Você está na página 1de 15

ARTIGO:MODERNISMO NA IDENTIDADE CULTURAL

Nome do orientador (Elivelton)


Nome do acadêmico (Lucas Garcia de Souza) 

RESUMO
Nesse artigo, será desenvolvido a importância do modernismo e como ele se relaciona com uma
identidade cultural presente, atrelando conceitos de uma época tão importante da história br asileira,
que por diversos momentos ajudaram a construir a ideia que hoje existe sobre uma identidade
cultural. Visto que, os diversos autores, outrora criticados por suas formas de expressão
desarmonizadas dentro da sociedade, agora tem seus conceitos resgatados e recuperados para
ingressar novamente em uma atualidade marcada por crises morais e éticas. Dentro desse artigo
intencionado como a cultura modernista ofereceu as bases para a discursão do que e uma identidade
cultural
Palavras-chave: Modernismo, identidade cultural, ética e moral

In this article, the importance of modernism will be developed and how it relates to a
present cultural identity, linking concepts from such an important period in Brazilian
history, which at various times helped to build the idea that exists today about a
cultural identity. Since the various authors, once criticized for their disharmonized
forms of expression within society, now have their concepts rescued and recovered
to enter again in a present time marked by moral and ethical crises. Within this
article, how the modernist culture offered the bases for the discussion of what is a
cultural identity
Keywords: Modernism, cultural identity, ethics and morals

1 INTRODUÇÃO
o modernismo jamais deixou de mobilizar o interesse acadêmico e do público mais
amplo. Não pretendo aqui, porém, oferecer mais um balanço do modernismo. E
tampouco entrar na controvérsia sobre a atualidade ou não de suas propostas
estéticas, que há muito anima a crítica especializada (Santiago, 2002b) e, mais uma
vez, promete mobilizar a efeméride.
Ao menos na sociologia, não dispomos de recursos cognitivos objetivos para esse
tipo de juízo. Mas, por outro lado, a sociologia pode e tem oferecido meios de
compreensão mais amplos do modernismo tanto por meio da questão da renovação
estética, quanto para além dela. A imensa fortuna crítica do modernismo o tem

Heloisa Buarque de Hollanda. Graduado em.... ,pela Universidade.... , Pós Graduado em .... ,pela
Universidade.... Docente do Curso Superior em Tecnologia de Gestão de Terminais e Operações
Portuárias da disciplina de...

Graduando do Curso Superior em Tecnologia de Gestão de Terminais e Operações Portuárias. .

2

tratado, principalmente, como um “movimento artístico” voltado a um só tempo para


o combate da estética parnasiana então hegemônica e para a renovação da poesia,
da literatura e das artes plásticas brasileiras, especialmente. E está certo. Em
grande medida, o modernismo foi e é isso mesmo. Porém, a sociologia permite
justamente pensar outras dimensões envolvidas, divisando ideais de “cultura” e
mesmo de “sociedade” mais amplos implicados nas propostas de renovação artística
e intelectual.
modernism has never failed to mobilize the interest of academia and the wider public.
I do not intend here, however, to offer another balance of modernism. Nor can it
enter into the controversy over whether or not its aesthetic proposals are up to date,
which has long animated specialized critics (Santiago, 2002b) and, once again,
promises to mobilize the ephemeris.
At least in sociology, we do not have objective cognitive resources for this kind of
judgment. But, on the other hand, sociology can and has offered a broader means of
understanding modernism both through the question of aesthetic renewal and
beyond. The immense critical fortune of modernism has treated, mainly, as an
“artistic movement” aimed at the same time to combat the then hegemonic
Parnassian aesthetics and to renew Brazilian poetry, literature and plastic arts,
especially. And it's right. To a large extent, modernism was and is just that. However,
sociology precisely allows us to think about other dimensions involved, devising
broader ideals of “culture” and even of “society” involved in proposals for artistic and
intellectual renewal.

