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RESUMO
Objetivou-se desenvolver o redesign ergonômico de uma sandália
infantil para uma criança de 3 anos com Síndrome de Down, que
possui Fascite Plantar. Foram realizadas entrevistas e análises,
acompanhando as atividades desenvolvidas pelo usuário em seu
ambiente familiar. Utilizou-se a metodologia User-Capacity Toolkit,
que é uma ferramenta que auxilia em projetar diretamente com o
usuário, avaliando desconfortos motores das pernas, joelhos e pés,
analisando as dificuldades nas tarefas diárias. Como resultado de
pesquisa, foi produzido o protótipo de uma sandália infantil
ergonômica com a função de auxiliar a mobilidade do usuário,
podendo ser experimentada e testada, obtendo um resultado
positivo que reduz as dificuldades.
Palavras-chave: sandália, Fascite Plantar, Síndrome de down.
ABSTRACT
The objective was to develop the ergonomic redesign of a children's
sandal for a 3-year-old child with Down Syndrome, who has Plantar
Fasciitis. Dedicated to only one user, interviews and analyzes were
carried out, following the activities developed by the user in his family
environment. The User-Capacity Toolkit methodology was used.
Motor discomforts of the legs, knees and feet were evaluated,
analyzing difficulties in daily tasks. As a result of research, a
prototype of an ergonomic children's sandal was produced with the
function of helping the user's mobility, which can be tried and tested,
obtaining a positive result that reduces difficulties, but still needs
certain adjustments.
Keywords: sandal, Plantar Fasciitis, Down Syndrome.
1. INTRODUÇÃO
A Trissomia do cromossomo 21, mais conhecida como
Síndrome de Down, é uma condição genética ocasionada pela
triplicação dos cromossomos 21 nas células dos indivíduos. Essa
ocorrência genética foi a primeira causa conhecida de incapacidade
intelectual, representando quase 25% de todos os casos de atraso
do intelecto, sendo uma característica presente em todas as
pessoas com a síndrome (SERÉS, 2011). Conforme a Federação
Brasileira das Associações de Síndrome de Down (2020), estima-se
que no Brasil ocorra 1 em cada 700 nascimentos, totalizando em
mais de 300 mil pessoas com a trissomia no país. A Federação
ressalta que a Síndrome de Down não é uma doença, e sim, uma
condição inerente à pessoa, sendo assim, não se deve falar em
tratamento ou cura. No entanto, está associada a algumas questões
de saúde e características físicas que devem ser observadas desde
o nascimento.
Segundo a pesquisa “Foot and ankle deformities in children
with Down Sundrome” (J. CHILD, 2018), cerca de 27% das pessoas
com a síndrome apresentam alterações nos ossos, músculos e
articulações, atestando que pessoas com esta condição podem ter
dificuldades na locomoção ou problemas relacionados aos pés,
tornozelos e joelhos. Na infância, tais complicações são ainda mais
severas, uma vez que os ossos ainda estão em desenvolvimento. A
instabilidade e a falta de equilíbrio são os principais sintomas
apresentados, causados principalmente pela Fascite Plantar,
conhecida como “pé chato”, que é uma condição em que a pessoa
não possui uma curvatura no meio do pé, e como consequência
pode desenvolver problemas como tendinites, entorse e outros,
além de dores e calosidade (SODRÉ, 1996).
É previsto que usuários que apresentem tais dificuldades
exigem certos cuidados ao consumir produtos convencionais, no
qual muitos não apresentam um Design Universal. Cada designer
aborda um resumo do projeto com seus próprios valores estéticos,
gostos e desgostos. Isso muitas vezes pode levar a um projeto de
design excludente, em que o usuário não pode usar o produto como
deveria e acaba rejeitando-o (LEE, 2009). O Design Universal (DU),
denominado também de ‘design inclusivo’, corresponde ao
desenvolvimento de projetos que visam ampliar a abrangência usual
de produtos. A meta é desenvolver teoria, princípios e soluções que
permitam a todos o uso das mesmas soluções físicas, estendendo
ao máximo de pessoas possíveis (ASLAKSEN, 1997). Para a
inclusão social de indivíduos portadores de limitações físicas,
sensoriais e psicológicas, esse é modo de concepção de projetos
que possibilitará estabelecer soluções tecnológicas, que priorizem a
funcionalidade e a ergonomia.
