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ARTIGO DE REVISÃO R E V I S TA P O R T U G U E S A

DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Freemartinismo em bovinos: revisão de literatura

Freemartins in cattle: a review

Jaci de Almeida1, Osvaldo A. Resende2

1
Centro Universitário de Barra Mansa (UBM)
Rua vereador Pinho de carvalho, 267, Barra Mansa, RJ, Brasil, CEP 27330-550
2
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA/Agrobiologia – Seropédica)
Rodovia BR 465 km 7, Seropédica, RJ, Brasil, CEP 23890-000

Resumo: O freemartinismo é a mais freqüente forma de inter- Keywords: Clinical evaluation, Freemartin, cattle
sexualidade encontrada nos bovinos, sendo resultante da anas-
tomose dos vasos sanguíneos placentários, que conduzem a uma
circulação comum entre os embriões, permitindo que a diferen-
ciação sexual do macho, anterior a da fêmea, interfira com o Introdução
desenvolvimento normal do trato reprodutivo desta. As fêmeas
freemartin podem apresentar clitóris hipertrofiado, presença de O termo freemartin é utilizado para designar uma
pêlos longos na vulva, vagina mais curta, em fundo cego, sendo vaca ou novilha estéril, mas por extensão, aplica-se a
em algumas regiões do Brasil chamada de vaca "maninha",
apresentando características de machos (pescoço e espáduas uma fêmea concebida em uma gestação múltipla hete-
musculosos), ausência de cérvix, ovários poucos desenvolvidos rossexual. Como consequência desta gestação, em
ou ausentes, pouco desenvolvimento do sistema mamário, vestí- mais de 90% das ocasiões, se estabelece uma anasto-
gios de gônadas masculinas e hipoplasia dos ductos de Muller, mose vascular coriônica entre as placentas dos fetos
sendo considerada infértil (em mais de 90% das ocorrências). gêmeos por volta dos 30 aos 40 dias de gestação, ocor-
Assim, esta síndrome é fator limitante tanto para o sistema
reprodutivo, quanto para o produtivo em ambos os sexos, pois rendo antes do dimorfismo sexual. Isto origina uma
causa prejuízos econômicos para os pecuaristas. Considerando circulação fetal comum de células (quimerismo
a importância desta patologia, bem como a falta de informações hematopoiético) e substâncias plasmáticas como hor-
sobre a situação atual da mesma, esta revisão foi realizada com mônios (Ayala-Valdovinos et al., 2000), levando a
o objetivo de obter dados sobre a prevalência, incidência, fêmea a um estado intersexual onde os genitais externos
sintomatologia, sinais clínicos, métodos de diagnóstico, que
possibilitem esclarecer dúvidas dos proprietários e profissionais preferencialmente são femininos na aparência e o grau
de campo. de afecção dos genitais internos é muito variavel, tendo
como características a hipoplasia gonadal, regressão
Palavras-chave: Avaliação clínica, Freemartin, bovinos dos condutos de Müller, masculinização das glândulas
e estimulação dos condutos de Wolff (Tran, 1977).
Summary: Freemartins are the most frequent form of interse-
xuality found in cattle, and results from the anastomosis of O freemartinismo não pode ser prevenido, porém,
placental vessels, leading to a common circulation between pode ser diagnosticado por vários métodos, que variam
embryos, allowing the male sexual differentiation, prior to the desde exames simples das membranas da placenta até
female's, to interfere with the normal development of her repro- a avaliação do cariótipo. Em alguns casos, o gêmeo
ductive tract. Freemartin females may have hypertrophied masculino pode ter sido abortado em uma fase inicial
clitoris, presence of long hairs on the vulva, shorter and blind
vagina, presenting characteristics of males (muscular neck and da gestação (antes do quadragésimo dia de gestação).
shoulders), absence of cervix, atrophied or absent ovaries, unde- Neste caso, não haverá nenhuma evidência de free-
veloped mammary system, traces of male gonads and Mullerian martinismo. Muitos pecuaristas criam normalmente as
duct hypoplasia, being considered infertile (more than 90% of fêmeas nascidas da gestação de gêmeos de sexos
the cases). Thus, this syndrome is a limiting factor for both the diferentes, justamente por não saber que a maioria das
reproductive system and for production, because it causes eco-
nomic losses for cattle farmers. Considering the importance of fêmeas nascidas nestes casos é estéril.
this disease, and the lack of information about its current state, Considerando a importância desta patologia, bem
this review was undertaken in order to obtain data on the preva- como a falta de informações sobre a situação atual, a
lence, incidence, symptoms, clinical signs and diagnostic methods presente revisão foi desenvolvida com o objetivo de
enabling clarify questions from owners and professionals about obter informações sobre os aspectos de prevalência,
freemartism.
incidência, etiologia, sintomatologia e diagnóstico, pos-
*Correspondência: jacialmeida01@yahoo.com.br sibilitando esclarecer dúvidas existentes, reduzindo os
Tel: +(55) 21 2682 1049 prejuízos econômicos na pecuária de corte e leite.

