foram realizadas adequações nas instalações das estações de tratamento de água,
como informado no quesito 22.
Além destas intervenções, realizadas nas ETA I, II e IV, foi contratada pela Samarco a
empresa NewFields para realizar diagnóstico sobre as condições operacionais das ETA
I e IV.
1.1 ETA I
Planta Velha
- Implantação de 2 misturadores rápidos na primeira câmara, sendo utilizado durante
período de uso do Tanfloc SG.
Planta Nova
- Implantação de 2 misturadores rápidos, um na primeira câmara e um na segunda
câmara, sendo utilizado durante período de aplicação do Tanfloc SG.
- Implantação de módulos de decantação tubulares em PVC em substituição às placas
de amianto que estavam parcialmente quebradas.
- Troca dos leitos filtrantes dos 5 (cinco) filtros russos.
Geral
- Instalação de bomba dosadora de Tanfloc SG por se tratar de um líquido muito viscoso.
- Instalação de tanques para armazenamento do Tanfloc SG.
1.2 ETA II
Planta Velha
- Implantação de 1 misturador rápido na primeira câmara, sendo utilizado durante período
de uso do Tanfloc SG.
Planta Nova
Geral
- Instalação de bomba dosadora de Tanfloc SG por se tratar de um líquido muito viscoso.
- Instalação de tanques para armazenamento do Tanfloc SG.
1.2 ETA IV
- Implantação de 1 misturador rápido na segunda câmara, sendo utilizado durante
período de uso do Tanfloc SG.
- Implantação de módulos de decantação tubulares em PVC nos 2 (dois) decantadores
convencionais.
- Troca dos leitos filtrantes dos 6 (seis) filtros rápidos descendentes.
- Instalação de bomba dosadora de Tanfloc SG por se tratar de um líquido muito viscoso.
- Instalação de tanques para armazenamento do Tanfloc SG.
2.1 ETA I
Os peritos entendem que desta forma o lodo poderá ser encaminhado para reciclagem,
dando a este material uma destinação final mais apropriada.
c) Retirada de lodo: o lodo deve ser removido com mais frequência para melhorar o
desempenho do clarificador e reduzir a frequência de retrolavagem do filtro.
Os peritos enfatizam que a colmatação dos filtros irá dificultar a filtração, comprometendo
a qualidade da água a ser distribuída à população.
coagulante a ser utilizado no tratamento devem ser realizados diariamente e com mais
frequência para que o coagulante rotineiramente utilizado nas ETA (sulfato de alumínio)
seja dosado adequadamente. Isso porque, com o aumento da turbidez da água é
necessário aumentar a quantidade de coagulante.
2.2 ETA IV
a) Sistema de captação: é indicado a substituição do poço úmido de concreto por um
tanque de fibra de vidro colocado sobre uma base de concreto. O tanque deve estar, pelo
menos, a 2 metros acima do nível de inundação e equipado com interruptores de boia ou
um transdutor de pressão para controlar a alimentação realizada por sistema de
bombeamento. O tanque deve ser coberto e provido de uma escotilha de acesso superior.
d) Filtração: é indicada a substituição do meio filtrante sempre que for usado o Tanfloc
em razão da formação de massa gelatinosa que colmata o filtro. Foi informado pelo
Sanear que o leito de areia foi trocado em janeiro/2016. E, ainda, que sejam instaladas
seis novas comportas manuais nas dimensões adequadas, em material que não seja
madeira, pois não devem perder sua forma original.
Os peritos enfatizam que a colmatação dos filtros irá dificultar a filtração, comprometendo
a qualidade da água a ser distribuída à população
e) Área de Armazenamento de Produtos Químicos e Tubulação de Transferência: neste
caso, são indicados: (1) substituição de toda a tubulação da linha de distribuição de
produtos químicos; (2) os cilindros de cloro devem ser fixados na parede com correntes
para evitar quedas e liberação de gases tóxicos; (3) realização de inspeção do medidor
de fluxo de gás de cloro e substituição, se necessário, para garantir a regulação precisa
da dosagem de cloro.
Entre essas alterações no processo emergencial adotado pela Sanear, está o uso
do coagulante/floculante a base de polímero orgânico? Caso positivo, caracterizar
o produto, informar o tempo de uso e as dosagens.
Figura 24.1 – Reservatório polímero, containers IBC vazios de capacidade de 1.000 litros
de Tanfloc SG – Local: ETA1
Figura 24.3 – Tanque polímero com cerca de 5.000 litros de Tanfloc SG – local: ETA2
Caracterização do produto:
No seu sítio eletrônico, a Tanac S.A, produtor do Tanfloc SG, descreve o produto da
seguinte forma:
Segundo a Tanac S.A., o Tanfloc SG pode ser adquirido em forma líquida (solução
aquosa) ou em pó.
O tempo de uso e a dosagem de Tanfloc utilizados foram avaliados por meio de três
diferentes documentações técnicas fornecidas pela Sanear para as três ETA (I, II e IV).
Foram recebidos os Relatórios Técnicos Mensais (JFES, Fls 4698) abarcando o período
de janeiro de 2013 a agosto de 2018, e cópias dos Relatórios Mensais em formulários
preenchidos à mão, abarcando o período de outubro de 2015 a agosto de 2016 (Fls 5134
a 5147; Fls 5165 a 5177; Fls 5180 a 5189).
Desta forma foram solicitados os relatórios diários para o período de janeiro de 2010 a
setembro de 2018. Ressalta-se que os Relatórios Mensais não foram utilizados como
referência para entendimento do tempo de uso e dosagens do Tanfloc, utilizadas nas
ETA estudadas.
Cabe mencionar que os relatórios diários são utilizados como base de dados para
elaboração dos relatórios mensais.
Tabela 24.1 — Tempo de uso, dosagem e volume de água tratada com Tanfloc SG nas
ETA I, II e IV em 2015, 2016 e 2017, baseando-se nas informações descritas nos
Relatórios Diários
Ano
Uso do Tanfloc SG
2015 2016 2017
Número de dias de uso 37 247 43
Dosagem Média [mg/L] 39,6 19,5 22,6
ETA I
O uso de Tanfloc SG foi identificado pelas informações dadas na coluna das observações
dos relatórios diários (p.e.: 1250 LTS de Tanfloc as 23:10 HS; dia 01/01/2017). O
formulário do relatório diário não foi adaptado à nova situação, e na coluna da dosagem,
continuava registrado o Sulfato de Alumínio como coagulante/floculante mesmo sendo
usado Tanfloc SG.
Segundo a carta do Sanear (Fls 7013), o Tanfloc SG foi também utilizado em mais duas
ETA: “A ETA IFES Itapina utilizou Tanfloc para tratamento de água destinada à
piscicultura e abastecimento. Em um período curto a ETA Itapina utilizou tanfloc.” As duas
ETA usam mananciais locais como captação primaria de água bruta sendo o rio São João
Grande para a ETA IFES Itapina e uma nascente local para a ETA Itapina.
Segundo o Sanear, o rio Doce serve como captação alternativa caso seja necessário.
Informa ainda, na mesma carta, que a partir de 2017, o rio Doce passou a ser utilizado
regularmente por aproximadamente 3 horas por dia, para abastecimento da ETA Itapina,
geralmente durante festival de música anual que gera um aumento no consumo de água
na comunidade.
Nos relatórios diários da ETA Itapina (Fls 7013) não foi encontrado nenhum registro do
uso do Tanfloc SG durante o período de novembro de 2015 a dezembro de 2018. Desta
forma, não foi possível identificar o “período curto” mencionada na carta do Sanear para
determinação do tempo de uso e da dosagem de Tanfloc SG nesta ETA
Cabe ressaltar que ETA Ifes-Itapina e ETA Itapina possuem manancial específico.
Porém, em algumas épocas do ano utilizam o rio Doce para captação alternativa em
razão da baixa vazão do manancial primário. Isso ocorre em período bastante curto
(poucos dias) e, desta forma, apenas as ETA I, ETA II e ETA IV foram objetos da perícia.
Para se afirmar que todo e qualquer produto químico utilizado no tratamento de água
para consumo humano atende aos requisitos da norma ABNT NBR n° 15.784/2014 1
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014) e ao estabelecido na
Portaria 2914/11, é necessário submetê-lo a análises e verificação de documentos, bem
como o relacionamento com as autoridades públicas. Um dos mais importantes
parâmetros é a Concentração Máxima Permitida de uma Determinada Impureza (CIPP),
cuja base de determinação é a Dosagem Máxima de Uso (DMU) do produto, ou com
outras palavras, a aplicação da DMU não deve deixar concentrações de contaminantes
oriundos do produto, acima dos limites estabelecidos para a água tratada.
O fabricante do Tanfloc SG, a Tanac SA, forneceu dois laudos laboratoriais com
resultados de análises de Tanfloc SG na sua forma líquida conforme ABNT NBR n°
15.784/2014. O laudo do estudo nº 4201-PQT53-062-17 foi emitido no dia 4 de abril de
1A norma ABNT NBR 15.784/2014 foi atualizada em 07/04/2017. As alterações realizadas não afetaram
os aspectos discutidos neste e nos quesitos seguintes que tratam de assuntos ligados a esta norma.
Os laudos foram elaborados pelo laboratório NSF Bioensaios situado em Santa Isabel/rio
Grande do Sul. As análises de ambos os estudos foram realizadas com uma DMU de 10
mg/L. Nos dois casos, os resultados dos VOC analisados ficaram todos abaixo de limite
de detecção e não foram detectados picos de contaminantes nas varreduras por
espectrometria de massas. Somente formaldeído foi detectado em níveis quantificáveis
de 0,09 mg/L (laudo de 2017) e 0,06 mg/L (laudo de 2015). Os níveis encontrados foram
menores que o CIPP estabelecido para formaldeído que é de 0,1 mg/L. Desta forma o
Tanfloc SG atende os requisitos da ABNT NBR n° 15.784/2014 quando é respeitado a
DMU de 10 mg/L ao ser aplicado no tratamento da água bruta.
Na Figura 25.1 fica demonstrado que a dosagem de Tanfloc SG não cumpriu a ABNT
NBR n° 15.784/2014 nas ETA de Colatina. Na ETA I, considerando o total de 327 dias de
uso, a dosagem do Tanfloc SG ficou somente durante 46 dias (14,1%) igual ou menor
que a DMU de 10 mg/L. Durante o restante de 281 dias do uso (85,9%), a dosagem ficou
maior que a DMU, atingindo uma dosagem de 58 mg/L (5,8 vezes maior que a DMU), no
pior caso.
Figura 25.1 – Dias de utilização do Tanfloc SG nas diferentes faixas da dosagem, local
ETA I, período de 25/11/2015 a 31/12/2017
80
78
70 71
60
ETA I
50
Dias do uso
46
Total de 327 dias do uso
40
30 33
28
20 21
17 19
10
8 4 2
0
Na ETA II, considerando o total de 348 dias de uso, a dosagem igual ou menor que a
DMU foi aplicada por 91 dias (26,1%). Dosagens maiores do que a DMU foram
observadas durante o restante de 257 dias (73,9%), atingindo, no pior caso, uma
dosagem de 60m>L (6 vezes maior que a DMU), como demonstrado na Figura 25.2.
Figura 25.2 – Dias de utilização do Tanfloc SG nas diferentes faixas da dosagem, Local
ETA II. período de 25/11/2015 a 31/12/2017
100
90
91
80
70
72 ETA II
Total de 348 dias do uso
Dias do uso
60
57
50
40
30
32 31
20 23
10 15
12 9 3 3
0
No caso da ETA IV, considerando o total de 306 dias de uso, a dosagem menor ou igual
a DMU foi cumprida em 173 dias (56,5%). Durante o restante de 133 dias (43,5%) do uso
de Tanfloc SG, a dosagem ficou maior que a DMU e a maior dosagem foi de 60mg>L (6
vezes maior que a DMU), conforme demonstrado na Figura 25.3.
Figura 25.3 – Dias de utilização do Tanfloc SG nas diferentes faixas da dosagem, Local
ETA IV. período de 25/11/2015 a 31/12/2017
180
173
160
140
120
ETA IV
Dias do uso
100
80
Total de 306 dias do uso
60
40
20 30
24
14 15 14 15 3
9 9
0
Quadro 25.1 – Volumes de água tratada com dosagem do Tanfloc SG igual ou menor
que a DMU e maior que a DMU.
Volume de água tratada [m3]
Dosagem ≤ 10 mg/L Dosagem > 10 mg/L
ETA I 537.212 3.378.786
ETA II 1.337.708 3.813.724
ETA IV 295.865 190.748
ETA IFES Itapina 0 8.626
Soma 2.170.785 7.391.885
Fonte: Elaborados pelos Peritos, 2019
Desta forma conclui-se que não foram cumpridas as exigências da ABNT NBR n°
15.784/2014, “Produtos utilizados para coagulação e floculação” (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014), em relação à DMU.
Na sua primeira carta de 24 de outubro de 2018 (Fls 5124 a 5127), o Sanear não
respondeu a solicitação dos documentos. Na sua segunda carta de 4 de fevereiro de
2019 (Fls 6533 a 6534), informa o fornecimento das fichas técnicas de sulfato de alumínio
no anexo V. Além disso informa: “O Sanear não possui as fichas de fornecimento do
Tanfloc SG pois este foi custeado pela Samarco/RENOVA.” Entende-se que o Sanear
deveria ter solicitado estes documentos à Samarco, aqui como fornecedor intermediário
do produto, ou diretamente a Tanac SA, o fabricante.
O simples fato de recebimento gratuito do produto, não tira do Sanear a responsabilidade
sobre tudo que acontece no sistema de abastecimento. A Portaria GM/MS n° 2.914/2011
no seu Art. 13, inciso III (BRASIL, 2011), cita que compete ao responsável pelo sistema
ou solução alternativa coletiva de abastecimento de água para consumo humano a
manutenção e controle da qualidade da água produzida e distribuída. Isso inclui o controle
dos produtos químicos utilizados.
