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CULTURA POPULAR

UM MUNDO EM MUDANÇA OU UMA REALIDADE ESTANQUE?

U.C. HISTÓRIA DA CULTURA NA ÉPOCA MODERNA


DOCENTE – PROF. DR. GISELE DA CONCEIÇÃO
DISCENTE – FILIPA VITÓRIA DE SOUSA
2020/2021
CULTURA POPULAR ● UM MUNDO EM MUDANÇA OU UMA REALIDADE ESTANQUE?

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 2
RECENSÃO CRÍTICA .................................................................................................................. 3
CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 6
BILBIOGRAFIA ............................................................................................................................ 7

FILIPA VITÓRIA DE SOUSA 2º SEMESTRE 2020/ 2021 1


CULTURA POPULAR ● UM MUNDO EM MUDANÇA OU UMA REALIDADE ESTANQUE?

INTRODUÇÃO

No presente trabalho, realizado no âmbito da unidade curricular de História da Cultura na


Época Moderna, irei proceder à recensão crítica do artigo intitulado Cultura popular: as
construções de um conceito na produção historiográfica1, da autoria de Petrônio José Domingues.
Este artigo encontra-se publicado na revista História (São Paulo), correpondendo ao volume 30 e
número 2 da mesma. Este texto foi publicado na edição referente a agosto/ dezembro do ano de
2011 e está disponível para consulta online.

Petrônio José Domingues2 é um historiador brasileiro que fez, maioritariamente, o seu


percurso académico na Universidade de São Paulo, no Brasil, onde realizou uma licenciatura em
História, um mestrado em história económica e um doutoramento em história social, terminado no
ano de 2005. Fez ainda dois pós-doutoramentos, um primeiro que teve início em 2012, na The
State University of New Jersey na área das ciências humanas e um outro mais recente, com fim
em 2017, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde, além das ciências humanas, se focou
mais na história do Brasil. Desde 2006, Petrônio Domingues é professor adjunto do Departamento
de História da Universidade Federal de Sergipe, onde é ainda professor do Mestrado em História.
O historiador conta com vários prémios na sua carreira, sendo que o mais recente data de 2014 e é
referente ao Prémio Preservação, ligado ao Ministério da Cultura e à Universidade Federal de
Pernambuco.

Todo o artigo gira em torno da definição de um conceito de cultura popular e de cultura de


elite e se é, de facto, possível compartimentar essas duas realidades, atribuindo-lhes um caráter
isolado e estanque. Ao longo do texto, Petrônio recorre a vários autores, demonstrando que existem
aspetos concordantes mas também divergentes, algo que usa para depois melhor ilustrar as
conclusões a que chega.

1
DOMINGUES, Petrônio – Cultura popular: as construções de um conceito na produção historiográfica. História
(São Paulo) [Em linha]. 30:2 (2011) p. 401-419. [Consult. 18 fev. 2021]. Disponível na Internet:<URL:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742011000200019&lng=pt&tlng=pt .ISSN 1980-
4369.
2
https://www.sigaa.ufs.br/sigaa/public/docente/portal.jsf?siape=1546297 (Consult. 18 fev. 2021-19h).
2

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CULTURA POPULAR ● UM MUNDO EM MUDANÇA OU UMA REALIDADE ESTANQUE?

RECENSÃO CRÍTICA

O artigo escolhido tem como principal objetivo demonstrar a dificuldade existente em


definir o conceito de “cultura popular”, tema maior do estudo, bem como em precisar com exatidão
quais seriam os limites da mesma, ou seja, onde começa e onde acaba a cultura popular. Ao longo
de todo o texto, Petrônio Domingues recorre a citações e ideias de vários autores3, cujas opiniões
nem sempre são convergentes, algo que demonstra a constante mudança ao longo do tempo do que
era admitido como cultura popular e quais seriam, de facto, as comunicações que estabelecia com
o restante meio, se é que o fazia.

Fruto dessa análise, o autor concluiu que a ideia pré-concebida de que a cultura popular
seria quase dominada pela cultura de elite, que exerceria sobre a primeira uma relação de
supremacia, é completamente errada. A cultura popular é, de facto, uma realidade que se encontra
num constante processo de metamorfose, mas que já provou ter a capacidade de apenas absorver
para si os fragmentos culturais que lhe seriam mais úteis, realizando ainda processos de adaptação
a esses mesmos fragmentos. Este consumo cultural realiza-se então por meio da circularidade4,
compreendendo tanto um consumo das camadas sociais mais baixas em relação às mais elevadas,
como vice-versa. Ao contrário do que alguns tinham considerado, a cultura popular não constituía,
portanto, uma realidade compartimentada, isolada, ou sem qualquer evolução.

