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Durante o curso faremos uso de textos ou traduções de outras escolas budistas, sendo
portanto importante diferenciar alguns pontos de vista das diferentes escolas. É necessário
respeitar profundamente os textos e ensinamentos de outras escolas budistas, que tiveram
o grande mérito de promover traduções de textos e disponibilização de sutras e livros
abordando importantes conceitos budistas em nossa língua (em alguns casos ainda não
disponibilizados por nossa escola), ainda que por vezes algum ponto de vista não seja o
mais correto do ponto de vista do Zen Budismo e de nossa linhagem.
Você deve entender que na família do Buddha não há discussões sobre Ensinamentos
“superiores” ou “inferiores”, e não se deve apontar algum Dharma como mais superficial ou
profundo. Você deve simplesmente tentar reconhecer o que for genuíno ou falso no
treinamento e prática.
Dogen Zenji, Shobogenzo2
Deve-se ressaltar também que iremos usar textos de outras escolas somente para o estudo
de conceitos teóricos do Budismo, porém não devemos misturar as práticas de outras
escolas com a prática do Zen Budismo. Devemos seguir rigorosamente as tradições de
nossa escola e as orientações de nosso Sensei, sob pena de perdermos tempo valioso de
prática e não conseguirmos nos aprofundar em nenhum caminho.
Budismo
(Iniciando com o Buda Histórico, Shakyamuni Buddha)
Período de vida do Buda: Entre 563 a 483 A.C. ou 480 e 400 A.C. (a depender da
1
Quando não estiver indicado as notas do texto foram preparadas e são de
responsabilidade de Jōken.
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Capítulo Bendōwa (Um discurso sobre fazer o melhor de si ao praticar o Caminho dos
Buddhas)
cronologia aceita)
Localização Geográfica Atual: Nepal e Norte da Índia
Alguns reinos Históricos da Região: Magadha, Kosala, Vajji, Kasi, Vatsa, Shakya.
Provável Língua Falada por Shakyamuni Buddha: Maghadi Prakrit (Prácrito de Maghada)
Primeiras línguas escritas no Budismo: Pali e Sânscrito (o budismo era uma tradição oral
e somente após séculos passou a ter os principais ensinamentos registrados por escrito).
Budismo na Índia
O subcontinente indiano continuou por muitos séculos como a região central do budismo
no mundo. Duas grandes correntes filosóficas do budismo Mahayana surgiram ainda na
Índia: A escola Yogacara (cujos expoentes principais foram Ashanga e Vasubandhu, no
século 4 D.C.) e a escola Madhyamika (cujo principal expoente for Nagarjuna, no século 3
D.C.).
Podemos citar como outros grandes nomes associados ao budismo Mahayana na Índia:
Ashvaghosa, Aryadeva (Kanadeva), Chandrakirti, Shantideva.
Os Veículos Budistas3
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Notas por Jôken.
Dukkha com a a seguir permanece em (Despertar
extinção dos silêncio (abrangência completo e perfeito
kleshas) limitada, sem girar a de um Buda) ou
roda do dharma, sem o estágios do
rugido do leão) Bodhisattva
Ekayana
Veículo Único ou Veículo Supremo
Por ter sido fortemente influenciado pelo Sutra Laṅkāvatāra, Sutra de Lótus e o Sutra da
Guirlanda de Flores, o Budismo Zen por vezes se aproxima mais do ponto de vista do
veículo Ekayana (Veículo Único ou Veículo Supremo) do que puramente Mahayana. Ocorre
que o termo “Mahayana” é tradicionalmente usado como um guarda chuva para englobar
um grande número de escolas e tradições, incluindo o budismo Zen e outras escolas que
também aderem ao ponto de vista Ekayana, no entanto o termo "Ekayana" é pouco
difundido e muitas vezes tratado como sinônimo ou equivalente a uma visão mais ampla do
Mahayana.
Existe também uma possibilidade de divisão interna do Zen budismo em veículos, conforme
a abordagem da prática e a compreensão dos praticantes: Gedo Zen (Zen externo ou Zen
não-budista), Bompu Zen (Zen ordinário), Shojo Zen (Pequeno veículo Zen), Daijo Zen
(Grande veículo Zen) e Saijojo Zen (Supremo veículo Zen). Em um áudio nesse tópico
Genshô Sensei detalha esses conceitos.
Vou conversar com vocês sobre três formas de prática, que na verdade são três caminhos
ou veículos. Veículo diz-se “Yana” e o primeiro veículo é “SRAVAKAYANA”, que é o
caminho daquele que aprende através da compreensão dos ensinamentos, sendo que três
ensinamentos básicos precisam ser muito bem entendidos para que consigamos uma
libertação do sofrimento.
