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1O conceito de profecias autorealizáveis aparece em diversos autores entre eles SIMON, H. Administrative
Behavior, New York, Free Press, 1976
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podemos considerar que o futuro será igual ao passado?. De forma jocosa Russel(1982),
descreve a história do peru que foi alimentado por diversos dias as 9 horas da manhã. Sendo
no entanto um peru científico somente tirou conclusões após uma série muito grande de
ocorrências deste fato. Finalmente concluiu que: perus são alimentados às 9 horas da manhã.
A série foi no entanto abruptamente interrompida na véspera do Natal, quando o peru foi
abatido para a ceia. De forma geral estes argumentos se aplicam a qualquer estudo indutivo,
não só aos estudos do futuro.
O fato das previsões subjetivas não se apoiarem em teorias é reconhecido por diversos
especialistas. Armstrong(1978) afirma que o processo através do qual as informações são
transformadas em previsões não é claro e não pode ser replicado. Vaught(1987) completa
dizendo que parece existir um pequeno e seleto grupo de indivíduos cuja experiência é em
futuro em geral. Estes especialistas consideram-se aptos a prever o futuro utilizando seus
"insights" pessoais e subjetivos 2. Estes especialistas, segundo Vaught, são na realidade
historicistas e a eles se aplicam as críticas que Popper endereçou ao método histórico3.
A crítica ao fato dos pesquisadores se concentrarem basicamente nas metodologias,
aparece em diversos trabalhos sendo de ressaltar o de Ascher(1978) que afirma que a
qualidade das previsões depende dos pressupostos teóricos na qual se baseia. As
metodologias são apenas o veículo através do qual se determinam as conseqüências dos
pressupostos básicos. Quando os pressupostos básicos são válidos, a escolha da
metodologia é secundária. Quando os pressupostos básicos falham em capturar a realidade,
a metodologia não pode salvar a qualidade da previsão.
É um fato conhecido que o simples ato de se realizar uma previsão aumenta a
probabilidade do evento acontecer. Alguns anos atrás, em uma greve de funcionários da
Petrobrás, um porta-voz do governo anunciou que poderia haver falta de gás caso a greve se
prolongasse. O que se viu posteriormente, foi a constituição de longas filas nos postos de
revenda, fato amplamente divulgado nos jornais nacionais. A medida que pessoas que
inicialmente não haviam se preocupado com a hipótese da falta de gás viam as filas, também
procuravam comprar o produto. O simples anúncio da possibilidade da ocorrência do fato,
transformou-o em realidade. Estas profecias também podem acontecer de forma inversa.
Somos testemunhas do que acontecia na economia brasileira a cada vez que alguma
autoridade afirmava que não haveria congelamento de preços. Esta mensagem era
interpretada como sinal de que brevemente os preços seriam tabelados e desencadeava uma
série de reajustes preventivos.
A objeção ligada a possibilidade da existência de uma central de cenários 4, aparece
sempre que se inicia um trabalho prospectivo. Do ponto de vista de filosofia da ciência, para
que as previsões tenham caracter científico, elas devem ser replicáveis, portanto ou deve ser
possível criar uma central de previsões, ou estes trabalhos não têm cunho científico.
2Vaught está se referindo principalmente a H. Kahn, J. Naisbitt e A. Tofler, que periodicamente no caso dos
dois últimos escrevem livros sobre o futuro, mas não descrevem os métodos pelos quais chegaram às
conclusões apresentadas. Vaught reconhece no entanto que Kahn afirmava que o método mais importante de
pesquisa do futuro é simplesmente pensar sobre o problema e tentar encontrar tendências de longo prazo.
3Popper define historicismo como a abordagem das ciências sociais que tem como objetivo realizar predições
históricas e assumem que este objetivo é alcançado através da descoberta de ritmos, padrões, leis ou tendências
que explicam a evolução da história.
4O trabalho de traçado de cenários que inspirou a elaboração do presente "paper" , foi executado em uma
organização ligada ao governo de um Estado. Um assunto que foi amplamente discutido no início dos
trabalhos, foi que ao invés da realizar o trabalho de elaborção de cenários, ele poderia ser delegado a
especialistas externos. Estes, possuindo maior conhecimento sobre determinadas áreas do que os integrantes da
organização, podeiram elaborar os cenários e fornecê-los prontos para a organização.
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5Karl Popper por exemplo considera que a capacidade de predição de uma ciência é uma medida de sua
validade e de seu progresso. Para esse filósofo, uma teoria é válida se permite previsões válidas de utilidade
instrumental.