Considerando que o laudo analítico, o LARS e a CBRS deveriam ser entregues pelo
fornecedor/fabricante ao usuário junto com o produto, foi solicitado à Tanac SA a
apresentação destes documentos referente ao período em questão. Após a solicitação a
Tanac SA forneceu três LARS e quatro CBRS conforme demonstrado na Quadro 25.2.
Além disso, a Portaria 2914/2011 (BRASIL, 2011), no seu Cap. V, Art. 39, § 5º, exige que
o responsável pelo sistema ou solução alternativa coletiva de abastecimento de água
encaminha informações sobre os produtos químicos utilizados e a comprovação de baixo
risco à saúde (CBRS) para as autoridades de saúde pública. Todo procedimento de
encaminhamento do LARS e da CBRS é descrito na Nota Informativa Nº
157/DSAST/SVS/MS/2014 (BRASIL, 2014), que fornece também os formulários para o
LARS e a CBRS, e documento que acompanha os dois, o Declas (Documento de
Encaminhamento do CBRS e LARS à Autoridade de Saúde Pública).
O LARS não é elaborado pela operadora do sistema de abastecimento, ele é emitido pelo
laboratório que analisou o produto conforme a norma ABNT NBR n° 15.784/2014. A base
da análise é a Dosagem Máxima de Uso (DMU) do produto e o LARS só pode ser emitido
pelo laboratório se a análise dos parâmetros exigidos para um produto específico não
ultrapassar os limites estabelecidos pela norma. A análise é normalmente solicitada pelo
fabricante do produto que emite a CBRS a partir do laudo positivo da análise e LARS.
Ambos os documentos deveriam ser entregues ao usuário pelo fabricante junto com o
produto fornecido. Conforme a Nota Informativa n° 157/DSAST/SVS/MS/2014, o
responsável pelo sistema de abastecimento deve encaminhar os dois documentos junto
com o Declas (Documento de Encaminhamento do CBRS e LARS à Autoridade de Saúde
Pública) para a autoridade de saúde pública, confirmando seu compromisso com
aplicação correta da DMU informada pelo fabricante.
O LARS, a CBRS e o Declas dos produtos químicos utilizados nas ETA de Colatina foram
solicitados ao Sanear. Não foi fornecido nenhum desses documentos referente ao ano
de 2015 e nem para o ano de 2016, como se observa na Tabela 27.1. Observa-se que
em nenhum caso foi recebido o respectivo Declas de um produto. Desta forma concluir-
se que o Sanear não cumpriu as exigências referentes ao uso de produtos químicos
descritos na Portaria GM/MS n° 2.914/2011 e na Nota Informativa n°
157/DSAST/SVS/MS/2014. Esse fato foi ainda confirmado pela ausência destes
documentos na Secretaria Municipal de Saúde de Colatina (Fls 6974). Não houve
Tabela 27.1 – Laudos analíticos, LARS, CBRS e Declas recebido pelo Sanear com suas
datas de emissão
Laudo
Produto LARS CBRS Declas
analítico
Hidróxido de Cálcio 26/06/2017 26/06/2017 16/08/2019* -
Gás de Cloro 07/11/2017 07/11/2017 2018 -
Fluossilicato de Sódio 26/02/2018 23/10/2018 03/04/2019 -
Hipoclorito de Sódio 28/06/2018 28/06/2018 12/04/2019 -
Sulfato de Alumínio Ferroso Sólido 27/12/2017 27/12/2017 18/03/2019 -
Sulfato de Alumínio Ferroso Líquido 31/10/2018 31/10/2018 05/04/2019 -
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
Nota: (*) Esta CBRS se refere a um laudo analítico e seu respectivo LARS emitidos em 05/07/2019
A não trazem perigos aos seres humanos ou ao meio ambiente. Os materiais desta classe
podem oferecer outras propriedades, sendo biodegradáveis, comburentes ou solúveis
em água.
O Sanear não executa na área das ETA tratamento específico do lodo mesmo que esteja
utilizando polímero orgânico ou sulfato de alumínio como coagulante. De acordo com os
documentos apresentados, são contratadas empresas para proceder o gerenciamento
do lodo desde dezembro de 2015. Entre dezembro de 2015 e maio de 2016, segundo
Samarco (Fls 7016), o lodo foi coletado e transportado pela empresa Colnorte Coleta de
Resíduos Ltda, localizada no município de Linhares–ES. Por sua vez, a empresa Colnorte
subcontratou as empresas ET&S Tratamento Ambiental e Saneamento Ltda, localizada
no município de Linhares/ES, e Ambitec Gestão de Resíduos, localizada no município de
Aracruz/ES, para o tratamento e disposição final do material. Neste caso, não foi
apresentado o contrato firmado com a empresa Colnorte, apenas os da Colnorte com as
demais empresas.
Conforme o contrato, a empresa deverá coletar o lodo das três estações, ETA I, ETA II e
ETA IV, uma vez por mês em cada uma das estações, ou de acordo com a necessidade
do Sanear. O contrato cita que a contratada será responsável por executar o tratamento
e destinação final do resíduo em Central de Tratamento de Resíduos – CTR,
ambientalmente licenciada que deverá ser realizado por outra empresa, considerando o
perfil da Colnorte.
A NBR 10004 (ABNT, 2004) que classifica os resíduos sólidos, os define como:
Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento
de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de
poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável
o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para
isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia
disponível.
As alternativas para destinação final são diversas, podendo destacar aterros sanitários
(teor de sólidos >30%); disposição controlada em certos tipos de solos, desde que atenda
as condicionantes legais ambientais; co-disposição com biossólidos gerados em
estações de tratamento de esgotos, lançamento na rede coletora de esgoto, bem como
aplicações industriais diversas tais como fabricação de cimento, fabricação de tijolos ou
outros materiais de construção. Para essas aplicações devem ser analisadas as
viabilidades técnica, econômica e ambiental (ABE; RUTKOWSKI; ISAAC, 2019).
Para a escolha da forma de destinação final do lodo, deve-se atentar ao teor de sólidos
nele presente. Cada uma dessas alternativas de disposição final ou uso benéfico exige
um processo de tratamento do lodo para atingir determinadas características. Entre seus
usos benéficos, destaca-se a fabricação de cimento, a disposição no solo, a fabricação
de tijolos.
Tabela 28.1 – Resultados dos testes com o lodo do decantador – Massa Bruta
Resultados analíticos - Resultados
SGS GEOSOL analíticos - VMP
Parâmetro Unidade
Laboratórios Ltda Bioagri Ambiental (NBR10004/2004)
(15/12/2015) LTDA (31/05/2016)
Tabela 28.3 – Resultados dos testes com o lodo do decantador – Extrato Solubilizado
(continua)
Resultados
Resultados
analíticos – SGS
analíticos - VMP
Parâmetros Unidade GEOSOL
Bioagri Ambiental (NBR10004/2004)
Laboratórios Ltda
LTDA (31/05/2016)
(15/12/2015)
pH Final do
--- 6,6
Solubilizado
Parâmetros Inorgânicos
Alumínio mg/L 0,12 0,125 0,2
Arsênio mg/L 0,004 < 0,01 0,01
Bário mg/L 0,09 0,0215 0,7
Cádmio mg/L <0,001 < 0,001 0,005
Chumbo mg/L <0,01 ‘< 0,01 0,01
Cianeto mg/L <0,01 < 0,05 0,07
Cloreto mg/L 10,3 1,81 250
Cobre mg/L <0,009 < 0,005 2
Cromo mg/L <0,01 < 0,01 0,05
Ferro mg/L 7,22 0,454 0,3
Fluoreto mg/L <0,05 0,07 1,5
Índice de Fenóis mg/L < 0,01 0,01
Manganês mg/L 12,8 0,331 0,1
Mercúrio mg/L <0,0002 < 0,00008 0,001
Nitrato (como N) mg/L 0,03 < 0,1 10
Prata mg/L <0,005 < 0,01 0,05
Selênio mg/L <0,01 < 0,008 0,01
Sódio mg/L 13,9 4,58 200
Sulfato mg/L 179 < 0,5 250
Surfactantes (como
mg/L NR < 0,1 0,5
LAS)
Zinco mg/L <0,1 < 0,01 5
Parâmetros Orgânicos
2,4,5-T mg/L NR < 0,00005 0,002
2,4,5-TP mg/L NR < 0,00005 0,03
2,4-D mg/L NR < 0,00005 0,03
Aldrin + Dieldrin mg/L NR < 0,00003 0,00003
Clordano
mg/L NR < 0,00003 0,0002
(isômeros)
DDT (isômeros) mg/L NR < 0,00001 0,002
Endrin mg/L NR < 0,00003 0,0006
Hexaclorobenzeno mg/L NR < 0,00005 0,001
Metoxicloro mg/L NR < 0,00003 0,02
Toxafeno mg/L NR < 0,0001 0,005
Heptacloro e
mg/L NR < 0,00002 0,00003
Heptacloro Epóxido
Tabela 28.3 – Resultados dos testes com o lodo do decantador – Extrato Solubilizado
(conclusão)
Resultados
Resultados
analíticos – SGS
analíticos - VMP
Parâmetros Unidade GEOSOL
Bioagri Ambiental (NBR10004/2004)
Laboratórios Ltda
LTDA (31/05/2016)
(15/12/2015)
Lindano (g-BHC) mg/L NR < 0,00003 0,002
Fenóis Totais (mgC6H5OH/L) <0,002 NR 0,01
Surfactantes (mg MBAS/L) 0,36 NR 0,5
Fonte: Adaptado de SGS GEOSOL Laboratórios Ltda (Sanear, ??) e Merieux Nutri Sciences (Sanear, ???).
Baseado nestas informações, conclui-se que efluente contendo resíduos do produto não
deveria sair da estação sem tratamento. Entretanto, tem que se considerar a
biodegradabilidade do Tanfloc SG, que foi confirmada num estudo solicitado pela Tanac
S.A. e realizado pelo laboratório Bioagri (Fls 4698).
Além disso, Castro-Silva et al. (2004) relata que coagulantes orgânicos, como os
baseados em taninos, são substâncias biodegradáveis e podem ser destruídas durante
o processo do tratamento. Desta forma, é imprescindível saber se há presença de Tanfloc
SG na água de lavagem do filtro para melhor avaliação da necessidade ou não de
tratamento.
Esta informação foi solicitada, mas o Sanear não forneceu nenhum documento que relata
a composição química dos efluentes das ETA. Foi fornecida somente uma análise
temporal da turbidez da água de lavagem do filtro (Fls 6552). Desta forma não foi possível
concluir acerca da necessidade do tratamento.
Nas tabelas 30.1 a 30.6 são apresentadas, por parâmetro, as informações referentes as
amostras que superaram o VMP, considerando todas os dados fornecidos pelo Sanear e
pela Samarco. É importante ressaltar que as linhas destacadas em vermelho
representam resultados que não puderam ser consolidados devido à ausência dos laudos
originais e as células destacadas em vermelho, representam dados inconsistentes,
conforme descrito no Quesito 8.
As possíveis causas de superação dos VMP da Portaria 2914/11 podem estar associadas
ao aumento da concentração desses parâmetros na água bruta devido à ressuspensão
de sedimentos, consequência de picos de vazão ocorridos no rio Doce; dos ajustes
operacionais da dosagem do coagulante; e, da própria condição de tratabilidade de
estações do tipo convencional.
As medidas adotadas pelo Sanear para resolução das inconformidades foram levantadas
por meio da análise da comunicação interna da empresa, realizada por ofícios e e-mails
trocados entre o setor de qualidade e o setor operacional (fls 4698 e 6552).
Tabela 30.1 – Amostras de água tratada com resultados acima do VMP (Portaria
2914/2011) - Alumínio total
DATA DA HORA DA Alumínio (mg/L)
REGIÃO DE INTERESSE
AMOSTRAGEM AMOSTRAGEM VMP – 0,2
18/11/2015 19:41 ETA IV - Colatina 0,335
27/01/2016 9:10 ETA IV - Colatina 52
29/01/2016 20:15 ETA I e II COLATINA 0,259
01/08/2016 11:30 ETA IV - Colatina 0,2
22/10/2016 7:10 ETA I e II COLATINA 0,335
31/10/2016 11:10 ETA I e II COLATINA 0,726
20/11/2016 14:00 ETA I e II COLATINA 1,104
21/11/2016 11:37 ETA IV - Colatina 6,167
23/11/2016 7:20 ETA IV - Colatina 0,834
24/11/2016 11:15 ETA I e II COLATINA 0,592
30/11/2016 17:06 ETA IV - Colatina 0,237
13/02/2017 6:20 ETA IV - Colatina 3,593
15/02/2017 6:35 ETA I e II COLATINA 0,21
27/05/2017 7:05 ETA I e II COLATINA 0,204
04/11/2017 7:05 ETA IV - Colatina 0,424
05/12/2017 6:40 ETA I e II COLATINA 0,256
14/12/2017 6:32 ETA IV - Colatina 0,47
18/12/2017 6:30 ETA IV - Colatina 0,746
07/01/2018 13:40 ETA IV - Colatina 0,529
15/01/2018 6:50 ETA IV - Colatina 0,45
23/01/2018 9:35 ETA IV - Colatina 0,308
31/01/2018 9:55 ETA IV - Colatina 0,237
12/02/2018 11:00 ETA IV - Colatina 0,348
12/03/2018 6:45 ETA IV - Colatina 0,337
16/03/2018 4:30 ETA IV - Colatina 0,336
24/03/2018 5:10 ETA IV - Colatina 0,518
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
Nota: Linha destacada em vermelho - ausência de laudo original (ver Quesito 8)
recomendação foi registrada pela primeira vez em comunicação interna do Sanear no dia
20 de fevereiro de 2017.