2 MUDANÇAS NA BASE SOCIAL


A década da Semana de Arte Moderna viu o país passar por profundas
transformações. A industrialização consolidou-se, sem dúvida, nesse período,
embora
ainda tardia e incipiente para transformar a profunda dependência e
subordinação de uma república recém-proclamada, que ainda vivia sob os auspícios
das
elites mais conservadoras e vinculadas ao agrarismo dominante.
A Primeira República é um tempo de consolidação do parque industrial
brasileiro, processo que teve início ainda no século XIX, de forma embrionária
e
3

tímida, e que teria desenvolvimento mais amplo no limiar do século XX. Foi
este
fenômeno que provocou mudanças profundas na ordem social vigente. Os
diferentes grupos constitutivos do tecido social viveram conflitos intensos na arena
pública brasileira. O enfrentamento com as velhas oligarquias era inevitável,
dado
o descompasso entre as transformações na base social e a manutenção do
estilo
de poder que vigorava desde o século anterior à Republica.
Proponho aqui outra interpretação do modernismo que, embora
compreendendo em parte tanto a questão da renovação estética quanto a da
identidade nacional, volta-se antes à compreensão da dinâmica sociológica do
modernismo como um “movimento cultural”. Tratar o modernismo brasileiro como
movimento cultural implica discuti-lo como um modo de ação coletiva, ao menos
incialmente, fracamente institucionalizado, mas que, ao buscar produzir mudanças
de ordem cultural no conjunto da sociedade, se vê constrangido a interagir de modo
conflituoso e colaborativo com o Estado. Proponho, assim, uma nova frente de
pesquisa do modernismo na sociologia que, no lugar da discussão tradicional sobre
“cultura e política”, talvez, possa ser mais adequadamente definida como uma
“sociologia política da cultura”, como eu venho argumentando em relação às
interpretações do Brasil em geral (Botelho, 2019).

A aposta aqui é que a ideia de “movimento cultural” pode ser boa para
repensar o modernismo de modo integrado em toda sua complexidade constitutiva.
Naturalmente, não tenho como, porém, no espaço deste texto, senão desenhar os
contornos gerais da hipótese. E o faço de acordo com duas escolhas principais
nesse momento, que explicito. Primeiro, meu objetivo é caracterizar “movimento
cultural” mais do ponto de vista empírico e histórico, tendo em vista o caso
paradigmático do movimento modernista na cultura brasileira, deixando para outro
momento a sistematização teórica das possiblidades e as implicações analíticas que
trazem. Na seção final do ensaio, porém, explicitarei alguns resultados teóricos da
análise, com a expectativa de que isso ajude não apenas a modelar os resultados
empíricos obtidos, mas também a constituir, assim, um ponto de partida mais
consistente para investigações teóricas futuras. Como, talvez, já tenham percebido
4

os mais familiarizados desde o início, a análise opera com perguntas tomadas quase
por analogia à discussão sociológica mais recente sobre movimentos sociais. Em
particular, aquela voltada justamente à rediscussão do lugar da cultura nos
movimentos sociais, já que, de fato, ainda não dispomos de uma formulação
conceitual mais acabada sobre movimentos culturais mesmo na literatura
sociológica especializada.
The decade of the Modern Art Week saw the country go through profound
transformations. Industrialization was undoubtedly consolidated during this period,
although
late and incipient to transform the deep dependence and subordination of a
newly proclaimed republic, which still lived under the auspices of the
more conservative elites linked to the dominant agrarianism.
The First Republic is a time of consolidation of the industrial park
Brazil, a process that began in the 19th century, in an embryonic and
timid, and that would have a broader development on the threshold of the 20th
century. was this
phenomenon that provoked profound changes in the prevailing social order.
The different constitutive groups of the social fabric experienced intense conflicts in
the
Brazilian public. Confrontation with the old oligarchies was inevitable, given
the mismatch between the transformations in the social base and the
maintenance of the
of power that had been in force since the century before the Republic.
I propose here another interpretation of modernism that, while understanding
in part both the question of aesthetic renewal and that of national identity, turns
rather to understanding the sociological dynamics of modernism as a “cultural
movement”. Treating Brazilian modernism as a cultural movement implies discussing
it as a mode of collective action, at least initially, weakly institutionalized, but which,
when seeking to produce cultural changes in society as a whole, finds itself
constrained to interact in a conflictive and collaborative way. with the state. I
therefore propose a new research front for modernism in sociology which, in place of
the traditional discussion of “culture and politics”, may perhaps be more adequately
defined as a “political sociology of culture”, as I have been arguing in relation to the
interpretations of Brazil in general (Botelho, 2019).
5

