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Este é o principal risco de lesões em coluna

vertebral: elevar cargas a partir do solo e longe do


eixo axial do corpo.
Outros riscos importantes são a elevação e o
transporte repetitivo de cargas pesadas ou a perma-
nência do trabalhador em posturas de flexão, hipe-
rextensão, inclinação e torção. Os riscos aumentam
quando estas posturas são compostas. Os riscos de
lesões lombares estão associados também à vibra-
ção, principalmente na frequência de 5 a 10 Hz e ca-
racterísticas pessoais do indivíduo, como por exem-
plo, o sobrepeso, o sedentarismo, lesões prévias e
encurtamento muscular.
A prevenção de distúrbios em coluna vertebral
é baseada em três parâmetros de conduta:

a) O desenho (layout) e os espaços de trabalho;


b) Educação e formação;
c) Seleção do trabalhador1.

O Quadro 2 expõe de maneira sistemática e su-


cinta exemplos de parâmetros de melhoria para re-
dução de riscos de lesões em coluna vertebral lom-
bar (HALPERN, 1992).

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A seleção de trabalhador não faz parte da ergonomia, pois fere os princípios

antropocêntricos da disciplina de “adaptar o trabalho ao homem”, porém pode

fazer parte de ações práticas de proteção ao trabalhador por períodos pré-

-determinados e quando todos os outros recursos falharem.

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A maioria das ações ergonômicas de prevenção
de distúrbios em coluna vertebral lombar focalizam
seus esforços na redução da frequência de levanta-
mento de cargas, localização inicial para seu levanta-
mento para inibir a necessidade de flexão, inclinação
e torção de tronco, adequação das pegas (alças) e na
adaptação dos espaços de trabalho.
Parte das melhorias nesta área envolve a tecno-

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logia, como a substituição do esforço muscular pela
ação de forças de máquinas e equipamentos, princi-
palmente se há uma dificuldade em adaptações con-
forme descritas no parágrafo anterior.
A manipulação de pacientes no leito (banhos,
medicações), sobretudo os pacientes obesos e de-
pendentes (em leitos de UTI, por exemplo), a in-
serção de mecanismos para elevação como o Jack,
Viking (lifts) é mais eficaz do que tentar seguir as
prescrições contidas no parágrafo anterior, visto que
a carga a ser manipulada pelo trabalhador é um ser
humano e ainda que haja tecnologia envolvida as al-
turas e dimensões à serem trabalhadas possuem res-
trições impostas pelo leito hospitalar.
Outro ponto importante é a educação e forma-
ção dos trabalhadores. Não se pode permitir que os
trabalhadores sejam alocados em tarefas que requei-
ram a manipulação de cargas sem que eles recebam
treinamento adequado e periódico sobre as formas
corretas de desempenhar suas atividades. Além dis-
so, a NR-17 exige que seja feita uma capacitação so-
bre o assunto para os trabalhadores que manipulem
cargas em seu trabalho.
Estes treinamentos deverão ser documentados
e cada trabalhador deverá assinar uma lista de pre-
sença para comprovar sua participação. Uma avalia-
ção do treinamento deverá ser feita por eles com o
objetivo de melhoria da qualidade do evento.

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A seleção do trabalhador como exposto ante-
riormente deve ser feita em última instância, pois o
que deve ser adaptado é o trabalho e não o indiví-
duo. Entretanto, temos que convir que há trabalhos
de natureza pesada os quais uma seleção pode ser a
forma mais adequada de prevenção de dores lomba-
res (bombeiros, policiais, pedreiros etc.).

2.4 Antropometria

A antropometria é um conjunto de teorias e


práticas dedicadas a definir os métodos e variáveis
para medir o ser humano com o objetivo de assegu-
rar seu conforto, segurança e saúde ao executar suas
atividades. A antropometria é um importante ramo
de estudo da ergonomia física.
A antropometria se relaciona com a estrutura
do corpo, sua composição, massa, estatura, dimen-
sões, constituição corporal e os espaços de trabalho,
as máquinas e o ambiente como um todo.
Para o estudo da antropometria padronizam-se
algumas variáveis antropométricas de medida, que
expressam uma dimensão padrão do corpo ou um
segmento corporal. São definidos pontos de referên-
cia precisos do corpo, como por exemplo, medidas
realizadas a partir de proeminências ósseas ou extre-
midades de um membro.
As medidas antropométricas podem ser lineares,

