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Resumo
As ferramentas manuais são presentes em diversos processos e desempenham um papel crucial no ambiente
organizacional. A alta incidência de lesões e desconforto associado ao design incorreto de ferramentas manuais
fez com que as empresas começassem a investir no enfoque ergonômico durante o processo de projeto destas
ferramentas, visando promover o equilíbrio biomecânico, reduzir as contrações estáticas da musculatura e o
estresse geral. Trata-se de uma revisão bibliográfica onde foram utilizados artigos e dissertações da área de
ergonomia, design e engenharia de produção, para melhor compreensão dos parâmetros e implicações do design
destes equipamentos. Os principais parâmetros a serem analisados são peso, formato, tamanho, textura e
diâmetro da empunhadura, capacidade de absorção de vibração e choque, facilidade de adaptação e utilização da
ferramenta, além de medidas antropométricas da população. Diversos estudiosos da área sugerem que deve se
conhecer bem a estrutura, as necessidades e a biomecânica do trabalho a ser executado para que a ferramenta
seja de todo adequada e segura.
1. Introdução
Para desempenhar muitas atividades da vida diária, a preensão é aliada à aplicação de força
muscular, permitindo a manipulação de objetos e a realização de tarefas cotidianas. O
dimensionamento incorreto da força, aliada com fatores de repetitividade, desvios extremos e
frequentes do punho, concentração de pressão, vibração e design inadequado de ferramentas
sobrecarregam os sistemas ósteo-musculares, aumentando risco de lesão1,2,3.
A perspectiva sobre as ferramentas manuais é constantemente mudada com o progresso
técnico, as mudanças na organização do trabalho e as expectativas dos operadores. Objetivos
de segurança, conforto, eficiência e redução de lesões e mesmo o estilo têm sido adicionados
às considerações de melhora da eficiência no projeto da ferramenta1.
Dentro do enfoque ergonômico, as ferramentas e materiais são adaptados às características do
trabalho e capacidades do trabalhador, visando promover o equilíbrio biomecânico, reduzir as
contrações estáticas da musculatura e o estresse geral.
A fim de atender a essas novas exigências, o design ergonômico de ferramentas manuais tem
se expandido.
2. Biomecânica da mão
A mão é um órgão extremamente móvel, que pode coordenar uma variedade infinita de
movimentos, é a parte do membro superior que permite contato tátil entre o indivíduo e o
ambiente4.
2.1 Preensões e manejos
A preensão é a principal habilidade da mão humana. As preensões são controladas por dois
grupos musculares concomitantemente: os músculos intrínsecos (localizados na própria mão,
responsáveis pela maleabilidade e precisão) e os músculos extrínsecos (localizados no
antebraço, responsáveis pela aplicação de forças e estabilidade do movimento). O
funcionamento coordenado deste sistema muscular é essencial para o desempenho satisfatório
da mão5.
A pega o manejo é uma forma de controle onde é empregado o polegar e a palma das mãos,
para pegar, prender ou manipular objetos é viável o emprego de diferentes níveis de precisão,
forca e velocidade (Figura 1)6.
Fonte: IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. Ed. rev. e ampl. - São Paulo:
Edgard Blücher, 2005.
Figura 1: Manejos, segundo classificação de Itiro Iida
A pega de força, ou cilíndrica refere-se a agarrar um objeto na palma da mão com o polegar
enrolado em torno do objeto. Há utilização de maior força, menor velocidade e precisão, os
dedos são responsáveis principalmente por agarrar e firmar o objeto ou ferramenta, enquanto
as mãos e punhos realizam o movimento 6,7,8.9.
Para executar uma pega de força, o pulso deve assumir uma posição de desvio ulnar e
extensão para alinhar o dedo indicador e o polegar com o eixo longitudinal do antebraço e da
ferramenta7.
Uma pega de precisão, ou manejo fino refere-se à segurar um objeto entre o polegar e os
dedos opostos, apresenta maior precisão e velocidade, porém aplica menos força. Para
executar uma pega de precisão, o pulso é posicionado em ligeira extensão, e o polegar e os
dedos são parcialmente flexionados e em oposição em torno do objeto (Figura 2), é realizada
3
principalmente com as pontas dos dedos enquanto a palma das mãos e os punhos mantêm-se
relativamente estáticos 6,7,9.