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Revisão bibliográfica européia (B. taurus taurus). Grunert et al. (2005) afir-
mam ser a freqüência de partos gemelares em bovinos
O termo freemartismo diz respeito a uma forma de de 0,3 a 0,9% ao ano, dos quais 95% são dizigotos,
intersexualidade conhecida há séculos, sendo primeira destes 45% são heterossexuais e potenciais geradores
descrição anatômica documentada no final do século de animais freemartin. Já Potter e Blackshaw (1980)
XVIII (Hafez e Hafez, 2004). afirmam que a freqüência da "Sindrome Freemartin" é
A ocorrência de anormalidades na diferenciação estimada em 92% dos partos gemelares heterossexuais
sexual tem sido descrita em muitas outras espécies, (macho x fêmea) de bovinos. Esta síndrome também
tais como eqüinos, ovinos, suínos e humanos (Basrur pode ser observada em nascimento singular de fêmea,
et al., 1970; Campbell, 2004; Grunert et al., 2005; devido à morte fetal precoce e reabsorção do gêmeo
Payan-Carreira et al., 2008). Segundo Nascimento e macho no útero depois do estabelecimento da anasto-
Santos (2003) há três aspectos para a diferenciação mose vascular. Entretanto, Smith et al. (1977) relata-
sexual no desenvolvimento embrionário e fetal: sexo ram um caso de uma novilha fértil nascida gêmea de
cromossômico, sexo gonadal e sexo fenotípico. um macho, com a comunicação vascular entre os
Aberrações na diferenciação podem ocorrer em qual- gêmeos ocorrida no útero, como evidenciado pela
quer desses três estágios, levando ao que é conhecido presença de XX e XY células no sangue, sendo que a
como intersexualidade. No entanto, o sexo cromossô- fertilidade da novilha quimérica pode ser atribuível
mico é determinado no momento da fertilização, ao estabelecimento de anastomoses vasculares das
quando o oócito X é fertilizado por um espermato- membranas fetais após o período crítico na diferencia-
zóide que possui o cromossomo X ou Y (Zenteno- ção gonadal no feto fêmea. Também têm sido descritos
Ruiz et al., 2001). Na seqüência é determinado o sexo nascimentos de novilhas subférteis, em grupos e sim-
gonadal, no qual o gene SRY (Sex Determining ples, com o trato reprodutivo interno normal, das
Region in chromosome Y), localizado no cromossomo quais algumas eram quimeras XX/XY (Wijeratne et
Y, é responsável pela diferenciação da gônada mas- al., 1977).
culina. Se o indivíduo é do sexo genético XX e não
possui o gene SRY, a gônada se diferencia em ovário.
Já o sexo fenotípico se desenvolve de forma ativa no Fisiologia do freemartinismo
macho, estimulado pela testosterona produzida pelas
gônadas diferenciadas (Nascimento e Santos, 2003). Para que ocorra o freemartismo em bovinos, são
Na ausência dos hormônios masculinos, ou se os teci- indispensáveis algumas condições. Primeiro que haja
dos não respondem a eles, a tendência passiva é de liberação de dois oócitos, sendo um deles fecundado
diferenciação em genitália externa feminina. A dis- por espermatozóide X e o outro fecundado por esper-
posição natural é que qualquer feto desenvolva uma matozóide Y, gerando gêmeos dizigóticos; segundo a
genitália externa e conformação corporal femininas na implantação de heterosexos (XX e XY) no útero; e por
ausência dos efeitos masculinizantes dos andrógenos último que se produza fusão placentária durante a
(Howden, 2004). Grunert et al. (2005) afirmam que a gestação precoce, levando a anastomose de vasos
intersexualidade, no entanto, é considerada uma sanguíneos cório-alantóideos, entre os embriões
alteração no desenvolvimento orgânico do animal, que (Figura 1), culminando com a modificação na
se contrapõe às características determinadas pelo sexo organogênese feminina (Grunert et al., 2005).
genético (cromossômico), levando o mesmo indivíduo Ainda segundo Grunert et al. (2005), a anastomose
a apresentar características marcantes dos dois sexos. dos vasos cório-alantóideos e a fusão da circulação
Por outro lado, outras alterações do desenvolvimento
do aparelho reprodutor ocorrem durante a vida embrio-
nária e podem ser decorrentes de malformações das
estruturas primitivas do aparelho reprodutor, as quais
se desenvolvem ou sofrem regressão.
Segundo Ayala-Valdovinos et al. (2000, 2011), a
síndrome freemartinismo não é herdável, ao contrário
da propensão em gerar gêmeos, cuja incidência varia
entre as raças bovinas (Simental 2,4 a 4,6%, Holstein
Friesian 0,5 a 4,2% e Charolesa 2,5 a 3,2%), sendo a
maioria dos partos gemelares dizigóticos (gêmeos não
idênticos) e somente 2 a 10% monozigóticos (gêmeos
idênticos). Por outro lado, Marcum (1974), avaliando
22949 partos em gado Zebu, encontrou somente 50
(0,22%) nascimentos de gêmeos. Segundo o autor, os Figura 1 - Anastomose vascular placentária de fetos bovinos.
Fonte: Robert A. Foster, Departamento de Patologia, Faculdade de
partos gemelares são menos freqüentes nas raças Veterinária de Ontario, Universidade de Guelph – Apud. Ayala-
zebuínas (B. taurus indicus) que em gado de origem Valdovinos et al. (2011).