O segundo ensinamento que precisamos compreender é “Anatta”, de que nada tem um “eu”
inerente. Todos os “eus” são construídos. Lembro-me de meu tempo de juventude quando
tínhamos um fusca e lhe demos o nome de Pitanguinha. Lembro-me até hoje do dia em que
o vendi e fiquei muito triste, mas na realidade ele nada mais era do que ferro, lata, motor,
borracha e óleo. O carro havia ganhado um “eu”, era o Pitanguinha. O “eu” do carro é tão
falso e construído como nosso próprio “eu”. Nós somos constituídos de pele, unha, ossos,
carne, água e células, mas pensamos que temos um “eu” próprio. “Anata” é o ensinamento
que não existe nenhum “eu” verdadeiro em coisa alguma, todos são construídos e entender
isso, essa noção de separação de todas as coisas, que é uma construção mental, é um
trabalho que exige lucidez e clareza.
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https://www.daissen.org.br/tres-formas-de-pratica/
Tudo que existe no mundo e que ambicionamos, logo depois de conquistado parece não ser
mais o mesmo. As pessoas que desejam muito um filho, casam-se, têm o filho e este
torna-se então a fonte da insegurança, sofrimento, ansiedade e até mesmo fonte de
pesadelos em razão do medo de sequestros, doenças e morte. Esses sofrimentos são
muito reais e de nada adianta explicar para as pessoas que são sofrimentos construídos.
Mesmo as coisas mais belas da vida estão sujeitas à “Dukkha”, não significa sofrimento,
mas sim que a vida é cheia de sobes e desces, felicidade e infelicidade, riqueza e pobreza,
saúde e doença.
Estava lendo sobre a vida de Bobby Fischer que em 1972 foi campeão mundial de xadrez.
Desde os seis anos de idade era apaixonado por xadrez e em 1972 teve a oportunidade de
desafiar o campeão mundial, Boris Spassky, um Russo que vinha de anos de vitórias, e o
venceu. Depois desse ano ele não conseguiu jogar outros campeonatos, pois chegara onde
jamais imaginara chegar, era campeão do mundo. O que aconteceu foi que logo após ter
sua grande conquista, seu maior objeto de desejo, isso se dissolveu em suas mãos e
tornou-se fonte de sofrimento. Viver num mundo fugaz de impermanência, pisando num
chão que constantemente se modifica é um grande desafio, mas os Sravakas,
compreendendo perfeitamente essas coisas, atingem a iluminação. Se tornam aqueles que
através do ensinamento conseguem atingir a libertação, livrando-se de toda dor e
sofrimento.
Além disso as descobertas mais recentes mostram que os primeiros textos escritos
Mahayana apareceram de forma aproximadamente simultânea aos primeiros textos escritos
Theravada (por volta do século I), o que torna mais difícil a alegação de que somente o
Theravada seria detentor da forma de budismo mais antiga. Adicionalmente, a análise
moderna textual defende que mesmo no Cânon Pali diversos suttas teriam sido
posteriormente alterados, interpolados e mesclados, ou seja, não corresponderiam aos
discursos originais de Buddha e seus discípulos, como é defendido por parte da tradição
Theravada. A tudo isso também adiciona-se o ponto de vista do Zen e Mahayana, que
considera que o budismo precisa ser mantido como uma tradição viva, baseada na
experiência, sendo que os textos budistas estáticos, sem passar pela interpretação e
eventualmente até atualização por professores e praticantes realizados, possuem valor
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Notas por Jôken.
limitado. Sob essa interpretação, pouco importa qual escola detém os ensinamentos e
textos mais antigos, e sim quais escolas conseguem manter viva a essência dos
ensinamentos do Buddha.
Outra consideração comum é que de fato o budismo Theravada seria mais próximo ao
budismo original, porém ao longo dos anos mestres realizados fizeram adaptações e
criaram os sutras mahayana, conforme avançou a compreensão do budismo ao longo dos
séculos, e esses sutras teriam sido atribuídos a Shakyamuni Buddha para maior
credibilidade e também para evitar a autopromoção do mestre. Essa é uma teoria aceita por
vários mestres atuais.
Por fim, a abordagem mais equilibrada e harmônica solicita que as diferentes formas de
budismo se respeitem de forma não-sectária. Existe por exemplo um respeitado documento
“Os Pontos Básicos Unificando o Theravada e Mahayana”, preparado pelo Venerável
Walpola Rahula, um importante professor Theravada, que foi aprovado unanimemente em
um grande congresso mundial budista em 1967 (WBSC), em que estavam presentes
representantes de múltiplas escolas budistas Mahayana e Theravada.
