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ADAPTAÇÕES AMBIENTAIS E DOMÉSTICAS

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Sumário

ADAPTAÇÕES AMBIENTAIS E DOMÉSTICAS...................................... 1

NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2

INTRODUÇÃO......................................................................................... 4

TIPOS DE BARREIRAS .......................................................................... 6

BARREIRA FÍSICA OU ARQUITETÔNICA:......................................... 7

BARREIRA COMUNICACIONAL: ........................................................ 8

BARREIRA SOCIAL: ............................................................................ 9

BARREIRA ATITUDINAL: .................................................................. 10

SÍMBOLO INTERNACIONAL DE ACESSO (SIA) ................................. 11

LEI N. 8.842/94 ...................................................................................... 12

ADAPTAÇÕES AMBIENTAIS................................................................ 13

O PLANEJAMENTO DA ADEQUAÇÃO AMBIENTAL ....................... 15

OBJETIVOS ....................................................................................... 17

AVALIAÇÃO ....................................................................................... 17

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 18

ADAPTAÇÕES DOMÉSTICAS.............................................................. 19

ADAPTAÇÕES DOMÉSTICAS PARA IDOSOS ................................ 20

ADAPTAÇÃO DOMÉSTICA PARA PESSOA COM DEFICIÊNCIA


FÍSICA .......................................................................................................... 25

DEFICIÊNCIAS E TECNOLOGIA ASSISTIVA – CONCEITOS E


APLICAÇÕES .................................................................................................. 29

REFERÊNCIAS ..................................................................................... 61

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INTRODUÇÃO

Se você está disposto(a) a ampliar sua


qualificação para lidar adequadamente com
situações desse tipo no ambiente profissional,
encontrará nesta Unidade conteúdos básicos
relacionados as adaptações ambientais e
domésticas que proporcionem uma melhor
qualidade de vida dos pacientes portadores de
deficiências e/ou idosos.

Na Terapia Ocupacional o termo adaptação refere-se a modificações no


ambiente, na tarefa ou no método, que objetivam a maximização da
funcionalidade do indivíduo e o maior grau de independência possível no
desempenho da atividade (ARAUJO, 2007).
O emprego de uma adaptação envolve o “ajuste, acomodação e
adequação do indivíduo a uma nova situação” (TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2007). A
resposta a esta nova situação depende do desempenho ocupacional
competente, da satisfação e da interação entre o indivíduo e o ambiente. Adaptar
é a soma da criatividade do terapeuta ocupacional, a eficaz utilidade do produto
proposto, com a concordância e utilização pela pessoa com deficiência
(TEIXEIRA et al., 2003).
As adaptações podem estar enquadradas em duas categorias: baixa
tecnologia ou baixo custo (Low-Tech), que tratam dos dispositivos destinados a
auxiliar nas Atividades de Vida Diária; e alta tecnologia ou alto custo (High-Tech),
como os comandados de computador por voz (TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2007).
Segundo Cavalcanti e Galvão (2007, p. 421) as adaptações têm uma relação
direta com as ocupações, e, portanto, são aplicáveis para favorecer o
desempenho independente no vestuário, higiene, alimentação, comunicação e
gerenciamento de atividades domésticas.

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O processo de desenvolvimento de uma adaptação envolve sete
aspectos: análise da atividade, assimilação do problema, conhecimento dos
princípios de compensação, sugestões de solução, pesquisa de recursos
alternativos para a resolução do problema, manutenção periódica da adaptação
e treino da adaptação na atividade. Há também a necessidade de orientar a
pessoa com deficiência, sua família e ou cuidador sobre a correta utilização da
adaptação, sobre os cuidados com o dispositivo e sobre o tempo que este deve
ser utilizado (ARAUJO, 2007; TEIXEIRA et al., 2003).
Os fatores a serem considerados na prescrição e/ou confecção de uma
adaptação são a simplicidade do projeto, a manutenção da integridade dos
tecidos moles, o ajuste ao usuário, o custo, a estética, o conforto, a facilidade
para colocação e retirada e a higiene (CAVALCANTI; GALVÃO 2007).
Outro aspecto importante no processo do emprego das adaptações é a
avaliação da inclusão destas nas atividades cotidianas, para mensuração do
grau de independência gerado pela mesma e para orientar as possíveis
modificações nos diferentes contextos analisados. A visita ao ambiente
domiciliar é um fator motivacional para a utilização da adaptação (ARAUJO,
2007).
Quando há uma restrição de uso do dispositivo imposta pelo fator
socioeconômico, há possibilidade do uso de adaptações de baixo custo.
(TEIXEIRA et al., 2003).
Rodrigues (2008) estimula os profissionais envolvidos na indicação de
adaptações a observarem os produtos existentes no mercado e refletirem sobre
possíveis materiais alternativos que diminuiriam o custo na produção.
Elui e Santana (2008) relatam que estes dispositivos são ensinados de
terapeuta para terapeuta e de professor para aluno e comumente não
apresentam moldes, pois são
confeccionados conforme a
necessidade do paciente.

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Muitos brasileiros apresentam restrições em relação a sua mobilidade e
independência.
Estima-se que no Brasil 23,1% da população seja composta por pessoas
idosas ou com algum tipo de deficiência. Esta realidade as impede de exercer
na plenitude sua cidadania por encontrar sérias dificuldades de movimentação
frente à inadequação dos espaços públicos e das edificações, fato conhecido
como Barreiras Arquitetônicas.

TIPOS DE BARREIRAS

De acordo com a NBR 9050/2004, “acessibilidade” é definido como a


possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização
com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento
urbano e elementos. E conceitua que, para ser “acessível”, o espaço, edificação,
mobiliário, equipamento urbano ou elemento tem que permitir o alcance,
acionamento, uso e vivência por qualquer pessoa, inclusive por aquelas com
mobilidade reduzida. O termo “acessível” implica tanto acessibilidade física como
de comunicação.
Ainda conforme as definições da norma técnica, temos as barreiras
arquitetônica, urbanística ou ambiental, que são qualquer elemento natural,
instalado ou edificado que impeça a aproximação, transferência ou circulação no
espaço, mobiliário ou equipamento urbano.
Pensando nestes conceitos, vamos nos aprofundar nas definições de
“barreira” utilizando como referência o livro: Desenho Universal – Caminhos da
Acessibilidade no Brasil.
O ambiente sócio-físico é o principal gerador das dificuldades que se
impõem à livre circulação de indivíduos ou grupos. Tais empecilhos podem ser:
físicos, comunicacionais, sociais e/ou atitudinais.

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BARREIRA FÍSICA OU ARQUITETÔNICA:
Obstáculos para o uso adequado do meio, geralmente originados pela
morfologia de edifícios ou áreas urbanas.

A foto acima registra uma escada não associada a rampa ou algum


equipamento eletromecânico. Esta barreira arquitetônica impede que o
cadeirante tenha acesso ao piso superior do estabelecimento.
Também podemos citar como exemplo calçadas com degraus
(dificultando a circulação de pedestres), portas estreitas, rampas com inclinação
exagerada, dentre tantos outros que infelizmente ainda encontramos em nossas
cidades.
O que pouca gente repara é que a forma como são feitas as ruas,
calçadas e faixas de pedestres também é muito importante. Quem depende de
muletas ou cadeira de rodas, por exemplo, precisa pensar bem no caminho que
vai fazer antes de sair de casa.

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A locomoção também é importante nos ambientes fechados – como
shoppings, museus e escolas – onde a disposição dos móveis e objetos pode
facilitar ou dificultar o deslocamento.

BARREIRA COMUNICACIONAL:
Dificuldade gerada pela falta de informações a respeito do local, em
função dos sistemas de comunicação disponíveis (ou não) em seu entorno, quer
sejam visuais (inclusive em braille), lumínicos e/ou auditivos.

Esta foto mostra o corredor de um shopping com uma placa suspensa


contendo informações apenas visuais (ressaltando que este local não possui
mapa tátil). Além disso, a placa possui baixo contraste, onde os símbolos e textos
são de cor branca pintados sobre um fundo imitando madeira clara. Assim, a
legibilidade fica prejudicada.
Também são barreiras comunicacionais a falta de sinalização urbana,
deficiência nas sinalizações internas dos edifícios, ausência de legendas e
audiodescrição na TV, entre outras.
As barreiras comunicacionais acontecem basicamente de três formas:
 Na comunicação interpessoal: quando, por exemplo, você vai
conversar com um surdo e não sabe Libras, a comunicação fica
comprometida de uma forma bem óbvia. Além disso, um problema
frequente são os erros na forma de se dirigir às pessoas com deficiência
– que são chamadas frequentemente de “deficientes”, por exemplo.

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 Na comunicação escrita: quando informações importantes não estão
disponíveis em Libras ou em Braile – o que acontece bastante em
bibliotecas, placas de sinalização e até mesmo em sites!
 Nos espaços virtuais: quando não há acessibilidade digital, ou seja,
quando os sites não permitem que certas pessoas acessem suas
informações. Também entra aqui a falta de tradução automática, de
audiodescrição e de textos alternativos nas imagens. Muita gente acha
que deixar um site acessível é um trabalho difícil e que não vale à pena
de se realizar. Mas, seguindo algumas dicas simples o processo fica fácil
e traz resultados incríveis – como melhorar o posicionamento da página
nas buscas do Google!

BARREIRA SOCIAL:
Relativa aos processos de inclusão/exclusão social de grupos ou
categorias de pessoas, especialmente no que se refere às chamadas “minorias”,
como grupos étnicos, homossexuais, pessoas com deficiência e outros.

Fonte da foto: Projeto Cisne Negro

A foto mostra uma criança isolada do grupo principal, demonstrando sua


exclusão.

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BARREIRA ATITUDINAL:
Gerada pelas atitudes e comportamento dos indivíduos, impedindo o
acesso de outras pessoas a algum local, quer isso aconteça de modo intencional
ou não.
As barreiras mais difíceis de se perceber são erguidas por nós mesmos.
Mas, por sorte, elas são as mais fáceis de se derrubar, e as que trazem o
maior impacto para a vida das pessoas. Algumas das nossas atitudes com as
pessoas com deficiência podem reforçar as barreiras comunicacionais e
arquitetônicas. São os nossos preconceitos e os estereótipos. E não se engane,
todo mundo tem preconceitos, e não tem nada de ruim em querer acabar com
eles. Mas, para isso, é preciso buscar informação e estar disposto a conhecer
mais sobre o outro, independentemente de quem seja!

Esta imagem demonstra uma barreira atitudinal, infelizmente muito


comum. São carros estacionados na calçada que, além de impedirem a
passagem dos pedestres, estão bloqueando o piso tátil direcional.
Outras barreiras atitudinais: uso indevido de vagas reservadas para
pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, obstrução de rebaixamentos
de guia, os diversos tipos de preconceito, desrespeito com os idosos e vários
outros exemplos.