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qual haviam sido formuladas. Vamos analisar apenas as situações de maior interesse para o
presente trabalho.
A situação 1 representa uma proposição que era verdadeira quando foi formulada e
efetivamente ocorreu. Neste caso houve uma predição correta com todos os benefícios para a
melhoria de tomada de decisões.
A situação 6, representa uma proposição que era indeterminada no momento em que
foi efetuada e tornou-se falsa no momento terminal. Muitas previsões têm o objetivo de criar
esta situação. Parte da literatura que é considerada de ficção, tem como objetivo na realidade
efetuar previsões. Estas previsões são úteis pelas conseqüências que desencadeiam.
Chesney(1871), por exemplo, escreveu “A Batalha de Dorking” onde traçou um quadro de
uma Inglaterra invadida pelas forças Prussianas, que terminava com a rendição do exército
Inglês em Dorking, nos arredores de Londres. Este trabalho foi escrito logo após a rápida
derrota Francesa na guerra Franco-prussiana. Teve como resultado a mobilização do governo
e do povo Britânico, culminado com o reforço da marinha real da Inglaterra. Se na data em
que o fato foi previsto ele era falso ou verdadeiro, não é possível determinar. Talvez o fato
tenha se tornado falso pelo fato da previsão ter sido efetuada. Um dos objetivos das
previsões é justamente questionar situações futuras de forma a evitar que futuros
indesejáveis se materializem.
A situação 7, que era falsa no momento em que foi descrita e tornou-se verdadeira no
final, também apresenta utilidade. Este é um dos casos em que são geradas profecias
autorealizáveis. Veja-se por exemplo as previsões do presidente Kennedy sobre a
possibilidade de um vôo tripulado à lua. Com a tecnologia existente no momento do
lançamento de seu desafio, provavelmente era impossível alcançar esta meta. O desafio no
entanto foi um motivador para que o fato realmente ocorresse.
Em princípio nós podemos conhecer o passado e o presente. Se o que sabemos sobre
o passado ou o presente está errado, incorremos em uma deficiência de conhecimento.
Mesmo podendo conhecer o passado e o presente, não podemos no entanto afirmar que o que
conhecemos está correto. Apenas podemos afirmar, segundo a linha filosófica de Popper,
que o conhecimento atual ainda não foi falseado. Outros estudiosos da filosofia da ciência
como Kuhn propõem que o progresso da ciência acontece nas quebras dos paradigmas, que
surgem à margem da ciência oficial. Os estudos do futuro procuram inquirir os
acontecimento e descobrir futuros possíveis, uma vez que sobre o futuro não podemos falar
em deficiência de conhecimento mas sim de desconhecimento. Alguns aspectos no entanto
podem ser considerados conhecidos. Podemos conhecer entre outras as seguintes situações: 6
1- a imagem que as pessoas e as organizações têm sobre o futuro possível
2- as expectativas que as pessoas e as organizações têm sobre o futuro provável
3- as preferências das pessoas e das organizações entre as alternativas futuras
4- a intenção das pessoas e das organizações sobre como agir em relação ao futuro.
5- as obrigações que as pessoas e as organizações têm com as outras e com a
sociedade.
6- a história, as tradições e as experiências com as decisões passadas.
O processo de previsão, ao mesmo tempo em que utiliza estas seis relações, procura
agir sobre elas. Em última análise, o que as previsões objetivam é agir sobre o processo
decisório, tornando-o coerente e integrado e sendo motivador de acontecimentos que de
outra forma poderiam não se concretizar. As previsões no entanto não garantem que as
decisões serão corretas.
7O sentido da palavra visionário neste trabalho não é pejorativo, mas simplesmente significa pessoas que
visualizam um futuro desejado e projetam-no
8Um exemplo ilustrativo destas limitações pode ser encontrado na previsão do tempo que deve decorrer entre o
momento que nasce um pinto e o que o frango estará pronto para o abate. Analisando-se a série de dados
disponíveis, constante da tabela abaixo, conclui-se que a partir do ano 2040 o frango será abatido antes de
nascer.
Ano Dias até o abate
1980 60 dias
1985 55 dias
1990 50 dias
1995 45 dias
2000 40 dias
2005 35 dias
............
