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BIBLIOTECA PARA O CURSO DE GESTÃO DE FARMÁCIA

HOSPITALAR

Selecionamos para você uma série de artigos, livros e endereços na Internet


onde poderão ser realizadas consultas e encontradas as referências necessárias
para a realização de seus trabalhos científicos, bem como, uma lista de sugestões
de temas para futuras pesquisas na área.
Primeiramente, relacionamos sites de primeira ordem, como:
www.scielo.br
www.anped.org.br
www.dominiopublico.gov.br

SUGESTÕES DE TEMAS

1. GESTÃO DE FARMÁCIA HOSPITALAR;


2. PLANEJAMENTO ENQUANTO PROCESSO DE GESTÃO DA FARMÁCIA
HOSPITALAR (GFH);
3. O PROCESSO DA GFH;
4. ETAPAS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO;
5. MISSÃO E VISÃO;
6. SUPRIMENTOS E CUSTOS DA FH;
7. INFRAESTRUTURA DA FH;
8. ÁREA FÍSICA;
9. RECURSOS HUMANOS;
10. RECURSOS MATERIAIS;
11. INFORMATIZAÇÃO E AUTOMAÇÃO DA FH;
12. INDICADORES PARA A GESTÃO DA QUALIDADE;
13. CERTIFICAÇÃO E ACREDITAÇÃO;
14. GESTÃO AMBIENTAL DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE;
15. FARMACOECONOMIA;
16. COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR – CCIH;
17. A COMISSÃO DE CIH;

[Digite texto]
18. O PAPEL DO FARMACÊUTICO NO CONTROLE DAS INFECÇÕES
HOSPITALARES;
19. O PAPEL DO FARMACÊUTICO NA CCIH.
20. POLÍTICAS E PROGRAMAS DE SAÚDE
21. O SISTEMA DE SAÚDE NO BRASIL E SEUS NÍVEIS DE ASSISTÊNCIA;
22. ANÁLISE SOBRE AS POLÍTICAS BRASILEIRAS PARA A SAÚDE;
23. O DIRECIONAMENTO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL;
24. OS PROGRAMAS DE SAÚDE;
25. LEGISLAÇÃO E VIGILÂNCIA SANITÁRIA DE MEDICAMENTOS;
26. A ANVISA E A POLÍTICA NACIONAL DE MEDICAMENTOS;
27. A LEGISLAÇÃO SOBRE A VENDA DE MEDICAMENTOS;
28. OS MEDICAMENTOS COM TARJA PRETA E A SUA VENDA;
29. TIPOS DE MEDICAMENTOS;
30. OS MEDICAMENTOS E OS RISCOS À SAÚDE;
31. A COMERCIALIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS;
32. ALGUMAS DEFINIÇÕES SOBRE OS MEDICAMENTOS;
33. DECRETOS, LEIS E RESOLUÇÕES APLICADOS AOS MEDICAMENTOS;
34. OS MEDICAMENTOS E A FARMACOVIGILÂNCIA NO BRASIL.
35. EPIDEMIOLOGIA E VIGILÂNCIA EM SAÚDE
36. INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA;
37. A EPIDEMIOLOGIA E OS SERVIÇOS DE SAÚDE;
38. MEDINDO A FREQUÊNCIA DE CASOS E ÓBITOS;
39. DESCRIÇÃO DA FREQUÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO DE DADOS GERADOS
EM SERVIÇOS PÚBLICOS;
40. MEDICAMENTOS E MATERIAIS;
41. SELEÇÃO E AQUISIÇÃO;
42. ESPECIFICAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E CODIFICAÇÃO;
43. ARMAZENAMENTO;
44. SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO - DISPENSAÇÃO
45. FARMACOTÉCNICA HOSPITALAR;
46. INFRAESTRUTURA DO SETOR DE FARMACOTÉCNICA HOSPITALAR;
47. FORMAS FARMACÊUTICAS NÃO ESTÉREIS;
48. FORMAS FARMACÊUTICAS ESTÉREIS – MISTURAS INTRAVENOSAS;
49. TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL;
50. O CENTRO DE INFORMAÇÕES SOBRE MEDICAMENTOS (CIM) E A
EDUCAÇÃO SANITÁRIA;
51. O CIM;
52. EDUCAÇÃO SANITÁRIA;
53. ERROS DE MEDICAÇÃO;
54. PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS COMISSÕES HOSPITALARES;
55. COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA (CFT);
56. COMISSÃO DE LICITAÇÃO E PARECER TÉCNICO;
57. COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS;
58. COMISSÃO DE TERAPIA NUTRICIONAL;
59. COMISSÃO DE TERAPIA ANTINEOPLÁSICA;
60. COMISSÃO DE AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS;
61. COMISSÃO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE
SAÚDE;
62. COMISSÃO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE;
63. PRÁTICAS DA GESTÃO DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
64. CONCEITO;
65. HISTÓRICO;
66. GESTÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA;
67. CICLO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA;
68. UTILIZAÇÃO: PRESCRIÇÃO, DISPENSAÇÃO E USO.
69. COMISSÃO DE GERENCIAMENTO DE RISCOS HOSPITALARES.
70. LEGISLAÇÃO E VIGILÂNCIA SANITÁRIA DE MEDICAMENTOS
71. A ANVISA E A POLÍTICA NACIONAL DE MEDICAMENTOS;
72. A LEGISLAÇÃO SOBRE A VENDA DE MEDICAMENTOS;
73. OS MEDICAMENTOS COM TARJA PRETA E A SUA VENDA;
74. TIPOS DE MEDICAMENTOS;
75. OS MEDICAMENTOS E OS RISCOS À SAÚDE;
76. A COMERCIALIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS;
77. ALGUMAS DEFINIÇÕES SOBRE OS MEDICAMENTOS;
78. DECRETOS, LEIS E RESOLUÇÕES APLICADOS AOS MEDICAMENTOS;
79. OS MEDICAMENTOS E A FARMACOVIGILÂNCIA NO BRASIL.
80. A PSICOLOGIA NOS CENÁRIOS DE ATENDIMENTO À SAÚDE:
HOSPITALAR OU AMBULATORIAL
81. PROMOÇÃO DA SAÚDE, PREVENÇÃO E REABILITAÇÃO;
82. COMPORTAMENTO E SAÚDE;
83. COMPORTAMENTO SAUDÁVEL X COMPORTAMENTO DE RISCO;
84. PROCURANDO TRATAMENTO;
85. ADESÃO AO TRATAMENTO;
86. EQUIPE INTERDISCIPLINAR;
87. PSICÓLOGO CLÍNICO X PSICÓLOGO HOSPITALAR X PSICÓLOGO DA
SAÚDE;
88. O PSICÓLOGO NA SAÚDE PÚBLICA;
89. HISTÓRICO;
90. PSICÓLOGO NO SUS.
91. POLÍTICAS E PROGRAMAS EM SAÚDE COLETIVA
92. POLÍTICAS PÚBLICAS;
93. ORIGEM DA “POLÍTICA PÚBLICA” – O COMEÇO DA CONVERSA;
94. POLÍTICAS PÚBLICAS NO ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL;
95. CICLO DE UMA POLÍTICA PÚBLICA;
96. PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS;
97. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM CUIDADOS INTENSIVOS
98. AS NECESSIDADES E CUIDADOS BÁSICOS DO PACIENTE;
99. INTERVENÇÕES PARA GARANTIR A SEGURANÇA DO PACIENTE NA UTI;
100. O CUIDADO PROGRESSIVO DO PACIENTE (CPP);
101. A UNIDADE DE CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS;
102. AS NECESSIDADES BÁSICAS DO PACIENTE;
103. OS SINAIS VITAIS;
104. ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA;
105. EVOLUÇÃO E OBJETIVOS DO SUPORTE VENTILATÓRIO;
106. O CICLO RESPIRATÓRIO;
107. O PAPEL DA ENFERMAGEM NA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA;
108. PACIENTE COM AFECÇÃO CARDÍACA;
109. AVALIAÇÃO DO PACIENTE CARDÍACO;
110. A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM;
111. SETOR DIGESTIVO;
112. MONITORAÇÃO HEMODINÂMICA;
113. ASSISTÊNCIA ODONTOLÓGICA;
114. DOENÇA PERIODONTAL;
115. PNEUMONIA NOSOCOMIAL;
116. RELAÇÕES ENTRE MICROBIOTA BUCAL E DOENÇA
PERIODONTAL;
117. PROCEDIMENTOS DE HIGIENE BUCAL NA UTI E OUTROS
PROCESSOS;
118. SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM;
119. EVENTOS ADVERSOS, ERRO MÉDICO E OS INDICADORES DE
QUALIDADE.
120. TEMAS ESPECIAIS EM PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE
121. PACIENTE TERMINAL E CUIDADOS PALIATIVOS;
122. DOENÇA TERMINAL E PACIENTE TERMINAL;
123. CUIDADOS PALIATIVOS;
124. MORTE E TANATOLOGIA;
125. MORTE;
126. ESTÁGIOS VIVENCIADOS PELO PACIENTE TERMINAL;
127. TANATOLOGIA;
128. SEXUALIDADE E INTIMIDADE;
129. CUIDANDO DO CUIDADOR;
130. CUIDADOS AO FAMILIAR;
131. CUIDADOS AO CUIDADOR;
132. SÍNDROME DO BURNOUT;
133. QUESTÕES DE BIOÉTICA;
134. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO HOSPITAL: EXAME PSÍQUICO;
135. ROTEIRO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA;
136. ANAMNESE;
137. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DA CRIANÇA HOSPITALIZADA;
138. PSICOPATOLOGIA E SAÚDE MENTAL;
139. PSICOPATOLOGIA;
140. A REFORMA PSIQUIÁTRICA;
141. INTERCONSULTA PSICOLÓGICA;
142. PRINCIPAIS TRANSTORNOS E DOENÇAS MENTAIS.
143. HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE
144. HUMANISMO;
145. O QUE É HUMANIZAÇÃO?;
146. POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH – HUMANIZASUS);
147. GRUPO DE TRABALHO DE HUMANIZAÇÃO: GHT;
148. COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-PACIENTE;
149. VÍNCULO TERAPÊUTICO;
150. RELAÇÕES INTERPESSOAIS E COMUNICAÇÃO;
151. COMUNICAÇÃO VERBAL;
152. COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL;
153. DESPERSONALIZAÇÃO DO PACIENTE;
154. EMPATIA;
155. AUTOESTIMA;
156. HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR;
157. HISTÓRIA DOS HOSPITAIS;
158. HUMANIZAÇÃO DAS UTIS;
159. HUMANIZAÇÃO DOS SETORES PEDIÁTRICOS;
160. HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA NAS MATERNIDADES;
161. TRABALHO EM EQUIPE;
162. HUMANIZAÇÃO DAS INSTALAÇÕES DO HOSPITAL;
163. AMBIÊNCIA;
164. HOTELARIA HOSPITALAR;
165. TECNOLOGIA E HUMANIZAÇÃO.
166. GESTÃO E LOGÍSTICA HOSPITALAR
167. BREVE HISTÓRIA DOS HOSPITAIS;
168. ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR;
169. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO ADMINISTRATIVA
HOSPITALAR;
170. FERRAMENTAS OU INSTRUMENTOS DE SUPORTE PARA UMA
GESTÃO EFICAZ E DE QUALIDADE;
171. A GESTÃO DO PATRIMÔNIO E SUPRIMENTOS;
172. LOGÍSTICA HOSPITALAR.
173. O PROGRAMA NO PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL;
174. AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS;
175. DAS POLÍTICAS AOS SISTEMAS DE SAÚDE NO BRASIL;
176. CICLO ECONÔMICO DA DOENÇA E CICLO DINÂMICO DA SAÚDE;
177. NOSSO SISTEMA DE SAÚDE;
178. A ESTRUTURA POLÍTICO-ADMINISTRATIVA;
179. OS SISTEMAS DE SAÚDE E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS);
180. SISTEMAS DE INFORMAÇÕES EM SAÚDE;
181. CONCEITO E DEFINIÇÃO;
182. O SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE;
183. INFORMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM;
184. INDICADORES DE SAÚDE COLETIVA;
185. MORBIDADE;
186. MORTALIDADE;
187. LETALIDADE;
188. DOENÇAS PREVENÍVEIS E ALGUNS PROGRAMAS ESPECÍFICOS;
189. DOENÇAS PREVENÍVEIS MEDIANTE VACINAÇÃO;
190. DOENÇAS VEICULADAS POR ÁGUA E ALIMENTOS;
191. DOENÇAS TRANSMITIDAS POR VETORES;
192. DOENÇAS CAUSADAS POR ECTOPARASITAS.
193. DINÂMICA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS;
194. A VIGILÂNCIA COMO INSTRUMENTO DE SAÚDE PÚBLICA;
195. INVESTIGAÇÃO DE SURTOS EPIDÊMICOS.
196. GESTÃO DOS SERVIÇOS DA SAÚDE
197. SERVIÇOS DE SAÚDE;
198. A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL;
199. A GESTÃO DO SUS;
200. GESTÃO DE SERVIÇOS DE ALTA, MÉDIA COMPLEXIDADE E DA
ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE;
201. A GESTÃO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE;
202. PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA.
203. OS PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E PRECAUÇÃO;
204. AS DOENÇAS EMERGENTES NO BRASIL.
205. POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE, EDUCAÇÃO E HABITAÇÃO
206. OS ANTECEDENTES HISTÓRICOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
SOCIAIS;
207. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA SAÚDE;
208. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO;
209. PRÁTICAS DE GESTÃO EM SAÚDE DA PESSOA IDOSA
210. O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO E SUAS
CONSEQUÊNCIAS;
211. A GESTÃO PÚBLICA VOLTADA PARA A PESSOA IDOSA;
212. CONSEQUÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO PARA O CORPO
HUMANO;
213. PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO PARA UM ENVELHECIMENTO
SAUDÁVEL;
214. O TAFI – TESTE DE APTIDÃO FÍSICA PARA O IDOSO.
215. FUNDAMENTOS BÁSICOS E TEORIA EM SAÚDE MENTAL
216. PERCEPÇÃO E CONCEITUAÇÃO DA LOUCURA ATRAVÉS DOS
TEMPOS;
217. A DECOMPOSIÇÃO DO SOFRIMENTO MENTAL E O TRABALHO
DO PROFISSIONAL;
218. CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS MENTAIS – CID-10.
219. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA SAÚDE MENTAL
220. A CONQUISTA DA CIDADANIA NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL;
221. LEGISLAÇÃO VERSUS POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL;
222. AS NORMAS TÉCNICAS INTERNACIONAIS;
223. LEGISLAÇÃO E A POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL;
224. PARADIGMAS DO CONCEITO DE SAÚDE MENTAL;
225. A GESTÃO ATUAL DA SAÚDE MENTAL NO BRASIL.
226. FUNDAMENTOS DAS PRÁTICAS DE ENFERMAGEM
227. ENFERMAGEM: SURGIMENTO, TEORIAS E FUNDAMENTOS;
228. A ENFERMAGEM DO TRABALHO;
229. CÓDIGO DE ÉTICA E A ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE
ENFERMAGEM DO TRABALHO – ANENT;
230. AS TENDÊNCIAS ATUAIS: SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE
ENFERMAGEM SAE – NANDA, NIC E NOC.
231. DOENÇAS OCUPACIONAIS
232. DOENÇA PROFISSIONAL E DOENÇA DO TRABALHO;
233. LESÕES POR ESFORÇO REPETITIVO (LER)/ DISTÚRBIO OSTEO-
MUSCULAR RELACIONADO AO TRABALHO (DORT);
234. RUÍDOS;
235. DOENÇAS OCUPACIONAIS RESPIRATÓRIAS;
236. DOENÇAS DA PELE;
237. SAÚDE BUCAL;
238. ESTRESSE.
239. AVALIAÇÃO, PREVENÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE
OCUPACIONAL

240. SERVIÇOS ESPECIALIZADOS DE ENGENHARIA DE SEGURANÇA


E MEDICINA DO TRABALHO – SESMT;

241. PROGRAMAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE DE RISCOS


OCUPACIONAIS;

242. PROGRAMAS DE PROMOÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR;

243. PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO DA SAÚDE DO


TRABALHADOR;

244. ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO À SAÚDE, ESPECÍFICAS DE


ALGUMAS ÁREAS;

245. RISCOS E ACIDENTES NA ENFERMAGEM.

246. SAÚDE COLETIVA;

247. FUNDAMENTOS E ANÁLISES DA SAÚDE COLETIVA;

248. PANORAMA DA SAÚDE COLETIVA;

249. HISTÓRIA DA ARTE DA SAÚDE COLETIVA;

250. INTRODUÇÃO A SAÚDE COLETIVA;

251. EPIDEMIOLOGIA E ESTATÍSTICA EM SAÚDE COLETIVA;

252. EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE COLETIVA;

253. GESTÃO DA SAÚDE COLETIVA;

254. POLÍTICAS E PROGRAMAS EM SAÚDE COLETIVA;

255. LINHAS DE CUIDADOS EM SAÚDE COLETIVA;


256. TÓPICOS ESPECIAIS EM SAÚDE COLETIVA: CONCEITOS
BÁSICOS;

257. O BINÔMIO SAÚDE X DOENÇA;

258. SAÚDE X AMBIENTE X DESENVOLVIMENTO;

259. SAÚDE PÚBLICA X SAÚDE COLETIVA;

260. INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA;

261. DIMENSÃO POLÍTICA DA SAÚDE COLETIVA: UM DIREITO


FUNDAMENTAL;

262. DIMENSÃO CONCEITUAL DA SAÚDE COLETIVA: CAMPO E


OBJETO DE ESTUDO;

263. O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – PRELIMINARES;

264. A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL: DO SÉCULO XIX À CF DE 1988;

265. O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS;

266. MODELOS DE ATENÇÃO À SAÚDE NO BRASIL;

267. AS LINHAS DE CUIDADOS EM SAÚDE COLETIVA;

268. A COMPLEXIDADE DE SABERES, PRÁTICAS E PARADIGMAS


DA/NA SAÚDE COLETIVA;

269. ENDEMIAS, EPIDEMIAS E PANDEMIAS;

270. ETIOLOGIA DAS DOENÇAS;

271. ASPECTOS ECOLÓGICOS EM EPIDEMIOLOGIA;

272. EPIDEMIAS;

273. ENDEMIAS;

274. PANDEMIAS;

275. EPIZOOTIA;

276. EPIDEMIOLOGIA;

277. RAÍZES HISTÓRICAS;

278. A EPIDEMIOLOGIA NO BRASIL;

279. A VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL;

280. DO RISCO AO MÉTODO EPIDEMIOLÓGICO;


281. SENTIDOS AMBÍGUOS DO RISCO;

282. O SENTIDO EPIDEMIOLÓGICO DE RISCO;

283. OS DADOS DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA;

284. BIOESTATÍSTICA;

285. DADOS E VARIÁVEIS;

286. PORCENTAGENS E TAXAS;

287. DADOS DISCREPANTES, PERDIDOS E CENSURADOS;

288. TESTES ESTATÍSTICOS E INTERVALO DE CONFIANÇA;

289. COMPARAÇÃO DE DOIS GRUPOS;

290. COMPARAÇÃO DE MAIS DE DOIS GRUPOS;

291. MEDIDAS DE ASSOCIAÇÃO;

292. A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE PRÁTICAS DE


ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA – CIPESC®;

293. EDUCAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA: CONHECER A REALIDADE


PARA INTERVIR;

294. A EDUCAÇÃO EM SAÚDE DA SAÚDE COLETIVA;

295. EDUCAÇÃO EM/NA SAÚDE PARA INTERVENÇÃO EFETIVA EM


SAÚDE;

296. A EDUCAÇÃO CONTINUADA E A EDUCAÇÃO PERMANENTE DOS


PROFISSIONAIS DE SAÚDE;

297. PROMOÇÃO DA SAÚDE COLETIVA;

298. O QUE É PROMOÇÃO DE SAÚDE;

299. ASPECTOS HISTÓRICOS DA PROMOÇÃO DE SAÚDE;

300. O ENFERMEIRO ENQUANTO CONSCIENTIZADOR DAS AÇÕES DE


PROMOÇÃO DA SAÚDE;

301. PREVENÇÃO DE DOENÇAS;

302. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA;

303. PREVENÇÃO E CONTROLE DE HANSENÍASE E TUBERCULOSE;

304. IMUNIZAÇÃO;
305. NOÇÕES BÁSICAS DE IMUNOLOGIA;

306. PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO;

307. CAMPANHAS DE IMUNIZAÇÃO;

308. NUTRIÇÃO NA SAÚDE COLETIVA;

309. A POLÍTICA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO (PNAN) E


O SISVAN;

310. DESAFIOS DO NUTRICIONISTA NA ATENÇÃO BÁSICA E NA


SAÚDE COLETIVA;

311. AS COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS A ESSE PROFISSIONAL;

312. SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL;

313. FUNÇÕES DO NUTRICIONISTA EM SAÚDE COLETIVA.

314. ACIDENTES DE TRABALHO E SUBNOTIFICAÇÃO ENTRE


TRABALHADORES

315. ESTUDO SOBRE OCORRÊNCIAS DE ACIDENTES DE TRABALHO


COM MATERIAL BIOLÓGICO EM PROFISSIONAIS DE UM HOSPITAL

316. AFASTAMENTOS DO TRABALHO: ocorrências com trabalhadores de


um hospital de ensino

317. RISCOS DE CONTAMINAÇÃO OCASIONADOS POR ACIDENTES DE


TRABALHO COM MATERIAL PÉRFURO-CORTANTE ENTRE
TRABALHADORES

318. A RELAÇÃO ENTRE O TRABALHO, A SAÚDE E AS CONDIÇÕES DE


VIDA: negatividade e positividade no trabalho das profissionais de um hospital
escola

319. ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO TRABALHO E DISTÚRBIOS


PSÍQUICOS ENTRE TRABALHADORAS

320. ABSENTEÍSMO DE TRABALHADORES EM UM HOSPITAL


UNIVERSITÁRIO

321. O PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE COLETIVA EA


INTERDISCIPLINARIDADE

322. RISCOS DO TRABALHO

323. COMPREENDENDO AS ESTRATÉGIAS COLETIVAS DE DEFESA


DAS TRABALHADORAS NA PRÁTICA HOSPITALAR
ARTIGOS PARA LEITURA, ANÁLISE E UTILIZAÇÃO COMO FONTE
OU REFERÊNCIA
_______________________________________________________________

RECONHECIMENTO ÉTICO-MORAL DOS DIREITOS


EMANCIPATÓRIOS PARA OS CIDADÃOS SOCIAIS DA SAÚDE
COLETIVA

Antonio Luis Vicente Arreaza1


1
Mestre em Saúde Coletiva pela Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de
Estado da Saúde de São Paulo (CCD/SES/SP) - São Paulo (SP), Brasil. Pesquisador
Científico do Centro de Laboratório Regional de Santos do Instituto Adolfo Lutz (CLR-
Santos/IAL/CCD/SES/SP) - Santos (SP), Brasil. arreaza@ial.sp.gov.br

RESUMO

Este ensaio revisita inicialmente o pensamento democrático sobre a cidadania e seus


respectivos preceitos, deveres e garantias emancipadoras com olhar no campo da saúde
pública. Em seguida, atualiza a concepção sobre a saúde como direito social do cidadão, a
partir de uma práxis emancipadora do saber agir coletivo. Por fim, reflete sobre o
reconhecimento ético-moral dos direitos emancipatórios para os cidadãos da saúde coletiva e
sujeitos sociais da vida.

Palavras-Chave: Promoção da saúde; Saúde coletiva; Direito sanitário

ABSTRACT

This essay initially revisits the democratic thought on citizenship and their respective
requirements, duties and emancipating guarantees focusing on public health. Then, it updates
the understanding on health as social right of citizens from an emancipating praxis of
collective action. Finally, it reflects on the ethical-moral recognition of emancipating rights for
the collective health citizens and life social subjects.

Key words: Health promotion; Collective health; Health law

Direitos e cidadania

De início, é importante lembrar que se atribui a origem da cidadania à época da Grécia


antiga, cuja polis era composta de homens livres com participação política numa
emergente democracia, na qual cidadão era o indivíduo morador da cidade e participante
ativo dos tratados e de decisões políticas da polis. Já na sociedade romana a noção de
cidadania emergiu subordinada a uma divisão que se fazia entre as diferentes castas
sociais, os romanos livres dividiam-se entre patrícios e plebeus, em que só os nobres
possuíam tal cidadania ativa com o direito de participar dos atos políticos e de ocupar os
postos relevantes da administração pública, mas as mulheres da nobreza não possuíam
essa cidadania em nenhuma das hipóteses.

No período feudal, deixou-se de lado a prática da cidadania, que voltou a ser exercida
aos poucos no sec. XV com a ascensão da burguesia na luta contra o feudalismo.
Entretanto, só quando os burgueses e proletariados já não suportavam mais as injustiças
dos monarcas e da nobreza europeia, foram que as revoluções burguesas, a partir do
sec. XVII, retomaram o saber agir da cidadania, consolidando uma forma de resistência
da modernidade europeia para fazer frente às ingerências da monarquia aristocrática. De
partida, a revolução na Inglaterra em 1688 impôs à monarquia a perda de muito dos
seus poderes absolutistas e os burgueses passaram a predominar no parlamento do país,
logo, influenciadas por essa luta colônias inglesas e outras nações europeias promoveram
revoluções semelhantes no século seguinte.

Já em 1789, durante a revolução francesa, surgiu a concepção de cidadania que


simbolizava a igualdade de todos e repudiava monopólios de poder político, mas, ao final,
o sentido do termo cidadania acabou sendo empregado para garantir apenas a
superioridade de novos privilegiados, não mais os monarcas e a nobreza, mas a própria
burguesia europeia. Em 1791 com a 1ª Constituição Francesa aprovada, constatou-se
que a ideia de cidadania encontrava-se desconfigurada em face dos preceitos
revolucionários franceses ao resgatar o antigo conceito romano, estabelecendo que
apenas o cidadão ativo tinha o direito de participar da vida política e de ocupar altos
cargos públicos; ou seja, eram os burgueses que excluía o proletário vivendo de sua
força de trabalho. De toda forma, foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
que influenciou materialmente outros povos a buscarem a liberdade, a igualdade, as
garantias liberais, e o direito de propriedade para os seus indivíduos e compatriotas.

Vale dizer que o Manifesto Comunista de Marx e Engels, publicado em 1848, foi o
documento político mais importante na crítica ao regime liberal burguês. A partir dele
formou-se uma nova concepção de Estado e sociedade, surgindo também outras
correntes político-filosóficas e sistemas normativos de direitos, como a Constituição
Mexicana de 1917, que, pioneiramente, sistematizou um conjunto de direitos sociais do
homem e cidadão, porém sem romper com o capitalismo da época; e no caso da
Constituição Alemã de 1919, o seu texto incluía os direitos da pessoa humana, e os da
vida social, econômica e religiosa, como da educação e da instituição escolar.

Contudo, só após a 2ª guerra mundial, com a Declaração Universal dos Direitos


Humanos, instituída pelas Nações Unidas (ONU) em 1948, é que todos os indivíduos
foram considerados livres e iguais em dignidade e direitos à parte de qualquer tipo de
exclusão social ou cultural, reconhecendo a dignidade humana com justiça e paz, o
direito de resistência à opressão da liberdade, e o ideal democrático com base no
progresso econômico e sociocultural, enfatizando a concepção integrada de todos esses
direitos. A partir disso, o conceito de cidadania foi sendo ampliado, passando a incorporar
uma série de valores sociais que determinaram ao longo do tempo um conjunto de
direitos e deveres fundamentais para os sujeitos da vida social.

Enfim, nessa esteira histórica e política, o conceito de cidadania apresenta-se hoje muito
mais abrangente do que a simples tradução do direito de votar e ser votado, atualizando-
se na efetiva participação dos sujeitos nos rumos da vida em sociedade e reconhecendo,
inclusive, autonomias e diferenças culturais do seu povo para emancipar-se. Portanto, a
cidadania plena deve e pode abarcar a promoção e a eficácia social dos direitos
fundamentais da pessoa humana, tendo em vista os pilares democráticos do Estado de
Direito sobre os quais a sociedade e seus sujeitos se alicerçam para que possam viver
dignamente (HENRIQUES, 2011).

Dentre esses direitos fundamentais podem ser arrolados o respeito à integridade humana
para ter uma vida digna e de superação individual, de não sofrer qualquer forma de
violência, de não ser forçado a viver em situação degradante, e de não ser excluído
protegendo os seus direitos de cidadão; a partir daí, temos, então, o direito à moradia
para um abrigo, a terra para uma subsistência familiar, ao trabalho para o devir dos
potenciais humanos, e de acesso a um meio ecologicamente saudável e sustentável.
Além disso, temos o direito à saúde não só pela ausência de doenças, mas pelo bem-
estar de todos, à educação para participar incisivamente nos assuntos de interesse
comum, e o de usufruir de serviços públicos universais, igualitários, e equitativos; daí a
necessidade de políticas públicas para a garantia e proteção de todos esses direitos para
que as pessoas possam deles gozar em sua plenitude.

Em que pesem os deveres do cidadão, o mais importante é o de ser o próprio


fomentador da garantia e efetividade de tais direitos, isto é, de ter responsabilidade
mútua no cumprimento de propostas e metas elaboradas e decididas coletivamente,
como integrar-se aos movimentos sociais para pressionar as diversas esferas de governo
e organismos internacionais pactuados com a cidadania dos povos e seus direitos sociais.
Daí, porque só existirá cidadania plena se houver prática reivindicatória dos direitos, que
deve ser precedida pelo seu reconhecimento e apropriação por parte de todos os sujeitos
envolvidos como uma garantia de direitos e deveres a exercer, passando pelo dever de
reconhecer e fazer valer tais direitos, pois, em vez de meros receptores os mesmos
devem ser sujeitos de transformação social e daquilo que podem construir e conquistar
(HENRIQUES, 2011; MANZINI, 2007).

Apesar de ser imprescindível que todos tenham acesso a bens de consumo para ter uma
vida digna, não se pode prescindir dos direitos do cidadão e de suas práticas
reivindicatórias, inclusive para que os sujeitos de direito possam lutar pelo acesso
igualitário a bens e serviços necessários a um bom viver. Aliás, quando se fala da
ascensão da camada pobre brasileira em razão de sua atual entrada no mercado de
consumo, adquirindo bens antes inacessíveis ao seu poder de compra, não se atém que a
significativa ascensão desta ou de outra camada social da população se dá através do
exercício pleno da cidadania, que passa antes pelo reconhecimento dos seus direitos e
deveres como ao acesso a uma educação de qualidade.

A luta por direitos do cidadão na conquista de uma vida social digna passa ao largo da
reificação das mercadorias de consumo, como a inserção dos sujeitos à sociedade não
deve ser condicionada à propriedade desses ou daqueles bens de consumo, mas à sua
capacidade de interferir e participar dos rumos de suas coletividades na busca de uma
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. A cidadania deve, de fato, conhecer e
promover os direitos fundamentais, envolvendo a proteção da autonomia dos sujeitos, a
atenção de suas necessidades básicas, e a preservação da sociedade a qual pertencem;
enfim, a cidadania plena é aquela que almeja a transformação da realidade e faz do
cidadão um ativo protagonista que reconhece e reclama os seus direitos e deveres
fundamentais, bem como o seu direito de viver dignamente seja no âmbito de sua
subjetividade seja no contexto de sua vida em sociedade.

Ademais, a cidadania plena expressa de um lado o direito de participar de plebiscitos ou


referendos, de propositura de certas ações judiciais, e de apresentar projetos de lei por
meio da iniciativa popular, e, por outro lado, o dever de participar dos fóruns de consulta
pública e de decisão política sobre os direitos sociais da educação e da saúde, bem como
sobre as garantias fundamentais para os mais vulneráveis às fragilidades da vida social
humana. Logo, o cidadão tem o direito e o dever de expressar livremente suas opiniões,
valores e interesses, na medida em que a sociedade é fruto das demandas potenciais da
vida coletiva e democrática, devendo ser sempre pactuadas para evitar conflitos
desnecessários e assegurar aos sujeitos as mesmas possibilidades para a participação de
todos, garantindo o dever do sujeito de exercer sua cidadania plena, a fim de que os
direitos não se reduzam a privilégios de alguns.

Saúde e direitos sociais

Em princípio, como sugerem Nogueira e Pires (2004), os direitos sociais não devem ser
entendidos como uma ficção jurídica distante de situações cotidianas e reais de
existência, obscurecendo as críticas sobre a sua não garantia e reduzindo o seu potencial
emancipador de transformação da ordem societária. Faz-se necessário afastar-se de um
ideário de direito social que não se realiza na concretude da vida cidadã, e que tampouco
releva a autonomia e a igualdade em sua expressão plena e equitativa, para se
aproximar das formas de relações sociais dos sujeitos, transitando entre os planos dos
valores e da materialidade efetiva. É necessário deslocar-se de uma perspectiva
formalista para alcançar o devir cotidiano, onde os interesses e olhares divergentes são
traduzidos dialeticamente em consensos relativizados que devem ser objetivados na
práxis concreta. A cidadania plena contém, assim, uma densidade que é afirmada e
reconhecida na concretude das relações sócio-históricas, espraiando-se para os distintos
setores e áreas da vida e saúde coletiva frente aos modos de reprodução social do
capitalismo tardio.

Já a despeito da saúde como direito social, pode-se abordar, por um lado, em relação à
interface entre escolhas individuais e necessidades coletivas, que responsabilizam os
sujeitos a submeterem-se à vacinação pública, ao tratamento ético e seguro, ao cuidado
oportuno das doenças transmissíveis e notificáveis, ao destino apropriado de produtos
perigosos para a saúde humana e ambiental, à proteção dos meios públicos e à busca de
melhoria das condições de trabalho; e por outro, à garantia de um sistema de saúde
universal e igualitário, de oferta organizada de cuidados a todos que deles necessitem,
de integralidade das ações em saúde pública e de participação e controle social dos bens
e serviços prestados à coletividade. Não obstante, numa perspectiva política mais
progressista, o reconhecimento jurídico-social de direitos de titularidade coletiva vem ao
encontro do pleno desenvolvimento do Estado Democrático de Direitos, efetivando
intervenções sanitárias legitimadas pelos cidadãos para o desfrute do bem comum e de
uma saúde com qualidade de vida.

No âmbito da Carta Magna de 1988, tem-se como princípios além da cidadania e


dignidade da vida humana, a soberania, o pluralismo político-ideológico, e os valores
sociais do trabalho e da livre iniciativa, e, a partir daí, construir uma sociedade mais
justa e solidária, assegurando o desenvolvimento na erradicação da pobreza e reduzindo
as iniquidades sociais, como promover o bem comum sem excluir gêneros, etnias,
religiões, culturas e pessoas com necessidades especiais. Nela, todos são iguais perante
a lei sem distinção de qualquer natureza, garantindo aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, igualdade, segurança, e propriedade
privada, como cabe ao Estado assegurá-los para que os cidadãos tenham condições
dignas de vida (BRASIL, 2008).

Em decorrência do direito à vida, tem-se o direito à integridade física, moral e psíquica


dos cidadãos, e, ao enaltecer a dignidade humana no tocante ao valor ético-social das
pessoas e famílias, a proteção de sua integridade assume a feição de direito
intersubjetivo fundamental, repercutindo nos direitos de educação, saúde, trabalho,
moradia, lazer, seguridade social, de proteção à maternidade e à infância, à saúde
mental e aos desamparados, em particular. Logo, a proteção da vida e da saúde dada
por meio de políticas públicas permite o desenvolvimento de condições dignas e
saudáveis de existência, visando a minimizar as situações sociais desiguais e priorizando
os mais frágeis, como direitos emancipatórios do bom viver, que buscam recriar
condições mais propícias de vida positiva e equitativa (BARRUFFINI, 2008).

A dignidade da vida humana, por si só, já exigiria a garantia do direito à saúde ao lado
do direito à vida; a saúde é corolário do direito à vida e da dignidade humana,
constituindo uma tríade que garante o exercício dos demais direitos e liberdades
positivas, e que, por gozarem de uma dimensão ético-moral, espraiam-se por todos os
setores da sociedade sob a forma de deveres sociais e comunitários. A saúde é uma das
condições essenciais da liberdade e da igualdade de todos perante a lei, e o devir do seu
direito, sendo inerente ao viver humano, constitui-se em um direito subjetivo e coletivo
ao mesmo tempo. Diz-se que a saúde tem uma dimensão que transcende à sua própria
positivação no ordenamento jurídico por ser uma das condições relevantes para o
exercício emancipador dos sujeitos da vida social, além de a Constituição ter positivado
amplamente o direito à saúde (SANTOS, 2010).

Logo, a saúde é um direito fundamental da vida garantido mediante políticas públicas


que visam à redução de riscos e danos, como o acesso universal e igualitário aos serviços
para a sua promoção, proteção e recuperação, sendo que o dever do Estado não exclui o
das famílias, das empresas e sociedade em geral. Dentre os determinantes da saúde
estão o trabalho, renda, moradia, educação, cultura, lazer, saneamento etc., onde os
níveis de saúde de uma população expressam a organização política, social e econômica
de sua sociedade e País.

A saúde é pois, um estado dinâmico com os seus múltiplos determinantes sociais,


políticos, econômicos, históricos e culturais, desdobrando-se em corporeidade biopsíquica
e subjetiva, tendo moderada quantidade de limitações com vivências de bem-estar, e
sendo tanto objeto de desejo como uma concretude da vida social. Sua questão frente ao
bem estar social é pensada em termos de aquisições positivas de meios para o
enfretamento de infortúnios e privações pelos sujeitos da vida coletiva, em que a
ampliação de bens destinados a promover uma boa qualidade de vida do ponto de vista
biopsicossocial é uma tarefa ao mesmo tempo individual e coletiva, tanto de promoção
quanto de prevenção e assistência.

A promoção da saúde é um processo de constituição de sujeitos e comunidades


saudáveis para monitorar os determinantes sociais da saúde, protegendo ou modificando
os meios da vida com o objetivo de melhorar as condições de saúde e vida para que
sejam mais dignas e equânimes. É uma estratégia mediadora entre sujeitos e meio social
com liberdade de escolha e responsabilidade social pela saúde, como supõe uma efetiva
participação da coletividade desde a sua formulação até o seu desenvolvimento (ARREAZA,
2012
).

Quanto à educação em saúde, constitui-se num espaço de reflexão capaz de provocar


mudanças nos sujeitos e prontidão para atuar na comunidade, intervindo na
implementação de políticas públicas para a transformação dos modos de andar a vida
com saúde. O exercício de uma prática educativa como práxis da realidade social revela-
se em um modo de agir sobre a vida, rejeitando qualquer forma de exclusão ou
dominação, como integrando uma atitude reconstrutiva para se viver melhor e cuidar
bem da saúde. Isso requer a participação ativa das pessoas e comunidades na leitura e
reflexão crítica de sua realidade, como exercer a sua cidadania para se emancipar e
cuidar melhor da saúde (MACHADO ET AL., 2007).

Essa participação é um elemento central na gênese do saber a despeito dos sujeitos e da


forma como são reconhecidos em sua práxis do viver com saúde no cotidiano social, para
não se agir com indiferença face às possibilidades de uma ciência emancipadora que não
se restrinja ao êxito técnico, mas abarque projetos de humanização para promover a
saúde e bem-estar dos sujeitos e suas coletividades. Enfim, a reconstituição dos sujeitos
refere-se ao ato de se colocar diante do outro e engendrar as possibilidades
emancipatórias de ambos no seu mundo de vida compartilhado, no sentido de um
encontro desejante com as circunstâncias que não se traduz de modo restrito ao êxito
técnico, mas em projetos solidários de sucesso prático abarcando dimensões éticas e
estéticas para promover os modos de andar a vida com saúde e qualidade em diferentes
grupos sociais e culturas (AYRES, 2001).

Aliás, a relação da saúde com as normas culturais liberais não se reduz a uma mera
adaptação a tais normas, mas refere-se, sobretudo à capacidade normativa dos sujeitos
em instituir novas normas em sua realidade intersubjetiva. A saúde como a expressão de
novas normas instituídas pelos sujeitos envolvendo signos e significados não se reduz a
um discurso privativo e hegemônico, tendo a possibilidade de normatividade por meio de
suas práticas cotidianas e cidadãs. Logo, promover a saúde é realizar ações que gerem
bem-estar ou evitem riscos, respeitadas as escolhas e recriações dos sujeitos, em que a
relação entre a saúde e as culturas não se restringe à obediência irrestrita às normas, já
que a dita capacidade normativa pode modificar os fatos sociais frente às condições de
vida e saúde. A saúde relaciona-se, assim, à forma pela qual o sujeito interage com os
eventos da vida como de suas realizações no cotidiano sociocultural (COELHO; ALMEIDA-FILHO,
2003
).

O processo saúde-doença depende, em parte, da dinâmica de significação da experiência


do viver, pois, se o sujeito não consegue dar um sentido ao que lhe acontece, ou se lhe
dá um sentido por demais conflituoso, o resultado pode ser a doença repercutindo no seu
cotidiano. Sob esse prisma, a norma, em boa parte, vincula-se às capacidades e
sofrimentos da vivência subjetiva; é o sujeito quem sofre e reconhece as suas
dificuldades para enfrentar as demandas que o seu meio social lhe impõe. Logo, o limiar
entre a saúde-doença deixa de se restringir a um único padrão, afastando-se de um
modelo predefinido, e passa a se expressar de diversas formas na discrição das relações
sociais (CAPONI, 2003).

Enfim, a saúde como fenômeno da existência humana implica poder desobedecer, gerar
e acompanhar uma transformação, podendo significar até um desvio das normas sociais
em face das expectativas dos sujeitos de uma coletividade. Já a doença, é a perda da
capacidade normativa como impossibilidade momentânea de mudanças, e as
experiências vivenciadas na doença podem permitir ao sujeito a instituição de novas
normas, mesmo que se restrinjam à sua corporeidade biopsíquica e subjetiva.

Sujeitos e emancipação

Retoma-se agora a significância conceitual sobre as iniquidades em saúde desenvolvida


por Almeida-Filho (2009), indicando que a distribuição desigual de bens numa sociedade é
determinada pela estrutura socioeconômica do capitalismo com a sua concentração de
poder e riquezas, uma raiz política inerente às injustiças sociais, não predominando
relações solidárias e de cooperação entre grupos étnicos, culturais e gêneros em
particular. Soma-se a isso o reconhecimento necessário de questões complexas de
superação das alienações socioculturais advindas do consumo acrítico e não equitativo
dos sujeitos, considerando os elementos simbólicos da ética política e moral-social,
expressos nos sentimentos de indignação e de luta cidadã, que, organizados
coletivamente e gerando sentidos e identidades, constituem o pilar fundamental de
transformação radical dos grupos sociais e comunidades para a equidade e justiça social.

A despeito das iniquidades extremas, além de serem injustas e evitáveis, são indignas e
vergonhosas, pois advêm de segregação, exclusão e violação frente a diferentes
subjetividades, práticas cotidianas e culturais distintas, decorrentes do impacto de
estruturas sociais e de políticas iníquas geradoras de desigualdades eticamente
inaceitáveis e desnecessárias. Logo, as iniquidades de saúde determinadas pelas
desigualdades em renda, trabalho, educação, moradia e classe social como produto das
injustiças e desrespeitos aos cidadãos da vida, nos remetem ao campo político dos
conflitos e de luta em face da repartição desigual das riquezas e de bens produzidos na
sociedade capitalista contemporânea. Enfim, os gradientes socialmente perversos, que,
todavia, permanecem atualmente se recrudescem no plano da intersubjetividade, em
diferenças biopsíquicas como em distinções socioculturais, e no plano jurídico-político,
em iniquidades e desigualdades sociais em saúde.

Isso implica um saber agir de construção conceitual e de mobilização da práxis política


capaz de tornar as diferenças menos desiguais, promovendo equidades entre elas para
que o potencial emancipador dos gêneros, etnias, grupos e cidadãos sociais seja uma
luta por reconhecimento dos direitos fundamentais frente aos determinantes das
desigualdades sociais em saúde (ALMEIDA-FILHO, 2009). Aliás, a temática de determinação
social da saúde potencializa um amplo sentido de luta pela saúde que envolve
transformações na concepção de Estado e sociedade, como no modelo de
desenvolvimento socioeconômico; em princípio, pelo dever estatal com os direitos sociais
na promoção da saúde com qualidade de vida, tendo como base a coesão cidadã e as
políticas de proteção social universalizadas. Esse olhar requer pensar os rumos e
possibilidades no enfretamento das imposições do capitalismo vigente como um dos
alicerces no devir de consciências coletivas e ações politizadas de mobilização social na
luta pelo direito à saúde (COSTA, 2009).

Nesse sentido, é necessário articular, então, a produção teórica à percepção


intersubjetiva sobre a determinação social da saúde, na medida em que os sujeitos
possam incorporar a sua significância conceitual no cotidiano e na práxis política das
coletividades. Faz-se necessário potencializar a produção acadêmica dos saberes e
práticas da saúde coletiva sobre a temática das desigualdades e iniquidades sociais em
saúde, sendo desejável uma maior aproximação dessa contribuição com os movimentos
de resistência pelo direito à saúde, tendo como pilar a luta por uma radicalização do
Estado Democrático de Direitos, reconhecendo e emancipando eticamente os seus
cidadãos da vida coletiva.

Dadas essa reflexão e o reconhecimento ético-moral dos direitos emancipatórios,


consideram-se, a priori, o respeito às identidades de gêneros, etnias, religiões e formas
culturais, como por suas práticas e visões de mundo em particular, relevando um
tratamento equitativo para as políticas sociais frente ao pluralismo político-ideológico e
multiculturalismo presentes na sociedade como um todo. Trata-se de ter clareza quanto
às visões equânimes de vida e ao exercício de cidadanias integradas aos interesses e
realizações da coletividade, em que os sujeitos de direito só são individualizados em suas
liberdades e diferenças subjetivas por meio da coletivização em sociedade, bem como os
grupos sociais só são concebidos a partir de suas identidades subjetivas e diferenças
culturais em particular (HONNETH, 2003).

Eis que o devir de uma formação de identidades coletivas e individuais se dá a partir de


um conjunto de práticas e valores, bem como de vínculos éticos e institucionais
constituídos numa estrutura intersubjetiva da luta por reconhecimento, que permite a
autonomia responsável dos sujeitos como a conciliação entre liberdade pessoal e valores
comunitários. A ideia é a de que a identidade seria formada por meio do processo de
socialização em face dos horizontes morais e obrigações intersubjetivas dadas na
organização sócio-histórica e institucional da sociedade numa perspectiva de projetos
emancipatórios das coletividades humanas.

Vale dizer que, no âmbito do Estado Democrático de Direitos, o sistema normativo dos
direitos fundamentais jamais deve se afastar das condições de vida desiguais, tampouco
das formas e tradições culturais marginalizadas, pois uma política de reconhecimento
ético-moral que afirme as identidades coletivas e subjetivas deve ser implantada caso se
queira alçar a integralidade das garantias fundamentais que visam a assegurar aos
cidadãos o bem-estar e a justiça social. Deve-se pautar num reconhecimento jurídico-
social que promova uma repartição mais equitativa de direitos e deveres com o objetivo
de concretizar uma práxis emancipadora para o exercício de autonomias solidárias frente
a distintas posições de poder, e com base num sistema democrático que respeite
igualmente as diferentes culturas, etnias, e gêneros em suas vivências do saber agir na
sociedade como todo (HONNETH, 2003).

A luta por reconhecimento de cidadanias, autonomias e liberdades positivas ao se


engendrar mutuamente nos espaços institucionais e meios da vida social, refere-se a
uma contextualização progressiva das diferenças socioculturais nos planos do Estado
Democrático de Direitos, com a participação popular progressista da sociedade em geral.
Convertendo as reivindicações não resolvidas e compensações de perdas propiciadas pelo
paternalismo sócio-estatal e viés individualista neoliberal em garantias de liberdades e
conquistas coletivas como formas de enfrentamento político em face das discriminações e
exclusão social presentes na sociedade capitalista tardia (HABERMAS, 2004).

Um Estado desigual que aprofunda as diferenças de classe e procura compensá-las


somente com mínimos existenciais distante da promoção social da vida, é um Estado que
não opta pelo desenvolvimento das potencialidades e emancipação da pessoa humana
como um sujeito social e intersubjetivo para que seja um ator crítico de mudanças
individuais e coletivas, entre elas a de sua própria saúde. As medidas compensatórias
devem ser praticadas apenas como um meio imediato, enquanto se buscam outros meios
e fins, como a redução das desigualdades sociais e o próprio desenvolvimento
socioeconômico do País; opondo-se a isso, é mais oportuno, sob vários aspectos políticos
liberais, manter a população sob assistencialismo do que educá-la a reivindicar uma
seguridade social no aporte de situações que não se restrinjam a permanente miséria
social que dever ser erradicada, mas de contingências do viver e do reconhecimento das
necessidades reais de diferentes coletividades (SANTOS, 2010).

Todos devem se sentir responsáveis pelos destinos de sua cidade e comunidade, atuando
em prol dos mais frágeis e desfavorecidos como um dever ético originado da vida, um
dever moral que impõe responsabilidades mútuas de respeito à vida, à natureza, à
cultura dos povos, de se sentir parte de um todo com suas diversidades e paradoxos, e
construir juntos a vida comunitária face às circunstâncias geradas pelo capitalismo. Em
que a solidariedade deve ser incentivada como um valor moral em benefício das
coletividades, uma vez que o Estado não alcança por si só o estabelecimento de uma
cultura de paz social, bem comum e saúde coletiva.

Ao se enaltecerem a cidadania e a equidade, os direitos fundamentais materializam


poderes políticos atribuídos às suas formações sociais, consagrando o princípio da
solidariedade, um momento de expansão e reconhecimento dos direitos humanos
enquanto valores fundamentais indisponíveis dignos de uma essencial inexauribilidade.
Os direitos como uma concretude das garantias coletivas e subjetivas, são prestações
proporcionados pelo Estado por meio de normas constitucionais que objetivam
possibilitar melhores condições de vida, como minimizar situações desiguais de vida
priorizando os mais frágeis (BARRUFFINI, 2008). Pode-se afirmar, então, que são pressupostos
intersubjetivos dos direitos emancipatórios do bom-viver, pois visam a criar condições
mais dignas de vida aos sujeitos sociais que lutam por reconhecimento e poder no
exercício de suas autonomias e liberdades positivas.

