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Módulo 2: A acústica das flautas

2.1 - Apresentação
O presente módulo apresenta alguns dos fundamentos acústicos que explicam
como funcionam as flautas. Após apresentar alguns fundamentos acústicos
básicos sobre o que são e como são produzidos os sons, trataremos da
produção sonora (paleta de ar e embocadura livre), assim como dos
mecanismos responsáveis pela emissão de diferentes notas e registros (tubos
acústicos e alturas) e suas consequências para a afinação do instrumento.

Apesar de não existir a necessidade da compreensão dos fenômenos acústicos


envolvidos na produção sonora dos instrumentos para se tocar um instrumento,
o conhecimento de alguns princípios acústicos pode ser de grande auxílio para
o desenvolvimento de uma técnica instrumental eficiente. Afinal, ao se entender
melhor um determinado fenômeno, podemos lidar melhor com ele, tomando
decisões mais fundamentadas sobre como desenvolver estratégias e ações mais
eficientes para o controle do instrumento.

2.2 - Objetivo do módulo


O presente módulo pretende esclarecer o que são os sons e como os
instrumentos da família das flautas funcionam, tanto no que se refere à
produção do som, quanto à emissão de diferentes notas e registros, fornecendo
assim algumas informações necessárias para o entendimento de possíveis
estratégias técnicas para a aprendizagem e estudo da flauta.

2.3 - Fundamentos acústicos básicos: o que são os sons


Sons (https://pt.wikipedia.org/wiki/Som) são a propagação da energia
acústica criada por uma fonte que vibra. Esta energia é transmitida através de
meios sólidos, líquidos ou gasosos. O corpo humano recebe os sinais sonoros
através do sistema auditivo (https://pt.wikipedia.org/wiki/Audi
%C3%A7%C3%A3o), que fornece informações que são interpretadas pelo
cérebro.

Para os seres humanos o principal meio de transmissão dos sons é o ar. No ar, a
transmissão da energia acústica ocorre através da movimentação e do choque
entre as moléculas do ar. Na ciência, os sons geralmente são representados
como um gráfico em forma de onda, o qual representa os pontos de maior e
menor pressão das moléculas. 

Na figura a seguir podemos observar como uma fonte -  em vermelho - produz


uma mudança regular de pressão (vibração), e como a energia produzida pelo
aumento da pressão sobre as moléculas de ar próximas à fonte é transmitida
adiante para outras moléculas. Abaixo está a representação gráfica destes
"picos" de pressão. 

(Fonte: https://hearinghealthmatters.org/waynesworld/2016/an-upper-
limit-to-sound/) 

2.3.1 - Ruídos e notas musicais

De forma genérica, podemos afirmar que quando estes "distúrbios" de pressão


ocorrem de forma irregular, nosso cérebro não consegue identificar uma altura
(uma nota) específica. Estes sons são chamados de "ruídos" (sem altura
específica determinada). Quando estes distúrbios ocorrem de forma regular e
prolongada, conseguimos então identificar as suas alturas específicas (se o som
é um dó ou um lá, por exemplo). Estes sons são chamados de "notas" (com
alturas determinadas). 

As notas musicais são geralmente representadas por um gráfico de onda, onde


as cristas (ou "picos") representam os pontos de maior pressão, e os vales os
pontos de menor pressão. A distância entre duas cristas é chamada
comprimento de onda, e quando há regularidade temporal de comprimento de
ondas, podemos identificar a altura específica do som (a nota musical). 

Figura 2.2 - Representação de ondas sonoras II 


 

(Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/fisica/o-que-e-onda.htm)-    
       

2.3.2 - Alturas dos sons

A oscilação completa de uma onda é chamada de "ciclo". Na natureza existem


ciclos de diferentes velocidades, dos mais lentos - como a translação da terra
em volta do sol, onde cada ciclo dura um ano - até as mais rápidas - a luz, que é
uma onda eletromagnética, geralmente tem 1014 ciclos por segundo. Existe uma
medida científica para os ciclos, que é o Hertz (Hz). Um Hertz equivale a um
ciclo por segundo. Quanto maior a frequência de ciclos (maior número de
Hertz), mais aguda será a percepção do som. A audição humana consegue
identificar sons entre 20 e 20.000 Hz. As notas musicais geralmente ficam entre
30 Hz (mi grave do contrabaixo) e 4200 Hz (dó superagudo do piccolo).

2.4 - A produção do som


Podemos simplificar e dizer que sons são ar vibrando. Porém, como os
diferentes instrumentos colocam o ar para vibrar? 