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como a altura ou a distância entre pontos de referên-
cia corporais, angulares, como por exemplo, o ângulo
formado pela flexão máxima do tronco ou do punho
de um indivíduo. Pode ser ainda um perímetro, como
o perímetro do braço na altura média do músculo bí-
ceps, ou a medida da cintura pélvica etc.
Os instrumentos mais comuns utilizados na
antropometria são a fita métrica, o goniômetro e o
estadiômetro. Entretanto, atualmente muitas das me-
didas antropométricas são resultados de instrumentos
complexos automatizados, utilizados principalmente
em laboratórios de biomecânica e antropometria (dis-
ciplinas complementares) e softwares diversos.
A Figura 11 ilustra as principais variáveis antro-
pométricas, como por exemplo, a estatura, as distân-
cias dos membros superiores e inferiores, as dimen-
sões da cabeça, os alcances horizontes na postura
em pé e sentado.

Saiba Mais
Eletromiografia (EMG): é o estudo da ativi-
dade elétrica do músculo. O estudo do músculo a partir dessa
perspectiva pode ser muito válido por proporcionar informa-
ção concernente ao controle dos movimentos voluntários e/
ou reflexos. O estudo da atividade muscular durante determi-
nada tarefa pode revelar quais músculos iniciam e cessam sua
atividade. Além disso, é possível quantificar a magnitude da
resposta elétrica dos músculos durante a tarefa.

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Eletromiograma é o perfil do sinal elétrico detectado por um
eletrodo num músculo, ou seja, é a medida do potencial de ação
do sarcolema.
Sinal de EMG é registrado usando um eletrodo, que funciona
como uma antena, podendo estar interno ou superficialmente
sobre a pele. O eletrodo interno é uma agulha que é aplicada
diretamente sobre o músculo. Este tipo de eletrodo é utilizado
para músculos profundos ou pequenos. Eletrodos de superfí-
cies são aplicados sobre a pele, por cima de um músculo, de
modo que são utilizados principalmente para músculos super-
ficiais (é o mais utilizado em estudos biomecânicos).
(Texto extraído do livro “Fundamentos do Movi-
mento Humano” de Joseph Hamill, p. 85 e 86).

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A antropometria é uma ferramenta que auxilia
na definição das distâncias de trabalho, como por
exemplo, a altura ideal de uma bancada, de uma
mesa para uso de computadores etc., o diâmetro de
uma alça, de um assento para uso em escritórios ou
para veículos, ou ainda para determinar o tamanho
exato do uniforme dos trabalhadores.
Como exposto anteriormente, nos dias atuais,
softwares diversos auxiliam no dimensionamento
antropométrico, sendo na prática as medidas seg-
mentares individuais ficarem quase que restritas para
trabalhos de cunho científico, ou seja, laboratórios
principalmente de universidades ou em indústrias
multinacionais, como montadoras de veículos para a
resolução de problemas bem específicos.

2.5 Biomecânica Ocupacional

A biomecânica é uma disciplina que une dois ra-


dicais: “bio” (sistema vivo) + “mecânica” (análise de
forças e seus efeitos) para estudar os movimentos cor-
porais e forças relacionadas ao trabalho. Ela estuda a
forma que o organismo exerce força e gera movimento.
A biomecânica une as ciências físicas, ciências
biológicas e ciências comportamentais para compre-
ender a carga física de trabalho. Ela utiliza leis da
física e conceitos de engenharia para descrever mo-
vimentos realizados por vários segmentos corpóreos

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e forças que agem sobre estas partes do corpo du-
rante atividades normais de vida diária (CHAFFIN
et al, 2001, p.1)
A biomecânica estuda as interações do ser hu-
mano com os materiais, ferramentas, posto de traba-
lho e máquinas com o objetivo de reduzir os distúr-
bios músculo esqueléticos.
Segundo Hall (2007), os movimentos humanos
podem ser analisados de maneira quantitativa ou
qualitativa. A análise quantitativa, como o próprio
nome diz, inclui informações numéricas, enquanto
a análise qualitativa requer descrições de caracte-
rísticas relacionadas às qualidades, ou seja, sem ne-
cessidade de números. Por exemplo, ao se analisar
um trabalhador pegando um documento numa im-
pressora o observador poderia dizer: o trabalhador
inclinou-se pouco para tal (ao descrever o movimen-
to de maneira qualitativa). De maneira quantitativa,
o observador poderia dizer, o trabalhador flexionou
seu tronco em 15 graus para alcançar o documento.
O corpo humano assemelha-se a um sistema de
alavancas movido pela contração muscular. Vejamos
como o corpo humano trabalha como alavancas. A
Figura 12 ilustra o tipo de alavanca interfixa, na qual
o ponto de apoio encontra-se entre a carga e o ponto
de aplicação da força.