The bet here is that the idea of a “cultural movement” can be good for
rethinking modernism in an integrated way in all its constitutive complexity. Naturally,
however, in the space of this text, I cannot but draw the general contours of the
hypothesis. And I do it according to two main choices at that moment, which I
explain. First, my objective is to characterize “cultural movement” more from an
empirical and historical point of view, bearing in mind the paradigmatic case of the
modernist movement in Brazilian culture, leaving for another moment the theoretical
systematization of the possibilities and the analytical implications they bring. In the
final section of the essay, however, I will make explicit some theoretical results of the
analysis, with the expectation that this will help not only to model the empirical results
obtained, but also to constitute, thus, a more consistent starting point for future
theoretical investigations. As, perhaps, the most familiar ones have already noticed
from the beginning, the analysis operates with questions taken almost by analogy to
the more recent sociological discussion on social movements. In particular, the one
aimed precisely at re-discussing the place of culture in social movements, since, in
fact, we still do not have a more complete conceptual formulation on cultural
movements even in the specialized sociological literature.

3 MODERNISMO BRASILEIRO E SUA PLURALIDADE

A modernidade é paulistana. São Paulo ganhou esse status porque foi em seu
território que se concentrou o desenvolvimento propiciado pelo processo de
industrialização. Em que pese ela ter sido durante muito tempo uma cidade
acanhada
e provinciana, no início do século XX passa por considerável transformação em
sua configuração urbana e social. O Rio de Janeiro, por outro lado, era a capital
federal desde o período colonial, situação que oferecia ao estado uma condição
privilegiada no cenário nacional, haja vista que era o centro da vida cultural do
país. Para lá acorreram artistas e intelectuais das mais diferentes partes do país.
No entanto, foi São Paulo que ficou com o título de capital do modernismo brasileiro.
Ainda assim, segundo os diferentes autores que trataremos neste artigo, essa
é uma imagem redutora de um movimento complexo que transcende a dimensão
paulista de sua concretude
6

O Quadro 1 apresenta a imagem de um dos intelectuais analisados na


pesquisa.

Modernity is from São Paulo. São Paulo gained this status because it was in
its
territory where the development provided by the industrialization process was
concentrated. In spite of having been for a long time a shy city
and provincial, at the beginning of the 20th century it underwent a
considerable transformation into
its urban and social configuration. Rio de Janeiro, on the other hand, was the
capital
federal government since the colonial period, a situation that offered the state
a
privileged in the national scene, given that it was the center of the cultural life
of the
country. Artists and intellectuals from the most different parts of the country
flocked there.
However, it was São Paulo that took the title of capital of Brazilian modernism.
Even so, according to the different authors that we will deal with in this article, this
is a reductive image of a complex movement that transcends the
paulista of its concreteness
4 LEITMOTIV
Um dos desafios principais que o nosso percurso permite apontar é, justamente, o
de qualificar conceitualmente a ideia de movimento cultural. Mesmo quando,
eventualmente, a expressão tem sido empregada na literatura sociológica, fica difícil
perceber um sentido teórico próprio para ela, uma vez que, em grande medida, de
7

fato, confunde-se, em seus usos, com as visões mais tradicionais sobre o papel da
cultura na sociedade. Temos deixado, então, como pressuposto aquilo que caberia
ser demostrado: como processos e dinâmicas sociais se entrelaçam com mudanças
culturais?