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SÍMBOLO INTERNACIONAL DE ACESSO (SIA)

Com a atualização da norma técnica de acessibilidade, temos agora duas


opções de representação do símbolo.

Antes de qualquer coisa, é preciso entender a verdadeira finalidade do


símbolo. O Símbolo Internacional de Acesso deve indicar a acessibilidade aos
serviços e identificar espaços, edificações, mobiliários e equipamentos urbanos
onde existem elementos acessíveis ou utilizáveis por pessoas com deficiência
ou com mobilidade reduzida. A aplicação deste símbolo deve ser
utilizada principalmente nos seguintes locais, quando acessíveis:

a) entradas;
b) áreas e vagas de estacionamento de veículos;
c) áreas de embarque e desembarque de passageiros com deficiência;
d) sanitários;
e) áreas de assistência para resgate, áreas de refúgio, saídas de
emergência;
f) áreas reservadas para pessoas em cadeira de rodas;
g) equipamentos e mobiliários preferenciais para o uso de pessoas com
deficiência.

É importante ressaltar que, para cada situação, outro símbolo


complementar pode ser empregado junto ao SIA.
A representação do Símbolo Internacional de Acesso consiste em um
pictograma branco sobre fundo azul (referência Munsell 10B5/10 ou Pantone
2925 C).

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Este símbolo pode, opcionalmente, ser representado em branco e preto
(pictograma branco sobre fundo preto ou pictograma preto sobre fundo branco),
e deve estar sempre voltado para o lado direito, permanecendo no padrão
anterior à atualização da norma.

Atualmente, após a atualização da NBR 9050, podemos utilizar esta


segunda forma de representação. A diferença é que o símbolo pode ser mais
encorpado, porém as outras características devem permanecer as mesmas, não
devendo haver nenhuma outra modificação, estilização ou adição ao
pictograma.

LEI N. 8.842/94

CAPÍTULO I

Da Finalidade

Art. 1º A política nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos


sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e
participação efetiva na sociedade.

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Inciso V do Artigo 10 da Lei nº 8.842 de 04 de Janeiro de 1994

Art. 10. Na implementação da política nacional do idoso, são


competências dos órgãos e entidades públicos:
V - Na área de habitação e urbanismo:
a) destinar, nos programas habitacionais, unidades em regime de
comodato ao idoso, na modalidade de casas-lares;
b) incluir nos programas de assistência ao idoso formas de melhoria de
condições de habitabilidade e adaptação de moradia, considerando seu estado
físico e sua independência de locomoção;
c) elaborar critérios que garantam o acesso da pessoa idosa à habitação
popular;
d) diminuir barreiras arquitetônicas e urbanas;

ADAPTAÇÕES AMBIENTAIS

INTRODUÇÃO

Estudos nacionais mostram que as quedas são prevalentes em idosos e


que a porcentagem é de 30% entre as pessoas com mais de 65 anos,
considerando-se o quantitativo de uma queda ao ano.
O evento da queda pode ser definido como um deslocamento não-
intencional do corpo para um nível inferior à sua posição inicial, com
incapacidade de correção em tempo hábil. Nesta perspectiva, até mesmo
desequilíbrios ou pequenas alterações não-intencionais de postura são
consideradas quedas, mesmo que o idoso não chegue ao chão.

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A etiologia, que é multifatorial, pode se dar em dois grandes grupos, os
fatores intrínsecos e os extrínsecos.
 Entre os fatores intrínsecos encontram-se as alterações
fisiológicas da velhice, o uso de medicamentos e as condições
patológicas.
 Entre os fatores extrínsecos, destacam-se os perigos
ambientais e os calçados e roupas inadequados.
O monitoramento destes fatores pode ser um diferencial nos indicadores
de quedas ambientais no domicilio e mesmo em instituições de longa
permanência. No âmbito domiciliar, a manutenção da nova estruturação do
ambiente é um grande desafio, visto que os arranjos familiares são comumente
geracionais, somado a questão comportamental e até mesmo cognitiva dos
idosos.
O uso de novas tecnologias também pode contribuir para a prevenção ou
mesmo para a diminuição dos danos recorrentes as quedas.
Estes dispositivos incluem:
 sensores de movimento e iluminação,
 camas baixas,
 cintos de cama,
 sistemas de adequação postural,
 transferência realizada por sistema de elevação, entre outros.

Vale ressaltar que estes dispositivos devem ser indicados por profissional
qualificado conforme cada caso ou necessidade. Esta problemática, crescente e
relevante em domicílios e instituições de longa permanência, se estende também
em ambientes hospitalares. Para controle dessa situação, atualmente pode-se
contar com a certificação Selo Hospital Amigos do Idoso, que consiste em uma
série de ações do governo paulista em benefício da terceira idade, conferida aos
Municípios/hospitais que cumpram exigências nesse sentido. Para a obtenção
do Selo, as cidades devem cumprir quatro etapas, nas quais estão contidas 40
ações entre eletivas e obrigatórias. Dentre elas: assinatura do Termo de Adesão;
ações obrigatórias para receber o Selo Inicial; ações obrigatórias e eletivas para
adquirir o selo intermediário e uma ação obrigatória para receber o Selo Pleno.

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Todas as ações estão previstas num plano de ação que contemplam
esses requisitos e devem ser seguidos minuciosamente.
O envelhecimento populacional é o fenômeno demográfico observado
atualmente no Brasil, desde meados do século XX, que tem sido expresso pelo
crescente aumento da expectativa de vida da população e do contingente de
idosos. As projeções indicam que até o ano de 2025 a população idosa no Brasil
corresponderá a mais de 32 milhões de pessoas.
De acordo com o mencionado por pesquisadores, com o aumento da
expectativa de vida dos brasileiros e sendo o envelhecimento um processo ativo,
houve um crescimento das doenças crônico-degenerativas e em decorrência, os
declínios funcionais. O prejuízo funcional, ou a dificuldade do idoso em
desempenhar tarefas da vida diária, aumenta o risco de acidentes com
consequente agravo do processo saúde-doença, altera a qualidade de vida,
interfere na autonomia e independência e pode levar ao isolamento social e até
mesmo a institucionalização.
Neste processo, o ambiente domiciliar e extradomiciliar exercem papel
fundamental na promoção da autonomia do idoso, como facilitador no exercício
das funções e na interação com o meio, porém, quando não adaptado às suas
necessidades, pode funcionar como uma barreira para o desempenho
satisfatório das atividades.

O PLANEJAMENTO DA ADEQUAÇÃO AMBIENTAL

O planejamento da adequação ambiental no domicílio, realizada pelo


terapeuta ocupacional, fundamenta-se no conhecimento do diagnóstico do
paciente, suas alterações clínicas e informações em relação à perspectiva de
evolução do quadro e prognóstico; o histórico de quedas e informações a
respeito do desempenho ocupacional e rotina. Para tal, é indicado que se aplique
uma escala de medida funcional para que se possa avaliar o impacto da
intervenção no ambiente na otimização da capacidade funcional do indivíduo,
considerando as habilidades que foram perdidas, as habilidades que estão
prejudicadas e as que se encontram preservadas.

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Em seguida, deve ser realizada uma análise dos ambientes acessados
pelo idoso para que se mantenha a característica do domicílio e que se modifique
o menos possível, valorizando a utilização do ambiente a todas as pessoas do
domicílio. Este processo inclui os locais onde o paciente circula, o mobiliário que
ele utiliza, as rotas que interligam os ambientes e o planejamento e a viabilização
do ambiente em casos de emergência.
Após estes dados, inicia-se o processo de avaliação ambiental, que
consiste na identificação das barreiras relacionadas aos objetos e dispositivos
necessários para o desempenho funcional e o nível de alcance; mobiliário;
segurança / risco de acidentes; circulação / espaço e pistas visuais e auditivas.
Realizada esta avaliação, obtêm-se dados suficientes para o
planejamento da adequação do ambiente, a exploração de alternativas de
facilitadores, o uso provisório das adaptações (caso possível); a aquisição das
adaptações ou modificações ambientais; o treino da utilização das mesmas e o
monitoramento das adequações.
A fundamentação teórica utilizada no processo de adaptação consiste na
ABNT 9050, os princípios do design universal, os conceitos da Classificação
Internacional de Funcionalidade (CIF) e a análise da atividade, ferramenta
utilizada pelo Terapeuta Ocupacional.
Adaptações estruturais e reformas na casa e/ou ambiente de trabalho,
com rampas, elevadores, adaptações em banheiros, entre outras, que retiram
ou reduzem as barreiras físicas, facilitando a locomoção da pessoa com
deficiência dependem de projetos arquitetônicos, respeito às medidas
antropométricas, considerações clínicas ou da deficiência da pessoa e
otimização de espaços e ambientes de interação. Ademais, a adaptação do
comportamento e do ambiente favorece a função, quer seja de interação com o
ambiente, quer seja para mobilidade.

Os termos técnicos mais utilizados na elaboração das adaptações são:

– Acessibilidade: possibilidade e condição de o portador de deficiência


alcançar e utilizar, com segurança e autonomia, edificações e equipamentos de
seu interesse.

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– Barreira arquitetônica ambiental: impedimento da acessibilidade ao
deficiente, representado por obstáculo natural ou resultante de implantações
arquitetônicas / urbanísticas.
– Parâmetros antropométricos: medidas referenciais consideradas de
adoção necessária e indispensáveis nas edificações e equipamentos de
interesse, para que possam torná-los acessíveis às pessoas deficientes.

OBJETIVOS

Quanto aos objetivos, podemos citar:


- Maior participação / Independência nas atividades cotidianas.
- Facilitar a relação do indivíduo com o ambiente, permitindo que ele
realize atividades de seu interesse.
Envolve barreiras ambientais e suportes ambientais para o desempenho
ocupacional, sendo influenciado por fatores sociais, culturais, econômicos,
institucionais, físicos e arquitetônicos. Parte de uma visão sobre a relação entre
a necessidade populacional e a necessidade individual.

