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ISSN 1982-3541

Campinas-SP
2009, Vol. XI, nº 1, 43-60

Comunicação versus resolução de problemas


numa sessão única de terapia
comportamental de casal

Communication versus problem


solving in a single session of behavioral couple therapy

Lucilene Prado Silva1


Luc Vandenberghe 2
Universidade Católica de Goiás

Resumo

Este estudo explora a utilidade de duas intervenções alternativas numa sessão única de casal. Cada
intervenção foi aplicada a três casais. Uma intervenção constituiu na conscientização dos padrões
de comunicação. A outra foi a apresentação de um modelo de resolução de problemas. Antes e
depois da intervenção, conversações sobre o problema do casal foram gravadas. Depois da
intervenção de conscientização houve um aumento de questionamentos claros, de críticas e de
contestações das propostas do outro. Depois da introdução do roteiro de resolução de problemas
houve mais propostas de soluções, mais interrupções, mais críticas e, para dois dos três
casais, diminuição de contestações. Concluímos que as duas intervenções têm efeitos sobre o estilo
de conversação. Porém, uma leitura detalhada dos resultados sugera que a primeira sessão de
terapia de casal preferencialmente deveria promover a consciência plena dos padrões prejudiciais
de comunicação, ao invés de propor estratégias para resolver os problemas.
Palavras chave: Comunicação, Resolução de problemas, Terapia comportamental de casal.

Abstract

The present study explores the usefulness of two alternative interventions in a single session of
behavioral couple therapy. Each intervention was applied to three couples. One intervention
consisted of increasing the participants’ awareness of their communication patterns. In the other, a
problem-solving model was taught. On separate days, both before and after the intervention,
conversations were recorded between the couple, about their target problem. After the awareness
intervention, there was an increase in clear questioning, in criticism, and in rejection of proposals
made by the other partner. After the problem-solving training, we observed an increase in the
number of proposals, interruptions and criticisms of the partner, as well as, for two couples, a
decrease in the rejection of the partner’s proposals. It may be concluded that both interventions
affect conversational style. However, a closer analysis of the results suggested that the initial
session of couple therapy should preferably promote a full awareness about detrimental patterns of
communication, instead of teaching problem-solving strategies.
Keywords: Communication, Problem-solving, Behavioral couple therapy.

1
Mestra em Psicologia; Consultório Particular, Palmas, TO. E-mail: <lucilenep@hotmail.com>.
2
Doutor em Psicologia; Consultório Particular, Goiânia, GO. Universidade Católica de Goiás. E-mail: <luc.m.vandenberghe@gmail.com>.

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2009, Vol. XI, nº 1, 43-60
Lucilene Prado Silva - Luc Vandenberghe

O que a terapia comportamental A terapia comportamental


tem a oferecer ao casal que procura ajuda tradicional de casal surgiu na tentativa de
para seu relacionamento perturbado? aplicar a análise comportamental em
Tentar resolver o conteúdo dos intervenções com casais. Teve
problemas relatado pelo casal é uma via inicialmente como base as técnicas de
de ação intuitivamente óbvia, mas muitas troca comportamental, usadas para
vezes improdutivo. Problemas são aumentar a freqüência de trocas positivas
inerentes à vida conjugal. O casal que entre o casal, providenciando alívio no
teve seu problema solucionado pelo sofrimento causado por um problema
terapeuta logo se defrontará com um específico. Todavia, trocas positivas
novo. Segundo Gottman, Notarius, Gonso podem produzir mudanças rápidas, mas
e Markman (1976) um casal com um passageiras, enquanto mudanças
transtorno de relacionamento pode duradouras são produzidas por dois
ter precisamente os mesmos outros grupos de técnicas comuns na
conjuntos de problemas que um casal terapia comportamental de casal, sendo
funcional. Não é o fato de ter estes o treino de comunicação e o de
problemas, mas a incapacidade de solução de problemas (Berns, Jacobson &
lidar com eles que é característico de Christensen, 2000; Fowers, 2001;
casais perturbados. Tentando resolver Schmaling et al, 1997; Jacobson &
seus conflitos, acabam por agravá-los Christensen, 1996; Shoham, Rohrbaugh &
ainda mais, ou desencadeiam novos Patterson, 1995; Rose, 1977; Gottman,
problemas (Schmaling, Fruzzetti & Notarius, Gonso & Markman, 1976).
Jacobson, 1997).
No treino de solução de problemas,
o casal define uma questão conflitual,
No atendimento a casais, não é
negocia um contrato ou pacto para
raro ver como um tenta convencer o
mudança (i. e., uma regra) que
outro. Sobram acusações ao companheiro
implementa no seu cotidiano. O terapeuta
e a quem mais, de alguma forma,
reforça a complacência com a regra, mas
(familiares, amigos, etc.) estiver do
espera que na sua ausência reforços
mesmo lado que ele. O aumento nas
naturais mantenham o comportamento.
trocas aversivas leva a uma redução
No treino de comunicação, o objetivo é
concomitante na habilidade dos parceiros
treinar sistematicamente habilidades de
para influenciar o comportamento um do
comunicação no casal, que podem ser
outro por dois motivos. Logo os parceiros
usadas para interações mais proveitosas
se esquivam dessa interação incômoda e
no cotidiano (Christensen et al, 1995).
dessa forma deixam de enfrentar o
problema. Além disso, Patterson e Hops O trabalho com a comunicação
(1972) observam que as exigências conjugal não é simples, já que a
coercitivas para mudar o comportamento conversação entre os parceiros possui
do parceiro são mais aptas a produzir características e componentes bastante
conflitos do que os problemas que diferentes da entre pessoas estranhas.
tentavam resolver. Pesquisas apontam que, durante uma