Tabela 30.2 – Amostras de água tratada com resultados acima do VMP (Portaria
2914/2011) – Bário
DATA DA HORA DA Bário (mg/L)
REGIÃO DE INTERESSE
AMOSTRAGEM AMOSTRAGEM VMP-0,7
21/01/2016 9:40 ETA IV - Colatina 63
27/01/2016 9:10 ETA IV - Colatina 87
Fonte: Elaborado pelos peritos (2019)
Nota: Linha destacada em vermelho - ausência de laudo original (ver Quesito 8)
Tabela 30.3– Amostras de água tratada com resultados acima do VMP (Portaria
2914/2011) – Cádmio total
HORA DA Cádmio (mg/L)
DATA DA AMOSTRAGEM REGIÃO DE INTERESSE
AMOSTRAGEM VMP-00,005
20/01/2016 ETA I e II COLATINA 0,029
03/12/2016 ETA I e II COLATINA 0,0111
03/12/2016 ETA I e II COLATINA 0,0107
04/12/2016 ETA IV - Colatina 0,0136
06/12/2016 ETA I e II COLATINA 0,02
06/12/2016 ETA I e II COLATINA 0,0122
08/12/2016 ETA IV - Colatina 0,0155
16/12/2016 ETA IV - Colatina 0,0062
Fonte: Elaborado pelos peritos (2019)
Nota: Linha destacada em vermelho - ausência de laudo original (ver Quesito 8)
Tabela 30.4 – Amostras de água tratada com resultados acima do VMP (Portaria
2914/2011) – Ferro total
HORA DA Ferro (mg/L)
DATA DA AMOSTRAGEM REGIÃO DE INTERESSE
AMOSTRAGEM VMP – 0,3
22/12/2015 8:45 ETA I e II COLATINA 0,347
29/01/2016 20:15 ETA I e II COLATINA 0,472
15/01/2018 6:50 ETA IV - Colatina 0,422
Fonte: Elaborado pelos peritos (2019)
Tabela 30.5 – Amostras de água tratada com resultados acima do VMP (Portaria
2914/2011) – Manganês total
HORA DA Manganês (mg/L)
DATA DA AMOSTRAGEM REGIÃO DE INTERESSE
AMOSTRAGEM VMP-0,1
21/11/2015 16:45 ETA I e II Colatina 0,15
03/12/2015 8:15 ETA IV - Colatina 0,163
03/12/2015 19:25 ETA IV - Colatina 0,449
16/12/2015 0:00 ETA I e II Colatina 0,11
19/12/2015 19:50 ETA I e II Colatina 0,13
22/12/2015 19:50 ETA I e II Colatina 0,14
23/12/2015 19:45 ETA I e II Colatina 0,105
30/12/2015 8:40 ETA I e II Colatina 0,103
30/12/2015 20:22 ETA I e II Colatina 0,108
02/01/2016 9:05 ETA I e II Colatina 0,175
03/01/2016 9:15 ETA I e II Colatina 0,147
04/01/2016 9:41 ETA I e II Colatina 0,104
04/01/2016 19:42 ETA I e II Colatina 0,165
05/01/2016 9:25 ETA I e II Colatina 0,221
12/01/2016 9:35 ETA I e II Colatina 0,113
23/01/2016 9:05 ETA IV - Colatina 0,2
24/01/2016 19:20 ETA IV - Colatina 0,251
25/01/2016 9:05 ETA IV - Colatina 0,196
25/01/2016 19:40 ETA IV - Colatina 0,553
26/01/2016 9:10 ETA IV - Colatina 0,112
02/02/2016 18:55 ETA IV - Colatina 0,246
12/01/2017 10:20 ETA IV - Colatina 0,114
24/06/2017 7:10 ETA I e II Colatina 0,109
08/08/2017 6:40 ETA IV - Colatina 0,251
12/08/2017 7:06 ETA IV - Colatina 0,497
28/08/2017 6:35 ETA IV - Colatina 0,122
31/08/2017 6:55 ETA I e II Colatina 0,117
01/09/2017 6:20 ETA IV - Colatina 0,105
04/09/2017 6:45 ETA I e II Colatina 0,16
08/09/2017 6:25 ETA I e II Colatina 0,115
29/09/2017 6:30 ETA IV - Colatina 0,286
27/10/2017 6:45 ETA IV - Colatina 0,74
31/10/2017 6:40 ETA IV - Colatina 0,165
18/12/2017 6:30 ETA IV - Colatina 0,189
19/01/2018 8:20 ETA IV - Colatina 0,159
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
Tabela 30.6– Amostras de água tratada com resultados acima do VMP (Portaria
2914/2011) – Sódio total
DATA DA HORA DA Sódio (mg/L)
REGIÃO DE INTERESSE
AMOSTRAGEM AMOSTRAGEM VMP - 200
14/04/2018 6:55 ETA II 1300
Fonte: Elaborado pelos peritos (2019)
Nota: Célula destacada em vermelho – dado inconsistente (ver Quesito 8)
Com base nas evidências, pode-se afirmar que existe uma relação de causalidade
de que os poluentes do rio Doce acarretaram, ou ainda acarretam, perda na
qualidade da água de abastecimento das populações de Colatina e riscos à saúde
pública? Queira o Sr. Perito justificar.
Se por um lado a demonstração de perda de qualidade da água pode ser feita por meio
da análise quantitativa dos dados apresentados, por outro a relação de causalidade e
sua implicação em riscos à saúde carecem de inúmeras outras informações não
acessíveis neste processo. Em se tratando de consequências sobre a situação de saúde
de uma população, é necessário levar em conta o fato de que múltiplos fatores podem
ser responsáveis pelo desenvolvimento das doenças, o que demandaria estudos mais
específicos e aprofundados de acompanhamento da população.
Por sua vez, o Cádmio, classificado dentro do grupo 1 da IARC como cancerígeno, foi
detectado em água tratada em pelo menos uma ocasião próxima da passagem da pluma
e em água bruta até pelo menos meados do ano de 2017.
Tabela 31.1 – Dados das substâncias encontradas em água bruta e água tratada acima
dos valores máximos permitidos (VM e VMP) e possíveis efeitos deletérios à saúde
humana, oriundos das Tabelas 11.1 e 14.1, presentes nos Quesitos 11 e 14
respectivamente
(continua)
Água Bruta Água tratada
(No de amostras acima (No de amostras acima Referências Bibliográficas–
Parâmetros
VM/No total de VMP/No total de Efeitos sobre a saúde
amostras) amostras)
Ácidos haloacéticos - 10/807 1
Alumínio dissolvido 336/532 - 4
Alumínio total 0/391 25/1103 4
Amônia (NH3) - 1/864 5
Arsênio total 15/611 0/1127 7
Bário 0/467 2/1127 8
Boro total 2/544 - 1_ATSDR
Cádmio total 14/469 8/1129 10
Chumbo total 133/554 0/1127 11
Cianeto livre 27/456 0/18 12
Cianeto total 0/28 1/884 12
Tabela 31.1 – Dados das substâncias encontradas em água bruta e água tratada acima
dos valores máximos permitidos (VM e VMP) e possíveis efeitos deletérios à saúde
humana, oriundos das Tabelas 11.1 e 14.1, presentes nos Quesitos 11 e 14
respectivamente
(conclusão)
Água Bruta Água tratada
(No de amostras acima (No de amostras acima Referências Bibliográficas–
Parâmetros
VM/No total de VMP/No total de Efeitos sobre a saúde
amostras) amostras)
Cloramina 0/79 2/812 3_OMS
Cloreto de metileno - 6/779 13
Cloreto total 1/398 1/814 4_OMS
Cloro residual livre 0/12 4/1072 14
Cloro residual total 5/111 - 14
Cobre dissolvido 25/650 - 16
Cromo total 42/689 0/1127 17
Fenóis totais 2/255 - 18
Lítio (total) 3/305 - EPA_EUA
Manganês total 235/588 35/1102 19
Mercúrio total 2/404 0/1127 20
Níquel (total) 19/687 0/1121 21
Nitrato 0/647 1/841 2_ATSDR; Ward et al, 2018
Nitrito 3/665 0/841 2_ATSDR
Prata total 3/456 - 3_ATSDR
Tetracloreto de carbono 0/109 1/786 23
Trihalometano 0/123 85/809 25
Vanádio total 3/498 - 26
Zinco total 25/688 0/1125 27
Fonte: Fichas de Informações Toxicológicas (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB),
Resoluções CONAMA e Portaria do Ministério da Saúde, “Agency for Toxic Substances and Disease
Registry” (ATSDR), Organização Mundial da Saúde (OMS), “U.S. Environmental Protection Agency” (EPA)
e Ward et al, 2018 (Int. J. Environ. Res. Public Health 2018, 15, 1557; doi:10.3390/ijerph15071557).
Não foram encontrados estudos com dados de saúde coletados após a passagem da
pluma pelo município, que tivessem qualquer especificidade em relação ao evento. Pelas
informações das Secretarias Municipal de Colatina e Estadual do Espírito Santo ((Fls
6743 a 6752 e 6972 a 6975) e (5775 a 5776) respectivamente), até final de 2018 não
havia sido implantado qualquer estudo específico ou mesmo orientado as unidades de
saúde para uma busca qualificada. O incremento no Sistema de Vigilância à Saúde
anunciado pela SEMUS ainda não divulgou dados que permita avaliar os possíveis
impactos na saúde da população, impactos estes que podem ser de curto, médio e longo
prazo. Cabe reiterar que a esta perícia não foi fornecida a metodologia desta proposta de
estudo, o que, como já explicitado no Quesito 31, impede quaisquer comentários e
avaliação da eficiência dele.
Por fim, é escassa a literatura biomédica sobre estudos de impacto à saúde na população
do município. Há alguns relatórios com descrição de dados agudos após a passagem da
pluma em municípios de Minas Gerais, mas apenas um estudo foi encontrado onde foram
descritos episódios de alterações clínicas agudas como diarreia, febre e alterações de
pele especificamente na cidade de Colatina (Actas Saúde Coletiva Brasília, 2016;
Relatório Greenpeace, 2017; Relatório Prismma, 2018 e Relatório WikirioDoce, 2016).
Também, não foram encontrados artigos com descrições de seguimento longitudinal da
população afetada pelo consumo de água contaminada em Colatina, mesmo tendo
havido evidências de contaminação tanto da água tratada como da água bruta que serve
à população.
Conclui-se que, devido aos potenciais efeitos adversos causados pela exposição às
substâncias encontradas, entre elas os metais, e da dificuldade de cálculos de “exposição
x risco”, frente aos dados encontrados, há necessidade de programas de
Foi também afirmado aos peritos que a medição de Cloro Residual é realizada em
equipamento rude e defasado, que não oferece segurança de resultado. Esta medida é
de grande importância para verificação do risco de exposição da população, uma vez que
o cloro residual presente dentro da faixa preconizada pela legislação é a primeira garantia
de que o tratamento feito na ETA está se mantendo até chegar à residência dos usuários.
Ficou também evidenciado que as análises de pH, turbidez e parâmetros
organolépticos foram interrompidas há mais de um ano porque o aparelho do
Laboratório da Regional de Saúde, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), em
Colatina, está quebrado. Não há informações sobre quaisquer providências a respeito.
Sendo assim, a Semus e a Sesa informam que não realizaram quaisquer estudos sobre
agravos à saúde, relacionados à veiculação hídrica, ocorridos na população de Colatina
após o rompimento da barragem, a partir de novembro 2015 até dezembro de 2018.
Embora não tendo acesso às informações dos órgãos envolvidos no controle e vigilância
da água, a busca de informações para esta perícia não se limitou aos órgãos oficiais,
sendo ampliada com levantamentos em publicações ou relatórios de Instituições direta
ou indiretamente interessadas no referido tema, a respeito de estudos de consequências
do uso da água de abastecimento, especificamente para a população de Colatina. Foi
realizada também uma revisão de literatura junto às principais bases referenciais
nacionais e internacionais, como Web of Science, Scopus, Science Direct, Scielo, One
File (GALE), Elsevier, dentre outras, por meio da inserção e correlação – utilizando-se os
operadores booleanos: AND, OR e NOT – de tais descritores em inglês encontrados na
base da BVS: vigilância em saúde ambiental (environmental health surveillance),
desastres naturais (natural desasters), qualidade da água em Colatina (water quality in
Colatina), vulnerabilidade a desastres (vulnerability desasters), qualidade da água e
efeitos adversos (water quality and adverse affects). Também foram realizadas buscas
de teses e dissertações no Banco de Teses e Dissertações da Capes, normas e anais de
congressos acerca do tema.
Foi encontrado um estudo, realizado por Rocha et al (2012), que objetivou mensurar os
impactos na população ribeirinha da cidade Colatina–ES provocados pelo
desprendimento de rejeitos de mineração no rio Doce, provenientes da cidade de
Mariana–MG. Os métodos utilizados para o projeto foram embasados em uma pesquisa
teórica seguida de um trabalho em campo de caráter longitudinal, quantitativo e não
probabilístico. A abordagem, no âmbito epidemiológico, demonstrou aumento expressivo
na incidência de sinais e sintomas prodrômicos de patologias, como a diarreia, febre e
afecções de pele e fâneros que obtiveram evolução aproximada de 172,7%, 133,3% e
35,3%, respectivamente. Tais parâmetros estão intimamente associadas as
consequências do desastre ambiental, pelas alterações do meio ambiente, interrupção
do fornecimento de água, contaminação hídrica, dentre outras. Notou-se necessidade de
redefinir temáticas de educação em saúde pelas instituições governamentais para o
manejo de qualidade da água. Sintomas como febre, diarreia, e alterações de pele
tiveram elevação das taxas associadas com efeitos adversos no âmbito biológico,
psicológico, social e econômico.
