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Ergodesign de ferramentas manuais

Paula Araujo Borghi1


paula_borghi@hotmail.com
Dayana Priscila Maia Mejia2
Pós-graduação em Fisioterapia do trabalho - Faserra

Resumo
As ferramentas manuais são presentes em diversos processos e desempenham um papel crucial no ambiente
organizacional. A alta incidência de lesões e desconforto associado ao design incorreto de ferramentas manuais
fez com que as empresas começassem a investir no enfoque ergonômico durante o processo de projeto destas
ferramentas, visando promover o equilíbrio biomecânico, reduzir as contrações estáticas da musculatura e o
estresse geral. Trata-se de uma revisão bibliográfica onde foram utilizados artigos e dissertações da área de
ergonomia, design e engenharia de produção, para melhor compreensão dos parâmetros e implicações do design
destes equipamentos. Os principais parâmetros a serem analisados são peso, formato, tamanho, textura e
diâmetro da empunhadura, capacidade de absorção de vibração e choque, facilidade de adaptação e utilização da
ferramenta, além de medidas antropométricas da população. Diversos estudiosos da área sugerem que deve se
conhecer bem a estrutura, as necessidades e a biomecânica do trabalho a ser executado para que a ferramenta
seja de todo adequada e segura.

Palavras-chave: Ergodesign, ferramentas manuais, design ergonômico, conforto.

1. Introdução

Para desempenhar muitas atividades da vida diária, a preensão é aliada à aplicação de força
muscular, permitindo a manipulação de objetos e a realização de tarefas cotidianas. O
dimensionamento incorreto da força, aliada com fatores de repetitividade, desvios extremos e
frequentes do punho, concentração de pressão, vibração e design inadequado de ferramentas
sobrecarregam os sistemas ósteo-musculares, aumentando risco de lesão1,2,3.
A perspectiva sobre as ferramentas manuais é constantemente mudada com o progresso
técnico, as mudanças na organização do trabalho e as expectativas dos operadores. Objetivos
de segurança, conforto, eficiência e redução de lesões e mesmo o estilo têm sido adicionados
às considerações de melhora da eficiência no projeto da ferramenta1.
Dentro do enfoque ergonômico, as ferramentas e materiais são adaptados às características do
trabalho e capacidades do trabalhador, visando promover o equilíbrio biomecânico, reduzir as
contrações estáticas da musculatura e o estresse geral.
A fim de atender a essas novas exigências, o design ergonômico de ferramentas manuais tem
se expandido.

2. Biomecânica da mão

1. Graduanda de Fisioterapia do Trabalho – Lato Sensu- Manaus (AM) Brasil – 2016


2. Professora orientadora da Pós-Graduação Biocursos – Lato Sensu - Manaus (AM) Brasil – 2016
2

A mão é um órgão extremamente móvel, que pode coordenar uma variedade infinita de
movimentos, é a parte do membro superior que permite contato tátil entre o indivíduo e o
ambiente4.
2.1 Preensões e manejos
A preensão é a principal habilidade da mão humana. As preensões são controladas por dois
grupos musculares concomitantemente: os músculos intrínsecos (localizados na própria mão,
responsáveis pela maleabilidade e precisão) e os músculos extrínsecos (localizados no
antebraço, responsáveis pela aplicação de forças e estabilidade do movimento). O
funcionamento coordenado deste sistema muscular é essencial para o desempenho satisfatório
da mão5.
A pega o manejo é uma forma de controle onde é empregado o polegar e a palma das mãos,
para pegar, prender ou manipular objetos é viável o emprego de diferentes níveis de precisão,
forca e velocidade (Figura 1)6.

Fonte: IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. Ed. rev. e ampl. - São Paulo:
Edgard Blücher, 2005.
Figura 1: Manejos, segundo classificação de Itiro Iida

A pega de força, ou cilíndrica refere-se a agarrar um objeto na palma da mão com o polegar
enrolado em torno do objeto. Há utilização de maior força, menor velocidade e precisão, os
dedos são responsáveis principalmente por agarrar e firmar o objeto ou ferramenta, enquanto
as mãos e punhos realizam o movimento 6,7,8.9.
Para executar uma pega de força, o pulso deve assumir uma posição de desvio ulnar e
extensão para alinhar o dedo indicador e o polegar com o eixo longitudinal do antebraço e da
ferramenta7.
Uma pega de precisão, ou manejo fino refere-se à segurar um objeto entre o polegar e os
dedos opostos, apresenta maior precisão e velocidade, porém aplica menos força. Para
executar uma pega de precisão, o pulso é posicionado em ligeira extensão, e o polegar e os
dedos são parcialmente flexionados e em oposição em torno do objeto (Figura 2), é realizada
3

principalmente com as pontas dos dedos enquanto a palma das mãos e os punhos mantêm-se
relativamente estáticos 6,7,9.