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conversação entre cônjuges, um dos assim, já na primeira sessão, o terapeuta


parceiros interrompe mais o outro; puxa precisa demonstrar ativamente um
o parceiro pra baixo; fere mais os repertório maior de habilidades para esta
sentimentos um do outro e são mais clientela (Odell & Quinn, 1998).
rudes entre si, o que não ocorre entre
A análise das contingências que
pessoas estranhas (Gottman, et al, 1976).
ocorrem durante a comunicação em
Ineficiências típicas da comunicação
situação natural é uma opção viável neste
conjugal incluem: discutir um assunto e
sentido. Ela permite a identificação de
desviar para outro, adivinhar a intenção
padrões de comportamentos que podem
da declaração do parceiro, por achar que
ser topograficamente diferentes, mas que
o conhece muito bem; embutir uma
apresentam função semelhante. Para
queixa em cada resposta dada ao parceiro
Cordova e Jacobson (1999), a
e reproduzir a mesma discussão,
identificação desses padrões pode levar o
repetidamente, sem progresso ou solução
casal a ver as seqüências de eventos como
(Carey, Wincze & Meisler, 1999).
representativas de temas comuns. O casal
é, então, provido de uma perspectiva para
A primeira sessão abandonar o que pode ser uma luta
invencível para mudar o seu parceiro. A
Pesquisas demonstram que muitos definição de tal tema pode, também,
clientes que buscam ajuda terapêutica só tornar mais fácil falar sobre essas
assistem a uma única sessão, não interações problemáticas, sem se culpar
importando a orientação do terapeuta ou reciprocamente ou sentir-se vitimizado.
sua abordagem. Os terapeutas podem Pode ajudar o casal a solidarizar-se
transformar este único encontro em uma mutuamente a respeito do problema em
experiência terapêutica positiva, usando comum. Assim, a implementação
uma única sessão para instigar mudanças imediata de uma análise funcional que já
significativas na vida do cliente (Talmon, traga algum resultado pode incitar
1990). Porém, na terapia de casal há mudanças significativas na vida do casal
outros motivos para cuidar bem do ou motivá-lo a prosseguir com o
primeiro encontro. tratamento.
Em geral, o cliente individual pode A presente pesquisa foi conduzida
requerer menos de terapeutas incipientes com o objetivo de explorar os efeitos de
para se engajar no tratamento e tem duas intervenções em sessões únicas de
menos probabilidade de tomar decisões casal, uma com enfoque na comunicação
rápidas; relacionadas a sua participação e a outra na solução de problemas. Neste
na terapia, embasando-se nos objetivo geral encaixaram-se os seguintes
sentimentos que teve da sessão inicial. objetivos específicos: (1) Verificar o efeito
Em contraste, o cliente casal pode da conscientização do próprio
requerer uma terapia mais ativa e comportamento verbal (intervenção com
responsiva de forma que se torne enfoque na comunicação) sobre a
rapidamente confiante em que a terapia freqüência de categorias de interação
valerá o seu tempo e sua energia, sendo verbal numa discussão de um problema
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pelo casal. (2) Verificar a influência da dois lugares, numa área de 25m². Cada
apresentação de um roteiro de solução de casal participou de três encontros, com
problemas sobre a freqüência de intervalos semanais. Os dois grupos
categorias de interação verbal numa foram submetidos aos mesmos
discussão de um problema pelo casal. (3) procedimentos de linha de base (primeiro
Verificar a influência desses dois tipos de encontro) e de pós-intervenção (terceiro
intervenções sobre o tempo relativo gasto encontro), sendo a sessão com a
pelos parceiros com as diferentes intervenção (segundo encontro) o
categorias durante a discussão de um procedimento diferencial realizado entre
problema pelo casal. (4) Explorar os grupos (vide Tabela 1).
relações seqüenciais das categorias,
verificando o efeito das intervenções
Tabela 1. Delineamento da pesquisa.
sobre as seqüências entre as categorias.
Linha de base Todos Discussão de problema pelo
casal
Intervenção Grupo A Feedback sobre o processo de
Método comunicação.

Participantes Intervenção Grupo B Feedback sobre estratégias de


solução de problemas.
Participaram do estudo, seis Pós-intervenção Todos Discussão de problema pelo
casal
casais, divididos em dois grupos. Três no
grupo de enfoque na comunicação (grupo
A) e três no de solução de problemas Sessão de Linha de Base
(grupo B). Os participantes de cada grupo
foram identificados pelos números de 1 a A cada casal foi solicitado que
3, sendo os do grupo de enfoque na listasse, de forma sucinta, os problemas
comunicação diferenciados pela letra A e atuais geradores de conflitos. Em seguida,
os de solução de problemas pela B. Como o casal escolheu, dentre tais problemas, o
critério de seleção, o casal devia ter pelo mais importante sobre o qual estava
menos um ano de relacionamento íntimo disposto a discutir naquele momento.
e não estar em psicoterapia. Feito isso, a pesquisadora colocou o
problema em forma de tema e deu a
seguinte instrução: “A tarefa de vocês
Material e Procedimento
agora é conversar sobre... (a pesquisadora
Foram usados os seguintes repetia o tema escolhido) por 50 minutos.
materiais: câmera filmadora, fitas e Vocês não têm a obrigação de resolver o
questionário, elaborado pela problema, mas apenas de caminharem
pesquisadora, contendo quatro perguntas um pouco mais em relação ao que já foi
abertas, que investigou a contribuição da conseguido até agora. A filmadora ficará
pesquisa para o relacionamento do casal. ligada, e no final dos 50 minutos, eu
A coleta de dados foi realizada pela baterei na porta”. A pesquisadora saiu da
pesquisadora em seu consultório sala, deixando a câmera ligada e
particular, contendo uma mesa com três retornando no final do tempo estipulado.
cadeiras, duas poltronas e um sofá de O diálogo do casal foi transcrito, e a partir