Pontos importantes:
- Focos de Atenção da Equipe de Saúde
- Movimento livre e independente
- Inclusão social
- Legislação

AVALIAÇÃO

No processo de avaliação, deve-se atentar para:


- Fatores físicos (ambiente natural e construído)
- Adaptação
- Dinâmica de execução da atividade.
- Fatores sociais (relação familiar, vizinhança, comunidade, grupos
institucionais ou lideranças)

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- Fatores culturais (influência em atitudes e interesses, normas de
comportamento, tradições e definições de regras)
- Fatores de cidadania (aceitação da comunidade para as adaptações
ambientais)
- Fatores organizacionais (características ambientais e suas relações com
organizações e instituições - incluindo regras e leis).
O estudo de relação entre a habilidade pessoal e o contexto em que o
indivíduo estará inserido pode envolver:
– Arquitetos
– Cientistas sociais
– Antropólogos
– Design de interiores
– Bio-engenheiros
– Equipes de Saúde
(Parâmetros Antropométricos para acessibilidade: Medidas e padrões referenciais
básicos, segundo a Associação Brasileira de Normas e Técnicas – ABNT. Disponível em:
www.ufpb.br/cia/contents/manuais/ abnt-nbr9050-edicao-2015.pdf)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dessa forma, o Terapeuta Ocupacional na abordagem a diferentes


saberes, com profissionais em dinâmica de equipe, busca melhorar a
acessibilidade, prevenindo quedas e incluindo as pessoas em suas atividades
cotidianas. Isso se dá no princípio do conceito do design universal, onde os
produtos fabricados e os locais construídos devem ser de uso equitativo, flexível,
simples e intuitivo, com informações perceptíveis a todos, produtos de baixa
tolerância ao erro, com o mínimo desgaste físico, e com tamanho e espaço para
uso e alcance máximo dos usuários; e assim prover que todos os produtos,
ambientes e meios de comunicação atendam a maioria da população,
independente de gênero, idade, tamanho, desempenho funcional ou
incapacidade; esse conceito juntamente com as normas técnicas e uma
completa análise das atividades, levam a maior autonomia e independência
funcional, e consequentemente uma sociedade mais inclusiva.

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ADAPTAÇÕES DOMÉSTICAS

Desfrutar do conforto e do bem-estar da nossa própria casa é muito bom.


Porém, para as pessoas com deficiência nem sempre é possível usufruir do
ambiente doméstico, quando vivem em moradias não adaptadas às suas
necessidades.
Pensando nisso, a NBR 9050, norma técnica da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT), foca na acessibilidade de pessoas com deficiência ou
mobilidade reduzidas — além de idosos, obesos e gestantes — onde todos os
espaços, construções, mobiliários e equipamentos urbanos devem atender às
necessidades especiais dos indivíduos.
Felizmente, as pessoas com deficiência podem encontrar as
possibilidades de acessórios para as reformas de suas casas, o mercado
começa a oferecer uma gama de produtos que facilitam a utilização de
mobiliários e equipamentos fabricados para elas, como os mecanismos de
acionamento, superfícies texturizadas e dispositivos sonoros. Mas deve-se ter
atenção na hora de comprar os materiais, percebendo a normatização e as
certificações pelos órgãos competentes, como a ABNT.
Adaptar é pensar o espaço, é projetá-lo pensando nas pessoas,
tenham elas deficiência ou não. Atraente deve ser a relação criada pela
interação homem-espaço, que garanta a segurança e o conforto,
proporcionando a liberdade e a independência.

Uma das principais preocupações para que se garanta o bem-estar e a segurança das
pessoas com mobilidade reduzida é a aplicação de pisos antiderrapantes que garantam uma
aderência adequada mesmo no contato com a água.

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ADAPTAÇÕES DOMÉSTICAS PARA IDOSOS

Redução de até 40% acidentes

A última estimativa populacional do Brasil,


realizada no ano passado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que o
número de pessoas acima de 60 anos subiu cerca
de 50%. O percentual representa um crescimento de mais de 8,5 milhões de
pessoas nesta faixa etária. Ante esse aumento, surgem as adaptações em casas
e apartamentos ou até mesmo a construção de condomínios para atender a
terceira idade.
Estudos da Universidade de São Paulo (USP) concluíram que construir
moradias preparadas para receber e dar o conforto necessário aos idosos reduz
cerca de 40% dos acidentes domésticos. Dados do Ministério da Saúde mostram
ainda que 70% dos acidentes envolvendo pessoas acima de 60 anos acontecem
dentro das residências.
Ás vezes, basta um piso molhado ou um tapete solto para provocar uma
queda que causa ferimentos ou, no mínimo, um grande susto. Esse risco é maior
entre as pessoas idosas, que têm a mobilidade limitada e os reflexos reduzidos
conforme o avanço da idade, ou que podem sofrer de doenças que as fragilizam
fisicamente.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, um
terço da população acima dos 65 anos sofre pelo menos uma queda por ano,
proporção que aumenta com o envelhecimento. Tais acidentes podem ocasionar
lesões leves, contusões, torções ou até fraturas, além de provocar, no idoso, o
medo de cair novamente.
Adaptar a casa para essas limitações ou mesmo evitar o uso de objetos
que possam representar riscos ajuda a reduzir as chances de acidentes
domésticos envolvendo idosos. Confira algumas orientações para prevenir
quedas e outros incidentes.

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Sala adequada

A sala de estar costuma conter muitos móveis e objetos de decoração.


Um idoso com dificuldade de locomoção ou mesmo uma pessoa distraída
pode bater ou tropeçar em um desses itens, se ele estiver bloqueando a
passagem.
Tapetes irregulares também podem fazer o morador cair, então vale
minimizar as chances de que isso aconteça.

 Evite tapetes soltos


 Não deixe móveis fora do lugar habitual
 Garanta a área de passagem livre mesas de centro, plantas ou outros
objetos que possam representar obstáculos
 Mantenha fios elétricos e extensões bem afixadas, evitando que fiquem
soltos pelo caminho
 Prefira cadeiras e poltronas com apoio de braço

Sala e corredor:

 Organizar os móveis de maneira a deixar o caminho livre e evitar ter de


se desviar muito;
 Instalar interruptores de luz na entrada das dependências, para evitar
andar no escuro até conseguir ligá-los;
 Preferir interruptores que brilhem no escuro;
 Manter corredores, escadas e salas bem iluminados;
 Deixar sempre o caminho livre
de obstáculos;
 Tapetes, só se forem
antiderrapantes.

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Banheiro seguro

O banheiro é o local com maior ocorrência de acidentes graves, por causa


da umidade que torna o ambiente escorregadio.
Se o idoso puder contar com itens que deem mais aderência aos pés e
pontos de apoio para se segurar, ele deve se sentir mais confiante.

 Utilize um tapete antiderrapante na área de banho


 Instale barras de apoio nas paredes próximas ao sanitário e ao chuveiro
 Considere utilizar um assento removível para adequar a altura do vaso
sanitário
 Opte por um box resistente e de material inquebrável
 A cadeira de banho pode ser utilizada por quem tem equilíbrio mais
comprometido
 Banheiro seguro

Ter um banheiro adaptado para as necessidades que a idade exige pode deixar a vida
de idosos mais fácil e confortável. O medo de novas quedas leva o idoso a diminuir suas
atividades, provocando a síndrome da imobilidade. Imagem: Pinterest

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Cozinha acessível

Ter de subir em uma cadeira para alcançar algo guardado no armário mais
alto representa um grande risco, ainda mais para quem possui algum tipo de
limitação física. Adaptações no mobiliário ou mesmo na organização ajudam a
tornar a cozinha mais segura e prática para idosos.

 Ajuste as bancadas para uma altura de uso confortável


 Evite estocar alimentos ou louças em locais de difícil acesso
 Limpe imediatamente qualquer líquido que tenha sido derrubado no chão
 Mantenha os utensílios mais utilizados no dia a dia guardados em locais
mais acessíveis
 Ao cozinhar, evite o uso de panelas
pesadas, que podem cair e provocar
queimaduras
 Não deixe a cozinha sem se
certificar de que as chamas do fogão
estão apagadas

Quarto sem estresse

Manter os pertences acessíveis e os móveis compatíveis com as


características do idoso ajuda a garantir que ele tenha um bom descanso e, se
precisar se levantar à noite, que o faça em segurança.
 Utilize uma cama de altura confortável para subir e descer sem
dificuldades
 Mantenha armários e gavetas em alturas acessíveis e fáceis de abrir
 Utilize um colchão de densidade adequada para o seu peso e tamanho
 Colocar ao lado da cama: um abajur, um telefone e uma lanterna;
 Os armários devem ter portas leves e maçanetas grandes, para facilitar a
abertura;
 Instalar um sistema de iluminação e corrimãos entre a cama e o banheiro;
 Não deixar objetos espalhados pelo chão do quarto.

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Quarto adaptado para Idosos. Criador: Reinaldo Meneguim 11-9961-8791 Direitos
autorais: Reinaldo Meneguim/HORUS PHOTOGRAPH

Escada:

 Nunca deixar malas, caixas ou qualquer tipo de objeto nos degraus;


 Interruptores de luz devem estar instalados tanto na parte inferior quanto
na parte superior da escada;
 Uma outra opção é instalar sensores de movimento, que fornecerão
iluminação automaticamente;
 Manter uma lanterna guardada em algum lugar próximo em caso de
apagão;
 Jamais colocar tapetes no início ou no final da escada;
 Colocar tiras adesivas antiderrapantes em cada borda dos degraus;
 Instalar corrimãos por toda a
extensão da escada e em ambos
os lados.

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Cuidados para a casa toda

Mantenha antiderrapantes nas escadas e rampas

Instale corrimões nas escadas

Assegure-se de que os ambientes estejam bem iluminados e com


interruptores em pontos de fácil acesso

Evite encerar o chão ou utilizar outro produto que o deixe


escorregadio

Certifique-se de que não haja irregularidades no piso

Não sobrecarregue as tomadas

Mantenha o telefone em um local acessível, para utilizá-lo


facilmente em casos de emergência

Certifique-se de que as fechaduras abram por dentro e por fora

ADAPTAÇÃO DOMÉSTICA PARA PESSOA COM


DEFICIÊNCIA FÍSICA

Para pessoa com deficiência física, ou mora com alguém que é usuário
de cadeira de rodas, provavelmente já sabe que é necessário fazer algumas
adaptações na casa. Além de garantir a segurança e o conforto, os ajustes
também permitem mais autonomia para se locomover e realizar as atividades de
rotina.

25
Rampas

Para casas com garagem ou algum tipo de desnível, é muito importante


que haja uma rampa na entrada, afinal, escadas, ou mesmo um único degrau,
tornam impossível o acesso de quem está em uma cadeira de rodas. Em
decorrência disso, sobrados ou prédios sem elevador não são uma opção para
pessoas com deficiência física.
Para que a rampa seja segura, e a condução da cadeira de rodas ou
cadeira motorizada seja facilitada, é preciso seguir as normas da Associação
Brasileira de Normas Técnicas ABNT para construção de rampas de
acessibilidade.