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das membranas fetais permitem o intercâmbio de rentes e glândulas vesiculares sob a influência de
várias substâncias, mas principalmente de andrógenos andrógenos testiculares, e nas fêmeas, os ductos de
de origem testicular, de células (hemácias e leucóci- Müller resultam no desenvolvimento do útero, das
tos) e do TDF (fator de diferenciação testicular). Pela tubas uterinas, da cérvix e da vagina anterior (Rey et
passagem de células XX e XY há possibilidade do al., 2003). O MIF produzido pelos testículos do
aparecimento de quimeras cromossômicas (XX/XY) e macho bloqueia o desenvolvimento dos ductos de
pela passagem de substâncias ou hormônios inibidores Müller na fêmea de gêmeos heterossexuais (Cabianca
da evolução e diferenciação dos ductos de Müller et al., 2007), causando anomalias no trato reprodutivo.
(fator inibidor dos ductos de Müller - MIF), produzi- Além disso, as gônadas do indivíduo freemartin
das pelas células de Sertoli, como também pela altamente masculinizado parecem também produzir
passagem do fator de diferenciação testicular (TDF), MIF em alguns casos, mantendo altas concentrações
também inibidor do desenvolvimento diferenciação desse hormônio no plasma sanguíneo (Rota et al.,
dos dutos de Müller (Grunert et al., 2005). 2002). Ainda não está claro quando a produção de
Já a modificação na organogênese do sistema genital MIF pelo freemartin se inicia e qual a concentração
da fêmea, deve-se ao desenvolvimento mais precoce sérica desse hormônio que influencia a organogênese
dos testículos relativamente aos ovários. A testos- do trato reprodutivo durante a vida fetal (Cabianca et
terona produzida pelas células de Leydig, da gônada al., 2007).
do feto macho, sob ação da enzima 5 α-redutase, Na teoria celular, fala-se da anastomose dos vasos
transforma-se em dihidrotestosterona, responsável cório-alantóideos ocorrerem antes da migração dos
pelo desenvolvimento da genitália externa. As outras gonócitos para a crista genital do embrião, havendo a
subs-tâncias já mencionadas (fator inibidor dos ductos possibilidade de eles passarem do macho para a
de Müller e fator de diferenciação testicular) inibirão fêmea. Sendo que a presença de células XY na crista
a evolução dos órgãos originários do paramesonefro genital primitiva do embrião fêmea determinaria o
(ductos de Müller), ovidutos, útero, cérvix e vagina freemartinismo (Ohno et al., 1962).
(Marcum, 1974). Ohno (1962) descreve a teoria do antígeno H-Y
(presente na membrana de espermatozóides porta-
dores de cromossomo Y), baseando-se no fato do
Etiologia desenvolvimento dos órgãos do sistema genital
masculino depender da presença do cromossomo Y
A etiologia do freemartin foi originalmente descrita no blastema gonadal, pois seus genes codificariam o
por Keller e Tandler (1916) e Lillie (1916; 1917) apud antígeno H-Y (Ag H-Y). Segundo o autor, esse
(Grunert et al., 2005). Os nascimentos gemelares são antígeno dissemina-se pela fusão da circulação
naturalmente pouco freqüentes, segundo Grunert e sanguínea, ocupando receptores específicos da mem-
Birgel (1982), sendo resultado de dois mecanismos brana das células XX da gônada feminina, sendo
diferentes: os heterozigóticos oriundos de dois ovócitos responsável pela produção do quimerismo XX/XY.
no mesmo estro e fecundados por dois esperma- Estes aparecem em alto número no sistema hemato-
tozóides diferentes, variando sua freqüência segundo poiético desde os estágios iniciais da vida fetal (Niku
as raças (Menissier e Frebling, 1974); e os monozigó- et al., 2007).
ticos, que são produtos de divisão natural de um As quimeras sanguíneas, como também são chama-
embrião. Na vaca, a gestação gemelar se desenvolve dos os gêmeos bovinos heterossexuais (Niku et al.,
normalmente até o parto, sendo que o índice de nasci- 2007), apresentam duas ou mais populações de células
mento normal pode passar dos 20% (Derivaux e geneticamente distintas derivadas de mais de um zigoto
Ectors, 1984). em um único indivíduo (Hafez e Hafez, 2004).
Várias teorias constituíram a base do conhecimento Segundo Iannuzzi et al. (2005) é importante ressaltar
do freemartinismo. Na teoria hormonal, destacam-se que uma quimera sanguínea é totalmente diferente de
as trocas recíprocas de componentes celulares e uma quimera celular, porque são independentes.
humorais do sangue, pela fusão da circulação Portanto, podem acontecer isoladamente ou não. O
sanguínea, conseqüente à anastomose dos vasos das quimerismo celular ocorre no início da divisão celular,
membranas cório-alantoidianas de fetos heterosse- durante a metáfase. Já o quimerismo sanguíneo ou
xuais. Sugere-se que o MIF, hormônio produzido freemartinismo, o de interesse nesta revisão, ocorre
pelas células de Sertoli, seja o principal responsável entre a segunda e terceira semana de vida embrionária.
pelo freemartinismo, juntamente com a testosterona Já a teoria do TDF, abordada por Grunert et al.
produzida pelas células de Leydig (Brace et al., 2008). (2005), estabeleceu que o gene SRY, presente no
Nos estágios iniciais do desenvolvimento dos cromossomo Y, produz o fator responsável pela dife-
mamíferos, os fetos de ambos os sexos apresentam renciação do blastema gonadal, transformando a
dois pares de ductos: mesonéfricos ou de Wolff e os gônada indiferenciada em testículo. Como o desen-
paramesonéfricos ou de Müller. No macho, os ductos volvimento das gônadas do feto macho é mais precoce
de Wolff se desenvolvem em epidídimo, vasos defe- do que o observado na fêmea, há possibilidade que as