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daí, feita a categorização indutiva das de idéias de soluções alternativas; (3)


estratégias de comunicação e de solução Avaliação das alternativas; (4) Escolha da
de problemas (vide tabel 2), a qual seguiu melhor solução; (5) Plano de
as diretrizes da grounded theory na implementação; (6) Análise de resultado.
versão contextualista elaborada por
A pesquisadora explicou cada
Charmaz (2003).
passo, comentando como a aplicação
desta técnica torna o casal mais
Sessão de Intervenção preparado para resolver seus problemas e
nos 15 minutos finais, a pesquisadora
Grupo A
mostrou ao casal trechos previamente
A pesquisadora iniciou explicando selecionados de seu diálogo para
ao casal que o seu dialogo da primeira comparar o modo como tentaram resolver
sessão foi analisado por um critério o problema com o modelo proposto.
pragmático. Ou seja, se as estratégias de
comunicação utilizadas por eles estavam
ajudando-os ou não a alcançarem seus Sessão de Pós-intervenção
objetivos (no caso, tentar resolver um O procedimento de linha de base
problema). Em seguida, a pesquisadora foi repetido, sendo o casal livre para
apresentou quais categorias emergentes continuar discutindo sobre o problema
do processo de comunicação ocorreram escolhido no primeiro diálogo ou mudar.
com maior e menor freqüência, e como o Ao final dos 50 minutos, a pesquisadora
companheiro respondeu a esses entregou um questionário com quatro
comportamentos. Nos 15 minutos finais, perguntas abertas. As três primeiras
a pesquisadora mostrou extratos do investigaram em que as sessões haviam
vídeo, do diálogo do casal, para ilustrar a ajudado, sendo a primeira pergunta
análise. As partes escolhidas foram as que referente à primeira sessão e assim
melhor representavam as categorias sucessivamente. E a quarta, em que o
discutidas. conjunto das sessões havia ajudado. A
gravação do último diálogo foi transcrita e
Grupo B categorizada.

A intervenção consistiu da
apresentação de estratégias de solução de Análise dos dados
problemas baseadas no modelo de Os diálogos foram transcritos e
Falloon, Mueser, Gingering, Rappaport, analisados de maneira indutiva. O
McGill e Hole (1988). Diferente do método da grouded theory foi escolhido
procedimento adotado com o grupo A, a para analisar o diálogo e avaliar o
intervenção não focou o processo de resultado da intervenção. Neste método
comunicação e sim as habilidades de as categorias emergem dos dados de
solução de problemas. O casal recebeu forma livre e analítico, ao contrário dos
uma folha contendo os seguintes passos sistemas fechados de codificação. A
da estratégia de solução de problemas: (1) escolha de um método de categorização
Definição do problema; (2) Tempestade aberta deu-se com o intuito de averiguar o

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efeito das intervenções na interação do focalizando ainda mais o fenômeno a


casal com uma ênfase no que há de ser estudado. Diferente do que ocorre
idiossincrático em cada casal. nos procedimentos da grounded
O diálogo foi decomposto em theory, uma vez as categorias
partes, denominadas de vez da fala, construídas, fez-se uma contagem da
correspondendo ao trecho em que um dos freqüência de cada categoria durante
cônjuges exercia o papel de falante. A os primeiros e terceiros encontros,
unidade mínima para a análise como também uma medição do tempo
funcional das interações entre os que os parceiros dedicaram a cada
parceiros foi o episódio verbal como categoria. Esta quantificação tinha o
definido por Skinner (1957), em que intuito de possibilitar uma
a fala precedente se constitui em comparação entre o processo de
estímulo discriminativo para o conversação antes e depois da
comportamento verbal do falante, o intervenção.
qual será conseqüenciado pelo
ouvinte. Cada vez da fala recebeu um Resultados e discussão
código que não era extraído de um Categorias
sistema de análise preexistente,
Os comportamentos observados no
mas baseado na interpretação que
grupo A e B foram analisados e
a pesquisadora fez das relações com
categorizados, usando-se o mesmo proce-
os episódios no qual a vez de fala
dimento, levando-se em conta tanto o
estava inserida. Os códigos surgiram a
aspecto estrutural quanto funcional do
partir das seguintes questões: “o que
comportamento verbal. Ao todo, vinte
ele (falante) está fazendo?”; “o que
categorias emergiram da análise dos
acontece quando ele emite tais
diálogos ocorridos durante as sessões de
comportamentos?”, e “ao que ele está
Linha de base e de Pós-intervenção.
reagindo?” As respostas a estas
perguntas foram comparadas, entre
si, por similaridades ou diferenças Mudanças depois das intervenções
topográficas e funcionais no processo
As mudanças ocorridas no processo
da construção dos códigos. As ações
de comunicação estão expostas nas
não-verbais (bocejo, expressões
tabelas 3 e 4. A tabela 3 mostra o aumento
faciais, choro, posição corporal) e a
(+) ou a redução (-) na freqüência e no
tonicidade da voz foram consideradas
tempo de cada categoria após a
como complementos importantes à
intervenção e a tabela 4 registra a
compreensão das vezes da fala e não
freqüência cumulativa das seqüências de
isoladamente interpretadas ou
categorias nos dois diálogos e seu
categorizadas.
aumento (+) ou redução (-) após a
Após a codificação inicial, os intervenção. Uma seqüência consiste de
códigos semelhantes foram agru- uma vez da fala de um parceiro, e a vez
pados, formando as categorias. Esta da fala do outro que a segue
categorização permitiu reduzir o imediatamente.

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Tabela 2. Categorias formuladas a partir dos dados, suas topografias e funções.