Chan / Zen
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Notas por Jôken.
Fayan Yunmen Guiyang (Rinzai)
Caso 2 do Denkoroku: O Venerável Makakashô foi o primeiro ancestral. Certa vez, quando
o Honrado do Mundo levantou uma flor de lótus dourada e piscou, Makakashô sorriu.
Assim, o Honrado do Mundo disse: ― Eu tenho o Olho Tesouro do Verdadeiro Dharma e a
Maravilhosa Mente de Nirvana, e isto eu transmito a Makakashô.
教外別傳 jiào wài bié zhuàn Uma transmissão externa aos ensinamentos,
7 https://terebess.hu/zen/mesterek/40b.5-Transmission-outside-the-scriptures.pdf
直指人心 zhí zhĭ rén xīn Diretamente aponto a mente humana,
Essa frase às vezes é interpretada como uma completa rejeição do Zen às escrituras e
ensinamentos usando palavras, porém essa não é a interpretação mais correta. Um
entendimento mais correto (embora ainda incompleto) é que no Zen não basta a
compreensão dos ensinamentos das escrituras ou das palavras dos outros, é necessária a
experiência direta do despertar, e o reconhecimento dessa experiência por um professor
desperto, o selo da transmissão.
“Tudo que aparece nos três reinos vem da mente. Por isso budas do passado e do futuro
ensinam de mente a mente, sem se preocupar com definições.”
Bodhidharma
“Estudando o Zen, a pessoa usa todos os veículos do budismo; praticando o Zen, a pessoa
alcança o despertar em uma única vida.”
Myōan Eisai8
[Alguém] pode perguntar: “Certamente, alguém que está pensando em praticar meditação
sentada pode também fazer práticas como as recitações de mantra do Shingon ou a prática
de introspecção do Tendai, em que se tenta parar os pensamentos maus e contemplar o
que é a verdade, certo?”
Eu [Dôgen Zenji] apontaria o seguinte: “Quando eu estava na China, eu perguntei a mestres
de nossa tradição sobre as chaves genuínas para uma prática com sucesso. Nenhum deles
disse que havia ouvido de qualquer dos Ancestrais de quem o selo do Buddha havia sido
propriamente Transmitido - fosse na Índia ou na China, agora ou no passado - por essas
duas práticas.” [...]
Observação: Agrupamos aqui grandes tradições que na verdade são compostas por
múltiplas escolas diferentes, trata-se na verdade de um quadro bastante simplificado
apenas para fornecer um panorama geral e introdutório das diferentes escolas.
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Notas por Jôken.
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Às vezes a escola Soto é considerada gradualista em relação à Rinzai mas isso não é
tecnicamente correto, todas as escolas Zen sobreviventes são da linhagem de Hui Neng, e portanto
instantaneístas. As linhagens de Shen Hsiu, gradualistas, se extinguiram. Hui Neng e Shen Hsiu
foram os principais discípulo do quinto ancestral do Zen na China (Daman Hongren - Daiman Kônin
Daioshô), mas de acordo com a tradição foi Hui Neng quem recebeu a transmissão autêntica e
completa da linhagem. Esses detalhes são descritos no “Sutra da Plataforma” de Hui Neng, existindo
uma bela tradução desse texto para o português feita por Kômyô Sensei:
https://www.agbook.com.br/book/40128--O_Sutra_de_Hui_Neng
Zen Rinzai / Zazen, Mahayana, Instantaneísta Sutras Prajnaparamita,
Chan Linji / Zen Koans Ekayana Lankavatara,
Vietnamita Surangama, Sutra de
Lótus, Diversas
coleções de Koans,
Cânon Chinês / Taishô
Tripitaka.
Monge Genshô: Tem uma imagem bastante interessante que é assim: você tem uma
montanha para subir, aí você quer um caminho espiritual. Escolha um caminho espiritual e
comece a trilhá-lo seriamente. Agora, se começou a subir a montanha e olha para o outro
lado e vê outra trilha mais bonita. Sai da trilha e vai para a outra. Quando está na outra, vê
mais outra e muda para lá. Assim não sobe a montanha. Porque você não faz outra coisa
se não experimentar trilhas. Não é assim. Você não atinge uma graduação na faculdade
mudando de curso. Faz dois meses de um curso, depois muda para outro, outro, outro.
Muda quatro ou cinco cursos e não termina nenhum. Não é diferente do praticante espiritual
que vive como uma borboleta, trocando de lugar, tentando treinar de forma diferente.