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A Figura 13 ilustra o tipo de alavanca interresis-
tente, na qual a resistência (carga) permanece entre o
ponto de apoio e o local de aplicação da força.

Segundo Couto (2002), o ser humano possui


pouca capacidade de aplicação de forças físicas no tra-
balho, pois suas alavancas fisiológicas possuem carac-
terísticas que habilitam a realização de movimentos
de alta velocidade e grande amplitude de movimento,
porém com baixa capacidade de força e aplicação de
resistências. Isto ocorre pela predominância no corpo

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humano de alavanca do tipo interpotente
A Figura 14 ilustra o tipo de alavanca interpo-
tente, na qual o local de aplicação da força perma-
nece entre o ponto de apoio e a resistência (carga).

O movimento humano é composto por dois


tipos de movimentos: o movimento linear e o mo-
vimento angular. Geralmente atuam simultaneamen-
te numa combinação complexa a qual chamamos de
movimentação geral.
O movimento linear também é denominado de
movimento de translação ou translacional (HAMILL,
2008). Este tipo de movimento ocorre ao longo de
uma trajetória retilínea, ou ainda, de maneira curva em
que todos os pontos num corpo ou objeto se movi-
mentam numa mesma direção e num mesmo interva-
lo de tempo. Alguns autores classificam o movimento
linear de duas maneiras: se o movimento ocorrer em
linha reta o movimento é retilíneo e se a linha for cur-
va, o movimento é curvilíneo (HALL, 2007).
O movimento angular é o movimento em torno

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de algum ponto ou a rotação ao redor de uma linha
central imaginária, conhecida como eixo de rotação
(HALL, 2007; HAMILL, 2008). Nos estudos biome-
cânicos em geral primeiramente analisa-se as caracte-
rísticas do movimento linear de uma atividade e, em
seguida, examina-se os movimentos angulares (HA-
MILL, 2008).

2.5.1 Planos cardinais de referência

Segundo Hall (2007), os planos cardinais são


planos anatômicos de referência os quais dividem o
corpo em três dimensões:

• Plano sagital (ântero-posterior): divide o corpo ver-


ticalmente, em metade direita e esquerda. Neste plano
ocorrem os movimentos para frente e para trás do
corpo e dos segmentos corporais;
• Plano frontal (frontal): divide o corpo verticalmente
em metades anterior e posterior. Neste plano ocor-
rem os movimentos laterais do corpo e dos segmen-
tos corporais;
• Plano transverso (horizontal): divide o corpo nas
metades superior e inferior. Neste plano ocorrem os
movimentos horizontais do corpo e de seus segmen-
tos (quando o corpo está na vertical).

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“Saibamais Terminologia dos Movimentos Articulares
“Quando o corpo humano se encontra na posição
anatômica de referência, considera-se que todos os
segmentos corporais estão posicionados a 0° ou em
posição neutra. A rotação de um segmento corporal
na direção oposta à posição anatômica é denomina-
da de acordo com a direção do movimento e men-
surada como o ângulo formado entre a posição do
segmento corporal e a posição anatômica”.
(texto extraído do livro Biomecânica Básica (p. 37) de
Susan Hall (2007).

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No plano sagital os três movimentos principais
são a flexão, a extensão e a hiperextensão.

Os movimentos principais no plano frontal são


chamados de abdução (afastamento da linha média
do corpo e a adução (aproxima-se da linha média
do corpo). As inclinações laterais do tronco também
ocorrem no plano frontal, bem como a elevação e
depressão da escápula. No caso da mão ocorrem o
desvio radial (movimento do punho em direção ao
osso rádio) e o desvio ulnar (movimento do punho
em direção ao osso ulna), também chamados de ab-
dução e adução do punho. No caso dos pés a rota-
ção lateral da planta do pé é denominada eversão

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e a rotação medial é chamada de inversão (HALL,
2007), conforme Figura 17.

Os movimentos no plano transverso são as


rotações mediais e laterais (membros superiores e
inferiores), supinação (palma da mão voltada para
frente/cima) e pronação (palma da mão voltada para
trás/baixo) para o antebraço. No caso da cabeça,
pescoço e ombro os movimentos são chamados de
rotação para a esquerda e rotação para a direita.

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flexão

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