2040 0 dias
9Todas as previsões sobre o crescimento da população mundial são catastróficos. Alguns estudiosos têm
afirmado que os únicos recursos que possuímos abundantemente são gente e poluição. Se procurarmos no
entanto calcular qual a área que a população mundial ocuparia se fosse possível dispô-la continuamente,
conclui-se que o problema não pode ser tão grave como descrito. Se fosse destinado 100 m2 a cada pessoa,
toda a população mundial poderia ser abrigada nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná e
com uma densidade populacional inferior a atualmente existente em Copacabana.
Estado área em km2 População
abrigável
Rio Grande do Sul 287.189 2.871 `
Santa Catarina 95.985 959
Paraná 199.554 1995
Total 5.825
Como a população mundial é de 5,7 bilhões de habitantes, apenas a região Sul do Brasil seria suficiente para
abrigá-los, restando todo o resto do planeta para fornecer os recursos necessários para esta população.
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A época áurea dos modelos matemáticos ocorreu até a década de 70 10, quando se
pensava que se seria possível modelar o mundo. Existem na literatura um conjunto elevado
de modelos quantitativos, estendendo-se desde os simples métodos baseados em séries
temporais, até modelos baseados em séries de Fourier que geram curvas adaptáveis a
qualquer padrão de comportamento (Makridakis et allii, 1983) O problema geral dos
modelos quantitativos, é que a medida que a complexidade do problema aumenta
linearmente, a do modelo aumenta exponencialmente. Alguns modelos importantes foram
definidos por Forrester(1961, 1971), que se preocupou em definir os efeitos da variação da
demanda de um setor nos setores a montante. Infelizmente aquele autor enamorou-se de seu
trabalho chegando a afirmar: agora é possível estabelecer hipóteses a respeito das diversas
partes de um sistema social, combiná-las em um modelo computacional e aprender sobre
suas conseqüências. Dado um determinado conjunto de premissas, o computador define os
seus resultados sem dúvida ou erro. Esta sua afirmação despertou a ira dos adversários da
utilização de modelos. Na realidade, seus modelos apesar de não representarem a totalidade
dos sistemas, servem para que se tirem importantes conclusões sobre a dinâmica dos
mercados. O consenso atual, é que apesar de teoricamente ser possível a criação de um
modelo realista do mundo, para a realização de previsões, ele será tão complexo que se
tornará inviável.
Dentro deste princípio vamos então descrever os métodos qualitativos de previsão
que foram analisados para a execução do presente trabalho.
5- MÉTODOS QUALITATIVOS DE PREVISÃO
Os métodos qualitativos de previsão, tanto normativos quanto exploratórios
analisados foram, previsões intuitivas, painéis de especialistas, método de Delphi, matrizes
de impacto cruzado, análise morfológica e cenários
5.1- Previsões intuitivas
As previsões intuitivas fazem parte do dia a dia de todas as organizações. Em
princípio as decisões são tomadas de acordo com o que os executivos consideram mais
provável que ocorra no futuro próximo. Apesar de sua grande utilização, o método não é
formalizável e faz com que as empresas estejam sempre apagando incêndios, sem que
tenham respostas estruturadas para os problemas futuros. Muitas vezes são contratados
especialistas externos de largo conhecimento para a geração de previsões mais confiáveis. O
registro das previsões geradas por este método está repleto de fracassos, muitas vezes
originados do desconhecimento dos especialistas sobre alguma nuança do problema em
análise. Alguns exemplos históricos são:
Em 1956, o astrônomo real da Inglaterra afirmou que as viagens espaciais eram
totalmente impossíveis. Em menos de 5 anos o russo Yuri Gagarin participava do primeiro
vôo espacial tripulado e após apenas treze anos, em 16/7/69, Armstrong e Aldrin desciam na
lua e lá permaneciam por quase 22 horas.
Muitas vezes a previsão do especialista está errada no que pensa que está certo e
correta no que julga errado. O Almirante William Lehay, em conversa com o presidente
Truman em 1943, analisando o projeto da bomba atômica afirmou: isto é a maior tolice que
10 Atualmente estão aparecendo algumas tendências que apontam para o aumento da popularidade dos métodos
baseados em modelos quantitativos. Sistematicamente tem aparecido nas páginas econômicas informações a
respeito do fraco desempenho dos administradores de fundos de ações. No caso brasileiro a maioria dos fundos
possui rentabilidade inferior ao índice Bovespa que em princípio poderia ser obtido por qualquer investidor. O
mesmo fato é observado nos Estado Unidos em relação ao índice Standar and Poors. Alguns fundos, através da
utilização de modelos matemáticos estão sistematicamente suplantando os fundos baseados nas experiências
dos especialistas.