Caminho espiritual a sério é: escolha seu professor. Mesmo. Normalmente a escola vem
junto. Você não escolhe a escola e depois o professor. Normalmente você encontra seu
professor aí então treina naquela escola. Treina até ultrapassar o professor. Um bom
professor quer que você seja melhor do que ele, e não menos do que ele. Não fica tentando
controlar você, mandando, tentando reter os alunos, não têm ciúmes dos alunos, não
pretende enriquecer com alunos, nada disso. Procure um professor que você olhe para ele
e diga “ah, isto eu admiro”. E não espere ver uma pessoa perfeita. Se Jesus Cristo
parecesse perfeito, os soldados romanos não conseguiriam cuspir ou bater nele com
chicotes. Se Buda parecesse perfeito, não teria alunos que se revoltaram contra ele,
quiseram sair, fazer outro grupo, fazer fofoca. Até um tentou matá-lo uma vez. Não seria
assim.
Os mestres também estão trilhando o caminho e eles podem ajudar a você. “Eu andei essa
trilha até tal lugar, cuidado, nesse lugar você precisa usar tênis. Naquele outro ali, precisa
de um bastão. Leve corda para tal trecho.” Esse é o guia que pode ajudar você. Mas quem
não trilhou um caminho não pode ajudar ninguém. E se você olhar com atenção, vai ver que
existem muitos surgimentos de professores que a única coisa que têm é a imagem. Hoje
ficou fácil verificar. Pode pegar o nome de qualquer um e colocar o nome na internet.
Pronto. Assim você vai saber. Se pegar um professor como o Dalai Lama (Escola Tibetana),
você vai ver que escreveu ensinamentos e 99% do que se fala dele é bom. Agora, se você
pegar alguém e metade das pessoas fala bem e outra metade fala mal, há muitas
controvérsias, vá embora. Procure um professor mais sólido.
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Do blog: https://www.daissen.org.br/trocar-de-caminho/
O caminho do meio dentre a diversidade de conteúdos
Cronologia do Budismo
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A cronologia mais moderna é baseada na datação do reinado de Ashoka e outros eventos
históricos mais precisamente determinados.
missionário de Ashoka.
- Primeiros registros escritos sobre o
Budismo (Pilares com os Editos de
Ashoka).
- Provável finalização do Cânon Pali (ainda
com transmissão oral).
Século I A.E.C. - Cânon Pali foi todo registrado em folhas - Júlio César cruza o
(Sri Lanka e de palma no Sri Lanka (35-32), porém essa Rubicão (48 A.E.C)
Paquistão) versão não sobreviveu. - Fim da República
- Milinda-pañha (Diálogo entre o sábio Romana e Início do
budista Nagasena e o rei Indo-Grego Império Romano (27
Menander I). A.E.C.)
- Nascimento revisado
de Jesus Cristo (4
A.E.C).
Século III E.C. - Expansão do Budismo para Burma, - Império Pérsia volta a
(Subcontinente Camboja, Laos, Vietnã e Indonésia. rivalizar com Roma
indiano, - Significativa influência budista na Pérsia. - Três Grandes Reinos
Camboja, Vietnã, na China (Wu, Wei e
Burma, Laos, Shu-han)
Indonésia, - Império Maia na
Pérsia) Meso-américa.
Século VIII E.C. • Diversas escolas budistas (Jöjitsu, Kusha, O Islã ocupa o Norte
Sanron, Hossö, Ritsu, and Kegon) da África e Ásia
proliferam no Japão. Central.
Século XIII E.C. - Dogen (1200-1253) funda a escola Soto - Carta Magna (1215)
Zen no Japão. - Genghis Khan invade
- Shinran (1173-1263) funda a escola Terra a China (1215)
Pura Shin no Japão. - Finalizada invasão
- Nichiren (1222-1282) funda a escola mongol na China
Nichiren no Japão. (1279)
- Mongóis são convertidos ao budismo - Viagens de Marco
Vajrayana. Polo de Veneza à corte
- O budismo Theravada chega ao Laos. chinesa/mongol de
Kublai Khan
(1271-1295)
Século XIV E.C. Refundação do Templo Sôji-ji (na linhagem - China obtém a
Soto Zen) por Keizan Jokin Zenji (1321). independência dos
- Editado o Cânon Tibetano. Mongóis na dinastia
- Budismo Theravada se torna a religião Ming (1368).
estatal na Tailândia (1360).
- Budismo Theravada adotado no Camboja
e Laos.
- Fundação da escola Gelugpa no Tibet.
Século XVIII E.C. - Ocupação colonial do Sri Lanka, Burma, - Iluminismo na Europa
Laos, Camboja e Vietnã. - Independência
Americana (1776)
- Revolução Francesa
(1789)