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H O M E INFECTOLOGIA COVID-19 E O RISCO DE REINFECÇÃO

Infectologia

Covid-19 e o risco de
reinfecção

Tempo de leitura: 4 min.

Após o surgimento dos primeiros relatos de


casos de possível “reinfecção” pelo
coronavírus SARS-CoV-2, associado à
pandêmica síndrome de Covid-19 já em
fevereiro de 2020 em alguns países,
observou-se uma progressiva investigação à
compreensão da fisiopatologia da doença.
Com o acúmulo de evidências confirmando a
ocorrência de “reinfecção”, os esclarecimentos
sobre os mecanismos imunitários, duradouros
ou não, representam também desafios
consideráveis para o controle da doença
através de estratégias vacinais.

É importante lembrar que reinfecção por


SARS-Cov-2 consiste em uma recorrência da
infecção pela mesma estirpe viral em intervalo
maior ou igual 45 dias após a infecção inicial
(Organização Panamericana de Saúde,
OPAS, 2020). e uma nova infecção consiste
em doença por uma variante do vírus (distinta
do episódio de Covid-19 anterior). Um novo
episódio de Covid-19 no mesmo
indivíduo/doente, com histórico clínico e
comprovação laboratorial de infecção prévia
por SARS-Cov-2, pode ser consequência da
reinfecção ou de uma nova infecção. Porém,
até atualmente observa-se que o termo geral
universalmente utilizado para definir
recorrência de Covid-19 é reinfecção,
independente de estar associada ou não a
mesma estirpe.

Leia também: Covid-19: a narrativa ao redor


da ivermectina

Relatos
Amorim et al., (2021) relataram 4 casos de
novas infecções por novas variantes SARS-
Cov-2 entre profissionais de saúde (3
enfermeiras e 1 staff) ocorrido no Hospital das
Clínicas, na cidade de Campinas, SP, Brasil.
Os pacientes eram mulheres, entre 40 a 61
anos, com infecção inicial e sintomas leves
entre 5 de abril a 10 de maio de 2020, com
duração de 10 a 23 dias, sem necessidade de
internação. Após a resolução dos sintomas do
primeiro episódio, as profissionais de saúde
apresentaram testes molecular negativo para
SARS-CoV-2 e sorologia negativa (IgM/IgG).
As novas infecções ocorreram entre 55 a 170
dias após o primeiro episódio da doença, com
duração de 9 a 23 dias. Não houve alteração
nos cuidados e uso de equipamento de
proteção individual (EPIs). As partículas virais
foram detectadas a partir da secreção nasal
por qRT-PCR durante os dois episódios da
doença, e também isoladas com cultura de
células Vero. Os vírions foram caracterizados
por sequenciamento genómico e comparados,
com observação de mutações que
diferenciavam os vírus infectantes nos
diferentes episódios da doença. Três estirpes
pertenciam a linhagem B.1.1.28 e uma a
linhagem B.1.1.33., as quais estavam em
circulação em território brasileiro desde março
de 2020, e apresentavam a mutação D614G
na glicoproteína da espícula, a qual está
associada com maior taxa de replicação viral
e susceptibilidade do vírus à neutralização por
anticorpos. As recentemente descritas
variantes de SARS-CoV-2, B.1.1.7, B.1.351 e
P.1., tem também sido associadas com novas
infecções e quadros de Covid-19, em muitos
dos casos com maior gravidade e pior
prognóstico.

Estudo recente
Em um estudo publicado na The Lancet
Respiratory Medicine, Letizia et al. (2021)
avaliaram o risco de novas infecções por
SARS-CoV-2 entre 3076 adultos jovens
marinheiros (18 a 20 anos), sem
comorbidades, que apresentavam variações
quanto ao status sorológico para IgG após o
primeiro episódio de Covid-19. Os militares
foram acompanhados por 6 semanas, em um
ambiente exclusivo e recluso sem contato com
outras populações, após um período inicial de
14 dias de quarentena, com monitoramento
inicial por sorologia e teste molecular de RT-
PCR para SARS-CoV-2 (semanas 0 e 1) a
partir de secreção nasal, e em seguida nas
semanas 2, 4 e 6. As conclusões do estudo
incluíram aspectos relevantes para direcionar
os próximos passos no combate a pandemia
de Covid-19, como:

A taxa de resultados positivos pelo RT-PCR


para SARS-CoV-2 foram 80% menores
entre indivíduos com sorologia positiva;
Casos de nova infecção foram detectados
mesmo entre indivíduos com sorologia
positiva mas em menor proporção;
A recorrência da Covid-19 é inversamente
proporcional aos títulos de anticorpos IgG
antiespícula viral;
Os títulos de anticorpos neutralizantes eram
menores entre militares com sorologia
positiva devido a infecção prévia e com RT-
PCR para SARS-CoV-2 positivo no
seguimento, quando comparados com
aqueles com sorologia positiva e que
permaneceram sem nova infecção viral;
A maior gravidade dos quadros de Covid-19
tem sido associados com maiores títulos de
anticorpos neutralizantes;
A sorologia positiva anti-SARS-CoV-2 não
garante neutralização ou proteção imune
para infecções subsequentes;
A imunidade para estirpes de SARS-CoV-2
pode conferir proteção limitada para novas
variantes;
Os novos casos de infecção por SARS-
CoV-2 foram assintomáticos ou
oligossintomáticos entre os adultos jovens;
Há predominância de infecção
assintomática entre adultos jovens e
representam potencial fonte de transmissão
na comunidade;
Indivíduos com infecção prévia por SARS-
CoV-2 devem ser vacinados para
potencializar as chances de resposta imune
protetora.

Esse estudo representa uma contribuição


significativa à compreensão da dinâmica da
resposta imune anti-Covid-19 e permitiu
avaliar os riscos de novas infecções, mesmo
sem a abordagem comparativa de estirpes.

Saiba mais: Remdesivir para tratamento da


Covid-19: Quando e como usar?

Conclusão
Com base nesses achados e outros estudos
semelhantes, e apesar da ausência de
definição sobre a melhor estratégia vacinal
para indivíduos que já tiveram a síndrome
Covid-19, novos recentes estudos indicam
que pacientes com infecção prévia que
receberam uma dose única de vacina mRNA
apresentam resposta imune robusta que
sobrepõe aqueles indivíduos que receberam
duas doses da mesma vacina e não tiveram
Covid-19 previamente. Propõe-se a vacinação
com dose única para os indivíduos com
sorologia positiva anti-SARS-CoV-2 (Letizia et
al., 2021; Velasco & Guijarro, 2021).

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Autor(a):

Rafael Duarte
M.D., PhD. ⦁ Médico ⦁
Microbiólogo ⦁ Professor
Associado / Lab. Micobactérias,
Depto. Microbiologia Médica,
Instituto de Microbiologia Paulo
de Góes, Centro de Ciências da
Saúde – Universidade Federal do Rio de Janeiro

Referências bibliográficas

Amorim MR, et al. Respiratory Viral


Shedding in Healthcare Workers Reinfected
with SARS-CoV-2, Brazil, 2020. Emerg
Infect Dis. 2021 Apr 19;27(6). doi:
10.3201/eid2706.210558
Letizia AG, et al. SARS-CoV-2 seropositivity
and subsequent infection risk in healthy
young adults: a prospective cohort study.
Lancet Respir Med. 2021 Apr 15:S2213-
2600(21)00158-2. doi: 10.1016/S2213-
2600(21)00158-2
Pan American Health Organization/World
Health Organization. Interim guidelines for
detecting cases of reinfection by SARS-
CoV-2. Washington (DC): The
Organizations; 2020. Disponível em:
https://www.paho.org/en/documents/interim-
guidelines-detecting-cases-reinfection-sars-
cov-2
Velasco M, Guijarro C. SARS-CoV-2
reinfection in a closed setting: lessons for
the community. Lancet Respir Med. 2021
Apr 15:S2213-2600(21)00187-9. doi:
10.1016/S2213-2600(21)00187-9

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Rafael Duarte

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