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Terapia ocupacional e adaptações para

auxílio nas atividades de vida diária :


considerações sobre a prescrição e confecção
a partir de materiais de baixo custo

Prof. Jorge Lopes Rodrigues Júnior


Terapeuta Ocupacional
Tecnologia Assistiva
É uma área do conhecimento, de característica
interdisciplinar, que engloba produtos, recursos,
metodologias, estratégias, práticas e serviços que
objetivam promover a funcionalidade, relacionada a
atividade e participação, de pessoas com deficiência,
incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua
autonomia, independência, qualidade de vida e
inclusão social.
(COMITÊ DE AJUDAS TÉCNICAS,2008)
Tecnologia Assistiva
São recursos tecnológicos, dispositivos ou utensílios
desenvolvidos com a finalidade de auxiliar indivíduos
que apresentam algum tipo de déficit funcional ou
necessidade especial, favorecendo uma maior
independência para realizar suas tarefas cotidianas,
tais como: lazer, trabalho ou de vida diária,
promovendo satisfação, bem-estar e cidadania.

(RODRIGUES,2007)
Tecnologia Assistiva x Terapia Ocupacional
A Terapia Ocupacional busca auxiliar pessoas a
realizarem as atividades do cotidiano que são
relevantes para elas a despeito do seu déficit,
incapacidade ou desempenho.
O foco principal do tratamento terapêutico
ocupacional tem sido aumentar a independência e a
função do cliente em todas as atividades que tem um
significado, buscando oferecer uma melhor qualidade
de vida

(RODRIGUES; CAVALCANTI; GALVÃO,2007)


Tecnologia Assistiva x Terapia Ocupacional
O terapeuta ocupacional é o profissional que, tendo
tido formação para analisar a atividade humana em
condições atípicas de desenvolvimento, é capaz de
explorar ao máximo o potencial do indivíduo no seu
desempenho funcional/ocupacional e, por isso
mesmo, pode desenvolver, indicar e aplicar artigos de
tecnologia assistiva com maior competência e eficácia.

(GOLLEGA; LUZO; DE CARLO,2002)


Tecnologia Assistiva x Terapia Ocupacional
Cabe a este profissional, como um especialista no uso
de órteses e adaptações no desempenho de tarefas
ocupacionais, a maior responsabilidade pela
recomendação dos recursos apropriados, testes e seu
uso, bem como pela seleção, planejamento e
fabricação dos mesmos

(DESHAIES,2005)
Tecnologia Assistiva x Terapia Ocupacional
A Terapia Ocupacional utiliza-se da arte e da ciência
para auxiliar pessoas, com debilidade, incapacidade ou
deficiência a realizarem suas atividades diárias, sendo
essas importantes para o homem como um ser
inserido em um contexto sócio-econômico.
O terapeuta ocupacional trabalha com pessoas de
todas as idades, podendo pertencer a diversos grupos
sócio-econômicos e culturais e experimentar uma
variedade de problemas de saúde.

(NEISDAT; CREPEAU,2002)
Categorias de Tecnologia Assistiva

Comunicação Aumentativa, Alternativa e Suplementar;