Em que pese o fato de que a Lei 8080 de 1990 (Lei Orgânica da Saúde – LOS), definir
claramente que é de responsabilidade do Gestor Municipal de Saúde realizar a Vigilância
à Saúde da população de seu território, em Colatina não foi implantado qualquer sistema
dirigido às possíveis consequência sobre a população abastecida com água tratada pelo
Sanear, após o rompimento da barragem, ou mesmo dos usuários de água de qualquer
origem, tratada ou não.
Embora tenha também esta prerrogativa, a Sesa se limitou a informar apenas uma
análise do Sistema Informatizado de Vigilância Epidemiológica de Doenças Diarreicas
Agudas (Sivep-DDA) e do banco de dados do Sistema de Informação da Vigilância
Nacional de Agravos de Notificação (Sinan). Nestes não foram observadas alterações no
padrão de notificações da série histórica estudada, de 2010 a 2018 (5775 a 5776). Não
informa, ainda qualquer iniciativa específica acerca dos agravos que possam ser
relacionados à perda de qualidade da água pela presença de metais e outras substâncias
oriundas da passagem da pluma.
Importante observar que os sistemas estudados pela Sesa não abordam agravos
relacionados ao acidente em questão. São prioritariamente voltados a diarreia e a
De uma maneira geral pode-se afirmar que o Sistema de Vigilância à Saúde do Município
de Colatina não sofreu qualquer modificação ou reforço em decorrência da chegada da
pluma de rejeitos proveniente do rompimento ocorrido e das possíveis consequências
sobre a qualidade da água oferecida à população.
Segundo informação também coletada na segunda visita já citada (Fls. 6974), somente
a partir do segundo semestre de 2019 estas Unidades começariam a ser questionadas
quanto a possíveis mudanças de demandas em suas rotinas. Embora tenha sido
solicitado, não foi informado o progresso da referida ação e nem o método a ser utilizado,
de forma que não poderá ser tecida aqui qualquer consideração a respeito.
Figura 11.90 – Gráfico de Ferro II da água do rio Doce em Colatina no período de 2017 a 2018
Estas folhas constituem Parte do Laudo Pericial acostado aos autos n. 0135334-09.2015.4.02.5005 e
devem ser consideradas na completude do documento.
Sim, foram realizados testes para avaliar o tratamento da água antes da distribuição da
água à população de Colatina.
Para responder este quesito será apresentado inicialmente os testes realizados para o
reinício da operação das ETA após a passagem da pluma e em seguida o atendimento à
Portaria nº 2.914/2011, para a avaliação do tratamento efetuado na saída do tratamento.
No caso dos testes realizados para o reinício da operação das ETA após a passagem da
pluma, foi utilizado o documento intitulado “Relatório de testes realizados para
reestabelecimento das condições de operação na ETA de Colatina”, fornecido pela
Samarco (fls 7023 a 7026).
Após os testes laboratoriais, foi realizada uma avaliação em escala piloto na ETA Ifes
Itapina. Segundo o relatório, foi alcançado um nível de turbidez, na água tratada, menor
que 5 NTU que é o valor máximo permitido pela Portaria 2.914/2011 (BRASIL, 2011;
BRASIL, 2017). A turbidez obtida após decantação e filtragem foi de 0,2 NTU (água bruta
2.470 NTU), mas não foi informada a dosagem aplicada neste teste.
O terceiro e último teste foi realizado na ETA II, avaliando o tratamento em escala real. A
turbidez da água bruta (3.640 NTU) foi reduzida pelo tratamento para 0,4 NTU, água
filtrada, sendo menor que o valor estabelecido pela portaria. Neste caso, também não foi
informado a dosagem de TANFLCO SG. A água tratada neste teste foi submetida a uma
análise química e os laudos da análise foram avaliados pelo Professor Dr. Marcelo
Libânio (Parecer, fls 7029) e pelo Professor Dr. Eduardo von Sperling (Parecer, fls 7030),
ambos professores da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Os dois pareceres baseiam-se nos laudos da Cesan (12 parâmetros, Ensaio nº 50559) e
do laboratório Limnos (15 parâmetros, Ensaio nº 14306) e ambos consideraram a água
adequada para consumo pela população mesmo que o valor encontrado para Manganês
tenha ultrapassado o valor máximo permitido (VMP) pela portaria. As justificativas de
cada avaliador são relatadas em seguir.
A Samarco disponibilizou o laudo analítico da Cesan (fls 7027 a 7028). Observa-se que
os limites de detecção informados no laudo para arsênio, cádmio, mercúrio e selênio são
iguais aos respectivos valores máximos permitidos (VMPs) da Portaria 2914/2011. No
caso de chumbo e níquel, o limite de detecção informado é maior que o VMP.
Tabela 35.2– Número total de amostras analisadas na rede de distribuição das ETA I, II e IV
ETA I ETA II ET
Parâmetro
2016 2017 2018 2016 2017 2018 2016 20
Fluoreto 96 50 58 118 63 64 35 2
Bactérias heterotróficas 55 65 56 61 75 62 16 2
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
Nota: Período de monitoramento: 11/15 a 08/18, pós passagem da pluma.
ETA I ETA II
Parâmetro
2015 2016 2017 2018 2015 2016 2017 2018 2015
AGROTÓXICO
2,4-D + 2,4,5-T (µg/l) 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Alaclor (μg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Aldicarbe + Aldicarbesulfona
0 3 2 1 0 3 2 1 1
+Aldicarbesulfóxido (µg/l)
Aldrin + Dieldrin (μg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Atrazina (μg/L) 0 0 2 1 0 0 2 1 1
Carbendazim + Benomil (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Carbofurano (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Clordano (μg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Clorpirifos + Clorpirifos-oxon (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
DDT (p,p’DDT + p,p’DDE + p,p’DDD) (μg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Diuron (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Endossulfan (alfa,beta e sulfato) (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Endrin (μg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Glifosato + AMPA (μg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Lindano (gama-HCH) (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Mancozebe (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Metamidofos (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Metolacloro (μg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Molinato (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Parationa Metilica (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Pendimetalina (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Permetrina (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Profenofos (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Simazina (μg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Tebuconazol (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
ETA I ETA II
Parâmetro
2015 2016 2017 2018 2015 2016 2017 2018 2015
Terbufos (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Trifluralina (μg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
CIANOTOXINA
Microcistinas (μg/L) 1 4 4 3 1 4 4 3 1
Saxitoxinas (µg equivalente STX/L) 1 4 4 3 1 4 4 3 2
PRODUTOS SECUNDÁRIOS DA DESINFECÇÃ
2,4,6-Triclorofenol (mg/L) 0 4 4 3 0 4 4 3 1
Acidos haloaceticos totais (mg/L) 0 4 4 3 0 4 4 3 1
Bromato (mg/L) 0 4 4 3 0 4 4 3 1
Cloramina total (mg/L) 0 4 4 3 0 4 4 3 1
Clorito (mg/L) 0 4 4 3 0 4 4 3 1
Cloro residual livre) (mg/L Cl) 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Trihalometanos Totais (mg/L) 0 4 4 3 0 4 4 3 1
INORGÂNICO
Antimônio (mg/L Sb) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Arsênio (mg/L As) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Bário (mg/L Ba) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Cádmio (mg/L Cd) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Chumbo (mg/L Pb) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Cianeto (mg/L CN) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Cobre (mg/L Cu) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Cromo (mg/L Cr) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Fluoreto (mg/L F) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Mercúrio (mg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Níquel (mg/L Ni) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Nitrato (como N) (mg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
ETA I ETA II
Parâmetro
2015 2016 2017 2018 2015 2016 2017 2018 2015
Tricloroeteno (µg/l) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
ORGANOLÉPTICO
1,2-Diclorobenzeno (mg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
ETA I ETA II
Parâmetro
2015 2016 2017 2018 2015 2016 2017 2018 2015
1,4-Diclorobenzeno (mg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Alumínio (mg/L) 0 0 2 0 0 0 2 0 1
Amônia (como NH3) (mg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 0
Cloreto (mg/L Cl) 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Clorobenzeno ou Monoclorobenzeno (mg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Cor aparente (uH) 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Dureza Total (mg/L) 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Etilbenzeno (mg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Ferro (mg/L) 0 0 2 0 0 0 2 0 1
Gosto e Odor (Intensidade) 0 4 4 3 0 4 4 3 1
Manganês (mg/L) 0 0 2 0 0 0 2 0 1
Sódio (mg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Sólidos dissolvidos totais (mg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Sulfato total (mg/L SO4) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Sulfeto (H2S não dissociado) ou Sulfeto de Hidrogênio
0 0 0 0 0 3 2 1 1
(mg/L S)
Surfactantes (como LAS) (mg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Tolueno (mg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Turbidez (uT) 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Xileno (mg/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Zinco total (mg/L Zn) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
RADIOATIVIDADE
Radioatividade alfa (Bq/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
Radioatividade beta (Bq/L) 0 3 2 1 0 3 2 1 1
OUTROS
Bacterias heterotroficas (UFC/100ml) 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Cianeto Livre (mg/L) 0 3 2 0 0 3 2 0 0
Cilindrospermopsinas (µg/L) 1 4 4 3 1 4 4 3 1
Sim, foram realizadas análises periódicas da água tratada, mas algumas questões devem
ser destacadas, como já apresentado no Quesito 14.
As análises periódicas da água tratada devem ser baseadas no que estabelece a Portaria
2914/2011(BRASIL, 2011; BRASIL, 2017), em seus anexos XI, XII e XIII que apresenta
a frequência de monitoramento e o número de amostras para o controle da qualidade da
água de sistema de abastecimento. No Anexo XI, é apresentada a frequência de
monitoramento de cianobactérias no manancial de abastecimento de água; no Anexo XII
o número mínimo de amostras e frequência para o controle da qualidade da água de
sistema de abastecimento, para fins de análises físicas, químicas e de radioatividade, em
função do ponto de amostragem, da população abastecida e do tipo de manancial, tanto
para Saída do Tratamento, quanto para a Rede de Distribuição; e, no Anexo XIII, o
número mínimo de amostras mensais para o controle da qualidade da água de sistema
de abastecimento, para fins de análises microbiológicas, em função da população
abastecida.
Dessa forma, cabe destacar que não basta reproduzir apenas a frequência exigida pela
Portaria, pois ela também define o número de amostras que deve ser analisado. Quando
se trata do monitoramento na Rede de Distribuição, Anexo XII, o número de amostras é
variável, por ser função da população atendida.
meses deste ano. Em 2017 e 2018 foram fornecidas informações apenas dos meses de
março, abril, maio, junho e julho. Os demais meses não puderam ser analisados.
Nos quadros a seguir são apresentadas as condições estabelecidas pela Portaria GM/MS
n° 2914/2011 e as praticadas pelo Sanear. No Quadro 37.1 são apresentadas algumas
orientações contidas no corpo do texto da Portaria GM/MS n° 2914/2011 e o praticado
pelo Sanear. E, no Quadro 37.2 e 37.3 as condições de monitoramento estabelecidos
nos Anexos XI, XII e XIII da Portaria e o praticado pelo Sanear.
Para o Quadro 37.2 das 19 das substâncias com frequência de monitoramento semestral
constantes do Anexo X da Portaria 2914/2011, o Sanear não atendeu à periodicidade
exigida para 6 parâmetros na ETA II e 7 nas ETA I e IV. Ainda no Quadro 37.2 ressalta-
se que os parâmetros microbiológicos, que constam na Portaria como coliformes totais e
E. coli foram considerados como não realizados pois não foi fornecida informação que
permita aos Peritos concluir que tais análises tenham sido avaliadas. Contudo, consta no
Relatório Técnico fornecido pelo Sanear (Fls 4698) a realização de “Exames
Bacteriológicos” com frequência semanal de 61 amostras na ETA I, 98 amostras na ETA
II e 20 amostras na ETA IV.
Cianobactéria ≤ 10.000
Mensal (com Mensal (com
s células/mL
exceção de exceção de
(este (mensal) e >
1 1 novembro e 1 novembro e 1
parâmetro é 10.000
dezembro de dezembro de
monitorado células/mL
2015) 2015)
no manancial) (semanal)
Semanal
quando nº
de Variável com Variável com
Cianotoxinas 1 cianobactéri 1 média 1 média 1
as > ou = Trimestral Trimestral
20.000
células/m L
Produtos
Variável com Variável com
secundários
1 Trimestral 1 média 1 média 1
da
Trimestral Trimestral
desinfecção
Substâncias
1 Semestral 1 Semestral 1 Semestral 1
Inorgânicas
Substâncias
1 Semestral 1 Semestral 1 Semestral 1
Orgânicas
Agrotóxicos 1 Semestral 1 Semestral 1 Semestral 1
Microbiológic
2 Semanal 1 Não realizado 1 Não realizado 1
os
Além disso, não informa que fornece para outras empresas localizadas fora da bacia
do rio Doce. Mas, no contexto de eficiência do Tanfloc SG, forneceu aos peritos um
artigo científico publicado em congresso (fls 5615 a 5631) que serviu para
identificação da empresa Comusa – Serviço de Água e Esgoto de Novo Hamburgo
como usuário deste produto na sua ETA.
Provocada, (fls 6794) a COMUSA informa que utilizou o Tanfloc SG desde 2001,
permanecendo até outubro de 2015 como floculante principal e depois apenas como
auxiliar, em caso de necessidade.
É normal que reações químicas não sejam completas e deixem resíduos dos
reagentes, que podem ser retirados por processos de refinação ou deixados no
produto conforme a necessidade do uso do mesmo. No caso de Tanfloc SG, não foram
encontrados relatos sobre mais um passo de refinação do produto após a reação
química.