Além desse conceito, existem algumas explicações relativas à ideia de cultura de elite e,
numa parte específica do artigo intitulada Cultura popular negra5, o autor procede também à
abordagem desse mesmo conceito, seguindo a ótica de Stuart Hall. Petrônio Domingues explica
que, tal como a cultura popular e a cultura de elite, também a própria cultura popular negra

3
Na parte final do artigo, Petrônio refere que existem muitos outros autores que abordam e estudam sobre esta temática
que o autor acabou por não conseguir referir no seu trabalho, como o caso de Natalie Zamon Davis ou Raphael Samuel.
Porém, o autor do artigo decidiu não os incluir visto que o seu texto se tratava de uma síntese do assunto e não de uma
investigação profunda e exaustiva.
4
Conceito criado por Mikhail Bakhtin e que defendia que não existia uma separação clara entre as culturas, sendo
que os elementos que formavam essas mesmas culturas não eram estáticos e não se moviam só “de cima para
baixo”, mas também o contrário.
5
DOMINGUES, Petrônio – Cultura popular: as construções de um conceito na produção historiográfica. História (São
3
Paulo) [Em linha]. 30:2 (2011) p. 412. [Consult. 18 fev. 2021]. Disponível na Internet:<URL:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742011000200019&lng=pt&tlng=pt. ISSN 1980-
4369.

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constitui um conceito distinto dos restantes, com práticas e realidades muito próprias e que a
caracterizam como tal.

Para redigir o seu texto, o autor serve-se de fontes de caráter bibliográfico que se encontram
enumeradas e devidamente referenciadas no final do artigo, sendo que o mesmo faz ainda várias
citações ao longo do próprio texto que se encontram também referenciadas com o respetivo autor,
data e página. Essas fontes bibliográficas incluem várias obras que, embora abordem todos a
temática da cultura popular, se reportam a diferentes realidades espaciais e temporais e incluem
uma grande panóplia de autores. É também importante notar que, como será mais à frente
referenciado, Petrônio Domingues realiza este seu estudo partindo dessas obras que se tornam,
assim, algo crucial no trabalho.

Relativamente a essas mesmas fontes, considero serem num número bastante satisfatório e
com uma grande pertinência, visto que, além de serem várias as obras abordadas, são também de
diferentes autores, oriundos de diferentes locais e com diferentes formas de pensar, demonstrando
que o autor não se cingiu a uma única visão que poderia ser limitadora, mas faz uma abordagem
mais ampla, explanando vários pontos de vista. Ainda em relação às fontes usadas, a atualidade de
parte das mesmas é, de facto, considerável, existindo tanto obras incontornáveis que recuam aos
finais do século XX6, como obras mais recentes, que datam já de inícios do século XXI. Tal facto
pode demonstrar que o autor não se baseia apenas em ideias defendidas num tempo que, embora
relativamente recente, se torna um pouco distante, procurando incluir também textos mais atuais,
dando a ideia de que a temática da cultura popular não é um assunto fechado e se encontra em
constante mudança, surgindo novos contributos e novas formas de a encarar.

Ao longo do seu artigo, Petrônio realiza uma análise qualitativa, maioritariamente, com
base nas perspetivas de inúmeros autores, procedendo a uma comparação entre as mesmas, tecendo
ainda alguns comentários e apresentando conclusões fruto dessa análise. O autor começa por fazer
uma abordagem ao que seria, de facto, considerado como “povo” ou “cultura popular” e como esse
conceito foi sofrendo alterações com o avançar da cronologia. Em seguida, o estudo volta-se para
a questão de como seriam estabelecidas as relações entre a cultura popular e o meio que a rodeia,

6
Dentro dessas obras incontornáveis para o estudo da cultura popular temos de incluir a obra A cultura popular na
Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais da autoria de Mikhail Bakhtin ou ainda os vários
livros de Peter Burke referidos na bibliografia do artigo, destacando a obra Cultura Popular na Idade Moderna.
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nomeadamente com a cultura de elite. Numa zona mais final, o autor aborda ainda a ideia de cultura
popular negra, algo também colmatado com o recurso a um autor.