Isso também se dá, em grande medida, na bibliografia da sociologia, tanto teórica


quanto na voltada especificamente para a caracterização dos movimentos sociais.5
Mesmo os chamados “novos movimentos sociais” (Melucci, 1980; 2001), com os
quais, sem dúvida, os movimentos culturais têm afinidades decisivas, cujas pautas e
agendas de mobilização e confronto político são tão marcadas por temas
intangíveis, como identidades e estruturas emocionais, por exemplo, não são
pensados, porém, como “movimentos culturais”. Mais intrigante ainda, isso também
acontece quando os movimentos se voltam claramente à promoção de mudanças
nas crenças, credos, valores, normas, símbolos e padrões de vida cotidiana, como é
o caso dos movimentos beatniks ou punks, por exemplo. Quer dizer, embora se
possa dizer que existam visões difusas sobre o papel da mudança cultural nas
ciências sociais, elas não têm sido formalizadas em termos explicativos como
“movimento cultural”, confundindo-se, antes, com as posições mais gerais sobre o
papel da cultura na vida social (Swidler, 1986; 1995).

Como sabemos, não há consenso a esse respeito, mesmo que, talvez, poucos
sociólogos pareçam dispostos, hoje, a negar que a vida social envolva estruturas e
recursos simbólicos, além de materiais, e que a cultura proporciona significado à
vida em sociedade, incluindo as regras de ação social sem as quais seria impossível
para os atores chegarem a compreender uns aos outros. Desse ponto em diante,
contudo, dificilmente se poderia continuar falando em consenso, mesmo no caso da
teoria dos movimentos sociais. Em termos muitos genéricos, a problemática da
cultura permanece, nessas, associada a duas posições básicas: uma genericamente
chamada de “idealista”, pela insistência com que afirma que a sociedade se mantém
coesa e/ou muda porque suas normas culturais são compartilhadas; outra, por
contraste, “materialista”, por considerar que as crenças, as ideologias ou as
representações coletivas, por exemplo, não atuam senão indiretamente nas
dinâmicas sociais, sendo, nesse contexto, muito mais relevante perceber a relação
entre interesses e oportunidades (ou ameaças) que conduzem à ação; ou a
8

percepção do funcionamento das instituições exclusivamente no âmbito sistêmico,


como se não mantivessem nenhuma espécie de vínculo com o chamado “mundo da
vida”. Se com relação à segunda abordagem, pode-se argumentar que é impossível
especificar interesses que não contenham componentes culturais; ou ainda que sem
levar em conta os condicionantes culturais, no sentido de valores capazes de
unificar vontades e consciências, comportamentos e instituições, fica difícil explicar
como as instituições se enraízam ou não nas condutas dos atores e na própria vida
social; isso não implica, necessariamente, como preconiza a primeira abordagem,
concordar que a cultura seja em si mesma a força capaz de explicar a mudança ou a
coesão na sociedade (Williams, 1969; Botelho, 2005; Benhabib, 2002).

A busca de uma nova conexão teórica entre cultura e vida social que, ademais, pode
nos auxiliar mais diretamente na formalização de uma proposta sobre “movimentos
culturais”, vem pautando os últimos trabalhos de Jeffrey Alexander (2006; 2011). Ao
teorizar sobre a esfera civil, o autor chama a atenção tanto para suas componentes
institucionais - como partidos políticos, associações, cargos públicos, órgãos da
justiça e meios de comunicação - quanto para suas dimensões simbólicas e culturais
- o discurso da sociedade civil, amparado no universalismo e na ideia de igualdade
(Alexander, 2006). Nesse registro, Alexander concebe os movimentos sociais como
“tradutores”, isto é, como atores sociais que buscam articular, por meio de suas
performances, as demandas por direitos de grupos sociais específicos com a
metalinguagem do discurso da sociedade civil. Caso estas performances sejam
bem-sucedidas, os movimentos sociais logram transformar essas demandas por
direitos em políticas públicas ou em práticas institucionais garantidoras da cidadania.
Frequentemente, no entanto, essas performances sofrem a ação de
“contraperformances” que visam deslegitimar, por meio do mesmo discurso da
sociedade civil, tais demandas por direitos e, consequentemente, a extensão da
própria cidadania. Assim, a luta por direitos e sua efetivação institucional não segue
uma lógica linear e progressiva, mas está sujeita a constantes avanços e
retrocessos. E, em todos esses casos, como bem demonstrou Alexander (2011) em
sua análise sobre os movimentos de direitos civis norte-americanos, é decisivo
entender de que modo os movimentos sociais mobilizam a cultura a fim de legitimar,
desqualificar ou mesmo reprimir certas demandas por direitos.
9