Nos instrumentos de corda o ar é colocado em vibração através de uma corda


se movendo de forma regular. A corda é colocada para vibrar ao se puxá-la e
largá-la com os dedos ("beliscando" as cordas) - como nos instrumentos de
cordas pinçadas (violão, harpa, cavaquinho, bandolim, guitarra elétrica, etc.).
Podemos também vibrar uma corda ao se aplicar nela uma fricção (como as
crinas dos arcos fazem nos instrumentos orquestrais de cordas - violino, viola,
violoncelo e contrabaixo). Alguns instrumentos, como o piano, colocam as
cordas para vibrar ao percuti-las ("batendo" nas cordas com um mecanismo
chamado de "martelo"). 
Nos instrumentos de percussão provocamos a vibração do ar ao batermos em
um objeto - madeira, metal ou membranas (peles ou plástico) - com as mãos ou
com uma baqueta. 

Já nos instrumentos de sopro temos alguns modos diferentes de colocar o ar


para vibrar. 

2.4.1.  A produção do som em outros instrumentos de sopros

Algumas famílias de instrumentos de sopros colocam o ar para vibrar através da


vibração direta dos lábios dentro de um bocal, como nos instrumentos de
metais - trompete, trompa, trombone, tuba, etc. A pressão do ar que sai da
boca do instrumentista faz com que os lábios - que estão pressionados um
contra o outro dentro do bocal -  vibrem, produzindo então uma vibração no ar
que sai do bocal para o instrumento. 

Figura 2.3 - Bocal de tuba

(Fonte; https://bandworld.org/pdfs/TubaProject.pdf) 

Outras famílias de instrumentos colocam o ar para vibrar através de uma


palheta (geralmente de bambu) que é afixada em uma boquilha. A boquilha
(juntamente com a palheta) é colocada dentro da boca do instrumentista, que
ao aumentar a pressão do ar em sua boca faz com que a palheta vibre, criando
então uma vibração no ar que sai da boquilha para o instrumento. Clarinetas e
saxofones são instrumentos de palhetas simples. 

Figura 2.4 - Palheta e boquilha de saxofone


(Fonte: https://howtoplaythesax.com/how-to-put-a-reed-on-a-saxophone-
mouthpiece/) 

Outras famílias de instrumentos amarram duas palhetas - uma contra a outra - e


as encaixam em um tubo (tudel), o qual conduz o ar para dentro do
instrumento. As palhetas são colocadas dentro da boca do instrumentista, que
ao aumentar a pressão do ar em sua boca faz com que as palhetas vibrem,
criando então uma vibração no ar que sai do tudel para o instrumento. São
instrumentos de palhetas duplas os oboés e fagotes. 

Figura 2.5 - Palheta dupla de fagote

(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Palheta_(sopros)) 

2.4.2 -  A produção do som nas flautas


As flautas diferem dos outros instrumentos de sopro por colocarem o ar para
vibrar fora da boca do instrumentista, sem a vibração dos seus lábios. O
processo de produção de som nas flautas é por vezes chamado de "palheta de
ar", como poderá ser melhor entendido a seguir. 

O princípio para a produção do som nas flautas é basicamente o mesmo para as


flautas doces e as de "embocadura livre" (rever Módulo 1: As flautas nos
contextos históricos e culturais): um jato de ar é direcionado a uma aresta (uma
"quina"), e é então "dividido" - metade entrando no instrumento e metade
saindo deste, criando um distúrbio no fluxo de ar, que acaba fazendo o ar vibrar
dentro do instrumento. Na família das flautas doces (e dos órgãos), o ar é
direcionado para a aresta através de um duto (um "tubo"). Nas flautas de
"embocadura livre", o ar é direcionado para aresta através dos lábios. 

Figura 2.6 - Emissão do som na flauta transversal e na flauta doce

(Fonte: https://flutecase.ru/wp-content/uploads/2019/09/Flute-Tone-
Improvement.pdf) 

Vamos agora explicar como ocorrem estes distúrbios causados pela palheta de
ar em uma flauta transversal, detalhando quatro fases que ocorrem neste
processo: 

Figura 2.7 - As quatro fases da palheta de ar na flauta transversal 


(Fonte: baseado em Campbell & Greated) 

Fase 1: O jato de ar que sai dos lábios do flautista é dividido pela aresta na
parte exterior do orifício do bocal (a "quina" do orifício do bocal que fica mais
longe dos lábios). A parcela do jato de ar que entra no instrumento faz com que
a pressão na área interna do orifício do bocal aumente, e fique gradualmente
maior do que a pressão no exterior do bocal. 