Petrônio Domingues utiliza uma linguagem simples e objetiva, o que facilita o processo
de compreensão das ideias transmitidas. Todos os termos são explicados pelo autor, que tem o
cuidado de não utilizar uma linguagem demasiado técnica ou específica, produzindo assim um
texto igualmente ilustrativo e aprofundado, mas que permite ser lido por um tipo de público mais
abrangente. O texto apresentado é coerente e encontra-se bem estruturado, de forma que permita
um encadeamento lógico das ideias e uma perceção de como os acontecimento se sucederam.

No que diz respeito a elementos de sistematização, o autor não recorre a gráficos ou


imagens ao longo do seu artigo, algo compreensível, visto que a forma como aborda os dados não
permite propriamente uma análise quantitativa passível de ser representada nesses mesmos
elementos de sistematização.

Petrônio Domingues realiza um trabalho muito completo, que conta com contributos
significativos de autores com muito peso na matéria, mas o autor também recorre a outros nomes
que não esses mais comummente usados, trazendo assim novas perspetivas e contribuições, não
se limitando a utilizar visões já explanadas inúmeras vezes. Considero, de facto, o artigo de
Petrônio Domingues um texto inovador pela forma como aborda a temática da cultura popular,
relacionando-a com a cultura de elite, apresentando as várias formas de encarar essa relação e
como existem vários pontos de vista que se confrontam. Considero ainda bastante interessante a
abordagem de Petrônio Domingues na medida em que refere ainda a cultura popular negra como
algo que, embora faça parte de uma cultura popular, retrata uma realidade muito própria e passível
de distinção.

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CULTURA POPULAR ● UM MUNDO EM MUDANÇA OU UMA REALIDADE ESTANQUE?

CONCLUSÃO

Em suma, ao longo de todo o artigo fica clara a ideia de que o conceito de cultura popular
gera reações ambíguas , não havendo um consenso geral quanto ao que seria, de facto, a cultura
popular bem como quais seriam os limites da mesma.

Tal facto leva, portanto, vários autores7, de entre os quais o próprio Petrônio, a considerar
que não é possível definir cultura popular enquanto uma realidade estanque e fechada, sem
qualquer tipo de permeabilidade. Na verdade, o que se verificava era exatamente o contrário. A
cultura popular possuía sim características e representações muito próprias, mas estava também
sujeita à influência da cultura de elite, através dos contactos com a mesma e das consequentes
apropriações de fragmentos seus, que tanto poderiam representar apropriações, com uma
adaptação desses mesmos fragmentos a uma realidade que seria útil à cultura popular, ou até
mesmo uma reação de repulsa. Esta influência e assimilação de partes de determinada cultura foi
uma realidade que se verificou tanto dos setores mais baixos em relação às instâncias superiores
como em vice-versa, algo compreensível à luz do conceito de circularidade de Mikhail Bakhtin.

Em forma de remate, fica a ideia de que a cultura popular representa muito mais do que
apenas a cultura do povo enquanto estrato inferior de uma sociedade. Neste estudo são claramente
refutadas as ideias de cultura popular como uma realidade estanque e completamente separada do
ambiente envolvente, ou até dependente de estratos superiores. Cultura popular é o assimilar de
todo um meio envolvente, uma transformação e adaptação constante da cultura a uma realidade
muito própria e prática. Cultura popular é, no final de contas, a união de todas as formas culturais
e a unidade de uma só cultura, multiforme, adaptável e muito própria.

7
Ao longo de todo o artigo são referidos vários autores que concordam com este ponto de vista de que a cultura
popular não é uma realidade fechada e completamente impermeável a influências externas, como, por exemplo,
Peter Burke ou Mikhail Bakhtin. Relativamente a este último autor, é importante referir a sua importância no estudo
desta área, realçando ainda o seu contributo com o conceito de circularidade.
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BILBIOGRAFIA

Bibliografia da capa – Como imagem de fundo podemos observar a pintura Batalha entre
Carnaval e Quaresma de Pieter Bruegel. Em primeiro plano, mais à esquerda encontramos uma
fotografia de Roger Chartier, mais ao centro Mikhail Bakhtin e do lado direito Peter Burke. Toda
a montagem é de autoria própria e foi realizada na aplicação Canva.

Bibliografia do trabalho – DOMINGUES, Petrônio – Cultura popular: as construções de


um conceito na produção historiográfica. História (São Paulo) [Em linha]. 30:2 (2011) p. 401-419.
[Consult. 18 fev. 2021]. Disponível na Internet:<URL:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
90742011000200019&lng=pt&tlng=pt. ISSN 1980-4369.

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