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transferências e as ações do gene SRY e do TDF sejam freemartin, o desenvolvimento de uma formação
responsáveis pela alteração do desenvolvimento do hiperplásica na vagina (Figura 3).
sistema genital do feto feminino, caracterizando a Não se deve esquecer que o macho quimérico prove-
hipoplasia de alguns órgãos e masculinização de niente de parto gemelar heterossexual apresenta
outros. diminuição da fertilidade e uma menor concentração e
motilidade espermáticas, o que tem sido relacionado
com a diminuição da atividade dos túbulos seminífer-
Sinais clínicos do freemartinismo bovino os, causada possivelmente por transmissão da lin-
hagem de células germinativas XX provenientes de
O quadro clínico do freemartismo adulto caracteri- sua irmã gêmea (Rejduch et al., 2000). No entanto,
za-se inicialmente segundo Grunert et al. (2005), por Padula (2005) afirma que o feto macho desenvolve-se
alterações da constituição, que torna-se masculinizada normalmente e sua fertilidade pode não ser afetada.
(maior desenvolvimento das porções craniais do
organismo, como pescoço curto e grosso, cabeça
pesada e tórax mais desenvolvido), semelhante Alterações anátomo-patológicas
àqueles típicos de machos (animal freemartin
montando outras fêmeas), bom estado de carne, com As alterações anátomo-patológicas, macro e micros-
maior massa muscular e acúmulo de gordura. cópicas, caracterizam no freemartismo a masculiniza-
A troca de sangue entre os gêmeos bovinos heteros- ção do aparelho genital, apresentando as seguintes
sexuais resulta em vários níveis de masculinização do características: ovários de tamanho pequeno ou cons-
trato reprodutivo da fêmea (Padula, 2005). Grunert et tituem-se verdadeiros cordões, assemelhando-se aos
al. (2005) apresentam, ainda como sinais clínicos, a túbulos seminíferos e, nos graus extremos de mascu-
vulva pequena com pêlos longos na comissura ventral linização, transformam-se em um resquício de gônada
(Figura 2), possibilidade da formação de pseudo- masculina, com epidídimos e canais deferentes atro-
prepúcio, hipertrofia do clitóris nos casos máximos de fiados. Excepcionalmente, essas gônadas podem ter
masculinização. Também pode ser observado em uma situação extra inguinal e subcutânea, sendo então
a formação de ovariotestis (Grunert et al., 2005). Nos
demais constituintes do aparelho reprodutor pode-se
observar clitóris hipertrofiado, presença de pêlos
longos na vulva, vagina mais curta, em fundo cego,
ausência de cérvix, vestígios de gônadas masculinas e
hipoplasia dos ductos de Müller (Brace et al., 2008).
Já o sistema de condutos de Wolff estimulado, caracte-
riza-se pela presença do epidídimo, plexo pampini-
forme, condutos deferentes, ampolas e glândulas
vesiculares hipoplásicas (Grunert et al., 2005).

Diagnóstico

A detecção precoce de fêmea freemartin é impor-


Figura 2 - Bezerra freemartin com vulva pequena e pêlos longos na
comissura ventral.
tante para o manejo do rebanho, principalmente
quando se trata de animais de produção, onde a alta
incidência de infertilidade acarreta sérios problemas
econômicos. Para Grunert et al. (2005), o diagnóstico
do freemartismo baseia-se na demonstração da
ambivalência sexual e ocorrência do quimerismo
XX/XY. Existem várias técnicas tradicionalmente
empregadas para o diagnóstico de freemartismo, entre
elas citam-se:

Ultrassonografia e sexagem fetal

Nos bovinos, o exame é realizado pelo método


bidimensional de imagem ultrassonográfica em tempo
real (Modo-B), por via retal, utilizando sonda trans-
Figura 3 - Formação hiperplásica na vagina em bezerra freemartin. dutora múltipla, emissora de sinais sonoros de alta

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freqüência ou ultrassom, propagados pelos tecidos.