Napier classifica as preensões de precisão como lateral (Figura 3), palmar, pinça (Figura 4) e
esférica. A pega em gancho não inclui o polegar. A pega em pinça lateral é a mais forte de
todas as de precisão 6,9.
Kapandji10 ampliou a gama das preensões para: preensões puras (palmares, digitais e
centradas), preensões com peso (auxiliadas pela gravidade) e preensões-ações (associadas a
movimentos) (Figura 5).
Para que a preensão ocorra de maneira adequada, a mão deve se adaptar a diversos formatos,
acomodando os objetos de manejo, portanto, o correto manejo ocorre com objetos aos quais
as mãos possam se adequar11.
A localização e o tamanho dos objetos, ferramentas e equipamentos alteram a postura do
punho e dos dedos, modificando a posição e comprimento da musculatura em relação às
articulações dos membros superiores11.
2.2 Antropometria da mão
Antropometria refere-se ao estudo de dimensões humanas e tamanho do corpo. Dimensões
humanas incluem a altura, comprimento e perímetros dos membros, bem como as capacidades
físicas, tais como levantar, carregar e agarrar12,13.
A antropometria é fundamental para a ergonomia no sentido de se adaptar os postos de
trabalho, equipamentos, ferramentas e equipamentos de proteção individual às dimensões do
corpo dos trabalhadores7.
A antropometria pode ser considerada uma ciência interdisciplinar, a qual se refere
principalmente às dimensões, composição e propriedade de massa corpórea14.
Neste sentido, o projeto da interface tecnológica, depende dos aspectos antropométricos para
o dimensionamento da mesma, durante o processo de desenvolvimento dos produtos,
ambientes e sistemas15.
Os principais preceitos antropométricos indicam que as diferenças ocorrem entre os
indivíduos de diferentes origens, faixas etárias e gêneros, o que deveria ser considerado por
designers, arquitetos e engenheiros. Homens e mulheres apresentam diferenças
5
3. Ergodesign e usabilidade
A norma ISO 9241-11 define usabilidade como a “medida na qual um produto pode ser usado
por usuários específicos, para alcançar objetivos específicos com eficácia, eficiência e
satisfação, em um contexto de uso específico”21.
É a característica de um produto que denota qual grau de facilidade no uso e aprendizado. Sua
importância se deve ao fato de ser uma característica de qualidade do produto, com
abordagem ergonômica, objetivando um design de produtos acessíveis, satisfatórios,
confiáveis e economicamente benéficos22. 23.
A usabilidade dos equipamentos, dispositivos e ferramentas manuais depende de inúmeros
fatores, envolvendo com destaque a ergonomia, como medidora do trabalho ou atividade
humana; os aspectos fisiológicos das mãos dos indivíduos e o próprio design – ou processo de
projeto – especialmente quando considerado como elemento de qualidade do produto nestas
relações24.
Um produto pode ser definido como ergonômico quando, em vários momentos da sua vida,
idealização, realização, utilização, estimulação ou reciclagem, não provoca dano, mas gera
condições do bem-estar psicofísico em todos aqueles que entram em contato com ele 19.
4. Metodologia
5. Resultados e discussão
Recessos, como sulcos para os dedos não devem ser aplicados, pois pode haver grandes
variações de antropometria dos dedos entre as diferentes populações. Em especial, pessoas
com dedos grandes podem aplicar forças de compressão em excesso sobre as superfícies
laterais dos dedos, que são áreas de nervos superficiais e veias. Além disto, arestas e cantos
podem causar cortes, contusões ou escoriações, por isso deve-se procurar eliminar tais riscos
empregando bordas arredondadas e cantos com o maior raio possível38.
Além das medidas corretas deve-se observar a textura entre a empunhadura e a superfície da
mão do usuário. A textura permite um aumento na fricção entre a mão e equipamento,
entretanto, em alguns casos a textura possibilita o acúmulo de sujeira, comprometendo o nível
de higienização da atividade24.
A superfície e textura de um cabo de ferramenta afeta diretamente a transferência de força do
trabalhador para a ferramenta. Um cabo deve permitir isolamento de calor, absorção de
choque e distribuição da pressão e deve promover alguma fricção para fácil pega da
ferramenta. A recomendação geral sugere que uma superfície adequada deve ser ligeiramente
compressível, não condutiva e livre de saliências42.