Fase 2: A alta pressão existente agora na parte interna do orifício do bocal


impede que o fluxo de ar seja direcionado para a aresta, não mais "dividindo” o
jato de ar, que nesta fase é direcionado totalmente para fora do instrumento. É
como se a pressão do ar "tapasse" o orifício do bocal, impedindo o ar soprado
de entrar no instrumento. Na seguinte imagem vemos um experimento em que
uma "embocadura artificial" (um tubo transparente) direciona um jato de
fumaça para a aresta de um bocal. Uma câmara de alta velocidade captura o
momento da fase 2 onde o jato de ar é todo direcionado para fora do
instrumento: 

Figura 2.8 - Foto do jato de ar na fase 2 da palheta de ar 


(Fonte: baseado em Campbell & Greated) 

Com o desvio do jato de ar para fora do bocal, a pressão dentro do bocal não
vai mais ter energia para se direcionar para fora do orifício do bocal. Esta
pressão vai então se dirigir para o corpo do instrumento, fazendo a pressão na
área do orifício do bocal diminuir gradualmente. É como se a “tampa” de ar no
bocal fosse abrindo, permitindo o ar soprado entrar no instrumento. 

Fase 3: Nesta fase o jato de ar é novamente dividido pela aresta, porém neste
momento o deslocamento da pressão do ar na direção do corpo do
instrumento - criado na fase 3 -  cria uma zona de baixa pressão no orifício do
bocal. 

Fase 4: A baixa pressão no interior do bocal "suga" o jato de ar todo para


dentro do bocal. 

Figura 2.9 - Foto do jato de ar na fase 4 da palheta de ar 


(Fonte: baseado em Campbell & Greated) 

Ao ser totalmente direcionado para o bocal, o jato de ar soprado vai aumentar


gradualmente a pressão na área interna do orifício do bocal, até atingir a
situação da fase 1, completando um ciclo. 

Este ciclo se repete centenas de vezes por segundo, criando a vibração de ar


dentro do instrumento. 

É importante aqui ressaltar que o flautista não vai direcionar intencionalmente o


jato de ar para dentro e fora do orifício. Para iniciar o ciclo, basta direcionar o
jato para a aresta do bocal.

2.5 - Tubos e alturas


Agora que explicamos os mecanismos responsáveis para colocar o ar em
vibração na flauta, produzindo um som, vamos entender como podemos variar
as alturas dos sons, como produzir as diferentes notas, em uma flauta. Para
tanto temos que lembrar que as flautas são tubos, e que existem diversas
maneiras de se produzir diferentes notas com tubos. 

2.5.1 - Pitágoras, cordas e tubos

O filósofo e matemático Pitágoras (https://pt.wikipedia.org/wiki/Pit


%C3%A1goras) no século V a.C. identificou que cordas (com a mesma
espessura) de diferentes comprimentos vão produzir sons de alturas diferentes
(notas diferentes). Pitágoras conseguiu calcular a razão matemática entre os
comprimentos das cordas e os intervalos entre as notas que estas produzem.
Por exemplo, se uma corda de um determinado comprimento produz uma nota
dó grave, uma corda com metade do comprimento da original vai produzir um
dó agudo (uma oitava acima da primeira corda). Pitágoras também constatou
que estas mesmas razões matemáticas se aplicam para as relações entre sons
produzidos por tubos de comprimentos diferentes. 

2.10 - Representação medieval de Pitágoras e seus experimentos com cordas e


tubos 

(Fonte: https://prceu.usp.br/noticia/cafe-cientifico-matematica-e-musica/) 

Podemos então entender como funcionam as flautas de Pan (rever Módulo 1: As


flautas nos contextos históricos e culturais): tubos de comprimentos diferentes,
cada um produzindo uma nota diferente, são colocados juntos, e o flautista
precisa soprar um tubo diferente cada vez que quer tocar outra nota. 

Figura 2.11 - Flauta de Pan (vários tubos de tamanhos diferentes)


(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Flauta_de_p%C3%A3) 

Porém, existem outros meios de se tocar diferentes notas, em um mesmo tubo! 

2.5.2 - Furando tubos

O exemplo mais antigo que temos de uma flauta - 40.000 anos (rever Módulo 1:
As flautas nos contextos históricos e culturais) - é de um instrumento com um
tubo único, mas com orifícios que permitem a emissão de diferentes notas. 

