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(SIEsp / AMAN – Vida na Selva e Técnicas Especiais – Edição 2007 Pag 56)

CAPÍTULO 4
ARMADILHAS DE CAÇA E PESCA

4.1. GENERALIDADES

O ressuprimento na selva é muito difícil. A utilização de estradas e calhas


navegáveis se torna difícil e pouco segura, devido à possibilidade de emboscadas pelo
inimigo. Há necessidade de superioridade aérea para o ressuprimento aéreo, que se
restringe às áreas de clareiras ou pistas para o pouso de aeronaves ou lançamento de
fardos. O desgaste provocado por deslocamentos com pesos excessivos, associado às
condições climáticas, inviabiliza que se carregue o suprimento por vários dias.
Por essas razões, todo combatente precisa assimilar algumas técnicas de caça e
pesca, pois alimentos de origem animal tais como peixes, aves, ofídios, quelônios,
jacarés, tatus etc. constituem grande fonte de proteínas, necessárias à manutenção da
vida, pela da energia que proporcionam.
Associando astúcia, habilidade, aplicação de algumas técnicas para construção de
armadilhas e conhecimento dos hábitos diurnos e noturnos, do habitat, dos rastros e dos
locais de comedia dos animais, o combatente estará capacitado a obter alimentos de
origem animal através da caça e da pesca.

4.2. ARMADILHAS DE CAÇA

a. Definição de Armadilhas
São artifícios empregados pelo homem para caçar, abater ou capturar animais,
utilizando os meios disponíveis, naturais ou artificiais.

b. Técnicas de Caça
1) Método da Espera
A maior parte dos
animais de sangue quente e
com pêlos é muito cautelosa e
difícil de se deixar apanhar.
Para apanhá-los,
serão necessárias habilidade e
paciência, características
importantes do caçador.
O método que
apresenta melhores resultados é
a espera, cujo tipo, altura e
comodidade ficarão a critério do
caçador.
2) Local
Os caçadores deverão escolher locais para a caça, próximo ao local de
comedia e bebedouro do animal ou uma trilha utilizada pelo mesmo.
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3) Direção do Vento
O vento sempre deverá estar no sentido da caça para o caçador, uma vez
que o olfato dos animais é bastante apurado. Não se deve usar repelente, urinar próximo
ao local e nem fumar.
4) Silêncio
É de fundamental importância para a caçada, já que os animais têm a
audição bastante apurada.
5) Período
As horas mais recomendáveis para caçar são entre 04:00 h e 06:00 h e
entre 18:00 h e 21:00 h. O uso de lanternas facilita a captura dos diversos animais.

c. Regras para Construção de Armadilhas


Algumas regras deverão ser obedecidas pelo caçador, a fim de que sua caçada
obtenha resultado:
- Armar antes do anoitecer.
- Utilizar a parte estreita da trilha.
- Procurar canalizar a caça para o interior da armadilha.
- Armar as armadilhas em locais de passagem ou permanência de caça.
- Depois de armada a armadilha, deve-se manter o terreno com seu aspecto
natural (camuflagem).

1) Fatores para o funcionamento da armadilha


Na construção de uma armadilha, devem-se levar em consideração os
fatores abaixo relacionados, a fim de que a armadilha cumpra sua finalidade:
- Gatilho sensível (doce).
- Isca de acordo com o animal.
- Tamanho da armadilha em relação ao tipo de animal a capturar ou abater.
- Consistência da armadilha.
- Tipo de caça.

2) Tipos de gatilho
Na construção de uma armadilha, o combatente deverá definir qual o tipo de
gatilho que melhor se adapta a armadilha e ao local da construção. São utilizados:
- Gatilho de encaixe
- Gatilho de pressão
- Gatilho de tração ou tropeço

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3) Tipos de Armadilha para Caça


a) Chiqueiro
- Finalidade: apanhar onça, jaguatirica e gato-maracajá.
- Isca: animal vivo para onça e carne, vísceras e peixe para jaguatirica.
- Construção: há necessidade de assoalho para o gato-maracajá, não
sendo necessário para onça.
usa-se madeira resistente e amarrações fortes.
- Acionamento: gatilho de pressão ou tração.

Obs: para manter qualquer felino


no seu interior, os troncos
deverão estar unidos uns aos
outros, assim a armadilha deverá
ter firmeza e solidez.

No detalhe há um gatilho de
pressão.

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b) Mundéu
- Finalidade: apanhar tatu.
- Construção: utiliza-se um tronco pesado.
- Local: trilhas e tocas.
- Acionamento: gatilho de pressão ou tração.

No detalhe há um gatilho de
encaixe.

Mundéu associado a um laço.

No detalhe há um gatilho de tração

c) Quebra-cabeça
- Finalidade: apanhar animais diversos.
- Construção: galho forte e flexível envergado.
- Local: trilhas.
-Acionamento: gatilho de tração ou pressão.