Logo, o reconhecimento das identidades intersubjetivas refere-se às reinterpretações das


relações de gêneros, etnias e tradições culturais que lutam tanto por seus objetivos
sociopolíticos como por suas reivindicações e demandas de poder, que estão sempre em
jogo frente à cultura hegemônica das forças globalizadas com seu intento finalístico de
apagar quaisquer vestígios de organização solidária para a conquista do bem comum
(HABERMAS, 2004). Os patamares de reconhecimento jurídico dos direitos fundamentais
quanto os domínios de reconhecimento social de valores emancipáveis são elementos
centrais pelos quais pode-se tanto descortinar os processos de aprendizagem moral e
política em contextos de desrespeito e injustiça social como revelar os fenômenos de
reificação de culturas que obstruem o alcance de novos patamares de reconhecimento
entre os sujeitos sociais da vida coletiva e equitativa (HONNETH, 2003).

O processo de globalização foi percebido, já nos anos 90, por vários setores da sociedade
e população em geral como o devir de um mundo moldado por uma nova economia e por
suas tecnologias, por novas estruturas sociais e a sua práxis produtiva, e por seus modos
de vida e formas de cultura afins. Uma episteme histórica caracterizada pelo capitalismo
global que influenciaria os múltiplos saberes e práticas cotidianas, como a produção
científico-tecnológica e seus paradigmas, em face de suas relações com a sociedade e
história em particular. Todo esse contexto levaria, inevitavelmente, à desintegração
social, ao desrespeito a democracias de países, às desigualdades sociais, à reificação
coletiva e alienação cultural, à pobreza e à emergência de doenças cada vez maiores.

Esses traços resultantes da sociedade global expressam a universalização do capital e


seus mercados, da cultura e modelos de vida social, da produção e consumo de bens e
serviços, das técnicas e utilização dos recursos, e do espaço social globalizado. Tem-se a
particularização dos poderes político-econômicos e das riquezas e territórios, como da
racionalidade técnico-científica a serviço do capital que contribui para justificar e ocultar
todo esse reverso do processo de globalização da vida humana. Tanto as construções de
um mundo material universalizado como de relações sociais homogeneizadas se
particularizam e se fragmentam em territórios pobres e ricos como em países de terceiro
e primeiro mundos (ARREAZA, 2012).

Além do retrocesso tecno-econômico do capitalismo tardio, com a privação das nossas


riquezas materiais e recursos estratégicos, submetendo grande parte da sociedade a
níveis restritos de sobrevivência, a globalização implica também em uma contrarreforma
neoliberal que procura neutralizar os sujeitos pela dissolução dos espaços da práxis social
de culturas particulares, como mediante a implantação de uma cultura individualista e do
consumo alienado, intentando acabar com a identidade intersubjetiva dos sujeitos e
apagar quaisquer vestígios de organização coletiva na conquista de uma cultura de
equidade social e bem comum. A globalização dos mercados traz consigo tendências
culturais de massificação do consumo, como a deterioração da experiência estética das
cidades e sociedades, sendo que as diferentes tecnologias do poder hegemônico moldam
as subjetividades, a vida social e, até mesmo, a corporeidade biossocial dos sujeitos no
âmbito desse mundo globalizado (BITTENCOURT, 2010).

A sociedade tecnicista faz triunfar, portanto, os seus valores de massificação da cultura


como o nivelamento banal das singularidades subjetivas, pois o ato de despertá-las é
considerado crítico para a manutenção da ordem pública que se sustenta pela
homogeneização dos comportamentos e qualidades humanas. Por conseguinte, vivemos
sob o império moralista da igualdade absoluta e sob o imperativo tecnológico de 'o que
pode ser feito deve ser feito', pois, nesse sistema de padronização da vida, é considerada
como algo moralmente inviável a própria intersubjetividade humana. Logo, nesse
decadente contexto de degradação cultural promovido pelo nivelamento vulgar das
qualidades humanas, vive-se sob o jugo da ditadura massificadora na qual se dilui todo o
brilho singular e destaque pessoal.

Diante desse cenário de domínio e concentração do poder, este autor se alia a um bloco
sociocultural dirigido à construção de uma práxis emancipadora do saber agir, crítica e
renovadora dos modos de produção da vida e saúde, como de bens equitativos dos
sujeitos sociais de uma coletividade emancipadora e solidária. Soma-se a isso o
reconhecimento efetivo da diversidade pluricultural, implicando o respeito às diferenças
culturais e sua integração com o intuito de viabilizar a igualdade de direitos e de
oportunidades equânimes às classes, etnias e gêneros pertencentes à sociedade como
um todo (BREILH, 2006).

Portanto, o domínio da cultura representa os rastros e expressões da práxis realizada por


uma sociedade em determinado tempo histórico, abarcando a historicidade dos modos de
andar a vida dos grupos sociais com as suas práticas reprodutivas, ecossociais e
cotidianas; os bens, saberes, crenças e costumes, sendo criações culturais da práxis
social histórica, conformam, à sua vez, as práticas discursivas desses coletivos frente às
suas formas de poder e inserção na sociedade capitalista, relacionando os processos de
vida com os valores de uso e troca vivenciados pelos grupos sociais como produto de sua
forma particular e geral de reprodução social.
Já a interculturalidade, é entendida como um processo histórico de inter-relação entre os
distintos grupos sociais que compartilham o mesmo espaço de reprodução cultural e de
seus saberes e práticas, e suas relações interculturais podem ser solidárias ou de
oposições entre elas. Quando a construção intercultural se inscreve num projeto
emancipatório, pode-se chegar a um movimento pluricultural que reconheça a
diversidade cultural e respeite suas diferenças, integrando as várias culturas em prol de
um projeto solidário de democratização e equidade; no qual diferentes culturas possam
reproduzir-se com igualdades de direitos, oportunidades e responsabilidades coletivas.

Para tanto, a interculturalidade pode ser uma relação estratégica e dialógica no confronto
de interesses e realizações que se materializam ao levar adiante um projeto de
emancipação para que sobrevivam e se fortaleçam diferentes culturas, reconhecendo
tanto as suas características comuns quanto as suas respectivas metas de luta com
mútuo enriquecimento. Trata-se de um movimento de integração que respeita e constrói
encontros solidários, visando proteger espaços e instituições que viabilizam toda essa
luta por reconhecimento e poder para uma sociedade mais justa, segura e emancipável.

Segue-se, então, a reflexão crítica de Breilh (2000) sobre o desenvolvimento humano desde
um horizonte emancipador, lembrando que o trabalho, por ser o grande mediador entre
os sujeitos e o meio da vida, demanda premente humanização de suas formas,
finalidades e reparte dos seus produtos. A conquista e expansão das suas modalidades
baseadas na cooperação e solidariedade tanto podem beneficiar a corporeidade dos
sujeitos como enriquecer a sua cultura; ademais, são equitativas no reparte e nas
relações de etnias e gênero, devendo assegurar também interações mais benéficas entre
os sujeitos e o meio em face às suas necessidades de 'cidadãos sociais da vida'.

Já a humanização do consumo refere-se à construção e desfrute das necessidades reais


dos sujeitos mediante a conquista de conteúdos adequados e distribuição democrática
dos mesmos, como de seu acesso não mediado apenas pelo poder econômico do
capitalismo; a proteção integral da vida humana tem, por sua vez, como princípio maior
a democratização das principais vias de acesso a bens e serviços de interesse à
sociedade como um todo. Quanto à proteção do sentido multicultural do pensamento,
implica a recuperação de sua autonomia e identidade que, todavia, se encontram
suprimidas pela alienação da atividade produtivista e, por sua respectiva reificação sobre
a cultura dos sujeitos. Faz-se urgente, pois, a expansão de um nexo construtivo entre
povos e etnias para desencadear um multiculturalismo enriquecedor e uma construção
intercultural das sociedades na equidade, como um 'sujeito político de culturas distintas'.

Além disso, devem-se ampliar os espaços para criação artística e científica desprovidas
de pressões econômicas e suas ideologias dominantes, como uma ordem cultural e
simbólica onde haja lugar para a afetividade e respeito como ingredientes básicos de
uma coletividade solidária. Somam-se a isso vivências com sabedoria e reflexão crítica
que visem a recompor o seu papel emancipador por hora subsumido, mas não extinto
como 'sujeito epistêmico do saber'. Acrescenta-se que o pleno desenvolvimento humano
a partir de uma concepção de integralidade da vida e com um sistema de saúde
equânime conquistado democraticamente, é pilar de qualquer proposta progressista e
construtiva frente à contrarreforma neoliberal com propósitos de tecnicizar a tudo e a
todos (BREILH, 2000).

Com a possibilidade de estender o aperfeiçoamento genético humano via consolidação de


progressos na faculdade dos genofenótipos e de potenciais fisiológicos como uma
virtualidade potencializada, as pesquisas científicas e as políticas de saúde devem se
sustentar em projetos de ética e equidades frente ao poder das classes dominantes e aos
ditames de alguma outra forma de poder. A totalidade humana, ao ancorar-se
concretamente em preceitos de justiça social, aglutina diferenças individuais e coletivas
no contexto da sociedade para que esta proporcione, por sua vez, diferentes
oportunidades a todos no fortalecimento de suas instituições e estrutura socioeconômica,
como um 'sujeito histórico da práxis emancipadora'.

Enfim, a emancipação dos sujeitos da vida social e da saúde coletiva se dá na construção


de relações democráticas de poder como uma práxis do saber agir solidário e, na
promoção do pensamento crítico e multicultural, no reconhecimento de uma
intersubjetividade com as suas motivações, aspirações e intenções psicossociais. Opõe-se
então a uma atitude reificante que não reconhece e contempla o mundo e os seus
sujeitos sociais apenas como objetos de interesse, sem uma identificação das relações de
etnias e tradições culturais no plano coletivo e individual. Tanto no cotidiano como nos
espaços institucionais, deve-se proporcionar uma integração de formas participativas de
poder, de tal modo que todos tenham o mesmo direito de ver os seus interesses
representados e emanciparem-se em nosso Estado Democrático de Direitos.

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Ciência & Saúde Coletiva


Print version ISSN 1413-8123

Ciênc. saúde coletiva vol.15 no.2 Rio de Janeiro Mar. 2010

http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232010000200028

ARTIGO ARTICLE

Avaliação da atenção à saúde da criança (0-5 anos) no PSF


de Teresópolis (RJ) segundo a percepção dos usuários

Children health care evaluation (0-5 years) according to users'


perceptions in the Family Health Strategy of Teresópolis, Rio de
Janeiro State

José Mendes RibeiroI; Sandra Aparecida Venâncio de SiqueiraI; Luiz Felipe da


Silva PintoII
I
Departamento de Ciências Sociais, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca,
Fundação Oswaldo Cruz. Rua Leopoldo Bulhões 1480/920, Manguinhos. 21045-210 Rio
de Janeiro RJ. ribeiro@ensp.fiocruz.br
II
Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro

RESUMO

O PSF representa um dos principais programas públicos em saúde no Brasil, cobrindo em


2006 um total de 5.601 municípios (91,8%). O estudo avaliou o PSF do município de
Teresópolis (RJ) por meio da percepção e das informações prestadas pelos responsáveis
por crianças na faixa de 0-5 anos e que utilizam estes serviços, por meio de
questionários aplicados aos responsáveis nos próprios módulos de atendimento ou em
visitas domiciliares. Resultados foram comparados entre áreas urbanas e rurais e
diferenças significativas foram observadas para determinados itens e elevado vínculo da
clientela ao programa e uma percepção predominantemente positiva sobre o estado de
saúde das crianças. O acesso se mostrou adequado segundo os critérios utilizados
quando se refere ao atendimento de rotina. Os pontos críticos observados incluem baixa
cobertura de visitas domiciliares, dificuldades na realização de exames solicitados e no
fornecimento regular de medicamentos. As áreas rurais apresentaram um número
elevado de crianças que trataram condições agudas em casa sem assistência médica. A
satisfação manifestada pelos usuários quanto aos médicos, aos agentes de saúde, aos
profissionais de enfermagem e ao conjunto dos serviços foi elevada. A clientela não
visitada por agentes de saúde apresentou menor acesso à distribuição de medicamentos.

Palavras-chave: SUS, Programa de Saúde da Família, Avaliação em Saúde

ABSTRACT

Family Health Strategy represents one of the major public programs in Brazil covering
5,601 municipalities in 2006 (91.8%). This study evaluated Teresópolis Family Health
Strategy through information and perceptions of adults responsible for children around 0-
5 years that used those health services. It was used evaluation forms answered by family
in waiting rooms or during home visiting. Results for urban and rural areas were
compared and significant differences were observed in some issues. Major findings
include users' strong ties with the program and a highly positive perception about the
children health status. Access was satisfactory as to use criteria when relating to regular
care proceedings. Critical points observed include: low coverage of home visiting, bad
access to labs and image exams and to systematic delivery of medicines. Rural areas
presented a high number of children who treated acute clinical conditions at home
without doctor assistance. Users satisfaction as to physicians, nurses, health community
agents and services were high level. Users not regularly visited at home presented lower
access to medicine delivery.

Key words: Unified Health System, Family Health Strategy, Health services evaluation
Introdução

O Sistema Único de Saúde (SUS), institucionalmente definido por seu caráter público,
universal e integral, financiado por recursos fiscais, apresentou ao longo da década de
noventa um amplo rol de iniciativas orientadas a cumprir com suas disposições
constitucionais. A necessidade de prover o acesso a serviços de saúde para amplos
contingentes populacionais em distintas regiões influenciou diferentes governos a
desenvolver incentivos financeiros para a ampliação da oferta de serviços não-
hospitalares. Modelos simplificados em termos do uso de profissionais de saúde,
instalações, equipamento e meios diagnósticos e terapêuticos foram desenvolvidos em
vários municípios brasileiros e algumas experiências ganharam relevância em ambientes
de alta escassez de recursos e de pobreza. Igualmente em centros urbanos, experiências
de instalações simplificadas e adaptáveis a áreas de difícil acesso e de risco social foram
se multiplicando. Em comum, estas soluções tinham o foco em (i) grupos sociais
altamente vulneráveis e com problemas de acesso a serviços de saúde; e (ii) reunir um
número reduzido de profissionais de saúde seguindo a lógica de equipes sanitárias
integradas.

Estes programas se tornaram nacionais, disseminados em áreas urbanas e rurais e, mais


recentemente, passaram a assumir um caráter substitutivo com relação à rede
tradicional de atenção primária. Este conjunto de experiências levou à unificação do
conceito de atenção básica e à normatização de procedimentos de incentivos financeiros
por parte do Ministério da Saúde por meio de sucessivas Normas Operacionais. Como
resultado, a política oficial do SUS para o atendimento ambulatorial foi paulatinamente se
concentrando na Atenção Básica (AB) e na Estratégia de Saúde da Família (ESF), tendo
sido sistematizada em 2006 mediante a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB)1.

Para o Ministério da Saúde, a atenção básica envolve ações de promoção e proteção a


agravos, desenvolvidas por equipes multidisciplinares orientadas a resolver os problemas
de saúde de maior prevalência e incidência na região. A estratégia de saúde da família é
considerada sua principal ação no âmbito do sistema público.

A magnitude destes programas pode ser medida pelos gastos realizados pelo Ministério
da Saúde no ano de 2005 para o financiamento de ESF, no total de R$ 2.679,27 milhões.
Para o ano de 2006, segundo o Ministério da Saúde, existia em todo o país um total de
219.492 agentes comunitários de saúde; 26.729 equipes de saúde da família e 15.086
equipes de saúde bucal. Muitas destas equipes e agentes comunitários se superpõem nas
mesmas instalações. O programa está presente em 5.601 municípios brasileiros (91,8%
do total).

A literatura sobre atenção básica e estratégia de saúde da família no Brasil foi marcada
durante longo tempo por estudos de caso, propostas organizacionais e de estrutura de
políticas ou difusão de casos supostamente exitosos, mesmo que desacompanhados de
evidências mais sólidas de sucesso. Este tipo de produção refletiu, no entanto, o forte
interesse do tema nos meios políticos, governamentais e acadêmicos. Teses
desenvolvidas em programas de pós-graduação foram orientadas com muita frequência
para estudos de caso de experiências conhecidas em diferentes cidades.

Mais recentemente, estudos têm buscado realizar amostras maiores, probabilísticas ou


não, promover modelos de avaliação mais articulados aos observados em outros países e
apresentar estudos comparativos entre a ESF e serviços ambulatoriais mais
convencionais. Do ponto de vista metodológico, foram difundidas técnicas de
estabelecimentos de linha de base, o que possibilitará a construção de séries históricas e
futuras comparações dos efeitos obtidos com a implementação da política e a
sustentação de sistemas de monitoramento e validação de resultados mais
permanentes2.

A despeito da controversa sobre o seu uso, outros estudos utilizam traçadores e eventos
sentinelas, baseados em problemas de saúde da população, para avaliar a qualidade dos
serviços em diversos países 3-5. O pressuposto é de que o modo como as equipes médicas
administram a atenção a doenças comuns indica a qualidade geral do sistema6,7. A
seleção de traçadores deve contemplar características que favoreçam a sua
especificidade, tais como impacto perceptível, critérios objetivos de diagnóstico,
prevalência elevada, história natural sensível à intervenção médica, protocolos médicos
bem definidos de intervenção e efeitos conhecidos de fatores não médicos sobre o
traçador escolhido. No caso brasileiro, os estudos mostram que indicadores diferentes
foram utilizados como eventos sentinelas (taxa de mortalidade infantil, índice de mortes
evitáveis, etc.)8.

Um ponto comum observado nas distintas abordagens está no fato de determinadas


condições ou programas serem passíveis, embora limitadamente, de sinalizar, monitorar
ou evidenciar aspectos substantivos da qualidade da atenção de serviços de saúde. Por
outro lado, matrizes de análise mais abrangentes são destacadas para a avaliação da
qualidade de serviços de saúde. Os componentes da qualidade contemplados em um
modelo integrado de avaliação de políticas envolve: eficácia (influência de inovações
tecnológicas); efetividade (grau de aproximação aos aprimoramentos possíveis);
eficiência (economia de custos sem prejuízo de metas); otimização (equilíbrios entre
custos e ganhos em condições de saúde); aceitabilidade (conformidade a expectativas
dos usuários); legitimidade (conformidade às preferências sociais e aspectos
institucionais); e equidade (conformidade a princípios distributivos aceitos)9.

Embora a tomada de decisões seja dependente de aspectos subjetivos como, por


exemplo, a credibilidade das equipes e consistências dos estudos realizados, a difusão de
uma cultura avaliativa no país10 tem contribuído para que os centros colaboradores
embasem as decisões do Ministério da Saúde (MS)11. Para tal, estes estudos têm
procurado comparar o desempenho do programa em diversos aspectos: entre municípios
de diversos portes, entre áreas cobertas e não cobertas, bem como analisado a
aplicabilidade de modelos desenvolvidos em outros países para a realidade brasileira12-14.

As análises trazem evidências que precisam ser mais bem compreendidas para uma
avaliação sobre o desempenho do PSF: 1) não há consenso sobre a vantagem na
qualidade do atendimento do PSF em relação à UBS entre os usuários, profissionais de
saúde e gestores, a não ser em alguns indicadores de acesso, enfoque familiar e
orientação para a comunidade; 2) evidência de pior cobertura e qualidade de atenção em
municípios pequenos; 3) maior desigualdade de acesso onde a necessidade de cuidado é
maior, balizada pelo poder de compra do usuário15-18.

Ainda nesta linha de estudos comparados, a literatura tem dado especial atenção às
questões relativas às condições de trabalho dos profissionais. A precarização das relações
de trabalho, as contratações por critérios políticos e o não cumprimento da carga horária
emergem como problemas recorrentes19. Por fim, no tocante ao financiamento ao PSF, a
literatura tem destacado que os incentivos lineares adotados pelos governos federal e
estaduais para incentivar a implementação de grande número de equipes nos municípios
não tem sido uma estratégia adequada em decorrência das características locais
diferenciadas dos municípios, recaindo, em muitos casos, o ônus financeiro da
implementação do PSF sobre os municípios20,21.
Procedimentos metodológicos

Em nosso estudo, a atenção à criança foi escolhida para avaliar o desempenho de


módulos de saúde da família pelo fato de apresentar um conjunto de práticas que podem
refletir o desempenho de áreas interdependentes da atenção a saúde, como a
organização da porta de entrada, o sistema de agendamento de consultas, a qualidade e
o acesso a serviços de laboratório e outros meios diagnósticos. O contato das crianças
com o serviço de saúde é realizado por meio de seus responsáveis e, como amplamente
conhecido, envolve no geral consultas de rotina para acompanhamento de
desenvolvimento, visitas domiciliares de rotina por agentes de saúde e consultas médicas
por problemas de saúde imediatos ou emergenciais.

A utilização de grupos sociais como fonte de informação para avaliar a qualidade de


serviços tem sido feita em estudos nacionais, assim como as fronteiras metodológicas
(limites e facilitação) quanto ao seu uso como traçadores. O foco na atenção básica se
deve a fundamentos tradicionais da saúde pública que enfatizam a prevenção primária e
a agenda da promoção da saúde22. A programação em saúde e a relação entre protocolos
de atenção e estruturas organizacionais de atenção à saúde, nas quais programas de
atenção à saúde da criança despertam especial interesse, também é foco tradicional no
setor23. Comparada à medicina subespecializada, a atenção primária seria menos
intensiva tanto em capital, quanto em trabalho e sua estrutura organizacional seria
menos hierarquizada, favorecendo a adaptação a condições e necessidades locais. Neste
caso, a noção de atenção primária é abrangente e inclui as próprias estruturas de
atenção gerenciada mais conhecidas (managed care). Considerando a tendência
observada à convergência de sistemas nacionais de saúde, um elemento a ser levado em
conta é que um sistema de saúde orientado à subespecialização ameaça os objetivos
gerais de equidade24.

O grupo de crianças na faixa etária de 0-5 anos foi utilizado como referência para avaliar
a qualidade do PSF de Teresópolis segundo a percepção de seus usuários. Este tipo de
estudo deve ser combinado a outras estratégias de investigação, como as consultas a
bases administrativas e bancos de dados sobre oferta e produção de serviços. No
entanto, é relevante para capturar de modo sistemático e analítico os pontos de vista dos
usuários de serviços de saúde. A percepção dos usuários ganha importância específica no
caso brasileiro, em que a tradição sanitarista enfatiza em demasia metodologias indiretas
de definição de necessidades em saúde e de qualidade de serviços por meio de
estimativas à distância dos serviços.

A rede de atenção primária é composta por estabelecimentos de saúde sem internação,


centros de saúde, postos de saúde e unidades do Programa de Saúde da Família. No
município de Teresópolis, existiam, em 2004, dez Unidades de Saúde de Família, que
cobriam 28,25% da população, percentual menor do que o da região serrana, onde está
localizado. Neste ano, o percentual de crianças menores de cinco anos encontradas no
município foi equivalente ao verificado nas dez áreas cobertas pelas Equipes de Saúde da
Família e entre as áreas urbanas e rurais que possuem PSF, perfazendo um total de
12.902 crianças, ou seja 8,9% dos 145.123 habitantes.

O objetivo do delineamento amostral foi selecionar duas amostras independentes, uma


para a área urbana (que considera as oito unidades de saúde existentes - Beira Linha,
Araras, Rosário, Fonte Santa, Granja Florestal, Granja Guarani, Meudom e Barra do
Imbuí) e outra para a área rural (Venda Nova e Vargem Grande), contemplando, ao final,
todas as Unidades de Saúde da Família existentes. Essas duas amostras foram
comparadas e as diferenças observadas testadas quanto às significâncias estatísticas
como amostras aleatórias independentes. Para o cálculo do tamanho da amostra total, foi
considerado o caso mais desfavorável onde a estimativa é de um parâmetro (p) = q =
0,5, isto é, onde cada característica a ser investigada apresentaria a proporção
observada de 50%. Com isso, o tamanho total da amostra para um nível de confiança de
95% e com precisão esperada de suas estimativas (totais e proporções) na ordem de
4,5% foi de 456 pessoas para a área urbana e 395 para a área rural, alocadas de forma
proporcional a cada uma das dez áreas cobertas pelo Programa de Saúde da Família.
Após a coleta dos dados, a amostra das dez unidades de saúde da área urbana foi de 381
pessoas (83,6% do total) entre as áreas cobertas pelas oito unidades de saúde da área
urbana e 213 (53,9% do total) entre as duas unidades de saúde da área rural,
totalizando 594 entrevistas. Com isso, o erro de amostragem observado para as
estimativas realizadas (para p=q=0,5) foi ajustado para 4,9% nas áreas urbanas e 6,4%
nas áreas rurais. Cerca de 80% do total das entrevistas foram realizadas no domicílio e
20% na própria unidade de saúde. A fórmula utilizada para a determinação do tamanho
de cada uma das amostras aleatórias simples (uma para a área urbana e outra para a
área rural) foi:

, onde

N é o tamanho da população;

z é o correspondente na curva normal à confiabilidade desejada;

S é o desvio padrão da população;

S2 é a variância populacional;

d é a precisão desejada.

No caso de proporções, a variância da população toma a forma:

O estudo, predominantemente domiciliar, foi facilitado pela existência e apoio dos


agentes comunitários de saúde da Estratégia de Saúde da Família. Além disso, foi
fundamental para o trabalho a existência do cadastro familiar - onde, através da Ficha A,
os dados das pessoas são coletados e atualizados -, o que possibilitou a identificação das
pessoas amostradas pelos domicílios. Para os entrevistados nas unidades, o critério de
seleção foi a inclusão de todas as crianças de 0-5 anos presentes para consulta médica
no dia de aplicação do questionário.

Para comparação das áreas urbano e rural, foram calculadas as significâncias


estatísticas, considerando-se o teste de qui-quadrado e o teste de Fisher, úteis no caso
de estratificações de pequenas amostras e supondo-se que as mesmas pudessem ser
consideradas como amostras aleatórias independentes. Existe uma limitação na seleção e
na validade externa das amostras no que se refere à forma de coleta dos dados que
considerou, após a identificação da usuária selecionada, entrevistas realizadas ora no
domicílio, ora na própria unidade de saúde. Por esse motivo, também optamos por não
realizar a expansão da amostra.

A atenção destinada às crianças de 0-5 anos, uma das principais clientelas do PSF, foi
avaliada a partir das informações prestadas pelos responsáveis principais ou pelos
acompanhantes das consultas. As respostas foram registradas em questionários
contendo perguntas em sua maioria fechadas. A fase de coleta de dados teve início com
a apresentação e discussão dos objetivos da pesquisa e do questionário com a equipe de
entrevistadores (alunos dos cursos de medicina e enfermagem da FESO) e a coordenação
da Estratégia de Saúde da Família. Para validação da formulação e compreensão do
questionário, foi realizado, em seguida, pré-teste na Unidade Beira Linha. Por fim, o
instrumento foi revisado e sua versão final distribuída para aplicação durante uma
semana típica de atendimento.

A aplicação do instrumento combinou duas estratégias: (i) a ida aos domicílios durante
as visitas domiciliares, acompanhando um dos agentes comunitários de cada equipe, (ii)
a abordagem na própria unidade de saúde após o atendimento. A entrevista a usuários
diretamente nos serviços de saúde ou em domicílios assistidos tem sido utilizada em
estudos sobre atenção primária11,12 como forma de promover avaliações rápidas de
caráter exploratório, embora deixem de cobrir a população que não acessou a estes
serviços, seja por barreiras diretas ou por desinteresse.

Em nosso estudo, os responsáveis responderam a um questionário fechado aplicado em


domicílio por meio de visita indicada pelos agentes de saúde ou no próprio módulo de
atendimento. Para a avaliação da percepção de qualidade, foram apresentadas escalas
de zero a dez sobre o último atendimento ou contato realizado por médicos, enfermeiros,
auxiliares de enfermagem, agentes de saúde e pelo serviço em geral. Estes resultados
foram categorizados em uma escala de cinco intervalos com variação entre muito ruim a
muito bom.

Resultados e análise

Os respondentes foram os responsáveis pelas crianças, definidos como acompanhantes


das consultas. Observa-se uma diferença significativa em relação ao sexo dos
responsáveis. Como esperado, a maioria é formada por mulheres (91,1%). Verifica-se
ainda que a presença masculina é maior nas áreas rurais (11,7%) do que nas urbanas
(6,7%). Tal fato pode ser devido ao trabalho rural e a maior permanência, em termos
proporcionais, de homens em casa do que nas áreas urbanas. Outro aspecto é que a
grande maioria dos responsáveis acompanhou a consulta anterior (90,9%), sugerindo
vínculos estáveis com a criança e com a rotina do serviço de saúde. Neste caso, as
diferenças entre as áreas não foram significativas. O vínculo do informante e responsável
com o serviço parece elevado, pois a maioria (90,2%) possui cadastro no PSF, sendo
esta participação proporcional significativamente maior na área rural. Com relação ao
grau de parentesco, a mãe representa o vínculo mais frequente (71,6%) e as relações
familiares tradicionais predominam fortemente sobre outros vínculos (2,2%). As
diferenças segundo área não foram significativas. O grau de escolaridade dos
responsáveis revela diferenças significativas entre as áreas rurais e urbanas, sendo a
escolarização maior nas áreas urbanas. De qualquer forma, predomina em ambos os
grupos a escolarização em nível de primeiro grau incompleto, maior na área rural
(80,1%) do que na urbana (58,8%).

Com relação às crianças, há predomínio de meninas (54,1%) sobre meninos (45,9%),


não sendo estas diferenças estatisticamente significativas. Mais significativas
(marginalmente a p=0,0867) são àquelas relativas à frequência à creche ou escola, que
é maior na área urbana (21,9) do que na rural (16,3). No entanto, o mais importante
aqui é o fato de que a maioria das crianças não frequenta creche ou escola (80,6%).
Embora este percentual possa ser explicado pela manutenção do cuidado em casa, pode,
ao mesmo tempo, expressar a ausência de boas creches públicas na região que
assegurem o acesso a pré-escola de qualidade para estas crianças.

A vinculação com instituições públicas de atenção e cuidado é evidenciada de modo


intenso pela posse do Cartão da Criança pela quase totalidade dos observados (94,6%) e
este vínculo é ainda significativamente maior na área rural (98,1% a 91,8%). Isto pode
sugerir uma vinculação maior destas populações ao programa. Perguntados sobre o
estado de saúde das crianças, foi considerado "muito bom" para 27,6% dos informantes
e "bom" para 60,9%. As diferenças entre as áreas são bastante significativas (p<0,0001)
quando observadas para a condição "muito bom", melhor para a área urbana (39,1%)
que para a rural (13,3%).

As condições de acesso aos serviços podem ser avaliadas segundo os meios de


locomoção utilizados pelos usuários (Tabela 1). A grande maioria dos usuários foi ao
posto de saúde a pé (85,4%). Isto sugere que estas unidades estão próximas das
moradias das pessoas, o que é esperado no caso do PSF, um programa com focalização
de clientela. No entanto, observam-se diferenças significativas entre as áreas. Enquanto
na área urbana 96,4% dos usuários vai a pé aos serviços, na área rural, este percentual
cai para 71,6%. Em áreas rurais, o uso de ônibus é de magnitude importante (18,6%),
em virtude da maior dispersão dos domicílios, o que torna os módulos mais próximos de
alguns domicílios do que de outros.

Outro meio de avaliar o acesso aos serviços é dado pelo tempo médio gasto para chegar
ao seu destino. Aqui se confirma que as caminhadas até as unidades de saúde eram de
curta duração, em sua maior parte: 62,2% dos usuários gastaram até dez minutos,
independente do meio de locomoção para chegar aos módulos e um número menor
(16,1%) gastou mais de vinte minutos. Seguindo a tendência observada, aqui também
as diferenças entre as áreas foram significativas e os moradores em área urbana
apresentaram, proporcionalmente, maior facilidade de acesso aos serviços (70,9%
gastaram menos de dez minutos, contra 49,8% dos moradores em áreas rurais).

Com relação ao uso regular de serviços, as estratégias de saúde da família envolvem


duas rotinas básicas. Uma delas é a consulta com médicos generalistas no próprio
módulo de Saúde da Família e a outra se refere a visitas domiciliares periódicas
realizadas por moradores treinados em programas de saúde pública (denominados
agentes comunitários de saúde).

Com relação às consultas, os dados da Tabela 1 mostram que apenas 8,7% dos
responsáveis relataram que a criança não foi consultada pelo médico no último ano, o
que mostra que a grande maioria frequentou o médico pelo menos uma vez ao ano. Em
contrapartida, chama a atenção o relato de 33,5% dos responsáveis de que não
receberam nenhuma visita domiciliar neste período e, especialmente, a significativa
diferença (36,5% a 29,6%) observada nas áreas urbanas e rurais, tendo em vista que a
rotina de visitas é considerada elemento-chave na estratégia de saúde da família.

Com relação ao acesso aos serviços de saúde, os dados na Tabela 1 não apresentam
diferenças significativas entre as áreas. Ao mesmo tempo, mostram barreiras no módulo
ao acesso a exames solicitados pelos médicos; por exemplo, 85,3% dos entrevistados
informaram que estes pedidos não foram realizados. Outro dado que chama a atenção é
o do número de consultas realizadas sem agendamento, em torno de 80,6% do total, o
que pode sugerir falhas na rotina de acompanhamento das crianças, na medida em que
os protocolos preconizam a realização de consultas sistemáticas nesta faixa de idade.
Outra possibilidade é a grande disponibilidade de horários médicos ou de enfermagem
terem tornado o agendamento desnecessário. No entanto, estes resultados analisados
em conjunto com outros (como a baixa cobertura de visitas domiciliares) sugerem que os
protocolos mais rígidos da programação em saúde (uma das principais ferramentas do
PSF) não estejam em pleno uso no município. Apesar disso, o contingente de
entrevistados que já utilizaram os serviços do módulo é relativamente alto (67%) o que
mostra adesão da população ao serviço.

Quanto ao acesso aos medicamentos, 44,3% dos entrevistados afirmam receber


gratuitamente os remédios prescritos no posto e apenas 35,4% relatam a falta eventual
destes remédios. Estes resultados podem ser considerados satisfatórios, desde que se
considere que o acesso a medicamentos seja um problema estrutural do sistema público
no país. O acesso aos medicamentos no meio urbano foi significativamente melhor que
no rural.

Um dos principais problemas de acesso aos serviços de saúde se observa em condições


agudas. Com relação a crianças, a existência de febre ou diarréia exige especial atenção.
Na Tabela 2, se observa que as diferenças entre as áreas urbana e rural na procura dos
serviços de saúde foram significativas e que 50,1% dos responsáveis dizem tratar em
casa destas condições clínicas de risco e que apenas 32,5% buscam a unidade do PSF
para este primeiro atendimento. As restrições de acesso (ou baixa motivação) se
mostram mais presentes entre os moradores de áreas rurais.

Embora os serviços do PSF envolvam um bom contingente de usuários, os dados até aqui
analisados têm mostrado que uma parcela importante da população adscrita fica à
margem de suas rotinas. A estratégia do PSF é de proteção social ampla, em que todos
os moradores da área configuram o público-alvo. Além disso, o programa representaria a
porta de entrada dos moradores ao SUS. No entanto, na Tabela 2, observa-se que para
44,6% dos responsáveis a ida ao posto não ocorre por rotina (como para outros 46,6%),
mas apenas em caso de doença ou malestar (ou seja, em condições agudas). Cabe
destacar que o uso em condições agudas é maior nas áreas rurais do que nas áreas
urbanas, o que pode sinalizar a maior facilidade de acesso a serviços de emergência nas
áreas urbanas, ao passo que nas áreas rurais estes não existem.

O vínculo dos usuários aos serviços do PSF pode ser medido pelo modo como recebem
informações relevantes pelos profissionais de saúde ou como apreendem as informações
prestadas. Na Tabela 2, se nota que 83,5% dos entrevistados conhecem o nome do
médico que realizou a última consulta. As diferenças entre as áreas foram marginalmente
significativas e, neste caso, a adesão de informantes de áreas rurais foi maior (85,6% a
80,0%). Estes dados sugerem uma vinculação positiva dos usuários aos serviços.
Igualmente, 88,1% conhecem o motivo da consulta e suas implicações gerais.
Reforçando as observações em tabelas anteriores, dentre os que conhecem os motivos
da consulta realizada (um total de 512 informantes), para 72,3% ela ocorreu para
tratamento de condições clínicas específicas. Isto sugere que as rotinas nos moldes da
agenda da promoção da saúde (que implicam o uso dos serviços de saúde fora de
condições agudas) ainda não são predominantes nestes serviços.

Os dados apresentados na Tabela 3 sugerem uma boa aceitação e satisfação dos


usuários com os serviços de saúde.

Para 81,1% dos entrevistados, o atendimento pelos médicos foi muito bom e para
83,7%, o serviço dos agentes de saúde foi muito bom. As diferenças entre áreas foram
significativas para o atendimento médico e a aprovação foi maior na área urbana. Os
resultados para a qualidade do serviço como um todo e de profissionais de enfermagem
seguiram a mesma tendência. Anteriormente, havíamos observado que 189
entrevistados (33,5%) referiram não ter sido objeto de nenhuma visita domiciliar no
último ano. Este número é elevado, pois estas visitas fazem parte da rotina de trabalho
das equipes. Analisamos em seguida o comportamento de dois grupos. Um deles, sem
relato de visita no ano, frente aos demais entrevistados (em total de 387) que
registraram ao menos uma visita domiciliar. Podemos considerar a hipótese de que o
grupo não visitado seja menos aderido ou tenha menor acesso aos recursos do PSF.
Na Tabela 4, observamos que a clientela não visitada tem menor acesso gratuito aos
medicamentos receitados e a consultas agendadas previamente pelos serviços e que
estas diferenças são marginalmente significativas. Notamos ainda que a lembrança do
nome do médico é significativamente maior entre a clientela que recebeu ao menos uma
visita domiciliar no ano. Estes dados sugerem que a visita domiciliar representa um
relevante facilitador do acesso aos serviços e de adesão ao PSF. Com relação à
percepção de qualidade de médicos e de agentes comunitários, a condição de visitado
não se mostrou um fator importante de diferenciação entre os grupos estudados.

Considerações finais

O estudo foi realizado por meio de questionários aplicados aos responsáveis pelas
crianças no momento do acesso aos serviços nos módulos de saúde da família ou em
visitas domiciliares. Isto facilita a avaliação rápida e a economia de recursos, porém
deixa de fora populações que não acessaram os serviços de saúde. A qualidade do acesso
aqui avaliada parte da experiência de usuários diretos destes serviços.

Consideramos os aspectos mais relevantes da estratégia de saúde da família no Brasil e


observamos o seu comportamento na região estudada. A maior escolarização nas áreas
urbanas deve ser considerada ao se avaliar as percepções distintas entre estes grupos,
embora em ambos o nível de escolarização seja baixo. A vinculação preliminar da
população alvo ao programa foi elevada, medida pela posse do Cartão da Criança. A
percepção positiva dos informantes sobre o estado de saúde das crianças foi elevada,
diferindo estes usuários do observado em programas implementados em áreas de
extrema pobreza e típicas da acelerada difusão dos módulos de saúde da família no país.

As condições de acesso dos usuários foi positiva, tendo a grande maioria chegado a pé e
gasto menos de dez minutos no deslocamento, sugerindo a proximidade dos serviços aos
locais de moradia. A grande maioria frequentou ao menos uma vez ao médico, embora
em grande parte sem agendamento prévio da consulta. No entanto, cerca de um terço
dos informantes relatou a ausência de visita domiciliar no último ano. Isto pode ser
devido à facilidade de acesso aos módulos de saúde da família ou à fragilidade relativa
nestes procedimentos, especialmente em áreas urbanas.

Um ponto crítico apontado em avaliações destes programas é o acesso aos exames e isto
foi corroborado neste estudo. A grande maioria dos entrevistados disse que os exames
solicitados não foram realizados. Outro ponto crítico apontado em estudos anteriores é o
acesso aos medicamentos. Neste caso, mais da metade dos usuários não recebe
medicamentos gratuitamente de modo regular e constante, embora neste grupo a
maioria os receba de modo eventual, sendo a distribuição mais eficiente em áreas
urbanas. Uma medida importante do acesso aos serviços está nas condições agudas.
Neste estudo, as restrições de acesso foram significativamente maiores nas áreas rurais.
Cerca da metade dos informantes trataram inicialmente em casa condições de risco
clínico como febres e diarréias.

Com relação aos vínculos com os profissionais, a grande maioria conhece o nome do
médico que realizou a última consulta, os motivos da consulta e de suas implicações. A
maior parte das consultas ocorreu por queixas ou sinais clínicos e não pelo cumprimento
de protocolos de prevenção. A satisfação manifestada pelos usuários quanto aos
médicos, aos agentes de saúde, aos profissionais de enfermagem e ao conjunto dos
serviços foi elevada. Observamos que entre a clientela não visitada por agentes de saúde
no último ano houve menor acesso à distribuição de medicamentos e menor lembrança
do nome do médico consultante. Isto sugere que a visita domiciliar representa facilitador
do acesso aos serviços e de adesão ao PSF.

Os pontos críticos observados (baixa cobertura de visitas domiciliares, dificuldades na


realização de exames e no fornecimento regular de medicamentos e o tratamento
frequente de condições agudas no domicílio) sugerem que o programa, apesar de bem
avaliado para o atendimento rotineiro de primeira linha, enfrenta importantes
dificuldades em promover o acesso da clientela a serviços correlatos, mesmo os de baixa
complexidade.

Este estudo não avaliou as dimensões de custo e de custo-efetividade do programa e isto


deve ser levado em conta em avaliações futuras. Tratase de uma lacuna importante em
estudos avaliativos em nosso país. Mais importante ainda, deve ser considerada a
dimensão do custo de oportunidade. Embora muitas vezes bem avaliados, sabemos
pouco sobre os custos de se adotar estratégias distintas em termos de gastos nominais,
gastos comparados e, principalmente, na comparação de resultados e impactos de
estratégias distintas. Como observamos anteriormente, os estudos comparados entre
módulos de saúde da família e unidades convencionais lidam pouco com aspectos
relacionados ao financiamento e ao impacto dos serviços e mais com itens específicos da
qualidade da atenção aos usuários.

Colaboradores

JM Ribeiro, SAV Siqueira e LFS Porto participaram igualmente de todas as etapas da


elaboração do artigo.

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ENFERMAGEM COMPREENDIDA COMO VOCAÇÃO E SUA


RELAÇÃO COM AS ATITUDES DOS ENFERMEIROS FRENTE ÀS
CONDIÇÕES DE TRABALHO

Rosa Maria Rodrigues


Rodrigues RM. Enfermagem compreendida como vocação e sua relação com as atitudes dos
enfermeiros frente às condições de trabalho. Ver Latino-am Enfermagem 2001 novembro-dezembro;
9(6):76-82.
A proposta é refletir sobre a enfermagem enquanto trabalho, afastando sua concepção amplamente
aceita que a identifica a uma atividade de ajuda, sendo que tal concepção poderia ser fator
dificultante para o enfrentamento e transformação das condições de trabalho.
Tenta situar na história o contexto em que é elaborado o modelo vocacional/religioso e identificar nas
falas de alunos do primeiro e quarto ano de um curso de Graduação em Enfermagem as
manifestações daquela concepção, apontando para a necessidade da atividade docente ser
permeada pela concepção da enfermagem/trabalho.

DESCRITORES: enfermagem, trabalho

INTRODUÇÃO
Como atividade no primeiro dia de aula na disciplina de Exercício da Enfermagem
em um Curso de Graduação em Enfermagem, nos últimos três anos, tenho
solicitado que os alunos
escrevam entre outras coisas, qual é o seu entendimento de enfermagem. O que,
predominantemente, tem aparecido é uma concepção da enfermagem enquanto
ajuda, doação, vocação. Até que não haveria nenhum problema nisso, afinal, é
compreensível que o aluno, na primeira semana de aula, tenha tal entendimento
desta prática, pois a sua elaboração teórica a respeito pode identificar-se à do senso
comum. Contudo, percebo que tal postura não é exclusiva de alunos recém
chegados à área da enfermagem, nos parecendo que a ideologia presente na
enfermagem brasileira, desde sua origem, é perpassada pelo entendimento do
trabalho do enfermeiro como importante por estar permeado da uma atuação
caritativa.
Num estudo feito com enfermeiras alemãs(1) percebemos, nos discursos dos
sujeitos da pesquisa, que esta enfermagem idealizada aparece como um dos
elementos de satisfação profissional e de motivação para o trabalho. Como entender
que os enfermeiros, mesmo após anos de exercício profissional, ainda guardem
aquela visão idealizada da sua prática e se sintam satisfeitos, reconhecidos quando
estão exercendo atividades de ajuda, de doação. O que tal entendimento pode
acarretar ao enfrentamento dos problemas relacionados à saúde do trabalhador
enfermeiro?
Desta maneira, proponho algumas reflexões preliminares acerca de uma possível
relação entre a concepção hegemônica de enfermagem enquanto vocação, serviço,
compatível com o modelo vocacional/religioso e uma, também possível, dificuldade
em se propor ações efetivas no campo da saúde do trabalhador enfermeiro; afinal,
compreendo que ao tomar-se a enfermagem enquanto vocação, subtrai-se dela o
seu caráter de um trabalho realizado em uma sociedade concreta, que tem
carências, e na qual o profissional de enfermagem constitui-se em um trabalhador
que vende a sua força de trabalho para garantir a sua existência.
Tenho como pressuposto o fato de que a concepção que se tem da enfermagem
enquanto ajuda, vocação e não como trabalho, emperra as iniciativas de
organização de seus trabalhadores na busca de condições apropriadas de trabalho,
livre de riscos e menos penosa.
Percebo claramente os limites de tal pretensão. Desta forma, me limitarei a tecer
considerações que indiquem a necessidade de se aprofundar os estudos,
averiguando cientificamente a veracidade ou não de tal pressuposto.

MÉTODOS
Para tecer estas reflexões, fundamentando-as na literatura, pretendo tomar como
orientação um resgate da história da enfermagem, situando o momento em que
acredito estar alicerçada
a atual concepção ainda hegemônica de enfermagem. Além disso, pretendo pontuar
a iniciativa de mudança de concepção que acontece após a década de 80, indicando
a necessidade de um redirecionamento no entendimento da profissão entendendo-a
como uma prática social, como trabalho. A pesquisa bibliográfica foi a fonte para a
construção do texto.
Para ilustrar o que entendo por modelo vocacional/religioso e como isso ainda é
presente nos discursos dos alunos, realizei coleta de dados com alunos do primeiro
e do último ano de graduação em Enfermagem de 1999, solicitando-lhes que
escrevessem o que significa enfermagem para eles, e porque estão fazendo o curso.
Com a quarta série, solicitei ao professor, presente na sala, espaço para expor aos
alunos a proposta e a colaboração em responder às perguntas, os da primeira
responderam como atividade inicial da disciplina de Exercício da Enfermagem. Tive
o cuidado de esclarecer que eles deveriam responder somente se desejassem e que
seria resguardado o sigilo. Esclareci ainda que os dados destinavam-se a trabalho
para publicação. Forneceram resposta, 37 alunos da primeira série e 23 alunos da
quarta série.
Os dados colhidos foram reunidos e agrupados segundo a convergência de
conteúdo, averiguando a ocorrência nas falas do modelo vocacional/religioso, uma
vez que entendo que a concepção que se tem da enfermagem pode interferir na
compreensão da problemática da saúde do trabalhador de enfermagem. Portanto, o
núcleo central de convergência das falas foi a manifestação da concepção de
enfermagem baseada no modelo vocacional/religioso.
Penso que a perspectiva histórica e dialética seria coerente para este estudo, sendo
o referencial adotado.