Categorias Topografia Função


Entrar no eixo Falar sobre o tema escolhido. Manter-se na discussão do problema e resolvê-lo.
Sair do eixo Falar sobre outros problemas que não o Fugir de conflitos e brigas, não resolvendo o problema.
escolhido.
Entrar sem abertura Criticar o companheiro Punir ou contra-controlar, arriscando punição.
Entrar com abertura Criticar o companheiro, depois de ele ter se Expor opinião, com menos chance de punição.
autocriticado.
Vender teoria Explicar o que causou ou mantém o Evocar apoio, manter-se na discussão.
problema, ou o que pode acontecer se o
problema persistir.
Apontar solução Sugerir alternativas para solucionar o Eliminar o evento aversivo, resolvendo o problema.
problema.
Suavizar Descontrair, fazendo brincadeiras. Fugir/esquivar-se da discussão do problema.
Contestar Discordar do companheiro. Punir ou contracontrolar.
Vulnerabilizar-se Expor o próprio sofrimento. Evocar apoio, evitar ou arriscar punição.
Responsabilizar o outro Culpar o companheiro pelo problema. Punir ou contracontrolar.
Perguntar abertamente Questionamento claro e objetivo. Fazer o companheiro se aprofundar no assunto.
Colocar-se por cima Ressaltar em si, qualidades que o parceiro Empatar, evitar punição ou punir.
não tem.
Colocar-se por baixo Admitir falhas próprias ou que o Evitar punição, fugir ou evocar apoio.
companheiro tem qualidades que o falante
não tem.
Justificar-se Tentar convencer o outro de que está certo. Evitar ou fugir de punição, evocar apoio ou manter-se
na discussão.
Recuar Voltar atrás quanto à crítica feita a si mesmo, Fugir da punição.
após o companheiro criticá-lo.
Leitura mental Adivinhar o significado da declaração do Esquivar-se de uma possível crítica ou punir.
parceiro, por achar que o conhece muito
bem.
Retirar-se Fingir concordar com o que o parceiro diz, Fugir/esquivar-se da discussão ou punir o
não olhá-lo quando ele estiver falando ou companheiro.
não responder a pergunta.
Interromper Cortar a fala do companheiro. Tomar o controle da fala.
Aprovar Concordar com o parceiro ou confortá-lo. Resolver o problema ou evitar punição.
Armar Fazer perguntas diretivas, já supondo as Levar o companheiro a se contradizer.
respostas.

Casal 1A. Após a intervenção houve: diálogo mais focado no problema, com
menos fuga/esquiva do assunto, e falas
(1) Aumento do foco no tema e
mais longas, comparando-se ao primeiro
diminuição de suavizar.
encontro.
No primeiro diálogo suavizar A seqüência entrar no eixo - entrar
apresentou alto índice de ocorrência e no eixo quase quintuplicou após a
entrar no eixo baixa freqüência. Já após a intervenção (vide tabela 4), das 23
intervenção entrar no eixo aumentou e ocorrências desta sequência, 19 se deram
suavizar reduziu, caracterizando um no diálogo pós intervenção; sinalizando

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que falar sobre o problema escolhido se Com o aumento de entrar no eixo e


tornou uma estratégia eficiente em vender teoria (ambas com função de
manter o parceiro focado na discussão do manter-se na discussão do problema) o
mesmo. casal aprofundou mais no assunto e
perguntar abertamente aumentou.
No primeiro diálogo, as Quando um parceiro focava o problema
brincadeiras geraram mais brincadeiras, (função de manter-se na discussão) o
mas após a intervenção, essa seqüência cônjuge respondia com questionamento
suavizar - suavizar reduziu signifi- claro e objetivo (ajudando o companheiro
cativamente (vide tabela 4), possi- se aprofundar no assunto).
bilitando o enfrentamento do problema. Vulnerabilizar-se se seguiu também mais
A seqüência vender teoria - suavizar vezes a entrar no eixo após a intervenção.
também diminuiu, enquanto vender Parecia que o enfrentamento do tema fez
teoria - aprovar aumentou. Quando um como que o cônjuge expusesse mais o
dos cônjuges explicava seu enten- sofrimento, buscando apoio ou tentando
dimento do problema, o outro não mais evitar punição.
respondia com brincadeiras (função de
Percebemos uma mudança
fuga/esquiva), e sim valorizava a
fala (função de resolver o problema ou significativa no processo de comunicação.
Os dados do questionário apoiam esta
evitar punição).
suposição. Para a esposa, o conjunto das
sessões a ajudou a perceber que fugir dos
(2) Aumento de críticas e
problemas é pior. O primeiro diálogo a
enfrentamento ativo.
ajudou a perceber como estavam sendo
Entrar sem abertura aumentou formais e superficiais um com o outro.
em freqüência como também a seqüência A intervenção a ajudou a refletir sobre
entrar sem abertura - justificar-se, ou suas ações e o último diálogo a focar mais
seja, com o aumento das críticas (que teve no assunto até solucionar o problema.
função de punir) o parceiro aumentou as O esposo relatou que o conjunto
tentativas de convencer o companheiro das sessões o ajudou "bas-
de que estava certo (fuga/esquiva de tante”. Ao avaliar a sessão de linha de
punição, porém, mantendo-se na base, respondeu com uma brincadeira,
discussão e tentando evocar apoio). Além (ou seja, emitiu em relação à
disso, entrar sem abertura foi mais pesquisadora suavizar para fugir/
seguida por contestar, e entrar sem esquivar-se, mostrando que esse padrão
abertura. Quando um dos parceiros não se limite à comunicação com a
criticava o outro (função de punir) gerava esposa, mas provavelmente é uma
discordância (função de punir ou estratégia interpessoal dele
contracontrolar), e mais críticas (contra- que prevalece em outras interações). A
controlar). intervenção o ajudou a melhorar a
percepção do problema e o último
(3) Aumento de questionamento e diálogo o ajudou a buscar soluções
de vulnerabilizar-se. para o problema.

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Casal 2A. Após a intervenção houve: alterando algumas formas de se


(1) Aumento do foco no tema e comunicar, discutidas na inter-
aumento de aprovação às pro- venção. O todo lhe deixou otimista em
postas de solução e às expli- relação à possibilidade de resgatar o
cações. relacionamento.