One of the main challenges that our journey allows us to point out is precisely that of
conceptually qualifying the idea of cultural movement. Even when, eventually, the
expression has been used in the sociological literature, it is difficult to perceive a
theoretical meaning of its own, since, to a large extent, in fact, it is confused, in its
uses, with the more traditional views on the subject. role of culture in society. We
have left, then, as a presupposition what should be demonstrated: how social
processes and dynamics intertwine with cultural changes?

This also occurs, to a large extent, in the bibliography of sociology, both theoretical
and specifically focused on the characterization of social movements.5 Even the so-
called “new social movements” (Melucci, 1980; 2001), with which, without a doubt, ,
cultural movements have decisive affinities, whose agendas and mobilization and
political confrontation agendas are so marked by intangible themes, such as
identities and emotional structures, for example, they are not, however, thought of as
“cultural movements”. More intriguingly, this also happens when movements are
clearly aimed at promoting changes in beliefs, creeds, values, norms, symbols and
patterns of everyday life, as is the case with the beatniks or punks movements, for
example. That is to say, although it can be said that there are diffuse views on the
role of cultural change in the social sciences, they have not been formalized in
explanatory terms as a “cultural movement”, rather confused with the more general
positions on the role of cultural change. culture in social life (Swidler, 1986; 1995).
As we know, there is no consensus on this point, even if, perhaps, few sociologists
seem willing today to deny that social life involves symbolic as well as material
structures and resources, and that culture provides meaning to life in society,
including the rules of social action without which it would be impossible for actors to
come to understand one another. From this point on, however, one could hardly
continue to speak of consensus, even in the case of the theory of social movements.
In very generic terms, the problem of culture remains, in these, associated with two
basic positions: one generically called “idealist”, for the insistence with which it
affirms that society remains cohesive and/or changes because its cultural norms are
shared; the other, by contrast, “materialist”, considering that beliefs, ideologies or
collective representations, for example, only act indirectly in social dynamics, being,
in this context, much more relevant to understand the relationship between interests
and opportunities (or threats) that lead to action; or the perception of the functioning
10

of institutions exclusively in the systemic scope, as if they did not maintain any kind
of bond with the so-called “world of life”. If with regard to the second approach, it can
be argued that it is impossible to specify interests that do not contain cultural
components; or even that without taking into account cultural constraints, in the
sense of values capable of unifying wills and consciences, behaviors and institutions,
it is difficult to explain how institutions are rooted or not in the conduct of actors and
in social life itself; this does not necessarily imply, as the first approach advocates,
agreeing that culture is in itself the force capable of explaining change or cohesion in
society (Williams, 1969; Botelho, 2005; Benhabib, 2002).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Recapitulando, movimentos culturais constituem iniciativa articulada - embora
descentrada e heterárquica na coordenação das ações - para a alteração, controle
ou seleção dos recursos culturais disponíveis nos processos de reflexividade mais
geral da vida social. Situados num nível “meso” de escala de análise sociológica,
são heurísticos porque condensam os limites/oportunidades impostos pelos
processos mais gerais de mudança social para a alteração das autocompreensões
societais, isto é, para as imagens que circulam sobre a sociedade e que orientam as
forças sociais e políticas em disputa. Em nosso caso, frequentemente plasmados em
matéria textual, ficam disponíveis para a criatividade cultural das gerações
seguintes, que também vão tentar redefinir seus usos e sentidos para as questões
próprias que enfrentam. Alguns textos perduram na orientação das formas de
autocompreensão societal por muitas gerações. Isso permitiria entender tanto a
domesticação do modernismo brasileiro pelo paradigma da identidade nacional
quanto seu efeito de naturalização de uma ideia de cultura brasileira.