Fonte: ATWOOD, C.; BAKER, N. Ergonomics and the management of


musculoskeletal disorders, second edition, Elsevier, 2004.
Figura 2: Pega de precisão

Napier classifica as preensões de precisão como lateral (Figura 3), palmar, pinça (Figura 4) e
esférica. A pega em gancho não inclui o polegar. A pega em pinça lateral é a mais forte de
todas as de precisão 6,9.

Fonte: ATWOOD, C.; BAKER, N. Ergonomics and the management of musculoskeletal


disorders, second edition, Elsevier, 2004.
Figura 3: Preensão lateral

Fonte: ATWOOD, C.; BAKER, N. Ergonomics and the management of musculoskeletal


disorders, second edition, Elsevier, 2004.
Figura 4: Preensão em pinça
4

Kapandji10 ampliou a gama das preensões para: preensões puras (palmares, digitais e
centradas), preensões com peso (auxiliadas pela gravidade) e preensões-ações (associadas a
movimentos) (Figura 5).

Fonte: KAPANDJI, A. I. Fisiologia articular, volume 2: esquemas comentados da mecânica


humana. Guanabara Koogan, 2000.

Figura 5: Tipos de preensão definidos por Kapandji (1987)

Para que a preensão ocorra de maneira adequada, a mão deve se adaptar a diversos formatos,
acomodando os objetos de manejo, portanto, o correto manejo ocorre com objetos aos quais
as mãos possam se adequar11.
A localização e o tamanho dos objetos, ferramentas e equipamentos alteram a postura do
punho e dos dedos, modificando a posição e comprimento da musculatura em relação às
articulações dos membros superiores11.
2.2 Antropometria da mão
Antropometria refere-se ao estudo de dimensões humanas e tamanho do corpo. Dimensões
humanas incluem a altura, comprimento e perímetros dos membros, bem como as capacidades
físicas, tais como levantar, carregar e agarrar12,13.
A antropometria é fundamental para a ergonomia no sentido de se adaptar os postos de
trabalho, equipamentos, ferramentas e equipamentos de proteção individual às dimensões do
corpo dos trabalhadores7.
A antropometria pode ser considerada uma ciência interdisciplinar, a qual se refere
principalmente às dimensões, composição e propriedade de massa corpórea14.
Neste sentido, o projeto da interface tecnológica, depende dos aspectos antropométricos para
o dimensionamento da mesma, durante o processo de desenvolvimento dos produtos,
ambientes e sistemas15.
Os principais preceitos antropométricos indicam que as diferenças ocorrem entre os
indivíduos de diferentes origens, faixas etárias e gêneros, o que deveria ser considerado por
designers, arquitetos e engenheiros. Homens e mulheres apresentam diferenças
5

antropométricas significativas, não apenas em dimensões absolutas, mas também nas


proporções dos diversos segmentos corporais 6,15.
A tomada das medidas das mãos dos sujeitos é muito importante para a configuração de
controles em máquinas e produtos de consumo. As medidas antropométricas das mãos, em
centímetros, são obtidas através da medida do perímetro da mão, medida da largura da mão,
medida do perímetro do punho e medida do perímetro de “pega” (anel formado entre polegar
e indicador)16.
O uso de dados antropométricos pode ajudar na concepção adequada dos equipamentos para
uma melhor eficiência e maior conforto humano 17.

3. Ergodesign e usabilidade

A disseminação da ergonomia nas sociedades contemporâneas tem contribuído para um