Recursos de Acessibilidade ao Computador;
Adequação Postural;
Auxílio de Mobilidade e Cadeira de Rodas;
Sistema de Controle Ambiental;
Projetos Arquitetônicos para Acessibilidade;
Recursos para Cegos ou para pessoas com visão sub-normal;
Recursos para Surdos ou pessoas com déficits auditivos;
Adaptação Veicular;
Órtese e Prótese;
Auxílio para Atividades de Vida Diária(AVDs);
Adaptações;
Atividades de vida diária
Referem-se ao auto cuidado e permitem que o indivíduo
responda por si só no espaço do seu lar envolvendo atividades
como alimentação, locomoção, higiene e vestuário.
(NERI,2005)
Equipamentos adaptativos são ferramentas importantes para o
terapeuta ocupacional. Estes equipamentos, tais como algumas
adaptações e modificações do ambiente, aumentam o nível de
independência e funcionalidade do nosso paciente.
É importante que o terapeuta esteja constantemente observando
catálogos e usando sua criatividade para elaboração de novas
adaptações.
(TEIXEIRA; ARIGA; YASSUCO,2003)
Adaptações
Histórico
 Há muito se tem usado instrumentos criados pelo
homem para aumentar ou compensar uma função.
Na verdade, a utilização de qualquer ferramenta ou
máquina iniciou-se com o objetivo de potencializar a
função humana.
 Existem registros de aparatos feitos de diversos
materiais que já eram utilizados no Egito antigo, o
que mostra que o conceito do uso de dispositivos
externos visando imobilizar e simultaneamente
promover conforto e curar as partes do corpo que
apresentassem dores e lesões era intuitivo.
(MELLO, 1999; LUZO; MELLO; CAPANEMA,2004)
Conceitos sobre adaptações
 são métodos, maneiras ou equipamentos que auxiliam a pessoa com
deficiência na aquisição de independência - objetivo fundamental da terapia
ocupacional.
(TEIXEIRA, 2003)
 Isto inclui selecionar, adquirir, ajustar e fabricar equipamentos, e orientar o
paciente, a família e a equipe terapêutica no uso apropriado desse
equipamento.
(MELLO, 1999)
 Design e reestruturação de um ambiente físico para auxiliar no desempenho
de atividades de auto-cuidado,trabalho e lazer.
(AOTA, 1983)
 Os processos de prescrição, indicação e construção de dispositivos ou
adaptações devem ser rigorosos, pois os mesmos serão utilizadas pelo cliente
no auxilio do desempenho de atividades de vida diária como auto-cuidado,
alimentação, vestuário, banho, etc.
(RODRIGUES, 2008)
Conhecimentos básicos para prescrição de
adaptações
Avaliação
1. Funcionalidade remanescente
2. Força muscular
3. Amplitude de movimentos
4. Sensibilidade(tátil,térmica e dolorosa)
5. Condições da pele
6. Estruturas ósteo-articulares(proeminências)
7. Tônus
8. Estado vascular/circulação periférica
9. Considerações anatômicas e antropométricas da mão(arcos palmares,pregas
palmares,eminências,etc...)
10. Aspectos cognitivos
11. Aspectos psicoemocionais
12. Outros.
Avaliação
Avaliação
Conhecimentos básicos para prescrição de
adaptações
Análise dos materiais (Avaliação criteriosa sobre as características fisico-quimicas
dos materiais utilizados)
1. Peso
2. Resistência mecânica
3. Conforto
4. Estética
5. Memória(plásticos termomoldáveis)
6. Higiene
7. Durabilidade
8. Custo X benefício

IMPORTANTE: Combinação de materiais visando a ampliação da capacidade


mecânica e análise do material de acordo com a patologia do paciente, levando
em consideração suas limitações e características clínicas da patologia.
Considerações básicas
Considerações do Design
1. Aceitabilidade do material/dispositivo
2. Funcionalidade do dispositivo
3. Projeto de construção/forma do dispositivo
4. Segurança/conforto/estética
Considerações básicas
Princípios mecânicos
1. Aplicação das forças
2. Aplicação de vetores
3. Pontos de apoio e fulcro
Considerações básicas
Princípios das máquinas simples(alavancas)
1. Força potente ou potência(P)toda força capaz de
produzir ou acelerar o movimento(trabalho motor)
2. Força resistente ou resistência(R)é toda força
capaz de se opor ao movimento(trabalho resistente)
3. Elemento de ligação entre potência e
resistência(ponto fixo ou fulcro).
Considerações básicas
Máquinas simples
1. Inter-potente (ponto de aplicação da potência entre o
fulcro e a resistência)
Fulcro Resistência

Potência
Considerações básicas
Máquinas simples
1. Inter resistente(resistência entre o fulcro e a
potência)
Resistência

Fulcro Potência
Considerações básicas
Vantagem mecânica
é obtida pela relação entre a distância da potência e a distância da
resistência,medindo os braços de alavanca de cada força.