ENFERMAGEM E O MODELO VOCACIONAL: A CONTEXTUALIZAÇÃO


A história da enfermagem pode ser situada em antes, durante e depois da Idade
Média. Antes deste período, esta prática era desenvolvida pelas mulheres na
Sociedade Primitiva, pelos escravos, sacerdotes e também por mulheres na
Sociedade Grega.
Nos primitivos, a concepção de saúde/doença estava muito mais ligada ao
sobrenatural, entendido como ação de espíritos; com os gregos, vai ligar-se a
alterações nos humores, relacionando-se a causas objetivas e não apenas
sobrenaturais(2).
Até aquele momento, o ato de cuidar das pessoas estendia-se às funções
domésticas e alargava-se um pouco mais que isso apenas no cuidado às pessoas
de posse, que tinham seus escravos para tal atividade. Apesar de ser exercida pelos
escravos, não perdia sua característica de trabalho doméstico, com um fim em si
mesmo.
Contudo, com o advento do cristianismo e o poderio da igreja, a prática da
enfermagem sofreu profundas transformações. A concepção de saúde/doença é
relacionada ao aspecto religioso onde a subalternidade do ser humano é total a um
deus que é misericordioso, mas que também se manifesta como castigador. Assim,
à saúde atribui-se um sentido de agrado a Deus e a doença passa a ser tomada
como um castigo(2).
Neste cenário, os executores do que poderia relacionar-se a um trabalho de
enfermagem serão pessoas ligadas à Igreja ou pessoas leigas que tenham um
desenvolvido espírito de caridade.
Afinal, neste novo enfoque, aquele que cuidar dos doentes tem maiores chances de
se aproximar de Deus através da caridade.
Cuidar de pessoas doentes é como garantir junto a Deus a remissão dos pecados,
pois como prega (va) a igreja, todos somos pecadores.
Este período imprimiu profundas marcas na história da humanidade e em função
delas, até o momento atual, estão impressas em nossos valores, em nossas
condutas cotidianas. Parece-me que estas marcas ainda perduram e se explicitam
na concepção de enfermagem de alunos e enfermeiros. É claro que não com esta
relação direta de ação e salvação da alma, mas os preceitos cristãos continuam
muito arraigados em nosso fazer. Principalmente na sua forma idealista de conceber
o mundo, em que se transcende para um mundo extraterreno as esperanças de
viver uma vida plena, já que o mundo terreno é um lugar de padecimento e dor.
O modelo religioso sofre algumas alterações na transição do Feudalismo para o
Capitalismo, em função de que o primeiro já não é capaz de propiciar a organização
do espaço hospitalar, que é modificado com este novo modo de produção. O
hospital, de um lugar em que as pessoas iam apenas para esperar pela sua morte,
transforma-se em um espaço de cura. “O modelo religioso de enfermagem emerge
no mundo cristão, atravessa a Idade Média e vai se defrontar com o capitalismo na
Inglaterra, no final do século XVIII, e com a ascensão da burguesia e sua instalação
como classe social dominante, que dará o significado de arte ou vocação à prática
de enfermagem, para tornar possível o treinamento de alguns agentes.
Portanto, no capitalismo, o modelo religioso é substituído pelo vocacional”(3).
O modelo vocacional diferencia-se em função dos novos agentes que não serão
mais somente os religiosos, mas também pessoas leigas. Contudo, não se trata de
um modelo excludente do modelo religioso. Pelo contrário, muitos preceitos e
ensinamentos religiosos persistirão na enfermagem moderna. A enfermagem
moderna, como designamos a enfermagem que se organiza no século XIX com
Florence Nightingale, reproduz muitas daquelas características. “Nightingale
legitimou a hierarquia e a disciplina no trabalho de enfermagem, trazidas da sua alta
classe social, da organização religiosa e militar, materializando as relações de
dominação-subordinação, reproduzindo na enfermagem as relações de classe
social. Introduziu o modelo vocacional ou a arte da enfermagem”(3).
Entendo que estas características, em função de se constituírem em construções
históricas, persistem por todo o período capitalista apenas modificando sua forma de
manifestação. Um outro fato é a origem da enfermagem, tanto no Brasil como na
Inglaterra, que está ligada ao voluntarismo de guerra com Florence Nightingale e
Ana Neri, ambas imprimindo tanto os valores militares como o espírito de serviço. “A
ideologia da enfermagem desde sua origem,
e, em particular, a de Ana Neri, para os brasileiros, significa: abnegação, obediência,
dedicação. Isso marcou profundamente a profissão de enfermagem – o enfermeiro
tem que ser alguém disciplinado e obediente. Alguém que não exerça a crítica
social, porém console e socorra as vítimas da sociedade. Por essa razão, os
enfermeiros enfrentam sérias dificuldades de ordem profissional, desde as longas
jornadas de trabalho, baixos salários comparados aos de outros profissionais do
mesmo nível, enfim, sua organização política é frágil e quase sem autonomia
(...)”(4).
Contraditoriamente, é possível perceber no momento atual, que essa concepção de
enfermagem enquanto vocação e do enfermeiro enquanto aquela pessoa que ajuda,
que se doa, não é compatível com o modo como vivemos, em que o trabalhador
enfermeiro precisa vender a sua força de trabalho para garantir a sua existência.
Os discursos dos enfermeiros no trabalho de Cunha, estavam carregados dos
valores de ajuda, de dedicação, aos quais me referi como tendo sido construídos
pelo modelo vocacional/
religioso. Esta autora faz uma reflexão pontual sobre estes valores e sua relação
com o processo motivacional que, acredito, enriquece a afirmação de que o
enfermeiro, muitas vezes, ainda se orienta por estes valores, mas que entendo seja
preciso reorientá-los. Para ela:
“A motivação caracterizada por sentimentos idealizados da profissão conflita-se com
a realidade determinada pelo mercado de trabalho capitalista. Como ajudar os
pacientes, ser solidária, prestar uma assistência integral, sentir-se útil, ser valorizada
e recompensada em um contexto onde esses motivos e valores inexistem? Como
atuar em condições desumanas, onde são priorizadas outras finalidades que não
contemplam essa relação de ajuda, essa solidariedade e sentirem-se úteis e
importantes?”(1).
Embora as enfermeiras tenham esses valores construídos, sua atuação no mercado
de trabalho é suficiente para fazer cair por terra, uma vez que neste não há espaço
sequer para o ser humano doente, sendo este apenas uma peça na engrenagem do
sistema de saúde, quanto mais para os trabalhadores. É neste sentido que é preciso
não construir este mundo idealizado para o aluno, pontuando objetivamente os
limites e as possibilidades do trabalhador enfermeiro.
Desta forma, vejo justificar-se o redirecionamento da nossa prática, seja através da
assistência, do ensino e da pesquisa, permeando-a pelo entendimento da
enfermagem enquanto trabalho.
Penso que isto se traduz em uma forma objetiva de estar refletindo sobre a
profissão, afastando a postura que até menos de duas décadas atrás era de total
conformismo e aceitação de imposições, incluindo-se aí as condições de trabalho.
“Este posicionamento não é freqüente porque as profissões da saúde
(principalmente a medicina) são tomadas como desvinculadas do mundo do trabalho
que obedece às leis sociais de necessidades, de carecimento, e esta desvinculação
as coloca acima e além do mundo do trabalho, exaltando suas qualidades de
‘verdade’, de ‘ciência’, ‘dedicação’, de ‘bem’, ‘sacerdócio’ e de ‘autonomia’”(5).
Nesse texto vemos a advertência para que a enfermagem deixe de ser assim
considerada, para que se possa analisá-la em realidades concretas, apreendendo as
contradições dinâmicas da
prática e contribuindo com estratégias de mudança da realidade.
Entendo que o enfrentamento das dificuldades dos trabalhadores da enfermagem,
no que se refere às condições do trabalho que realizam, passa por esta tomada da
mesma como um trabalho pois, só assim poderemos vislumbrar alguma
possibilidade de transformação da nossa realidade.
Na década de 80, inicia-se no Brasil um movimento de redirecionamento e de
tomada da enfermagem em uma nova perspectiva tendo sido elaborados diversos
trabalhos com o novo enfoque. Uma das elaborações do entendimento de
enfermagem que, me parece, se encaminha no sentido de esta prática em outra
concepção, dá conta de que: “A enfermagem é uma ação, ou uma atividade
realizada predominantemente por mulheres que precisam dela para reproduzir a sua
própria existência e utilizam um saber advindo de outras ciências e de uma síntese
produzida por ela própria para apreender o objeto da saúde naquilo que diz respeito
ao seu campo específico (cuidado de enfermagem?) visualizando o produto final,
atender às necessidades sociais, ou seja, a promoção da saúde, prevenção de
doenças e a recuperação do indivíduo, ou o controle da população”(5).
Nesta definição, me parece explícito que a enfermagem está sendo tomada como
um trabalho, uma vez que a sua ação engloba todos os momentos do processo de
trabalho, os instrumentos, os meios e a finalidade. Quando defendemos a tomada da
enfermagem como trabalho, precisamos afastar algumas definições que idealizam o
conceito de trabalho, como por exemplo, o trazido para discussão na disciplina de
saúde do trabalhador no contexto da enfermagem, colocando que: “Qualquer forma
de trabalho humano; tem uma dignidade inalienável; é atividade de um ser racional e
livre.
Seu valor se mede pela perfeição com que é realizado. É um dever inelutável de
todo homem, qualquer que seja a concepção religiosa que o inspira. Este dever é
uma vocação do homem de completar e prolongar pelo trabalho a obra criadora de
Deus e a vocação de realizar a sua própria plenitude, pelo desenvolvimento de suas
energias físicas e espirituais. É penoso e esta pena dá-lhe o valor de purificação e
redenção. É um direito reconhecido pelas DUDH”(6).
Diferentemente de tal conceito que, carregado do entendimento de um homem
idealizado, apartado de sua história e do trabalho como aquela tarefa de penúria que
aproxima-nos de Deus, característica do período cristão, é preciso compreender o
trabalho como a atividade humana que possibilita ao homem se produzir, se fazer
homem. Pelo trabalho, “o ser humano se contrapõe e se afirma como sujeito num
movimento e ação teleológica sobre a realidade objetiva. Modificando a realidade
que o circunda, modifica-se a si mesmo. Produz objetos e, paralelamente, altera sua
própria maneira de estar na realidade objetiva e de percebê-la. E – o que é
fundamental – faz a sua própria história. Toda a chamada história mundial –
assegura Marx – não é senão a produção do homem pelo trabalho humano”(7).
Feitos tais esclarecimentos sobre como entendo a enfermagem e o trabalho, inicio a
discussão dos dados colhidos relacionando-os com estes conceitos explicitados.

ANÁLISE DOS DADOS ORIENTADA PELA COMPREENSÃO DA ENFERMAGEM


SOB O MODELO VOCACIONAL/RELIGIOSO
Dos alunos do primeiro ano de enfermagem de 1999, 37 responderam às questões,
sendo que pude identificar traços do modelo vocacional/religioso em 18 falas, as
quais, passo a transcrever a seguir.
(...) como enfermeiro, vou poder ajudar aqueles que precisam de auxílio.
(...) é um dom de trazer alívio para aqueles que sofrem
(...) É a parte ‘social’ que tanto precisa um hospital
(...) é um meio de ajudar cada pessoa (...)
(...) que poderei ser solidária com as pessoas e assistir a comunidade de maneira
gratificante.
(...) acho muito bonita pelo fato de ajudar as pessoas.
(...) (...) ajudar as pessoas tanto prevenindo doenças como ajudando a curá-las. (...)
(...) somos treinados para que através do nosso trabalho, possamos ajudar os
outros.
Enfermagem = compreensão, auxílio ao próximo, paciência, proporcionar vida, dar
bem-estar, solidariedade. É uma profissão que pode proporcionar satisfação
pessoal.
(...) sendo enfermeira posso ajudar as pessoas doentes, pois ser enfermeira é uma
profissão que se caracteriza em ajudar quem necessita.
(...) é ajudar no que for preciso, fazendo com que o doente se sinta bem.
(...) exige muita paciência e qualificação por se tratar de ‘vidas’ que necessitam de
cuidados e ajuda.
Talvez seja uma das profissões que mais ajudam o ser humano e é talvez por um
desses motivos que escolhi o curso.
(...) consiste em cuidar e ajudar as pessoas quando estão doentes ou sadias. (...)
(...) se volta a ajudar pessoas, dando um bom tratamento quando estas se
encontram com problemas (...)
(...) aptidões que um profissional da área precisa ter
(...) paciência, facilidade de relacionamento com pessoas e gostar de trabalhar em
hospitais, (...) é para mim um curso que ajuda pessoas (...)
(...) uma das formas pelas quais vou ajudar, orientar, confortar... pessoas que
precisam de cuidados.
(...) é inteiramente tratar e dar apoio as pessoas que estão precisando de ajuda.
(...). Ter muita compreensão, carinho e respeito com o ser humano. (...)
O conteúdo das falas destes alunos, ao ingressarem na Universidade, nos permite
afirmar que um percentual elevado deles (48,6%) atribui à enfermagem as
características de ajuda, de valorização do contato com o ser humano como forma
de satisfazer uma necessidade pessoal de ajudar os outros. Estes traços coincidem,
em muitos momentos, com aqueles valores inculcados pelo modelo
religioso/vocacional, sendo a ajuda uma das formas de alcançar a gratificação, seja
no mundo terreno sentindo-se satisfeitos com o trabalho ou implicitamente a
recompensa que pode ser conseguida em uma vida posterior por estar ajudando.
Por outro lado, observei no restante dos respondentes, alguns apontamentos
indicando a tomada da enfermagem em outra direção. Em alguns momentos, esse
redirecionamento apenas enseja uma escolha profissional, ligada ao fato de ser
ainda uma profissão com amplo campo de trabalho, como se pode ver nestas falas.
(...) e também uma forma de garantir um emprego numa profissão que ainda não
está saturada.
(...) a enfermagem também é um curso muito bom, com amplo campo de trabalho.
(...)
(...) é um curso interessante, tem muito campo de trabalho, (...)
(...) Posso garantir que não foi uma tarefa fácil escolher o curso que vai me garantir
a sobrevivência para o resto de minha vida.
(...) um curso reconhecido nacionalmente e com campo de trabalho (...)
(...) influências das pessoas que me disseram ter maior campo de trabalho (...)

Os demais respondentes refletem sobre a enfermagem e sua escolha, em função de


que gostariam de fazer um outro curso na área da saúde, principalmente medicina,
mas que em virtude da não aprovação no vestibular acabaram optando pela
enfermagem, por ser o que mais se aproximava da área da saúde. Esta questão
com certeza é bem mais complexa e não mereceria ser apenas citada, mas dados
os limites deste trabalho, acredito não ser possível discutir os determinantes da
priorização da medicina como o curso mais procurado, nem os possíveis
desdobramentos que isso possa trazer no exercício do trabalhador enfermeiro que
não entra no curso de graduação com uma predisposição para cursar a
enfermagem.
Os dados colhidos com os alunos do quarto ano do curso de enfermagem de 1999,
não se apresentaram com as mesmas características dos colhidos com os alunos do
primeiro ano. Na
realidade, o resultado apresentou-se bastante inverso. O que encontrei
predominante nas respostas daqueles alunos foi uma concepção mais elaborada da
enfermagem, uma visão da enfermagem como profissão que faz parte da área da
saúde e que desenvolve atividades de assistência, (cuidado direto?), prevenção,
orientação e administração, como podemos ver nestes fragmentos de fala.
(...) é uma profissão que muitas vezes é confundida com dom. (...)
(...) é a profissão que tem por objetivo administrar a assistência aos pacientes, fazer
educação em saúde para prevenção, e tem como objeto de estudo o cuidado ao
paciente (...)
(...) área da saúde que presta assistência ao paciente, direta ou indiretamente.
Diretamente através de cuidados, procedimentos e técnicas visando a recuperação
da saúde, fazendo educação em saúde, prevenindo doenças e indiretamente,
coordenando a equipe de enfermagem e administrando a unidade.(...)
(...) Enfermagem para mim é uma profissão como qualquer outra, mas um tanto
estigmatizada e que fica escondida, muitas vezes, atrás do médico. A enfermagem
se destina ao cuidar, prestar assistência, orientar. (...)
(...) área da equipe de saúde que está voltada aos cuidados com pacientes e
prevenção, por isso atendendo nos 3 setores da saúde (1º, 2º, 3º).(...)
(...) profissão que se dedica tanto ao cuidado direto da pessoa como a prevenção de
doenças, orientação referente a todos os aspectos que envolvem o ser humano
desde a saúde coletiva o planejamento familiar, o fator psicológico de cada
indivíduo, enfim o tratamento do ser humano como um todo. (...)
(...) profissão onde se presta assistência a cliente/paciente e além da assistência se
administra hospital/posto e outros. (...)
(...) uma profissão que assiste o paciente, tanto na prevenção quanto no tratamento
da doença
(...) profissão que presta assistência ao paciente, tanto internado quanto domiciliar.
(...) profissão que tem por objetivo a assistência ao paciente, seja ela prestada direta
ou indiretamente dentro ou fora de qualquer instituição. (...)
(...) profissão que eu gostei de conhecê-la e me adaptei as suas exigências. (...)
(...) profissão que tem como objetivo a assistência humanizada do indivíduo como
um todo, claro que dentro das limitações impostas pelo meio onde o enfermeiro se
insere. É uma profissão que deve abranger a área de prevenção, curativa, de
educação e pesquisa, voltada para a melhoria do quadro saúde-doença. (...)

Nestas falas, percebo que o aluno que está no quarto ano de enfermagem elaborou
entendimento bastante diferenciado do que está no primeiro. Em seus discursos, a
enfermagem deixa de ser remetida a uma atividade de ajuda, de dedicação, para ser
uma profissão, e como percebemos, já apontam para os limites da profissão dentro
do seu meio. Porém, nosso pressuposto era de que o aluno do quarto ano, também,
manifestasse aquela visão idealizada, uma vez que é a corrente na enfermagem.
Questionamos quais os motivos de termos encontrado tal inversão.
Numa primeira reflexão poderíamos atribuir tal transformação ao fato de que esta
turma de alunos constitui-se na primeira turma a ser formada tendo como orientação
o novo Currículo
Mínimo de enfermagem estabelecido pelo Parecer 314/94 do MEC.
Assim, arriscaria dizer, que este novo enfoque, pode estar sendo construído pela
atual disposição das disciplinas e pelo incremento de disciplinas na área de
Administração no segundo, terceiro e quarto anos como, também, as disciplinas
instrumentalizadoras da pesquisa já no terceiro ano, e continuando no quarto ano
(Projeto de Conclusão de Curso I e II). Além dessas, muitas outras alterações nas
disciplinas e no tratamento dos conteúdos foram implementadas e isso com certeza,
redireciona o trabalhador que está sendo formado.
Contudo, são apenas apontamentos e que não podem ser tomados como totalmente
seguros, uma vez que uma análise da nova grade curricular em conjunto com todas
as disciplinas ainda não foi implementada. Porém, acredito que estes dados já
apontam indícios de que diferenças se construíram. E uma das causas pode ser a
mudança do Currículo Mínimo. Por outro lado, as mudanças nas estruturas formais
do ensino estão impregnadas pelo conjunto das transformações que acontecem em
todos os espaços sociais.
Nesse sentido, pergunto-me quais alterações na sociedade estão acontecendo que
determinam uma outra percepção da enfermagem?
Penso que os limites desse trabalho e a natureza dos dados colhidos não me
permitem, nesse momento, aprofundar essa discussão, apontando a necessidade de
uma pesquisa específica para esclarecer essa indagação.
Pude perceber nítidos traços daquela concepção vocacional religiosa da
enfermagem apenas em três falas dos alunos, como se pode ver:
Estou cursando enfermagem, pois gosto de lidar com pessoas e ajudar a suprir as
necessidades básicas biopsicosociais das pessoas que precisam de ajuda e
orientação.
Para mim enfermagem é uma arte, pois cuidar do bem estar do ser humano requer
muito amor, muita dedicação e muita técnica.
(...) é uma profissão linda, quando desenvolvida com responsabilidade,
competência, amor (...).
Desta maneira, acredito poder afirmar que a maioria dos alunos do quarto ano, não
tem como pressuposto para o seu trabalho somente a questão da ajuda. Acredito
que isso seja fruto de um conjunto de determinações, podendo ser incluído ainda o
movimento de crítica da profissão que se iniciou na década de 80 e que, com
certeza, contribuiu para reflexões e mudanças na prática docente e também na
assistencial. É claro que muito ainda há por ser feito.
Gostaria de reforçar a necessidade de intensificar a atitude docente tomando a
enfermagem como uma prática complexa, exercida em uma sociedade concreta,
onde o trabalhador não é muito mais que um artigo descartável como os demais
meios e instrumentos de trabalho. Entendo que a escola por si não possa ser
responsabilizada pelas dificuldades do trabalhador no mercado de trabalho como
também pelas transformações na realidade. Porém, da mesma forma que repassar
uma visão idealizada do enfermeiro pode contribuir para aumentar sua dificuldade
de inserção no trabalho e sua luta por melhores condições no mesmo, uma nova
postura concebendo o trabalho da enfermagem com todos os seus limites e
potencialidades, pode contribuir, grandemente, para transformar as relações de
trabalho na enfermagem e na saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pretensão neste ensaio reflexivo foi apontar algumas questões que me parecem
importantes quando nos propomos a discutir a saúde do trabalhador enfermeiro e
dos demais trabalhadores da equipe. Pretendia levantar a necessidade de direcionar
o entendimento, enquanto docentes em enfermagem, para a enfermagem como um
trabalho, pois acredito que isso reconstrói a postura frente a reivindicações por
melhores condições de trabalho para a enfermagem.
Além desse aspecto específico de saúde no trabalho, acredito que, ao nos
percebermos trabalhadores (nós enfermeiros), muitos dos conflitos entre nós e a
equipe de enfermagem (técnicos, auxiliares, atendentes) são redimensionados.
Afinal passamos a coexistir em igualdade de condições. O que nos aproximaria dos
demais agentes.
Precisamos definir a que classe pertencemos. Somos da classe trabalhadora? Nos
assumimos como tal, ou somos apenas intermediários entre uma elite e os demais
trabalhadores? Acredito que esta última posição seja a dominante até o momento. Aí
podem estar residindo alguns de nossos “conflitos existenciais”. Sua superação,
passa pela compreensão do enfermeiro como um trabalhador.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[tese]. São Paulo: Escola de Enfermagem/USP; 1994.
2. Silva G. Enfermagem profissional análise crítica. 2.ed. São Paulo (SP): Cortez;
1989.
3. Almeida MCP, Rocha JSY. O saber da enfermagem e sua dimensão prática.
2.ed. Paulo (SP): Cortez; 1989.
4. Germano RM. Educação e ideologia da enfermagem no Brasil. 3. ed. São Paulo
(SP): Cortez; 1993.
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trabalho. In: Almeida MCP, Rocha SMM, organizadoras. O trabalho da
enfermagem. São Paulo (SP): Cortez; 1997. p.15-26.
6. BRASIL/MEC, 1975. Trabalho Cascavel. Disciplina: A Saúde do Trabalhador no
Contexto da Enfermagem, 1999.
7. Frigotto G. Educação, crise do trabalho assalariado e do desenvolvimento:
teorias em conflito. In: Frigotto G, organizador. Educação e crise do trabalho:
perspectivas de final de século. Petrópolis (RJ): Vozes; 1998. p. 25-54.

Revista Latino-Americana de Enfermagem


Print version ISSN 0104-1169
Rev. Latino-Am. Enfermagem vol.9 no.5 Ribeirão Preto Sept. 2001
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692001000500015

Notas e Informações
A PARTICIPAÇÃO DA ENFERMEIRA DO TRABALHO NO
PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA
Maria Cristina Ferreira Baggio1
Maria Helena Palucci Marziale2

O presente texto tem por objetivo ressaltar a importância da participação enfermeira


do trabalho no Programa de Conservação Auditiva direcionados a trabalhadores
expostos a elevados níveis de ruído através de ações baseadas no processo de
enfermagem buscando assim, ampliar os conhecimentos desta especialidade e seu
efetivo papel na equipe multiprofissional de atenção ao trabalhador.

PALAVRAS CHAVE: enfermagem, trabalho, ruído, perda auditiva, enfermagem do


trabalho

INTRODUÇÃO

A Enfermagem do Trabalho, como especialidade, vem buscando desenvolver e


aprofundar conhecimentos e ampliar seu papel junto a área de saúde do trabalhador
desenvolvendo pesquisas que visam fundamentar teoricamente sua prática
profissional, seguindo a trajetória da enfermagem na conquista de sua
profissionalização.

Na evolução da Enfermagem no Brasil, pode-se observar que foram utilizadas


diversas formas de organizar o cuidado e a assistência prestada ao cliente, dentre
as quais está o processo de enfermagem, considerado um instrumento de trabalho
básico para o enfermeiro no desempenho de suas atividades profissionais(1).

Em nossa atuação como enfermeira do trabalho, durante a realização do


levantamento de dados sobre os limiares auditivos de trabalhadores de uma usina
de açúcar e álcool da região de Ribeirão Preto-SP, expostos a níveis de ruídos
elevados, nos chamou a atenção como o planejamento de nossas ações pautadas
no processo de enfermagem poderiam ser relevantes para a execução do programa
de conservação auditiva direcionados àqueles trabalhadores. Assim, buscando
divulgar nossa experiência elaboramos o texto ora apresentado.

EXPOSIÇÃO AO RUÍDO

Algumas condições de trabalho expõem o homem a níveis elevados de pressão


sonora e, quando esta exposição é prolongada e sem efetiva proteção, poderá
ocorrer perda de audição, tornando bastante prejudicada a relação do homem com o
meio: o indivíduo se isola ou é isolado(2).

O ruído e suas conseqüências para o ser humano são um problema peculiar às


novas gerações. Embora dados históricos apontam a preocupação com seus efeitos
desde 47 a. C., nas últimas décadas, ele se transformou numa das formas de
poluição que mais atinge a humanidade, trazendo conseqüências muitas vezes
irreversíveis(3).

Devido às alterações auditivas que os trabalhadores expostos ao ruído vêm


apresentando, muitos estudos têm sido realizados a fim de avaliar os limiares
auditivos máximos de exposição, a extensão dos danos causados à audição
humana, o investimento das empresas na proteção dos trabalhadores e a
conscientização desses trabalhadores mediante o uso adequado de protetores
auriculares(4-6).

A exposição contínua ao ruído acima de 80 decibéis durante seis a oito horas


diárias, pode levar um indivíduo a uma diminuição gradual da acuidade auditiva(7).
Com vistas a prevenção de danos auditivos foram estabelecidas normas legais que
estabelecem limites de tempo de exposição a ruídos, métodos de avaliação das
perdas auditivas e a necessidade de implantação do Programa de Conservação
Auditiva (PCA).

Este programa compreende medidas que visam a redução de riscos ambientais


através de proteção coletiva, ou seja, monitorização dos níveis de pressão sonora,
modificação ou substituição de equipamentos que elevam o nível de ruído, e
proteção individual, que se destina ao fornecimento do equipamento de proteção
adequado, conscientização dos trabalhadores quanto ao seu uso e monitorização
audiométrica, para medida de controle e avaliação da efetividade do PCA.
O desenvolvimento das atividades do PCA conta com uma equipe multiprofissional,
sendo a enfermeira do trabalho um elemento fundamental, devido a sua participação
na prevenção primária, secundária e terciária, bem como a reabilitação de
funcionários portadores Perda Auditiva Induzida pelo Ruído Ocupacional (PAIRO).

RELATO DE NOSSA EXPERIÊNCIA

Atuamos em uma empresa do setor sucroalcooleiro, que desenvolve atividades de


cultivo e extração de cana-de-açúcar e produção de açúcar e álcool, que conta com
recursos humanos composto por 1200 trabalhadores lotados no setor da
agropecuária e 292 trabalhadores lotados na usina de açúcar e álcool, sendo que
destes 180 mantêm contrato de trabalho temporário e 102 são fixos.

Dentre os agentes laborais que merecem atenção dos profissionais do serviço de


medicina e segurança do trabalho da empresa está o ruído, devido aos níveis
observados superiores a 80 decibéis.

Assim, em 1995, iniciamos a realização de exames periódicos junto aos


trabalhadores fixos da usina de açúcar e álcool expostos a ruídos. Dentre os 102
trabalhadores submetidos a audiometria tonal, observamos que 69 trabalhadores, ou
seja, 62% eram portadores de PAIRO. Diante de tal diagnóstico foi estabelecido
como obrigatoriedade o uso dos protetores auriculares como Equipamento de
Proteção Individual (EPI).

Os protetores auriculares selecionados foram o do tipo "plug" para serem usados


pelos trabalhadores expostos a ruídos até 90 decibéis e do tipo "concha" para
àqueles expostos a ruído entre 91 e 110 decibéis.

Os trabalhadores foram orientados individualmente sobre a maneira correta da


colocação do protetor auricular e assistiram a uma palestra de orientação quanto a
necessidade do uso do referido Equipamento de Proteção Individual.

No início de 2001, durante inspeção aos postos de trabalho observamos que alguns
trabalhadores estavam utilizando o protetor auricular de maneira inadequada, diante
do fato realizamos uma observação sistematizada solicitando a cada um dos 102
trabalhadores fixos da usina a colocação do referido EPI. Como resultado
constatamos que 46(38%) trabalhadores, apesar de afirmarem saber usar
corretamente o protetor auricular, quando solicitados para realizar o procedimento, o
faziam de forma inadequada.

Buscando pelos resultados das audiometrias constatamos ainda que nestes


trabalhadores foram registrados os maiores índices de progressão da perda auditiva,
quando comparada a população de trabalhadores do setor.

Esta constatação levou-nos a refletir sobre o papel educativo da enfermeira do


trabalho e sobre a avaliação das ações executadas, estabelecendo, neste momento,
estreita relação com o processo de enfermagem, ou seja, a coleta de dados,
diagnóstico de enfermagem, implementação e avaliação da assistência de
enfermagem, devendo, estas fases, serem dinâmicas e inter-relacionadas.

O planejamento da assistência de enfermagem inicia-se com a determinação de um


plano de ação aos trabalhadores, envolvendo principalmente a prevenção e
promoção da saúde. O estabelecimento de novas metas deve ser centrado no
cliente, respeitando a capacidade e limitação do trabalhador e apropriadas à
realidade do trabalho.

A avaliação da assistência considera a resposta do cliente aos cuidados prestados e


as modificações ou impacto das ações implementadas sobre o cliente em relação ao
planejamento. Esta etapa determina até que ponto o plano de trabalho é
fragmentado. Por ser dinâmica, deve ser revisada continuamente, pois à medida que
mudam as condições do cliente, mudam também os dados, exigindo portanto,
constante atualização(1).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O relato ora apresentado nos remete a reflexões sobre quais os fatores que estão
potencialmente associados a não utilização do EPI de maneira adequada pelos
trabalhadores, entre os quais podem ser destacados o desconforto provocado pelo
equipamento, a qualidade e tipo do protetor auricular, a não conscientização da real
necessidade de seu uso, a falta de treinamento, a utilização de ações educativas
inadequadas e sobre a adequacidade da utilização do processo de enfermagem no
direcionamento das ações de enfermagem no Programa de Conservação Auditiva.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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pedagogia da problematização. [tese]. Ribeirão Preto (SP): Escola de
Enfermagem/USP; 2000. [ Links ]

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Links ]

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Rev Cipa 2000; 244(21):95-100. [ Links ]

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de Aracaju 2001; 254(22):46-57. [ Links ]

7. Brasil, 2001. Normas Regulamentadoras, Brasília, Jun. 2001. (online


http://www.ministériodotrabalho.org. [ Links ]
1
Enfermeira do Trabalho, Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 2 Professor Livre Docente da Escola
de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Centro
Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem, e-mail:
marziale@eerp.usp.br

Revista Latino-Americana de Enfermagem


versão impressa ISSN 0104-1169
Rev. Latino-Am. Enfermagem v.10 n.4 Ribeirão Preto jul./ago. 2002
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692002000400015

Artigo de Revisão

A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE OS ACIDENTES DE TRABALHO


COM MATERIAL PERFUROCORTANTE ENTRE TRABALHADORES
DE ENFERMAGEM
Maria Helena Palucci Marziale1
Christiane Mariani Rodrigues2
A investigação ora apresentada teve por objetivos identificar as abordagens
metodológicas das pesquisas publicadas em periódicos indexados nas bases de
dados Lilacs e Medline, nos últimos 16 anos, referentes, ao estudo dos acidentes de
trabalho com material perfurocortante e a identificação dos fatores predisponentes à
ocorrência de tais acidentes entre trabalhadores da enfermagem. Foram analisados
55 artigos, sendo 39 internacionais, e 16 nacionais. As abordagens metodológicas
mais utilizadas foram descritiva de campo, pesquisa-ação e bibliográfica. Dentre os
fatores predisponentes a ocorrência dos acidentes em vários países, destaca-se a
prática inadequada de re-encape de agulhas e o inadequado descarte do material.

DESCRITORES: acidentes de trabalho, trabalhadores, enfermagem

INTRODUÇÃO

Os trabalhadores de enfermagem, durante a assistência ao paciente, estão expostos


a inúmeros riscos ocupacionais causados por fatores químicos, físicos, mecânicos,
biológicos, ergonômicos e psicossociais, que podem ocasionar doenças
ocupacionais e acidentes de trabalho.

O contingente de trabalhadores de enfermagem, particularmente o que está inserido


no contexto hospitalar, permanece 24 horas junto ao paciente, em sua grande
maioria executa o "cuidar" dentro da perspectiva do "fazer" e, conseqüente, expõe-
se a vários riscos, podendo adquirir doenças ocupacionais e do trabalho, além de
lesões em decorrência dos acidentes de trabalho(1).

Os riscos químicos referem-se ao manuseio de gases e vapores anestésicos,


antissépticos e esterelizantes, drogas citostáticas, entre outros. A exposição aos
riscos químicos está relacionada com a área de atuação do trabalhador, com o tipo
de produto químico e tempo de contato, além da concentração do produto. Isso pode
ocasionar sensibilização alérgica, aumento da atividade mutagênica e até
esterilidade(2).
Os riscos do ambiente de trabalho são classificados em real (de responsabilidade do
empregador), suposto (quando se supõe que o trabalhador conhece as causas que
o favorecem) e residual (de responsabilidade do trabalhador).

Os riscos físicos referem-se à temperatura ambiental (elevada nas áreas de


esterelização e baixa em centro cirúrgico), radiação ionizante, ruídos e iluminação
em níveis inadequados e exposição do trabalhador a incêndios e choques
elétricos(3).

Dentre os riscos psicossociais, está a sobrecarga advinda do contato com o


sofrimento de pacientes, com a dor e a morte, o trabalho noturno, rodízios de turno,
ritmo de trabalho, realização de tarefas múltiplas, fragmentadas e repetitivas, o que
pode levar à depressão, insônia, suicídio, tabagismo, consumo de álcool e drogas e
fadiga mental(4).

Dentre os riscos mecânicos, estão as lesões causadas pela manipulação de objetos


cortantes e penetrantes e as quedas(5).

O freqüente levantamento de peso para movimentação e transporte de pacientes e


equipamentos, a postura inadequada e flexões de coluna vertebral em atividades de
organização e assistência podem causar problemas à saúde do trabalhador, tais
como fraturas, lombalgias e varizes. Tais fatores causais estão relacionados a
agentes ergonômicos(3,5). Os fatores ergonômicos são aqueles que incidem na
adaptação entre o trabalho-trabalhador. São eles o desenho dos equipamentos, do
posto de trabalho, a maneira como a atividade laboral é executada, a comunicação e
o meio ambiente.

Quanto aos riscos biológicos, eles se referem ao contato do trabalhador com


microorganismos (principalmente vírus e bactérias) ou material infectocontagiante,
os quais podem causar doenças como: tuberculose, hepatite, rubéola, herpes,
escabiose e AIDS(2).

O contato com microorganismos patológicos oriundo de acidentes ocasionados pela


manipulação de material perfurocortante, ocorre, com grande freqüência, na
execução do trabalho de enfermagem. A exposição ocupacional por material
biológico é entendida(6) como a possibilidade de contato com sangue e fluidos
orgânicos no ambiente de trabalho, e as formas de exposição incluem inoculação
percutânea, por intermédio de agulhas ou objetos cortantes, e o contato direto com
pele e/ou mucosas.

O maior risco para os trabalhadores da área da saúde é o acidente com material


perfurocortante, que expõe os profissionais a microorganismos patogênicos, sendo a
hepatite B a doença de maior incidência entre esses trabalhadores(7).

Com o surgimento da AIDS, maior ênfase passou a ser dada à exposição desses
trabalhadores ao sangue. A prevenção ocupacional do HIV tornou-se um grande
desafio aos profissionais de Controle de Infecção Hospitalar e Saúde Ocupacional,
depois de uma enfermeira ter desenvolvido AIDS, em conseqüência de picada
acidental com uma agulha que continha sangue de um paciente infectado pelo HIV,
internado em um hospital da Inglaterra(8). O Centers for Disease Control CDC,
preocupado com a questão da transmissão de HIV e outros patógenos veiculados
pelo sangue, organiza um sistema informatizado de coleta de informações (EPINet),
a partir do qual propõe estratégias para minimizar o problema dos profissionais
expostos ao risco ocupacional de contaminação(9).

Segundo dados do CDC, a estimativa anual de acidentes percutâneos com


trabalhadores da saúde nos hospitais é de 384.325 casos, e o risco de
contaminação com o vírus HIV (AIDS) é de 0,3%, vírus HBV (Hepatite B) é de 6% a
30%, e o risco de contaminação é de 0,5% a 2% para o HCV (Hepatite C)(9).

Segundo a referida instituição, as conseqüências da exposição ocupacional aos


patógenos veiculados pelo sangue não são só os referentes às infecções, mas
também os relativos ao trauma psicológico ocasionado pela espera do resultado de
uma possível soroconversão e mudanças nas práticas sexuais, no relacionamento
social e familiar, efeito das drogas profiláticas, entre outros.

Em estudo realizado no Brasil, com trabalhadores da saúde, visando à identificação


do risco ocupacional de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana(10), foi
constatado que 88,8% dos acidentes de trabalho notificados acometeram o pessoal
da enfermagem.
Dentre os fatores predisponentes a ocorrência de acidentes de trabalho dessa
natureza, está a freqüente manipulação de agulhas pelos trabalhadores de
enfermagem(11).

A Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, por meio do programa de


DST/AIDS(12) recomenda que os acidentes que envolvam exposição à material
biológico sejam analisados quanto ao material biológico envolvido, ao tipo de
acidente e à situação sorológica do paciente fonte em relação ao HIV. Se for
indicado quimioprofilaxia, ela deverá ser iniciada nas primeiras 2 horas após o
acidente, tendo duração de 4 semanas ou até que se tenha o resultado da sorologia
do paciente fonte.

Embora considerável progresso tenha sido observado sobre o entendimento do risco


ocupacional e HIV(13), os trabalhadores da saúde e, principalmente, os da
enfermagem têm se mostrado resistentes à utilização de equipamentos de proteção
individual, à subestimação do risco de se infectar e à notificação do acidente de
trabalho.

O acidente de trabalho em nosso país deve ser comunicado imediatamente após


sua ocorrência, por meio da emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho
(CAT), que deve ser encaminhada à Previdência Social, ao acidentado, ao sindicato
da categoria correspondente, ao hospital, ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao
Ministério do Trabalho(14).

Apesar de, legalmente, ser obrigatória a emissão da CAT, observa-se, na prática, a


subnotificação dos acidentes de trabalho. O sistema de informação utilizado
apresenta falhas devido à concepção fragmentada das relações de saúde e
trabalho, marcada por uma divisão e alienação das tarefas dos profissionais
responsáveis pelo registro da CAT, os quais privilegiam o cumprimento de normas
burocráticas, mas não o envolvimento profissional com a questão acidentária(15).

As causas da subnotificação de acidentes de trabalho(16), na visão de trabalhadores


de enfermagem de uma cidade do interior paulista, foram atribuídas à falta de
importância dada às pequenas lesões, tal como picada de agulha, e o
desconhecimento sobre a importância da emissão da CAT.
Diante da freqüente ocorrência de acidentes do trabalho ocasionados por material
perfurocortante, observada em nossa atuação profissional, e por acreditarmos que o
trabalhador de enfermagem deva se preocupar com a implementação de práticas
que lhe ofereçam condições seguras para o desempenho de suas atividades
laborais, propusemos-nos realizar a pesquisa ora apresentada cujos resultados
contribuirão para divulgação do conhecimento produzido sobre a referida temática.

OBJETIVOS

- Identificar as abordagens metodológicas dos estudos que se relacionam com a


questão dos acidentes do trabalho com material perfurocortante;

- Levantar os fatores predisponentes aos acidentes do trabalho, ocasionados por


material perfurocortante, na equipe de enfermagem, descritos na literatura.

MATERIAL E MÉTODO

Foi realizado um levantamento bibliográfico retrospectivo, dos últimos 16 anos


(2000-1985), por meio dos bancos de dados Lilacs (Literatura Latino Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde), Medline (National Library of Medicine), utilizando os
unitermos "accidents occupational", "needlestick injuries", "nursing staff", "sharps",
"percutaneous injuries", acidentes do trabalho, perfurocortante, trabalho de
enfermagem, risco ocupacional, metodologia de pesquisa.

Os artigos foram catalogados e analisados buscando-se uma síntese dos fatores


predisponentes aos acidentes do trabalho com material perfurocortante e as
abordagens metodológicas utilizadas.

Foi utilizado, para coleta de dados, um protocolo contendo informações sobre o


periódico, tipo de metodologia usada (descritiva de campo, descritiva bibliográfica,
pesquisa ação, exploratória, experimental, reflexão teórica e relato de experiência) e
os fatores predisponentes à ocorrência dos acidentes. O referido instrumento foi
submetido à apreciação de três enfermeiros pesquisadores, quanto à clareza,
objetividade e conteúdo, sendo considerado adequado para o objeto estudado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisados 55 artigos, sendo 39 internacionais e 16 nacionais. As pesquisas
analisadas foram publicadas nos seguintes periódicos internacionais: "Pediatric
Nursing", "Infection Control", "AAOHN Journal", "Arch Surgery", "American Journal of
Preventive Medicine", "Rev. Investigação Clinica", "AJIC", "American Journal of
Public Health", "AORN Journal", "AIDS Care" e "The New England Journal of
Medicine" e periódicos nacionais: Rev. Escola Enfermagem USP, Rev. Brasileira
Enfermagem, Rev. Enfermagem UERJ, Rev. Brasileira de Saúde Ocupacional, Rev.
Saúde Pública.

Através da Tabela 1, pode-se observar o número de publicações nacionais e


internacionais, segundo o ano de publicação.

O aumento no número de publicações, no início da década de 90, pode estar


relacionado às descobertas da transmissão dos vírus HIV e HBV, no contato com
sangue, via acidente perfurocortante.

Em três dos artigos (5,50%), foi utilizada a análise qualitativa dos dados, cujo
objetivo era compreender as causas dos acidentes perfurocortantes. Nos outros 52
(94,50%), foi utilizada a análise quantitativa para tratamento dos dados.

Os dados relativos às abordagens metodológicas utilizadas nas pesquisas


analisadas são apresentados na Tabela 2.
Foi observado que as metodologias mais freqüentemente empregadas nas
pesquisas foram a descritiva de campo (40,00%), descritiva bibliográfica (14,50%),
pesquisa-ação (16,40%), exploratória (14,50%).

A pesquisa descritiva baseia-se na descrição de fenômenos relativos à profissão,


baseados em observação, descrição e classificação dos fenômenos observados. É
uma modalidade de pesquisa muito utilizada na enfermagem. Ela se subdivide em
pesquisa de campo, que busca a descrição dos fenômenos em cenários naturais,
examinando profundamente as práticas, comportamentos e atitudes das pessoas ou
grupos em ação na vida real; e pesquisa bibliográfica, que é uma modalidade da
pesquisa descritiva, sendo feita leitura, seleção e registro de tópicos de interesse
para pesquisa(17).

Pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social, com base empírica, que é concebida e


realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um
problema coletivo, sendo que os pesquisadores e os participantes representativos
da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou
participativo(17).

A pesquisa exploratória inicia-se por algum fenômeno de interesse e, além de


observar e registrar a incidência do fenômeno, busca explorar as dimensões deste, a
maneira pela qual ele se manifesta e os outros fatores com os quais ele se
relaciona(17).
Na pesquisa experimental, o pesquisador manipula a variável independente. Ele
possui o controle sobre a variável independente, ou, conscientemente, manipula
essa variável, observando, posteriormente, seu efeito sobre a variável dependente
que lhe interessa(17).

Relato de experiência consiste em analisar e compreender variáveis importantes ao


desenvolvimento do cuidado dispensado ao indivíduo ou a seus problemas, sendo o
pesquisador um observador passivo ou ativo, e relatar, de forma clara e objetiva,
suas observações(17).

Em relação aos fatores predisponentes à ocorrência de acidente de trabalho com


material perfurocortante, foi constatada por meio das pesquisas analisadas, que a
categoria profissional mais acometida por esse tipo de infortúnio é a dos auxiliares
de enfermagem, que são profissionais que estão em contato direto com o paciente,
na maior parte do tempo, administrando medicamentos, realizando curativos e
outros procedimentos que os mantêm em constante contato com material perfurante
e cortante.

Pode-se abstrair, da análise dos resultados deste estudo, quanto à ocorrência de


acidentes de trabalho e os dados apresentados em outros estudos(7,11,18-19), que a
ocorrência desse tipo de acidentes não está relacionada apenas ao nível de
formação, mas também ao treinamento, capacitação, recursos materiais disponíveis
e cultura local.

A análise dos artigos permitiu a identificação de que o principal fator associado a


ocorrência do acidente percutâneo é o reencape de agulhas, o qual infringe as
precauções-padrão, antigamente denominadas universais, e que os auxiliares e
técnicos de enfermagem são os que mais comumente realizam esse procedimento
inadequado.

As informações descritas nas pesquisas apontam que os enfermeiros atribuem,


como causas dos acidentes, a sobrecarga de trabalho e negligência médica, e os
atendentes de enfermagem os relacionam à fatalidade.

Em relação aos fatores predisponentes aos acidentes com material perfurocortante,


por meio da Figura 1, são apresentados os fatores mais incidentes.
A orientação para somente reencapar as agulhas usando-se um anteparo ou pinça,
conforme consta das precauções padrão, não tem demonstrado ser eficaz na
prevenção de acidentes, e o seu uso pode reduzir, mas não eliminar, o risco de
exposição ocupacional(19). A disponibilidade das caixas coletoras, utilizadas para
descarte de material, pode ser considerada inadequada, na maioria dos casos.
Recomenda-se que deve haver caixas para descarte disponíveis para pronta
substituição e que deve ser evitado o seu enchimento excessivo, sendo que a tarefa
de substituição deve ser realizada por funcionários treinados dos serviços gerais, e
não pelo pessoal da enfermagem.

Os fatores predisponentes à ocorrência de acidentes com material perfurocortante


identificados por meio das pesquisas estão apresentados na Tabela 3.
Por meio dos dados descritos na Tabela 3 pode-se perceber que uma série de
fatores podem estar associados à ocorrência de acidentes de trabalho, dentre os
quais existe relação com a peculiaridade das atividades laborais da enfermagem, da
manipulação de materiais de design que não oferecem segurança, da forma de
organização do trabalho, do comportamento dos próprios profissionais e das
condições de trabalho oferecidas.

Os dados da literatura analisada indicam que a falta de sensibilização e


conscientização, a inadequada supervisão contínua e sistemática da prática, a não
percepção individual sobre o risco e a falta de educação continuada são fatores
associados à ocorrência de acidentes de trabalho com material perfurocortante.
CONCLUSÕES

Os resultados obtidos através desta pesquisa permitem as seguintes conclusões:

Durante o período de 1985 a 2000, foram encontrados 55 artigos indexados cuja


temática abordava a questão dos acidentes de trabalho com material
perfurocortante. Na grande maioria das pesquisas, foi utilizada a análise quantitativa
dos dados, e as abordagens metodológicas para estudar o objeto foram variadas,
havendo predominância do tipo de pesquisa descritiva (54,50%). Alguns autores
(16,40%) utilizaram a pesquisa-ação, (14,50%) a pesquisa exploratória, (9,10%)
pesquisa experimental, (1,80%) o relato de experiência e (1,80%) a reflexão teórica.

Em relação aos fatores predisponentes, pode-se concluir que o reencape de


agulhas, a inadequação dos dispositivos utilizados para descarte e o manuseio de
agulhas foram os principais fatores identificados nas pesquisas analisadas. Uma
série de outros fatores, no entanto, são atribuídos pelos autores como
predisponentes à ocorrência de acidentes de trabalho dessa natureza tais como:
situações de urgência, a falta de capacitação dos profissionais, sobrecarga de
trabalho, fadiga, transporte de material perfurocortante, má qualidade dos materiais,
desconhecimento dos profissionais sobre os riscos de infecção e desconsideração
das precauções padrão recomendadas, desatenção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se que o interesse em relação aos acidentes do trabalho com material


perfurocortante vem aumentando, principalmente após a década de 90, devido aos
danos causados à saúde dos trabalhadores e às instituições e o aumento no número
de casos de AIDS.

Sabe-se que os maiores riscos dos acidentes perfurocortantes não são as lesões,
mas os agentes biológicos veiculados pelo sangue e secreções corporais,
principalmente o HIV e HBV, que estão presentes nos objetos causadores.

No Brasil, a escassez de dados sistematizados sobre esses acidentes não nos


permite conhecer a magnitude global do problema, dificultando, assim, a avaliação
das medidas preventivas utilizadas atualmente.
A análise dos resultados sugere que todas as categorias de profissionais de
enfermagem estão sujeitas a acidentes com material perfurocortante, o que faz
necessária a realização de estudos aprofundados que detectem as causas mais
comuns e as conseqüências para os profissionais, para possibilitar a elaboração de
programas de educação, treinamento dos profissionais, supervisão contínua e
sistemática e modificações nas rotinas de trabalho, tornando um hábito a prática das
precauções de segurança.

Além da utilização das precauções padrão como medida preventiva, encontram-se


disponíveis, no mercado, dispositivos considerados seguros, como os sistemas sem
agulhas, os de agulhas retráteis e os sistemas protetores de agulhas.

Apesar de a literatura americana demonstrar o impacto positivo desses dispositivos


na redução do número de acidentes perfurocortantes, a maioria das instituições de
saúde no Brasil não tem perspectivas de implantá-los a curto prazo, devido a seu
elevado custo.

É importante que se elabore e implemente um programa de educação continuada


que aborde a questão dos acidentes e exposição a material biológico, esclarecendo
os trabalhadores de enfermagem sobre a importância da notificação, busca de
atendimento médico nas 2 horas que seguem o acidente, sensibilizá-los sobre a
eficácia da vacina para prevenção da hepatite B, esclarecer sobre a utilização de
EPI e precauções padrão.

O sucesso de qualquer programa educativo está diretamente ligado à participação e


reconhecimento por parte dos trabalhadores e apoio da instituição.

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O ACOLHIMENTO E OS PROCESSOS DE TRABALHO


EM SAÚDE: o Caso de Betim, Minas Gerais, Brasil

1 Departamento de Medicina Preventiva e Social, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade


Estadual de Campinas. Cidade Universitária Zeferino Vaz, Campinas, SP
13083-970 Brasil.
* Falecido
Túlio Batista Franco 1
Wanderlei Silva Bueno* 1
Emerson Elias Merhy 1

RESUMO
Este trabalho relata experiência de inversão do modelo tecno-assistencial para a saúde, tendo como
base a diretriz operacional do acolhimento. O acolhimento propõe que o serviço de saúde seja
organizado, de forma usuário-centrada, partindo dos seguintes princípios: 1) atender a todas as
pessoas que procuram os serviços de saúde, garantindo a acessibilidade universal; 2) reorganizar o
processo de trabalho, a fim de que este desloque seu eixo central do médico para uma equipe
multiprofissional – equipe de acolhimento –, que se encarrega da escuta do usuário, comprometendo-
se a resolver seu problema de saúde; e 3) qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve dar-se
por parâmetros humanitários, de solidariedade e cidadania. Por meio da investigação realizada, foi
possível observar um aumento significativo do rendimento profissional, dos servidores não-médicos,
que passaram a atuar na assistência; esse elevado rendimento profissional determinou, por
conseqüência, maior oferta e aumento extraordinário da acessibilidade aos serviços de saúde.

Palavras-chave: Avaliação de Programas; Assistência Médica; Assistência Ambulatorial; Serviços de


Saúde Comunitários

Introdução

À medida que nos aproximamos dos momentos de relações dos usuários com os
serviços de saúde e com os seus trabalhadores, para verificarmos o seu
funcionamento, vamo-nos surpreendendo com a descoberta de que, sempre que
houver um processo relacional de um usuário com um trabalhador, haverá uma
dimensão individual do trabalho em saúde, realizado por qualquer trabalhador, que
comporta um conjunto de ações clínicas. Ações clínicas aí significam o encontro
entre necessidades e processos de intervenção tecnologicamente orientados, os
quais visam operar sobre o campo das necessidades que se fazem presente nesse
encontro, na busca de fins implicados com a manutenção e/ou recuperação de um
certo modo de viver a vida.

Esses encontros, que se dão entre dois indivíduos, são produzidos em um espaço
intercessor (Merhy, 1997a) no qual uma dimensão tecnológica do trabalho em
saúde, clinicamente evidente, sustenta-se: a da tecnologia das relações, território
próprio das tecnologias leves (Merhy, 1997b).

Olhando esses momentos – pelo lado do trabalho tanto do médico, quanto do de um


porteiro de um serviço de saúde – são-nos reveladas questões-chave sobre os
processos de produção em saúde, nos quais o acolhimento adquire uma expressão
significativa. Isto é, em todo lugar em que ocorre um encontro – enquanto trabalho
de saúde – entre um trabalhador e um usuário, operam-se processos tecnológicos
(trabalho vivo em ato) que visam à produção de relações de escutas e
responsabilizações, as quais se articulam com a constituição dos vínculos e dos
compromissos em projetos de intervenção. Estes, por sua vez, objetivam atuar sobre
necessidades em busca da produção de algo que possa representar a conquista de
controle do sofrimento (enquanto doença) e/ou a produção da saúde.