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nos já fizemos, no que estava certo, a bomba nunca vai funcionar e falo isto como um
especialista em explosivos, no que estava equivocado (Coates e Jarrat, 1992).
5.2- Painel de especialistas
O método do painel de especialistas, procura superar as deficiências do método
intuitivo através da utilização de pessoas especializadas nas áreas para as quais se está
projetando o futuro. A utilização do esforço conjunto e de experiências complementares
pode conduzir a previsões bastante precisas. Suas principais vantagens encontram-se nos
seguintes aspectos:
-"feedback" imediato para todos os participantes,
-sentimento de presença do grupo,
-criação de uma competição positiva,
-comunicações acontecem tanto verbal quanto não verbalmente,
-mal entendidos podem ser imediatamente clarificados.
Seu problema central é o mesmo que se encontra em todos os métodos que envolvem
comissões. As personalidades podem se tornar mais importantes do que o conhecimento.
Muitas vezes chegam-se a previsões que representam a opinião dos que falam mais alto, ou
dos que se mostram mais agressivos, e não a dos que poderiam efetivamente contribuir.
Outro problema que pode surgir, é que muitos indivíduos têm receio de criar ressentimentos
dentro do grupo Isto faz com que se encontrem soluções de consenso, que nem sempre são as
melhores.
11O método de Delphi foi desenvolvido por um número elevado de pesquisadores da Rand Corporation,
organização que havia sido criada pelo governo dos Estados Unidos para que não fosse perdido o
conhecimento acumulado durante a segunda guerra mundial, de forma diferente do que ocorrera na primeira
guerra. Entre estes pesquisadores encontravam-se Olaf Helmer, Theodore Gordon, Norman Dalkey, N, Rescher
e outros. O nome Delphi deriva do oráculo de Delfos na Grécia onde existiram, segundo se tem notícia, os
primeiros previsores de futuro em tempo integral. O templo só prosperou devido a qualidade de suas previsões.
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12Alguns problemas que podem surgir devido a forma como os questionários são elaborados são:
-Ancoragem: As pessoas tendem a ser influenciadas por algum número que seja fornecido junto com o
questionário, mesmo que este não seja justificados.
-Preferência por aspectos positivos: Se uma mesma questão é formulada em duas versões, uma enfatizando os
aspectos positivos e outra os negativos, os resultados são completamente diferentes.
-Paradoxo da composição: Normalmente questões que combinam duas proposições são consideradas mais
prováveis do que questões que consideram apenas uma proposição.
13 Neste trabalho o autor analisa a falácia que é introduzida na economia quando se incorporam cálculos
sofisticados, com muitas casas decimais, sobre dados sobre cuja precisão não se tem grande certeza. Neste
trabalho Morgenstern afirma que o PNB dos Estados Unidos pode ter um erro de ±10%. Posteriormente
estendeu estas análises para diversos outros índices e definiu o que chamou de indeterminação de Morgenstern
no qual dizia que os índices econômicos não admitem decimais.
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Vamos supor ainda que os pesos aplicáveis a cada relação sejam os constantes do ה.
A variável mais influenciadora no exemplo, é a “B”. A mais influenciada, a “A”.
poder de
influência
Variáveis Variáveis
independentes dependentes
pequeno
pequeno grande
nível de dependência
15 Em 1995 no vol 27 da revista Futures números 3, 5 e 6 aparecem três artigos que complementam a
metodologia.
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16Uma análise mais detalhada do método aparece em D.O.Mallmann, Cenários com base no método de
relaxamento das anomalias de campo, mimeo, 1994.
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cenários. Como o número de variáveis envolvidas era muito elevado, foram desenvolvidos
modelos utilizando planilhas de cálculo para as fases automatizáveis.