Nivelamento de pisos
Muitas casas acabam apresentando um leve desnível entre os cômodos
quando há tipos diferentes de piso. No entanto, para que seja seguro circular
com a cadeira de rodas, é fundamental que o piso esteja todo perfeitamente
alinhado.
Uma boa ideia é utilizar em todos os ambientes o piso vinílico, que é
bastante versátil, resistente, e ainda é mais silencioso do que outras opções.
Evite também carpetes, que dificultam a locomoção, e tapetes, que podem sair
do lugar e causar acidentes.

Muito espaço para circulação


Para que seja possível se locomover sozinho e com conforto, é preciso
ter bastante espaço livre na casa. Assim, os móveis devem ser posicionados de
modo a proporcionar a maior área de circulação possível.
É importante que os corredores sejam largos, e que haja espaço de sobra
na cozinha, na sala e próximo à cama. Procure utilizar janelas e móveis com
portas de correr, que ocupam menos espaço.

Móveis com altura apropriada


Mesas, fogões, gavetas, camas, sofás e as demais peças de mobília
devem estar em uma altura adequada para quem está sentado na cadeira de

26
rodas. Assim, será possível ter mais independência nas tarefas, cozinhar e fazer
as refeições confortavelmente.
Leve em conta também o acabamento dos móveis — evite quinas, por
exemplo, e dê preferência pelas extremidades mais arredondadas, que não
causam ferimentos durante a locomoção.
Não se esqueça de que é preciso ter bastante espaço ao lado da cama,
para a hora de deitar, e também espaço junto a mesas, para que a pessoa na
cadeira de rodas possa se posicionar junto a elas.

Barras de apoio
As barras de apoio são fundamentais no banheiro, para que a pessoa com
deficiência possa utilizá-lo sozinha, tanto junto ao sanitário quanto dentro do box.
Além do banheiro, elas também podem ser instaladas em outros pontos
da casa, principalmente no quarto. As barras de apoio dão mais autonomia aos
movimentos e ajudam a evitar quedas.
Por ser um item de segurança, é imprescindível que a instalação da barra
seja feita por um profissional capacitado; ele pode garantir sua firmeza, se a
altura está correta e se ela atende às normas da ABNT.

Piso antiderrapante
O piso antiderrapante é uma das mais importantes adaptações; isso
porque muitas vezes é possível ficar de pé (como no momento de sair da cadeira
para a cama), mas um escorregão pode causar sérios acidentes.
Além disso, o piso adequado também torna mais cômodo e mais seguro
locomover-se na cadeira de rodas ou com andadores.
O ideal é utilizar piso antiderrapante em toda a casa, mas os locais mais
necessários são o quarto e as áreas da casa que costumam ficar molhadas,
como cozinha e banheiro.

Campainha de emergência
Uma das melhores maneiras de garantir a segurança de uma pessoa com
deficiência é certificar-se de que ela seja rapidamente socorrida caso haja algum
problema.

27
Por isso, instalar campainhas pela casa, posicionadas em local baixo e
próximo ao chão, é uma excelente ideia. Além disso, é importante que elas se
comuniquem com outros ambientes da casa.
As campainhas são simples de serem instaladas e fazem toda a
diferença. Elas também são regulamentadas pela norma da ABNT que trata
sobre a acessibilidade, a NBR9050:2015.

Cama motorizada
As pessoas com deficiência física passam muito tempo sentadas ou
deitadas; por isso, é importante alternar as posições para evitar dores, lesões e
até mesmo atrofia dos músculos.
Uma cama motorizada é uma boa maneira de garantir o conforto, pois ela
pode ser reclinada em vários ângulos, elevar a região das pernas e ter a sua
altura totalmente ajustada.
Para quem precisa de ajuda para se alimentar ou fazer a higiene pessoal,
a cama também é muito prática para o cuidador.

Banheiro confortável
Além de contar com barras junto ao sanitário e no box, e de ter piso
antiderrapante, o banheiro deve oferecer total comodidade.
Isso inclui, por exemplo, a instalação de uma pia de altura mais baixa, e
sem nenhuma mobília embaixo, para que a pessoa possa encaixar-se com a
cadeira de rodas por baixo dela na hora de usar.
Para quem sente mais dores devido ao frio, pode-se considerar instalar
um piso aquecido no banheiro. Embora não seja uma medida muito popular em
nosso país, pelo seu clima predominantemente quente, essa medida tem um
grande impacto no conforto.

Quintal em bom estado


Para quem mora em casa com quintal, é preciso levar em conta que ele
também seja seguro e confortável para a locomoção. Deixe bastante espaço
para circulação e faça reparos no piso ou concreto sempre que houver alguma
irregularidade.

28
Se a casa tiver um jardim, o ideal é que haja espaços sem grama ou raízes
de árvores aparentes, pois é muito difícil a locomoção com cadeira de rodas
nesse tipo de solo.
Aproveite o quintal para criar uma área para hobbies, como jardinagem,
espaço de leitura etc. Quem tem piscina em casa pode instalar um elevador
individual ao lado dela; afinal, atividades na água são uma ótima terapia para
pessoas com deficiência, desde que acompanhadas.

DEFICIÊNCIAS E TECNOLOGIA ASSISTIVA –


CONCEITOS E APLICAÇÕES

1 Evolução tecnológica no mundo moderno

Analise o ambiente ao seu redor e repare quanta tecnologia espetacular


existe bem aí perto de você, que está lendo este texto! O primeiro pensamento
poderia focalizar computadores, tablets, televisões e outros itens caros e de
extrema sofisticação, mas existe também tecnologia invisível a olho nu: a
eletricidade, a internet e os circuitos microeletrônicos, tudo isso operando de
forma sincronizada num filme lindo que você recebeu no celular, onde palavras
e imagens afagam seus ouvidos e olhos, mesmo que isso tenha acontecido num
tempo diferente do atual (GALVÃO, 2012). Há outras coisas ainda mais
estranhas como itens de tecnologia que você nunca parou para pensar: o piso
sintético, a água filtrada, as suas roupas, tudo isso é tecnologia ou fruto dela.
Artefatos de tecnologia existem para tornar as coisas mais fáceis, e isso
não quer dizer que todos eles visem ao bem (uma bomba atômica é um
exemplo), mas é ótimo pensar que a tecnologia tem sido responsável pelo
salvamento de muitas vidas, com diagnósticos por aparelhos quase mágicos
para visualização do interior do corpo, além de remédios e tratamentos que
curam doenças mortais há bem pouco tempo (BORGES, 2009). Até mesmo as
relações humanas se modificam quando computadores conectados em rede
viabilizam novas formas de comunicação, de trabalho e de consumo de bens e
serviços. Veja a Figura 1.

29
Figura 1 – Aluna com deficiência visual usando um computador para
escrever

Fonte: Acervo do Autor

Pela tecnologia talvez seus limites de ser humano desapareçam. Você


não tem asas, mas consegue voar com um avião ou uma asa delta. Você
conversa com seu amigo lá do outro lado do mundo, olhando seu rosto e ouvindo
sua voz, e, quem sabe, daqui a algum tempo, sentindo o perfume que ele está
usando. O seu sonho de consumo talvez seja um carro que obedece a sua voz
e estaciona sozinho. Não é preciso grande esforço para tomar consciência das
enormes influências que a tecnologia tem sobre nossa vida, e como ela se
amplifica e ganha mais possibilidades.
A tecnologia também tem o poder de nos equalizar. Por exemplo: em
termos de uma fábrica, qual a diferença entre um levantador de peso, que é
capaz de levantar 300 quilos com pequeno esforço, e um sujeito bem franzino,
exímio motorista de empilhadeira, que levanta o mesmo peso sem nenhum
esforço? Indo ainda mais longe, se esta pessoa não tiver pernas, ainda poderá
levantar os tais 300 quilos? Claro que sim, a empilhadeira eventualmente poderia
sofrer uma adaptação para eliminar os pedais e ser comandada por um joystick,
podendo assim ser operada por uma pessoa com esta grave deficiência.
Os limites são inimagináveis. Usando o mesmo raciocínio, torna-se óbvio
que uma pessoa que consiga controlar um computador só com o olhar (por
exemplo, usando uma interface Tobii para eyetracking) também conseguiria
levantar os tais 300 quilos, se este computador estivesse conectado a uma

30
empilhadeira adaptada convenientemente para isso. Estes exemplos são
parecidos, só que o índice de amplificação do potencial humano vai se tornando
cada vez mais e mais alto!
Isso me faz lembrar uma frase famosa, criada há muitos anos por Mary
Pat Radabaugh, antiga diretora do Centro Nacional de Apoio para Pessoas com
Deficiência da IBM, nos Estados Unidos, que hoje está um tanto desgastada pelo
uso, mas muito verdadeira:
“Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais
fáceis. Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis.”

Mas será que a tecnologia está ali, disponível para qualquer pessoa usar?
Esta empilhadeira adaptada existe no mercado? Um empresário compraria esta
empilhadeira robotizada para dar emprego a uma pessoa sem pernas?
O tempo vai passando e as tecnologias acabam por permear a vida de
um número cada vez maior de pessoas. Cada vez mais acesso, mais gente
usando. Será mesmo? Infelizmente a tecnologia nunca é gratuita e nunca é para
todos. Assim, a pessoa que não é deficiente mas não tem recursos financeiros
também não terá acesso às tecnologias.
Pela lógica vigente no mundo atual, para toda tecnologia que pode ser
produzida, é preciso que exista alguém que queira (e possa) obtê-la, e este fluxo
tem que resultar em lucro. Com isso em mente, temos que pensar nas questões
importantes de subsídios de cunho social e na existência de produtos voltados
para a distribuição em larga escala para pessoas sem recurso, em particular
aqueles que tenham deficiência.
Quando não há um equilíbrio mediado por ações honestas de política
pública, atrelada a medidas de cunho social, a evolução tecnológica acaba
contribuindo para o aumento do desequilíbrio econômico, em que os pobres
empobrecem mais, à medida que os ricos enriquecem mais.
Em resumo, não é tão importante o que a tecnologia representa, mas o
uso que fazemos dela.
Ou, dito de outra forma, e aproveitando as palavras de Melvin Kransberg
(1986):
A tecnologia não é boa nem é má, mas também não é neutra.