Assim, também a disjuntiva missão/cooptação dos intelectuais modernistas - que


ensejou amplo e polêmico debate na sociologia - perde o pé, pois esta ação - ação
coletiva, mas não consensual ou com sentidos unívocos - não se explica nem só por
seu voluntarismo nem apenas pelos constrangimentos estruturais à reprodução
social dos intelectuais. O movimento cultural produz efeitos - ou não - de acordo com
sua interação num campo de forças abrangente e em movimento, o que inclui outros
movimentos culturais, grupos localizados no interior do estado e, em alguns casos,
também movimentos sociais. Também vale a pena levar em conta as várias escalas
11

da diacronia, pois, a despeito da longa duração da modernização conservadora


entre nós, houve períodos - curtos - de abertura e promoção pública e privada de
inovações culturais e de legitimação à ação dos movimentos culturais
democratizantes. O caso de Mário de Andrade parece capturar bem esse anticlímax
que foi a redefiniçao autoritária dos recursos culturais que ele vinha mobilizando em
várias frentes.

A ideia de self modernista, como discutimos, é importante, pois nos remete, enfim,
às diferenças finas e finais entre a ideia de “movimento cultural” aqui discutida e as
de “movimentos sociais”, em geral, e do “confronto político”, em particular. Se, como
os movimentos sociais, o movimento cultural envolve formas de inserção específicas
na sociedade e articulações particulares com o arcabouço político-institucional do
Estado, suas contribuições não poderiam ser consideradas preponderantemente do
ponto de vista da lógica institucional, em termos de um aperfeiçoamento dos
mecanismos de intermediação de interesses e demandas - como, aliás, ilustram
soberbamente as relações ambíguas do modernismo com o Estado Novo. Mais do
que qualquer outro tipo de movimento social, talvez, o movimento cultural parece
exigir, porém, uma espécie de “enraizamento” reiterado e progressivo via
socialização em diferentes círculos sociais.

To recapitulate, cultural movements constitute an articulated initiative - although


decentered and heterarchical in the coordination of actions - for the alteration, control
or selection of the cultural resources available in the processes of more general
reflexivity of social life. Situated at a “meso” level of the sociological analysis scale,
they are heuristics because they condense the limits/opportunities imposed by the
more general processes of social change for the alteration of societal self-
understandings, that is, for the images that circulate about society and that guide the
social and political forces in dispute. In our case, often shaped in textual matter, they
are available for the cultural creativity of the following generations, who will also try to
redefine their uses and meanings for the specific issues they face. Some texts
remain in the orientation of forms of societal self-understanding for many
generations. This would allow us to understand both the domestication of Brazilian
modernism by the paradigm of national identity and its effect of naturalizing an idea
of Brazilian culture.
12

Thus, the disjunctive mission/cooptation of modernist intellectuals - which gave rise


to a broad and polemic debate in sociology - loses its footing, because this action -
collective action, but not consensual or with univocal meanings - is not explained
either by their voluntarism or only by by the structural constraints to the social
reproduction of intellectuals. The cultural movement produces effects - or not -
according to its interaction in a comprehensive and moving field of forces, which
includes other cultural movements, groups located within the state and, in some
cases, also social movements. It is also worth taking into account the various scales
of diachrony, because, despite the long duration of conservative modernization
among us, there were periods - short - of public and private opening and promotion
of cultural innovations and of legitimizing the action of democratizing cultural
movements. . The case of Mário de Andrade seems to capture well this anticlimax
that was the authoritarian redefinition of the cultural resources that he had been
mobilizing on several fronts.
The idea of the modernist self, as we have discussed, is important, as it leads us,
finally, to the fine and final differences between the idea of “cultural movement”
discussed here and those of “social movements”, in general, and of “political
confrontation”. , in particular. If, like social movements, the cultural movement
involves specific forms of insertion into society and particular articulations with the
political-institutional framework of the State, its contributions could not be considered
preponderantly from the point of view of institutional logic, in terms of improving the
mechanisms of intermediation of interests and demands - as, incidentally, superbly
illustrate the ambiguous relations of modernism with the Estado Novo. More than any
other type of social movement, perhaps, the cultural movement seems to demand,
however, a kind of reiterated and progressive “rooting” via socialization in different
social circles.