Entrar no eixo aumentou em A primeira sessão ajudou o


freqüência e em tempo total, esposo a ampliar o canal de
ocorrendo por mais da metade dos 50 comunicação. A intervenção lhe
minutos do diálogo pós intervenção mostrou as afinidades entre ele e a
(vide tabela 3). Apesar do aumento na esposa que poderiam subsidiar
freqüência de vender teoria, houve negociação mais direta. O diálogo pós
diminuição no tempo total dedicado a sessão lhe esclareceu as dificuldades e
esta categoria. A redução nas deu a abertura da comunicação para
explicações sobre o problema pode ter buscar soluções. O conjunto das
fornecido espaço para buscar sessões lhe mostrou a importância
soluções. de conhecer as dificuldades de sua
A seqüência apontar solução - parceira.
aprovar aumentou, como também a
seqüência vender teoria - aprovar (2) Diminuição de vulnerabilizar-
(vide tabela 4). Ou seja, propostas se e aumento de críticas, porém
para resolver o problema foram mais com diminuição de atribuição de
aceitas, como também explicações do culpas.
participante sobre sua compreensão
do problema. Entrar no eixo e Entrar sem abertura aumentou
apontar solução e vender teoria em frequência, porém, -
aumentaram, responsabilizar o outro vulnerabilizar-se diminuiu. Possivel-
e vulnerabilizar-se diminuiu, o que mente, com o parceiro demonstrando
produziu um diálogo potencialmente menos “fragilidade”, o outro pôde
mais produtivo. criticá-lo com mais liberdade, pois
uma das funções de vulnerabilizar-se
As avaliações finais pelos
foi a de evitar punição. As sequências
participantes confirmam esta
e responsabilizar o outro - justificar-
interpretação. Segundo a esposa, o
se diminíu, assim como as freqüências
primeiro diálogo a ajudou a estabe-
individuais das categorias respon-
lecer um canal de comunicação
sabilizar o outro e justificar-se.
construtivo com o esposo. A inter-
venção a ajudou a compreender a
maneira como ela e o marido se (3) Diminuição de interrupções e
comunicam e perceber que eles estão ocorrência de questionamento
abertos ao diálogo construtivo. O claro.
diálogo pós intervenção a ajudou a As interrupções ao parceiro
exercitar o canal de comunicação, já diminuíram, provavelmente devido à

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redução no tempo médio das ocorrências Justificar-se aumentou e se


de vez da fala, ou seja, com trechos de seguiu a entrar sem abertura mais
fala mais curtos, o ouvinte interrompeu vezes. Assim, quando um se explicava
menos. Perguntar abertamente surgiu (para evocavar apoio), o outro
pela primeira vez no segundo diálogo. respondia com críticas (punia).
Apontar solução diminuiu. Apontar
solução - contestar reduziu pela
Casal 3A. Após a intervenção ocorreu: metade. E apontar solução - aprovar
(1) Aumento da abordagem do aumentou. Ou seja, mais soluções
tema. foram propostas, mas as mesmas não
foram aceitas.
O segundo diálogo foi bastante
conturbado, o casal definiu muito mal o Vulnerabilizar-se aumentou,
problema a ser discutido: “o porém foi seguida por armar, isto é,
relacionamento”. Quase tudo se inseria quando um dos parceiros expressava
na problemática do relacionamento. sofrimento (para evocar apoio, evitar
Assim, entrar no eixo aumentou em ou arriscar punição) o outro fazia
freqüência e gerou altas frequências da perguntas diretivas já supondo as
seqüência entrar no eixo - interromper respostas (para levar o companheiro a se
(vide tabelas 3 e 4). contradizer).

(2) Aumento das interrupções,


(3) Diminuição de propostas de
críticas, atribuição de culpas,
solução, de aprovação.
contestação, como também de
colocar-se por cima e armar. Enquanto os comportamentos que
geravam desentendimentos aumentaram,
No último diálogo aumentou
os que facilitavam a comunicação (por
interromper, contestar, entrar sem
exemplo: aprovar, apontar solução)
abertura, responsabilizar o outro,
diminuíram. Apesar do aumento de
colocar-se por cima e armar. Entrar
vulnerabilizar-se, que poderia ter
sem abertura aumentou
favorecido a comunicação, o casal se
significativamente e gerou mais
comportou de maneira contraditória,
entrar sem abertura, assim, quando
pois, às vezes, junto à exposição de
um dos parceiros fazia uma crítica ao
sofrimento, o falante emitia uma crítica
companheiro (punia), esse respondia
ou acusação, e outras vezes o
também com crítica (contra-
comportamento não vocal era de
controlava). Funcionalmente, o
hostilidade, que acabava prevalecendo
mesmo ocorreu com a seqüência
sobre a expressão de vulnerabilidade.
entrar sem abertura - responsabilizar
o outro, mudando apenas a O marido relatou que antes da
topografia. Estas seqüências primeira sessão não havia conversado
desencadearam uma escalação com a esposa por 50' há muito tempo. A
progressiva de agressividade. sessão de intervenção lhe apontou o erro

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e as mudanças necessárias. O diálogo pós Apontar solução aumentou em


intervenção o ajudou a descobrir o que freqüência, foi mais vezes recebido pelo
ele e a esposa querem um do outro. O parceiro com apontar solução e menos
todo o ajudou a definir o que quer em seguido contestar. Assim, quando um dos
relação a sua vida e a sua parceira. Para a parceiros propunha solução o outro
esposa a primeira sessão serviu para concordava ou imediatamente oferecia
mostrar os problemas que tinham e que outra solução. Entre tanto o casal não
estavam sendo superficiais tentando passou da tempestade de idéias.
evitar discuti-los. A intervenção a ajudou
Armar aumentou em freqüência e
a perceber que existem diferentes formas
gerou mais justificar-se. A esposa fazia
de dialogar, cada um com seus pontos
perguntas diretivas para levar o
positivos e negativos. No tudo, a
companheiro a se contradizer, o qual
oportunidade de conversar com o marido
tentava convencê-la de que estava certo.
a possibilitou aceitar que o
relacionamento infelizmente acabou. Retirar-se surgiu no segundo
diálogo e foi seguido mais vezes por
entrar sem abertura. O marido emitiu
Casal 1B. Após a intervenção ocorreu: uma crítica severa à esposa (punir,
(1) Aumento da abordagem do contracontrolar), que reagiu, silenciando-
tema, e das críticas. se (fugir/esquivar-se da discussão ou
punir o companheiro) e quanto mais ela
No primeiro diálogo o casal permanecia em silêncio, mais ele
praticamente não abordou o tema criticava.
escolhido. Já no segundo entrar no
eixo ocupou a metade da discussão (vide Durante a listagem dos problemas,
tabela 3) e regularmente foi respondido na linha de base, o casal afirmou que o
pelo parceiro com entrar no eixo. Assim, único problema que eles tinham era a
as iniciativas de falar sobre o problema preocupação excessiva do marido com os
realmente geraram mais discussão focada problemas alheios. “Ele se preocupa
(vide tabela 4). Entrar no eixo também muito com as dificuldades dos outros e a
gerou mais interromper. Assim, falar gente acaba discutindo”, afirmou a
sobre o assunto escolhido (manter-se na esposa. Esse acabou sendo o tema
discussão) produziu mais interrupções escolhido, mas, assim como ocorria na
(tomar o controle da fala). Entrar sem sua vida cotidiana, o casal passou
praticamente todo o tempo falando dos
abertura aumentou e a seqüência entrar
problemas de outrem. Ou seja, em lugar
sem abertura - entrar sem abertura
de discutirem sobre o problema, eles o
surgiu no segundo diálogo. O parceiro
demonstraram ao vivo.
passou a responder as críticas (punir ou
contracontrolar) com mais críticas. Segundo o marido, o primeiro
diálogo não foi proveitoso porque ele
(2) Aumento das propostas de fugiu do assunto. A intervenção o ajudou
solução, diminuição das contes- a refletir mais e falar menos. O segundo
tações e do contracontrole. diálogo foi mais proveitoso, porque