Em seu sítio eletrônico, a Tanac S.A., fabricante do produto Tanfloc SG, descreve o
produto como “[...] essencialmente de origem vegetal [...]” devido à sua matéria-prima
principal que é o tanino extraído da casca da acácia negra.
No entanto, a falta de informação que o extrato de tanino passa ainda por um processo
químico para formar o coagulante/floculante Tanfloc leva a crer que seja um produto
natural/orgânico e inofensivo como, por exemplo, é mencionado na matéria jornalística
publicada pela Associação Gaúcha de Empresas Florestais (ano, grifo nosso): “[...] A
vantagem do polímero em relação a outros produtos é o fato der ser orgânico (não
trazer prejuízos para a saúde) e de custo médio, se comparado com outras
tecnologias.”
Cabe ainda esclarecer que o termo “polímero orgânico”, utilizado pelo fabricante, se
refere ao tipo de polímero e não à sua origem de produção como é conhecido na
descrição de alimentos. A maioria dos plásticos do nosso dia-a-dia são polímeros
orgânicos, como por exemplo, polipropileno, PVC etc., devido sua estrutura molecular
baseada em carbono orgânico.
Com base nos estudos levantados, não é possível afirmar que o Tanfloc possui maior
poder de remoção de turbidez que o sulfato de alumínio. Não foram encontrados
estudos comparando a redução de metais na água utilizando os dois produtos em
dosagens iguais.
Um estudo publicado por Zolett e Jabur (2013) mostrou que o Sulfato de Alumínio foi
geralmente mais eficiente que o Tanfloc na redução de turbidez. Os experimentos
foram realizados utilizando o Jar test com água do rio Pato Branco com turbidez de
20,5 NTU e de 60,6 NTU, e as dosagens variando de 5 a 18 mg/L. Conforme
apresentado nas Figuras 41.2 e 41.3, a aplicação do Sulfato obteve resultados de
turbidez menores, exceto para as concentrações de 10, 13 e 18 mg/L para a água
com turbidez inicial de 60,6 NTU.
Figura 41.2 — Redução de Turbidez com Sulfato de Alumínio e Tanfloc. Água do rio
Pato Branco com turbidez inicial 20,5 NTU
Figura 41.3 — Redução de Turbidez com Sulfato de Alumínio e Tanfloc. Água do rio
Pato Branco com turbidez inicial 60,6 NTU
Existe outro coagulante que pode ser utilizado para tratar água com alta turbidez
e concentração de metais?
Na aplicação desta dosagem de sulfato de alumínio na ETA, foi possível alcançar uma
turbidez < 0,11 NTU da água filtrada. Segundo o relatório, a análise das amostras
desta água atestou a sua potabilidade. Cabe ainda informar que a DMU registrada no
LARS do Tanfloc SG líquido (LARS nº 4201-PQT53-062-17; Fls 5604) e do sulfato de
alumínio líquido (LARS nº 4814-PQT47-461-18, Fls 7013) são 10 mg/L e 300 mg/L,
respectivamente.
Qual foi o critério para escolha do Tanfloc como coagulante após o acidente?
Houve uma avaliação de outros coagulantes por parte da Samarco?
Alguns testes com coagulantes tradicionais (sulfato de alumínio e cloreto férrico), além
do Tanfloc SG, foram relatados no documento intitulado “Relatório da Célula de
Governador Valadares”. (fls 5761). Foi avaliada a relação entre a quantidade utilizada
do coagulante e o valor da redução de turbidez. Todos os coagulantes testados
conseguiram reduzir a turbidez até os níveis necessários, mas com diferentes
dosagens de cada produto.
Os resultados apontam que o possível critério para escolha foi a redução adequada
de turbidez utilizando a menor quantidade de produto, o que foi alcançado pelo Tanfloc
SG, em comparação aos outros dois. Cabe ressaltar que todas as dosagens testadas
do Tanfloc SG foram maiores que a DMU registrada no LARS e CBRS para este
produto (10 mg/L).
Nos documentos disponíveis, não foi encontrado nenhum relato de testes realizados
pela Samarco com outros coagulantes, além dos mencionados anteriormente.
Não foram encontrados registros de testes com outros coagulantes realizados pela
Samarco para o tratamento da água de abastecimento de Colatina neste documento
e nem em outros documentos fornecidos pela Samarco e pelo Sanear.
Em alguma outra cidade que possui captação no rio Doce atingido pela
contaminação com os rejeitos da barragem de mariana, foi realizado o
tratamento com o Tanfloc de forma eficiente previamente ao realizado pelo
Sanear?
Foi possível identificar apenas um município que utilizou Tanfloc SG antes do início
do seu uso (25/11/2015) nas ETA do Sanear. Trata-se do Município de Governador
Valadares, que iniciou com o tratamento a base de Tanfloc SG no dia 15 de novembro
de 2015.
• Em Itueta, foi realizado o Jar test da água após chegada da lama para avaliar a
eficiência de Tanfloc SG e sulfato de alumínio, informando que os dois produtos
foram eficientes na redução da turbidez e no alcance da potabilidade. Mas os
representantes da comunidade de Itueta não aceitaram a utilização da água do rio
doce como fonte de abastecimento mesmo com resultados satisfatórios de
potabilidade. Não há informação sobre tratamento de água captada em outras
fontes utilizando Tanfloc SG como coagulante.
• A primeira visita para propor o teste com Tanfloc SG para o SAAE do Município de
Aimorés ocorreu no dia 30 de novembro de 2015. Mas os testes foram realizados
somente após a implantação de melhorias na estação. A análise das amostras da
1 Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011 foi revogada e integrada, em 2017, à Portaria de consolidação nº
5, de 28 de setembro de 2017 – Anexo XX, sem nenhuma alteração
Foram realizadas reuniões com representantes dos grupos de trabalho (GT) além de
representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, Fundação
Nacional de Saúde – Funasa; Agência Nacional de Águas - ANA, Conselho Nacional
dos Secretários Estaduais de Saúde - Conass, Coordenação Geral de Laboratórios
de Saúde Pública – CGLAB e Petrobrás para obter contribuições. Além disso foram
avaliadas as contribuições recebidas via documentos encaminhados, eventos e
reuniões relacionadas ao tema “vigilância e controle de qualidade de água para
consumo humano”.
Este tema foi dividido em três subgrupos técnico-científicos com vistas a discutir os
parâmetros cianobactérias/cianotoxinas, microbiologia e substâncias químicas.
A versão Minuta revisada da Portaria foi então encaminhada para aprovação nas
instâncias colegiadas do Sistema Único de Saúde e análise jurídica tendo sua versão
final publicada no Diário Oficial da União.
Cabe ressaltar que em todas as Portarias já publicadas existe um artigo em que fica
claro que o Ministério da Saúde deverá promover a revisão a cada cinco anos ou, a
qualquer tempo, mediante solicitação justificada de órgãos governamentais e não-
governamentais, de reconhecida capacidade técnica.
2 Segundo a Portaria MS n° 2.914/11, Capítulo II, Art. 5°, item IV os parâmetros organolépticos são
caracterizados por provocar estímulos sensoriais que afetam a aceitação para consumo humano, mas que não
necessariamente implicam risco à saúde
Alguma vez a Portaria não foi suficiente para ser utilizada como orientado?
Conforme apresentado no Quesito 16, o rejeito carreado para o rio Doce pelo
rompimento da barragem da Samarco foi caracterizado a partir de Relatórios
encaminhados pela Samarco (Fls 5761 e 6716) e Semad (Fls 6920 a 6950), tendo
como destaque os seguintes parâmetros: alumínio, antimônio, arsênio, bário, cálcio,
carbono orgânico total, chumbo, cianeto, cloreto, cobalto, cobre, cromo, ferro, fluoreto,
fósforo, magnésio, manganês, mercúrio, níquel, série nitrogenada (total, kjeldahl,
nitrato, nitrito e amoniacal), potássio, sódio, sulfato, sulfeto, surfactantes, titânio,
vanádio e zinco.
Caracterização do rejeito
Tabela 51.3 — Caracterização Resíduo Massa Bruta - Lama Usina 1 (NBR 10.004)
Parâmetros Massa Bruta Lixiviado
Antimônio <LQ
Arsênio < LQ
Berílio < LQ
Cadmio < LQ
Carbono Orgânico Total 1,98 %p/p
Cianeto 1,7 mg/Kg
Chumbo 33,8 mg/Kg
Cloreto 11 mg/l
Cobalto 5,67 mg/Kg 0,0164 mg/l
Cromo 17,9 mg/Kg
Fluoreto 0,1 mg/l
Manganês 1730 mg/Kg 0,316 mg/l
Mercúrio 0,68 mg/Kg 0,00024 mg/l
Nitrato 2,17 mg/Kg
Nitrito 0,94 mg/Kg
Nitrogênio Total Kjedalhl 513 mg/Kg
Nitrogênio Total 516 mg/Kg
Níquel 6,33 mg/Kg
pH 10,78
Sulfato 147 mg/Kg 68,9 mg/l
Sulfeto 25,1 mg/Kg
Surfactantes 0,9 mg/Kg 0,49 mg/l
Vanádio 43,4 mg/Kg 0,0174 mg/l
Zinco 30,4 mg/Kg 0,0729 mg/l
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
Tabela 51.5 — Níveis de metais nas amostras compostas dos rejeitos armazenados
na Barragem do Germano
Parâmetros Composta AE Composta B3 Composta CT Composta DA
[mg/Kg] [mg/Kg] [mg/Kg] [mg/Kg]
Alumínio 1433 2670 2356 2394
Antimônio 5,09 12,1 <1 6,25
Arsênio 1,40 7,26 2,5 3,87
Bário 13,3 22,9 16,5 13,9
Berílio <3 <3 <3 <3
Cádmio <1 <1 <1 <1
Cálcio 214 511 324 204
Chumbo <8 <8 <8 <8
Cobalto <8 <8 <8 <8
Cobre 4,89 7,99 6,1 4,26
Cromo 9,99 37,0 13 11,9
Ferro 83627 171294 72047 101711
Magnésio 110 113 106 92,2
Manganês 141 553 242 265
Molibdênio <3 <3 <3 <3
Níquel 3,20 <3 <3 <3
Potássio 63,9 95,9 81,9 100
Prata <1 <1 <1 <1
Selênio <1 <1 <1 <1
Sódio 137 185 207 90,2
Tálio <20 <20 <20 <20
Titânio 34,0 72 42 47,6
Vanádio <8 10,0 <8 <8
Zinco 13,0 20,0 17 14,9
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
Ressalta-se que no quadro abaixo não está descrita a totalidade das substâncias
estabelecidas pela Portaria, constando apenas a comparação com as substâncias
encontradas no rejeito.
Dos oito produtos utilizados, como já descrito no Quesito 16, foram identificados
quatro produtos que contém substâncias não previstas na Portaria 2.914/2011, e que,
na época da passagem da lama e no período posterior, poderiam estar presentes no
rio Doce. Cabe ainda informar que não foi possível identificar a composição química
do produto FLONEX 920 SHR, um floculante.
Capítulo VIII
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Com base nos Art. 44 e 46, ressalta-se que não foi observado por parte das
autoridades de saúde pública, bem como dos responsáveis pelos sistemas de
abastecimento a elaboração de plano de monitoramento com proposta de
alterações/inclusões dos parâmetros definidos e suas frequências de amostragem.
Destaca-se que o número de amostras e a frequência de monitoramento aumentaram
de uma forma descoordenada no período da passagem da pluma de rejeito. E, ainda,
Quais são as condições atuais do rio Doce? O mesmo já está de acordo com a
classificação água doce de classe 2?
Com relação a condição atual do rio Doce, pôde-se observar a partir das informações
consolidadas nos gráficos, que vários parâmetros, que caracterizam a qualidade da
água, apresentaram seus valores alterados em comparação com os níveis
apresentados no período anterior ao desastre. E alguns deles (alumínio dissolvido,
cobre dissolvido, cor verdadeira, ferro dissolvido, fósforo total, manganês total,
oxigênio dissolvido, e turbidez) estão em desconformidade com a Resolução
CONAMA 357/2005 para corpos de água doce e de classe II. Então, conclui-se que o
rio Doce, no período referenciado como “atual”, ainda não está de acordo com a
classificação de corpo de água doce de classe II.
Após análise de cada parâmetro, foram identificados aqueles que no “período atual”
ainda não atendem a legislação CONAMA 357/05 para corpo d’água doce de classe
• Ferro dissolvido: ultrapassou o limite CONAMA, e atingiu valores de até 1,3 (mg/L
Fe) - que correspondem a 261 a 300% em relação a CONAMA, provavelmente,
devido ao período chuvoso;
• Nitrato: ficou abaixo do valor máximo permitido pela legislação, mas apresentou
flutuações significativas comparado ao período antes do evento;
• pH: voltou a ficar entre a faixa aceitável (6 a 9) na legislação, mas com a maioria
dos valores acima de 8;
• Sulfato total: não atingiu o limite da legislação, mas passou a flutuar em até duas
vezes mais do que antes da lama;
• Vanádio total: atendeu a legislação, mas passou a flutuar bastante, o que não
acontecia antes da passagem lama.
Existe risco de chuvas tornarem a qualidade da água do rio igual ou pior do que
a verificada no período crítico logo após a contaminado do rio?
Não existe o risco de as chuvas tornarem a qualidade da água do rio Doce igual ou
pior do que a verificada no período crítico logo após a contaminação, a considerar
unicamente o evento ocorrido. Entretanto, após a passagem da pluma, ainda podem
ocorrer picos de concentração de poluentes (metais, sedimento em suspensão,
turbidez, entre outros parâmetros que caracterizam a qualidade das águas
superficiais) devido o aporte causado pela passagem do rejeito, em função do
aumento do volume de chuvas e consequente aumento da vazão no leito.