6 REFERÊNCIAS
ALEXANDER, Jeffrey. 2006. The Civil Sphere New York: Oxford University Press.
ALEXANDER, Jeffrey. 2011. Performance and Power Cambridge: Polity.
ALONSO, Angela. 2002. Ideias em Movimento. A geração 1870 na crise do Brasil-
Império São Paulo: Paz e Terra.
ALONSO, Angela. 2009. As teorias dos movimentos sociais - um balanço do debate.
Lua Nova, n. 76, pp. 49-86.
13

ALONSO, Angela. 2015. Flores, votos e balas: o movimento abolicionista brasileiro


São Paulo: Companhia da Letras.
ANDRADE, Carlos Drummond de. 2002. Carlos & Mário: correspondência entre
Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade: 1924-1945 Rio de Janeiro: Bem-
te-vi.
ANDRADE, Carlos Drummond. 2011. Confissões de Minas São Paulo: Cosac Naify.
ANDRADE, Mário de. 1978. Aspectos da literatura brasileira São Paulo: Livraria
Martins Editora.
ANDRADE, Mário de. 2001. Correspondência Mário de Andrade & Tarsila do Amaral
São Paulo: Edusp.
ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de. 2014. Um grão de sal: autenticidade, felicidade e
relações de amizade na correspondência de Mário de Andrade com Carlos
Drummond. História da historiografia, v. 7, n. 16, pp. 174-185.
ARRIGUCCI JR., Davi. 1990. Humildade, paixão e morte: a poesia de Manuel
Bandeira São Paulo: Companhia das Letras.
BENHABIB, Seyla. 2002. The claims of culture: equality and diversity in the global
era Princeton: Princeton University Press.
BITTENCOURT, Andre; HOELZ, Maurício. 2017. O modernismo como vocação:
Mario de Andrade e os mineiros Trabalho apresentando no XLI Encontro Anual da
ANPOCS, Caxambu, 23 a 27 de outubro. Disponível em: Disponível em:
https://bit.ly/39nq6IO Acesso em: 16 set. 2020.
» https://bit.ly/39nq6IO
BOMENY, Helena (org.). 2001. Constelação Capanema: intelectuais e políticas Rio
de Janeiro: Ed. FGV.
BOMENY, Helena. 2010. Antiliberalismo como convicção: teoria e ação política em
Francisco Campos. In: LIMONCIC, Flávio; MARTINHO, Francisco Carlos Palomanes
(org.). Os intelectuais do antiliberalismo. Projetos e políticas para outras
modernidades Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. pp. 263-316.
BOMENY, Helena. 2012. Um poeta na política: Mário de Andrade, paixão e
compromisso Rio de Janeiro: Casa da Palavra.
BOTELHO, André. 2005. O Brasil e os dias. Estado-nação, modernismo e rotina
intelectual Bauru: Edusc.
BOTELHO, André. 2012. De olho em Mário de Andrade: uma descoberta intelectual
e sentimental do Brasil São Paulo: Claroenigma.
BOTELHO, André. 2015. Brasil caixa postal: por uma educação estética modernista.
In: ANDRADE, Mário de. A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a Carlos
Drummond de Andrade São Paulo: Companhia das Letras , pp. 414-434.
BOTELHO, André. 2019. O retorno da sociedade. Política e interpretações do Brasil
Petrópolis: Vozes.
BOTELHO, André; HOELZ, Maurício. 2016. O mundo é um moinho: sacrífico e
cotidiano em Mário de Andrade. Lua Nova , n. 97, pp. 251-284. Disponível em:
Disponível em: https://bit.ly/37cXEXk Acesso em: 16 set. 2020.
14

ANEXO A – TÍTULO DO ANEXO

Considerações para a equipe:


Rodrigo Villette
Lucas Gonçalves
Gabriel Onofre
Taislaine Oliveira
Luyan Corte
Tcharles Augusto
15

ASSINATURAS DOS RESPONSÁVEIS

__________________________________
Acadêmico: Lucas Garcia e companhia

__________________________________
Orientador: Professor Elivelton e Creuza

Local/Ano

Você também pode gostar