Potência
Resistência

B.A B.R

Fulcro
Considerações básicas
Aplicação prática(utilização de adaptação acoplada em
uma órtese)
1. Análise vetorial

Manguito(resistência) Potência

Área de estabilização(fixação)
Fulcro
Considerações básicas
Necessidade do paciente/cliente
Deve-se priorizar sempre as demandas do
paciente/cliente quanto a necessidade real de
utilização de recursos adaptativos levando em
consideração suas ansiedades, desejos e vontades e
nunca impor algo que ele deva usar por obrigação,
motivado pelos desejos da família e ou terapeuta.
Materiais de baixo custo utilizados na
confecção de adaptações
Cano/Tubo de PVC(policloreto de vinila)
Velcron®
EVA(etilvinilacetato)
Borracha
Couro(sintético/natural)
Tecido
Corvin
Napa
Recipientes plásticos(poliestireno,polietileno,etc...)
Metal
Papelão/papel
Durepóxi
Gesso
Latas
Etc...
Materiais de baixo custo
Características do PVC
Disponibilidade universal
Reutilizável,reciclável,reaproveitável
Grande resistência mecânica
Leveza 1,4g/cm cúbico
Baixo custo de obtenção
Resistente a temperaturas elevadas
Resistente a pressão
Estética satisfatória
Durável(vida média de 60 a 100 anos)
Resistente a interpéries(sol,chuva,maresia,vento)
Resistente a maioria dos agentes quimicos
Apresentação comercial em forma de canos/tubos(custo reduzido)
Apresentação comercial em forma de placas(custo mais elevado)
Características do PVC
O PVC (policloreto de vinila)IUPAC polyclhoroeteno
é um plástico não 100% originário do petróleo.
Composto por 57% de cloro(derivado do cloreto de
sódio-sal de cozinha) e 43% de eteno(derivado do
petróleo).
Como todo plástico, o vinil é feito a partir de repetidos
processos de polimerização que convertem
hidrocarbonetos contidos em materiais como o
petróleo, em um único composto chamado polímero

(INSTITUTO DO PVC,2009)
Utilização de materiais de baixo custo na
confecção de adaptações
Técnica de Rodrigues Junior
A técnica de confecção de órteses e adaptações a partir da utilização do policloreto
de vinila (PVC) tubular, proveniente de canos de água e esgoto foi desenvolvida
em 1996;
É desenvolvida através de um ordenamento de etapas/procedimentos específicos
que consiste na modificação da forma original do tubo/cano de PVC, que é
originalmente cilíndrico (independente de sua apresentação comercial de 100 ,150
ou 200mm) e é transformado em uma placa;
O processo de abertura da placa é bastante rigoroso, assim como a avaliação final
do processo de planificação. O tubo/cano de PVC deve adquirir a forma mais
plana possível devendo assemelhar-se ao máximo com uma folha de papel;
Existem 14 procedimentos específicos que descrevem detalhadamente todas as
etapas desta técnica.
Este processo inicia com a realização da avaliação do membro do paciente e
finaliza com a entrega do dispositivo seguida pelas orientações específicas de uso.
Etapas da técnica de Rodrigues Júnior
1. Avaliação físico funcional
2. Mensuração do membro em folha de papel
3. Recorte do papel
4. Medida do comprimento do cano/tubo
5. Corte do PVC no tamanho específico
6. Abertura do cano
7. Abertura da placa de PVC
8. Transcrição do desenho de papel na placa de PVC
9. Recorte da placa de PVC
10. Modelagem
11. Marcação dos pontos articulares/fixação de velcrons
12. Pontos de arejamento
13. Fixação do forro
14. Orientações de uso/acompanhamento
Relação custo benefício das
órteses/adaptação em pvc
Pesquisa
Tubo de PVC 100 mm 150 mm
Comprimento(m) 6 metros 6 metros
Comprimento(cm) 600 cm 600 cm
Diâmetro(cm) 10 cm 15 cm
Segmentação 10 partes 10 partes
Cada segmento 60 cm 60 cm
Área plana 32,5 cm 48,5 cm
Medida placa 32,5 x 60cm 48,5 x 60cm
Relação custo benefício das
órteses/adaptações em pvc
Número de órteses confeccionadas por placa(paciente adulto)
1. Tubo de PVC 100 mm 150 mm
2. Órtese MMSS 03 dispositivos 04 dispositivos