projeto de produto, que venham a ser mais seguros e confortáveis para a maioria de seus
usuários. O ergodesign significa a fusão dos focos teóricos e práticos da ergonomia e do
design, em busca de um produto centrado no usuário 18.
O design e a ergonomia apresentam vários critérios de desenvolvimento de produtos em
comum, como: forma, função, usabilidade, determinação de matéria-prima, normas técnicas,
dimensionamento, manual de montagem e utilização, testes físicos e certificação. Todos têm o
objetivo final de proporcionar o bem-estar do usuário na utilização do produto19.
Do ponto de vista ergonômico, os produtos não são considerados como objetos em si, mas
apenas como meios para que o homem possa executar determinadas funções. Todos os
produtos sejam eles grandes ou pequenos simples ou complexos, destinam-se a satisfazer
certas necessidades humanas, entrando em contato com o homem, direta ou indiretamente.
Para que esses produtos funcionem bem em suas interações com o usuário ou consumidores,
eles devem possuir qualidade técnica, qualidade ergonômica e qualidade estética6.
A qualidade ergonômica de qualquer produto está diretamente ligada à usabilidade do
produto, é sinônimo de qualidade de uso. Ambas levam em conta todos os aspectos
psicofisiológicos, cognitivos e perceptivos, como facilidade de fabricação, montagem,
manuseio e manutenção; boa adaptação antropométrica; índices de ruído, vibração e
luminosidades adequados; eficientes dispositivos de informação, segurança e conforto no
manuseio 6,20.
6

A norma ISO 9241-11 define usabilidade como a “medida na qual um produto pode ser usado
por usuários específicos, para alcançar objetivos específicos com eficácia, eficiência e
satisfação, em um contexto de uso específico”21.
É a característica de um produto que denota qual grau de facilidade no uso e aprendizado. Sua
importância se deve ao fato de ser uma característica de qualidade do produto, com
abordagem ergonômica, objetivando um design de produtos acessíveis, satisfatórios,
confiáveis e economicamente benéficos22. 23.
A usabilidade dos equipamentos, dispositivos e ferramentas manuais depende de inúmeros
fatores, envolvendo com destaque a ergonomia, como medidora do trabalho ou atividade
humana; os aspectos fisiológicos das mãos dos indivíduos e o próprio design – ou processo de
projeto – especialmente quando considerado como elemento de qualidade do produto nestas
relações24.
Um produto pode ser definido como ergonômico quando, em vários momentos da sua vida,
idealização, realização, utilização, estimulação ou reciclagem, não provoca dano, mas gera
condições do bem-estar psicofísico em todos aqueles que entram em contato com ele 19.

4. Metodologia

O trabalho desenvolvido seguiu os preceitos do estudo exploratório, por meio de uma


pesquisa bibliográfica. Foram utilizados livros brasileiros e estrangeiros e artigos científicos
sobre a temática foram acessados nas bases de dados Scielo, LILACS, MEDLINE, teses de
mestrado e doutorado publicadas por universidades federais do Brasil e normas relacionadas
ao assunto.
As palavras-chave procuradas durante a pesquisa forma: Ergodesign, ferramentas manuais,
design ergonômico, conforto.
Por motivo de o assunto envolver tanto o design quanto a engenharia de produção, a maioria
das bibliografias utilizadas são produções nessas duas áreas, com ênfase para a ergonomia
dentro do tópico. Os estudos pioneiros sobre ergodesign começaram a ser produzidos nos
anos 90, portanto na discussão foram utilizados artigos de 1998 a 2016, nas línguas
portuguesa, inglesa e espanhola para a construção do texto.
7

5. Resultados e discussão

O projeto de muitos produtos é dependente das características físicas de seus usuários ou


grupo de usuários, envolvendo aspectos como força, tamanho, peso, gênero e questões
cognitivas25.
A seleção de ferramentas deve ser feita de acordo a especificidade do trabalho, considerando
os aspectos ergonômicos. Ferramentas consideradas melhores para o trabalho são aquelas que
minimizam o estresse físico produzindo pouca força nas mãos, que não são incômodas de
segurar e manusear e minimizam vibração 26.
O desenho das pegas influencia fortemente no funcionamento e manipulação dos objetos,
sendo que as ferramentas de utilização por manejo fino devem apresentar circunferências
menores em relação aquelas que são destinadas a utilização por manejo grosseiro. Quando em
um mesmo objeto forem necessários os dois tipos de manejo, é adequado que se possa agarrar
de diferentes maneiras6.
Em sua maioria, ferramentas que são equilibradas e dimensionadas para homens com maior
massa muscular irão exigir mais força de usuários do sexo feminino com massa da mão
menor. Por outro lado, ferramentas de precisão são equilibradas e concebidas para mãos
menores, por isso podem causar tensão excessiva em homens com mãos de maior massa 7.
Projetar ferramentas manuais é uma tarefa complexa , uma vez que requer consideração não
apenas da funcionalidade, qualidade, confiabilidade, e dimensões mas também as expectativas
e apreensões de seus usuários e apreensões. Para integrar esses requisitos em processos de
design de ferramentas são usados conceitos de qualidade funcional, que permite que os
designers implementem a ergonomia logo no início do desenvolvimento do produto7.
O projeto ergonômico de ferramentas manuais pode atenuar os riscos à saúde e segurança dos
trabalhadores, além disso, minimizar impactos negativos às empresas, como reduções da
produtividade, aumento de custos, aumento no absenteísmo médico, comprometimento da
capacidade produtiva, menor qualidade de vida do trabalhador, aposentadorias precoces e
indenizações27.
O conforto apresenta relação direta com a produtividade, evidenciando assim a necessidade de
considerá-lo no desenvolvimento de ferramentas manuais. Quando uma ferramenta provoca
desconforto (como músculos doloridos e pressão sobre a mão), não se pode continuar a tarefa,
sendo necessárias repetidas pausas, principalmente se a tarefa é realizada em alta velocidade,
dessa forma, o sentimento de desconforto pode causar diminuição da produtividade28.
8