Esses processos intercessores – como o acolhimento – são atributos de uma prática


clínica realizada por qualquer trabalhador em saúde, e focá-los analiticamente é criar
a possibilidade de pensar a micropolítica do processo de trabalho e suas
implicações no desenho de determinados modelos de atenção, ao permitir pensar
sobre os processos institucionais por onde circula o trabalho vivo em saúde,
expondo o seu modo privado de agir à um debate público no interior do coletivo dos
trabalhadores, com base em uma ótica usuário-centrada.

No entanto, o tema do acolhimento apresenta-nos um outra possibilidade: a de


argüir sobre o processo de produção da relação usuário-serviço sob o olhar
específico da acessibilidade, no momento das ações receptoras dos clientes de um
certo estabelecimento de saúde.

Olhando assim, como uma etapa deste processo de produção, o acolhimento


funciona como um dispositivo a provocar ruídos sobre os momentos nos quais o
serviço constitui seus mecanismos de recepção aos usuários, enquanto certas
modalidades de trabalho em saúde que se centram na produção de um mútuo
reconhecimento de direitos e responsabilidades, institucionalizados pelos serviços
de acordo com determinados modelos de atenção à saúde.

Como etapa do conjunto do processo de trabalho que o serviço desencadeia na sua


relação com o usuário, o acolhimento pode, analiticamente, evidenciar as dinâmicas
e os critérios de acessibilidades a que os usuários (portadores das necessidades
centrais e finais de um serviço) estão submetidos, nas suas relações com o que os
modelos de atenção constituem como verdadeiros campos de necessidades de
saúde, para si.
Os encontros e desencontros nessa etapa podem, ao gerar ruídos e estranhamentos
para um olhar analisador (em produção no interior da equipe de trabalhadores),
revelar uma dinâmica instituidora que se abre a novas linhas de possibilidades, no
desenho do modo de se trabalhar em saúde, permitindo a introdução de
modificações no cotidiano do serviço em torno de um processo usuário-centrado,
mais comprometido com a defesa da vida individual e coletiva.

Em síntese, o que propomos é pôr em prática o acolhimento como um dispositivo


que interroga processos intercessores que constroem relações clínicas das práticas
de saúde e que permite escutar ruídos do modo como o trabalho vivo é capturado,
conforme certos modelos de assistência, em todo lugar em que há relações clínicas
em saúde. Além disso, deve também expor a rede de petição e compromisso que há
entre etapas de certas linhas de produção constituídas em certos estabelecimentos
de saúde, interrogando centralmente as relações de acessibilidade.

Qual a vantagem de atuar sobre esses ruídos e processos?

Na medida em que, nas práticas de saúde, individual e coletiva, o que buscamos é a


produção da responsabilização clínica e sanitária e da intervenção resolutiva, tendo
em vista as pessoas, como caminho para defender a vida, reconhecemos que, sem
acolher e vincular, não há produção desta responsabilização e nem otimização
tecnológica das resolutividades que efetivamente impactam os processos sociais de
produção da saúde e da doença.

Tendo como base essas premissas, vejamos adiante, com a descrição de um


processo iniciado junto a uma rede de serviços de saúde, no âmbito municipal, as
possibilidades de introduzir esses percursos, na busca de impactar os mecanismos
de acesso e de explorar as possibilidades de novos desenhos micropolíticos no
modo cotidiano de realização de certos modelos de atenção à saúde.

O caso de Betim: relato de uma experiência

Em Betim, vivia-se, no ano de 1996, intensa mobilização na rede básica assistencial


para a implantação do acolhimento, diretriz do modelo tecno-assistencial, orientado
nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). O acolhimento propõe,
principalmente, reorganizar o serviço, no sentido da garantia do acesso universal,
resolubilidade e atendimento humanizado. Oferecer sempre uma resposta positiva
ao problema de saúde apresentado pelo usuário é a tradução da idéia básica do
acolhimento, que se construiu como diretriz operacional.

Pelo lugar estratégico ocupado por essa proposta, achamos que o acolhimento
deveria ser estudado, para se verificar a sua eficácia e assim oferecer subsídios à
sua consolidação nas Unidades de Saúde, procurando, ao mesmo tempo, viabilizar
seu aperfeiçoamento, enquanto tecnologia de organização de serviços de saúde.

Este estudo é devedor de uma investigação realizada pela Rede de Investigação em


Sistemas e Serviços de Saúde no Cone Sul. Pretende-se, a partir desta
investigação, manter interlocução com as entidades formadoras de recursos
humanos e os diversos serviços de saúde, como exercício por excelência da práxis
como método de construção de novas propostas, substantivas o suficiente para dar
respostas à altura dos desafios na organização de sistemas e serviços de saúde.

Para este estudo, foi eleita a Unidade Básica de Saúde (UBS) Rosa Capuche,
situada no bairro Jardim Petrópolis, com população de 10.256 pessoas na sua área
de abrangência, para o ano de 1996, de acordo com o IBGE.

O ACOLHIMENTO E OS PROCESSOS DE TRABALHO EM SAÚDE

Antes do acolhimento

No ano de 1995 (considerando-se de março de 1995 a fevereiro de 1996 – antes da


implantação do acolhimento), a Unidade fez 1.342 atendimentos em média por mês,
com 1.456 horas trabalhadas, entre todos os profissionais da assistência. O
processo de trabalho era o tradicionalmente conhecido, centrado na figura e no
saber do médico para o atendimento aos usuários. Em vista da baixa oferta de
consultas médicas, para o acesso às mesmas utilizava-se o velho sistema de fichas.
Esta era a única forma de administrar o serviço oferecido em vista da demanda da
população. Os que procuravam consulta e não conseguiam ficha sequer entravam
na Unidade de Saúde, “era do portão pra casa” ou para a peregrinação em outros
serviços.

Em meados de 1995, contando com a assessoria do Laboratório de Planejamento e


Administração de Sistemas de Saúde – Lapa/Unicamp, o grupo dirigente da
Secretaria de Saúde de Betim (incluindo aí o corpo gerencial) discutiu a proposta de
inversão do modelo tecno-assistencial, baseado nas diretrizes do acesso,
acolhimento, vínculo e resolubilidade. Foi a partir daí que a Secretaria Municipal de
Saúde tomou a decisão de implantar o acolhimento em toda a rede de serviços.

Em que consiste o acolhimento enquanto diretriz operacional

O acolhimento propõe inverter a lógica de organização e funcionamento do serviço


de saúde, partindo dos seguintes princípios:

1) Atender a todas as pessoas que procuram os serviços de saúde, garantindo a


acessibilidade universal. Assim, o serviço de saúde assume sua função precípua, a
de acolher, escutar e dar uma resposta positiva, capaz de resolver os problemas de
saúde da população.

2) Reorganizar o processo de trabalho, a fim de que este desloque seu eixo central
do médico para uma equipe multiprofissional – equipe de acolhimento –, que se
encarrega da escuta do usuário, comprometendo-se a resolver seu problema de
saúde.

3) Qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve dar-se por parâmetros


humanitários, de solidariedade e cidadania.

Implantação do acolhimento

O ponto de partida para a implantação do acolhimento foi a decisão do grupo


dirigente da Sesa, tomada através dos órgãos colegiados de direção, quais sejam, o
Grupo de Direção Estratégica – GDE (que reunia a Secretária de Saúde e os
gerentes dos projetos estratégicos) e o Colegiado Gestor (formado pelo GDE e
todos os gerentes de Unidades de Saúde). Essa decisão partia de alguns
pressupostos básicos, como:

1) A maioria das pessoas que necessitavam de atendimento em saúde estavam


excluídas dos serviços, daí a grande desconfiança e, até mesmo, opinião negativa
que os usuários têm dos serviços de saúde.
2) As pessoas que procuravam a Unidade de Saúde faziam-no, majoritariamente,
em busca

da consulta médica, estrangulando completamente este serviço. Por outro lado, um


grande número dessas mesmas pessoas não necessitava da consulta, mesmo que
essa fosse sua demanda individual.

3) O trabalho na Unidade de Saúde era centrado na pessoa e no saber médico,


ficando os outros profissionais subestimados no processo de trabalho, tendo o seu
potencial para a assistência enormemente oprimido, reduzindo a oferta de serviços.

4) A relação trabalhador-usuário sofria de crônica degeneração, causada pela


alienação dos trabalhadores do seu processo de trabalho, ou seja, este se realizava
compartimentado, com os procedimentos sem a necessária integração
multidisciplinar. O objeto de trabalho ‘problema de saúde’ recebia, dessa forma, um
tratamento sumário e burocrático, numa relação impessoal com o usuário. O mais
comum mesmo era a sua exclusão. No entanto, os trabalhadores, embora
conscientes dos problemas, sentiam-se impotentes para mudar aquela situação
existente, lamentada por eles próprios. O contexto sugeria, então, aparente
contradição de interesses entre trabalhadores e usuários dos serviços de saúde.

A partir da decisão de implantar o acolhimento, e sob a permanente coordenação da


gerente da UBS, definiu-se pela organização de uma equipe de acolhimento,
composta pelos profissionais de nível superior, por uma técnica e auxiliares de
enfermagem, para oferecer a escuta dos usuários. Os médicos ficaram na
retaguarda, ou seja, atendendo nos consultórios os usuários encaminhados pela
equipe de acolhimento. Eliminaram-se a ficha e a fila de madrugada, abrindo-se as
portas da Unidade de Saúde, com atendimento a todos os usuários que a
procurassem. Organizou-se a sala de espera, substituindo a recepção.

O Conselho Local de Saúde teve um papel importante para a implantação do


acolhimento. Isso se deu, principalmente, no período da semana anterior à data
prevista, quando o Conselho procurou avisar à comunidade o novo funcionamento
da Unidade de Saúde.
O processo de trabalho no acolhimento O acolhimento modifica radicalmente o
processo de trabalho. O impacto da reorganização do trabalho na Unidade se dá
principalmente sobre os profissionais não-médicos que fazem a assistência. No caso
da UBS Rosa Capuche, consideram-se a enfermeira, a assistente social, a técnica e
a auxiliar de enfermagem. Na atual situação, a equipe de acolhimento passa a ser o
centro da atividade no atendimento aos usuários. Os profissionais não-médicos
passam a usar todo seu arsenal tecnológico, o conhecimento para a assistência, na
escuta e solução de problemas de saúde trazidos pela população usuária dos
serviços da Unidade.

A enfermeira, além de acolher, garante a retaguarda do atendimento realizado pelas


auxiliares de enfermagem. Contribuem nesse processo os protocolos, que orientam
sobre os procedimentos a serem adotados pela equipe de acolhimento. Na UBS
Rosa Capuche, por exemplo, os protocolos orientam o enfermeiro na prescrição de
vários exames e medicamentos, o que aumenta em grande medida a resolubilidade
deste profissional na assistência, favorecendo enormemente o fluxo dos usuários.

No modelo anterior, por a assistência estar centrada no médico, o enfermeiro não


realizava todo o seu potencial técnico, reduzindo sua capacidade de intervenção.
Em estudo comparando este novo modelo com o do período anterior ao
acolhimento, os dados de rendimento mostram que seu rendimento agora é
aumentado em 600%.

Esse novo papel da enfermagem na Unidade de Saúde, com acolhimento, não se


deu sem tensões. Subjacente a este processo está a disputa pela supremacia do
saber e do poder no serviço de saúde, até então, monopólio médico. Como parte
desse polêmico processo, registram-se pressões da Câmara de Vereadores contra o
atendimento realizado pela enfermeira.

Foi importante também um concorrido debate sobre o acolhimento, promovido pelo


Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, que contou com o relato de diferentes
experiências de sua implantação.

É importante registrar que, além de utilizar todo seu arsenal técnico, a enfermeira,
com a reorganização do processo de trabalho, vê-se dotada de maior autonomia na
função que exerce. Essa autonomia deve ser entendida dialeticamente como a
condição que o profissional tem de decidir sobre seu trabalho, como o exercício
pleno do ‘saber-fazer’ no momento do procedimento assistencial.

Em relação à auxiliar de enfermagem, seu trabalho anterior à implantação do


acolhimento resumia-se às atividades próprias da sua função (curativo, injeção,
vacina, distribuição de medicamentos) e ao apoio aos médicos. Hoje, a relação da
auxiliar com os médicos é do acolhimento para a retaguarda, após realizar a escuta
do problema de saúde do usuário; ou seja, é uma relação circunscrita ao exercício
multiprofissional.

A assistente social participa do acolhimento e coordena os grupos programáticos.


Os programas, considerados atividade fundamental para garantir a integralidade da
assistência, são fatores importantes na garantia do sucesso do acolhimento. Isto
porque resolvem grande parte da demanda, com ações dirigidas para grupos
prioritários de atenção à saúde.

No caso dos médicos, nota-se que seu processo de trabalho não foi modificado
tanto quanto seria necessário para causar impacto na assistência, a partir da sua
atividade específica. O trabalho destes profissionais foi organizado de tal forma que
eles ficaram, às vezes, na retaguarda (consultas aos usuários encaminhados pela
equipe de acolhimento) e, outras vezes, na equipe de acolhimento. Houve inclusive
redução do agendamento, porém sem grande sucesso na sua inserção no novo
modelo. O trabalho médico permanecia incólume à velha lógica da consulta/agenda,
determinante neste processo. Voltaremos a esse tema mais à frente.

Os números do acolhimento

A seguir, relacionamos o resultado da aplicação de diversos indicadores que dizem


respeito a medidas de avaliação da Unidade de Saúde e do acolhimento.

a) Acessibilidade aos serviços da Unidade de Saúde.

Os dados comparados de acessibilidade aos serviços demonstram o aumento


extraordinário do atendimento geral da Unidade, com a implantação do acolhimento
e a reorganização do processo de trabalho (Tabela 1). O rendimento será detalhado
a seguir, com indicador específico.
b) Rendimento profissional.

Constata-se, pelos dados de produção/horas trabalhadas, o aumento extraordinário


do rendimento da enfermeira e da assistente social (Figura 1), confirmando a tese de
que estas profissionais, com a reorganização do processo de trabalho, utilizam todo
o seu potencial para a assistência. Este rendimento, associado ao das auxiliares de
enfermagem, garante impacto extraordinário no acesso aos usuários.

c) Indicador de resolubilidade da equipe de acolhimento.

Como resolubilidade, neste caso, considera-se a solução encontrada pela equipe de


acolhimento para as queixas, sem outro tipo de encaminhamento. Como equipe de
acolhimento, considera-se a equipe multiprofissional, organizada na Unidade, para
fazer a escuta dos problemas de saúde trazidos pelos usuários.

Na UBS Rosa Capuche, essa equipe foi organizada contando com a enfermeira, a
assistente social e as auxiliares de enfermagem.

Corroboram para a resolubilidade da equipe de acolhimento (Figura 2) fatores que


atuam juntos e simultaneamente, quais sejam:

1) Discussões permanentes entre a equipe da Unidade de Saúde, para avaliar e


reprocessar o acolhimento.

2) Capacitação da equipe, adquirida com a própria experiência no atendimento. A


experiência adquirida proporciona segurança para decidir, para efetivamente ‘fazer’
com base em determinado ‘saber’, adquirido na vivência da assistência ao usuário.

3) Utilização de protocolos, elaborados pela equipe técnica da UBS, os quais


indicam a conduta a ser adotada diante dos problemas de saúde que mais se
apresentam no acolhimento.

4) Interação da equipe, com enfermeiras e médicos fazendo a retaguarda do


acolhimento e a capacitação em serviço. A indicação de determinada conduta
pressupõe uma decisão do profissional, o que, no modelo tradicional, apresenta-se
como um ato isolado, solitário.
5) Funcionamento dos grupos programáticos, que haviam deixado de funcionar no
início da implantação do acolhimento, em razão da prioridade dada ao trabalho
exclusivamente assistencial naquele momento específico.

Tabela 1

Média mensal de atendimentos realizados pelos servidores da Unidade Básica de


Saúde Rosa Capuche, nos anos de 1995 e 1996. Média mensal de horas
trabalhadas e rendimento dos servidores.

1 - Período
2 - Média de atendimentos por mês
3 - Horas trabalhadas
1 - Março/95 a fevereiro/96
2 - 1.342
3 - 1.456/mês
1 - Março/96 a fevereiro/97
2 - 4.455
3 - 1.665,7/mês
Acréscimo (+ 332%) (+ 14,4%)
Fonte: Franco, 1997.

Figura 1
Rendimento dos profissionais de nível superior, da Unidade Básica de Saúde Rosa
Capuche, por período de um ano, antes e após o Acolhimento.
0 rendimento 95
0,5 rendimento 96
1 assistência social
1,5 especialidades
2 consulta de enfermagem
2,5 ginecologia/obstetrícia
3 pediatria clínica médica
Fonte: Franco, 1997.

Figura 2
Distribuição dos problemas de saúde que se apresentaram à equipe de acolhimento
da Unidade Básica de Saúde Rosa Capuche, segundo a resolubilidade e
encaminhamentos adotados, apresentados em freqüência relativa, por períodos
mensais.
0 resolubilidade da equipe de acolhimento (%)set/96
10 resolvido pela equipe de acolhimento ago/96 jul/96
20 marcado atendimento para outro setor da unidade jun/96
30 referenciado para rede SUS80 nov/96 mar/96
40 não anotado mai/96
50 fev/97
60 jan/97 abr/96
70 dez/96
Fonte: Franco, 1997.

A gestão da Unidade com acolhimento

O processo de gestão da Unidade de Saúde é compatível com o modelo tecno-


assistencial.

Assim, o acolhimento só é possível se a gestão for participativa, baseada em


princípios democráticos e de interação entre a equipe. Isto se dá porque a inversão
do modelo tecno-assistencial, com mudanças estruturais no processo de trabalho,
pressupõe a adesão dos trabalhadores à nova diretriz. Este compromisso com a
mudança, com a construção do devir, só é possível quando os profissionais
discutem e efetivamente podem decidir sobre a organização dos serviços na
Unidade de Saúde.

A gestão democrática e participativa criou oportunidade para que se experimentasse


na Unidade de Saúde um processo pedagógico, auto-conduzido, de extrema
riqueza. Os trabalhadores passaram a conhecer o usuário, a partir do momento em
que este adentrou a Unidade. Por outro lado, o permanente contato com a
assistência, as inúmeras reuniões dos fóruns, discussões técnicas de grupos
programáticos, o debate sobre a política de saúde, levaram os trabalhadores a
assimilar um conhecimento importante acerca da sua realidade e da realidade
institucional. Podemos dizer que eles adquiriram capacidade de auto-análise, o que
lhes deu possibilidade de autogestão na organização do processo de trabalho e, por
conseqüência, dos serviços. O Colegiado Gestor e o Fórum Saúde se tornaram
assim, por excelência, dispositivos auto-analíticos e autogestores, que
protagonizaram um processo instituidor e organizador no interior da Unidade de
Saúde (Baremblit, 1992).

Associa-se a esse modelo de gestão o planejamento estratégico situacional,


incorporado no instrumental de trabalho da Unidade de Saúde mediante a
colaboração do Lapa-Unicamp e com a interferência do Grupo de Apoio à Gestão –
GAG.

Concluindo
O acolhimento como fator de mudança O que transparece de forma enfática em todo
o trabalho de investigação sobre o acolhimento é sua contemporaneidade, ou seja, a
capacidade de se colocar no nosso tempo, mobilizar energias adormecidas,
reacender a esperança e colocar em movimento segmentos importantes dos
serviços de saúde, como grupos sujeito que se propõem à construção do novo, a
fazer no tempo presente aquilo que é o objetivo no futuro.
No imaginário coletivo, ele é a realização da utopia construída com o advento do
SUS e perdida no momento seguinte, com a constituição de uma hegemonia
neoliberal nos serviços de saúde.
O acolhimento associa na forma exata o discurso da inclusão social, da defesa do
SUS, a um arsenal técnico extremamente potente, que vai desde a reorganização
dos serviços de saúde, a partir do processo de trabalho, até à constituição de
dispositivos auto-analíticos e autogestores, passando por um processo de mudanças
estruturais na forma de gestão da Unidade.

Problemas de primeira hora


O primeiro problema enfrentado para a implantação do acolhimento diz respeito ao
temor, próprio da condição humana, de encarar o novo, por excelência o
desconhecido.
Vencida esta primeira dificuldade, o acolhimento chegou e encontrou uma Unidade
de Saúde que vinha há muitos anos funcionando com reduzida oferta de serviços,
baixa presença dos usuários por causa da inacessibilidade à Unidade, tendo, por
conseqüência, incalculável demanda reprimida, não apenas para os serviços
próprios da UBS, como também para os procedimentos especializados. Implantando
o acolhimento, aqueles problemas anteriormente existentes no serviço apareceram
de forma enfática, muito mais evidentes.
Olhando um pouco sobre alguns medos relacionados ao acolhimento, vale destacar
aquele que se refere à falsa noção de que o mesmo faz com que a UBS torne-se um
grande pronto-atendimento (PA). Em Belo Horizonte, onde o acolhimento já é uma
realidade mais ampla e experimentada, o acolhimento permite, de fato, tornar a UBS
em um verdadeiro estabelecimento de saúde onde se faça saúde pública, pois uma
coisa é o uso do pronto-atendimento como um recurso a mais para abordar o
usuário, e outra coisa é reduzir a UBS a um lugar exclusivo onde só se faz PA.
Temos visto que o acolhimento tem levado a Unidade a receber e incorporar os
grupos de riscos como uma realidade sua, à qual deve dar uma resposta individual e
coletiva e pela qual tem que se responsabilizar.

Limites do acolhimento
Após um ano de implantação do acolhimento na Unidade, permanecem três
questões que se impõem como limites à nova diretriz, sobre os quais devemos nos
debruçar para encontrar as alternativas técnicas para sua consolidação.
1) A pequena inserção dos profissionais médicos no acolhimento.
2) O agendamento de consultas médicas permanece como uma questão crítica no
serviço. A diretriz do acolhimento pressupõe agenda aberta para os casos que
necessitem.
3) Um terceiro desafio é a conciliação do trabalho da assistência dentro da Unidade
de Saúde com o trabalho externo.
Desafios para a consolidação da inversão do modelo assistencial
Podemos começar por refletir sobre os limites do acolhimento, relacionados acima.
Uma primeira questão que fica evidente é a seguinte:
Por que não se conseguiu incorporar o profissional médico a esse processo, a ponto
de a sua participação específica causar impacto na solução dos problemas de saúde
da população usuária?
A primeira questão a ser pensada é a seguinte: o trabalho nos estabelecimentos de
saúde e, entre eles, na Unidade Básica é organizado, tradicionalmente, de forma
extremamente parcelado. Em eixo verticalizado, organiza-se o trabalho do médico e,
entre estes, de cada especialidade médica. Assim, sucessivamente, em colunas
verticais, vai se organizando o trabalho de outros profissionais. Essa divisão do
trabalho se dá, de um lado, pela consolidação nos serviços de saúde das
corporações profissionais; por outro, no caso dos médicos, pela especialização do
saber e, conseqüentemente, do trabalho em saúde.
A organização parcelar do trabalho fixa os trabalhadores em uma determinada etapa
do projeto terapêutico. A superespecialização, o trabalho fracionado, fazem com que
o profissional de saúde se aliene do próprio objeto de trabalho. Desta forma, ficam
os trabalhadores sem interação com o produto final da sua atividade laboral, mesmo
que tenham dele participado, pontualmente. Como não há interação, não haverá
compromisso com resultado do seu trabalho.
O acolhimento, ao reprocessar o trabalho na Unidade de Saúde, com base na
formação de uma equipe multiprofissional, a equipe de acolhimento, conseguiu
quebrar a verticalidade da organização do trabalho na Unidade, mexendo
radicalmente no processo de trabalho dos profissionais não-médicos. Contudo, não
foi possível romper com a lógica do trabalho médico, que se dá em torno da
agenda/consulta. Assim, enquanto os outros profissionais interagem em equipe, de
forma extremamente dinâmica, acompanhando o resultado do seu trabalho, os
médicos permanecem fechados num círculo vicioso, visualizando parcialmente a
realidade.
E como poderia ser resolvida essa questão finalmente?
Nossas reflexões a partir de então seguem em sintonia e cumplicidade com as
formulações recentes do Laboratório de Planejamento e Administração de Sistemas
de Saúde – Lapa (Departamento de Medicina Preventiva e Social-Unicamp). Estes
consideram o vínculo como a diretriz que, acoplada ao acolhimento, é capaz de
garantir o real reordenamento do processo de trabalho na Unidade de Saúde,
resolvendo definitivamente a divisão de trabalho compartimentada e saindo da lógica
agenda/consulta para uma outra da responsabilização de uma equipe
multiprofissional, com o resultado do trabalho em saúde. Isto é o que Gastão
Wagner de Sousa Campos chama de ‘A Obra’. Assim, “...em relação ao trabalho
clínico, não haveria como valorizar-se ‘A Obra’ sem um processo de trabalho que
garantisse os maiores coeficientes de Vínculo entre profissional e paciente”
(Campos, 1997:235). Considera-se vínculo a responsabilização pelo problema de
saúde do usuário, individual e coletivo.
O atendimento em saúde seria feito por meio da adscrição da clientela a
determinada equipe da Unidade de Saúde, formada, no mínimo, pelo médico,
enfermeiro, pediatra, gineco-bstetra e auxiliares de enfermagem. Esta equipe
passaria a se responsabilizar pelas pessoas inscritas, devendo, para isto, mobilizar
todos os recursos dentro e fora da Unidade que pudessem favorecer este objetivo,
tais como exames, consultas especializadas, internação etc.
A equipe deve ter autonomia para agir, mobilizar os recursos necessários para fazer
saúde. É importante a avaliação permanente do seu trabalho, agora facilitado, na
medida em que este resultado é produto do labor de um mesmo grupo
multiprofissional, ou seja, foram as mesmas pessoas que desenvolveram todo o
processo vivido pelo usuário, individual ou coletivo, no seu processo saúde-doença.
O trabalho externo pode ser feito de duas formas. Na primeira, ele deve ser
realizado pelas equipes multiprofissionais da Unidade de Saúde, que, ao
responsabilizarem-se pela sua clientela, podem mobilizar recursos até mesmo de
visitas e internações domiciliares, ou outros recursos, que se encontram juntos à
comunidade.
A segunda forma diz respeito à vigilância à saúde. Esta deve estar combinada com o
planejamento e gestão dos serviços de saúde e em perfeita sintonia com a realidade
social, econômica, epidemiológica local, bem como com as necessidades dos
usuários da região. Este trabalho deve ser executado por uma equipe, auto-intitulada
Equipe de Saúde Pública, formada especificamente com esse objetivo, podendo
atuar vinculada a uma ou a várias unidades de uma mesma região da cidade.

REFERÊNCIAS

BAREMBLIT, G., 1992. Compêndio de Análise Institucional e Outras Correntes. Rio


de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos.

CAMPOS, G. W. S., 1997. Subjetividade e administração de pessoal. In: Agir em


Saúde. Um Desafio para o Público (E. E. Merhy & R. Onocko, org.), pp. 229-266,
São Paulo: Editora Hucitec.

FRANCO, T. B., 1997. Acolhimento: Diretriz do Modelo Tecno-Assistencial em


Defesa da Vida. Trabalho apresentado à Rede de Investigação em Sistemas e
Serviços de Saúde do Cone Sul, Fundação Oswaldo Cruz. (mimeo.)
Essas diretrizes gerais fazem parte da mais recente experiência de organização de
serviços de saúde, alinhados à perspectiva de efetiva construção de um sistema de
saúde com base no acesso para todos, eqüidade, integralidade das ações, eficácia,
com atendimento de qualidade e humanizado e sob controle social.

MERHY, E. E., 1997a. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo


em saúde. In: Agir em Saúde. Um Desafio para o Público (E. E. Merhy & R. Onocko,
org.), pp. 71-112, São Paulo: Editora Hucitec.

MERHY, E. E., 1997b. A rede básica como uma construção da saúde pública e seus
dilemas. In: Agir em Saúde. Um Desafio para o Público (E. E. Merhy & R. Onocko,
org.), pp. 197-228, São Paulo: Editora Hucitec.

Rev. Latino-Am. Enfermagem v.11 n.3 Ribeirão Preto maio/jun. 2003


http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692003000300011

O TRABALHO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL:


contradições e potencialidades atuais
I II
Alice G. Bottaro de Oliveira ; Neiry Primo Alessi

I
Enfermeira. Professor da Faculdade de Enfermagem e Nutrição da Universidade Federal de Mato
Grosso, Doutoranda do Programa de Enfermagem Psiquátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da
pesquisa em enfermagem, E-mail: alicegbo@yahoo.com.br
II
Socióloga, Professor Doutor aposentado da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo, E-mail: luizalessi@convex.com.br

RESUMO

Este estudo teve por objetivo identificar contradições e desafios que se apresentam
atualmente no trabalho de enfermagem em saúde mental, no contexto da Reforma
Psiquiátrica, tendo por referência a construção histórico-social desse processo de
trabalho. A Reforma Psiquiátrica pressupõe um novo desenho de objeto e
instrumentos de trabalho, que são ainda pouco visíveis na prática dos enfermeiros, e
a possibilidade de se alcançar a condição de sujeito-cidadão para o portador de
sofrimento mental – modo de ser e finalidade do trabalho – que está diretamente
relacionada à consciência de sujeito-cidadão do trabalhador de enfermagem.

Descritores: saúde mental, enfermagem psiquiátrica, trabalho, papel do profissional


de enfermagem
INTRODUÇÃO

O trabalho de enfermagem na sociedade capitalista

A enfermagem profissional moderna surgiu no contexto de emergência do sistema


capitalista europeu, particularmente na Inglaterra, subseguindo à decadência dos
sistemas monástico-caritativos de assistência à saúde das populações, que ocorreu
entre os séculos XVI a XIX. Desde as suas origens, a enfermagem profissional
presenciou modos de divisão social e técnica do seu trabalho e esteve submetida a
relações de compra e venda de força de trabalho, tais como conhecemos
contemporaneamente. Admitindo como o marco de nascimento da enfermagem
moderna a data de 9 de julho de 1860, quando 15 candidatas tiveram suas
matrículas aceitas na Escola Nightingale, que funcionava junto ao Hospital St.
Thomas, em Londres(1), podemos identificar duas características do emergente
sistema capitalista: a reprodução da divisão do trabalho e a utilização de mulheres
em atividades que exigiam pouca qualificação. O trabalho de enfermagem ou das
"criadas de enfermaria" era comparável ao trabalho doméstico e,
conseqüentemente, com baixa remuneração(2).

Essa primeira escola, que instituiu o padrão curricular de formação da enfermagem


profissional hegemônico no mundo moderno, definia duas categorias para a
formação: as lady-nurses e as nurses. Reproduzindo a estrutura social de classes da
sociedade, as primeiras, oriundas da burguesia, eram preparadas para o ensino e
supervisão, e as nurses, geralmente oriundas da classe baixa, executavam o
trabalho de cuidado direto dos doentes e moravam e trabalhavam no hospital
durante o período de formação. Ou seja, as lady-nurses eram responsáveis pelo
trabalho intelectual e as nurses pelo trabalho manual de enfermagem(2).

Nesse período de transição da enfermagem tradicional para a moderna, os


instrumentos de trabalho de enfermagem relacionavam-se mais ao treinamento
disciplinar dos agentes do que à elaboração do saber de enfermagem. O modelo
educacional, introduzido por Nightingale, tinha por objetivo a implementação de
técnica disciplinar que possibilitasse a transformação do espaço hospitalar em local
de cura, de disciplinamento dos trabalhadores e das tarefas, sob direção médica.
Nesse sentido, as inovações desse período referem-se, essencialmente, ao espaço
geográfico imediato – limpeza, luz, calor e outros – e não aos cuidados dos doentes
diretamente(3). O objeto de trabalho de enfermagem transformou-se historicamente –
fragmentou-se, complexificou-se e transfigurou-se – desde o feudalismo até à
atualidade do modo de produção capitalista(1).

A enfermagem é, portanto, prática historicamente estruturada, ou seja, existe ao


longo da história da humanidade, porém constituída por diferentes maneiras de
cuidar que, por sua vez, são determinadas pelas relações sociais de cada momento
histórico. Atualmente, o trabalho de enfermagem é integrante do trabalho coletivo
em saúde, é especializado, dividido e hierarquizado entre auxiliares, técnicos e
enfermeiros de acordo com a complexidade de concepção e execução. A
enfermagem, embora detenha autonomia relativa em relação aos demais
profissionais, subordina-se ao gerenciamento do ato assistencial em saúde
executado pelos médicos. O processo de trabalho dos profissionais de saúde tem
como finalidade – a ação terapêutica de saúde; como objeto – o indivíduo ou grupos
doentes, sadios ou expostos a risco, necessitando medidas curativas, preservar a
saúde ou prevenir doenças; como instrumental de trabalho – os instrumentos e as
condutas que representam o nível técnico do conhecimento que é o saber de saúde
e o produto final é a própria prestação da assistência de saúde que é produzida no
mesmo momento em que é consumida(4).

O TRABALHO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL NO PROCESSO DE


EMERGÊNCIA DA ENFERMAGEM MODERNA

A medicina moderna é uma medicina social que tem, como um de seus


componentes, o interesse no corpo individual(5). O controle dos corpos, operado por
essa medicina supostamente individual, é uma estratégia de controle social na
modernidade. Nesse projeto de medicina operado para o conhecimento, controle e
utilização dos corpos individuais numa perspectiva totalizante, característico da
modernidade, situa-se o nascimento da psiquiatria(5). Essa, sendo a primeira
especialidade médica, surge atrelada a um projeto de conhecimento e
transformação da sociedade, característico da Europa do século XVIII, com algumas
especificidades nos diferentes países. No Brasil, se fez presente a partir do século
XIX(6).
O objeto dessa medicina moderna era o espaço social e, a criação do hospício, o
processo que possibilitava a inserção do "louco" nesse espaço, organizado e
disciplinado, segundo as normas de higiene. A loucura passou a ser definida,
explicada e tratada pela medicina e adquiriu o "estatuto de doença mental, doença
adjetivada, portanto específica, que requer um saber médico específico, técnica e
métodos também específicos. Essa medicina especial, [...], teve um nascimento
historicamente situado, resultado do encontro entre uma prática social sistemática
de reclusão de incapazes e um pensar médico positivo"(7).

Como importante aspecto no tocante à relação da sociedade com os "loucos", no


Brasil, o projeto de medicina social propôs a reformulação das instituições que deles
se ocupavam - enfermarias das Santas Casas e demais asilos de caridade - com o
objetivo de transformação desses locais de produção de doença e morte em
instituições de cura/reeducação - o hospício moderno. Visava, entretanto, muito mais
do que a reordenação do espaço de exclusão dos considerados loucos. Buscava
interferir na sociedade "sadia" com o objetivo de reduzir as causas de alienação,
através da aplicação de princípios científicos à vida social e política, portanto, uma
higiene social, além da higiene física(6).

A enfermagem, participante desse processo de medicina social moderna, teve papel


importante relacionado ao conhecimento e organização interna do espaço
asilar/hospitalar. No que se refere ao hospício, estudos destacam o papel do
"enfermeiro" Pussin, recentemente resgatado como um importante ideólogo e
colaborador de Pinel nas intervenções reformistas nos asilos franceses de Bicêtre e
Salpetrière(8).

No Brasil, a necessidade de organização do hospício moderno determinou a criação


de uma primeira escola de enfermagem ligada ao Hospital Nacional de Alienados, a
Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, inspirada no modelo francês. Em
1890, em um contexto de luta dos médicos pelo controle político/científico do
Hospício Pedro II, fundado em 1852, no qual permaneceram até algumas décadas
depois, como figura subordinada à administração religiosa, surgia essa primeira
escola de enfermagem brasileira que tinha entre seus principais objetivos a
preparação de pessoal para o trabalho de cuidar dos alienados num espaço
medicamente concebido e, portanto, necessitado de mão-de-obra também médico-
cientificamente orientada(6,9).

A psiquiatria e a enfermagem psiquiátrica surgiram no hospício. O hospício era


instituição disciplinar para reeducação do louco/alienado, o médico/alienista, a figura
de autoridade a ser respeitada e imitada nesse projeto pedagógico e, os
trabalhadores de enfermagem, os atores coadjuvantes nesse processo, os
executores da ordem disciplinar emanada dos médicos.

Sobre a especificidade do trabalho da enfermagem psiquiátrica, algumas autoras(9-10)


que estudaram a sua história, apontam o fato de que a enfermagem desenvolvida
nos hospícios não era do modelo Nightingale, mesmo após a disseminação deste
modelo em vários países. "Essa clientela [os loucos] não foi objeto de interesse
explícito para a enfermagem moderna, nem na chamada Revolução Nightingale da
Inglaterra vitoriana, abarrotada de hospícios, nem na implantação desse modelo no
Brasil do século XX"(9).

Os cursos, que visavam o cuidado de doentes mentais nos hospitais psiquiátricos,


não adotavam o sistema Nightingale e eram orientados por médicos. No Brasil,
assim como na Europa e na América do Norte, "o preparo de enfermeiros(as) nas
instituições psiquiátricas acompanhou o processo de medicalização dos asilos,
originando modelos de preparação com características específicas e diferenciadas
daquele destinado à formação para hospitais gerais durante o século XIX"(10).

A história da enfermagem brasileira "esqueceu" o ensino de enfermagem implantado


no Brasil no período 1890-1923(11), ensino esse ministrado numa escola anexa ao
Hospício Nacional. A Escola de Enfermagem Anna Nery, fundada em 1923, no Rio
de Janeiro, considerada a primeira escola de enfermagem "moderna" do Brasil, pela
historiografia oficial, não incluiu em seu currículo, até o ano de 1949, nenhuma
matéria relacionada às doenças mentais, quando passou a desenvolver estágio no
Centro Psiquiátrico Nacional – Engenho de Dentro(12).

O objetivo da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, anexa ao Hospício


Nacional, criada através do Decreto nº 791 de 27/09/1890, era formar profissionais
para os hospitais psiquiátricos e militares existentes no país. Além desse objetivo
explícito no Decreto, a escola promovia a instrução e profissionalização das
mulheres pobres. Disso decorria algumas vantagens: incorporação e
disciplinarização de um segmento da população excluído e "perigoso" (mulheres e
meninas pobres abandonadas), subordinação garantida dessas aos médicos,
evitando os conflitos que foram anteriormente enfrentados com as religiosas no
hospício e o estabelecimento do hospício como instrumento médico de intervenção e
sob a sua direção. A opção pelo modelo francês, portanto, não foi casual ou por
desconhecimento de outros modelos. Processo similar ocorreu em Porto Alegre, no
Hospital São Pedro. Em outros locais não houve formação especializada e essa
capacitação ocorreu no próprio processo de trabalho(10).

Quanto às motivações do pessoal de enfermagem para trabalhar nos


estabelecimentos psiquiátricos do Rio de Janeiro e os modos de ingresso na Escola
Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, do Departamento de Assistência a
Psicopatas, estudos(10) apontam que, com a criação das escolas, a enfermagem
passou a ser profissão e adquiriu certa valorização social, tornando-se alternativa de
profissionalização principalmente para as mulheres pobres. Para essas, o trabalho
de enfermagem, embora manual, significou a possibilidade de ascensão social, cuja
realização exigia uma formação específica. Portanto, para as alunas da Escola
Alfredo Pinto (denominação posterior da Escola Profissional de Enfermeiros e
Enfermeiras) que, diferente da Escola Anna Nery, eram originárias da classe baixa,
a profissão de enfermeira era uma oportunidade de ascensão na hierarquia das
ocupações femininas.

Nesse modo de conformação, certifica-se que a necessidade de capacitação e


especialização de trabalhadores para o cuidado dos doentes mentais esteve
relacionada com o peculiar processo de transformação dos asilos em espaço
terapêutico da loucura nos diferentes locais e não diretamente relacionada ao
processo de institucionalização da enfermagem como profissão no Brasil. Também
relacionou-se, de forma muito próxima, assim como a história da psiquiatria
enquanto medicalização do social, às necessidades de disciplinarização de um
determinado segmento social.

A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL


Ao abordarmos a Reforma Psiquiátrica Brasileira, destacamos a necessidade de
compreender esse processo histórico de organização da assistência psiquiátrica a
partir de suas determinações gerais e específicas no cenário nacional.

Ao final da II Guerra Mundial, vários movimentos de contestação do saber e práticas


psiquiátricas se faziam notar no cenário mundial, dos quais se destaca a Psiquiatria
de Setor na França, as Comunidades Terapêuticas na Inglaterra e a Psiquiatria
Preventiva nos EUA. Eram movimentos de "reforma" da assistência psiquiátrica no
sentido de apontarem para um rearranjo técnico-científico e administrativo da
Psiquiatria, sem a radicalidade da desinstitucionalização, proposta pelo movimento
italiano, a partir de 1960(13).

A influência desses movimentos de crítica à psiquiatria também se fizeram notar, em


diferentes momentos, no contexto da sociedade brasileira. No final dos anos 1970 e
início de 1980, período marcado pelo final da ditadura, falência do "milagre
econômico", suspensão da censura, reorganização da sociedade através do
ressurgimento dos sindicatos, partidos políticos e retorno ao Estado de Direito, as
idéias de Foucault, Goffman, Castel, Szaz, Basaglia e outros tiveram forte influência.
Esse período é considerado como o primeiro momento da Reforma Psiquiátrica
Brasileira, denominado "trajetória alternativa" desse processo(14). No segundo
momento, principalmente no período político da Nova República, o movimento da
Reforma Sanitária e da Reforma Psiquiátrica incorporou-se ao aparelho de Estado e
a crítica original da cientificidade da medicina/psiquiatria e da neutralidade da ciência
cedeu espaço para a idéia de que uma nova administração estatal resolveria os
problemas de saúde/saúde mental da população. Trata-se de momento
institucionalizante do processo. No terceiro momento, o da desinstitucionalização,
cujo lema Por uma sociedade sem manicômios, retrata a medida do resgate da
crítica da institucionalização da medicina/psiquiatria, sob forte influência da "tradição
basagliana", propõem-se mudanças no modelo de intervenção: as macropolíticas
cedem espaço para a reinvenção do cotidiano e enfatizam-se experiências
localizadas(14).

Nessa nova concepção de objeto e de intervenção, compreende-se a


desinstitucionalização como "um trabalho prático de transformação que, a começar
pelo manicômio, desmonta a solução institucional existente para desmontar (e
remontar) o problema. [...] Mas, se o objeto ao invés de ser "a doença" torna-se a
"existência-sofrimento dos pacientes" e a sua relação com o corpo social, então
desinstitucionalização será o processo crítico-prático para a reorientação de todos
os elementos constitutivos da instituição para este objeto bastante diferente do
anterior"(13).

Compreendemos, portanto, a Reforma Psiquiátrica como um movimento, um


processo histórico que se constitui pela crítica ao paradigma psiquiátrico clássico e
pelas práticas que transformam/superam esse paradigma, no contexto brasileiro, a
partir do final da década de 1970. Apresenta-se fundamentalmente como crítica à
conjuntura nacional do sistema de saúde mental e, principalmente, como crítica
estrutural à "instituição" - psiquiatria. Como processo histórico, insere-se numa
totalidade complexa e dinâmica, portanto, também determinado nacionalmente pelo
processo de redemocratização em curso no País a partir daquela época(14).

AS CONTRADIÇÕES E OS DESAFIOS QUE SE APRESENTAM NO PROCESSO


DE TRABALHO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO DA
REFORMA PSIQUIÁTRICA

Consideramos que o momento atual do trabalho de enfermagem em saúde mental


caracteriza-se pela transição entre uma prática de cuidado hospitalar que visava a
contenção do comportamento dos "doentes mentais" e a incorporação de princípios
novos e desconhecidos, que busca adequar-se a uma prática interdisciplinar, aberta
às contingências dos sujeitos envolvidos em cada momento e em cada contexto,
superando a perspectiva disciplinar de suas ações. É, portanto, período crítico para
a profissão e favorável para o conhecimento e análise do processo de trabalho
nessa área.

Se compreendemos a produção científica da enfermagem como um instrumento do


seu processo de trabalho, podemos considerar que as mudanças que ocorrem nos
instrumentos – materiais (equipamentos) ou não-materiais (métodos, por exemplo) –
decorrem das mudanças da finalidade desse trabalho(15). Se analisarmos o trabalho
em saúde mental sob essa perspectiva poderíamos afirmar que na psiquiatria
"pineliana" o hospício – compreendido como a reclusão, os métodos físicos, a figura
de autoridade do médico/alienista e a disciplina e higiene impostas pelos
enfermeiros - era o instrumento adequado para a finalidade - cura/reeducação do
"louco" - nesse momento considerado "alienado". Na atualidade, no paradigma da
Reforma Psiquiátrica, os instrumentos materiais mais evidentes são os NAPS e
CAPS (Núcleos e/ou Centros de Atendimento Psicossocial); hospitais-dia,
enfermarias e ambulatórios em hospitais gerais. Necessário se faz, portanto,
refletirmos sobre os instrumentos não-materiais dessa organização do trabalho, seus
métodos, suas bases teóricas, especificamente utilizadas no trabalho dos
enfermeiros que, por sua vez, insere-se num contexto histórico de trabalho em
saúde e, nesse processo, indagarmos também qual é a finalidade para a qual esses
instrumentos estão relacionados. Ou, dito de outra forma, refletirmos sobre a
finalidade do processo de trabalho dos enfermeiros de saúde mental no contexto da
Reforma Psiquiátrica que orienta a utilização dos atuais instrumentos de trabalho
nesse processo.

Revisando a literatura, constatamos que muitos enfermeiros têm realizado estudos


que buscam refletir sobre o seu trabalho nos serviços de saúde mental nos últimos
anos. Apresentaremos alguns deles para analisarmos quais têm sido as concepções
de objeto, instrumentos e finalidade do trabalho realizado pelos enfermeiros e,
assim, permitir a compreensão sobre o que tem se constituído como trabalho do
enfermeiro nesse setor.

Há estudos que consideram que existem várias tendências teóricas influenciando a


prática psiquiátrica atualmente e que há deficiências no processo de formação de
enfermeiros que atuam em psiquiatria(16-17). Alguns deles concluem que há
indefinição dos profissionais de enfermagem psiquiátrica sobre o seu papel nessa
assistência o que provoca, muitas vezes, uma "fuga" para o desempenho de
(16,18-20)
atividades burocrático-administrativas . Essa é a "identidade possível" para
esses profissionais que vivenciam uma prática marcada pela indefinição de seu
papel(16).

Esses mesmos estudos(17-20) afirmam que, embora a literatura especializada na área


aponte uma convergência teórica em torno da compreensão de que o papel do
enfermeiro em serviços de saúde mental é o de "agente terapêutico, cujo objetivo
fundamental é auxiliar o paciente a aceitar a si próprio e a melhorar as suas relações
pessoais"(18), o trabalho efetivo dos enfermeiros centra-se, principalmente, no
desenvolvimento de atividades burocrático-administrativas.
Complementarmente, alguns desses estudos(19-20) apontam que em serviços extra-
hospitalares de saúde mental, os enfermeiros, entre todos os profissionais da
equipe, são aqueles que menos realizam atendimentos diretos à clientela e a sua
prática caracteriza-se pelo gerenciamento intermediário que organiza e facilita o
trabalho de toda a equipe.

Uma das constatações sobre a atuação dos profissionais de enfermagem em saúde


mental e a inserção da assistência de enfermagem no contexto atual de mudanças
políticas, caracterizadas pela Reforma Psiquiátrica(17,20-21), aponta que a maioria dos
enfermeiros não se sente preparada para atuar em Enfermagem Psiquiátrica ou
Saúde Mental e não está adequadamente informada sobre as mudanças políticas
que vêm ocorrendo na área.

Sobre a concepção de objeto que permeia o processo de trabalho dos enfermeiros


em saúde mental, estudos(21-22) demonstram que, apesar do discurso dos
enfermeiros estar orientado para a desconstrução do saber psiquiátrico e para a
superação das práticas manicomiais, o paradigma predominante em suas ações é o
modelo organicista. Os enfermeiros mantêm as práticas tradicionais – triagem e
controle principalmente medicamentoso dos pacientes em crise – embora o discurso
aponte para atividades de relacionamento interpessoal e trabalho interdisciplinar(21).
Assim, embora reconheçam a limitação daquele modelo médico psiquiátrico na
abordagem do sujeito com transtornos mentais, ocupam-se, rotineiramente, de sua
"doença mental" ao controlar o comportamento dos usuários e, apesar de criticar o
tratamento ofertado pela instituição - pautado pelo modelo organicista - não se
percebem como agentes de transformação dessa realidade(22).

Os estudos(16-22) por nós relacionados destacam a presença de uma longa distância


entre o discurso presente na formação especializada em enfermagem psiquiátrica e
de saúde mental e o trabalho de enfermagem nessa área. Reconhece-se uma nova
conformação teórica do objeto: não mais o "doente mental" internado que deve ser
contido e controlado, mas o "portador de transtornos mentais" ou o sujeito com
"sofrimento psíquico" que merece ser atendido nas suas necessidades
psicossociais. Entretanto, a esse novo desenho de objeto não correspondem
estratégias de intervenção que visem a assistência/recuperação desse sujeito. Ou
seja, os instrumentos do trabalho de enfermagem, nessa área, alinham-se mais na
direção da reafirmação da concepção organicista de objeto, característica da
medicina psiquiátrica do que da Reforma Psiquiátrica que pressupõe uma
ampliação/superação do objeto, incorporando também características psicossociais.

Apontam também uma característica do trabalho dos enfermeiros - que se repete em


alguma medida em outras áreas de assistência - relacionada ao fato de que grande
parte do tempo é destinada ao desempenho de atividades administrativo-
burocráticas e não de administração da assistência, que é uma atividade de
enfermagem. Assim, os enfermeiros se ocupam, muitas vezes de forma prioritária,
com atividades que têm por finalidade a organização do trabalho dos demais
profissionais e, portanto, o trabalho do enfermeiro e do corpo de técnicos e auxiliares
de enfermagem passa a ser o meio/instrumento do trabalho médico e psicológico,
com escassa ou nenhuma atuação técnico-assistencial específica.