31
2 Conceitos teóricos sobre deficiência

A palavra “deficiência” foi por muito tempo associada à “enfermidade” e


“aflição”, bem como fenômenos como pobreza, feiura, fraqueza ou doença. No
imaginário popular, com frequência “deficiência” também compartilhou terreno
com termos como “monstruosidade” e “deformidade” – o primeiro possuindo
toques sobrenaturais e o último representando um tipo particular de feiura moral
e física.
Foi muito usada também a palavra “paralisia”, derivada da ideia de
alguém que se arrasta, numa tentativa de caracterizar várias deficiências físicas
que impediam ou dificultavam a mobilidade. Do mesmo modo, a
expressão “inválido” era associada a pessoas com uma ampla gama de doenças
ou situações físicas debilitantes. Ainda hoje algumas instituições guardam
resquícios desta época, por exemplo, ao rotular uma criança com deficiência
como “criança defeituosa”.
Pessoas com deficiência muitas vezes foram também exploradas como
“objetos curiosos”, em circos ou freak shows. Mesmo hoje, quando passa uma
linda mulher numa cadeira de rodas, muitas pessoas ainda olham curiosas,
como se beleza e deficiência fossem antônimos.
Figura 2 – Participantes de um Freak Show (Tod Browning e os
atores de Freaks) no início do século XX

Fonte: http://www.socialistamorena.com.br

32
Felizmente estas conotações tão pejorativas vão paulatinamente
perdendo sua força, e a palavra deficiência vai ganhando aceitação social,
mesmo que expressões discutíveis, como “criança especial”, ainda sejam
cunhadas e acabem por virar um modismo politicamente correto.
Concluindo esta primeira abordagem, é importante observar que a palavra
“deficiente” é usada de forma diferente:
 dependendo das diversas finalidades práticas ou teóricas;
 variando com as diferentes culturas e situações socioeconômicas;
 podendo se amoldar para ser compatível com a conveniência individual.

Um exemplo: uma pessoa cega de um olho pode querer que sua visão
monocular seja considerada legalmente como deficiência, a fim de ser
contemplada em reserva de vagas para as cotas de emprego; no entanto, a
mesma pessoa não quer ser considerada da mesma forma, quando almeja tirar
uma carteira de habilitação para dirigir caminhões.

Em termos oficiais e aceitos no mundo todo, a Organização Mundial de


Saúde define deficiência como a ausência ou a disfunção de uma estrutura
psíquica, fisiológica ou anatômica. Esta definição, portanto, se refere
exclusivamente à conformação biológica da pessoa, ou seja, algo que deveria
ser tratado por um médico, no sentido de tentar consertar (tratar, operar, colocar
uma prótese, etc.). Ela não leva em consideração que nosso valor como seres
humanos está muito mais relacionado com aquilo que fazemos, que produzimos,
que deixamos como legado.
Figura 3 – Beethoven

Fonte: http://miltonribeiro.sel21.com.br

33
O que é mais importante: o fato de Beethoven ter ficado surdo, ou de ter
composto (quando surdo) melodias de uma beleza transcendental? Quando eu
agrego a esse raciocínio algumas considerações sobre a origem etimológica da
palavra “deficiente” – cujas raízes latinas significam “sem eficiência” –, a ideia
central é que se eu obtiver eficiência, não sou deficiente…
As palavras importam, quando tentamos explicar o mundo. É preciso usar
as palavras corretas, escolhidas com muito critério. Nós sugerimos que você leia
um artigo de Romeu Sassaki que explica o uso correto de termos como “pessoa
com deficiência”, “necessidades especiais”, “deficientes” e muitas outras.
https://www.deficienteciente.com.br/necessidades-especiais.html

Modelos conceituais sobre deficiência

Até os anos 1940, a visão que se tinha sobre as pessoas com deficiência
era a menos favorável possível, dependentes da caridade, chegando ao limite
de exibição em freak shows (Ver Figura 2). Foi mais ou menos nesta época que
se estabeleceu o “modelo médico”, uma abordagem que define a deficiência
como “uma propriedade do corpo do indivíduo“. Neste modelo, o centro de
referência são os médicos, autoridades publicamente reconhecidas que se
preocupam com assuntos relacionados à etiologia, diagnóstico, prevenção e
tratamento de doenças físicas, sensoriais e cognitivas. Neste modelo, as
pessoas com deficiência são pessoas inerentemente inferiores que devem ser
curadas ou tratadas. Em outras palavras, são elas, e não a sociedade, que
precisam ser modificadas ou melhoradas.
A partir dos anos 1960-70, criaram-se novos conceitos sobre deficiência,
considerando que os indivíduos são extremamente afetados por fatores que não
estão no corpo, mas no mundo que nos cerca. Um bom ambiente adaptado de
trabalho, por exemplo, é muito mais importante do que o fato de a pessoa ter ou
não ter uma perna.
Esta abordagem recebe o nome de “modelo social” e desafia o modelo
médico, que é focado exclusivamente em um corpo individual que clama por
tratamento, correção ou cura. A partir da aceitação do modelo social,
estabeleceu-se que não é uma deficiência ou necessidade de ajuste do
indivíduo, mas sim as barreiras socialmente impostas que determinam o sucesso

34
ou insucesso da pessoa com deficiência na sociedade. Isso implica a
disponibilização ampla de locais acessíveis, transporte, meios de comunicação
adequados etc. O modelo social trata da eliminação de tais barreiras como uma
questão inalienável de direitos civis.
Muitos ativistas e ideólogos hoje em dia defendem um outro modelo, que
poderíamos denominar de “modelo cultural de deficiência”. Ele explora a
interface do organismo com deficiência com os ambientes em que o corpo está
situado. No modelo cultural a deficiência serve como uma identidade grupal, em
que as pessoas são parte do tecido mais amplo da diversidade humana, e como
um local de resistência cultural a concepções socialmente construídas de
normalidade. Por exemplo, muitas pessoas surdas se sentem parte de uma
“comunidade surda” e acham abjeta a hipótese de um implante coclear de
escutar, na medida em que a situação de surdez é por eles considerada uma
identidade cultural e linguística.
Todos estes modelos, que são considerados clássicos e bem
estabelecidos, hoje são contestados. Surgem novos modelos, como o “modelo
da interação simbólica”, que tentam contemplar a pessoa como protagonista,
em que “ao invés de ter um corpo, somos nossos corpos”. O fundamento
desta visão diferenciada é que há muitas situações de deficiência as quais
nenhuma mudança ambiental pode eliminar completamente. Por exemplo,
precisar de cuidados especiais, cuidadores e fisioterapia quando se tem
tetraplegia ou esclerose lateral amiotrófica é uma situação em que melhorias na
condição ou relação social nada podem oferecer.
Afinal, quem é deficiente, do ponto de vista conceitual? Não podemos
esquecer que “cada pessoa é uma pessoa”, sempre diferente das demais. Como
consequência, as manifestações de deficiência também são diferentes de
indivíduo para indivíduo, e o número de gradações da deficiência é infinito. Em
outras palavras: dependendo da situação, uma pessoa pode ser
convenientemente considerada ou não como uma pessoa com deficiência, e em
cada caso a classificação acaba por ser uma mistura de influências envolvendo:
 condições intrínsecas do corpo físico;
 designações segundo justificativas sociais ou jurídicas;
 identificação com aspectos culturais de comunidades;
 relações de dependência em relação a outras pessoas.

35
Figura 4 – Automóvel adaptado para cadeirantes

Fonte: http://www.portac.com.br

Hoje, existe um certo consenso de que a deficiência deva ser pensada


em termos de modificações na funcionalidade: sua presença exige que se
modifique a maneira de fazer as coisas, mas não impossibilita que sejam feitas.
Por exemplo, quando agregamos estratégias de acessibilidade ao mundo,
possivelmente com uso de tecnologia adequada, um cego conseguirá ler, um
cadeirante conseguirá se locomover e um surdo conseguirá se comunicar.

3 Uma breve taxonomia sobre as deficiências e suas


demandas

Uma classificação (ou mais do que uma) será sempre necessária, porém,
como existe enorme gradação entre as deficiências individuais, qualquer
classificação não será mais do que um referencial teórico impreciso! Mesmo
assim, este tipo de taxonomia, embora não reflita toda a verdade, ajuda a definir
e compreender que é possível utilizar critérios gerais de caráter mais ou menos
aproximado, visando obter primeiro uma compreensão global e, a partir dela,
estabelecer as características individuais, assim como realizar as adaptações
para suportá-las, seja por ações individuais, seja por políticas públicas.
Em termos gerais, a deficiência pode ser classificada em:
A. sensorial – referente aos sentidos como visão e audição;
B. física – referente aos membros e à mobilidade;

36
C. intelectual/mental – referente a efeitos da cognição e
comportamento.
Cada uma destas classificações tem subdivisões, como, por exemplo: a
deficiência sensorial se divide em visual e auditiva; por sua vez, deficiência visual
se divide em cegueira e baixa visão etc. Não é uma classificação perfeita, mas
tem sido utilizada amplamente em planejamento escolar e em aspectos da
legislação.

Nota sobre deficiência sensorial


Repare que, se pensarmos em “sentidos” usando o senso comum,
pensaremos em visão, audição, olfato, paladar e tato. Então, em princípio, se
alguém perde a sensibilidade nas mãos, deveria ser considerada uma “pessoa
com deficiência tátil”. Mas é raríssimo ver este tipo de situação relacionada nos
textos, não porque ela não exista, mas porque, estatisticamente, é muito menos
encontrada do que uma deficiência auditiva e também com impacto muito menor
sobre os indivíduos em sua vida diária.
Estabeleceremos a seguir uma breve correlação entre diversos tipos de
deficiências, suas principais subcategorias e demandas associadas.
Nota: este é apenas um resumo, veja nas leituras sugeridas como saber
mais sobre o tema, incluindo as diversas subcategorias, causas, tratamentos e
detalhes sobre as demandas específicas.

DEFICIÊNCIA E SUBCATEGORIAS DEMANDAS

Assistir aulas
Entender o que o professor está fazendo
DEFICIÊNCIA VISUAL
Acessar a leitura e escrita convencional
Cegueira
Dispor de material em Braille
Baixa visão
Ter ajuda na interpretação de gráficos
Receber orientação e se mover

Aparelhos de surdez
DEFICIÊNCIA AUDITIVA Aparelhos de amplificação de som
(transmissão FM) para a sala de aula

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Surdez profunda Necessidade de tradutor-intérprete de Libras
Deficiência auditiva média Alternativas para leitura de textos em
ou leve português* � ênfase em imagens
Incentivo ao domínio da leitura labial, mesmo
sabendo que é método limitado
*É muito difícil dominar a leitura de
textos em português, pois o método de
escrita é fonético (algo que é totalmente
inacessível para um surdo profundo) e não
simbólico, como a Língua de Sinais.