Um tubo de um determinado comprimento vai produzir uma determinada


altura (L), contudo, ao se fazer um orifício neste tubo, a nota produzida vai
equivaler à nota produzida por um tubo mais curto (um L menor), como se o
tubo fosse "cortado". O efeito do orifício vai depender do seu diâmetro. 

A figura abaixo mostra como tubos com o mesmo comprimento vão produzir
notas (Ls) diferentes, a depender do diâmetro dos orifícios. As notas produzidas
(os diferentes Ls) vão equivaler às notas produzidas por tubos com os
comprimentos diferentes (como numa flauta de Pan), sendo que os orifícios têm
o efeito de "encurtar" o comprimento de um tubo único, produzindo notas
equivalentes às de tubos menores. No exemplo (a) o tubo não é furado e a nota
produzida (L) equivale a seu comprimento total, ou seja, uma nota mais grave.
Na figura (b) um orifício de diâmetro reduzido não altera a nota produzida (L),
que ainda equivale ao comprimento total do tubo, a nota produzida é a mesma
que o tubo sem o furo produz. No exemplo (c) um orifício com um diâmetro
maior, mas não ainda muito grande, resulta em uma nota (L), que equivale a
nota de um tubo menor, porém com um comprimento maior do que um tubo
que fosse "cortado" no local do orifício, produzindo uma nota mais aguda do
que a produzida pelo tubo sem o furo. Na figura (d), um orifício de diâmetro
maior resulta em uma nota (L) equivalente aquela que seria produzida por um
tubo que fosse "cortado" no local do orifício, produzindo uma nota mais aguda
do que a produzida pelo tubo sem furo, e da nota produzida pela furação com
diâmetros menores. 

Notem que orifício pequenos exercem pouca influência no L, e que quanto


maior o diâmetro do orifício, menor será o L (e mais aguda será a nota).

Figura 2.12 - Efeito acústico de orifícios em tubos

 (Fonte: baseado em Campbell & Greated) 

Sintetizando: ao “furar” um tubo podemos obter neste mesmo tubo notas


equivalentes à tubos menores. Ou seja, podemos “dividir” um tubo em várias
notas, a depender da quantidade de furos que fizermos. A afinação de cada
nota vai depender da distância do respectivo orifício para extremidade do tubo
e do diâmetro do orifício. 

2.5.3 - A furação da flauta moderna (Boehm) 

Como já vimos antes (rever Módulo 1: As flautas nos contextos históricos e


culturais) as flautas anteriores ao modelo moderno (Boehm) tinham seis ou sete
orifícios, que correspondiam a seis ou sete notas de uma escala diatônica.
Outras notas além da furação original, como as notas da escala cromática, são
alcançadas através de dois meios:

- Através de dedilhados em que se combinam orifícios cobertos e abertos, em


combinações de dedilhados mais complexas - como é feito nas flautas
renascentistas e traverso.
- Através da criação de orifícios localizados entre aqueles da furação diatônica,
orifícios estes cobertos por chaves (não por dedos), as quais eram acionadas
para abrir o orifício - como nas flautas clássicas e românticas.

Theobald Boehm propôs então um novo sistema de furações, em que cada nota
da escala cromática (12 notas para completar uma oitava) tem o seu orifício
específico, e com isto este tipo de flauta alcança uma grande homogeneidade
sonora entre as notas, além de uma melhor afinação e maior volume de som. 

O diagrama abaixo mostra a furação padrão de uma flauta moderna (Boehm), e


o exemplo musical abaixo mostra as notas equivalentes produzidas por cada
orifício (1 = dó#, por exemplo): 

Figura 2.13 - Furações e alturas de notas na flauta Boehm

O tubo todo fechado equivale a um dó grave, ao se abrir o orifício 12 teremos


um dó #, ao abrir os orifícios 12 e 11 teremos um ré, abrindo 11, 12 e 13
teremos um ré #, e assim por diante até o orifício 1, que equivale a um dó
médio. Os orifícios numerados 1 a 12 têm o mesmo diâmetro, existindo ainda
três orifícios menores, localizados mais perto do porta-lábio. 

Na flauta moderna os dedilhados foram desenvolvidos de forma a que à


medida em que abrimos os orifícios, vão sendo formados novos “tubos”, todos
com características acústicas semelhantes. 