Ao refletirmos sobre as necessidades e possibilidades específicas do trabalho de


enfermagem em equipe de saúde mental, na perspectiva de ampliação do objeto de
intervenção proposto pela Reforma Psiquiátrica, o trabalho nessa área ganha novos
contornos, como, por exemplo, apresenta-se a necessidade de que a esse objeto
redesenhado, corresponda novos instrumentos e, nesse sentido, aconteçam
algumas modificações nas práticas terapêuticas, como a incorporação de
trabalhadores "atípicos" na equipe, como artistas plásticos, professores de educação
física, dentre outros; além do que a finalidade do trabalho proposto nessa concepção
não admite mais a noção de "cura", mas de reabilitação, reinserção social e,
portanto, os instrumentos para esse fim não podem continuar sendo os meios físicos
e químicos coercitivos, mas outros que proporcionem a escuta e a valorização do
sujeito-cidadão que sofre mentalmente.

Essas modificações no processo de trabalho de saúde mental levam-nos a


considerar a necessidade de mudanças na divisão desse trabalho coletivo(23). Esse
trabalho interdisciplinar pressupõe a coexistência de ações técnicas privativas dos
profissionais e a execução de algumas ações comuns com tendência à
horizontalização das relações de poder. Entretanto, essa aproximação das áreas
profissionais no plano técnico do trabalho – desempenho de atividades com uma
diluição gradativa das peculiaridades – é acompanhada de tensão no aspecto dos
valores dos diferentes trabalhos, uma vez que as relações hierárquicas são
mantidas e reproduzidas, principalmente entre os profissionais médicos e não-
médicos, referentes a salário e ao fato de o médico ser o responsável pela atenção
ao usuário(23).

A dificuldade de co-responsabilizar-se pela assistência é freqüentemente observada


na prática dos enfermeiros que trabalham em serviços de saúde mental. De uma
maneira geral, eles usam como argumento a falta de autonomia, a ingerência do
médico na assistência de enfermagem, enfim, a submissão do trabalho de
enfermagem ao trabalho médico, mas, ao mesmo tempo, permanecem
comodamente nessa situação, como que a auferir alguma vantagem, ou seja, se não
participam das decisões do tratamento e, algumas vezes, nem daquelas
relacionadas às próprias ações de enfermagem, também não se responsabilizam
pelo tratamento. Assim, aliado ao fato de maior valorização salarial do profissional
médico, que ocorre freqüentemente nos serviços, reforça-se o seu papel de
responsável técnico por todo o tratamento. Os enfermeiros, portanto, estão
demonstrando dificuldades na definição do objeto de trabalho no paradigma da
Reforma Psiquiátrica, ou seja, nessa equipe de saúde mental, que define como
objeto de intervenção o sujeito-cidadão em suas necessidades psicossociais, o
enfermeiro não se define como sujeito-trabalhador. Assim, podemos indagar qual é a
condição desse profissional conduzir-se em relação a uma assistência cuja
orientação é a reinserção social da pessoa com transtornos mentais - o resgate da
cidadania desse sujeito - quando ele mesmo não se posiciona na equipe como
sujeito-cidadão.

Na necessária redefinição da divisão do trabalho na equipe de saúde mental, o


enfermeiro tem sido um profissional pouco atuante, como afirmam os estudos acima
destacados. Isso se reflete em procedimentos tecnicamente pouco visíveis no
conjunto do trabalho em equipe, quando não em ações de acomodação às práticas
médicas e administrativas inadequadas técnica e eticamente.

Acreditamos na possibilidade de se construir no cotidiano, nos confrontos e nas


contradições entre o processo de reprodução e recriação, próprios da prática de
enfermagem, um processo contra-hegemônico que, identificado com os preceitos da
Reforma Psiquiátrica, resgate os atores envolvidos (trabalhadores e usuários) como
sujeitos sociais. Consideramos que, principalmente nesse processo cotidiano, é
onde reside a potencialidade implícita de autonomia profissional dos enfermeiros.
Nesse processo, conforme apontado em alguns estudos(24), através da utilização de
mecanismos de resistência velada, difusa e até explícita aos saberes e práticas
médico-psiquiátricas dominantes, encontra-se a possibilidade de sua ruptura, pois,
"embora, ao estar inserido socialmente, o próprio sujeito experiencie a sujeição à
ideologia dominante, reside [igualmente] nele a possibilidade de ruptura com essa
ideologia"(24). Parece ser, portanto, nesse processo de constituição dos profissionais
como sujeitos-sociais, sujeitos-cidadãos que, ao se perceberem criticamente como
co-responsáveis por um trabalho coletivo, também se responsabilizam por todos os
atos desse trabalho e utilizam (ou não utilizam) as possibilidades de ruptura com os
saberes e práticas hegemônicas, que reside a possibilidade de superação das
práticas custodiais e burocráticas do trabalho de enfermagem em saúde mental.

Nesse contexto do trabalho de enfermagem em saúde mental, marcado


historicamente pelo modelo médico disciplinador de sujeitos e de comunidades,
onde as práticas de enfermagem eram subordinadas e coadjuvantes do processo
médico-político disciplinador, o enfermeiro é, potencialmente, importante agente de
mudança; entretanto, essa potencialidade estará diretamente relacionada ao grau de
consciência desses trabalhadores. Quanto mais consciente de sua condição pessoal
e social, de seu papel de trabalhador inserido num contexto social e de cidadão num
sistema político, mais apto estará para eleger instrumentos de trabalho que visem o
resgate dessa mesma condição de sujeito-cidadão às pessoas com transtornos
mentais. Quanto menos consciente de sua condição de sujeito social e de cidadão,
mais aderido estará ao antigo modelo médico-disciplinar e mais subordinada e
coadjuvante será a sua atuação nas intervenções desse modelo.

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Rev Latino-am Enfermagem 2001 julho; 9(4):7-12


www.eerp.usp.br/rlaenf
Ar tigo Original
A MOTIVAÇÃO NO TRABALHO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM1

Marta Cristiane Alves Pereira2


Neide Fávero3
Pereira MCA, Fávero N. A motivação no trabalho da equipe de enfermagem. Rev Latino-am
Enfermagem 2001 julho; 9(4):7-12.

Estudo descritivo, realizado em um hospital universitário, com o propósito de


apreender alguns aspectos que intervêm na motivação humana e suas implicações
no resultado do trabalho. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados a
entrevista semi-estruturada e gravada, aplicada a 18 profissionais da equipe de
enfermagem, sendo 6 enfermeiros e os demais auxiliares e técnicos de
enfermagem. O material apreendido foi submetido à técnica de análise de conteúdo,
permitindo identificar o “Trabalho em si” como categoria mais citada como
motivadora e a “Organização do Trabalho” como maior desmotivadora, sendo que as
sugestões mais citadas referem-se ao “Relacionamento Interpessoal” e a
“Organização do Trabalho”.

PALAVRAS CHAVE: motivação, equipe de enfermagem, trabalho

1 Trabalho extraído da Dissertação de Mestrado “Aspectos motivacionais da equipe de enfermagem


no trabalho” – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Fundamental – Escola de Enfermagem
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo;
2 Enfermeira, Mestranda do Curso de Pós-Graduação, e-mail: alvespereiramc@bol.com.br;
3 Professor Titular, e-mail: nfavero@eerp.usp.br, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em
enfermagem.

INTRODUÇÃO

No cotidiano prático da enfermagem, caracterizado por atividades que exigem alta


interdependência, a motivação surge como aspecto fundamental na busca de maior
eficiência e, conseqüentemente, de maior qualidade na assistência de enfermagem
prestada, aliada à satisfação dos trabalhadores.

A prática gerencial da enfermagem, enquanto busca de possibilidades no


desenvolvimento de linhas sensíveis e racionais para lidar com as pessoas em
situação de trabalho, leva-nos ao interesse pelo estudo do comportamento e dos
motivos que levam as pessoas a agirem, pois alguns trabalham por dinheiro, outros
por segurança e outros ainda por prazer(1).
Acrescentando-se a isto, algumas pessoas que trabalham por dinheiro, em
determinado momento, deixam de responder ao sistema de incentivo financeiro,
assim como as pessoas que evidenciam fazer uso de suas aptidões e depois
recusam funções que representam maior desafio e outras que, apesar de menos
motivadas no trabalho, mantêm elevada a qualidade do que fazem(2).

Na tentativa de nos aproximarmos à definição do termo motivação, retomamos sua


origem na palavra motivu, do latim, que significa “que move ou o que pode fazer
mover”(3). Entretanto, há autores que definem o termo “como uma inclinação para
ação que tem origem em um motivo”, e motivo seria uma necessidade que, atuando
sobre o intelecto, faz a pessoa movimentar-se ou agir(4).

Referindo-nos especificamente à motivação humana no trabalho, aproximamo-nos


de conceitos que afirmam que as pessoas, ao serem indagadas sobre o que
queriam do trabalho, quando informavam sentimentos de felicidade, freqüentemente
descreviam fatores relacionados às suas tarefas ou eventos que indicavam êxito e
possibilidade de crescimento profissional. Ao contrário, quando relatavam
sentimentos de infelicidade, estes não eram associados ao próprio trabalho, mas às
condições que o cercavam(5).

Segundo a teoria utilizada, a motivação das pessoas depende de dois fatores:


higiênicos e motivacionais. Os fatores higiênicos referem-se “às condições físicas e
ambientais de trabalho, o salário, os benefícios sociais, as políticas da empresa, o
tipo de supervisão recebida, o clima de relações entre a direção e os empregados,
os regulamentos internos”, entre outros. Os fatores motivadores referem-se ao
conteúdo do cargo, às tarefas e aos deveres relacionados com o cargo em si,
produzindo efeitos duradouros de satisfação e aumento de produtividade em níveis
de excelência(6).

Enfocando mais especificamente a administração, a liderança e suas relações com a


motivação, é oportuno alertarmos para o perigo do uso da motivação enquanto
instrumento para a administração, pois no “contexto administrativo e teórico
organizacional, a motivação foi convertida em um instrumento de invasão,
manipulação e controle”,através do qual os dirigentes podem provocar determinados
tipos de comportamento em seus subordinados, pois não é considerado o aspecto
individual e intrínseco da motivação, que é usada como substituta do poder e da
coação, antes considerados predominantes na tentativa de influenciar os
empregados(7).

Nesse contexto, não são possíveis generalizações a respeito da motivação,


tornando-se importante considerar a peculiaridade humana, pois os indivíduos
possuem desejos e necessidades diferentes e, independentemente da facilidade de
compreensão ou da conveniência administrativa, não existe estratégia específica
para todos terem produtividade satisfatória(1).

A esse respeito, atitudes profissionais como “apatia, indiferença, descompromisso,


irresponsabilidade, relação desumanizada com a clientela, falta de motivação,
insatisfação e falta de criatividade” são consideradas decorrentes de dificuldades no
desenvolvimento do trabalho da enfermagem, devendo ser ressaltada a necessidade
do “desenvolvimento de sensibilidade no que tange a um gerenciamento mais
reflexivo, crítico, flexível, humano, que dê oportunidade para maior participação” dos
elementos da equipe e dos clientes(8).

Ainda nessa perspectiva, como conseqüência do contexto de trabalho determinado


pelas instituições hospitalares, quando não são priorizados os aspectos
motivacionais, além do restrito conhecimento do enfermeiro sobre essa temática, “a
motivação passa a ser tratada de maneira superficial,... negando-se aspectos
intrínsecos que conduzem as pessoas no desempenho profissional”(9).

A existência do pressuposto de que podemos motivar as pessoas, evidencia a


necessidade de resgatar a diferenciação entre satisfação e motivação, pois a
motivação surge das necessidades humanas e satisfação é considerada o
atendimento de uma necessidade ou sua eliminação, portanto, considerados
opostos e não sinônimos(4).

Ainda devemos destacar que considerar os fatores de satisfação como motivadores


levou ao falso pressuposto de que uma pessoa tem o poder de motivar a outra, pois
os motivadores estão presentes no meio ambiente(4).
Vale ressaltar que a motivação origina-se das necessidades e não dos fatores de
satisfação exógenos, encontrados no ambiente, ou dos fatores de satisfação
endógenos, intrínsecos ao indivíduo.

Portanto, aos “administradores resta apenas gerenciar os fatores de satisfação e


contra-satisfação exógenos”, sendo o primeiro, aquele que eleva o nível de
satisfação e o segundo, aquele que aumenta a tensão da necessidade pela privação
do seu atendimento(10).

Assim, considerar a motivação como resultado de fatores que residem fora do


indivíduo agrada a muitos supervisores e gerentes, pois podem atribuir as causas da
falta de motivação daqueles aos quais supervisionam, ou dizem administrar,
somente às organizações. Portanto, deve ser examinado cuidadosamente no que
consiste o fenômeno da liderança diante do despreparo dos administradores de
recursos humanos, em decorrência dos efeitos danosos provocados por um vínculo
de chefia inadequado que, associado à filosofia organizacional, impede a criação de
um ambiente motivacional(11).

Diante dessas considerações, emergiram as seguintes indagações: Como motivar


os elementos da equipe de enfermagem?

Quais as preferências motivacionais dos elementos da equipe de enfermagem?

Na tentativa de buscarmos novos conhecimentos para responder a estas


indagações, bem como buscar elementos que norteiem a compreensão a respeito
do comportamento das pessoas no trabalho, propusemo-nos a realizar este estudo
sobre os aspectos motivacionais da equipe de enfermagem, com os seguintes
objetivos:

1) conhecer a opinião do pessoal de enfermagem sobre a motivação no trabalho; 2)


identificar aspectos que contribuem para a motivação e para a desmotivação no
trabalho.

TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

Trata-se de um estudo descritivo, realizado segundo a metodologia quanti-


qualitativa, onde buscamos conhecer aspectos motivacionais do trabalho através
das falas do pessoal de enfermagem, sendo a entrevista semi-estruturada e
gravada, escolhida como técnica para coleta de dados.

Para a realização das entrevistas, elaboramos um roteiro constituído de duas partes:


a primeira voltada à caracterização dos sujeitos, e a segunda composta de questões
abertas, norteadoras do estudo. São elas: ”No seu dia-a-dia quais situações
contribuem para você sentir-se motivado?”; “Quais situações contribuem para você
sentir-se desmotivado?”; “Quais medidas poderiam ser tomadas para elevar a
motivação entre os elementos da equipe de enfermagem?”.

Participaram desta pesquisa, 18 profissionais da equipe de enfermagem, sendo 6


enfermeiros e 12 profissionais de nível médio (técnicos e auxiliares de enfermagem),
com disposição positiva para participar do estudo, selecionados a partir de sorteio,
sendo portanto amostra aleatória. Definimos o número de sujeitos participantes do
estudo, a partir do momento que houve convergência nos relatos.

Anteriormente à coleta de dados, solicitamos autorização da Comissão de Normas


Éticas do hospital em estudo, para realizarmos este procedimento, mediante a
apreciação do projeto de pesquisa. Cada participante assinou termo de
consentimento, após a apresentação dos objetivos do estudo, garantia do caráter
confidencial e voluntário da participação, bem como o compromisso de lhes
comunicarmos os resultados do estudo.

Transcrevemos as entrevistas na íntegra, respeitando a terminologia utilizada pelos


entrevistados; posteriormente, submetemos este material à técnica de análise de
conteúdo(12).

A partir da transcrição e análise das entrevistas, realizamos o agrupamento das


unidades de registro, obtendo, assim, o conjunto de 10 categorias no total, as quais
definimos a partir de alguns fatores motivacionais e higiênicos de Herzberg, em
decorrência da não-identificação de todos os fatores, na fala dos entrevistados. As
quatro primeiras categorias, baseadas nos fatores motivacionais, são: trabalho em
si, resultado do trabalho, desenvolvimento pessoal/profissional e reconhecimento
pelo trabalho. As demais, relacionamento interpessoal, organização do trabalho,
percepções e expectativas em relação à chefia, salário, condições de trabalho e
desempenho profissional, estão baseadas nos fatores higiênicos.
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Caracterização dos sujeitos participantes do estudo Quanto à caracterização dos


sujeitos participantes do estudo, 72,2% são do sexo feminino; 50% tem idade entre
26 e 35 anos; 50% deles são casados; 38,8% possuem entre um (1) e cinco (5) anos
de tempo de serviço na unidade e 44,4% referem renda familiar mensal entre cinco
(5) e dez (10) salários-mínimos.

Análise do conteúdo das entrevistas

A análise do conteúdo das entrevistas em relação às questões norteadoras mostra-


nos a distribuição das unidades de registro, dentre as dez categorias distintas, de
acordo com o agrupamento dos temas em fatores motivacionais e higiênicos e suas
respectivas categorias.

Tabela 1 - Distribuição numérica e percentual das unidades de registro identificadas


no discurso dos sujeitos em estudo, segundo os temas e respectivas categorias.
Ribeirão Preto, 1999 Como podemos observar, houve maior referência aos fatores
higiênicos, com 122 unidades de registro, em relação aos fatores motivacionais, que
somaram apenas 63 unidades.

Acreditamos que esta preocupação com os aspectos extrínsecos está relacionada à


negligência de algumas organizações brasileiras em relação às condições
ambientais, pois a atual situação de trabalho tem desagradado a muitos
profissionais(1).

A seguir apresentaremos os resultados e a análise dos mesmos, com relação às


questões norteadoras do estudo, de acordo com a seqüência do roteiro.

A Tabela 2 permite verificar que, entre as situações consideradas motivadoras, as


unidades de registro relacionadas à categoria “Trabalho em si”, que apresentou 16
referências, destaca-se das demais, seguida das categorias “Relacionamento
interpessoal”, com 14 referências; “Resultado do trabalho”, com 10; “Salário”, com 7;
“Organização do trabalho”, com 6; “Reconhecimento pelo trabalho”, com 3;
“Desenvolvimento pessoal/profissional” e “Desempenho profissional” com 2 citações,
respectivamente, e “Percepções e expectativas em relação à chefia” com uma
citação.
Tabela 2 - Distribuição numérica e percentual calculada com base no total (n=185)
de unidades de registro, identificadas no discurso dos sujeitos em estudo,
relacionadas às situações motivadoras. Ribeirão Preto, 1999.

Assim, ao somarmos as citações das categorias relacionadas aos fatores


motivacionais (31) e as categorias referentes aos fatores higiênicos (30),
observamos a predominância de fatores motivacionais. Podemos considerar,
portanto, a equivalência de valorização tanto dos fatores motivacionais quanto dos
higiênicos na verbalização dos entrevistados, em relação às situações motivadoras.

Diante destes valores, parece oportuno resgatar a importância da diferenciação


encontrada entre os profissionais regidos por aspectos extrínsecos daqueles
realmente motivados pelo trabalho, pois os fatores que estão fora das pessoas, os
condicionantes ou reforçadores de comportamentos, como salário, relacionamento
interpessoal, políticas organizacionais e condições ambientais de trabalho não
motivam, apenas fazem com que as pessoas se movimentem e caso estes deixem
de existir, o comportamento desejado também desaparece(11).

Quanto às categorias relacionadas a situações desmotivadoras, constata-se (Tabela


3) que a “Organização do trabalho” surge como a mais citada, com 14 indicações,
seguida do “Relacionamento interpessoal”, com 12; “Resultado do trabalho”, com 10;
“Salário”, com 9; “Reconhecimento pelo trabalho”, com 7; “Desempenho
profissional”, com 4, as categorias “Desenvolvimento pessoal/profissional”,
“Percepções e expectativas em relação à chefia” e “Condições de trabalho” com 2
cada uma.

Tabela 3 - Distribuição numérica e percentual calculada com base no total (n=185)


de unidades de registro, identificadas no discurso dos sujeitos em estudo,
relacionadas às situações desmotivadoras. Ribeirão Preto, 1999.

Convém destacar que “Trabalho em si” foi a única categoria excluída das situações
consideradas desmotivadoras e a categoria que teve maior número de citações,
quando abordamos as situações motivadoras no trabalho. Isto confirma que os
fatores motivadores referem-se ao conteúdo do cargo, às tarefas e aos deveres
relacionados com o cargo em si, produzindo efeitos duradouros de satisfação e
aumento de produtividade em níveis de excelência (6).
A distribuição das categorias referentes às sugestões apresentadas pelos
profissionais, para elevar a motivação no trabalho, demonstra, a partir da Tabela 4,
que o “Relacionamento interpessoal” apresenta-se com o maior número de citações
(18), seguido de “Organização do trabalho”, com 15; de “Salário”, com 7;
“Desenvolvimento pessoal/profissional”, com 6; “Reconhecimento pelo trabalho” e
“Desempenho profissional”, com 5 cada uma, e “Percepções e expectativas em
relação à chefia”, com 3; “Trabalho em si”, com 2 e “Condições de trabalho” com 1
citação.

Vale ressaltar que a categoria “Resultado do trabalho” não foi citada nas sugestões
apresentadas pelos profissionais, apesar da representativa aparição em relação às
situações motivadoras e desmotivadoras.

Tabela 4 - Distribuição numérica e percentual calculada com base no total (n=185)


de unidades de registro, identificadas nos discursos dos sujeitos em estudo,
relacionadas às sugestões apresentadas. Ribeirão Preto, 1999

A análise sobre a questão “Trabalho em si”, como principal motivador no trabalho,


permite inferir que o cuidado ao paciente pode ser considerado o alicerce da prática
de enfermagem, enquanto a “Organização do trabalho”, como maior desmotivadora,
alerta-nos para a importância da “saúde” das organizações. Enfim, a predominância
de sugestões acerca do “Relacionamento interpessoal” e “Organização do trabalho”
volta o enfoque para o indivíduo, agora como profissional em suas relações dentro
de um contexto organizacional, com suas características peculiares, que não impede
sua transformação e reestruturação, pois a sua finalidade é garantir que ele alcance
tanto os objetivos individuais quanto os organizacionais(13).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização deste trabalho permite concluir que o estudo da motivação, em


decorrência da sua complexidade e dificuldade, parece não ser esgotável,
necessitando, assim, de maior aprofundamento e atenção das organizações e
instituições formadoras. Além disso, há a dificuldade da abordagem do tema
“motivação” entre os elementos da equipe de enfermagem, dentro do atual contexto
dos serviços públicos de saúde no Brasil.
A política atual de racionalização de recursos humanos, materiais e financeiros é
responsável pelo achatamento salarial, devido a inexistência de reajustes, levando a
maioria desses profissionais à dupla jornada de trabalho; pela não-contratação de
pessoal, mesmo para reposição de demissões ou aposentadorias, resultando em
sobrecarga de trabalho para o pessoal e ainda pelas restrições quanto à
disponibilidade de recursos materiais que exige a constante adaptação do
profissional para a execução das tarefas diárias, significando muitas vezes, maior
tempo despendido, o que contribui para a existência de um ambiente insatisfatório.

Ao considerarmos a distribuição das unidades de registro no discurso dos


profissionais, constatamos que 122 referências são relacionadas aos fatores
higiênicos e 63 aos motivacionais. Isto confirma que algumas organizações
brasileiras negligenciam os aspectos extrínsecos do trabalho, quando deveria
ocorrer o contrário, pois como são raras as ofertas de fatores motivadores, maior
deveria ser o oferecimento de fatores higiênicos, para que o trabalho possa ser
tolerável(1).

Em relação às situações referidas como motivadoras, a categoria “Trabalho em si”


surge como mais citada, também confirmando a assertiva de que os fatores
relacionados ao próprio trabalho, às tarefas e deveres relacionados ao cargo em si,
ou seja, o cuidado ao paciente, recompensam o indivíduo, pelo fato de nele
encontrar o atendimento das próprias aspirações (1).

A segunda categoria mais referida, em relação às situações motivadoras, é


“Relacionamento interpessoal”, e por se tratar de fator higiênico e, portanto,
extrínseco, podemos considerar que o bom relacionamento no ambiente de trabalho
precisa ser garantido para que seja reduzida ao máximo a insatisfação no contexto
de trabalho, confirmando o que dissemos anteriormente.

Quanto às situações desmotivadoras, a “Organização do trabalho” predomina,


confirmando as implicações negativas em relação à motivação, provocadas pelos
aspectos relacionados à organização do trabalho, pois o modo como somos tratados
nas organizações que trabalhamos ou a que pertencemos, as normas, os valores
vigentes, os tipos de autoridade e poder exercidos afetam as ações e os motivos
que nos levam a agir(2). A seguir vem a categoria “Relacionamento interpessoal”, a
segunda mais citada como desmotivadora Vale ressaltar que entre as 10 categorias
emergentes do discurso dos profissionais, apenas “Trabalho em si” não foi referida
como desmotivadora.

As categorias mais citadas, como sugestões para elevar a motivação são


“Relacionamento interpessoal” e “Organização do trabalho”, ou seja, aspectos do
trabalho que podem ser transformados através de investimentos na área de recursos
humanos e de mudanças na política organizacional. O desejo dos profissionais
quanto às mudanças em relação a esses aspectos do trabalho merece atenção,
pois, apesar de extrínsecos, a garantia desses aspectos proporciona oportunidade
para que a motivação do profissional seja refletida no alcance dos objetivos da
organização. Vale dizer que as várias organizações dependem dos diferentes tipos
de autoridade e de poder, o que limita o envolvimento dos seus membros (2).

Tendo em vista o tema que abordamos neste estudo, ou seja, a motivação enquanto
aspecto intrínseco e individual, mas influenciada por fatores externos, não
acreditamos que caibam aqui generalizações. A análise percentual dos dados
permite apenas considerar perspectivas comuns no decorrer das experiências
vividas, numa determinada cultura, dentro de uma organização.

Este estudo, portanto, deve ser considerado uma aproximação ao tema proposto,
em especial no trabalho de enfermagem, pois seu intuito é contribuir para a maior
compreensão do fenômeno motivacional.

REFERÊNCIAS

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levantamento de um perfil motivacional brasileiro.[dissertação]. São Paulo (SP):
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1996.

9. Reis JN. A motivação humana no trabalho administrativo do enfermeiro na


realidade hospitalar: aspectos teóricos.[dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Escola de
Enfermagem/USP; 1993.

10. Cunha KC. O contexto e o processo motivacional vivenciado por enfermeiras.


[dissertação]. São Paulo (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1994.

11. Bergamini CW. Motivação. São Paulo (SP): Atlas; 1993.

12. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1991.

13. Alves-Pereira MC. Aspectos motivacionais da equipe de enfermagem no


trabalho. [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1999.

QUALIDADE DE VIDA E CAPACIDADE PARA O TRABALHO


DOS PROFISSIONAIS EM ENFERMAGEM NO TRABALHO EM
TURNOS

MARILÚ MATTÉI MARTINS


Dissertação Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em
Engenharia de Produção – Área de Ergonomia
Orientador: Prof. Édio Luiz Petroski, Dr.
Florianópolis 2002
Esta dissertação foi julgada e aprovada para a Obtenção do grau de Mestre em Engenharia de
Produção – Área de Ergonomia no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis, 13 de dezembro de 2002.
Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr.
Coordenador do Mestrado em Engenharia de Produção
Banca Examinadora
__________________________________
Prof. Alberto Saturno Madureira, Dr.
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
_______________________________
Prof. Edson Roberto de Souza, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina
____________________________
Prof. Édio Luiz Petroski, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina
Orientador

RESUMO

MARTINS, Marilú Mattéi. Qualidade de vida e capacidade para o trabalho dos


profissionais em enfermagem no trabalho em turnos. 2002. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós –Graduação em
Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis.

Este trabalho aborda a atividade dos profissionais em enfermagem, no enfoque da


Qualidade de Vida (QV) e capacidade para o trabalho. Dessa forma, o objetivo foi
investigar a QV e a capacidade para o trabalho dos profissionais de enfermagem e
sua relação com os turnos de trabalho. Trata-se de um estudo descritivo
correlacional realizado em um hospital universitário, com uma amostra de 168
profissionais em enfermagem. Utilizou-se o questionário WHOQOL-bref para avaliar
a QV e o Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) para avaliar a capacidade
para o trabalho, ambos são instrumentos de auto-avaliação e auto-aplicáveis. Além
dos questionários, o instrumento incluiu dados para caracterização da amostra, turno
de trabalho e ter ou não outro emprego. Os participantes do estudo eram adultos
jovens, com idade média de 33,7 anos, na sua maioria (92,86%) do sexo feminino,
distribuídos em 39,88% no turno da manhã, 26,19% no turno da tarde e 33,93% no
turno da noite. Dentre os resultados, observou-se que no turno da manhã 79,01%
dos trabalhadores obtiveram capacidade para o trabalho boa ou ótima e um escore
médio de 66,41 para QV; no turno da tarde 81,82% obtiveram capacidade para o
trabalho boa ou ótima e um escore médio de 66,46 para QV; e no turno da noite
91,22% se encontravam com sua capacidade para o trabalho boa ou ótima e um
escore médio de 67,91 para QV. Apenas o turno da manhã apresentou
trabalhadores com uma baixa capacidade para o trabalho. A partir dos resultados
pode-se concluir que os profissionais de enfermagem do HUOP apresentam um bom
perfil de qualidade de vida, uma boa capacidade para o trabalho e que o turno de
trabalho não interferiu nos resultados de QV e ICT. Os resultados Indicaram ainda,
haver uma relação entre a capacidade para o trabalho e a QV, pois quanto mais alto
os escores do ICT mais alto foram os escores da qualidade de vida.

Palavras-Chave: Qualidade de Vida, Capacidade para o trabalho, Enfermagem,


Trabalho em turnos.
1 INTRODUÇÃO

1.1 Exposição do Assunto

A inovação tecnológica e organizacional que vêm ocorrendo na área da saúde, seja


em hospitais públicos ou privados, busca, se não solucionar, pelo menos amenizar
as tarefas penosas ou pesadas, desenvolvidas pelos trabalhadores em enfermagem,
levando a uma nova relação homem/trabalho. Nos últimos anos têm surgido muitas
discussões sobre a qualidade de vida e o trabalho, visando o bem estar do ser
humano como homem e como trabalhador.

No Brasil, a qualidade de vida (QV) de grande parte da população tem sido


comprometida pela crescente disparidade social e desemprego e ainda pelas
mudanças sócio-demográficas; como a concentração da população na área urbana,
o envelhecimento populacional e a predominância das doenças crônico-
degenerativas. Em contrapartida; as mudanças tecnológicas alcançadas pelo
homem têm gerado um aumento de produtividade, que por sua vez, pode melhorar
os salários e as condições de trabalho e, a longo prazo, fazer progredir a qualidade
de vida e o acesso ao lazer (SANTOS et al. 1997).

A qualidade de vida das pessoas pode ser influenciada por fatores como as
condições de trabalho, satisfação no trabalho, salário, relações familiares,
disposição, estado de saúde, longevidade, lazer, prazer, hereditariedade, estilo de
vida e até espiritualidade.

A capacidade para o trabalho é a base do bem-estar do indivíduo, que sendo


afetada por fatores tais como: o estilo de vida e o ambiente de trabalho, podem ser
influenciados através da própria atividade do indivíduo (TUOMI et al. 1997). Sendo
assim, acredita-se que a qualidade de vida na qual se encontra o trabalhador poderá
trazer conseqüências positivas e/ou negativas na capacidade de trabalho.

O trabalho em turnos é uma forma de organização temporal do trabalho; cada dia


mais freqüente, devido à extensão do trabalho em turnos de vinte e quatro horas por
dia, que se dá por uma necessidade econômica, tecnológica e de atendimento à
população. Sendo cada vez maior o número de empresas que se utilizam do
trabalho em turnos, devido à necessidade de manutenção das suas atividades
durante as vinte e quatro horas, um exemplo são os hospitais que envolvem um
grande número de trabalhadores.

O trabalho em turnos é freqüentemente apontado como possível causador de


desordens fisiológicas e psicológicas e desgastes na vida social e familiar,
prejudicando o profissional na sua vida, levando ao desgaste físico e mental do
trabalhador, repercutindo sobre o seu desempenho produtivo e sua qualidade de
vida.

As perturbações da saúde se manifestam através de insônia, irritabilidade,


sonolência excessiva, fadiga contínua e mal funcionamento do aparelho digestivo e
cardiovascular. As interferências nas relações sócio-familiares são traduzidas pela
ausência do pai, mãe, amigo, namorado, filha, e outros; em momentos de datas
comemorativas, fins de semana e feriados. As conseqüências destas perturbações
são observadas a curto, médio e longo prazo, tanto na qualidade de vida do
trabalhador como de sua família, na saúde dos trabalhadores, na qualidade da
assistência prestada, na segurança do trabalho e conseqüentemente na capacidade
para o trabalho (FISCHER, 1997).

1.2 Problema de Pesquisa

Tendo em vista estas constatações, pretende-se ampliar o conhecimento sobre a


qualidade de vida e a capacidade para o trabalho dos profissionais em enfermagem.

Tal estudo, a ser desenvolvido no Hospital Universitário do Oeste do Paraná


(HUOP), levará em conta o trabalho em turnos e a percepção que o próprio indivíduo
tem de sua qualidade de vida e capacidade para o trabalho.

Neste contexto, a questão da qualidade de vida, capacidade para o trabalho e o


trabalho em turnos, estabelece uma pergunta que norteará este estudo e que poderá
ser caracterizada da seguinte forma: qual a relação entre a qualidade de vida e a
capacidade para o trabalho, considerando-se os turnos diurno e noturno de
trabalho?

1.3 Justificativas
Há mais de uma década, as empresas compreenderam que devem investir na saúde
integral do trabalhador, desde então, tem surgido muitas melhorias na relação
homem e trabalho através de programas de promoção da saúde com o objetivo de
melhorar a qualidade de vida dos empregados (SALOMÓN, 1998).

A qualidade de vida dos trabalhadores em enfermagem resulta das contradições


existentes entre os aspectos saudáveis e protetores que esse grupo desfruta e os
aspectos destrutivos de que padece, de acordo com sua inserção histórica e
específica na produção de saúde. Aspectos favoráveis consideram a possibilidade
de integração social, aprendizagem de conhecimentos e destrezas da respectiva
atividade e das relações sociais e desenvolvimento de capacidades humanas, já o
aspecto destrutivo é conformado pela exposição às sobrecargas e subcargas que
geram processos de desgastes físicos e pela falta de autonomia e criatividade.

Desta maneira, o pólo destrutivo se acumula e domina no processo de trabalho


(SILVA & MASSAROLLO, 1998).

Importantes estudos realizados na Finlândia, mostraram que a capacidade para o


trabalho não permanece satisfatória ao longo da vida, sendo afetada pelo estilo de
vida e ambiente ocupacional (TUOMI et al. 1997). O estilo de vida é um dos
parâmetros individuais que podem influenciar a qualidade de vida dos indivíduos ou
grupos populacionais, sendo um fator determinante da saúde e bem estar do ser
humano, quer seja individual, em grupo ou em comunidade.

O trabalho em turnos tem sido apontado como uma contínua e múltipla fonte de
problemas de saúde e de perturbações sócio-familiares. Sendo que, os principais
problemas que afetam os trabalhadores são: os distúrbios do ritmo biológico, as
dificuldades para conciliar o trabalho com a vida doméstica, má postura e
sobrecarga musculoesquelética, exacerbação de sintomas pré-existentes, doenças
mentais e alta demanda mental e psíquica (FISCHER et al. 2000). Todos estes
problemas expõem o trabalhador a um comportamento individual de risco para a sua
saúde e bem-estar, que poderão interferir na qualidade de vida e capacidade para o
trabalho.

Metzner & Fischer (2001) em um estudo transversal sobre a fadiga e capacidade


para o trabalho, realizado com trabalhadores de turnos diurnos e noturnos de uma
indústria têxtil, obtiveram resultados que indicaram que nem sempre o trabalho
noturno é um fator prejudicial à saúde e que variáveis como o turno de trabalho e o
estilo de vida são relevantes para explicar a percepção de capacidade para o
trabalho dos profissionais em enfermagem.

A partir deste contexto e através de uma abordagem ampla do homem e seu


trabalho, a ergonomia vem contribuir na avaliação da percepção da qualidade de
vida e da capacidade para o trabalho dos profissionais de enfermagem que
executam seu trabalho em turnos diurno e noturno, no sentido de criar subsídios
para promover a melhoria da qualidade de vida e garantir a permanência do
trabalhador no seu local de trabalho, trazendo importante contribuição para a vida
social, familiar e laborativa do trabalhador.

Entender como os profissionais de enfermagem percebem sua QV e capacidade


para o trabalho pode fornecer subsídios para o planejamento de um programa de
promoção à saúde e para que as condições de trabalho sejam continuamente
melhoradas.

O tema abordado neste estudo certamente, poderá contribuir em muito com o


conhecimento científico, que apesar de ter um considerável número de pesquisas,
ainda necessita de muita contribuição no sentido de valorizar o profissional na
educação continuada.

1.4 Objetivo Geral

Investigar a qualidade de vida e a capacidade para o trabalho dos profissionais de


enfermagem e sua relação com os turnos de trabalho.

1.5 Objetivos Específicos

Avaliar a qualidade de vida dos profissionais de enfermagem do HUOP;

Avaliar a capacidade para o trabalho dos profissionais de enfermagem do HUOP;

Comparar o perfil de qualidade de vida e o índice de capacidade para o trabalho dos


profissionais de enfermagem nos turnos de trabalho da manhã, tarde e noite;
Relacionar a qualidade de vida com o índice de capacidade para o trabalho dos
profissionais de enfermagem do HUOP.

1.6 Questões a Investigar

Considerando-se os dados coletados no Hospital Universitário do Oeste do Paraná,


procurou-se responder as seguintes questões:

Qual é a percepção dos profissionais de enfermagem sobre a sua qualidade de


vida?

Qual é a percepção dos profissionais de enfermagem sobre a sua capacidade para o


trabalho?

Há diferença do perfil de qualidade de vida e do índice de capacidade para o


trabalho entre os trabalhadores dos turnos manhã, tarde e noite?

Há uma relação entre a capacidade para o trabalho e a qualidade de vida?

1.7 Delimitação da Área de Trabalho

O escopo deste estudo é determinar a percepção da qualidade de vida e a


capacidade para o trabalho dos profissionais em enfermagem da área da saúde
hospitalar, considerando os turnos diurno e noturno de trabalho. A análise será
focada na determinação do perfil de qualidade de vida, na atual capacidade para o
trabalho e no turno em que o trabalhador desenvolve a sua tarefa, fundamentando-
se nos achados da literatura.

1.8 Estrutura e Desenvolvimento do Trabalho

Este trabalho é composto por cinco capítulos, no primeiro capítulo estão expostos os
principais aspectos a serem desenvolvidos no trabalho e que irão nortear a pesquisa
e direcionar os demais capítulos. A exposição do assunto contextualiza o tema
pesquisado; o problema de pesquisa mostra a situação a ser pesquisada; a
justificativa apresenta as razões relevantes para o maior aprofundamento do assunto
emergente; o objetivo geral sintetiza o resultado esperado; os objetivos específicos
informam detalhadamente os passos que serão percorridos e para finalizar está a
estrutura do trabalho.
O segundo capítulo apresenta a fundamentação teórica, que expõe as informações
sobre a atividade de enfermagem, a qualidade de vida, a capacidade para o trabalho
e o trabalho em turnos, buscando embasamento teórico e metodológico para
relacionar a qualidade de vida e a capacidade para o trabalho com os turnos de
trabalho.

No terceiro capítulo trata-se do ferramental utilizado para a realização da pesquisa,


apresentando o tipo de pesquisa, a população, os instrumentos utilizados, os
procedimentos para a coleta de dados e a análise dos dados, suporte para a
resolução do problema central do trabalho.

No quarto capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos, atendendo


aos objetivos da pesquisa.

O quinto capítulo, referente a conclusão, sintetiza os resultados obtidos com a


pesquisa, explicitando de que forma os objetivos iniciais foram alcançados, aduzindo
recomendações para o desenvolvimento de trabalhos futuros.

Por fim, estão incluídas as referências bibliográficas e os anexos, que propiciam


uma opção para maiores informações e explicações sobre o exposto no decorrer do
trabalho.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 O Trabalho de Enfermagem

A prática profissional de enfermagem compreende a assistência/cuidado, educação


e pesquisa e administração. A prática assistencial/cuidado consiste no que há de
mais expressivo na enfermagem, sendo este o seu propósito primordial, enquanto
que a prática educativa e de pesquisa são o corpo de conhecimento para o
desenvolvimento da prática e o gerenciamento, a planificação e o projeto que
envolvem este conjunto, vem sendo compreendido como administração da prática
profissional de enfermagem, portanto, é a prática assistencial/cuidado que diferencia
os profissionais de enfermagem dos outros profissionais da saúde (TRENTINI &
PAIM, 2001).
O trabalho de enfermagem se situa no contexto do setor saúde, sendo portanto, um
trabalho coletivo, agregado ao trabalho dos demais profissionais da saúde.

Assim, o processo assistencial congrega diferentes trabalhadores, instrumentos e


finalidades específicas, com um objetivo comum, que é a saúde do paciente.

Para Leopardi, Gelbcke & Ramos (2001) a enfermagem é um trabalho complexo,


combinando três ações básicas, não dissociadas, ou seja, a educação em saúde, o
cuidado e a gerência dos sistemas de enfermagem. Educar é um processo de
trabalho dirigido para a transformação da consciência individual e coletiva de saúde,
de modo que as pessoas possam fazer escolhas. Cuidar é uma ação com finalidade
de transformar um estado percebido de desconforto ou dor em um outro estado de
mais conforto e menos dor, logo, tem uma perspectiva terapêutica sobre um objeto
animado, que tem uma natureza física e social. Enquanto que, gerenciar tem uma
finalidade genérica de organizar o espaço terapêutico, desenvolvendo condições
para a realização do cuidado, e uma finalidade específica de distribuição e controle
do trabalho da equipe de enfermagem.

No processo de trabalho o cuidado tem como finalidade atender as necessidades


relacionadas à manutenção da saúde como condição de sua natureza como ser
vivo.

Inicialmente a formação dos enfermeiros era voltada para a Saúde Pública, porém
no início dos anos vinte os interesses da Medicina Clínica começaram a direcionar a
profissionalização da enfermagem para o campo hospitalar, que por ter um caráter
individualista e curativo, este tipo de assistência exigia uma equipe com maior
número de pessoal de enfermagem. O avanço da Medicina Hospitalar, no Brasil, se
amplia e progressivamente vai se tornando predominante na atenção à saúde
(RIZZOTTO, 1999).

A formação dos profissionais de enfermagem ocorre em diferentes graus, a saber: o


grau de auxiliar de enfermagem, de técnico de enfermagem e de enfermeiro, que
apesar de formar uma equipe com diferentes graus de conhecimento, as suas
atribuições ao cuidar do paciente ou cliente são semelhantes0. Isto contribui para
que a sociedade e até mesmo a equipe de saúde não perceba a diferença entre as
diversas categorias da equipe de enfermagem, assim como as funções específicas
de cada uma.

De acordo com Costa, Morita & Martinez (2000) ocorre também uma divisão técnica
do trabalho que opera verticalmente, com base na redistribuição das tarefas entre
profissionais de diferentes níveis de qualificação, gerando uma importante demanda
de pessoal auxiliar de enfermagem.

Segundo Lopes (2000) a concentração dos enfermeiros nos hospitais, propiciou a


formação de outras categorias; como o auxiliar de enfermagem, acentuando, assim,
a divisão do trabalho em cuidado direto ao paciente, pelos auxiliares, e a
administração burocrática, pelos enfermeiros. Esta subdivisão também faz com que
a sociedade não perceba as diversas categorias da equipe de enfermagem.

Para Gonzales (1998) a falta de valor social está concretizado nos baixos salários
que expressam a desvalorização dos profissionais de enfermagem, que trazem
consigo o legado de uma história calcada na submissão, abnegação, caridade e
vocação para cuidar do próximo.

A consolidação dos hospitais como local para diagnóstico, tratamento, cura e


pesquisa dos problemas de saúde dá origem ao trabalho em equipe, ficando para a
enfermagem, além das funções referentes à profissão, a execução da tarefa
prescrita pelo médico. Desta forma o que se observa no cotidiano hospitalar é a
presença de um grande contingente de trabalhadores na área de enfermagem, que
no seu trabalho diário deparam-se com dificuldades inerentes ao seu processo de
trabalho e a sua própria subjetividade.

A enfermagem como profissão, tem como pilar o conhecimento científico, este


compreendido de modo ampliado em correntes, métodos e técnicas que vão além
dos esquemas tradicionais de pesquisa e reconstrói o conhecimento apropriado ao
desempenho dos profissionais (TRENTINI & PAIM, 2001).

Os recursos humanos em enfermagem são considerados um dos fatores mais


relevantes na operacionalização do sistema de assistência de enfermagem, tanto no
que diz respeito aos aspectos quantitativo como qualitativo de pessoal, quanto ao
que se refere à função que cada trabalhador deve desenvolver. O cálculo de pessoal
deve estar de acordo com a filosofia da assistência de enfermagem pretendida
quanto à quantidade de funcionários e a proporção entre as diferentes categorias
que compõem a equipe de enfermagem (BENKO, 1989).

A enfermagem é uma equipe formada por enfermeiros, técnicos de enfermagem e


auxiliares de enfermagem que são categorias regulamentadas por lei e que
participam de forma direta, através do cuidado individualizado e integral, do
processo de cura e reabilitação do paciente. O trabalho desta equipe é desenvolvido
em turnos, com carga-horária estipulada de 36 horas semanais. Comumente os
turnos de trabalho são das 7:00 às 13:00 h (manhã), das 13:00 às 19:00 h (tarde) e
19:00 às 07:00 h (noite). A jornada de trabalho é pré-estabelecida através de escala
de trabalho que atendem à necessidade da instituição. Geralmente existe uma
sobrecarga de trabalho devido à disposição de recursos humanos que pode ser
insuficiente ou inadequadamente distribuída entre os turnos e setores de trabalho.

As atividades de enfermagem se iniciam na passagem de plantão, ou seja, na troca


de turno de trabalho.

Os objetivos do trabalho da enfermagem são as atividades inerentes aos cuidados


com o paciente e sua família. É um trabalho exigente, complexo e intencional, com
particularidades, tais como: a assistência ininterrupta ao paciente nas vinte e quatro
horas do dia, a necessidade de estabelecer relações interpessoais com colegas,
pacientes e seus familiares, e a necessidade de regimentos, normas e rotinas pré-
estabelecidas para cada serviço, dentre outros aspectos (BECK, 2001).

Segundo Beck (2001) as situações vivenciadas pelos profissionais de enfermagem


ao cuidar de pacientes que requerem cuidados, tanto físico, quanto emocional, ficam
expostos a riscos de ordem física e psíquica. Estas situações de risco têm um
significado personalizado para cada trabalhador, com um mecanismo de defesa
também particular. Outro resultado desses aspectos é a satisfação e insatisfação
presente no cotidiano dos trabalhadores, sendo importante na qualidade de vida e
trabalho. Positivamente o trabalho de enfermagem predispõe a formação de
mecanismos de defesa, de resistência de enfrentamento, com os quais os
trabalhadores buscam um relativo equilíbrio para a execução de suas tarefas.
Este estudo visou analisar o trabalhador inserido num contexto real, observando
como o trabalhador de enfermagem se comporta ao executar o que lhe é imposto
pela organização do trabalho e como este comportamento interfere na sua
capacidade para o trabalho e qualidade de vida.

A formação profissional recebida nos cursos de enfermagem, técnico ou auxiliar de


enfermagem valoriza a prática e com isso ao entrar no mercado de trabalho, estes
profissionais são absorvidos pelo trabalho que é fatigante e que exige apenas o
fazer, de preferência cumprindo à risca as exigências da instituição (GONZALES,
1998).

Nesta perspectiva, as situações de trabalho vivenciadas pelos profissionais de


enfermagem, na maioria das vezes, o força a realizar atividades em posturas
constrangedoras. Segundo Lautert, Chaves & Moura (1999) essas posturas
inadequadas e forçadas potencializam o aparecimento de alterações músculo-
articulares e a sobrecarga, tanto qualitativa como quantitativa, de trabalho que
produz vários sintomas de estresse psicológico e físico.

A situação de assistir ao doente coloca o profissional de enfermagem em uma


posição de total doação, o que muitas vezes leva o trabalhador a abdicar de sua
própria saúde em benefício de seu doente. Segundo Tanaka et al. (1988) o
profissional de enfermagem deve ter preparo técnico e intelectual, ter a sua
disposição recursos materiais e ter saúde física e mental para desempenhar a sua
tarefa. É um trabalho que exige um estado de alerta constante e grande consumo de
energia física, mental e emocional por parte do trabalhador.

Dentro deste contexto, os profissionais de enfermagem devem visar a concepção de


situações de trabalho que não alterem a sua saúde, locais onde possam exercer
suas atividades em um plano individual e coletivo, encontrando possibilidades de
valorização de suas capacidades e condições de trabalho adaptados às suas
características fisiológicas e psicológicas, garantindo deste modo, a manutenção de
sua saúde e qualidade de vida.

2.2 Qualidade de Vida


O termo qualidade de vida está presente em muitos estudos, com abordagens
relacionadas ao trabalho, à saúde, e uma visão holística da vida humana, com
conceitos específicos de cada área. Porém, para este estudo optou-se por uma
acepção global da qualidade de vida, definida pelo Grupo de Qualidade de Vida da
Organização Mundial da Saúde como “a percepção do indivíduo de sua posição na
vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação
aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (WHO, 1998 p.17). Este
constructo engloba de maneira ampla a saúde física, o estado psicológico, o nível de
independência, as relações sociais, as crenças pessoais e a relação com as
características salientes do meio ambiente de uma pessoa.

Nesta definição é ressaltada a natureza subjetiva da avaliação, com dimensões;


tanto positivas, como negativas, estando arraigada em um contexto cultural, social e
ambiental, ressaltando a percepção do respondente sobre sua qualidade de vida.

Para Gonzales (1998) a satisfação no trabalho é um dos pilares fundamentais na


construção do conceito de qualidade de vida, devido o trabalho ocupar grande parte
da vida, estabelecer relações e dimensionar diferentes possibilidades que emergem
da sua maior ou menor valorização social. A qualidade de vida reflete também, o
grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social, ambiental e para a
própria estética existencial de indivíduos e coletividades.

A assistência em enfermagem é uma atividade desgastante e estressante, devido


envolver o convívio diário com o sofrimento alheio, exigir constante atualização e
habilidades manuais, haver permanente cobrança de responsabilidades, manter
bom relacionamento com a clientela e com a equipe multiprofissional, submeter-se a
políticas que restringem a sua atuação com a falta de recursos humanos e materiais.

Estas condições de trabalho proporcionam uma insatisfação no trabalho, que vem


afetar diretamente os profissionais de enfermagem e sua qualidade de vida no
trabalho.

A qualidade de vida sob o enfoque da determinação social, abordado por Silva &
Massarollo (1998), expressa que o trabalho de enfermagem, realizado sob a
necessidade de geração de lucro e competitividade, decorrente da sua inserção
específica na prestação de assistência à saúde da sociedade brasileira, gera um
acúmulo de processos destrutivos que comprometem a potencialidade de saúde e
vida, desfavorecendo a qualidade de vida.