Com o Design Inclusivo em desenvolvimento, deve-se haver
uma confluência com a ergonomia, que é um conjunto de regras e
procedimentos cujo propósito é tratar dos cuidados com a saúde
humana, seja na adaptação homem/máquina ou na usabilidade de
qualquer outro produto (Abrahão, 2009). Mesmo com todo estudo
da ergonomia e DU em ascensão, é possível localizar produções
que não cumprem adequadamente suas funções, se fazendo
necessárias modificações em sua usabilidade ou mudanças feitas
diretamente no produto.
Diante disso, a escolha do calçado ideal vai muito além da
beleza: é um fator que interfere diretamente na qualidade de vida e
na saúde, sendo muito mais do que apenas um item do vestuário. A
Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica (SBOP, 2016) diz que
o calçado deve ser visto como uma proteção, Ao mesmo tempo que
pode ser flexível, deve proporcionar conforto e promover a
estabilidade e o equilíbrio do corpo. Neste sentido, uma criança que
possui o pé chato, necessariamente precisaria de um calçado
ergonomicamente propício e adaptado para atender a maioria de
suas necessidades físicas e motoras, evidenciando o conforto, a
estabilidade, o posicionamento correto dos pés e a maior confiança
para movimentar-se.
Considerando essas necessidades, o objetivo deste artigo é
analisar sandálias convencionais e ortopédicas, para unir
características úteis; entrevistar e observar o cotidiano de um
usuário, avaliando desconfortos motores, sensoriais e cognitivos em
suas tarefas e atividades diárias; e a produção de um redesign que
saneie as dificuldades e os desconfortos pelas consequências de
um pé chato, tencionando uma melhora na qualidade de vida e
autoestima deste mesmo usuário.
Neste sentido, a metodologia empregada para avaliar tais
condições é a User-Capacity Toolkit (U-CT), seguindo uma
abordagem de projeto centrada no usuário. A ferramenta opera
visando reunir o máximo de dados sobre o produto, o usuário e o
contexto, com o interesse de conduzir o desenvolvimento de
soluções em possibilidades mais alinhadas às capacidades e
limitações do usuário.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A estratégia de pesquisa se desenvolveu em dois momentos:
primeiramente o estudo de materiais teóricos relacionados à
Síndrome de Down e o pé plano, apresentados em crianças, e a
análise de sandálias infantis convencionais e ortopédicas; e
segundamente o desenvolvimento do projeto envolvendo um
usuário que possui a Trissomia do Cromossomo 21 e apresenta uma
mobilidade reduzida.
A coleta de informações foi feita através do User-Capacity
Toolkit U-CT, formado por um conjunto de ferramentas que visam a
gestão e desenvolvimento de um projeto com base direta nos
usuários, conduzindo a coleta de dados com foco em suas
capacidades e limitações. A ferramenta desenvolvida por Pichler
(2019) é compreendida em 4 passos, que auxilia no levantamento,
conversão e análise dos danos.
Passo 1 – Preparar: Seguindo como principal orientador o
Manual de Instruções, o objetivo foi a preparação e o gerenciamento
dos projetistas, apresentando as ferramentas e suas
funcionalidades.
Passo 2 – Levantar: Com o auxílio das Guias de Coletas
Subjetivas e Objetivas, foi o momento dos levantamentos dos
dados, feitos por meio de entrevistas com os cuidadores, e
observações cotidianas do dia a dia do usuário.
Passo 3 – Converter: Com o uso do Guia de Conversão, o
objetivo foi converter todos os dados coletados em informações e
alternativas para o desenvolvimento do projeto.
Passo 4 – Analisar: Por fim, com todas as informações
necessárias, foram preenchidos 3 Painéis de Síntese Visual que
proporcionaram uma visão ampla sobre os dados convertidos,
podendo por meio deste, a geração das primeiras alternativas do
projeto.
Por intermédio de tal processo metodológico, objetivou-se o
desenvolvimento das alternativas por meio da geração e avaliação,
a fim de desenvolver uma solução final, a qual seria resultante na
produção de um protótipo.
3. DESENVOLVIMENTO
Para desenvolvimento do projeto, foram necessárias
algumas pesquisas que serviram de suporte para projetar.
Primeiramente, o entendimento ergonômico e anatômico de um pé
que apresenta o arco plantar plano (pé chato), e segundamente uma
análise feita pelos próprios projetistas de sandálias infantis
convencionais e ortopédicas, analisando material, fechamento,
modelo e estética, a fim de unir características necessárias em
ambas.