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Lucilene Prado Silva - Luc Vandenberghe

tentou não sair do assunto. Quanto e cheio de "picuinhas". O todo a ajudou a


ao tudo ele achou que ele não se conhecer melhor, ao companheiro
progrediu em sua vida pessoal. Para a admitir os erros, mas continuando
esposa, os diálogos a ajudaram a ter mais descrente de que ele mude. O primeiro
paciência e reconhecer os próprios erros. diálogo ajudou o marido ser ouvido pela
esposa. A intervenção o ajudou a enxergar
os erros “repetitivos” que estava
Casal 2B. Após a intervenção ocorreu:
cometendo e os compromissos não
(1) Diminuição da abordagem do cumpridos. O segundo diálogo possi-
tema e aumento de interrupções, e bilitou expressar o que queria da esposa e
críticas. o conjunto das sessões o ajudou a abrir o
No primeiro diálogo, o casal se espaço para o diálogo, ouvindo a parceira.
manteve mais tempo na discussão do
problema do que no segundo. Após a
Casal 3B. Após a intervenção ocorreu:
intervenção houve mais interrupções, e
entrar no eixo reduziu em freqüência (1) Aumento da abordagem do tema
(vide tabela 3), refletindo na diminuição e das propostas de solução.
da seqüência entrar no eixo - entrar no
eixo (vide tabela 4). O casal não O casal se manteve mais tempo
conseguiu descrever adequadamente o discutindo o problema após a intervenção
problema, acumulando ao decorrer do (vide tabela 3). Entrar no eixo aumentou
diálogo uma pilha de assuntos mal em freqüência e gerou mais entrar no
acabados, nunca completando o primeiro eixo (vide tabela 4). Com o foco maior no
passo da estratégia de solução de problema, envolveram-se por mais tempo
problema. na busca de soluções. Apontar solução
aumentou e foi menos seguida por
As seqüências vender teoria - contestar.
contestar e vender teoria - aprovar
diminuíram. Sendo assim, as explicações
(para evocar apoio ou manter-se na (2) Aumento de críticas e atribuição
discussão), não geraram mais de culpa, aprovação, questiona-
discordância do parceiro, mas também mento claro, explicação do
não foram mais frequentamente aceitas. problema e justificativas.
A seqüência vender teoria - entrar sem
Houve aumento dos
abertura aumentou. As explicações
comportamentos que podem facilitar a
geraram críticas do parceiro ( com função
comunicação, como aprovar, perguntar
de punir ou contra-atacar).
abertamente, apontar solução, vender
De acordo com a esposa, a teoria e justificar-se. E diminuição dos
primeira sessão a ajudou a se abrir. que poderiam dificultar a comunicação:
Quanto à ajuda da intervenção, ela contestar, colocar-se por cima, retirar-se
respondeu que precisava ouvir alguém de e leitura mental. Entretanto, também
fora, dando-lhe um “veredicto”. O aumentaram em freqüência: entrar sem
segundo diálogo ela achou conturbado abertura e responsabilizar o outro.

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Comunicação versus resolução de problemas numa sessão única de terapia comportamental de casal

A sequência entrar sem abertura - contra-controlar) gerou explicações (com


vender teoria aumentou. Quando um dos função de evocar apoio ou manter-se na
parceiros criticou o outro (punir ou discussão) do outro.

Tabela 3. Aumento (+) ou redução (-) na freqüência e no tempo de cada categoria após a intervenção.