DEFICIÊNCIA FÍSICA
Paraplegia (mobilidade acima Acessibilidade física:
da cintura) Rampas, banheiros, portas largas etc.
Tetraplegia (mobilidade comprometida Mobilidade para ir e vir
em todo o corpo) Transporte urbano
Hemiplegia (mobilidade em um lado) Ajuda na higiene
Mutilação (falta de membro) Alguns precisam de cateterismo
Pessoas com graves deformidades Ajuda na alimentação
físicas

Ajuda com os espasmos e a


DEFICIÊNCIAS ASSOCIADAS
disreflexia
À DEBILIDADE FÍSICA
Cateterismo
Paralisia cerebral
Dificuldade de articular a fala
Distrofia muscular
Dificuldade na movimentação
Esclerose lateral amiotrófica
Reconhecimento de que seus aspectos
Síndrome de Rett
cognitivos podem estar totalmente OK

DEFICIÊNCIA
INTELECTUAL/COGNITIVA Comunicação
DM – deficiência mental Aprendizagem
Psicose Relacionamento
Esquizofrenia e outros

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Retardo mental
Síndrome de Down
Espectro autista

SUPERDOTAÇÃO
Indicação de que certa pessoa Conflitos sociais
tem “talentos ou habilidades fora de Bulling
série”

DEFICIÊNCIAS MÚLTIPLAS Comunicação


Surdez – cegueira Relacionamento social

DISTÚRBIOS DE
APRENDIZAGEM (que não são
classificados oficialmente como
deficiência)
Dislexia – dificuldade de
Estratégias educacionais específicas
expressar-se oralmente
Alternativas para leitura, escrita e
Disgrafia – dificuldade de expressar-se
comunicação em geral.
por escrita
Gagueira
Baixo nível de cognição.
TDAH – Transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade

4 Quantas pessoas com deficiência existem no Brasil


Nos últimos anos muitos números discrepantes têm sido divulgados pelos
censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com relação à
quantidade de pessoas com deficiência no Brasil. Diferentes metodologias
utilizadas nas entrevistas para aquisição de dados produziram em 2000 o
número de 14,5% de pessoas com deficiência e, em 2010, este número saltou
para quase 24%! Se isso fosse verdade, uma em cada quatro pessoas teria
deficiência no Brasil! Estes números tão altos e discrepantes criaram distorções
em projetos políticos, gerando, entre outras coisas, o planejamento de
investimento muito maior do que deveria ser.

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Entretanto, após ajustes no processo de entrevistas, e mudanças
metodológicas de avaliação, foram gerados números bem mais conservadores
na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS): 6,2% da população tem algum tipo de
deficiência. O levantamento foi feito pelo IBGE em 2013 em parceria com o
Ministério da Saúde, e os resultados, divulgados em 2015.

Figura 5 – População residente por tipo de deficiência – Brasil – 2010

Fonte: IBGE, Censo demográfico 2010.

Nota: Algumas pessoas declararam possuir mais de um tipo de deficiência. Por isso, quando
somadas as ocorrências de deficiências, o número é maior do que 45,6 milhões que representa
o número de pessoas, não de ocorrência de deficiência.

A Pesquisa Nacional de Saúde considerou quatro tipos de deficiências:


visual, física, auditiva e intelectual. Os principais dados obtidos, que podem ser
recuperados a partir do site do IBGE, são os seguintes:

A. Deficiência visual

A deficiência visual é a mais representativa e atinge 3,6% dos brasileiros,


sendo mais comum entre as pessoas acima de 60 anos (11,5%). O grau intenso
ou muito intenso da limitação impossibilita 16% dos deficientes visuais de
realizarem atividades habituais como ir à escola, trabalhar e brincar.
O Sul é a região do país com maior proporção de pessoas com deficiência
visual (5,4%). A pesquisa mostra que 0,4% são deficientes visuais desde o
nascimento e 6,6% usam algum recurso para auxiliar a locomoção, como
bengala articulada ou cão-guia. Menos de 5% do grupo frequenta serviços de
reabilitação.

40
B. Deficiência física
1,3% da população tem algum tipo de deficiência física e quase a metade
deste total (46,8%) tem grau intenso ou muito intenso de limitações. Somente
18,4% desse grupo frequenta serviço de reabilitação.

C. Deficiência intelectual
0,8% da população brasileira tem algum tipo de deficiência intelectual, e
a maioria (0,5%) já nasceu com as limitações. Mais da metade (54,8%) tem grau
intenso ou muito intenso de limitação, e cerca de 30% frequentam algum serviço
de reabilitação em saúde.

D. Deficiência auditiva
1,1% da população brasileira é portadora dessa deficiência. Foi o único
tipo que apresentou resultados estatisticamente diferenciados por cor ou raça,
sendo mais comum em pessoas brancas (1,4%) do que em negros (0,9%). Cerca
de 0,9% dos brasileiros tornaram-se surdos em decorrência de alguma doença
ou acidente, e 0,2% nasceu surdo. Do total de deficientes auditivos, 21% têm
grau intenso ou muito intenso de limitações, que compromete atividades
habituais.

Os percentuais mais elevados de deficiência intelectual, física e auditiva


foram encontrados em pessoas sem instrução e em pessoas com o ensino
fundamental incompleto.

5 Tecnologia Assistiva
Sem nos preocuparmos, a princípio, com definições precisas, vamos
chamar de Tecnologia Assistiva àquela que é destinada a pessoas com
deficiência. Não há dúvida, Tecnologia Assistiva ajuda muito e se torna
elemento-chave na vida das pessoas.
Segundo Rita Bersch (2017), “Tecnologia Assistiva é um termo utilizado
para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para
proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e
consequentemente promover sua vida independente e inclusão.”

41
Para a maioria das pessoas, Tecnologia Assistiva é uma especialidade
da informática e da engenharia que visa criar produtos com o objetivo de
melhorar a vida das pessoas com deficiência (como na Figura 3).
Não está errado totalmente, mas é muito mais que isso. Tecnologia não
é sinônimo de coisa cara nem de coisa comprada! Pode ser algo simples, algo
que certa mãe, pobre, mas criativa, inventa para seu filho, usando apenas
objetos reciclados e que funciona perfeitamente!

Figura 6 – Tecnologia de alta complexidade

Fonte: http://www.reab.com
Figura 7 – Tecnologia de baixa complexidade

Fonte: http://www.reab.com
Tecnologia Assistiva muda radicalmente a vida das pessoas com
deficiência. Podemos até dizer, metaforicamente, que um cego deixa de ser cego
quando a tecnologia invade sua vida. Ele caminha e se localiza com precisão, lê
com proficiência, reconhece ambientes, escreve sem dificuldade e assim por
diante. O mesmo raciocínio vale para quem é paraplégico e, através de uma
tecnologia específica, como uma cadeira de rodas motorizada, deixa de ter as
limitações de uma pessoa com deficiência física, por não poder andar, e passa
a poder correr.

42
O conhecimento tecnológico hoje é muito vasto, materiais se tornaram
mais disponíveis e baratos, e as possibilidades de construção usando motores e
controles computadorizados tornaram a tecnologia para pessoas com deficiência
mais fácil de desenvolver e produzir. A tecnologia também passou a ser
necessariamente adaptável e capaz de absorver as grandes diferenças que
existem nas pessoas que a utilizarão.
A quantidade e variedade de itens de Tecnologia Assistiva existentes hoje
é incomensurável.
É impossível fazer uma classificação de importância, na medida em que
uma adaptação criada por uma mãe pode ser tão relevante quanto o produto
robótico de última geração. Optamos assim por utilizar uma classificação criada
por Rita Bersch e José Tonoli, baseada em categorias comumente adotadas em
diversos países.

Exemplos de tecnologias assistivas

Auxílios para a vida diária


Materiais e produtos para auxílio
em tarefas rotineiras tais como comer,
cozinhar, vestir-se, tomar banho e
executar necessidades pessoais,
manutenção da casa etc.

Comunicação aumentativa
(suplementar) e alternativa
Recursos, eletrônicos ou não, que
permitem a comunicação expressiva e
receptiva das pessoas sem a fala ou com
tal limitação. São muito utilizadas as
pranchas de comunicação, além de
dispositivos para fala sintética.

43
Recursos de acessibilidade ao
computador
Equipamentos de entrada e saída
(síntese de voz, Braille), auxílios
alternativos de acesso (ponteiras de
cabeça, de luz), teclados modificados ou
alternativos, acionadores, softwares
especiais (de reconhecimento de voz etc.),
que permitem às pessoas com deficiência
usarem o computador.

Sistemas de controle de
ambiente
Sistemas eletrônicos que permitem
às pessoas com limitações
motolocomotoras controlar remotamente
aparelhos eletroeletrônicos e sistemas de
segurança, entre outros, localizados em
seu quarto, sala, escritório, casa e
arredores.

Projetos arquitetônicos para


acessibilidade
Adaptações estruturais e reformas
na casa e/ou ambiente de trabalho,
através de rampas, elevadores e
adaptações em banheiros, entre outras,
que retiram ou reduzem as barreiras
físicas, facilitando a locomoção da pessoa
com deficiência.

44
Órteses e próteses
Troca ou ajuste de partes do corpo,
faltantes ou de funcionamento
comprometido, por membros artificiais ou
outros recursos ortopédicos (talas, apoios
etc.). Incluem-se os protéticos para
auxiliar nos déficits ou limitações
cognitivas, como os gravadores de fita
magnética ou digital que funcionam como
lembretes instantâneos.

Adequação postural
Adaptações para cadeira de rodas
ou outro sistema de sentar visando ao
conforto e à distribuição adequada da
pressão na superfície da pele (almofadas
especiais, assentos e encostos
anatômicos), bem como posicionadores e
contentores que propiciam maior
estabilidade e postura apropriada do corpo
através do suporte e posicionamento de
tronco/cabeça/membros.

Auxílios de mobilidade
Cadeiras de rodas manuais e
motorizadas, bases móveis, andadores,
scooters de 3 rodas e qualquer outro
veículo utilizado na melhoria da
mobilidade pessoal.

45
Auxílios para cegos ou com
visão subnormal
Auxílios para grupos específicos
que incluem lupas e lentes, Braille para
equipamentos com síntese de voz,
grandes telas de impressão, sistema de
TV com aumento para leitura de
documentos, publicações etc.

Auxílios para surdos ou com


déficit auditivo
Auxílios que incluem vários
equipamentos (infravermelho, FM),
aparelhos para surdez, telefones com
teclado — teletipo (TTY), sistemas com
alerta táctil-visual, entre outros.

Adaptações em veículos
Acessórios e adaptações que
possibilitam a condução do veículo,
elevadores para cadeiras de rodas,
camionetas modificadas e outros veículos
automotores usados no transporte
pessoal.

Para concluir, é importante exibir a definição brasileira oficial de


Tecnologia Assistiva, emitida pelo Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) da Corde
(Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência):
Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica
interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias,
práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à
atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou

46
mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida
e inclusão social.