O desconforto pode ser avaliado como um antecedente de lesões musculoesqueléticas. No uso


de ferramentas manuais, o conforto está associado a conceitos positivos, como confiabilidade,
segurança, facilidade de uso e satisfação, enquanto o desconforto está associado a conceitos
negativos, como dor, pressão, dureza e irritação 29.
Para minimizar estes problemas, Albano et al.30 sugere adaptar as ferramentas às
características dos seres humanos, pois além de segurança esse tipo de ferramenta pode
oferecer mais conforto e satisfação aos usuários.
Há uma relação definida entre o projeto das ferramentas manuais e os traumas cumulativos
que elas provocam nas mãos e antebraços de seus usuários6. O uso de ferramentas manuais
mal dimensionadas pode gerar diversos constrangimentos ao usuário, que incidem desde
insatisfação e desconforto até patologias graves que acometem os membros superiores. Os
problemas mais recorrentes estão relacionados à inadequação de dimensionamento, forma,
peso, textura e estabilidade15.
Os elementos mais importantes do projeto de ferramenta no que diz respeito ao uso humano
são o tamanho do punho, forma e textura, facilidade de operação, absorção de choque e
peso31.
A qualidade ergonômica das ferramentas manuais pode ser avaliada pelo seu desempenho e
esforço fisiológico do usuário com diferentes variáveis de projeto tais como a forma,
espessura , comprimento, volume, qualidade da superfície e material dos cabos das
ferramentas32.33.34.
O desenho das ferramentas manuais tem uma grande influência sobre a postura no trabalho,
ângulo de flexão do punho, distribuição da pressão sobre a mão, carga muscular, fadiga e
risco de lesões. Mudanças de alguns detalhes no desenho podem provocar efeitos enormes,
considerando-se que certos tipos de profissionais usam a mesma ferramenta de forma
contínua, durante meses e anos seguidos6.
Um produto deve atender a três aspectos: eficiência, que se refere à quantidade de esforço
necessário para a realização de uma tarefa; eficácia, capacidade de finalização de uma tarefa;
e satisfação, que se refere ao conforto do usuário ao utilizar um produto, e o quanto este
produto é aceitável para que o usuário realize seus objetivos25.
Evitar o desconforto é um problema crucial no design e avaliação de ferramentas manuais,
porém o conforto é raramente considerado na avaliação destas ferramentas35, 36
. Alguns
pontos podem ser considerados na avaliação levando em conta o conforto: funcionalidade,
postura e musculatura, irritação e dor das mãos e dedos, irritação da superfície das mãos e
características do cabo da ferramenta28.
9

Em ferramentas manuais, especificamente, a forma e propriedades da superfície têm um