A organização na qual o trabalho foi desenvolvido liga-se ao governo de um Estado e
enfrenta uma situação que se tornou comum na maioria dos órgãos desta natureza. Os
governos estaduais que iniciaram seu mandato em 1995, constataram que se encontravam em
situação próxima da insolvência. As relações do governo com suas empresas apresentaram
mudanças drásticas. A empresa em análise tinha forte potencial estratégico, devido ao nível
de seus funcionários, mas ao mesmo tempo possuía muitos funcionários estáveis, e com
baixo nível de motivação. Outro fantasma que rondava a organização era o da dissolução. Os
contratos de gestão implantados por diversos governos estaduais haviam mudado
fundamentalmente a estrutura das receitas, tornando necessário que boa parte dos recursos
fossem buscados no mercado. O problema de caixa com que se defrontava o governo, fez
com que alguns direitos tidos como certos não fossem cumpridos. No final de 1995 houve o
parcelamento do 130 salário. Este fato, se por um lado teve reflexos negativos na motivação
dos funcionários, por outro demonstrou a necessidade de tomada de medidas urgentes que
gerassem novas fontes de receitas para a organização. A área onde a organização atuava,
tornava possível que ela atuasse no mercado, gerando serviços de alto valor agregado para a
iniciativa privada. Haviam dúvidas no entanto, sobre a forma como a iniciativa privada
enxergava os seus serviços. Haviam dúvidas também sobre o efeito que as macropolíticas
que se desenhavam no Brasil teriam sobre os produtos potenciais da organização.
Todo o processo de planejamento deveria ser efetuado com a maior participação
possível, devido à natureza da organização. O sucesso de qualquer iniciativa dependia
fundamentalmente da adesão voluntária dos seus integrantes. Para tanto foram convocadas
reuniões com a presença de cerca de 40 pessoas onde foram discutidas as premissas básicas
do planejamento estratégico e a forma como a prospecção do futuro se inseria dentro deste
contexto. Uma vez obtida a adesão de um grupo significativo de funcionários, foi procedido
um levantamento dos assuntos sobre os quais a organização achava necessário prospectar o
futuro. Este trabalho foi executado utilizando o método de Delphi. Os participantes
apresentaram por escrito os assuntos mais relevantes. O resultado de todos os respondentes
foi alimentado em um modelo de computação especialmente desenvolvido para este fim. Na
definição dos temas a serem estudados, foram adotadas exatamente as terminologias
utilizadas pelos participantes. Somente foram feitas alterações quando o assunto de duas
proposições era obviamente o mesmo, mas após consulta aos participantes por escrito, dentro
da metodologia Delphi. A relação de todos os assuntos assim levantado foi apresentada em
uma reunião subseqüente, onde se procurou inicialmente reduzir o número de temas. Isto
gerou uma relação de assuntos a serem discutidos, ainda sem ordem de prioridades. Uma vez
obtida uma lista única, esta foi submetida aos participantes e solicitado que a classificam-se
de acordo com a importância que o assunto tinha para os problemas da organização, sua
urgência e sua tendência. A definição da importância foi efetuada com a utilização do
método de análise hierárquica, no qual os temas são comparados em pares (Saaty,1991). A
urgência e tendência foram determinadas isoladamente para cada fator. Estas avaliações
foram alimentadas no sistema de computação e chegou-se a uma relação de fatores,
classificada de acordo com os índices anteriores, representando a opinião da totalidade dos
participantes. A relação foi fornecida a todos. Foi também informado que na próxima
reunião, aqueles que considerassem que algum fator havia sido mal avaliado pelo grupo,
poderiam, se assim o desejassem, apresentar argumentos complementares. Estes argumentos
poderiam modificar as opiniões dos demais. Após esta reunião ficaram determinados os
assuntos sobre os quais se procuraria se prospectar o futuro. Estes assuntos foram divididos
em tecnológicos, sociais, políticos e econômicos, definindo-se da forma mais clara possível o
que era entendido por estes títulos. O grupo original foi então dividido em quatro subgrupos,
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que tinham como função definir quais as variáveis mais importantes que influenciavam estes
assuntos. A base metodológica para a análise de cada um destes conjuntos de temas foi a
desenvolvida por Fahey e Narayam(1983). Como é difícil separar totalmente estas áreas, o
objetivo de cada grupo foi o de centralizar suas preocupações fundamentalmente na área de
sua responsabilidade. Poderiam no entanto serem feitas incursões sobre as demais áreas. Foi
salientado, no entanto, que os grupos não deveriam perder o foco. Como resultado
apareceram conjuntos de variáveis que eram importantes para entender o futuro dos assuntos,
que deveriam ser avaliadas. Estas variáveis com certeza teriam influências mútuas. Para
determinar a influência de cada variável sobre as demais, foram construídas tabelas de
impacto cruzado. O preenchimento das tabelas foi efetuado utilizando os pesos apresentados
ד. Esta tarefa foi desenvolvida por novos grupos composto por uma combinação de
participantes dos grupos anteriores. Procurou-se garantir que em todos os grupos houvesse
um equilíbrio entre os participantes dos subgrupos tecnológico, social, político e econômico.