Estes sinais refletem-se como ecos sendo captados
pelo transdutor e convertidos em imagem em duas
dimensões, exibidas no monitor. A intensidade de
retorno produz vários graus de brilho e variam
conforme a natureza da estrutura tissular gerando as
imagens (Hansen e Delsaux, 1987). Segundo Raja-
mahendran et al. (1994), o transdutor de baixa
freqüência produz grande penetração tecidual com
pouca resolução e o de alta freqüência tem menor
incidência e melhor definição. O exame de órgãos
reprodutivos de bovinos e visualização fetal é normal-
mente realizado com sondas de 5 MHz.
Muller e Wittkowski (1986) foram os primeiros
pesquisadores a visualizarem por ultrassonografia, Figura 4 - Sexagem fetal de um macho bovino através da ultrassono-
características sexuais fetais em bovinos. Basearam-se grafia
no desenvolvimento do escroto no macho e da glân-
dula mamária na fêmea. Estes parâmetros permitiram
a determinação sexual em 94% dos casos examinados,
entre os dias 70 e 120 de gestação.
Segundo Beal et al. (1992), o sexo pode ser
diagnosticado com acurácia aos 60 dias de prenhez.
A evidenciação do macho é mais facilitada pela
presença da bolsa testicular.
O tubérculo genital, em bovinos, é a estrutura
embrionária que dará origem ao pênis no macho e ao
clitóris na fêmea, descrito ultrassonograficamente,
como estrutura dupla de lóbulos ovalados, hiper-
ecogênica, em ambos os sexos (Curran, 1992; Stroud,
1996). A sua localização relativa constitui outro
método para a sexagem fetal, pois, migra da sua
posição inicial, na região inguinal (entre os membros Figura 5 - Sexagem fetal de uma fêmea bovina através da ultrassono-
grafia
pélvicos), para próximo do úraco (ventralmente) no
macho (Figura 4) e para a região do períneo, próximo
a inserção da cauda na fêmea (Figura 5), de acordo para diagnóstico de gestação e sexagem fetal, nos pro-
com Beal et al. (1992) e Curran (1992). gramas de IATF. Na maioria dos casos as gestações
O período ideal para diagnóstico é entre 55 e 60 gemelares são diagnosticadas, e na bovinocultura lei-
(Curran e Ginther, 1991), 59 e 68 (Curran, 1992), 55 teira a sexagem de gêmeos é vantajosa, uma vez que
e 70 para vacas grandes ou idosas e entre 60 e 80 dias permite a interrupção seletiva de gestações não dese-
de gestação para raças pequenas ou vacas novas (Beal jadas, como as que envolvem fetos macho e fêmea,
et al., 1992). O diagnóstico pode ser impreciso ou originando freemartin (Rajamahendran et al., 1994).
impossível de ser realizado antes dos 60 ou após os
100 dias de prenhez (Rajamahendran et al., 1994;
Stroud, 1996). Exame clínico
Segundo Curran (1992), a acurácia é de 100 %
quando se obtém uma boa imagem das estruturas, o Alguns sinais clínicos são característicos dos órgãos
que ocorre em 67 % das sexagens a campo. A deter- genitais de animais freemartin. No entanto, outras
minação do sexo apresenta-se trabalhosa após 70 dias vezes, a aparência dos órgãos genitais externos de
de prenhez em bovinos, pois o feto torna-se grande e uma bezerra recém-nascida é normal. Assim, a anam-
o corno grávido poderá projetar-se precocemente para nese somada ao exame físico no recém-nascido e
a cavidade abdominal, principalmente em raças de novilhas, permite identificar o animal portador de
grande porte e vacas idosas, dificultando o posiciona- freemartismo.
mento do transdutor. A identificação fica prejudicada O exame físico dos recém-nascidos e animais
sem a retração do útero, que somado a manipulação jovens, nos quais não há possibilidade de realizar a
com a sonda poderia comprometer a gestação (Beal et palpação retal, faz-se mediante a introdução de um
al., 1992). tubo de ensaio (150x10 mm) no vestíbulo vaginal. A
No exame clínico reprodutivo a ultra-sonografia vagina de uma bezerra sadia, permite uma penetração
tem sido largamente usada comercialmente no Brasil, com uma variação de 12 a 14 cm (Figura 6) e, no

