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Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Soli Deo Gloria
http://www.geocities.com/Athens/Bridge/3039
Responsável: Dawson Campos de Lima
E-mail: dawson@samnet.com.br
[...]
6. Pregação e edificação
Além desses exercitamentos que pretendem desenvolver a vida
cristã dos estudantes, é necessário que os professores se
preocupem com aquilo que seus alunos vão precisar quando se
tornarem pastores. Por exemplo, treine-se o estudante a instruir
os ignorantes, consolar os enfermos e, especialmente, preparar
bons sermões. Seja-lhes mostrado que, no sermão, todas as
coisas devem convergir para um propósito. Como Sexta proposta,
a fim de que se encorage a Igreja Evangélica a buscar melhores
condições, eu diria que o sermão deve estar voltado para esse
propósito, e alcance o coração do ouvinte da maneira mais eficaz
possível.
Há provavelmente poucos lugares em nossa Igreja nas quais
não haja muitos sermões sedo pregados. Porém, as pessoas
piedosas reconhecem que pouco se tem aproveitado de tais
prédicas. Existem pregadores enchendo-se de tantas informações,
que convencem os ouvintes de que são homens muito instruídos,
contudo, os que os ouvem não conseguem entender o que dizem.
Incluem nelas muitas palavras estrangeiras, embora,
possivelmente, nenhum ouvinte conheça tais línguas. Muitos
pregadores não se preocupam com o assunto escolhido e em
desenvolvê-lo de tal modo que, pela graça de Deus, a
congregação possa dele aproveitar para a vida e a morte. Pelo
contrário, preocupam-se com a introdução, com sua boa forma e
com um clímax de efeito, e que as partes sejam tratadas de
acordo com as regras da oratória e cheias de beleza, etc. Isso não
pode acontecer. O púlpito é um instrumento divino para a
salvação das pessoas. Por isso, nele todas as coisas devem ser
direcionadas para esse propósito. As pessoas comuns, das quais a
comunidade é composta em sua grande maioria, não podem ser
esquecidas pelo pregador preocupado em agradar os letrados que
são poucos e, geralmente, não comparecem ao culto.
O Pequeno Catecismo, de Lutero (1529), que contém os
primeiros rudimentos do Cristianismo e do qual as pessoas
aprenderam a fé, deve continuar a se usado, só que mais
diligentemente na instrução das crianças e também dos adultos (a
kinderlehre era a reunião para estudos do catecismo, dirigido
especialmente para as crianças, feita no Domingo à tarde). O
pregador não pode abandonar essa prática. Pelo contrário, deve
lembrar às pessoas, em seus sermões, aquilo que aprenderam no
catecismo. Não precisa envergonhar-se de fazer isso.
Deixo de lado alguns comentários adicionais a respeito dos
sermões. Considero isso como fundamental: a nossa religião cristã
é composta de homens regenerados, cujas almas estão repletas
de fé e expressam-se em frutos da vida. Assim, o sermão não
pode Ter outro objetivo a não ser cultivar a fé e seus frutos. Por
outro lado, os preciosos benefícios de Deus, dirigidos ao homem
interior, devem estar presentes de forma que a fé se fortaleça
cada vez mais. Por outro lado, não podemos contentar-nos em
afastar as pessoas dos vícios exteriores e levá-los à prática de
virtudes exteriores, coisa que a ética dos pagãos também pode
fazer. Nosso objetivo é despertar e cultivar a fé e seus frutos.
Tudo aquilo que não proceder desse fundamento é mera
hipocrisia. Devemos, pois, acostumar as pessoas a voltarem-se
para as coisas interiores (amor a Deus e ao próximo) e depois
procurarem agir corretamente.
Enfatize-se que o significado divino da Palavra e sacramentos
se relacionam no homem interior. Então, não é suficiente ouvir a
Palavra com o ouvido exterior. Ela deve penetrar em nosso
coração para que possamos escutar o Espírito de Deus. Em outras
palavras, o Espírito fala ao nosso coração na medida em que nele
faz morada. O homem sente vibrante emoção e conforto no selo
do Espírito (Ef 1.14; 4.30) e no poder da Palavra. Igualmente, não
é suficiente ser batizado, pois o homem interior (onde Cristo é
colocado no ato do batismo – Gl 3.27) deve conservar e
testemunhar Cristo na vida exterior. Tampouco, não é suficiente
receber a Santa Ceia exteriormente, mas o homem interior deve
ser, em verdade, nutrido com aquele alimento abençoado. Da
mesma maneira, não é suficiente orar de modo superficial, só com
a boca, pois a melhor e verdadeira oração vem do homem
interior; ela tanto pode expressar-se com palavras, como pode
permanecer muda no fundo da alma. No último caso, Deus
encarregar-se-á de achá-la e levá-la ao seu trono. Finalmente, não
é suficiente adorar Deus num templo exterior, pois o homem
interior adora melhor a Deus em sua alma, aconteça isso num
templo exterior ou não (1 Co 3.16).
Concluindo, convoco insistentemente o gracioso Deus e doador
de todas as boas coisas, que no passado permitiu que a boa
semente de sua Palavra fosse semeada por seus fiéis servos, e
que poderosamente abençoou muitas daquelas sementes, caídas
em corações piedosos, para que dessem muitos frutos; [...] que
muitos, com corações piedosos, busquem a sua edificação, nos
domingos, nesses sermões e nas Escrituras Sagradas; possam,
finalmente, entregar a Deus os frutos produzidos, com ação de
graças. Oro, também, para que os pastores sejam reavivados em
suas pregações e voltam-se ao coração do Cristianismo [...] com
simplicidade e poder. Tudo seja para a glória de Deus e o
progresso de seu Reino, por amor de Jesus Cristo. Amém.
Frankfurt am Main,
24 de março de 1675.