importante efeito sobre a pressão produzida sobre a mão, sendo esta pressão positivamente
relacionada com a percepção de desconforto37.
As principais variáveis a serem consideradas são resultados mecânicos (força, torque,
aceleração); peso e centro de gravidade; forma e dimensões da pega; possibilidade de mudar o
manejo e superfície de contato com as mãos37.
As características a serem consideradas na pega incluem: as diferentes formas de pega; os
movimentos a serem transmitidos (força, velocidade, precisão); possibilidade de usar as duas
mãos (para aumentar a força ou precisão); e se é adaptável aos canhotos. A concentração das
tensões na mão pode ser reduzida, melhorando-se o desenho da pega, aumentando-se o
diâmetro da pega, eliminando-se as superfícies angulosas ou "cantos
Para maior conforto de uso e menos tensão, o cabo da ferramenta deve estar orientado de
modo que, durante o trabalho, a mão e o antebraço estejam alinhados. Uma vez que a forma
da pega da ferramenta irá afetar a postura adotada ao utilizá-la. A forma da pega é um fator
primário que pode ser utilizado para reduzir ou eliminar a fadiga do usuário38.
Kromer e Grandjean39 explicam a importância do design no desenvolvimento de
empunhaduras. Pegas que não se ajustam adequadamente às mãos, ou não favorecem a
biomecânica do trabalho manual, podem prejudicar o desempenho e ocasionar problemas ao
operador.
O tipo de atividade influi na necessidade da ferramenta, atividades de precisão ou manejo fino
são favorecidas por ferramentas de medidas menores que se encaixem nas mãos
possibilitando a movimentação com os dedos; já para manejos mais grosseiros, podem-se
empregar empunhaduras de maiores medidas, possibilitando a distribuição de pressão pelas
mãos40.
O esforço é reduzido quando o movimento é exercido apenas pelos dedos e aumenta à medida
que mais partes são necessárias, sendo, por exemplo, o emprego do conjunto dos dedos,
pulsos, antebraços, braços e corpo, considerado de maior esforço. Para uso adequado e
saudável das ferramentas manuais, deve-se projetar de modo que as circunferências e
comprimentos acomodem confortavelmente as mãos, de acordo com o uso e movimentação
do manejo e todas devem ter toque confortável40.
O uso de formas arredondadas e cilíndricas muito largas pode causar insegurança. O diâmetro
ideal é na gama de 22-32 mm. É indicado também que a empunhadura suporte completamente
o dedo, tendo no mínimo 27 milímetros de diâmetro (podendo ser usada com luvas)41.
10

Recessos, como sulcos para os dedos não devem ser aplicados, pois pode haver grandes
variações de antropometria dos dedos entre as diferentes populações. Em especial, pessoas
com dedos grandes podem aplicar forças de compressão em excesso sobre as superfícies
laterais dos dedos, que são áreas de nervos superficiais e veias. Além disto, arestas e cantos
podem causar cortes, contusões ou escoriações, por isso deve-se procurar eliminar tais riscos
empregando bordas arredondadas e cantos com o maior raio possível38.
Além das medidas corretas deve-se observar a textura entre a empunhadura e a superfície da
mão do usuário. A textura permite um aumento na fricção entre a mão e equipamento,
entretanto, em alguns casos a textura possibilita o acúmulo de sujeira, comprometendo o nível
de higienização da atividade24.
A superfície e textura de um cabo de ferramenta afeta diretamente a transferência de força do
trabalhador para a ferramenta. Um cabo deve permitir isolamento de calor, absorção de
choque e distribuição da pressão e deve promover alguma fricção para fácil pega da
ferramenta. A recomendação geral sugere que uma superfície adequada deve ser ligeiramente
compressível, não condutiva e livre de saliências42.
Exposição crônica a ferramentas elétricas manuais com componentes vibrando em baixa
frequência podem causar constrição do fluxo sanguíneo ou danificar a artéria digital dos
dedos e da mão. Para reduzir os efeitos da vibração, as ferramentas manuais devem ser
preenchidas ou cobertas por borracha, possuir componentes de vibração atenuada e ter sua
exposição monitorada43.
Indivíduos apresentam precisão, velocidade e desempenho muscular elevados quando
realizam tarefas utilizando a mão dominante, deve-se considerar que os canhotos constituem
cerca de 10% da população 6. Portanto, para o desenvolvimento de empunhaduras deve-se
considerar o uso tanto com a mão direita quanto à esquerda, dando preferência a formas que
permitam ambos os usos, de lados simétricos.
O centro de gravidade da ferramenta deve situar-se o mais próximo possível do centro da
mão. Isso, além de permitir um melhor controle motor, reduz os momentos (no sentido da
Física), e conseqüentemente, os esforços musculares e os gastos energéticos durante a sua
operação6.
Em geral, ferramentas devem pesar o mínimo possível. Particularmente para tarefas de
precisão, uma ferramenta mais leve vai requerer menos força para suportar que uma
ferramenta pesada. Diretrizes afirmam que o peso de uma ferramenta não deve ser maior que
2,3 kg se a ferramenta for suportada pela mão ou for operada com distância do corpo, há
ferramentas de precisão não devem pesar mais de 400 gramas42.
11