Definiu-se então em cada grupo quais os principais fatores influenciadores e quais os mais
influenciados 17. Como todos os grupos trabalhavam com uma relação comum de temas,
foram obtidas quatro matrizes de impacto cruzado. Em reuniões posteriores estas matrizes
foram equalizadas.
O próximo passo foi trabalhar com os fatores influenciadores. Para cada tema foram
definidos os fatores pré-definidos, as tendências, as incertezas básicas e os atores que têm
interesse na situação. Existem fatores pré-definidos quando há um consenso sobre o desfecho
do tema. Existem tendências quando podem ser verificados padrões de comportamento que
permitem antever o desfecho do tema com razoável grau de certeza. Incertezas básicas
ocorrem quando não existe nenhuma sinalização “a priori” sobre qual o comportamento
futuro do tema. Estas incertezas surgem em tópicos nos quais existem conflitos ou
estrangulamentos e sua resolução vai depender da ação, dos interesses e do poder relativo
dos atores. Uma vez determinados estes conjuntos de fatores, novamente foi utilizado o
método de Delphi para definir quais os fatores pré-definidos, quais as tendências e quais as
incertezas básicas, bem como os atores com interesse nas incertezas que seriam utilizados
nos estudos posteriores. Para cada incerteza básica foi então utilizado o método da análise
hierárquica18 visando definir o poder relativo de cada ator sobre a incerteza.. Com base na
resolução das matrizes de poder relativo, foram traçados os diversos desfechos possíveis
para cada variável. Com esta relação de eventos possíveis, foi utilizado o método da análise
morfológica para definir os cenários plausíveis que provavelmente afetariam a organização e
seu ambiente nos próximos anos. Foram criados três cenários19 que foram chamados de:
A persistência da crise
O Brasil inserido na economia mundial
Aceleradamente rumo ao ano 2000.
Os cenários contemplavam variáveis importantes para a organização e o ambiente na
qual estava inserida. Tinha sido gerado pela própria empresa, portanto possuía credibilidade
interna. A metodologia utilizada garantia consistência interna, ou seja os fatores constantes
de cada cenário eram consistentes entre si. Os cenários eram plausíveis e possuíam
consistência externa, ou seja eram coerentes com o ambiente externo da organização. A
17O software desenvolvido permite a utilização da abordagem da soma das colunas e das linhas, da
multiplicação das matrizes e da determinação dos autovalores e dos autovetores para a determinação das
dependências. Na empresa analisada optou-se pela utilização da bordagem dos autovetores.
18O método de análise hierárquica utilizou matrizes de impacto cruzado, com a diferença que ao invés de
procurar definir as influências de cada fator sobre os demais procurou definir a força relativa de cada ator. A
diferença essencial em relação aos métodos de matrizes de impacto cruzado é que se assumiu que os
coeficientes de poder relativo são recíprocos, ou seja se o poder de A é 6 vezes o de B, o de B será !/6 do de A.
19Estes cenários podem ser obtidos entrando em contacto com o autor.
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diferença existente em cada um dos cenários dependia da forma como as incertezas básicas
seriam resolvidas, o que dependia da possível ação dos atores existentes. O fato de terem
sido utilizado diversos grupos trabalhando simultaneamente sobre o assunto, com
homogeneização nas reuniões conjuntas gerou um balanço entre opiniões exageradamente
negativas ou extremamente otimistas, permitindo um enfoque realista.
Os cenários foram posteriormente utilizados no planejamento estratégico da empresa,
onde se procurou definir quais as competências essenciais da organização que seriam
utilizáveis em cada um dos ambientes previstos. Este assunto será objeto de um "paper"
posterior.
7- CONCLUSÕES
O método dos cenários, utilizado em conjunto com outros métodos de prospecção do
futuro existentes na literatura, é um importante exercício sobre os possíveis futuros no qual a
empresa estará inserida. Utilizando metodologias participativas estes cenários podem ser
compartilhados por diversos componentes da organização, criando condições para sejam
alcançadas profecias auto-realizáveis. A utilização dos cenários nas próximas etapas do
planejamento, permite que a empresa invista naquelas habilidades que sejam mais
necessárias para a obtenção de vantagem competitiva em diversos cenários. As habilidades
importantes apenas para um cenário normalmente serão menos úteis do que as que são
importantes para um conjunto de cenários.
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