3.1. Pé Plano
A formação do pé é feita por um conjunto de articulações
capazes de suportar e dissipar as forças verticais, permitindo
diferentes formas de locomoção. Também transmite ao solo o
resultado da cadeia cinética produzida pela ação do tronco e dos
membros inferiores (MCPOIL, 1997). A Fascite Plantar é causada
por alterações congênitas da estrutura óssea levando a
deformidades, sendo essa uma das morbidades mais frequentes do
pé e que, consequentemente, geram alteração da marcha.
(ALEXANDRE, 2001)
O posicionamento do pé, durante o contato inicial e por toda
fase da postura vertical da marcha, é um fator importante para
determinar a estabilidade. Com isso, a ênfase do movimento e do
controle do tornozelo e do pé, no contato inicial, ocorre durante o
apoio. O contato do pé por meio do calcanhar, com uma transição
suave para uma posição estável, facilita tanto a progressão para
frente quanto a base estável de apoio importante para a estabilidade
(TRIBASTONE, 2001)
O processo de investigação do pé plano ocorre através de um
exame físico completo associado a exames de imagem, como raios
X, com carga do pé e tornozelo, bem como auxílio da ressonância
magnética e tomografia computadorizada em casos específicos.
Sua anatomia apresenta um pé totalmente planificado.
Figura 1
Representação anatômica de um pé com arco plantar saudável (esq.), e um pé
com arco plantar planificado (dir.). Fonte: NANTEN – Instituto de Ortopedia e
Saúde, 2013.
Figura 3
Sandália Pimpolho Infantil Colore Off-White usada pelo usuário por 6 meses.
Fonte: registros da equipe de projeto, 2023.
4. RESULTADO E DISCUSSÕES
Com a produção do protótipo finalizada, os testes foram
realizados visando analisar onde o produto cumpre ou não com as
necessidades do usuário. Explanando-se então o primeiro contato
do protótipo com Henrique, foi observado: as primeiras impressões
do usuário, a usabilidade, a satisfação sentimental, o conforto e a
ergonomia, analisando as futuras alterações visando o melhor
funcionamento do produto.
Figura 7
Experimentação do protótipo. Fonte: registro da equipe, 2023.
5. CONCLUSÕES
Segundo Ilo (2014), uma em cada sete pessoas no mundo
possui algum tipo de deficiência. Isso representa aproximadamente
14% da população mundial. A Trissomia do cromossomo 21 não é
uma doença, mas traz possíveis consequências a saúde, obtendo a
Fascite Plantar como uma delas. O atual projeto propôs um redesign
que reduzisse as consequências motoras que o pé plano possui em
uma criança com Síndrome de Down. Como resultado em uma
sandália infantil ergonômica, podendo ser analisada, experimentada
e testada.
A produção do protótipo funcionou como uma ótima
ferramenta para a avaliação das soluções. Assim, foi compreendido
que o protótipo atendeu as expectativas e funções propostas às
necessidades do usuário, mas ainda necessita de alterações e
ajustes para sanar todos os problemas de usabilidade. O projeto se
mostrou eficaz na obtenção de aptidão na produção de calçados e
em desenvolver produtos inclusivos além de toda relação direta com
o usuário adquirindo conhecimento sobre problemas da sociedade.
Em conclusão, a metodologia aplicada se mostrou
completamente eficiente, todos os recursos do User-Capacity
Toolkit foram utilizados para gerir a coleta de informações e
transformá-las em soluções reais, identificando as demandas não
só dos usuários, mas também da família, cuidadores e do ambiente.
Tais processos trouxeram um vasto conhecimento sobre pesquisa
em design inclusivo para os designers projetistas, evidenciando seu
importante trabalho de propor soluções cada vez mais inclusivas e
universais para o acesso de toda a sociedade.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos, primeiramente a toda família de Henrique de
Oliveira, principalmente sua mãe Maria Marluce que se prontificou a
nos ajudar todo momento.
Ao Professor Clécio de Lacerda por ter assumido toda a
produção do protótipo e por ter nos dado uma aula explicando todo
o processo de produção.
REFERÊNCIAS
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São Paulo: Blucher, 2009.
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https://digitalcommons.ilr.cornell.edu/gladnetcollect/327> Acesso
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<http://www.ilo.int/skills/areas/inclusion-of-persons-with
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