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freemartin, consegue-se introduzir apenas 4 a 5 cm do eritrócitos procedentes de dois tipos de células precur-
tubo (Figura 7). soras, cada uma com diferentes antígenos de superfí-
Na inspeção por vaginoscopia nos animais inter- cie. Este intercâmbio sanguíneo durante o desenvolvi-
sexuados, evidencia-se o fundo cego cranial da vagina mento embrionário precoce gera tolerância imunoló-
e a ausência do óstio vaginal do cérvix. Na palpação gica (James e Dove, 1996). Entretanto, não há produção
em freemartin adulto, permite-se a detecção de gôna- de anticorpos contra as células do irmão gêmeo, seus
da indiferenciada e de tamanho reduzido, a ausência antígenos de superfície podem ser detectados por
das trompas uterinas, agenesia ou hipoplasia do corpo provas hemolíticas utilizando marcadores de grupos
e cornos uterinos, percepção de segmentos tubulares sanguíneos específicos. Estas provas, porém, só
(condutos de Müller e de Wolff) e glândulas vesicu- podem ser realizadas depois que os portadores atin-
lares rudimentares (Grunert et al., 2005). Além disso, girem um mês de idade, pois a maturação antigênica
o animal adulto apresenta inicialmente um histórico de glóbulos vermelhos até este momento pode não
de falha reprodutiva, com ausência de comportamento estar completa (Long, 1979).
estral ou falha na concepção na presença do macho
(Padula, 2005). Peretti et al. (2008) afirmam que em Análises citogenética, molecular e de FISH
mais de 80% dos casos, os animais normais e (fluorescente in situ hibridização)
freemartin podem ser diferenciados com base nos
achados de um exame clínico mediante palpação retal. Segundo Padula (2005) e Brace et al. (2008), o
diagnóstico citogenético para o freemartinismo
normalmente é realizado por meio da cariotipagem de
Prova de tolerância a homo-enxerto linfócitos periféricos e outros tecidos ou por estudos
de PCR (reação em cadeia da polimerase). A alteração
Quando existe anastomose vascular entre os gêmeos é identificada pela presença de ambos os pares de cro-
em uma gestação heterossexual, estes tendem a trocar mossomos sexuais "XX/XY" (Camargo e Robayo,
células sanguíneas (quimerismo hematopoiético). 2005). A avaliação citogenética pela cariotipagem dos
Neste caso de parto gemelar entre macho e fêmea nos linfócitos permite a detecção de quimerismo XX/XY,
bovinos, este quimerismo permite o diagnóstico do com 93% de segurança no diagnóstico do freemar-
freemartismo da fêmea, já que ambos apresentam os tismo dos bovinos (Grunert et al., 2005).
mesmos antígenos de superfície, e portanto, serão A PCR é indubitavelmente a técnica mais sensível
altamente tolerantes ao transplante de pele dos co- para a detecção de quimerismo, quando comparada à
gêmeos. Entretanto, a prova de tolerância a homo-en- cariotipagem (Padula, 2005), pois permite que a
xerto é complicada, pois nem sempre o gêmeo do sexo seqüência específica do cromossomo Y seja detectada
masculino esta disponível para a prova de laboratório de forma rápida e fácil (Satoh et al., 1997).
(Ayala-Valdovinos et al, 2000). Existem outras técnicas que são utilizadas para
diagnóstico do freemartinismo, como FISH, análise de
grupo sanguíneo, além de técnicas mais simples, que
Prova sorológica podem ser realizadas a campo, como tratamentos com
gonadotrofinas e outros hormônios (Padula, 2005). A
Este método de diagnóstico, apesar de pouco importância da realização dessas análises citogenéti-
utilizado, é possível devido à anastomose vascular cas está no fato de que só assim é possível fazer o
ocorrida entre os gêmeos, havendo populações de diagnóstico diferencial para outras intersexualidades

Figura 6 - Teste do tubo de ensaio em bezerra sadia com vagina de 12 a Figura 7 - Teste do tubo de ensaio em bezerra freemartin com vagina de
14 cm 4 a 5 cm

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que apresentam as mesmas características clínicas, Freemartinismo citado na literatura