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d) Fojo
- Finalidade: apanhar qualquer animal.
- Local: trilhas, atrair a caça mediante colocação de iscas.
- Construção: de madeira ou na terra, (dependendo do animal, devem-se
forrar paredes e chão).
- Acionamento: automático.

e) Alçapão
- Finalidade: apanhar animais terrestres diversos.
- Construção: cava-se ou se utiliza de um buraco fundo, cuja boca será
coberta de varas finas (gravetos) e folhagem, a fim de camuflá-la.
- Acionamento: automático; quando o animal passar sobre a cobertura,
cairá no alçapão e ficará preso no buraco.
- Isca: poderá ou não ser colocada; se for o caso, terá a vantagem de
atrair pelo cheiro.

f) Jiqui
- Finalidade: apanhar tatu.
- Local: na boca da toca.
- Construção: com a base do cone enterrado no chão, bem camuflado.
utiliza-se bambu ou madeiras flexíveis.
- Acionamento: ao entrar no Jiqui, o tatu não conseguirá retornar à toca.

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g) Arapuca
- Finalidade: apanhar aves.
- Isca: sementes e frutas.
- Construção: madeira fina e resistente.
- Acionamento: gatilho de pressão.

h) Tarranga
- Finalidade: apanhar aves de pequeno porte.
- Iscas: larvas, arroz, frutas etc.

i) Laço
- Finalidade: apanhar animais pequenos.
- Isca: sementes, frutas ou somente coloca-lo na trilha.
- Construção: para enforcar e suspender (diversas variedades).

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Laços com dois tipos de gatilho

Outro tipo de laço

j) Arco e Flecha

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l) Armadilha com arma de fogo


- Finalidade: apanhar animais terrestres.
- Acionamento: gatilho de pressão ou tração.
- Construção: A arma empregada poderá ser uma pistola, um revólver,
uma espingarda de caça etc. A pontaria deverá ser amarrada de acordo com a altura
provável da caça e sobre a trilha, seguindo as alturas conforme as medidas auxiliares. O
gatilho (não o da arma) será acionado quando o animal topar com uma das patas no
cordel de tropeço distendido sobre a trilha.

- veado de pequeno porte:


medida auxiliar =
distância do cotovelo
à ponta do dedo
médio distendido.
- paca ou tatu: medida
auxiliar = palmo

- veado grande ou anta adulta: medida auxiliar = na posição de pé,


colocando-se a mão colada à coxa, a distância da ponta do
dedo médio ao solo (linha de terra).

Armadilha com
pistola.

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4) Recomendações Finais Sobre Armadilhas de Caça


a) As armadilhas deverão ser montadas antes do cair da noite e nas partes
mais estreitas das trilhas; quando se quiser canalizar o animal em direção a uma delas,
bastará construir um “túnel”.
b) Os laços deverão ter suas aberturas calculadas para deixar passar a
cabeça do animal, e não o seu corpo. Os de enforcar e suspender terão duas vantagens:
matar rapidamente e colocar a caça fora do alcance de outros animais.
c) É conveniente macerar folhas de árvores, misturar com água e aplicar a
solução no local da armadilha, visando não permitir que odores estranhos à região
afastem o animal.
d) Tudo o que se construir durante a montagem de uma armadilha deverá
ser muito bem camuflado, para não despertar suspeitas.
e) Os locais em que forem carneadas as caças poderão atrair outros
animais. Neles, será, portanto, aconselhável e vantajoso colocar armadilhas.
f) Toda a equipe na sobrevivência deverá conhecer a localização e não
poderá andar nas trilhas dos animais e, por motivo de segurança, as “áreas de matar”
devem ser evitadas.

4.3. ARMADILHAS DE PESCA

a. Generalidades
Não existem normas para distinguir os peixes desejáveis dos indesejáveis para
alimentação. O certo é que o cozimento os tornará todos iguais, em termos de
alimentação. Apenas as vísceras, quando se tratar de peixes desconhecidos, não deverão
ser aproveitadas para alimentação, apenas para isca.

b. Fundamentos
1) Materiais para pesca
Os materiais mais práticos para se usar em pescaria são a linha,
(preferencialmente de nylon, mas substituível por outras), e o anzol (que também pode
ser improvisado).

Insetos, minhocas, carnes e vísceras de quaisquer animais poderão ser


usados como iscas. Iscas artificiais poderão ser confeccionadas com pedaços de panos
coloridos, penas de cores vivas, fragmentos de algum metal brilhante ou pequenos
objetos.

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2) Reconhecimento do Local Piscoso


a) Vegetação
Serve de abrigo para pequenos peixes e fonte de alimentos para os
herbívoros. Lagos e lagoas cobertos de gramíneos ou vegetação ciliar possuem mais vida
que as outras desprovidas desta proteção.
b) Terreno
Rios e lagos que correm por terrenos argilosos possuem maior
quantidade de matéria orgânica, possibilitando maior alimentação aos peixes.
c) Profundidade
Os peixes carnívoros e herbívoros, peixes de escamas, normalmente
habitam a superfície dos cursos d’água, não sendo encontrados em profundidades
superiores a cinco metros.
d) Temperatura
A temperatura ideal é de 25º a 30º C.
e) Lagos Abertos e Fechados
Os que possuem comunicação com o mar são mais piscosos dos que os
que se comunicam com rios. Os fechados oferecem uma variedade e quantidade menor
de peixes.

