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Controle de Qualidade Higiênico-Sanitário de Leite

Humano em Bancos de Leite


Regina Ceres Carolino Corrêa de Souza1, Paula Renata Acioli Lins da Silva1, Stella Maris Castro Jiménez2

INTRODUÇÃO Material e métodos

O leite materno preenche perfeitamente as demandas O trabalho foi desenvolvido a partir de um estudo
nutricionais, imunológicas e afetivas do recém-nascido exploratório observacional de abordagem qualitativa.
até os seis primeiros meses de vida. Entretanto, existem A coleta dos dados foi realizada em uma Maternidade
situações especiais nas quais a criança não pode e/ou é Pública da Cidade do Recife-PE e o estudo foi conduzido
incapaz de sugar o seio materno, como prematuros, durante os meses de fevereiro a maio de 2009.
neonatos de baixo peso, portadores de patologias Os dados foram obtidos através de visitas técnicas ao
respiratórias, cardíacas, gastrointestinais, entre outras. Banco de Leite Humano e Laboratório de Microbiologia do
Nessas circunstâncias a ordenha freqüente da mama das Hospital para observação dos procedimentos aplicados para
nutrizes permite a utilização do leite da própria mãe o controle de qualidade higiênico-sanitário do leite
para seu filho [1]. humano.
Quando o volume ordenhado não supre o volume O controle de qualidade foi dividido em etapas:
demandado, a utilização do leite humano (LH) doado verificação das condições de embalagem; presença de
passa a ser a melhor alternativa. Para que haja garantias sujidades; observação da cor; off-flavor; acidez Dornic e
na qualidade do leite, o mesmo deve ser proveniente de controle microbiológico.
Bancos de Leite Humano (BLH) [2]. Os resultados foram analisados conforme registros das
Os BLH são centros especializados, vinculados a visitas técnicas.
hospitais de atenção materna e/ou infantil, responsáveis
pela promoção e apoio ao aleitamento materno e Resultados e Discussão
execução das atividades de coleta do excedente da
produção láctica de nutrizes, seleção, classificação, A. verificação das condições de embalagem
processamento e controle de qualidade do leite para
posterior distribuição de acordo com critérios médicos De acordo com Brasil [5] as embalagens para
[3]. acondicionamento do leite humano devem ser de vidro
Porém, o LH ordenhado e doado aos bancos de leite (material inerte e inócuo ao leite em temperaturas na faixa
pode ser um ótimo meio de cultura para o de -25ºC a 128°C) tampa plástica e rosqueável, e
desenvolvimento de vários microrganismos, pois não vedamento perfeito, não permitindo trocas indesejáveis
dispõe de nenhuma barreira física que impeça a entre o produto acondicionado e o meio externo mantendo
penetração de microrganismos contaminantes [4]. As assim seu valor biológico.
possíveis causas de elevação da quantidade de Os recipientes que não preenchiam as especificações
microrganismos no leite humano podem estar acima citadas, assim como, as embalagens que continham
relacionadas com as técnicas inadequadas de coleta, as algum dano na sua superfície, do tipo rachaduras e trincas
condições de higiene da doadora e dos utensílios e a (Fig.1A), ou não havia rótulos com informações que
manutenção do alimento fora da cadeia de frio [1]. permitissem a obtenção da história pregressa do leite foram
Para assegurar a integridade do produto, a Agência desprezadas, com todo o seu conteúdo, por serem
Nacional de Vigilância Sanitário (Anvisa) recomenda a consideradas como não-conformidades.
realização de rigorosos procedimentos para o
monitoramento da qualidade do leite, desde a coleta até B. Presença de sujidades
a distribuição, visto que a clientela receptora apresenta
baixa resistência a infecções neonatais. No tocante avaliação da presença de sujidades, a
Diante do exposto, o presente trabalho objetivou existência de qualquer corpo estranho no leite humano
apontar os parâmetros utilizados no controle de como: pêlos, cabelos, fragmentos de pele, fragmentos de
qualidade higiênico-sanitário do leite humano em unha, insetos, pedaços de papel, vidro, entre outros,
bancos de leite. desqualificou o produto para consumo.

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1. Bacharel em Ciências Biológicas. Faculdade Frassinetti do Recife – FAFIRE, Av. Conde da Boa Vista, 921, Boa Vista, Recife – PE – Brasil,
52171- 900. E-mail: regina_ceres@hotmail.com
2. Mestre em Biologia de Fungos (Criptógamos) pela UFPE, professora/pesquisadora da Faculdade Frassinetti do Recife – FAFIRE e da Fundação de
Ensino Superior de Olinda – FUNESO, Jardim Fragoso, s/n, Olinda – PE – Brasil, 53060-770.
Todo o conteúdo do frasco, em que foi encontrada a fermentação da lactose pelas bactérias pertencentes ao
sujidade, foi descartado. Assim como realizado por grupo Coliforme. Esse resultado corrobora o de Bastos [10]
Silva & Berto [6] e Silva [11] para determinação de Coliformes Totais.