É importante notar que esta definição fala claramente que serviços são
um tipo de Tecnologia Assistiva. Esta decisão do CAT é coerente com as
definições utilizadas em outros países e tem como premissa o fato de que os
equipamentos, por si só, não produzem resultados adequados; só são obtidos
através dos serviços profissionais especializados, que devem ser colocados
como parte indissociável dos itens físicos de tecnologia.

6 Como a Tecnologia Assistiva se aplica ao mundo da


pessoa com deficiência

Para cada evolução tecnológica assimilada, a vida da pessoa com


deficiência muda. A influência é tão grande que é como se os artefatos
tecnológicos passassem a fazer parte da própria pessoa. O ser “deficiente
tecnologizado” tem mais poder. E isso faz toda a diferença para ele, para sua
família e seus amigos, no trabalho, e para toda a sociedade (SONZA et al.,
2011).
Está tudo muito melhor hoje para quem tem deficiência. Há alguns anos,
as perspectivas de vida de alguém nesta situação seriam de grande
dependência. Sempre era necessário alguém para suprir as dificuldades, e o
potencial de desenvolvimento da pessoa tornava-se bastante limitado.
Entretanto, hoje, com a ajuda de um número muito grande de dispositivos
mecânicos e eletrônicos, de computadores e de muitas invenções, quase todas
as pessoas com deficiência conseguem superar suas limitações e adquirir certo
grau de eficiência, como mostrado na Figura 4.
Quanto mais a Tecnologia Assistiva evolui, maior se torna esta eficiência,
e a evolução parece não ter fim! Hoje, por exemplo, um cego pode ler através
de um programa de computador; um tetraplégico pode se locomover sozinho
com uma cadeira de rodas motorizada; um amputado pode correr com pernas
metálicas especiais (DIAS et al., 2013).

47
Figura 8 – Pessoa amputada correndo

Fonte: http://passofirme.wordpress.com

A tecnologia nos faz transcender as nossas limitações. Não temos todos


os mesmos limites, mas a tecnologia nos equaliza. Ela não vai conseguir
transformar a pessoa com deficiência em alguém sem deficiência. Mas é quase
certo que, se ela for dominada e bem utilizada, vai transformá-la em uma pessoa
eficiente.

7 A inclusão escolar e o acesso à Tecnologia Assistiva na


escola pública
Figura 9 – A escola é para todos

Fonte: http://www.comunidadeviaduto.com.br

No Brasil, durante os anos 1980, houve importantes movimentos das


pessoas com deficiência, pela defesa de direitos, entre os quais se destacavam
a acessibilidade, a educação e a inclusão social. Caravanas de pessoas com
deficiência se deslocaram para Brasília, participando de comícios e passeatas,

48
em busca de um diálogo com os legisladores, em particular com aqueles
responsáveis pela redação da Constituição de 1988.
Por conta destas ações, foi agregado artigo na Constituição que dá
sustentação de inserção das pessoas com deficiência na rede regular de ensino
– complementando o artigo 5º, que garante expressamente o direito de todos
à educação.

Art. 208 – O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:

III – atendimento educacional especializado aos portadores de


deficiência, preferencialmente, na rede regular de ensino.
A partir da década de 1990, como resultado da participação do país em
diversas conferências internacionais, o Brasil assinou vários tratados,
preconizando os princípios de educação para todos, em particular das pessoas
com deficiência, num modelo de inclusão escolar, segundo o qual.
As escolas devem acomodar todas as crianças, independentemente
de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas
ou outras.
No modelo de inclusão, todas as pessoas devem ter acesso ao sistema
de ensino de modo igualitário. Não é tolerado nenhum tipo de discriminação, seja
de gênero, etnia, religião, classe social, condições físicas e psicológicas etc. A
filosofia da inclusão reconhece e valoriza a diversidade, considerando que
através dela a sociedade se enriquece em experiências, e que isso gera
crescimento de oportunidades – leia-se enriquecimento social.
A inclusão se tornou um movimento mundial de luta das pessoas com
deficiências e de seus familiares na busca dos seus direitos e lugar na
sociedade. No modelo de inclusão escolar existe a integração dos alunos com e
sem deficiência nas salas de aula regulares, compartilhando as mesmas
experiências e aprendizados (MANTOAN, 2003).

Importante: A inclusão escolar não deve ser confundida com


escolarização especial, que atende aos portadores de deficiência em escolas ou
salas de aula separadas, formadas apenas por crianças com deficiência. Ela

49
prevê a integração desses alunos em classes de aula regulares, compartilhando
as mesmas experiências e aprendizados com os outros estudantes.

No Brasil, a inclusão escolar não é decisão da escola ou do professor: é


lei a ser obedecida. Um gestor ou professor que se recuse a receber uma criança
com deficiência para inclusão numa classe regular estará cometendo um crime
punível com 2 a 5 anos de reclusão.
É lei, mas não é nada fácil de implementar: os alunos com deficiência têm
necessidades específicas, muitas vezes exclusivas para suas limitações, o que
implica investimento e remanejamento de atividades, sem contar com o tempo
adicional a ser gasto, que é necessário para atender convenientemente a cada
aluno com deficiência.
Muitos destes problemas são de gestão, mas é ao professor que cabem
as tarefas mais demandantes: receber o aluno, resolver os problemas
associados à sua presença e organizar as estratégias diferenciadas de ensino,
como modificações na forma de apresentação, adaptações no material didático,
adequação do tempo e critérios diferenciados de avaliação. (SANTOS;
SANTIAGO; MELO, 2016).
Existe sempre um custo envolvido nisso, e haverá sempre quem diga que
“seria melhor usar este dinheiro para privilegiar a maioria do que para atender a
uns poucos”, uma lógica economicamente justificável, mas do ponto de vista
humanitário, muito discutível (DIAS et al., 2016).

Figura 10 – A Tecnologia Assistiva é ensinada no AEE

Fonte: http://www.escolascreches.com.br

Não é, portanto, de se espantar, que a escola busque ansiosamente por


soluções de Tecnologia Assistiva. Do ponto de vista organizacional, com base

50
na Lei nº 6.571/08, a viabilização do uso de Tecnologia Assistiva no ambiente
escolar é uma das funções do que se denomina Atendimento Educacional
Especializado (AEE). Um serviço da educação especial que identifica, elabora e
organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, os quais eliminem as
barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades
específicas.
Dependendo da situação individual, o AEE definirá o tipo de Tecnologia
Assistiva, o que inclui programas de computador e equipamentos
especializados.
Os alunos com deficiência têm aulas complementares em contraturno no
AEE, em salas especiais, chamadas “Salas de Recurso Multifuncioniais”, que
são equipadas com diversos itens de Tecnologia Assistiva. Nelas se prepara e
disponibiliza material pedagógico acessível, se ensinam Braille e a Língua
Brasileira de Sinais (Libras), se disponibilizam recursos de Tecnologia Assistiva,
incluindo acessibilidade ao computador, se promovem atividades relativas à
orientação e mobilidade, se disponibilizam mecanismos para comunicação
alternativa etc. (DIAS et al., 2015).
Nota: Dadas as dificuldades que um professor pode ter, quando
necessário, um mediador poderá ser contratado ou alocado para ajudar o
professor no atendimento ao aluno com deficiência na sala de aula, mas isso na
prática não é muito comum.

8 Principais produtos de Tecnologia Assistiva no Brasil


Existem muitos produtos de Tecnologia Assistiva sendo distribuídos hoje
no Brasil, desde pequenos dispositivos mecânicos, aparelhinhos eletrônicos até
caríssimos equipamentos para uso em escolas, institutos de reabilitações e
hospitais. Há diversas adaptações para automóveis, ônibus, máquinas e
equipamentos. E há também softwares, em razoável quantidade, para desktops,
celulares e tablets.
Vivemos hoje num momento em que já houve grande evolução no Brasil
na área do atendimento às pessoas com deficiência por meio da tecnologia.
Diversos artefatos e softwares foram criados em vários lugares do mundo,
trazidos para cá e aplicados, com ou sem sucesso.

51
Mostraremos a seguir alguns produtos e representantes de Tecnologia
Assistiva no Brasil. Não são os únicos, mas são os mais conhecidos. Na área de
produtos para deficiência visual, existe a proeminência da Civiam, da Laratec e
da TecAssistiva, formando um pequeno corpo de empresas que domina grande
parte do mercado nacional. Elas estão muito associadas à venda de produtos
importados.
Na área de produtos para deficientes físicos a principal fabricante é
a Polior, que realiza exportações para Espanha e Reino Unido. Outra grande
produtora é a brasileira Expansão, que produz e comercializa os produtos
patenteados Tuboform. Na área de cadeiras de rodas e outros dispositivos
mecânicos, há uma grande quantidade de fabricantes. As maiores são
a Freedom, a Ortobras, a Jaguaribe e a Ortomix.
Seria antiético fazer deste texto uma propaganda de produtos de
empresas comerciais. Optamos, portanto, por sermos o mais genéricos possível,
mostrando, para diversos tipos de deficiência, um apanhado sobre os principais
produtos disponíveis e utilizados amplamente no Brasil. Demos ênfase aos
produtos gratuitos, quase todos originários do trabalho do Laboratório de
Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva do Instituto Tércio Pacitti
da UFRJ (Lab. TecnoAssist – NCE/UFRJ).

Figura 11 – Professores e alunos de cursos do Laboratório


TecnoAssist

Fonte: Acervo do Autor

52
8.1 Produtos para deficiência visual
Figura 12 – Dosvox, um dos programas mais usados no Brasil

Fonte: Acervo do Autor

Até a década de 1980, a Tecnologia Assistiva para cegos no Brasil era


restrita a máquinas de grande porte para impressão Braille, presentes no
Instituto Benjamin Constant (RJ) e na Fundação Dorina Nowill (SP). A partir dos
anos 1990, entretanto, as pesquisas do NCE/UFRJ geraram a semente para o
desenvolvimento de diversos itens da tecnologia brasileira para apoio às
pessoas com deficiência visual. Em sequência diversas empresas se
estabeleceram, representando no país produtos especialmente dos Estados
Unidos e do norte europeu.
Os principais produtos do mercado hoje são:
A. Dosvox: é um dos sistemas de computação para pessoas com
deficiência mais utilizado no Brasil. Seu objetivo principal é permitir que pessoas
cegas usem o computador através de uma interface trivial, cujos comandos são
feitos por letras do teclado ou pelas setas, e o feedback, dado por síntese de
voz.
B. Leitores de tela: são produtos capazes de sintetizar em voz os
textos escritos na tela. Os softwares realizam a seleção dos elementos a ler
através de teclas ou do movimento do mouse. Os principais leitores de tela
usados no Brasil são o NVDA (gratuito), o Virtual Vision (gratuito para pessoas
físicas) e o Jaws (software comercial para Windows), o Orca (gratuito para
Linux) e o VoiceOver (gratuito para Mac).