como, por exemplo, o intersexo diplóide/triplóide
"XX/XXY" (Meinecke et al., 2007). O diagnóstico Em trabalho avaliando 134 búfalos de rio (13 touros
precoce desta alteração evita que animais sejam criados jovens, 119 fêmeas de com problemas reprodutivos e
até a puberdade para que, apenas neste momento, seja dois machos gêmeos), através de exames clínicos e
percebida a esterilidade (Kanagawa e Basrur, 1968). citogenéticos, Di Meo et al. (2008) observaram que as
fêmeas apresentavam conformação do corpo e geni-
Diagnóstico diferencial tália externa normais, porém algumas com sérios
problemas nos órgãos sexuais internos. Sendo que das
Grunert et al. (2005) referem que em algumas fêmeas e os dois machos gêmeos (121 animais), com
situações é necessário fazer o diagnóstico diferencial problemas reprodutivos, 25 (20,7%) animais apresen-
entre freemartinismo e hipoplasia grave ou aplasia dos taram cromossomos sexuais anormais e todas as
ductos paramesonéfricos, pois, no freemartin, obser- fêmeas eram estéreis devido a problemas nos ductos
va-se a constante presença das glândulas vesiculares, sexuais internos.
o que não ocorre nos casos de aplasia ou hipoplasia. Ayala-Valdovinos et al. (2007) ao estudarem 20
Ainda segundo o autor, a diferenciação será perfeita fêmeas bovinas da espécie B. taurus taurus proce-
quando se associa o exame clínico à determinação do dentes de partos múltiplos heterossexuais, identi-
cariótipo do animal ou quando é realizada a avaliação ficaram 19 (95%) de bovinos freemartin através da
do DNA genômico dos cromossomos sexuais. análise citogenética e molecular (PCR), ressaltando a
alta freqüência desta síndrome reportada na literatura.
Dos animais estudados 15 bezerras não mostraram
Prognóstico anormalidades externas aparentes da diferenciação
sexual. Porém, três novilhas apresentaram característi-
O prognóstico em relação à vida do freemartin é cas freemartin, como vagina curta cranialmente, cega
bom, pois os animais se desenvolvem, adequada- com ausência de cérvix, uma com vulva com clitóris
mente, e podem ser utilizados quando for conveniente hipertrofiado e uma com tufo de pêlos na comissura
para produção de carne de vitela ou submetido a vulvar inferior. Após sacrifício destes animais obser-
sistema de engorda (Grunert et al., 2005). No tocante vou-se trato reprodutor hipoplásico sem gônadas
a função reprodutiva, o prognóstico é mau, pois esses diferenciadas. Um animal produto do cruzamento
animais são estéreis (Jainudeen e Hafez, 2004; entre Holandês x Simental, mantido até os 18 meses
Iannuzzi et al., 2005; Di Meo et al., 2008). de idade, apresentou anormalidades de diferenciação
Na literatura existem poucos relatos de vacas férteis sexual como prepúcio não bem diferenciado com
cogemelares com um macho e com quimerismo de orifício externo funcional, uma estrutura peniana de
cromossomos sexuais (Eldridge e Blazak, 1977; Smith implantação posterior e ventral ao ânus, e duas estru-
et al., 1977). Segundo Smith et al. (1977) há possibili- turas cutâneas representando bolsas escrotais não bem
dade de que a anastomose vascular e a conseqüente diferenciadas. Após os dezoito meses, ao ser sacrifi-
passagem de células sanguíneas, entre os gêmeos cado, observou-se na análise anatomopatológica deste
heterossexuais bovinos, culminem com um quimeris- animal testículos hipoplásicos intra-abdominais com
mo hematopoiético, mas não resulte invariavelmente epidídimo e condutos deferentes, glândulas vesicu-
em esterilidade da bezerra, já que a futura gônada lares próstata e um pênis hipoplásico.
feminina pode ser sensível ao efeito de virilização por Ao estudarem bovinos que apresentaram quimeris-
um curto período durante a gestação, sendo que em mo sanguíneo, Niku et al. (2007) concluíram que por
alguns casos a anastomose das membranas fetais haver a mistura de sangue entre os fetos por volta dos
poderia ocorrer depois da migração das células germi- 30-35 dias de gestação, a composição do sangue de
nais e provavelmente depois do período crítico de ambos os gêmeos, macho e fêmea, seria a mesma. Ao
diferenciação do ovário fetal. aplicarem o método do Y-ISH (Y-chromosome-specific
No tocante ao valor pecuniário, Grunert et al. (2005) in situ hybridization), técnica extremamente específi-
ressaltam que os freemartins são animais extremamente ca e sensível para detecção do cromossomo Y, em
desvalorizados comercialmente, sendo que na venda fêmeas freemartin, o resultado foi positivo quando
não retornariam ao criador, nem o valor do peso do ani- utilizada amostra de sangue e negativo quando usado
mal em carne e, assim, o prognóstico é ruim. qualquer outro tipo de tecido para extração de ADN,
ou seja, presença e ausência do cromossomo Y,
respectivamente. Portanto, o sistema hematopoiético
Tratamento freemartin é fortemente quimérico já a partir de fases
iniciais do desenvolvimento fetal, antes mesmo do
Não existe qualquer possibilidade de tratamento início da anastomose vascular funcional. Desta forma,
curativo, sendo recomendável que os animais sejam em casos de quimerismo sanguíneo em animais,
eliminados (Basrur e Basrur, 2004; Grunert et al., 2005). somente as fêmeas apresentam dois perfis genéticos.