O comprimento suficiente de uma ferramenta é necessária para distribuir a pressão das forças
uniformemente em toda a mão e para evitar a pressão direta sobre o nervo mediano na palma
da mão ou na base do polegar . Um cabo da ferramenta deve ser longo o suficiente para
estender proximo à eminência tenar e permitir a liberdade de movimentos no punho 9.
Um ferramenta curta pode lesionar não só a superfície dos nervos medial e ulnar, mas também
a bainha tendínea, causando dedo em gatilho e neurite digital9.
Schoenardie44, ao pesquisar chaves de fenda concluiu que as características dessas
ferramentas quanto à pega, empunhadura, manejo, acabamento e materiais devem ser
definidos na concepção do projeto, levando em conta diferentes requisitos.
Teixeira et al.45 estudaram a Ergonomia no uso de estiletes em gráficas rápidas. O estudo
utilizou o protocolo Rula para avaliar a postura durante o refile de cartões de visita. Segundo
os autores, embora de forma geral os trabalhadores estejam satisfeitos com as ferramentas que
utilizam, a atividade necessita de intervenções ergonômicas, pois oferece risco aos
trabalhadores, sobretudo devido a altura da bancada de trabalho e posturas adotadas.
Garcia46 avaliou a ergonomia e usabilidade das facas utilizadas para o desconche de
mexilhões em uma empresa de pescados, a fim de identificar características de design que
necessitam de modificações e apresentou um protótipo funcional da ferramenta para testes de
usabilidade (eficiência, eficácia e satisfação) sob condições reais de uso.
Em um estudo sobre martelos, Guilhon, David e Diniz47 descrevem a aplicação de princípios
ergonômicos para a redução do esforço realizado pelo usuário no ato da quebra do caranguejo
para a degustação da carne, e ainda a inclusão de maior nível de precisão de movimento.
Albano et al30 avaliaram tatilmente quatro facas com cabos fabricados com diferentes tipos de
materiais, os funcionários da cozinha do Restaurante Universitário da UFRGS avaliavam o
conforto, a dureza, textura, maciez e firmeza. O resultado apontou que as facas de cabo
emborrachado geraram maior conforto aos usuários.
Sala40 estudou o descascamento de raízes de mandioca, identificando os requisitos
ergonômicos desejáveis para um projeto de ferramenta manual destinada à tarefa de
descascamento de raízes de mandioca. A autora concluiu que a ferramenta de uso habitual
possui características pouco desejáveis por não serem ergonômicas, seguras e nem higiênicas,
além da área de circunferência, formato da pega, cantos agudos, área estreita na parte de cima
da lâmina, área cortante próxima aos dedos, formato de pega que não acompanha as curvas
das mãos. Além disso, ela apresentou na pesquisa uma proposta de ferramenta adequadamente
ergonômica para a atividade.
12

Fatores de estresse associados com operação de ferramentas manuais incluem posturas


desajeitadas, esforços vigorosos, movimentos repetitivos, stress de contato e vibração. O
objetivo quando se seleciona, instala e utiliza ferramentas manuais é minimizar a exposição
do operador a qualquer fator de estresse físico 26.
O design e material do cabo das facas de corte do frango foi o objeto de estudo de
Tomazzoni48, que avaliou os efeitos na musculatura cervical através de eletromiografia
sensitiva. A autora concluiu que o cabo emborrachado produziu menor impacto em
musculatura cervical que o cabo de polipropileno, sendo uma alternativa melhor para a
atividade.

6. Conclusão

A revisão da literatura permitiu concluir que o design inapropriado de ferramentas manuais é


um dos grandes causadores de patologias ocupacionais de punho e mão, por isso, a
abordagem ergonômica no momento do design da ferramenta é crucial para proporcionar
conforto, segurança e usabilidade ao usuário.
Devem ser observadas variáveis como o peso, formato, tamanho, textura e diâmetro da
empunhadura, capacidade de absorção de vibração e choque, facilidade de adaptação e
utilização da ferramenta, além de medidas antropométricas da população. A maioria das
ferramentas manuais e elétricas disponíveis no mercado é fabricada nos Estados Unidos e
Europa, logo são levadas em conta no momento do design destas ferramentas as medidas
antropométricas desta população que muito diferencia das medidas da população brasileira.
Para que o ergodesign de ferramentas manuais seja efetivo, é importante que haja uma relação
de base de medidas antropométricas brasileiras a serem consideradas juntamente com os
demais parâmetros no momento da produção dessas ferramentas.

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