C. Observação da cor Conclusão

Durante a observação da cor do leite humano,


É incontestável o benefício do aleitamento materno e
colorações como rósea ou róseo-alaranjada, bem como,
dentro deste contexto, acredita-se que deve haver esforços
esverdeada não foram consideradas como não-
para melhorar a qualidade do leite humano ordenhado e
conformidades, por estarem relacionadas a
doado aos BLH. Para tanto, um rigoroso monitoramento da
componentes da dieta materna ou uso de medicações.
qualidade higiênico-sanitário, durante a coleta e
Porém, Almeida, Guimarães & Novak [7] ressaltam
manipulação do leite, bem como, práticas educativas
que, para que os produtos nesses casos sejam
(orientação) junto às doadoras são imprescindíveis para
considerados como válidos para consumo, é preciso
garantir um alimento seguro, tendo em vista a
que se tenha conhecimento a respeito da dieta da
vulnerabilidade da clientela receptora.
doadora. O que muitas vezes não é possível
desqualificando o produto para consumo.
Contudo, quando observadas as colorações verde-
Agradecimentos
escuro (frequentemente associada à presença da
bactéria Pseudomonas) ou cores oscilantes entre o Ao NUPIC (Núcleo de Pesquisa e Iniciação Cientifica)
“vermelho-tijolo” e o marrom-escuro (indica da Faculdade Frassinetti do Recife – FAFIRE, a Bióloga
contaminação do leite por sangue ou pode estar Elma Freitas do Nascimento e as técnicas em enfermagem
associada à presença da bactéria Serratia marcescens) Kátia e Carmem pela grandiosa colaboração.
(Fig.1B) o leite foi imediatamente descartado, pois em
ambos os casos o produto é classificado como Referências
impróprio para consumo. [1] SERAFINI, Álvaro B. et. al. Qualidade microbiológica de leite
humano obtido em bancos de leite. Goiás, 2003.
D. Off-flavor [2] COSTA, A.C. da; SOUZA, C. P. & SANTOS FILHO, L. 2004.
Caracterização microbiológica do leite humano processado em
banco de leite de João Pessoa, PB. Ver. Brasileira de Análises
Quanto a determinação do off-flavor, independente Clínicas, João Pessoa, v.36, n. 4, p.225-229.
da intensidade, se reconhecidos odores semelhantes a [3] JORNAL LIVRE. Banco de leite humano. Revista de Pediatria,
sabão de coco, peixe, remédio, cloro, plástico ou v.28, n.2. São Paulo.
Homepage:http://www.jornallivre.com.br/noticia/id=1421.
borracha, o leite foi considerado impróprio para [4] NOVAK, F. R.; ALMEIDA, J. A. G. de; SANTOS, M. J. S. &
consumo e descartado. Novak, Junqueira, Dias, & WANKE, B. 2002. Contaminação do leite humano ordenhado por
Almeida [8] correlacionaram a presença de off-flavor fungos miceliais. Jornal de Pediatria, Rio Grande do Sul, v. 78, n. 3,
no leite com elevadas contagens de microrganismos. p.197-201.
[5] BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Bancos de leite
humano: funcionamento, prevenção e controle de riscos. Brasília:
E. Acidez Dornic Anvisa, 2008. 1º ed. 156p. (Série Tecnologia em Serviços de
Saúde).
Para acidez Dornic, considerou-se normal qualquer [6] SILVA, Mérianny Lemes & BERTO, Nanci Rouse Teruel.
Avaliação das condições de ordenha domiciliar em banco de leite
valor situado na faixa de 1 a 8°D. Valores superiores humano de Cascavel- PR. 2008. Homepage:
foram considerados como não-conformidades devido, http://www.fag.edu.br/tcc/2008/Nutri%E7%E3o/avaliacao_das_con
sobretudo, a hidrólise da lactose por enzimas dicoes_de_ordenha_domiciliar_em_um_banco_de_leite.pdf.
microbianas que em processo de fermentação leva a [7] ALMEIDA, J. A. G.; GUIMARÃES, V. & NOVAK, F. R. Normas
técnicas redeblh-Br para bancos de leite humano. 2005.
formação de ácido lático como reportado por Panichi
FIOCRUZ/IFF-BR. Rede Nacional de Bancos de Leite Humono.
[9]. [8] NOVAK, Franz R.; JUNQUEIRA, Ana R.; DIAS, Manuela de S. P.
C. & ALMEIDA, João A.G. Análise sensorial do leite humano
F. Controle microbiológico ordenhado e sua carga microbiana. Jornal de Pediatria (Rio J.),
Porto Alegre, v. 84, n.2.
[9] PANICHI, M. N. Determinação da acidez do Dornic do leite
O controle microbiológico seguiu a lógica humano ordenhado como avaliação de qualidade dos
preconizada para alimentos, que institui a utilização de procedimentos de bancos de leite humano. SP. 2000a.
microrganismos indicadores de qualidade sanitária. [10] BASTOS, Kedimam Célis Barros; PEIXOTO, Maria Marly Lopes
Nesse contexto, o grupo coliforme ocupou lugar de Vieira & RODRIGUES, Rita de Cássia Barros. Manual de
qualidade em bancos de leite humano. MEAC-UFC, 2005.
destaque, por ser de cultivo simples, economicamente Homepage: http://
viável e seguro, minimizando a possibilidade de www.meac.ufc.br/blh/arquivos_pdf/normas_rotinas_blh_meac.pdf.
resultados falso-negativos. Foram considerados como [11] SILVA, P.R.A.L. Procedimentos microbiológicos para controle de
resultado positivo para a presença de coliformes os qualidade em banco de leite humano em maternidade pública do
Recife- PE. Recife, 2009. 43p. Trabalho de conclusão do curso de
tubos que continham em seu interior tubos de Durham Bacharelado em Ciências Biológicas – Faculdade Frassinetti do
com formação de gás no período de 24 às 48h de Recife – FAFIRE.
incubação (Fig.1C). A formação de gás acorre devido à
Figura 1. A) embalagem trincada; B) leite com coloração alterada; C) Formação da bolha de gás em destaque no tubo positivo.

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