53
C. Leitores de tela para smartphones e tablets: destacam-se
o TalkBack (embutido no Android) e o VoiceOver (para iPhone). Ambos utilizam-
se de técnicas de interação através do movimento do dedo sobre a tela de vidro
do aparelho, com o correspondente feedback auditivo.
D. Sintetizadores de voz: são dispositivos ou softwares usados para
traduzir texto em sons aproximados da fala humana. Destacam-se
o LianeTTS (gratuito, para Dosvox e Linux, desenvolvido em parceria com o
Serpro) e diversos produtos comerciais produzidos em empresas multinacionais,
destacando-se o Nuance Raquel e o IBM Eloquence como os sintetizadores
mais usados pelas pessoas cegas.
E. Leitores de textos: os dois principais programas para leitura através
da síntese de voz de textos digitais (formato Daisy e e-pub) para cegos são
o Dorina Daisy Reader, distribuído pela Fundação Dorina Nowill, e
o MecDaisy (mais simples), distribuído pelo MEC. Há também equipamentos
específicos para leitura importados, como o VictorReader, entre outros.
F. Impressoras Braille: – as impressoras Braille são essenciais para
a rápida conversão de todo tipo de texto eletrônico para o Braille, o formato de
escrita e leitura tátil utilizado por cegos e surdocegos. São empregadas para uso
pessoal, imprensas Braille, escolas, universidades e empresas. São
equipamentos grandes, barulhentos e muito caros. Os principais produtos
vendidos no Brasil são produzidos pelas companhias Index e Viewplus (Tiger),
com diversos representantes no país.
G. Braille Fácil: –é um programa gratuito que permite que a criação
de uma impressão em Braille seja realizada com um mínimo de conhecimento
da codificação braille.
H. Linha Braille, ou Display Braille: é um hardware que exibe
dinamicamente em Braille a informação da tela ligada a uma porta de saída do
computador.
I. Ampliadores de imagens ou lupas eletrônicas: são dispositivos
capazes de ampliar textos e imagens em papel para uso por pessoas com baixa
visão. Existem muitos produtos no mercado com diferentes capacidades e
potencialidades. Destacamos os produtos brasileiros da Terra Eletrônica e
diversos produtos importados.

54
J. Óculos com reconhecedor de imagens: o Orcam MyEye é um
produto que permite o reconhecimento de faces, objetos e textos, reproduzindo
em síntese de voz a descrição do que a pessoa aponta com o dedo.

8.2 Produtos para deficiência física

Figura 13 – Prancha elevatória para pessoa com deficiência motora

Fonte: Acervo do Autor

Existem no mercado muitos tipos de adaptações para pessoas com


deficiência física, que vão desde itens arquitetônicos, acessibilização de
transporte, rampas e elevadores, complementos para acessibilização de
ambientes até pequenos artefatos de vida diária. São centenas de empresas
especializadas em cada tipo de equipamento.
Destacamos aqui a tecnologia computacional para deficiência motora,
sendo a maioria produtos gerados no NCE/UFRJ ou baseados em suas
pesquisas, e que são usados, respectivamente, nas situações de tetraplegia e
nas situações em que a fala estiver comprometida.

Figura 14 – Sistema Motrix, acionado pela voz

Fonte: Acervo do Autor

55
Alguns destes softwares:
A. Motrix: é um software que permite a pessoas com deficiências
motoras graves, em especial tetraplegia e distrofia muscular, terem acesso a
microcomputadores.
B. Xulia: é um software de reconhecimento de voz que substitui
completamente o uso do teclado e do mouse.
C. MicroFênix: se destina a facilitar o uso do computador pelos
portadores de deficiência física grave que não usam os membros superiores
ativamente e também não falam. Estas pessoas controlam o computador através
de pequenos ruídos ou murmúrios, do uso de acionadores ou do movimento
ocular (em conjunto com o hardware Tobii).

8.3 Produtos para Comunicação Alternativa

Figura 15 – Software Prancha Fácil

Fonte: Acervo do Autor

A comunicação alternativa destina-se a pessoas sem fala ou sem escrita


funcional ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e a habilidade
de falar e/ou escrever (PELOSI; BORGES, 2015).
A. Prancha Fácil é um software que pode ser usado como um sistema
de comunicação alternativa para crianças, jovens e adultos em diferentes
contextos, como a casa, a escola, o hospital, espaços culturais e muitos outros.

56
B. Livox é um software brasileiro para comunicação alternativa em
tablets. É bastante poderoso, não precisa de Internet e permite a edição e
execução de pranchas com grande qualidade em várias línguas e diversas
facilidades de interação. Seu uso é indicado para inúmeras deficiências,
incluindo paralisia cerebral e autismo severo.

8.4 Produtos para deficiência auditiva

A. Dicionários de línguas de sinais: o mais conhecido é o do Instituto


Nacional de Educação de Surdos (INES), criado pela ONG Acessibilidade Brasil.
B. Hand Talk e ProDeaf: dispositivo para smartphones e tablets que
tomam um texto falado ou digitado e produzem sua tradução para Libras, usando
avatares animados de computação gráfica.
C. VLibras: uma suíte de ferramentas empregadas na tradução
automática do Português para a Língua Brasileira de Sinais. É possível utilizar
essas ferramentas tanto no computador desktop quanto em smartphones e
tablets.

8.5 Produtos distribuídos pelo SUS

O Sistema Único de Saúde oferece gratuitamente equipamentos


sensoriais e de locomoção ao brasileiro com deficiência. O SUS presta
atendimento em diversas especialidades, como:
A. oftalmologia (com a oferta de lupas, lentes e óculos especiais para
determinadas enfermidades);
B. otorrinolaringologia (com aparelhos auditivos e de amplificação da
voz);
C. ortopedia (com cadeiras de rodas, muletas, palmilhas e próteses
de membros inferiores e superiores), entre outras.

Nota: As órteses e as próteses são o maior mercado de Tecnologia


Assistiva do Brasil.

57
9 Como ter acesso à Tecnologia Assistiva

Figura 12 – Obter Tecnologia Assistiva não é algo simples

Fonte: Internet

Entre as inúmeras possibilidades existentes, é preciso escolher a


tecnologia mais adequada a cada caso. E, para escolher, é preciso conhecer.
Mas, como conhecer se são tantos tipos? Primeiro é preciso identificar quais são
as necessidades relativas à deficiência em questão. O problema inicial é saber
os detalhes da deficiência para tentar moldar uma solução. E solução não
significa necessariamente comprar algo. Pode ser algo fácil de criar, uma coisa
simples, de baixa tecnologia, que é criada pela família, por um amigo, ou pelo
professor, mas uma solução que pode ser muito criativa e fazer toda diferença.
Claro que pode ser algo caríssimo, de alta tecnologia, mas aí é preciso pensar
bem, para não jogar dinheiro no lixo.
Grosso modo, existem três categorias de implementação de Tecnologia
Assistiva: adaptações físicas ou órteses, adaptações de hardware e softwares
especiais de acessibilidade. Em todos os casos encontramos recursos tanto de
alta tecnologia (high-tech), quanto de baixa tecnologia (low-tech). Dependendo
do tipo de problema do indivíduo com deficiência, muitas vezes high-tech e low-
tech se misturam e são usados de forma interdependente.
A questão é “o que comprar?”. Esse é um imenso problema para a família,
estrutura fundamental na educação dos filhos, e ainda mais relevante quando se
trata de filhos com deficiência. A família deve adquirir os conhecimentos
necessários para definir, junto com uma equipe de profissionais – que pode
incluir médicos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais –, a escolha da melhor
tecnologia que atenderá seu problema específico.

58
Tecnologia Assistiva é coisa séria e algo que tem que ser escolhido
corretamente, na medida em que é uma das principais chaves para a
amplificação do potencial da pessoa com deficiência. Por outro lado, em geral
os familiares conhecem profundamente o problema, a organização do ambiente
e as questões financeiras que se relacionam à tecnologia a ser usada. Então, é
importante dar à família um papel decisório nestas escolhas.
Um ponto muito positivo é a existência hoje de uma enorme quantidade
de tecnologia que pode ser conseguida de forma gratuita. Há muitos produtos
baseados em tecnologia computacional gerados em universidades e centros de
pesquisa, com financiamento direto do governo ou como resultado de pesquisas.
De todo modo, a busca é sempre muito complexa e, por vezes, frustrante
devido ao tempo gasto para se chegar próximo daquilo que precisamos.

Resumo
É indiscutível que a tecnologia traz inúmeros benefícios para pessoa com
deficiência, proporcionando que seu potencial humano seja aproveitado muito
melhor. A pessoa com deficiência, por meio do uso da tecnologia, se torna um
“indivíduo equalizado ou amplificado” e pode ter um desempenho comparável
(em algumas áreas) ao de uma pessoa sem deficiência.
Infelizmente, num mundo extremamente demandante e mutável como o
que vivenciamos hoje, a perspectiva de inclusão das pessoas com deficiência
não é tão promissora como se deveria supor. Ocorre um fenômeno, que
poderíamos denominar de “meta móvel”, no qual, na medida em que a pessoa
com deficiência sobe de patamar na sua eficiência, a sociedade em pouco tempo
desconsidera a vitória e apresenta novos alvos, num processo contínuo.
Por exemplo, uma pessoa cega consegue, com o uso do computador, ler
e escrever de forma compatível com a escrita convencional, mas em pouco
tempo a sociedade lhe cobra que desenhe. Quando, através de uma nova
tecnologia, ela consegue desenhar, então é cobrada agora que saiba combinar
cores… A sociedade não quer equalizar quem tem uma deficiência com quem
(pretensamente) não a tem. Esse processo pode ser visto como um antimodelo
social, em que a pessoa passa de novo a ser julgada pelo que não tem, e não
pelo que é capaz de gerar para a sociedade.

59
Este não é um tema para causar desânimo, mas algo verdadeiro que tem
que ser enfrentado. Não há uma fórmula mágica; para isso existem leis que
podem defender a pessoa contra um mundo que é selvagem e insensível aos
problemas individuais. Estas leis de proteção têm que ser baseadas na
valorização das pessoas com deficiência, defendendo-as e promovendo-as com
a premissa de que o que é mais importante não é focar no que a pessoa não é
capaz de fazer, mas sim no que ela tem condição de realizar, com o princípio de
que é necessário estabelecer condições adequadas de acessibilidade, para que
seja possível amplificar ao máximo os potenciais de cada indivíduo.

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REFERÊNCIAS

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