Os processos destrutivos e os processos potencializadores da saúde ocorrem


simultaneamente no momento de trabalho e no momento de consumo. Assim,
quando os processos destrutivos se intensificam, ocorre o favorecimento da doença,
do envelhecimento precoce e da perda da capacidade ocupacional. Por outro lado,
quando os aspectos saudáveis e protetores se expandem há o favorecimento da
saúde e da vida. Portanto, é nas contradições da reprodução social que a qualidade
de vida é gerada.

Hahn & Camponogara (1997) partindo de situações reais de insatisfação no


trabalho da enfermagem, consideram que a conscientização acerca das questões
do cotidiano, a visão holística do trabalhador e a democratização do ambiente de
trabalho é o caminho para a conquista da cidadania e conseqüente melhores
condições de vida no trabalho. Concluem que é através de uma abordagem mais
humanizada do trabalhador de enfermagem que minimizará a distância entre o
pensar e o agir, proporcionando maior satisfação no ambiente de trabalho e elevado
nível de assistência e, por conseguinte, melhor qualidade de vida.

A análise feita por Oliveira (1997) em um estudo sobre as novas formas de


organização do trabalho, implantadas pelos Programas de Qualidade Total que
modificam as relações de trabalho, podendo ser reportado ao setor hospitalar sob o
ponto de vista de que a busca da qualidade do produto, neste caso a qualidade da
assistência à saúde, atinge os trabalhadores gerando sobrecargas na saúde física e
mental. Concluindo que esses programas são pensados para aumentar a qualidade
do produto, sem contudo, modificar a qualidade de vida dos trabalhadores.

Para Fernandes (1996) os programas de qualidade tendem ao fracasso por não se


mostrarem consistentes e não contarem com o comprometimento das pessoas.

Outro ponto é supor que se pode obter qualidade de produtos e serviços mesmo
quando a qualidade de vida de quem produz apresenta baixos níveis de satisfação.
Desta forma, também é observado no âmbito hospitalar uma preocupação com a
qualidade da assistência prestada ao paciente sem, contudo considerar a satisfação
do trabalhador de enfermagem.

Os programas de Qualidade Total promovem melhorias das condições de trabalho e


na maioria das vezes, restritas às questões de higiene, limpeza e maior organização
nos locais de trabalho. Porém, deixam de abranger pontos fundamentais para a
saúde dos trabalhadores, como o trabalho em turnos e as sobrecargas física e
mental do trabalho da enfermagem hospitalar que trazem conseqüências negativas
para a qualidade de vida.

Frente às mudanças percebidas e vivenciadas pela sociedade, os serviços têm se


forçado a modernizar-se, de forma a reestruturar seu processo de trabalho e investir
no seu maior patrimônio: o trabalhador (LENZI & CORRÊA, 2000). Desta forma, a
qualidade de vida no trabalho está relacionada diretamente com a satisfação de
necessidades, a realização de objetivos, a manutenção de ideais e a saúde do
trabalhador. Portanto, a qualidade eleva-se e se torna mais refinada à medida em
que o homem satisfaz um número maior de suas necessidades, tornando-se
independente (GRAMSCI apud OLIVEIRA, 1997).

A qualidade de vida no trabalho envolve muitas variáveis e subjetividade que


dificulta o estabelecimento exato dos determinantes para a sua obtenção e
manutenção (TEIXEIRA, 2001). Porém, fatores ambientais, estilo de vida, aspectos
cognitivos, sociais e organizacionais devem ser considerados na obtenção da
qualidade de vida do trabalhador.

De acordo com Búrigo (1997) o homem sempre se preocupou com a qualidade de


vida no trabalho, onde a mesma passa pela percepção da qualidade de vida, pois o
trabalho não pode estar isolado da vida das pessoas. Sendo assim, a insatisfação e
a alienação no trabalho interferem nas outras esferas da vida.

Para que os programas de qualidade de vida aplicados no local de trabalho, caso


dos profissionais pesquisados no HUOP, cumpram com seu objetivo é necessário
em primeiro lugar a conscientização e interesse do conteúdo do programa a ser
implementado, em segundo lugar que se implante as mudanças nos hábitos a fim de
melhorar a qualidade de vida pessoal, e em terceiro lugar; a criação de um ambiente
de trabalho que atenda a um estilo de vida saudável (FACCI, 1996). Estes
programas devem atender a saúde física, emocional, social, intelectual e espiritual
dos trabalhadores, sendo a melhor forma de promover uma melhor qualidade de
vida para os funcionários.

Embora as inovações tecnológicas e organizacionais têm melhorado as condições


de trabalho, num contexto geral observam-se poucas mudanças nas cargas física e
mental do trabalho desenvolvido no setor hospitalar.

Através de um processo educativo, no sentido da transformação da prática pelos


benefícios à saúde do trabalhador, proporciona-se uma vivência segura das
atividades da enfermagem. Deste modo, ocorre uma forma de agir melhor,
propiciada por um ambiente de trabalho tranqüilo, oferecendo as condições para o
desempenho do exercício profissional seguro, que reverta em uma melhor qualidade
de vida e de trabalho. Uma qualidade de vida alicerçada no desenvolvimento de uma
prática segura e digna de seres humanos trabalhando com seres humanos.

Os profissionais de enfermagem do setor hospitalar atuam de forma curativa, porém


este não é um empecilho para que promovam a saúde e a prevenção de outras
doenças, intervindo junto ao paciente e sua família, para que melhorem sua
qualidade de vida. Uma das estratégias apontadas por Mendes et al. (1994) para
que isto se concretize é o treinamento e a educação continuada do próprio
trabalhador sobre a promoção da saúde, que os torna mais conscientes e
compromissados em passarem os novos conhecimentos, não só para a clientela,
como para os familiares, contribuindo desta forma, para um melhor perfil de
qualidade de vida pessoal, familiar e da comunidade.

2.3 Capacidade para o Trabalho

A capacidade para o trabalho, dentro da área da saúde ocupacional, pode ser


conceituada de acordo com Tuomi et al. (1997) como o quão bem está, ou estará,
um trabalhador presentemente, ou num futuro próximo, e quão capaz ele pode
executar o seu trabalho, em função das exigências, de seu estado de saúde e de
sua capacidade física e mental.
De uma outra forma, pode-se conceituar a capacidade para o trabalho, partindo-se
do significado da palavra “capacidade” que é a qualidade que a pessoa tem de
satisfazer para determinado fim e da palavra “trabalho” que é a atividade
coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer
tarefa, serviço ou empreendimento (FERREIRA, 2000). Portanto, capacidade para o
trabalho pode ser a qualidade física e/ou mental com que o homem desenvolve o
seu trabalho.

Segundo Tuomi et al. (1997) a capacidade para o trabalho é a base do bem-estar


para o ser humano e não permanece satisfatória ao longo da vida, sendo afetada
por muitos fatores. Entretanto, um ambiente de trabalho saudável e um estilo de vida
ativo mudam este prognóstico.

A capacidade para o trabalho, quando considerada como o desempenho efetivo e


eficiente de tarefas dentro de uma atividade previamente determinada, resulta em
bem-estar para todos os trabalhadores. Desta forma, é necessário intervir positiva e
precocemente no sentido de manter uma boa qualidade de vida e na vida pessoal
dos trabalhadores (VAHL NETO, 1999).

Muitos estudos abordam o tema capacidade para o trabalho, em áreas de


conhecimento e pontos de vista diferentes, obtendo desta forma, variados fatores,
positivos e negativos, que geram suas influências sobre a capacidade para o
trabalho. A seguir são descritos alguns estudos que têm relação com as metas desta
pesquisa.

Resultados encontrados por Bellusci et al. (1999) em um estudo sobre a capacidade


para o trabalho de funcionários de um hospital filantrópico apontam para a
relevância de estressores ambientais e organizacionais do ambiente de trabalho e
seu possível impacto sobre a saúde dos trabalhadores em geral. A equipe de
enfermagem apresentou 1,9 vez mais chances de perda de capacidade para o
trabalho que os outros funcionários. O sexo feminino também apresentou 1,9 vez
mais chances do que o sexo masculino de perderem precocemente a capacidade
para o trabalho. A idade não mostrou associação com a perda de capacidade para o
trabalho. Este estudo demonstrou a importância da função profissional na perda da
capacidade para o trabalho.
Metzner & Fischer (2001) analisando fatores que interferem na percepção de fadiga
e capacidade para o trabalho de trabalhadores de turnos fixos diurnos e noturnos
obtiveram resultados que indicam que fatores, como maior tempo de trabalho na
função, ter dificuldade em adormecer e consumir bebida alcoólica diminuem o Índice
de Capacidade para o Trabalho (ICT) e que melhores condições de trabalho e o
trabalho no turno da noite aumentam o índice de capacidade para o trabalho.
Verificaram também que o turno de trabalho, as características e o estilo de vida são
relevantes para explicar a percepção de capacidade para o trabalho e de fadiga dos
trabalhadores.

Ao pesquisar sobre o envelhecimento e condições de trabalho Bellusci (1998)


observou que as variáveis sexo, idade e tempo de serviço apresentaram associação
significativa com perda da capacidade para o trabalho. Onde as mulheres
apresentaram 2,1 vezes mais chance de ter o ICT baixo ou moderado do que os
homens, a faixa etária compreendida entre 40 e 50 anos apresentou maior
probabilidade de ter o ICT moderado ou baixo e quanto maior o tempo de serviço
maior a chance de ter o ICT baixo ou moderado.

Monteiro (1999) ao pesquisar o envelhecimento e capacidade para o trabalho


observou que o melhor desempenho no índice de capacidade para o trabalho do
grupo de mais idade está relacionado ao fato de terem menos doenças e/ou
doenças que causam menor impedimento ao trabalho. Concluindo que na população
de estudo o principal fator com efeito negativo na capacidade para o trabalho esteve
relacionado à doença e não à faixa etária.

Resultados de uma pesquisa de onze anos realizada por Seitsamo & Ilmarinen
(1997) na Finlândia, com trabalhadores municipais, indicaram que os trabalhadores
que mantiveram uma boa capacidade para o trabalho foram os que se mantiveram
mais ativos e mais satisfeitos com sua vida, que a atividade física aumentou entre os
indivíduos de ambos os sexos e que as mulheres aumentaram seu grau de
satisfação com sua situação de vida. Concluíram que há uma forte associação entre
o estilo de vida, capacidade para o trabalho e saúde, onde indivíduos com atividade
física e mais satisfeitos com sua vida mantiveram uma boa capacidade para o
trabalho durante o período do estudo.
Deve existir um equilíbrio entre a capacidade dos trabalhadores e as exigências e
fatores estressantes do trabalho para que não se perca a capacidade para o
trabalho. Portanto, é necessário uma avaliação freqüente dos agentes que
desencadeiam sintomas, lesões, doenças e das melhorias das condições de
trabalho. Os estudos sobre o ambiente de trabalho, as alterações fisiológicas, as
mudanças na capacidade para o trabalho e a influência da organização e dos
aspectos físicos e ergonômicos do trabalho propiciam soluções para incrementar o
equilíbrio da relação entre capacidades e demandas de trabalho. É também
necessário proporcionar ao trabalhador um estilo de vida ativo e saudável e
condições de trabalho adequadas para otimizar a capacidade funcional e a saúde
dos trabalhadores (BELLUSCI & FISCHER, 1999).

Monteiro & Gomes (1998) ao pesquisar sobre as características de administração


participativa no trabalho e sua relação com a saúde dos trabalhadores, encontraram,
com relação à percepção e o significado atribuído ao trabalho, como efeitos positivos
à vivência no trabalho, ressaltando a liberdade e o respeito sentido, sendo acrescido
de uma melhora na vida fora do trabalho, bom relacionamento com os colegas, com
as chefias, a solidariedade e a confiança. Como efeitos negativos sobre as pessoas
a intensificação do ritmo de trabalho, que afeta a vida familiar e interfere na saúde
do trabalhador. Efeitos estes que de forma direta ou indireta podem influenciar na
capacidade para o trabalho.

O processo de envelhecimento normal tem características próprias e esperadas em


qualquer pessoa, porém estas características podem modificar-se devido à atividade
laboral. Ao exercer sua atividade laboral ao longo da vida, o organismo do
trabalhador sofre alterações decorrentes do trabalho e da forma de como ele o
exerce. Quando o trabalho é realizado em más condições ambientais de trabalho ou
de forma incorreta ele pode acelerar ou agravar o envelhecimento, tornando-o
patológico e com sérias repercussões sobre a capacidade para o trabalho e
qualidade de vida destes trabalhadores (ODEBRECHT, GONÇALVES & SELL,
2001).

Vahl Neto (1999) ao relacionar a qualidade de vida e capacidade de trabalho em


diferentes faixas etárias de trabalhadores do setor administrativo e operacional de
uma companhia elétrica, não constatou diferença significativa no índice de qualidade
de vida e no índice de capacidade para o trabalho entre os funcionários
administrativos e operacionais em todas as faixas etárias. Entretanto, verificou a
existência de uma pequena correlação entre a capacidade de trabalho e a qualidade
de vida, demonstrando que a previsão de interferência acentuada entre as
atividades profissionais e a vida das pessoas não é tão relevante quanto ao
preconizado pela literatura.

A ergonomia tem o importante papel de projetar os postos de trabalho de forma que


possam ser modificados e adaptados à medida em que o trabalhador vai
envelhecendo, atendendo ao processo de vida do ser humano.

Resultados obtidos por Tuomi et al. (1997) ao pesquisar as mudanças na


capacidade para o trabalho mostraram que a melhoria desta capacidade está
relacionada com a diminuição de movimentos repetitivos no trabalho, aumento de
atividade física nas horas de lazer e melhores atitudes por parte do supervisor.

Enquanto que a deterioração da capacidade para o trabalho está relacionada à falta


de reconhecimento e estima, às condições inadequadas do ambiente e do tempo
prolongado de trabalho e da vida sedentária.

O próprio trabalhador tem um conceito sobre a sua capacidade para o trabalho, que
segundo estudos do Instituto de Saúde Ocupacional na Finlândia, este conceito
pode diagnosticar e permitir um prognóstico confiável das mudanças ocorridas na
capacidade para o trabalho durante a vida laborativa do trabalhador em diferentes
grupos ocupacionais.

2.4 Trabalho em Turnos, a Qualidade de Vida e a Capacidade para o Trabalho

O trabalho em turnos vem ocorrendo com uma freqüência cada vez maior; com
razões que vão desde motivos de ordem técnica e econômica e ao atendimento das
necessidades básicas da sociedade, envolvendo assim, o ser humano como
elemento principal do processo de trabalho. Desta forma, os trabalhadores são
expostos a numerosos fatores perturbadores da saúde, como alterações de ritmos
biológicos, perturbações do sono e alterações cardiovasculares, gastrintestinais e
nervosas, trazendo desconforto, restringindo a vida social e familiar e
potencializando doenças. Tais fatores estabelecem uma complexa relação entre
trabalho, qualidade de vida e capacidade para o trabalho.

Devido a determinados aspectos da organização do trabalho, o tempo transforma-se


na própria medida da atividade caracterizando a produtividade e sendo a base da
remuneração. O tempo biológico desaparece e o trabalhador deve adaptar-se ao
quadro temporal que é imposto, enquanto que o trabalho em turnos aumenta em
termos de quantidade e qualidade de trabalho exigidas por unidades de tempo. Uma
duração diária de oito horas de atividade profissional constitui um limiar, além do
qual decai a qualidade ou a quantidade de trabalho executado pelo trabalhador
(LAVILLE, 1977).

No ramo de atividade hospitalar, é inadmissível a interrupção de sua assistência em


qualquer horário e dia, tendo a instituição de organizar-se com trabalho em turnos
para o atendimento continuado à população.

O termo “trabalho em turnos” possui vários constructos e múltiplas combinações na


organização do trabalho. A definição de trabalho em turnos proposta por Maurice
apud Fischer (1981) é a que melhor expressa os arranjos na organização do
trabalho onde no trabalho em turnos, um turno é seguido por outro e há continuação
do trabalho interrompido pelo turno precedente por um segundo ou terceiro turno de
operações, caracterizado por uma continuidade da produção e uma quebra da
continuidade no trabalho realizado por cada trabalhador.

O trabalho em turnos pode ser em esquemas de rotatividade ou fixo, cada um com


suas vantagens e desvantagens. Porém, estudos comparativos entre os dois turnos,
fixos e rotativos, mostram que os turnos fixos são mais vantajosos do ponto de vista
fisiológico. Porém, o mais importante é que a elaboração de um esquema de
trabalho em turnos seja organizada de forma a provocar o menor desgaste possível
à saúde e ao convívio social dos trabalhadores.

Existem muitas possibilidades de divisão dos turnos de trabalho, determinados pela


carga horária semanal e outras condições especiais de trabalho nas empresas.

Na área hospitalar, os turnos de trabalho são comumente organizados em manhã,


tarde e noite, sendo equipes de 6 horas diárias para os períodos diurnos e 12 horas
para o noturno, num total de 36 horas semanais, sendo os turnos fixos, onde os
trabalhadores permanecem sempre no mesmo turno, isto é, trabalham sempre a
mesma hora ou período.

Estudos de Fischer (1997) apresentam muitas variáveis que podem melhorar ou


piorar a tolerância ao trabalho em turnos, estando ligadas às condições de vida e
trabalho como: o meio ambiente, fatores psicossociais, situação política, econômica
e social do país, escalas e carga de trabalho; e às características individuais e suas
relações com a tolerância ao turno de trabalho. É a interrelação entre estas
condições que determinarão a tolerância ao trabalho, sendo distinta para cada
trabalhador, tais como: o grau de tolerância e a forma que o trabalhador se adaptará
ao trabalho em turnos determinará em grande parte a sua qualidade de vida.

O trabalho dos profissionais de enfermagem no âmbito hospitalar está entre uma


das profissões amplamente estudadas, onde o trabalho em turnos aparece como um
fator estressor, visto que um percentual significativo de pessoas que trabalham
neste sistema de horário relata uma série de perturbações, principalmente físicas
(LAUTERT, CHAVES & MOURA, 1999). Algumas das perturbações mais conhecidas
são os distúrbios do ritmo biológico, as dificuldades para conciliar o trabalho com a
vida doméstica, má postura e sobrecarga musculoesquelética, exacerbação de
sintomas pré-existentes e doenças mentais e alta demanda mental e psíquica
(FISCHER et al. 2000). Muitos destes fatores perturbadores da saúde trazem
desconforto, restringem a participação dos trabalhadores nas atividades sócio-
familiares, são potencializadores de doenças e diminuem a qualidade de vida.

Costa, Morita & Martinez (2000) estudando os efeitos do trabalho em turnos sobre a
saúde e a vida social de uma equipe de enfermagem hospitalar concluiu que a
saúde é afetada principalmente por distúrbios neuropsíquicos, cardiovasculares e
gastrintestinais; a vida social é prejudicada, em primeiro lugar, pela interferência no
relacionamento pessoal e familiar, em segundo, pelas restrições das atividades
sociais e, em terceiro, pela dificuldade de planejar a vida. Visto que há uma
predominância de indivíduos em plena capacidade produtiva sendo a maioria
casada e com filhos. Desta forma evidencia-se a ligação dos efeitos do trabalho em
turnos na qualidade de vida e capacidade para o trabalho.
Entre os horários de trabalho existentes o que causa um maior número de
perturbações é o trabalho noturno, devido o organismo humano estar adaptado ao
trabalho durante o dia e ao descanso e reconstituição das energias durante a noite.

Assim, o trabalho noturno exige atividade do organismo quando ele está predisposto
a descansar, e vice-versa. Também a sociedade é organizada para um ciclo diário
de trabalho-lazer-sono. A execução do trabalho noturno é influenciada por fatores
como o ritmo circadiano, tipo de atividade e características individuais, acarretando
alterações do sono, distúrbios gastrintestinais e cardiovasculares, desordens
psíquicas e desajustes da vida social e familiar (GRANDJEAN, 1998; IIDA, 1998).

Enfocando a questão de gênero e o trabalho noturno, Rotenberg et al. (2001)


observaram efeitos prejudiciais do sono mais sobre as mulheres, e de forma intensa
a saúde, o lazer, os estudos e as relações amorosas são afetados tanto nas
mulheres como nos homens. Os resultados revelam uma dimensão do trabalho que
aparentemente independe do processo de trabalho em si, mas sim, do fato de este
ser realizado à noite, resultando numa relação complexa entre trabalho e qualidade
de vida.

Segundo a literatura há uma predominância do sexo feminino na força de trabalho


na área de enfermagem; assim sendo, há um empobrecimento da qualidade de vida
que tem relação com as dificuldades que as mulheres apresentam em realizar
concomitantemente os trabalhos de dona de casa e suas atividades profissionais
(WAIDELE, 1996). No trabalho em turnos, muitas são as maneiras que diferenciam
as mulheres dos homens, indo desde as diferenças biológicas até o seu papel na
família, isto as faz sentir dificuldades distintas dos homens. O fato de a dupla carga
de trabalho, doméstica e o trabalho profissional fora de casa, faz com que as
mulheres sejam mais atingidas (FISCHER, LIEBER & BROWN, 1999).

Regis Filho & Lopes (1997) ao estudar o trabalho noturno e o estresse concluíram
que o trabalho noturno possui situações únicas que necessitam soluções
personalizadas, que possibilitem uma melhor qualidade de vida não só no trabalho,
mas que leve em consideração os aspectos psicossociais de cada trabalhador.

Tanaka et al. (1988) ao estudar algumas condições que podem dificultar a


assistência de enfermagem no trabalho noturno observou que a maioria dos
entrevistados trabalha no turno da noite por uma necessidade, que 80,85% tem
outro emprego, que a maioria não repousa o tempo necessário para recuperar as
energias, que não há período para descanso durante o plantão e nem local
adequado para fazê-lo, que há déficit de recursos humanos e que a maioria são
insatisfeitos com a assistência prestada no plantão noturno. Todos estes fatores
afetam a qualidade da assistência prestada ao cliente. Porém, sob a ótica da
ergonomia, estes fatores comprometem primeiramente a saúde física e mental do
trabalhador com conseqüências negativas sobre a sua capacidade para o trabalho e
sua qualidade de vida.

Dados semelhantes foram encontrados por Salles et al. (2001) ao realizar a análise
ergonômica do trabalho em turnos de técnicos de enfermagem onde o trabalho
noturno gerou maior carga mental em função da fragilidade dos pacientes neste
horário, exigindo mais atenção e a falta de local adequado para descanso gera
fadiga e insatisfação com as condições de trabalho. No turno da manhã ocorreu
maior desgaste na execução das atividades, por apresentar maior demanda de
esforço físico em função dos procedimentos de higiene dos pacientes. Observou-se
ainda, que em todos os turnos de trabalho os profissionais estavam satisfeitos com
sua qualidade de vida e que os trabalhadores do turno noturno sofrem um grande
desgaste físico e mental por não repor o sono no dia posterior ao plantão.

Quanto ao aspecto temporal das atividades de enfermagem, Salles et al. (2001)


observou que a distribuição da atividade ocorre em ritmo acelerado e constante em
todos os turnos de trabalho, apesar de existirem atividades peculiares a cada turno.

Em conformidade com outros autores, Menezes (1996) relata que o trabalho em


turnos e o trabalho noturno têm inconvenientes nos diferentes âmbitos da vida dos
indivíduos e que trabalhar no turno noturno leva a dessincronização do seu ritmo
biológico e desarmonia com o ambiente social onde o trabalhador está inserido.

Ao estudar a síndrome da má-adaptação ao trabalho em turnos, Regis Filho (2000)


observou que trabalhadores do turno da noite e da manhã manifestaram
sintomatologia característica de inadaptação ao trabalho em turnos, que inclui
sintomas como insônia, problemas familiares e sociais, doenças gastrintestinais e
cardiovasculares, depressão, fadiga, entre outras.
As atividades de enfermagem requerem considerável esforço físico e deslocamentos
excessivos. Em relação à demanda de trabalho em todos os turnos há uma grande
necessidade de aplicação de força física ao cuidar de pacientes dependentes,
adoção de posturas constrangedoras de trabalho, atividade mental intensa ao
preencher tickets, preparo e distribuição de medicamentos, carga mental por
atividades sob pressão emocional em relação ao tempo de permanência, gravidade
e reinternações dos pacientes e carga mental ao executar cuidados pós-morte.
Estas características do trabalho de enfermagem refletem conseqüências
psicológicas e ergonômicas sobre a saúde do trabalhador, afetando a capacidade
para o trabalho e a qualidade de vida.

As várias formas de organização do trabalho têm contribuído para o surgimento de


sintomas de insatisfação e precarização das condições de trabalho. A preocupação
da ergonomia no processo produtivo também tem sido enfoque de análise, dado os
vários níveis de demanda apresentados a partir da necessidade de equacionar e/ou
minimizar os efeitos da produção em detrimento da satisfação na organização do
trabalho. De forma geral o trabalhador impõe a si próprio um ritmo freqüente de
trabalho em todas as atividades, por não conseguir dissociar o trabalho do lazer
(LOPES, 2000).

Para Xavier (1997) as organizações começam a entender que a qualidade de vida


no trabalho não pode ser dissociada da qualidade de vida do ser humano. Uma
melhor qualidade de vida deve ser compartilhada com o empregador e o governo,
não podendo ser de responsabilidade só do trabalhador.

3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de Estudo

O presente trabalho trata de uma pesquisa do tipo descritiva correlacional. Este tipo
de pesquisa permite registrar, analisar e correlacionar os dados coletados, assim
como, analisar e interpretar quantitativamente estes dados (RUDIO, 1986; CERVO &
BERVIAN, 1983). Portanto, este é um estudo descritivo correlacional entre a
qualidade de vida e a capacidade para o trabalho desenvolvido na área da saúde
hospitalar com os trabalhadores de enfermagem, nos turnos diurno e noturno.
Caracterizado como um estudo de levantamento, traçando as características de uma
população específica.

3.2 População e Amostra

A população que participou deste estudo foi uma equipe de funcionários


pertencentes ao quadro de recursos humanos do setor de enfermagem de um
hospital da rede pública estadual do Paraná, o Hospital Universitário do Oeste do
Paraná (HUOP). Constituída por 268 funcionários, de ambos os sexos, de todos os
turnos de trabalho, com nível de escolaridade mínima o ensino fundamental com o
curso profissionalizante de auxiliar de enfermagem. Portanto, todos os indivíduos
possuíam grau de escolaridade compatível com o auto-preenchimento dos
questionários.

A amostra selecionada foi a própria população, onde a partir dos dados fornecidos
pelo Departamento de Recursos Humanos do HUOP, a qual continha o nome de
todos os funcionários da enfermagem da referida instituição, foram excluídos oito
funcionários que se encontravam em atestado médico, férias ou licença
maternidade. Sendo considerados apenas os trabalhadores que se encontravam no
exercício ativo de suas funções durante o período da coleta dos dados, totalizando
260 funcionários (N = 260) como a população de estudo.

Para se obter o tamanho mínimo da amostra necessária utilizou-se a fórmula


proposta por Stevenson (1981): n = (N x no) / (N + no), que resultou como tamanho
da amostra um n = 158, conforme o cálculo a seguir:

Fórmula: n = (N x no) / (N + no)


Onde: N = 260,
n0 = 1/(0,05)2 = 400,
n = 158

Este número mínimo de indivíduos participantes foi calculado admitindo-se um erro


amostral máximo de 5% (E0 = 0,05) com um nível de confiança de 95%.
3.3 Instrumentos Utilizados

Utilizou-se o instrumento de avaliação de qualidade de vida, desenvolvido pelo


Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde, o World Health
Organization Quality Of Life (WHOQOL-100), na sua versão abreviada, o WHOQOL-
BREF. Para avaliar a capacidade para o trabalho utilizou-se o instrumento de Índice
de Capacidade para o Trabalho (ICT), proposto pelo Instituto de Saúde Ocupacional
da Finlândia. Ambos são instrumentos de auto-avaliação e, portanto auto-
explicativos, sendo de fácil aplicação, vindo ao encontro dos objetivos deste estudo
(Anexo A).

Para a caracterização do turno de trabalho, ter ou não, outro emprego e dados


pessoais foi feita uma pergunta direta e objetiva, visando a extração dos dados
necessários.

O WHOQOL é um instrumento que se baseia nos pressupostos de que qualidade de


vida é um construto subjetivo (percepção do indivíduo em questão), multidimensional
e composto por dimensões positivas (p. ex. mobilidade) e negativas (p. ex. dor)
(OMS, 1998).

A versão em português do instrumento WHOQOL-BREF foi desenvolvida no Centro


WHOQOL para o Brasil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O
WHOQOL-BREF é uma versão abreviada composta pelas 26 questões que
obtiveram os melhores desempenhos psicométricos extraídos do WHOQOL-100, é
composto por quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente,
consta de 26 questões, sendo duas questões gerais de qualidade de vida e as
demais 24 representam cada uma das 24 facetas que compõe o instrumento original
(Quadro 1), porém no WHOQOL-BREF cada uma das 24 facetas é avaliada por
apenas uma questão (FLECK et al. 2000).

Quadro 1: Domínios e facetas do WHOQOL-BREF


Fonte: Adaptado de Fleck et al. (2000)

Domínio 1 – Domínio físico


1. Dor e desconforto
2. Energia e fadiga
3. Sono e repouso
9. Mobilidade
10. Atividades da vida cotidiana
11. Dependência de medicação ou de tratamentos
12. Capacidade de trabalho

Domínio 2 – Domínio psicológico


4. Sentimentos positivos
5. Pensar, aprender, memória e concentração
6. Auto-estima
7. Imagem corporal e aparência
8. Sentimentos negativos
24. Espiritualidade/religião/crenças pessoais

Domínio 3 – Relações sociais


13. Relações pessoais
14. Suporte (apoio) social
15. Atividade sexual

Domínio 4 – Meio ambiente


16. Segurança física e proteção
17. Ambiente no lar
18. Recursos financeiros
19. Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade
20. Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades
21. Participação em, e oportunidades de recreação/lazer
22. Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima)
23. Transporte

O WHOQOL-BREF fornece um perfil da qualidade de vida obtido através dos


escores dos quatro domínios, onde quanto mais alto os escores, melhor é a
qualidade de vida. As duas questões gerais são examinadas separadamente: onde a
primeira questão revela a percepção do indivíduo sobre a sua qualidade de vida e a
segunda questão revela a percepção do indivíduo sobre a sua saúde. Os quatro
domínios indicam a percepção individual da qualidade de vida do trabalhador. Cada
uma das 24 questões possui uma pontuação que varia de 1 a 5. Para o cálculo
manual de cada domínio há uma equação que resulta em um escore bruto. O escore
bruto é então convertido em um escore transformado, utilizando-se uma tabela de
referência. O método de transformação converte os escores brutos em uma escala
de 4 a 20, comparável com o WHOQOL-100, e em uma escala de 0 a 100 (WHO,
1996). Os escores dos domínios podem ser agrupados e então revelar um escore
único para a qualidade de vida.
O índice de capacidade para o trabalho (ICT) foi traduzido e adequado pelo grupo
“Brasilidade” formado por pesquisadores de instituições brasileiras (BELLUSCI,
1998). É um instrumento que revela quão bem um trabalhador é capaz de realizar
seu trabalho. Será utilizado apenas o escore final, retratando o próprio conceito do
trabalhador sobre a sua capacidade para o trabalho como: capacidade para o
trabalho baixa, moderada, boa ou ótima.

O ICT é determinado pelas respostas das várias questões que o compõem, que
levam em consideração as demandas físicas e mentais do trabalho, o estado de
saúde e capacidades. O questionário é preenchido pelo próprio trabalhador,
portanto, o resultado revela a percepção que o trabalhador tem sobre a própria
capacidade para o trabalho (TUOMI et al. 1997). É composto por sete itens, cada um
compreendendo uma, duas ou três questões e a cada resposta é creditado um
número de pontos (escore), como apresentado no Quadro 2.

O número de pontos referente ao item 2 (capacidade para o trabalho em relação às


exigências do trabalho), é ponderada de acordo com o trabalho ser
fundamentalmente físico ou mental. Para o caso do trabalho de enfermagem, que
tem exigências tanto físicas como mentais, o escore permanece inalterado, onde o
escore se refere ao número da resposta assinalada no questionário.

Quadro 2: Itens abrangidos, número de questões e escore das respostas do ICT


Item
Nº de questões
Escore das respostas
1. capacidade para o trabalho atual comparada com a melhor de toda a vida
0-10 pontos, valor assinalado no questionário.
2. capacidade para o trabalho em relação às exigências do trabalho
Número de pontos ponderados de acordo com a natureza do trabalho
3. número atual de doenças diagnosticadas por médico
1 (lista de 51 doenças)
Pelo menos 5 doenças = 1 ponto
4 doenças = 2 pontos
3 doenças = 3 pontos
2 doenças = 4 pontos
1 doença = 5 pontos
nenhuma doença = 7 pontos
4. perda estimada para o trabalho devido às doenças 1
1-6 pontos (valor circulado no questionário; o pior valor será escolhido)
5. faltas ao trabalho por doenças no último ano 1
1-5 pontos (valor circulado no questionário
6. prognóstico próprio sobre a capacidade para o trabalho daqui a dois anos
1-4 ou 7 pontos (valor circulado no questionário)
7. recursos mentais
3 Os pontos da questão são somados e o resultado é contado da seguinte forma:
Soma 0-3 = 1 ponto
Soma 4-6 = 2 pontos
Soma 7-9 = 3 pontos
Soma 10-12 = 4 pontos
Fonte: Adaptado de Tuomi et al. (1997)

A quantidade de pontos alcançada em cada questão é somada, resultando em um


escore final. O escore final pode variar de 7 a 49, classificados da seguinte forma: de
7 a 27 pontos = baixa capacidade para o trabalho; de 28 a 36 pontos = moderada
capacidade para o trabalho; de 37 a 43 = boa capacidade para o trabalho; e de 44 a
49 = ótima capacidade para o trabalho.

3.4 Procedimentos para a Coleta de Dados

A coleta de dados procedeu-se primeiramente obtendo-se a concordância por parte


da direção geral do Hospital Universitário para a aplicação da pesquisa aos
funcionários da enfermagem. A seguir procedeu-se a entrega dos questionários, os
quais foram entregues em mãos para cada funcionário no seu posto e turno de
trabalho. O local definido para a devolução dos questionários foi a sala de
enfermagem, devido todos os funcionários terem livre acesso.

O período para a entrega e recolhimento dos questionários foi de 15 dias devido as


folgas existentes na escala de trabalho que impossibilitou a entrega e devolução dos
questionários num mesmo dia. Todos os indivíduos foram informados sobre os
objetivos da pesquisa e confidencialidade dos dados. Para a participação na
pesquisa cada trabalhador assinou um termo de consentimento, além do
conhecimento da não obrigatoriedade de preenchimento do questionário.

3.5 Análise dos Dados

A análise dos dados foi feita pela estatística descritiva inferencial ANOVA, com
análise de variância pelo teste de Scheffé e tese de LSD (Least Significant
Difference), através do pacote estatístico SPSS 10.0. Efetuou-se o tratamento dos
dados através do cálculo de médias e medianas, desvio padrão, significância e
valores mínimos e máximos. A apresentação dos dados foi feita em tabelas e
gráficos, interpretando as medidas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo destina-se à apresentação da análise e da discussão dos resultados


da pesquisa, sendo composto pela caracterização da instituição, população, pelo
Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) e pela Qualidade de Vida (QV) dos
profissionais de enfermagem estudados, cruzando estes dados com o turno de
trabalho no qual o trabalhador exerce sua função.

4.1 Caracterização da Instituição

A instituição alvo deste estudo é um hospital geral da rede pública estadual


transformado em Hospital Universitário do Oeste do Paraná no ano de 2001 para
atender às necessidades relacionadas ao campo de estágio para ensino-assistência
dos cursos da área de saúde da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE). Além disso, presta assistência à saúde no âmbito da promoção e
recuperação aos seus usuários.

O hospital ainda não possui definidos os seus objetivos, filosofia e estrutura


organizacional. Observa-se que as diretrizes políticas da instituição são voltadas
somente para os seus usuários externos e ensino. Não havendo programas de
prevenção e promoção à saúde que beneficiem os seus funcionários.

O HUOP conta com um quadro de pessoal de enfermagem de 268 servidores para


atender à demanda de trabalho exigida dos 137 leitos ativados com uma média de
750 internamentos mês, segundo os dados fornecidos pelo setor de estatística do
HUOP.

4.2 Caracterização da População


Os dados gerais de identificação da população de estudo foram analisados de
acordo com a idade, gênero, estado civil, outro emprego e cargo/função.

A população total é de 268 funcionários de enfermagem, destes, 8 foram excluídos


porque se encontravam em licença maternidade, férias e atestado médico no
período da coleta dos dados, restando 260 funcionários, para os quais foram
entregue o questionário. Dos 260 questionários entregues, retornaram 183 sendo
que 09 estavam incompletos, 06 em branco e 168 completos.

Portanto, a população do estudo ficou composta por 168 profissionais de


enfermagem, expressando uma margem de erro de 4,7%, já que o tamanho mínimo
da amostra calculado foi de 158 participantes (n=158). Como os questionários foram
entregues a todos os funcionários em exercício ativo de sua função, pode-se inferir
que a amostra deste estudo é a própria população.

Os dados da estatística descritiva (média, desvio padrão, escore mínimo e máximo)


entre a variável cargo/função e as variáveis ICT e QV, apresentados na Tabela 1,
demonstraram não haver diferença significativa (p<0,05) entre os resultados do
grupo de enfermeiros e o grupo de auxiliares de enfermagem quanto aos escores de
ICT e QV obtidos (p=0,752 para ICT e p=0,703 para QV).

Tabela 1: Resultado da estatística descritiva dos escores de QV e ICT em relação ao


cargo/função (n=168)
Qualidade de Vida
Índice de Capacidade para o Trabalho
Cargo/função
Média Dp
Escore mínimo
Escore máximo
Média dp
Escore mínimo
Escore máximo
Enfermeiro 66,13 12,66 37,50 92,50
40,88 5,29 21 48
Auxiliar de enfermagem 67,08 11,39 36,00 90,70
41,24 5,24 20 49
Total
66,93 11,56 36,00 92,50
41,18 5,24 20 49
QV = p=0,703 e ICT = p=0,752
Sendo assim, esta relação indicou que o cargo/função exercido pelo profissional de
enfermagem não interferiu nos escores de ICT e QV em nenhum dos turnos de
trabalho analisados e, portanto, os participantes puderam ser agrupados em uma
única categoria para fins da análise dos dados. Desta forma a população foi
classificada pelo turno de trabalho em que exercem sua função: manhã, tarde ou
noite, atendendo aos objetivos propostos para esta pesquisa.

Quanto à distribuição dos indivíduos por turno de trabalho a amostra ficou


constituída por 67 (39,88%) trabalhadores no turno da manhã, 44 (26,19%) no turno
da tarde e 57 (33,93%) no turno da noite.

A maior concentração de trabalhadores observada no turno da manhã, se deve ao


fato de ser o período com o maior número de tarefas ligadas ao trabalho da
enfermagem a serem executadas pelos profissionais. Já a concentração observada
no turno noturno é devido ao esquema da escala de trabalho que é de 12/36 horas,
isto é, doze horas de trabalho para trinta e seis horas de folga, necessitando de dois
grupos de trabalho.

A distribuição dos funcionários quanto à quantidade deve ser feita de acordo com os
requisitos técnicos e operacionais inerentes à unidade de internação, garantindo a
segurança e a qualidade da assistência ao paciente. Sendo que o quadro de
profissionais de enfermagem estabelecido pelo Conselho Federal de Enfermagem
para as 24 horas de cada unidade de serviço considera o sistema de classificação
de pacientes, as horas de assistência de enfermagem, os turnos e a proporção
funcionário/leito (COFEN, 1996).

Para análise da idade os indivíduos foram separados em faixas etárias decimais a


partir dos 19 anos de idade, devido ser a menor idade encontrada. A idade média da
população foi de 33 anos e 7 meses (desvio padrão 9,17). Estando de acordo com
Bellusci et al. (1999) que ao estudar trabalhadores de enfermagem obtiveram idade
média de 34,10 anos.

Analisando-se a idade dos trabalhadores por turno (Figura 1), observou-se que no
turno da manhã variou de 19 a 59 anos, com média de 35 anos e 6 meses, no turno
da tarde variou de 19 a 55 anos, com média de 31 anos e 7 meses e no turno
noturno variou de 20 a 52 anos, com média de 33 anos e 2 meses. Quanto a faixa
etária prevalente, encontrou-se no turno da manhã a faixa de 29 a 38 anos com
40,30%, no turno da tarde a faixa de 19 a 28 anos com 43,18% e no turno da noite a
faixa de 29 a 38 anos com 42,11%.

Com relação à idade, a amostra constitui-se de adultos jovens, sendo a faixa etária
de 29 a 38 anos a de maior concentração, com 38,69% dos trabalhadores, quando
considerado os trabalhadores de todos os turnos de trabalho. Costa, Morita &
Martinez (2000) ao pesquisar trabalhadores de enfermagem obtiveram resultados
semelhantes com predomínio da faixa etária de 25 a 30 anos.

Manhã 25,37% 19-28 39-48

Tarde 43,18% 29-38

Noite 33,33% 49-59

Figura 1: Distribuição da população por faixas etárias (n=168).

Quanto ao gênero (Figura 2) observou-se que houve predomínio do gênero feminino


com 92,86%, enquanto o gênero masculino representou 7,14% dos participantes.
Estando prevalente a presença feminina em todos os turnos de trabalho com
94,03% no turno da manhã, 90,90% no turno da tarde e 92,98% no turno noturno, já
o gênero masculino ficou representado por 5,97% no turno da manhã, 9,10% no
turno da tarde e 7,02% no turno noturno.

Estes resultados estão de acordo com o encontrado na literatura, que segundo


Costa, Morita & Martinez (2000) há uma tendência crescente do gênero feminino
dominar a força de trabalho entre os profissionais da área de enfermagem.

Lautert, Chaves & Moura (1999) ao estudar enfermeiros, também observaram


predominância do gênero feminino, onde 97% dos participantes de seu estudo eram
mulheres.
5,97%
9,10%
7,02%
7,14%
92,86%
92,98%
90,90%
94,03%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Manhã
Tarde
Noite
Total
Masculino
Feminino
Figura 2: Distribuição da população de acordo com o gênero (n=168).

Quanto ao estado civil (Figura 3) os resultados mostraram prevalência de casados


com 42,85%, a seguir ficaram os solteiros com 29,16%, os que vivem com
companheiro com 15,47%, os separados com 10,12% e os viúvos com 2,38%. Esta
predominância de indivíduos casados também foi encontrada por Costa, Morita &
Martinez (2000), Bellusci et al. (1999) e Lautert, Chaves & Moura (1999) que
encontraram trabalhadores em plena capacidade produtiva e com filhos, indicando
que suas vidas familiar e pessoal sofrem restrições em decorrência do esquema de
trabalho em turnos.

O estado civil dos trabalhadores em relação ao turno de trabalho ficou distribuído da


seguinte forma: no turno da manhã prevaleceram os casados com 44,78%; no turno
da tarde prevaleceram os solteiros e casados ambos com 34,09% da amostra; e no
turno da noite a maioria eram casados com 47,37% e não houve nenhum
trabalhador na condição de viúvo. Estes resultados indicam que os profissionais de
enfermagem do HUOP estudados estão expostos a fatores estressantes
ocupacionais e também domiciliares que influenciam a QV e capacidade para o
trabalho.

20,89%
44,78%
17,91%
11,94%
4,48%
34,09%
34,09%
18,18%
11,37%
2,27%
10,53%
7,02%
0%
29,17%
42,86%
15,47%
10,12%
2,38%
35,09%
47,37%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
Solteiro
Casado
Vive
Companheiro
Separado
Viúvo
Manhã
Tarde
Noite
Total
Figura 3: Distribuição da população de acordo com o estado civil (n=168).

Quanto ao dado outro emprego (Figura 4) observou-se a prevalência de indivíduos


que têm um único emprego, representando 61,91% do total dos participantes, já os
indivíduos que têm outro emprego representam 38,09%. Sendo que, no turno da
manhã 71,64% dos profissionais responderam que têm apenas um único emprego,
no turno da tarde 54,55% têm apenas um único emprego e no turno da noite 56,14%
têm apenas um único emprego.

A distribuição dos trabalhadores segundo o turno de trabalho mostrou que os


trabalhadores do turno da manhã têm uma tendência a não ter outro emprego,
porém os trabalhadores dos turnos da tarde e noite têm uma maior tendência a ter
outro emprego. Resultados encontrados por Tanaka et al. (1988) ao estudar a
assistência de enfermagem no turno da noite em três hospitais governamentais,
mostraram que 80,85% de sua amostra tinham outro emprego.

Neste estudo não se considerou o possível trabalho doméstico, sendo uma situação
que pode subestimar os resultados, pois, de acordo com o descrito na literatura
pesquisada o trabalho doméstico gera uma dupla jornada de trabalho, que de forma
positiva ou negativa influencia a capacidade para o trabalho e a qualidade de vida
das pessoas. Esta consideração associada ao fato de a maioria dos trabalhadores
ter apenas um emprego pode ter contribuído para os altos escores de ICT e QV
apresentados pelos profissionais de enfermagem do HUOP.

28,36%
45,45%
43,86%
38,09%
71,64%
54,55%
56,14%
61,91%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Manhã
Tarde
Noite
Total
Sim
Não
Figura 4: Distribuição da população quanto a ter ou não outro emprego (n=168).

Analisando-se quanto ao cargo/função exercido (Figura 5) observou-se a presença


de enfermeiros em 15,48% da população, havendo prevalência, em todos os turnos
de trabalho, de auxiliares de enfermagem com 84,52 % da população.

Resultados semelhantes foram encontrados por Costa, Morita & Martinez (2000) que
observaram o predomínio do auxiliar de enfermagem com 64,65% contra 5,45% de
enfermeiros, justificado pela divisão técnica do trabalho que opera verticalmente,
com base na redistribuição das tarefas entre o pessoal de diferentes níveis de
qualificação e por ser menos custoso. A não presença do profissional técnico de
enfermagem no quadro de funcionários do HUOP se deve a ausência desta vaga no
quadro de Recursos Humanos da instituição.

20,45%
10,53%
15,48%
16,42%
83,58%
79,55%
89,47%
84,52%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Manhã
Tarde
Noite
Total
Enfermeiro Auxiliar de enfermagem
Figura 5: Distribuição da população de acordo com o cargo/função (n=168).

4.3 Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT)

Neste item são apresentados os resultados do questionário de ICT, classificando os


indivíduos de acordo com o escore alcançado em uma das seguintes categorias:
capacidade para o trabalho baixa, moderada, boa ou ótima.

A Tabela 2 mostra a distribuição dos resultados do questionário de ICT apresentada


pelos trabalhadores nos diferentes turnos. Observou-se que no turno da manhã
37,31% dos trabalhadores obtiveram ICT ótimo, 41,79% bom, 16,42% moderado e
4,48% baixo; no turno da tarde obteve-se 34,09% dos trabalhadores com ICT ótimo,
47,73% bom e 18,18% moderado; no turno da noite 91,22% dos trabalhadores
dividiram-se igualmente entre ICT ótimo e bom e 8,77% com ICT moderado.
Verificou-se que no turno da tarde e da noite não houve nenhum trabalhador com
ICT baixo.

Quando estes resultados foram analisados no geral, observou-se que a maioria


(83,93%) dos trabalhadores apresentou ICT bom (44,64%) ou ótimo (39,29%) e que
14,29% apresentou ICT moderado e 1,79% ICT baixo. Estes dados evidenciam que
os profissionais de enfermagem do HUOP possuem uma capacidade para o trabalho
boa, levando a inferir que estes trabalhadores se encontram em sua plena
performance para o trabalho, considerando-se que são adultos jovens. Porém,
segundo Bellusci & Fischer (1999) estes resultados mostram a necessidade de
melhorar as condições de trabalho prevenindo os danos à saúde que poderiam ter
influência na perda da capacidade para o trabalho garantindo a permanência destes
profissionais no seu emprego.

Os trabalhadores do turno da manhã revelaram um importante dado, sendo o único


turno a apresentar escores de ICT baixo. Dado à peculiaridade deste resultado,
talvez este seria um ponto a ser investigado em maior profundidade em estudo
posterior.

A partir destes resultados devem ser tomadas as medidas propostas por Tuomi ET
al. (1997), que de acordo com os escores encontrados neste estudo 1,79% dos
profissionais de enfermagem devem ter sua capacidade para o trabalho restaurada,
58,93% devem ter sua capacidade para o trabalho melhorada e 39,29% devem
manter a capacidade para o trabalho atual. Porém, a necessidade de medidas de
apoio dependem também da capacidade funcional e das próprias condições de
trabalho existentes, o que traz uma limitação ao estudo, pois no presente estudo não
foi possível investigar estas variáveis.

Tabela 2: Distribuição dos indivíduos de acordo com as categorias de ICT (n=168).

Turno de trabalho (%)

ICT
Manhã
Tarde
Noite
Total
Baixo (7 a 27)
4,48
1,79
Moderado (28 a 36)
16,42
18,18
8,77
14,29
Bom (37 a 43)
41,79
47,73
45,61
44,64
Ótimo (44 a 49)
37,31
34,09
45,61
39,29

Estes resultados fornecem subsídios para o planejamento de um programa de saúde


que venha promover uma melhor capacidade para o trabalho dos profissionais de
enfermagem e consequentemente melhorar a QV.

Na Figura 6 são apresentados os dados da estatística descritiva (média, desvio


padrão, escore mínimo e máximo) dos escores de ICT em cada turno de trabalho. A
análise de variância (ANOVA) demonstrou não haver diferenças significativas,
quando comparou-se as médias de ICT entre os diferentes turnos de trabalho. A
média dos escores observada no turno da manhã foi de 40,58; no turno da tarde foi
de 40,64; e no turno da noite foi de 42,32.

Os trabalhadores do turno noturno obtiveram os melhores escores de ICT com


média de 42,32 e valor mínimo de 33 e máximo de 49. Estando tal resultado de
acordo com um estudo de Metzner & Fischer (2001), que através da análise de
regressão linear múltipla obtiveram que o trabalho no turno noturno aumentou o ICT
em 2,27 unidades.

A mediana dos escores de ICT foi de 41,18, que quando comparada aos valores de
referência para o ICT resulta em um ICT bom, isto é, de forma geral os profissionais
de enfermagem encontram-se atualmente com uma boa capacidade para o trabalho,
mesmo assim necessitam ter sua capacidade para o trabalho melhorada como
forma de prevenção.

40,58
40,64
42,32
41,18
4,74
4,26
5,24
20
28
33
20
48
49
49
49
6,13
0
10
20
30
40
50
60
Manhã
Tarde
Noite
Total
média
Desvio padrão
Escore mínimo
Escore máximo
Figura 6: Resultados dos escores de ICT por turno de trabalho (n=168).