Categorias Casal 1A Casal 2A Casal 3A Casal 1B Casal 2B Casal 3B


Entrar no eixo +41 +50 +62 +125 -39 +30
(+18’30”) (+29’40”) (+25’47”) (+20’58”) (-9’11”) (+16’15”)
Sair do eixo -129 -27 -155 -60 +87 -21
(-20’36”) (-33’08”) (-19’10”) (-18’45”) (+10’48”) (-6’17”)
Entrar sem abertura +14 +8 +87 +9 +6 +7
(+3’50”) (+0’15”) (+9’00”) (+1’25”) (-5’50”) (+9’46”)
Justificar-se +21 -6 +30 +13 -1 +5
(+11’03”) (+0’17”) (+1’31”) (-2’50”) (+1’08”) (+4’49”)
Vender teoria +5 +11 -18 +18 -40 +13
(+2’20”) (-8’50”) (-3’27”) (+0’46”) (-9’36”) (+15’33”)
Apontar solução -1 +13 -18 +21 -1 +2
(+1’10”) (+1’50”) (-3’40”) (+4’12”) (+0’20”) (+4’24”)
Suavizar -36 +2 -1 +1 -4 -1
(-6’58”) (+1’14”) (-0’13”) (-0’25”) (-1’31”) (-0’12”)
Contestar +4 +2 +61 -13 -29 -10
(+0’15”) (+0’15”) (+7’06”) (-2’22”) (-7’43”) (-6’55”)
Vulnerabilizar-se +13 -14 +10 -2 -2 -1
(+5’42”) (-7’04”) (+0’42”) (-0’57”) (-0’28”) (-0’02”)
Responsabilizar o outro +7 -5 +22 +5 +1 +11
(+2’09”) (-1’00”) (+2’04”) (+0’44”) (-7’47”) (+6’49”)
Aprovar +4 +12 -8 -3 -11 +4
(+1’37”) (-1’40”) (-1’46”) (-0’53”) (-2’01”) (+4’09”)
Perguntar abertamente +8 +6 +2 +2 +2
(+0’42”) (+0’37”) - (+0’18”) (+0’17”) (+1’03”)
Colocar-se por cima -1 +1 +8 +7 -5
(-0’16”) (+0’16”) (+3’52”) - (+0’55”) (-2’11”)
Interromper +1 -8 +16 -6 +25 0
(-0’11) (-0’18”) (+0’32”) (-0’48”) (+0’45”) (-0’12”)
Colocar-se por baixo +3 -6 0
(+1’48”) (-1’30”) - - - (+0’43”)
Entrar com abertura 0 -9 -1
(-0’29”) (-2’20”) - - - (+0’25”)
Armar +26 +8 +2
- - (+2’23”) (+1’00”) (+0’28”) -
Retirar-se +11 +3 -3
- - - (+3’25”) (+0’24”) (-12’29’’)
Recuar -3 -1
(-0’33”) (-0’08”) - - - -
Leitura mental -4 -6
- - (-1’15”) - - (-1’38”)

Durante a linha de base, enquanto a se aconteceu nesse diálogo e foi emitida


esposa tentou discutir o problema, o por ele. Entretanto, a esposa também
marido respondeu com falas curtas e não retirou-se, permanecendo em silêncio
fez nenhum contato visual com ela. A por até 9' após ter sido criticada pelo
maioria das ocorrências de retirar-se marido. No segundo diálogo, o marido não

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Lucilene Prado Silva - Luc Vandenberghe

fez nenhuma crítica severa, reduzindo, emitindo vezes da fala mais longos
conseqüentemente, a freqüência de retirar-se (mesmo desconsiderando o tempo
da parte da esposa, o que pode ter gasto com retirar-se nos dois
facilitado o aumento em entrar no eixo. diálogos) e se mostrando mais
Ele se envolveu mais na discussão, objetivo.

Tabela 4. Freqüência cumulativa (nos encontros 1 e 3) das seqüências ocorridas nos dois diálogos e a diferença entre os encontros,
representando o aumento(+) ou redução(-) após a intervenção.

Seqüências Casal 1A Casal 2A Casal 3A Casal 1B Casal 2B Casal 3B


Entrar no eixo – 23 52 86 54 67 26
Entrar no eixo +19 +42 +4 +54 -49 +18
Entrar no eixo – 7 3 26 10 15 4
Interromper +7 -3 +10 +10 -5 -2
Entrar sem abertura - Contestar 6 3 25 7 33 9
+2 -1 +15 -5 -15 -1
Vender teoria - Aprovar 4 20 6 4 10 1
0 +4 -2 +2 -4 +1
Responsabilizar o outro - Justificar- 3 2 2 5 16 3
se +3 -2 -2 +1 -8 +1
Apontar solução - 2 6 12 25 15 5
Contestar -2 +2 -6 -3 +1 -3
Vender teoria - 2 4 4 9 10 7
Vender teoria 0 +2 0 +3 -4 +1
Entrar sem abertura - 3 20 6 35 7
Entrar sem abertura +3 - +14 +6 -6 -1
Entrar sem abertura - 12 42 14 12
Justificar-se +8 - +16 +2 - +2
Vender teoria - 3 10 14 28 11
Contestar - +1 0 -4 -18 +1
Armar - 6 11
Justificar-se - - - +6 -1 -
Apontar solução - 8 4
Apontar solução - - - +4 0 -
Retirar-se - 5 6
Entrar sem abertura - - - +5 - -2
Entrar sem abertura - 14
Vender teoria - - - - - +8
Vender teoria - 5
Suavizar -5 - - - - -
Vulnerabilizar-se - 3
Armar - - +3 - - -
Apontar solução - 10 36 3 4 1
Aprovar -2 +6 +3 -2 -1 -
Apontar solução - 4 4 5 14
Entrar sem abertura -2 0 +3 - -6 -
Entrar sem abertura - 2 13 1 21
Responsabilizar-se +2 - +7 +1 -11 -
Vender teoria - 1 8 12 6
Entrar sem abertura - +1 +2 - +10 +4
Responsabilizar o outro - 2 7 7 5
Entrar sem abertura +2 - +7 - +7 +3
Entrar no eixo - 7 5 4
Vulnerabilizar-se +7 -1 +2 - - -
Suavizar - 12 1 1
Suavizar -8 -1 +1 - - -
Vender teoria - 4 1 7
Perguntar abertamente +4 +1 - - - +1

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Comunicação versus resolução de problemas numa sessão única de terapia comportamental de casal