2.5.4 - Produzindo todo o registro das notas na flauta

Uma flauta moderna produz muitas outras notas além daquelas 12 resultantes
da furação demonstrada acima. A figura abaixo apresenta o registro tradicional
da flauta. 

Figura 2.14 - Registro da flauta


(Fonte: autor)

Observe que as notas indicadas na primeira linha são aquelas produzidas


através das diferentes furações. Como então são produzidas as outras notas? 

Na flauta, as diferentes notas são produzidas tanto pelo efeito das furações,
como também pelo efeito dos parciais harmônicos. 

2.5.5 - Produzindo harmônicos (parciais) 

Existem instrumentos de sopro que mesmo sem ter chaves ou pistos - ou seja,
com um tubo único sem furos - conseguem tocar diversas notas. Um exemplo
deste tipo de instrumento são os clarins militares. 

Vídeo 2.1 - Toques de clarim militar

https://youtu.be/i0g6yhhVTso

Estes instrumentos produzem notas diferentes se utilizando de um efeito


acústico em que ao se colocar mais energia na produção do som - no caso dos
sopros, ao se colocar mais pressão ou velocidade no jato do ar - um mesmo
tubo vai produzir notas mais agudas. Estas outras notas mais agudas são
chamadas "parciais". Se um tubo apresentar determinadas relações entre o seu
comprimento e o seu diâmetro, estes parciais vão seguir uma determinada
ordem, chamada de série harmônica (https://pt.wikipedia.org/wiki/S
%C3%A9rie_harm%C3%B4nica_(m%C3%BAsica). Estas notas mais agudas são
chamadas parciais harmônicos, ou simplesmente harmônicos, 

 As flautas também produzem parciais, e na flauta moderna as furações são


feitas de modo que os tubos resultantes produzam parciais harmônicos. Na
figura seguinte está o exemplo de uma série harmônica produzida a partir de
um tubo dó em uma flauta:

Figura 2.15 - Parciais (harmônicos) de tubo dó na flauta 


Um tubo -  que apresente determinadas relações entre o seu comprimento e o
seu diâmetro - que tenha a sua nota fundamental (ou simplesmente
"fundamental") em qualquer outra nota, vai produzir uma série harmônica que
vai seguir os mesmos intervalos das notas da série apresentada acima - a saber,
oitava, quinta, quarta, terça maior, terça menor, etc. 

Segue exemplo de parciais (harmônicos) em um tubo mi na flauta: 

Figura 2.16 - Parciais (harmônicos) de tubo mi na flauta

(Fonte: Autor) 

Podemos então notar que a furação da flauta Boehm (apresentada acima


na Figura 2.13 - Furações e alturas de notas na flauta Boehm) equivale a vários
"tubos" da região grave (fundamental). O registro fundamental da flauta
equivale às notas apresentadas na primeira linha da figura 2.14 acima. As notas
mais agudas são então alcançadas com digitações similares às do registro
grave, porém sopradas de forma a produzirem um harmônico superior. Por
exemplo, as notas mi, fá, fá#, sol, sol#, lá, lá#, si e dó do registro médio da flauta
têm exatamente a mesma digitação destas notas no registro grave. Ou seja,
estas notas do registro médio acusticamente são os harmônicos de oitava do
registro grave (o registro médio da flauta equivale às notas apresentadas na
segunda linha da figura 2.14 acima.  Já as notas do registro agudo ("terceira
oitava”) têm digitações que "mesclam" as digitações de "tubos" onde a nota
que soa é o primeiro parcial (oitava), com "tubos" onde a nota que soa é o
segundo parcial (quinta). O registro agudo da flauta equivale às notas
apresentadas na terceira linha da figura 2.14 acima. 

No exemplo abaixo, podemos notar que o mi agudo é uma digitação que é


próxima a do mi grave e médio, assim como é próxima da digitação do lá grave
e médio. No mi agudo, a mão esquerda faz a digitação do lá grave e médio, e a
mão direita faz a digitação do mi grave e médio: 

Figura 2.17 - Exemplo de digitação de nota mi aguda na flauta 

(Fonte: baseado em https://www.dummies.com/art-center/music/basic-


flute-fingering-chart/) 

Uma última observação em relação aos parciais harmônicos é que estes podem
ser produzidos através de diferentes maneiras: pelo aumento da pressão do ar
expirado ("soprar mais forte"), pela modificação do formato e da abertura dos
lábios, e pela mudança do ângulo em que o jato de ar alcança o porta-lábios
(aresta), como veremos no Módulo 9: Embocadura II - exercícios para registro e
flexibilidade.

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