Na Tabela 3 são apresentados os resultados dos escores de ICT obtidos em cada


faixa etária, que quando comparadas estas médias com os valores de referência
para o ICT determina-se que os indivíduos das faixas etárias de 19 a 28, 29 a 38 e
39 a 48 tem uma boa capacidade para o trabalho e o grupo etário de 49 a 59 tem
uma capacidade para o trabalho moderada.

Comparando-se as médias, observou-se que as faixas etárias de 19 a 28, 29 a 38 e


39 a 48 obtiveram médias estatisticamente semelhantes. A faixa etária de 49 a 59
anos diferiu das demais, apresentando a menor média (36,71) do escore de ICT.

A partir destes dados, pode-se inferir que o fator envelhecimento cronológico leva a
uma maior probabilidade de diminuir os escores do ICT, portanto quanto mais idade
maior a chance de perda da capacidade para o trabalho. Entretanto, um estudo de
Bellusci et al. (1999) sobre envelhecimento e capacidade para o trabalho não
mostrou associação da idade com perda de capacidade para o trabalho.

Para Odebrecht et al. (2001) as características normais do envelhecimento podem


ser aceleradas e/ou agravadas pelas condições adversas do trabalho e com isso
influenciar a capacidade para o trabalho dos indivíduos.

O fato de ser uma população de adultos jovens leva a inferir que o tempo de serviço
seja curto tendo contribuído para os bons índices de ICT. O que pode estar
respaldado em um estudo de Bellusci & Fischer (1999) onde observaram que quanto
maior o tempo de serviço maior o risco de ter ICT baixo ou moderado.

Tabela 3: Comparação dos escores de ICT por faixas etárias.


Faixa etária
n
média
Escore mínimo
Escore máximo
19 a 28
55
41,51a
28
49
29 a 38
65
41,54a
21
49
39 a 48
34
41,82a
27
48
49 a 59
14
36,71b
20
45
Total
168
41,18
20
49
p<0,05. a b

A Tabela 4 apresenta os dados sobre ICT e estado civil, onde observou-se que os
solteiros obtiveram escore médio de 41,53, os casados 41,25, os que vivem com
companheiro 39,54, os separados 43,76 e os viúvos 35,50. Estes dados
identificaram que os viúvos apresentaram capacidade para o trabalho moderada e
os demais estados conjugais uma boa capacidade para o trabalho. O que leva a
inferir que o fato dos indivíduos viúvos serem de uma faixa etária de maior idade
tenha contribuído para estes resultados, já que neste trabalho o envelhecimento
está relacionado com a perda de capacidade para o trabalho.

Considerando-se como variável dependente os escores de ICT e como variável


independente o estado civil, observou-se que os viúvos diferem dos solteiros,
casados e separados, apresentando ICT mais baixo. Os indivíduos que vivem com
companheiro diferem dos separados, apresentando escores mais baixos de ICT.
Esta situação mostra que o estado conjugal foi um fator influente na perda da
capacidade para o trabalho. Bellusci et al. (1999) também observaram que o estado
conjugal de separado e viúvo tem maior chance de perda da capacidade para o
trabalho.

Tabela 4: Comparação dos escores do ICT por estado civil.


Estado civil
n
média
dp Escore Mínimo Escore Máximo
Solteiro
49
41,53a
4,35
29
49
Casado
72
41,25b
5,25
20
49
Vive companheiro 26
39,54c
6,71
21
48
Separado
17
43,76d
3,29
35
48
Viúvo
4
35,50e
5,69
32
44
Total
168
41,18
5,24
20
49
F 3,053. p<0,05. a, b, d e; c d

4.4 Qualidade de Vida (QV)

As respostas do instrumento WHOQOL-BREF foram analisadas de acordo com os


escores obtidos pela conversão dos escores brutos em escores transformados,
utilizando-se a escala de transformação de 0-100, conforme o manual do WHOQOL-
BREF (WHO, 1996). Primeiramente serão analisados os resultados referentes às
duas questões gerais, que tratam da percepção que o indivíduo tem de sua
qualidade de vida e de sua saúde.

A seguir serão analisados os escores do questionário do WHOQOL-Bref, a fim de,


estabelecer o perfil da qualidade de vida dos profissionais em enfermagem do
HUOP. Além disso, relacionou-se estes resultados com o turno de trabalho, a idade
e o estado civil dos trabalhadores.

A Tabela 5 apresenta os resultados referentes a primeira questão que avaliou a


percepção subjetiva do indivíduo sobre a sua qualidade de vida geral. Observou-se
que a amostra distribuiu-se da seguinte forma: 1,19% a avaliaram como muito ruim,
4,17% como ruim, 25% como nem ruim nem boa, 62,50% como boa e 7,14% como
muito boa.
Quando as respostas foram analisadas em relação ao turno de trabalho, observou-
se que no turno da manhã 5,97% dos respondentes consideraram sua QV ruim;
19,40% nem ruim, nem boa; 65,67% boa e 8,96% muito boa. No turno da tarde
2,27% consideraram muito ruim; 4,54% ruim; 20,46% nem ruim, nem boa; 70,46%
boa e 2,27% muito boa. No turno da noite 1,75% muito ruim; 1,75% ruim; 35,09%
nem ruim, nem boa; 52,63% boa e 8,77% muito boa. Somente no turno da manhã
nenhum indivíduo considerou sua qualidade de vida muito ruim.

Tabela 5: Resultados das respostas sobre a percepção da QV.


Turno de trabalho (%)
Escores da questão 01
Manhã
Tarde
Noite
Total
1- muito ruim
2,27
1,75
1,19
2- ruim
5,97
4,54
1,75
4,17
3- nem ruim, nem boa
19,40
20,46
35,09
25,00
4- boa
65,67
70,46
52,63
62,50
5- muito boa
8,96
2,27
8,77
7,14

De uma forma geral os resultados, apresentados na Tabela 5, evidenciaram que os


profissionais de enfermagem do HUOP estudados tiveram uma boa percepção de
sua qualidade de vida. O que pode ser corroborado por Gonzales (1998) que
considera que a compreensão do significado de QV que o trabalhador tem vai
interferir de forma muito positiva na qualidade de vida no trabalho.

Na Tabela 6 são apresentados os resultados da segunda questão que avaliou a


percepção do indivíduo sobre a sua saúde. Observou-se que 1,78% estavam muito
insatisfeitos, 7,74% insatisfeitos, 16,67% nem satisfeitos nem insatisfeitos, 55,95%
satisfeitos e 17,86% muito satisfeitos com a sua saúde.

Em relação a análise das respostas por turno de trabalho observou-se que no turno
da manhã 10,45% mostraram-se insatisfeitos; 13,43% nem satisfeitos, nem
insatisfeitos; 58,21% satisfeitos e 17,91% muito satisfeitos. No turno da tarde 6,82%
mostraram-se muito insatisfeitos; 6,82% insatisfeitos; 15,91% nem satisfeitos, nem
insatisfeitos; 50,10% satisfeitos e 11,36% muito satisfeitos. No turno da noite 5,26%
insatisfeitos; 21,05% nem satisfeitos, nem insatisfeitos; 50,88% satisfeitos e 22,81%
muito satisfeitos. Somente o turno da tarde apresentou trabalhadores muito
insatisfeitos com a sua saúde.

Tabela 6: Resultado das respostas sobre a percepção da Saúde.


Turno de trabalho (%)
Escores da questão 02
Manhã
Tarde
Noite
Total
01- muito insatisfeito
6,82
1,78
02- insatisfeito
10,45
6,82
5,26
7,74
03- nem satisfeito, nem insatisfeito
13,43
15,91
21,05
16,67
04-satisfeito
58,21
50,10
50,88
55,95
05- muito satisfeito
17,91
11,36
22,81
17,86

Os resultados apresentados na Tabela 6 mostram que, de uma forma geral e


positiva, a maioria dos trabalhadores encontravam-se satisfeitos com a sua saúde.
Dados semelhantes foram encontrados por Fleck et al. (1999) ao aplicar este teste
em uma amostra de 250 indivíduos, onde 38% consideraram estar satisfeitos com a
sua saúde.
Apesar dos bons resultados apresentados nas Tabelas 5 e 6, Silva & Massarollo
(1998) colocam que o trabalho de enfermagem gera um acúmulo de processos
destrutivos que comprometem a saúde e vida dos trabalhadores e que com o tempo
desfavorecem a QV destes profissionais.
Na Tabela 7 analisou-se os escores obtidos em cada domínio relacionado com o
turno de trabalho dos profissionais de enfermagem. Observou-se que a média dos
escores para o turno da manhã foi de 73,39 para o Domínio-1 (físico), 68,67 para o
Domínio-2 (psicológico), 66,78 para o Domínio-3 (relações sociais) e 56,79 para o
Domínio-4 (meio ambiente). No turno da tarde o Domínio-físico obteve escore de
71,70, o Domínio-psicológico 69,80, o Domínio-relações sociais 70,34 e o Domínio-
meio ambiente 54,00. No turno da noite o Domínio-físico obteve escore de 74,81, o
Domínio-psicológico 71,28, o Domínio-relações sociais 69,28 e o Domínio-meio
ambiente 56,28. Estes dados mostraram que em todos os turnos de trabalho houve
uma tendência a ter os piores escores no Domínio-meio ambiente.

A análise de variância desses dados demonstrou não haver diferença significativa


entre os turnos de trabalho (p< 0,05). Portanto, os participantes deste estudo
revelaram ter uma boa qualidade de vida independentemente do turno de trabalho.
Tabela 7: Relação da QV com o turno de trabalho (n=168).

Turno de Trabalho
QV por Domínio
Manhã
Tarde
Noite
Total
Domínio 1
(Físico)
73,39
71,70
74,81
73,43
Domínio 2
(Psicológico)
68,67
69,80
71,28
69,85
Domínio 3
(Relações Sociais)
66,78
70,34
69,28
68,56
Domínio 4
(Meio Ambiente)
56,79
54,00
56,28
55,89
Total
66,41
66,46
67,91
66,93

A Tabela 8 mostra a relação da QV com a idade dos profissionais de enfermagem.


Observou-se que na faixa etária de 19 a 28 as médias foram de 74,22 para o
Domínio-1 (físico), 68,55 para o Domínio-2 (psicológico), 66,78 para o Domínio-3
(relações sociais) e 56,15 para o Domínio-4 (meio ambiente); na faixa de 29 a 38
anos as médias foram de 72,45 para o Domínio-1 (físico), 69,25 para o Domínio-2
((psicológico), 70,88 para o Domínio-3 (relações sociais) e 55,43 para o Domínio-4
(meio ambiente); na faixa de 39 a 48 foi de 77,00 para o Domínio-1 (físico), 74,06
para o Domínio-2 (psicológico), 67,29 para o Domínio-3 (relações sociais) e 57,91
para o Domínio-4 (meio ambiente); na faixa de 49 a 59 foi de 66,21 para o Domínio-
1 (físico), 67,57 para o Domínio-2 (psicológico), 67,86 para o Domínio-3 (relações
sociais) e 52,07 para o Domínio-4 (meio ambiente).

Esses dados, referentes à faixa etária, demonstraram que os trabalhadores na faixa


etária de 49 a 59 anos tiveram escores mais baixos em todos os Domínios e que em
todas as faixas etárias houve uma tendência a ter os piores escores no domínio
relacionado ao meio ambiente. A análise de variância não demonstrou diferença
significativa entre os grupos (p<0,05). Portanto, neste caso a faixa etária não
interferiu no perfil de qualidade de vida destes trabalhadores.

Tabela 8: relação da QV com as faixas etárias.


Faixa Etária
QV por Domínios
19 a 28
n=55
29 a 38
n=65
39 a 48
n=34
49 a 59
n=14
Total
n=168
Domínio 1
(Físico)
74,22
72,45
77,00
66,21
73,43
Domínio 2
(Psicológico)
68,55
69,25
74,06
67,57
69,85
Domínio 3
(Relações Sociais)
66,78
70,88
67,29
67,86
68,56
Domínio 4
(Meio Ambiente)
56,15
55,43
57,91
52,07
55,89
Total
66,42
67,00
69,07
63,43
66,93
P<0,05

A Tabela 9 apresenta a relação entre a QV e o estado civil dos profissionais de


enfermagem. Através do teste LSD (least significant difference) observou-se que no
Domínio-1 (físico) os indivíduos que vivem com companheiro diferem dos separados
(p= 0,022). No Domínio-3 (relações sociais) os indivíduos solteiros diferem dos
viúvos (p=0,045); os casados diferem dos separados (p=0,046) e dos viúvos
(p=0,010); os que vivem com companheiro diferem dos viúvos (p=0,020); os
separados diferem dos casados (p=0,020); e os viúvos diferem dos solteiros
(p=0,045), dos casados (p=0,010) e dos que vivem com companheiro (p=0,020). No
Domínio-2 (psicológico) e Domínio-4 (meio ambiente) houve homogeneidade nas
médias dos escores, onde os grupos não deferiram entre si.

Tabela 9: Relação da QV com o estado civil.


Estado Civil
Domínios
Solteiro
n=49
Casado
n=72
Vive com
companheiro
n=26
Separado
n=17
Viúvo
n=4
Total
n=168
Domínio 1
(Físico)
72,88
74,50
69,58a
79,24b
61,25c
73,43
Domínio 2
(Psicológico)
70,24
70,68
66,96
71,00
64,00 69,85
Domínio 3
(Relações Sociais)
66,82d
71,69e
70,38f
62,24g
48,50h
68,56
Domínio 4
(Meio Ambiente)
54,80
56,86
55,27
57,59
48,50 55,89
Total
66,18
68,43
65,55
67,51
55,56 66,93
(LSD p<0,05)

Os resultados apresentados nas Tabelas 7, 8 e 9, que relacionaram a QV com o


turno de trabalho, a idade e ao estado civil, revelaram escore total de 73,43 para o
Domínio-1 (físico), 69,85 para o Domínio-2 (psicológico), 68,56 para o Domínio-3
(relações sociais) e 55,89 para o Domínio-4 (meio ambiente). A partir desta
pontuação deduz-se que, com exceção do Domínio-4 (meio ambiente), os demais
domínios foram importantes para elevar os escores e definir o perfil de qualidade de
vida dos profissionais da enfermagem do HUOP.
Assim, a análise estatística descritiva dos dados de QV apresentados neste estudo
evidenciou escores altos para os domínios físico, psicológico e relações sociais,
indicando uma boa qualidade de vida. Já o Domínio-4 (meio-ambiente) apresentou
escores mais baixos em todas as variáveis analisadas. Como este domínio avalia a
relação com o meio ambiente, atribui-se os baixos escores pela sua relação com
questões como segurança, lazer, moradia, transporte, serviços de saúde, salário,
ambiente físico. Essas questões são consideradas componentes fundamentais
sobre o qual se pode edificar uma vida com qualidade, porém, são questões que não
dependem somente do trabalhador para serem solucionadas.

Na análise apresentada na Figura 7, utilizou-se um escore total para a QV


relacionando com o turno de trabalho, obteve-se um escore médio de 66,41 para o
turno da manhã, 66,46 para o turno da tarde e 67,91para o turno da noite. O escore
médio de todos os turnos foi de 66,93.

66,41
66,46
67,91
66,93
12,14
9,68
12,3
11,56
37,5
36
39
36
92,5
90,75
90,75
92,5
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Manhã
Tarde
Noite
Total
média
desvio padrão
Escore mínimo
Escore máximo
Figura 7: Estatística dos escores do WHOQOL-Bref.

A análise estatística descritiva (média, desvio padrão, escore mínimo e máximo)


demonstrou não haver diferença significativa entre os turnos de trabalho (p<0,05). O
teste de Scheffé também demonstrou que as médias não diferiram entre os turnos
de trabalho.

Estes resultados mostram escores altos indicando que os profissionais de


enfermagem do HUOP que participaram deste estudo possuem um bom perfil de
QV, independentemente do turno de trabalho. Estando de acordo com os dados
preconizados pela OMS de que o perfil de QV é definido pelos escores obtidos do
questionário WHOQOL-Bref, sendo que quanto mais alto o escore, melhor é QV do
indivíduo (WHO, 1996).

4.5 Qualidade de Vida (QV) e o Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT)


Neste item procurou-se tratar dos resultados dos escores de QV e do ICT,
relacionando-os entre si e com os turnos de trabalho.

A Tabela 10 mostra a relação entre as categorias de ICT e os escores de QV por


domínios dos profissionais em enfermagem do turno da manhã.

Tabela 10: Relação entre as categorias de ICT e os escores de QV no turno da


manhã (n= 67).
ICT
Domínio 1 (físico)
Domínio 2 (psicológico)
Domínio 3 (relações sociais)
Domínio 4 (meio ambiente)
Total
Baixo
35,67
60,33
70,67
50,33
54,25
Moderado 63,18
59,73
52,27
49,64
56,21
Bom
72,71
64,25
66,11
54,86
64,48
Ótimo
83,16
78,56
73,44
62,88
74,51

Observou-se que no Domínio-1 (físico) houve uma relação linear e crescente, onde,
quanto mais alto o escore do ICT, mais alto o escore obtido no domínio. No
Domínio-2 (psicológico) o menor escore ficou para a categoria de ICT moderado e
as demais tiveram u aumento crescente. No Domínio-3 (relações sociais) o menor
escore ficou para a categoria de ICT moderado e não houve um aumento crescente
dos escores de QV nas demais categorias. No Domínio-4 (meio ambiente) o menor
escore ficou entre os trabalhadores com ICT moderado e nas demais categorias de
ICT houve também um aumento linear e crescente.

A Tabela 11 mostra a relação entre as categorias de ICT e os escores de QV por


domínios dos profissionais em enfermagem do turno da tarde. Observou-se que no
Domínio-1 (físico), Domínio-2 (psicológico) e Domínio-3 (relações sociais) houve
uma relação linear e crescente, onde quanto mais alto o escore de QV mais alto
também o escore de ICT destes trabalhadores. Porém, no Domínio-4 (meio
ambiente) o pior escore ficou entre os profissionais com ICT bom. No turno da tarde
nenhum trabalhador apresentou ICT baixo.

Tabela 11: Relação entre as categorias de ICT e os escores de QV no turno da tarde


(n= 44).
ICT
Domínio 1 (físico)
Domínio 2 (psicológico)
Domínio 3 (relações sociais)
Domínio 4 (meio ambiente)
Total
Baixo
Moderado 61,00
62,62
65,75
54,00
60,48
Bom
71,52
69,28
71,09
53,48
66,34
Ótimo
77,67
74,33
71,73
54,73
69,62
A Tabela 12 mostra a relação entre as categorias de ICT e os escores de QV por
domínios dos profissionais em enfermagem do turno da noite. Observou-se que no
Domínio-1 (físico), Domínio-2 (psicológico) e Domínio-3 (relações sociais) houve
uma relação linear e crescente, onde quanto mais alto o escore de QV mais alto
também o escore de ICT destes trabalhadores. Porém, no Domínio-4 (meio
ambiente) o pior escore ficou entre os profissionais com ICT bom. No turno da noite
nenhum trabalhador apresentou ICT baixo.

Tabela 12: Relação entre as categorias de ICT e os escores de QV no turno da noite


(n= 57).
ICT
Domínio 1 (físico)
Domínio 2 (psicológico)
Domínio 3 (relações sociais)
Domínio 4 (meio ambiente)
Total
Baixo
Moderado 63,80
61,60
61,20
51,20
59,45
Bom
71,54
66,23
62,23
50,69
62,67
Ótimo
80,19
78,19
77,88
62,85
74,78
Os dados apresentados nas Tabelas 10, 11 e 12 revelaram haver uma correlação
entre a qualidade de vida e a capacidade para o trabalho. Observando-se que os
profissionais do turno da tarde e da noite apresentaram resultados iguais em todos
os Domínios, já o turno da manhã diferiu quando os trabalhadores da categoria com
ICT baixo apresentaram escores mais altos do que os da categoria de ICT
moderado. Deste modo, pode-se inferir que esta relação entre a QV e a capacidade
para o trabalho é positiva, mostrando que uma capacidade ocupacional satisfatória
gera um perfil de QV também satisfatório para o indivíduo e vice-versa.

Na Tabela 13 são apresentados os resultados dos escores de QV por domínio,


associando com as categorias de ICT, não considerando o turno de trabalho.

Observou-se que no Domínio-1 (físico) todas as categorias de ICT diferiram entre si.
No Domínio-2 (psicológico) os trabalhadores com ICT ótimo diferiram dos
trabalhadores com ICT moderado e bom. No Domínio-3 (relações sociais) o grupo
com ICT ótimo diferiu dos grupos com ICT moderado e bom. No Domínio-4 (meio
ambiente) o grupo com ICT ótimo diferiu do grupo com ICT moderado e bom.

Estes resultados evidenciaram que o Domínio-1, que representa o estado físico do


indivíduo, demonstrou diferença significativa entre todas as categorias de ICT
enquanto que, os Domínios psicológico, relações sociais e meio ambiente,
demonstraram diferença significativa da categoria de ICT ótimo com as categorias
de ICT bom e moderado.

Tabela 13: Associação entre as categorias de ICT e os escores de QV por domínios.


ICT
n
Domínio 1 (físico)
Domínio 2 (psicológico)
Domínio 3 (relações sócias)
Domínio 4 (meio ambiente)
Total
Baixo
3 35,67a
60,33
70,67
50,33
54,25
Moderado 24 62,58
b
61,08e
58,63e
51,42e
58,43
Bom
75 71,97c
66,35f
66,16f
53,03f
64,38
Ótimo
66 80,70d
77,45g
74,80g
61,02g
73,50

Domínio-físico letras diferentes diferem entre si. Domínio-psicológico, relações


sociais e meio ambiente g f, e.

Nas análises feitas a seguir utilizou-se um escore único para a QV, obtido através da
soma dos escores dos domínios.

Na Tabela 14 são apresentados os escores de QV em relação às categorias de ICT


(Teste de Scheffé), onde, observou-se que os indivíduos que obtiveram uma ótima
capacidade para o trabalho diferiram das demais categorias que obtiveram ICT
bom, moderado e baixo.
Tabela 14: Associação entre as categorias de ICT e os escores de QV.
ICT
N
Escore Médio QV
Baixo
3
54,25a
Moderado
24
58,43b
Bom
75
64,38c
Ótimo
66
73,50d
Total
168
62,64
*p<0,05. d a,b,c.

Os resultados da Tabela 14 mostram que quanto mais alto os escores de ICT mais
alto também foram os escores de QV. Evidenciando-se uma relação entre a
qualidade de vida e a capacidade para o trabalho, porém neste estudo não foi
possível definir qual a relação entre as variáveis e qual variável que sofre
primeiramente a queda.

Na Tabela 15 são apresentados os escores da QV em relação às categorias de ICT


por turno de trabalho. Observou-se que os trabalhadores do turno da manhã com
ICT baixo obtiveram um escore de QV de 54,25, os com ICT moderado obtiveram
escore de 56,21, os com ICT bom obtiveram escore de 64,48 e os com ICT ótimo
obtiveram um escore de 74,51; os trabalhadores do turno da tarde com ICT
moderado obtiveram um escore de QV de 60,84, os com ICT bom um escore de
66,34 e os com ICT ótimo um escore de 69,61; os trabalhadores do turno da noite
com ICT moderado obtiveram um escore de QV de 59,45, os com ICT bom
obtiveram um escore de 62,67 e os com ICT ótimo um escore de 74,78.

Tabela 15: Associação entre as categorias de ICT e os escores de QV por turno de


trabalho.
QV por Turno de trabalho
ICT
Manhã
Tarde
Noite
Baixo
54,25
Moderado
56,21
60,84
59,45
Bom
64,48
66,34
62,67
Ótimo
74,51
69,61
74,78
Total
62,36
65,60
65,63

De forma crescente observou-se que os escores aumentaram do turno da manhã


para o turno da noite: turno da manhã obteve escore de 62,36; turno da tarde obteve
escore de 65,60 e turno da noite obteve escore de 65,63.
Através destes dados pode-se inferir que o perfil de QV aumentou de forma linear,
conforme aumentou a capacidade para o trabalho, sendo detectado de forma
semelhante nos três turnos de trabalho (manhã, tarde e noite). Como os indicadores
de qualidade de vida são muito complexos, com características individuais, estes
resultados demonstram um índice de qualidade de vida coletivo.

Estes resultados mostram uma importante associação entre a capacidade para o


trabalho e a QV. De forma semelhante ao encontrado por Seitsamo & Ilmarinen
(1997) que quando acompanharam trabalhadores num período de 11 anos,
observaram que a capacidade para o trabalho e a saúde estão amplamente
associadas.

5 CONCLUSÃO

Neste trabalho investigou-se a qualidade de vida e a capacidade para o trabalho em


relação aos turnos de trabalho diurno e noturno dos profissionais em enfermagem
que desenvolvem suas atividades no âmbito hospitalar.

Dentre os achados observou-se que na amostra predominaram os adultos jovens,


com idade média de 33,7 anos, os casados, o sexo feminino, os auxiliares de
enfermagem e o trabalho profissional em um único emprego e turno.

Com relação ao primeiro objetivo proposto para este estudo, que era avaliar a
qualidade de vida dos profissionais de enfermagem do HUOP, foi alcançado através
dos resultados do questionário WHOQOL-BREF, onde numa escala de 0-100 o
escore médio da amostra foi de 66,93. Este escore define o perfil de qualidade de
vida desses profissionais como muito bom. Não evidenciou-se diferença significativa
entre os turnos de trabalho.

Desta forma conclui-se que estes profissionais têm uma percepção satisfatória de
sua qualidade de vida. Pode-se inferir que estes trabalhadores também estão
satisfeitos com o seu trabalho já que a satisfação no trabalho é um elemento
fundamental na determinação da qualidade de vida.
O segundo objetivo propôs avaliar a capacidade para o trabalho dos profissionais de
enfermagem do HUOP, que foi alcançado através do resultado do questionário de
ICT o qual revelou que em todos os turnos de trabalho predominou uma boa
capacidade para o trabalho. Não encontrando diferença significativa entre os turnos
de trabalho. Portanto, conclui-se que estes profissionais se encontram em sua plena
capacidade laborativa.

O turno da manhã teve a peculiaridade de ser o único turno a apresentar


trabalhadores com capacidade para o trabalho baixa, sendo bem possível estar
relacionado a sobrecarga das atividades de enfermagem existente no turno da
manhã e a dupla jornada de trabalho, isto é, o trabalho profissional fora de casa e o
trabalho doméstico, já que a maioria dos respondentes são mulheres casadas.

O terceiro objetivo previa comparar o perfil de qualidade de vida e o índice de


capacidade para o trabalho dos profissionais de enfermagem nos turnos de trabalho
da manhã, tarde e noite, onde através dos resultados encontrados pode-se concluir
que o turno de trabalho não interferiu na qualidade de vida e na capacidade para o
trabalho dos profissionais em questão.

E por fim, o quarto objetivo que presumia relacionar a qualidade de vida com o
índice de capacidade para o trabalho dos profissionais de enfermagem do HUOP,
leva a concluir que houve uma forte associação, pois quanto mais alto os escores de
ICT mais alto também foram os escores de qualidade de vida.

Pode-se ainda inferir que o fato de 61,91% da amostra ter um só emprego, de


62,50% ter uma boa percepção de sua qualidade de vida e de 55,95% estarem
satisfeitos com a sua saúde, justifica os bons escores de ICT e QV encontrados.

O declínio da capacidade para o trabalho e da qualidade de vida apresentado pelas


faixas etárias de maior idade e entre os viúvos, torna mais forte a necessidade de
programas que promovam a saúde dos trabalhadores desta instituição. Pois, quando
o próprio profissional de enfermagem é alvo de treinamento e educação continuada,
sente-se gratificado e valorizado profissionalmente sentindo-se mais consciente e
comprometido em promover a saúde, englobando o ambiente e o estilo de vida da
comunidade e também de sua família.

Reconhecendo-se as limitações deste estudo e compreendendo que mais estudos


relacionados à qualidade de vida e capacidade para o trabalho devam ser realizados
e considerando que os instrumentos existentes para medir qualidade de vida
provocam muitas discussões. Algumas recomendações são apresentadas referindo-
se aos pontos mais importantes levantados neste estudo.

Desenvolver estudo mais específico para verificar porque os trabalhadores do turno


da manhã tiveram uma tendência a sofrer mais com o trabalho profissional.

Implantar na instituição programas de prevenção e promoção à saúde para estes


profissionais.

Continuar este estudo para evidenciar relações da QV e capacidade para o trabalho


com o estilo de vida e o envelhecimento.

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Revista Latino-Americana de Enfermagem
versão impressa ISSN 0104-1169
Rev. Latino-Am. Enfermagem v.11 n.2 Ribeirão Preto mar./abr. 2003
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692003000200006

ARTIGO ORIGINAL

AFASTAMENTOS DO TRABALHO NA ENFERMAGEM: ocorrências


com trabalhadores de um hospital de ensino1
I
Denise Beretta Barboza ;
II
Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler
I
Enfermeira do Trabalho, Mestranda em Enfermagem, Docente do Curso de Graduação em
Enfermagem, e-mail: deniseberetta@bol.com.br
II
Enfermeira do Trabalho, Doutor em Enfermagem, Docente e Coordenador Geral do Curso de
Graduação em Enfermagem, Membro do Corpo Docente e de Orientadores da Pós-Graduação.
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto

RESUMO

As condições laborais da equipe de enfermagem freqüentemente são marcadas por


riscos, os quais repercutem em elevado absenteísmo e licenças-saúde. O objetivo
deste estudo foi caracterizar os afastamentos entre trabalhadores de enfermagem
de um hospital geral de ensino da cidade de São José do Rio Preto-SP, registrados
durante o ano de 1999. Trata-se de uma investigação epidemiológica censitária, cuja
coleta de dados foi efetuada por meio de consulta aos registros do Centro de
Atendimento ao Trabalhador do hospital estudado. Os resultados indicaram que, no
período, 333 trabalhadores envolveram-se em 662 episódios de afastamento. As
licenças-saúde ocorreram, principalmente, por problemas geniturinário e doenças
mal definidas entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem; e doenças
dos órgãos dos sentidos, doenças infecta-parasitárias e doenças respiratórias entre
os atendentes de enfermagem. Os dados obtidos subsidiam melhor análise dessa
situação neste hospital e intervenções para melhoria das condições de trabalho
vigentes.

Descritores: absenteísmo, equipe de enfermagem, licença por motivo de saúde

INTRODUÇÃO

No contexto hospitalar, a enfermagem constitui-se na maior força de trabalho, e suas


atividades são freqüentemente marcadas por divisão fragmentada de tarefas, rígida
estrutura hierárquica para o cumprimento de rotinas, normas e regulamentos,
dimensionamento qualitativo e quantitativo insuficiente de pessoal, situação de
exercício profissional que tem repercutido em elevado absenteísmo e afastamentos
por doenças.

Usualmente, a ausência ao trabalho é denominada absenteísmo, apesar de, por


definição, absentismo significar "o hábito de não comparecer, de estar ausente".
Então, neste estudo, os dois termos serão usados com significado similar(1).

Vários autores destacam que as condições de trabalho vivenciadas por muitos


trabalhadores da equipe de enfermagem, particularmente em ambiente hospitalar,
têm lhes ocasionado problemas de saúde, freqüentemente relacionados à situação e
setor de trabalho, provocando prejuízos pessoais, sociais e econômicos(2-6).

Na análise dos aspectos que podem influenciar as atividades no trabalho, abordam-


se os fatores intra, peri e extralaborais como: ambiente físico; riscos ocupacionais;
higiene, estruturação e segurança do setor de trabalho; situação social de vida e do
processo de trabalho do funcionário; organização e divisão das atividades; os meios
disponíveis para o exercício profissional; jornada, turno, alimentação e transporte;
situação social de moradia e deslocamento; interação pessoal e as relações entre
produção e salário(7-8).

Tratando-se especificamente do ambiente hospitalar, muito se tem falado e


publicado a respeito das condições inadequadas de trabalho vigentes em grande
parte dessas instituições, expondo seus trabalhadores a riscos de ordem biológica,
física, química, ergonômica, mecânica, psicológica e social. Os hospitais constituem-
se em locais de aglutinação de pacientes/clientes acometidos por diferentes
problemas de saúde, assistidos por trabalhadores diversos, da área da saúde ou
técnico-administrativas, e vários estudos têm apontado que os serviços de saúde,
em particular os hospitais, geralmente proporcionam aos seus trabalhadores,
principalmente da enfermagem, piores condições de trabalho em relação a outros
serviços(9-14).

Como conseqüência das condições inseguras de trabalho em instituições


hospitalares, no caso da equipe de enfermagem, têm sido freqüentes os acidentes
de trabalho, o absenteísmo e os afastamentos por doenças, o que tem dificultado a
organização do trabalho em diversos setores e, conseqüentemente, a qualidade da
assistência de enfermagem prestada.

O estudo das relações entre saúde-doença-trabalho tem merecido a atenção de


muitos pesquisadores na área de saúde ocupacional, destacando-se como prejuízos
à saúde física e mental dos trabalhadores: prolongadas jornadas de trabalho; ritmo
acelerado de produção, por excesso de tarefas; automação por realização de ações
repetitivas com parcelamento de tarefas e remuneração baixa, em relação à
responsabilidade e complexidade das tarefas executadas. Em tais situações, muitas
vezes o trabalho deixa de significar satisfação, ganhos materiais e serviços sociais
úteis, para tornar-se sofrimento, exploração, doença e morte.

Freqüentemente, os trabalhadores de enfermagem estão sujeitos a condições


inadequadas de trabalho, provocando agravos à saúde, que podem ser de natureza
física ou psicológica, gerando transtornos alimentares, de sono, de eliminação,
fadiga, agravos nos sistemas corporais, diminuição do estado de alerta, estresse,
desorganização no meio familiar e neuroses, fatos que, muitas vezes, levam a
acidentes de trabalho e licenças para tratamento de saúde. Alguns autores
destacam os fatores ergonômicos relacionados a problemas ósteo-músculo-
articulares entre trabalhadores de enfermagem(15-17). Os agentes psicossociais
causadores de danos à saúde dos trabalhadores de enfermagem associam-se ao
contato freqüente com o sofrimento e a morte(9); a monotonia de atividades
repetitivas e parceladas e turnos rotativos de trabalho(18); fadiga que leva ao
estresse(2).

Ante o exposto, como enfermeiras do trabalho e diante de nossa experiência


profissional em hospitais, em especial no hospital-campo deste estudo, a questão
norteadora deste trabalho é a preocupação com a situação de trabalho e o processo
do adoecer entre trabalhadores de enfermagem desse hospital. Nesse contexto, foi
objetivo desta pesquisa:

- descrever os afastamentos do trabalho entre trabalhadores de enfermagem de um


hospital geral de ensino da cidade de São José do Rio Preto, registrados no Centro
de Atendimento ao Trabalhador (CEAT), no ano de 1999.
MÉTODO

Trata-se de uma investigação epidemiológica censitária, por meio de análise


retrospectiva do ano de 1999, sobre a situação de afastamentos entre trabalhadores
de enfermagem de um hospital de ensino. Ressalta-se que o estudo epidemiológico
é explicativo e também tem finalidade descritiva, mostrando questionamentos do
fenômeno pesquisado quanto ao tempo, espaço, características, qual o ponto focal
da questão e se existem fatos circunstanciais(19).

Este estudo foi realizado em um hospital geral, de grande porte, da cidade de São
José do Rio Preto, região noroeste do estado de São Paulo, que tem finalidades de
prestação de assistência complexa e especializada, de ensino e de pesquisa. Em
1999, esse hospital contava com 700 trabalhadores de enfermagem, sendo 103
enfermeiros, 31 técnicos de enfermagem, 410 auxiliares de enfermagem e 156
atendentes de enfermagem, a maioria com turnos de trabalho de 36 horas
semanais, nos seguintes horários: manhã (7:00 às 13:00 horas); tarde (13:00 às
19:00 horas) e noite (19:00 às 07:00 horas - dias alternados - 12/36 horas).

Foram analisados os afastamentos do trabalho de profissionais de enfermagem


registrados no Centro de Atendimento ao Trabalhador (CEAT) desse hospital,
revelando-se que 333 trabalhadores foram acometidos, sendo 33 enfermeiros, 4
técnicos de enfermagem, 274 auxiliares de enfermagem, 22 atendentes de
enfermagem. É importante esclarecer que esses 333 funcionários envolveram-se,
nesse ano, em 662 episódios de afastamentos, o que deixa claro que alguns tiveram
mais de um afastamento.

Preservando-se os aspectos éticos de pesquisa envolvendo seres humanos, este


projeto foi inicialmente encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), para
apreciação e aprovação, com prévia anuência da chefia do hospital. De posse da
autorização do CEP, procedeu-se à coleta dos dados junto ao CEAT da referida
instituição, tendo por base um formulário elaborado segundo dados da ficha de
atendimento individual do funcionário do ambulatório de saúde ocupacional. Os
dados obtidos foram organizados e analisados no programa Excel/98, sendo
configurados em forma de Tabelas e Figuras.
RESULTADO E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos foram agrupados segundo a caracterização da população e


quanto aos diferentes afastamentos do trabalho ocorridos em 1999, entre os
trabalhadores de enfermagem.

Caracterização da população: As Figuras 1 e 2 e a Tabela 1 mostram as


características dos sujeitos deste estudo. Nota-se a predominância de trabalhadores
de enfermagem do sexo feminino, pois, dos 333 funcionários da enfermagem
afastados do trabalho, 271 (81,4%) foram mulheres. Desde os primórdios, a
enfermagem é exercida majoritariamente por mulheres, considerando-se que
cuidados aos enfermos mostram-se cultural e socialmente apropriados para o
trabalho feminino(20).
Existem diferenças para o exercício profissional entre homens e mulheres, além de
ser comum a sobrecarga de trabalho das mulheres, visto que, muitas vezes,
conciliam atividades domésticas, às vezes em mais de um local de exercício
profissional, o que representa desgaste físico e mental que, cedo ou tarde, pode
repercutir em agravos à saúde(4,10,13-14,21-22).

Dos 333 funcionários envolvidos em 662 episódios de afastamentos, o auxiliar de


enfermagem foi a principal categoria de enfermagem acometida (82,3%) em 1999,
resultado que se aproxima dos encontrados em outros estudos, nessa
categoria(6,8,23).

Quanto à faixa etária, Tabela 1, predominaram os afastamentos entre trabalhadores


com 21 a 40 anos: 261 (78,3%), corroborando com os resultados encontrados em
outras pesquisas(6,10,13). Esse mesmo resultado difere do obtido em estudo sobre
doenças do trabalho e o exercício da enfermagem, onde ficou constatada maior
freqüência de afastamentos do trabalho na faixa etária de 50 a 55 anos (86,4%)(3).

Como mencionado anteriormente, os 333 funcionários deste estudo envolveram-se


em 662 episódios de afastamentos, sendo 66 entre os 33 enfermeiros, 7 entre os 4
técnicos de enfermagem, 550 entre os 274 auxiliares de enfermagem e 39 entre os
22 atendentes de enfermagem, como se verifica na Tabela 2. Pode-se constatar
que, dos 333 funcionários, 197 (59,1%) afastaram-se apenas 1 vez, sendo que, dos
outros funcionários que se afastaram mais de uma vez neste ano, a maioria teve de
2 a 4 afastamentos. Destaca-se um enfermeiro que se afastou 17 vezes e um
auxiliar de enfermagem que teve 22 episódios de afastamentos do trabalho.
Para melhor caracterizar os afastamentos, os resultados serão daqui por diante
apresentados segundo os 662 episódios ocorridos no ano de 1999. Na Tabela 3,
onde se aborda o setor de trabalho, verifica-se que 36 (54,5%) dos enfermeiros e 4
(57,1%) dos técnicos de enfermagem afastados, atuavam em setor de internação.
Chamam a atenção, nessa Tabela, os seguintes fatos: 163 (29,6%) dos auxiliares e
8 (20,5%) dos atendentes de enfermagem atuavam em UTI; que 339 (61,6%) dos
auxiliares de enfermagem e 15 (38,5%) dos atendentes de enfermagem afastados
atuavam em setores especializados e UTI e que, entre os atendentes de
enfermagem, 13 (33,3%) atuavam em unidade de Centro-Cirúrgico (CC),
evidenciando desrespeito à legislação profissional da enfermagem(24), pois tais
trabalhadores de enfermagem não estão habilitados para atuarem em tais setores.

Características dos afastamentos: Os 662 afastamentos deste estudo são


apresentados nas Tabelas 4 e 5 e Figuras 3 e 4 quanto a tipos, período e
agrupamento dos problemas de saúde, conforme a distribuição da Classificação
Internacional de Doença-CID-10(25) e enfoque dos afastamentos entre trabalhadores,
segundo o sexo.
Pela Tabela 4, nota-se que, dos 662 episódios de afastamentos do trabalho, 88,4%
foram ocasionados por agravos à saúde (licença por motivo de saúde), nas quatro
categorias de trabalhadores de enfermagem, 57 (86,4%) dos enfermeiros, 7 (100%)
dos técnicos de enfermagem, 490 (89,1%) dos auxiliares de enfermagem e 31
(79,5%) dos atendentes de enfermagem. Analisando-se esses dados em
consonância com a Tabela 3, verifica-se que os afastamentos acometeram,
principalmente, funcionários que atuam em áreas mais complexas, como Unidades
Especializadas (30,2%), UTI (27,2%) e Centro-Cirúrgico (14,7%), onde são alvos
para um grande número de transtornos de ordem física, química e psicológica,
aumentando os riscos de agravos à saúde e afastamentos(3,6,10).

Quanto à duração dos afastamentos do trabalho, verifica-se, na Tabela 5, que, em


560 (84,6%) dos episódios, o período foi de 1 a 10 dias, resultado que se aproxima
do encontrado em outras pesquisas, embora se refiram a um período de 1 a 14 dias
(64,4%)(6,8) e de até 15 dias (74,2%)(3). Quanto à preponderância dos afastamentos
no período de 1 a 4 dias, que ocorreram em 427 (64,5%) dos episódios neste
estudo, encontrou-se, em outra pesquisa(26), que 80% dos afastamentos tiveram
duração de até três dias.

Verifica-se, na Tabela 6, que 585 afastamentos foram por agravos à saúde (licença-
saúde), sendo que os principais problemas estavam relacionados a problemas
geniturinários: 110 (18,8%), e doenças mal definidas: 108 (18,6%), que incluíram 29
(50,9%) dos enfermeiros, 5 (71,4%) dos técnicos de enfermagem, 180 (36,7%) dos
auxiliares de enfermagem. Já entre os atendentes de enfermagem, os problemas de
saúde foram ocasionados, principalmente, por doenças dos órgãos dos sentidos: 6
(19,3%), infecciosas e parasitárias: 5 (16,1%) e do sistema respiratório: 5 (16,1%).
Por fim, apresentam-se, nas Figuras 3 e 4, as características dos episódios de
afastamentos entre os sujeitos deste estudo, considerando-se o sexo dos
trabalhadores. Observa-se que 499 (75,4%) dos trabalhadores, independente do
sexo, afastaram-se só por agravos à saúde, correspondendo a 408 (75,1%) entre as
mulheres e 91 (76,5%) entre os homens. Ressalta-se a ocorrência de 29 (5,3%)
licenças por gestação, e 34 (6,3%) acidentes de trabalho. Dados da literatura
revelam que a mulher não é mais suscetível a agravos da saúde nas ações
profissionais, mas, sim, possui alterações fisiológicas e morfológicas que,
geralmente, não são consideradas no planejamento do seu trabalho(27).

CONCLUSÃO

Segundo o objetivo definido para este estudo, verificou-se que ocorreram 662
episódios de afastamentos do trabalho em 1999, envolvendo 333 trabalhadores de
enfermagem, principalmente mulheres, na categoria de auxiliar de enfermagem, com
idade entre 21 a 40 anos.
Considerando-se o local de trabalho, houve predominância de afastamentos entre os
enfermeiros e técnicos de enfermagem que atuavam em unidade de internação,
enquanto que, entre os auxiliares e atendentes de enfermagem, afastaram-se mais
aqueles que trabalhavam em setores especializados e UTI.

A maioria dos episódios de afastamentos foram por agravos à saúde, 75,1% entre
as mulheres e 76,5% entre os homens. As licenças-saúde ocorreram,
principalmente, por problemas geniturinários e doenças mal definidas, entre os
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, enquanto, entre os atendentes de
enfermagem, os afastamentos relacionaram-se, principalmente, a problemas dos
órgãos dos sentidos, doenças infecciosas e parasitárias e do sistema respiratório.

Os dados obtidos neste estudo permitem uma análise mais acurada da situação dos
afastamentos do trabalho entre a equipe de enfermagem do hospital estudado, em
1999. Evidenciou-se que os funcionários afastados nas categorias de auxiliares e
atendentes de enfermagem atuavam em locais para os quais não tinham preparo e
qualificação legal, o que exige uma melhor análise da Chefia de Enfermagem quanto
à situação de trabalho da equipe de enfermagem. Ainda, os resultados dão
subsídios à Chefia de Enfermagem e à Administração Geral do Hospital para intervir
e melhorar as condições de trabalho existentes para a equipe de enfermagem e,
assim, diminuir os custos econômicos e sociais nesse contexto.

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ARTIGO ORIGINAL

RISCOS DE CONTAMINAÇÃO OCASIONADOS POR ACIDENTES DE


TRABALHO COM MATERIAL PÉRFURO-CORTANTE ENTRE
TRABALHADORES DE ENFERMAGEM

I
Maria Helena Palucci Marziale ;
II
Karina Yukari Namioka Nishimura ;
II
Mônica Miguel Ferreira
I
Enfermeira, Professor Livre-Docente, e-mail: marziale@eerp.usp.br
II
Graduandas em Enfermagem, Bolsista de Iniciação Científica do CNPq. Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento
da pesquisa em enfermagem
RESUMO

Esta pesquisa teve por objetivo identificar dentre os trabalhadores de enfermagem,


de quatro hospitais da região de Ribeirão Preto-SP, aqueles que foram acometidos
por acidente de trabalho com material pérfuro-cortante e encaminhados para
avaliação a um serviço especializado no tratamento de doenças infecciosas, os que
foram contaminados e as condutas adotadas diante do acidente. Trata-se de
pesquisa de campo de caráter descritivo. A amostra foi constituída por 30 sujeitos e
os dados foram coletados através de consulta ao prontuário médico dos
trabalhadores. Os resultados revelaram que nenhum dos trabalhadores foi
contaminado pelos vírus HBV, HCV, ou HIV, no entanto, foi observado que apenas
23,33% dos trabalhadores compareceram a todos os retornos agendados para
verificação de possível soroconversão. Em relação às condutas tomadas diante do
acidente, foi indicado o uso de quimioprofilaxia em 76,67% dos casos, exames
sorológicos em 100% dos casos e imunização contra hepatite em 9,99% dos casos.
Devido à grande ocorrência de acidentes percutâneos, segundo estimativas oficiais
de outros países, concluímos que maior atenção deva ser direcionada para a
prevenção desses acidentes, bem como ao rigor do seguimento pós-exposição
ocupacional.

Descritores: acidentes de trabalho; riscos ocupacionais; enfermagem

INTRODUÇÃO

Os acidentes de trabalho ocasionados por material pérfuro-cortante entre


trabalhadores de enfermagem são freqüentes, devido ao número elevado de
manipulação, principalmente de agulhas, e representam prejuízos aos trabalhadores
e às instituições. Tais acidentes podem oferecer riscos à saúde física e mental dos
trabalhadores.

Quando o acidente ocorre com material contaminado pode acarretar doenças como
a Hepatite B (transmitida pelo vírus HBV), Hepatite C (transmitida pelo vírus HCV) e
a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS (transmitida pelo vírus HIV). O
acidente pode ter repercussões psicossociais, levando a mudanças nas relações
sociais, familiares e de trabalho. As reações psicossomáticas pós-profilaxia, utilizada
devido à exposição ocupacional e ao impacto emocional, também são aspectos
preocupantes(1).

A conseqüência da exposição ocupacional aos patógenos transmitidos pelo sangue


não está somente relacionada à infecção. A cada ano milhares de trabalhadores de
saúde são afetados por trauma psicológico que perduram durante os meses de
espera dos resultados dos exames sorológicos. Dentre outras conseqüências, estão
ainda as alterações das práticas sexuais, os efeitos colaterais das drogas profiláticas
e a perda do emprego(2).

Os acidentes ocasionados por picada de agulhas são responsáveis por 80 a 90%


das transmissões de doenças infecciosas entre trabalhadores de saúde. O risco de
transmissão de infecção, através de uma agulha contaminada, é de um em três para
Hepatite B, um em trinta para Hepatite C e um em trezentos para HIV(3).

Os trabalhadores de enfermagem suprem a maior porção do cuidado direto ao


paciente 24 horas por dia nos hospitais e, conseqüentemente, possuem constante
risco para ferimentos ocupacionais, assim poderão ser os trabalhadores mais
afetados pelos vírus HBV, HCV e HIV(4).

Entre 1985 e 1998, o CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION(5)


registrou 55 casos confirmados de infecção pelo HIV e 136 casos de possíveis
contaminações entre trabalhadores de enfermagem e técnicos de laboratórios, nos
Estados Unidos, onde os acidentes percutâneos foram associados a 89% dos
acidentes registrados.

A referida instituição estimou que cerca de 800 trabalhadores de saúde tornavam-se


anualmente infectados pelo vírus HBV, e que, de 2 a 4% das infecções pelo HCV,
ocorridas naquele país em 1995, ocorreram em ambiente hospitalar pós-exposição a
sangue.

O risco de infecção pelo HBV, adquiridos ocupacionalmente, representa 4% do total


de casos, demonstrando ser a aquisição ocupacional da infecção por Hepatite B um
modo importante de transmissão, dada a partir de fluidos corpóreos, principalmente
o sangue, sendo que a transmissão do HIV e do HBV pode ocorrer através de um
único episódio de exposição(6).
Após exposição ocupacional com presença de sangue, ou fluídos corpóreos, uma
criteriosa avaliação deve ser feita quanto ao risco de transmissão do vírus HIV, em
função do tipo de acidente ocorrido e em relação à toxicidade das medicações
usadas na quimioprofilaxia. O acompanhamento sorológico anti-HIV deverá ser
realizado no momento do acidente, sendo repetido após seis e doze semanas e pelo
menos seis meses depois. O teste deverá ser feito após aconselhamento pré- e pós-
teste sorológico(1).

A soroconversão é alta para exposições envolvendo ferimentos profundos, sangue


visível sobre o objeto que causou o ferimento, agulha que havia estado na veia, ou
artéria, do paciente fonte, ou morte por AIDS de paciente fonte(7).