A intervenção ajudou o marido a entrar sem abertura. O mesmo casal


pensar o quanto o diálogo é importante também foi o único a aumentar as
para resolver seus problemas e que as freqüências de: colocar-se por cima e
sessões devem ajudar na disciplina do interromper após a intervenção e de
casal. Ele cogitou que o planejamento é emitir armar. Constatando as funções
importante para tudo na vida e para ter dessas categorias supra e considerando
uma conversa clara e objetiva é suas freqüências, percebe-se o quão
importante saber sobre o que tratará a aversivo foram os diálogos do casal 3A.
conversa. Em contraste, os casais 1A e 2A emitiram
O diálogo pós intervenção ajudou a entrar com abertura, mostrando uma
esclarecer pontos que atrapalhavam o disposição autocritica.
relacionamento. Na opinião da esposa, a As mudanças na comunicação do
sessão de linha de base possibilitou o casal 1A foram: a redução em suavizar, e
dialogo com o marido sobre o que o aumento de vulnerabilizar-se, e de
estavam passando. perguntar abertamente. Para o casal 2A
A intervenção a ajudou a refletir as mudanças mais relevantes foram: a
sobre o problema e sua causa e como o redução em vulnerabilizar-se, a redução
acúmulo dos problemas dificulta a em responsabilizar o outro e o aumento
solução. A sessão pós-intervenção a em apontar solução.
ajudou a ver que o dialogo é importante
para seu relacionamento. O todo a ajudou Grupo B
a compreender o esposo e perceber
Dois dos casais que participaram
alguns erros e que precisa mudar.
da intervenção em que o roteiro de
solução de problemas foi apresentado
Grupo A aumentaram a freqüência em entrar
no eixo. O casal 2B, ao contrário dos
Todos os casais que participaram da
demais, passou mais tempo emitindo sair
intervenção que enfocava a comunicação
do eixo após a intervenção (vide tabela 3).
apresentaram mudanças na categoria
Também foi o único a reduzir a
entrar no eixo, mantendo-se por mais
freqüência de vender teoria. Todos os
tempo discutindo o problema escolhido e
casais apresentaram redução em
reduziram as fugas/esquivas da
contestar. Houve aumento na categoria
discussão. Entrar sem abertura também
apontar solução para os casais, 1B e 3B.
aumentou no diálogo de todos.
Aprovar só aumentou em freqüência para
Observa-se (na tabela 4) a alta o casal 3B.
freqüência de entrar sem aber- O resultado negativo do casal 1B é
tura seguido por entrar sem abertura e visto pelo aumento em apontar soluções
entrar sem abertura seguido por não aceitas, seguidas de outras que mais
contestar emitidas pelo casal uma vez não eram aceitas, além da
3A, além da maior freqüência de sequência armar - justificar-se. Para o
responsabilizar o outro seguido por casal 2B o aumento em sair do

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Lucilene Prado Silva - Luc Vandenberghe

eixo prejudicou o resultado do segundo estratégia pronta dificulte o casal na


diálogo. Já o casal 3B se envolveu mais identificação com ela ou, talvez, este tipo
em responsabilizar o outro gerando no de intervenção simplesmente seja menos
parceiro mais comportamento de adequado para uma sessão única. Pôde se
controle, desviando assim o foco da averiguar também mudanças no grupo B.
solução do problema. Porém, pode ser averiguado acima, que
estes casais não atribuíram o proveito que
tiveram à técnica de resolução de
Conclusão
problemas, mas a outros aspectos dos
Comparando as mudanças de diálogos.
todos os participantes, os resultados dos
casais 1A e 2A parecem os melhores. A Fowers (2001) aconselha tera-
conscientização do próprio compor- peutas a considerar virtudes como auto-
tamento verbal pode ter influenciado a restrição, coragem, generosidade, justiça
mudança ocorrida na interação destes e bom julgamento como prerrogativas
casais, corroborando com a tese de para habilidades de comunicação e
Schmaling et al. (1997), na qual a simples de motivar casais a cultivarem essas
identificação do padrão de conflito pode virtudes para melhorar a comunicação
ser suficiente para que alguns casais entre eles. É possível, neste sentido, que o
eliminem comportamentos destrutivos resultado dos casais 1A e 2A foi facilitado
em suas interações. pelo baixo índice em interromper e
responsabilizar o outro, antes da
Todos os casais apresentaram
intervenção e a facilidade com a
mudanças após a intervenção na
qual estes casais emitiram e receberam
freqüência de entrar no eixo,
vulnerabilizar-se.
permanecendo mais tempo discutindo o
problema escolhido, menos o casal 2B.
Os casais 1A, 2A e 3B foram os
Dois casais aumentaram
únicos a emitir colocar-se por baixo -
significativamente as taxas de Apontar
admitir falhas próprias ou qualidades do
solução, um do grupo de enfoque na
parceiro – e a se autocriticar. Os mesmos
comunicação (2A) e outro no de solução
casais foram os que menos interrupções
de problema (1B). Entretanto apenas o
fizeram. Vulnerabilizar-se foi emitida e
casal 2A avançou na solução do problema
recebida com habilidade pelos casais 1A e
escolhido, já que as propostas do casal 1B
2A, que demonstraram apoio ao parceiro
foram recusadas a maioria das vezes.
quando esse expressava sofrimento.
Os resultados implicam que Também foram os que mais
a intervenção no grupo B não teve o efeito demonstraram tolerância às críticas, dado
esperado. Os casais envolveram-se na a baixa freqüência das seqüências entrar
busca das origens e não na solução do sem abertura seguido por entrar sem
problema. Dois deles se queixaram, abertura e entrar sem abertura seguido
durante a intervenção, alegando ser difícil por contestar. O casal com mais
a implementação do procedimento no dificuldade em emitir e aceitar
cotidiano. Talvez a proposta de uma vulnerabilizar-se foi o 3A, que apresentou

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Comunicação versus resolução de problemas numa sessão única de terapia comportamental de casal

um diálogo tenso, com insultos, vozes resultados terapêuticos, então, uma


alteradas, ameaças e acusações. intervenção que necessitasse de
apenas uma sessão para produzir
Esta leitura dos dados sugere que mudanças pode ser um motivador para
se o casal se conscientizar dos padrões se continuar com o tratamento, ou mesmo
destrutivos de comunicação, ele pode para beneficiar aqueles casais que vão a
aprender numa sessão que é possível apenas a uma sessão de psicoterapia.
usar a comunicação a favor de Sugerimos que a conscientização dos
progressos. Como casais são mais padrões de comunicação seja indicada
exigentes quanto à rapidez dos para esta função.

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Recebido em: 15/5/2007


Aceito para publicação em: 10/6/2007

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