Exposição crônica a ferramentas elétricas manuais com componentes vibrando em baixa
frequência podem causar constrição do fluxo sanguíneo ou danificar a artéria digital dos
dedos e da mão. Para reduzir os efeitos da vibração, as ferramentas manuais devem ser
preenchidas ou cobertas por borracha, possuir componentes de vibração atenuada e ter sua
exposição monitorada43.
Indivíduos apresentam precisão, velocidade e desempenho muscular elevados quando
realizam tarefas utilizando a mão dominante, deve-se considerar que os canhotos constituem
cerca de 10% da população 6. Portanto, para o desenvolvimento de empunhaduras deve-se
considerar o uso tanto com a mão direita quanto à esquerda, dando preferência a formas que
permitam ambos os usos, de lados simétricos.
O centro de gravidade da ferramenta deve situar-se o mais próximo possível do centro da
mão. Isso, além de permitir um melhor controle motor, reduz os momentos (no sentido da
Física), e conseqüentemente, os esforços musculares e os gastos energéticos durante a sua
operação6.
Em geral, ferramentas devem pesar o mínimo possível. Particularmente para tarefas de
precisão, uma ferramenta mais leve vai requerer menos força para suportar que uma
ferramenta pesada. Diretrizes afirmam que o peso de uma ferramenta não deve ser maior que
2,3 kg se a ferramenta for suportada pela mão ou for operada com distância do corpo, há
ferramentas de precisão não devem pesar mais de 400 gramas42.
11
O comprimento suficiente de uma ferramenta é necessária para distribuir a pressão das forças
uniformemente em toda a mão e para evitar a pressão direta sobre o nervo mediano na palma
da mão ou na base do polegar . Um cabo da ferramenta deve ser longo o suficiente para
estender proximo à eminência tenar e permitir a liberdade de movimentos no punho 9.
Um ferramenta curta pode lesionar não só a superfície dos nervos medial e ulnar, mas também
a bainha tendínea, causando dedo em gatilho e neurite digital9.
Schoenardie44, ao pesquisar chaves de fenda concluiu que as características dessas
ferramentas quanto à pega, empunhadura, manejo, acabamento e materiais devem ser
definidos na concepção do projeto, levando em conta diferentes requisitos.
Teixeira et al.45 estudaram a Ergonomia no uso de estiletes em gráficas rápidas. O estudo
utilizou o protocolo Rula para avaliar a postura durante o refile de cartões de visita. Segundo
os autores, embora de forma geral os trabalhadores estejam satisfeitos com as ferramentas que
utilizam, a atividade necessita de intervenções ergonômicas, pois oferece risco aos
trabalhadores, sobretudo devido a altura da bancada de trabalho e posturas adotadas.
Garcia46 avaliou a ergonomia e usabilidade das facas utilizadas para o desconche de
mexilhões em uma empresa de pescados, a fim de identificar características de design que
necessitam de modificações e apresentou um protótipo funcional da ferramenta para testes de
usabilidade (eficiência, eficácia e satisfação) sob condições reais de uso.
Em um estudo sobre martelos, Guilhon, David e Diniz47 descrevem a aplicação de princípios
ergonômicos para a redução do esforço realizado pelo usuário no ato da quebra do caranguejo
para a degustação da carne, e ainda a inclusão de maior nível de precisão de movimento.
Albano et al30 avaliaram tatilmente quatro facas com cabos fabricados com diferentes tipos de
materiais, os funcionários da cozinha do Restaurante Universitário da UFRGS avaliavam o
conforto, a dureza, textura, maciez e firmeza. O resultado apontou que as facas de cabo
emborrachado geraram maior conforto aos usuários.
Sala40 estudou o descascamento de raízes de mandioca, identificando os requisitos
ergonômicos desejáveis para um projeto de ferramenta manual destinada à tarefa de
descascamento de raízes de mandioca. A autora concluiu que a ferramenta de uso habitual
possui características pouco desejáveis por não serem ergonômicas, seguras e nem higiênicas,
além da área de circunferência, formato da pega, cantos agudos, área estreita na parte de cima
da lâmina, área cortante próxima aos dedos, formato de pega que não acompanha as curvas
das mãos. Além disso, ela apresentou na pesquisa uma proposta de ferramenta adequadamente
ergonômica para a atividade.
12
6. Conclusão
7. Referências Bibliográficas
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3. KATTEL, B. et al. The effect of upper extremity posture on maximum grip strength.
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13
6. IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. edição rev. e ampl. - São Paulo: Edgard
Blücher, 2005.
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