3) Fatores que influenciam no peixe / pescaria


a) Alimento
Pode ser animal ou vegetal. Seu tamanho, forma, cor, brilho e odor são
decisivos para o êxito. Deve-se, sempre que possível, “cevar o local”.
b) Ruídos
Os peixes são sensíveis às vibrações na massa aquática.
c) Luz
Luz artificial sensibiliza os peixes a grandes profundidades, prejudicando
o sucesso da pescaria. Não se devem projetar sombras na água.
d) Cheiro ou odor
Não se deve segurar a isca com as mãos impregnadas com derivados do
petróleo, principalmente repelentes.
e) Vento
Quando intenso, influencia negativamente o resultado da pescaria, pois o
peixe procura abrigo nestas situações.

4) Tipos de pescaria
a) Com linha de mão.
b) Com caniço.
c) Com pinauca (caniço cuja isca é um pedaço de pano vermelho ou pena
de pássaro).
d) Com espinhel (linha comprida na qual se prendem, de espaço em espaço,
linhas armadas de anzóis). É colocada de margem a margem.
e) Com anzol de gatilho (armadilha com anzol e vara). O gatilho mais
adequado é o tipo de forquilha.
f) Pescaria com arma de fogo (atrair o peixe e disparar com arma de caça).

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c. Armadilhas para Pesca


1) Armadilha com caniço
Utiliza uma vara de pescar, com linha e anzol, além de um gatilho, que é
acionado quando o peixe belisca a isca no anzol.

2) Armadilhas tipo “CURRAL”


São bastante vantajosas, pois nelas os peixes entrarão e permanecerão, às
vezes, em grande quantidade e variedade.
A correnteza do curso d’água é aproveitada e mantém os peixes
aprisionados no curral.
A construção de um curral dependerá de um estudo do local.

entrada dos peixes

correnteza

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correnteza
entrada

correnteza

o “verdadeiro
curral”

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3) Armadilha do Munzuá ou Covo


Trata-se de um cilindro de bambu com entrada, e saída na parte superior
para a retirada dos peixes.

correnteza

4) Uso da Zagaia ou Facheio


É um processo utilizado à noite, quando os cardumes deixam os leitos dos
rios e igarapés e encostam às margens para pernoitar.
É necessária uma fonte luminosa como uma lanterna ou uma tocha (facho),
além da zagaia ou de um terçado (facão) para se fachear.
É normalmente utilizada a uma profundidade média de 80 cm.

5) Uso do Arco e Flecha


Utilizado pelos índios.
Processo em que um elemento se situa na proa de uma canoa e, ao avistar
um cardume, realiza o disparo.

6) Uso de Tóxicos Naturais


É realizada principalmente com o uso do timbó, uma planta nativa da região
Amazônica, cujo princípio ativo é a rotenona, que age no sistema de oxigenação dos
peixes (sendo assim tóxico para esses animais). É o método de pesca mais utilizado
pelos índios na captura do pescado. Além do timbó, existem outras plantas com
propriedades ictiotóxicas que podem ser utilizadas (como as dos gêneros: Derris,
Lanchacarpos, Mundeles, Tephosia e Milletis), porém em menor escala.
Para o emprego do timbó, é necessário fazer um macerado de certa
quantidade da planta e colocá-lo num lago ou poço com pouca correnteza, para que o
princípio ativo não se dilua rapidamente e, devido à concentração, tenha uma melhor
ação na área atingida.

d. Pesca Predatória
Embora este processo seja proibido por lei - Código de Caça e Pesca - a pesca
com uso de explosivos é utilizada em grande escala em todo Brasil, ocasionando
desperdícios e prejuízos consideráveis à fauna aquática, principalmente na renovação
dos estoques populacionais e no ciclo de vida dos peixes e outros animais aquáticos, pela
morte indiscriminada de adultos, filhotes e alevinos.
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O explosivo mais largamente empregado é a dinamite, com espoleta e estopim.


A ação da explosão é proporcional à pressão produzida pelo peso da massa fluvial, sendo
por essa circunstância, escolhidos os poços mais profundos dos rios ou lagos, para se
colocar a dinamite.
A ação no peixe, causando sua morte, se faz pelo deslocamento da massa
líquida, com uma mudança rápida da pressão hidrostática, que provoca o
comprometimento da pressão interna – corpórea e afeta a bexiga natatória, destruindo-a e
causando desequilíbrio e morte do animal.
Assim, após a explosão, a maioria dos peixes bóia na superfície d’água, sendo
coletados. Outros deles são arrastados pelas correntes fluviais, vindo à superfície
centenas de metros do local onde se verificou a ação do explosivo.

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