Em relação à quimioprofilaxia para Hepatite B, uma das principais medidas de


prevenção é a vacinação pré-exposição, indicada a todos os profissionais da área da
saúde. A vacinação segue um esquema de três doses, administradas no intervalo de
zero, um e seis meses. Quando da ocorrência de exposição ocupacional, maior
eficácia na profilaxia é obtida com o uso precoce da Gamaglobulina Hiperimune
(HBIG), dentro do período de 24 a 48 horas após o acidente(1).

Quanto à Hepatite C, não existe nenhuma medida específica para a redução do


risco de transmissão pós- exposição ao vírus HCV. Nenhuma imunoprofilaxia tem
provado ser efetiva para pré- ou pós-exposição ao referido vírus, como prevenção à
infecção(8).

Segundo os referidos autores, após exposição ocupacional as recomendações são


limitadas ao seguimento de testes para níveis de Alanine Aminotransferase,
soroconversão de anti-HCV e tratamento antiviral prematuro para prevenir
cronicidade.

O risco de infecção por HCV entre trabalhadores de saúde, que têm exposição
ocupacional à sangue HCV positivo, é baixo, e o índice de soroconversão é entre 0 e
2,8%, assim, recomendam que o seguimento de trabalhadores de saúde pós-
exposição ocupacional deva ser baseado em testes periódicos de Alanine
Aminotransferase (atividade) e anti-HCV, durante um período de 6 meses, sempre
comparando dados de evidência clínica e/ou bioquímica de Hepatite(8).
A contaminação por patógenos veiculados pelo sangue pós-exposição ocupacional
entre trabalhadores de enfermagem tem sido descrita na literatura por vários
autores(9-13). Em estudo sobre acidentes com material pérfuro-cortante entre
trabalhadores de enfermagem de hospitais da região de Ribeirão Preto-SP,
encontramos que, dentre 1662 trabalhadores de enfermagem, lotados em quatro
hospitais da região, foram registrados 46 acidentes com material pérfuro-cortante
durante o ano de 1999. Tais resultados nos motivaram a prosseguir com as
investigações em relação aos fatores associados à ocorrência dos acidentes, à
possível subnotificação, às conseqüências do acidente para os trabalhadores e à
busca de medidas para prevenir a ocorrência dos acidentes(14).

OBJETIVO

- Identificar dentre os trabalhadores de enfermagem, acometidos por inoculações


acidentais, durante o ano de 1999, em quatro hospitais da região de Ribeirão Preto-
SP, aqueles contaminados pelos vírus HBV, HCV e HIV e as conseqüências de tais
contaminações.
- Identificar as condutas adotadas frente à exposição ocupacional ao sangue e
fluídos corpóreos dos trabalhadores de enfermagem.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de pesquisa de campo de caráter descritivo e análise quantitativa dos


dados.

Local

O estudo foi realizado junto a um Serviço Especializado (SE) no tratamento de


doenças infecciosas de um Hospital Universitário do interior do Estado de São
Paulo.

População/Amostra

A população foi composta pelos trabalhadores de enfermagem, acometidos por


inoculações acidentais, durante o ano de 1999, em quatro hospitais da região de
Ribeirão Preto-SP, os quais tiveram os acidentes notificados através da
Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e foram encaminhados para
atendimento no SE, para o atendimento pós-exposição ocupacional com contato
com sangue, ou fluídos corpóreos, veiculadores de infecções.

Conforme resultados obtidos em estudo realizado com a mesma população(14),


foram registrados, durante o ano de 1999, e encaminhados ao SE 46 trabalhadores
acidentados, no entanto, através de levantamento documental no Banco de Registro
do Hospital, foi constatado o atendimento junto ao SE de apenas 30 dos
trabalhadores (65%), os quais constituíram a amostra estudada.

Coleta de dados

Os dados foram coletados no primeiro semestre de 2001, através de observação


documental junto à CAT e dos prontuários médicos dos trabalhadores, sendo
identificados os dados gerais do acidente, as causas e as providências realizadas.

Aspectos éticos

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital


Universitário, sendo consideradas todas as exigências contidas na resolução 196,
que normatiza as pesquisas que envolvem seres humanos em nosso país(15).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 mostra os registros de encaminhamento de trabalhadores de


enfermagem, acometidos por inoculações acidentais nos hospitais, e o número de
trabalhadores atendidos efetivamente no SE, em 1999.

Os dados obtidos na Tabela 1 indicam a existência de fatores que não possibilitaram


o comparecimento dos trabalhadores para avaliação no SE pós-inoculações
acidentais e, conseqüentemente, sobre as condutas adotadas. A distância de cerca
de 80 km entre as cidades e o SE, os horários de trabalho e a falta de conhecimento
de alguns trabalhadores sobre os potenciais riscos de acidentes podem figurar entre
os fatores.

Dos 30 trabalhadores que possuíam registro de atendimento, 27 (90%) eram do


sexo feminino e 03 (10%) do sexo masculino. Quanto ao local de trabalho 20
(66,66%) sujeitos trabalhavam no Hospital Universitário, 04 (13,33%) trabalhavam
em um Hospital de Ribeirão Preto, 04 (13,33%) trabalhavam em um Hospital de
Batatais e 02 (6,68%) trabalhavam em Hospital de Sertãozinho. Desses 30
acidentados, 22 (73,33%) trabalhavam em turnos alternantes entre os períodos
manhã, tarde e noite, 08 (26,66%) trabalhadores atuavam em turnos fixos, sendo 04
(13,33%) lotados no turno da manhã, 02 (6,66%) no turno da tarde e 02 (6,66%) no
turno da noite.

Dentre os acidentados 09 (30%) atuavam em unidade de internação de Clínica


Médico-Cirúrgica, 05 (16,66%) em Clínica Médica, 03 (10%) em Unidade de
Doenças Transmissíveis, 03 (10%) no Centro Cirúrgico, 02 (6,66%) em Clínica
Cirúrgica, 02 (6,66%) em Pediatria, 02 (6,66%) em Neurologia e 01 (3,33%)
trabalhador respectivamente nas unidades de Terapia Intensiva, Terapia Renal,
Moléstias Infecciosas e Ginecologia.

Através da consulta aos prontuários dos trabalhadores foram identificados, além dos
acidentes ocorridos em 1999, registros de acidentes ocorridos em datas anteriores e
posteriores. Na Tabela 2 são apresentados dados relativos ao número de acidentes
sofridos pelos trabalhadores e o tipo de acidentes registrados nos prontuários.

Conforme pode ser visualizado na Tabela 2, o maior número de acidentes foi


ocasionado durante a execução das atividades de punção venosa, administração de
medicação subcutânea e soroterapia, no ano de 1999, seguidos pelas perfurações
provocadas por agulhas descartadas em locais inadequados por outros
trabalhadores.

Os resultados nos levam a considerar que a continuidade das ocorrências de


acidentes com os mesmos trabalhadores, em períodos anteriores e posteriores a
1999, reflete a falta de adoção de medidas preventivas e/ou que as medidas
adotadas necessitam ser reavaliadas.

Através da Tabela 2 podemos constatar que as agulhas foram os objetos que


causaram a maioria das inoculações acidentais e as lâminas de bisturi e os
respingos de sangue em mucosas e ferimentos foram responsáveis por pequeno
número de acidentes. Merece destaque, ainda, que o descarte de material,
principalmente de agulhas, em locais inapropriados, é considerado prática de alto
risco.

Quanto às condutas adotadas após atendimento dos acidentados, a Tabela 3 ilustra


os resultados obtidos.

Os resultados dos exames laboratoriais foram positivos para a presença do vírus


HIV em 03 (10%) pacientes fonte e negativo em 27 (90%) pacientes fonte. Quanto
aos exames laboratoriais dos trabalhadores, 29 (96,67%) foram negativos para o
vírus HIV e 01 (3,33%) trabalhador teve resultado de exame indeterminado, sendo
coletado novo material para teste (ELISA - Western Blot), cujo resultado foi negativo.
Assim, não foi constatada contaminação imediata pelo vírus HIV em nenhum
trabalhador, quando relacionados os exames laboratoriais do paciente fonte e do
trabalhador.

O seguimento sorológico, recomendado nos casos de acidentes com exposição


ocupacional ao sangue, é iniciado logo após o acidente, seis e doze semanas após,
finalizando com últimos exames 6 meses após a ocorrência do acidente(1).

Dos 30 acidentados, 13 (43,34%) compareceram apenas ao primeiro retorno, 06


(20%) trabalhadores compareceram a dois retornos, 07 (23,33%) trabalhadores
compareceram nos três retornos agendados para a verificação de possível
soroconversão e 04 (13,33%) trabalhadores não compareceram a nenhum retorno.
Não foram constatados nos prontuários nenhum caso de contaminação pelos vírus
HBV, HCV e HIV. Os resultados obtidos nos levam a considerar a necessidade de
reavaliação do controle dos retornos no serviço estudado, a identificação do motivo
do não comparecimento aos mesmos e a adoção de estratégias para estimular o
comparecimento.

Em investigação sobre o risco ocupacional de infecção pelo HIV entre trabalhadores


de enfermagem da mesma instituição estudada, foi constatado que, dentre 36 casos
de acidentes com material potencialmente contaminados pelo HIV, não foi registrada
soroconversão no período de um, dois, seis e doze meses após a exposição
ocupacional(16).
Apesar da inexistência de contaminação no presente estudo não pode deixar de ser
ressaltada a letalidade das doenças e os vários prejuízos que acarretam. A literatura
mostra que, em 1994, foram detectados 67 casos de trabalhadores de saúde
infectados pelo HIV, em conseqüência de inoculações acidentais(5). Segundo dados
recentes, as estimativas internacionais apontam 400 novos casos por ano de
transmissão ocupacional do HBV e 1000 casos por ano do HCV(2).

Quanto à necessidade de tratamento pós-exposição ocupacional, foi constatada, em


nosso estudo, que a quimioprofilaxia foi indicada para 26 (76,67%) trabalhadores e
não indicada apenas para 04 (13,33%) trabalhadores. Dentre os fármacos utilizados,
o mais usado foi o Biovir (53,34%), seguido pelas associações Biovir e Indinavir
(10%), Indinavir e AZT e 3TC (6,66%), AZT e 3TC e Nelfinavir (6,66%), AZT e 3TC
(6,66%), Crixivan (3,33%). Cabe ressaltar que a indicação da quimioprofilaxia está
relacionada ao tipo e profundidade da lesão, tipo de agulha, títulos circulantes,
quantidade de sangue, ou fluidos corpóreos, informações sobre paciente fonte e
relativa imunidade(16).

Alguns trabalhadores (10%) procuraram o SE devido aos efeitos colaterais das


drogas utilizadas, principalmente o Biovir. Esses trabalhadores apresentavam
náuseas, vômitos, diarréias e alterações sensoriais; tais sintomas os levaram ao
abandono da quimioprofilaxia. O acidentado deve ser orientado para respeitar
rigorosamente as doses, os intervalos de uso e a duração do tratamento e, na
presença de intolerância, ele deverá ser reavaliado para adequação do esquema
terapêutico. Nessa avaliação, esquemas alternativos de anti-retrovirais podem ser
indicados na tentativa de manter a quimioprofilaxia durante 4 semanas(1).

Em relação à Hepatite, apenas 1 paciente fonte (3,33%) possuía sorologia para a


doença e nenhum trabalhador possuía resultado sorológico positivo para presença
da doença; 27 (90,01%) trabalhadores apresentavam esquema completo de
imunização quando da ocorrência do acidente, 02 (6,66%) trabalhadores
necessitaram receber uma dose da vacina como reforço e 01 (3,33%) trabalhador
iniciou o esquema completo após o acidente. A prática vacinal é essencial para os
trabalhadores da área da saúde(8).

CONCLUSÕES
Os resultados obtidos revelaram disparidade quanto ao número de
encaminhamentos de trabalhadores ao SE e o número de trabalhadores
efetivamente atendidos, mostrando a existência de fatores impeditivos à execução
de uma avaliação especializada, após a ocorrência dos acidentes, indicando, assim,
a necessidade de reavaliação da forma de encaminhamento pelos hospitais,
principalmente do hospital da cidade de Sertãozinho, cujo número de trabalhadores
atendidos no SE correspondeu apenas a 22,22% dos encaminhados. Cabe
destacar, ainda, que o pequeno número de notificações dos acidentes ocorridos no
período de 12 meses nos 4 hospitais (2,70%), nos leva à hipótese de subnotificação.

Através da observação documental nos prontuários, foi possível constatar o registro


de episódios de inoculações acidentais ocorridas em período anterior e posterior a
1999, o que nos leva a considerar que as medidas preventivas utilizadas precisam
ser revistas, pois os mesmos trabalhadores continuam se acidentando.

As agulhas foram os objetos causadores do maior número de acidentes, entretanto,


merece destaque que não apenas a manipulação das agulhas, ou cateteres
intravenosos, constituem risco, mas também a maneira e o local de descarte do
material pérfuro-cortante.

Através dos dados obtidos não foi constatado nenhum caso de contaminação pelos
vírus HBV, HCV e HIV, no entanto, cabe destacar a necessidade de reavaliação do
seguimento dos retornos para verificação de soroconversão, uma vez que 13,33%
dos trabalhadores não compareceram aos retornos e apenas 23,33% trabalhadores
compareceram a todos os retornos agendados.

As condutas adotadas frente ao acidente dependeram da análise das características


dos mesmos, ou seja, pelo volume de inoculação, profundidade da penetração da
agulha, ou objeto cortante, tipo e formato da agulha (o risco é maior quando a
agulha é oca) e a inoculação de sangue, características do paciente fonte (títulos
circulantes) e a relativa imunidade do trabalhador. Diante disso, todos os
trabalhadores acidentados realizaram exames sorológicos para pesquisa dos vírus
da Hepatite e AIDS e 93,34% dos pacientes fontes foram identificados e submetidos
à coleta de exames sorológicos, e 6,66% dos pacientes fonte eram desconhecidos.
A quimioprofilaxia foi indicada em 76,67% dos casos. O Biovir foi a droga mais
utilizada (53,34% dos casos, sozinho, e em 10% dos casos, associado ao Indinavir).
A imunização para Hepatite foi indicada em 6,66% dos trabalhadores como dose de
reforço e, em 3,33% trabalhadores, como esquema completo. Observamos que 90%
dos trabalhadores possuíam vacinação completa pré-acidente.

Embora a contaminação aos vírus da Hepatite e AIDS não tenha sido detectada, a
grande quantidade de manipulação de agulhas e objetos cortantes pelos
trabalhadores de enfermagem, as estimativas da ocorrência de acidentes
percutâneos divulgados e a letalidade das infecções nos leva a considerar que os
hospitais necessitam voltar maior atenção ao problema, direcionar medidas para a
notificação dos acidentes, melhorar o encaminhamento dos trabalhadores
acidentados ao SE e adotar medidas para a prevenção dos acidentes nos locais de
trabalho.

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[CITAÇÃO] Riscos do trabalho de enfermagem


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Compreendendo as estratégias coletivas de defesa das trabalhadoras de


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... de enfermagem ao cuidarem de pacientes em unidades de internação clínica e cirúrgica.A análise
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Acolhimento e transformações no processo de trabalho de enfermagem em


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[PDF] de scielo.brL Regis… - Revista Brasileira de Enfermagem, 2006 - SciELO Brasil
RESUMO Este texto busca compreender as insatisfações da equipe de Enfermagem no
trabalho. Propomos a associação com a teoria das necessidades humanas de Abraham Maslow
como um meio de sistematizar e entender as situações recorrentes ao dia-a-dia e prática ...
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O processo de trabalho de enfermagem: a cisão entre planejamento e execução do


cuidado; The nursing work process: the separation between planning and care …
M Peduzzi… - Rev. bras. enferm, 2002 - bases.bireme.br
... Id: 337069. Autor: Peduzzi, Marina; Anselmi, Maria Luiza. Título: O processo de trabalho de
enfermagem: a cisão entre planejamento e execução do cuidado / The nursing work process:
the separation between planning and care delivery. Fonte: Rev. bras. ...
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Causas de subnotificação de acidentes do trabalho entre trabalhadores de


enfermagem
[PDF] de scielo.brAA Napoleão, MLCC Robazzi… - … de Enfermagem, 2000 - SciELO Brasil
Os trabalhadores de enfermagem estão expostos a uma série de riscos durante a execução
de seu trabalho, quais sejam, físicos, químicos, ergonômicos, psicossociais e biológicos, os
quais podem-lhes ocasionar acidentes e doenças ocupacionais. O acidente de trabalho ...
Citado por 24 - Artigos relacionados - Todas as 4 versões

[CITAÇÃO] O mito da subalternidade do trabalho da enfermagem à medicina


WD Lunardi Filho - … do trabalho da enfermagem à …, 2000 - Ed. Universitária-UFPel Pelotas
Citado por 75 - Artigos relacionados

[CITAÇÃO] Sistemas de classificação da prática de enfermagem: um trabalho


coletivo
TR Garcia… - João Pessoa: Idéia, 2000
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[HTML] Mulher e trabalho: a história de vida de mães trabalhadoras de enfermagem


[HTML] de usp.brT Spindola… - … Latino-Americana de Enfermagem, 2003 -
revistasusp.sibi.usp.br
Trata-se de estudo qualitativo utilizando o método de história de vida, tendo como objeto o cotidiano
das mulheres-mães-trabalhadoras de enfermagem. Os objetivos foram: descrever o dia-a-dia
dessas profissionais, identificar a interferência da profissão na vida dessa mulher e ...
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Estresse ocupacional da enfermeira de centro de material; Stress in nurses of central


supply unit
A Silva… - Rev. esc. enferm. USP, 1992 - bases.bireme.br
Base de dados : BDENF. Pesquisa : 6366 [Identificador único]. Referências encontradas :
1 [refinar]. Mostrando: 1 .. 1 no formato [Detalhado]. página 1 de 1, 1 / 1, BDENF, seleciona.
para imprimir. Fotocópia. Silva, Arlete. Bianchi, Estela Regina Ferraz. ...
Citado por 30 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 3 versões

Cuidado: objeto de trabalho ou objeto epistemológico da enfermagem; Care: work


or epistemological object of nursing?
MT Leopardi, FL Gelbcke… - Texto & contexto enferm, 2001 - bases.bireme.br
... sobre o cuidado como objeto epistemológico da enfermagem. Articula este conteúdo
com características do processo de trabalho da enfermagem, no sentido de
diferenciar o objeto de trabalho e objeto epistemológico.(AU). ...
Citado por 64 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[PDF]Estudo do estresse do enfermeiro com dupla jornada de trabalho em um


hospital de oncologia pediátrica de Campinas
[PDF] de scielo.brRC Pafaro… - Rev Esc Enferm USP, 2004 - SciELO Brasil
... Características gerais da dupla jornada de trabalho em enfermagem ... O trabalho em turnos é
uma
característica do exercício da enfermagem, sendo obrigatório uma vez que a assistência é
prestada durante as 24 horas do dia, nos 7 dias da semana, ininterruptamente. ...
Citado por 67 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 5 versões

Estudo sobre acidentes de trabalho ocorridos com trabalhadores de enfermagem


de um hospital de ensino
VEF Silva - 1988 - bases.bireme.br
... O estudo evidencia a necessidade de serem elaborados programas de orientaçäo para os
trabalhadores de enfermagem, com o objetivo de enfocar a análise ea discussäo das condiçöes
do trabalho de enfermagem ea necessidade da prevençäo aos riscos a ele inerente. ...
Citado por 41 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[PDF]Acidentes com material biológico em hospital da Rede de Prevenção de


Acidentes do Trabalho–REPAT
[PDF] de fundacentro.gov.brEJ da Silva, VJ Haas… - RBSO, 2007 - fundacentro.gov.br
... MARZIALE, MHP Subnotificação de acidentes de trabalho com pérfuro- cortante entre
trabalhadores de enfermagem brasileiros. ... NAPOLEÃO, AA; ROBAZZI, ML do CC; MARZIALE,
MHP Causas de subnotificação de acidentes do trabalho entre trabalhadores de enfermagem. ...
Citado por 8 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 12 versões

[PDF] Fatores de motivação e insatisfação no trabalho do enfermeiro


[PDF] de scielo.brAAV Batista, MJ Vieira, NCS Cardoso… - Rev Esc Enferm …, 2005 - SciELO
Brasil
... DESCRITORES Motivação. Satisfação no trabalho. Enfermagem. ... (5) Anjos MO. Desafios
e perspectivas de enfermeiras de centro cirúrgico no seu processo de trabalho. [dis-
sertação] Salvador (BA): Escola de Enfermagem da UFBA; 2001. ...
Citado por 56 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 8 versões

[PDF] Teorias administrativas e organização do trabalho: de Taylor aos dias atuais,


influências no setor saúde e na enfermagem
[PDF] de scielo.brE Matos… - Texto Contexto Enferm, 2006 - SciELO Brasil
RESUMO: Trata-se de uma revisão de literatura que situa as principais abordagens teóricas
da adminis- tração destacando suas características, contribuições e limitações para a organização
do trabalho na sociedade. Mostra a influência destas teorias na organização do trabalho ...
Citado por 34 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 11 versões

Aspectos ergonömicos e posturais em centro de material; Ergonomic and postural


aspects in a central supply unit
NMC Alexandre, MAA Moräes, N Mahayri… - Rev. Esc. Enferm. …, 1992 - bases.bireme.br
... vertebral. Este trabalho discute certos aspectos ergonômicos e posturais específicos
em Centro de Material com o objetivo de desenvolver uma consciência crítica a
respeito dos efeitos do local de trabalho sobre a saúde. (AU). ...
Citado por 20 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 3 versões

[PDF]Acidentes de trabalho com trabalhadores de enfermagem


[PDF] de scielo.brEJG Ribeiro… - Rev Bras Enferm, 2007 - SciELO Brasil
RESUMO O objetivo deste estudo foi o de identificar e analisar acidentes e as cargas de trabalho
a que estão expostos os trabalhadores de enfermagem no desenvolvimento de suas
atividades. Trata-se de um estudo de caso, do tipo descritivo e exploratório, desenvolvido ...
Citado por 28 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 3 versões

Percepção dos efeitos do trabalho em turnos sobre a saúde ea vida social em


funcionários da enfermagem em um hospital universitário do Estado de São Paulo
[PDF] de scielosp.orgES Costa, I Morita… - Cadernos de saúde …, 2000 - SciELO Public Health
Percepção dos efeitos do trabalho em turnos sobre a saúde ea vida social em funcionários da
enfermagem em um hospital universitário do Estado de São Paulo ... Nursing staff perceptions
of the effects of shift work on health and social life at the São Paulo State University hospital
Citado por 49 - Artigos relacionados - Todas as 5 versões

[CITAÇÃO] Acidente do trabalho em um hospital universitário: um estudo sobre a


ocorrência e os fatores de risco entre trabalhadores de enfermagem
MCC Benatti - 1997
Citado por 50 - Artigos relacionados

O trabalho de enfermagem na produção de cuidados de saúde no modelo clínico


[PDF] de ufrgs.brMA Dias da Silva Lima… - … Gaúcha de Enfermagem, 1999 - seer.ufrgs.br
O objeto desta pesquisa é a organização tecnológica e social do trabalho em saúde no
hospital, privilegiando o espaço da prática de enfermagem na produção de cuidados. Tem-se
como objetivo anali- sar o processo de trabalho em um hospital universitário, procurando ...
Citado por 55 - Artigos relacionados - Todas as 10 versões
[PDF] Ocorrência de acidente de trabalho por material perfurocortante entre
trabalhadores de enfermagem de um hospital universitário da Cidade de Campinas,

[PDF] de scielo.brS Brandi, MCC Benatti… - Rev Esc Enfermagem USP, 1998 - SciELO Brasil
OCORRÊNCIA DE ACIDENTE DO TRABALHO POR MATERIAL PERFUROCORTANTE ENTRE
TRABALHADORES DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL UND7ERSITÁRIO DA CIDADE DE
CAMPINAS, ESTADO DE SÃO PAULO J ACCIDENTS WITH PERFORATWE TOOLS ...
Citado por 30 - Artigos relacionados - Todas as 5 versões

Processo de trabalho em saúde e enfermagem em UTI neonatal


[HTML]
[HTML] de usp.brMAM Gaíva… - … -Americana de Enfermagem, 2004 - revistasusp.sibi.usp.br
O estudo tem como objetivo analisar o processo de trabalho na UTI Neonatal de um hospital
universitário de Cuiabá-MT. Os dados foram coletados utilizando-se observação participante
e documentos. Os resultados mostraram que, no trabalho coletivo, a finalidade maior é o ...
Citado por 45 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 7 versões

[CITAÇÃO] O trabalho gerencial em enfermagem


VEA Felli, M Peduzzi… - … , coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. …, 2005
Citado por 59 - Artigos relacionados

[PDF] As representações sociais dos trabalhadores de enfermagem não enfermeiros


(técnicos e auxiliares de enfermagem) sobre o trabalho em Unidade de Terapia …
[PDF] de scielo.brHE Shimizu… - Rev Esc Enferm USP, 2002 - SciELO Brasil
... Desta forma, não foi possível compreender como toda equipe de enfermagem vivencia este
trabalho. ... O desgaste do trabalhador de enfermagem: relação trabalho de enfermagem e saúde
do trabalhador. (Tese) São Paulo (SP): Escola de Enfermagem USP; 1996. ...
Citado por 33 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 5 versões

[CITAÇÃO] Enfermagem do Trabalho-Programas, procedimentos e técnicas


MVG MORAES - Editora Iátria, 2007
Citado por 5 - Artigos relacionados

Condições ergonômicas da situação de trabalho, do pessoal de


[CITAÇÃO]
enfermagem, em uma unidade de internação hospitalar
MHP Marziale - Ribeirão Preto, 1995
Citado por 60 - Artigos relacionados

Alguns problemas ocupacionais decorrentes do trabalho de enfermagem no Brasil;


Some occupational problems of nursing work in Brazil
MLCC Robazzi… - Rev. bras. enferm, 1999 - bases.bireme.br
... Id: 273130. Autor: Robazzi, Maria Lúcia do Carmo Cruz; Marziale, Maria Helena Palucci. Título:
Alguns problemas ocupacionais decorrentes do trabalho de enfermagem no Brasil / Some
occupational problems of nursing work in Brazil. Fonte: Rev. bras. ...
Citado por 41 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões
Saúde e trabalho de mulheres profissionais de enfermagem em um hospital público
de Salvador, Bahia; Health and work of nurses of a public hospital
EML Aquino, MJS Araujo, GMS Menezes… - Rev. bras. …, 1993 - bases.bireme.br
... 1993. Resumo: O trabalho de Enfermagem, desenvolvido essencialmente por mulheres,
envolve numerosos fatores de risco para a saúde. Apesar disso, no Brasil, os estudos
sobre a saúde desse grupo ocupacional praticamente inexistem. ...
Citado por 36 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[HTML] O trabalho do enfermeiro nos equipamentos de saúde mental da rede


pública de Campinas-SP
[HTML] de usp.brDIR Kirschbaum… - … -Americana de Enfermagem, 2001 -
revistasusp.sibi.usp.br
Esta investigação objetivou verificar o campo de atuação do enfermeiro em serviços de saúde
mental e analisar suas relações de trabalho com outros membros das equipes
multiprofissionais, buscando verificar os nexos estabelecidos entre a prática destes ...
Citado por 26 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 4 versões

Conhecimento de enfermagem em saúde do trabalhador oriundo de dissertações e


teses; Nursing knowledge production in occupational health originated from …
ECM Duran, MLCC Robazzi… - Rev. gaúch. enferm, 2007 - bases.bireme.br
... 57%) destacando-se entre os estudos o uso da fenomenologia como referencial
teórico-metodológico. A maioria do conhecimento foi produzido por pesquisa aplicada
direcionada às situaçõesdo trabalho de enfermagem.(AU). ...
Citado por 10 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[PDF]A humanização do trabalho para os profissionais de enfermagem


[PDF] de scielo.brSC Amestoy, E Schwartz… - Acta Paul Enferm, 2006 - SciELO Brasil
... Descritores: Humanização da assistência; Enfermagem; Trabalho/normas ... “Para nós está meio
complicado (...) cada vez mais somos cobrados, a instituição muda o processo de trabalho
e sobrecarrega a enfermagem (...) direitos temos poucos”. (Bibiana) ...
Citado por 38 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 6 versões

[HTML] Acidentes de trabalho e doença ocupacional: estudo sobre o conhecimento


do trabalhador hospitalar dos riscos à saúde de seu trabalho
[HTML] de scielo.brBRG Oliveira… - … Latino-Americana de Enfermagem, 2001 - SciELO Brasil
Este estudo busca levantar o conhecimento dos trabalhadores de saúde hospitalar quanto a
sua própria saúde no desenvolvimento de suas atividades. Foi realizado em um hospital
geral, de médio porte, com serviço de medicina ocupacional funcionante. O caminho ...
Citado por 46 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 20 versões

[HTML] A situação de trabalho do pessoal de enfermagem no contexto de um


hospital argentino: um estudo sob a ótica da ergonomia
[HTML] de scielo.brA Del Valle Royas… - … -americana de enfermagem, 2001 - SciELO Brasil
Com o objetivo de caracterizar a situação de trabalho do pessoal de enfermagem num hospital
Argentino através da identificação das características dos trabalhadores, das atividades executadas
e do ambiente laboral, utilizou-se como pressuposto metodológico a Ergonomia. ...
Citado por 24 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 20 versões
O cotidiano do trabalho da enfermagem em UTI: prazer e sofrimento; Quotidian in
nursing work in ICU: pleasure and suffering
JJ Martins… - Texto & contexto enferm, 2002 - bases.bireme.br
... Título: O cotidiano do trabalho da enfermagem em UTI: prazer e sofrimento / Quotidian in nursing
work in ICU: pleasure and suffering. ... Idioma: Pt; Pt. Resumo: Este estudo teve como objetivo
identificar os fatores geradores de prazer e sofrimento no trabalho da enfermagem. ...
Citado por 29 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[HTML] A mulher trabalhadora de enfermagem e os distúrbios osteomusculares


relacionados ao trabalho
[HTML] de scielo.brPC Leite, A Silva… - Revista da Escola de Enfermagem …, 2007 - SciELO
Brasil
O presente estudo aborda a relação entre a mulher trabalhadora de enfermagem e os distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho. Evidencia-se que os trabalhadores de enfermagem
estão expostos a uma série de condições desfavoráveis no ambiente de trabalho. As ...
Citado por 22 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 8 versões

[HTML]Qualidade de vida no trabalho de profissionais de enfermagem, atuantes em


unidades do bloco cirúrgico, sob a ótica da satisfação
[HTML] de scielo.brDRC Schmidt… - … Latino-Americana de Enfermagem, 2006 - SciELO Brasil
Estudo descritivo, de corte transversal, que avaliou a qualidade de vida no trabalho (QVT) de
profissionais de enfermagem, atuantes em unidades do Bloco Cirúrgico (BC) em quatro hospitais
de Londrina, PR. Participaram 105 trabalhadores, sendo a maioria do sexo feminino ...
Citado por 37 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 8 versões

[PDF]Stress no trabalho do enfermeiro


[PDF] de scielo.brJRA da Costa, JV de Lima… - Rev Esc Enferm USP, 2003 - SciELO Brasil
RESUMO Este estudo avaliou o stress associado ao trabalho do enfermeiro no trabalho com
o portador de transtorno mental inserido no contexto do hospital psiquiátrico. Trata-se de pesquisa
quantitativa, analítica, realizada em sete hospitais psiquiátricos da cidade de Fortaleza, ...
Citado por 26 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 5 versões

Acidente de trabalho com material biológico em trabalhadores da equipe de


enfermagem do Centro de Pesquisas Hospital Evandro Chagas; Work accident with

D Braga - 2000 - bases.bireme.br
... Autor: Braga, Daphne. Título: Acidente de trabalho com material biológico em trabalhadores
da equipe de enfermagem do Centro de Pesquisas Hospital Evandro Chagas / Work accident
with biological material in workers of the Research Center Evandro Chagas Hospital. ...
Citado por 28 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 3 versões

Absenteísmo na equipe de enfermagem: análise da produção científica;


Absenteeism in the Nursing Team: analysis of the scientific production
RS Appolinário - Rev. enferm. UERJ, 2008 - bases.bireme.br
... Título: Absenteísmo na equipe de enfermagem: análise da produção científica / Absenteeism
in the Nursing Team: analysis of the scientific production. Fonte: Rev. ... Responsável: BR1366.1 -
Serviço de Bibliotecas Biomédicas B - Odontologia e Enfermagem. página 1 de 1, ...
Citado por 9 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões
[HTML]A educação para o século XXI ea formação do professor reflexivo na
enfermagem
[HTML] de usp.brJIL Faria… - … -Americana de Enfermagem, 2004 - revistasusp.sibi.usp.br
... freqüência, em cursos da área da saúde, como o de Enfermagem, onde atuamos, que está
requerendo ajustes em seu projeto pedagógico e na prática docente, de modo a propiciar
melhores condições de formação aos alunos e de inserção no mercado de trabalho a seus ...
Citado por 38 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 8 versões

[PDF]A motivação no trabalho da equipe de enfermagem


[PDF] de scielo.brMCA Pereira, N Fávero - Rev Latino-am Enfermagem, 2001 - SciELO Brasil
Estudo descritivo, realizado em um hospital universitário, com o propósito de apreender alguns
aspectos que intervêm na motivação humana e suas implicações no resultado do trabalho.
Utilizou-se como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada e ...
Citado por 48 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 8 versões

[CITAÇÃO]O processo de enfermagem do trabalho: a sistematização da assistência


de enfermagem em saúde ocupacional
AJ Lucas - São Paulo (SP): Iátria, 2004
Citado por 8 - Artigos relacionados

Problemas de saúde e riscos ocupacionais: percepções dos trabalhadores de


enfermagem de unidade materna infantil; Health Problems and Occupational Risks
in …
MYC Mauro… - Rev. enferm. UERJ, 2008 - bases.bireme.br
... Rio de Janeiro. Teve como objetivo analisar a percepção dos trabalhadores de
enfermagem sobre suas condições de trabalho, riscos ocupacionais e problemas
de saúde em uma unidade materno-infantil. A coleta de dados ...
Citado por 8 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[CITAÇÃO]Reinserção do trabalhador alcoolista no contexto laboral: a percepção do


enfermeiro do trabalho
M Donato - 2002 - … de Enfermagem Anna Nery, Rio de …
Citado por 6 - Artigos relacionados

Humanização e trabalho na enfermagem; Humanization and work in nursing


N Collet… - Rev. bras. enferm, 2003 - bases.bireme.br
... sentido da enfermagem". Discutimos a relação humanização/trabalho na enfermagem
diferenciando os aspectos relacionados à humanização do trabalho de enfermagem
daqueles do trabalho humanizado da enfermagem. ...
Citado por 35 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[PDF]Qualidade de vida e capacidade para o trabalho dos profissionais em


enfermagem no trabalho em turnos
[PDF] de ufsc.brM MATTÉI - nucidh.ufsc.br
Dissertação Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre
em Engenharia de Produção – Área de Ergonomia ... QUALIDADE DE VIDA E ...
Citado por 8 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 5 versões
O trabalho de enfermagem e sua articulaçäo com o processo de trabalho em
saúde coletiva: Rede Básica de Saúde em Ribeiräo Preto; A nursing work in Basic …
MCP Almeida - 1991 - bases.bireme.br
... Título: O trabalho de enfermagem e sua articulaçäo com o processo de trabalho em saúde
coletiva:
Rede Básica de Saúde em Ribeiräo Preto / A nursing work in Basic Network of Public Services
of Health in Ribeiräo Preto. Fonte: Ribeiräo Preto; sn; 1991. 297 p. tab, ilus. ...
Citado por 72 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

Divisäo social do trabalho e enfermagem


C Melo - 1986 - bases.bireme.br
... Mostrando: 1 .. 1 no formato [Detalhado]. página 1 de 1, 1 / 1, BDENF, seleciona. para imprimir.
experimental, Documentos relacionados. Id: 8286. Autor: Melo, Cristina. Título: Divisäo social
do trabalho e enfermagem. Fonte: Säo Paulo; Cortez; 1986. 94 p. Idioma: Pt. ...
Citado por 96 - Artigos relacionados - Em cache

Estudo dos riscos à saúde das pessoas que trabalham na enfermagem hospitalar
DLS Gomes - Rev. paul. hosp, 1986 - bases.bireme.br
... Id: 75438. Autor: Gomes, Daisy Leslie Steagall. Título: Estudo dos riscos a saúde das
pessoas que trabalham na enfermagem hospitalar. Fonte: Rev. paul. hosp;34(4/6):85-
93, abr.-jun. 1986. Idioma: Pt. Descritores: Enfermagem do Trabalho. ...
Citado por 12 - Artigos relacionados - Em cache

[CITAÇÃO]A (in) satisfação do enfermeiro no trabalho: implicações para o


gerenciamento das ações de enfermagem-aspectos teóricos
MS dos Santos - 1999
Citado por 5 - Artigos relacionados

[CITAÇÃO] Enfermagem do trabalho: conceitos e prática


B Rogers, LC Leal… - Lusociência
Citado por 15 - Artigos relacionados

Riscos no trabalho de enfermagem em um centro municipal de saúde; Work risks in


nursing at a municipal health center
SNP Farias… - Rev. Enferm. UERJ, 2005 - bases.bireme.br
... Id: 14580. Autor: Farias, Sheila Nascimento Pereira de; Zeitoune, Regina Célia Gollner. Título:
Riscos no trabalho de enfermagem em um centro municipal de saúde / Work risks in nursing
at a municipal health center. Fonte: Rev. Enferm. UERJ;13(2):167-174, maio-ago. 2005. ...
Citado por 9 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 3 versões

[PDF]A participação da enfermagem no trabalho educativo em saúde coletiva: um


estudo dos relatos de experiência produzidos por enfermeiros brasileiros no …
[PDF] de usp.brEG Pereira - A participação da enfermagem no trabalho educativo …, 2005 -
teses.usp.br
Pereira, Érica Gomes A participação da enfermagem no trabalho educativo em saúde
coletiva: um estudo dos relatos de experiência produzidos por enfermeiros brasileiros no período
1988-2003 / Érica Gomes Pereira. - São Paulo: EG Pereira; 2005. 122 p.
Citado por 13 - Artigos relacionados - Todas as 2 versões

A participação da enfermeira do trabalho no programa de conservação auditiva


[PDF] de scielo.brMCF Baggio… - … Latino-Americana de Enfermagem, 2001 - SciELO Brasil
... PALAVRAS CHAVE: enfermagem, trabalho, ruído, perda auditiva, enfermagem do trabalho THE
NURSE'S PARTICIPATION IN THE WORK OF THE HEARING CONSERVATION PROGRAM ...
Page
2. 98 INTRODUÇÃO A Enfermagem do Trabalho, como especialidade, vem ...
Citado por 11 - Artigos relacionados - Todas as 8 versões

Fatores de risco dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho de


enfermagem; Risk factors for cumulative trauma disorders related to the nursing
work
AMR Moreira… - Rev. Enferm. UERJ, 2005 - bases.bireme.br
... Id: 14615. Autor: Moreira, Adriana Maria Rodrigues; Mendes, René. Título: Fatores de risco dos
distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho de enfermagem / Risk factors for cumulative
trauma disorders related to the nursing work. Fonte: Rev. Enferm. ...
Citado por 8 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[HTML] A produção científica sobre os acidentes de trabalho com material


perfurocortante entre trabalhadores de enfermagem
[HTML] de usp.brMHP Marziale… - … Americana de Enfermagem, 2002 - revistasusp.sibi.usp.br
A investigação ora apresentada teve por objetivos identificar as abordagens metodológicas
das pesquisas publicadas em periódicos indexados nas bases de dados Lilacs e Medline, nos
últimos 16 anos, referentes, ao estudo dos acidentes de trabalho com material ...
Citado por 103 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 7 versões

[PDF]O acolhimento e os processos de trabalho em saúde: o caso de Betim, Minas


Gerais, Brasil
[PDF] de scielosp.orgTB Franco, WS Bueno… - Cadernos de Saúde …, 1999 - SciELO Public
Health
... Em relação à auxiliar de enfermagem, seu trabalho anterior à implantação do
acolhimen- to resumia-se às atividades próprias da sua função (curativo, injeção,
vacina, distribuição de medicamentos) e ao apoio aos médicos. ...
Citado por 231 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 21 versões

O trabalho de enfermagem; Nursing work


MCP Almeida… - 1997 - bases.bireme.br
... Título: O trabalho de enfermagem / Nursing work. Fonte: São Paulo; Cortez; 1997. 296 p. Idioma:
Pt. Resumo: Apresenta textos sobre a temática da organização do trabalho de enfermagem dentro
da fundamentação teórica do processo de trabalho em saúde. ...
Citado por 131 - Artigos relacionados - Em cache

[HTML] O trabalho de enfermagem em saúde mental: contradições e


potencialidades atuais
[HTML] de usp.brAG Oliveira… - … Latino-Americana de Enfermagem, 2003 -
revistasusp.sibi.usp.br
Este estudo teve por objetivo identificar contradições e desafios que se apresentam atualmente
no trabalho de enfermagem em saúde mental, no contexto da Reforma Psiquiátrica, tendo por
referência a construção histórico-social desse processo de trabalho. A Reforma ...
Citado por 66 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 7 versões
Prazer e sofrimento no trabalho: contribuiçöes à organizaçäo do processo de
trabalho da enfermagem; Pleasure and suffering work: contributions organization of
the …
WD Lunardi Filho - 1995 - bases.bireme.br
... Autor: Lunardi Filho, Wilson Danilo. Título: Prazer e sofrimento no trabalho: contribuiçöes à
organizaçäo do processo de trabalho da enfermagem / Pleasure and suffering work: contributions
organization of the nursing work process. Fonte: Porto Alegre; sn; 1995. 287 p. tab. ...
Citado por 86 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

O desgaste do trabalhador de enfermagem: relaçäo trabalho de enfermagem e


saúde do trabalhador; The strained process of the nursing workers: the relationship
of …
VEF Silva, P Kurcgant… - Rev. bras. enferm, 1998 - bases.bireme.br
... Título: O desgaste do trabalhador de enfermagem: relaçäo trabalho de enfermagem e saúde
do trabalhador / The strained process of the nursing workers: the relationship of nursing work
and nursing health. Fonte: Rev. bras. enferm;51(4):603-14, out.-dez. 1998. ilus. Idioma: Pt. ...
Citado por 88 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[CITAÇÃO] Considerações sobre a enfermagem enquanto trabalho


MCP Almeida, SMM Rocha… - … de enfermagem, 1997 - Cortez São Paulo
Citado por 47 - Artigos relacionados

[CITAÇÃO] Enfermagem do trabalho


I Bulhoes - 1986 - Ideas
Citado por 31 - Artigos relacionados

[PDF]Enfermagem compreendida como vocação e sua relação com as atitudes dos


enfermeiros frente às condições de trabalho
[PDF] de scielo.brRM Rodrigues - Revista Latino-am. Enfermagem, 2001 - SciELO Brasil
A proposta é refletir sobre a enfermagem enquanto trabalho, afastando sua concepção amplamente
aceita que a identifica a uma atividade de ajuda, sendo que tal concepção poderia ser fator
dificultante para o enfrentamento e transformação das condições de trabalho. Tenta ...
Citado por 29 - Artigos relacionados - Ver em HTML

[CITAÇÃO] Enfermagem do trabalho


GM Carvalho - São Paulo: EPU, 2001
Citado por 27 - Artigos relacionados

Estresse, fator de risco para a saúde do enfermeiro em centro de terapia intensiva;


Stress as risk factor to the nurseïs health in an intensive therapy center
JM Santos, EB Oliveira… - Rev. enferm. UERJ, 2006 - bases.bireme.br
... Os objetivos foram: identificar os principais estressores e analisar como os mesmos afetam a
saúde do trabalhador de enfermagem. ... de conteúdo, que apontou para os seguintes resultados:
os principais estressores do CTI estão vinculados à organização do trabalho, na qual ...
Citado por 25 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

O sofrimento psíquico em trabalhadores de UTI interferindo no seu modo de viver a


enfermagem; The interference of the psychic suffering of UTI workers upon their …
GC Gomes, WD Lunardi Filho… - Rev. enferm. UERJ, 2006 - bases.bireme.br
... Resumo: O trabalho em saúde apresenta-se como fonte de prazer e de sofrimento. Este estudo
exploratório de abordagem qualitativa teve por objetivo identificar os fatores relacionados ao
sofrimento psíquico em trabalhadores de enfermagem de uma Unidade de Terapia ...
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Análise da produção científica da vertente saúde do trabalhador de enfermagem:


subjetividade e trabalho; Analysis of the scientific production on nursing worker's …
EB Oliveira… - Rev. enferm. UERJ, 2004 - bases.bireme.br
... Autor: Oliveira, Elias Barbosa de; Lisboa, Márcia Tereza Luz. Título: Análise da produção científica
da vertente saúde do trabalhador de enfermagem: subjetividade e trabalho / Analysis of the
scientific production on nursing worker's health: subjectivity and work. Fonte: Rev. ...
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Trabalho de enfermagem em uma unidade de emergência hospitalar e transtornos


mentais; Nursing work at an emergency unit and mental disorders
PS Pinho… - Rev. enferm. UERJ, 2007 - bases.bireme.br
... Id: 14913. Autor: Pinho, Paloma de Sousa; Araújo, Tânia Maria de. Título: Trabalho de
enfermagem em uma unidade de emergência hospitalar e transtornos mentais / Nursing work
at an emergency unit and mental disorders. Fonte: Rev. enferm. UERJ;15(3):329-336, jul.-set. ...
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Subnotificaçäo de acidentes com perfurocortantes na enfermagem; Underreporting


of accidents with cutting and piercing objects in nursing
MHP Marziale - Rev. bras. enferm, 2003 - bases.bireme.br
... 2003. tab. Idioma: Pt. Resumo: Os objetivos da pesquisa foram: identificar os acidentes de
trabalho que ocasionaram injúrias percutâneas entre trabalhadores de enfermagem, identificar
se os acidentes foram ou näo notificados e conhecer os motivos da näo notificaçäo. ...
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ORIENTAÇÕES PARA BUSCA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS NO
SCIELO

Após a escolha do tema do TCC, pertinente ao seu curso de Pós-graduação,


você deverá fazer a busca por artigos científicos da área, em sites especializados,
para a redação do seu próprio artigo científico. O suporte bibliográfico se faz
necessário porque toda informação fornecida no seu artigo deverá ser retirada de
outras obras já publicadas anteriormente. Para isso, deve-se observar os tipos de
citações (indiretas e diretas) descritas nesta apostila e a maneira como elas devem
ser indicadas no seu texto.
Lembre-se que os artigos que devem ser consultados são artigos científicos,
publicados em revistas científicas. Sendo assim, as consultas em revistas de ampla
circulação (compradas em bancas) não são permitidas, mesmo se ela estiver
relatando resultados de estudos publicados como artigos científicos sobre aquele
assunto. Revistas como: Veja, Isto é, Época, etc., são meios de comunicação
jornalísticos e não científicos.
Os artigos científicos são publicados em revistas que circulam apenas no
meio acadêmico (Instituições de Ensino Superior). Essas revistas são denominadas
periódicos. Cada periódico têm sua circulação própria, isto é, alguns são publicados
impressos mensalmente, outros trimestralmente e assim por diante. Alguns
periódicos também podem ser encontrados facilmente na internet e os artigos neles
contidos estão disponíveis para consulta e/ou download.
Os principais sites de buscas por artigos são, entre outros:
SciELO: www.scielo.org
Periódicos Capes: www.periodicos.capes.gov.br
Bireme: www.bireme.br
PubMed: www.pubmed.com.br
A seguir, temos um exemplo de busca por artigos no site do SciELO.
Lembrando que em todos os sites, embora eles sejam diferentes, o método de
busca não difere muito. Deve-se ter em mente o assunto e as palavras-chave que o
levarão à procura pelos artigos. Bons estudos!
Siga os passos indicados:
Para iniciar sua pesquisa, digite o site do SciELO no campo endereço da
internet e, depois de aberta a página, observe os principais pontos de pesquisa: por
artigos; por periódicos e periódicos por assunto (marcações em círculo).

Ao optar pela pesquisa por artigos, no campo método (indicado abaixo),


escolha se a busca será feita por palavra-chave, por palavras próximas à forma que
você escreveu, pelo site Google Acadêmico ou por relevância das palavras.
Em seguida, deve-se escolher onde será feita a procura e quais as palavras-
chave deverão ser procuradas, de acordo com assunto do seu TCC (não utilizar “e”,
“ou”, “de”, “a”, pois ele procurará por estas palavras também). Clicar em pesquisar.
Lembre-se de que as palavras-chave dirigirão a pesquisa, portanto, escolha-
as com atenção. Várias podem ser testadas. Quanto mais próximas ao tema
escolhido, mais refinada será sua busca. Por exemplo, se o tema escolhido for
relacionado à degradação ambiental na cidade de Ipatinga, as palavras-chave
poderiam ser: degradação; ambiental; Ipatinga. Ou algo mais detalhado. Se nada
aparecer, tente outras palavras.
Isso feito, uma nova página aparecerá, com os resultados da pesquisa para
aquelas palavras que você forneceu. Observe o número de referências às palavras
fornecidas e o número de páginas em que elas se encontram (indicado abaixo).

A seguir, estará a lista com os títulos dos artigos encontrados, onde constam:
nome dos autores (Sobrenome, nome), título, nome do periódico, ano de publicação,
volume, número, páginas e número de indexação. Logo abaixo, têm-se as opções
de visualização do resumo do artigo em português/inglês e do artigo na íntegra, em
português. Avalie os títulos e leia o resumo primeiro, para ver se vale à pena ler todo
o artigo.
Ao abrir o resumo, tem-se o nome dos autores bem evidente, no início da
página (indicado abaixo). No final, tem-se, ainda, a opção de obter o arquivo do
artigo em PDF, que é um tipo de arquivo compactado e, por isso, mais leve, Caso
queria, você pode fazer download e salvá-lo em seu computador.
Busca por periódicos

Caso você já possua a referência de um artigo e quer achá-lo em um


periódico, deve-se procurar na lista de periódicos, digitando-se o nome ou
procurando na lista, por ordem alfabética ou assunto. Em seguida, é só procurar
pelo autor, ano de publicação, volume e/ou número.
É preciso ressaltar que você deve apenas consultar as bases de dados e os
artigos, sendo proibida a cópia de trechos, sem a devida indicação do nome do
autor do texto original (ver na apostila tipos de citação) e/ou o texto na íntegra.
Tais atitudes podem ser facilmente verificadas por nossos professores, que
farão a correção do artigo.

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