Deve-se ressaltar que a vazão na calha fluvial em Colatina sofre influência das
operações das UHE à montante do município, não sendo possível uma avaliação
consistente neste trabalho, a considerar as informações recebidas e a complexidade
de tal investigação.
As Figuras 56.1 a 56.3 mostram a relação estreita entre chuva e a vazão do rio, e a
variação da turbidez da água do rio Doce em Colatina em função da chuva e da vazão.
Os metais encontrados no rio Doce acima dos valores máximos permitidos pelo
CONAMA 357/2005, para água doce de classe 2, apresentaram-se abaixo do valor
máximo permitido pela Portaria 2914/2011 na água tratada?
Sim, para alguns elementos químicos. Deve-se destacar que os Peritos consideraram
nesse quesito os metais e os semimetais, cujos limites são estabelecidos nas respectivas
normas. A partir do levantamento realizado no banco de dados dos parâmetros
monitorados na água bruta e na água tratada, no período total entre 06/2012 a 09/2018,
constatou-se que os parâmetros: antimônio total, arsênio total, chumbo total, cromo total,
mercúrio total, níquel total e zinco total apresentaram valores acima do valor máximo
(VM) exigido pelo CONAMA 357/2005 para água doce de Classe 2, e abaixo do valor
máximo permitido (VMP) pela Portaria 2914/2011 para água tratada.
Cabe destacar que esta constatação somente foi possível em razão destes parâmetros
estarem entre os requeridos tanto na Resolução CONAMA 357/2005 quanto na Portaria
2914/2011. Neste levantamento os peritos selecionaram os metais/semimetais que
apresentaram valores acima do VM, independentemente da quantidade.
requeridos pela Portaria 2914/2011 (Quadro 57.3) e dois apresentaram valores acima
dos padrões exigidos para água tratada segundo a mesma Portaria (Quadro 57.4).
E, por fim, um metal apresentou valor abaixo do VM na água bruta, segundo Resolução
CONAMA 357/2005 para água doce Classe 2 e valor acima do padrão para água tratada,
segundo a Portaria 2914/201 (Quadro 57.5).
Quadro 57.2 — Metais/semimetais que não são requeridos pela Resolução CONAMA
357/2005 para água doce Classe 2, mas que foram analisados na água bruta, e
apresentaram valores acima do VMP para água tratada, segundo a Portaria 2914/2011
Água Tratada
Quadro 57.4 — Metal que é exigido pela Resolução CONAMA 357/2005 para água doce
Classe 2 (água bruta) e pela Portaria 2914/2011 (água tratada) e apresentou valor acima
do padrão exigido
Água Bruta
Amostras com valores acima VM para Classe 2 -
Amostras analisadas
Metal ou CONAMA 357/2005
Semimetal Período Ocorrência
Quantidade Quantidade
(mês/ano) (mês/ano)
06/2012 a 02/2016 a 06/2017 (Após passagem
Cádmio total 469 14
09/2018 da pluma)
12/2014 (Valores elevados, pontuais,
06/2014 a antes da passagem da pluma)
Manganês total 588 235
09/2018 11/2015 a 05/2018 (Após passagem
da pluma)
Água Tratada
01/2016 a 01/2016 a 03/2018 (Após passagem
Cádmio total 1129 08
06/2018 da pluma)
01/2016 a 11/2015 a 01/2018 (Após passagem
Manganês total 1102 35
12/2017 da pluma)
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
Quadro 57.5 — Metais/semimetais que são exigidos pela Resolução CONAMA 357/2005
para água doce Classe 2 (água bruta) e apresentaram valores abaixo do VM, porém
apresentaram valores acima dos padrões para água tratada, segundo a Portaria
2914/2011
Água Tratada
Amostras com valores acima VMP - Portaria
Amostras analisadas
Metal ou 2914/2011
Semimetal Período Ocorrência
Quantidade Quantidade
(mês/ano) (mês/ano)
Bario 1127 01/2016 a 06/2018 02 01/2016 (Após passagem da pluma)
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
No caso dos metais ferro e alumínio, ressalta-se que estes parâmetros são monitorados
nas águas bruta e tratada, em atendimento às legislações, em formas diferentes. Na água
bruta a Resolução do CONAMA 357/2005 apresenta VM para água doce Classe 2 o
alumínio dissolvido e o ferro dissolvido, e na água tratada a Portaria 2914/2011 apresenta
VMP o alumínio total e o ferro total.
Na nota técnica NT GTECAD-CAIA 010-2017, página 47 (Fls 6415) o Iema concluiu que,
para todo período nela analisado (09/11/2015 a 04/01/2017), os parâmetros
apresentados passaram a maior parte das campanhas amostrais fora dos limites
estabelecidos pela Resolução Conama N°357/05, entre eles: alumínio dissolvido, ferro
dissolvido e manganês total. E, com as chuvas, alguns outros parâmetros também
tiveram suas concentrações aumentadas, possivelmente, pelo arraste do sedimento
contaminado disposto no leito do rio, até então estabilizado, entre eles o chumbo total.
A ANA, em seu “Encarte Especial sobre a Bacia do rio Doce” (citado na folha Fls 5651),
abordando também o trecho em questão, traz como considerações finais, que o
rompimento da barragem provocou modificações consideráveis na qualidade das águas,
com consequências significativas em várias situações analisadas. Correlaciona a
ocorrência de chuvas com aumento de vazão na calha do rio, propiciando liberação da
massa de rejeitos acumulada, intervenções físicas repentinas e ações antrópicas, com
consequentes variações na qualidade da água do rio Doce. Cita ainda que
[...] nesse contexto, poderão ocorrer novos picos de turbidez, queda de oxigênio
dissolvido, aumento temporário da concentração de metais e prejuízos para os
diversos usos de água da bacia, por períodos indeterminados e, ainda,
imprevisíveis. E que a recuperação da qualidade das águas será, portanto, um
processo longo e persistente, que deverá ser acompanhada por monitoramento
quali-quantitativo consistente e minuciosa investigação dos vários aspectos
envolvidos.
Porém, o Encarte indicado pela ANA faz referência ao “Monitoramento Especial do rio
Doce”, produzido em conjunto com a CPRM, e este, concluiu que os resultados obtidos
não apresentaram alterações significativas após a passagem da lama de rejeitos, quando
comparados a dados históricos de antes do evento. Ressalta-se que esse monitoramento
se refere a sete pontos de monitoramento, sendo apenas um ponto dentro do município
de Colatina.
Cabe considerar, em questão da dinâmica fluvial, que a existência dos reservatórios das
UHE-Aimorés e UHE-Mascarenhas representam ambientes de baixas velocidades de
correntes, o que interferiria no fluxo dos contaminantes para trechos de jusante, em
particular o município de Colatina/ES, a depender das manobras operacionais dessas
usinas. Consequentemente, a magnitude das concentrações nos pontos de jusante, já
no território do Estado Espírito Santo, pode ser de ordem de grandeza diferente se
comparada aos dos trechos de montante, no território de Minas Gerais, devido ao efeito
de amortecimento ou de retenção nos reservatórios. Respeitada a cinética química e o
comportamento dos demais metais na massa da pluma de rejeito, os resultados do
monitoramento indicam que o aporte de metais à calha do rio Doce estava diretamente
relacionado à pluma de rejeito da barragem da Samarco.
A análise sobre os dados de qualidade de água bruta e sedimentos do rio Doce nos
pontos monitorados pelo Iema também foi feita pela Samarco (em cumprimento ao AI
N°12345).
Quanto ao refinamento feito após 02/02/2016, como indicado na nota técnica GTECCAD
– CAIA 004-20016 -- NT GCA – CAIA 029-2016 (Fls 6415) , alguns parâmetros deixaram
de ser mensurados ao longo do monitoramento ambiental realizado para água bruta,
continuando aqueles que apresentaram valores acima do limite de detecção da
metodologia de análise química utilizada pelo laboratório prestador de serviço ao órgão.
No que diz respeito a metais, deixaram de ser monitorados: arsênio, antimônio, bário,
cadmio, lítio, mercúrio, prata e urânio. E os metais que continuaram sendo monitorados
pelo Iema e pela Samarco foram: alumínio dissolvido, boro total, chumbo total, cobre
dissolvido, cromo total, ferro dissolvido, manganês total, níquel total, vanádio total.
Abaixo, seguem as informações citadas referentes aos pontos P2 e P3, que são os
pontos de monitoramento dentro do município de Colatina.
• Boro total: atendia antes da passagem da onda e continuou atendendo após. Mas
apresentando flutuações significativas com tendência a estabilização a partir de abril
de 2016 para o ponto 2 e maio de 2016 para o ponto P3;
• Chumbo total: segundo o Iema, nos estudos apresentados pela Samarco o chumbo
não está entre os constituintes dos rejeitos de fundão. Mas, em comparação com
período de monitoramento anterior a esse, as concentrações aumentaram nos pontos
monitorados, após a chegada da lama e precipitações pluviais. O órgão diz ser
“provável que tal elemento já estivesse presente nos sedimentos ao longo da calha do
rio Doce, e que, com a chegada da lama da Samarco, ocorreu a ressuspensão desses
sedimentos e, consequentemente, aumentou a concentração de chumbo na água”. No
período do monitoramento, apresentou vários picos acima do limite estabelecido pela
legislação, e no tempo monitorado apenas pela Samarco apresentou um pico acima
da legislação em dezembro de 2016;
• Cromo total: sobre este parâmetro o Iema ressaltou que ele não foi identificado nos
estudos apresentados pela Samarco como um constituinte dos rejeitos de Fundão, e
que, provavelmente, foi remobilizado e disponibilizado para a coluna d’água após a
chegada da lama de rejeitos, apresentando flutuações acima do limite CONAMA 357.
Após a “passagem” da lama passou a apresentar flutuações ao longo do tempo, com
alguns picos acima do limite estabelecido pela legislação, voltou a se normalizar a
partir de 23/01/2016. Segundo o Iema os dois valores que se apresentaram acima dos
limites legais após 12/12/2015, em todos os pontos de monitoramento, estariam
relacionados com as chuvas de janeiro de 2016;
de Ferro Dissolvido antes da lama de rejeitos eram abaixo do limite estabelecido pela
Resolução Conama N°357/05 para rios de Classe 2, e apenas em junho (no ponto 2)
e julho (no ponto 3) de 2016 este parâmetro passou a atender o padrão legal. E com
as chuvas de janeiro de 2016, as concentrações mensuradas de ferro dissolvido
aumentaram significativamente. Fato também observado para as chuvas de novembro
e dezembro de 2016. Ressaltou que assim, foi observado que há correlação entre as
concentrações de ferro dissolvido com a ocorrência de chuvas e aumento de vazão do
rio;
• Manganês total: segundo o Iema, este parâmetro também teve suas concentrações
aumentadas com a chegada da lama de rejeitos nos trechos monitorados do rio Doce,
assim como nas chuvas de janeiro, novembro e dezembro de 2016. Entretanto, na
maior parte do tempo monitorado” se manteve abaixo do limite estabelecido pela
Resolução Conama N°357/05;
• Níquel total: foi relatado pelo órgão que “logo após a chegada da lama de rejeitos no
trecho capixaba do rio Doce, o níquel total foi observado em todos os pontos de
monitoramento”; e que “na maioria dos monitoramentos realizados as concentrações
mensuradas estavam abaixo do limite estabelecido pela Resolução Conama
N°357/05”, estabilizando, segundo observação dos gráficos apresentados, a partir de
abril de 2017;
• Prata total: atendia antes da passagem da onda e continuou atendendo após. Depois
de 02/02/2016 não foi mais medido no período de análise;
• Vanádio total: segundo o Iema este parâmetro teve suas concentrações alteradas,
apresentando valores acima da resolução CONAMA 357/2005, tanto com a chegada
da lama de rejeitos quanto com as chuvas de janeiro de 2016;
• Zinco: o Iema relatou que, “a principal alteração do parâmetro zinco total foi com a
chegada da lama de rejeitos, no qual este teve suas concentrações aumentadas em
todos os pontos monitorados”. Citou ainda que, nas chuvas de novembro e dezembro
de 2015, e janeiro de 2016, nos pontos monitorados (P2 e P3, dentre outros) foi
observado o acréscimo das concentrações deste parâmetro acima do valor limite da
Resolução Conama Nº 357/05.
O Iema, concluiu na nota técnica referenciada (Fls 6415) que, devido à importância
desses parâmetros, deveriam ser observadas as características desses para os próximos
períodos chuvosos, e “com a continuidade do monitoramento, se as concentrações de
alumínio dissolvido, ferro dissolvido e manganês total aumentam no baixo Doce com o
passar do tempo, além do comportamento da série de sólidos no trecho capixaba
(observado os estudos apresentados pela Samarco que apontam que o alumínio, ferro e
manganês estão adsorvidos, principalmente nas partículas finas de sedimento)”.
Finalizou dizendo que o monitoramento deveria ser mantido, até a devida implementação
do Plano de Monitoramento Quali-quantitativo Sistemático, em cumprimento à Cláusula
177 do Termo de Transação de Ajuste de Conduta (TTAC).
De acordo com a folha Fls. 5651 do processo, após o acidente a SPR/ANA publicou em
2016 o Encarte Especial sobre a Bacia do rio Doce, analisando os dados disponíveis até
aquele momento para todo o percurso da lama da Samarco desde Mariana até a foz do
rio Doce, incluindo as séries históricas de dados dos órgãos estaduais (Igam/MG; Iema
– Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e AGERH/ES) e abordando o
trecho em questão. Ainda na folha Fls. 5651, a ANA recomendou que outros dados e
Também na folha Fls 5652 a ANA informa que os dados e análises requeridos deveriam
ser buscados juntos à AGERH, Iema e Igam.