 Número de órteses por Tubo/cano(paciente adulto)


1. Tubo de PVC 100 mm 150 mm
2. Órtese MMSS 30 dispositivos 40 dispositivos

 Custo unitário de cada Tubo/cano


1. Tubo de PVC 100 mm-----------R$40,00
2. Tubo de PVC 150 mm------------R$100,00
Resultados e Premiações
Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia
Social/UNESCO/Petrobrás 2005
Medalha de Honra ao Mérito Evandro Chagas 2006
Projetos de extensão 2005,2006,2007.
Projetos de Iniciação ciêntífica 2008
Projeto de pesquisa 2009
Capítulo de Livros
Etc...
Etapas da técnica
 Avaliação

 Mensuração do membro
Etapas da técnica
Recorte do desenho

Medida do comprimento
Etapas da técnica
Corte do PVC
Abertura do cano/tubo

Abertura da placa
Transcrição do desenho sobre a placa

Recorte da placa de PVC


Modelagem do dispositivo

Marcação dos pontos articulares


Fixação do forro
Adaptações confeccionadas em pvc
Adaptação para copo
Adaptações confeccionadas em pvc
Aplicações clínicas
1. Hanseníase
2. Lesões nervosas periféricas
3. Traumatismo raquimedular
4. Artrite reumatóide
5. ELA
6. Sequela de AVE
7. Amputações parciais de mão
8. Paralisia Cerebral
9. Traumatismo Raquimedular
 Materiais utilizados
1. PVC
2. Couro
3. Rebites número 03
4. Velcron
5. EVA
Adaptação para alimentação
Adaptação para alimentação
Aplicações Clínicas
Patologias que impossibilitem a realização de preensões com a
mão
Materiais utilizados
1. PVC
2. Couro
3. EVA
4. Velcron
5. Rebites
6. Borracha
7. Embalagens plásticas
8. Cola de sapateiro
Adaptação para escrita
Aplicações clínicas
Déficits funcionais que impeçam o individuo de realizar
uma preensão fina para realização da fixação do lápis ou
caneta.
Materiais utilizados
1. Couro
2. PVC
3. Velcron
4. EVA
5. Rebites
6. Embalagens plásticas
Adaptação para vestuário
Aplicações clínicas
Materiais utilizados
1. Arame/clipe
2. EVA
3. Borracha
4. Couro
5. PVC
6. Rebites
Adaptações gerais
Dispositivos Utilizados em
Odontologia
Estabilização do paciente na cadeira
Movimentos involuntários
Espásticidade
Abertura da boca
Adaptações para auxílio na escovação e quebra de
padrões espasticos
Adaptação para fio dental
Etc...
Dispositivos utilizados em
Odontologia
Estabilizador postural
Dispositivos utilizados em
Odontologia
Estabilizador de espásticidade
Kit estabilizador Godoy
Dispositivos utilizados em
Odontologia
Abertura da boca
Dispositivos utilizados em
Odontologia
Adaptações para auxílio da escovação e quebra de
padrão espástico
Dispositivos utilizados em
Odontologia
Adaptação para fio dental
Outras possibilidades terapêuticas utilizando
materiais de baixo custo
Outras possibilidades terapêuticas utilizando
materiais de baixo custo
Outras possibilidades terapêuticas utilizando
materiais de baixo custo
Outras possibilidades terapêuticas utilizando
materiais de baixo custo
Considerações finais
OBRIGADO!

jorgeto_004@yahoo.com.br

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