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Uma pesquisa realizada por Iannuzzi et al. (2005) fazendas que fazem o uso da aplicação de eCG
envolvendo 42 búfalos (40 fêmeas e dois machos (gonadotrofina coriônica eqüína) ou FSH (hormônio
gêmeos de fêmeas) de rio fenotipicamente com folículo estimulante) nos protocolos de IATF
problemas reprodutivos, encontrou-se 10 animais (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) para incre-
freemartin (oito fêmeas e dois machos). Os dois mentar os resultados da técnica. E mesmo havendo
machos apresentaram conformação de corpo e pênis relato na literatura de animais provenientes de parto
normais, mas um deles desenvolveu significante gemelar dizigótico, sem comprometimento no desen-
redução de um dos testículos. Entre as oito fêmeas, volvimento, a maioria dos trabalhos atesta a infertili-
seis apresentaram a formação do corpo, vagina e dade, sendo indicada a eliminação dos mesmos da
clitóris normais e as outras duas mostraram o trato reprodução. Neste contexto, o diagnóstico precoce de
genital de conformação de macho (pélvis fechada), gestações gemelares heterossexuais, através da ultras-
apresentando fenótipo de macho. Outras observações sonografia, torna-se importante na pecuária leiteira,
clínicas foram: ovários pequenos ou não detectáveis, para evitar a criação animais inférteis, e conseqüente-
atrofia dos ductos de Müller e dos canais internos da mente economizando alimento, mão-de-obra e
vagina e vagina fechada com ausência dos canais maximização do espaço físico da propriedade pelo
internos. Os autores concluíram que todas as fêmeas descarte de animais freemartins.
freemartin eram estéreis e que, ao serem descartadas,
obteriam economia de tempo e dinheiro nas
propriedades.
Rejduch et al. (2000) trabalhando com touros, Bibliografia
encontraram dois animais nascidos de gestações Ayala-Valdovinos MA, Villagómes DAF e Schwelminski S
gemelares que apresentaram espermatogônias, indi- (2000). Estudio citogenético y anatomopatológico del
cando a presença de quimerismo XY/XX. Sendo que síndrome freemartin en bovinos (Bos taurus), Veterinária
a freqüência de espermatogônias XX nos testículos México, 31, 315-322.
dos touros avaliados não mostrou correlação com o Ayala-Valdovinos MA, Miguel A, Villagómez DAF,
número de células XX no sangue. O volume do Galindo-García J, Sánchez-Chiprés DR, Avila-Figueroa
ejaculado não foi afetado, enquanto a concentração e D, Taylor-Preciado JJ, Merlos-Barajas M e Guerrero-
motilidade espermáticas foram menores, quando com- Quiroz L (2007). Estudio anatomopatológico, citogenéti-
co y molecular del síndrome freemartin en el bovino
parados a touros com cariótipo normal. Com esta
doméstico (Bos taurus), REDVET. Revista electronica de
evidência é sugerido que as células XX nos testículos Veterinária, Volumen VIII Número 9. http://www.veteri
foram células germinativas primordiais da fêmea naria.org/revistas/redvet/n090907.html, VIII, 9,
(Ohno, 1969). Esta condição, em alguns casos, está Septiembre.
associada com mudanças na morfologia, motilidade e Ayala-Valdovinos MA, Miguel A, Villagómez DAF,
viabilidade dos espermatozóides e com defeitos no Galindo-García J e Sánchez-Chiprés DR (2011).
acrossoma ou, às vezes, com aspermia (Vieira et al., Esterilidad de las Terneras Nacidas de Parto Gemelar con
2011). un Ternero (Síndrome Freemartin), ABS México, S. A. de
Duas hipóteses foram propostas para tentar explicar C. V. Artículos Técnicos, 1-3, internet: www.absmexico.
o que pode acontecer quando ocorre o intercâmbio de com.mx.
células primordiais entre gêmeos. A primeira delas Basrur PK e Basrur VR (2004). Genes in genital malforma-
tions and male reproductive health, Animal Reproducion,
refere que as células germinais XX nos testículos dos
1, 64-85.
touros podem levar ao excesso de produção de esper- Basrur PK, Kanagawa H e Podliachouk L (1970). Further
matozóide X e, por conseguinte à elevação do número studies on the cell populations of an intersex horse.
de filhas nascidas. A segunda hipótese seria que as Canadian Journal of Comparative Medicine, 34, 294-298.
células germinais XX no testículo do touro gêmeo não Beal WE, Perry RC e Corah LR (1992). The use of ultra-
poderiam ser viáveis, e a sua degeneração levaria à sound in monitoring reproductive physiology of beef
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Ainda existe uma grande incidência de partos geme-
Expression of AMH in female fetal intersex gonads in the
lares dizigóticos, originando freemartinismo nos bovine. Anatomia Histologia Embryologia, 36, 24-26.
rebanhos leiteiros, que na grande maioria das vezes Camargo ESC e Robayo LMJ (2005). Efecto de las anoma-
não são catalogados. Somados à falta de conhecimen- lías cromosómicas sobra la fertilidad em bovinos. Revista
to de muitos pecuaristas, e ao maior desenvolvimento Orinoquia, 9, 56-63.
em relação às demais fêmeas do rebanho, as fêmeas Campbell M (2004). A case of male pseudohermaphroditism
freemartin comumente são mantidas nas propriedades. in a horse. Senior seminar paper. Cornell University
O problema tem aumentado principalmente em College of Veterinary Medicine, Ithaca.

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