O Encarte Especial sobre a Bacia do rio Doce, mencionado anteriormente, cita na página
31 que utilizou apenas dados coletados no rio Doce. Os pontos utilizados para obtenção
dos dados foram localizados nos alto e médio cursos do rio Doce e na parte baixa, o que
corresponde a 12 pontos de monitoramento operados pelo Igam (porção alta e média), e
5 pontos operados pelo Iema. Quanto aos dados do Iema, alguns pontos de
monitoramento têm registros a partir de 2001, e outros só têm série de registros iniciada
em 2012.
O referido encarte, na página 41, trouxe como resultado final, que mesmo considerando
os picos de concentração medidos durante a passagem da onda de rejeitos, todos os
parâmetros analisados, no monitoramento emergencial realizado pelo Igam,
apresentaram uma forte tendência de queda com valores próximos aos registrados antes
do evento. Contudo, ressaltou que essa tendência não exclui as perturbações impostas
aos ecossistemas aquáticos afetados e deixaram um passivo significativo no rio Doce.
Citou que boa parte do material vazado com o rompimento da barragem, na época desse
monitoramento, se depositou nos corpos hídricos, o que prejudica ou poderia prejudicar
diversos usos da água. Somado a isso, o grande volume de rejeitos acumulados nos
corpos hídricos atingidos teria o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos alterado,
comprometendo fauna, flora e serviços ecológicos como, por exemplo, o processo de
autodepuração. Esse material, e seus subprodutos resultantes de sua lixiviação, tende a
Traz também que “[...] isso pode explicar as alterações no aspecto do rio Doce,
principalmente em termos de coloração, turbidez e deposição de sedimentos, ainda
visíveis meses após o rompimento da barragem”. Não há como prever os impactos do
desastre sobre a qualidade da água do rio Doce em médio e longo prazos. Por isso, o
acompanhamento das condições do rio em termos qualitativos requer atenção especial.
Quanto aos relatórios do Monitoramento Especial da Bacia do rio Doce, descritos acima,
os volumes 2 e 3 trazem avaliações da água quanto a metais, entre outras. O Relatório
II foi publicado em dezembro de 2015, e o Relatório III em abril de 2016. Este
monitoramento, foi composto de cinco campanhas de campo, sendo que a primeira
campanha foi realizada de 07 a 23 de novembro de 2015, para acompanhamento da
onda da cheia decorrente da ruptura da barragem até a foz do rio Doce, que gerou o
Relatório - Volume I; a segunda campanha aconteceu de 12 a 23 de novembro de 2015,
para coleta de amostras de água e sedimento de corrente, desde a área da barragem na
bacia do rio Gualaxo Norte até a foz no rio Doce (que gerou o Relatório – Volume II); e a
terceira campanha de campo realizada de 24 de novembro a 10 de dezembro de 2015,
para coleta de amostras diárias simultâneas de água para análise de parâmetros in loco,
a cada dois dias para análise de água (que gerou o Relatório – Volume III), e mais outras
duas campanhas. Ressalta-se que esse monitoramento se refere a sete pontos de
monitoramento, e apenas um ponto dentro do município de Colatina.
No Volume I, página 8, foi citado que a onda de cheia resultante da ruptura passou pela
UHE Risoleta Neves/Candonga, na manhã do dia 06/11/15, se deslocando pela calha do
rio até a foz, foi medido na Estação de Monitoramento em Colatina, na manhã do dia
10/11/15, e em Linhares, na tarde do dia 10/11/15. Neste volume, na página 29, o relatório
cita:
No mesmo relatório foi citado também que houve diferenças significativas na composição
dos sedimentos, com diminuição nas concentrações de metais ao longo do trecho da
drenagem que foi afetada pelo rejeito da barragem; e que esses resultados foram
compatíveis com as características químicas do material de rejeito coletado na barragem
de Santarém (ponto Samarco) e Bento Rodrigues, cujo principal constituinte químico é o
Fe.
Quanto as amostras de água, foi concluído na página 22, entre outros, que:
Quanto ao Volume III, no item Resultados (página 17), apresentaram quais análises de
cátions foram realizadas e o laboratório que fez. Foram estas as informações: as análises
de Al, As, B, Be, Ba, Ca, Co, Cd, Cu, Cr, Li, Fe, K, Mg, Mn, Mo, Na, Ni, Pb, Se, Si, Sb,
Sn, Sr, Ti, V e Zn, foram realizadas no LAMIN-SP da CPRM em São Paulo - SP. Os
resultados analíticos dos elementos As, B, Be, Cd, Co, Cr, Cu, Hg, Li, Mo, Ni, Pb, Sb, Se,
Sn, Ti, V e Zn foram citados como:
Concluiu-se que os relatórios desse monitoramento especial não consideraram o que foi
relatado no Encarte Especial sobre a Bacia do rio Doce – Rompimento da barragem em
Mariana/MG em suas conclusões finais.
Quadro 58.1 — Relação das estações de monitoramento avaliadas pelo Igam no rio Doce
Código Descrição Data do início
da coleta diária
RD071 rio do Carmo em Barra Longa 21/11/2015
RD072 rio Doce no munícipio de rio Doce 07/11/2015
RD019 rio Doce entre os municípios de rio Casca e São Domingos Do Prata (MG) 07/11/2015
RD023 rio Doce entre os municípios de Marliéria (MG) e Pingo‐D'água (MG) 07/11/2015
RD035 rio Doce no munícipio de Ipatinga (MG) 08/11/2015
RD033 rio Doce no munícipio de Belo Oriente (MG) 08/11/2015
RD083 rio Doce logo a jusante do município de Periquito (MG) 08/11/2015
RD044 rio Doce na cidade de Governador Valadares 07/11/2015
RD045 rio Doce a jusante da cidade de Governador Valadares 07/11/2015
RD053 rio Doce no munícipio de Tumiritinga (MG) 10/11/2015
RD058 rio Doce no munícipio de CONSELHEIRO PENA (MG) 10/11/2015
RD059 rio Doce no munícipio de Resplendor (MG) 10/11/2015
RD067 rio Doce no munícipio de Aimorés (MG) 10/11/2015
Fonte: Igam (FLS 5687)
O pico de aumento nas concentrações sempre coincidiu com o momento em que a pluma
de rejeito alcançou o ponto de monitoramento, mas o aumento não se mostrou
persistente ao longo do tempo, sofrendo uma depleção nos dias seguintes ao pico da
passagem do rejeito pelos pontos de monitoramento para valores de concentração
abaixo dos limites legal da Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH‐MG
nº 01, de 2008 e do valor máximo da série histórica do Igam.
Foi observado que o Ferro dissolvido atingiu uma concentração de 32 mg/ L em Belo
Oriente (RD033) em 08 de novembro de 2015, mas logo nos dias seguintes a
concentração sofreu depleção ficando os valores abaixo de 5 mg/ L Fe. Os valores
monitorados, segundo o Relatório Técnico, ficaram acima do limite para a classe 2 de
enquadramento em todos os pontos da calha do rio Doce. A concentração do manganês
apresentou aumento com a chegada do rejeito em todos os pontos monitorados, sempre
com o pico de concentração coincidente com a passagem do rejeito pela estação de
Com a avalição realizada em banco de dados dos parâmetros monitorados na água bruta
e na água tratada, entre 06/2012 a 09/2018, na Tabela 59.1 são apresentados os
metais/semimetais que tiveram valores acima do valor máximo (VM) exigido pela
Resolução Conama 357/2005 para água doce, Classe 2 (água bruta), e o ano em que
isso ocorreu. E, na Tabela 59.2, aqueles que foram, também, monitorados na água
tratada. Nas referidas tabelas destaca-se o total de amostras analisadas e as
quantidades com valores acima dos VM exigidos pela legislação pertinente.
Tabela 59.1 — Metais/semimetais que apresentaram valores acima dos VM exigidos pela
Resolução Conama 357/2005 para água doce, Classe 2 e o ano em que ocorreram estes
valores
Quantidade
amostra com
Total de Registro de amostra com valor acima VM -
Metal ou valor acima
amostras CONAMA 357/2005, Classe 2
Semimetal VM - CONAMA
analisadas (ano)(*)
357/2005 –
Classe 2
Alumínio
532 336 2014 2015 2016 2017 2018
dissolvido
Antimônio total 405 01 2014 2015 2016 2017 2018
Arsênio total 611 15 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Boro total 544 02 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Cádmio total 469 14 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Chumbo total 554 133 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Cobre dissolvido 650 25 2014 2015 2016 2017 2018
Cromo total 689 42 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Ferro dissolvido 560 304 2014 2015 2016 2017 2018
Lítio total 305 03 2014 2015 2016 2017 2018
Manganês total 588 235 2014 2015 2016 2017 2018
Mercúrio total 404 02 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Níquel total 687 19 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Prata total 456 03 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Vanádio total 498 03 2014 2015 2016 2017 2018
Zinco total 688 25 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
Nota: anos em que foram monitorados metais/semimetais e em destaque aqueles em que foi registrado
valor acima do VM, para alguns metais/semimetais, exigido pela Resolução Conama 357/2005 para água
doce, Classe 2.
Entre os metais relacionados na Tabela 59.1, antimônio total, lítio total, mercúrio total,
prata total e vanádio total apresentaram poucos valores acima do VM ocorrendo durante
a passagem da pluma pelo município de Colatina. Os demais, são descritos a seguir:
• Arsênio total: o maior número de amostras com valores acima do VM ocorreu durante
a passagem da pluma, em novembro/2015, apresentando nova incidência em
fevereiro/2017. Segundo informações repassadas aos Peritos, este parâmetro foi
monitorado de junho/2012 a setembro/2018.
• Cadmio total: o maior número de amostras com valores acima do VM ocorreu durante
a passagem da pluma, novembro/2015, mantendo valores acima até julho/2017. Este
parâmetro foi monitorado de junho/2012 a setembro/2018, segundo dados fornecidos
aos Peritos.
• Chumbo total: o maior número de amostras com valores acima do VM ocorreu durante
a passagem da pluma, apresentando nova incidência nos meses de outubro,
novembro e dezembro/2017, provavelmente devido à ressuspensão. Segundo
informações repassadas aos Peritos, este parâmetro foi monitorado de junho/2012 a
setembro/2018.
• Cromo total: o maior número de amostras com valores acima do VM ocorreu durante
a passagem da pluma, novembro/2015, mantendo valores acima até março/2016.
• Lítio total: as três amostras com valores acima do VM ocorreram no mês de novembro
de 2015, nos dias 20, 21 e 26. Os dados fornecidos aos Peritos mostram que este
parâmetro foi monitorado de junho/2014 a setembro/2018.
• Mercúrio total: as duas amostras com valores acima do VM ocorreram nos dias
25/11/2015 e 02/12/2015. Segundo informações repassadas aos Peritos, este
parâmetro foi monitorado de junho/2012 a setembro/2018.
• Níquel total: o maior número de amostras com valores acima do VM ocorreu durante
a passagem da pluma, apresentando nova incidência em janeiro de 2017,
provavelmente devido à ressuspensão. Segundo informações repassadas aos Peritos,
este parâmetro foi monitorado de junho/2012 a setembro/2018.
• Prata total: das três amostras com valores acima de VM, duas ocorreram em
25/11/2015 e uma em 12/02/2016. Este parâmetro foi monitorado de junho/2012 a
setembro/2018, segundo dados fornecidos aos Peritos.
• Cádmio total: uma das amostras acima do VMP ocorreu em 20/01/2016, contudo, o
maior número de amostras com valores acima do VMP ocorreu em dezembro de 2016.
Este parâmetro foi monitorado de junho/2012 a setembro/2018, segundo dados
fornecidos aos Peritos.
• Manganês total: o maior número de amostras com valores acima do VMP ocorreu
durante a passagem da pluma, apresentando nova incidência de agosto a outubro de
2017. Houve também amostras acima do VMP nos meses de janeiro, junho e
dezembro de 2017 e janeiro de 2018. Este parâmetro foi monitorado de
novembro/2015 a setembro/2018, segundo dados fornecidos aos Peritos.
Tabela 59.2 — Metais/semimetais com valores acima dos VM exigido pela Resolução
Conama 357/2005 para água doce, Classe 2 e que foram monitorados na água tratada
Água Bruta Água Tratada
Total de amostras
Metal ou Total de Total de Total de amostras com
com valores acima
Semimetal amostras amostras valores acima VMP -
VM para Classe 2 -
analisadas analisadas Portaria 2914/2011
CONAMA 357/2005
Antimônio total 405 01 1126 0
Arsênio total 611 15 1127 0
Cádmio total 469 14 1129 08
Chumbo total 554 133 1127 0
Cromo total 689 42 1127 0
Manganês total 588 235 1102 35
Mercúrio total 404 02 1127 0
Níquel total 687 19 1121 0
Zinco total 688 25 1125 0
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
No caso dos metais ferro e alumínio, ressaltamos que estes parâmetros são monitorados
nas águas bruta e tratada, em atendimento às legislações, em formas diferentes. Na água
bruta a Resolução do CONAMA 357/2005 apresenta VM para água doce Classe 2 o
alumínio dissolvido e o ferro dissolvido e na água tratada a Portaria 2914/2011 apresenta
VMP o alumínio total e o ferro total.
A Organização Mundial de Saúde – OMS (WHO, 2018) não propõe nenhum valor
padrão para ferro e manganês em água potável. No entanto, baseado em efeitos à
saúde, apresenta um valor de referência para o manganês de 0,4mg/L.
WHO (2018) apresenta relatório sobre padrões de qualidade da água potável de 104
países e territórios nos 5 continentes, a saber:
Observa-se que a Portaria 2914/11 adota como VMP para o Ferro e Manganês o valor
mediano, entre os máximos e mínimos, encontrados nos países que estabelecem
diretrizes.
A Portaria 2914/2011, no Art. 39, § 4, ainda estabelece situações em que estes valores
podem ser superiores aos VMP.
Tabela 60.1 — Parâmetros que estavam acima do VMP em situações em que o ferro
estava fora dos padrões de potabilidade, por data e ponto de interesse
Cor
Data da Ferro Alumínio
Ponto de interesse aparente Turbidez (uT)
amostragem (mg/L) (mg/L)
(uH)
VMP
0,5 no SAA comp. FD
0,3 0,2 15
1,0 na F Lenta e desinf.
ETA I e II COLATINA 22/12/2015 0,347 62 8
ETA I e II COLATINA 29/01/2016 0,472 0,259
ETA IV - Colatina 15/01/2018 0,422 0,45 15 17,93
Fonte: Elaborado pelos Peritos (2019)
É correto afirmar que a maior parte do ferro, manganês e alumínio ingerido pelos
seres humanos vem da ingestão de alimentos e não do consumo de água?
Os minerais estão presentes naturalmente nos alimentos já que os seres vivos utilizam
os minerais presentes na natureza para o funcionamento adequado do seu
metabolismo, sendo repassados na cadeia alimentar. Essas substâncias são
encontradas nos alimentos principalmente no estado iônico, na forma de íons positivos
ou íons negativos. Os minerais também existem como componentes de compostos
orgânicos, tais como fosfoproteínas, fosfolipídios, metaloenzimas e outras
metaloproteínas, como a hemoglobina (MAHAM; ESCOTT-STUMP; RAYMOND,
2012).
Tabela 65.1 — Valores de referência (VR) para qualidade da água a ser tratada em
unidades do tipo convencional
Parâmetros Kawamura (2000) NBR 12.216/92
Alcalinidade (mg/L) <500
Algas (UPA/mL) <104
Cor aparente (uH) <1.000 -
Coliformes Totais (NMP/100mL) <10.000 < 20.000
COT (mg/L) <7,0
Cloretos < 600
Cryptosporidium (100L) <10
DBO5 (mg/L) - <4
Dureza (mg/L) <700
Ferro (mg.L-1) < 2,0 -
Giardia (100L) <20
Manganês (mg.L-1) < 0,5 -
pH - 5a9
Sabor e odor <10
Turbidez de água bruta (uT) < 3.000 -
Fonte: Adaptado de Kawamura (2000) e ABNT (1992)
Para responder este quesito foram utilizados os laudos laboratoriais fornecidos pelas
instituições ANA, Iema, Samarco e Sanear, via processo judicial (FLS 3995 a 4004),
considerando os seguintes períodos de análise:
• Após a passagem da pluma o rio Doce ainda apresentava parâmetros com valores
acima do VM e as estações de tratamento ainda apresentavam dificuldades na
potabilização da água, com 5 parâmetros acima do VMP na ETA I, 8 na ETA II e 12
na ETA IV.
A tabela 65.2 apresenta para os dois pontos de captação (ETA I/ETA II e ETA IV), os
parâmetros com valores médio e máximo que extrapolam os valores de referência,
apresentados na literatura e norma técnica, condições máximas para tratabilidade em
estações do tipo convencional, em algum momento do monitoramento.
a 80 vezes o valor de referência; DBO, 4,5 vezes; cor aparente, 7,5 vezes; ferro total,
67 vezes; manganês, 2,6 vezes; turbidez, 2,7 vezes e COT, 1,9 vezes.
O que pode ser observado é uma inércia por parte das autoridades de saúde, dos
responsáveis pelo sistema de abastecimento de água e dos responsáveis pela
Barragem, na tomada de decisões e registros dos fatos.
Ainda com referência aos Art. 44 a 46 acima citados, cabe reiterar que o Sistema de
Vigilância à Saúde do Município de Colatina não sofreu qualquer modificação ou
reforço, tanto em relação às suas atribuições sobre a vigilância de qualidade da água,
quanto em relação às consequências deste evento sobre a saúde da população,
conforme explicitado nos Quesitos 32 e 33.
Segundo a Portaria 2914/11 (BRASIL, 2011) água potável é a água que após passar
por um processo de tratamento atenda ao padrão de potabilidade, e que não ofereça
riscos à saúde da população até as ligações prediais, em condições normais de
operação. Para tal é fundamental que o sistema de distribuição composto por
reservatórios e rede mantenha sua integridade sem apresentar intermitência ou
interrupções no abastecimento. As ações de controle e vigilância da qualidade da
água visam garantir, via monitoramento em pontos estratégicos, o atendimento à
Portaria.
3 Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011 foi revogada e integrada, em 2017, à Portaria de consolidação nº
5, de 28 de setembro de 2017 – Anexo XX, sem nenhuma alteração
No PSA também são elaborados os planos de gestão que visam à gestão do controle
dos sistemas de abastecimento para atender a condições em operação de rotina e
excepcionais (Planos de contingência), em que uma perda de controle do sistema
pode ocorrer. Na ocorrência de um desastre de caráter natural ou operacional, quando
o sistema possui um Plano de Contingência, integrado a planos de ação e
documentado, são identificados os recursos humanos para tomada de decisões nos
diversos setores envolvidos (prefeitura saúde, serviços de água, energia, telefonia,
defesa civil e policias militar, civil e federal) (WHO, 2011; BRASIL, 2012).
Segundo a Portaria GM/MS n° 2.914/2011 (BRASIL, 2011; BRASIL, 2017) em seu Art.
3°, toda água destinada ao consumo humano, distribuída coletivamente por meio de
sistema de abastecimento de água, deve ser objeto de controle e vigilância da
qualidade da água. O Art. 12 define que compete às Secretarias de Saúde dos
Municípios exercer a vigilância da qualidade da água em sua área de competência,
em articulação com os responsáveis pelo controle da qualidade da água para
consumo humano. O Art. 13 determina que compete ao responsável pelo sistema de
abastecimento de água para consumo humano manter e controlar a qualidade da
água produzida e distribuída.
Desta forma, como apresentado no Quesito 27, o Sanear não cumpriu as exigências
referentes ao uso de produtos químicos, sendo este fato confirmado pela ausência
Foram avaliados os riscos de efeitos crônicos à saúde não carcinogênicos por metais
e trihalometanos e de efeitos carcinogênicos à saúde por trihalometanos pela ingestão
da água de abastecimento pela população do Município de Colatina, ES. O estudo
teve como base os resultados das análises da água de abastecimento entre junho de
2012 e setembro de 2018.
Com base nos resultados das análises de água (junho de 2012 e setembro de 2018)
fornecidos pela Sanear e Samarco foi realizado um estudo para avaliar o risco de
ocorrência de efeitos adversos crônicos à saúde da população de Colatina/ES a
trihalometanos e a metais pela ingestão de água potável fornecida pela Sanear
captada do rio Doce. Todos os metais que têm sido encontrados nas amostras de
água foram incluídos no estudo. Os trihalometanos foram incluídos no estudo pois têm
sido encontrados com grande incidência e em níveis de concentração que excedem o
padrão de potabilidade em diversas amostras. Entre as possíveis rotas de exposição
(ingestão, inalação e dérmica), para todas as substâncias apenas a ingestão foi
considerada no estudo.
Os riscos à saúde podem ser caracterizados como riscos carcinogênicos e riscos não-
carcinogênicos, de acordo com os efeitos tóxicos de cada substância. O método
determinístico foi utilizado para avaliar a exposição diária dos indivíduos com base em
documentos da USEPA (USEPA, 1992; USEPA, 2005) e estudos publicados na
literatura científica (CHROSTOWSKI,1994; MAIGARI et al., 2016; KAVCAR,
SOFUOGLU A., SOFUOGLU S., 2009), utilizando a equação a seguir.
𝐶 × IR
CDI =
BW
onde, CDI (chronic daily intake) é a ingestão diária crônica da substância (µg/kg/dia),
C é a concentração da substância na água ingerida (µg/L), IR (ingestion rate) é a
ingestão média de água por dia (L/dia), and BW (body weight) é o peso corporal dos
indivíduos (kg). Nesse estudo foram considerados uma IR de 2 L/dia e BW de 60 kg
(WHO, 2011, página 164). Os dados das análises de água reportados como não
detectados (< limite de detecção) foram substituídos pela metade do valor do limite de
detecção do método analítico ou por zero, conforme o percentual de dados
censurados (GLOBAL ENVIRONMENT MONITORING SYSTEM - FOOD
CONTAMINATION MONITORING AND ASSESSMENT PROGRAMME, 1995). Para
evitar a influência de valores extremos e inconsistentes, foi utilizado o percentil 95 dos
O risco não-carcinogênico foi avaliado com base nos valores encontrados para o
quociente de risco (HQ, hazard quotient) e o índice de risco (HI, hazard index) (USEPA
1999). O HQ foi calculado usando a equação a seguir.
CDI
HQ = 𝑅𝑓𝐷
O HI tem sido utilizado para estimar o risco à saúde pela exposição simultânea a
diferentes substâncias. O índice de risco é a soma dos quocientes de risco de cada
substância avaliada considerando uma exposição simultânea a diferentes
contaminantes. Essa estimativa assume que a magnitude do efeito adverso será
proporcional à soma das exposições múltiplas de cada substância (USEPA, 1986;
MAIGARI et al., 2016). Nesse estudo, o HI foi calculado considerando todos os metais
avaliados individualmente de acordo com a equação a seguir.
HI = 𝛴𝐻𝑄
CR= CDI x SF
Valores de RfD e SF foram obtidos das monografias dos efeitos tóxicos (USEPA,
2018; AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2018) e
artigos publicados na literatura científica. Para os trihalometanos os valores RfD são
estabelecidos individualmente para cada substância que compõem esse grupo
(clorofórmio, bromofórmio, bromodiclorometano e dibromoclorometano). Enquanto
que os valores de SF são estabelecidos apenas para bromofórmio,
bromodiclorometano e dibromoclorometano (USEPA, 2018).
Com base no período total dos dados de análises de água recebidos (04/06/2012 a
21/09/2018), os resultados encontrados para as concentrações das substâncias
considerando o percentil 95, a exposição e a avaliação de risco não carcinogênico são
Cabe ressaltar que esse estudo foi realizado tendo como base valores de consumo e
peso corporal médios obtidos na literatura e, portanto, pode não representar a
exposição para todos os indivíduos e condições específicas. Diferenças nas
condições de exposição, como na ingestão de água e no peso corporal, podem
contribuir para diferenças na exposição e no risco à saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os pontos que mais dificultaram a análise dos dados e a extração de informações que
atendam aos quesitos foram: (a) o grande volume de dados e laudos remetidos pelas
instituições, em formato não sistematizado, muitos em PDF, não prontamente
utilizáveis; (b) os prazos de remessa de dados e informações muito dilatados e
prorrogações legais; (c) o levantamento de dados não sistematizado, com coleta de
amostras em períodos diferentes, não permitindo uma caracterização analítica, pela
dificuldade de comparação temporal e espacial; (d) os diferentes laboratórios
contratados ao longo do período para realização das análises, laboratórios localizados
em diferentes estados brasileiros, com métodos e valores de referência distintos.
Soma-se a esses pontos o fato de não ter sido encaminhada para a perícia a
caracterização conclusiva do rejeito que encontrava-se na barragem e que escoou.
Para que fosse ultrapassada tal dificuldade, adotou-se como caracterização uma
composição a partir de informações, laudos fornecidos pela Secretaria de Estado de
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, apresentando as
análises de lama/rejeito conforme a ABNT NBR 10004/2004 (classificação de
resíduos), com os resultados dos parâmetros específicos na norma. Ainda assim,
deve-se considerar que a descrição das amostras ficou bastante vaga e não consta
onde foram coletadas. Também, foram consultados laudos de análise do sedimento
que permaneceu dentro da barragem do Fundão, após o rompimento da mesma,
fornecidos pela Samarco. Por fim, ressalta-se que o material que ficou sedimentado
na barragem não necessariamente tem a mesma composição que o rejeito que
chegou ao rio Doce.
Mesmo diante dos percalços encontrados e do prejuízo para análise dos dados, foi
possível aos Peritos, a partir da estratégia adotada e já explicitada acima, atuar ante
aos questionamentos propostos pelo Parquet, pelo Sanear ou pela Samarco, de modo
a apresentar conclusões, ponderações e interpretações conforme os dados gerais do
processo e os dados secundários coletados em razão do contexto da perícia.
Por isso, não são necessários esclarecimentos adicionais, uma vez que ficou claro e
desvelado o que se pretendeu.
Tabela 5.1 – Caracterização dos dados da coleta de água do rio Doce em Colatina no
período de 042010 a 092018
Tabela 7.1 — Caracterização dos dados da coleta de água do rio Doce em Colatina
Tabela 10.1 – Vazões sólidas obtidas a partir de 09/11/15 até 13/09/2018 para o rio
Doce em Colatina/ES – Estação fluviométrica Cód. 56994500, nas proximidades das
ETAs I e II
Tabela 10.2 – Vazões sólidas obtidas a partir de 08/11/15 até 24/07/2017 para o rio
Doce em Colatina/ES – Estação fluviométrica Cód. 56994500, nas proximidades da
ETA IV
Tabela 11.1 – Caracterização dos dados da coleta de água do rio Doce em Colatina
no período de 04/2010 a 09/2018
Tabela 15.1 — Caracterização dos resultados das análises da água do rio Doce
Firmamos o presente,
REFERÊNCIAS
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Acesso em jun. 2019.
ZOLETT, E.R.; JABUR, A.S. Uso de polímero natural a base de tanino (Tanfloc) para
o tratamento de água para o consumo humano. In: Simpósio Brasileiro de Recursos
Hídricos, 20., 2013, Bento Gonçalves. Anais eletrônicos... Bento Gonçalves:
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<https://www.abrhidro.org.br/SGCv3/publicacao.php?PUB=3&ID=155&SUMARIO=3
887>. Acesso em: 13 jan. 2019.
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